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  • Luiz Antonio Miguel Ferreira

    DIREITO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE

    Volume 1

    Presidente Prudente - SP 2001

  • Srie: DIREITO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE - volume 1. Obra publicada pelo autor em prol do(a) AFIPP Associao de Apoio ao Fissurado Lbio Palatal disponibilizada em suporte eletrnico:

    Normalizao bibliogrfica e editorao:

    Normalizao bibliogrfica e editorao de textos cientficos

    http://planeta.terra.com.br/servicos/lumarte [email protected]

    (0XX14) 433-1346 Marlia SP

    Distribudo no Brasil Copyright 2001 Luiz Antnio Miguel Ferreira Ficha catalogrfica

    Ferreira, Luiz Antnio Miguel Direito da criana e do adolescente: direito

    fundamental educao / Luiz Antnio Miguel Ferreira. Presidente Prudente , 2001.

    v.2 ; 21cm (Srie Direitos da criana e do adolescente, v.1)

    Contedo: v.1 Direitos da criana e do adolescente: temas de direitos fundamentais; v.2 Direito fundamental educao.

    1.Menores Estatuto legal, Leis, etc. - Brasil 2. Menores Empregos Brasil 3. Cdigo de menores I. Ttulo

  • APRESENTAO

    A atual Constituio Federal,

    adotando o princpio da proteo integral,

    proporcionou uma nova forma de olhar para as

    crianas e os adolescentes, contemplando-os

    como sujeitos de direitos que merecem proteo

    integral, respeitada a sua condio de pessoa em

    desenvolvimento. Assegurou a esta parcela da

    comunidade, direitos fundamentais como os

    referentes vida, sade, alimentao,

    educao, ao esporte, ao lazer,

    profissionalizao, cultura, dignidade, ao

    respeito e convivncia familiar.

    Com o advento do Estatuto da Criana e do

    Adolescente tais direitos foram detalhados,

    evidenciando-se as formas para a sua

    concretizao.

    Passados vrios anos de sua promulgao,

    verifica-se que ainda hoje o Estatuto da Criana e

    do Adolescente ainda no foi devidamente

    assimilado, diante da ruptura doutrinria com a

    legislao passada e da nova postura adotada,

  • causando perplexidade sociedade. Da porque,

    o Estatuto taxado de lei de primeiro mundo,

    inaplicvel a nossa realidade, lei que somente

    garantiu direitos s crianas e aos adolescentes e

    que retirou a autoridade dos pais, etc.

    Na busca de melhor apresentar a nova

    legislao, vrias palestras foram proferidas em

    escolas, universidades, simpsios, congressos. Estes

    textos, reunidos no presente livro, buscam

    esclarecer e divulgar o Estatuto da Criana e do

    Adolescente, de forma a contempl-lo como uma

    legislao que representou um avano significativo

    e que aplicada, garantir os direitos fundamentais

    previstos na Constituio. Os textos apresentados

    no se destinam apenas aos profissionais do direito,

    mas tambm a todos queles que esto ligados ao

    tema, como assistentes sociais, psiclogos,

    pedagogos, conselheiros tutelares, conselheiros

    municipais, professores e diretores. H algumas

    repeties nos textos, em face da peculiaridade

    do tema tratado, que comum ao que foi

    proposto. Trata-se de um livro que marca o inicio

  • de uma srie de outros, que buscaro colocar a

    criana e o adolescente no o centro do debate,

    mas da forma como merecem.

    SUMRIO

    Tema 1: A adoo e a famlia monoparental......... 1

    Referncia bibliogrfica............................................... 5

    Tema 2: A biotica e o Estatuto da Criana e do

    Adolescente ................................................ 6

    2.1 Introduo ................................................... 6

    2.2 Biotica (conceito e fundamento)

    E o Direito ..................................................... 8

    2.3 A criana e o adolescente e

    a biotica................................................... 12

    2.4 O direito a vida e sade no ECA.......... 16

  • 2.5 A liberdade, o respeito e dignidade das

    crianas e dos adolescentes ................... 20

    2.6 A biotica e o ECA.................................... 25

    2.7 Consideraes finais ................................. 28

    Referncias bibliogrficas.......................................... 30

    Tema 3: Aspectos jurdicos da interveno da

    interveno social e psicolgica

    no processo de adoo ........................... 31

    3.1 Introduo ................................................. 31

    3.2 Servios auxiliares: equipe profissional .... 35

    3.3 A atuao da equipe tcnica da

    rea da infncia ....................................... 40

    3.4 A interveno na adoo ....................... 43

    3.5 Fase extraprocessual ................................ 45

    3.6 Fase processual ......................................... 60

    3.7 Aspectos processuais............................... 69

    3.8 Consideraes finais ................................. 73

    Referncias bibliogrficas.......................................... 75

  • Tema 4: Conselho Tutelar: sua atuao

    Frente aos parceiros sociais ..................... 76

    Referncias bibliogrficas.......................................... 85

    Tema 5: Direito profissionalizao e

    proteo ao trabalho ............................... 86

    5.1 Introduo ................................................. 86

    5.2 A idade e seus reflexos no trabalho

    do menor .................................................. 87

    5.3 Aprendizagem........................................... 90

    5.4 Do trabalho comum ................................. 95

    5.5 Da idade mnima superior ........................ 98

    5.6 Direitos assegurados ao

    trabalhador adolescente ......................... 98

    5.7 Trabalho educativo................................. 100

    5.8 Consideraes finais ............................... 102

    Referncias bibliogrficas........................................ 104

  • TEMA 1:

    A ADOO E A FAMLIA MONOPARENTAL

    A evoluo da sociedade, proporcionou

    uma alterao significativa da estrutura familiar,

    sendo que, sob o aspecto jurdico, a concepo

    atual totalmente diferente daquela famlia

    concebida pelo Cdigo Civil, cuja origem est

    centrada no matrimnio, na diviso do trabalho e

    hierarquia masculina.

    Os padres da famlia moderna, com uma

    organizao de vida independente e linear,

    calcada na igualdade dos cnjuges, com diviso

    de tarefas e papis na vida comum e, liberdade

    total na questo relativa a filiao, proporcionou

    uma nova viso da famlia, que foi acolhida pela

    Constituio (art. 226 famlia biolgica ou

    consangnea), com o reconhecimento da unio

    estvel ( 3) e a definio de entidade familiar

    como a comunidade formada por qualquer dos

  • Luiz Antnio Miguel Ferreira

    2

    pais e seus descendentes ( 4) tambm

    denominada famlia monoparental.

    Segundo Eduardo de Oliveira Leite (1997, p.

    22), uma famlia definida como monoparental

    quando a pessoa considerada (homem ou

    mulher) encontra-se sem cnjuge, ou companheiro

    e vive com uma ou vrias crianas. So diversos

    os fatores que podem determinar a famlia

    monoparental, sendo que o citado autor enumera

    o celibato, o divrcio ou a separao, a unio livre,

    me solteira e a viuvez. Verifica-se pois, que a

    famlia monoparental no um fenmeno novo

    que est ocorrendo na sociedade. No entanto,

    somente com a atual Constituio que se

    verificou um tratamento mais adequado da

    questo.

    certo ainda que entre os membros destas

    famlias (consangneas, monoparental ou

    resultante da unio estvel), se estabelecem

    relaes de filiao e parentescos, que podem ter

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    3

    a sua origem na consanginidade ou no

    parentesco civil via adoo.

    Neste cenrio, a adoo como atualmente

    concebida pelo Estatuto da Criana e do

    Adolescente, tem contribudo para o surgimento

    de novas famlias monoparentais, uma vez que o

    instituto tambm evoluiu, passando a contemplar

    como adotantes no somente as pessoas

    legalmente casadas, como qualquer cidado

    maior de 21 anos de idade, independente de seu

    estado civil.

    Assim, a adoo, apresenta-se hoje como

    uma forma diferente de ter filhos, e por

    conseqncia, de constituir uma famlia. No mais

    se trata de imitar a natureza, quando esta falha e

    sim de encontrar pais para crianas que j existem.

    E esta constituio da famlia pode ocorrer por

    opo do casal, ou de forma unilateral, quando

    da adoo por parte de um dos cnjuges ou

    concubinos do filho do outro (ECA., art. 41, 1) ou

    ainda monoparental, quando um solteiro, vivo,

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    4

    separado judicialmente ou divorciado, adota uma

    criana ou adolescente.

    O certo que, em vez de atender aos

    interesses dos adultos que no podem gerar, o

    instituto da adoo cuida do interesses das

    crianas e adolescentes, que tm o direito de ter

    uma famlia, pouco importando se a mesma ou

    no monoparental.

    O legislador menorista, reconheceu o direito

    da criana ser criada e educada no seio da sua

    famlia natural (biolgica), mas admitiu

    excepcionalmente a famlia substituta (inclusive a

    estrangeira), como forma de garantir a

    convivncia familiar e evitar o abandono.

    Desta forma, com o objetivo claro de se

    evitar o abrigamento de crianas e adolescentes

    em instituio, que por melhor que seja, no

    substitui a famlia, a adoo tem revelado papel

    importante na constituio de novas famlias,

    inclusive monoparentais, diante da abertura dada

    situao de quem adota.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    5

    Referncias bibliogrficas

    LEITE, E.O. A monoparentalidade e o direito. In: ______. Famlias monoparentais. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.

  • TEMA 2:

    A BIOTICA E O

    ESTATUTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE

    2.1 Introduo. 2.2 Biotica (conceito e fundamento) e

    o Direito. 2.3 A criana e o adolescente e a biotica. 2.4

    O direito a vida e sade no ECA. 2.5 A liberdade, o

    respeito e dignidade das crianas e dos adolescentes.

    2.6 A biotica e o ECA. 2.7 Consideraes finais.

    2.1 Introduo

    Analisando a biotica, como um ramo do

    conhecimento multidisciplinar, verifica-se que o seu

    fundamento a pessoa, estabelecendo-se uma

    relao tica na vida desta conforme se apresenta

    origem grega da palavra, que nos remete ao

    significado: bos vida e thik - tica.

    A vida, garantida com o nascimento da

    pessoa e seu posterior desenvolvimento, encontrou

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    7

    no Direito, um instrumento necessrio para a

    sua

    efetivao. E a relao estabelecida entre o

    Direito e a Biotica tornou-se um instrumento que

    busca no s a garantia da vida, como tambm a

    sua dignidade, fixando parmetros para a sua

    concretizao e estabelecendo limites para

    distinguir o lcito do ilcito. Isso porque, enquanto na

    tica busca-se as justificativas para as aes, a lei

    estabelece regras para as mesmas (GOLDIM,

    2001).

    Dentro deste contexto, o Estatuto da

    Criana e do Adolescente, por ser uma lei que

    trata especificamente deste segmento da

    comunidade, assume especial relevncia, uma vez

    que traz em seu bojo a preocupao com o

    nascimento e desenvolvimento da criana e o

    reconhecimento desta como pessoa humana,

    com direito dignidade.

    Assim, a relao entre a biotica e o

    Estatuto da Criana e do Adolescente, como um

    ramo do Direito, assume especial relevncia, a

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    8

    partir do momento em que se busca uma atuao

    tica nos problemas envolvendo a criana, com a

    garantia de seu nascimento e desenvolvimento. A

    questo saber, como se traduz esta relao e

    qual a sua implicao na prtica.

    2..2 Biotica (conceito e fundamentos) e o

    direito

    Antes de serem analisadas as implicaes

    decorrentes da relao estabelecida entre a

    biotica e o ECA, importante ressaltar o seu

    conceito daquela e o fundamento e a relao

    estabelecida com o direito, para melhor

    compreenso do tema.

    Desde o primeiro momento em que foi

    utilizado o termo Biotica, em 1970, pelo Prof. Van

    Rensselaer Potter, Doutor em Bioqumica e

    pesquisador na rea de Oncologia da

    Universidade de Wisconsin/E.E.U.U., em artigo

    cientfico, posteriormente publicado no livro

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    9

    Bioethics: a bridge to the future (1971), o tema foi

    se desenvolvendo e aprimorando, estruturando-se

    com os avanos tecnolgicos.

    Utilizando-se do conceito na Encyclopedia

    of Bioethics pode-se definir biotica como sendo o:

    [...] estudo sistemtico da

    conduta humana no campo das

    cincias biolgicas e da

    ateno sade, na medida

    em que esta conduta seja

    examinada luz de valores e

    princpios morais

    (ENCYCLOPEDIA OF BIOETHICS) .

    Jos Emlio Medauar Ommati (2001)

    esclarece que a Biotica um ramo do

    conhecimento transdisciplinar que sofre influncias

    da Sociologia, Biologia, Medicina, Psicologia,

    Teologia, Direito, dentre outros, e que se preocupa,

    basicamente, com as implicaes tico-morais

    decorrentes das descobertas tecnolgicas nas

    reas da Medicina e Biologia.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    10

    Seu fundamento a vida da pessoa

    humana (numa viso ampla de vida que implica

    no nascimento, desenvolvimento da pessoa, e

    morte), buscando garantir a sua existncia com

    dignidade, diante dos avanos tecnolgicos e

    cientficos, revelando implicaes com a

    Engenharia Gentica, clonagem, fecundao in

    vitro, eutansia, aborto, transplantes de rgos,

    qualidade de vida, meio ambiente, entre outros temas.

    Em sntese, a biotica:

    [...] busca essencialmente, um

    agir humano que aprimore a

    dignidade humana e a

    qualidade de vida, e culmine na

    apreciao de valores humanos

    (MIRANDA, 2000, p. 48).

    O avano tecnolgico, somado

    capacidade de destruio do ser humano, revela

    a importncia da biotica como cincia. No

    entanto, h necessidade de se estabelecer limites

    para a ao do homem. Este limite, dado pelo

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    11

    Direito, atravs de normas e princpios que buscam

    assegurar a vida, o equilbrio social e a dignidade

    da pessoa humana.

    O direito vida consagrado no artigo 5

    da Constituio Federal, como princpio

    fundamental. a partir deste direito que a ao

    humana, guiada pela tecnologia, deve ser

    analisada e regrada, tendo como parmetro a

    biotica.

    Esta situao implica num desafio, que :

    [...] encontrar um equilbrio (o

    justo meio aristotlico) entre o

    mundo dos valores e o mundo

    da cincia, sem cercearmos seus

    avanos, mas tambm sem

    permitir que sejam simplesmente

    incorporados nossa vida novos

    conceitos e descobertas antes

    de terem sido submetidos a um

    rigoroso juzo de interesse moral e

    tico para a humanidade

    (MIRANDA, 2000, p. 66).

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    12

    Dentro deste contexto, o direito deve buscar

    o equilbrio entre o progresso e benefcio por ele

    trazido.

    2.3 A criana e o adolescente e a biotica

    nesse sentido, que atualmente o direito

    trata das questes envolvendo crianas e

    adolescentes. Porm, a criana, nem sempre foi

    considerada pelo Direito e pela Biotica como

    pessoa humana, possuidora de direitos

    fundamentais a serem preservados e garantidos.

    So inmeros os relatos de investigaes

    cientficas envolvendo crianas. O Prof. Jos

    Roberto Goldim (GODIM, 2001) esclarece que o

    teste da vacina para varola humana, realizado por

    Edward Jenner, em 1768 foi efetuado em uma

    criana. A mesta situao ocorreu em 1885 com

    Louis Pasteur quanto testou a sua vacina anti-

    rbica. Em 1891, Carl Janson, da Sucia informou

    que suas pesquisas sobre a varola estavam sendo

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    13

    realizadas em 14 crianas rfs, apesar do modelo

    ideal serem bezerros.

    A discusso envolvendo crianas em

    pesquisas cientficas e o reconhecimento das

    mesmas como possuidoras de direitos, acarretou,

    paulatinamente, uma limitao das investigaes,

    sendo que a primeira norma restritiva ocorreu na

    Prssia em 1901, onde a Instruo do Diretor das

    Clnicas e Policlnicas proibiu, explicitamente, a

    pesquisa em criana.

    A esta norma seguiram-se Lei Nacional na

    Alemanha, em 1931 e o Cdigo de Nuremberg, de

    1947. A Declarao de Helsinki, proposta em 1964 e

    revista em 1989, possibilitou a participao de

    crianas e adolescentes em pesquisas na rea de

    sade, desde que ocorresse o consentimento

    dos responsveis.

    No mbito nacional, existe a possibilidade

    de participao de crianas e adolescentes em

    pesquisas cientficas, havendo a necessidade do

    consentimento do responsvel e a informao do

    menor, em respeito ao princpio da autonomia.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    14

    Nesse sentido, encontra-se a Resoluo

    041/95 do Conselho Nacional dos Direitos da

    Criana e do Adolescente (CONANDA), que no

    artigo 12 estabelece:

    Direito de no se objeto de

    ensaio clnico, provas

    diagnsticas e teraputicas, sem

    consentimento informado de

    seus pais ou responsveis e o seu

    prprio, quanto tiver

    discernimento para tal

    (CONANDA, 2001).

    Na mesma direo, a Resoluo n. 196/96

    do Conselho Nacional de Sade, que no item IV3,

    a, especifica:

    Em pesquisas envolvendo

    crianas e adolescentes,

    portadores de perturbao ou

    doena mental e sujeitos em

    situao de substancial

    diminuio em sua capacidade

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    15

    de consentimento, dever haver

    justificao clara da escolha dos

    sujeitos da pesquisa,

    especificada no protocolo,

    aprovada pelo Comit de tica

    em Pesquisa, e cumprir as

    exigncias do consentimento

    livre e esclarecido, atravs dos

    representantes legais dos

    referidos sujeitos, sem suspenso

    do direito de informao do

    indivduo, no limite de sua

    capacidade.

    Estas normas, surgiram aps a promulgao

    da Constituio Federal e do Estatuto da Criana e

    do Adolescente (lei n. 9.099/90), que representam

    o marco para o reconhecimento da cidadania

    infantil, contemplando-os com o direito vida,

    sade e dignidade, implicando numa nova viso

    quanto a biotica.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    16

    2..4 O direito via e sade no ECA

    O direito vida e sade est previsto nos

    artigo 5 caput e 227 da Constituio Federal,

    sendo que dentro do contexto menorista (artigos 7

    a 14 do ECA), revela-se como prioridade absoluta,

    que deve ser efetivado atravs de polticas sociais

    pblicas que permitam o nascimento e

    desenvolvimento sadio e harmonioso em

    condies dignas de existncia das crianas e

    adolescentes.

    A primeira concluso que se extrai da

    anlise deste direito que, o meio ou a forma pelo

    qual se garante o direito vida e sade,

    atravs de polticas sociais pblicas e o objetivo

    destas polticas garantir o nascimento e o

    desenvolvimento sadio das crianas e

    adolescentes, , ou seja, o Estatuto no se satisfaz

    apenas com a garantia do nascimento da criana,

    quer ele propiciar meios para que a mesma cresa

    e se desenvolva. E mais, faz expressa referncia s

    condies dignas de existncia.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    17

    O Estatuto da Criana e do Adolescente

    apresenta, de forma separada e didtica, as

    situaes que implicam na garantia do nascimento

    da criana e as aes que devem ser executadas

    para o seu desenvolvimento.

    Assim, as normas estampadas nos artigos 8,

    9 e 10 do Estatuto do especial ateno ao

    nascimento, apresentando aes direcionadas

    gestante, para possibilitar um parto com

    dignidade; regulamenta o atendimento pr e

    perinatal, apoio alimentar, aleitamento materno,

    registro dos pronturios e identificao do recm

    nascido, preveno de anormalidades

    metablicas e alojamento conjunto do neonato e

    da me.

    Essas regras, apesar de aparentemente

    estampar direitos relativos gestante, na verdade

    buscam garantir o direito do nascituro (nascimento

    sadio e harmonioso), da porque foram inseridas no

    Estatuto da Criana e do Adolescente.

    Ao garantir a proteo vida, procura

    afastar qualquer referncia ao aborto ou

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    18

    experincias genticas que venham a afetar o

    nascimento e a dignidade da criana. Garantindo

    a permanncia do neonato junto me, busca

    humanizar os ambientes dos hospitais e garantindo

    os exames visando ao diagnstico de

    anormalidades no metabolismo, promove os

    direitos do paciente. Tais questes mostra a

    interface da biotica no ECA.

    A seguir, aps assegurar o nascimento,

    tratou o legislador menorista de garantir o

    desenvolvimento dessa criana. As regras dos

    artigos 11, 12, 13 e 14 referem-se ao

    atendimento mdico da criana e do adolescente

    atravs do SUS; o atendimento especializado aos

    portadores de deficincia, inclusive com o

    fornecimento de prteses e medicamentos;

    garantia de condies para que, em caso de

    internao, permanea na companhia integral de

    um dos pais ou responsveis, e que os casos de

    suspeita ou confirmao de maus tratos sejam

    obrigatoriamente comunicados ao Conselho

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    19

    Tutelar. Por fim, traou normas sobre a preveno

    mdica e odontolgica e de vacinao obrigatria.

    Estas aes, em sua totalidade, esto

    voltadas para a proteo e qualidade da vida de

    crianas e adolescentes, que devem almejar

    condies dignas de existncia.

    A aplicabilidade da lei, no que diz respeito a

    estes direitos, requer a possibilidade de sancionar o

    infrator, no caso de descumprimento. Assim, para a

    efetividade de tais dispositivos, estabeleceu o

    Estatuto, a ocorrncia de crime e infrao

    administrativa para algumas situaes.

    Os crimes previstos, referem-se aos

    encarregados de servio ou dirigente de Hospitais

    que no cumprirem as obrigaes impostas no

    ECA. quanto manuteno de registro de suas

    atividades, fornecimento da declarao de

    nascimento (Art. 10), respondendo pela infrao

    penal prevista no artigo 228 da citada lei.

    O mdico, enfermeiro ou dirigente de

    estabelecimento de ateno gestante que no

    identificar corretamente o neonato e a parturiente

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    20

    na ocasio do parto ou no realizar os exames

    visando ao diagnstico de anormalidades no

    metabolismo, tambm so responsabilizados

    criminalmente, por fora da infrao prevista no

    artigo 229 do ECA.

    Como infrao administrativa, a garantia do

    direito sade e vida foi regulamentado no

    artigo 245 do Estatuto, que estabelece a

    obrigatoriedade do mdico ou responsvel por

    estabelecimento de ateno sade, entre

    outros, de comunicar autoridade

    competente, os casos envolvendo

    suspeita ou confirmao de maus tratos.

    Observa-se do citado dispositivo, que diante

    da preocupao com a integridade fsica da

    criana e do adolescente, at os casos de suspeita

    de maus tratos, obrigam a comunicao.

    2..5 A liberdade, o respeito e a dignidade das

    crianas e dos adolescentes

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    21

    O Estatuto da Criana e do Adolescente, ao

    estabelecer que as crianas e adolescentes, tm

    direito liberdade, ao respeito e dignidade

    (artigos 15 a 18) como pessoas em

    desenvolvimento, assegurando-lhes direitos civis,

    humanos e sociais, elevou-os condio de

    cidados, retirando-os da condio de meros

    receptores de benefcios para satisfao de suas

    necessidades bsicas ou de objetos de

    interveno.

    O direito liberdade, pelo Estatuto:

    [...] se volta especialmente

    contra constrangimentos de

    autoridades pblicas e de

    terceiros, mas tambm contra os

    pais e responsveis que,

    porventura imponham criana

    ou ao adolescente um

    constrangimento abusivo que

    possa ser caracterizado como

    uma situao cruel, opressiva ou

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    22

    de violncia ou, mesmo, de

    crcere privado, o que pode at

    dar margem ao exerccio do

    direito de buscar refgio e auxlio

    (SILVA, 1992 apud CURY, 1992, p.

    66).

    Est previsto no ECA, no artigo 16, e

    demonstra intrnseca relao com a Biotica, posto

    que garante o direito a opinio e expresso (II) da

    criana e do adolescente, que deve ser levando

    em considerao quando da realizao de ensaio

    clnico, pesquisas e provas diagnsticas e

    teraputicas. Este direito foi contemplado pela

    Resoluo n. 196/96 do Conselho Nacional de

    Sade. O direito liberdade tambm compreende

    a liberdade de crena e culto religioso, o direito de

    brincar e divertir-se, buscar refgio, auxlio e

    orientao.

    Quanto ao direito ao respeito, o Estatuto da

    Criana e do Adolescente, refere-se

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    23

    inviolabilidade da integridade fsica, psquica e

    moral da criana e do adolescente que por sua

    vez abrange a preservao da imagem, da

    identidade, da autonomia, dos valores, idias e

    crenas dos espaos e objetos pessoais. O Estatuto,

    em obedincia a tal direito, estabelece a

    obrigao de se colocar a criana e o

    adolescente salvo de qualquer forma de

    negligncia, discriminao, explorao, violncia,

    crueldade e opresso.

    A inviolabilidade da integridade fsica,

    como forma de expresso do direito ao respeito:

    [...] consiste em no poder o

    cidado ser submetido a

    atentados que venham

    comprometer parcial ou

    totalmente a integridade fsica

    (MATTIA, 1992 apud CURY, 1992,

    p. 73).

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    24

    Assim, o direito ao respeito deve, em

    primeiro plano, assegurar a incolumidade fsica das

    crianas e dos adolescentes.

    Ao tratar da integridade psquica e moral,

    como parte do direito ao respeito, objetiva garantir

    s crianas e adolescentes, pleno desenvolvimento

    em condies de liberdade e dignidade, visando

    ao seu desenvolvimento fsico, mental, moral,

    espiritual e social (ECA., art. 3), respeitando a sua

    condio de pessoa em desenvolvimento.

    O direito dignidade vem tratado no artigo

    18 do ECA e resume-se no tratamento respeitoso

    que deve ser dispensado s crianas e

    adolescentes. O dispositivo legal impe tal

    obrigao a todos, indistintamente, e no somente

    aos pais ou responsveis.

    A dignidade ser alcanada quando a

    criana e o adolescente forem postos salvo de

    qualquer tratamento desumano, violento,

    aterrorizante, vexatrio ou constrangedor.

    Segundo o Dicionrio Aurlio (FERREIRA,

    1975, p. 1457) vexame tudo aquilo que causa

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    25

    vergonha, afronta, ultraje; constranger obrigar

    pela fora, coagir, tolher a liberdade; desumano

    (FERREIRA, 1975, p. 466) refere-se a tratamento

    brbaro, cruel, bestial; aterrorizante (FERREIRA,

    1975, p. 154) reflete o ato que causa terror,

    pavoroso, fazer medo e violento o uso da fora

    bruta. A criana e o adolescente devem ser

    postos a salvo desses tratamentos, como forma de

    respeito sua dignidade.

    Todos estes dispositivos tm relao direta

    com a Biotica e buscam garantir os direitos

    fundamentais das crianas e dos adolescentes,

    contra os avanos tecnolgicos e cientficos que

    venham a comprometer o seu desenvolvimento.

    2..6 A biotica e o Estatuto da Criana e do

    Adolescente

    O artigo 227 da Constituio Federal,

    apresentou um novo paradigma para as crianas

    e os adolescentes, estabelecendo:

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    26

    dever da famlia, da sociedade

    e do Estado, assegurar criana

    e ao adolescente, com absoluta

    prioridade, o direito vida,

    sade, alimentao,

    educao, ao lazer,

    profissionalizao, cultura,

    dignidade, ao respeito,

    liberdade e convivncia

    familiar e comunitria, alm de

    coloc-los a salvo de toda forma

    de negligncia, discriminao,

    explorao, violncia, crueldade

    e opresso. (grifo nosso).

    Observa-se do mandamento Constitucional,

    os parmetros estabelecidos em prol das crianas

    e dos adolescentes, em todas as atividades que

    estiverem envolvidos. Tais parmetros, como j

    analisado, foram digeridos pelo Estatuto da

    Criana e do Adolescente, que apresenta a forma

    como tais direitos se concretizam.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    27

    O novo paradigma adotado pelo

    Constituinte em relao populao infanto-

    juvenil e devidamente especificado no Estatuto da

    Criana e do Adolescente que deve

    nortear todas as questes que envolvam:

    Aborto;

    Reproduo artificial;

    Transplantes de rgos (com reflexos

    na adoo internacional);

    Famlia - ptrio poder paternidade e

    maternidade;

    Pesquisas cientficas;

    Humanizao dos hospitais;

    Consentimento da criana e do

    adolescente em procedimentos

    mdicos;

    Identidade (com implicao na

    questo das clonagens).

    Em todas estas situaes, a tica deve

    proteger a criana e o adolescente e o direito

    (Estatuto da Criana e do Adolescente) reconhece

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    28

    e garante tal proteo, como prioridade absoluta.

    Revela tal assertiva, que eventual conflito entre os

    avanos tecnolgicos e a criana e o

    adolescente, estes devem ser preservados, pois se

    tratam de pessoas em desenvolvimento que no

    podem ser objeto de qualquer forma de

    negligncia, discriminao, explorao, violncia,

    crueldade, opresso (Art. 5 do ECA), tratamento

    desumano, aterrorizante, vexatrio ou

    constrangedor (Art. 18 do ECA), devendo ser

    respeitado e garantido o seu direito a vida, a

    sade, a liberdade, respeito e dignidade.

    2..7 Consideraes finais

    O desenvolvimento tecnolgico e o

    progresso devem encontrar um meio para garantir

    o equilbrio entre os benefcios a serem alcanados

    e o respeito pessoa humana.

    O equilbrio, representado pela Biotica,

    nem sempre levado em considerao, diante da

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    29

    natureza do homem. Quando isto ocorre, surge o

    Direito para retomar a condio inicial,

    restabelecendo a supremacia da pessoa, com

    proteo sua vida.

    Na rea da infncia, esta relao

    apresenta-se mais delicada, j que existe a opo

    de se garantir criana e ao adolescente a

    prioridade absoluta para todos os direitos que lhe

    foram consagrados, tais como a vida, a sade, o

    respeito, a liberdade e a dignidade.

    Assim, a biotica encontra no Estatuto da

    Criana e do Adolescente, os parmetros

    necessrios para os problemas advindos do

    avano biotecnolgico, restando evidente que

    nem tudo que pode ser feito, deve ser feito.

    A criana e o adolescente devem encontrar

    na biotica o significado que foi proposto por

    Darryl Macer da Universidade de Tsusuka no IV

    Congresso Mundial de Biotica (4-7/11/98)

    fundamentado no ideal universal do amor.

    Segundo o pesquisador, os quatros princpios

    bsicos da biotica/amor, podem ser resumidos

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    30

    no: amor de si (autonomia), amor para com os

    outros (justia), amor pela vida (no maleficncia)

    e amor pelo bem (beneficncia). Em termos de

    infncia, nada mais precioso para promover-lhe

    os direitos que o amor, que a principal fora do

    universo.

    Referncias bibliogrficas

    FERREIRA, A.B.H. Aurlio: dicionrio da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. GOLDIM, J.R. Biotica e interdisciplinaridade. Disponvel em: Acesso em: mar. 2001. ______. Pesquisa em crianas e adolescentes. Disponvel em: Acesso em: mar. 2001. MATTIA, F.M. Comentrio do Artigo 17. In: CURY, M. et.al. (coord.). Estatuto da Criana e do Adolescente Comentado. So Paulo: Malheiros Editores, 1992, MIRANDA, C.M. Justia e vida autenticamente humana. In: SIQUEIRA, J.E.; PROTA, L.; ZANCANARO, L. (org.). Biotica: estudos e reflexes. Londrina: Ed. UEL, 2000.

    OMMATI, J.E.M. Biotica e direito. Disponvel na Internet: Acesso em: mar. 2001.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    31

    SILVA, J.A. Liberdade de ir, vir e estar. In: CURY, Munir et.al. (coord.). Estatuto da Criana e do Adolescente Comentado. So Paulo: Malheiros Editores, 1992. Parte 5.

  • TEMA 3:

    ASPECTOS JURDICOS DA INTERVENO SOCIAL E

    PSICOLGICA NO PROCESSO DE ADOO

    3.1 Introduo. 3.2 Servios auxiliares: equipe

    interprofissional. 3.3 A atuao da equipe tcnica na

    rea da infncia. 3.4 A interveno na adoo. 3.5

    Fase extraprocessual. 3.6 Fase processual. 3.7 Aspectos

    processuais. 3.8 Consideraes finais.

    3.1 Introduo

    No se pode negar que o advento do

    Estatuto da Criana e do Adolescente

    proporcionou muitas crticas e reaes negativas,

    diante da maneira como foi tratado o problema

    do menor. Porm, revela-se uniforme a opinio

    quanto ao salto de qualidade e o avano da

    legislao menorista, que alterou

    significativamente a forma como era encarado o

    problema da criana e do adolescente.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    33

    Este novo enfoque acabou por atingir uma

    camada de profissionais advogados, psiclogos,

    assistentes sociais, que at ento, no mereciam a

    devida considerao da legislao menorista, no

    obstante a relevncia dos trabalhos desenvolvidos

    na rea.

    Assim, antes da vigncia do Estatuto, nos

    procedimentos denominados sindicncias,

    realizavam-se avaliaes denominadas sociais, em

    impressos com campos determinados para o

    preenchimento, como se fosse um questionrio,

    sem qualquer aprofundamento ou anlise das

    questes levantadas. Tais avaliaes eram

    efetivadas por comissrios de menores pessoas

    leigas, oficiais de justia, voluntrios, sem a

    necessria qualificao tcnica, para

    desempenhar tal mister.

    Por outro lado, os Juizes de Menores no

    exerciam na plenitude a funo judicante,

    voltando-se para um trabalho assistencialista, sem

    um apoio tcnico adequado e os Promotores de

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    34

    Justia e Advogados no eram considerados como

    funes essenciais Justia.

    Hoje a realidade outra. A Justia da

    Infncia e da Juventude proporcionou uma

    avaliao mais adequada dos atores envolvidos

    com o processo menorista, contemplando todos os

    segmentos que diretamente devem atuar para se

    alcanar o que melhor atenda aos interesses das

    crianas e dos adolescentes. Assim, referida a

    Justia, mesmo tendo como fonte primria a Lei,

    compreendeu que o seu campo de atuao no

    se limita apenas ao direito, requerendo uma

    interveno multidisciplinar, que proporcionou a

    abertura para que profissionais de outras reas,

    como psiclogos e assistentes sociais, passassem a

    auxiliar no encaminhamento dos problemas

    enfrentados.

    Destacou o Estatuto da Criana e do

    Adolescente, em seo prpria (arts. 150 e 151), a

    relevncia destes servios denominados auxiliares,

    composto por equipe interprofissional, cujo

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    35

    principal objetivo assessorar a Justia da Infncia

    e da Juventude.

    Constata-se, atualmente, que o Juiz passou

    a exercer a funo judicante, deixando de prestar

    assistncia social; o Ministrio Pblico atua em

    todos os procedimentos de infratores ou no,

    inclusive na defesa dos direitos coletivos e difusos; o

    Advogado defende os interesses do menor, seus

    genitores e responsveis; psiclogos e assistentes

    sociais integram o corpo tcnico com o objetivo

    de assessoramento.

    Esta forma de enfrentar os problemas

    judiciais revelou-se como exemplo para os outros

    campos do Direito, que alteraram a maneira de

    interveno processual, com uma viso

    multidisciplinar, notadamente no que diz respeito

    s questes familiares. certo que:

    [...] Cdigo Civil brasileiro, ao

    contrrio do que ocorre em

    outras legislaes estrangeiras,

    no previu a ocorrncia de

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    36

    pesquisa social (LEITE, 1997, p.

    203).

    Mas a interveno hoje ocorre em razo da

    experincia menorista, que proporcionou esta

    nova viso do assunto.

    3.2 Servios auxiliares: equipe interprofissional

    O legislador no especificou quais so e

    quem integra os servios auxiliares da Justia da

    Infncia e da Juventude, fazendo referncia

    apenas equipe interprofissional (ECA, art. 150 e

    151). No Estado de So Paulo, norma administrativa

    da Egrgia Corregedoria de Justia1, detalhou

    como servios auxiliares queles desenvolvidos por

    assistentes sociais, psiclogos e comissariado de

    menores voluntrio. No entanto, tal norma, poder

    no futuro incluir outros profissionais, como

    pedagogos, psiquiatras, etc.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    37

    O objetivo principal dos servios auxiliares,

    na definio do legislador menorista (ECA, art. 150)

    assessorar a Justia da Infncia e da Juventude

    mediante o fornecimento de subsdios por escrito

    atravs de laudos, ou verbalmente na audincia.

    Tambm desenvolve trabalhos de

    aconselhamento, orientao, encaminhamento,

    preveno, acompanhamento, ficando sob

    imediata subordinao ao Juiz2.

    Esta interveno, dependendo da forma e

    da oportunidade como ocorre, apresenta duas

    situaes distintas:

    a. o atuar do assistente social e psiclogo

    equivale-se ao perito judicial, na medida em

    que observa, investiga e conclui seu

    trabalho com a apresentao de um lado,

    1 Provimento CG 50/89 Cap. XI n. 23 Bloco de atualizao n. 3. 2 A legislao francesa - Cdigo Civil, art. 287-1 - estabelece como objetivo da pesquisa social, obter o maior nmero possvel de informaes sobre a situao material e moral da famlia, sobre as condies nas quais vivem e so criados os filhos e sobre as medidas que devem ser tomadas no interesses deles.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    38

    diagnosticando as situaes que envolvem

    a criana ou o adolescente e sua famlia,

    com os encaminhamentos pertinentes ao

    caso; ou,

    b. desempenha funes de execuo,

    quando realiza o trabalho de

    acompanhamento, orientao,

    encaminhamento visando propiciar

    mudanas na realidade constatada no

    procedimento.

    De uma forma ou de outra, tal mister de

    suma relevncia para a rea da Infncia e da

    Juventude, uma vez que a interveno tcnica,

    adentra em questes que fogem esfera do

    direito, mas que se mostram extremamente

    relevantes para o destino final do processo.

    Exerce, ademais, um papel preventivo importante,

    quando detectam situaes de risco a exigir

    imediata resposta jurisdicional.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    39

    A interveno da equipe interprofissional

    no obrigatria3 nos procedimentos da vara da

    Infncia e da Juventude, manifestando a

    Jurisprudncia no sentido de que, se o

    procedimento rene elementos suficientes para o

    julgamento, os laudos tcnicos so prescindveis4.

    Por outro lado, pode ocorrer a interveno social

    ou psicolgica, ou as duas em conjunto,

    dependendo da necessidade revelada pela

    situao em concreto.

    O avano apresentado pelo Estatuto em

    relao atuao complementar da equipe

    interprofissional na rea da Infncia, no guardou

    a mesma proporo quanto tcnica legislativa

    adotada para tratar do assunto. Com efeito, o

    estatuto ora fala em estudo social ou percia por

    equipe interprofissional (art. 161, 1, 162, 2 e

    167) ou em relatrio da equipe interprofissional (art.

    186, 4). Em provimentos regulamentados a

    3 ECA, art. 161, 1, 162, 2, 167 e 186, 4. 4 Tribunal de Justia: Apelao Cvel n. 17.626-0, Relator: Des. Lair Loureiro. Campinas 13.05.93; Apelao Cvel n. 38.241-0, Relator: des. Cunha Bueno. Ribeiro Pires 28.08.97.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    40

    atuao dos tcnicos, utilizada ainda a

    expresso avaliao psicossocial (art. 1, pargrafo

    nico do Provimento CG/SP 12/95). Melhor seria

    seguir as regras da prova pericial adotadas pelo

    Cdigo de Processo Civil (art. 420 a 439),

    unificando-se as designaes5.

    Tambm no especificou como se

    desenvolve a elaborao dos trabalhos tcnicos,

    principalmente no que diz respeito a prazo,

    quesitos, presena de assistente tcnico, suspeio

    e impedimento da profissional. No entanto, com

    relao a estas questes, por expressa disposio

    do artigo 152 do Estatuto da Criana e do

    Adolescente aplicam-se subsidiariamente as

    normas gerais da legislao processual pertinente,

    no caso, das regras quanto elaborao das

    percias estabelecidas pelo Cdigo de Processo

    5 Estabelece o artigo 420 do C.P.C. que a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliao. Esclarece Ernane Fidelis dos Santos, que o exame feito sobre as pessoas, animais e coisas mveis, para apurar fatos e circunstncias que a eles disser respeito. A vistoria o mesmo exame feito sobre coisas imveis e a avaliao, o valor em dinheiro das coisas examinadas (Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. vol.III. Rio de Janeiro: 1980, pg. 160).

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    41

    Civil, com as adaptaes necessrias decorrentes

    das peculiaridades advindas da rea menorista.

    3.3 A atuao da equipe tcnica na rea da

    infncia

    A interveno da equipe tcnica, visa

    assessorar a Justia da Infncia e da Juventude e

    pode ocorrer em qualquer situao que justifique a

    elaborao de estudo/percia para melhor

    apreciao da situao da criana, do

    adolescente ou de sua famlia.

    Basicamente, podem ser especificadas as

    seguintes situaes que justificam a interveno:

    na colocao em famlia substituta;

    elaborao dos cadastros para

    adoo;

    nas hipteses de crianas e

    adolescentes em situao de risco;

    nos procedimentos relativos a atos

    infracionais inclusive quanto ao

    acompanhamento do cumprimento

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    42

    das medidas scio educativas ou

    protetivas.

    em qualquer outra situao que se

    mostre necessria art. 153

    constatao de irregularidade em

    entidades de atendimento

    De forma mais explicita, a equipe

    interprofissional manifesta-se nos casos de adoo,

    guarda, tutela, destituio ou suspenso do ptrio

    poder; suprimento de consentimento e de idade,

    queixas de conduta, vitimizao, pedidos

    baseados em discordncia paterna ou materna,

    em relao ao exerccio do ptrio poder,

    emancipao, alimentos, procedimentos

    contraditrios relativos a ato infracional, aes civis

    pblicas e aes decorrentes de irregularidade em

    entidades.

    Esta interveno pode ser determinada

    diretamente pelo Juiz ou a requerimento da parte

    interessada (Advogado ou Promotor de Justia),

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    43

    quando o trabalho da equipe corresponder a um

    laudo pericial, sendo uma interveno judicial.

    Em outras situaes, a interveno pode ser

    provocada diretamente pela equipe tcnica, se se

    constatar a necessidade da elaborao de

    percia, quando da realizao de planto ou

    triagem, correspondendo, na maioria das vezes em

    interveno extraprocessual que poder redundar

    em procedimentos judiciais.

    A interveno tcnica, como j consignado,

    no obrigatria. Contudo, mostra-se relevante e

    de extrema importncia para o desfecho a ser

    dado nos procedimentos e encaminhamentos da

    Infncia e da Juventude, revelando-se necessria

    e indispensvel para a apreciao dos casos.

    Como percia tcnica, revela-se um meio de

    investigao da qual as partes no podem abrir

    mo, constituindo-se em prova relevante para a

    apreciao da demanda. Em determinadas

    situaes, como nos procedimentos decorrentes

    de atos infracionais, apesar de no fornecer

    elementos diretos a respeito fato investigado (crime

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    44

    ou contraveno penal = ato infracional), oferece

    subsdios importantes para eventual aplicao da

    medida scio educativa.

    3.4 A interveno na adoo

    O processo de adoo revela-se como um

    dos mais importantes na rea da Infncia e da

    Juventude, posto que objetiva a colocao de

    criana ou adolescente em lar substituto, de forma

    definitiva e irrevogvel. Revela-se desta forma,

    como um processo que requer:

    [...] um certo conhecimento da

    lei, compreenso do

    desenvolvimento emocional do

    ser humano a partir do incio da

    vida e tambm experincia no

    estudo social do caso (MOTTA,

    2000, p. 136).

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    45

    A par de sua importncia, constata-se que

    tal processo no se inicia como ocorre

    normalmente nos outros feitos menoristas.

    O processo de adoo, na maioria das

    vezes, requer uma fase preliminar de preparao e

    inscrio das partes interessadas em adotar

    (cadastro de interessados adoo) bem como

    da situao da criana ou do adolescente a ser

    adotado, o que revela sua peculiaridade diante

    do sistema legal.

    Diante da situao revelada durante a

    instruo do processo de adoo, no raras vezes,

    torna-se necessria continuidade da interveno

    da Justia Menorista, mesmo aps a constituio

    do vnculo adotivo, com o acompanhamento do

    caso.

    Estas consideraes revelam que a

    interveno tcnica no processo adotivo

    complexa, assumindo uma viso multifocal do

    problema, ou seja, no s dos pretendentes

    adoo, mas tambm (e principalmente) das

    crianas e adolescentes adotveis e em fases

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    46

    distintas, podendo ser consideradas:

    Fase extraprocessual:

    quando do cadastro dos interessados

    adoo, analisando o casal pretendente (pr-

    processual).

    quando da anlise da situao da criana ou

    do adolescente que necessita ser colocado em

    lar substituto (adoo pr processual).

    na hiptese de acompanhamento posterior ao

    deferimento da adoo (psprocessual).

    Fase processual:

    Quando a interveno tcnica ocorre durante

    a tramitao do processo de adoo em

    Juzo.

    A interveno tcnica no processo adotivo

    tem por objetivo especfico verificar se os

    requerentes renem condies sociais e

    psicolgicas para assumirem a adoo e se caso

    da criana ou o adolescente ser colocado

    disposio para adoo.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    47

    3.5 Fase extraprocessual

    Este modelo de interveno extraprocessual

    atende as diretrizes sugeridas no I Congresso

    Interdisciplinrio de Adopcin Nacional y del Cono

    Sur, relatada Maria Antonieta Pisano Motta

    (MOTTA, 1998, p. 136) como sendo:

    a) uma etapa prvia de orientao

    psicolgica com funo diagnstico-

    teraputica realizada em grupo com os

    futuros adotantes, devendo no exceder

    90 dias e tendo por objetivo adapt-los

    incluso do menor na famlia;

    b) acompanhamento realizado aps a

    adoo, para superar as dificuldades dos

    pais que no tiveram a oportunidade

    de gestar o filho por nove meses, integrar

    a criana famlia. Acrescenta que

    nesta fase no apenas a deciso de

    adotar da maior importncia, como

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    48

    tambm o ajustamento ao papel de pais

    pode ser difcil.

    A interveno com base nestas diretrizes,

    tem a finalidade de evitar que ocorram adoes,

    que de alguma maneira poderiam estar fadadas

    ao insucesso, com a conseqncia natural

    decorrente de tal fracasso para os adotantes e

    adotados (crianas e adolescentes). Inclui-se nesta

    fase:

    Cadastro dos interessados adoo Estabeleceu o Estatuto da Criana e do

    Adolescente no artigo 50, a obrigatoriedade da

    Autoridade Judiciria manter em cada comarca

    ou foro regional um registro de pessoas

    interessadas na adoo.

    No Estado de So Paulo, este cadastro foi

    regulamentado pela Corregedoria Geral de Justia

    atravs do Provimento n. CG-12 de 06 de julho de

    1995. No procedimento estabelecido, aps a

    apresentao do requerimento pelo interessado,

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    49

    devidamente acompanhado dos documentos

    pertinentes (art. 165 do ECA), realizada avaliao

    psicossocial, no prazo de 15 dias, indo os autos em

    seguida com vista Promotoria para

    manifestao, e aps ao Juiz para deciso.

    Nesta oportunidade, o papel fundamental

    da equipe tcnica no se refere aos requisitos de

    natureza legal, previstos no prprio estatuto e que

    sero objetos de anlise pela Promotoria e Juizado.

    O objetivo, conforme estabelece a prpria lei

    (ECA, artigos 29 e 50, 2) analisar a

    compatibilidade dos pretendentes com a

    natureza na medida, oferecendo ambiente familiar

    adequado criana ou adolescente. Em termos

    menos legalistas, verificar junto aos pretendentes

    a capacidade de estabelecer relaes afetivas

    como pais psicolgicos.

    Nesta oportunidade, esclarece Maria

    Antonieta Pisano Motta:

    H alguns aspectos a serem

    considerados na considerao

    dos candidatos a adotantes, tais

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    50

    como a forma como falam de

    outras pessoas, principalmente

    seus parentes; a maneira como

    se tratam mutuamente; a forma

    como tratam a pessoa que est

    realizando as entrevistas; a

    capacidade de enfrentar

    dificuldades com coragem e de

    refletir com sensatez sobre a

    melhor maneira de lidar com

    elas. Caracterstica indispensvel

    para os pais adotivos, pois

    essencial que tenham

    capacidade de assumir alguns

    riscos, assim como o para os

    pais naturais (MOTTA, 1998, p.

    137).

    Apresenta-se de suma relevncia para a

    anlise da pretenso dos interessados a motivao

    para a adoo (necessidade compensatria em

    razo de falecimento de filho, esterilidade,

    infertilidade, sentimento de piedade, motivos

    religiosos, etc.).

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    51

    bem verdade que a interveno prvia

    dos tcnicos junto aos interessados no cadastro

    adoo, no garante o sucesso da adoo. No

    entanto, revela-se de extrema importncia, posto

    que se pode minimizar a ocorrncia de adoo

    mal sucedida.

    Questo de real relevncia refere-se

    concluso negativa do setor tcnico quanto

    admisso dos interessados no cadastro adoo.

    A Lei menorista, nos artigos 50. 2 e 29,

    estabelece que:

    Art. 50, 2 - No ser deferida

    a inscrio se o interessado no

    satisfizer os requisitos legais, ou

    verificada qualquer das

    hipteses previstas no artigo 29.

    ...............................................................

    Art. 29 No se deferir a

    colocao em famlia substituta

    a pessoa que revele por

    qualquer modo,

    incompatibilidade com a

    natureza da medida ou no

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    52

    oferea ambiente familiar

    adequado.

    Verificando o setor tcnico qualquer

    situao que se enquadre no dispositivo legal, com

    incompatibilidade da medida ou ambiente familiar

    adequado, deve apresentar avaliao contrria

    pretenso dos interessados. No entanto, esta

    avaliao, somente deve ser lanada, aps a

    concesso de oportunidade aos interessados para

    reverter situao colocada como empecimento

    pretenso, com eventual tratamento ou

    participao em grupos de apoio.

    No que se refere idade dos interessados,

    pode a equipe tcnica apresent-la como fato

    impeditivo do cadastro, somente na hiptese de se

    inscreverem pessoas menores de 21 anos de idade

    (ECA, art., 42). Nas demais situaes, ou seja, de

    pessoas idosas interessadas em adotar, diante da

    ausncia de previso legal, as consideraes a

    respeito devem ser feitas, mas a idade, por si s

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    53

    no motivo suficiente para impedir o cadastro6.

    No entanto, tendo em vista que na adoo h

    certa similitude com a famlia biolgica, tanto que

    a lei estabeleceu a necessidade de ocorrer uma

    diferena de idade entre adotantes e adotados

    (16 anos ECA., art. 42, 3) e levando-se em

    considerao que uma mulher, dependendo da

    idade, no mais pode gerar filhos biolgicos, deve-

    se evitar a adoo de crianas, com pouca idade,

    por pretendentes idosos. Estes, no esto

    impedidos de adotar, mas devem buscar menores

    com mais idade, para evitar problemas futuros.

    Conclui-se em face do cadastro dos

    interessados adoo e da interveno da

    equipe tcnica que:

    6 Adoo Deciso que indeferiu o pedido de inscrio do casal no cadastro de pretendentes adoo, com base em parecer psicolgico que considerou a idade avanada dos pretendentes Inadmissibilidade. Instituto que se sujeita anlise de condies genricas, com as condies morais e materiais, no constituindo a idade empecilho concesso da adoo. Deferida, assim, a mencionada inscrio TJSP RT 723/306.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    54

    [...] ao contrrio do que muitos

    imaginam, adotar no um

    direito dado a todos. Como

    cabe ao Estado-Juiz promover a

    colocao em lar substituto (do

    qual a adoo uma das

    formas), os interessados tm que

    submeter s suas regras, entre

    estas, a submisso s avaliaes

    tcnicas (PACHI, 1998, p. 25).

    Grupo de apoio adoo Tomado como parte do processo de

    avaliao do interessado na adoo ou mesmo

    como servio auxiliar de orientao para aqueles

    que j adotaram, verifica-se que a formao de

    grupos de apoio adoo pela equipe tcnica

    tem se mostrado de extrema relevncia para o

    melhor encaminhamento dos casos. Estes grupos

    devem ser realizados preferencialmente antes de

    concretizao a adoo.

    A justificativa para realizao de tal trabalho

    fundamenta-se na situao da criana e do

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    55

    adolescente adotivo que de certa forma,

    apresentam inadaptaes ao ambiente familiar e

    no despreparo das pessoas e famlias interessadas

    na adoo. Trata-se de um trabalho que pode ser

    caracterizado como:

    a) complementar, quando o pblico alvo se

    constituir de pessoas que j adotaram;

    b) preventivo e avaliatrio, quando ocorrer

    participao de pessoas que ainda no

    adotaram e esto requerendo a inscrio

    no cadastro.

    O objetivo principal do grupo de apoio

    formado pela equipe tcnica o preparo dos

    interessados adoo, onde sero discutidas

    questes referentes motivao pessoal para a

    adoo, revelao, preconceitos, fases do

    desenvolvimento infantil, procedimento judicial da

    adoo, entre outros.

    A participao dos interessados em grupos

    desta natureza apresenta reflexos no processo de

    adoo, uma vez que deve ser considerado o

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    56

    resultado da avaliao, quando da anlise dos

    requisitos de natureza subjetivos da adoo7.

    Avaliao da criana ou adolescente para

    adoo

    Da mesma forma que a avaliao dos

    interessados de suma importncia para o

    processo adotivo, no se pode negar que a

    interveno tcnica junto criana ou o

    adolescente a ser colocado adoo revela-se

    de singular relevncia, ganhando grau de

    dificuldade proporcional idade do menor.

    Esta avaliao, normalmente se realiza em

    procedimentos antecedentes (destituio de

    ptrio poder, pedido de providncias, guarda,

    etc.) para possibilitar a futura adoo da criana

    ou do adolescente. Posteriormente, quando do

    processo de adoo, pode ocorrer nova

    7 Estabelece o artigo 43 do ECA. que a adoo ser deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legtimos. Estes motivos legtimos podem ser avaliados quando da participao do interessado no grupo de apoio.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    57

    interveno junto ao adotado, mas com outra

    conotao, ou seja, para constatao de sua

    adaptao (estgio de convivncia) e das

    vantagens do processo adotivo.

    At a criana ou o adolescente ser colocado

    disponvel adoo, h um longo caminho a

    percorrer, no qual se busca mant-lo junto famlia

    de origem, com encaminhamentos resultantes das

    medidas de proteo (ECA, art. 101) e das

    aplicveis aos pais (ECA, art. 129) previstas no

    Estatuto.

    Somente quando esgotadas estas

    providncias, desde que no haja risco maior para

    a criana ou o adolescente, que se deve

    coloc-los disponveis adoo. Este trabalho, na

    maioria das vezes, compete equipe tcnica, que

    deve estar atenta questo temporal, para evitar

    que uma soluo tardia venha a prejudicar o

    direito convivncia familiar da criana.

    O aspecto jurdico desta interveno revela-

    se na segurana do encaminhamento a ser dado

    criana ou adolescente, possibilitando s partes

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    58

    envolvidas no processo adotivo uma anlise

    completa da situao e no somente dos

    interessados adoo. Alis, ao estabelecer o

    Estatuto que a adoo somente ser deferida

    quando apresentar reais vantagens ao adotando

    (ECA, art. 43), coloca tal interveno em destaque,

    j que a adoo deve satisfazer no somente o

    interesse de quem adota, mas, principalmente de

    quem est sendo adotado. E tal circunstncia

    pode ser revelada na avaliao realizada pela

    equipe tcnica junto criana ou o adolescente a

    ser adotado.

    Acompanhamento posterior adoo

    Como j afirmado, a interveno prvia da

    equipe tcnica, no representa a garantia de uma

    adoo com sucesso. No raras vezes, os

    encaminhamentos preliminares da adoo no

    surtem os efeitos desejados, aparecendo

    problemas posteriores decorrentes na nova

    relao estabelecida.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    59

    Por outro lado, muitas situaes podem ser

    camufladas durante o processo de adoo, uma

    vez que, at a sua finalizao:

    [...] os pais adotivos sentem que

    eles e a criana esto sendo

    avaliados, sentem-se inseguros

    quanto aos resultados desta

    avaliao, o que por sua vez

    dificulta conduo do estado

    de intimidade (MOTTA, 1998, p.

    125).

    Questes anteriormente tratadas, como a

    revelao e preconceito, passam a fazer parte do

    cotidiano desta nova famlia, necessitando os pais

    adotivos de auxlio direto:

    [...] para detectar e solucionar as

    ameaas que imaginam

    envolvidas na adoo com

    medo de no conseguir

    competir com a memria real ou

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    60

    fantasiada dos pais naturais,

    sentimentos de incapacidade

    para exercer a funo de pais,

    etc. (MOTTA, 1998, p. 127).

    Estas situaes justificam a interveno da

    equipe tcnica com acompanhamento posterior a

    concretizao da adoo, visando o sucesso da

    medida e principalmente o bem estar da criana

    ou do adolescente adotado.

    O certo que, uma vez deferida a adoo,

    a mesma irrevogvel, com a elaborao de

    nova certido de nascimento que possibilita at a

    alterao do nome do menor. Porm, esta nova

    situao jurdica da criana ou do adolescente

    adotado no altera a situao pessoal e

    emocional pela qual passou. Assim, se

    juridicamente possvel se estabelecer uma nova

    famlia, apagando-se inclusive os registros

    anteriores, emocionalmente o problema mais

    delicado. Deflui-se desta situao, que o

    acompanhamento posterior concretizao da

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    61

    adoo, extremamente til, para que o ciclo

    adotivo se complete satisfatoriamente.

    Este acompanhamento pode ser

    individualizado com a famlia e a criana ou

    adolescente adotado ou em grupos de apoio,

    como j mencionado. A vinculao dos

    interessados de suma relevncia e ocorrer

    naturalmente, principalmente se os pretendentes

    participaram anteriormente de grupos de apoio e

    orientao, quando da elaborao do cadastro

    dos interessados adoo. Porm, pode tambm

    ser necessrio tal acompanhamento, como

    decorrncia de medida judicial aplicada aos pais

    adotivos ou ao filho adotado, conforme

    estabelece o ECA nos artigos 129, IV e 101, II.

    3.6 Fase processual

    De extrema relevncia o estudo social ou a

    percia realizada pela equipe interprofissional

    quando do pedido de adoo. Sua importncia

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    62

    ressalta-se em razo da possibilidade de ser

    formulado pedido por pessoa que no se cadastrou

    previamente junto ao Juizado da Infncia e da Juventude8,

    no tendo sido avaliada anteriormente.

    Da redao legal, extrai-se que a

    interveno da equipe tcnica no processo

    adotivo pode ocorrer de duas formas: a)

    realizao de estudo social; e b) percia por equipe

    interprofissional9, ou seja, pode ser realizado

    apenas o estudo do caso pela assistente social ou

    a avaliao psicossocial em conjunto com a

    psicloga. Em cada caso que se verificar a

    necessidade de um ou dos dois estudos. A

    princpio, caso os adotantes j estejam

    cadastrados no Juizado, a realizao do estudo

    social o bastante. No entanto, no impede que

    seja feita recomendao da avaliao

    psicolgica tambm nestes casos. Na hiptese de

    8 O Tribunal de Justia do Estado de So Paulo tem decidido que o cadastro serve apenas de auxlio, no sendo requisito essencial para o processo de adoo. Agravo de instrumento n. 43.239-0 So Paulo Cmara Especial. Relator: Alves Braga 04.06.98 e Embargos de Declarao n. 40.748-0 So Paulo. Cmara Especial. Relator Alves Braga. 30.07.98.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    63

    no ter sido cadastrado previamente, a percia

    pela equipe tcnica indispensvel.

    A concluso do estudo social ou da percia

    no vincula o Juzo, dada a adoo do princpio

    do livre convencimento estabelecido no Cdigo

    de Processo Civil e que se aplica subsidiariamente

    na rea menorista10. Conforme adverte Luiz Carlos

    de Azevedo:

    [...] ao julgar, o juiz no estar

    adstrito s concluses a que

    chegarem percia ou o estudo

    social, podendo formar sua

    convico com base em outros

    fatos ou provas que nos autos se

    encontrem. Assim se expressara,

    tambm, Francisco Augusto das

    neves e Castro, em sua Teoria

    das Provas e sua Aplicao aos

    Atos Civis:... os Juizes no so

    obrigados a seguir risca a

    opinio dos peritos, podendo

    9 ECA. arts. 162, 1 e 167.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    64

    apreci-la como entender em

    sua conscincia e compar-la

    com outros gneros de provas

    adotados no processo, dando

    maior crdito que lhes parecer

    mais aceitvel (cf. 2 ed. de

    1917, posta de acordo com o

    Cdigo Civil por Pontes de

    Miranda, p. 152 )(AZEVEDO, L.C.

    apud CURY, 1992, p. 473).

    Na rea menorista, est devidamente

    prescrito que a equipe tcnica tem a funo de

    assessorar a Justia da Infncia e da Juventude.

    Logo, os laudos no podem ser aceitos sem

    qualquer questionamento, posto que se assim

    ocorrer, acabariam substituindo a deciso judicial

    e os peritos assumindo a funo de julgador.

    Tais laudos devem ser analisados com

    relao s outras provas efetivadas nos autos (ex.

    testemunhal, documental, etc.) para possibilitar

    um julgamento correto. No entanto, esclarece

    10 ECA., art. 152 e Cdigo de Processo Civil, artigo 436.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    65

    Ernane Fidelis dos Santos quanto relevncia da

    percia sobre as outras provas:

    Sob o aspecto substancial, no

    entanto, no confronto com

    outros meios probatrios, por ser

    prova eminentemente tcnica, o

    juiz, ao sopesar a percia, h que

    lhe dar certa prevalncia.

    ...............................................................

    A percia, desde que admitida,

    presume ser prova altamente

    valiosa, pois, em torno do fato,

    vai atuar pessoa dotada de

    conhecimentos especiais, para

    lhe facilitar o entendimento. Da

    o juiz, para contrariar as

    concluses periciais, estar

    obrigado, sob pena de proferir

    sentena nula, a indicar os

    motivos que lhe formaram o

    convencimento [...] (SANTOS,

    E.F., 1980, p. 188).

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    66

    Do que foi exposto, no se pode negar a

    importncia do estudo social ou da percia

    interprofissional no processo adotivo.

    Mas, indaga-se: qual o seu objetivo? O que

    deve almejar o estudo tcnico? Estas questes so

    extremamente importantes, para verificar a ratio

    jris da interveno dos assistentes sociais e

    psiclogos no processo de adoo.

    No processo de adoo, no qual ocorra o

    contraditrio, verifica-se a presena das partes

    (correspondente aos pretendentes adoo e os

    genitores biolgicos), com seus respectivos

    Advogados, do Ministrio Pblico e do Juiz. Todos

    envolvidos numa questo onde o objetivo principal

    o destino de uma criana ou de um adolescente.

    natural, pois, que a soluo processual seja

    aquela que melhor atenda aos interesses do

    adotado, ou como diz a lei, aquela que apresentar

    reais vantagens ao mesmo (ECA, art. 43). Esta

    identificao de objetivo pode ser comum entre

    Magistrado e Ministrio Pblico, sendo que em

    relao ao advogado, o interesse do adotando,

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    67

    de certa forma, ser aquele que coincida com o

    da parte que o mesmo patrocina no processo.

    Em outras palavras, difcil conceituar o que

    vem a ser o interesse do adotando, diante desta

    dualidade de posies. O assistente social e o

    psiclogo surgem neste processo adotivo, com

    esta situao definida envolvendo os interesses do

    menor, as partes, Advogados, Promotores e Juzes.

    A presena do tcnico no processo adotivo,

    visa identificar estes interesses do adotando -

    crianas e adolescentes, ou seja, buscar a soluo

    que melhor atenda aos seus interesses e lhes

    apresentem reais vantagens, ou como definem

    alguns doutrinadores o bem do menor. Trata-se

    de uma questo que envolve critrio subjetivo,

    com elementos no palpveis, como interesse

    moral, interesse futuro, interesse familiar, afinidade,

    afetividade, reais vantagens, etc.

    Assim, a razo da interveno tcnica no

    processo adotivo de auxiliar o Judicirio, e

    indiretamente as partes do processo, na busca do

    que representa o bem do menor ou a soluo

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    68

    que melhor atenda aos interesses da criana ou do

    adolescente a ser adotado, levando-se em

    considerao suas condies pessoais e morais

    bem como daqueles que pretendem adot-los.

    Eduardo de Oliveira Leite, analisando a

    Jurisprudncia, aponta algumas situaes que levam

    a identificao deste interesse, como:

    [....] o desenvolvimento fsico e

    moral da criana, a qualidade

    de suas relaes afetivas e sua

    insero no grupo social

    constituem pontos de referncia

    do interesse do menor. Outros

    Juzes levam em considerao a

    pessoa da criana, como a

    idade, o sexo, a irmandade

    (LEITE, 1997, p. 197).

    O Estatuto da Criana e do Adolescente

    aponta como referencial para a identificao do

    interesse do menor, questes como: grau de

    parentesco, relao de afinidade ou de

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    69

    afetividade (art. 28, 2), ambiente familiar

    adequado (art. 29), ambiente livre de presena de

    pessoas dependentes de substncia entorpecente

    (art. 19), motivos legtimos para a adoo (art.43).

    O papel da equipe tcnica identificar este

    interesse, a fim de minorar as conseqncias da

    medida a ser tomada. Para tanto, deve lanar

    mo de todos os meios disponveis para o melhor

    desenvolvimento de seus trabalhos, analisando as

    partes do processo (pretendentes adoo e

    genitores biolgicos) e o menor a ser adotado, que

    deve ser entrevistado, pois sua opinio deve ser

    levada em considerao, diante da expressa

    determinao do Estatuto da Criana e do

    Adolescente (arts. 28, 1 e 45, 2).

    Um estudo social ou percia realizada com

    base nestes fundamentos possibilita a

    determinao do interesse do menor, auxiliando

    na soluo jurdica que melhor atenda ao

    adotado, ou a que seja menos ruim para o seu

    desenvolvimento.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    70

    Por fim, cumpre anotar que o preparo do

    corpo tcnico de suma importncia para uma

    interveno satisfatria no processo de adoo.

    Com efeito, ir lidar com questes delicadas

    envolvendo relaes humanas, com uma ruptura

    da ligao entre me/filho e a constituio de

    uma nova famlia, que pode se iniciar com um

    adotante solteiro, do sexo masculino11 ou pretendentes

    homossexuais. Identificar as reais vantagens do

    processo adotivo frente a estas consideraes

    exige uma boa qualificao do tcnico.

    3.7 Aspectos processuais

    Quanto aos aspectos processuais da

    interveno da equipe interprofissional no processo

    de adoo, algumas consideraes devem ser

    feitas, tendo como referencial o Cdigo de

    Processo Civil, que se aplica subsidiariamente ao

    11 Estabelece o Estatuto da Criana e do Adolescente que podem adotar os maiores de 21 anos de idade, independente de estado civil (art.42).

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    71

    Estatuto da Criana e do Adolescente (art. 152),

    centrando a questo no problema da percia

    tcnica e no no estudo social.

    Assim, no que se refere ao prazo para a

    entrega do laudo pericial, estabelece o artigo 421

    do Cdigo de Processo Civil, que compete a

    Autoridade Judiciria fix-lo, sendo que por motivo

    justificado, pode ser prorrogado, segundo seu

    prudente arbtrio (CPC, art. 432). No Estado de

    So Paulo, o Provimento n. 12/95 que trata do

    cadastro de pessoas interessadas em adoo,

    fixou em 15 dias o prazo para a entrega da

    avaliao psicossocial.

    O tcnico, quando desempenha o papel de

    perito, pode escusar-se ou ser recusado por

    impedimento ou suspeio, podendo tambm ser

    impugnada a sua nomeao (CPC, artigos 138, III

    e 423).

    O Cdigo de Processo Civil, entre outras

    circunstncias (art. 134), considera impedido o

    perito que parte no processo; quando nele

    estiver postulando, como advogado da parte, o

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    72

    seu cnjuge ou qualquer outro parente seu,

    consangneo ou afim, em linha reta; ou na linha

    colateral at o segundo grau; quando cnjuge,

    parente, consangneo ou afim, de alguma das

    partes.

    Por suspeito (CPC, art. 135), o perito considerado

    amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer das

    partes; quando alguma das partes for credora ou

    devedora do perito, seu cnjuge, ou de parentes

    destes em linha reta ou na colateral at o terceiro

    grau; interessado no julgamento da causa em

    favor de uma das partes, entre outras hipteses.

    Sendo a percia uma prova de extrema

    relevncia, pode a parte interessada apresentar a

    quesitos e indicar assistente tcnico para

    acompanh-la. Esta circunstncia possibilita

    melhor debate da causa, com a anlise de todas

    as vertentes do caso, apresentando elementos

    para eventual impugnao das concluses do

    laudo oficial.

    Nas comarcas onde no existe corpo

    tcnico de assessoramento, diante da relevncia

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    73

    da demanda, pode-se nomear perito assistente

    social e psiclogo que no pertenam ao quadro

    do Judicirio, uma vez que no interesse do menor,

    todas as alternativas para a regular instruo do

    processo devem ser realizadas.

    Estabelece o Estatuto que o trabalho do corpo

    tcnico pode ser fornecido por escrito, mediante

    laudos ou verbalmente, na audincia (ECA, art.

    151). Esta forma oral de apresentao do trabalho

    tcnico visa dar rapidez ao julgamento das

    demandas, no se tratando de um depoimento

    equivalente ao de uma testemunha. Trata-se

    apenas de uma forma de apresentao do laudo,

    como ocorre com o Ministrio Pblico que pode

    oferecer representao oralmente em face de um

    adolescente infrator. (ECA, 182, 1).

    Como testemunha, qualquer integrante do

    corpo tcnico, pode prestar esclarecimentos a

    respeito de seu trabalho, observando duas regras

    do Cdigo de Processo Civil, aplicveis no caso. A

    primeira, refere-se a forma como o depoimento

    prestado, ou seja, caso a parte esteja interessada

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    74

    em esclarecimentos do perito, deve requerer ao

    Juiz, apresentando desde logo, as perguntas, em

    forma de quesitos, que pretende esclarecer12. A

    segunda regra estabelece que a assistente social

    ou o psiclogo no esto obrigados a depor sobre

    fatos, a cujo respeito devam guardar sigilo13.

    Destacou-se at o momento, a importncia

    do estudo social e da percia interprofissional para

    o processo adotivo. Contudo, mesmo

    representando um elemento de prova de extremo

    valor e no obstante as concluses a serem

    lanadas, a verdade que na adoo de

    adolescente, seu acolhimento fica sujeito

    vontade do adotado. Com efeito, o Estatuto da

    Criana e do Adolescente condicionou o

    deferimento da adoo a concordncia do maior

    de 12 anos de idade (Art. 45, 2). Assim, mesmo

    que o estudo social ou a percia sejam favorveis

    adoo, referidos estudos somente sero

    12 CPC., art. 435. 13 CPC., art. 406, II.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    75

    acolhidos, se o adotado concordar com a

    pretenso dos adotantes.

    3.8 Consideraes finais

    A melhoria do sistema envolvendo a criana

    e o adolescente seja ele adotivo, em situao de

    risco ou infrator, requer uma aliana social, com a

    exata compreenso da prioridade absoluta

    estabelecida na lei, tendo-o como pessoa em

    desenvolvimento.

    Esta aliana envolve todos aqueles que

    lidam diretamente com o problema Juzes,

    Promotores, Advogados, Assistentes Sociais,

    Psiclogos -, sendo que da atuao

    comprometida de cada um com a causa

    menorista que a lei pode se revelar um

    instrumento eficiente na resoluo da

    problemtica da infncia, com uma melhora na

    qualidade da interveno nos processos menorista.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    76

    A equipe interprofissional, formada por

    psiclogos e assistentes sociais, assume nesta

    aliana, papel de extrema relevncia, dada a

    forma como intervm no processo de adoo,

    podendo atuar afim de que a criana ou o

    adolescente adotado tenha um futuro menos

    traumatizante e mais promissor.

    Referncia bibliogrfica AZEVEDO, L.C. Estudo social e percia. In: CURY, M. et.al. (coord.). Estatuto da Criana e do Adolescente Comentado. So Paulo: Malheiros Editores, 1992. CURY, Munir (organizador). Infncia e cidadania. So Paulo: InorAdopt, 1998. v. 2.

    CURY, Munir, SILVA, Antonio Fernando do Amaral e MENDEZ, E.G. (coord.). Estatuto da criana e do adolescente comentado. So Paulo: Malheiros, 1992.

    Direito de Famlia e Cincias Humanas. So Paulo: Editora Jurdica Brasileira, 2000 (Cadernos de estudos n. 01 e 03). Vrios autores.

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    77

    LEITE, Eduardo de Oliveira. Famlias monoparentais. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997. MOTTA, M.A.P. Adoo Algumas contribuies psicanalticas. In: SUANNES, A. et.al. Direito de famlia e Cincias Humanas. So Paulo: Ed. Jurdica Brasileira, 2000, pg. 136 (Cadernos de Estudos, n. 1).

    PACHI, C.E. A atuao do setor tcnico junto s Varas da Infncia e Juventude. CURY, M. (org.). In: Infncia e Cidadania. So Paulo: InorAdopt, 1998. v.2. SANTOS, Ernane Fidelis. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. Vol. III. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1980.

  • TEMA 4:

    CONSELHO TUTELAR:

    SUA ATUAO FRENTE AOS PARCEIROS SOCIAIS

    A partir da vigncia da atual Constituio e

    do Estatuto da Criana e do Adolescente,

    verificou-se um expressivo processo de mobilizao

    e fortalecimento da sociedade civil para assumir,

    em conjunto com o Estado e com a famlia, os

    problemas enfrentados na rea da infncia e da

    juventude. Institui-se uma nova fase, com a

    denominada democracia participativa,

    estabelecendo-se uma parceria com a partilha da

    responsabilidade entre a sociedade civil e o Estado

    quanto s crianas e adolescentes.

    Para a concretizao desta nova fase,

    como forma de descentralizao do poder e

    fortalecimento da sociedade civil, a Lei menorista

    criou o CONSELHO TUTELAR, como rgo

    permanente e autnomo, no jurisdicional,

    encarregado pela sociedade de zelar pelo efetivo

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    79

    cumprimento dos direitos das crianas e dos

    adolescentes.

    Responsvel pelos problemas das crianas e

    adolescentes relacionados justia social,

    desempenha suas atribuies em parceria com

    todos aqueles rgos, instituies, organizaes e

    pessoas (Conselhos Municipais, Policia Civil e Militar,

    Universidade, ONG, Secretarias de Governo,

    Associaes de bairros, Escola, Diretoria de Ensino,

    etc.) que, de forma direta ou indireta, lidam com

    estas questes. Estes so seus parceiros necessrios

    para o efetivo cumprimento do princpio da

    proteo integral no que diz respeito efetivao

    dos direitos das crianas e adolescentes.

    A atuao que se espera do Conselho

    Tutelar em relao a tais parceiros de

    independncia e harmonia. Quer significar que

    sua linha de atuao est delimitada pela lei, com

    especial ateno ao que estabelece o artigo 136

    do Estatuto da Criana e do Adolescente,

    devendo fazer valer os comandos ali enunciados

    para a realizao de seu mister. Executa suas

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    80

    aes conforme estabelece a lei, independente

    da aceitao ou concordncia dos demais

    responsveis, sempre visando a zelar pelo efetivo

    cumprimento dos direitos das crianas e dos

    adolescentes.

    No entanto, deve trabalhar em harmonia

    com os co-responsveis, o que no significa

    subservincia, e sim unio de esforos para o bem

    das crianas e dos adolescentes.

    Eventual resistncia por parte destes

    parceiros, no pode servir de empecilho para o

    Conselho cumprir as suas atribuies. Isto porque a

    Lei menorista contemplou poderes ao Conselho,

    bem como instituiu infraes de natureza penal

    (art. 236) e administrativa (art. 249) para fazer valer

    os seus comandos.

    certo, porm, que esta atuao encontra

    dois problemas graves:

    a) o desconhecimento do prprio Conselheiro

    de suas atribuies;

    b) a resistncia ou desconhecimento da

    sociedade e dos parceiros sociais quanto

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio Miguel Ferreira

    81

    c) ao papel do Conselheiro.

    Com efeito, antes do ECA as atribuies do

    Conselheiro Tutelar eram desempenhadas pelo Juiz

    de Menores. Esta situao demonstra a relevncia

    de suas atribuies, posto que passaram a exercer

    uma funo importante, substituindo a Autoridade

    Judiciria da qual a comunidade tinha cincia e

    confiava. E mais, o Juiz tinha conhecimento da lei

    menorista, o que no se verifica com todos os

    Conselheiros.

    Assim, muitas vezes, o Conselho Tutelar deixa

    de corresponder ao que foi estabelecido pelo

    legislador, diante da ausncia de conhecimento

    tcnico do conselheiro, que no atua fazendo

    valer a sua autoridade, devidamente respaldada

    na lei. Hoje, o Tribunal de Justia do Estado de So

    Paulo reconhece a legitimidade ativa do Conselho

    Tutelar para ingressar com aes judiciais na

    defesa de seus interesses. No entanto, rara tal

    atuao, preferindo o Conselho buscar apoio,

  • Temas de direitos fundamentais Luiz Antnio