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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIAS EVENTO: Reunião ordinária/Audiência Pública N°: 1124/2003 DATA: 13/8/2003 INÍCIO: 10h40min TÉRMINO: 15h15min DURAÇÃO: 4h35min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h37min PÁGINAS: 113 QUARTOS: 55 DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO ORLANDO MALUF HADDAD – Vice-Presidente da OAB de São Paulo. DOMINGOS HENRIQUE LEAL – Representante da CONAMP – Associação Nacional dos Membros do Ministério Público. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Procurador da República. JOSÉ OSÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR – Presidente da Associação de Juízes para a Democracia. MÁRCIO BRAGA – Representante da Associação dos Notários e Registradores do Brasil — ANOREG/BR. SUMÁRIO: Apreciação de requerimentos. Debate sobre a legitimidade da atuação dos cartórios. OBSERVAÇÕES - Há oradores não identificados. - Há intervenções inaudíveis. - Há intervenções simultâneas ininteligíveis. - A reunião ordinária foi encerrada, começando em seguida reunião de audiência pública.

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Page 1: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Deputado Sarney Filho, que encaminhou cópia a esta Comissão sobre o derramamento de petróleo ocorrido no Canal de São

CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: Reunião ordinária/AudiênciaPública

N°: 1124/2003 DATA: 13/8/2003

INÍCIO: 10h40min TÉRMINO: 15h15min DURAÇÃO: 4h35minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h37min PÁGINAS: 113 QUARTOS: 55

DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO

ORLANDO MALUF HADDAD – Vice-Presidente da OAB de São Paulo.DOMINGOS HENRIQUE LEAL – Representante da CONAMP – Associação Nacional dosMembros do Ministério Público.LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Procurador da República.JOSÉ OSÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR – Presidente da Associação de Juízes para aDemocracia.MÁRCIO BRAGA – Representante da Associação dos Notários e Registradores do Brasil —ANOREG/BR.

SUMÁRIO: Apreciação de requerimentos.Debate sobre a legitimidade da atuação dos cartórios.

OBSERVAÇÕES

- Há oradores não identificados.- Há intervenções inaudíveis.- Há intervenções simultâneas ininteligíveis.- A reunião ordinária foi encerrada, começando em seguida reunião de audiência pública.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 1124/03 Data: 13/8/2003

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Havendo número regimental,

declaro abertos os trabalhos da presente reunião da Comissão de Defesa do

Consumidor, Meio Ambiente e Minorias.

Discussão e votação das atas das reuniões anteriores.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Sr. Presidente, peço a dispensa

da leitura da ata.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Dispensada a leitura da ata,

coloco-a em votação.

Aqueles que concordam permaneçam como se encontram. (Pausa.)

APROVADA.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Sr. Presidente, peço a palavra

pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Sr. Presidente, apesar de ainda

não termos presentes todos os membros da Comissão, inclusive o Presidente, é

importante que nos manifestemos hoje junto à Presidência da Câmara a fim de que

o projeto sobre transgênicos, que o Governo anunciou que enviará sexta-feira ao

Congresso, passe pela Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e

Minorias.

É fundamental que esta Comissão analise esse projeto. Não sei qual vai ser o

procedimento adotado, se o Presidente vai criar uma Comissão Especial ou se o

projeto vai passar pelas Comissões, mas, nesse caso, é importante reivindicar que a

Comissão de Meio Ambiente seja uma delas, talvez a primeira.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Nobre Deputado Fernando

Gabeira, a Mesa vai encaminhar a solicitação de V.Exa. e, mesmo que seja criada

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 1124/03 Data: 13/8/2003

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uma Comissão Especial, a Mesa informa que, necessariamente, ela terá que ser

composta por membros da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e

Minorias.

Expediente.

Sinopse da correspondência recebida pela Comissão.

A Presidência coloca à disposição dos senhores membros cópia dos

seguintes documentos recebidos: Ofício da Secretaria de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável do Estado de Minas Gerais, que presta

esclarecimentos referentes ao acidente ambiental provocado pelo descarrilamento

de vagões da empresa Ferrovia Centro—Atlântica, que continha produtos químicos,

provocando a contaminação do córrego Alegria, afluente do Rio Uberaba,

culminando com a decretação de estado de calamidade pública na região, em

função da solicitação verbal do Deputado Fernando Gabeira na reunião ordinária do

dia 11/06, no sentido de que esta Comissão encaminhasse correspondência aos

órgãos responsáveis para prestarem os devidos esclarecimentos sobre os danos

causados e as medidas adotadas.

Resposta do Ministério de Minas e Energia a requerimento de informação do

Deputado Sarney Filho, que encaminhou cópia a esta Comissão sobre o

derramamento de petróleo ocorrido no Canal de São Sebastião, litoral norte do

Estado de São Paulo.

Aviso nº 1.906, do Tribunal de Contas da União, que encaminha decisão

referente à solicitação desta Comissão de auditoria na Superintendência da FUNAI,

em São Paulo, fruto do requerimento do Deputado Celso Russomanno, aprovado

em 27/06/2001, a qual constatou diversas irregularidades relacionadas à

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administração financeira nas áreas de licitações e contratos da unidade, com

indícios de danos ao Erário.

Ordem do Dia.

Requerimentos.

Item 1.

Requerimento nº 186, do eminente Deputado Celso Russomanno, que requer

que sejam convidados os Srs. Antonio Palocci, Ministro de Estado da Fazenda;

Henrique Meirelles, Presidente do Banco Central do Brasil, e Gabriel Jorge Ferreira,

Presidente da FEBRABAN, para prestarem esclarecimentos sobre o

descumprimento, por parte das instituições bancárias, da legislação existente — Lei

nº 4.595, de 21 de dezembro de 1964, e resoluções do Banco Central.

Em função da ausência do Deputado Celso Russomanno, quero sugerir que,

nos casos em que o autor de requerimento não estiver presente, passemos ao

próximo item para o devido debate e aprovação.

Item 13.

Proposta de Fiscalização e Controle nº 81/02, do Sr. Deputado Sarney Filho,

que propõe que a Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias

fiscalize a Agência Nacional de Petróleo — ANP, o Instituto Brasileiro de Meio

Ambiente — IBAMA e a PETROBRAS no que se refere à conformidade das

atividades de prospecção de petróleo no território nacional. Relator: Deputado

Fernando Gabeira.

O relatório prévio é pela aprovação nos termos do plano de trabalho,

metodologia e avaliação apresentado.

Passo a palavra ao Relator, Deputado Fernando Gabeira.

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O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Sr. Presidente, considerei que,

realmente, a proposta do Deputado Sarney Filho se justifica porque temos tido uma

série de problemas relativos ao controle da prospecção de petróleo no Brasil. V.Exa.

mesmo já acompanhou o problema com a El Paso, além dos problemas havidos no

Rio de Janeiro.

Talvez estejam claras as atribuições, mas não a estrutura que o IBAMA vai

utilizar nesse trabalho, quais são os limites da sua atuação. Penso que seria

bastante esclarecedora se levada a cabo essa proposta de fiscalização e controle.

Daí o meu apoio.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem queira discutir, em votação.

Aqueles que são a favor do relatório prévio permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

APROVADA, POR UNANIMIDADE, A PROPOSTA DE FISCALIZAÇÃO E

CONTROLE, NOS TERMOS DO RELATÓRIO PRÉVIO.

Item 1.

Requerimento nº 186, de 2003, do Sr. Deputado Celso Russomanno, que

requer que sejam convidados os Srs. Antonio Palocci, Ministro de Estado da

Fazenda; Henrique Meirelles, Presidente do Banco Central do Brasil, e Gabriel Jorge

Ferreira, Presidente da FEBRABAN, para prestarem esclarecimentos sobre o

descumprimento, por parte das instituições bancárias, da legislação existente — Lei

nº 4.595, de 21 de dezembro de 1964, e resoluções do Banco Central.

Com a palavra o autor, Deputado Celso Russomanno.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, esse requerimento é sobre um assunto gravíssimo. Quero chamar a

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atenção de todos os membros para o que vou dizer, porque tenho certeza absoluta

de que o Presidente Lula não compactua com o que está acontecendo.

Ocorre o seguinte: toda vez que alguém emitisse um cheque sem provisão de

fundos, imediatamente o banco deveria, na forma da lei e das resoluções do Banco

Central, recolher os talões de cheque dessa pessoa para evitar que ela continuasse

emitindo cheques sem provisão de fundos. O banco deveria ainda, a partir do

segundo cheque, carimbar atrás dele a alínea XIII, que obriga o banco, se não

recolher os talões de cheque daquele que está emitindo cheque sem fundos, a se

responsabilizar por aquele cheque e pagá-lo.

Os bancos não fazem isso; não cumprem a legislação em vigor porque não

interessa a eles arcar com essa responsabilidade. Eles querem, sim, continuar

carimbando a alínea XI, e aquele que recebe o cheque sem provisão de fundos não

tem como se defender.

Vejam, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, existe uma relação com CPFs

de pessoas que emitem cheques sem fundos — inclusive, tirei cópia para todos. A

primeira delas, a campeã do Brasil, emitiu 1.884 cheques sem fundos. Como é que

uma pessoa, com o mesmo CPF, consegue emitir 1.884 cheques sem fundos? É

porque os bancos não encerram a conta dessa pessoa, como determina a lei; não

recolhem os seus talões de cheques, e ela vai de banco para banco, abrindo novas

contas. O vice-campeão emitiu 1.390 cheques sem fundos; o terceiro, 1.322; o

quarto, 1.187; o quinto, 1.149, e assim por diante.

Sr. Presidente, se esta Comissão não tomar providências, cada vez que um

cidadão de bem emitir um cheque, vai continuar passando pelo constrangimento por

que passa hoje. O comerciante, o consumidor pessoa jurídica do sistema de

compensação de cheques, vai continuar desconfiando do consumidor e sendo

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obrigado a contratar a SERASA e o SPC para saber se um cheque é bom ou não no

mercado.

Hoje, quando se paga com cartão de crédito no supermercado, simplesmente

se passa o cartão e o processo se dá rapidamente. Se o cartão estiver bloqueado, é

emitido um sinal e o cartão é bloqueado. Quando se passa um cheque no

supermercado, a pessoa é obrigada a preencher vários dados atrás do cheque, seus

dados são consultados, o que faz com que se perca, em média, de 10 a 15 minutos.

Isso por quê? Porque a Federação dos Bancos, que vem arrecadando — temos

visto o balanço dos últimos anos — valores absurdamente grandes por práticas

abusivas contra o consumidor, não se responsabiliza nos termos que a lei e as

resoluções do Banco Central exigem.

Então, faz-se necessário, Sr. Presidente, Srs. Deputados, que o Governo

tome providências imediatas para que os bancos cumpram o que determina a

legislação em vigor a fim de se acabar com essa pouca-vergonha.

Para se ter uma idéia, tenho uma relação de pessoas com os respectivos

CPFs e com o número de cheques sem fundos emitidos. Há 751.139 pessoas que

emitiram mais de um talão de cheques sem fundos. Os bancos não fazem

absolutamente nada para conter essa situação, e há mecanismos legais para isso.

Já que os bancos não recolhem os talões de cheques, o que é sua obrigação, que

assumam a responsabilidade por isso, ou seja, comecem a pagar os cheques por

alínea XIII, e não continuem com a alínea XI, como vem acontecendo.

Sr. Presidente, estou à disposição dos Deputados para responder perguntas

sobre o que está acontecendo. Se não conseguir deixar bem clara a situação, dada

a gravidade da mesma, peço a colaboração de todos para que acabemos, de uma

vez por todas, com essa pouca-vergonha que os bancos vêm implantando no Brasil.

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O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, gostaria de

cumprimentar o Deputado Celso Russomanno pela preocupação com esse grave

problema, esse verdadeiro abuso que os bancos brasileiros têm praticado, ou seja,

os vários mecanismos de usurpação de dinheiro dos clientes do sistema financeiro

nacional. Umas das formas é, inclusive, alimentar a emissão de cheques sem fundo,

o que acaba gerando, de um lado, prejuízos para o consumidor, para o mercado,

para o comércio, e, de outro, gera um volume extraordinários de taxas para os

bancos. Não são à toa os altos lucros que os bancos têm obtido.

Gostaria de ponderar com o Deputado Celso Russomanno o seguinte.

Embora a questão seja extremamente importante, acho que não deveríamos, em um

primeiro momento, chamar o Presidente do Banco Central, o Ministro ou o

Presidente da FEBRABAN. Pelo menos no caso do Ministro e do Presidente do

Banco Central, poderíamos chamar seus representantes, ou seja, o diretor do Banco

Central responsável por essa área e um representante do Ministério da Fazenda.

Acho que não é o momento para gastarmos chumbo, até porque, com a

presença do Ministro ou do Presidente do Banco Central, esgotaríamos o debate em

torno da questão. Trazendo um representante, um diretor do Banco Central e um

secretário responsável pela área no Ministério da Fazenda, poderemos obter

informações para, posteriormente, se necessário, convocarmos o Ministro e o

Presidente.

Concordo com a importância do tema. Não tenho a menor dúvida de que há

hoje uma brutal insatisfação popular com o abuso dos bancos. Quanto à emissão de

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cheques sem fundo, sem dúvida é algo que, em certa medida, interessa aos bancos,

por incrível que possa parecer, por alternativas laterais de lucratividade.

Portanto, acho que seria bom gastarmos, num primeiro debate, o extremo da

representação nesse assunto. Pondero a V.Exa. substituirmos o convite ao

Presidente do Banco Central e ao Ministro pelo diretor do Banco Central que cuide

dessa área, ou um representante do Presidente, e por um represente do Ministro

Antonio Palocci.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Obrigado, Deputado Luciano

Zica.

Pela ordem, concedo a palavra ao Deputado Almir Moura.

O SR. DEPUTADO ALMIR MOURA - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

reconheço a importância do requerimento do Deputado Celso Russomanno. S.Exa.

é um craque na matéria. Tiramos o chapéu para o Deputado Celso Russomanno, e

sou solidário a S.Exa. em quase tudo que faz. Mas aqui também trabalhamos

politicamente. Assim, gostaria de solidarizar-me com a proposta do Deputado

Luciano Zica e também apelar ao Deputado Celso Russomanno no sentido de que

fosse convidada uma pessoa intermediária, e, depois, não se esgotando a matéria

ou não estando satisfeitos, convocarmos o Presidente do Banco Central e também o

Ministro da Fazenda.

Sou solidário em tudo o que V.Exa. disse. É revoltante. A emoção com que

V.Exa. fala é bastante pertinente; é também a minha emoção, é também a minha

revolta. Mas, em um primeiro momento, eu gostaria de apelar a V.Exa. no sentido de

convidarmos uma pessoa intermediária. Depois, serei solidário a V.Exa. no convite

ao Ministro da Fazenda e também ao Presidente do Banco Central.

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Registro ainda que o Governo deveria ficar mais atento aqui, na Comissão, a

fim de nos auxiliar. Essa é uma reclamação que faço, ou seja, deveríamos ter uma

assessoria do Governo para nos orientar. Mas nós não temos essa assessoria, ou

pelo menos não nos foi apresentada. Eu gostaria de fazer essa reclamação aqui,

como membro do PL, Vice-Líder do meu partido e membro da bancada do Governo

também. Então, deveria ter uma pessoa para nos orientar e também para orientar o

requerente em um caminho que o satisfizesse e satisfizesse a todos.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Com a palavra o Deputado

Antonio Carlos Mendes Thame.

O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME - Sr. Presidente,

Sras. e Srs. Deputados, solidarizo-me com os Deputados Luciano Zica e Almir

Moura pela proposta. Realmente, acredito que esse é um caminho conveniente,

porque não esgota a matéria. Ela ainda nos deixa uma força tremenda para, em um

segundo momento, podermos agir na esteira correta de mais essa denúncia, que

lustra e ilustra a trajetória dos bons serviços prestados a esta Casa e ao povo

brasileiro pelo Deputado Celso Russomanno, que nos traz um problema crucial.

Quero fazer outra observação. Esse assunto comporta mais que uma

negociação no âmbito administrativo. Trazer aqui diretores, por mais capacitados e

responsáveis pela área, é uma negociação nossa no sentido de que passem a

cumprir a lei, exigir de órgãos que estão relacionados ao assunto o cumprimento da

lei. Temos a comprovação de que a lei não está sendo cumprida. Isso afeta

interesses de toda a população, de todo aquele que recebe um cheque e de todo

pequeno comerciante. Não zelar pelo instituto do cheque é algo que está afetando

interesses difusos. Portanto, a legislação, que votamos no passado, relacionada

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com interesses difusos e aperfeiçoada por esta Comissão e por esta Casa, permite-

nos 2 caminhos de imediato: uma representação ao Ministério Público, para que

promova uma ação civil pública, exigindo o cumprimento da lei ou uma ação popular

diretamente, cobrando o exercício da lei e responsabilizando aqueles que estão

causando prejuízos a todos pela deterioração do instituto do cheque, que é algo

consagrado na nossa economia e no Direito consuetudinário brasileiro, já que as

pesquisas mostram que é uma forma de crédito. O cheque pré-datado virou, no

Direito consuetudinário, uma forma de se conseguir crédito, de se postergar

pagamentos, bem aceita e respeitada pela população em geral. Qualquer atitude,

como essa dos bancos, que contribui para desprestigiar o instituto dos cheques, é

algo altamente lesivo à fidúcia e à confiança, algo indispensável para o

funcionamento da economia e ao desenvolvimento econômico e social do País.

Cumprimento o Deputado Celso Russomanno pela iniciativa. Apoio as

proposições dos Deputados Luciano Zica, sempre tão equilibrado, e Almir Moura.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Obrigado, Deputado Antonio

Carlos Mendes Thame.

Pergunto ao Deputado Celso Russomanno se está de acordo com as

propostas de adendo, de modificação do requerimento, para que possamos

encaminhar a votação.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, as propostas

vêm a calhar. Talvez poderemos resolver esse problema sem o chamamento do

Ministro da Fazenda. Entendo que a área do Banco Central, responsável por isso,

tenha de enviar a esta Comissão não o seu representante, mas o seu diretor.

Gostaria de ponderar com o Deputado Luciano Zica essa postura. Sugiro que

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convidemos o diretor da área do Banco Central responsável por esse setor, assim

como o Presidente da FEBRABAN.

Poderíamos também convidar os representantes dos 5 bancos que mais

contribuem para que esse processo continue no mercado. Cada vez que deposito na

minha conta um cheque sem provisões de fundo, pago uma taxa por aquele que

pratica o estelionato. O banco, que detém aquela conta, é incapaz de recolher os

talões de cheque, o que seria obrigação dele, de acordo com as resoluções do

Banco Central, além de impedir que ele tenha novas contas abertas no mercado e

encerre a conta da pessoa. Na medida em que se carimba alínea XIII, o cliente deve

pagar com cheques e ainda pode ir a outros bancos abrir novas contas.

Só há uma forma de o consumidor, pessoa jurídica ou física, que recebe

cheques sem fundos se proteger: contratar o serviço da SERASA, que é dos

próprios bancos. Paga-se uma taxa pelo fato de o cheque voltar sem fundo e outra

para saber se o cheque é bom.

Cadê a instituição, como disse o Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, do

cheque no País? Está totalmente desgastada. O consumidor que passa um cheque

é visto com maus olhos, até que prove sua idoneidade por meio de levantamento

dos dados pessoais. Temos de pôr fim nisso.

Os bancos têm de começar a cumprir a legislação. Os balanços estão

mostrando o que os mesmos estão ganhando. O importante não é só ganhar, mas

têm de se responsabilizar pela condução daqueles cheques que emitem. Quem

emite os talões de cheque é o banco, que deve ser o responsável por isso. Inclusive,

há venda de talões de cheque por funcionários dos bancos e roubos na trajetória da

gráfica de segurança que faz os cheques até o banco. O consumidor muitas vezes é

apenado por isso.

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Sr. Presidente, concordo, desde que seja o diretor da área do Banco Central

ou o diretor específico, o Presidente da FEBRABAN. Fiz um levantamento e trouxe a

esta Comissão os nomes dos 5 bancos que mais colaboram com isso. Passo a citá-

los: HSBC; Banco do Brasil, por incrível que pareça; os conglomerados UNIBANCO,

BRADESCO e Santander/BANESPA. Estes são os bancos que mais colaboram para

a emissão de cheque sem fundos no País. Devemos contê-los.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Deputado Celso Russomanno,

seriam chamados os representantes ou presidentes desses bancos?

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Pode ser o diretor específico

da área desses bancos, do Banco Central — não sei se é o diretor de fiscalização —

e o diretor da FEBRABAN.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Em votação.

Aqueles que são a favor do requerimento permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

APROVADO.

Item 2.

Requerimento nº 187, de 2003, do Sr. Deputado Nelson Bornier, que requer

sejam convidados os dirigentes da empresa multinacional Norte-Americana Baxter;

da empresa alemã Fresenius; da empresa RTS Brasil; o Presidente da Associação

Brasileira de Clínicas de Diálise e Transplantes, Sr. Washington Corrêa; o

Presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Sr. Ruy Barata; o Proprietário dos

Centros de Diálise Clirenal, em Caratinga, Minas Gerais; e Renaclin, em Manhuaçu,

Minas Gerais, Sr. Eli Nogueira da Silva; o Secretário de Assistência à Saúde do

Ministério da Saúde, Sr. Jorge Solla; e o representante do Ministério Público, para

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prestarem esclarecimentos sobre acusação de possível formação de cartel pelas

multinacionais.

Para encaminhar a votação, concedo a palavra ao autor do requerimento,

Deputado Nelson Bornier.

O SR. DEPUTADO NELSON BORNIER - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, o Requerimento nº 187, de audiência pública, tem por base a

divulgação, realizada no jornal Estado de Minas, do dia 21 de julho, da denúncia

dessas multinacionais referentes à questão da hemodiálise. Sabemos que se trata

de um problema que atinge diversos brasileiros.

O fornecimento desses materiais é realizado, na maioria, por multinacionais.

Chegou-nos a informação de que esse setor é controlado por algumas empresas

estrangeiras, conforme denunciado ao Ministério Público.

Sr. Presidente, Srs. Deputados, queremos que, por meio da Comissão de

Defesa do Consumidor, que tem por obrigação zelar e cuidar de cada cidadão,

prestem esclarecimentos os representantes dessas empresas, assim como os

citados inicialmente e o Ministério Público.

Essa é nossa justificativa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Concedo a palavra ao nobre

Deputado Ronaldo Vasconcellos.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS - Sr. Presidente, Sras. e

Srs. Deputados, senhoras e senhores, não quero avocar a mim o fato de Minas

Gerais estar sendo citada nesta reunião, até porque há outros competentes

dirigentes Deputados deste Estado.

A idéia do Deputado Nelson Bornier está consubstanciada no trabalho

realizado pelo jornal Estado de Minas, periódico quase secular. Trata-se de jornal

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sério e competente. Se o jornal divulgou, é porque está muito bem informado. As 2

cidades de Minas citadas são Caratinga e Manhuaçu, e em nenhuma das quais faço

política.

Parabenizo o Deputado Nelson Bornier por sua atenção e diligência.

Encaminharemos favoravelmente ao requerimento de S.Exa..

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Em votação o requerimento.

O SR. DEPUTADO CÉSAR MEDEIROS - Peço a palavra pela ordem, Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO CÉSAR MEDEIROS - Sr. Presidente, saúdo também o

Deputado Nelson Bornier pela iniciativa. Gostaria de sugerir-lhe a inclusão do Dr.

Ricardo Morishita, Diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do

Ministério da Justiça, que vem investigando a formação de cartéis pelas

multinacionais. Então, peço ao nobre colega que o convide também para essa

audiência.

O SR. DEPUTADO NELSON BORNIER - Concordo, Sr. Presidente, com a

sugestão do Deputado César Medeiros.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Com a palavra o Deputado

Celso Russomanno.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, a questão é

mais ampla. Não basta convidarmos apenas o diretor do Departamento de Proteção

e Defesa do Consumidor. Trata-se de cartel, assunto pertinente à Secretaria de

Direito Econômico. Quem recebe as denúncias de cartel é justamente o Secretário

de Direito Econômico. Então, a pessoa mais indicada — não descartando a vinda do

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diretor do DPDC — para falar sobre o assunto seria o Secretário de Direito

Econômico.

Deputado Nelson Bornier, como disse, a questão é mais ampla e envolve

também as clínicas de hemodiálise. Grande parte delas estão operando sem

condições, com aparelhos contaminados e sem condições de fazer hemodiálise de

forma adequada. Pessoas que não têm um rim estão adquirindo hepatite e outras

doenças devido à falta de manutenção dos aparelhos.

Poderíamos fazer essa audiência e, em seguida, uma outra para ouvir

representantes de clínicas de hemodiálise que não fazem a manutenção dos

aparelhos como deveria ser feita.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Em votação.

Aqueles que forem favoráveis ao requerimento com as devidas modificações

permaneçam como se encontram. (Pausa.)

APROVADO.

Item 3.

Requerimento nº 188, de 2003, do Sr. Deputado Nelson Bornier, que requer

sejam convidados o Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Sr.

Daniel Goldberg; os dirigentes dos laboratórios Abbott, Eli Lilly, Schering-Plough,

Roche, Pharmacia Brasil, Biosintética, Bristol-Myers, Squibb, Aventis, Bayer, Euro-

farma, Akzo Nobel, Glaxo Welcome, Merck Sharp, Astra Zeneca, Boehringher,

Aventis Behring, Sanofi, Wyeth-whitehall, Janssen-Cilag e Byk Química

Farmacêutica, para prestarem esclarecimentos sobre acusação de possível tentativa

de boicote contra os medicamentos genéricos.

Para encaminhar a votação, com a palavra o autor do requerimento,

Deputado Nelson Bornier.

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O SR. DEPUTADO NELSON BORNIER - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, apresentei o Requerimento nº 188 com o intuito de realizarmos

audiência pública para ouvir representantes das empresas citadas por V.Exa., uma

vez que numa matéria, que teve ampla divulgação, do jornal O Globo, edição do dia

5 deste mês, o Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça acusa os 20

maiores laboratórios instalados no País de tentativa de boicote aos genéricos.

Portanto, é uma questão que realmente nos preocupa. Eis a razão de solicitarmos

essa audiência com as autoridades já citadas por V.Exa..

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Com a palavra o Deputado

Celso Russomanno, para discustir.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, não há o que

se discutir neste relatório, ou melhor, quanto ao requerimento do Deputado Nelson

Bornier.

Esse é assunto gravíssimo, que tem chamado a atenção do povo brasileiro.

Realmente, devemos colocar em pauta, o mais rápido possível, audiência pública

deste porte e tomar as devidas providências até fazer um termo de ajustamento de

conduta, por intermédio desta Comissão, Deputado Nelson, para que os laboratórios

entrem no circuito e na linha da lei. Caso contrário, devemos tomar providências,

porque isso é gravíssimo. Ontem mesmo estávamos no plenário e discutimos o

preço dos remédios e o acesso da população de mais baixa renda a remédios no

País. Isso vem de encontro a tudo que o Governo Lula plantou desde o início, ou

seja, há 6 meses.

Então, o mais rápido possível, devemos realizar audiência pública.

O SR. DEPUTADO CÉSAR MEDEIROS - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Pela ordem, Deputado César

Medeiros.

O SR. DEPUTADO CÉSAR MEDEIROS - Sr. Presidente, também gostaria de

sugerir ao nobre colega, Deputado Nelson Bornier, a inclusão do Dr. Noberto Reis,

responsável pela política farmacêutica do Ministério da Saúde, porque aí teremos

também a visão do Governo sobre essa situação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Em votação.

Aqueles que são a favor do requerimento com os devidos adendos

permaneçam como se encontram. (Pausa. )

APROVADO.

Antes de passar ao item 4, o último da pauta, quero comunicar que

encerraremos a reunião após a apreciação deste requerimento e daremos início à

audiência pública sobre os cartórios.

Item 4.

Requerimento nº 189, de 2003, dos Srs. Givaldo Carimbão e Celso

Russomanno, que requer que a Comissão de Defesa do Consumidor, Meio

Ambiente e Minorias realize reunião de audiência pública com a presença da

Ministra de Estado de Minas e Energia; do Presidente da Agência Nacional de

Petróleo; do Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça e de

representantes das distribuidoras e das revendedoras, para discussão da recente

portaria da ANP que acaba com a exclusividade da revenda de gás de botijão, gás

de cozinha GLP.

Para encaminhar a votação, com a palavra os autores do requerimento.

Deputado Celso Russomanno.

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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, gostaria que

V.Exa. pedisse ao plenário um pouquinho de silêncio porque ninguém ouviu V.Exa.

lendo o requerimento.

Sr. Presidente, há alguns anos, esta Comissão de Defesa do Consumidor,

junto com o Ministério da Justiça, auto-regulamentou a questão do botijão de gás no

País. Havia 5 acidentes com botijão de gás por dia, o que acabou com a vida de

famílias inteiras por conta de as distribuidoras de botijão o encherem com gás de

outra.

Então, o mercado funcionava de maneira que o cidadão podia vir com o

botijão de gás do Nordeste para Brasília, ou de Brasília para o Rio Grande do Sul,

chegava no destino e a distribuidora enchia o botijão da outra, sem se

responsabilizar pela manutenção e requalificação do botijão de gás. Cinco acidentes

por dia que tiravam vidas de uma família inteira. Quando temos um acidente com

botijão de gás, não sobra ninguém para contar história numa casa, Sr. Presidente. O

botijão de gás propriamente não explode, mas vaza. O GLP é mais pesado do que o

ar, então, quando vaza fica acumulado no chão. Basta uma pessoa ligar o interruptor

de luz para que a casa vá aos ares. Acompanhei pessoalmente, no SBT, vários

casos de acidentes com botijão de gás, dos quais não sobrou sequer uma pessoa

da família, todos faleceram.

Então, auto-regulamentamos o setor e criamos no Brasil centros de destroca

dos botijões de gás. Cada distribuidora hoje é obrigada a encher seu próprio botijão

de gás, colocar lacre, fazer manutenção, requalificação e colocar o manual de

instrução. Todos os que recebem botijão de gás em casa recebem-no dessa forma.

A Agência Nacional do Petróleo não deve voltar atrás quanto a essa

decisão. Não se contém preço abusivo deixando o mercado livre para que uma

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distribuidora encha o botijão de gás da outra, mas controlando a que preço sai da

PETROBRAS e a que preço chega ao consumidor. De acordo com a PETROBRAS,

o botijão de gás sai a 12 reais. Como chega a 35 reais ao consumidor?

É isso que esta Comissão de Defesa do Consumidor tem que apurar, além de

evitar que ocorram acidentes. Hoje em dia não há mais acidentes de botijão de gás.

Temos que evitar que acidentes voltem a acontecer no Brasil, o que ameaça vidas

de famílias inteiras. Ninguém está livre de um acidente com botijão de gás; pode

ocorrer com nossa família.

Portanto, considero imprescindível que façamos esta audiência e chamemos

aqui a Agência Nacional do Petróleo, a fim de que entendam o que foi feito em 1996

e para que encontremos uma forma de conter a prática abusiva na cobrança do

botijão de gás no Brasil, ou seja, do GLP.

Há de se considerar ainda, Sr. Presidente, algo que é de interesse desta

Comissão. Cada vez que o consumidor usa um botijão de gás, ele não consegue

gastar os 13 litros, permanecendo sempre 750 gramas ou quase 1 quilo dentro do

botijão. Ele tem que deitar o botijão para conseguir se utilizar de todo o gás. Então,

quando a distribuidora recolhe o botijão de gás, ela não coloca 13 litros, mas 12

litros. Já é prática abusiva por receber mercadoria que não lhe pertence. Ela deveria

pesar o botijão de gás e descontar o gás já existente. Isso não é feito. Não bastasse

isso, os distribuidores de botijões de gás ainda estão cobrando tal preço do

consumidor final. É isso que temos que impedir nesta Comissão.

O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Pela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Com a palavra o Deputado

Luciano Zica.

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O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, mais uma vez, quero

cumprimentar o Deputado Celso Russomanno pelo conhecimento manifesto nesta

área e dizer que, de fato, a questão do GLP é delicada no Brasil sob vários

aspectos. Primeiro, o Brasil importa 40% do GLP que consome. Pela natureza do

perfil de refino, não conseguimos, mesmo que elevássemos nosso parque de refino

substancialmente, atender à demanda nacional.

Como na Europa, há utilização do gás natural, acaba tendo um excesso de

GLP, o que se resolve com importação. De outro lado, temos aqui no Brasil

verdadeiro cartel de distribuidores multinacionais de GLP, que impediram, ao longo

do tempo, inclusive, que a PETROBRAS entrasse no mercado varejista de GLP. É

um absurdo! Não há padrão de referência comparativa de custo ao consumidor, a

não ser o custo do gás comprado na refinaria ou na importadora. Evidentemente, há

a agregação absurda de custos inexistentes e o abuso na comercialização de

botijões com menos de 13 quilos, o que é muito grave.

De outro lado, há a adição de produtos pesados e, mesmo se deitar o botijão,

o cidadão não vai conseguir resgatar o resto de gás; se tentar fazê-lo, vai danificar

seus equipamentos domésticos, o próprio fogão e as panelas de forma

inconveniente. É um mercado que precisa ser bem discutido e analisado.

Infelizmente, aquela iniciativa tomada na ocasião do estabelecimento da

norma, que criou um selo de controle de qualidade do botijão, é importante, mas

acho que não é solução o expediente adotado de exigir a destroca do botijão.

Deveria ser estabelecida uma central de requalificação de botijões, em que cada

distribuidor, no momento em que carregasse o botijão, tivesse que colocar seu selo

de responsabilidade, e essa central de destroca fosse custeada pela empresas do

setor.

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Essa é uma questão importante até para garantir a competitividade.

Infelizmente, a prática que os distribuidores têm adotado é de operação verticalizada

e de subordinação dos mercados pelo estabelecimento de preços de acordo com

seus interesses. A ANP e o Ministério de Minas e Energia preocupam-se hoje em

estabelecer uma situação de garantia de controle de preços, senão, Deputado Celso

Russomanno, vamos recuperar nossa memória. Sou um estudioso dessa área, até

pela natureza da minha atividade profissional e pela minha atuação na Comissão de

Minas e Energia e, depois, na regulamentação da Lei do Petróleo.

No primeiro mês do Governo Fernando Henrique Cardoso, um botijão de gás

de cozinha custava R$4,50 ao consumidor, e 1 litro de gasolina, R$0,50. Hoje, a

gasolina custa para o consumidor em torno de 2 reais, em média. Houve aumento

de 300% na gasolina nesse período. Em relação ao GLP, houve brutal aumento de

preço, de R$4,50 passou para R$35,00 em algumas regiões, mas não houve tal

aumento no custo do GLP.

Quando houve liberalização do mercado de gás de cozinha no Brasil, havia

subsídio de R$0,15 por quilo, ou seja, R$1,95 por botijão. Quando houve a abertura

do mercado, em 1º de janeiro de 2001, o botijão do gás de cozinha custava R$17,00

ao consumidor. Foi retirado o subsídio de R$1,95 e o preço pulou para a casa dos

R$30,00.

Há algo estranho: há mais coisas entre o céu e a terra do que simples aviões

de carreira.

Concordo em gênero, número e grau de que há necessidade desta audiência,

mas faço apenas um reparo. Na Secretaria de Petróleo e Gás do Ministério de Minas

e Energia, há uma técnica, a maior autoridade do País quando se trata de gás, cuja

vida profissional está ligada a isso, a Sra. Maria das Graças Foster Silva. Para

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maior aprofundamento técnico do debate, sugiro a substituição da Ministra Dilma

Rousseff pela Secretária Maria das Graças Foster. S.Sa. esteve na CPI dos

Combustíveis e fez exposição sobre o gás. Acho que, neste primeiro momento, sua

contribuição técnica seria mais efetiva à Comissão.

Manifesto meu total apoio à aprovação do requerimento, com esse único

reparo, e com o registro de que V.Exa. introduz ao debate neste momento relevante

tema e de profundo interesse para a economia popular, principalmente.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Pela ordem concedo a palavra

ao Deputado Júlio Lopes.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

também parabenizo o colega Celso Russomanno e aproveito a oportunidade para

sugerir que convidemos o diretor do Departamento de Metrologia Legal e

Conformidade Legal do INMETRO, porque botijões de GLP são de conformidade

legal.

Realmente, como bem disse o Deputado Celso Russomanno, muitas

irregularidades têm sido verificadas, tanto na área do preenchimento, na área de

metrologia, quanto na área da formação do próprio botijão, com acidentes. Acho que

é bastante própria a presença de representante do INMETRO, com responsabilidade

técnica, a fim de avaliarmos melhor esse problema.

Essa é minha sugestão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Obrigado, Deputado Júlio

Lopes.

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Alex Canziani.

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O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Sr. Presidente, tão-somente para

parabenizar o Deputado Celso Russomanno. Acredito que esta discussão é de

fundamental importância para o consumidor.

O Deputado Luciano Zica trouxe informações em relação ao valor, e não tinha

percebido a enorme diferença ao longo do tempo. Sabemos do valor exorbitante de

hoje do preço do gás, mais do que representava em passado não muito longínquo.

Acredito que essa audiência pública é de fundamental importância.

Parabenizo o atuante Deputado porque, sem dúvida alguma, nessa audiência

haverá importantes informações para que atuemos no sentido de reverter a difícil

situação em que nosso consumidor se encontra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Concedo a palavra ao Sr.

Deputado Celso Russomanno.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, acolho as

sugestões dos nobres pares, dizendo que realmente há importância nisso. Temos

que chegar a um bom senso. O consumidor tem direito de ter botijão de gás com

qualidade em suas casas e a baixo preço, como bem disse o Deputado Luciano

Zica.

Acho que é o caminho. Convidar o INMETRO e a técnica do Ministério de

Minas e Energia só vai colaborar para o bom andamento da audiência pública.

Portanto, acolho as sugestões.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Sendo aceitas as sugestões

dos nobres Deputados, submeto-as à votação.

Em votação.

Os Srs. Deputados que concordam com o requerimento permaneçam como

se encontram.(Pausa.)

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APROVADO.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS - Sr. Presidente, peço a

palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS - Sr. Presidente, quero por

antecipação pedir a V.Exa., incansável batalhador na área ambiental, e aos nobres

pares que apóiem a Frente Parlamentar Pró-Reforma Tributária Ecológica.

Encontra-se presente o nobre Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, que

muito tem colaborado conosco.

V.Exa. anunciou que vai encerrar a reunião agora, mas também quero tratar

de um requerimento — é lógico que depois o farei de maneira formal — para que a

segunda parte da reunião do dia 27, se possível for, seja transformada a fim de que

autoridades do setor venham aqui debater essa importante questão.

Queremos, sim, reforma tributária, mas com viés ecológico. Por exemplo,

precisamos discutir a questão do poluidor pagador; do usuário pagador; do protetor

recebedor; do ICMS ecológico; dos critérios ambientais do ITR; da taxa relativa a

resíduos sólidos, que é importante para as Prefeituras; dos critérios ambientais para

a cobrança do IPI e da CIDE ambiental.

Esse requerimento por nós apresentado é apenas para suscitar, motivar

nossos companheiros, principalmente V.Exa., Sr. Presidente, e outros Deputados

que têm ligação com a questão ambiental, para que nos ajudem junto à reforma

tributária com um viés ecológico.

Muito obrigado.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Alberto) - A Mesa acolhe a sugestão de

V.Exa. Em boa hora, foi criada essa Frente Parlamentar. Com certeza, estaremos

aderindo a ela. Aguardaremos seu requerimento formal.

Nada mais havendo a tratar, vou declarar encerrada a presente reunião.

Antes, porém, convoco os senhores membros a permanecerem em plenário para a

realização da audiência pública, logo em seguida, sobre a legitimidade da atuação

dos cartórios.

Convido o Deputado Nelson Bornier para presidir a audiência pública a ser

realizada neste momento.

Está encerrada a presente reunião. (Pausa.)

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Bom dia a todos.

Declaro aberta a presente reunião de audiência pública, que tem por objetivo

debater a legitimidade da atuação dos cartórios.

Os autores dos requerimentos são os Deputados Luiz Alberto, Alex Canziani,

Renato Cozzolino, Celso Russomanno e João Alfredo.

Convido a tomarem assento à mesa os senhores convidados: Orlando Maluf

Haddad, Vice-Presidente da OAB de São Paulo, representando o Sr. Rubens

Approbato Machado, Presidente da OAB; Domingos Henrique Leal, representando o

Sr. Marfan Martins Vieira, Presidente da Associação Nacional dos Membros do

Ministério Público; Luiz Francisco de Souza, Procurador da República; José Osório

de Azevedo Júnior, Presidente da Associação de Juízes para a Democracia; José

Luiz Castro Silva, Presidente do Sindicato dos Escreventes e Auxiliares Notariais e

Registrais do Estado de São Paulo, representando o Sr. Francisco de Assis Duarte

da Silva, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Registrais e Notariais. (Pausa.)

Ausente. Convido ainda o Sr. Márcio Braga, Diretor da ANOREG, representando o

Sr. Rogério Portugal Bacelar, Presidente da Associação dos Notários e

Registradores do Brasil — ANOREG.

Esclareço ainda que foram convidados a participar, na condição de

expositores da presente reunião, o Sr. Cláudio Baldino Maciel, Presidente da

Associação dos Magistrados do Brasil — AMB, que enviou a esta Comissão fax

alegando impossibilidade de comparecer por estar presente à audiência pública em

Comissão do Senado Federal que trata da reforma do Poder Judiciário; e a Sra.

Marilene Lazzarini, Coordenadora Executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do

Consumidor — IDEC, que comunicou por telefone a impossibilidade de comparecer.

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Quanto à organização dos trabalhos, a Mesa vai conceder inicialmente a

palavra aos expositores por 10 minutos. Em seguida, farão uso da palavra os

autores dos requerimentos, Deputados Luiz Alberto, Alex Canziani, Renato

Cozzolino, Celso Russomanno e João Alfredo, por 3 minutos. Por fim, os

Parlamentares previamente inscritos, sendo facultadas em qualquer caso a réplica e

a tréplica. A lista de inscrição encontra-se à disposição dos Parlamentares com os

servidores da Comissão.

Informo que esta reunião está sendo gravada e, a fim de facilitar a posterior

transcrição, solicito a gentileza por parte dos que fizerem uso da palavra que

declinem o nome antes de iniciar a exposição.

Feitas estas considerações iniciais, passo a palavra ao Sr. Orlando Maluf

Haddad, Vice-Presidente da OAB de São Paulo, representando o Sr. Rubens

Approbato Machado, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.

O SR. ORLANDO MALUF HADDAD - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

senhoras e senhores, inicialmente agradeço a oportunidade e peço escusas por não

poder permanecer além do tempo regimental que a Mesa me concede, uma vez que

Dr. Rubens Approbato, a quem representamos, também está presente na Comissão

da Reforma do Poder Judiciário e, na última hora, solicitou nossa participação nessa

importantíssima audiência. De forma que, desde já, Sr. Presidente, peço escusas a

V.Exa. e ao Plenário.

Nossa participação nesse tema tão importante sobre os cartórios ressurgiu no

início do ano, no Estado de São Paulo, quando, logo após as festas de fim de ano,

fomos surpreendidos por nova tabela e nova lei que tratavam das custas e

emolumentos dos cartórios não judiciais, notários, dos registros de imóveis, de

registro civil e outros afins.

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Isso fez com que a Ordem, por nosso intermédio — estávamos,

coincidentemente, na interinidade —, providenciasse de imediato uma comissão

para estudar o assunto com a rapidez necessária e se evitar aplicação dos

exorbitantes preços, na maioria das vezes aumentados em mais de 500%.

À primeira vista pareceu-nos que se tratava de exorbitância, de abuso. Apesar

desse choque, com a maior serenidade possível, determinamos fosse feito um

estudo. Para tanto, compareceram os representantes dos cartórios, inclusive o

Colégio Notarial, que se dispuseram a participar desses estudos que a OAB

coordenou. Convidado a participar, inicialmente, o Sr. Secretário de Justiça do

Estado não pôde ou não quis participar das primeiras reuniões, mas acabou se

fazendo representar.

Logo em seguida, obtivemos significativo resultado: a revogação parcial dos

preços estabelecidos pela citada Lei nº 11.331, pelo próprio Governador do Estado,

aqueles considerados mais altos e abusivos. Isso ensejou que a Comissão da OAB

em São Paulo se tornasse permanente, com o intuito de maior abrangência, ou seja,

não somente tratar do preço dos atos cartoriais e daquela tabela, publicada

juntamente com a lei estadual, mas, sim, de perquirir os verdadeiros serviços do

cartório, sua natureza, como se cobrá-los legal e constitucionalmente sem perder de

vista a importância dessa classe que auxilia o Poder Judiciário de forma singular. A

propósito, trata-se de uma das mais antigas profissões do Brasil, detalhe que é e

deve ser considerado com o maior respeito por todos nós.

Essa comissão seguiu com os estudos a par de uma série de considerações

de ordem jurídica que gostaria de passar aos senhores, com todo o respeito. Foram

nossas primeiras conclusões.

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Em primeiro lugar, que tipo de serviço é o do Cartório? Trata-se de serviço

público, embora exercido por particulares.

Essa é realmente uma das nossas conclusões, inclusive de 2 pareceristas de

grande mérito e envergadura: os Profs. Marco Aurélio Greco e Celso Antônio

Bandeira de Mello.

Trata-se realmente de serviços públicos. Por quê? Porque são delegados do

Poder Judiciário; são atividades que o Poder Judiciário delega aos titulares e a

outros componentes de cartório para que exerçam a função pública. Então, essa

primeira natureza resta-nos induvidosa.

Trata-se realmente de serviço público por delegação. Sendo assim, como se

podem cobrar os serviços quando há a possibilidade de o fazer? Essa é outra

discussão, que gostaria de resumir, sem maiores detalhes, os quais poderão ser

trazidos em outras oportunidades.

Realmente, a natureza da cobrança feita por tais serviços é de taxa, não de

imposto. Qual é a grande diferença preconizada pelo art. 145 da Constituição

Federal? A taxa é cobrada e tem de ser de montante muito estreitamente próximo

aos serviços efetuados. Ou seja, quando se cobra imposto, a diversificação da

destinação é permitida; quando se cobra taxa, não, porque ela diz respeito a

determinado tipo de serviço.

Então, concluímos, bem resumidamente, que é tributo por vários serviços

prestados o que os cartórios cobram da população e que a natureza do tributo é a

taxa, dentro da definição tributária em nossa Constituição Federal.

Isto posto, em primeiro lugar, restaria discutir, no âmbito estadual — aqui nós

propusemos —, em se tratando de taxa, qual seria, com a maior justiça, a base de

cálculo para se estipularem aqueles preços. E era o que justamente não havia

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naquela lei. Não havia uma justificativa plausível para que se cobrassem aqueles

preços.

Quero ressaltar a colaboração — volto a dizer — de todas as entidades

cartoriais que realmente trouxeram seus elementos para que pudéssemos avaliar o

assunto em nossa comissão, na Ordem, mas não houve convencimento sobre como

o Poder Executivo determinou aqueles preços por nós atacados, inclusive com

repercussão na grande imprensa e no âmbito nacional.

A questão dos cartórios, portanto, permanece em discussão na Ordem

estadual, encampada pela federal, que represento neste evento. Penso que esta

discussão deve alastrar-se, incluir a participação de todos, mas chegar a conclusões

que sigam as Constituições Federal e Estaduais, que, sem dúvida nenhuma,

também estabelecem os preceitos desse tributo, dessa atividade, delegada pelo

Poder Judiciário.

Em suma, Sr. Presidente, estas eram as observações que a Ordem tinha a

fazer, com base na experiência da Ordem de São Paulo e da Ordem do Brasil a

respeito do assunto, tão palpitante e interessante para nossa população. Muito

obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Muito obrigado, Dr. Orlando

Maluf Haddad.

Ouviremos agora nosso segundo convidado.

Com a palavra o Dr. Domingos Henrique Leal, representante do Sr. Marfan

Martins Vieira, Presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério

Público.

O SR. DOMINGOS HENRIQUE LEAL - Sr. Presidente, demais membros da

Mesa, Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores, a Constituição Federal, em seu

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art. 236, estabelece que os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter

privado, por delegação do Poder Público. Isso é texto constitucional. Portanto, não

há a menor dúvida de que se trata de serviços públicos exercidos particularmente,

privadamente, por meio de delegação.

Todavia, no mesmo artigo, em seus parágrafos, a Constituição estabelece

uma série de controles sobre o exercício privado de atividade pública:

responsabilidade civil e criminal dos delegatários dos serviços; fiscalização dos

serviços prestados pelo Poder Judiciário; fixação, por lei federal, de normas gerais

sobre a cobrança dos emolumentos, que seriam os estipêndios dos serviços

prestados — tais emolumentos são de caráter tributário, como já tem sido

reconhecido imperativamente pelo Supremo Tribunal Federal; e, por último, talvez o

mais importante, acesso a essas delegações por meio de concurso público de

provas e títulos. Ou seja, a própria Constituição, embora tenha privatizado a

atividade, estabeleceu uma série de controles para que ela se fizesse corretamente,

uma vez que se trata de prestação de serviço público por delegação.

Em decorrência da Constituição Federal, a Lei nº 8.395, de 1994, normatizou

esse preceito constitucional, estabelecendo todas as regras relativas a concurso,

responsabilidade civil etc. A Lei nº 10.169, de 2000, estabeleceu as normas gerais

sobre os critérios de cobrança de emolumentos. Portanto, em termos normativos,

não há nenhuma brecha ou lacuna a ser preenchida. O artigo da Constituição foi

devidamente regulamentado por essas duas leis.

A responsabilidade civil dos notários, segundo a lei, inclui a atividade de seus

prepostos. Ou seja, qualquer dano sofrido por particular — é importante discutir isto

em uma Comissão de Defesa do Consumidor — em decorrência de atividade

notarial ou de registro, seja do titular, seja de seus prepostos, é regulado pela lei que

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determina a responsabilização direta. Existem, inclusive, Estados que exigem

apresentação, pelos notários registradores, de apólice de seguro que cubra qualquer

dano, forma muito mais eficaz, muito mais rápida do que a feita por acesso ao

Judiciário.

Portanto, do ponto de vista do consumidor, a responsabilidade civil, inclusive

com exigência de seguro em certos Estados, parece-me atender perfeitamente ao

usuário, ao consumidor.

Além disso, a lei estabelece responsabilidade penal, equiparando os notários

registradores a funcionários públicos nesse sentido. Ou seja, todos os crimes

previstos no Código Penal, no capítulo relativo a funcionários públicos — peculato,

concussão etc. —, também são regulados por essa lei. Portanto, o notário

registrador responde criminalmente por qualquer ato ilícito e criminoso que venha a

cometer.

Com relação aos emolumentos, a Lei Federal nº 10.169, de 2000, atendendo

ao preceito constitucional, fixou normas gerais sobre a cobrança dos emolumentos,

mas deixou por conta dos Estados a fixação dos valores.

Os notários registradores simplesmente cumprem as tabelas fixadas pelo

Poder Executivo, em alguns Estados, ou pelo Poder Judiciário, em outros. Portanto,

as tabelas são fixadas não pelos delegatários, mas, sim, por esses órgãos públicos.

Às vezes ocorrem distorções em relação a essas tabelas de emolumentos,

decorrentes talvez da sua fixação sem a devida correção, quando da apreciação de

planilhas de custos efetivamente necessárias à prestação daquele serviço.

Então, caberia aos Estados fixar emolumentos razoáveis, compatíveis com

serviços prestados e, não, muitas vezes díspares. Se me perguntarem sobre a

correção desses emolumentos, responderia que depende. Em alguns Estados são

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exageradas, como, por exemplo, São Paulo, onde houve aumento exacerbado via

legislação, depois revogada pelo Governador. Em outros isso não acontece, mesmo

na atividade notarial interna de registros. Ou seja, existem certos atos e funções com

preço excessivo e outros com preço muito pequeno. Então, há necessidade de que

os Estados revejam suas tabelas levando em conta critérios objetivos e

mensuráveis.

Outro problema em relação a emolumentos é que, em certos Estados, até de

uma maneira que considero inconstitucional, foram criados fundos que recebem

recursos por meio desses emolumentos cobrados pelos notariais registradores. Quer

dizer, quando alguém paga 200 ou 500 reais por uma escritura, boa parte desse

dinheiro não é destinada ao titular, mas ao Poder Público e mesmo ao Poder

Judiciário.

No Estado de São Paulo, mais de 50% dos emolumentos são transferidos

para o Poder Judiciário. Tal distorção também tem que acabar. Os emolumentos

servem, sim, para pagar os serviços prestados de maneira razoável e módica, e não

para financiar o Poder Judiciário, ou a multa dos magistrados, ou o plano de saúde

de quem quer que seja, como ocorre em muitos Estados. Esse aspecto também

merece ser revisto, ou seja, emolumentos razoáveis sem apêndices que onerem o

consumidor.

Os notários registradores seguem o regime da Previdência e, portanto,

aposentam-se pelo INSS. Ou seja, não há nenhum ônus do Poder Púbico em

relação a essas atividades, porque o recolhimento é feito pelo INSS e a

aposentadoria é regulamentada pelo sistema geral previdenciário.

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Outro aspecto que se poderia discutir sob a ótica do consumidor é a eficiência

desses serviços. Dois pontos, a meu ver, merecem destaque: seriam módicos os

emolumentos e eficientes os serviços.

Quanto à qualidade do serviço, diria que são muito melhores agora do que

quando eram prestados diretamente pelo serviço público. Quer dizer, em termos de

eficiência, o consumidor ganhou qualidade.

Os titulares e notários registradores investem nos serviços, aplicam

pesadamente em informática, procuram atualizar seus dados, contratam os

empregados necessários à boa prestação do serviço, ao contrário da época em que

essas atividades eram exercidas diretamente pelo serviço público, quando a

situação era terrível. Àquela época havia os famosos bagrinhos, pessoas

contratadas sem nenhum direito. Eram contratadas porque aqueles órgãos, com

lotação indeterminada, alegavam a insuficiência de pessoal. Havia essa prática de

contratar pessoas sem quaisquer direitos, os chamados bagrinhos. Isso acabou.

Do ponto de vista da eficiência, foi boa a privatização.

Do ponto de vista do valor dos emolumentos, diria que essa situação é muito

variável. Depende dos Estados, das tabelas e também da existência ou não desses

vários apêndices que, como disse, oneram o consumidor.

Por último, a fiscalização do Poder Judiciário também prevista na

Constituição.

A meu ver, tal fiscalização deveria ser mais eficaz. Na prática, é a

Corregedoria-Geral da Justiça, órgão do Judiciário, que faz essa fiscalização. Isto é,

exerce sua atividade de caráter normativo ao baixar resoluções, atos, avisos e

provimentos em quantidade. Há verdadeira algaravia de determinações, todas

normativas, quando a fiscalização deveria ser feita in loco, nas sedes das serventias

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e dos serviços registrais, para se verificar o que realmente vem acontecendo e não

baixar, de longe, atos normativos muitas vezes contraditórios e causadores até de

dificuldades na prestação de serviços.

Volto a enfatizar que a eficácia veio com a privatização. Lembro também que

hoje a eficiência do serviço público é preceito inserido na Constituição pela Emenda

nº 19. Isto é, por princípio constitucional, o serviço público tem que ser eficiente.

Quanto aos emolumentos, acredito que há distorções graves e sérias em

vários Estados que deveriam ser realmente reexaminadas; e até mesmo excluir

certas práticas, como aderir aos emolumentos valores outros que servem apenas

para financiar o Poder Judiciário, como as multas de magistrados etc.

Sr. Presidente, seriam as observações que desejava fazer sobre o assunto.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Agradeço ao Sr. Domingos

Henrique Leal, que representa o Sr. Marfan Martins Viera, Presidente da Associação

Nacional dos Membros do Ministério Público.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Tem a palavra V.Exa.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Qual o tempo que V.Exa.

determinou para cada palestrante?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dez minutos.

Passo a palavra ao Dr. Luiz Francisco de Souza, Procurador da República.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Na visão da maior parte dos

Procuradores da República, esse serviço deveria ser estatizado. Por que deveria ser

estatizado? Primeiro, pela mistura; na verdade uma promiscuidade que reputo não

tem nada de republicana. Ela tem a ver com o resquício da permissão de entregar

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para um particular o direito de explorar, naquele território ou base geográfica, com

absoluto monopólio e com obrigatoriedade a consulta e o serviço, para que possa

auferir rendas de 50.000, 100.000 e até 200.000 por mês.

Não vejo nada de republicano numa situação como essa. A meu ver, sequer o

pensamento liberal admite algo assim. Nem o liberalismo com seus aspectos muitas

vezes iníquos e nada de republicano aceitaria um mecanismo tipo cartório. Na minha

visão, quase toda a grilagem existente no País tem sua origem nos cartórios de

imóveis.

Trabalhei no Acre, onde, nos cartórios de imóveis, os títulos ainda se baseiam

nas estradas de seringa, ou seja, uma unidade agrária indecisa, imprecisa e

nebulosa. Lá há 3 andares de títulos de terra. Se for mais profundo ainda, há mais

terra titulada no Acre do que todo o território do Estado, sendo que todo o território

do Acre é maior do que Cuba e Portugal. São 152.000 quilômetros.

Havia um latifúndio de um ex-Senador com 3 milhões de hectares no Acre

registrado no cartório. Por isso um ex-delegado da Receita no Acre tinha um

latifúndio de 2 milhões de hectares, tudo terra grilada.

Para mim, os cartórios de imóveis são o covil número um na grilagem de

terra. A meu ver, teríamos que fazer o controle de quem é dono de cada território

nas cidades. O registro do IPTU faz isso perfeitamente, com muito mais correção e

controle, até porque é necessário ter algum mecanismo do Estado sempre pajeando

e verificando para poder auferir bem o IPTU que deveria ser progressivo e para

impedir o acúmulo e a especulação agrária. O registro do IPTU bastaria para

garantir o registro das terras urbanas.

O ITR aufere todos os anos o valor de 300 milhões. Na verdade, deveria ser

uns 5 bilhões por ano para poder, aos poucos, ir dizimando e queimando com o

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fogo meio lento o latifúndio; só aufere 300 milhões porque se trata de um registro

mais que precário. Na verdade, é um imposto que nunca foi bem aplicado e

verificado com exatidão. Se observarmos a propriedade rural, verificaremos a

existência de três registros: o do INCRA, o do ITR, da Secretaria de Receita Federal,

e o dos cartórios de imóveis. Os 3 são quase que incomunicáveis e prestam

informações distintas.

Se houvesse uma CPI das Terras, como houve em 1977, isso ficaria bem

mais transparente. Por exemplo, como aconteceu aqui no interior de Goiás, ou no

Pontal do Paranapanema, em São Paulo, para que o Estado tivesse controle sobre a

titularidade daquela propriedade, como foi adquirida, os registros do INCRA, do ITR

e dos cartórios não deveriam trazer números distintos.

Estou respaldado basicamente nas mesmas opiniões da Associação de

Juízes para a Democracia, que reputo ser uma das melhores associações de juízes

e também do Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Dr. Laerte Nord,

em excelente artigo com o título Extinção, Oficialização e Manutenção, que o Dr.

José Osório teve a bondade de nos mostrar aqui, tal como o Juiz Urbano Ruiz.

Todos nós comungamos das mesmas opiniões.

Quanto aos cartórios de protestos de títulos, não entendo como é que a

grilagem pode atender ao consumidor. Fico pasmo. A grilagem de terras no DF,

sobre a qual temos um estudo que, inclusive, nos levou a processar o Governador

Roriz e 2 ou 3 donos de cartórios, mostra que boa parte dos registros em cartórios

são totalmente imprecisos. Parte da conservação ambiental não é registrada, o que

nos leva a crer que, mesmo na Capital da República, o Estado não tem controle

exato de quem é o dono de cada terra. Há muitos casos de grilagem, como pode ser

conferido no relatório da CPI da Grilagem, de 1995, aqui do Distrito Federal.

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Assim, nem na Capital da República, local que deveria ser quase todo de

terras públicas, como está no antigo projeto, há controle sobre as terras. Na

verdade, se observarmos, há grilagem de terras em todo o País e a origem dessas

grilagens, como disse, está nos cartórios de registros de imóveis. Acho que não

atende ao consumidor, simplesmente porque a grilagem de terras nunca vai atender

a ninguém. Milhares de pessoas aqui no DF compraram terras nos condomínios

rurais pensando que estavam comprando coisa boa e depois vieram a descobrir que

essas terras pertencem à União. Trata-se de um grande logro que contou com a

conivência da...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bournier) - Dr. Luiz Francisco,

gostaria de lhe advertir que faltam apenas 2 minutos.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Os cartórios de protesto de títulos

também não atendem o consumidor em nada, porque, em regra, são um mecanismo

de vilipêndio e de humilhação. A CPI da SERASA mostra também que, nesse ponto,

as leis do País não garantem a dignidade das pessoas e não asseguram que

pessoas simples e trabalhadoras não podem ser negativadas e protestadas sem

nenhum direito de defesa. Esses cartórios, a meu ver, também deveriam ser

extintos.

Os cartórios de reconhecimento de firma são literalmente uma burocracia.

Trabalhei como advogado da Caixa Econômica e me lembro do meu chefe falando:

“Gente, manda aqueles documentos para o cartório.” E a gente respondia: “Cadê os

originais?” E ele: “Para que original?” E mandavam uma batelada de documentos

para o cartório, que reconhecia tudo sem o original, pois havia pecúnia envolvida.

Os titulares dos cartórios faziam concurso para ganhar 200.000. Há um

acórdão do Tribunal de Contas da União que diz que o correto é os titulares de

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cartórios receberem, no máximo, o que recebe o Presidente da República. Agora,

com a reforma da Previdência, há previsão de tetos. Ora, se se está prevendo tetos,

se querem imputar um teto, o que reputo também ofensivo aos Desembargadores

de Justiça dos Estados, tem de se estipular um teto para os titulares de cartórios,

evitando que essa reforma da Previdência...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dr. Luiz Francisco, conclua,

por favor, pois os10 minutos já se passaram.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Então, é vital que se estipule um teto

nessa reforma da Previdência. Ou seja, eles deveriam ganhar, no máximo, metade,

ou, então, 70% do que ganha um juiz e olhe lá.

De fato, a meu ver, o caminho correto, vou até repetir, o caminho correto seria

a gradual estatização desse serviço. Ele pode ser muito bem e melhor realizado pelo

IBGE, que deveria realizar um trabalho mais denso ligado à Receita, conforme prevê

a Constituição, um controle perfeito sobre cada rendimento e cada bem que a

pessoa possui, levando-se em conta também o seu estado civil e outros pontos. No

momento em que tivermos isso haverá a diminuição da grilagem, da lavagem de

dinheiro, da sonegação, da corrupção e do tráfico de drogas.

Então, esse tipo de serviço, o registro que o Estado deve ter sobre as

atividades negociais e o patrimônio de cada cidadão, deveria ser muito mais bem

realizado, ligado à Receita Federal e a outros órgãos públicos, para que haja mais

justiça.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dr. Luiz Francisco, por

favor, temos mais 6 expositores. Não posso lhe conceder mais tempo, até porque já

são 12h11min e temos palestrantes que usarão da palavra, além dos Deputados

autores do requerimento que formularão suas perguntas.

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O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Já encerrei.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Muito obrigado.

Com a palavra o Dr. José Antônio Osório de Azevedo Júnior, Presidente da

Associação de Juízes para a Democracia.

O SR. JOSÉ OSÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, é um imenso prazer falar desta tribuna, uma das mais livres que possui

este País. Aqui se pode falar tranqüilamente, expor as próprias idéias. Aproveito a

oportunidade para também fazer uma saudação aos titulares de cartórios, aos

trabalhadores de cartórios, com quem sempre tivemos pontos de vista divergentes,

mas sempre com muito respeito.

Fomos convidados para participar desta audiência pública, porque em 1997 e

1998 a nossa Associação de Juízes para a Democracia levantou o problema do

trabalho e da legitimidade dos serviços cartorários, ressaltando, inclusive, que há

cartórios e cartórios. Houve muito debate, a mídia se interessou enormemente,

jornais e televisão divulgaram matérias, principalmente a partir dos dados trazidos

pelo Dr. Urbano Ruiz, hoje Desembargador do 1º Tribunal de Alçada de São Paulo.

Chegou-me às mãos hoje o jornal Tribuna do Direito, que traz artigo do nosso

colega Desembargador Laerte Nord, de São Paulo. A Cibele disse que vai

distribuí-lo para todos. Embora não seja membro da nossa Associação, mas apenas

simpatizante, ele fez um resumo de suas idéias básicas.

O que acho mais importante destacar neste curto período é o nosso

entendimento sobre medidas de longo prazo. A sociedade pode e deve procurar

resolver os problemas com os serviços prestados pelos cartórios utilizando novas

formas. Isso é coisa que já vem de um passado muito longínquo. Hoje, há

possibilidade de muitos desses serviços serem feitos por outros meios.

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O Dr. Luiz Francisco lembrou aqui o caso do registro civil com repercussões

na Previdência e no Direito Eleitoral. Tudo isso poderia perfeitamente ser atribuído a

órgãos tecnicamente mais habilitados do que a diversos cartórios.

Acreditamos que realmente não há razão para que 2 tipos de cartório existam:

o de registro de títulos e documentos e o de protesto.

O cartório de registro de títulos e documentos tem 2 carros-chefes: os

registros das alienações fiduciárias e as notificações extrajudiciais.

O registro das alienações fiduciárias não oferece segurança concreta, porque

é feito no domicílio do devedor. O Código Civil prevê que a pessoa pode ter mais de

um domicílio, mais de uma residência. A pessoa jurídica também pode ter vários

estabelecimentos. Cada local pode ser considerado o seu domicílio. Portanto,

mandar registrar em determinado domicílio do devedor não traz praticamente

segurança nenhuma.

O novo Código Civil já inovou. Talvez pela primeira vez e demonstrando

grande sensibilidade, permitiu que a constituição do direito real da propriedade

fiduciária possa ser feita com o registro no cartório de registro de títulos ou na

repartição de trânsito, nos DETRANs, usando, portanto, uma repartição pública para

conferir um direito real. Por que isso? Porque nesse local, nas repartições de

trânsito, é onde está um registro mais seguro para o cidadão, atinge todo o Estado e

está conectado com todo o País. Nesse ponto, acho que é um dos carros-chefes.

Realmente não vejo maior eficácia, nem justificativa social para ele.

Nas notificações isso fica mais patente, ou é tão patente, porque, como todos

sabem, elas não geram direitos. A notificação ressalva direitos ou comunica fatos e

pode perfeitamente ser feita por qualquer meio que faça chegar esse conhecimento

à outra parte.

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Essa notificação pode ser feita pelo correio. Dizem os donos de cartório que o

correio é ineficiente. Não é. Tanto não é que o próprio cartório usa demais o correio.

O cartório não sai para fazer notificação. Ele manda pelo correio uma carta que

assusta o cidadão, que o faz ir correndo ao cartório, onde é notificado. A nosso ver,

isso não é razoável, ainda mais porque esse mensageiro vai como se fosse um

Oficial de Justiça, quando, na verdade, ele não o é, pois não tem fé pública.

Há outros pontos que não implicam medidas radicais como essas. São muito

recomendáveis e podem melhorar a vida do cidadão.

Agora, quero me referir aos tabeliães. Como se adquire imóvel no Brasil?

Adquire-se imóvel mediante compromisso particular de compra e venda. Nesse

caso, o compromisso é o contrato definitivo. Ali se estabelece tudo, inclusive a

possibilidade de adjudicação compulsória, quer dizer, de exigir o contrato.

Na hora de lavrar a escritura, já não há mais nada para transmitir. Não há

hoje nenhum autor sério que veja alguma valia, alguma eficácia, alguma justificativa

para a chamada escritura definitiva. Temos hoje, na ordem jurídica brasileira, casos

com registro em que essa escritura é dispensada. Basta ampliar essa hipótese para

outros casos. Uma única lei, pequena e simples, pode beneficiar centenas de

milhares, milhões de pessoas no País.

Era o que tinha a dizer nesta fase.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Agradeço ao Dr. José

Osório.

Está ausente o Sr. José Luiz Castro e Silva, Presidente do Sindicato dos

Escreventes e Auxiliares.

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Passo a palavra, então, ao Dr. Márcio Braga, que representa o Presidente da

Associação dos Notários e Registradores do Brasil, Rogério Portugal Bacelar.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Sr. Presidente, Deputado Nelson Bornier,

companheiros de Mesa, Srs. Deputados, minhas senhoras, meus senhores, em

primeiro lugar, quero registrar a minha emoção de estar de volta. Deixei esta Casa

depois de duas Legislaturas, há 12 anos. Estou saudoso de meus amigos. Vejo aqui

os companheiros Deputado Ronaldo Vasconcellos e o Senador Mauro Benevides,

que muito bem conduziu, na Vice-Presidência, a Assembléia Nacional Constituinte;

vejo também — perdoem-me não citar os demais — o companheiro do Rio de

Janeiro, Deputado Júlio Lopes, rubro-negro, isso nos toca muito o coração.

Sr. Presidente, quero também ressaltar que estão presentes no plenário,

conforme ofício encaminhado a esta Comissão, o Dr. Luiz Gustavo Leão Ribeiro,

Presidente do Instituto de Registro Imobiliário do Brasil; o Dr. José Flávio Bueno

Fischer, representando o Colégio Notarial do Brasil; o Dr. Léo Barros Almada,

representando o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil; o Dr. Carlos

Alberto do Valle e Silva Chermont, representando o Instituto de Registro de Títulos e

Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil; o Dr. Jaime Alencar Araripe Júnior,

representando a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais.

São esses institutos, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, que compõem a

ANOREG, que aqui represento em nome do nosso Presidente, Dr. Rogério Bacelar,

que também está presente.

Sr. Presidente, trouxemos a nossa opinião sobre esses assuntos em debate

— serventias, emolumentos — por escrito. Não vou ler, mas passo às mãos de

V.Exa. para que o documento seja registrado nos Anais da Casa. Esta é a

manifestação oficial dos tabeliães e registradores do nosso País.

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Quero dizer também que estou com 46 anos de serviço. Comecei muito jovem

e acho que temos evoluído muito. Nascemos lá na Roma Antiga. Não somos criação

de Portugal ou da Espanha. Viemos do Direito Romano. Nós nos chamamos

tabeliães. A palavra origina-se naquela pessoa que sentava na sarjeta, na Roma

Antiga, e que não portava por fé a vontade das partes, mas com imparcialidade dava

forma legal aos atos que as partes queriam consignar. De lá para cá, foram criadas

novas funções. A celula mater do notariado e dos registradores de tipo latino é o

tabelião romano, é o Direito Latino. Não compomos um quadro social meramente no

Brasil.

Eu próprio já fui Presidente do Colégio Notarial do Brasil — seu primeiro

Presidente e fundador —, no antigo Estado da Guanabara, e Presidente da

Associação dos Titulares naquele Estado. Exerci, em nome do Brasil, a

Vice-Presidência da União Internacional do Notariado Latino. O tipo de tabelião, de

notário que temos no Brasil, que é o tipo latino, é o mesmo de toda a América do

Sul, de colonização espanhola. Até alguns Estados americanos têm o mesmo tipo

de notariado que adotamos no Brasil, para não dizer toda a Europa, inclusive a

Alemanha. Fui eleito num congresso notarial na Áustria, em Salzburgo, patrocinado

pela Alemanha e pela Áustria, em 1969.

Com a queda do Muro de Berlim, todos os Estados que passaram a compor a

União Européia do leste europeu, todos eles têm o sistema tipo latino. Até a Rússia

vai implantá-lo. Os notários já estão lá para implantar o sistema de registro

imobiliário que há no Brasil, em toda a Europa e em toda a América Latina.

Quis começar abordando esse ponto para mostrar que não nascemos hoje,

que não aparecemos aqui com a colonização portuguesa, que não somos

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hereditários de qualquer outro parente nosso. Sempre a concessão se deu por

intermédio do Poder Público e, a partir de 1988, por concurso público.

Somos cerca de 20.000 serventias no Brasil inteiro. Se colocarmos 20

funcionários, em média, por serventia, somos cerca de 400.000 que se empregam

nas tarefas de registradores e de notários. Se botarmos 4 pessoas por família

nesses 400.000, envolvemos um montante de 1,6 milhão de pessoas que vivem

dessa atividade. Se colocarmos ainda mais os despachantes, contadores, gráficos,

advogados que participam da atuação notarial e de registro, vamos chegar perto de

2 milhões de brasileiros que vivem dessas funções.

Eu, que tenho convivido com isso nesses últimos 46 anos, posso afirmar —

vou reafirmar — que o sistema evoluiu muito. Estamos no caminho de nos

adequarmos a um sistema inteiramente novo. Não é a estatização, para mim, a

solução. Volto a dizer: estou há 46 anos cumprindo essas funções. Bate como

atraso entregar ao Poder Público aquilo que a sociedade conquistou com os seus

mecanismos, dado que o pagamento é irrisório. É um passo atrás.

Vou dar a V.Exas. um exemplo, para terminar, Sr. Presidente. Lá no nosso

Rio de Janeiro, criamos uma central de certidões. O cidadão em vez de ter que ir

aqui, ali e acolá, vai num só local e tira qualquer jogo de certidões para montar

empresa na Junta Comercial, para fazer uma escritura, para qualquer necessidade

que tenha. Mais do que isso, no mesmo local já funciona uma central de custas

nominais, ou seja, você dá o nome da pessoa e o CPF, aperta um botão, aparece na

tela todas as distribuições, tudo aquilo que a pessoa possa ter necessidade de obter

informação — repito, num só local, não precisa ir mais aqui, ali e acolá —, inclusive

dos feitos judiciais. Estamos sempre no campo do extrajudicial, dos notários

registradores, mas ali você pode pesquisar os feitos judiciais. Ali também funciona

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uma Central de Atendimento ao Cidadão que presta inestimável serviço à

sociedade.

Essa idéia que nasceu no Rio de Janeiro, das luzes do Dr. Léo Almada, que

aqui representa os protestadores, atende principalmente à população de baixa

renda. Você não tem como, a sociedade não tem, o Rio de Janeiro não tem... 52%

da população do Rio de Janeiro mora ilegalmente.

Como corrigir isso? Nós estamos ajudando, por intermédio dessa Central de

Atendimento ao Cidadão, buscando soluções juntamente com a Prefeitura, que

também não tem idéia de todas essas ocupações irregulares, principalmente as

favelas e loteamentos clandestinos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Para concluir, Dr. Márcio

Braga.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Para concluir. Se o Poder Público não tem

capacidade de administrar esse gravíssimo problema, procuramos contribuir, por

intermédio da nossa atuação notarial e registral. Avançamos muito, e o futuro, meus

companheiros, queiramos ou não, aponta para a globalização e a informatização.

Temos que estar ligados ao mundo, e o nosso sistema notarial e registral

não-estatizado é o que nos liga a todo o sistema econômico-financeiro da Europa,

dos Estados Unidos e, para não dizer, da América Latina. Até o Japão já tem o

notariado de tipo latino — não sei se o registro de imóveis também já chegou lá.

Eles vieram buscar essa sabedoria aqui no ocidente. A Ásia já procura se

encaminhar para tal.

Portanto, passar todo esse sistema, entregue à iniciativa privada como uma

delegação do Poder Público, para a ação privada daqueles que ocupam essas

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funções, meus caros senhores — e já estou com 67 anos de idade, 46 de serviço, à

beira da aposentadoria —, seria um grave desastre para este País.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, inicialmente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Agradeço ao Dr. Márcio

Braga.

(Não identificado) - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem..

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Tem V.Exa. a palavra.

(Não identificado) - Fiz menção a esse artigo aqui e queria, conforme a

jurisprudência do Dr. Márcio Braga, pedir que fizesse parte dos nossos Anais

também. Aliás, já foi distribuído.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Está bem, foi entregue e irá

constar.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS - Sr. Presidente, peço a

palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Pela ordem, Deputado

Ronaldo Vasconcellos.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS - Sr. Presidente, para nos

orientar melhor, solicito que a documentação entregue pelo ex-Deputado Márcio

Braga e pelo do Dr. José Osório sejam distribuídas a todos os Parlamentares, por

favor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Pois não, Deputado.

Iremos tomar as providências.

Dando prosseguimento aos trabalhos desta audiência, vamos conceder a

palavra agora aos autores do requerimento. Posteriormente, de acordo com a lista,

concederemos a palavra a outros Deputados.

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Primeiro, ouviremos o Deputado Luiz Alberto. Em seguida, os Deputados

Renato Cozzolino, Celso Russomanno, João Alfredo e Alex Canziani.

(Não identificado) - Sr. Presidente, que sistemática V.Exa. vai adotar?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Três minutos para cada

Deputado, com direito à réplica e à tréplica.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Sr. Presidente, parabenizo o Dr.

Domingos e o Dr. José Osório, da Associação dos Juízes pela Democracia; o

Procurador Luiz Francisco e o Sr. Márcio Braga. Lamento a ausência do

representante da OAB...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Nobre Deputado, contamos

com a presença do Dr. Orlando Maluf Haddad.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Desculpem-me, eu estava em outra

reunião e não tive oportunidade de ouvi-lo. Inclusive, ontem, no final da tarde, fiz

contato com S.Sa.

Lamento a ausência de representante do Sindicato dos Trabalhadores em

Cartórios, que está vindo de carro de São Paulo e provavelmente não chegará a

tempo de dar seu depoimento.

Sr. Presidente, solicitei a realização desta audiência pública em março deste

ano para ouvir as exposições de parte da sociedade e da ANOREG, em função de

vários artigos da imprensa e de denúncias quanto ao papel dos cartórios.

Evidente que em 10 minutos é impossível aos expositores apresentar todas

as suas idéias acerca da função dessas instituições no País. Por isso, sinto-me

prejudicado. Na condição de cidadão comum, usuário de cartório, sempre me senti

de certa forma impedido de exercer o direito de obter informações, inclusive, saber

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como funciona um cartório, para que serve, além dessa fenomenal burocracia que

se impõe à sociedade.

Em tempo de debate sobre reforma do Estado, acho fundamental discutir-se o

papel dessas instituições que me remetem muito ao período colonial.

Ouvi atentamente o Sr. Márcio Braga, quando falava das nossas raízes.

Pergunto: origem de quem? Eu não vim da Grécia Antiga. Infelizmente parte das

tradições deste País foram violentadas, não podemos discutir, por exemplo, sobre

nossas origens, de onde viemos e sobre o arcabouço legal deste País, que ainda

permanece muito semelhante ao do período da escravidão.

Durante as exposições, lembrei-me muito do período das capitanias

hereditárias, quando a elite distribuía terras aos amigos, aos parentes. De certa

forma, na exposição do Dr. Luiz Francisco, vem à tona esse assunto.

Estive recentemente no interior na Bahia acompanhando uma comunidade

remanescente de quilombo e lá, pasmem, o cartório local deu título de propriedade

de uma imensa área de terras da União. Há mais de 15 anos existe uma ação de

nulidade de título no Judiciário, e até hoje não se resolveu o problema. Situações

semelhantes a essa existem em todo o País.

Infelizmente, em tão pouco tempo os expositores não conseguirão expor

todas as suas idéias, nem nós as nossas angústias. Quem não conhece um cidadão

comum que chega a um cartório e encontra uma palavra formada de letras que todo

mundo sabe o que significa, “CPF — Custas por Fora”. Essa burocracia permite um

processo de corrupção nessas instituições e as pessoas são obrigadas a pagar por

fora a um serventuário de um cartório desses para ter agilidade no seu processo.

Considero fundamental este debate. Não sei se com esta audiência pública

tão rápida poderemos, ao final, ter idéia exata do que fazer para regular essas

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instituições. O Estado poderia assumir parte considerável dessas tarefas que hoje

estão em poder dos cartórios.

Quero fazer uma pergunta ao Sr. Márcio Braga, já me desculpando pela

minha ignorância em relação ao funcionamento dos cartórios. Desculpe-me se eu

estiver fazendo pergunta inadequada. Como se dá a composição do valor para se

fixar o emolumento? O Dr. Domingos disse que não se tem uma planilha para se

chegar a esse valor. Quem estabelece os salários dos funcionários dos cartórios e

dos notários? De que maneira são estabelecidos esses rendimentos? Existe

concurso para admissão desses funcionários nos cartórios?

São as perguntas que apresento neste momento.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Concedo a palavra ao

Deputado Renato Cozzolino.

O SR. DEPUTADO RENATO COZZOLINO - Sr. Presidente, é possível ler o

documento entregue pelo Dr. Márcio Braga ao Presidente da Mesa?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Já mandei providenciar

cópias para todos os Deputados.

O SR. DEPUTADO RENATO COZZOLINO - E não seria possível fazer a

leitura desse documento?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - É muito grande, são várias

folhas, por isso mandei tirar cópias para encaminhar a cada um dos senhores.

O SR. DEPUTADO RENATO COZZOLINO - Minha intervenção será curta.

Realizamos audiência pública sobre cartões de crédito e descobrimos que o Banco

Central, que deveria fazer fiscalização ativa, simplesmente fazia fiscalização

normativa. Acabamos de ouvir dizer que a Corregedoria, que deveria fazer

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fiscalização ativa, faz fiscalização normativa. E ainda, que a composição das

respectivas taxas de serviço parecem ser uma caixa preta.

Não dispomos de tempo suficiente para esclarecer muitos pontos. Por

exemplo, os fundos, as taxas, os convênios de cartórios, como no caso do

Departamento de Trânsito no Paraná. Nosso melhor encaminhamento será produzir

na semana que vem uma PFC, no sentido de se realizar trabalho mais apurado, até

para que possamos polir — não no sentido de tornar o cartório novamente num

sentimento estatizante — e dar brilho a essa pedra cartorial.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - V.Exa. não tem perguntas

a fazer?

O SR. DEPUTADO RENATO COZZOLINO - Apenas sobre taxas e

convênios, mas alguns companheiros já fizeram indagações a respeito. Temos de

ser mais profundos nesse aspecto.

Sr. Presidente, já que V.Exa. me permitiu falar novamente, temos também o

problema da SERASA, assunto debatido nesta Comissão e que se acabou

transformando numa CPI. Nossa Comissão perdeu um pouco na velocidade.

Estamos agora com a PFC dos cartões de crédito Vamos dar velocidade também,

com a ajuda dos companheiros, à PFC cartorial.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Deputado

Celso Russomanno.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sr. Presidente, em primeiro

lugar, peço desculpas a todos os presentes por não ter podido estar presente. Sou

Líder do partido e estava numa reunião de Líderes. Infelizmente, não é possível

estar presente em 2 lugares ao mesmo tempo. Mas, depois, vou ler todas as notas

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taquigráficas, e já recebi o resumo feito pela minha assessoria de tudo o que aqui foi

discutido.

Preocupo-me muito com a situação dos cartórios. Tanto que tramita nesta

Casa projeto de lei de minha autoria no sentido de realizar concurso em todos os

cartórios do Brasil, a fim de acabar com essa herança de pai para filho. Na verdade,

o tabelião, enfim, o detentor da concessão do cartório — como bem disso o Dr. Luiz

Francisco — recebe valores absurdos .

Peço permissão aos meus pares para contar uma história. Recentemente,

participamos da CPI do INSS. Parte de seus integrantes deslocou-se para Curitiba e

lá descobriu várias TDAs escrituradas em um cartório. O cartório escriturava aquelas

TDAs, que não tinham valor para pagamento de dívidas junto ao Fisco federal. E,

para nossa surpresa, quando chegamos à Corregedoria do Tribunal de Justiça do

Paraná, em Curitiba, o Corregedor mandou chamar o dono do cartório que estava

ligado ao caso. Descobrimos que um dos escreventes se dirigia a São Paulo e a

qualquer outro Estado do Brasil para fazer as escrituras das TDAs do Estado do

Paraná. Vejam o absurdo! Quando o dono do cartório chegou à sala, na presença

dos Deputados Federais, tratava o Corregedor de você, tal o grau de amizade entre

eles. E o funcionário identificado era filho de um desembargador. É uma tristeza

atestarmos esse tipo de situação. Quer dizer, como se controla um cartório, como

podemos ter certeza de que o cartório está agindo da forma correta se acontecem

situações como essa?

Vou dar um exemplo a V.Exas. Existe em São Paulo o Colégio Notarial.

Recentemente, este Colégio fez um levantamento das empresas que fazem selo no

Brasil — gráficas de segurança. Pois bem, uma delas estava fornecendo selos para

os cartórios do Estado de São Paulo. O advogado do Colégio Notarial, que envolve

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os cartórios de São Paulo — e vou juntar a documentação para que todos os meus

pares recebam essa denúncia, por isso sou co-autor nesta audiência pública —, foi

até o dono dessa gráfica de segurança perguntar se ele queria ganhar novamente a

concorrência. O dono da gráfica disse que sim. O advogado disse a ele que, então,

deveria aumentar um pouco o preço do selo e repassar parte desse valor para o

Colégio Notarial. O dono da gráfica disse que não aceitaria, que ganharia a

concorrência por preço e qualidade, mas não repassaria 1 centavo. Pois bem, ele,

que pertencia a uma gráfica nacional, perdeu a concorrência para uma empresa

internacional, que tem selo da pior qualidade, a preço mais caro. O dono da gráfica

nacional perdeu a concorrência porque não aceitou repassar parte dos seus lucros

ao Colégio Notarial. Isso está documentado, vou trazer a esta Casa para os

senhores a denúncia assinada.

Sr. Presidente, como podemos acreditar que os cartórios, no Brasil, estão

agindo corretamente, diante de fatos como esse, denunciados por escrito, por

pessoas que foram vítimas de atitudes e posturas de determinados cartórios, ou do

Colégio Notarial-Seção São Paulo, o mais importante de todo o Brasil?

Considere-se, também, que entre os cartórios existem os ricos e os pobres.

Há cartórios no interior do País que não têm condições de se manter e há,

evidentemente, os cartórios de registro que são os primos ricos. Ou seja, existem os

primos ricos e os primos pobres.

De fato, é dever desta Casa discutir esse assunto e ver de que forma vamos

colocar os cartórios nos trilhos. Do jeito que as coisas andam, infelizmente, não mais

podemos confiar no que os cartórios estão fazendo. É triste que se diga isso porque

esperávamos, na verdade, que os cartórios agissem corretamente e respeitassem o

que estabelece o Código de Defesa do Consumidor.

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Podem rodar por qualquer cartório do Brasil para ver se há tabelas de preços

nas paredes, conforme estabelece o Código de Defesa do Consumidor: que o preço

tem de estar à disposição do consumidor. E estabelece não só este instrumento,

mas também a Lei Delegada nº 4, a Lei nº 1.521, a Lei nº 8.137.

Nenhum cartório, Sr. Presidente, respeita o Código de Defesa do

Consumidor. As filas e o tratamento dispensado aos consumidores nos cartórios são

uma coisa triste no Brasil. Alguns, não. Alguns primos ricos evidentemente estão

informatizados, mas não querem dividir com os primos pobres o custo disso.

No Colégio Notarial-Seção São Paulo, disseram-me: “Não, estamos dividindo.

Agora, estamos fazendo repasse de valores”. Daí, perguntei: “Quanto estão

repassando?” E a resposta foi: “Um mil, 2.000 reais por mês para o cartório pobre”.

Para que o cartório pobre se informatize? Como dizer que a informatização é o fim

dos cartórios, se existe um que ganha milhões e outro ganha absolutamente nada?

Temos de rever essa situação. Aqui, determinamos que a primeira certidão

seja gratuita para quem não tenha condição de pagá-la, mas sempre tirando do

primo pobre, dos cartórios pobres. Dos cartórios ricos, absolutamente nada. Temos

de achar o bom senso. Estou com o Dr. Luiz Francisco nesse assunto porque, do

jeito que as coisas estão, talvez seja melhor realmente acabarmos com

determinados serviços cartoriais. Não podemos deixar que isso continue.

Não me vou estender mais. Depois, vou passar aos membros desta

Comissão todos esses argumentos por escrito, para que todos tenham amparo em

seus trabalhos daqui para frente.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Deputado

João Alfredo, também autor do requerimento.

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O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, senhores convidados, tenho posição diferente do ex-Deputado Márcio

Braga com relação ao atraso ou avanço.

Na verdade, a própria palavra cartório nos remete, como ele mesmo disse, à

antigüidade. Podemos dizer que o aspecto é até de capitanias hereditárias. Aliás, no

meu Estado, Ceará, é assim. Apesar de existir concurso, se levantarmos a árvore

genealógica da maioria dos cartórios — não digo de todos, os que não são, são

exceção —, veremos que é ocupada por parentes de desembargadores, geralmente

por meio de concursos de cartas marcadas.

Tem funcionado, portanto, como extensão do “longo braço” do Judiciário,

dessa “grande” família de que fazem parte muitos desembargadores que, hoje, além

dos ocupantes de cargos comissionados e de cartórios, já terceirizaram o nepotismo

nas empresas contratadas pelos tribunais.

Penso como o Dr. Luiz Francisco. Se essa é uma atividade pública, não há

porque ser exercida em caráter privado, até porque há fé pública.

Tenho em mão valores dos atos ou serviços do registro civil das pessoas

jurídicas, do registro de títulos e documentos e do registro de imóveis. Não se

justifica que haja uma tabela na qual o valor do ato ou do serviço acabe assumindo

progressão, como se fosse imposto.

Deputado Celso Russomanno, que tão bem cuida da defesa do consumidor,

se um particular vai auferir aqueles rendimentos, qual a diferença de registrar um

papel, que é a mesma coisa, de uma casa que vale 5.000 ou de uma que vale

100.000 reais? Nenhuma, na medida em que esse dinheiro não volta para o Estado.

Se fosse em caráter de tributo estaria certo, porque teríamos o sentido da

progressividade. Mas não tem sentido passar-se de uma tabela de 35 a 145 reais no

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registro civil, no meu Estado; de 17 a 145 reais no registro de títulos e documentos e

de 184 a 725 reais, no registro de imóveis. E aí, quero saber como os cartórios

ajudam a população carente, se o mais barato, no meu Estado, é de 184 reais e 14

centavos? No interior do Estado, que conheço bem, já não se registram mais

porque, muitas vezes, o preço do registro sai tão caro que não vale a pena, no caso

de herança, por exemplo, fazer-se o inventário e, depois, o registro.

No caso do Ceará, ainda há outra distorção, Dr. Márcio Braga. Uma parte dos

recursos cobrados do cidadão vai para a Associação Cearense dos Magistrados,

que é de caráter privado e recebe quando o cidadão registra seu documento, uma

pessoa física, ou mesmo o seu imóvel. Uma associação, de caráter privado, acaba

recebendo recursos.

Na verdade, tenho a seguinte compreensão, e não porque sejamos estatistas

versus privatistas. Acho que isso tem levado a fortunas, com exceção, e o Deputado

Celso Russomanno tem razão, dos primos pobres: cidadezinhas do interior e

pequenos distritos, na verdade, constituídos de pessoas extremamente pobres. Mas

os cartórios, os serviços de registro de imóveis são verdadeiros nababos, nadando

em dinheiro, com o exercício de uma atividade pública.

Para concluir, pergunto ao Dr. Luiz Francisco como ele vê a possibilidade de

estatização, porque é um lobby muito poderoso que resistiu e tem resistido, ao longo

da nossa história, a qualquer mudança. Como poderia ser? Seria através de

proposta de emenda à Constituição? Como a CONAMP e a Associação dos Juízes

pela Democracia vêem essa questão? Vi que se propõe a extinção de alguns

serviços, mas do ponto de vista do serviço, os senhores têm a compreensão de que

é de caráter público ou privado? Essa forma de delegação efetivamente resolve ou

teríamos de fazer a modificação, em benefício da população brasileira?

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Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Deputado

Alex Canziani.

O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Sr. Presidente, Deputado Nelson

Bornier, Srs. Deputados, senhores convidados e demais presentes, vejo esta

audiência como de extrema validade para que possamos realmente acompanhar e

até obtermos informações diferentes do que na realidade se presta. Vejo que esta

audiência é de fundamental importância para que possamos, inclusive, dirimir

algumas dúvidas.

Ouvi vários oradores falando a respeito de uma possível estatização, e

inclusive artigos de jornal. Parece-me, Dr. Márcio Braga, V.Sa. que foi Deputado

atuante nesta Casa, que em um Estado da Federação os cartórios são oficializados,

estatizados. Se não me falha a memória, é o Estado da Bahia. Assim, queria saber

de V.Sa., até porque temos parâmetros de cartórios privados e estatizados, como

isso funciona na Bahia? O tal “Custas por Fora — CPF”, que o Deputado Luiz

Alberto mencionou, será que não acontece exatamente na Bahia, onde os cartórios

são estatizados?

Outro ponto diz respeito aos preços, aos emolumentos. O notário, o

registrador vai cobrar baseado em quê? Disse o nosso ilustre representante da

CONAMP que é por meio de uma lei. Não é o oficial, o registrador ou o notário que,

ao seu bel-prazer, resolve cobrar X ou Y por determinado ato que pratica. Quem

realmente determina o valor que vai ser pago pelo contribuinte?

Outro aspecto citado pelo ilustre Deputado Celso Russomanno refere-se à

transmissão do cartório de pai para filho. O próprio Deputado João Alfredo, colega

do Ceará, falava sobre essa situação no seu Estado. Se existe algum problema, ele

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está relacionado com o Tribunal, que é quem deve realizar os concursos. A partir de

1988 há necessidade de concurso público. Como se dá então o ingresso na

atividade notarial e registral?

Sr. Presidente, temos aqui o registro civil, os títulos e documentos, registro de

imóveis, o tabelião de protestos. Se tivéssemos tempo para ouvir todas as

especialidades, acredito que isso seria muito oportuno, para sabermos da atividade

de cada um dos ofícios.

Foi comentada aqui a problemática da SERASA, objeto de uma CPI. Na

SERASA negativam-se pessoas sem dar-lhes oportunidade de saberem por que

estão sendo negativadas. Eu queria saber, Dr. Márcio Braga, se isso acontece com

relação aos cartório de protestos, se a pessoa pode ser negativada sem ao menos

saber o que está acontecendo. Acompanhamos a CPI da SERASA e sabemos que

isso acontece naquela instituição.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Após ouvirmos os autores

do requerimento, Deputados Luiz Alberto, Renato Cozzolino...

O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Posso fazer só mais uma pergunta?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Pois não.

O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Falou-se aqui no valor que se cobra

por determinado ato, como um carimbo. Pergunto como será cobrada a

responsabilidade de um tabelião que porventura carimbar e atestar algo indevido,

errado. O que acontece com ele? Poderá perder a função? Já ocorreu algum caso

de pessoas que perderam a delegação por terem realizado por equívoco ou mesmo

má fé atos lesivos?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Após ouvir todos os

autores do requerimento, Deputados Luiz Alberto, Renato Cozzolino, Celso

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Russomanno, João Alfredo, e por último o Deputado Alex Canziani, pelo que me

consta, restaram as perguntas do Deputado Luiz Alberto ao Dr. Márcio Braga, as

perguntas do Deputado João Alfredo ao Dr. Luiz Francisco, e as perguntas do Dr.

Alex Canziani, dirigidas tão-somente ao Dr. Márcio Braga.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Peço a palavra pela ordem, Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Concedo a palavra, pela

ordem, ao Dr. Celso Russomanno.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Minhas observações poderão

ser comentadas pelos membros da Mesa, com certeza.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Posteriormente, passarei à

lista dos inscritos, fora os autores.

O SR. DEPUTADO INALDO LEITÃO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem. Gostaria de saber se V.Exa. vai continuar concedendo a palavra aos

Parlamentares.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Primeiro ouviremos os

expositores. Pelo que me consta, as perguntas feitas pelo Deputado Luiz Alberto

foram dirigidas ao Sr. Márcio Braga; as do Deputado João Alfredo ao Dr. Luiz

Francisco, mas agora abriu aos demais expositores; as do Deputado Alex Canziani

ao Dr. Márcio Braga; e o Deputado Celso Russomanno agora gostaria de ouvir o

comentário de todos.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - V.Exa. poderia solicitar que todos os 4

respondessem, de forma geral, todas as perguntas, inclusive fazendo os

comentários.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Antes, porém, se o

Deputado, a própria Mesa e os nossos convidados me permitem, quero dizer que

não sou profundo conhecedor dessa matéria, tenho vivência no ramo de

contabilidade e auditoria e acompanhamento dos tribunais, mas venho de um

Município com 11 cartórios, e, na condição de cidadão e de Deputado, o que vejo ali

no dia-a-dia são penalidades constantes impostas pela Corregedoria do Estado.

Recentemente houve um fato que, acredito, foi acompanhado pela imprensa

de todo o Brasil. Um corregedor anterior afastou titulares de cartórios, envolvendo

até esposas de desembargadores.

Tenho visto por parte da Corregedoria, pelo menos no meu Estado, um

trabalho realmente permanente de fiscalização de todos aqueles cartórios, com

suspensões, com advertências, enfim, um trabalho contundente, que temos

acompanhado por meio das publicações do Diário Oficial. Gostaria de levar ao

conhecimento do Deputado Luiz Alberto e do Deputado Renato Cozzolino, que

aparentemente já se retirou, que essa fiscalização e esse controle, competência

desta Casa, inclui tão-somente a administração direta e indireta do Governo Federal

— pelo menos é o que diz o art. 61 do nosso Regimento Interno. Digo isso apenas

para esclarecer o que foi dito por ambos.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, sugiro que nossos

expositores respondam apenas àqueles Parlamentares que estão presentes. Do

meu ponto de vista, trata-se de um desrespeito fazer as indagações e sair. Já é 1h

da tarde. Daqui a pouco vai começar a Ordem do Dia, porque temos sessão

extraordinária às 13h.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Dr. Márcio

Braga, para responder a pergunta do Deputado Luiz Alberto.

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O SR. MÁRCIO BRAGA - Deputado Luiz Alberto, se não me engano, V.Exa.

é Deputado pelo Estado da Bahia, onde as serventias extrajudiciais são

oficializadas. Por isso V.Exa. encontra o problema da gratificação “por fora”, que não

é comum nas serventias privatizadas. Não existe essa atitude no Brasil inteiro, a não

ser quando essas serventias são as chamadas oficializadas, que recebem custas

dos tribunais. Nesse caso aparece esse fator do dinheiro “por fora”.

Temos um grande amigo que foi funcionário desta Casa e cujo pai foi

Deputado Federal, inclusive foi Presidente da Comissão de Saúde, o Dr. Breno da

Silveira, muito famoso aqui nos anos 50 e 60. Seu filho Bruno foi funcionário da

Câmara e hoje mora na Bahia. Ele é pernambucano, foi criado no Rio e em Brasília

e mora na Bahia, em Porto Seguro. Outro dia teve que se deslocar de Porto Seguro

ao Rio de Janeiro para fazer uma procuração. Ele não conseguia que a serventia

oficializada de Porto Seguro, cujos serviços são estatizados, que o tabelião de lá,

que recebe dos cofres públicos, fizesse uma procuração. Ele teria de esperar uma

semana, e preferiu então ir ao Rio de Janeiro, fazer a procuração e voltar a Porto

Seguro. Esses problemas são típicos do seu Estado. Não é o que acontece no Rio

de Janeiro, e parece-me não ser o que acontece fora da Bahia.

Como são fixados esses emolumentos? A Lei Federal nº 10.169, de 2000,

fixou normas gerais sobre emolumentos. E cada Estado, Deputado Luiz Alberto, tem

o seu código de organização e divisão judiciária e a sua tabela de custas para o foro

judicial e de emolumentos para o extrajudicial, para esses notários e registradores,

que é fixado pelo Poder Público, e não pelos tabeliães, registradores ou escrivães.

O termo adequado para essas custas é taxa, conforme decisão do Supremo

Tribunal. Não concordamos muito com esse termo, mas essa é outra discussão. A

taxa é fixada pelo Poder Público, e encaminhada pelo Poder Judiciário ou pelo

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Poder Executivo para a Assembléia Legislativa. No caso do Rio é o Poder Judiciário;

no caso de São Paulo, onde tivemos o problema que trouxe até aqui o representante

da Ordem dos Advogados do Brasil, foi o Poder Executivo. Só que sobre os

emolumentos cobrados por essas serventias, que segundo alguns se enriquecem

com eles, 53% vão para o Poder Público, para os fundos do Tribunal, fundos de

assistência — nem sei elencá-los, mas no Rio de Janeiro chegam a 30%. Aliás,

parece-me que o representante do Ministério Público se referiu à essas taxas.

É isso que torna o preço exorbitante. Com toda a segurança — e sou capaz

de encaminhar, para o conhecimento de V.Exa., um quadro comparativo dessas

custas e emolumentos, custos advocatícios, não taxas, os honorários que os

advogados cobram —, V.Exa. vai ter oportunidade de verificar que as taxas

cobradas pelos emolumentos, nos diversos Estados brasileiros, porque são leis

estaduais, volto a dizer, são absurdas. Há excessos, não há a menor dúvida. Mas

são mais baixas do que o que recebe um advogado para fazer aquilo, mais baratas

do que as custas judiciais.

V.Exa. perguntou-me também — e estou estendendo-me na resposta a

V.Exa. porque me parece que o tema cobre uma faixa muito grande do pensamento

de todos os que estão neste plenário — sobre a situação salarial dos nossos

empregados. Empregamos cerca de 400 mil pessoas. Há emprego direto nessas

serventias. Elas recebem desses emolumentos. O Poder Público só participa como

sócio majoritário; tira a sua porção e não participa das despesas. Todos esses

assalariados tem um nível mínimo de pagamento. No caso do Rio de Janeiro o nível

é o dos escreventes juramentados dos tribunais, os oficiais judiciários, que recebem

um excelente salário. Não posso dizer a V.Exa. quanto, porque não estou

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autorizado, mas é um bom salário. Por outro lado, em 92% das serventias do País o

titular não recebe tanto quanto um juiz da sua comarca.

Aliás, o que ouvi aqui foram defeitos do Poder Judiciário. Volto a dizer: no

PROCON, pelo menos no Rio de Janeiro, não há uma reclamação contra cartório.

Nunca tivemos de comparecer à Defesa do Consumidor para defender uma

serventia extrajudicial, como se diz, ou seja, os notários e registradores.

Agora, com referência à atuação do Tribunal, todos os exemplos que os

ilustres Deputados João Alfredo e Celso Russomanno trouxeram são defeitos do

funcionamento do Poder Judiciário, que está a carecer de uma transformação; aliás,

tramita nesta Casa há muito tempo a reforma do Poder Judiciário.

Deputado Celso Russomanno, V.Exa. citou o exemplo da hereditariedade,

falando do mau funcionamento do Tribunal de Justiça do Paraná. Quanto a essa

questão da hereditariedade, meu dentista é filho de um dentista, meu médico é filho

de um médico que foi o médico da minha mãe e da minha avó. Estou há 46 anos no

tabelionato e nunca houve lei de hereditariedade. Pode ter acontecido algo como o

exemplo do médico que segue a carreira do pai. Os 3 filhos do Dr. Roberto Marinho,

o maior empresário deste País, que faleceu recentemente, assumiram a

organização. Os 3 são jornalistas e empresários, e trata-se de uma concessão

pública. Não é interessante?

Volto a dizer, sobre aquilo que V.Exa. disse acerca do tabelião que foi

chamado — que o escrevente responsável era seu filho, que ele tratava o

desembargador-corregedor de “você” e que o assunto ficou ali, em família: isso

acontece em todo o mundo, Deputado Celso Russomanno, a não ser que V.Exa.

queira, por meio de uma legislação estatizante, consertar o mundo. Não vai

consertar. Não adianta. Não é por aí.

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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Não sou favorável à

estatização. Eu não disse isso. Não sou a favor da estatização.

O SR. MÁRCIO BRAGA - O passo correto para seguirmos o princípio da

eficiência, hoje consagrado na Constituição, é o concurso público de provas e de

títulos. É isso que vai revolucionar o processo, escoimá-lo daqueles erros de

antigamente, não há a menor dúvida. É isso que vai resolver o problema lá do seu

tribunal também. Não temos como administrar os defeitos daqui de Brasília — estou

aqui representando a ANOREG/BR, ou seja, a associação nacional —, os problemas

do Poder Judiciário do Ceará. Os defeitos apresentados são de origem judiciária.

(Não identificado) - Não só.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Não só, reconheço que há excessos.

O ilustre Procurador Luiz Francisco também se referiu às terras do INCRA no

Acre. Meu Deus do céu, já comentei aqui: 52% da população no Rio de Janeiro

moram ilegalmente. Os culpados são os registros de imóveis? Vejam, também tenho

raízes lá. Minha mãe é amazonense, meu pai era paraense e morreu no Estado do

Amazonas, lá em Benjamim Constant, nos limites do Brasil com a Colômbia e com o

Peru. Também tenho terras lá, e não sou grileiro; trata-se da herança deixada pelo

meu pai. Não vou ao Amazonas há muitos anos, mas pelo que tenho lido nos

jornais, ouvido na CPI da Terra e acompanhado nas relações do INCRA com o

Instituto de Registro de Imóveis — IRIG, mandaram a fiscalização lá para cima e

descobriram que a maior parte dessa grilagem certificada no registro de imóveis vem

de decisões judiciais. Os juízes mandam registrar daquela forma e o cartório é

obrigado a fazê-lo.

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Portanto, meus amigos, o sistema é bom. É o mesmo que se tem no mundo

inteiro; não temos que alterá-lo por erros daqui ou dali. Ao contrário, temos que

evoluir, avançar no processo da informatização.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dr. Márcio Braga, estou

sendo advertido pelo Dr. Luiz Francisco de Souza. Quero apenas dizer que o Sr.

Márcio Braga está respondendo aos Deputados Celso Russomanno, Alex Canziani e

João Alfredo, e V.Sa. responderá tão-somente ao Deputado João Alfredo.

Por favor, continue, Dr. Márcio Braga.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Deputado João Alfredo, só me falta responder ao

Deputado Alex Canziani. Não sei a que lobby V.Exa. se refere. Como já disse,

exerço essa função há 46 anos, estive aqui durante 8 anos na qualidade de

Deputado e tenho ativa participação no meu trabalho e no desenvolvimento desses

institutos. Não vejo nada de irregular na forma pela qual se faz essa troca de idéias.

Não vejo como reconhecer essa afirmação. Talvez depois possamos conversar

particularmente sobre o assunto.

O SR. DEPUTADO ALEX CANZIANI - Geralmente os lobbies são invisíveis e

silenciosos mesmo. Não são tão explícitos. As pressões são abertas, os lobbies são

mais sutis.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Para terminar, tenho o mesmo ponto de vista sobre

os atos lesivos, as fraudes. Minha visão é global, mas vivo no Rio de Janeiro. A

minha paróquia é o Rio de Janeiro. Volto a dizer que no Rio não há nenhum

serventuário preso. Já vi prenderem juiz. Já vi desembargador cometendo

irregularidades. Isso sai na primeira página de todos os jornais. Mas nunca vi

nenhum registrador de imóveis ou tabelião cometendo irregularidades.

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O caso a que se referiu o ilustre Deputado Nelson Bornier, que é lá da nossa

terra, foi um erro judiciário. Foi um erro da Corregedoria nomear certos

serventuários, certos registradores e notários que não tinham sido bem

classificados, entre os quais a esposa de um deles. Mas não são fatos que tenham

levado qualquer notário ou registrador para a cadeia. Não me lembro de alguma

perda de delegação no Rio de Janeiro além dessa irregularidade, que não foi do

cartório. Não se fez lá uma escritura falsa, não se fez um registro adulterado. Não

houve isso. As pessoas entraram no serviço público por concurso, mas tinham sido

classificadas depois do 40º lugar e passaram à frente de todos. Foi isso que

aconteceu lá, por erro do Poder Judiciário.

Para terminar, não há qualquer reclamação com relação a emolumentos no

Rio de Janeiro. E lá cobramos 30% a mais — 20% para o fundo do Tribunal e

percentuais para diversas mútuas dos Magistrados e Procuradores. Temos uma

convivência pacífica com a população, prestamos os nossos serviços. E, ao

contrário do que parece, a partir da criação dessa Central de Certidões, com essas

outras atividades, temos tido uma vida tranqüila.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem. Fiz uma pergunta ao Dr. Márcio Braga e S.Sa. não respondeu: quem

determina o salário dos serventuários dos cartórios?

O SR. MÁRCIO BRAGA - Volto a dizer: cada Estado tem o seu código de

organização judiciária, o seu regimento de custas e o seu regimento de

emolumentos. Cada Estado tem a sua legislação para efeito do pagamento dos

funcionários, que, depois da Constituição de 1988, passaram a ser regidos pela CLT

e têm uma base salarial que não é pequena. No caso do Rio de Janeiro, os antigos

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escreventes juramentados — hoje essa nomenclatura mudou — são os escreventes

que trabalham no Poder Judiciário.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - S.Exa. referiu-se aos donos

dos cartórios.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Não estou falando dos donos, e sim

dos funcionários.

O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - E os donos?

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Porque não foi o que ouvi de

funcionários dos cartórios de Brasília. Conversei muito com eles, e essa não é a

realidade.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Pode ser que tenhamos um problema. Vou pedir a

um colega aqui de Brasília — aliás, há alguns aqui presentes — para se pronunciar.

Se V.Exa. desejar, o Presidente da ANOREG do Distrito Federal e representante do

IRIBI, o Dr. Luiz Gustavo Ribeiro, pode dirimir essa dúvida. Aliás, S.Sa. desenvolve

um magnífico trabalho na área social. Já legalizaram mais de 90 mil terrenos da

população de baixa renda.

Imagine V.Exa., que deve estar acompanhando nos jornais, como eu, a

situação das terras irregulares, da grilagem aqui em Brasília, se esse registro

estivesse submetido ao Poder Executivo do Distrito Federal. Onde se levantou toda

essa questão? Onde se apuraram todas essas irregularidades, senão no serviço

privatizado?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dr. Márcio Braga, está

respondido. Deputado Luiz Alberto, V.Exa. tem interesse em ouvir o representante

de Brasília?

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O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - No momento, não. Quero ouvir os

comentários dos demais expositores.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, peço a V.Exa. que

me permita ser insistente. Solicito que os expositores façam seus comentários em

um espaço de tempo que permita aos outros Parlamentares que não os autores do

requerimento se pronunciarem. Temo que daqui a pouco comece a Ordem do Dia;

trata-se de matéria de suma importância, a reforma da Previdência, e não gostaria

de me ausentar sem antes fazer alguns questionamentos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Perfeito.

Com a palavra o Dr. Luiz Francisco de Souza para responder as perguntas do

Deputado João Alfredo.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Parece que havia uma pergunta

também do Deputado Celso Russomanno.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Apenas comentários.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Sim, comentários.

Se 92% dos titulares não recebem como juiz da comarca, é mais uma razão.

Já que a reforma da Previdência está em curso e V.Exas. querem estabelecer um

teto para os desembargadores, e alguns querem estendê-lo aos Procuradores de

Estado, por que não estender esse teto aos titulares dos cartórios? Verifiquem que o

teto, se for estabelecido em 70% da remuneração do juiz, não vai atingir 92% dos

titulares. Então, não haverá problema incluir na Constituição....

(Intervenção inaudível.)

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Acho que a promiscuidade dos

cartórios privados está justamente no fato de deterem o monopólio sobre uma base

geográfica, no fato de o Estado impor que o registro de todos os atos, como

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casamento, nascimento de um filho, venda de um imóvel, tenha de ser feito ali,

naquele monopólio, no fato de que empresário de jurisdição detém um maldito de

um monopólio. Acho que até mesmo os liberais deveriam indignar-se com isso,

porque de fato esse aí não há que se comparar com um empresário. E o fato de eles

também receberem rendimentos, alguns, como foi dito aqui, de R$ 200 mil ou R$

800 mil, não enseja controle público? Sequer se fala no fato de o consumidor estar

custeando essa remuneração indecente, infame mesmo. No final há uma mistura,

uma promiscuidade entre as atividades pública e privada, em que se entrega a um

titular para o resto da sua vida o direito de auferir lucros naquela área e enriquecer,

calcado num monopólio. Então, se o teto for inserido na Constituição, não haverá

qualquer problema. Se 92% dos titulares não recebem como juiz, estabeleçam um

teto para eles.

Há um belíssimo acordo do TCU. Basta dizer “teto para os cartórios do DF”

para o Tribunal de Contas da União entender que deve ter teto, sim, e que no

máximo os titulares deveriam receber como Presidente da República. Acho isso até

demais, porque a atividade do Presidente da República não tem nem comparação

com a atividade de um titular de cartório, e a atividade de um juiz, homem dedicado

ao serviço público e destinado unicamente a fazer justiça, não tem a menor

comparação com a de um titular de cartório. Então, como podem receber

remuneração de R$ 100 mil ou R$ 200 mil? Não há a menor lógica que justifique

essa atitude. Seria excepcional se na reforma da Previdência pudesse ser

estabelecido um teto para eles.

O Sr. Márcio Braga disse que se formos à Delegacia do Consumidor, ao

PROCON, à Promotoria de Defesa, nada encontraremos lá. Muito bem.

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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Dr. Luiz Francisco, V.Sa.

permite-me um aparte? Não tem nada lá, e vou explicar por quê: simplesmente

porque o consumidor não sabe que o serviço público está enquadrado no Código de

Defesa do Consumidor. Por isso não há reclamação em Estado algum, e não só no

Rio de Janeiro, Dr. Márcio. Devemos cientificar o consumidor brasileiro de que os

serviços públicos estão enquadrados no Código de Defesa do Consumidor, de

acordo com os arts. 3º e 22, para que ele possa começar a fazer reclamações,

senão ele não vai fazer, vai contentar-se com o serviço prestado.

(Não identificado) - Sr. Presidente, vou falar agora. Se todos estão falando,

vou falar também.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Peço a palavra pela ordem, Sr.

Presidente.

(Tumulto no plenário.)

O SR. MÁRCIO BRAGA - Já que V.Exa. citou meu nome, quero responder.

Em todas as serventias do Rio de Janeiro está afixado o regimento...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Por favor, Dr. Márcio

Braga. O Dr. Luiz Francisco estava justamente respondendo a pergunta quando

houve o comentário do Deputado Celso Russomanno.

Pela ordem, tem a palavra o Deputado Luiz Alberto.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - É exatamente sobre isso que quero

falar. É impressionante; toda vez que o Procurador vai falar, parece que se cria um

frisson na Comissão. Sugiro que S.Sa. termine de falar para expor seu pensamento.

Nós Deputados poderemos inscrever-nos para argüí-lo depois.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - O Dr. Luiz Francisco de

Souza falou sobre a inclusão do teto na Constituição. Creio que o assunto está mais

do que esclarecido, Deputado Luiz Alberto. Agora vou passar a palavra aos inscritos.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Sr. Presidente, S.Sa. não concluiu sua

fala.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - V.Sa. não concluiu a

resposta?

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Eu também fiz perguntas aos 2

expositores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Outros Deputados também

estão inscritos e vão falar: Luiz Alberto, Almir Moura e Júlio Lopes. Agora falarão os

autores, Deputado.

Para concluir, tem a palavra o Dr. Luiz Francisco de Souza.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Peço a palavra pela ordem, Sr.

Presidente, antes de o Dr. Luiz Francisco de Souza pronunciar-se.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Seja breve, Sr. Luiz

Francisco.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Também solicitei a opinião do Dr.

Domingos Henrique Leal e do Dr. José Osório de Azevedo Júnior sobre a

oficialização ou não dos cartórios.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Eu sei, mas o Dr. Luiz

Francisco de Souza está fazendo uma exposição sobre a alteração que temos de

fazer na Previdência.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - O Dr. Márcio Braga fez uma

exposição longa e ninguém reclamou.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Mas S.Sa. teve que

responder a 3 Deputados. O Dr. Luiz Francisco de Souza tão-somente respondeu a

um comentário. Deu a sua resposta e teceu um comentário.

Para concluir, tem a palavra o Dr. Luiz Francisco de Souza.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Como defendo tese contrária, que eu

disponha de tempo pelo menos semelhante.

O outro ponto diz respeito à superposição de funções. Por exemplo, se o

IBGE, se a Receita já faz o registro dos imóveis urbanos, para que haver

superposição? Entendo tranqüilamente que o registro mais idôneo e mais correto é o

da Secretaria da Fazenda dos Municípios, e também, no que tange à terra rural, o

ITR. Por quê? Porque tem a ver com a questão da arrecadação tributária.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, permita-me fazer

uma interrupção. Nada tenho contra o Dr. Luiz Francisco de Souza...

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Deputado Léo Alcântara, por que toda

vez que o Dr. Luiz Francisco fala V.Exa. interrompe?

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Não, Deputado João Alfredo, vou

apenas formular uma questão de ordem.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Não, não há condições!

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Deputado João Alfredo, vou formular

uma questão de ordem.

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O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Não há condições! O Procurador está

com a palavra!

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Para concluir.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Eu vou apresentar uma questão de

ordem.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Faça-o depois que S.Sa. terminar,

Deputado Léo Alcântara.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Mas é justamente sobre isso,

Deputado João Alfredo.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Não há condições! Não há condições!

(Intervenções simultâneas ininteligíveis.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Um minuto, por favor.

Vamos deixar que o Dr. Luiz Francisco de Souza conclua sua fala.

V.Sa. está com a palavra. Que seja o mais objetivo possível nas respostas.

(Intervenção inaudível.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - A questão de ordem

levanta-se a qualquer momento, Deputado Léo Alcântara. Vamos apenas ouvir

agora a conclusão do Dr. Luiz Francisco de Souza para depois passarmos a palavra

não só a V.Exa. como também aos companheiros inscritos.

Com a palavra o Sr. Luiz Francisco de Souza.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Sr. Presidente, só para colaborar,

quero lembrar que cada convidado dispôs de 10 minutos para a sua exposição. Os

Deputados dispuseram de 3 minutos. O Dr. Márcio Braga, assim como o Dr. Luiz

Francisco, já excederam o tempo; portanto, peço a V.Exa. que a partir de agora

conceda 2 ou 3 minutos a cada um dos expositores.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Está certo.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, quero apresentar

uma questão de ordem. Peço a V.Exa. que me escute.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Vamos ouvir o convidado,

por favor.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Sr. Presidente, peço a

palavra pela ordem.

(Intervenções simultâneas ininteligíveis.)

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Eu não faço questão quanto ao

tempo de que dispõe o Dr. Luiz Francisco de Souza, o Sr. José Osório de Azevedo

Júnior, o Sr. Domingos Henrique Leal ou o Sr. Márcio Braga. Todos já se

pronunciaram. O Dr. Márcio Braga respondeu as perguntas que lhe foram feitas. O

Dr. Luiz Francisco está rebatendo as exposições do Dr. Márcio Braga, e não

respondendo às perguntas.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Peço a palavra pela ordem, Sr.

Presidente.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Eu gostaria que o Dr. Luiz Francisco

de Souza respondesse às perguntas. S.Sa. pode passar 2 horas respondendo, não

há qualquer problema.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - A Presidência tem

prerrogativa de comandar os trabalhos. Por favor, Dr. Luiz Francisco de Souza,

queira terminar a sua resposta.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Para tentar ajudar na condução dos

trabalhos...

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Não podem 3 Deputados

falar ao mesmo tempo. Por favor, dêem-lhe 2 minutos para concluir.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Eu não estou falando ao mesmo tempo.

Estou pedindo a palavra pela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Foram dados 3 minutos

para as perguntas aos autores do requerimento, e aqueles que vão fazer outras

perguntas ainda estão inscritos.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Tem V.Exa. a palavra,

Deputado Luiz Alberto.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Eu quero saber se, para que não haja

tratamento diferenciado, a Mesa anotou por quanto tempo o Sr. Márcio Braga falou.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - É lógico que anotei.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Exato.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - O caso é que 3 Deputados

fizeram perguntas e ao Dr. Luiz Francisco foi dirigida tão-somente uma.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Exatamente, Sr. Presidente. Eu

gostaria de sugerir...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - O Deputado Celso

Russomanno pediu um comentário de toda a Mesa; pergunta, na realidade, só

houve a do Deputado João Alfredo.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Então, porque a quantidade de

perguntas não pode determinar o tempo, eu gostaria de sugerir, Sr. Presidente... Na

verdade, eu queria...

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Não é quantidade de

perguntas, mas a quantidade de pessoas, de Deputados que... Por favor, Deputado.

Por favor.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Eu gostaria de sugerir à Mesa...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Deputado Luiz Alberto, por

favor, vamos deixar que o Dr. Luiz Francisco conclua.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Sr. Presidente, gostaria de sugerir à

Mesa que, tendo anotado o tempo, desse igual prazo para todos os expositores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Está anotado. Estou com o

relógio bem à minha frente, aqui.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Isso. Assim, pode dar tempo igual a

todos os expositores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Concedo 2 minutos ao Dr.

Luiz Francisco para terminar sua fala.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Registro que 2 minutos não foi o

tempo da defesa do interesse dos donos do cartório. Então, dedico parte do meu

tempo apontando que eu acho que deveria haver eqüidade. Se na resposta — uma

resposta ampla, genérica — foi dito como deveria ser a estatização dos cartórios,

por eqüidade eu precisaria de uns 5 minutos, porque senão... Eu mesmo pedi para

interromper. Ele recebeu 3 perguntas e teve meia hora para responder.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Sr. Presidente, como colega e

Vice-Presidente desta Comissão, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dr. Luiz Francisco, por

favor, dei-lhe 2 minutos e V.Sa. ainda não chegou à resposta. V.Sa. está levando o

assunto para outro lado, que nada tem a ver com o que está sendo discutido.

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O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Só deixo registrado o meu protesto.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Sr. Presidente, como seu colega e

Vice-Presidente desta Comissão, quero pedir que seja concedido o prazo de 5

minutos ao Procurador, a fim de que possamos conhecer melhor seu raciocínio e

não fiquemos nesta discussão que me parece infrutífera. É a solicitação que faço a

V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Vou acatar a sugestão do

Deputado Júlio Lopes, Vice-Presidente desta Comissão. Pergunto aos Srs.

Deputados Luiz Bittencourt, Júlio Lopes, Ronaldo Vasconcellos, Inaldo Leitão e Almir

Moura se também têm alguma pergunta a dirigir ao Dr. Luiz Francisco.

O SR. DEPUTADO ALMIR MOURA - Tenho, sim, mas vou fazê-la quando for

a minha vez de falar, na ordem da inscrição, por favor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Correremos o risco de ter o

mesmo problema, Deputado Almir Moura.

O SR. DEPUTADO ALMIR MOURA - Sr. Presidente, eu vou falar na minha

vez, na ordem de inscrição. Só então farei uso da palavra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Não vou abrir mão do

tempo. Já estou avisando aos Deputados. Por favor.

O SR. DEPUTADO ALMIR MOURA - Faça com os outros conforme V.Exa.

está fazendo comigo. Não abra para os outros também que eu concordo com V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Não vou abrir mão do

tempo. Estamos com tempo curto. Haverá Ordem do Dia.

Estão cedidos, a pedido do Deputado Júlio Lopes, 5 minutos ao Dr. Luiz

Francisco.

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O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Agradeço ao Presidente da

Comissão.

O ponto mais importante sobre como deveria ser a estatização é o instituto da

reversão. Ou seja, coloca-se um artigo, talvez na Constituição, ou então por lei

ordinária e aos poucos mudam-se as Constituições estaduais. Sobre isso não tenho

certeza agora, mas que se desse um tempo maior para os tabeliães fazerem um

certo investimento, e assim por diante. E acho que se deveria estabelecer um teto.

Se eles se auto-intitulam servidores públicos, então, ora bolas, que se estabeleça

para eles um teto de ganhos. Se o próprio Congresso Nacional discute a

necessidade de se estabelecerem tetos, inclusive subtetos, por que não estabelecer

tetos para os titulares? Inclusive, como foi bem dito, 92% deles sequer serão

atingidos pelo teto; só serão atingidos aqueles que têm feudos, aqueles que têm

verdadeiros monopólios, e não haveria nenhum problema nisso.

Outro ponto que quero comentar sobre a estatização é a situação degradante

dos trabalhadores desses cartórios, que são todos celetistas. Praticamente, aquele é

um local onde o titular se auto-intitula servidor público para ter um feudo, para ter um

monopólio, e no entanto tem rendimentos que ultrapassam os do Presidente da

República em 3.000% ou mais. Enquanto isso, os empregados que ali trabalham,

que dão duro e são úteis mesmo para o serviço público, são todos assalariados e

celetistas. Essa é outra anomalia profundamente iníqua, profundamente injusta. Por

quê? Se aquilo é um serviço público, a estatização implicaria a necessidade de

haver concurso para lá também, a fim de se selecionarem pessoas bem formadas,

bem preparadas, para trabalhar no serviço notarial, naquele remanescente que

ainda precisaria existir.

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Acho que o cartório de imóveis poderia ser extinto, principalmente porque já

existe SPC, DPC e SERASA. Há uma gama imensa de proteção do capital. Não há

necessidade de um cartório de protesto de títulos.

O cartório de registro de pessoa civil, que registra quem nasce, quem casa,

quem morre, não precisaria existir de forma alguma. Essa é uma atividade do

Estado. O IBGE deveria ampliar sua malha, e as Prefeituras também, para fazerem

o registro de quem nasce e quem morre com perfeição, para dar o documento de

identidade de graça à pessoa, para que o Estado tivesse o controle disso. E essa

discussão tem a ver também com a questão tributária. Então, não precisaria existir

isso.

O serviço notarial deveria ser ampliado, como na França, no sentido do

dirigismo contratual, de fazer com que muitos dos negócios realizados por contrato

privado tenham de ser feitos por contrato público, para que o Estado possa saber

melhor quais são os negócios que as pessoas fazem. Isso protegeria o consumidor,

pois milhões de pessoas são lesadas nas suas relações contratuais porque não têm

uma orientação. Lá na França muitos dos contratos que aqui no Brasil são mercado

puro estão sob o controle do Estado. Se vai fazer algum negócio, a pessoa tem que

passar por um tabelião público, que orienta os contratos. Creio que essa é uma boa

medida, mas isso deveria ser feito pelo Estado.

Concluo pedindo aos Deputados que defendam a tese da estatização, que

para o Ministério Público é a melhor. Ela significaria um duro golpe na grilagem de

terras e em outras mazelas, e ampliaria o controle sobre a lavagem de dinheiro.

Seria interessante se V.Exas. pudessem convidar mais pessoas para falarem sobre

esse tipo de mazela e exporem bem direitinho como é infame manter-se uma

situação de promiscuidade entre serviço público e a atividade empresarial,

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beneficiando-se uma pequena camadinha, à custa de milhões de consumidores no

Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Sr.

Domingos Henrique Leal, por 3 minutos também, para fazer comentários, não só a

pedido do Deputado João Alfredo, como também do Deputado Celso Russomanno.

O SR. DOMINGOS HENRIQUE LEAL - Com a devida vênia, entendo que a

estatização não é um bom caminho. Sou francamente favorável à privatização, ou

seja, à manutenção desses serviços no âmbito privado. A experiência diuturna

corrente é de que o Estado não presta bons serviços. Estatizar uma atividade é

transformá-la em uma atividade mal gerida, mal dirigida, menos eficiente. Então, do

meu ponto de vista, não se deve alterar o caráter privado dessas atividades.

Também tenho a convicção de que não se devem extinguir simplesmente

essas atividades notariais, tabelionato ou registros variados, porque são

indispensáveis à segurança jurídica, à publicidade etc. A ordem jurídica ganha com

a existência desses serviços, e ganhará mais ainda se eles forem privatizados. O

que me parece necessário, isto sim, é que haja um controle efetivo dessa atividade

pelo Poder Judiciário, que, segundo a Constituição, é o poder incumbido de tal

fiscalização. Que essa fiscalização se faça de forma eficaz, de forma presente, que

traga resultados.

Creio também que é preciso fazer a análise de uma alteração na legislação

brasileira. A Lei de Registros Públicos, por exemplo, exige uma série de

formalidades, uma série de práticas burocráticas que não trazem essa segurança

jurídica; elas prejudicam a eficiência, que é um preceito constitucional, e não

melhoram em nada a segurança jurídica. Eu gostaria de dar um exemplo, que é o do

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famigerado selo afixado nos atos notariais, nos atos registrais, nas certidões, o tal

selo de fiscalização.

No Brasil já houve a Lei do Selo, que foi revogada nos anos 50. Naquela

época, todo documento tinha de ter uma estampilha para que tivesse validade

jurídica.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dr. Domingos, o senhor

tem 30 segundos para concluir, por favor.

O SR. DOMINGOS HENRIQUE LEAL - Pois não. Então, para concluir, sou

favorável à manutenção da atividade como privada, como também à manutenção da

própria atividade, e o Poder Judiciário tem de atuar de forma mais eficaz na

fiscalização. É preciso fazer a verificação de uma série de preceitos, como, por

exemplo, os relacionados aos títulos e documentos que o Desembargador José

Osório mencionou, resquícios de prática muito antiga que não traz qualquer

segurança jurídica ao cidadão.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Dr. José

Osório de Azevedo Júnior para também comentar os questionamentos dos

Deputados Celso Russomanno e João Alfredo. V.Exa. dispõe de 3 minutos.

O SR. JOSÉ OSÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR - Sr. Presidente, o sistema é

perverso. Embora aqui e ali seja apresentado até como paradisíaco, não acho que

seja um bom sistema, porque traz distorções econômicas e mesmo funcionais.

Econômicas porque vemos ganhos excessivos, como é do conhecimento público, e

prejuízos para o serviço público também. Em São Paulo, por exemplo, um

expressivo número de juízes, até de segundo grau, estão encaminhando-se para

concursos de serventuários, de titulares de cartório.

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O sistema cria a necessidade de serviços supérfluos, como a empresa. Se é

empresa, seu objetivo é ganhar dinheiro, esquecendo o serviço público. Há serviços

supérfluos, como aquela escritura a que me referi, o carro-chefe dos cartórios, que

não transmite nada. Por que para se comprar uma casa na periferia é preciso

submeter-se a um cartório?

Em 1916 Clóvis Bevilacqua estipulou um valor suficiente para comprar uma

casa popular; o Código Civil manteve a ordem, mas o valor está em R$ 7.200,00,

depois de ter aumentado muito. Alguém compra uma casa por R$ 7.200,00? Então,

isso é fruto de quê? Da criação de um serviço que poderia ser feito particularmente,

como se faz no Brasil hoje, pelo compromisso de compra e venda, em qualquer

valor, mediante instrumento particular. Por que temos todos de nos prestarmos a

essa vassalagem?

O sistema não é bom, e a sociedade está exigindo um pronunciamento.

Felizmente, vejo que esse anseio da sociedade está presente no Parlamento, o que

é grande satisfação.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Após concluirmos esta

etapa, concedo a palavra ao primeiro inscrito depois dos autores, o Deputado Luiz

Bittencourt.

O SR. DEPUTADO LUIZ BITTENCOURT - Cumprimento o Sr. Presidente, as

Sras. e os Srs. Deputados, os presentes e os convidados.

Registro, primeiro, a relevância desta discussão hoje, aqui. No decorrer do

acalorado debate, já levantamos duas vertentes: uma que avança na reforma do

Estado brasileiro, outra que se fundamenta na obrigação desta Comissão, a defesa

do consumidor.

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Expresso minha preocupação, concordando com o ponto de vista do

Deputado Renato Cozzolino, a quem me associo. Esta Comissão pode apresentar,

sim, uma proposta de fiscalização e controle, como fizemos em relação aos

medicamentos, que também não são empresas do Poder Público. Mas por

intermédio da Secretaria de Direito Econômico, do Departamento de Proteção e

Defesa do Consumidor — DPDC e do Departamento de Proteção e Defesa

Econômica —DPDE, pudemos criar mecanismos para fiscalizar a atuação dos

cartórios, entes metamorfoseados — em alguns são momentos públicos, em outros

privados.

Preocupo-me muito com este debate, relacionado à defesa do consumidor,

especialmente com as taxas cobradas pelos cartórios. Hoje há quase uma

unanimidade nacional quanto a que elas são exorbitantes. No meu Estado, Goiás,

vizinho do Distrito Federal, a Assembléia Legislativa recentemente aprovou uma lei

que aumentou em alguns casos em mais de 1.000% as taxas cobradas pelos

cartórios. Um reconhecimento de firma, por exemplo, passou de R$ 1,00 para R$

15,00. O fato provocou reação e forte revolta da sociedade, quase um processo de

desobediência civil, e os cartórios não tiveram condições de manter a cobrança

desses valores.

Embora a Assembléia Legislativa tenha aprovado essa lei, ficou óbvio que

houve forte pressão dos setores interessados para que fossem aprovados esses

valores tão elevados, até porque, basicamente, isso não atendia ao interesse da

população nem ao do Estado, pelo fato de esses recursos não estarem direcionados

a investimentos ou obras em favor do Poder Público. Pelo contrário, em Goiás

também existe esse desvio já mencionado aqui. Grande parcela desses

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emolumentos é direcionada a associações de membros do Poder Judiciário, planos

de saúde, funcionamento de clubes, clubes de férias e outras atividades.

Essa questão das taxas hoje cobradas, em muitos casos exorbitantes, é

grave. Evidentemente, os donos dos cartórios vão cruzar os braços e dizer que o

problema não é deles, uma vez que apenas recebem, e que isso tem de ser

resolvido pelas Assembléias.

Outro ponto extremamente grave diz respeito à informatização. Fala-se muito

em que houve modernização, que os cartórios estão eficientes, mas isso não é

verdade. Só alguns se modernizaram e são eficientes, principalmente aqueles que

têm maior rentabilidade, já mencionados aqui, como os cartórios de registro de

imóveis e de protesto. A maioria não é informatizada, mas burocratizada, e atrapalha

a vida das pessoas, cria exigências supérfluas, desgasta o cotidiano dos cidadãos,

com os procedimentos que eles obrigados a cumprir. No dia-a-dia são ineficientes e

remetem à situação já configurada aqui, de que o Estado presta maus serviços. Ora,

os cartórios também prestam um mau serviço. Não é por serem privados que

prestam bons serviços.

O Deputado João Alfredo, do Ceará, de forma correta expôs a visão que

todos temos dos cartórios. A questão da sucessão, por exemplo, não está resolvida.

Muitos querem concurso público, mas em meu Estado a sucessão é de pai para filho

e de filho para neto, continuamente. A família que se apropriar daquela estrutura de

controle ou de permissão, de delegação de serviço no Estado, não sai mais. Por

meio de que instrumento, ninguém sabe. A sucessão não é clara, mas nebulosa.

Os emolumentos que vão para os cartórios não se destinam a investimentos

na qualidade dos serviços, do atendimento ao público e da segurança jurídica do

País. Tanto que há denúncias em todos os Estados de grilagem de terra, fraude,

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corrupção de documentos, inclusive oficializados como seguros pelos cartórios, o

que não são, e muitos desses documentos já foram apresentados nesta Comissão.

Também sou contra esse modelo existente. Temos de mudar, avançar neste

debate relativo ao número de cartórios. Quanto à empresa privada, se uma

concessionária de carro está prestando serviço e abre outra concessionária em

outro bairro, em outra cidade, isso implicará o aumento do tamanho da empresa,

mas o número de cartórios não aumenta, o que obriga, como disse o Dr. José

Osório, a uma vinculação com aquela prestação. O cidadão é obrigado a ir àquele

cartório e ficar esperando na fila, sem sequer uma cadeira para se sentar. De certa

forma, somos aviltados e humilhados quando pagamos para realizar um serviço que

aparentemente é do Estado, mas do ponto de vista do recebimento de salário e

renda é privado. Então, passa-se essa imagem.

Manifesto aqui duas preocupações quanto a essa questão levantada pelo

Deputado João Alfredo. Se faço uma escritura de um terreno, pago R$ 1 mil. Se faço

a escritura de um terreno ao lado, que tem uma área 5 vezes maior, pago R$ 5 mil.

O que explica isso, se o papel é o mesmo, a referência da escritura é a mesma?

Cria-se uma progressividade que não tem justificativa.

Outro ponto interessante é que se paga para fazer uma procuração ou um

registro, um documento repetitivo, em que não mudam nem as vírgulas. Os erros de

português que existem numa procuração são repetidos 500 mil vezes, mas cada vez

que ela é feita é cobrado um valor, como se fosse algo novo, inusitado e

diferenciado. Portanto, preocupa-me de forma permanente esse intrigante debate.

Existe nesta Casa um projeto de autoria do Deputado Max Rosenmann,

membro desta Comissão, que prevê a extinção dos Cartórios de Protesto. Já foi

citada aqui a possibilidade de extinção dos Cartórios de Registro de Notas e outras

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providências que podem ser tomadas nesse sentido. Assim sendo, quero formular

algumas perguntas aos membros da Mesa, a primeira delas ao Dr. Márcio Braga:

existe um sistema nacional que integre informações e possa efetivamente

proporcionar maior segurança jurídica ao País quanto à ação dos cartórios? Existe

esse sistema? Ao que consta, pelas informações que tenho, isso não existe. Os

cartórios atuam quase autonomamente. E qual é a vinculação que existe entre os

cartórios e a SERASA? Estamos constatando na CPI da SERASA que os cartórios

sistematicamente passam informações confidenciais para aquela empresa, que

vende, usa informações dos bancos, aufere lucros e evidentemente causa uma série

de transtornos aos usuários. E mais: que tipo de imposto os cartórios pagam? ISS?

Imposto de Renda? Como isso é calculado? Existe nota fiscal de prestação de

serviço? Como se levanta o volume de dinheiro que entra no cartório, e que fim que

é dado a esse dinheiro? Existe uma delegação de função? Deveria também existir

uma prestação de contas nesse sentido, para que a população tome conhecimento

daquele volume de recurso. Todo o mundo sabe que o dono do cartório tem o

melhor carro, a maior casa, no melhor bairro, a fazenda que tem maior quantidade

de gado. De certa forma, isso não é claramente publicado. Qual é a destinação do

dinheiro que entra no cartório?

Quero fazer duas perguntas ao Dr. José Osório de Azevedo Júnior e ao Dr.

Domingos Henrique Leal, que já fez referência a essa questão. Como vai interferir

na segurança jurídica do País a alteração dessa sistemática existente hoje? Há uma

versão de que não se pode aumentar o número de cartórios para manter aquela

renda, esse valor excessivo, essas taxas exorbitantes. Como afetaria a segurança

do País a discussão do avanço desse sistema, com o desdobramento de cartórios,

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melhorando efetivamente o serviço e criando-se mecanismos para que possa

efetivamente haver transparência nessa relação com o público?

Pergunto ainda se V.Sas. consideram que os preços cobrados são módicos,

são justos. E se os serviços que os cartórios prestam ao País são eficientes,

poderíamos dizer, categoricamente, que o Poder Público, o Estado não é capaz de

realizar o serviço com a mesma qualidade que os cartórios?

Vemos eficiência na Receita Federal, no Banco Central e em outras

instituições do Estado. Talvez iniciemos o debate desta questão num momento

seguinte.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Deputado

Júlio Lopes.

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

senhores convidados para esta audiência, verifica-se aqui a importância do tema em

questão, motivo desta audiência que estamos realizando. Tenho a impressão de que

deveremos propor a realização de outro encontro, pois é clara para a sociedade

brasileira a necessidade de revisão desse processo.

Entendo, ao contrário do que disse aqui o Procurador, que não se trata de

serem públicos ou privados os serviços. Existem Procuradores, Deputados e

magistrados pouco sérios, assim como o serviço não será melhor ou pior se for de

natureza estatal ou privada. Certamente, no meu entendimento, não é esse o fulcro

da questão de que estamos tratando.

Gostaria de saber, dentro da visão das associações, que defendem os

cartórios e sua permanência, e das questões levantadas pelo Deputado Luiz Alberto,

se há algum debate em relação à hereditariedade, um fato que preocupa a

sociedade brasileira e que deve ser revisto. A cobrança de taxas foge ao controle da

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sociedade, e muitas vezes é usada contra ela, o que também necessariamente

precisa ser revisto. Enfim, há necessidade de uma reformulação desse contexto, que

precisa ser urgentemente engendrada, inclusive no seio desta Comissão.

Sugiro a todos os colegas que façamos um novo encontro sobre esse mesmo

tema, a fim de sugerirmos ao Congresso Nacional, no âmbito da Comissão, uma

proposta de reforma do setor, ampla o suficiente para a sociedade implementá-la

mais rapidamente.

Pergunto se o Procurador Luiz Francisco de Souza entende que essa revisão

poderia ser feita ainda com a característica privada do setor, ou se a característica

privada deve ser excluída, na reformulação do setor.

Gostaria ainda de saber como o Dr. Márcio Braga, sendo representante do

setor, vê essa urgente necessidade da revisão das taxas e da hereditariedade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - A segunda pergunta é

dirigida ao Dr. Márcio Braga?

O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Exatamente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o nobre

Deputado Ronaldo Vasconcellos.

O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS - Sr. Presidente, Sras. e

Srs. Deputados, senhoras e senhores convidados, serei objetivo, como é do meu

estilo. Em primeiro lugar, quero dizer com a maior tranqüilidade que, embora seja do

PTB, da base do Governo, votei a favor dos Procuradores de Justiça e de Estado,

dos Desembargadores e dos juízes, e continuarei votando, porque essa é minha

convicção. Não se trata de votar a favor desse ou daquele Governo, é questão de

pensamento. Votei e continuarei votando com V.Sas.

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Sr. Presidente, estranhei algumas informações. Na primeira parte da nossa

reunião, atendendo a requerimento de V.Exa., deixei que o Estado de Minas Gerais

fosse colocado numa posição ruim, quanto à questão da hemodiálise. Ouvi o

depoimento de colegas de outros Estados e quero dizer que em Minas Gerais,

nesse aspecto, as coisas estão funcionando relativamente bem.

Fui Vereador, Deputado Estadual 3 vezes, Deputado Federal por 2 mandatos

e sempre vou ao encontro das lideranças. Não existe a questão da hereditariedade

naquele Estado — posso até estar desinformado —, como também não existe essa

questão de Desembargadores estarem nomeando titular de cartório. O concurso já

está funcionando, causando às vezes alguma dificuldade para nós, Deputado Márcio

Braga, se me permite ainda chamá-lo assim, pelo fato de as pessoas acharem que o

Deputado tem influência. Está muito claro: é por concurso público. As entidades de

juízes e magistrados, e outras importantes que não quero citar, antigamente tinham

um percentual maior naqueles emolumentos ou taxas pagas ao cartório, mas tais

taxas foram diminuídas devido a dificuldades.

Não sei se estou sendo otimista demais em relação ao meu Estado, mas

felizmente as coisas estão funcionando melhor. Pergunto ao Sr. Márcio Braga, que

representa uma entidade nacional, e ao Sr. Domingos Henrique Leal, que também

representa uma entidade nacional: V.Sas. têm informações específicas de Minas

Gerais? A situação lá está mais moderna, funcionando melhor? O Poder Judiciário,

em Minas Gerais, funciona bem, ou está controlando mais a questão dos cartórios

como um todo? Não quero estadualizar, mas simplesmente ouvir isso dos

representantes nacionais. Se tiverem as informações agora, tanto o Deputado

Márcio Braga quanto o Dr. Domingos, gostaria de ouvi-los. Se não, que se

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comprometam comigo de me mostrarem depois o quadro de Minas em relação aos

outros Estados, quanto a essas questões que chamaria de institucionais.

Fui Deputado Estadual. Votamos e avançamos em muita coisa. Diminuímos

muito a participação de diversas entidades. Portanto, gostaria de ouvi-los nesse

sentido.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Deputado

Inaldo Leitão.

O SR. DEPUTADO INALDO LEITÃO - Sr. Presidente, Srs. convidados,

colegas Deputados, inicialmente, gostaria de rechaçar a insinuação feita por um

Deputado desta Comissão de que o lobby dos cartórios é muito forte, como se aqui

neste plenário...

(Não identificado) - Feita por quem?

O SR. DEPUTADO INALDO LEITÃO - Pelo Deputado João Alfredo, para ser

mais exato, como se neste plenário houvesse algum Deputado que se colocasse a

serviço do lobby dos cartórios. Inclusive foi feita uma insinuação diretamente ao

Deputado Léo Alcântara, no sentido de que toda vez que o Procurador Luiz

Francisco fala esse Deputado o interrompe.

É verdade que tenho amigos honestos, trabalhadores, que merecem o nosso

respeito e são donos de cartório no meu Estado da Paraíba. Estou aqui para dar o

testemunho de que são pessoas sérias, honestas e merecem o nosso respeito. Se

há algum setor de cartório que seja um covil, como disse o Procurador, que tenha

uma relação promíscua com alguém, como insinuou o Procurador, no meu Estado

também há, mas é exceção à regra, porque aqueles que praticaram atos de

improbidade foram punidos e afastados da atividade cartorial.

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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esse mal verificamos em todos os

setores da sociedade, em todas as instituições, na Câmara dos Deputados, no

Senado Federal, no Poder Judiciário, no Ministério Público. Aliás, um dos maiores

escândalos que a Paraíba viveu na sua história partiu da Procuradoria da República

de lá. Ainda hoje esperamos que o que aconteceu na Procuradoria da República da

Paraíba tenha seqüência, porque lá Procuradores em conluio com servidores da

Procuradoria reduziram de forma fraudulenta o valor do imposto devido em função

de autuação, fraudando a guia de recolhimento. Dívidas ativas de R$ 5 milhões

transformaram-se em R$ 5 ou R$ 50. O inquérito está da altura de uma montanha, e

não sai do canto. Até hoje ninguém sabe o que acontecerá, porque há mais de 10

anos esse escândalo está dormitando em alguma gaveta.

Essa insinuação de covil, de relação promíscua, também existe na

Procuradoria da República, em várias instâncias de Poder, em vários órgãos da

administração pública. Deixo aqui o registro da minha irresignação com esse tipo de

insinuação. Fugimos do foco do debate ao fazermos a vinculação da privatização

versus estatização com cartório, e até com reforma agrária. O que tem reforma

agrária a ver com cartório? Os cartórios, conforme a Constituição, são fiscalizados

pelo Poder Judiciário. Por que os cartórios têm esses defeitos todos, essas

imperfeições?

Alguém disse aqui que um cartório é uma inutilidade. Quero lembrar que ele

tem o objetivo, como o nosso direito é formal e solene, de garantir a publicidade, a

autenticidade, a segurança e a eficácia dos atos jurídicos. Não é uma assinatura

qualquer que estamos discutindo aqui. Estamos falando de segurança jurídica, de

eficácia do negócio jurídico. Então, não vale só pelo papel que é, mas pelo efeito

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que pode produzir e pela garantia que pode dar aos negócios realizados, formal e

solenemente.

As duas questões que considero o foco deste debate são, pela ordem,

primeiro saber se o custo dos emolumentos é suportável pela população, pela

sociedade. Qual a composição desses custos? Pelo que ouvi, o sócio majoritário do

cartório não é o dono, mas o Governo, o Poder Público, sem que ele dê qualquer

contrapartida a não ser a concessão do serviço, o ato de concessão. Mais de 50%

dos custos que estão na composição dos emolumentos são dirigidos ou destinados

ao Poder Público, que os repassa às associações, às fundações, aos fundos — que

vão do fundo penintenciário até ao próprio Poder Judiciário e Ministério Público.

Portanto, todos os órgãos do Ministério Público e do Poder Judiciário são sócios dos

cartórios, e sócios majoritários, diga-se de passagem.

O segundo ponto é a qualidade dos serviços. Não diria que todos os cartórios

prestam serviços com perfeição, mas pelo menos grande parte dos que eu conheço

avançaram, e muito, na qualidade e na otimização dos serviços que prestam. No

passado eram muito precários. Estou falando como advogado militante que fui,

atividade da qual estou afastado temporariamente, e como Procurador do Estado

que sou, conheço e tenho vivência na área dos cartórios.

Falou-se aqui também, Sr. Presidente, em que o protesto é uma inutilidade.

Não concordo, e tenho na minha vida prática exemplos de que não é inútil. O

protesto, ao contrário, é instrumento eficiente, que permite e proporciona a

liqüidação de dívidas. Na condição de advogado, resolvi muito mais do que 50% das

cobranças extrajudicialmente por meio do aviso da inadimplência, por meio do

cartório. Então, não pode ser um instrumento inútil. Além disso, é também uma

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forma de dar garantia na hora da adoção do procedimento judicial e segurança ao

título creditício.

Antes de fazer mais uma observação, ouvi alguém defender que os cartórios

passem a ser da alçada de competência das Prefeituras Municipais ou do IBGE, ou

de qualquer outro órgão. Em relação às Prefeituras, em primeiro lugar, o Prefeito

exerce mandato transitório. Ele é eleito de 4 em 4 anos, com direito a uma reeleição.

Isso significa que vamos criar aí uma instabilidade na prestação do serviço. Ele vai

ter qualidade numa gestão, não vai ter em outra; ele vai ser honesto e transparente

numa gestão, não vai ser em outra. Nesse caso criaríamos a instabilidade, além de

tornar o serviço vulnerável, pela possibilidade de uso eleitoral do cartório. Na

verdade, essa idéia não procede, não tem pertinência. Tampouco aquela de os

cartórios serem de responsabilidade do IBGE, que não tem qualquer preparo técnico

para o exercício dessa atividade notarial e registradora. Diria que esse tipo de

proposta tem um nome: implicância. Não há outro.

Vamos à questão que me interessa. Indago não só ao Dr. Márcio Braga, mas

também ao Dr. José Osório, ao representante do Ministério Público e ao Dr. Luiz

Francisco. Temos de questionar aqui, além do que já foi feito com pertinência, a

respeito da punição ou da impunidade quanto àqueles atos praticados

desonestamente pelos titulares dessa concessão pública dada pelo Estado. Falou-

se aqui sobre grilagem de terras, e os cartórios concederam escrituras públicas de

terras da União a quem não era proprietário delas. Pergunto: essas pessoas, os

titulares dessas concessões, foram punidos? O grau de punição é elevado em

relação aos cartórios existentes no Brasil ou são a impunidade e a desonestidade

que prevalecem nos cartórios? Serão essas ocorrências excepcionais ou fazem

parte da regra geral?

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Esse é um ponto que devemos focar, para buscar a qualidade do serviço,

compatibilizar o custo do serviço com a capacidade de pagamento da população, e,

acima de tudo, punir aqueles que ofendem a lei, afrontam a ética e agem

desonestamente à frente de um serviço que é concedido pelo Poder Público.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Deputado

Léo Alcântara.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, escrevi aqui muitas

perguntas a fazer, e foram tantas que sua Assessoria me trouxe um papel maior

porque este não seria suficiente.

Antes, sem polemizar, esclareço que não tenho nenhum tipo de implicância

ou o que quer que seja em relação ao Procurador Luiz Francisco. Aquela questão de

ordem que levantei foi simplesmente no sentido de que todos na Mesa

respondessem perguntas feitas pelos Parlamentares naquele momento, e o Dr. Luiz

Francisco estava tão-somente rebatendo o que o Dr. Márcio Braga havia dito. Então,

minha questão de ordem era única e exclusivamente nesse sentido.

Não faço lobby de cartório e, se existe, desconheço. Não tenho pai, irmão, tio,

primo ou quem quer que seja na área notarial. Não tenho nenhum interesse nesse

assunto. Acho que tal atividade exige grande responsabilidade, porque o notário, ao

colocar sua assinatura, é o responsável. Se ele der um registro errado ou fizer

escritura errada, tem que responder pelo que assinou. Por isso sinto-me

completamente à vontade de estar aqui nesta audiência pública.

Não sou membro desta Comissão, mas vim para cá porque faço parte da CPI

da SERASA e, durante sua vigência, levantou-se que os cartórios teriam que emitir,

a cada 15 ou 30 dias, num período determinado, todos os títulos protestados para a

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SERASA. E se V.Sas. estão colocando aqui os cartórios como o capeta, o diabo, no

meu ponto de vista, imagino que esse papel esteja sendo desempenhado pela

SERASA.

Depois, há uma pergunta para que V.Sa., Dr. Luiz Francisco, responda: sob o

seu ponto de vista, o que é a SERASA? Quando o cartório protesta um título, ele o

tem sob sua custódia, depois, o responde judicialmente; a SERASA, não; ela

simplesmente chega lá e diz: “Não tenho nada a ver com isso, estou aqui

repassando informação que seu Zé da Bodega me deu: você não pagou o carnê

dele”. E pronto, acabou-se. Eu já fui vitima da SERASA e do cartório; tive título

protestado em cartório e já tive meu nome indevidamente colocado na SERASA.

No cartório, cheguei com o comprovante de que havia pago e lhes disse que

quem tinha fornecido a informação a eles estava equivocado. E o cartório, naquele

exato momento, retirou meu nome do protesto. Em relação à SERASA, comprovei

que a cobrança era indevida, mas obtive a seguinte resposta: “O senhor tem que

procurar quem lhe colocou na SERASA, porque só ele pode retirar seu nome. O

senhor não pode vir aqui direto e retirar seu nome”.

Apenas abordei a questão da SERASA aqui porque gostaria de saber —

V.Sa. disse aqui que cartório tinha que ser extinto —, então, se o cartório é o diabo,

o capeta, que nome poderíamos dar à SERASA? Isso foi apenas a título de

descontrair um pouco o ambiente, que estava pesado.

Dr. Luiz Francisco, V.Sa., durante suas investigações — que, por sinal, em

muitos momentos beneficiaram este País —, algumas vezes procurou informações

nos cartórios, que lhe prestaram esse serviço, assim como podem fazer a qualquer

cidadão brasileiro. Então, eles, bem ou mal, estão prestando serviços ao País. No

passado, eles eram realmente passados de pai para filho, depois, de filho para pai,

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por aí. E passou a existir concurso. Mais uma vez, digo: bem ou mal, existe o

concurso. Infelizmente, há alguns Estados em que os concursos têm, como disse

aqui o Deputado João Alfredo, uma árvore genealógica. Mas os cartórios não têm

nada a ver com isso, não participam do concurso público; é o Poder Judicário. E, a

partir daí, em que os notários podem ser penalizados? Esse é um ponto.

Segundo: faturar é diferente de lucrar. Em relação à tabela de emolumentos,

a que o Dr. Márcio Braga se referiu, existem instituições, em alguns Estados, a

Associação de Magistrados; em outros Estados, como no meu, o FERMOJU, que

contribuíram, porque por meio delas foram construídos foros e residências para

juízes em todos os Municípios do Estado do Ceará, que hoje sustentam essa

estrutura. Construir é fácil, difícil é manter. Eles têm que pagar o custo dos

funcionários.

V.Sa. deu sugestão que poderia ser absorvida: que os funcionários dos

cartórios também fizessem concurso público. Acho que poderíamos evoluir para

isso, talvez seja uma boa sugestão de V.Sa. Eles declaram Imposto de Renda; as

empresas pagam 5%, 10% de Imposto de Renda e os notários pagam 27,5%. Eles

não têm como fugir disso, de tudo o que entra lá, porque há selos e tudo é

numerado e se tem que pagar sobre aquilo.

O Dr. José Osório falou aqui em determinado momento que o DETRAN faz

registro. No meu Estado, o Ceará, o que o DETRAN pediu aos cartórios? Que eles,

quando reconhecessem a firma de quem vende um carro, tirassem uma cópia e a

remetessem ao DETRAN quinzenalmente para que eles comparassem o documento

que chegou ao DETRAN ao documento que foi registrado em cartório. Isso,

gratuitamente. Não sei se em outros Estados acontece isso; falo do Ceará porque é

lá que moro, onde tenho vivência.

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Para o Poder Público, o documento é válido, porque o notário atestou sua

autenticidade, ou seja, reconheceu, de acordo com o documento apresentado, que

aquele cidadão aceitou os termos de venda do carro a outro cidadão. Portanto, se o

cartório, na pessoa do notário, mentiu é porque existem maus notários. Assim como

existem maus notários, existem bons notários; como existem maus Deputados,

existem bons Deputados; como existem maus juízes, existem bons juízes, e assim,

sucessivamente, em todas as profissões. No caso do notário, ele confronta se aquilo

é verdade ou falso.

As distorções de ganho entre os cartórios de São Paulo e os da Paraíba

existem, claro, até porque os valores dos imóveis são diferentes. No Rio de Janeiro,

por exemplo, o valor de um apartamento de 2 quartos é equivalente ao de um de 4

suítes no Ceará. Essas distorções gritantes ocorrem não somente em cartórios.

Teríamos que reformular todo o País para diminuir, principalmente, as distorções de

renda.

Dr. Luiz Francisco de Souza, dirijo-me a V.Sa., desculpe-me, não por

implicância, mas V.Sa. foi quem mais falou a respeito da estatização dos cartórios. A

remuneração de um Presidente, hoje, é inferior à de um Deputado, à de um

Procurador da República, à de um desembargador, à de um juiz do Supremo

Tribunal. No entanto, muitas vezes, ele tem maior responsabilidade do que a nossa,

de Deputado, por exemplo, porque é um cidadão que toma a decisão por 170

milhões de cidadãos.

Fiz aquela brincadeira — e peço desculpas a V.Sa. por tê-la feito —, no

momento em que V.Sa. tentou incluir os notários no teto. Tentei mostrar que, se isso

acontecesse, teríamos de concedê-lo a toda a classe empresarial. Citei, inclusive, o

empresário Roberto Marinho, que tinha uma concessão pública — a TV e o rádio

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são concessões públicas. Teríamos, também, nesse caso, que estabelecer teto para

todos que detêm concessões públicas.

Temos que evoluir para isso ou regredir. Mas não vamos entrar nesse mérito.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Deputado Léo Alcântara,

estamos sendo chamados ao plenário da Casa. Portanto, peço celeridade a V.Exa.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Serei breve, Sr. Presidente,

necessito de apenas 2 minutos.

O Deputado Luiz Bittencourt, meu nobre companheiro, declarou aqui que os

cartórios fornecem à SERASA informações não-confidenciais. Devo dizer a S.Exa.

que as informações de cartórios são confidenciais, até porque os títulos, após

protestados, são publicados no Diário Oficial ou, no caso do meu Estado, o Ceará,

quando o destinatário não é localizado, em jornais de circulação. Ou seja, não existe

informação não-confidencial.

Reitero, finalmente, que existem reformulações a serem feitas nos cartórios.

Esta audiência pública objetiva justamente localizar as deficiências e não execrar,

dizer que isso ou aquilo não presta, que não funciona, que deve ser desse jeito ou

daquele jeito. Temos de aperfeiçoar as leis. A Constituição de 1988, por exemplo,

aperfeiçoou muitas delas, mas ainda existem muitas a serem aperfeiçoadas. Então,

que as aperfeiçoemos: punamos quem deve ser punido e tiremos as distorções que

ainda existem nos Estados.

O Deputado João Alfredo denuncia que no seu Estado, o Ceará, os concursos

já saem carimbados com a árvore genealógica, de acordo com os

desembargadores. Devo dizer que não comungo dessa idéia. Se S.Exa. acredita

que isso realmente está acontecendo, então, vamos tentar corrigir essa situação.

Agora, vamos corrigir com conversa, diálogo, e não de forma que acabe gerando

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conflito, como se houvesse lobbies de um lado e de outro. Sinto-me à vontade, já

que não faço lobby para um lado nem para outro. Apenas não quero, quando nos é

conveniente, execrar aqueles que um dia nos serviram.

Termino, Sr. Presidente, pedindo desculpas por ter me alongado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Concedo a palavra ao

último inscrito, Deputado Almir Moura.

O SR. DEPUTADO ALMIR MOURA - Sr. Presidente, nobres colegas

Deputados, senhores presentes nesta sessão, tenho muita admiração pelo Sr.

Márcio Braga, ex-Deputado, ex-Presidente do Flamengo. Vimos que temos

divergência de paixão em relação ao clube — ele, flamenguista, e eu, tricolor —,

mas o admiro muito e venho acompanhando durante anos sua competência à frente

do Flamengo, quando foi Presidente, apesar de admirar muito Francisco Horta

também. Sei que S.Sa. está sempre presente nos noticiários, nas grandes

emissoras de rádio e televisão da nossa cidade e do nosso Estado, o Rio de Janeiro.

Nossa divergência, no entanto, não é só de paixão clubística, até porque sou

mais de cima, da Zona Oeste, e V.Sa. mais da Zona Sul; a periferia tem tratamento

diferenciado naquilo a que V.Sa. aqui se referiu. A periferia, como também Nova

Iguaçu, a que fez menção o Deputado Nelson Bornier, sofre muito com cartórios.

Apresentarei algumas situações, e V.Sa. há de concordar comigo.

Obviamente, não sou a favor, de forma alguma, com a estatização. Acho que o

Estado tem controle demais sobre o cidadão, sobre os direitos civis, os direitos

individuais. Deve-se tirar de cima do cidadão a figura do Estado, porque ele está

entrando muito nos direitos individuais. Esse é o meu pensamento. Combato tudo

nesta Casa que confronte com essa idéia e defendo o que com ela converge.

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No PROCON, estou com o Celso Russomanno. As pessoas nos falam isso.

Tenho vivência em Bangu, Campo Grande, Senador Camará, aquela região, e sei

que aquele cartório da Rua 12 é uma tristeza. Gostaria até de ser amigo do dono do

cartório, porque facilitaria muito nossa vida. Dizem que ser amigo de gerente de

banco e de notarial de cartório é uma maravilha. Não sou amigo nem de um nem de

outro.

Esse cartório a que me refiro é na Rua 12, o único que há em Bangu. Acabou

o de Realengo, ficou o de Bangu, depois, só em Campo Grande, ou então o cidadão

tem que sair dali e ir a Madureira, para se ter uma idéia. O cidadão tem que sair de

Senador Camará, pegar o trem ou o ônibus e ir a Madureira, porque não há cartório.

E o que mais me aflige, Sr. Márcio Braga — o que mais tenho visto e tenho

ajudado pessoas a tentar corrigir — é o erro cartorial. Fiz pequena relação de erros

comuns. Por exemplo, erro de CPF, erro de nomes — um pai vai registrar 2 filhos no

mesmo dia — na Zona Norte tem muito disso, V.Sa. sabe —, e o cartório registra o

nome de um filho como Valdir da Silva e outro como Valdir Maciel. O mesmo filho, o

mesmo pai, na mesma hora, no mesmo momento. E não são poucos os casos, são

muitos. Se V.Sa. quiser, mando-lhe pelo menos 100 deles. Não são poucos!

Já incluindo então uma pergunta, gostaria de saber o que o cartório fez ou se

pode fazer alguma coisa para corrigir esse tipo de coisa. Erro de sexo: a pessoa se

chama Raquel e escrevem “sexo masculino” — posso lhe mandar uma cópia desses

casos. Depois, para consertar, o cidadão tem de pelo menos pagar pelo selo, pois ali

é feito o controle.

V.Sa. e o Deputado Nelson Bornier têm razão. No Rio de Janeiro, a

Corregedoria melhorou muito e tem sido elogiada — muitas vezes, o Corregedor vai

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ao cartório verificar a reclamação. Temos acompanhado os serviços prestados por

cartórios e sabemos como eles funcionam.

Erros de sexo e de data de nascimento, bem como de metragens,

confrontação e identificação de imóveis, divergindo do número atribuído pela

Prefeitura, são comuns e de difícil atualização — aproveito esta audiência pública

para expor o problema.

Relativamente a protesto e contraprotesto, foi dito que protesto não tinha

serventia. O protesto tem serventia; o contraprotesto, não. Quem é protestado fica

com o nome sujo e não pode fazer nada, pois o contraprotesto não tem valor para a

Justiça. Se for pedida a falência do cidadão que fez o contraprotesto, ele terá de

pagar ou irá à falência da mesma maneira.

O protesto, portanto, tem valor e pode arrasar a vida de um cidadão; já o

contraprotesto — e seu argumento feito à SERASA — não tem valor algum perante

a Justiça. Alguém dirá que a culpa é da Justiça. Concordo, mas há os 2

instrumentos, e, se alguém protestou, alguém poderá contraprotestar — só que o

contraprotesto não vale nada.

Seguindo na mesma linha do Deputado Léo Alcântara, que também é

membro da CPI da SERASA, é preciso escolher entre o capeta e o coisa ruim.

Peço a atenção do Sr. Procurador. Salvo engano, entendo que a SERASA

tem funcionado como um tipo de empresa laranja da FEBRABAN: ela não responde

por nada — tampouco a FEBRABAN —, mas fatura. A FEBRABAN faz o contrato e

passa as atribuições à SERASA, que passa a funcionar como laranja. Isso precisa

ser investigado pelo Ministério Público, afinal, tudo o que sei sobre laranja se

encaixa no que a SERASA tem sido para a FEBRABAN.

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Como disse o Deputado Léo Alcântara, acho absurdo o protesto de um título

ser enviado à SERASA, que simplesmente não permite que a pessoa se defenda

diante dela, obrigando-a a recorrer ao protestante, pois muitas vezes não pode

entrar na Justiça por motivos financeiros. De modo que o protestado prefere pagar

para voltar a ter o nome limpo, condição necessária para participar de um concurso

público, por exemplo.

(Não identificado) - Deputado Almir Moura, perdoe-me a interrupção, o

quorum em plenário está muito baixo e, na condição de membro da base de apoio

ao Governo, gostaria que V.Exa. concluísse para que eu pudesse registrar minha

presença em plenário.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Já estamos sendo

chamados.

O SR. DEPUTADO ALMIR MOURA - Já concluo, Sr. Presidente.

Sou contrário a teto em qualquer situação. Acredito na livre iniciativa de

mercado e ponto: que cada um ganhe o que sua competência permitir. Essa é minha

opinião particular, mas, como sou Governo, voto com ele; sou fiel, isto é, cumpro

aquilo com o que me comprometi, e eu me comprometi a estar com o Governo.

Como disse o Deputado Ronaldo Vasconcellos, também votamos com juizes,

promotores, etc., e isso foi um destaque de meu partido, o PL.

Para encerrar, lembro que também o DETRAN envia o cadastro das pessoas

à SERASA, que comercializa as informações.

Há muita coisa por ser vista antes de esgotarmos o assunto.

Meus parabéns ao ex-Deputado Márcio Braga, de quem sou admirador.

Obrigado.

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O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, permita-me

acrescentar importante ponto que deixei de contemplar em minha fala. Para tanto,

peço não mais do que 2 minutos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - V.Exa. tem 2 minutos.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Luiz Francisco de Souza,

apresento-lhe uma questão simples.

V.Sa. defende a oficialização — e cada um tem direito a defender seu ponto

de vista. V.Sa. está em Brasília, cidade onde a renda per capita é muito maior do

que em Estados do Nordeste e onde as pessoas são mais esclarecidas.

Tomemos, por exemplo, o Município de Ereré, no Estado do Ceará, próximo à

fronteira, onde não há sequer acesso por asfalto. Ora, oficializar significa passar

para o Poder Público, isso quer dizer passar para o Prefeito, que representa o Poder

Público no âmbito municipal. Imaginemos que eu faça oposição ferrenha ao Prefeito

de Ereré por ver que não está fazendo bom uso dos recursos públicos ou que está

empregando parentes na Prefeitura, e o Prefeito me tenha tomado por seu inimigo

número 1. Pois bem, nasce meu filho e vou registrá-lo — cito o meu filho, Lúcio

Gonçalo de Alcântara Neto. Pode acontecer de o Prefeito se negar a fazê-lo por ser

eu seu inimigo político, obrigando-me a entrar na Justiça para registrar meu filho.

O mesmo poderia se dar com registro de imóvel ou de casamento. Cito o

registro de nascimento por ser um assunto que nos deixa mais sensíveis. O fato é

que, na situação que imaginei, eu ficaria à mercê do Prefeito.

O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Deputado Léo Alcântara, V.Exa.

não poderia ter escolhido outro Município que não Ereré, que aqui represento?

(Risos.)

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O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Deputado, em Ereré tenho o apoio

do Prefeito, e V.Exa. o apoio da Oposição. Isso não aconteceria lá porque o Prefeito

é sério. Mas já pensou se o seu filho fosse ser registrado lá e o Prefeito dissesse

que não faria o registro por causa de sua oposição a ele? Citei Ereré porque se trata

de Município distante, pobre, de apenas 10 mil habitantes, típico representante do

semi-árido nordestino.

É verdade que evoluímos e que tornamos gratuitos os registros de

nascimento, entre outros, hoje bancados pelos cartórios de registro de protesto de

título e tal. Foi criado um fundo dos cartórios de registro e de protesto para que

pudessem ser mantidos, dos quais foi retirada a renda. Eles não foram buscar no

Poder Público a manutenção do direito do cidadão. Se achássemos que seria mais

importante estar no Poder Público e que não haveria esse tipo de interferência que

citei, naquele momento, em vez de conceder gratuidade, teríamos passado para o

Poder Público o registro civil. É sustentado por eles uma assistência social a que

são obrigados a ceder.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Concedo a palavra ao

Deputado Luiz Alberto.

O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Sr. Presidente, ouvimos as exposições

dos Parlamentares e não nos desviamos do nosso objetivo. Tem a ver com o debate

dos cartórios a reforma do Estado quanto ao controle do teto.

Os cartórios têm grande poder. O Sr. Márcio Braga falou da Bahia. O Estado

não apresenta problema apenas em relação aos cartórios, mas também ao

Judiciário. Talvez porque seja o único Estado em que todo o Judiciário é controlado

por uma única pessoa. Ocorrem problemas que não podemos nem imaginar.

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Sr. Márcio Braga, os cartórios dispõem de muito poder. Fui registrar minha

filha e queria dar a ela um nome de origem africana. O cartório não quis fazer o

registro, porque não conhecia o nome. Tive de recorrer à Justiça para que o cartório

fizesse o registro.

Sr. Presidente, com a permissão de V.Exa., contesto a interpretação da Mesa

em relação à PFC. Na Comissão aprovamos PFC que investiga empresa

concessionária da área de petróleo. Com outros Deputados, darei entrada à pedido

de PFC para investigar os cartórios e solicitar ao Ministério da Justiça, por meio da

Secretaria de Defesa do Direito Econômico, a implementação da PFC para que

possamos concluir os nossos trabalhos a partir desta audiência pública.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Excluo as perguntas feitas

pelos Deputado Luiz Bittencourt e Inaldo Leitão, que estão ausentes. O Deputado

Léo Alcântara fez comentários. Há também perguntas dos Deputados Ronaldo

Vasconcellos e Júlio Lopes.

Concedo a palavra ao Sr. Márcio Braga.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Sr. Presidente, com relação a Brasília e a Minas

Gerais, peço ao ilustre representante do Instituto dos Registros Imobiliários

Brasileiros — IRIB que responda à pergunta. O Dr. Luiz Gustavo é o Presidente da

ANOREG do Distrito Federal, um jovem brilhante de 30 anos, recém-concursado,

passou em primeiro lugar no concurso em Brasília. Parece-me que sua atuação no

Distrito Federal abrange Goiás e Minas Gerais.

Esclareço ao Deputado, pois morei em Brasília por 10 anos, que nunca vi

nenhum oficial de cartório reclamar de salário. Deveria ser feita pesquisa a esse

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respeito. Quem quer deixar o serviço notarial e registral em razão do salário

percebido?

Peço ao Deputado Almir Moura, que eu não havia tido a satisfação de

conhecer pessoalmente, apesar de ser lá da minha terra, do Rio de Janeiro, que me

convide para visitar Bangu, Senador Camará, a fim de me mostrar os problemas

daquela região. Não costumo andar com torcedor de outro clube. Uma vez que

S.Exa. é tricolor, farei essa concessão e andarei por sua zona eleitoral.

Há algum tempo temos pensado, da mesma forma que fizemos em Nova

Iguaçu, em criar uma Central de Atendimento ao Cidadão para a Zona Oeste do Rio

de Janeiro, onde há muitos problemas. Deixo consignada essa intenção. Vamos

fazer isso ainda este ano, para atender a esse tipo de reclamação que o Deputado

aqui trouxe. Existem 10 Centrais de Atendimento ao Cidadão.

É preciso resolver os enormes problemas sociais do Município de Nova

Iguaçu. Já diminuímos os grandes problemas ali existentes.

Quanto à SERASA, devemos tratar o assunto com muita seriedade,

aproveitando a CPI em andamento na Câmara dos Deputados.

Citarei um exemplo pessoal. Recebi uma carta do Presidente da American

Express dizendo que, depois de 20 anos de associado, eu tinha adquirido o direito a

um cartão especial, com uma série de vantagens. Recebi o convite, através de carta

assinada pelo Presidente da American Express. Respondi dizendo que aceitava o

convite. Cinco ou seis dias depois, recebi uma comunicação apócrifa da American

Express dizendo que eu não seria aceito naquele clube. Estranhei aquela conversa.

Sou associado há 20 anos e sempre paguei minhas contas em dia. Afinal, o que

estava acontecendo? Liguei pessoalmente para a American Express. Depois de

apertar aqui, apertar ali, apertar acolá, falar com secretária eletrônica, finalmente

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consegui falar com uma pessoa. A moça que me atendeu disse gentilmente que no

computador aparecia uma negativação do meu nome feita pela SERASA, o que me

impedia de pertencer ao clube. Era necessário que eu me dirigisse à SERASA.

Dirigi-me à SERASA, no Rio de Janeiro. Aperta aqui, aperta ali, fala com secretária

eletrônica, fui atendido. "O senhor não pagou uma conta telefônica de 102 reais. Por

isso, o seu nome está negativado." “E eu fui cobrado e não paguei? Os senhores me

intimaram a pagar e eu não paguei?” “Nunca fui notificado e cientificado disso!" "O

senhor se dirija à TELEMAR." Dirigi-me à TELEMAR: aperta botão, fala com

secretária, vai para cá, vai para lá. Disse a TELEMAR: "O senhor deve pôr o seu

nome, os números dos seus telefones e o seu CPF no site da TELEMAR para saber

se tem algum débito". Assim o fiz, e não havia nenhum débito! Nenhum débito!

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Sr. Presidente, os 5 minutos do Dr.

Márcio Braga já se passaram.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Estou processando a SERASA. Fiquei imaginando

se acontecesse isso com alguém do povo que, naquele momento, época de Natal,

fosse comprar um liqüidificador para a sua casa ou para dar a sua mãe de presente.

Não pude pertencer àquele clube da American Express. Fui negativado. Por quê?

Não sei. A TELEMAR diz que eu não devo. A SERASA diz que eu devo, mas não diz

o quê. E não fui intimado.

Ficaram donos do crédito do cidadão. Isso tudo em nome dos bancos. Quem

quer fazer instrumento particular num banco tem de se recordar do que aconteceu

com a Encol, que deixou 42 mil pessoas que compraram imóvel sem nada para

reclamar, sem ter onde reclamar.

Se todo o sistema financeiro e imobiliário passar a ser feito por instrumento

particular pelos bancos que financiam com base no registro desses — entre aspas

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— "institutos de proteção ao crédito", caindo na mão da SERASA, não sei onde vai

parar este País.

Se se estatizar, colocando o contrato particular na mão dos bancos, haverá

problema maior no Poder Judiciário. Há uma incoerência.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Dr. Márcio Braga, por favor.

Nós já estamos sendo chamados. Já são 15h. Haverá agora a instalação de uma

CPI neste plenário.

O SR. MÁRCIO BRAGA - Agradeço a todos a paciência. Acredito que tenha

dito tudo o que era possível.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Muito obrigado.

Com a palavra o Dr. Luiz Francisco de Souza.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Tentarei ser bem rápido.

Deputado Léo Alcântara, para mim, SERASA, cartório de protesto de títulos

são diabo azul e diabo amarelo ou vermelho. No fundo, tudo é a mesma coisa. Ou

seja, são um mecanismo de aviltamento do cidadão, da pessoa mais pobre, etc.

Os cartórios de protesto, SERASA e esses outros órgãos deveriam ser

extintos. Outro mecanismo mais respeitoso, menos ligado ao capital deveria ser

criado para tratar do controle ao crédito. Não sei qual seria o mecanismo, talvez um

ligado às associações comerciais, desde que com intenso controle público, com

minuciosa regulamentação.

Quanto ao que foi dito pelo Deputado Júlio Lopes sobre fiscalização e

controle, no fundo, defendo a estatização dos cartórios. Um caminho é a ampliação

da fiscalização e do controle. Quanto mais fiscalização e controle houver, melhor

será o serviço.

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Tenho uma opinião pessoal quanto ao que foi dito sobre o Prefeito, aquele

que limpa as ruas, garante escolas e praças. Não há perseguição, até porque não

são atos de um Prefeito, mas de funcionários públicos da administração. Duvido que

possa haver perseguição em registros de nascimento ou imóveis.

O SR. DEPUTADO LÉO ALCÂNTARA - Como foi dito, existem bons e maus

Prefeitos.

O SR. LUIZ FRANCISCO DE SOUZA - Não pode haver superposição de

órgãos. O controle da propriedade urbana tem de ser feito pela Secretaria da

Fazenda, que controla o IPTU. Tenho certeza de que quanto mais público for esse

controle, com a publicação de quem é dono de cada fração e tudo o mais, melhor

será. Isso tem a ver com o IPTU. É preciso que haja IPTU progressivo, com um

controle efetivo sobre a propriedade urbana.

Em relação à propriedade rural, há o ITR e o INCRA. Não precisa haver

cartório de protesto. Deveria haver outro mecanismo.

E registro de pessoas? Pelo amor de Deus, a Prefeitura pode fazer isso, a

União também deveria fazer isso, ampliando a idéia de identidade única. Há projetos

para uma identidade única. Cada cidadão teria um registro ao nascer. Quando

adolescente, receberia sua identidade. O número da identidade seria o número da

previdência. Um documento único basta.

Quanto ao reconhecimento de firma, vamos ser bem francos, em regra, é uma

excrescência. Existem outros mecanismos para a obtenção de segurança jurídica. O

reconhecimento de firma pode ser feito por outros órgãos. Como foi bem dito, parte

dele já é feito pelo DETRAN e por outros órgãos.

A fiscalização dos cartórios não precisa ser feita pelo Judiciário. Isso também

é uma excrescência. Boa parte das atividades cartoriais deveriam ser passadas para

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o Executivo, sob o crivo do Legislativo, com o controle do Judiciário. Muitas dessas

atividades podem ser estatizadas sem nenhum prejuízo.

Vamos ser bem francos, o cartório é um feudo. Só o cartório de imóveis que

registra toda a Asa Sul pode funcionar. E o seu dono obtém 200 ou 300 mil por mês

de rendimentos, a pretexto de ser servidor público. Trata-se de concessão vitalícia.

Como pode haver uma concessão vitalícia? Em muitos Estados a concessão é

passada para os filhos.

Se for o caso, que se faça uma concessão de 5 ou de 15 anos, havendo um

teto. Trata-se de servidor público, que faz concurso. Estabelece-se um teto. Se vai

querer trabalhar naquela serventia, sendo servidor que exerce um papel no serviço

público, terá de haver um teto.

Quero deixar bem claro que sou contra a reforma da Previdência da forma

como está apresentada. Sou contra essa historinha de querer excluir o Judiciário e o

Ministério Público de carreira de Estado. Procuradores e juízes, temos de estar ao

lado do servidor público para simplesmente derrubar boa parte dessa proposta, para

que haja justiça e uma previdência única, a fim de estender o que o servidor público

tem para o celetista.

No que tange ao titular de cartório, trata-se de servidor público. Sugiro aos

Deputados que leiam belíssimo acórdão do Tribunal de Contas. Vale a pena. Eles

defendem essa tese.

A Constituição estabelece que o Estado tem de ter o controle sobre os bens e

os rendimentos de cada pessoa. No dia em que houver isso no Brasil, haverá menos

traficantes, menos corruptos, menos contrabandistas.

Em relação a esse controle da propriedade, o Luiz Estevão tem mais de mil

terrenos e nada estava registrado. O correto é que haja o controle pela Receita

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Municipal, Estadual ou Federal dos bens de cada cidadão. O maior controle deve ser

feito pela própria Receita.

Do mesmo jeito que houve a escravidão no passado e milhões de

trabalhadores ainda estão em condições subumanas, análogas às da escravidão,

ainda há essa horrível situação. Perdoem-me os donos de cartório, os tabeliães.

Pelo amor de Deus, se querem estabelecer um teto para o Ministério Público

e para o Judiciário, incluam, com muito mais força e razão, os titulares de cartório.

Peço desculpas se aborreci alguém.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier ) - Com a palavra o Dr. José

Osório de Azevedo Júnior.

O SR. JOSÉ OSÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR - Foi pedida minha opinião

sobre a qualidade dos serviços. Acho que os serviços são ruins, pois a insatisfação

é comum, plena e facilmente perceptível. No registro de imóveis, o serviço não é

bom, e a culpa não é do oficial de cartório. A quase totalidade dos que conheço, em

40 anos de alguma vivência, é esplêndida, muito boa, gente de primeira categoria,

esforçados, competentes. Surgem casos de corrupção aqui e ali, mas isso acontece

em todos os lugares.

A complexidade econômica da propriedade rural e principalmente urbana se

tornou de tal forma complexa e grave que o sistema atual não está funcionando. O

próprio oficial de registro de imóveis é, principalmente nas grandes cidades, um

dependente do Executivo, da Prefeitura. O tabelião não lavra uma escritura de um

desdobro de lote, da venda parcial de um lote, se esta não tiver passado antes pela

Prefeitura. O cidadão fica correndo de um lado para outro. A meu ver, isso é

gravíssimo.

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Criamos duas realidades: a física e a cartorária. Na hora de vender uma

fazenda, ou um sítio, um imóvel rural, no título estão registrados 20 alqueires, mas

são 25. E como vai sair feito o negócio? Aqueles 5 alqueires vão ter outro preço; a

escritura vai ser passada para 20 alqueires. Senão o oficial de registros de imóveis

não registra o imóvel. Caímos em outro ponto desesperador para o consumidor.

Como corrigir isso? Precisará de uma demanda complexa de retificação de

área e terão de ser citados todos os confrontantes. Em suma, quando fazemos esse

tipo de crítica, não tem nada a ver com as pessoas.

A sociedade brasileira — e fico felicíssimo de encontrar esse tipo de debate

neste plenário — precisa procurar outras soluções. Evidentemente, ninguém tem

uma bola de cristal para dizer qual a solução e que tudo mais está errado. Temos de

trabalhar com persistência.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Com a palavra o Dr.

Domingos Henrique Leal.

O SR. DOMINGOS HENRIQUE LEAL - Também me foi perguntado a respeito

da qualidade dos serviços e se os emolumentos são módicos. Os serviços são de

regular para bom, variando muito nos Estados, nas várias realidades locais etc.

Parece-me que há uma tendência a obter um serviço melhor por parte dos

delegatários concursados que dirigem essas atividades. Essa tendência se verifica

concretamente. Embora eles não sejam ainda muito bons, tendem a isso. Nesse

sentido, é um retrocesso a estatização do serviço. A tendência é para a eficiência,

para a melhora.

Com relação aos emolumentos módicos, também há variação de local para

local. Como já foi ressaltada, a fixação desses emolumentos se faz por parte do

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Poder Público, do Judiciário ou do Legislativo. Em certos Estados esses

emolumentos são módicos, em outros são exagerados, certos atos são caros

demais, outros são muito baratos. Um reconhecimento de firma por 15 reais, por

exemplo, é um absurdo. Haveria necessidade de um reexame por parte dos Estados

de todas essas tabelas de emolumentos que têm no seu bojo significativas

distorções.

Com relação a esses 2 aspectos, acredito que há uma tendência a melhora e

os emolumentos têm de ser realmente reexaminados.

Quanto à segurança jurídica, ela é um dos fundamentos, uma das razões de

ser da atividade notarial, da atividade de registro. Nesse aspecto também é preciso

que haja enxugamento de tudo aquilo que for supérfluo, desnecessário. É muito

diferente, por exemplo, fazer um testamento, um compromisso de compra e venda

de um lote de 3 ou 4 mil reais. Existem atos e atos. O Poder Legislativo deveria

reexaminar profundamente toda essa legislação relativa às exigências supérfluas e

desnecessárias que, em vez de trazerem maior segurança jurídica, trazem ao

cidadão maior dificuldade. Seria preciso limpar um pouco essa área. Todavia, essas

atividades são necessárias para a segurança jurídica de atos fundamentais, quanto

a isso não tenho a menor dúvida.

Finalizando, gostaria de agradecer o convite feito à CONAMP —

Confederação Nacional do Ministério Público e parabenizar a Comissão por este

evento muito oportuno.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Bornier) - Nada mais havendo a

tratar, vou encerrar a presente reunião de audiência pública, antes, porém, informo

aos senhores membros que amanhã, dia 14 de agosto, quinta-feira, neste plenário,

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haverá reunião de audiência pública, às 10 horas, para discutir os problemas

relativos à construção do metrô de Salvador, os critérios adotados para correção das

tarifas e suas conseqüências para os consumidores.

Está encerrada a presente reunião.