deliberaÇÃo do conselho de administraÇÃo da …

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1 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/013/2018; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. A 11 de julho de 2017, o reclamante F. […] remeteu, por correio eletrónico, uma denúncia à Entidade Reguladora da Saúde (ERS) na qual são descritas várias situações de alegados maus tratos, abusos e abandono referente ao seu filho, M. […], utente do estabelecimento prestador de cuidados de saúde explorado por Maria Alzira Silva dos Santos Fidalgo e denominado “Zir’Art” – cfr. fls. 1 a 9 e 24 a 25 dos autos. 2. Esta reclamação foi analisada pela ERS, no processo de avaliação n.º AV/155/2017, aberto em 7 de novembro de 2017;

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo

4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da

concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores

privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo

artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22

de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da

Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo

Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/013/2018;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. A 11 de julho de 2017, o reclamante F. […] remeteu, por correio eletrónico,

uma denúncia à Entidade Reguladora da Saúde (ERS) na qual são descritas

várias situações de alegados maus tratos, abusos e abandono referente ao seu

filho, M. […], utente do estabelecimento prestador de cuidados de saúde

explorado por Maria Alzira Silva dos Santos Fidalgo e denominado “Zir’Art” – cfr.

fls. 1 a 9 e 24 a 25 dos autos.

2. Esta reclamação foi analisada pela ERS, no processo de avaliação n.º

AV/155/2017, aberto em 7 de novembro de 2017;

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3. Atenta a factualidade exposta, por deliberação do Conselho de Administração

da ERS de 9 de fevereiro de 2018, foi instaurado o presente processo de

inquérito, com o propósito de apreciar os factos descritos na reclamação

identificada e determinar a intervenção regulatória que se revelasse necessária.

I.2. Diligências realizadas

4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras,

as diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no SRER da ERS (cfr. fls. 10 a 23 dos autos);

(ii) Pedido de elementos remetido à Prestadora de cuidados de saúde em

causa, em 14 de novembro de 2017 (cfr. fls. 26 a 34 dos autos), e respondido

em 23 de novembro de 2017 (cfr. fls. 35 a 132-A, dos autos);

(iii) Notificação de abertura de processo de inquérito e pedido de informações

ao reclamante, efetuada em 23 de março de 2018 (cfr. fls. 142 dos autos);

(iv) Notificação de abertura de processo de inquérito à Prestadora de cuidados

de saúde, em 23 de março de 2018 (cfr. fls. 143 a 146 dos autos) e resposta da

mesma, remetida aos autos em 9 de abril de 2018 (cfr. fls. 157 a 176);

(v) Análise do despacho de arquivamento de processo de inquérito, remetido

aos presentes autos pelo Departamento de Investigação e Ação Penal – 1ª

secção de Gondomar, em 17 de setembro de 2018 (cfr. fls. 177 a 179 dos

autos).

II. DOS FACTOS

II.1. Da exposição que deu origem aos presentes autos e respostas do

prestador

5. Na reclamação recebida pela ERS, e acima identificada, é afirmado o seguinte:

“[…] venho por este modo denunciar/reclamar de maus tratos, de abandono de

pessoa com deficiência cognitiva e molestação sexual no prestador inscrito na

ERS com o nome de Maria Alzira Silva dos Santos Fidalgo com o nome de

estabelecimento Zir'Art e o NIF 148 810 705 ao Utente M. […] com 16 anos de

idade e diagnosticado com Perturbação do Espectro do Autismo Severo e com

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incapacidade de 86%. Os acontecimentos ocorreram nos passados dias

28/06/2017, no dia 04/07/2017 e durante período indeterminado referente á

molestação sexual. O Abandono ocorreu no dia 28/06/2017 e foi registado pela

GNR do Posto Territorial da Matosinhos onde é relatado e identificados todos

os participantes. Informo que este facto foi comunicado pessoalmente á minha

esposa R. […] pela Directora da Zir'Art Maria Alzira Silva dos Santos Fidalgo

mas com factos totalmente diferentes ao descrito no Auto de Ocorrência nr.º

127/2017 da GNR (segue em anexo) e quando solicitado Zir'Art mais detalhes

ou o próprio relatório interno (que nos foi informado pela Zir'Art que tinha sido

redigido no próprio dia) nos foi recusado a entrega sem que seja pessoalmente

por isso tivemos de nos dirigir ao local onde o nosso filho ficou abandonado e

tentar descobrir que entidade policial teria tomado conta da ocorrência e mais

tarde por tentativas chegamos ao Posto Territorial de Matosinhos onde tivemos

conhecimento de todos os factos ocorridos, dado a gravidade do somatório dos

factos nós pais não queremos qualquer interacção com esta instituição.

Passado menos de uma semana no dia 04/07/2017 durante o banho a minha

esposa que dava banho ao nosso filho, pois ele é extremamente dependente

de terceiros, reparou que o M. tinha uma marca grande de uma chinelada

(seguem duas fotos em anexo, tiradas no dia 09/07/2017 ainda com a marca

bem visível). De imediato entrou em contacto com a Directora da Zir'Art a Dra.

Alzira Fidalgo que não tem conhecimento dos factos e pediu algum tempo para

se explicar, mais tarde retornou a chamada se desculpando dizendo que esta

situação não poderia acontecer. Durante essa noite recebemos um documento

em anexo com o titulo "informação para os pais do M." onde a Zir'Art assume o

facto da chinelada e acrescentando que tinham conhecimento que uma antiga

funcionaria que estimulava sexualmente o nosso filho com intuito que urinasse

(segue em anexo o documento). Por tudo isto denunciamos o Prestador Maria

Alzira Silva dos Santos Fidalgo (Zir'Art) pois estas praticas não podem ser

correntes numa instituição especializada em prestação de serviços a pessoas

com deficiência. […]”.

6. Em anexo à denúncia, o reclamante enviou cópia do auto de ocorrência n.º

127/2017, subscrito pelo Guarda Principal Rui Fernando Ribeiro Ferraz, do Posto

territorial de Matosinhos da Guarda Nacional Republicana, referente a factos

ocorridos no parque de estacionamento da Praia da Memória, em Perafita, em 28

de junho de 2017, e do qual consta a seguinte informação:

“[…]

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No período mencionado em item próprio, quando o ora participante se

encontrava de patrulha auto, no horário compreendido entre as 07:00 e as

13:00, foi solicitado pelo militar que se encontrava de serviço de atendimento

ao público no Posto da Guarda Nacional Republicana de Matosinhos, para se

deslocar ao parque de estacionamento da Praia da Memória […] em virtude de

uma pessoa com deficiência, encontrar-se junto da casa de banho pública aí

existente, perdida.

Face ao exposto no parágrafo anterior, esta patrulha deslocou-se para o local,

onde foi abordada pelo Sr. J. […], que informou que encontrava-se no referido

parque de estacionamento, quando ao deslocar-se à casa de banho, verificou

que um indivíduo de sexo masculino (identificado posteriormente como sendo

M. […]), com deficiência mental encontrava-se sozinho, sentado na soleira da

porta da casa de banho, com as calças completamente molhadas.

O reportado no parágrafo anterior foi corroborado pelo Sr. J.[…], tendo ainda

acrescentado que quando chegou ao parque de estacionamento,

acompanhado da sua esposa, quando ao iniciarem uma caminhada pelo

passadiço, verificaram que estavam dois veículos aparcados pertencentes a

uma entidade de cuidados a pessoas com deficiência mental. Viram também

um grupo de deficientes mentais, divididos entre as casas de banho masculinas

e femininas, sendo este vigiado por duas pessoas do sexo feminino, e que iam

chamando por eles, encaminhando-os para os referidos veículos. […]

Face à falta de comunicação, com o indivíduo, devido à sua deficiência, foram

efectuadas diligências no terreno, no intuito de averiguar quem era a instituição

responsável por este, sendo que foi possível descobrir que o mesmo estava a

cargo da Zir’Art – Apoio Especializado à Pessoa com Dificuldade Intelectuais e

de Desenvolvimento, com morada na Rua da Paz, 104/106, sita em Rio Tinto,

com número de contacto 224938002, visto que os veículos que efectuavam o

transporte, estavam caracterizados.

Efectuado então contacto telefónico com a referida entidade, os mesmos

informaram de início que não faltava nenhum utente, sendo que após

contagem, na hora de almoço, repararam que faltava um. Face a esta situação

informaram que iriam deslocar-se para o local onde o utente se encontrava,

para o recolher.

Foi então que chegados ao local, foram identificadas as Sras. S […] auxiliar da

referida entidade e Maria Alzira Silva dos Santos Fidalgo […] responsável pela

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Zir’Art, e questionadas o porquê deste incidente, as mesmas informaram que

levaram os quinze utentes com deficiência mental que se encontravam a seu

cargo, para a praia da Memória, estando a ser monitorizados pela Sra. S. […]

(auxiliar), Sra. I […] (psicóloga) e a Sra. C. S. […] (voluntária). Devido às

condições climatéricas que se faziam sentir no local (chuva e vento), a Sra. I.

[…] efectuou uma chamada telefónica para a Sra. M. […] a reportar a situação,

pedindo para recolher os utentes e respectivo material de praia, para proceder

ao transporte dos mesmos para a Zir’Art, tendo esta dado autorização.

Foram então encaminhados os utentes para a casa de banho pública, no intuito

de se abrigarem, até estar recolhido todo o material e colocado nos veículos,

foram estes chamados para os veículos e após os lugares dos mesmos

estarem supostamente todos preenchidos, abandonaram o local, sem

verificarem se estavam mesmo todos, sendo alertada da situação após

contacto telefónico por esta Guarda.

Questionada a Sra. M [….], há quanto tempo o M. […] era utente da Zir’Art,

respondeu há três anos. […]”.

7. Ainda em anexo à referida reclamação, foi remetida cópia de um ofício, enviado

ao reclamante e esposa e subscrito por Alzira Fidalgo, no qual consta o seguinte:

“[…]

- A situação criada hoje tem como explicação o facto de, para que ele não

urinasse na nossa viatura, como várias vezes tem acontecido, poucos minutos

antes da hora de saída prevista, a nossa Auxiliar S. […] foi com ele ao wc no

sentido de o orientar para que baixasse os calções e se sentasse na sanita

para urinar.

O M. […], não somente não cumpriu essa ordem como, de imediato, tentou

agredir a nossa funcionária a murro só não o tendo plenamente conseguido

dada a destreza da mesma. Mesmo assim, conseguiu dar-lhe um murro no

peito.

Apesar da agressão de que tinha sido vítima, e para evitar o que já vem sendo

hábito (o M. […] urinar na nossa viatura), a Auxiliar S. […] insistiu com ele e,

ela mesmo, tentou baixar-lhe os calções.

De imediato, e como se encontrava vergada na frente dele, foi agarrada pelos

cabelos com grande intensidade pelo M. […], que apesar de instado

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verbalmente para largar, não o fez e continuou, ainda com mais intensidade, a

puxar o cabelo com ambas as mãos.

Perante tal cenário, e como não conseguia soltar-se, a nossa funcionária

utilizando um dos seus chinelos deu-lhe duas chineladas nas nádegas.

Nesse momento, o M. […] ficou surpreendido e afrouxou a força que estava a

fazer, o que permitiu à Auxiliar S. […] desviar a cabeça do seu alcance. O M.

[…] urinou na sanita e subiu para ser transportado até casa.

A nossa funcionária não nos comunicou de imediato o triste episódio

protagonizado pelo M. […] porque considerou que muito mais grave que duas

chineladas nas nádegas era o que ele tinha acabado de lhe fazer.

Temos por hábito tentar resolver os problemas que vão surgindo incomodando

o menos possível os pais dos utentes, que muitas vezes também pouco ou

nada conseguem fazer para evitar este tipo de comportamentos.

- Como mencionou o nome da “C. […]”, vemo-nos obrigados a revelar um dos

motivos pelos quais abdicamos dos seus serviços.

Provavelmente era mais do agrado do M. […] o auxílio da “C. […]”, pois

conseguia no espaço de aproximadamente uma hora ir com ele à casa de

banho cerca de 6 vezes e “ajudava-o” na micção, segurando-lhe no pénis e

brincando com ele, o que o deixava visivelmente satisfeito.

No entanto, esse comportamento da “C. […]” não evitava que o M. […] urinasse

nas nossas viaturas diversas vezes.

Esse comportamento não é por nós aceite, nem sequer tolerado. Aliás, esta

situação não é uma forma pedagógica aceitável. […]”.

8. Por mensagem de correio eletrónico remetido à ERS em 18 de julho de 2017, e

cuja cópia se encontra junta a fls. 5 a 9 dos autos, o reclamante veio remeter

cópia de um documento intitulado “relatório de ocorrência”, datado de 12 de julho

de 2017 e subscrito por Alzira Fidalgo e outras cinco pessoas, e do qual consta

uma descrição dos factos ocorridos no dia 28 de junho de 2017, na Praia da

Memória, confirmando o que já constava do auto de ocorrência da GNR.

9. Em 14 de novembro de 2017, foi remetido um ofício a Maria Alzira Silva dos

Santos Fidalgo, conforme cópia junta a fls. 26 a 34 dos autos, através do qual se

solicitaram respostas para as seguintes questões:

“[…]

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1. Que se pronuncie sobre todo o teor da exposição remetida à ERS e cuja

cópia ao diante se junta;

2. Que informe se, na sequência dos factos descritos na reclamação, foi

instaurado algum processo disciplinar ou de inquérito interno e, em caso

afirmativo, que remeta cópia integral do referido processo;

3. Que identifique, por referência ao nome completo e categoria profissional,

a funcionária denominada “C. […]”, e que informe se foi instaurado algum

processo disciplinar ou de inquérito interno para apreciar os factos que lhe são

imputados e, em caso afirmativo, que remeta cópia integral do referido

processo;

4. Que descreva todos os procedimentos seguidos no V. estabelecimento,

destinados a assegurar o respeito pela integridade, física e moral, e pela

segurança dos utentes;

5. Que descreva todos os procedimentos seguidos no V. estabelecimento, no

que respeita ao transporte de utentes;

6. Que descreva as medidas de correção adotadas na sequência dos factos

descritos na reclamação;

7. Que remeta cópia integral do mapa de pessoal afeto ao estabelecimento,

incluindo trabalhadores, prestadores de serviço e voluntários;

8. O envio de quaisquer outros elementos, documentos ou esclarecimentos

adicionais que V. Exa. considere relevante para o completo esclarecimento da

situação em apreço. […]”

10. Através de ofício remetido aos presentes autos, e junto a fls. 35 a 134,

Maria Alzira Fidalgo, por intermédio de advogada, veio responder ao ofício que lhe

havia sido dirigido, alegando, em suma e com interesse para a apreciação do

objeto dos presentes autos, o seguinte:

“[…]

4.

O M. […] apresenta deficiência caracterizada pela redução da capacidade

intelectual, situada abaixo dos padrões considerados normais, sendo notórias

dificuldades ou atrasos no seu desenvolvimento neuro psicomotor, aquisição

da fala e outras habilidades.

5.

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O M. […] apresenta um deficit no comportamento adaptativo, na comunicação

(linguagem), socialização ou aquisições práticas da vida quotidiana (higiene,

uso de roupas, etc)

6.

Para além destas características pessoais, é de referir os impulsos de violência

física frequentes demonstrados pelo M. […], aliados uma atitude de

permanente recusa em obedecer; bem como a manifestação de uma constante

necessidade de comer, o que, consequentemente se revelou em problemas de

obesidade.

7.

Face a estas necessidades especiais, os pais do M. […] necessitam de auxílio

de instituições apropriadas. […]

O Zir’Art é uma entidade particular, criada especialmente para crianças, jovens

e adultos com Dificuldades Intelectuais e de Desenvolvimento (DID). Apesar de

possuir um carácter particular, os nossos utentes são subsidiados por

diferentes entidades, conforme o caso específico de cada um. O Zir’Art foi

criado em Setembro de 2014, funciona sob a direção da Professora Alzira

Fidalgo, Mestre em Educação Especial com mais de trinta anos de atividade

nesta área, e encontra-se reconhecida pela Entidade Reguladora da Saúde

(ERS).

As dificuldades referidas podem interferir diretamente com as atividades do dia-

a-dia das pessoas com DID, impedindo um bom desempenho nas várias áreas

do comportamento adaptativo: comunicação, autonomia, atividades

domésticas, socialização, autonomia na comunidade, responsabilidade, saúde

e segurança, habilidades académicas e lazer.

Temos como Missão apoiar a pessoa com DID nas áreas que se encontrem

afetadas, promovendo assim a sua autonomia pessoal e social e uma melhor

qualidade de vida. […]

Desta forma, as atividades desenvolvidas pelos profissionais do Zir’Art

organizam-se em oito valências:

Desenvolvimento pessoal e social […]

Atividades Estritamente Ocupacionais […]

Atividades Terapêuticas e Apoios Especializados:

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o Educação Especial;

o Psicopedagogia;

o Acompanhamento Psicológico;

o Terapia da Fala;

o Terapia Ocupacional;

o Hidroterapia, Hidroginástica e Natação;

o Sessões de Psicomotricidade;

o Aplicação de Kinesio Taping

o Apoio Especializado ao Estudo […]

o Fisioterapia

Refeições […]

Transporte […]

Cuidados de Saúde e em situação de emergência:

No Zir’Art garantimos a administração da terapêutica necessária a cada utente

nos horários em que este se encontre nas nossas instalações e atividades, ou

em situações de emergência (p. e. crise convulsiva), promovendo assim a sua

saúde, bem-estar e segurança.

Apoio de 3ª pessoa […]

Férias e Época Balnear […]

QUEM COLABORA NESTE PROJETO?

A nossa equipa é composta por:

Professora de Educação Especial, Mestre em Multideficiência e Problemas

de Cognição, com mais de trinta anos de atividades nesta área;

Psicóloga Clínica;

Terapeuta Ocupacional;

Terapeuta da Fala;

Professor de Educação Física, Mestre em Educação Especial;

Auxiliar de Educação;

Professora voluntária, Doutora em Filosofia […]

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11.Maria Alzira Fidalgo, mantem diária e incessantemente um rigor e empenho

constantes no sentido de que todas as atividades internas e externas com os

utentes do Zir’Art sejam levadas a cabo em estrito cumprimento das normas

legais e de segurança.

12.Como comprovam os seguintes documentos anexos e que se consideram

integralmente reproduzidos para todos os efeitos legais:

a. Quadro técnico à data dos acontecimentos e mapa de

remunerações actual

b. Regulamentos internos em vigor

c. Ordem de serviço 2016

d. Certificação de formação profissional

e. Certificado de Seguros pessoais

f. Certificação do sistema de alarme das instalações

g. Certificado de avaliação dos riscos emitido pela Segurihigiene

h. Certificado de higienização emitido pela Procline

i. Calendário de atividades anuais

j. Horário de atividades semanais

k. Ficha de inscrição

l. Lista de utentes em viagem (conferida)

m. Alimentação diária

n. Horário sessões individuais da terapia da fala

o. Fotografia em formato papel ilustrativa da organização e atenção

dedicada aos alunos.

13. Em todas as viagens de partida e de chegada das instalações é preenchida

uma lista com a identificação, por um dos técnicos (ANEXO L supra referido)

dos utentes que são transportados, lista essa conferida, posteriormente por

diferente colaborador.

14.As instalações cumprem todos os requisitos legais de higiene e salubridade,

conforme comprovam todas as fotografias ANEXAS em formato digital (PEN),

bem elucidativas das excelentes condições físicas do espaço, bem como de

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todo o equipamento e material utilizados em benefício dos utilizadores do

Zir’Art.

DA FREQUÊNCIA DO M. […] NO ZIR’ART

15.O M. […] frequentou o Zir’Art desde finais de 2015 às quartas-feiras todo o

dia, às sextas-feiras à tarde e nas férias escolares.

16. A sua “estadia” prolongou-se durante, quase, dois anos.

17.Tendo em conta as especiais competências e aptidões específicas

profissionais oferecidas pelo Zir’Art, o M. […] teve, sempre, um

acompanhamento ao nível do comportamento adaptativo, abrangendo:

1. Cuidado pessoal: hábitos à mesa, Locomoção, Higiene; Vestuário;

2. Comunicação: Linguagem falada; Linguagem escrita; Atividade numérica;

Desenvolvimento dos conceitos básicos (usa advérbios discrimina

diferenças e igualdade)

3. Socialização: Atividades domésticas; Atividades recreativas;

Comportamento em sala de aula

4. Ocupação: Agilidade, Destreza, Concentração; Responsabilidade

(capacidade de cumprir ordens)

[…]

DA ACUSAÇÃO DE ABANDONO (DIA 14 de Julho de 2017)

21.Relativamente a este episódio lamentável remete-se para o relatório de

ocorrência, o qual esclarece todos os factos, bem como todas as circunstâncias

excecionais que levaram a que o M. […] ficasse na praia. Documento n.º 7.

22.Não deixando de reiterar o facto de o M. […] não ter aceitado de bom grado a

decisão de terem de deixar a praia e de regressar ao Zir’Art, e que por esse

motivo se terá escondido numa parte menos visível das casas de banho, local

onde esperavam todos os demais utentes (acompanhados por colaboradores) a

chegada de transporte abrigando-se da chuva intensa.

23.Assim escondendo-se, no momento em que os colegas seguiram para a

carrinha, o M. […] ficou. […]

29.DO SUCEDIDO NO DIA 4 DE JULHO DE 2017

Relativamente a esta situação remete-se para o respetivo relatório de ocorrência

que explica detalhadamente o acontecimento. Veja-se o documento n.º 8.

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30.Saliente-se porém o comportamento agressivo do M. […], bem como a sua

estrutura e forças físicas.

31. A funcionária S. […] viu-se num momento de aflição, pois o M. […] estava

agarra-la violentamente pelos cabelos.

32.É importante dizer que as fotos apresentadas como prova desta suposta

agressão pelo Sr. F. […] não são esclarecedoras quanto à parte do corpo, nem

tão pouco se correspondem ao episódio em causa.

33.Como é do conhecimento dos pais do M. […] este, quando chegava ao Zir’Art,

algumas vezes, apresentava lesões, nomeadamente, hematomas, originados por

outras situações em casa (veja-se fotografias juntas documentos n.º 3 e 4)

34.Aliás, várias vezes, funcionários testemunharam o M. […] a ser violento

fisicamente quando o pai o ia entregar ao Zir’Art depois das consultas médicas,

assistindo a dar murros nos vidros do carro e a cuspir, tentando atingir o pai com

os pés;

DA ACUSAÇÃO CONTRA A “C. […]”

35.A C. […] e a Professora Alzira Fidalgo trabalharam no Externato A. […] tendo

sido colegas de profissão aproximadamente 20 anos, tendo mesmo a C. […] sido

Auxiliar da Professora Alzira.

36.Face ao encerramento do Externato A. […] e o consequente despedimento

coletivo, a Professora Alzira Fidalgo prescindiu do direito que tinha ao Fundo de

desemprego de cerca de 36 meses, e optou em avançar com um projeto em que

pudesse receber e dar seguimento ao trabalho que vinha fazendo com os ex-

utentes do Externato.

37.Assim, começou a ZIR’ART com nove utentes, todos eles provenientes do

desse mesmo estabelecimento.

38.Poucos meses passados, verificada a expansão e o sucesso da atividade, bem

como a procura pelos seus serviços, decidiu pela mudança de instalações (para

as atuais), o que lhe permitiu receber outros utentes provenientes do mesmo

estabelecimento, bem assim como novos.

39.Num determinado dia que não sabemos precisar mas que foi por altura de

meados de 2016, e por informações recolhidas no Facebook, a C. […] soube a

morada e apareceu com o intuito de ver “os seus meninos”.

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40.Como é óbvio, foi bem recebida e passou a ser uma “visita” da casa, sem,

contudo, manter alguma irregularidade; ou seja: “aparecia quando queria”.

41.Nos dias em que aparecia nas instalações, disponibilizava-se a ajudar nas

mesmas tarefas que exercia ao tempo em que esteve no Externato A. […], como

auxiliar de educação. Maria Alzira, confiando na sua boa vontade, não se opunha.

42.Dessas funções fazia parte a higiene pessoal dos utentes, desde as idas ao wc

até ao pentear o cabelo na hora de saída.

43.Assim como auxiliava, todos os utentes, auxiliava de igual modo, o M. […]

nessas elementares tarefas.

44.Coincidentemente a C. […] e o M. […] ambos de Gondomar (praticamente

vizinhos), sendo que os pais do M. […] solicitavam que o filho fosse entregue em

casa em hora mais perto do jantar, nos dias em que visitava o ZIR’ART, a C. […]

aproveitava a boleia da viatura, especialmente nos dias em que estava de chuva

ou mesmo frio.

45.O M. […] contrariava propositadamente as ordens mais básicas e elementares

que lhe eram transmitidas. Das mais graves, refira-se que tinha por hábito urinar

na viatura porque sabia que isso era desagradável. Na tentativa de evitar tal

incómodo, a C. […] enquanto esperava no ZIR’ART que chegasse o transporte

para os conduzir a casa, ia com ele ao wc várias vezes para que urinasse na

sanita e não na viatura. Entre as 17h30 e as 20h chegava a ir ao wc com o M. […]

cinco a seis vezes.

46.Considerando que a C. […] era uma visita e o M. […] um utente, a Requerente

Maria Alzira afirma veementemente que nunca ficaram sozinhos nas instalações,

tendo sempre ficado alguém dos quadros do ZIR’ART ou, na maioria dos casos, a

Doutora C.S. […], que era e é voluntária.

47.Em Março de 2017, numa dessas idas com o M. […] ao wc, a porta, que é de

correr, não ficou bem fechada e foi visto pela Doutora C. S. […] e pelo seu pai M.

S. […] que se havia deslocado ao ZIR’ART para verificar o funcionamento de um

dos computadores, que a C. […] estava a segurar no pénis do M. […] e a incitá-lo

para urinar, sendo era possível ver o sorriso na cara do M. […] pelo espelho

colocado sobre o lavatório.

48. Perante tal situação que, nesse mesmo dia, foi relatada à Requerente Maria

Alzira Fidalgo, ficou desde logo determinado que a C. […] deixaria de visitar o

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14

ZIRA’ART para evitar possíveis situações que são contrárias à promoção da

autonomia dos utentes, o que não é o objetivo pedagógico do ZIR’ART.

49.De imediato foi dito à C. […] que não continuasse a visitar o ZIR’ART, até

porque tinha sido contratada uma Auxiliar de Educação e a visita dela poderia

criar alguma forma de mau estar com a funcionária que tínhamos acabado de

contratar. […]

51.Não foi aberto nenhum inquérito ou processo interno, nem houve nenhuma

sanção por várias razões:

1º Temos absoluta certeza que a C. […] somente queria ajudar o M. […] na

micção para evitar que urinasse posteriormente na viatura.

2º Não agiu de forma maldosa, nem com intenções de cariz sexual. Agiu com

intenção de ajudar uma pessoa que, por natureza, gosta de fazer exatamente

o contrário do que lhe é dito para fazer.

3º Não era funcionária nem nunca foi funcionária do ZIR’ART, não existindo

por isso qualquer vínculo laboral que permitissem procedimento interno. […]”.

11. Em anexo ao referido ofício, foram anexados os documentos nele referidos,

nomeadamente o documento intitulado “Regulamento Interno do Zir’Art”, que terá

entrado em vigor a 2 de outubro de 2017, e do qual constam, com interesse para

os autos, as seguintes disposições:

“[…]

- Os elementos do quadro do Zir’Art bem assim como os eventuais voluntários

terão obrigatoriamente que zelar pelo bom nome da Empresa, fazendo o que

for necessário para que os princípios de BOM ATENDIMENTO DOS UTENTS

sejam a regra básica a ter em conta.

- É EXPRESSAMENTE PROÍBIDO USAR DE FORÇA MUSCULAR PARA

COM OS UTENTES, EXCEPTO EM SITUAÇÕES QUE SEJA EMINENTE UM

ATAQUE PESSOAL, OU A OUITRO UTENTE. Mesmo nestes casos deve ser

usada a força estritamente necessária para obter o efeito, dando sempre a

preferência à imobilização sem dor.

[…]

- As saídas das instalações para o Ginásio, a Natação, o Restaurante, e todas

as outras, devem ser consideradas como factualmente exigentes. Nestes

casos, antes de saírem das instalações, devem coordenar entre si, na

Page 15: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

15

perfeição, como vai ser o procedimento a utilizar, visto que o humor do

utentes varia com muita frequência.

Salvo ordem da Diretora Geral em contrário, se houver a necessidade de

algum utente permanecer nas instalações devido ao seu mau

comportamento, este ficará SEMPRE acompanhado por um elemento do

quadro permanente.

12. Por ofício datado de 23 de março de 2018, a Prestadora foi notificada da

instauração dos presentes autos de processo de inquérito, bem como, para

remeter aos mesmos os seguintes elementos (cfr. fls. 145 a 146)

“[…]

1. Que indiquem quais os procedimentos em vigor na V. instituição para

regular a relação entre profissionais e utentes, em especial no que respeita à

segurança e à resolução de conflitos;

2. Que indiquem quais os procedimentos em vigor na V. instituição para

regular o regime de saídas/visitas ao exterior dos utentes;

3. Que indiquem quais os procedimentos em vigor na V. instituição para

regular o regime de visitas aos V. utentes;

4. O envio de quaisquer outros elementos, documentos ou esclarecimentos

adicionais que V. Exas. considerem relevantes para o completo

esclarecimento da situação em apreço. […]”

13. Por ofício enviado aos presentes autos a 9 de abril de 2018, e junto a fls. 157

a 176 dos autos, a prestadora Maria Alzira Fidalgo, veio manifestar a sua

discordância com a instauração do processo de inquérito em curso, alegando,

com interesse para o mesmo, o seguinte:

“[…]

2.

Com origem nos mesmos factos denunciados por F. […] encontram-se em

curso os seguintes processos:

TRIBUNAL DE GONDOMAR

DIAP 1ª secção Gondomar Processo de Inquérito n.º 2056/17.8 JAPRT […]

SEGURANÇA SOCIAL

Page 16: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

16

Na sequência dos mesmos factos apresentados pelo mesmo denunciante F.

[…] junto do Instituto da Segurança Social,. Resultou (levada a cabo no dia 6

de fevereiro de 2018), uma ação de fiscalização às instalações utilizadas por

Alzira Fidalgo.

Não foram encontradas quaisquer irregularidades no que toca à relação entre

profissionais e utentes de Maria Alzira Fidalgo (Processo: Proave

201700021065).

Neste sentido, consta expressamente no relatório final a evidente conclusão,

aferidas pelas Técnicas Superiores: “não ser possível dar como provados os

factos denunciados”.

[…]

B. INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR SOLICITADA

1 Procedimentos em vigor para a regular a relação entre profissionais e

utentes, em especial no que respeita à segurança e à resolução de conflitos.

Os procedimentos em vigor no Zir’Art de Maria Alzira Fidlago com vista à

regulação dos procedimentos a adotar entre profissionais e utentes, em

especial no que respeita à segurança e à resolução de conflitos são

inúmeros:

a) Os profissionais que pertencem ao quadro de pessoal de Maria Alzria

Fidalgo assinam o seu Regulamento Interno, comprometendo-se desta forma,

e sob compromisso de honra, a zelar pelo bom nome de Maria Alzira Fidalgo,

fazendo o que for necessário para que os princípios de BOM ATENDIMENTO

DOS UTENTES seja a regra básica a ter em conta.

O Regulamento prevê, igualmente, a proibição expressa do uso de força

muscular para com os utentes, exceto em situações em que seja eminente

um ataque físico pessoal, ou a outro utente.

b) São realizadas reuniões semanais com todo o pessoal de Maria Alzira

Fidalgo, nas quais um dos temas visados diz respeito à comunicação por

parte de um qualquer funcionário de eventuais questões pendentes no que

toca à sua relação com algum utente. Procura-se sempre solucionar os

eventuais conflitos, quando existentes, segundo critérios deontológicos. Neste

contexto, o parecer da Psicóloga Clínica assume particular relevância.

c) Sempre que se justifica, e sem quaisquer restrições, são realizadas

reuniões extraordinárias com todo o pessoal de Maria Alzira Fidalgo, quer

Page 17: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

17

convocadas pela Direção, quer a pedido de algum funcionário. A finalidade

destas, que se debruçam sobre casos considerados extremos, é a resolução,

de imediato, de uma qualquer situação ou conflito.

Quando considerados necessários, são também realizados Relatórios de

Ocorrência, assinados por todo o pessoal de Maria Alzira Fidalgo, e

entregues aos Encarregados de Educação para uma melhor elucidação de

um qualquer comportamento de um utente.

2. Procedimentos em vigor para regular o regime de saídas/visitas ao exterior

dos utentes

Os procedimentos em vigor em Maria Alzira Fidalgo para regular o regime de

saídas/visitas ao exterior dos utentes são também inúmeros, primando a

segurança das pessoas:

Procedimentos adotados, sem exceção, em, todas as saídas ao exterior:

a) Utilização de equipamentos de comunicação rádio portáteis usados pelos

responsáveis e colaboradores de Maria Alzira Fidalgo, que acompanham os

utentes, sendo uma excelente forma de comunicação e, acima de tudo, uma

garantia de segurança e enquadramento.

b) Todos os utentes usam camisolas, fornecidas por Maria Alzira Fidalgo, com

a identificação de Maria Alzira Fidalgo (Zir’Art) na frente da mesma, bem

como no seu verso

c) Todos os utentes usam bonés, fornecidos por Maria Alzira Fidalgo, com a

identificação de Maria Alzira Fidalgo (Zir’Art) em local bem visível.

d) Todos os utentes usam placas suspensas por um colar que lhes é

colocado, com a identificação de Maria Alzira Fidalgo (Zir’Art), o nome do

respetivo utente e o contacto de telemóvel da Directora, que sempre os

acompanha em todas as saídas.

e) Em todas as saídas, sem exceção, é preenchida, previamente, pelos

condutores ou responsável pelas mesmas, uma lista com os nomes de todos

os utentes participantes, onde consta expressamente o nome da respetiva

atividade, a data em que se realiza, o número de viagem, a sinalização da

saída e regresso de cada utente (cujo nome já se encontra previamente

registado na base de dados ordenada por ordem alfabética), e a assinatura

do responsável pela saída.

Page 18: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

18

f) Todas as saídas as viaturas de Maria Alzira Fidalgo são monitorizadas pela

Empresa Inosat Portugal, através de um serviço de localização GPS em

tempo real, monitorização à qual Maria Alzira Fidalgo tem acesso, quer

através de um qualquer computador, quer através de redes móveis cuja

aplicação se encontre instalada.

[…]

g) Todos os utentes estão cobertos por Seguro de Acidentes Pessoais –

Coletivo da AGEAS

3. Procedimentos em vigor para regulação do regime de visitas aos utentes

Tais procedimentos não se aplicam.

Maria Alzira Fidalgo não possui, nem nunca possuiu, regime de visitas às

instalações nem aos utentes, na medida em que não existe regime de

internamento, prestando serviços apenas no horário fixado, nomeadamente,

das 8h30m às 12h30m e das 14h às 18h […]”.

14. Por fim, a 17 de setembro de 2018, o Departamento de Investigação e Ação

Penal de Gondomar – 1ª secção, remeteu à ERS o despacho de arquivamento

proferido nos autos de processo de inquérito n.º 5797/18.9T9PRT, que correram

os seus termos na referida secção e cuja cópia se encontra junta a fls. 177 a 179

dos presentes autos, dele contando as seguintes informações:

“[…]

Os presentes autos tiveram início com a participação enviada pela ERS

relativos à entidade “Zir Art”, sita na Rua da Paz em Rio Tinto, com base

numa missiva de F. […], pai de M. […] com 16 anos de idade, deficiente,

tendo-lhe sido diagnosticado Perturbação do espectro do autismo Severo e

atribuída 86% de incapacidade, por alegados maus tratos e contactos sexuais

desadequados, praticados no âmbito daquela instituição.

Correu termos o NUIPC 2056/17.8 JAPRT que versou sobre a mesma

factualidade, tendo já sido proferido despacho final de arquivamento a

17.10.2017, relativamente aos crimes de abuso sexual de pessoa incapaz de

resistência, previsto e punido pelo artigo 165º, n.º 1 do Código Penal, maus

tratos, previsto e punido pelo artigo 152º-A. Al. a) do Código Penal, e de

exposição ou abandono, previsto e punido pelo artigo 138º, n.º 1, al. b) do

Código Penal.

[…]

Page 19: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

19

Deste modo, porque os factos denunciados nos autos foram já objeto de

investigação e apreciação, é inadmissível novo procedimento criminal pelos

mesmos, sob pena de violação do princípio ne bis in idem.

Face ao exposto, por inexistir qualquer ilícito que não tenha sido já

investigado noutros autos, determino o arquivamento dos presentes autos, ao

abrigo do disposto no artigo 277º, n.º 1 do Código de Processo Penal. […]”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

15. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos

Estatutos da ERS aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS

tem por missão a regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência,

respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores privados,

público, cooperativo e social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde.

16. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo

4.º dos mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, do sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da

sua natureza jurídica;

17. Consequentemente, Maria Alzira Silva dos Santos Fidalgo encontra-se

registada no SRER da ERS, sob o n.º 24427, como responsável pela exploração

do estabelecimento prestador de cuidados de saúde denominado “Zir’Art”,

registado sob o n.º 125121, sito na Rua da Paz, n.º 104/106, 4435 – 383 Rio Tinto,

onde são prestados cuidados de saúde nas seguintes valências técnicas:

psicologia clínica, terapia da fala e terapia ocupacional.

18. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 5.º dos

Estatutos da ERS, compreendem a supervisão da atividade e funcionamento dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita ao

cumprimento dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento,

incluindo o licenciamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, nos termos da lei; à garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados

de saúde e à prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos

demais direitos dos utentes.

Page 20: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

20

19. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas

a), b) e c) do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos

requisitos do exercício da atividade dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde, incluindo os respeitantes ao regime de licenciamento dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, nos termos da lei; assegurar

o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde e garantir os

direitos e interesses legítimos dos utentes.

20. Competindo-lhe, na execução dos preditos objetivos, e conforme resulta do

artigo 11º, alínea c), 12.º e da alínea c) do artigo 14º dos Estatutos, assegurar o

cumprimento dos requisitos legais e regulamentares de funcionamento dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde e sancionar o seu

incumprimento, assegurar o direito de acesso universal e equitativo nos

estabelecimentos e serviços do SNS e zelar pelo respeito da liberdade de escolha

nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, incluindo o direito à

informação, bem como, garantir o direito dos utentes à prestação de cuidados de

saúde de qualidade.

21. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício

dos seus poderes de supervisão, no caso, zelando pela aplicação das leis e

regulamentos e demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação

no âmbito das suas atribuições, e mediante a emissão de ordens e instruções,

bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja

necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua

atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção

das providências necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos

utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS.

III.2. O direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de qualidade

22. Atendendo à situação de vulnerabilidade que, regra geral, apresentam os

utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde,

torna-se ainda mais premente a necessidade de os cuidados de saúde serem

prestados pelos meios adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica

e respeito.

23. Sempre e em qualquer situação, toda a pessoa tem o direito a ser respeitada

na sua dignidade, sobretudo quando está inferiorizada, fragilizada ou perturbada

pela doença.

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21

24. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao

nível da prestação de cuidados de saúde, dos recursos humanos, do equipamento

disponível e das instalações, está presente no sector da prestação de cuidados de

saúde de uma forma mais acentuada do que em qualquer outra área.

25. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de

garantir que os serviços sejam prestados em condições que não lesem os

interesses, nem os direitos dos utentes.

26. Sobretudo, importa ter em consideração que a assimetria de informação que

se verifica entre prestadores e utentes reduz a capacidade destes últimos de

perceberem e avaliarem o seu estado de saúde, bem como, a qualidade e

adequação dos serviços que lhe são prestados.

27. Além disso, a importância do bem em causa (a saúde do doente) imprime

uma gravidade excecional à prestação de cuidados em situação de falta de

condições adequadas.

28. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados

de saúde devem ser considerados, seja do ponto de vista do risco clínico, seja do

risco não clínico.

29. Assim, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de

saúde sejam prestados com observância e em estrito cumprimento dos

parâmetros mínimos de qualidade legalmente previstos, quer no plano das

instalações, quer no que diz respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados;

30. Bem como, o direito a receber, com prontidão ou num período de tempo

considerado clinicamente aceitável, os cuidados de saúde de que necessita.

31. A este respeito encontra-se reconhecido na LBS e, hoje, no artigo 4º da Lei

n.º 15/2014, de 21 de março, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios

adequados, humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e

respeito” – cfr. alínea c) da Base XIV da LBS.

32. Por sua vez, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 4º da Lei n.º 15/2014,

de 21 de março, “O utente dos serviços de saúde tem direito a receber, com

prontidão ou num período de tempo considerado clinicamente aceitável,

consoante os casos, os cuidados de saúde de que necessita.”.

33. Nos termos do n.º 2 do mesmo artigo, “O utente dos serviços de saúde tem

direito à prestação dos cuidados de saúde mais adequados e tecnicamente mais

corretos.”;

Page 22: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

22

34. Por fim, nos termos do n.º 3 do mesmo artigo 4º, “Os cuidados de saúde

devem ser prestados humanamente e com respeito pelo utente.”.

35. Quando se afirma na Lei que os utentes devem ser tratados humanamente e

com respeito, tal imposição decorre diretamente do dever de os estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde atenderem e tratarem os seus utentes em

respeito pela dignidade humana, como direito e princípio estruturante da

República Portuguesa.

36. De facto, os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde e os

profissionais de saúde que se encontram ao seu serviço, devem ter redobrado

cuidado em respeitar os utentes, atenta a situação particularmente frágil em que

se encontram em razão de doença ou deficiência.

37. Efetivamente, sendo o direito de respeito do utente de cuidados de saúde um

direito ínsito à dignidade humana, o mesmo manifesta-se através da imposição de

tal dever a todos os profissionais de saúde envolvidos no processo de prestação

de cuidados, o qual compreende, ainda, a obrigação de os estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde possuírem instalações e equipamentos que

proporcionem o conforto e o bem-estar exigidos pela situação de fragilidade em

que o utente se encontra.

38. As relevantes especificidades deste setor da saúde agudizam a necessidade

de garantir que os serviços sejam prestados em condições que não lesem o

interesse nem violem os direitos dos utentes.

39. Efetivamente, a qualidade tem sido considerada como um elemento

diferenciador no processo de atendimento das expectativas de clientes e utentes

dos serviços de saúde.

40. O utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam

prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz

respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados.

III.4. Análise do objeto dos presentes autos

41. De acordo com os elementos recolhidos nos presentes autos e acima

expostos, a entidade que explora o estabelecimento referido confirma a existência

de várias irregularidades no que respeita ao tratamento conferido aos seus

utentes.

Page 23: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

23

42. Desde logo, cumpre destacar três factos que a própria Maria Alzira confirmou

terem ocorrido.

43. Em primeiro lugar, que durante algum tempo, alguém que a própria identifica

como “C.”, que não era funcionária ou voluntária do dito estabelecimento,

frequentava o mesmo, com regularidade, tendo acesso e contacto direto com os

utentes do estabelecimento, inclusivamente com menores, fazendo até a higiene

pessoal dos mesmos.

44. Este facto, não é compatível com a prestação de cuidados de saúde com

segurança e qualidade;

45. Desde logo porque a pessoa em causa não era funcionária, nem voluntária da

instituição, não constando dos registos oficiais para esse efeito;

46. E, nessa medida, apenas pode ser definida enquanto visitante do

estabelecimento, estranha, portanto, ao funcionamento do mesmo.

47. Ora, não sendo trabalhadora, prestadora de serviços ou voluntária, mas mera

visita do estabelecimento, não lhe deveria ser permitido qualquer contacto com os

utentes do estabelecimento, muito menos exercer qualquer uma das funções

descritas por Maria Alzira.

48. Acresce ainda que, tratando-se de utentes menores e/ou com patologias que

afetam a sua liberdade e autonomia pessoal, e que se encontravam por isso à

guarda da Zira’rt para a prestação dos necessários cuidados de saúde, para que

um qualquer terceiro pudesse contactar com os mesmos, deveria para o efeito ter

o consentimento dos pais ou dos seus representantes legais.

49. É que, enquanto os utentes permanecem no dito estabelecimento, cumpre a

quem o explora – no caso, a Maria Alzira – zelar pela sua segurança e, bem

assim, reserva e dignidade.

50. Não é admissível que alguém que não consta do mapa de pessoal do

estabelecimento, possa ter acesso ao mesmo, ter contacto com os utentes e tratar

da sua higiene pessoal.

51. Para obviar à repetição do sucedido, é imperioso que Maria Alzira disponha

de um regulamento interno que regule o regime de visitas ao estabelecimento e

que impeça o contacto de terceiros, que não sejam trabalhadores ou prestadores

de serviço devidamente registados, com os seus utentes.

52. Desta forma, qualquer utente, ou os seus representantes legais, saberão

quais as condições de funcionamento do dito estabelecimento, sabendo-se assim

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24

de forma transparente quem é responsável pelas tarefas e cuidados prestados,

bem como, quem pode ou não pode ter contacto direito com os utentes.

53. Em segundo lugar, e tal como acima ficou expresso, a própria Maria Alzira

admite que alguns dos utentes do estabelecimento – incluindo, o utente a quem

se refere a reclamação em causa – assumem, por vezes, comportamentos mais

violentos, fruto das patologias de que padecem.

54. Feita essa análise e constatação, o que se exige a um prestador de cuidados

de saúde é que resolva eventuais problemas daí decorrentes, com recurso a

profissionais qualificados – nunca, por recurso à violência.

55. Diga-se, a este propósito, que a legítima defesa está devidamente prevista,

definida e enquadrada na Lei – nos termos do n.º 1 do artigo 337º do código Civil,

“Considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer agressão actual e

contrária à lei contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro, desde que

não seja possível fazê-lo pelos meios normais e o prejuízo causado pelo acto não

seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão.”.

56. Esta norma está já expressa no Regulamento Interno do estabelecimento,

mas importa que todos os funcionários e voluntários do Estabelecimento tenham

competências, habilitações e formação necessárias e específicas para lidar com

utentes com as especificidades daqueles a quem são prestados serviços, e para

antecipar e resolver situações de hipotética violência.

57. Por último, de acordo com os factos acima relatados, não restam dúvidas de

que, no dia a que se reporta o auto de ocorrência da GNR, o estabelecimento em

causa organizou uma saída do estabelecimento com os utentes que aí se

encontravam e que, independentemente do que se passou nessa saída, quando

foi organizado o transporte de regresso, nenhum dos profissionais do

estabelecimento procurou confirmar se o utente M. […] tinha regressado com os

demais utentes e equipa.

58. Ou seja, a saída não foi organizada de forma a proteger e garantir a

segurança dos utentes.

59. Acresce ainda que, em todos os procedimentos e regras que Maria Alzira

refere cumprir, não se vislumbra nenhuma sobre o método ou organização dos

regimes de saída, no que respeita à confirmação do número de utentes que sai do

estabelecimento, que utiliza os meios de transporte e que retoma ao mesmo

estabelecimento, finda a atividade no exterior.

Page 25: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

25

60. São procedimentos de segurança básicos, que visam garantir o controlo do

número de utentes, que não existem no estabelecimento em causa –

nomeadamente, não estão previstas regras sobre contagem de pessoas ou

designação de responsável para esse efeito, o que igualmente evidencia uma

falha nos procedimentos existentes para salvaguarda da segurança e qualidade

dos cuidados de saúde prestados.

61. Ponderada toda a factualidade vinda de expor e atenta a necessidade de

adoção de procedimentos que salvaguardem a segurança dos utentes da Zira’rt,

cumpre, ao abrigo das atribuições da Entidade Reguladora da Saúde, propor a

emissão da instrução infra delineada.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

62. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados,

nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,

tendo para o efeito sido chamados a pronunciarem-se, relativamente ao projeto de

deliberação da ERS, o reclamante e a entidade visada.

63. Decorrido o prazo concedido para a referida pronúncia, apenas a entidade

visada se pronunciou, conforme ofício junto a fls. 199 e 200 dos autos, alegando o

seguinte:

“[…]

O Zir’Art – Centro Terapêutico e Pedagógico, gerido por Alzira Fidalgo

cumpre as regas impostas legalmente quanto à prestação de cuidados de

saúde por forma a respeitar e garantir, em permanência, todos os direitos e

interesses legítimos dos seus utentes, assim como a privacidade dos

mesmos.

Os procedimentos necessários e exigidos por este fim foram adotados pela

gerente do Zir’Art, com especial relevância, a três níveis:

Quanto à regulação do regime de saídas dos utentes com vista a garantir a

sua segurança

São obrigatórios registos de saída de todos os utentes (por nome completo) e

de entrada em cada atividade externa às instalações, bem como a existência

Page 26: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

26

de um relatório final, no momento das chegadas, a elaborar pelo responsável

nomeado pela saída, onde conste a retificação de cada um e de todos os

nomes constantes dos registos, assim como a assinatura do responsável.

Quanto à regulação do regime de visitas aos utentes que se encontrem no

estabelecimento.

O qual consta no regulamento interno do estabelecimento e que permite

expressamente a entrada, sujeita a registo escriturado num livro onde são

anotadas a horta de entrada, a hora de saída e o nome do utente visitado,

bem como, quem o visitou, exclusivamente a visitas autorizadas pro familiares

dos utentes e responsáveis pelo Zir’Art.

[…]

Quanto à regulação do regime dos trabalhadores, prestadores de serviço e

funcionários

De referir a existência de quadro de pessoal especializado, o qual é

publicitado nas próprias instalações para conhecimento dos utentes e

familiares por forma a garantir que possuem as competências, habilitações e

formações necessárias para exercer funções exigidas, garantindo que apenas

que aqueles profissionais, preenchendo os requisitos de formação, prestam

apoio e mantêm contacto com os utentes. […]”.

64. Considerando o exposto, não resultaram destas alegações quaisquer factos

capazes de infirmar ou alterar o sentido do projeto de deliberação da ERS – até

porque os documentos entregues nos presentes autos pela entidade em causa,

não refletem o que ora é anunciado em sede de audiência de interessados - razão

pela qual se propõe a sua manutenção na íntegra.

V. DECISÃO

65. Tudo visto e ponderado, propõe-se ao Conselho de Administração da ERS

que delibere, nos termos e para os efeitos do disposto nas alíneas a) e b) do

artigo 19.º e na alínea a) do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo

Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, emitir uma instrução a Maria Alzira

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27

Silva dos Santos Fidalgo, relativa ao estabelecimento denominado Zir’Art”, no

sentido de:

(i) Garantir, em permanência, que, na prestação de cuidados de saúde sejam

respeitados todos os direitos e interesses legítimos dos utentes, nomeadamente,

o direito à segurança e acesso aos cuidados adequados e tecnicamente mais

corretos, os quais devem ser prestados com qualidade, de forma humana,

tempestiva e integrada, salvaguardando sempre a dignidade e privacidade dos

utentes;

(ii) Adotar os procedimentos internos necessários para regular o regime de

visitas aos utentes que se encontrem no dito estabelecimento e a quem sejam

prestados cuidados de saúde, garantindo que, para além dos trabalhadores,

prestadores de serviço ou voluntários, devidamente registados e que se

encontrem ao serviço de Maria Alzira, apenas têm contacto com os utentes os

seus familiares, representantes legais ou terceiros devidamente identificados e

previamente autorizados, quer pela própria Maria Alzira, quer pelos utentes ou

quem os represente, no caso dos mesmos se encontrarem numa qualquer

situação que os impeça de tomar decisões de forma autónoma e independente;

(iii) Adotar os procedimentos internos necessários, para garantir que os

trabalhadores, prestadores de serviço ou voluntários, devidamente registados e

que se encontrem ao serviço de Maria Alzira, possuem as competências,

habilitações e formações necessárias para exercer funções no estabelecimento

em causa e lidar com os específicos utentes do mesmo, gerindo conflitos e

evitando o recurso a qualquer forma de violência;

(iv) Adotar os procedimentos internos necessários para regular o regime de

saídas dos utentes e para garantir a segurança permanente dos mesmos, quer no

transporte, quer durante a realização do evento/atividade a que se destina a

saída, quer no que respeita ao regresso ao estabelecimento no final do evento,

em especial, contemplando regras que permitam conferir o número de utentes

inscritos para o evento/atividade que saem do estabelecimento e que regressam

ao mesmo, e que identifiquem um ou mais responsáveis pelo cumprimento do

plano de saída.

(v) Dar cumprimento imediato à presente instrução, bem como dar

conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30 dias úteis após a notificação da

presente deliberação, dos procedimentos adotados para o efetivo cumprimento do

disposto em cada uma das alíneas supra.

Page 28: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA …

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66. A instrução emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1

do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de

22 de agosto, configura como contraordenação punível, in casu com coima de

1000,00 EUR a 44 891,81 EUR, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da

ERS que, no exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou

sancionatórios, determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos

14º, 16º, 17º, 19º, 20º, 22º e 23º.”.

67. A presente deliberação será remetida à Segurança Social.

68. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada, no sítio

oficial da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.

Aprovado pelo Conselho de Administração da ERS, nos termos e com os

fundamentos propostos.

Porto, 28 de fevereiro de 2019