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1 O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da Tabanca de Achada de Santo António (Praia): projeto de salvaguarda de património cultural e de desenvolvimento comunitário Denise Cristina Gonçalves de Barros Trabalho de Projecto Mestrado em Práticas Culturais para Municípios Volume I Outubro 2013

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O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da

Tabanca de Achada de Santo António (Praia): projeto de salvaguarda de

património cultural e de desenvolvimento comunitário

Denise Cristina Gonçalves de Barros

Trabalho de Projecto

Mestrado em Práticas Culturais para Municípios

Volume I

Outubro 2013

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Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Mestre em Práticas Culturais para Municípios realizado sob a

orientação científica do Professor António Camões Gouveia e da Professora Maria da

Graça da Silveira Filipe.

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Aos meus pais,

pelo esforço, dedicação e compreensão

ao longo desta e outras etapas da minha vida.

E a quem devo tudo.

Ao meu irmão,

pela amizade e companheirismo.

À comunidade da Tabanca de Achada Santo António,

pela inspiração e contributo dado.

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Agradecimentos

Seguramente não conseguirei, aqui, agradecer a todos que me apoiaram ao longo

destes anos, razão pela qual deixo o meu apreço a todos que contribuíram directa ou

indirectamente para que este trabalho fosse realizado e para que mais uma etapa de vida

fosse concluída.

As palavras aqui expressadas não esgotam o reconhecimento que cada um de

vós merece, mas tenta demonstrar a gratidão sentida para com os que me

acompanharam e acompanharão neste e noutros caminhos por mim escolhidos.

Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus orientadores Professor António

Camões Gouveia e Professora Maria da Graça da Silveira Filipe, sem os quais este

trabalho não seria concretizado.

Ao Professor António Camões Gouveia, pela disponibilidade em acompanhar a

realização deste trabalho e pelo apoio prestado nas sessões de orientação.

À Professora Graça Filipe pela disponibilidade em orientar os meus últimos

trabalhos, pela forma acessível com que prontamente se manifestou em ajudar e apoiar

na estruturação e correcção do texto; pelas sugestões bibliográficas; pelos convites às

visitas de estudos que me proporcionaram momentos de aprendizagem e que foram

bastante enriquecedoras; pelo incentivo, estímulo e voto de confiança; pela forma serena

e compreensível demonstrada em momentos de desânimo e dificuldades; pela amizade e

simpatia demonstrada neste e em outros momentos deste percurso académico.

Aos membros da Comunidade da Tabanca de Achada Santo António, em

especial ao Alfredo Lopes (Fefe), Domingas Lopes (Dominguinhas), Hamilton Jair

Fernandes e Daniel Oliveira que prontamente de disponibilizaram em colaborar nas

entrevistas, partilhando um pouco dos seus conhecimentos e que serviram de

mediadores junto a outros membros como: Joana Silva (Joaninha), Maria Conceição

Tavares (Mizi), Luís Araújo (Torresma), Maria Conceição Duarte, Francisco Gonçalves

Fortes e Adilson Gomes.

Neste âmbito o meu agradecimento dirige-se aos que colaboraram nos

questionários tanto na cidade da Praia, como em Chã de Tanque e Assomada.

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À Maria Tavares Varela, técnica do Museu da Tabanca, que disponibilizou o seu

tempo para partilhar conhecimentos, informações sobre o museu, a Tabanca e o

território local e municipal. Pela simpatia com que me recebeu durante todas as minhas

visitas ao museu e pela ajuda dada junto a alguns residentes da localidade.

Ao Senhor Sidney Martins, técnico responsável pelo Património Cultural da

Câmara Municipal de Santa Catarina, e ao Senhor Luís Gomes, presidente da

Associação Nacional da Tabanca, pelas informações concedidas.

Ao José Rui de Pina, co-fundador da «Nos di Tchada i Amigus» pelo tempo

concedido para a realização da entrevista online (via rede social).

Às minhas colegas Larissa Mascarenhas, Filomena Viegas, Sofia Tomás,

Domicilia Rodrigues, Ana Cláudia Dâmaso, Marida Pita e Ana Aresta pelas trocas de

impressões e pela amizade.

Aos meus amigos Nilce Tavares, Carla Lopes, Carmen Amado e José Landim,

pelas palavras de incentivo, conforto, força e valorização que sempre me deram.

Mais uma vez agradeço à minha família que acompanhou esta jornada

depositando muita confiança, esforço e tolerância. Pelo amor incondicional, pelas

experiências e sabedorias que me transmitiram. Por ao meu lado enfrentarem todos os

desafios e partilharem as alegrias que neste e outros momentos a vida nos têm

proporcionado.

O meu agradecimento é extensivo há todas as pessoas com quem tive o

privilégio de travar conhecimento, que contribuíram para o meu enriquecimento

intelectual, e com quem criei laços de amizade ao longo destes anos de formação

académica.

Um muito obrigada a todos!

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Trabalho de Projecto

O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da

Tabanca de Achada de Santo António (Praia): projeto de salvaguarda de

património cultural e de desenvolvimento comunitário.

Denise Cristina Gonçalves de Barros

Palavras-chave: Cabo Verde, Achada Santo António, Museu da Tabanca,

património cultural, desenvolvimento comunitário.

O presente trabalho desenvolve-se a partir do contexto patrimonial da Tabanca e

toma como referência a comunidade da Tabanca de Achada Santo António, nosso

objecto de estudo no terreno. Tem como principal objectivo a apropriação consciente do

património cultural e um processo participativo da comunidade na tomada de decisões

quanto à salvaguarda do património e no desenvolvimento comunitário.

As propostas foram delineadas de acordo com a realidade apresentada pelo

conjunto estudado: Tabanca, Comunidade da Tabanca de Achada Santo António,

Museu da Tabanca e Associação Nacional da Tabanca; de modo que procuram dar

resposta às necessidades e às fragilidades constatadas.

Nota-se a possibilidade de se criar uma rede de recursos locais e de estruturas de

apoio (os parceiros), necessários para a implementação das nossas propostas.

Como base de enquadramento conceptual e metodológico, em torno do

património cultural (material e imaterial) e da realidade de Cabo Verde, abordamos

questões que envolvem a identidade, a memória colectiva e o museu enquanto

instrumento de acção para o desenvolvimento comunitário.

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Abstract

Keywords: Tabanca, Achada Santo António, Tabanca Museum, cultural

heritage, community development.

The current paper is developed from Tabanca’s heritage context and takes as

reference the Tabanca’s community of Achada Santo António, our field-research study.

Its main purpose is to highlight a conscious appropriation of the cultural heritage

and a participatory community decisions-making regarding the safeguarding of heritage

and community development. .

In order to address the needs and surpass the weaknesses found, the proposals

were made according to the reality presented by the group studied: Tabanca, Tabanca’s

community of Achada Santo António, Tabanca Museum, and National Association of

Tabanca,

There is a possibility to create an interactive network of local resources and

partnership, required for the implementation of our proposals

As basis for conceptual and methodological framework, focused on the cultural

heritage (tangible and intangible) and the reality of Cape Verde, we stressed issues

involving identity, collective memory and the museum as an instrument of action for

community development.

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Lista de abreviaturas e acrónimos

ANT – Associação Nacional da Tabanca

CEDEAO – Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental

CMP – Câmara Municipal da Praia

CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

CV – Cabo Verde

EUA – Estados Unidos da América

ICOM - International Council of Museums /Conselho Internacional de Museus

IIPC – Instituto da Investigação do Património Culturais

INECV – Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde

MECC - Ministério da Economia Crescimento e Competitividade

MRE – Ministério das Relações Externas

MT – Museu da Tabanca

NUCV - Nações Unidas Cabo Verde

ONG – Organização Não Governamental

PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

PDM-Praia – Plano Director Municipal da Cidade da Praia

PDM-SCS - Plano Director Municipal de Santa Catarina de Santiago

PEA – Perspectivas Económicas na África

PECV – Política Energética de Cabo Verde

QANURCV- Quadro de Assistência das Nações Unidas para o Desenvolvimento da

república de Cabo Verde

TASA – Tabanca de Achada Santo António

UE – União Europeia

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization/

Organização Das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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Índice Geral

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

1.1 OBJECTIVOS ............................................................................................................ 1

1.2 ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ........................................................................... 2

1.3 ESTRUTURA ............................................................................................................ 8

2. CABO VERDE: DAS CARACTERÍSTICAS DO PAÍS ÀS QUESTÕES

PATRIMONIAIS ...................................................................................................................... 12

2.1 CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS E SOCIOECONÓMICAS ..................................... 12

2.2 ASPECTOS CULTURAIS .......................................................................................... 13

2.3 PANORAMA MUSEOLÓGICO .................................................................................. 16

3. COMUNIDADE DA TABANCA DE ACHADA SANTO ANTÓNIO, MUSEU

DA TABANCA E ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA TABANCA. ........................................ 23

3.1 CONTRIBUTOS PARA O CONHECIMENTO DA TABANCA, PATRIMÓNIO CULTURAL

DE CABO VERDE E DE SUAS REPRESENTAÇÕES ...................................................................... 23

3.2 A COMUNIDADE DA TABANCA DE ACHADA SANTO ANTÓNIO, O TERRITÓRIO E A

SUA ENVOLVENTE ................................................................................................................... 26

3.3MUSEU DA TABANCA, ANÁLISE AO EQUIPAMENTO CULTURAL ............................ 31

3.4 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA TABANCA ............................................................... 35

3.5 BREVES REFLEXÕES SOBRE O ESTUDO REALIZADO .............................................. 38

4. PROJECTO DE SALVAGUARDA DE PATRIMÓNIO CULTURAL E DE

DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO ............................................................................ 43

4.1 CONCEITO ............................................................................................................. 43

4.2 FUNDAMENTAÇÃO ................................................................................................ 43

4.3 MISSÃO E OBJECTIVOS .......................................................................................... 46

4.4 PROPOSTAS E LINHAS DE ACÇÃO .......................................................................... 47

4.5 ESTRATÉGIAS E PARCERIAS .................................................................................. 56

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ...................................................................... 62

APÊNDICES VOL.II

ANEXOS VOL.II

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Índice Apêndices|Anexos

APÊNDICES ............................................................................................................................. A1

APÊNDICE 1 – LÍNGUA CABO-VERDIANA .................................................................................. A2

APÊNDICE 2 – INICIATIVAS DE SALVAGUARDA DO SÍTIO HISTÓRICO DA CIDADE VELHA ......... A3

APÊNDICE 3 - ALGUMAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS REFERENCIADAS NO

PROJECTO ................................................................................................................................................... A5

APÊNDICE 4 - ÁREAS PROTEGIDAS E CLASSIFICADAS COMO PATRIMÓNIO NACIONAL COM BASE

NO DECRETO-LEI Nº 3/2003, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2003....................................................................... A6

APÊNDICE 5 – PEQUENO ESBOÇO DA CRIAÇÃO DOS MUSEUS EM CABO VERDE ......................... A7

APÊNDICE 6 - CABO VERDE NA UNESCO ................................................................................... A9

APÊNDICE 7 – BREVE DESCRIÇÃO DAS ACÇÕES DE RESTRIÇÃO DA TABANCA ........................ A10

APÊNDICE 8– BREVE APONTAMENTO SOBRE AS BIBLIOGRAFIAS DE REFERÊNCIA PARA O ESTUDO

DA TABANCA ............................................................................................................................................ A13

APÊNDICE 9 – ENTREVISTAS & QUESTIONÁRIOS: GUIÕES|TRANSCRIÇÕES|AUTORIZAÇÕES ... A18

Não Membros Cidade da Praia ........................................................................................... A18

Guião ................................................................................................................................ .. A18

Trancrições ......................................................................................................................... . A20

I. Antropóloga ................................................................................................................ A21

II. Bancária .................................................................................................................... A24

III. Assistente de Bordo ................................................................................................. A27

IV. Estudante.................................................................................................................. A30

V. Gestor ........................................................................................................................ A32

VI. Doméstica ................................................................................................................ A35

VII. Serralheiro .............................................................................................................. A38

VIII. Professora Aposentada .......................................................................................... A40

IX. Verificador de Alfândega ........................................................................................ A43

Membros da Tabanca de Achada Santo António ............................................................... A46

Guião I ................................................................................................................................. A46

I. Adilson Tavares Gomes ............................................................................................. A48

II. Hamilton Fernandes .................................................................................................. A51

III. Francisco Fortes ....................................................................................................... A55

IV. Maria de Pina Duarte ............................................................................................... A58

Autorizações ........................................................................................................................ A62

Guião II ................................................................................................................................ A65

I. Luís Araújo ........................................................................................................ ......... A66

Autorização ......................................................................................................................... A72

Conversas:............................................................................................................................ A73

I. Alfredo Lopes ............................................................................................................. A73

II. Domingas Lopes|Joana Silva|Maria Tavares ............................................................ A74

Não membros em Santa Catarina ....................................................................................... A82

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Guião ................................................................................................................................... A82

I. Assistente Quiosque ................................................................................................... A85

II. Comerciante ............................................................................................................ .. A87

III. Electricista ................................................................................ ............................... A90

IV. Empregada Doméstica ............................................................................................. A93

V. Estudante ................................................................................................................... A95

VI. Professor .................................................................................................................. A98

VII. Professor de EBI .................................................................................................. A101

VIII. Professor de História ........................................................................................... A103

XI. Professor sub-director ............................................................................................ A106

X. Psicóloga ................................................................................................................. A109

XI. Recepcionista de Hotel .......................................................................................... A111

Câmara Municipal de Santa Catarina ................................................................................... A116

Guião .............................................................................................................................. .. A116

I. Sidney Martins (SM) ................................................................................................ A117

Autorização ....................................................................................................................... A129

Associação «Nos di Tchada i Amigos» ................................................................................... A130

Guião ................................................................................................................................ A130

II. José Rui de Pina ...................................................................................................... A131

Presidente Associação Nacional da Tabanca ........................................................................ A134

Guião I ............................................................................................................................... A134

I. Luís Gomes (LG) .................................................................................................... A136

Autorização ......................................................................................................................... A147

Instituto da Investigação e do Património Culturais ............................................................. A148

Guião I ............................................................................................................................... A148

I. Ana Samira Silva (AS) ............................................................................................. A149

Autorização ....................................................................................................................... A151

Guião II ............................................................................................................................. A152

II. Maria Varela Tavares (MVT) ................................................................................. A154

Autorização ...................................................................................................................... A159

APÊNDICE 10 – DESCRIÇÃO DAS FESTIVIDADES/DESFILE TABANCA ACHADA SANTO ANTÓNIO

2012 ......................................................................................................................... .............................. A160

APÊNDICE 11 – MUSEU DA TABANCA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A LOCALIZAÇÃO ................. A166

APÊNDICE 12 – QUADRO RESUMO DAS PROPOSTAS DO PROJECTO «O MUSEU DA TABANCA (CHÃ

DE TANQUE, SANTA CATARINA) E A COMUNIDADE DA TABANCA DE ACHADA DE SANTO ANTÓNIO (PRAIA):

PROJECTO DE SALVAGUARDA DE PATRIMÓNIO CULTURAL E DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO ..... A171

APÊNDICES IMAGENS|QUADROS

Imagem 1– Beijo da Vara /Tabanca Achada Santo António ............................................... A165

Imagem 2– Desfile da Tabanca (Bandeiras) Imagem 3– Desfile da Tabanca (Ladrões) ... A165

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Imagem 4- Barco Alegórico /Museu da Tabanca - Sala de Exposição1 .............................. A170

Imagem 5 - Objectos tambores, cornetas e búzio/Museu da Tabanca – Sala de

Exposição1............................................................................................................................................. A170

Quadro 1- Proposta: Inventário participativo ....................................................................... A171

Quadro 2 - Proposta: Acções Educativas ............................................................................ A173

Quadro 3- Proposta: Articulação de Projectos sócio-culturais ........................................... A174

Quadro 4– Propostas: Serviço Educativo Móvel ................................................................. A176

ANEXOS ...................................................................................................... A177

ANEXOS IMAGENS|QUADROS

Imagem 6 – Arquipelágo de Cabo Verde ............................................................................... A178

Imagem 7 – Principais eixos da política cultural traçada pelo actual Governo de Cabo Verde

................................................................................................................................................................ A179

Imagem 8 – Folheto Museu da Tabanca ................................................................................. A180

Quadro 5 - Dados estatísticos sobre a população do município da Praia e do bairro de Achada

Santo António ....................................................................................................................................... A181

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1

1. Introdução

1.1 Objectivos

O projecto que ora se apresenta, intitulado «O Museu da Tabanca (Chã de

Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da Tabanca de Achada de Santo António

(Praia): projecto de salvaguarda de património cultural e de desenvolvimento

comunitário nasce de uma reflexão a partir de um diagnóstico e estudo realizados sobre

um património cultural (a Tabanca), identificando-se os recursos e as acções que

promovam um maior conhecimento, valorização e divulgação desse património

Tem-se trabalhado a questão do desenvolvimento comunitário numa perspectiva

de interligação de vários sectores sociais onde a realidade territorial é tomada como

referencial nas estratégias e linhas de acção a serem desenvolvidas. A intervenção de

diferentes agentes e a conjunção de diversos mecanismos demonstram-se eficazes na

concretização de projectos que buscam enquadrar as comunidades não só como

públicos-alvo mas também como promotoras do próprio desenvolvimento, daí se exigir

uma maior participação destas. O nosso projecto desenvolve-se segundo esta

perspectiva e consiste num conjunto de propostas e sugestões de carácter patrimonial e

social que visam a salvaguarda da Tabanca e o desenvolvimento da comunidade da

tabanca de Achada Santo António (doravante TASA) e do seu território.

A filosofia adoptada para o projecto baseia-se na conjugação de recursos

disponíveis no território cuja interligação se deverá realizar através de parcerias entre a

comunidade da TASA, as entidades e instituições do Estado, as organizações não-

governamentais (doravante ONG’s), os organismos de cooperação, as associações

comunitárias de base local, bem como outros agentes que promovem a acção cultural e

o desenvolvimento.

A comunidade da TASA tem a sua sede no bairro de Achada Santo António, um

dos bairros populares da cidade da Praia (cidade capital de Cabo Verde). Além da

Tabanca, existem outras práticas culturais, tradicionais ou não, que são promovidas e

dinamizadas por associações, grupos recreativos e artistas locais. O bairro apresenta

características que espelham a realidade social do país. Como tal, enfrenta desafios no

campo da educação, da saúde, do ambiente, da segurança, da desigualdade social, a

exclusão social (sobretudo no que toca aos imigrantes repatriados dos Estados Unidos

da América), do desemprego, do urbanismo e do ordenamento do território

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(consequência do êxodo rural e da migração inter-ilhas), problemas que se agravam com

o facto de ser um dos bairros com maior densidade populacional do município.

Encontrando-se inserida1 no mesmo bairro, a comunidade da TASA reflecte essa

realidade e enfrenta problemas que comprometem a realização anual das comemorações

festivas, bem como outras práticas culturais e sociais ligadas à Tabanca.

O nosso projecto, tomando-a como objecto de estudo, procurou conciliar as

necessidades sentidas pela comunidade e os recursos que os potenciais parceiros

poderão disponibilizar para ultrapassar tais obstáculos.

Ao desenvolver um conceito de salvaguarda e de desenvolvimento comunitário,

o projecto pretende a apropriação consciente do património, a sensibilização por via da

partilha do saber, a capacitação como forma de potencializar a criatividade dos

membros da comunidade, a promoção da convivência social, e que a Tabanca seja vista

e compreendida além das actividades festivas.

1.2 Enquadramento conceptual

O nosso estudo encontra-se conceptualmente fundamentado por questões que

emergem do contexto patrimonial escolhido (a Tabanca) e da rede de interacções que o

mesmo pode criar quando perspectivado segundo os princípios da salvaguarda de

património e do desenvolvimento comunitário.

Tomámos como referência as abordagens teóricas de autores como Carvalho

(2011),Crooke (2006), Grunberg (2007), LeGoff (1990), Peruzzo (2002), Santos (2000,

2001), Silva (1963 e 1964), Varine (2004 2005 e 2012). E orientámo-nos por

documentos normativos da Unesco e do Icom, e por estudos de Semedo e Turano

(1997) entre outros autores. Foram abordados conceitos como: património, memória,

identidade, comunidade, desenvolvimento comunitário, museu, educação popular e

educação patrimonial.

Enquanto estratégia de acção patrimonial a salvaguarda consiste num «conjunto

de medidas que visam assegurar a viabilidade do património cultural imaterial». Para

tal, define-se como linhas de acção a «identificação, documentação, investigação,

preservação, protecção, promoção, valorização, transmissão – essencialmente pela

educação formal e não formal e revitalização dos diversos aspectos desse património»

(Unesco 2003). Atribui-se a responsabilidade dessas acções às entidades competentes, à

1 De salientar que nem todos os membros da comunidade residem no mesmo bairro.

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3

sociedade civil, e às comunidades detentoras desse património. É um processo cujo

planeamento exige uma política de inclusão e articulação de mecanismos e recursos,

bem como a criação de estruturas e infra-estruturas de apoio com vista a garantir um

desenvolvimento sustentável do património e uma participação directa e activa na sua

gestão. (art.2º, 1e 3; art. 13º e 15º da Convenção para a Salvaguarda do Património

Cultural Imaterial).

Por seu turno, o desenvolvimento comunitário2 são acções, de cariz interventivo

que visam a melhoria das condições de vida de uma comunidade, «buscando com o

máximo respeito pelos seus valores próprios e procurando tirar partido da sua riqueza

histórica» (Santos 2002:1). Para Silva e Arns, é «o processo através do qual a

comunidade amadurece em relação a si mesma e a seus potenciais, rompe seus casulos

e se transforma em novas formas de ser.» (Silva e Arns s/d p:3)

Tanto o desenvolvimento comunitário como a salvaguarda, são estratégias que

adoptam como ferramentas programas educativos que visam a sensibilização, a

instrumentalização e capacitação das comunidades, de modo a desenvolverem acções

transformadoras no meio onde se encontram. Intercalares a estas acções, ambos visam

uma participação activa e permanente das comunidades e das estruturas de apoio ao

desenvolvimento (entidades competentes e as suas estruturas e organismos, organismos

de cooperação, agentes de desenvolvimento - associações de base comunitária, ong’s;

escolas, equipamentos cultura).

O conceito educacional é abordado como uma forma de estimular e fomentar o

desenvolvimento de uma consciência responsável, valorizativa e participativa. A este

respeito, Barbara Freitag afirma que a educação é «um processo para todos ao longo da

vida que deve ser realizada sob os princípios democráticos e de respeito aos direitos

humanos, a partir de quatro pilares: aprender a aprender, aprender a ser, aprender a

fazer e aprender a viver» (Freitag citado por Studart 2002:35). Nesta sequência, Santos

afirma que educação «significa reflexão constante, pensamento crítico, criativo e ação

2 Resultado dos movimentos associativos que aconteceram no início do século XX, o desenvolvimento

comunitário é o resultado das reformas sociais ocorridas neste século. Acabou por ser uma ferramenta

utilizada pelos Estados como uma estratégia de descentralização e delegações de poderes aos líderes e

agentes sociais locais. Neste âmbito surgiram novas formas de ajuda e entreajuda social, da qual se

destaca o voluntariado. Este último é tido como uma forma de «poupar o sector público e de providenciar

projectos de desenvolvimento comunitário de grande relevância (importância/impacto) e

sustentabilidade» (Crooke 2006:180).

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transformadora do sujeito e do mundo; actividade social e cultural, historico-

socialmente condicionada.» (Santos, 2001:2).

Neste contexto, temos a educação popular e a educação patrimonial. Ambas se

incluem no conceito da educação não-bancária3, e têm por princípio o aproveitamento

dos recursos locais4 em prol do desenvolvimento.

A primeira define-se como um «processo teórico-metodológico de educação

não-formal, que um grupo social ou uma comunidade cria e recria para estudar,

conhecer, analisar e transformar a realidade sócio-económica política e cultural que os

caracteriza a um dado momento e em um espaço determinado.» (Varine 2012:190).

Tem por finalidade «criar ou reforçar a comunidade e o seu controlo sobre o respectivo

território, fornecendo-lhe os necessários instrumentos para a concepção, expressão e

formulação de projectos, assim como para a sua concretização e para a cooperação

interna e externa» (Varine 2004:37).

A segunda consiste no «processo permanente e sistemático de trabalho

educativo, que tem como ponto de partida e centro o Patrimônio Cultural com todas as

suas manifestações.» (Grunberg 2007:2). Esta prática é dirigida «a uma população e ao

seu território» e tem como propósito a sensibilização e a introdução ao conhecimento

do património, (Varine, 2012:91).

Ao assumir a totalidade do património, a sua aplicação requer uma metodologia

pedagógica e específica: observação, registo, apropriação, e exploração; adequada ao

3 Opondo-se ao termo instituído por Paulo Freire «educação bancária» que consiste na “acumulação

forçada de conhecimentos segundo um esquema; conteúdos e métodos definidos de cima para baixo (pelo

Ministério da Educação por exemplo) [...]” (Varine 2004:37), cujo sistema de ensino não tem sido eficaz

na formação de indivíduos sensibilizados e capacitados para uma prática mais activa no seio do seu meio.

Ou seja a aquisição de conhecimentos por via dos programas educativos das instituições de ensino não

têm conseguido fornecer elementos capazes de garantir a participação e contribuição dos indivíduos na

construção do seu futuro e dos seus. Assim, associando a esta situação as pessoas que não tiveram acesso

a essa educação ou que por diversos motivos não se integraram ou a continuaram, achou-se que como

alternativa se promovesse outras formas de educação - «educação não-bancária» - que tivessem por fim

«libertar as suas capacidades de análise, criatividade, iniciativa e autonomia, que lhes permitam inserir-se,

de forma progressiva e eficaz nos processos de desenvolvimento [...] (Idem). Portanto, este tipo educação

tem por papel consciencializar o individuo a desempenhar um papel mais activo no desenvolvimento da

sua comunidade e do seu território 4 . Os recursos locais, são recursos cujo uso é uma mais-valia para qualquer sector de desenvolvimento.

Assim, o património, «enquanto recurso, deve servir concretamente a todos e ao conjunto das dimensões

do desenvolvimento, isto é, não apenas à cultura e ao turismo, mas também à sociedade em seu todo, á

economia, á educação, á identidade e á imagem, ao emprego ou á inserção social, etc.» (Varine 2012:83).

Estabelecendo desta forma a ponte entre os vários sectores de desenvolvimento uma vez que permite

traçar o perfil – a identidade – da comunidade em questão. Para assegurar a sua continuidade e

sustentabilidade é indispensável que além de (re) conhece-lo, a comunidade tenha a capacidade de a partir

dele se desenvolver.

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5

bem cultural, à faixa etária e ao nível de instrução dos envolvidos. A isto, Grunberg

acrescenta que pode ser feita em qualquer espaço social (Grunberg s/d:6), ou seja não

existe um espaço definido para a sua implementação.

É neste âmbito que surgem as estruturas de apoio viradas para as acções

educativas: escolas, os equipamentos culturais, as associações locais entre outras, que a

adoptam como metodologia prática cultural.

Os museus5, enquanto equipamentos culturais destinados à gestão do património

cultural, surgem potencialmente como um dos principais delineadores de estratégias,

políticas, iniciativas e acções para a salvaguarda de património (Carvalho 2011:101).

Segundo os princípios da Nova Museologia6 o museu é um instrumento capaz de

fomentar o desenvolvimento local. (Varine 2012:171).

O compromisso assumido neste âmbito incentivou a aproximação do museu à

comunidade7 local, como estratégia

8 de desenvolvimento sustentável

9 do território. A

5 O ICOM (International Council of Museums/Conselho Internacional de Museus) sendo o organismo

internacional que regulamentariza o sector museológico traça através do seu documento normativo – o

Código Deontológico para os Museus - os principais conceitos, procedimentos, instrumentos e práticas

orientadores dos museus. Este organismo define museu como «uma instituição permanente sem fins

lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva,

estuda, expõe e transmite o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com

fins de estudo, de educação e de deleite» (ICOM 2007) 6 A nova museologia é uma nova corrente de pensamento museológica, cuja trajectória se inicia nos finais

dos anos 50 do século XX. (Santos 2000:2) e se conceptualiza nos anos 80 com a criação do MINOM

(Movimento Internacional para a Nova Museologia) (Varine 2012:181). Resulta de um conjunto de

encontros e reflexões: Seminário Regional da Unesco (1958), da Conferência Geral – Unesco (1958), IX

Conferência Geral do ICOM (1971), Mesa Redonda de Santiago de Chile (1972); XVI Conferência Geral

do ICOM (1992), das quais se gerou um conjunto de directrizes para uma nova forma de se pensar e se

exercer a museologia. De forma resumida, os documentos produzidos a partir destes encontros fizeram

surgir um conceito de museu assente numa filosofia social, comunitária e pedagógica, que procura através

da sua programação museológica encontrar soluções para os problemas sociais, apropriando-se do

património na sua plenitude, isto é não se restringe a um bem patrimonial, mas sim assume-o em todas as

suas formas (material, imaterial, natural e cultural) contribuindo de forma sustentável para o

desenvolvimento da comunidade e do seu território 7 Numa perspectiva museológica, Santos define comunidade como sendo «um grupo de indivíduos que

apoiado em um património, realiza ações museológicas, com objectivos e metas definidas a partir das

suas necessidades, dos seus anseios, definido, em conjunto, os problemas e as soluções para os mesmos,

situando-os no contexto mais amplo da sociedade.» (Santos 2000:4) 8 O museu procura de uma forma dinâmica e interactiva se relacionar com a sua comunidade integrando-a

nas suas actividades museológicas.Esta aproximação gera um ambiente favorável de trabalho e

cooperação entre ambas as partes. Colaborar com a comunidade tem sido um meio para encontrar (atrair)

novos públicos, gerar confiança e restabelecer (reenquadrar) o papel e a importância do museu nas

sociedades contemporâneas. (Crooke 2006:183) 9 Segundo Varine somente uma identificação (por parte da comunidade) aos projectos delineados pelo

museu possibilitará a sustentabilidade e a durabilidade dos mesmos. Ou seja, a comunidade envolvida

deverá reconhecer-se no museu, só assim se mostrará disponível para nele se integrar e com ele trabalhar

e desenvolver o seu território. (Varine 2012: 38).

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6

comunidade10

tornou-se no tema central das políticas museológicas incentivando ideias

de desenvolvimento comunitário 11.

Neste tipo de relacionamento, onde a participação é

activa e constante, é exigida uma estrutura bottom-up (de baixo para cima) onde a

gestão do museu é partilhada com a comunidade. Aqui, a comunidade deverá ser

assumida desde o princípio nas diversas decisões e planos do museu - este sistema de

integração e cooperação gerará «um clima de confiança» (Nyangila 2006:5). Os museus

que trabalham junto à comunidade assumem ainda um compromisso com as pessoas

que não se encontram ou não se identificam com a comunidade, os não membros. Pois o

museu deve primar sempre pelo envolvimento da comunidade e do seu território,

estimulando a união e coesão social. (Crooke 2006: 183)

Outro conceito basilar no qual o nosso projecto se apoia, o património cultural

imaterial, é definido pela Unesco como «práticas, representações, expressões,

conhecimentos e aptidões – bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços

culturais que lhes estão associados – que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os

indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural» é

transmitido geracionalmente, sendo recriado constantemente pelos seus detentores

mediante as influências do meio humano e natural com a qual entram em contacto ao

longo dos tempos. É o que confere identidade, cria laços e sentimentos de pertença,

assegura a continuidade, o respeito pela diversidade cultural e a criatividade humana»

(alíneas 1 e 2 do art.2º da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural

Imaterial (Paris, 17 de Outubro de 2003).

O projecto tem como pano de fundo a Tabanca, que se enquadra no âmbito

patrimonial acima referido, como uma manifestação cultural associada a práticas

culturais e religiosas enraizadas no seio de uma comunidade específica. (Semedo e

Turano 1997).

A comunidade é aqui compreendida segundo as análises de Peruzzo12

, e as

considerações de Arns e Silva. Em ambos os casos a ideia de comunidade implica

10

Assim, a comunidade será assumida como fonte primária do museu e o património é apenas o meio

utilizado para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento. 11

A ideia de comunidade e desenvolvimento comunitário é desenvolvida pelo museu através dos

projectos que fomentam a identidade local e que incentivam o desenvolvimento social (Crooke 2006:183) 12

Partindo de autores clássicos e relacionando as diferentes definições dadas por cada um, Peruzzo atribuí

uma definição mais ampla e actual ao conceito de comunidade, onde a presume como «uma relação social

que implica uma participação directa e activa dos seus membros, a partir das quais se desenvolve um

sentimento de pertença que por sua vez contribui para a coesão interna. Considera, que é preciso haver

carácter cooperativo e de compromisso, confiança, aceitação de princípios e regras comuns e senso de

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7

«organização, senso de identidade, partilha de um passado e de objectivos/interesses em

comum, onde o território nem sempre é tomado como parte integrante ou factor

essencial para a existência da comunidade» (Peruzzo 2002:11).

As comunidades da Tabanca, definidas como «associação laica de socorros

mútuos, com actividades cultuais e festivas em determinados períodos do ano» (Semedo

e Turano 1997: 77), enquanto partes integrantes – criadoras e detentoras – são as

verdadeiras actoras desta manifestação cultural. Partilham entre si uma memória

colectiva que lhes permite construir uma identidade própria. Essa identidade subsistirá

graças à necessidade de mantê-la como algo que valoriza, atribui significância ao grupo

e o diferencia dos outros, contribuindo deste modo para a diversidade cultural.

Entenda-se por memória os «processos sociais e históricos, de expressões, de

narrativas de acontecimentos marcantes, de coisas vividas, que legitimam, reforçam e

reproduzem a identidade do grupo». A memória é também entendida como o «passado

vivido constituído pela sucessão de acontecimentos/ momentos marcantes na vida do

grupo, da nação, do país, e que possibilita a construção de uma narrativa sobre o

passado.» (Cruz citado por Rodrigues s/d p.5)

O património é a materialização de uma identidade construída ao longo dos

tempos, que se traduz em ideias, acções e objectos aos quais a comunidade atribui

significado, valor simbólico e os toma como referencial identitário e ideológico. (Ramos

2003, pp.11-16).

Tratando-se de práticas e costumes tradicionais, existe um jogo entre a

resistência às mudanças e transformações sociais que acontecem dentro e fora da

comunidade, e as inovações que cada geração imputa ao património, contribuindo assim

para a sua renovação. É importante ter isto em conta no momento em que se delineia

estratégias para salvaguarda do património. É preciso manter a integridade comunitária tal

como ela se apresenta no presente (assumindo às suas raízes históricas e contextualizando-a

na actualidade), sem que por via das acções de desenvolvimento comunitário - que gera

responsabilidade pelo conjunto, e que se reconheçam como parte integrante deste conjunto. É preciso que

se crie uma identidade comum a todos. Que os membros tenham alguns objectivos e interesses em

comum, na medida em que constata que nas sociedades contemporâneas nem sempre todos os membros

partilham dos mesmos objectivos e que, portanto, o que os une são os objectivos que dão fundamento a

comunidade. Afirma que algumas se encontram viradas para o bem-estar social e ampliação da cidadania.

Que é preciso que se estabeleça um ambiente intensivo de comunicação e troca entre os membros.

Observa que nem sempre o território é o factor determinante para que se considere ou não uma

comunidade, na medida que o que confere sentido à comunidade são os “fortes laços, de reciprocidades,

de sentido colectivo dos relacionamento” e uma linguagem em comum. Peruzzo2002).

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8

uma dinâmica intersectorial dos sectores de desenvolvimento - se provoque uma

descaracterização e a perda de autenticidade das comunidades.

1.3 Estrutura

A elaboração deste trabalho de projecto13

desenvolveu-se segundo uma

metodologia de investigação científica, baseada em análise bibliográfica e em trabalho

de campo. As nossas propostas fundamentam-se sobretudo no resultado e conclusões

retiradas a partir do trabalho de campo.

Realizado em Cabo Verde, ilha de Santiago, na cidade da Praia e Assomada, e

que compreendeu um período de quatro meses, de Maio a Agosto de 2012.

Numa primeira fase do trabalho, ocupámo-nos da análise de estudos de casos

que tomaríamos como referência para o nosso projecto. Através da pesquisa

bibliográfica relacionadas com a Tabanca e a cultura cabo-verdiana, pudemos consultar

obras, artigos e documentos oficiais que se encontram na Biblioteca Nacional de Cabo

Verde e no Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde. Neste âmbito ainda realizamos

várias pesquisas nos arquivos digitais da imprensa nacional.

No sentido de melhor conhecer o equipamento cultural, entrámos em contacto

com a responsável pela Direcção de Ciências Humanas e Sociais do Instituto da

Investigação e do Património Culturais de Cabo Verde, Ana Samira Carvalho Semedo

Silva, a quem expusemos, resumidamente, os objectivos do nosso projecto e

manifestámos a intenção de colaborar, por um breve período, como voluntários no

museu, que seria aceite mediante apresentação de uma carta do voluntariado. Importa

ainda referir que nos foi facultado, pela responsável, um documento interno, isto é, um

plano estratégico para o sector museológico nacional - «Estratégia de Intervenção e

Plano de Actividades».

13

Surge na sequência do trabalho académico desenvolvido no âmbito do seminário Património e Museus

do Mestrado em Práticas Culturais para Municípios no ano lectivo 2011-2012, intitulado «Museu da

Tabanka: Serviço Educativo: Móvel». Este por sua vez serviu de referência para a primeira proposta de

trabalho de projecto a ser desenvolvido no âmbito da componente não lectiva. Servindo como ponto de

partida, o projecto seria aprofundado a nível teórico e complementado com dados obtidos com o trabalho

de campo.

O trabalho seria então desenvolvido numa perspectiva museológica, a partir do Museu da Tabanca, em

que a proposta consistia na implantação de um Serviço de Educação Patrimonial cuja acção/actividade

não se limitava ao espaço físico do museu. Isto é, um serviço educativo móvel integrado na programação

do museu, que acima de tudo visava uma maior interacção entre o museu e as comunidades da Tabanca

que se encontram dispersas, portanto, distantes da localização física do museu, e teria como público-alvo

as três tabancas da cidade da Praia: tabanca da Várzea, tabanca de Achada Grande Frente e tabanca da

Achada Santo António.

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9

Nesta sequência avançámos com várias visitas ao museu da Tabanca em Chã de

Tanque, cidade de Assomada, com o intuito de conhecer o seu acervo, a sua

programação e o seu impacto no território local e envolvente. Aqui fomos recebidos

pela técnica responsável pelo museu, Maria Varela Tavares, da qual obtemos

informações tanto a nível do funcionamento do museu como da realidade territorial e da

comunidade local.

Aproveitando a estadia de uma semana em Assomada, entrámos em contacto

com o presidente da Associação Nacional da Tabanca, Luís Francisco Gomes, e com o

responsável pelo sector do Património Cultural da Câmara Municipal de Santa Catarina,

Sidney Martins.

É importante referir que estes encontros foram de carácter informal, servindo

apenas para recolha de informações, ficando acordado que posteriormente iríamos

realizar formalmente as entrevistas, bem como recolher informações complementares.

Relativamente às comunidades, pretendíamos analisar, compreender e distinguir

o modo como as três vivenciam a Tabanca, qual a relação destas com o território, como

se comunicam e relacionam entre elas, e qual a ligação e o impacto do museu nestas

comunidades. Aqui, delineámos como estratégia de recolha de informações a troca de

impressões junto aos membros da comunidade e a participação nas actividades festivas

de cada um.

Iniciámos o nosso acompanhamento pela comunidade da tabanca de Achada

Santo António, por ser a primeira das três a iniciar as suas actividades festivas. Não

conseguimos acompanhar todas as etapas das comemorações, mas presenciámos alguns

rituais, onde pudemos estabelecer contacto com alguns membros da comunidade, que

partilharam connosco alguns conhecimentos e se comprometeram a colaborar com mais

informações.

A respeito desta fase de realização do trabalho de campo, é importante dizer que

não nos foi possível cumprir o plano traçado, na medida que o diagnóstico da realidade

territorial contrastava com as propostas e os objectivos previamente delineados. Assim,

com a análise dos dados obtidos chegámos à conclusão de que não poderíamos avançar

com o tema proposto a priori. E, como forma de aproveitar e valorizar o levantamento

feito até então, reformulamos os nossos objectivos e o nosso público-alvo, de modo a

termos como produto final o presente trabalho de projecto.

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10

Do estudo já realizado mantivemos como objecto de estudo o Museu da Tabanca

e a comunidade da tabanca da Achada de Santo António e definimos como território o

bairro de Achada Santo António e o município da Praia.

Uma avaliação feita às informações recolhidas e a uma leitura do território

direccionou-nos para a elaboração de um projecto que, por um lado, permite a

salvaguarda da Tabanca e, por outro, contribui para o desenvolvimento comunitário e

local.

Nesta segunda fase do trabalho de campo, avançámos com as entrevistas e os

questionários, ambos obedecendo a um guião pré-definido. Infelizmente, tivemos

algumas dificuldades em conseguir um número significativo de respostas, pelo que o

nosso estudo se baseia nas informações obtidas a partir dessa amostra.

Colaboraram para o nosso estudo membros da tabanca de Achada de Santo

António, moradores do bairro de Santo António; munícipes do concelho de Santa

Catarina, presidente da Associação Nacional da Tabanca, o responsável pelo sector

patrimonial da Câmara Municipal de Santa Catarina, a técnica responsável pelo Museu

da Tabanca, e a técnica do Instituto da Investigação e do Património Cultural, Ana

Samira Silva.

Relativamente a outros contactos que considerávamos importantes para o

trabalho, deve-se dizer que apesar de inúmeras insistências não obtivemos qualquer

resposta. Adicionalmente às informações obtidas no âmbito destas colaborações,

consultámos relatórios e estudos de carácter estatístico e descritivo da realidade

socioeconómica do país, bem como relativos ao campo cultural. Importante, é ainda

dizer que o trabalho é também resultante do nosso conhecimento vivenciado do

território.

No que toca à estrutura, o nosso trabalho é constituído, para além da introdução,

por três capítulos, seguidos das considerações finais. O capítulo de introdução, segundo

uma lógica metodológica e conceptual, tem por finalidade a apresentação sequencial das

etapas que conduziram a elaboração do trabalho, os parâmetros teóricos que o definem,

bem como os intentos que queremos alcançar com a sua elaboração. O segundo capítulo

contextualiza o país, Cabo Verde. Esboçamos o panorama museológico cabo-verdiano e

considerando que se enquadra no âmbito de iniciativas culturais procedemos a análise

de alguns projectos culturais e medidas de intervenção por parte do poder político e de

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organismos não-governamentais. Paralelamente, a isto, elaboramos uma pequena síntese

da realidade cultural e patrimonial do país. Na medida que o projecto também se

desenvolve numa perspectiva de desenvolvimento comunitário procedemos a análise da

realidade económico-social do país. Ainda dentro do contexto em que o projecto é

desenvolvido, apresentamos aqui uma breve contextualização histórico-geográfica do

arquipélago. O capítulo, seguinte corresponde ao estudo realizado. Começamos com

uma breve análise às principais referências bibliográficas sobre a Tabanca e alguns

estudos publicados no âmbito de investigações que a tomaram como objecto de estudo.

Conjugamos as informações recolhidas no terreno com as retiradas das bibliografias e

paralelamente a apresentação do património em estudo, efectuamos uma abordagem

analítica e descritiva da comunidade da Tabanca de Achada Santo António, enfatizando

as questões patrimoniais e sociais que a caracterizam. De seguida, procedemos à análise

do Museu da Tabanca onde procuramos compreender o seu funcionamento, identificar

as debilidades, potencialidades e o seu impacto no seio da sua comunidade de referência

e do território onde se encontra localizado. Sendo a Associação Nacional da Tabanca

um organismo fundado pelas comunidades da Tabanca, que tem como representante

alguém da sociedade civil, e que procura através de parcerias garantir a continuidade

das tabancas activas e a revitalização de comunidades inactivas entendemos por bem

analisar os seus feitos, as suas aspirações e tentar perceber de que forma tem

contribuído para a salvaguarda deste património. Concluímos este capítulo com uma

reflexão sobre o estudo realizado. Estes pontos permitiram detectar as necessidades e as

potencialidades da comunidade, das entidades e do território. Aqui lançamos as

premissas a serem consideradas na construção das linhas de acção que orientam as

propostas do projecto.

O quarto capítulo reflecte e justifica todo o estudo realizado, correspondendo às

propostas e às linhas de acção que sugerimos com vista à salvaguarda e ao

desenvolvimento da comunidade da Tabanca de Achada Santo António. Estas propostas

assentam em quatro pilares: interacção, integração, educação e desenvolvimento

comunitário. Para tal, entendemos que no território existem mecanismos e entidades

capazes de promover e tornar concretizáveis as nossas propostas.

Terminamos com as considerações finais que sumarizam as reflexões sobre o

trabalho efectuado.

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12

2. Cabo Verde: das características do país às questões patrimoniais

2.1 Características geográficas e socioeconómicas

Localizado no oceano Atlântico à 500km do continente africano, junto à faixa do

Sahel, o arquipélago de Cabo Verde (cf. imagem 6 A178) apresenta-se como um país

soberano, unitário e democrático, onde residem 505.848 mil habitantes. (INECV 2012

pp.9).

Sob uma forte influência do clima e da biodiversidade regional, as ilhas

apresentam contrastes entre si, permitindo-nos descrever a paisagem natural

caboverdiana como sendo montanhosamente esculpida, oscilando entre lugares de

características desérticas e lugares verdejantes. Num quadro irregular das chuvas, a

escassez de recursos naturais é óbvia e determinante nos aspectos e elementos que

caracterizam o Caboverdiano.

Independente há 38 anos, o país vem-se construindo com o esforço dos

residentes, da diáspora14

e da ajuda internacional. Num processo contínuo de

crescimento económico e social, as estratégias delineadas pelo governo passam pela sua

integração em blocos e organismos de desenvolvimento15

; e nas relações multilaterais

através das quais tem estabelecido protocolos de cooperação a nível das áreas sociais –

como é o caso da cultura e do património, da educação, da saúde, dos direitos civis e

laborais, da agricultura, da pesca, da tecnologia e dos recursos energéticos.

O país vem apostando na educação como forma de superar e colmatar a escassez

de recursos, através da capacitação da população e da formação de quadros técnicos, em

instituições nacionais ou no estrangeiro. Reconhece-se a necessidade de um maior

investimento na qualidade do ensino a nível interno, assim como no incentivo ao não

abandono escolar e prosseguimento dos estudos. De salientar, que as organizações não-

governamentais desempenham um papel importante no que toca a capacitação da

população contribuindo assim para que haja um recurso humano qualificado e

14

Estimando-se que a diáspora cabo-verdiana ultrapassa em dobro os residentes, estes contribuem

significativamente para a dinamização do sector económico Cabo-verdiano, com as transferências

monetárias. 15

Neste domínio, por exemplo o país é membro e parceiro dos PALOP; da CPLP; da Comunidade da

Macaronésia. Integra a CEDEAO e recebe apoio de ONG’s de apoio ao desenvolvimento humano como é

o caso das Nações Unidas e de alguns organismos que a compõem; da Cruz Vermelha; da BorneFonden.

Em termos cooperativos mantém ainda relações com diversos países da U.E; os EUA; Canada; China e

Cuba são apenas alguns entre os muitos países que apoiam CV nos diversos domínios do sector político,

económico, social e cultural.

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13

empreendedora. (Borges e Morais 2012:24, MRE e NUCV 2012:19–21 e 30-31 e

Plataforma das ONGs de Cabo Verde 2008: 7).

A descontinuidade territorial é um entrave ao desenvolvimento do país, uma vez

que não se tem conseguido trabalhar de igual forma em todas as ilhas do arquipélago. O

êxodo rural e a migração inter-ilhas têm acelerado o crescimento demográfico, a

desigualdade económico-social entre as ilhas, as regiões as áreas urbanas e rurais.

Neste quadro de mobilidade activa e de desigualdade económico-social é quase

impossível travar os problemas sociais que dali derivam. Temos o surgimento de bairros

periféricos, onde ocorrem desvios comportamentais, como é o caso da

toxicodependência, prostituição, violência e criminalidade. É assim que têm surgido nos

centros urbanos, liderado pela cidade da Praia (capital do país)16

inúmeros casos de

violência e criminalidade, instalando o clima de insegurança social, atribuídas aos

grupos thugs17

E assim se pode descrever Cabo Verde nos dias de hoje, um país condicionado

pelo seu ser insular e pelas vicissitudes causadas pelo seu crescente desenvolvimento.

2.2 Aspectos culturais

A cultura cabo-verdiana resulta da fusão étnico-cultural entre africanos e

europeus durante colonização das ilhas. Defende-se que apesar de apresentar

semelhanças e parecenças, em alguns elementos, com ambas as matrizes que lhe dão

origem, é única e exclusiva do país.18

Tendo em conta o faseamento do povoamento, a diversidade étnica associada à

dispersão territorial, temos uma diversidade cultural19

, cujas práticas e expressões se

16

De acordo com o estudo encomendado pela Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a

Cidadania (CNDHC), efectuada pela empresa de consultadoria Afrosondagem, no âmbito da

criminalidade na cidade da Praia, em 2011 «oito em cada dez residentes na Cidade da Praia foram

vítimas de criminalidade». (Inforpress 2011) 17

Segundo Redy Wilson Lima, o fenómeno thug surge «[...] como um movimento associativo juvenil

relacionado a actos delinquentes, enquadrado num contexto social desigual, visa buscar estratégias de

afirmação pessoal e social [...]. Pode-se considerar estes grupos como sendo associações juvenis

comunitárias não reconhecidas oficialmente, isto porque, constituem redes de indivíduos surgidos nos

bairros desafiliados, com a particularidade de utilizarem a violência como forma de chamar a atenção e de

buscar reconhecimento dos poderes públicos ou dos organismos não-governamentais» (Lima 2010 pp.1 e

15). 18

Atribui-se essa autenticidade a capacidade de assimilação e transformação dos modelos culturais aos

quais se esteve sujeito, criando-se um novo, do qual se tem atribuído uma singularidade e genuinidade

própria (Andrade 1997: 17, Gonçalves 2006:12e 15 e Spínola 2004:16). 19

Por diversidade cultural entenda-se uma «multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e

sociedades encontram sua expressão, e que são transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades»

(Unesco (2005). Diversidade Cultural art. 4º da Convenção sobre a Protecção e a Promoção da

Diversidade das Expressões Culturais (UNESCO, 2005).

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14

manifestam de forma diferente de ilha para ilha e de região para região dentro da mesma

ilha. Não obstante, é de consensual entendimento que as especificidades das ilhas

formam no seu conjunto a identidade cultural do povo cabo-verdiano (Almada

1997:28).

É unânime a ideia de que a língua surgida desse cruzamento, o crioulo cabo-

verdiano embora assuma diferentes variações consoante as ilhas e as regiões, é a

expressão cultural de maior relevância para e na construção da identidade nacional. (cf.

ap.1 A2),

Um olhar sobre esta sociedade, diz-nos que as tradições populares: religião,

gastronomia, as tradições orais, a música e a dança - se encontram bastante enraizadas e

presentes no seu dia-a-dia. No entanto, não podemos descurar do facto de que a cultura

é um campo de interacções sujeito a influências e transformações, por isso modelos e

referências culturais estrangeiras também fazem parte do panorama cultural do país.

Iniciativas e projectos culturais em torno destas manifestações culturais surgem

tanto por mãos de entidades públicas como privadas, e em parceria umas com as outras.

Ao abrigo das cooperações internacionais têm surgido inúmeros projectos e

apoios para o sector cultural.

Estas têm ajudado tanto financeiramente como

tecnicamente no planeamento e execução de projectos.

Na área patrimonial temos por exemplo os projectos: «Salvaguarda do

Património Histórico e Arquitectónico de Cidade Velha» (cf. ap.2 A3-4) «Inventário do

Património Imaterial» «Inventário do Património Arquitectónico de Cabo Verde», o

«Plano de Gestão da Cidade Velha», o «Inventário da Cimboa como Património

Imaterial»20

, em que além das entidades competentes locais (CM e Governo), conta-se

com o apoio da Unesco, da cooperação com portuguesa, espanhola, britânica,

luxemburguesa entre outros.

Destacamos o projecto «Cultura Móvel» um projecto desenvolvido entre duas

ONG’s a SINBOA e a O'DAM (cf. ap.3 A5). É um projecto que junta as tecnologias de

informação e comunicação (TIC) a questões sociais e culturais, onde procura através

destas incentivar e promover a criação audiovisual bem como a produção e criação de

bens e serviços culturais. É um projecto com grande impacto nos jovens e que consegue

20

Cimboa é um instrumento musical típico de Cabo Verde, utilizado no batuque.

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15

levar as suas actividades e programação a diferentes bairros, através das associações

locais. Como exemplo a exibição de filmes em alguns bairros da capital.

Gostaríamos ainda de referir a existência de alguns equipamentos culturais que

se encontram sob a tutela das respectivas embaixadas: Centro Cultural Brasil, o Centro

Cultural Português /Instituto Camões e o Instituto Francês, que estabelecem a ponte

entre a cultura do seu país de origem e a cabo-verdiana, através da promoção da língua

(português e francês) e de actividades ligadas às diferentes áreas sociais e culturais.

No que toca às iniciativas públicas, estas cabem ao Governo e às Câmaras

Municipais (doravante CM). Ambas as entidades têm trabalhado em parceria de forma a

garantir melhores condições de vida à população. No plano cultural, esta colaboração

têm-se verificado a nível do planeamento, gestão e execução de projectos e

equipamentos culturais.

As autarquias enquanto órgãos de gestão e administração de territórios estão

incumbidas de desenvolver estratégias e políticas de desenvolvimento capazes de

dinamizar as diversas estruturas sociais locais. Além da parceria acima referida, as CM

através das geminações nacionais e internacionais têm-se divulgado e promovido

sobretudo as tipicidades de cada município. 21

Ainda no domínio das iniciativas públicas, compete ao Governo de Cabo Verde

a formulação e implementação de políticas e estratégias que vão de encontro a realidade

social, económica e histórico-cultural do país.

Por força das alíneas do nº 3 do art. 78º da constituição de nacional, deve criar

condições para que o património cultural do país seja preservado e salvaguardado. Que

os cidadãos tenham acesso, possam desenvolver e criar bens culturais bem como

usufruir e/ou tirar partido dos mesmos. No entanto, a realidade económica do país não

tem permitido grandes investimentos nesta área. As debilidades desde sector fazem-se

sentir a vários níveis, desde a pequena parcela do orçamento22

atribuído ao Ministério

da Cultura (doravante MC), a escassez de técnicos e profissionais da área, a uma

política cultural pouco disseminada e partilhada com as partes interessadas (agentes

21

No entanto, verifica-se que as intervenções do poder local têm-se concentrado nas actividades de

entretenimento, nomeadamente os festivais, os eventos desportivos e feiras de artesanato. 22

A parcela do Orçamento de Estado (doravante OE) concedida ao Ministério da Cultura, é das mais

reduzidas dos sectores de desenvolvimento. Em 2011 foram disponibilizados 52 mil contos para a área

dos investimentos. Em 2012, são disponibilizados apenas 35 mil contos e em 2013 recebe um aumento de

55% (44 mil contos). Fonte: A Entrevista, com Mário Lúcio, Ministro da Cultura. Parte 1 e Parte2.

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16

culturais e sociedade civil), e a fragilidade das normativas nacionais que regularizam o

sector.

Com base na análise efectuada a algumas entrevistas feitas ao actual ministro da

Cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, que assumiu a pasta deste ministério nos

finais Março de 2011, percebe-se que a actual política cultural traçada assume a cultura

como um eixo estratégico para o desenvolvimento (cf. imagem7 A179), ou seja como

geradora de riquezas. Segundo as palavras daquele ministro a política cultural traçada é

uma «política de incentivo á criação que têm como base: o financiamento da cultura, as

políticas sociais, a formação (nomeadamente a criação de uma Escola Nacional de

Artes), a promoção cultural e a exportação da cultura.» (Sousa 2011). Alguns projectos

e medidas já foram implementados, nomeadamente: a elaboração do Plano Estratégico

Intersectorial da Cultura23

, estudo do Impacto da Cultura no Crescimento do PIB

(Economia da Cultura) 24

a fundação do Banco da Cultura25

e bolsas de criação; a

criação de Casas de Cultura em vários bairros do país, Rede Nacional de Salas de

Espectáculos, parcerias com os agentes turísticos, reforço das parcerias com as CM,

projecto de inventário e classificação do património arquitectónico de Cabo Verde,

feiras do livro. Têm-se pautado por acções e iniciativas ligadas a oficialização e

padronização da língua materna, na integração da cultura no sistema de ensino, na

construção de infra-estruturas e equipamentos culturais que permitem a construção,

fruição e divulgação da cultura.

2.3 Panorama museológico

No contexto de iniciativas de salvaguarda do património cultural, o sector

museológico em Cabo Verde só começa a ser delineado a partir da década de 1990.

(Rodrigues 1991:23). Contudo, acções no âmbito da recolha e do levantamento do

património imaterial (nomeadamente das tradições orais), e do património edificado,

(restauro e projectos de reconversão de edifícios históricos) e a existência de vários

23

Este traça os objectivos que o actual Governo delineou para o sector cultural. Focando-se nas

potencialidades dos recursos culturais nacionais, visa a articulação entre as diferentes áreas de

desenvolvimento e de diversos actores sociais e culturais bem como a regulamentação deste sector. 24

Preve-se que os dados relativos a este estudo estarão disponíveis até finais do corrente ano (Sousa

2013). 25

Inaugurado em 2011 «é uma nova designação do Fundo Autónomo de Apoio à Cultura que visa não só

facilitar o acesso ao financiamento de forma mais democrático e transparente por parte dos artistas, mas

também criar espírito empreendedor no trabalhador criativo». Tendo por finalidade o financiamento de

projectos culturais, conta com um fundo de garantia proveniente do OE e dos seus parceiros, sendo alguns

destes o Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território e o ECOBANK - Banco do

investimento e desenvolvimento da CEDEAO.

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17

projectos no sentido de se criar equipamentos museológicos já eram uma realidade nos

finais dos anos 1980 (Veiga 1989 pp.122e123).

Grande parte do século XX fica marcada pela ausência de acções no domínio

cultural que poderiam resultar na implementação de museus. Estas só seriam retomadas

após a independência do país (1975).

Num primeiro momento desta nova era, as atenções do país estiveram voltadas

para questões de cariz político e económico, como forma de garantir a estabilidade do

povo, não sendo então dada prioridade às questões culturais.

Investimentos no campo cultural só viriam a sentir-se a partir de 1978, onde «as

questões de índole patrimonial e museológica passariam a ser objecto de maior atenção

governamental.

«A elaboração de medidas legislativas, a formulação de projectos, a criação de

estruturas e mesmo a expressão de um pensamento orientador passariam então a marcar

presença no panorama local». (Gouveia 2013:10). Destas medidas, criou-se a comissão

nacional26

para promover a defesa e o restauro dos monumentos nacionais; em

sequência dessa iniciativa os trabalhos seriam então desenvolvidos pela Comissão

Nacional em colaboração como o Instituto Português de Património Arquitectónico

(IIPAR), no âmbito da cooperação com Portugal. (Carvalho citado por Mendes

2010:90).

Em 1980, após a visita ao país, a Unesco elabora um relatório onde tece várias

considerações sobre o sector patrimonial e museológico27

. Ao longo desta década,

registaram-se várias iniciativas, destacando-se a criação de uma nova entidade

administrativa cuja competência incidia sobre a gestão do património cultural do país, a

Direcção Geral do Património Cultural de Cabo Verde.

As últimas décadas, 1990 e 2000, foram anos de concretizações. Instituído pela

constituição, compete ao Estado criar condições que permitam a salvaguarda do

património cultural do país. Assim, visando a instituição de uma política cultural que

instigasse o desenvolvimento deste sector e que a regulamentasse, surge o Decreto-lei nº

26

Comissão Nacional para a salvaguarda do monumento cabo-verdiano, o Decreto-lei nº 51, de 23 de

Dezembro de 1978. 27

Dirigidas à comissão recém-criada, as observações feitas foram no sentido de se criar “legislação

específica”, de “utilização” como sustentáculo da conservação, de “revitalização dos centros históricos”,

de “preservação dos bens móveis” e de salvaguarda da “memória escrita” (Azevedo citado por Gouveia

2013 pp. 10 e11)

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18

52, de 29/12/1990, que vem promover o levantamento etnográfico a nível nacional que

resultaria posteriormente no Museu Etnográfico28

(Gouveia 2013:14-15; Mendes

2010:91 e Rodrigues 1991:63). Assiste-se à criação de uma nova estrutura, o Instituto

Nacional da Cultura (INAC), substituindo assim a Direcção Geral do Património

Cultural.

A década de 1990 fica ainda marcada pelo delinear de estratégias resultantes do

diagnóstico efectuado à situação patrimonial e museológica do país. Assim, chegou-se à

conclusão que, dadas a insularidade e as particularidades de cada região e ilha, a melhor

opção seria a criação de núcleos museológicos locais e regionais que espelhassem a

realidade do respectivo território, que funcionariam em consonância com um projecto

maior, que seria o Museu Nacional. (Rodrigues 1994:23). Assistiu-se à delegação de

tarefas onde as autarquias passaram a ser, além de parceiras, as entidades capacitadas

para promover e desenvolver projectos neste âmbito29

.

A descentralização que se fez sentir também teve espaço dentro do próprio

organismo estatal, passando outras estruturas a gerirem o património cultural, tanto no

âmbito do património natural como arquitectónico.30

Neste contexto, ainda se envolveu

a sociedade civil, o que viria a originar projectos museológicos de iniciativa privada.

Como resultado desta época e da anterior, realizaram-se várias intervenções em

edifícios históricos, que resultaram na instalação de alguns equipamentos culturais de

cariz museológicos: Arquivo Histórico Nacional (1988), o Museu de Documentos

Especiais (1991); o Museu das Telecomunicações (1994)31

; o Museu Etnográfico

(1997) e o Museu da Tabanca (1999). Outras realidades desta época são a classificação

do Sítio Histórico da Cidade Velha como património nacional, e os acervos constituídos

no âmbito da história e arqueologia deste sítio, e acervos antropológicos relativos ao

projecto museológico do Museu Nacional.

28

De salientar, que a par deste museu, já existia em 1977 o Centro Nacional do Artesanato na ilha de São

Vicente; que além de actividades ligadas ao artesanato: levantamento e registo de técnicas de fabrico

tradicionais, a recolha e preservação de pecas etnográficas. (Gouveia 2013:19 e Veiga 1989:123). Hoje

este espaço alberga o Museu de Arte Tradicional 29

Nota-se que esta parceria já se tinha iniciado da década de 80, onde já se desenvolviam pelas autarquias

alguns museus (Veiga 1989:123). 30

Por exemplo no caso do património edificado, a sua gestão além de ser da competência do Ministério da

Cultura é também do Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território; e Ministério da

Agricultura e Ambiente de Cabo Verde no caso dos parques naturais. 31

De natureza empresarial, este museu, localizado nas instalações dos CTT em São Vicente. Visava a

preservação da “memória das telecomunicações” através da divulgação da história tecnológica e

sociocultural por meio de peças que remontam o século XIX. (Filho 2006)

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19

Não passando despercebidos os acontecimentos internacionais nesta área, o novo

milénio veio contribuir para novas tomadas de posição em relação ao património

cultural e ao sector museológico, que já não se limitava aos bens materiais e aos

aspectos históricos, mas se expandia pelas vastas áreas do meio social e ambiental. A

primeira década de 2000 corresponde a um período de abertura e expansão que pode

resumir-se como sendo a época em que os projectos se materializaram e onde novas

questões patrimoniais foram abordadas.

Regista-se, uma maior envolvência com a população, que até então só era

notória a nível da recolha de informações e objectos que constituíram os acervos. Este

período fica ainda marcado pelas medidas tomadas em virtude da preservação do

património natural do país, que culminaram nas primeiras iniciativas legislativas tal

como a criação do Decreto-Lei nº 3/2003, de 24 de Fevereiro32

; que estabelece o regime

jurídico das áreas protegidas e que a par da Lei n.º 102/III/90, de 29 de Dezembro, são

os instrumentos legais que regulam o património cultural e natural de Cabo Verde; bem

como a criação de uma nova estrutura, o Instituto da Investigação e do Património

Culturais (2004)33

(doravante IIPC) que veio substituir o Instituto Nacional da Cultura

(INAC).

A valorização do património natural e do legado histórico arquitectónico, assim

como os aspectos sócio-culturais que caracterizam o povo cabo-verdiano estão cada vez

mais presentes nas medidas tomadas pelas entidades políticas. O impacto dessas

medidas impulsionou a elaboração de projectos não só no sentido da salvaguardar mas

também da divulgação da cultura cabo-verdiana para o exterior.

Várias parcerias foram estabelecidas neste âmbito, onde se tem reforçado a

colaboração com as autarquias locais e a cooperação com entidades estrangeiras,

iniciativas que se demonstraram fundamentais na concretização dos projectos.

Uma apreciação ao estado actual do panorama museológico de Cabo Verde, (cf.

ap.5 A7-8) faz-nos crer que existe uma conjuntura favorável ao desenvolvimento deste

sector; porém existem lacunas de várias ordens que dificultam e têm estagnado alguns

projectos.

32

Com base neste documento um pouco por todo o país foram classificados espaços e sítios como

património nacional (cf. ap.4 A6) 33

Criado pelo Decreto-Regulamentar nº 2/2004, de 17 de Maio; as acções do instituto estão orientadas

para a investigação científica em vários domínios; preservação do património móvel e imóvel,

arquitectónico, subaquático; criação e gestão de museus; gestão de sítios históricos.

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20

Um dos constrangimentos que o sector enfrenta é de ordem jurídica, isto é, não

há legislação que regularize a criação e estipule as normas internas destas instituições,

estando por isso afectas às acções desenvolvidas pelo IIPC. A criação da lei-quadro dos

museus vem sendo anunciada há algum tempo, contudo ainda não faz parte da realidade

museológica cabo-verdiana.

A isto deve-se acrescentar que os únicos instrumentos reguladores pelos quais os

museus se têm orientado são, no plano nacional, a lei de base patrimonial (Lei n.º

102/III/90, de 29 de Dezembro) em consonância com a lei-base do sector urbanístico

(Decreto-Lei n.º 2/2011 de 3 de Janeiro), a que regulamenta o sector ambiental

(Decreto-Lei n.º 3/2003, de 24 de Fevereiro) e os planos directores municipais. Os

museus orientam-se ainda, no campo museológico, pelo Código Deontológico dos

Museus e por outros por documentos do ICOM; e no campo do sector patrimonial pelas

cartas e convenções da Unesco (cf. ap.6 A9).

A sustentabilidade destas instituições é outro problema com que se deparam os

museus nacionais, tanto a nível financeiro como de recursos humanos. Em termos

financeiros, a gestão dos museus tem sido feita com base no orçamento atribuído ao

Ministério da Cultura, que, como já referimos, é um dos ministérios que recebe menor

percentagem do OE.; pois não conseguem gerar receitas, uma vez que a fruição dos

espaços não é suficiente para tal

O défice de recursos humanos também pesa neste ponto, uma vez que a

formação de quadros na área da museologia e gestão do património, em particular, e nas

mais variadas áreas do campo cultural - história, antropologia, arqueologia, conservação

e restauro, entre outras áreas de investigação científica - no geral é ainda recente e os

que existem não conseguem ser absorvidos pelos equipamentos museológicos ou pelas

entidades que trabalham com estas questões, o que torna difícil constituir equipas

interdisciplinares capazes de dinamizar esses espaços.

Embora os museus assentem sobre a realidade sociocultural do país, a verdade

que estes não têm conseguido atrair o público cabo-verdiano. Por um lado, isto justifica-

se com o facto da não familiaridade34

das pessoas com os espaços museológicos, daí a

34

Esta realidade nos é apresentada ainda na década de 90 por Nélida Rodrigues na sua descrição da

população cabo-verdiana afirma que a esta não se encontra familiarizada com os museus, não consegue

perceber a sua utilidade; a sua importância nem o seu significado, acrescentando que a mudança dessa

mentalidade estaria nas mãos dos profissionais de museologia bem como da elite cultural. (Rodrigues

1991: 62)

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21

fruição por públicos nacionais ser quase inexistente. Por outro lado, as pessoas que

contribuíram com objectos e/ou informações para a constituição do acervo e dos

inventários não são envolvidas nas programações nem nas políticas dos museus, o que

acaba por não favorecer a aproximação das comunidades aos museus.

A mudança de mentalidade neste aspecto vem sendo feita com campanhas de

sensibilização junto às comunidades de referência e com o desenvolvimento de

actividades lúdico-pedagógicas integradas no serviço educativo junto da comunidade

académica. A este respeito Ana Samira Carvalho afirma que “temos que trabalhar com

as escolas para que esta nova geração não seja como a anterior, ou seja, para que, desde

o início da vida escolar, tenha contacto com esta entidade e que possa ver no museu

uma referência para o seu conhecimento escolar”35

.

As exposições permanentes resultam de recolhas feitas na década passada, não

havendo estudos e investigações actuais que as actualizem e permitam a construção de

novas narrativas. Consta-se ainda que se limitam à descrição dos objectos/conteúdos

não explorando nem desenvolvendo informações inerentes a eles.

Com a descentralização do poder e na sequência de se criar museus que

espelhassem a realidade territorial de cada região, as autarquias vêm mobilizando

esforços no sentido de dotarem os seus municípios de equipamentos culturais como

forma de desenvolvimento cultural da sua população. Esta aspiração tem resultado em

museus municipais, como é o caso do Museu Municipal de São Filipe na ilha do Fogo

(2008) e em projectos semelhantes noutros municípios. É neste âmbito que a Câmara

Municipal de Santa Catarina vem propor a criação do Museu da Cidade que será

integrada num outro projecto que é a Rede Museológica Municipal de Santa Catarina,

apresentada na XIV Conferência Internacional – 28 e 29 de Outubro de 2011,

organizada pelo Minom na cidade de Assomada.

No âmbito deste projecto, notamos que algumas propostas que se assemelham a

outras já existentes, como é o caso do museu do Mar e o da Imigração, que já se

encontram projectadas para outras ilhas. Parece-nos que alguns projectos se

desenvolvem de forma aleatória, não se estabelecendo uma ponte entre as necessidades,

35

Fonte: Binókulu (18 de Maio de 2013). Museus de Cabo Verde vêm registando aumento de visitas.

Acedido a 29 de Maio de 2013 em http://www.binokulu.com/2013/05/18/museus-de-cabo-verde-vem-

registando-aumento-de-visitas/

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22

a realidade e as aspirações do poder político. A solução deverá passar pela efectivação

do projecto da Rede Nacional de Museus

Os museus passam despercebidos no seio da população nacional tendo maior

expressão no seio do sector turístico. No ano passado, os museus nacionais receberam

2.741 turistas36

. O que observamos é que este é um dos principais públicos-alvo dos

museus, no entanto, não existe uma consonância entre o sector cultural e o turístico.

Nem no facto de se apetrechar as ilhas de maior atracção turística - ilha do Sal e da

Boavista - com estruturas museológicas, uma vez que a ilha de Santiago é a que

apresenta o maior número de museus. Nem no sentido destas duas áreas trabalharem em

sintonia, com vista a desenvolver projectos de carácter sustentável com impactos

significativos a nível da população e da sua envolvente.

O (re)pensar da museologia no caso cabo-verdiano, no tempo presente, deve

resultar de uma reflexão dos projectos já delineados e que buscam ser implementados

no sentido de os adaptar à realidade actual, uma vez que a sociedade encontra-se em

constante mudança e portanto as exigências podem evoluir. Sendo que os museus são de

carácter temático, ligados aos aspectos sócio-culturais, e dado o facto de se constatar

uma ausência da população nacional no que toca a sua fruição, dever-se-á fazer uma

reavaliação dos fundamentos que lhes dão origem. Neste âmbito, deve-se delinear uma

política cultural virada para a promoção e divulgação do património a nível nacional, a

fim de criar a consciencialização sobre a sua importância para o desenvolvimento

integrado. Portanto, defendemos que sejam intensificadas as campanhas de

sensibilização junto às escolas, mas também que as diversas entidades do plano social

se articulem com vista a se poder chegar ao público não académico.

Em suma, pode-se dizer que a situação museológica de Cabo Verde parece

acompanhar, embora de forma lenta e gradual, a movimentação internacional em torno

das questões patrimoniais da actualidade. A participação nos encontros organizados

pelo Icom37

, ao longo destes anos, a orientação por documentos e instrumentos

36

Dados avançados pela técnica responsável pela museologia nacional, Ana Samira Carvalho. Fonte:

(Idem) 37

Este organismo tem promovido desde finais da década de 80 vários encontros entre os museus dos

países da comunidade de língua oficial português. Neste âmbito, o primeiro teve lugar no Rio de Janeiro

em 1987, o segundo encontro aconteceu em Mafra-Portugal no ano de 1989, o terceiro na Guiné-Bissau

em 1991, o quarto teve lugar no Macau em 1994; o quinto em Maputo no ano 2000 e o último aconteceu

em Lisboa em 2011. Cabo Verde tem sido presença constante desde 1989 onde se fez representar por

Manuel Veiga na qualidade de Director Geral do Património Cultural de Cabo Verde, entre 1991 e 1994.

Em 2000 por Nélida Rodrigues como Chefe de Divisão de Museus do Instituto Nacional de Cultura de

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23

internacionais, as campanhas de sensibilização e o crescente número de projectos

desenvolvidos neste âmbito expressam as intenções do país em se afirmar a nível

cultural.

3. Comunidade da Tabanca de Achada Santo António, Museu da Tabanca e

Associação Nacional da Tabanca.

3.1 Contributos para o conhecimento da Tabanca, património cultural de

Cabo Verde e de suas representações

Dependendo do que estivermos a referir, o termo «tabanca» poderá assumir os

seguintes significados: associação (comunidade), festividade (prática cultural), género

de música e dança tradicional cabo-verdiana.

Funciona como uma irmandade e apresenta duas características fundamentais:

por um lado, as festividades em comemoração ao santo padroeiro - Santa Cruz (3 de

Maio); Santo António (13 de Junho) São João Baptista (24 de Junho) e São Pedro (29

de Junho) – que envolvem rituais religiosos e lúdicos. Por outro lado, assenta numa

filosofia solidária, de partilha, cooperação voluntária e mútua em situações de crise,

morte, doença, casamento, baptismo e nas fainas laborais da agricultura, pesca ou

construção civil. Razão pela qual encontra-se definida como uma «associação laica de

socorros mútuos, com actividades cultuais e festivas em determinados períodos do ano»

(Semedo e Turano 1997:77) ao qual chamamos de «tabanca» ou «comunidade da

Tabanca». Encontra-se fixada em zonas, bairros e localidades rurais e/ou urbanas da ilha

de Santiago e do Maio.

O seu surgimento e percurso histórico são bastante conturbados. Historicamente

os documentos oficiais existentes a enquadra no século XVIII. A sua componente

africana valeu-lhe a opressão por parte do poder político durante o período colonial,

situação que veria a reverter com o alcançar da independência, onde passa a ser

reconhecida como manifestação cultural do país. (cf. ap.7 A10-12). Estudos referentes à

Tabanca têm inicio nos finais do século XX, tendo maior incidência nos últimos anos da

década de 90 (cf. ap.8 A13-17),

Cabo Verde. E em 2011 por Humberto Elísio da Cruz Lima e Ana Samira Carvalho Semedo Silva na

qualidade de presidente e responsável pela Direcção das Ciências Sociais e Humanas do Instituto

Investigação e dos Patrimónios Culturais.

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24

Existem actualmente dezanove comunidades38

activas, sendo três no município

da Praia; uma no município de Santa Cruz; São Lourenço dos Órgãos; Ribeira Grande

de Santiago e município do Tarrafal e na ilha do Maio e onze no concelho de Santa

Catarina. E ainda podemos acrescentar a tabanquinha de Chã de Tanque, que é

composta somente por crianças.

Cada tabanca é composta por residentes da própria localidade. Tal como afirma

Almada, «é uma associação de base territorial» e território que por sua vez «constitui a

base fundamental de recrutamento dos associados da Tabanca»39

(Almada 1997:86).

Contudo, esta não é uma regra que se aplique na integridade.

Do ponto de vista comunitário, as tabancas demonstram ser organizações

capazes de providenciar soluções para problemas sociais, pelo menos as mais

prementes. Em tempos, coube a estas associações um papel de grande importância para

a estabilidade e bem-estar das populações (Silva 1997: 90), chegando mesmo a

desempenhar funções de autoridade com poderes, conferidos pelo Governo, para manter

e estabelecer a ordem em casos de distúrbios e desacatos sociais (Spínola1997:96)40

.

Para garantir as festividades anuais, resolver problemas de subsistência, bem como a

providência de auxílio em caso de necessidade individual ou colectiva, são pagas quotas

periódicas41

.

Prática atribuída à «camada mais baixa da população» (Semedo e Turano

1997:63,100 e 106), que corresponderia, no meio rural, aos camponeses e trabalhadores

braçais ligados aos grandes proprietários e, na cidade, aos trabalhadores braçais com um

nível de instrução «muito baixo»42

(Almada 1997: 87), tem como protagonistas pessoas

de idade avançada, jovens, mulheres e crianças; envolviam-se com elas senhores

proprietários e padres católicos. Actualmente, «na cidade da Praia, as tabancas atraem

38

Praia: Tabanca de Achada Santo António; Tabanca da Várzea; Tabanca de Achada Grande Frente.

Ribeira Grande de Santiago, Cidade Velha: Tabanca de Salineiro. Santa Catarina: Tabanca de Ribeirão

Engrácia e Tabanca Cutelo Tavares (Chã de Tanque); Tabanca Boca Mato e Tabanca Lém Cabral (Palha

Carga), Tabanca Achada Grande, Tabanca Mato Sanches, Tabanca Ribeira em Cima, Tabanca Achada

Leite, Tabanca Charco, Tabanca Mato Baixo e Tabanca Tomba Touro. São Lourenço dos Órgãos:

Tabanca São Jorge. Tarrafal: Chão Bom. Santa Cruz: Tabanca Ilha do Maio: Tabanca Calheta 39

Pois, como pudemos verificar durante o trabalho de campo, em alguns casos existem membros que

residem em outras localidades; assim como nem todos os residentes de uma localidade fazem parte da

tabanca. 40

Esta é uma versão que demonstra que nem sempre a relação entre as autoridades coloniais e as tabancas

foram conflituosas. 41

Hoje, devido a realidade económica, cada membro contribui com o que pode e quando pode. 42

Tal como observou Trajano Filho, também nós pudemos constatar durante o trabalho de campo, que

hoje os membros das tabancas possuem diferentes níveis de instrução (indo desde analfabetos aos com

formação superior) e ocupam cargos e estatutos sociais de responsabilidade.

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25

pequenos empresários, funcionários públicos de médio escalão, empregados

qualificados do sector de serviços e lideranças políticas que, em geral, ocupam posições

de destaque nos bairros populares». No interior, «camponeses afluentes, proprietários de

hortas irrigadas em que se plantam cana-de-açúcar, frutas e legumes, gente que passou

anos “embarcada” na Europa e nos Estados Unidos, agora vivendo das pensões que

recebem mensalmente do exterior, e até mesmo jovens com educação secundária, filhos

e netos desses camponeses, têm posições de destaque em muitas tabancas do interior».

(Filho 2006: 7).

Os rituais podem ser de carácter festivo ou fúnebre43

. Realizadas, anualmente em

louvor ao santo padroeiro as festividades tem inicio três dias antes da festa do Santo. Há

todo um convívio comunitário que integra «comes e bebes» acompanhado de música e

dança onde, tradicionalmente, se faz presente o batuque. Por ordem sequencial, o dia do

santo, começa com o hastear da bandeira, a missa e o roubo do “santo” na capela da

Tabanca (que é a sede da Tabanca, e onde se encontra erguido o altar).

Tradicionalmente, a recuperação do “santo” deve acontecer sete dias depois do roubo do

santo44

. É neste dia que se realiza o desfile/cortejo, percorrendo várias

localidades/bairros/zonas até chegar a casa da rainha de agasalho, onde se encontra o

santo vendido pelos ladrões.

Os costumes e os rituais entre as tabancas são idênticos entre as comunidades, a

diferença entre elas se estabelece no santo padroeiro a que cada um é devoto, a

indumentária utilizada nos desfiles45

; na adopção de um ou outro instrumento rítmico.

A este respeito, deve-se dizer que «cada tabanca tem um ritmo característico de

tambor que o individualiza e personaliza [...] o búzio e os apitos completam a parte de

43

Realizado aquando do falecimento de um membro, este compreende os seguintes actos rituais:

primeiramente há as salvas de tristeza - «toques fúnebres, espaçados e alternados, de tambores e búzios»;

de seguida os pêsames - visita à família enlutada, onde se levam ajuda monetária e géneros alimentício.

Chegado a casa do defunto, deve-se «beijar, nas mãos do rei, as duas varas [...] alguns pessoas deixam-se

ficar durante o período de esteira (8 dias)». Os membros dirigem-se, ao cemitério, cantando em coro «um

cantochão lúgubre» uma vez no cemitério «as filhas-de-santo, empunhando bandeiras brancas com

pequenas cruzes vermelhas, prestam homenagem ao defunto, cruzando-as ao alto, duas a duas, uma de

cada lado da cova. De joelhos, todos os presentes rezam enquanto o mestre das cerimónias religiosas, com

as varas em cruz, preside o ritual», a tristeza parece ser passageira, ou como explica Monteiro os santos

«detestam a tristeza», por isso manda a norma que se rufe os tambores e se sopre as cornetas. Assim, que

ao saírem do cemitério já se encontram os tamboreiros e os corneteiros a espera, (Monteiro 1948:17) 44

Na realidade o santo roubado não é a imagem, mas sim uma bandeira branca decorada com uma cruz

no meio, que simboliza o santo, juntamente com duas varas de marmeleiro, com uma fita vermelha atada

numa das pontas. (Semedo e Turano 1997:80). 45

Note-se que cada um traja conforme as suas posses. Segundo o presidente da Associação Nacional da

Tabanca e a técnica do Museu da Tabanca as tabancas rurais são mais modestas e os desfiles não são tão

coloridos e ornamentados como aos da cidade da Praia.

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percussão [...]. Cada uma [...] a sua cantiga, e pelo menos em cada ano surge um tema

novo.» (Gonçalves 2006:29). Segundo informações obtidas, outrora as comunidades

tratavam-se por «reinos», daí se estruturem à semelhança do modelo monárquico, com

reis e rainhas46

. A este respeito, Trajano Filho afirma que elas representam uma mini-

sociedade com «chefes, agentes da ordem, contraventores, personagens com prestígio

diferenciado, valores e símbolos próprios» (Filho 2006:7).

3.2 A Comunidade da Tabanca de Achada Santo António, o território e a sua

envolvente

A Tabanca de Achada Santo António encontra-se fixada no bairro de Achada

Santo António – cidade da Praia – onde tem a sua sede (capela da corte). A capela é

onde se encontra erguido o altar em homenagem ao Santo António e onde se realizam

os rituais comemorativos em devoção ao seu padroeiro. 47

É também onde, por ausência

de espaço, se tem guardado todos os materiais e instrumentos utilizados nos rituais. A

este propósito, deve-se dizer que devido à pequenez do espaço as actividades festivas se

estendem à rua, que é conhecida por todos, como «a rua da tabanca». Encontra-se

sempre aberta sobretudo nos dias das actividades, onde somente os «ladrões» são

proibidos de entrar. Nos restantes dias, a visitar à capela é feita somente mediante

solicitação a um dos membros.

Por meio das entrevistas, não conseguimos obter informações concretas acerca

da história da TASA. Contudo pudemos através da entrevista dada pelo ex-governador

da TASA, Djudja, que já esteve inactiva por um período de 23 retomando as suas

actividades na década de 70. Quanto a devoção ao Santo António, o mesmo explica

numa entrevista concedida a José Rui de Pina «Zerui DePina»48

, que tanto o bairro

46

Basendo-se no modelo monárquico a tabanca tem vários reis e rainhas, além destes fazem também

parte figuras cómicas como: falcão, burro, besta, carrasco, ladrão; figuras que representam estratos

sociais: padre; juiz; enfermeira; freiras entre outras e por fim os bazados ou cativos (Almada 1997:87) 47

Na parede central - do seu interior - encontra-se embutida uma cruz de Cristo pintada de branco;

decorada com imagens de Virgem Maria; Jesus Cristo, São João Baptista e Santo António. O tecto e as

outras paredes estão decorados com vários acessórios festivos: balões e serpentinas de aniversário;

imagens de santos católicos. Do altar fazem parte, duas figuras do Santo António, uma delas (a mais

pequena) apresenta-se sem a cabeça; uma da Nossa Senhora; búzios de diversos tamanhos - Os búzios são

chamados de cornetas e cada um tem a sua função específica. As maiores são chamadas de «bombona»

(que produz mais som e volume), as de médio porte meia bomba (utilizada como reforço da bombona e as

«cornetinhas»; velas; vasos com flores artificiais; as quatro varas de marmeleiro e as bandeiras (que

simbolizam o santo no acto do «roubo»). No seu interior também se encontram vários instrumentos e

matérias utilizados nos rituais. 48

Musico cabo-verdiano radicado nos Estados Unidos, co-fundador da organização não-governamental

«Nos di Tchada i Amigos|Nós da Achada e Amigos» (cf. ap.3 A5). Também autor e administrador da

radiotelevisão amadora «PilanKatuta», de criação virtual, onde o mesmo publica vídeos e fotografias

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como a tabanca são devotos ao mesmo santo, por isso, e na nossa compreensão a

ligação entre a tabanca e o nascimento do bairro encontram-se intimamente ligados.

A TASA é chefiada por Luís Araújo mais conhecido por «Torresma» que ocupa

o cargo de rei e governador da tabanca há 12 anos. Ao governador atribuída a função de

coordenar e programar todas as actividades relacionadas com os festejos e outras

actividades aos quais a tabanca esteja ligada ou para que seja solicitada; manter a ordem

e a união da comunidade; promover o bom relacionamento com as outras comunidades

e com a sociedade em si. Também trata das burocracias junto das entidades, para,

através dos seus conhecimentos e contactos, tentar angariar fundos e ajudas para a sua

comunidade. Portanto, no fundo o chefe é além de responsável pela comunidade, um

mediador entre esta o poder político e a sociedade civil. (cf. ap.9 A66-72).

Para as festividades anuais, a comunidade conta com o fundo proveniente das

quotas (300$00 escudos cabo-verdianos (2.73€)); dos pedidos e das ajudas provenientes

da Câmara Municipal da Praia; do Ministério da Cultura através do Instituto da

Investigação e do Património Culturais; bem como outras entidades públicas e privadas,

amigos e simpatizantes. O peditório e a procura do patrocínio é uma tarefa que não cabe

somente ao chefe da tabanca, outros membros também se mobilizam para que as festas

sejam realizadas49

.

A TASA é composta actualmente por mais de 600 pessoas, segundo o chefe

constam da lista dos associados 400 membros, e afirma que nas comemorações de 2012

o número aumentou para 600. Entretanto outros entrevistados afirmam que antigamente

o número de associados era bem maior, mas que alguns já faleceram, outros devido a

idade ou problemas de saúde já não participam das festividades ou já delegaram as suas

funções e outros emigraram; razão pela qual alguns dos costumes se tem perdido e nem

todos os rituais estão sendo realizados.

Relativamente a perda de alguns costumes, o chefe da TASA afirma que durante

os tempos em que esta a frente da TASA alguns costumes foram retomados, algumas

personagens e figuras foram reintroduzidas no desfile e que para assegurar a tradição e a

tiradas e produzidas pelo próprio de eventos culturais; acções de beneficência realizadas pela dita ONG, e

por ele mesmo. 49

A par disto, o chefe da tabanca partilhou connosco que em 2012, o poder autárquico contribuiu com o

montante de 50 mil escudos (por estarem em campanha eleitoral, o montante este ano foi um pouco

reduzido), que o Ministério da Cultura tinha disponibilizado 15 mil escudos cabo-verdianos, mas que até

a data não tinha sido liberado pelas finanças.

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continuidade da comunidade, os mais jovens têm recebido formação, sobretudo a nível

dos instrumentos musicais.

A este respeito, constatamos que durante as festividades de 2012, (cf. ap.10

A160-165) o batuque, que outrora era praticado pelas mulheres da própria comunidade,

coube às batucadeiras de Monte Agarro, que foram convidadas a animar as noites de

convívio. Aqui Alfredo Lopes diz que este ritual se está perdendo e que as mais jovens

já não querem saber das tradições (cf. ap.9 A73-74). Mas outros entrevistados afirmam

que para que a festa fique mais animada têm convidado grupos e pessoas que não fazem

parte da tabanca. (cf. ap.9 A75).

Ainda relativamente às tradições verificamos que nem todos os membros têm

conhecimento das regras, existindo uma espécie de «segredo» e um conhecimento que é

transmitido geracionalmente ao qual nem todos os membros estão a par, mas que no

entanto as principais regras são transmitidas aos membros de forma a realizarem os

rituais. (cf. ap.9 A44 e 55).

Constatamos, ainda, que as funções são atribuídas; embora saibamos que alguns

cargos são herdados entre familiares. Alguns aderiram por interesse e gosto próprio,

aprendendo as funções com os membros mais antigos ou que ocupam cargos de

hierarquia, outros no seio familiar. Em alguns, nota-se a ambição de um dia

desempenhar uma outra função, nomeadamente a de ser governador da tabanca.

O seio familiar é um dos principais meios onde se pode formar e recrutar novos

membros. Pois é o ambiente mais propício para a transmissão do saber fazer. A este

respeito, alguns membros entrevistados expuseram a sua preocupação em relação a

continuidade da comunidade, uma vez que hoje nem todos os familiares, sobretudo os

mais jovens, querem assumir alguma responsabilidade ou querem fazer parte da

tabanca. Razão pela qual é cada vez mais importante incentivar as crianças e procurar

atrair pessoas que a priori não têm ligação a tabanca; como vizinhos, conhecidos ou

pessoas que demonstram simpatia e que aderem a comunidade no momento das

festividades praticando ou ajudando nas actividades.

A relação entre os membros é descrita por uma relação de respeito sobretudo

para com os mais velhos, de harmonia e entreajuda em situação de morte e doença caso

o membro não tenha condições de suportar os custos.

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A Achada de Santo António é um dos bairros populares da cidade da Praia e é a

sede desta tabanca. Localiza-se na zona sul do município, uma das áreas com maior

densidade populacional. Situa-se geograficamente num planalto de frente para o mar, e

abrange uma área de 887,142 m² (PDM-Praia 2011 Cap.I:13) por onde estão

distribuídos 12.965 mil habitantes50

. Territorialmente, o bairro encontra-se dividido em

várias zonas: Achada Riba; Brasil; Meio da Achada; Di Nôs, Quelém.

Ali se encontram instalados vários organismos políticos e sociais. A nível social

dispõe de infra-estruturas que asseguram o bem-estar da população local e dos bairros

vizinhos tais como: estabelecimentos comerciais; escolas e institutos de ensino público

e privado51

; centro de saúde; equipamentos desportivos e culturais52

. Podemos

considerar que a realidade social do bairro, embora esteja dotado de infra-estruturas de

peso que garantem a estabilidade e bem-estar da população local e municipal, é um

reflexo da sociedade cabo-verdiana, sobretudo do meio urbano e como tal apresenta

inúmeros problemas sociais53

. É um pouco contraditório a realidade dos moradores

deste bairro, por um lado podemos encontrar famílias bem abastadas apresentando um

nível médio ou elevado de vida, e por outro podemos notar famílias bastantes

carenciadas com dificuldades em suprir algumas necessidades.

Nesta base, podemos traçar os seguintes perfis dos moradores locais, em relação

a tabanca local. Por um lado temos os que apoiam e participam das festividades e das

actividades, são por vezes familiares dos membros que não se encontram oficialmente

registados na tabanca; ou ainda moradores da mesma zona do bairro ou de diferentes

bairros da capital que por gosto participam e se envolvem nas actividades, sobretudo

nos momentos de festa. Note-se que o desfile e os festejos estão abertos ao público,

onde membros e não membros se relacionam num ambiente de convívio. Os que apenas

observam os festejos e são simpatizantes, mantêm uma relação de vizinhança com os

membros que moram na mesma rua; ou que são conhecidos. E os que não apreciam de

todo a Tabanca, neste âmbito, apenas um dos entrevistados partilha desta opinião,

50

Dados do Censo 2010 Fonte INE.CV. (cf. quadro5 A171) 51

Note-se aqui, que o nível destes estabelecimentos vai desde do infantário ao superior. Onde além de

duas escolas secundarias temos o Instituto Universitário de Educação. 52

Importa aqui dizer que a este respeito além do auditório da Assembleia Nacional que é utilizado para

eventos culturais, a embaixada de Portugal que dispõe e gere o centro cultural português/ instituto

Camões) e o Centro Cultural Humaitá. Ainda neste âmbito, o bairro faz-se representar por mais de 10

associações comunitárias de cariz social e cultural das quais destacamos a Associação Desportiva

Recreativa Achadense; Associação Bibinha Cabral; Grupo Kriolo Roots; Grupo Kobom; Associação

Juvenil Boa Esperança; Grupo Musical Sumara; Escola de Percussão Kwame Gamal. 53

A este respeito o bairro ostenta a fama de uma das mais inseguras da capital.

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contudo, o nosso conhecimento do território nos permite fazer esta afirmação. (cf. ap.9

18-45).

Quanto à relação com as outras comunidades, Luís Araújo garante que é de

amizade e respeito. Observa-se uma relação mais próxima entre as comunidades da

cidade da Praia do que com as do interior. Com a da tabanca da Várzea existe uma

parceria no que toca a confecção e reparo dos tambores – a este respeito os

entrevistados afirmaram que alguns membros estão a ter formação junto ao

confeccionador da tabanca da Várzea para que não dependam sempre da dita tabanca e

para depois transmitirem o ensinamento a própria comunidade. Pode-se observar em

relação mais estreita em a Tabanca de Achada Grande, onde normalmente é vendido o

«santo» e com a qual tem participado em alguns eventos culturais. A respeito destas

relações deve-se dizer que nas festividades de cada tabanca é normal que membros de

diferentes tabancas estejam presentes e até mesmo ajudem nos preparativos e nas

comemorações, mantendo assim uma relação de amizade e entreajuda.

Caracterizam-se como uma tabanca jovem e que se diferencia das restantes

tabancas não só pelo santo e pelo ritmo dos seus tambores e cornetas, mas também por

estarem melhor apetrechados e por terem um maior número de membros jovens. A par

disto, alguns dos entrevistados destacaram a participação e adesão de jovens e crianças

como um dos principais trunfos desta tabanca.

As principais necessidades da TASA, actualmente são: necessidades de ordem

financeira para realizarem as festas anuais. A nível organizacional e estrutural onde

reivindicam uma capela, um espaço maior para realizarem os seus rituais festivos, para

se reunirem e para guardarem os instrumentos e trajes utilizados nas festas. À data das

entrevistas realizadas, apontou-se a necessidade de um espaço maior para a capela.

Segundo os mesmos, a capela é um anexo da casa de um dos ex-chefes da TASA João

Lopes mais conhecido por «Djonsa Donana» a quem me disseram ser o fundador

daquela tabanca. (cf. ap.9 A36,59,76). Tal necessidade já foi comunicada às entidades

competentes, Câmara Municipal da Praia e Ministério da Cultura, para que autorizasse

que a família construísse um andar de cima e assim ceder o rés-do-chão, de modo que a

actual capela seria ampliada ocupando todo o espaço. (cf. ap.9 A56,67,78).

Quanto aos problemas de carácter social, os membros demonstraram estar

particularmente preocupados com a violência urbana fomentada pelo desemprego e

abandono escolar dos jovens e dos adultos. A propósito destas questões, notamos que

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apesar de nesta tabanca existirem membros com cargos, qualificações académicas e

profissionais, boa parte não completaram o ensino primário ou secundário sendo alguns

analfabetos. A par destas observações, alguns dos nossos entrevistados manifestaram o

desejo de ter acesso ao ensino caso houvesse possibilidade.

Importa ainda salientar que a Tabanca é uma manifestação de carácter pontual,

cujos praticantes levam uma vida normal e se inter-relacionam; assim muitos possuem

gostos e hábitos culturais como a prática do futebol, e praticam actividades como a

costura e o bordado, a culinária ou a carpintaria, entre outros.

O que constatamos aqui é que apesar de ser uma manifestação de cariz

tradicional e serem descritos como sendo uma comunidade conservadora, notamos uma

certa abertura no que diz respeito a alguns costumes. Isto é, em termos musicais a

Tabanca está associada ao «batuco», que é um género de música e dança tradicional e

típica da ilha, contudo notamos que o batuco embora ainda continue, já não é praticada

pelas mulheres da comunidade, tendo sido convidadas batucadeiras do Monte Agarro

para animarem as festas. A este respeito Alfredo Lopes (Fefé) tece o seguinte

comentário «esta prática está-se a perder, as mulheres sobretudo as mais jovens já não

querem saber das tradições». Ainda neste âmbito, notamos que além das músicas

tradicionais fazem parte do repertório musical, que animam as festas, diferentes géneros

musicais da actualidade54

. Esta situação é fruto das mudanças sociais e da própria

adaptação aos tempos e deve-se às novas gerações que vêm ocupando cargos dentro da

comunidade.

Para que se pudessem realizar as festividades, a comunidade teve de pedir que

grupos rivais de «thugs» de Achada Riba e Brasil fizessem as pazes e assim se

pudessem comemorar num ambiente em paz e harmonia. Paralelamente a este pedido,

foi solicitada a presença dos polícias, a pedido da comunidade, para que garantissem a

segurança durante o desfile pela cidade.

3.3 Museu da Tabanca, análise ao equipamento cultural

Enquadrado nas iniciativas patrimoniais e museológicas, o projecto Museu da

Tabanca nasce como medida de salvaguarda da Tabanca enquanto património cultural

cabo-verdiano. Foi concebido com base no material recolhido pelas entidades de gestão

54

Música electrónica; hip hop; kizomba, semba são alguns dos géneros musicais que se ouviram nesses

dias.

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cultural e patrimonial do Estado, junto das várias comunidades da Tabanca existentes na

ilha de Santiago.55

É tutelado pelo Ministério da Cultura encontrando-se sob a responsabilidade do

Instituto da Investigação e do Património Culturais (IIPC). De frisar que a gestão do

mesmo é partilhada com o poder autárquico de Santa Catarina (Câmara Municipal de

Santa Catarina), resultado do protocolo assinado em 2011 entre ambas as instituições.

Inaugurado em Fevereiro de 2000, a história do museu divide-se em dois

momentos: o momento Assomada - que recebeu o museu desde a sua fase embrionária

até alcançar alguma maturidade - e o momento Chã de Tanque – onde se localiza desde

2010 - duas localidades do município de Santa Catarina. (cf. ap. 11 A166-170).

O museu funciona diariamente com uma única técnica, a quem compete

desenvolver várias tarefas. Contudo, existe uma estratégia de rotatividade dos técnicos

do instituto de forma a colmatar a carência de recursos humanos.

Relativamente à acessibilidade física, pode-se considerar que a localidade de

Chã de Tanque é beneficiada por uma boa estrada municipal 56

. Porém, verifica-se a

ausência de sinalização nos trajectos «Praia – Assomada», ou «Assomada – Chã de

Tanque»; no centro histórico da cidade de Assomada e mesmo nas imediações do

próprio edifício, essa situação dificulta a ida de visitantes ao museu.

Encontra-se aberto ao público de terça a sábado das 9h00 às 12h00 e das 14h00

às 18h00. Em termos de sustentabilidade do espaço, o museu dispõe de um orçamento

reduzido e não gera receitas. A este propósito deve-se salientar que as visitas têm um

custo de 100$00 escudos cabo-verdianos, sendo que a população local e os estudantes

estão isentos.

As actividades desenvolvidas pelo museu resumem-se sobretudo às visitas

guiadas, à promoção de actividades culturais: música e dança; palestras e serviços

educativos destinados sobretudo ao público estudantil57

. No âmbito, da recente parceria

com as universidades e instituições de ensino superior nacional, o museu tem recebido

55

As primeiras datam de 1993/1994 e foram recolhidas pelo então Instituto Nacional da Cultura (INAC)

sendo que as restantes foram feitas pelo Instituto da Investigação e do Património Culturais (IIPC) entre

2006, 2007 e 2008. (informação obtida do folheto do museu). (cf. imagem 8 A180) 56

Recentemente asfaltada e que fez parte do programa de ajuda internacional Norte América (EUA) o

programa Millenium Challenge Account para Cabo Verde. 57

A programação deste serviço é feita segundo o nível escolar e o tema a ser abordado. Neste âmbito,

surgiu o projecto “Aprender Brincado”, um projecto de educação patrimonial, que consistiu no

deslocamento às escolas do ensino básico do município com peças do museu. (cf. ap.9 A156)

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alguns estagiários. Também é público do museu os turistas sobretudo de nacionalidade

holandesa; francesa; inglesa e alemã. Estas visitas são solicitadas e organizadas pela

agência turística Aventura, com a qual tem parceria, e estes têm sido os principais

públicos do museu. (cf. ap. 9 A152-159).

O museu é composto por 3 salas de exposições; um gabinete administrativo, casa

de banho; reserva; recepção/loja de recordações e um auditório. Anexo ao edifício

existe um outro edifício - que se separa do museu por meio de um pátio – onde vivem

algumas famílias. A parte de frente do museu é uma grande varanda onde as pessoas

costumam sentar-se à sombra colocando a conversa em dia, é também um lugar de

passagem que dá acesso a algumas residências Possui alguns equipamentos técnicos

como televisão, computador e DVD.

Constituiu-se, com base na colecção a exposição permanente do museu. A sua

montagem obedece a descrição das festividades da Tabanca e compreende instrumentos

musicais; objectos sagrados; trajes; utensílios e alguns registos fotográficos. Está

organizada ao longo de três salas sendo que na primeira sala podemos encontrar uma

mistura de várias peças representativas diferentes fases do desfile. A segunda sala é

representativa da capela/corte, ali encontra-se erguida um altar em homenagem ao

«Santíssimo Cruz». Montada com os utensílios utilizados na confecção e na degustação

dos alimentos e decorada com fotografias temos a terceira sala expositiva que é

dedicada a comensalidade e ao batuque. (cf. imagens 4 e 5 A170)

O museu apresenta inúmeras debilidades, que vão desde o campo conceptual a

sua envolvência social. Isto é, em termos museológicos constatamos que não dispõe de

uma programação cultural pré-estabelecida, ou seja as actividades são desenvolvidas de

acordo com a solicitação do público visitante, sendo que no caso do público académico

esta depende do nível de escolaridade e do tema a ser abordado, e no caso de visitas de

nacionais ou de estrangeiros se resumem a visita-guiada.

Relativamente à exposição, deve-se dizer que até à data não se tinha

desenvolvido nenhuma exposição temporária. De salientar que embora a exposição

permanente seja construída com base nos objectos e peças recolhidas nas diferentes

comunidades da tabanca da ilha, o que de certa forma demonstra que as comunidades

estão representadas no museu, achamos que a sua narrativa é bastante generalista, não

fazendo jus à história e à realidade que envolve a Tabanca. Pois, se tivermos em conta o

percurso histórico, a representatividade (símbolo da resistência colonial) e a própria

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definição oficial da tabanca58

(que a define também como organismo de carácter social

com capacidade para providenciar assistência social), podemos afirmar que a exposição

permanente fica aquém das expectativas, na medida em dá maior ênfase aos aspectos

festivos. Aqui não queremos desmerecer o trabalho efectuado, o que queremos dizer é

que na nossa opinião não se explorou, a transversalidade desta manifestação cultural.

A respeito dos suportes de comunicação estes se resumem a tabelas, placas,

folhetos e fotografias. Os objectos e as peças59

estão identificados pelas tabelas que

contêm informações a respeito da sua procedência (de que tabanca provém); a sua

denominação, a sua função; a data de recolha; o autor da recolha; e seu estado de

utilidade aquando da recolha (se estava em utilização ou se já não tinha utilidade). Cada

objecto/peça tem a sua tabela, excepto as que estão integradas em conjunto. O que

pudemos observar neste ponto, é que nem todas as tabelas estão visíveis, existindo casos

em que os objectos não têm qualquer descrição.

Além da placa de inauguração, que se encontra à entrada do museu, podemos, no

seu interior e ao longo do percurso expositivo, encontrar várias placas com conteúdos

informativos e descritivos. Nas paredes do hall de entrada deparamos com duas placas,

uma de conteúdo institucional e outra relativa ao edifício. À excepção da primeira,

pode-se encontrar, pelas salas de exposição, vários exemplares cuja disposição e

conteúdos obedecem e correspondem a cada etapa da Tabanca retratada pela exposição.

A estes se juntam as fotografias segundo a mesma organização.

Relativamente a estes pontos tecemos ainda os seguintes comentários.

Especificamente falando da sala representativa da corte, onde se encontra erguido o

altar, notamos que entre os objectos expostos, no chão, se encontra uma tela com várias

fotografias e uma tabela com informações específicas sobre esta fase da Tabanca. Tal

localização afecta em vários níveis a compreensão desta parte ritual, uma vez que, por

um lado, os objectos estão a obstruir a sua visualização, podendo passar despercebidos

entre os objectos; por outro lado, pode ser desconfortável a sua leitura pois algumas

pessoas terão de se agachar. Ainda para sua leitura o visitante terá de se aproximar, o

que pode acidentalmente provocar o contacto entre este e as peças que se encontram à

frente e causar danos ao objecto.

58

«Associação laica de socorros mútuos, com actividades cultuais e festivas em determinados períodos do

ano». Semedo e Turano1997:77 59

Note-se que há peças no museu com mais de 100 anos.

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Em todos estes dispositivos os textos estão escritos em português, não existindo

nenhuma versão em língua estrangeira, e tendo em conta que os turistas são um dos

principais visitantes do equipamento, sendo em raros casos de nacionalidade

portuguesa, a inexistência de uma outra versão linguística dificulta a compreensão por

parte destes.60

Ainda neste contexto, nota-se que o conteúdo dos textos não se distância

das bibliografias de referência, o que a nosso ver uma visita ao museu não acrescenta

muito ao conhecimento já adquirido, sobretudo aos estudantes e investigadores que

conseguem ter acesso as informações por outras vias.

3.4 Associação Nacional da Tabanca

Fundada61

a 8 de Fevereiro de 2009, a Associação Nacional da Tabanca 62

(ANT), é uma organização não-governamental destinada à salvaguarda da Tabanca.

Tem por objectivo: a) defender e preservar a Tabanca enquanto uma manifestação

cultural; b) promover e dinamizar a divulgação da tabanca no seio dos jovens visando a

sua continuidade; c) promover, anualmente uma festa da Tabanca; d) ajudar os diversos

grupos de Tabanca a organizarem de forma a melhor enfrentar os desafios que se lhes

colocam; e) desenvolver projectos e procurar parcerias que garantam financiamento às

actividades da Tabanca; f) prestar assistência técnica; financeira e material aos grupos

da Tabanca e) apoiar os associados em caso de necessidade ou dificuldade.

A associação nasce por iniciativa das comunidades da tabanca, com o intuito de

se unirem e mutuamente se ajudarem na providência de soluções para problemas

comuns.

É coordenada por Luís Francisco Gomes mais conhecido por «Luís Leite» - que

é o presidente – e os chefes das tabancas activas63

. Aqui, é de se salientar que o

presidente da associação não é integrante de nenhuma tabanca. Este é apenas um

defensor das causas da Tabanca. Segundo o próprio existe uma relação de muita

60

Apesar desta observação não descuramos do facto de que no caso do turismo cultural o perfil do

visitante tende a caracteriza-lo como um indivíduo que já possui uma breve noção da cultura do país que

irá visitar. O que normalmente procura é o contacto com situações, pessoas e sítios diferentes da realidade

que conhecem, e em certos casos já possuem uma certa bagagem de conhecimento sobre certas

particularidades e características do local. Resumidamente, é o deslumbramento com algo de exótico e

típico que fazem essas viagens valer a pena. No caso do museu, achamos que é esse encantamento, que de

certo modo, vem colmatar esta lacuna. Principalmente, por nalgumas actividades destinadas a este

público, são realizadas com a participação presentes alguns representantes da tabanca local, que

costumam fazer uma pequena demonstração do seu ritual. 61

Registada a 25 de Março de 2009 e publicado em 2009 no B.O. nº 12 de 3 de Abril de 2009 62

Embora esteja registada oficialmente sob o nome Associação de Tabanca e abreviatura (AT), segundo o

presidente Luís Gomes Leite a associação assume-se como Associação Nacional da Tabanca (ANT) 63

Note-se que a data das entrevistas encontravam-se activas 17 tabancas.

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amizade entre ele e as comunidades, salientando que existe uma relação muito próxima

com uma das tabancas de Santa Catarina, concelho onde reside. O seu interesse por esta

manifestação cultural surge ainda em criança, quando assistia aos desfiles das tabancas.

A respeito das dificuldades que as comunidades enfrentam o presidente afirma

que estas são de várias ordens, sendo que as mais gritantes são as de nível financeiro e

material. Isto é, segundo o presidente neste momento o estado das tabancas é de

«miséria total», pois carecem de instrumentos; vestuário; e da capela. O mesmo ainda

alerta para as questões de foro social que vêm afectando inúmeros membros das

comunidades, afirmando que muitos se encontram no desemprego, o que contribui para

a situação precária das famílias, e o que tem dificultado a realização das festividades

anuais, que por sua vez é uma das causas para a desactivação de tabanca.

É detectando estas necessidades que a associação trabalha, tentando prover

meios e desenvolver projectos em parceria com as câmaras municipais, o MC e algumas

entidades privadas ou públicas com interesse na mesma causa.

Na lista dos feitos da associação constam: a revitalização da Tabanca de

Salineiro (2009) que se mantinha inactiva «há 40 anos»; a realização do Festival da

Tabanca que vem sendo realizado desde 2010 na cidade de Santa Cruz em parceria com

o poder local64

, também vem promovendo a partição das tabancas em eventos culturais

de outros concelhos, como exemplo temos o festival da Santa Cruz realizado na Ribeira

Grande de Santiago|Cidade Velha em 2009 onde se reuniram duas tabancas que têm o

dia 3 de Maio como data comemorativa; a participação da Tabanca da Salina (Santa

Cruz) na Feira Internacional de Agropecuária de Assomada em 2012 em parceria com a

Câmara Municipal de Santa Catarina; a abertura de contas bancárias para cada tabanca

(pois ainda subiste a tradição de guardar dinheiro em casa, e para que não haja perdas

em caso de incidentes como roubo ou incêndio)

Quanto às comunidades, o presidente reconhece que estas são as principais

dinamizadoras da manifestação e que graças a elas hoje temos Tabanca, e afirma que a

«cada domingo se encontra com uma comunidade».

64

A entidade edil do concelho e a Associação Nacional da Tabanca, demonstraram o interesse e a

ambição em transformar a Tabanca num produto turístico, numa expressa estratégia de exploração e

potencialização dos recursos endógenos da ilha de Santiago, bem como de revitalizar os restantes grupos

da Tabanca. Fonte: RTC (28/3/2011). Santa Cruz acolhe, pela 3ª vez o festival da Tabanka de Santiago.

Acedido a 14 de Janeiro de 2012, em www.rtc.cv/index.php?paginas=13&id_cod=9403

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37

Relativamente ao Museu da Tabanca, confessa que embora tenha colaborado na

sua organização - até a data da sua inauguração - e tenha oferecido algumas peças para a

sua colecção, não mantém, actualmente, qualquer relação com o museu. Diz reconhecer

o seu papel, sobretudo por contribuir para a divulgação junto das pessoas que não fazem

parte da tabanca e dos turistas - uma vez que as festividades são eventos pontuais - mas

que ainda falta muito por fazer e que estruturalmente o museu ainda carece de alguns

ajustes.

Nas palavras do presidente a ANT «é uma voz, a voz das tabancas» e por isso

um intermediário entre estas e os potencias parceiros. Afirma que um dos principais

objectivos «é recuperar as comunidades da Tabanca (inactivas) e que uma activa nunca

se extinga.

Com as nossas pesquisas verificamos que a associação é bastante activa.

Fazendo uma apreciação das conquistas da associação, desde a sua criação até então e

tomando em consideração as várias fontes de informação consultadas, nomeadamente as

notícias, nota-se que em termos práticos esta é a que tem contribuído para uma maior

divulgação e preservação da Tabanca, através de projectos como a realização dos

encontros das tabancas em festivais municipais, criados especificamente para a

promoção e divulgação da Tabanca, e em outros eventos culturais; na incessante

procura de apoios financeiros; na colaboração com investigadores, e acima de tudo no

levantamento das necessidades e dificuldades das tabancas o que permite um maior

conhecimento da realidade das comunidades. No entanto, não nos esquecemos que os

projectos desenvolvidos pela associação só se efectivam com o apoio do poder político,

nomeadamente as câmaras municipais dos quatro municípios onde existem

comunidades da tabanca – Praia; Ribeira Grande de Santiago, Santa Catarina e Santa

Cruz – e o Ministério da Cultura; bem como um ou outro parceiro da sociedade civil.

É notório o protagonismo do presidente, que surge à frente da direcção e que

tem aparecido, em nome da associação, em várias notícias relativas as actividades das

tabancas, sobretudo as do interior. Infelizmente não nos foi possível confirmar junto às

comunidades a relação que mantêm com este; excepto no caso da comunidade da

tabanca de Achada Santo António, onde alguns membros afirmaram desconhecer

qualquer apoio proveniente desta. Segundo o chefe desta tabanca, a comunidade

encontra-se representada na associação, porém afirma que não mantém qualquer relação

com o presidente, que nunca receberam qualquer ajuda deste, e que este mantém uma

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relação de maior aproximação com as comunidades do interior. Afirma ainda que na

última reunião tida em conjunto com outros chefes das tabancas, que também contou

com a presença do Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa, chegou-se à conclusão que

Maria Crisálida Correia65

deveria ficar à frente da associação, portanto que o actual

presidente deveria ser destituído.

Percebemos aqui que existe alguma instabilidade no que toca a direcção deste

organismo, e alguma contrariedade no que toca as informações fornecidas na entrevista

concedida pelo representante da associação. No entanto, valorizamos e apreciamos a

colaboração do presidente. Não consideramos que as suas acções sejam de todo

questionáveis, segundo o que pudemos avaliar através das notícias da imprensa

nacional. A forma como surgiu demonstra que a união entre as comunidades continua a

ser uma das forças internas e uma das características fundamentais para a existência e

continuidade desta manifestação. Nota-se que a associação trabalha mais no sentido de

assegurar a continuidade das comunidades, promovendo apoios que garantem as

festividades, portanto dá maior ênfase as questões culturais do que as questões sociais.

A este respeito, queríamos ainda acrescentar que o facto de esta integrar um

«não membro» prova que a par das parcerias com o poder político, a população ou

outras entidades que se demonstram interessadas, podem reflectir de forma positiva nas

práticas das comunidades e que se tirar proveito dessas colaborações se pode contribuir

para o desenvolvimento das comunidades criando-se e executando-se projectos sociais.

3.5 Breves reflexões sobre o estudo realizado

Marginalizada pelas autoridades e pela comunidade civil, manifestação cultural

da Tabanca sobreviveu graças ao pego às tradições por parte das suas comunidades e

chegam aos nossos dias um pouco desvirtualizadas do seu conceito/contexto original.

A este respeito, afirma-se que hoje presenciamos a uma «lenta agonia» da

Tabanca, e que tal situação deriva das medidas coercivas tomadas pelo poder político e

religioso na época colonial; pelas mudanças sociais fomentadas pelas adversidades do

clima que obrigam muitos a emigrarem para fora do país e/ou a abandonarem as suas

localidades rumo as cidades a procura de melhores condições de vida; vivendo num

mundo cada vez mais homogéneo e globalizado onde os valores culturais tradicionais

65

Segundo informações obtidas, Maria Crisálida Correia fez parte da equipa técnica do Museu da

Tabanca, quando este se localizava na cidade de Assomada; porém aquando da reconversão do espaço,

hoje é uma das técnicas do Centro Cultural Norberto

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39

têm-se subjugado aos valores dos tempos modernos numa assimilação cultural dos

países mais desenvolvidos, fizeram desaparecer e enfraquecer grande parte das

comunidades da Tabanca.

As que hoje remanescem, segundo Silva, vivem à sombra daquilo que foram

(Silva 1997:93). Na opinião deste autor, para que as tabancas sobrevivam é preciso que

se adaptem ao tempo e a sociedade. Concordando com as observações do autor,

acrescentamos que as tabancas devem se «mergulhar» na própria história procurando

reflectir qual é o seu papel e que contributos têm a oferecer à actual sociedade,

sobretudo no território onde se encontram localizadas.

No que diz respeito ao Museu da Tabanca, este encontra-se sujeito às

vicissitudes da realidade do sector em que se insere. Isto é, como já vimos, o sector

museológico em Cabo Verde ainda não se encontra regularizado, portanto, não

existindo uma lei-quadro que oriente a criação e o funcionamento destas instituições,

estas continuarão a trabalhar mediante condições deficitárias. São questões estruturais

que limitam a capacidade destes equipamentos em se tornarem referenciais culturais e

de serem reconhecidos como instrumentos capazes de provocar transformações sociais e

consequentemente contribuir para o desenvolvimento das comunidades e dos territórios

onde se encontram inseridos.

O Museu da Tabanca não conseguiu até agora absorver do contexto local as

potencialidades da localidade, Chã de Tanque, e do município, Santa Catarina. Também

se sente um certo distanciamento entre esta instituição, o território e as várias

comunidades que compõem a comunidade de referência (as tabancas). Neste último

caso, entende-se que a geográfia e a deslocalização territorial; os hábitos de consumo

cultural impedem com a população local perceba a utilidade da instituição. Aqui é

importante que a comunidade perceba o que é, qual a importância, o papel e a utilidade

do museu. Que serviços o museu desenvolve e pode desenvolver. Que benefícios pode

obter dessa interacção. E principalmente, perceber que ambos têm objectivos comuns. E

a própria divulgação do espaço junto à comunidade são factores determinantes para a

não aproximação da comunidade ao museu.

O museu tem contornado esta questão direccionando as suas actividades ao

público escolar e turístico, onde busca sensibilizar e divulgar o património cultural a

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que se propõe salvaguardar. No entanto, depara-se com debilidades internas que

dificultam a diversificação da sua programação66.

Ao enfrentar constrangimentos internos, a sua projecção e impacto junto ao seu

público é inexistente ou deficitário o que torna questionável a sua continuidade, uma

vez que se demonstra incapaz de cumprir os seus propósitos.

A carência de estudos periódicos que possam servir de complemento e

actualização dos levantamentos já efectuados no campo do património cultural do país é

outro constrangimento que se enfrenta nesta área. É sabido que os museus nacionais são

de carácter temático, ligados a etnografia local/regional, por conseguinte, era e é preciso

que as investigações sejam sistemáticas e de forma contínua dado que a cultura e a

sociedade se encontram em constante mutações. Pois, é importante considerar que no

domínio das fontes de informação, neste caso as tabancas deve-se ter em conta que elas

fazendo parte da sociedade acompanham as suas transformações. Assim, faz-se

necessário reforçar os estudos já efectuados com contextualizações actuais dando maior

ênfase à história local.

Esta é uma situação passível de ser contornada, mas que necessita de estratégias

e linhas de acção junto aos públicos-alvo do museu67,

nomeadamente da comunidade

académica (ensino superior) com qual tem trabalhado a nível de estágios no museu68.

O Estado tem sido o principal responsável pela gestão do património cultural;

traçando medidas em prol da protecção e salvaguarda do mesmo. No entanto, constata-

se que gradualmente as autarquias se vêm envolvendo neste processo, desenvolvendo

projectos culturais em torno do património local, o que tem dado maior visibilidade aos

seus municípios. Em contrapartida, a população é pouco participativa, o que demonstra

que ainda não há uma consciência, por parte desta, do seu papel neste processo. 69

66

Como já dissemos, são questões estruturais que desencadeiam situações constrangedoras e um

acumular de fragilidades que acabam por restringir as suas acções museológicas. 67

Aqui tomando o museu como promotor, pois existem outras intuições/entidades que podem

desenvolver como a ANT, o ministério da cultura e do ensino; ou outros agentes. 68

Neste âmbito, pode-se propor que os estagiários desenvolvam trabalhos de investigação sobre temas

relacionados com as tradições e costumes locais bem como retardar aspectos sociais que as caracterizam.

Esta mesma estratégia pode ser aplicada ao público escolar a nível do ensino primário e secundário onde

aquando das visitas destes ao museu ou das actividades apresentadas pelo museu nas escolas (como

programa/actividade extracurricular 69

A responsabilidade da população para com a cultura é determinada pela alínea 1 do art.78º da

Constituição Cabo-verdiana. No entanto, a falta de interesse desta para com questões patrimoniais pode

ser justificada com o facto das medidas tomadas pelas entidades competentes serem pouco abrangentes.

Pois tem-se focado mais na preservação e conservação de objectos/peças; construções e sítios históricos

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41

No domínio da gestão cultural, o IIPC enquanto entidade competente tem

trabalhado em parceria com entidades nacionais e por via das cooperações com

instituições internacionais no sentido de reforçar os mecanismos que lhes permitem

desenvolver projectos e estratégias de preservação ao do património cultural do país.

Apesar deste sector se encontrar desprovido de legislação, tem-se guiado pelos

principais documentos normativos da UNESCO e do ICOM, embora não tendo

ratificado boa parte deles. Esta não é uma situação sustentável uma vez que nos

demonstra que as exigências do sector não são superáveis sem regulamentos

institucionais.

Relativamente à tabanca de Achada Santo António, o nosso estudo, permitiu-nos

olhar para comunidade não só como uma entidade cultural mas também como uma

unidade social. Isto é, o facto de a Tabanca ser uma manifestação que abrange um vasto

campo da vida social, permitiu-nos abordar várias questões que em conjugação poderão

contribuir para desenvolvimento da própria comunidade.

A relação do território com a comunidade estabelece-se a diferentes níveis, seja

de carácter geográfico, demográfico, económico ou político. A comunidade em estudo

localiza-se num bairro popular, cujo próprio nome coincide com o santo em devoção,

Santo António. Devido à sua proximidade ao mar, a profissão de alguns membros

encontra-se ligada a actividades do mar e alguns objectos etnográficos têm por matéria-

prima produtos extraídos do mar. Observa-se que a realidade social influenciada pela

situação económica tem contribuído para inúmeros problemas de ordem social no

bairro.

O Estado e as autarquias, enquanto gestores dos territórios estão encarregues de

tomar medidas que contribuem para o desenvolvimento e o bem-estar da população.

Integrando essas iniciativas temos os apoios financeiros na época festiva, as infra-

estruturas, equipamentos culturais e projectos de cariz cultural e sociais desenvolvidos

no bairro e no município, que beneficiam de igual modo a comunidade da tabanca de

Achada Santo António70

.

do que na sensibilização. Isto é, a sensibilização quando feita não é sistemática e interdisciplinar, o que

acaba por contribuir para a não interiorização dos conceitos e o desenvolvimento de uma consciência

participativa e responsável. 70

Aqui salientamos, a criação do Museu da Tabanca, como medida de salvaguarda do património que tem

por comunidade de referência.

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42

A relação que a comunidade da tabanca de Achada Santo António mantém com

a população local pode ser descrita como pacífica e por vezes dinâmica. A priori

estabelece-se uma relação de vizinhança, que deriva da coabitação num mesmo espaço e

território. Esta proximidade permite que interajam a vários níveis. No campo cultural

permite que alguns moradores se associem à comunidade, assimilando aspectos que a

caracterizam, participem, façam propaganda e assumam a Tabanca como uma

identidade cultural do bairro. De igual forma se desenvolve uma relação de entreajuda,

que é tanto uma característica da Tabanca, como uma característica da sociedade cabo-

verdiana. Paralelamente, criam-se associações de moradores, grupos recreativos,

cooperativas e organizações socioprofissionais locais, que se fundamentam nos

problemas sociais que afectam o bairro, na promoção de recursos e na junção de

esforços e habilidades, com vista a melhoria das condições de vida dos moradores.

A par do associativismo da população local, também os organismos que por via

da cooperação internacional se estabeleceram no país tem ajudado a nível de projectos

em várias áreas sectoriais de desenvolvimento local.

Nesta linha de desenvolvimento, a comunidade não se consegue demarcar do seu

território, é o reflexo do território onde se encontra fixada, razão pela qual é preciso

compreender toda a sua envolvência.

O que se pode concluir do nosso estudo é que, tanto no processo de salvaguarda,

como de desenvolvimento local, há um subaproveitamento dos recursos disponíveis, na

medida em que entre as entidades envolvidas/responsáveis não existe articulação entre

os mecanismos que cada um possui e as acções que desenvolvem. Entendemos que

como protagonistas devem trabalhar em colaboração, ou mesmo criando redes de

interactividade dado que os objectivos são comuns.

Existe um ambiente favorável no que concerne à implementação de medidas de

salvaguarda/desenvolvimento comunitário, uma vez que em ambas as áreas já se

desenvolvem (no país) projectos/acções de sensibilização que promovem e incitam a

população a contribuir para o próprio desenvolvimento e para a preservação do

património cultural do país. Portanto, desta realidade o importante é perceber que

alternativas se podem apresentar e que irão servir de complemento às medidas já

implementadas em ambas as áreas. Do diagnóstico feito, cremos que a resposta se

encontra na conjugação das potencialidades das várias partes envolvidas.

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Assim, traçamos o nosso projecto procurando encontrar respostas às seguintes

questões: face à realidade observada, o que se pode construir? De que forma pode a

comunidade contribuir para o seu desenvolvimento e do seu território, a nível cultural e

social? Que papéis desempenharão os agentes locais neste processo?

4. Projecto de Salvaguarda de Património Cultural e de Desenvolvimento

Comunitário

4.1 Conceito

Quer a salvaguarda do património cultural, quer o desenvolvimento comunitário

se desenvolvem numa perspectiva de sustentabilidade, o que implica entre várias coisas

a participação activa das comunidades. (Carmo 2001:6; Unesco 2003: art.15º da

Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da e Carvalho 2011:55;

Varine 2012 pp.16-21,)

O perfil de cada comunidade é traçado a partir da sua identidade cultural, que se

constrói com base num referencial patrimonial e pela sua envolvente. (Unesco 2003 nº1

do art.2º e Varine 2012:19, 45-46)

Entendemos que tratando-se de desenvolvimento comunitário/local o património

em questão não seria o único vector de desenvolvimento, o que nos fez considerar

outros recursos existentes no território.

Deste modo, o nosso projecto define como eixo estratégico o cruzamento de

medidas (acções patrimoniais e de desenvolvimento) e recorre a parcerias, de modo a

contribuir para que ambos os processos se realizem/desenvolvam em simultâneo.

4.2 Fundamentação

Afirmámos desde o início que construiríamos as nossas propostas com base na

realidade apresentada pelo estudo realizado. Ao reflectir sobre este, lançamos questões

às quais iremos agora responder.

Perante a primeira questão - face à realidade observada o que se pode

construir? - , percebemos que as necessidades, os obstáculos, as potencialidades e os

recursos disponíveis pelo conjunto estudado: o património cultural (a Tabanca), a

comunidade da TASA, o Museu da Tabanca, a ANT, o território (englobando a

população, as entidades e instituições e os recursos locais); conduziam-nos a que por

um lado definíssemos objectivos que promovessem a salvaguarda do património em

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questão (dado que estamos a falar de um património imaterial) e que por outro lado

contribuíssem para o desenvolvimento comunitário e local. 71

Uma síntese dos objectivos pretendidos, diz-nos que o objectivo final do

projecto é transformar a comunidade da TASA em actora e promotora do/no processo

de salvaguarda e do desenvolvimento. Daí surgiu-nos uma segunda questão - de que

forma pode a comunidade contribuir para o seu desenvolvimento e do seu território a

nível cultural e social? Antes de mais, é preciso referir que ela só estará propensa a

contribuir a partir do momento em que estiver consciente do seu papel e dos recursos

que dispõe para tal.

Também irá contribuir se estiver alerta que as suas acções têm impacto sobre o

património e o meio que a envolve. É através desta apropriação consciente e

valorizativa que irá descobrir diferentes formas de contribuir para o desenvolvimento do

seu território. (Varine 2012:37-41 e 232; Santos 2002: Silva e Arns s/d:2).

Contudo, para que tal aconteça é preciso que se tracem linhas e estratégias de

acção que busquem uma participação activa e criativa da comunidade, tanto na sua

concepção como na sua execução, (Varine 2004:36 e 232), sendo sempre necessário ter

em consideração a sua realidade social e cultural; pois isto permitirá a sustentabilidade

dessas acções (Kashimoro e Russeff 2002: 39 e 41; Varine 2012:38, 113, 229-231).

A par disto, é igualmente importante que esteja alerta que a tomada de decisões e

o desenvolvimento de iniciativas não é tarefa apenas das entidades locais e Estatais, mas

que também pode e deve partir da própria, uma vez que a salvaguarda e o

desenvolvimento exige a colaboração e a acção de todos. (art.78º da Constituição de

Cabo Verde; art.15º da Convenção para a salvaguarda do Património Cultural Imaterial

da Unesco; Varine 2012:51 125, 126 e 229; Silva 1964:1).

É nesta perspectiva que lançamos a terceira e última questão - que papéis

desempenharão os agentes locais neste processo? Como acabamos de dizer o

desenvolvimento é uma questão que diz respeito a todos e é uma acção de todos.

Normalmente, o Estado e as suas instituições/organismos, as autarquias juntamente com

outras entidades nacionais e internacionais, trabalham no sentido de garantir apoio às

comunidades. No entanto, há casos em que os recursos são limitados o que dificulta

71

Devido a proximidade metodológica e objectiva destas duas vias de acção decidimos combinar os

recursos de forma a conseguir respostas eficazes.

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uma maior abrangência e continuidade das acções implementadas, e acaba por

comprometer o desenvolvimento das comunidades e consequentemente do seu

território.

Nestes casos, a melhor opção é o trabalho em conjunto, a partilha de

conhecimentos, técnicas e recursos de forma a se poder trabalhar em prol de um ou mais

objectivos em comum.

Uma vez que se irá trabalhar em função das necessidades e dos anseios da

comunidade, a sua envolvência e participação directa é imprescindível para se conseguir

um melhor resultado. Esta colaboração permitirá por um lado diagnosticar vários

problemas que não se restringirão apenas a um sector da vida social da comunidade;

priorizar as suas principais necessidades; organizar e articular os diferentes mecanismos

existentes no território; e por outro permitirá a comunidade reflectir sobre o seu papel e

contributo para o desenvolvimento do seu território.

A linha condutora do projecto assenta sobre questões patrimoniais e sociais que

resultam da Tabanca enquanto prática cultural mas também enquanto associação capaz

de providenciar assistência social e assim manter a coesão social. Também se orienta

pelas questões sociais que influenciam e tem impacto sobre os membros da comunidade

da Achada Santo António enquanto integrantes de um meio social.

A viabilidade do projecto passa pelo seu enquadramento numa realidade onde a

questão patrimonial é abordada pelas entidades oficiais, tendo em vista a preservação da

identidade cultural do país, e o desenvolvimento social da população é tido como

prioritário para a progresso e transformação daquele. Ambos os campos são pensados

segundo uma perspectiva de afirmação e autonomia, em que para a concretização destes

objectivos se recorrem a parceiras entre instituições nacionais e locais e organismos

internacionais.

Neste contexto, abraçamos a ideia de conjugar estes dois sectores, cultural e

social. Pois, não faz sentido restringir apenas aos aspectos culturais sabendo que é uma

manifestação cultural pontual e que os problemas do dia-a-dia reflectem e têm

repercussões imediatas sobre as práticas culturais, e que neste caso põe em causa a

continuidade da própria comunidade.

A envolvente territorial é o espaço de confluência de onde o património é

resultante e onde este é recriado tomando expressões de diversos aspectos que a

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caracterizam, que derivam de um processo de transformação e actualização do passado

adaptado pelas sucessivas gerações ao longo do tempo. Por isso tomamos em

consideração como território de acção o bairro de Achada Santo António e o município

da Praia. Ora, estamos perante uma comunidade tradicional, detentora de uma herança

cultural, mas também temos de ter em conta que esta se encontra inserida numa área

urbana e que é portanto, produto e reflexo desse meio.

Sabendo ainda que tanto a salvaguarda do património cultural como o

desenvolvimento comunitário se regem por uma filosofia educativa de valorização,

integração, interacção e auto-conhecimento desenvolvidos numa perspectiva do

território e dos seus recursos; e que envolvem acções que abrangem vários campos da

vida social achamos que o cruzamento entre esses pontos em comum se encaixam na

realidade estudada e que reverteriam de forma favorável aos propósitos deste projecto e

que teriam a potencialidade de abranger um maior número pessoas.

Portanto este projecto justifica-se pela busca de soluções em prol do

desenvolvimento cultural e social integrado da comunidade da tabanca da Achada de

Santo António.

4.3 Missão e objectivos

Movidos pelo interesse de melhor contextualizar as questões que envolvem a

Tabanca, idealizamos este projecto segundo uma perspectiva integrante, que conjuga

acções centradas na educação patrimonial que por sua vez busca a apropriação

consciente do próprio património; a sensibilização por via da partilha do saber e das

práticas a ela associadas; a capacitação como forma de potencializar a criatividade dos

membros desta comunidade; a promoção de novos conhecimentos sobre o património

em questão e que daí resultem várias possibilidades para o desenvolvimento da

comunidade e do seu território; que a participação da comunidade na preservação da

Tabanca não se cinja a sua mera existência (as comunidades) e as actividades festivas

por ela realizadas, mas que seja promotora de outras iniciativas; e que em colaboração

com entidades e agentes de desenvolvimento contribua para a valorização e divulgação

da Tabanca.

O projecto busca a participação de vários agentes de desenvolvimento: o poder

político através das suas estruturas de gestão cultural e social; escolas; associações

locais e organizações não-governamentais, através da inclusão em projectos já

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desenvolvidos por estas instituições. Pretendemos com isto, que se estabeleça um

diálogo entre eles e que se articulem mecanismos e se disponibilizem recursos, tendo

em conta que partilham objectivos comuns.

Deste modo, o projecto almeja constituir uma ferramenta de apoio a essas

entidades na medida, que através de um diagnóstico local e territorial busca a

articulação de mecanismos já existentes, desenvolvidos ou por implementar, e que se

integram nos parâmetros do desenvolvimento comunitário e da salvaguarda do

património.

4.4 Propostas e linhas de acção

As propostas e linhas de acção que se seguem fundamentam-se na análise ás

necessidades e potencialidades apresentadas pelo conjunto estudado. Iremos delineá-las

tentando conciliar as duas coisas e tendo em atenção os recursos existentes e as

parcerias necessárias para a sua implementação. (cf. ap.12 p:171-176).

Primeramente gostariamos de iniciar com uma proposta que surge em resposta

às nossas primeiras constatações em relação ao estudo realizado.

Após a visita do Museu da Tabanca, a leitura de algumas bibliografias e as

entrevistas realizadas notamos uma ausência da história das comunidades. Isto é, não há

um estudo, pelo menos que tivéssemos acesso, que nos permitesse caracterizar uma

comunidade desde as suas raízes: Quem foram os seus fundadores? Quando e porque

surgiu naquela localidade/bairro?A mesma comunidade é oriunda de outro território

ou se fundiu no mesmo local de hoje? Quais são os elementos culturais e sociais que a

caracterizam e a diferencia, por menor que seja a diferença, das outras comunidades?

Quais são os momentos mais marcantes da comunidade? Ainda utilizam as mesmas

técnicas, ou que técnicas desapareceram e/ou foram resgatadas?.

As respostas a estas perguntas requerem uma investigação mais aprofundada,

onde a observação; o convívio e a partilha de informações/conhecimentos dos membros

da comunidade são as únicas formas de obtê-las, visto que não existem registos escritos

que nos possam ilucidar sobre estes assuntos.

Ainda neste âmbito notamos junto a comunidade da TASA que a transmissão

geracional das tradições e dos valores é feita informalmente entre os membros, portanto

não há qualquer registo escrito dos saberes e de outras informações que fazem parte da

história da comunidade.

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Percebemos também que nem todos os membros estão na posse das mesmas

informações, e que os idosos e os membros mais antigos são os que possuem esses

conhecimentos. Aqui, entendemos que correndo o risco de esquecimento ou de

desaparecimento - caso algum destes membros venha a falecer, ou que por motivos de

saúde venha a desenvolver alguma doença que os impossibilite de se lembrar ou

partilhar esses conhecimentos, ou ainda que pelo curso normal das coisas venham a

esquecer de alguns acontecimentos - consideramos que é necessário que se proceda a

«identificação e documentação», através da recolha de informações junto aos membros

da comunidade.

Resumidamente, seria um resgate da memória colectiva histórica e social de

forma a se recolher informações capazes de permitir uma (re)construção histórica da

comunidade. Este poderá ser feito recorrendo ao método das entrevistas utilizando

vários suportes de registo: audiovisual, escrito ou artístico (desenhos ou pinturas). A

recolha de objectos, fotografias também deverá fazer parte desta (re)construção que

permitirá tanto o resgate de uma história nunca contada, como o autoconhecimento da

própria comunidade.

O envolvimento de todos os membros é crucial para sua realização. Aqui,

queremos que a comunidade seja o sujeito principal, activo e dinâmico na descoberta do

seu passado histórico. No entanto, tendo em conta que é uma manifestação que também

envolve os não-membros e que a comunidade partilha o território com o resto da

população, achamos que é igualmente importante a recolha desses testemunhos.

Portanto, a primeira proposta seria a constituição de um «inventário

participativo», onde contariamos como principal colaborador a própria comunidade -

destacariamos, dentro destes, os que poderiam servir de mediadores entre nós e o resto

da comunidade e os que poderiam connosco trabalhar como voluntários «pessoas-

recurso» (Varine 2004:38) (a participação dos jovens nesta acção traria benefícios uma

vez que permitindo a partilha de informações seria uma forma de transmissão

geracional de conhecimentos ao mesmo tempo que poderia satisfazer uma das

necessidades da comunidade, que seria a envolvência da nova geração (familiares dos

membros) na tabanca; pois este pode ser uma forma de incentivo aos jovens).

Trabalhariamos em parceria com entidades/organismos que devido a experiência e

conhecimento dos seus técnicos seriam de extrema importância para a realização desta

acção.

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49

Ao permitir que a comunidade faça uma retrospectiva sobre o próprio percurso

histórico, o «inventário» estará contribuindo para novas descobertas; para o

reviver/retoma das tradições e dos costumes já esquecidos ou em vias de esquecimento

e consequentemente provocar um novo olhar sobre o passado. O seu caráter

participativo contribui para o fortalecimento dos laços e das relações entre as várias

gerações e da identidade comunitária.

O mesmo impacto terá caso a população local participe nesta iniciativa, dado

que cohabitam no mesmo território. Ao reconhecerem que partilham características

comuns, irá despertar em ambos: a consciência da existência de vários elos de ligação;

que a TASA não é uma comunidade isolada e que o património em questão é parte da

identidade local, portanto, de todos os habitantes. Esperamos, que com isso se possa

(re)construir parte da história local do bairro.

Esta iniciativa pode servir como reforço às medidas de salvaguarda,em curso,

desenvolvidas por entidades/instituições encarregues da gestão do património nacional

sendo um contributo ao Projecto de Inventário do Património Cultural Imaterial que

teve inicio em 2011.

A ideia é que, aqui também se desenvolva um conjunto de acções voltadas para a

capacitação e desenvolvimento de iniciativas criativas, a formação de uma consciência

valorizativa, cooperativa e de responsabilidade que tenham por fim o desenvolvimento

comunitário/local, em concordância com a realidade patrimonial e territorial. Para tal,

apostamos numa abordagem educativa como forma de sensibilizar a comunidade para

questões que exigem uma maior envolvência dos mesmos, assegurar através de práticas

lúdico-pedagógicas, um conhecimento que os possibilite identificar e transformar as

suas potencialidades em acções geradoras de novas oportunidades e capazes de

provocar mudanças no seio da comunidade e do seu território.

Assim, constatando que a comunidade é composta por letrados (com um nível de

instrução diferenciado) e não letrados propomos que com o intuito de despertar na

comunidade da TASA o interesse para as questões que envolvem a salvaguarda da

Tabanca e dessa forma contribuir para que desenvolvam a consciência de que a sua

partificipação neste processo é determinante para assegurar a preservação do

património, bem como capacita-los com conhecimentos capazes de potencializar as suas

capacidades, e de as identificarem em função das suas necessidades e assim assumirem

um papel de maior protagonismo no desenvolvimento da sua comunidade e território; se

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50

inicie um programa/projecto de educação focada no património (educação patrimonial)

e cujo formato se ajusta às necessidades e aspirações da comunidade, desenrolando-se

em função do próprio desenvolvimento (educação não-bancária: educação informal,

educação de adultos, educação popular, educação permanente».).

A este propósito, Varine afirma que “apenas através do domínio da sua própria

cultura que uma população pode pretender tornar-se parceiro activo e responsavél do

seu presente e do seu futuro”, daí a nossa aposta na sensibilização a partir do património

uma vez que havendo uma identificação «cultural» com as propostas aumentará as

chances de haver um maior envolvimento e empenho por parte da comunidade, dado

que se quer abranger o maior número possível dos membros. (Varine 2004:37 , 39 40).

O conceito em que se fundamenta a educação não-bancária e patrimonial tende a

criar uma rede de acção territorial em que busca nos recursos locais: “estruturas,

pessoas, saberes, bens materiais e virtuais” os instrumentos necessários para alcançar o

desenvolvimento desejado. (Varine 2004 :37 e 38 Varine 2012:137). Procura demarcar-

se do sistema de ensino da educação bancária, mas no entanto não descarta todos os

potenciais parceiros visto que considera as escolas - as principais formadoras e

promotoras deste sistema de ensino - uma das entidades a ter em conta neste processo,

onde procura através de programas e actividades curriculares e extracurriculares formar

gerações responsáveis com o património e as questões que envolvem o meio onde se

encontram.

Neste âmbito, consideramos como parceiros as instituições cujo papel consiste

na formação e disponibilização de meios técnicos e intelectuais como as escolas, os

equipamentos culturais, as entidades gestoras e promotoras de acções culturais . A

filosofia desta educação se assenta na valorização dos saberes72

da comunidade, razão

pela qual, esta continua sendo a nossa principal parceira, onde os membros

(colaboradores) assumirão um duplo papel: educador e educando.

Ainda, cientes que a nível nacional as ONG’s e as associações comunitárias são

as principais promotoras da educação para o desenvolvimento (Plataforma das ONG de

72

Neste caso as práticas e os saberes ligados a Tabanca não são os únicos conhecimentos da comunidade

da TASA. É sabido que no bairro de Achada Santo António, pela sua proximidade com o mar, algum dos

seus habitantes tem por profissão actividades ligadas a pesca e ao porto e outras ligadas a outras

actividades do sector primário. Através das entrevistas constatamos que alguns membros apresentam

habilidades ligadas as práticas artesanais tradicionais bem como ao desporto, à música e culinária. É nesta

base que a nossa proposta visa o aproveitamento desses conhecimentos como forma de potencializar as

capacidades da comunidade.

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51

Cabo Verde 2008 pp.7 e 13) apostamos na parceria com estes agentes que actuam

através de projectos de carácter comunitário e sustentável. Neste âmbito, deve-se tirar

proveito da cooperação cultural e para o desenvolvimento com os países que apoiam

Cabo Verde dos quais destacamos Portugal, Brasil, Espanha, Dinamarca, Bélgica e

Estados Unidos. Isto é, tirando partido das acções desenvolvidas no âmbito destas

cooperações deve-se, neste caso, enquadrar as necessidades da comunidade em

projectos desenvolvidos por estas organizações.

Resumidamente, a nossa segunda proposta procura dar respostas às necessidades

educativas dos membros da comunidade da TASA, onde aos analfabetos deve-se

garantir o acesso ao sistema de ensino para que possam adquirir os conhecimentos

básicos (ler e escrever). Aqui, atendendo ao facto de que a comunidade é constituída

por adultos e idosos o mais apropriado seria inicialmente integra-los nos programas de

educação para adultos. A partir daqui se poderá integrá-los em outros programas

educativos que os possam facultar ferramentas e mecanismos para que possam ter

autonomia em desempenhar acções criativas e geradoras oportunidades beneficiantes

para a comunidade e o seu território.

Às crianças e jovens que abandonaram, perderam o direito ou que por condições

financeiras não puderam continuar os estudos deve-se apresentar-lhes formas

alternativas de aprendizagem (formação profissional) e ocupação de tempos livres.

Neste âmbito poderia ser desenvolvido workshops não só pelos agentes de

desenvolvimento aqui destacados, mas também pelos próprios membros da

comunidade, que com as suas competências, habilidades e técnicas (quer a nível

profissional, quer pessoal) poderão promover várias actividades de carácter pedagógico,

o que fortalece os laços comunitários. Aqui, entram em acção os equipamentos culturais

quer a nível local quer municipal, que são de uma forma geral instrumentos ao serviço

do desenvolvimento).

Para os que se encontram inseridos no sistema de ensino, há a necessidade de se

desenvolver actividades extracurriculares uma vez que o plano curricular nacional

apresenta lacunas em termos de interligação entre as várias disciplinas

(interdisciplinaridade) e as abordagens às questões culturais e sociais. Normalmente os

que apresentam um nível de instrução técnico e cientifico são mais exigentes daí que se

deverá traçar estratégias de mobilização e cativação deste publico conforme as suas

exigências. Através da parceria existente entre o Ministério da Cultura e o Ministério da

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52

Educação e do Desporto pode-se assegurar que esta proposta seja posta em prática,

principalmente pelo facto de existirem no bairro instituições de ensino privado e público

(sendo que no domínio publico se encontram disponíveis escolas e instituições desde a

pré-primária a formação profissional).

Embora tenhamos análisado separadamente os diferentes públicos existentes

dentro da comunidade, é necessário que a fim de se atingir um objectivo comum (que é

o desenvolvimento comunitário), a comunidade seja percebida como uma unidade

homógenea, razão pela qual o processo educativo a se desenvolver neste contexto,

deverá sem dúvida passar pelas questões culturais e apoiar-se no património comum a

comunidade (a Tabanca). Isto é, deverá desenvolver-se paralelamente inter e

pluridisciplinarmente abordando questões sociais que afligem a comunidade e o seu

território.

No âmbito das políticas culturais do actual governo, foram traçadas estratégias e

desenvolvidos projectos que podem ser aqui tomadas como modelos. Um diagnóstico

territorial e comunitário permite-nos estruturar as seguintes propostas com vista ao

enquadramento dos nossos objectivos aos mecanismos já disponíveis.

Portanto, à luz de projectos desenvolvidos pelo Ministério da Cultura, tomamos

como referência o projecto Rede Nacional de Salas73

e o projecto as Casas de

cultura/Bairros criativos74

que são projectos desenvolvidos pelo Ministério da Cultura

em parceria com as Câmaras Municipais.

O bairro de Achada de Santo António destaca-se a nível municipal, como uma

zona que enfrenta vários problemas sociais, onde a delinquência juvenil têm ganhado

proporções até certo ponto incontrolável, passando a imagem de um bairro inseguro e

degradante, contribuindo assim para a marginalização de algumas áreas dentro daquele

território. A implementação destes projectos constituirá uma forma de socialização na

medida que procura a inserção de grupos marginalizados.

73

É no fundo uma rota para a divulgação, em todo o país, de variados bens culturais cabo-verdianos,

como a música, a dança, o teatro, o artesanato, as artes plásticas e a literatura. Fonte

http://www.iipc.cv/index.php?option=com_content&view=article&id=105:cultura-em-rede-nasce-em-

cabo-verde&catid=34:noticias&Itemid=92 74

Deveram ser implementadas em todas as zonas. O projecto «Casas da Cultura «consiste na abertura de

espaços destinados a promoção e divulgação das manifestações culturais típicas de cada localidade. Por

sua vez o projecto Bairro Criativo é desenvolvido com intuito de contribuir para a dinamização da cultura,

a redução da pobreza, da violência urbana, do desemprego e da desigualdade social através do acesso a

bens culturais. Fonte: http://www.expressodasilhas.sapo.cv/cultura/item/34877-ministro-da-cultura-

projecto-%E2%80%9Cbairro-criativo%E2%80%9D-%C3%A9-v%C3%A1lido-para-todo-cabo-verde

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53

A intervenção da comunidade da TASA pode ser uma mais-valia tendo em conta

que a Tabanca é uma manifestação cultural cujo percurso histórico se encontra

associada à repressão e marginalização cultural e social; e as práticas sociais se

fundamentam em princípios de solidariedade e nas tradições, portanto podem ser uma

referência no sentido em que através destas características se podem desenvolver várias

acções de sensibilização junto a esta camada da população.

Neste âmbito, pode-se ainda fazer o cruzamento do projecto «Cultura Móvel»

com o «Bairro Criativo» e a «Casa da Cultura» que tendo pontos em comum se poderão

complementar em termos objectivos, captação e mobilização de recursos.

Segundo os dados conseguidos junto a Câmara Municipal da Praia, Achada

Santo António possui em todo o seu território dez associações de desenvolvimento

comunitário que desenvolvem actividades em várias áreas do domínio económico-social

e cultural. Assim propomos que o projecto «Casa de Cultura» seja implementado neste

bairro com vista a promoção e divulgação da Tabanca enquanto manifestação cultural

local. Que os membros encontrem neste, um espaço onde possam partilhar técnicas e

conhecimentos, mas que também possam desenvolver e demonstrar as suas habilidades

em outras áreas artísticas, como se pode constatar nas entrevistas alguns membros têm

interesse por outras áreas artísticas. Que seja ainda um lugar onde se possam

desenvolver oficinas de demonstração e aprendizagem de técnicas relacionadas aos

instrumentos e peças que fazem parte do repertório da Tabanca, bem como servir como

espaço de intercâmbio com os diferentes grupos e associações recreativas locais.

Dado que a nível de infra-estruturas o bairro carece de equipamentos culturais, o

projecto Casa de Cultura, seria uma mais-valia, caso fosse ali implementado e sendo a

Tabanca parte do repertório cultural local (identidade local) seria mais uma iniciativa

incorporada nas medidas de salvaguarda deste património.

Numa perspectiva de desenvolvimento sustentável e ecológico, surge a ideia da

recolha de matérias que possam servir de matérias-primas para a confecção de objectos

e peças a serem utilizados durante o desfile. A recolha de materiais recicláveis poderá

ser uma forma de combater o problema do lixo nos bairros da cidade da Praia bem como

uma forma de se fortalecer a relação da comunidade com o seu território. Aqui podemos

contar com a parceria das escolas locais que poderão incentivar os alunos a recolherem

os matérias junto às suas famílias e na população local, a confeccionarem colocando em

prática os conhecimentos adquiridos nas aulas de educação artística que fazem parte do

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programa curricular das escolas. Também destacamos as associações comunitárias e a

autarquia local, que promovem acções no âmbito das questões ambientais.

Na análise dos questionários realizados a alguns residentes locais, aos quais

designamos de outsiders verificou-se que a maioria demonstra interessada em conhecer

e saber mais sobre as práticas ligadas a este património cultural. Portanto, sendo este um

ambiente oportuno e favorável, deve-se promover o diálogo entre a comunidade da

TASA e a população residente onde as questões de ordem social e em torno da Tabanca

podem ser discutidas em palestras, encontros e actividades de lazer. Desta cumplicidade

poderá nascer projectos culturais e desenvolver-se práticas voltadas para o

desenvolvimento local.

Quaisquer das propostas acima apresentadas podem culminar em acções

culturais que poderão ser adaptadas as actividades e serviços dos equipamentos

culturais. Neste contexto, a nossa próxima proposta parte do estudo realizado ao Museu

da Tabanca. Nessa análise, vimos que por questões estruturais e escassez de recursos

humanos; meios financeiros e o fraco aproveitamento das potencialidades dos seus

parceiros o museu não têm conseguido dar respostas as exigências e necessidades do

seu público. Entendemos que a par de outros constrangimentos o distanciamento das

comunidades da Tabanca para com este equipamento pesa como um ponto negativo

neste projecto de salvaguarda.

Assim, que no intuito de aproximar as comunidades ao museu, de fortalecer os

laços comunitários propomos que seja implementado um serviço de educação

patrimonial cuja acção/actividade não se limite ao espaço físico do museu da Tabanca

(dado a distância territorial e ao conceito da nova museologia), e que vá de encontro às

tabancas. Isto é, propomos um «serviço educativo móvel», integrado nas actividades

museológicas. A sua mobilidade pressupõe uma maior interacção entre o MT e as

comunidades, uma vez que procura integrá-los nas suas actividades tomando-as como

parceiras e colaboradoras. Também pressupõe acções itinerantes que deverão assumir

outros equipamentos como instrumentos de apoio: bibliotecas, arquivos, escolas,

centros culturais, auditórios, salas de exposição, oficinas e galerias.

Atentos à anterior proposta educacional (educação não-bancária e patrimonial

desenvolvida em função do desenvolvimento) esta poderá ser integrada adaptando os

objectivos e apoiando estrutural e tecnicamente a anterior proposta educativa. Portanto,

o MT colaborará em diversas ocasiões com a comunidade da TASA.

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55

Esta proposta que se quer abrangente não se deve cingir às comunidades da

Tabanca, visto que o museu deve contribuir para o desenvolvimento local do território

onde se encontra inserido e dado que a Tabanca faz parte do panorama cultural cabo-

verdiano. Por isso, esta proposta também tem a finalidade de suscitar na população local

e os diferentes públicos o interesse pelo conhecimento e pela valorização deste bem

cultural.

Fundamentado nas questões de identidade das comunidade da Tabanca e tendo

em consideração as queixas dos membros entrevistados, a proposta que se segue busca a

formalização de um projecto da comunidade, que consiste na concessão de um espaço

para a instalação da capela, isto é, a actual capela não reúne as condições necessárias

para a realização das cerimónias religiosas, festivas nem possui espaço suficiente para a

albergar os objectos e as peças utilizadas na Tabanca, e nem para os próprios membros.

Portanto, sendo esta uma estrutura chave para qualquer comunidade da Tabanca, é

fundamental que a TASA encontre um espaço onde possa realizar as suas actividades,

possa guardar conservar e preservar os seus objectos, e dado ao que representa este

espaço75

é importante mantê-lo. Aqui, devido às burocracias que exigem a CMP é a

entidade a quem compete este projecto. Podemos estabelecer parcerias com outras

entidades que podem apoiar financeiramente na sua realização.

Estando normalmente aberta ao público, a capela pode também ser incluída

como uma referência cultural e a par da proposta da «Casa da Cultura» pode ser uma

mais-valia para o reforço da identidade local.

Neste âmbito também poderá se estabelecer uma ligação com o sector turístico

(turismo cultural, turismo religioso), estando isto sujeito a uma planificação concertada

em função da identidade e autenticidade das práticas culturais ligadas a esta

manifestação e a prática de um turismo sustentável.

75

Actualmente, a comunidade dispõe de uma pequeno comportamento (anexo) a casa do fundador João

Lopes mais conhecido por Djonsa Donana (já falecido) que tem funcionado como sede/capela da

comunidade. Têm-se negociado com a Câmara Municipal da Praia a concessão ou o arrendamento de um

outro espaço, mas o que a comunidade realmente quer é que seja autorizado a construção do andar de

cima da casa, para que a actual capela seja alargada, ocupando todo o rés-do-chão e assim prosseguirem

com um espaço próprio dotado de simbolismo e significado para todos os membros.

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De uma forma sucinta as nossas propostas buscam incutir um espiríto de

responsabilidade para com o património cultural e para que a partir daí se esteja apto a

desenvolver acções que levam a sua salvaguarda e ao desenvolvimento local.

4.5 Estratégias e parcerias

Partimos do princípio de que o envolvimento das comunidades no processo de

salvaguarda patrimonial pode ser duplamente vantajoso, uma vez que a participação

destas contribuirão para o enriquecimento individual e colectivo ao mesmo tempo que

permitirá assegurar a sua autenticidade.

Ao estabelecermos como ponto de partida o diagnóstico feito ao território, o

nosso projecto se aproximou da realidade comunitária/local o que permite e garante a

viabilidade das nossas propostas.

Para a implementação do projecto necessitamos de estabelecer parcerias através

das quais se irá disponibilizar os meios e recursos humanos; financeiros e técnicos e

com quem deveremos discutir o plano de acção a seguir.

O projecto desafia a comunidade e os agentes de desenvolvimento a

participarem activamente e a desenvolverem o compromisso de mutuamente

contribuírem para e na salvaguarda do património e o desenvolvimento do território. A

população local é sempre chamada a intervir como forma de também interagirem,

acompanharem e beneficiarem destas acções e contribuir para o desenvolvimento

integral do território.

Não privilegiamos as acções patrimoniais em função das sociais, mas sim

defendemos que quer uma, quer outra devem ser concertadas uma em função da outra,

estabelecendo uma ponte de ligação entre as várias questões que as envolvem.

Propusemos que estas acções se fundamentassem em métodos e pedagogias

educativas tendo em atenção que em ambos os casos, os processos devem se

desenvolver de forma contínua e sistemática.

Optamos pelo cruzamento e a articulação de mecanismos e recursos através da

inclusão em projectos e potencialidades dos nossos parceiros e submete-los aos

objectivos do nosso projecto.

Para o «inventário participativo» apostamos no recrutamento de membros

(pessoas-recursos) da comunidade da TASA, em que a priori os jovens seriam os

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principais alvos. Também extensivo a população local, a proposta busca envolvê-los de

forma a contribuir para uma maior interacção entre ambos. Tendo como perspectiva o

aproveitamento dos recursos disponíveis no território os organismos de comunicação

social instalados no bairro seriam além dos técnicos do IIPC um parceiro ideal para a

sua execução.

O plano de acção para esta proposta deverá obedecer 6 fases distintas: Fase I -

captação dos recursos humanos: identificação e contacto com os possíveis parceiros;

recrutamento de colaboradores na comunidade e no território. Fase II - reconstituição

do diagnóstico da comunidade: identificar e consultar as bibliografias existentes;

observação e recolha de informações junto aos membros e a população local. Fase III -

apresentação do projecto e avaliação da reacção da comunidade. Fase IV - discussão

das estratégias e métodos a utilizar na execução do projecto. Fase V- implementação do

projecto: constituir o inventário, desenvolver actividades e acções a serem utilizadas. E

avaliação dos resultados: analisar e confirmar as diferentes versões apresentadas.

Deve-se analisar este processo avaliando: que grau de compromisso os parceiros

e as pessoas-recurso assumiram em comprometer-se com o projecto? Em que medida a

comunidade se demonstrou disponível a se envolver no projecto, e qual foi a reacção da

comunidade perante a apresentação do projecto? A estratégia de recrutar na comunidade

trouxe maior envolvimento da comunidade no projecto? As metodologias utilizadas

estão sendo eficazes? O que se deve considerar dentro das diferentes versões

apresentadas?

No segundo caso «acções educativas» tivemos em conta os diferentes níveis de

instrução dos membros da comunidade e delineamos uma proposta que se orienta pelas

necessidades apresentadas pela comunidade a nível da educação. Encaixamo-las em

diferentes formas de educação, e aproveitando os conhecimentos (saberes, técnicas e

práticas) da comunidade apostamos numa educação ancorada no património enquanto

fonte primária de conhecimento e de enriquecimento individual e colectivo (Horta e

Grunberg citado por Varine 2012:138). Assumimos como estruturas de apoio as

instituições de ensino, as ONG’s e as associações comunitárias (como sendo uns dos

principais actores de desenvolvimento social). De igual modo são chamados a participar

entidades como o IIPC e a Câmara Municipal da Praia enquanto organismos de gestão

do património cultural.

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Para esta proposta entendemos que a sua duração dependerá do que se conseguiu

alcançar num primeiro instante. Que seria fruto das acções educativas em virtude de

uma educação elementar para os analfabetos76

. A partir daqui a estratégia é

proporcionar a toda comunidade uma educação que têm como ponto de partida o seu

património e trabalhar todas as potencialidades - cultural, económica; turística,

educacional que advêm dos mesmos; do património e do território, e desenvolve-las em

função do desenvolvimento; daí que propusemos uma programação interdisciplinar para

as escolas, e uma educação popular (não bancária) para todos. Neste âmbito, deve-se ter

em atenção o tipo de linguagem a ser adoptado e as metodologias a serem utilizadas

para cada uma. Neste caso, é importante entender que, o crioulo cabo-verdiano, sendo a

língua materna facilita na compreensão do conteúdo a ser ensinado.

A educação patrimonial aqui proposta irá servir de ponte para uma outra

proposta que é o serviço educativo móvel. Esta busca a interacção entre o Museu da

Tabanca e as comunidades da Tabanca. Assumimos a par do museu, a Associação

Nacional da Tabanca como principal parceira desta acção, uma vez que ela é composta

pelos chefes das tabancas, o que nos irá facilitar na mediação e contacto com os

restantes membros das comunidades. O seu carácter móvel vem desfazer vários

constrangimentos a nível de envolvimento das tabancas com o museu; procura criar uma

rede entre os equipamentos culturais e os agentes que promovem a acção cultural e

social existente nos diferentes municípios (daí a parceria com o poder local de cada

município).

A seguinte proposta assenta-se na teoria da mobilização de mecanismos e

recursos já existentes, e por isso apostamos no enquadramento dos nossos objectivos em

projectos já desenvolvidos a nível nacional, que buscam na cultura uma forma de

combater vários problemas sociais, incentivando: a inserção social, a promoção

artística; o empoderamento dos jovens através da projectos e actividades criativas.

Embora tenhamos referido três projectos, existem vários outros, desenvolvidos por

entidades e organismos diferentes, e que aqui se enquadram e podem ser uma mais-valia

para os nossos objectivos.

76

Pois, achamos que garantindo os conhecimentos mínimos (ler e escrever) estarão asseguradas as

condições mínimas param um aprendizado mais aprofundado. Portanto, sendo considerando a

aprendizagem da escrita e da leitura a função básica deste tipo de edução, a duração seria um ano lectivo.

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59

Nesta mesma linha, o da mobilização, e no intuito de encontrar soluções que

promovessem, mais uma vez, a interacção entre a população, propusemos que se

desenvolvessem acções ecológicas com vista a melhorar o meio ambiente do bairro e de

outros77

. Trabalharemos em sintonia com as associações locais que procuram

sensibilizar a população para questões ambientais. Com este público podemos avaliar

semestralmente os efeitos da educação patrimonial nos alunos através da avaliação das

atitudes e iniciativas desenvolvidas por eles. Ao propormos que estes realizem trabalhos

manuais (artesanais) em aproveitamento de matérias recicláveis e que estes fossem

oferecidos à comunidade a fim de serem utilizadas como adornos nos desfiles, estamos

a incentivar para a libertação da capacidade criativa. Esta iniciativa pode ser avaliada

anualmente aquando das comemorações da Tabanca.

5. Considerações finais

Ao reflectir sobre o papel que os museus vêem assumindo no seio da sociedade,

e a sua capacidade em fomentar o desenvolvimento local, propusemos, inicialmente,

desenvolver o nosso projecto em função de uma realidade em que o Museu da Tabanca

assumiria o papel de promotor de todas as acções patrimoniais e de desenvolvimento

comunitário dirigidas à sua comunidade de referência (as tabancas), porém a sua

estrutura não nos permitiu partir nem delinear as nossas propostas a partir dos seus

serviços.

O conhecimento do território e das suas necessidades, e um prévio diagnóstico

do trabalho de campo, fez-nos considerar, em alternativa a primeira opção, as

potencialidades existentes a nível do património estudado (a Tabanca), e chegamos a

conclusão de que as comunidades; neste caso o da Achada de Santo António enquanto

autora e principal dinamizadora desta manifestação apresentava potencialidades para

que fosse o público-alvo do projecto.

Entender a comunidade tanto sob o ponto de vista cultural como social, foi

essencial para que os objectivos do projecto fossem delineados em sintonia e em virtude

de um desenvolvimento que se quer sustentável e participativo.

A partir desta análise o museu já não tem o protagonismo dado no título do

trabalho «O Museu da Tabanca (Chã de Tanque, Santa Catarina) e a comunidade da

77

Uma vez que tomamos as escolas (e tendo em conta que os alunos que são provenientes de várias zonas

da cidade) e as famílias como colaboradoras desta acção.

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60

Tabanca de Achada de Santo António (Praia): projecto de salvaguarda de património

cultural e de desenvolvimento comunitário», e é a esta comunidade que se dirigem todas

as propostas. Assumimos o museu, a par de outras instituições e organismos como uma

estrutura de apoio para a concretização dos nossos objectivos.

Conceptualmente fundamentamos o projecto em três conceitos – chave: o

património imaterial remetendo-nos para as questões de identidade, memória colectiva,

e acções de preservação; o museu: as novas práticas museológicas e o seu impacto no

território onde se encontra localizado; e o desenvolvimento comunitário.

A dinâmica que se quer gerar, e as sinergias que se querem construir com o

projecto, não esgotam todas as possibilidades de acção, de modo que continuará a ser

oportuno a interactividade entre os diferentes sectores de desenvolvimento e dos seus

agentes. Por isso, foi-nos de suma importância entender que o vector de

desenvolvimento não seria apenas o património, mas sim todos os aspectos que o

envolvem (comunidade, território, medidas e estratégias para a sua salvaguarda).

Este é um projecto de objectivos que se devem cumprir a curto, médio e longo

prazo, e cujo resultado se poderá avaliar a fim de um determinado período, que deverá

ser estipulado no plano de acção a ser seguido aquando da implementação de cada

proposta.

Acreditamos que por ter como objectivo a interacção geracional e por abranger

diferentes gerações, o real impacto das acções aqui delineadas só poderão ser

verdadeiramente sentidas dez anos após a sua implementação. Isto tendo em conta que

este é o tempo que cada geração leva a se formar.

No entanto, o facto de serem desenvolvidas segundo uma perspectiva

educacional, e desta se presumir contínua e sistemática, que visa o desenvolvimento de

uma consciência cidadã (portanto responsável e activa) para com as questões que

envolvem o património e o meio envolvente, tende-se a entender que seja de carácter

permanente, alterando-se apenas em função das metas alcançadas.

Todas as propostas aqui apresentadas buscaram integrar e interagir com a

população local. Identificamo-la como uma potencial colaboradora no inventário; as

acções educativas uma vez que envolvem as escolas (os programas curriculares e extra-

curriculares) e que pretende o desenvolvimento do território (promovendo acções

empreendedoras) beneficiam automaticamente o resto da população. Tirar proveito dos

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projectos desenvolvidos pelos agentes de desenvolvimento e que foram inicialmente

delineados para promover a socialização; a inserção dos marginalizados e a identidade

local, revertem a favor dos nossos objectivos, e onde podemos tomar a Tabanca como

uma referência uma vez que defendem o respeito mútuo, a valorização dos costumes e

das tradições e do espírito de solidariedade, portanto a comunidade da Tabanca poderá

intervir assumindo um papel de promotor, dinamizador e colaborar no desenvolvimento

de iniciativas deste género. Propusemos que seja implementado equipamentos culturais

(Casa da Cultura) no bairro da Achada Santo António de modo a colmatar a carência de

infra-estruturas neste sector.

As directrizes de ambas as medidas – salvaguarda e desenvolvimento

comunitário – defendem o diálogo e o cruzamento de recursos e meios. No diagnóstico

do estudo realizado, notamos que no caso da Tabanca, nem sempre a premissa acima

referida se efectivou, por isso buscamos uma maior interacção entre os agentes de

desenvolvimento e os responsáveis estatais e o poder autárquico.

O papel que cada parceiro assumirá na execução das iniciativas deverá ser

amplamente debatido e definido no momento da planificação das acções a serem

seguidas; devendo por altura da avaliação (que deverá ser permanente) perguntar se os

parceiros escolhidos estão sendo capazes que criar estruturas sustentáveis para que as

propostas tenham impacto e causem os efeitos desejados? Se é preciso manter, excluir,

ou incluir novos parceiros ou metodologias»

Cientes de que para os objectivos que se querem alcançar, a salvaguarda da

Tabanca e o desenvolvimento da comunidade da TASA, as nossas propostas não

esgotam todas as possibilidades e nem conseguem desenvolver todas as iniciativas que

se podem criar a partir destas medidas.

A nossa intenção foi sempre proporcionar à comunidade um conjunto de

condições que pudessem dotá-las de ferramentas e mecanismos com as quais poderá

transformar-se num sujeito activo procurando, desenvolvendo, e avaliando as soluções

necessárias para os seus problemas. Assim, que por diversas vezes ela assumiu um

duplo papel: interveniente, (parceira/colaboradora) e público-alvo.

Acreditamos que a implementação do projecto poderá reflectir-se positivamente

no desenvolvimento da comunidade em estudo, trazer novos contributos para a

investigação e uma nova visão sobre esta manifestação cultural.

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2b2C-

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Ministro da Cultura: Projecto “Bairro Criativo” é válido para todo Cabo Verde. Publicado a 27

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Tarrafal acolhe a IV edição de “Chão Bom em Movimento. Publicado a 23 de Maio de 2012, em

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FIAPA: Feira de sabor e tradição ‘di tera’. Publicado a 15 de Novembro de 2012, por Sara

Almeida em «Expresso das Ilhas». [Consult.14.Abr.2013]. Disponível em WWW:<URL:

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Tradição da tabanca em Cabo Verde corre o risco de extinguir - Luís Leite. Publicado a 25 de

Junho de 2011. «Sapo Notícias Cabo Verde». [Consult.14.Abr.2013]. Disponível em WWW:<URL:

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