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1 Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/064/2015; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento, em 7 de novembro de 2015, através da Delegada de Saúde Adjunta da Região de Lisboa e Vale do Tejo, da

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1 Mod.016_01

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de

supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades

económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos

no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/064/2015;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento, em 7 de novembro de

2015, através da Delegada de Saúde Adjunta da Região de Lisboa e Vale do Tejo, da

2 Mod.016_01

suspensão da Unidade de Hemodiálise Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda.

(doravante Diaverum), entidade registada no SRER da ERS sob o n.º 10866, que

detém, entre outros, um estabelecimento sito na Av. das Forças Armadas n.º 49- R/c,

em Lisboa, registado sob o n.º 101725, (doravante Diaverum – Entrecampos) uma vez

que, após análise das Notificações no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica

(SINAVE), entre o período de 19 de outubro de 2015 a 29 de outubro de 2015, foi dado

conhecimento da existência de vários doentes infetados com hepatite C durante a

realização de hemodiálise, naquela unidade.

2. Após análise da referida exposição, o Conselho de Administração, por despacho de 18

de novembro de 2015, ordenou a abertura de processo de inquérito registado sob o n.º

ERS/064/2015.

I.2 Diligências

3. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no SRER da ERS relativa ao registo da entidade Diaverum –

Investimentos e Serviços, Lda., com o NIPC 511154097, entidade registada no

SRER da ERS sob o n.º 10866, com sede em Sintra Business Park Escr. 2C 2710 -

089 Sintra;

(ii) Realização de diligências in loco às seguintes Unidade de Hemodiálise1:

a) no dia 12 de novembro de 2015, à Unidade de Entrecampos, registada no

SRER da ERS sob o n.º E-101725, sita na Av. das Forças Armadas n.º 49- R/c,

1600-121 Lisboa, registado sob o n.º 101725;

b) no dia 15 de dezembro de 2015, à Unidade de Marco de Canaveses,

registada no SRER da ERS sob o registo n.º E-101727 sita na Al. Dr. Miranda

Rocha, 90, 4630-200 Marco de Canaveses;

1 A data da realização de diligências in loco foi alterada de 15 de novembro de 2015 para 15 de

dezembro de 2015. Para a justificação da alteração ver ponto 25º da pronúncia do prestador infra.

3 Mod.016_01

c) no dia 15 de dezembro de 2015, à Unidade de Penafiel, registada no SRER

da ERS sob o registo n.º E-121405, sita no Largo Santo António dos Capuchos,

R/C (Hospital da Misericórdia de Penafiel) 4560- 454 Penafiel;

d) no dia 15 de dezembro de 2015, à Unidade de Paredes, registada no SRER

da ERS sob o registo n.º E- 101726, sita na Rua Elias Moreira Neto, 4580-085

Paredes;

e) no dia 5 de janeiro de 2016, à Unidade da Figueira de Foz, registado no

SRER da ERS sob o registo n.º E-101724, sita na Rua da Escola, 27 3080-847

Figueira da Foz;

f) no dia 5 de janeiro de 2016, à Unidade de Aveiro, registado no SRER da ERS

sob o registo n.º E-101721R, sita na Rua João Francisco do Casal, 122-124

3800-266 Aveiro;

(iii) Pedido de documentação relativa aos procedimentos e regras de funcionamento

das unidades visitadas em 15 de dezembro2 de 2015 e 5 de janeiro de 2016;

(iv) Parecer do perito médico da ERS, em 30 de novembro de 2015, e dos peritos

enfermeiros da ERS, em 14 de dezembro de 2015 e 15 de janeiro de 2016;

v) Comunicações trocadas entre a ERS e a Delegada de Saúde Regional Adjunta

de Lisboa e Vale do Tejo, sobre o levantamento da suspensão da Unidade de

Diálise de Entrecampos, de 15 e 18 de dezembro de 2015.

II. DOS FACTOS

II.1 Dos factos relativos à fiscalização da Unidade de Entrecampos

4. Na sequência da receção do ofício da Delegada de Saúde Adjunta da Região de Lisboa

e Vale do Tejo, relativo à suspensão da Unidade de Hemodiálise Diaverum -

Entrecampos e da abertura do presente processo de inquérito, uma equipa da ERS

deslocou-se, no dia 12 de novembro de 2015, às instalações daquele estabelecimento

com o objetivo de averiguar em concreto, se, por um lado, a unidade em causa cumpria

os requisitos de exercício para a atividade de hemodiálise;

2 A data do pedido de documentação relativo à realização de diligências in loco foi alterada de 15 de

novembro de 2015 para 15 de dezembro de 2015. Para a justificação da alteração ver ponto 25º da pronúncia do prestador infra.

4 Mod.016_01

5. E por outro, verificar se a unidade cumpria os procedimentos relativos à organização e

funcionamento de unidades de hemodiálise, bem como se aqueles garantiam a

prestação de cuidados de saúde com qualidade e eram aptos a garantir os direitos e

legítimos interesses dos utentes.

6. De acordo com a informação prestada, no local, pelos responsáveis por aquela unidade

de diálise, a qual se encontra vertida no “Relatório referente a incidente de

seroconversão na Unidade de Hemodiálise Diaverum Entrecampos”3 foi possível aferir

o seguinte:

[…]

i) a unidade encontra-se em funcionamento desde 1981, e tinha à data de 30-09-

2015, 213 doentes a realizar tratamentos de hemodiálise;

ii) a unidade tem 40 postos de hemodiálise (35 + 5 dedicados a doentes com

HBsAG positivos), e dispõe de 44 monitores;

iii) a unidade tem 7 turnos diários (3 turnos diurnos às 2º, 4º e 6º feiras , 3 turnos

diários às 3º, 5º feiras e sábado e um turno noturno às 2ª, 4ª e 6º feiras.)

iv) encontram-se a prestar atividade naquela unidade 6 nefrologistas, 6 médicos

residentes, 33 enfermeiros, 3 auxiliares técnicos de diálise e 14 auxiliares;

v) O ratio doente/enfermeiro em cada turno é de 5.5;

Descrição do incidente

Na clínica de hemodiálise de Entrecampos […] os resultados laboratoriais de

rotina do mês de outubro, disponíveis em 2015/10/08 mostraram que três doentes

haviam convertido para anti-HCV, apresentando simultaneamente elevação aguda

das transaminases. Ao serem repetidos os testes a todos os doentes dialisados

na mesma sala, mais um doente se apresentou positivo. A um quinto doente que

apresentava transaminases elevadas “de novo” em 2015/10/08 mantendo-se anti-

HCV negativo na repetição, foi pedido o HCV RNA. Todos os resultados se

confirmaram e a pesquisa de RNA viral foi positiva em 5 doentes. Todos estes

doentes eram Anti-HCV negativos nos mesmos antecedentes, nomeadamente em

Setembro.

Em 20 de outubro todos os doentes da clínica foram submetidos a colheita de

sangue para pesquisa de HCV RNA. Esta pesquisa revelou mais um caso (sexto

doente) de positividade.

3 Cuja cópia se encontra junta aos autos.

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Os 6 doentes fazem diálise na mesma sala, no mesmo turno. Neste turno, não

havia anteriormente quaisquer doentes Anti-HCV positivos. No turno anterior,

nesta sala, faziam diálise dois doentes Anti-HCV positivos, um deles com carga

viral negativa em fevereiro de 2015.

Os doentes seroconvertidos apresentavam-se assintomáticos na altura do achado

(apenas uma doente apresentava estado ligeiramente nauseoso, em possível

relação com toma de analgésico tramadol) e assim se mantêm até à data. Todos

foram informados da situação e questionados acerca de fatores e

comportamentos de risco para contaminação de HVC. O contexto social foi

também avaliado […].

Todo o pessoal foi submetido a avaliação de transaminases e Anti-HCV, sendo

que estão identificados, até ao momento, dois casos de seropositividade Anti-

HCV, já conhecidos há muitos anos […]. Ambos os casos são negativos para o

RNA do HCV, ou seja, trata-se de pessoas a priori não suscetíveis de transmitir

infeção. Foi também processada a genotipagem do HCV em todos os doentes

seroconvertidos bem como em todos os doentes previamente positivos da clínica,

sendo que os primeiros já têm genótipo identificado […]. Os doentes

seroconvertidos estão a ser submetidos a determinação semanal de provas de

função hepática, o que será mantido até normalização/estabilização das mesmas.

Uma auditoria interna parcial, com especial enfoque nas práticas de controle de

infeção foi conduzida em 16 de outubro. Uma auditoria “externa” conduzida pela

equipa médica e de enfermagem da Diaverum Espanha decorreu em 19 de

outubro. A notificação obrigatória de doenças transmissíveis na plataforma

eletrónica SINAVE referente aos 6 casos foi feita em 19, 20 e 29 de outubro de

acordo com a disponibilidade dos resultados do HCV RNA de cada doente.

Plano de Ação

A investigação médica e de enfermagem, no sentido de tentar encontrar uma

causa plausível para o surto de infeção prossegue;

A auditoria externa realizada pela equipa espanhola em 19 de outubro já enviou

o seu relatório preliminar. Foram postas em prática medidas de reforço dos

cuidados de controle de transmissão de infeção.

A notificação dos casos à Direção-Geral de Saúde processou-se em 19, 20 e 29

de outubro;

6 Mod.016_01

[…] Prosseguir-se-á com o estudo de sequenciação genética vital, no Instituto

Dr. Ricardo Jorge, sendo de presumir que os resultados demorem entre dois ou

três meses a estarem disponíveis.4

Os doentes seroconvertidos estão a ser monitorizados clinicamente e

laboratorialmente, com provas de função hepática semanais até à respetiva

normalização/estabilização.

Os restantes doentes da clínica continuarão a ser monitorizados mensalmente

com transaminases e Anti-HCV, de acordo com o protocolo da clínica.

Reforço de formação de pessoal em relação às medidas de controlo de infeção:

O enfermeiro chefe da clínica procedeu à organização de grupos para reforço de

monitorização das práticas de controle de infeção. A diretora de enfermagem da

Diaverum Portugal está pessoalmente envolvida no treino e reforço destas. A

primeira reunião de formação informal a enfermeiros e auxiliares antes de cada

turno na clínica, e existe um calendário de ações de formação para todo o mês de

novembro. Está a ser constituída uma comissão de controle de infeção na clínica.

Foi contratado um consultor de gastrenterologia com experiência em tratamento

de hepatite C, nomeadamente hemodialisados (Dr.ª […]), para avaliar os casos e

aconselhar sobre indicação terapêutica em cada um deles.

Foi reformulada a distribuição de postos de diálise nas várias salas da clínica, de

forma a aumentar as dimensões de cada posto, como medida de reforço de

controle do risco de infeção. Foram contactadas outras clínicas da área para

recolocação de doentes. Procedeu-se à criação de uma sala exclusiva para

doentes HCV+, com monitores dedicados e staff dedicado.

Foi reforçada a proteção contra intrusão da clínica, através do prolongamento

dos horários do secretariado e da contratação de seguranças para os horários não

cobertos pelo secretariado. […]” – cfr. Relatório referente a incidente de

Seroconversão na Unidade de Hemodiálise Diaverum – Entrecampos, de 12 de

novembro de 2015, junto aos autos.

7. Ainda no decurso da visita ao estabelecimento de Entrecampos, a equipa da ERS foi,

também, informada que, no dia 6 de novembro de 2015, após a notificação da

suspensão da unidade, a Comissão de Verificação Técnica (CVT) de Hemodiálise

4 Em 22 de dezembro de 2015, a Diaverum veio juntar aos autos o “Relatório sumário do estudo

filogenético realizado a sequências do vírus da Hepatite C”, do Laboratório de Referência VIH e Hepatites B e C do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge de Lisboa.

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realizou nova vistoria à unidade em causa, tendo sido determinadas as seguintes

medidas corretivas:

[…]

Agrupar todos os doentes HCV+, numa sala convertida para o efeito, no último

turno do dia, segregando-os dos doentes negativos;

Instituir a dedicação exclusiva de monitores a doentes HCV+, devendo estes

monitores ter identificação de fácil perceção;

Para se obter, na totalidade, os objetivos referidos nos pontos 1 e 2, acima

descritos, poderá ser necessário a transferência de doentes atualmente nesta

unidade, para outra(s) clínicas de diálise. Nessa circunstância, os doentes a

transferir deverão ser negativos para o HCV e pertencerem a salas de diálise

onde não sejam tratados doentes HCV+;

Suspender a prática de manipulação de medicamentos, no caso presente a

Heparina, na sala de diálise, aplicando o descrito no Manual de Boas Práticas de

Diálise Crónica – 2011;

Até um mais concreto esclarecimento do ocorrido, não deverão ser admitidos

doentes, novos ou em trânsito, para tratamento dialítico;

Reforço de todas as medidas de controlo de infeções;

Constituição do Grupo Local do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de

Infeções e de Resistências a Antimicrobianos, que em conjunto com o Diretor

Clínico e Enfermeiro-Chefe, promovam e assegurem as regras agora instituídas;

Promover a orientação dos doentes para o mesmo Centro de Hepatologia;

Promover o envio de amostras dos casos identificados, para realização de

sequenciação do RNA para Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, para

consolidação da investigação epidemiológica,

Reforço na unidade das medidas de segurança, particularmente as de anti-

intrusão. […] – cfr.- documento manuscrito, junto aos autos.

8. No decurso da visita às instalações da Unidade de Entrecampos, foi ainda solicitado, ao

prestador que remetesse à ERS, os seguintes documentos:

1) Cópia do regulamento interno;

2) Cópia do Relatório de Atividades referente aos anos de 2013/2104;

3) Resultados da auditoria clínica interna, referente ao ano de 2014;

8 Mod.016_01

4) Lista nominativa do pessoal;

5) Listagem enfermeiros e respetivo horário mensal referente aos meses de

julho/agosto/setembro de 2015;

6) Cópia da notificação de incidente na plataforma SINAVE e comunicações

internas de notificação de incidente, relativos aos dias 19, 21 e 29 outubro de

2015;

7) Cópia do levantamento arquitetónico da unidade;

8) Cópia do procedimento de preparação de heparina, antes do incidente e após o

incidente (29 de outubro de 2015 e 16 de novembro de 2015);

9) Cópia das manutenções, preventivas e corretivas referentes ao ano de 2015,

dos seguintes equipamentos: monitores de diálise, gerador, ar condicionado e

frigoríficos da farmácia;

10) Cópia do controlo da qualidade da água, desde julho a novembro de 2015;

11) Ações de formação realizadas em 2015, ministradas a Enfermeiros, Auxiliares

e Assistentes limpeza, designadamente, a formação em higienização e as ações

de formação desenvolvidas após incidente, com as respetivas folhas de presença;

12) Cópia do protocolo de análises em vigor na Unidade de Entrecampos;

13) Resultados dos doentes positivados;

14) Cópia de inquéritos de satisfação dos utentes, referente a 2015;

15) Procedimentos de limpeza e higienização;

16) Cópia dos procedimentos de certificação.

9. A informação solicitada foi remetida nos dias 12 e 13 de novembro 2015 e encontra-se

junta aos autos.

10. No que se refere ao procedimento de “Medidas Gerais para o controlo de

Infecções_Clínica”, aprovado em 20-10-20095, tem como objetivo “Diminuir o risco de

infecção na clínica entre doentes e pessoal e Garantir um ambiente seguro e limpo

para os doentes e pessoal.”, e que para o que ao presente processo importa, se passa

a transcrever:

5 Cfr. cópia do documento junto aos autos.

9 Mod.016_01

“[…]

1. Manter um ambiente limpo, segundo o plano de

higiene definido.

1. Impresso 601.4A –

Plano de Higiene.

2. Disponibilizar pontos exclusivos de lavagem de

mãos com água, sabão líquido, anti-séptico líquido

e toalhetes descartáveis.

2. As torneiras destinadas

à lavagem das mãos

devem de ser

automáticas.

3. Disponibilizar Equipamento de Protecção

Individual (EPI) a todos os profissionais de acordo

com as suas funções e procedimentos a realizar.

3. Considera-se EPI:

- Batas descartáveis.

- Óculos/Viseira,

- Máscara ou máscara

com viseira,

- Luvas.

- Avental.

4. Disponibilizar uniformes a todos os profissionais de

acordo com as suas funções e procedimentos a

realizar.

4. Todos os uniformes

devem ser lavados na

clínica, ou por entidade

contratada desde que

cumpra com todos os

requisitos legais.

5. Não é permitido a realização de pensos nas zonas

de tratamento da clínica. Só o penso do CVC é

autorizado a realizar na sala de tratamento.

[…]”.

11. No que respeita ao “Procedimento Higienização do ambiente na clínica”, aprovado em

30-04-20126, importa constatar o seguinte:

“[…]

4. Elaborar plano de higiene que contemple, no mínimo:

- O chão deve ser lavado no final de cada turno nas

salas de tratamento (preferencialmente após a saída dos

6 Cfr. cópia do documento junto aos autos.

10 Mod.016_01

doentes da sala) e nas outras áreas uma vez por dia.

Limpar todas as superfícies no fim de

cada tratamento, com a solução

desinfectante aprovada.

- Limpeza e desinfecção do

cadeirão de diálise, almofadas e

mesas de apoio, no final de cada

tratamento.

- Limpar os suportes do saco do lixo

e as superfícies externas dos

contentores corto-perfurante no fim

de cada turno.

- Limpar superfícies sujeitas a

contacto manual muito frequente

(por exemplo, maçanetas das

portas, telefone, computadores,

cuffs etc.) com o produto de

limpeza.

[…]

Consideram-se superfícies os

tampos de todos os balcões de

apoio na sala de diálise, como

balcões de preparação de

medicação, balcões de secretária,

assim como carros de apoio.

As almofadas partilhadas entre

doentes têm de ser de material que

permita a sua limpeza e

desinfecção.

12. Abrir registo de incidentes / Não

conformidade sempre que exista

qualquer evidência de contaminação.

Se necessário implementar-se-á a

respectiva acção corretiva/preventiva

de acordo com os procedimentos 501.1

e 550.1.

12. Responsabilidade

do colaborador que detetar

a contaminação.

13. Por sua vez no que toca ao “Procedimento de Profilaxia da Hepatite C: Marcadores e

gestão de doentes” aprovado em 20-10-20097, refira-se que o procedimento determina

o seguinte:

7 Cfr. cópia do documento junto aos autos.

11 Mod.016_01

“[…]

1 Identificar os doentes portadores do VHC. 1 É portador de VHC, o doente

que apresente uma das

seguintes condições:

- Positividade da pesquisa do

anticorpo anti-VHC (método

imunoenzimático);

- Positividade da pesquisa do

RNA-VHC.

2 Implementar as medidas gerais de proteção

e higiene para o controlo de doenças por

agentes transmitidos pelo sangue e seus

derivados (precauções standard).

2 Profilaxia da hepatite C nas

unidades.

3 Recomenda-se que na clínica seja definida

uma área para tratamento exclusivo dos

doentes com Hepatite C ou AcVHC, que o

material aqui utilizado

(esfigmomanómetros, pinças, etc.) não seja

permutável com o da outra área “não

infectada” e que, em cada uma destas

áreas o pessoal seja fixo durante os turnos

de tratamento.

3 Segundo o Manual de Boas

Práticas.

4 Recomenda-se que deva ser utilizado para

cada doente o mesmo monitor de

hemodiálise e cada monitor só deve ser

utilizado no tratamento dos mesmos

doentes (“fixação” de monitores).

4 Segundo o Manual de Boas

Práticas.

5 Pesquisar nos doentes admitidos (novos

doentes e doentes tratados em outras

unidades) o anticorpo anti-VHC:

- Antes da admissão,

- Trimestralmente nos doentes anti-VHC

negativo

5 Requisito da norma da

Diaverum.

Recomendação segundo o

Manual de Boas Práticas.

12 Mod.016_01

- Semestralmente nos doentes anti-VHC

positivo.

6 Tratar todos os doentes com a imunidade

desconhecida para o VHC, como

potencialmente infectados.

7 Limpar e desinfectar, de acordo com as

instruções do fabricante, os monitores

utilizados nos tratamentos dos com

Hepatite C.

8 Pesquisar o RNA do VHC nos doentes com

anticorpos anti-VHC positivos.

9 Pesquisar o RNA do VHC nos doentes de

risco sempre que ocorra uma

seroconversão anti-VHC de um doente e,

proceder a uma avaliação da necessidade

de pesquisa do anti-VHC no pessoal.

9 A avaliação da necessidade da

pesquisa no pessoal é da

responsabilidade do Director

Clínico da unidade.

Consideram-se doentes de risco

todos os que partilharam o

monitor ou efectuaram o

tratamento com o doente

infectado.

Sempre que ocorra uma

seroconversão devem ser

avaliadas as práticas na clínica,

para despistar a possibilidade de

uma infecção horizontal.

10 Pesquisar, na admissão, o RNA do VHC

nas unidades com uma prevalência

superior a 20% de doentes com Hepatite C.

10 Recomendação do Manual de

Boas Práticas.

11 Pesquisar o RNA do VHC nos doentes

apresentam indicadores de hepatocitólise

não explicáveis.

12 Avaliar a necessidade da pesquisa do

AcVHC na admissão de pessoal.

12 Responsabilidade do Director

clínico. Recomendação do

13 Mod.016_01

Manual de Boas Práticas.

13 Manter todos os resultados das pesquisas

do VHC no processo do doente.

13 Requisito da norma da

Diaverum.

14 Registar como incidente sempre que ocorra

uma seroconversão na clínica.

14 Requisito da norma da

Diaverum.

A seroconversão de um doente

é considerada um incidente

grave.

15 Reportar anualmente a incidência e

prevalência da infecção pelo VHC na

clínica ao Director Médico Nacional e às

entidades responsáveis.

15 Requisito da norma da

Diaverum.

Requisito legal.

[…]”.

14. A factualidade apurada no âmbito da visita às instalações da unidade de hemodiálise

de Entrecampos encontra-se vertida no Relatório de Fiscalização, junto em anexo aos

autos, e que aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos, e que e

para o que o presente processo importa, se passam a transcrever as conclusões

principais:

“[…] Considerando o caso em concreto foi solicitado aos intervenientes que

fizessem uma apresentação da situação, assim como medidas adotadas após a

deteção dos casos de seroconversão.

Relativamente à questão em concreto dos casos de seroconversão de VHC,

referiu o diretor clínico que têm como procedimento efetuar um plano de análises

sanguíneas mensalmente. No último realizado em outubro, foram detetados em

três doentes anticorpos (ATC) para VHC pelo que no sentido de garantir a

confirmação foram realizadas análises ao RNA e confirmou-se a seroconversão.

Seguidamente, todas as análises de todos os doentes foram revistas para

verificação eventual de casos suspeitos, e nesta verificação encontrou-se mais

dois casos de doentes com alterações nas transaminases. Sendo assim, todos os

doentes foram sujeitos a análise para RNA do VHC e para além destes dois

últimos doentes, ainda foi identifcado mais um doente com seroconversão apesar

deste último ainda estar com ATC negativo.

Neste seguimento, estes seis doentes com seroconversão para VHC foram

sujeitos a “isolamento geográfico”.

14 Mod.016_01

Todos os casos foram notificados no SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância

Epidemiológica) da Direção Geral de Saúde (DGS), afirmando ainda a Dra […]

que tentou várias vezes falar pessoalmente para a DGS sem resultado.

Assim, no dia 5 de novembro a Delegada de Saúde Regional Adjunta de Lisboa e

Vale do Tejo, efetuou uma visita ao estabelecimento e notificou a entidade para

suspensão imediata, que segundo a Dra […] terá sido às 23h desse dia.

Considerando esta situação recorreram da decisão junto da DGS no dia 6 de

novembro porque o realojamento dos doentes que necessitavam de tratamento

seria muito complexo pela falta de acesso.

Sendo assim, a entidade chegou a um entendimento com Diretor Geral da Saúde

e a suspensão ficou sem efeito, mas a entidade viu-se obrigada a adotar um

conjunto de medidas corretivas até 13 de novembro de 2015. Portanto, neste

processo não chegou a existir efetivamente a suspensão de atividade nem

qualquer transferência de doentes para outra clínica. Contudo, será de referir que

as medidas corretivas propostas acautelavam o princípio da máxima precaução e

no dia da fiscalização foram demonstradas como adotadas à equipa de

fiscalização.

Neste contexto, será importante referir que isolar os doentes com VHC positivo foi

a primeira questão a ser tratada pelo que a entidade improvisou uma sala apenas

para estes doentes.

Para além desta questão, foi realizado um plano de formação a todos os

profissionais na clínica sobre procedimento de controlo de infeção e higienização,

que foi demonstrado pela entidade, foi feita uma revisão a nível de procedimentos,

foram diminuidos os postos para evitar maior proximidade, e considerando a

existência de dois blocos em edíficios diferentes contrataram uma empresa de

seguranças para garantir presença física fora do horário de secretariado.

Além de todas estas medidas, a entidade encontra-se inibida de aceitar mais

doentes e ainda nesta sequência foram tranferidos 14 doentes para outras clínicas

[…]. Assim, as transferências internas e a única externa foram convenientemente

tratadas, com reencaminhamento do processo clínico do doente (nas internas

através da plataforma interna da entidade, e a externa através de envio de

processo clínico sob a forma escrita).

Questionados o Dr. […] e a Dra. […] sobre o que eventualmente poderá ter

acontecido, referem que não sabem qual a fonte. Adiantaram que no seguimento

destas diligências encontram-se em contacto com o Instituto Ricardo Jorge (Dra

15 Mod.016_01

[…] e Prof. Doutor […]) para sequenciação genética do vírus. Ainda

acrescentaram que os doentes se encontram em vigilância da PCR para vigilância

da carga viral.

Dos seis doentes seroconvertidos, referiram os clínicos que as transaminases já

se encontram a normalizar e que neste seguimento, se encontram a ser seguidos

por médica gastroenterologista para posterior tratamento ou reconsideração do

mesmo.

Acerca do acontecimento em causa, referem que os doentes seroconvertidos para

VHC encontravam-se todos a realizar hemodiálise (HD) no mesmo turno e nesse

turno (3ª, 5ª e sábado das 13 às 17h) não havia nenhum doente VHC positivo.

Considerando os acessos vasculares dos doentes, referiram que dos seis doentes

seroconvertidos 5 possuíam fístulas arteriovenosas (FAV) e 1 possuia prótese

arteriovenosa. No turno anterior, referiram haver dois doentes VHC positivos (um

com FAV e outro com CVC – catéter venoso central). Ainda adiantaram que estes

dois doentes do turno anterior, o doente do CVC está realmente positivo nas

últimas análises, mas a doente da FAV negativou em fevereiro de 2015 e desde aí

mantém esse estado.

Os contactos no local, adiantaram que já efetuaram um estudo global sobre os

casos de seroconversão e a única situação que se encontra eventualmente

associada poderá ser um evento adverso de uma falta de débito do CVC deste

último doente referido (VHC positivo).

Acerca dos equipamentos, adiantaram que estes dois doentes do turno anterior

encontravam-se a fazer hemodiálise em monitores Artis da Gambro que possuem

um sistema de segurança que não permite o início precoce da HD pela desinfeção

subjacente que demora 34 minutos. Estes equipamentos foram adquiridos em

2014 e encontram-se dentro de um plano de manutenção (medidas preventivas e

corretivas).

Demonstraram ainda à equipa de fiscalização um esquema com a localização dos

doentes VHC positivos do turno anterior com a contaminação dos seis doentes

seroconvertidos. Dessa análise verifica-se a existência de um ponto comum

(doente VHC positivo do turno anterior com doente do turno seguinte), pelo que o

Enfermeiro Chefe foi questionado quanto à existência de plano de distribuição de

trabalho e horário dos enfermeiros daquele dia. Respondeu o mesmo, que não

existia plano fixo, isto é, os enfermeiros presentes têm uma distribuição aleatória

de doentes pela sala.

16 Mod.016_01

Como informação adicional, ainda referiram os contactos no local que fizeram

análises a todos os profissionais neste processo e que existem dois casos: um de

uma secretária transplantada renal e outro de uma enfermeira que possui RNA

negativo para VHC mas possui ATC. Frisaram transversalmente que nunca

tiveram uma situação semelhante, referindo possuir 10 doentes positivos mais

antigos na clínica (VHC e VHB) e 7 mais recentes (os 6 agora seroconvertidos e

um caso de uma readmissão de uma doente que fez férias prolongadas em

Angola e que alegadamente já viria com VHC positivo).

Considerando o objeto da fiscalização, delimitado pela tipologia de atividade

prosseguida pela entidade naquelas instalações, a vistoria empreendida foi

orientada pela check-list aprovada, tendente à verificação da conformidade com

os condicionalismos legais e regulamentares aplicáveis à tipologia de actividade

prosseguida.

Os requisitos técnicos de funcionamento aplicáveis encontram-se, conforme

previsto no n.º 1 do art.º 2.º do Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto,

definidos pela Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro.

[…]

No que diz respeito mais concretamente aos procedimentos técnicos, a entidade

enviou os seguintes documentos:

- medidas gerais para o controlo de infeções;

- medidas gerais para o controlo de infeções – clínica;

- medidas gerais para o controlo de infeções – doentes;

- higienização do ambiente na clínica;

- higienização das mãos;

- profilaxia da hepatite C – marcadores e gestão dos doentes.

[…]

No que diz respeito às medidas gerais para o controlo de infeções clínica, refere-

se que se deve disponibilizar Equipamento de Proteção Individual (EPI) a todos os

profissionais de acordo com as suas funções e procedimentos a realizar. No

entanto, após observação na sala de diálise verificou-se que o único EPI utilizado

são as luvas e as viseiras. Questionado o Enfermeiro Chefe acerca da falta de

utilização de bata ou avental aquando dos procedimentos aos doentes, referiu o

mesmo ter-se abolido essa utilização, pelo que foi advertido, no momento [da

17 Mod.016_01

fiscalização], considerando os riscos de quebra de procedimentos básicos no

controlo de infeção.

Acerca também da higienização do ambiente na clínica, refere-se que se deve

elaborar o plano de higiene que contemple que “[…] o chão deve ser lavado no

final de cada turno nas salas de tratamento (preferencialmente após a saída dos

doentes da sala) e nas outras áreas uma vez por dia. […]”. Verificou-se em sede

de fiscalização que não se aguarda pelo término do turno para se limpar

determinadas zonas da sala e até se verificou que antes do turno da tarde

terminar havia já máquinas com circuitos montados, o que pode facilmente ser

contaminado pela existência de utentes na sala em tratamento. Este facto é

também prejudicado devido à pequena distância entre unidades (ver adiante

áreas de tratamento em sala de HD). Deve-se realmente considerar este

procedimento pois existe um grande risco de contaminação e conspurcação das

áreas.

No que diz respeito mais concretamente em relação à profilaxia da hepatite C –

marcadores e gestão dos doentes, verificou-se que o procedimento contempla as

normas gerais da Diaverum assim como as recomendações do Manual de Boas

Práticas de Boas Práticas de Diálise Crónica. No entanto, à semelhança do que já

foi referido anteriormente a bibliografia encontra-se desatualizada assim como o

próprio Manual, existindo uma versão mais recente datada de 2011. Embora não

haja incumprimento do MBP, não era seguida a recomendação D.II. c) (iv) 1.º ou

2.º ou 3.º (concentração e separação dos doentes) e não ficou completamente

claro que se cumpria a recomendação D.II. c) (iii) (monitores de diálise específicos

para os doentes com hepatite C). Atendendo ao elevado número de doentes

portadores do vírus da hepatite C (17 em 213 antes do surto, 23 em 199 depois),

teria sido prudente e sensato seguir estas recomendações.

Foi constatada a existência de um grupo de profissionais designados como

Técnicos Auxiliares de Hemodiálise (TAHD), cujas competências e formação

iremos agora desenvolver.

Tal como refere o regulamento interno, os TAHD são profissionais com funções

auxiliares de enfermagem (…), e neste contexto será de referir que em Portugal

não existe esta categoria profissional, segundo Lei n.º 156/2015, de 16 de

setembro. Adicionalmente é referido que para exercerem esta atividade terão de

ter frequentado com aproveitamento um curso específico ministrado pela

ANADIAL ou equivalente. Ora, nesta sequência será de referir que apesar da

18 Mod.016_01

pesquisa efetuada não foi encontrada nenhuma matéria a respeito e questiona-se

a competência de tal entidade para dar essa mesma formação, incluindo matéria

muito específica como controlo de infeção e execução de determinadas atividades

[…]. Questiona-se assim a competência destes técnicos e o tipo de atividades que

executam.

Verificadas as condições no local, na sala 1 existem atualmente 8 postos de HD (1

para pessoa alectoada) e uma sala para doentes VHC positivos com 4 postos de

HD. A sala 3 não estava em funcionamento mas apresentava 3 postos de HD. Na

sala 4 existem 11 postos de HD e na sala 5 existem 7 postos de HD.

Analisando a área das salas com a necessidade mínima de área por posto de HD,

verifica-se que o espaço torna-se insuficiente principalmente entre postos de HD

(considerando a unidade que compreende o cadeirão/cama e a máquina de HD),

de acordo com o Artigo 51.º do Decreto de Lei n.º 505/99, de 20 de novembro, e

Anexo I da Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro, condições que colocam em

causa a privacidade e portanto, a dignidade dos doentes.

[…]

A sala 1 de HD encontra-se subdividida em duas devido às medidas corretivas

propostas pela DGS. Tal como já foi adiantado existe muito pouco espaço

disponível para circulação na área da unidade do doente que contempla o

cadeirão e a máquina de HD, havendo uma concentração excessiva de doentes

onde as áreas mínimas por doente não eram cumpridas em alguns casos. Aliás foi

verificado que os enfermeiros de serviço estão sempre em contacto físico com os

doentes devido a essa proximidade o que se revela insuficiente em questões de

controlo de infeção. Também se verificou que existe um posto dedicado a doentes

alectoados que para além da unidade do doente ainda possui o carro de

emergência.

Na sala 4 e 5, para além da questão anterior das áreas se manter, será ainda de

referir que existe um desnível com 3 degraus entre as salas.

Será ainda de mencionar que em situações de emergência em qualquer uma das

salas será muito complexo atuar em consonância com as normas e boas práticas,

pois não existe espaço suficiente.

[…]

19 Mod.016_01

No que diz respeito ao plano de formações, pelas medidas corretivas impostas

pela DGS, a entidade ainda enviou o respetivo plano com destaque à formação a

decorrer/decorrida no dia:

19 de novembro de 2015 sobre “Precauções básicas para o controlo da

infeção: equipamento de proteção individual”;

11 de novembro de 2015 sobre “Precauções básicas de controlo de infeções –

higienização das mãos” – onde marcaram presença sobretudo auxiliares.

Ainda enviaram o registo da formação decorrida em:

julho do 2015 sobre mecânica corporal dirigida a auxiliares e administrativos;

junho 2015 sobre formação de orientadores;

junho 2015 sobre sensibilização para o controlo de infeção dirigido a auxiliares.

Acerca do procedimento em concreto da heparina, a entidade enviou a folha de

registo de preparação e diluição da heparina, onde se refere a preparação de

heparina nunca antes de 4 horas de administração.

No entanto, foi verificado que a preparação das heparinas decorre sempre no

turno anterior o que pode não assegurar essa margem de segurança e

estabilidade.

De acordo com as Informações Internas (II 11/15 e II 12/15), alterou-se o

procedimento após detetada a situação do problema que levou a esta fiscalização.

No entanto, no momento da fiscalização, após supostamente a medida corretiva,

verificou-se a existência de um tabuleiro cheio de seringas já com conteúdo no

balcão de enfermagem para o turno seguinte (em zona de passagem), tendo sido

advertido o Enfermeiro Chefe, no momento [da fiscalização]. Ressaltamos mais

uma vez que a DGS já tinha efetuado um reparo na administração de medicação

de acordo com as normas e procedimentos da Diaverum, pelo que foi sugerido

pela auditoria externa que a medicação, uma vez preparada, ficasse tapada até à

sua utilização, uma vez que se encontra numa área de passagem, e a entidade

veio referir que esta medida já estaria em prática, o que de resto não se verificou.

Ainda se verificou durante o momento de fiscalização um frasco de heparina

aberto e já consumido em cerca de ¾ na caixa das heparinas novas, o que vai

contra o procedimento apresentado pela entidade.

Sendo assim, verifica-se que a entidade ainda não definiu corretamente o tipo de

procedimentos a adotar em relação à heparina e desta forma, terá de efetuar um

esforço em prol das boas práticas e controlo de infeção, devendo dar mais

formação aos seus profissionais e respeitando as boas práticas de preparação e

20 Mod.016_01

administração de fármacos. […].” – cfr. Relatório de Fiscalização, de 1 de

dezembro de 2015, junto aos autos.

II.2 Dos factos relativos aos pareceres técnicos do perito médico e do perito

enfermeiro da ERS

15. Face ao conteúdo dos elementos carreados para os autos e do apurado em sede da

visita à unidade de hemodiálise de Entrecampos, foi solicitado ao perito médico que

acompanhou a ERS, que se pronunciasse sobre a matéria em causa, tendo o mesmo

elaborado o parecer, que aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os

efeitos, e que de seguida se transcreve:

“[…] Embora não haja incumprimento do MBP [Manual de Boas Práticas], não era

seguida a recomendação D.II.c) (iv) 1.º ou 2.º ou 3.º (concentração e separação

dos doentes) e não ficou completamente claro que se cumpria a recomendação

D.II. c) (iii) (monitores de diálise específicos para os doentes com hepatite C).

Atendendo ao elevado número de doentes portadores do vírus da hepatite C (17

em 213 antes do surto, 23 em 199 depois), teria sido prudente e avisado seguir

estas recomendações.

[…]

Para 213 doentes são necessários 5 nefrologistas (incluindo o diretor clínico) - e

constam pelo menos 5 na lista de funcionários. Em cada turno deve estar um

médico, independentemente do número de doentes, e creio que isso é cumprido.

[…]

Desconheço qual a capacidade da unidade em termos de número de doentes, na

licença de funcionamento específica. No entanto, pareceu-me evidente que havia

uma concentração excessiva de doentes. As áreas mínimas por posto (1.8 X 2.5

m) não eram cumpridas em todos os doentes. Mas não fizemos essas medições

extensivamente.

A recomendação de transferir 14 doentes e de suspender a admissão de novos

doentes pareceu-me adequada.

Não sei se esta segunda recomendação é para ser definitiva (até terem novas

instalações) ou limitada no tempo. Segundo informação verbal no local da Dra.

[…] (diretora médica da Diaverum) seria para manter 3 meses. Não sei o que ficou

decidido na segunda vistoria da CVT em 13/11/2015.

21 Mod.016_01

[…] Atendendo a que transferir ou não aceitar doentes também não é isento de

incómodos e riscos, e que está para breve a nova unidade, talvez seja adequado

manter a suspensão de admissão de doentes 3 meses e depois admitir doentes

só até ao número atual de doentes (199), portanto só para substituir doentes que

saem por morte, transplante, etc.

[…]

Creio que foram tomadas todas as medidas imediatas possíveis, [adequadas e

suficientes para prevenir que situações idênticas se repitam].

Não sei se é possível passar a fazer a preparação da heparina fora das salas de

tratamento. Se não for possível, terá que ficar assegurado um procedimento muito

preciso da sua preparação e ministração, e um modo de as controlar. A unidade

[deve] elabor[ar] um protocolo de preparação, monitorização e seu controlo, o

implemente e o envio para avaliação (pelos Srs. Enfermeiros).

[…]

Creio que as medidas tomadas foram:

- transferência de 14 doentes;

- sala separada para os doentes HCV;

-monitores dedicados - o mesmo doente faz sempre no mesmo monitor (embora 1

monitor possa servir 6 doentes, 1 por turno);

- suspensão da admissão de doentes 3 meses;

- após 3 meses, admitir doentes só para substituir saídos, até ao máximo de 199;

- proteção anti-intrusão;

- reforço da formação e das normas de prevenção de infeções;

Além destas, apenas a referida acima para a preparação das heparinas. Uma

alternativa seria o recurso a heparinas de baixo peso molecular, que são unidose

e de uso único. No entanto estas heparinas também têm inconvenientes e riscos

clínicos, (além de serem mais caras), por isso dependem da decisão do médico

e, assim, esta alternativa poderia apenas ser sugerida para ponderação, não

imposta.

Recomendações

22 Mod.016_01

Em resumo, concluo que existia um número exagerado de doentes para o espaço,

não eram seguidas recomendações importantes e a heparina não é preparada

fora das salas de tratamento.

As duas primeiras situações foram minoradas, a terceira terá que ser otimizada.

Prevê-se a resolução a curto prazo, com as novas instalações, destes problemas.

E isto parece-me muito relevante neste processo. Por isso, todas as entidades

envolvidas, construtor, Diaverum e licenciadores devem ser alertados e

responsabilizados por atrasos inaceitáveis nas suas respetivas atividades, de

modo a que não haja atrasos na implementação da melhoria das condições de

tratamento dos doentes. […] – cfr. parecer do perito médico que acompanhou a

ERS, de 30 de novembro de 2015, junto aos autos.

16. Por sua vez, foi solicitado ao perito enfermeiro, que acompanhou a ERS na visita à

unidade de Entrecampos, que se pronunciasse sobre a matéria em causa, tendo o

mesmo elaborado o parecer, que aqui se dá por integralmente reproduzido para todos

os efeitos, e que de seguida se transcreve:

[…] Após a observação direta de algumas práticas que são realizadas na clinica,

entrevistas com o Diretor Clínico, Enfermeiro chefe e outros elementos do

pessoal, recolha de evidência documental fornecidos pelos responsáveis assim

como alguns dados através do registo informático da Diaverum, iRIMS, cabe-me

constatar que estão reunidas todas as condições para a realização de boas

práticas baseadas e assentes nos múltiplos manuais que regem a segurança dos

utentes para uma excelência de cuidados.

Os procedimentos estão de acordo com as boas práticas e a segurança do doente

é uma preocupação. É visível que sendo uma clinica internacional manifeste

algum rigor interno nas medidas instituídas assim como auditorias para elaborar

indicadores de segurança e qualidade.

Não querendo estar a enumerar alguns dos procedimentos que estão no manual

de boas práticas fornecido pela Clínica e feita evidência da sua aplicabilidade,

queria contudo referenciar os que são a meu ver essenciais para esta prática.

- Práticas de vigilância serológica para o HCV -Todos os doentes HCV negativos

são submetidos a determinação mensal das transaminases e do Anti-HCV; Os

doentes HCV positivos são submetidos a determinação mensal das

transaminases, trimestral do Anti-HCV, e anual do HCV RNA. São mais exigentes

do que está legislado;

23 Mod.016_01

- Surtos de infeção- Despiste e monitorização;

- Tratamento de águas;

- Auditorias Internas e Externas;

- Manutenção periódica dos equipamentos;

- Planos formativos com evidência de controlo de infeção para todos os

profissionais;

- Protocolos de preparação de fármacos (Heparina).

Quero ainda realçar que de uma forma geral todos os procedimentos existentes

até a data dos acontecimentos, foram mantidos mas com reforço formativo, e foi

realizada a monitorização desse impacto. Contudo existiu a necessidade de um

deles ser reformulado e acompanhado com a criação de uma folha de registo

onde conste, quem fez a preparação e qual o recipiente ou recipientes de onde foi

retirado o fármaco diluído. Estou-me a referir ao procedimento de preparação da

Heparina e a folha de registo dessa preparação que acompanha o processo do

doente.

[…]

O ratio doente/enfermeiro em cada turno – 5.5. De uma forma geral é o que está

recomendado podendo ir a um rácio de 4. É importante não só o rácio mas a

mobilidade destes enfermeiros e a sua experiência profissional que hoje em dia se

pode chamar por competências adquiridas. Foi referido que a mobilidade de

pessoal - 7 enfermeiros deixaram a clínica e 4 foram admitidos no ano de 2015.

Os 4 novos enfermeiros completaram, como todos os que trabalham na clínica, o

exigente programa de formação da Diaverum, designado “Competence in

Practice” (CIP). O Enfermeiro chefe tem mais de 30 anos de prática.

Alguns com mais experiência pois trabalham em outras instituições na mesma

área, outros estão a adquirir essa competência na clínica. A clínica cumpre de

uma forma geral o que está legislado e os rácios dão segurança ao doente.

[…]

Segundo os dados fornecidos e posteriormente evidenciados:

[…] Medicação preparada em área limpa separada das unidades e transportada

em tabuleiros individuais para junto do doente só no ato da aplicação. As

amostras de sangue para os laboratórios são acondicionadas em recipiente

próprio, utilizado apenas para este efeito.

24 Mod.016_01

A limpeza de áreas contaminadas após cada sessão de diálise são limpas com

desinfetante e segunda a informação dado pelo enfermeiro-chefe usa o álcool a

70º e lixívia que vão ser mudados para outro tipo de produto menos agressivo

para os auxiliares de limpeza mas com o mesmo ou superior efeito.

A desinfeção interna dos monitores que estão a ser usados, após se iniciar e

inicia-se de uma forma automática não permite avançar com qualquer operação

num novo doente sem que esteja completo. As operações de desinfeção estão

registadas nas folhas de diálise destes doentes. Todas estas medidas fazem com

que esteja garantida a segurança do doente, mas existem pequenas coisas que

não estando completamente em desconformidade podem trazer algum risco e

devem ser levadas em consideração.

Alguns postos - 4 - localizados nos cantos da sala têm dimensões inferiores a 1,8

x 2,5 m. A clínica está licenciada para um número de postos superior ao efetivo

segunda a informação dada e baseada na “Contratação no âmbito da diálise”,

revista em 2010 pela ARS LVT, mas estes espaços são pequenos. Devem ser

revisto assim como monitores só para doentes HCV positivos.

[…]

Após ser identificado o problema, e foi identificado pela clínica nas análises de

rotina de 8-10-2015, estes tiveram uma preocupação fundamental em que todas

as intervenções tivessem em consideração a necessidade de evitar alarme social

entre doentes e pessoal:

Primeiro de tudo fizeram a comunicação obrigatória ao SINAVE.

Iniciaram um processo de investigação interna, monitorizaram todos os doentes

analiticamente, fizeram um estudo de coorte, vigilância serológica de todos os

doentes em períodos de férias, foram todos informados e com especial atenção os

infetados conjuntamente com o apoio familiar, foi avaliado o contexto social.

Todo o pessoal da clinica foi submetido a controle analítico.

Foi realizada auditoria interna para as práticas de controlo de infeção, limpeza e

conservação de equipamento, revisto o manual de boas práticas, uso de proteção

individual, identificação de possíveis fontes de contaminação fora da clínica e

dentro da clinica, auditoria externa, reformulação de espaços e postos de diálise,

período curto de suspensão da atividade devido ao número de doentes que

necessitavam de diálise e a sua falta poderiam não resistir; foi feito o

encaminhamento para outro centro de diálise.

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Os órgãos de gestão central estão empenhados a tentar resolver o caso

identificando o possível fator causal, contrataram um Gastroenterologista com

experiência em Hepatite C em hemodialisados.

Penso que todas estas atitudes foram as mais corretas podendo contudo existir

uma ou outra que se pudesse introduzir mas talvez não fosse tão fundamental

como as que foram implementadas.

Recomendações:

- Manuseamento correto dos fármacos, diluição, tempos de diluição,

preenchimentos de vias dos cateteres e lavagem dos mesmos.

- Vigilância dos possíveis eventos adversos que podem ser fatais. Com os novos

protocolos e o seu correto cumprimento a segurança do utente e do profissional

melhorou.

- Continuar com o reforço formativo para todos os profissionais, incluindo os

Médicos e outros que pensam não necessitar, porque não estão em contacto com

os doentes mas nem sempre é assim e pequenos gestos podem trazer graves

consequências. Foi possível observar falhas na higienização das mãos.

- Reformular os postos de diálise pois existem pequenos espaços com muita

concentração de pessoas. Pelo que foi possível observar existem picos de

trabalho que num mesmo espaço estão, muitas pessoas com todo o risco que

esta situação acarreta.

- Reavaliar os circuitos de lixos que saem das unidades com os tempos de ligar e

desligar os doentes pois nem todos estavam a ser respeitados pela observação

direta.

- Planos de formação para os utentes em diversas áreas.

-Lavatórios em número reduzido e pequenos para uma correta lavagem das

mãos.

- Existência de zonas em que o espaço físico não estava em boa conservação, o

que dificulta a correta desinfeção das áreas.

- Existência de áreas ou zonas mais concretamente, onde se podia ver

equipamentos em manutenção juntamente com produtos de limpeza e baldes de

água que tinham sido usados para qualquer fim, não transmite boas práticas.

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- Existência num corredor central de acesso à unidade por onde os utentes

circulam, com armários com material esterilizado e outro com fácil acesso aos

utentes, o que pode ser perigoso e não esta em conformidade legislativa.

- Doentes que em virtude da arquitetura da sala ficam muito isolados e de difícil

observação direta pelos enfermeiros.

- Como alguma da medicação é preparada de um turno para o outro fica muito

tempo exposta e em local de movimento, não poderá ser preparada de outra

forma.

- Zonas mais vigiadas e seguras para todos os que usam a clínica, pois numa

observação parecia existir certos espaços de fácil acesso do exterior.

Foram observadas outras não conformidades que estão relacionadas com o

funcionamento da clínica e não com medidas que poderiam pôr em risco o

controlo de infeção e possível contágio dos utentes ou profissionais. […] – cfr.

parecer do perito enfermeiro que acompanhou a ERS, de 14 de dezembro de

2015, junto aos autos.

II.3 Dos factos relativos ao ofício da Delegada de Saúde Regional Adjunta de Lisboa

e Vale do Tejo relativo ao levantamento da suspensão

17. Considerando que o levantamento da suspensão da atividade se encontrava pendente

da verificação pela ERS dos requisitos técnicos de funcionamento da unidade de

Entrecampos, em 15 de dezembro de 2015, foi remetido um ofício à Delegada de

Saúde Regional Adjunta de Lisboa e Vale do Tejo, com o seguinte conteúdo:

[…] A ERS já encetou diligências instrutórias e probatórias […] designadamente

em 12 de novembro de 2015, realizou de uma diligência in loco, tendo em vista

averiguar em concreto, se a unidade em causa cumpre com os requisitos de

exercícios para a atividade de hemodiálise, mas também verificar se a unidade

cumpre os procedimentos relativos à organização e funcionamento de unidades

de hemodiálise.

Após aquela diligência, e no que toca àquele estabelecimento, concluiu-se, ao

abrigo das competências e atribuições da ERS, que não é necessária a adoção de

outras medidas preventivas, para além daquelas já realizadas, não se mostrando

adequada uma medida de suspensão do estabelecimento em causa. […] cfr.

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comunicação de 15 de dezembro de 2015, à Delegada de Saúde Regional

Adjunta de Lisboa e Vale do Tejo, junta aos autos.

18. Assim, em 18 de dezembro de 2015, foi a ERS informada do seguinte:

[…] Foram assim ultrapassados os pressupostos da suspensão de atividade

determinada em 5 de novembro de 2015, na Unidade de Hemodiálise Diaverum

Entrecampos pelo que foi levantada a suspensão de atividade da referida unidade

a partir da data de verificação “in loco” efetuada pela Entidade Reguladora da

Saúde, devendo dar cumprimento às medidas preventivas/corretivas, resultantes

da avaliação técnico funcional efetuada pelo grupo de peritos designado pela DGS

e com as quais a Entidade Reguladora da Saúde anuiu. […]” cfr. informação da

Delegada de Saúde Regional Adjunta de Lisboa e Vale do Tejo, de 18 de

dezembro de 2015, junta aos autos.

II.4 Dos factos relativos à fiscalização das outras Unidade de hemodiálise da

Diaverum

19. Com o propósito de melhor averiguar do cumprimento dos requisitos de exercício da

atividade e funcionamento das unidades de diálise detidas pela Diaverum, bem como

verificar se os procedimentos relativos à organização e funcionamento das referidas

unidades de diálise, se encontravam a ser cumpridos, de forma a evitar que situações

idênticas às ocorridas na Diaverum – Entrecampos se repitam em qualquer uma das

unidades detidas pela entidade Diaverum, foram realizadas visitas, determinadas de

forma aleatória, às seguintes unidades:

i) Unidade de Marco de Canaveses;

ii) Unidade de Penafiel;

iii) Unidade de Paredes;

iv) Unidade da Figueira da Foz;

v) Unidade de Aveiro.

20. As visitas às unidades de Marco de Canaveses, Penafiel e Paredes decorreram no dia

15 de novembro de 2015 e às unidades da Figueira da Foz e Aveiro decorreram no dia

5 de janeiro de 2016. – cfr. autos de notificação das fiscalizações, juntos aos autos.

21. No decurso das referidas visitas, foram solicitados a cada uma das unidades, os

seguintes documentos, que se encontram juntos aos autos:

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i) Relatório de atividades 2014;

ii) Lista nominal de pessoal (médicos, enfermeiros, técnicos, farmacêuticos,

nutricionista);

iii) Procedimento de preparação de medicação, incluindo heparinas;

iv) Manutenção dos equipamentos (monitores de diálise, geradores, frigoríficos, ar

condicionado) (preventiva e corretiva 2015);

v) Ações de formação 2015;

vi) Regulamento interno;

vii) Protocolo de análises clínicas;

viii) Procedimento de limpeza e higienização dos equipamentos e das instalações;

ix) Auditoria clínica 2014;

x)Tratamento da água (setembro a dezembro 2015);

xi) Horário e escala dos enfermeiros (outubro a dezembro de 2015);

xii) Protocolo de medidas de controlo de infeção incluindo as profilaxias em

doentes VHB e VHC;

xiii) Contrato de gestão de resíduos hospitalares;

22. Foi ainda solicitado às unidades de Marco de Canaveses, Penafiel e Paredes os

seguintes documentos:

i) Plano de distribuição de doentes/enfermeiros/técnicos (mês de dezembro de

2015);

ii) Procedimento de lavagem de roupa contaminada;

iii) Planta arquitetónica da sala com identificação dos postos de hemodiálise;

iv) Informação do Diretor Clínico sobre a situação da Diaverum – Entrecampos

(neste caso apenas à unidade de Marco de Canaveses);

23. No que respeita à unidade de Aveiro foi ainda solicitado o Relatório do Grupo de

Trabalho de Infeção, relativo ao mês de dezembro de 2015.

24. As principais conclusões das visitas realizadas encontram-se vertidas no Relatório de

Fiscalização, junto aos autos, o qual foi elaborado de forma a permitir a comparação

entre as unidades supra referidas e a unidade de Entrecampos, encontrando-se

assinaladas no texto as diferenças encontradas em cada uma das unidades, e que,

para o que ao processo importa, se passam a transcrever:

29 Mod.016_01

[…]

1. Os procedimentos estão de acordo com as normas e boas práticas

clínicas?

No momento da fiscalização [à Diaverum - Entrecampos] foi referido pelos

contactos no local existir apenas um acordo verbal com outras unidades de diálise

quando os doentes se encontram em período de férias assim como no caso desta

transferência de doentes (potenciada pelos casos de seroconversão). Existe

adicionalmente um acordo verbal com o centro de acessos vasculares do Hospital

de Cruz Vermelha Portuguesa e no caso de por exemplo as Fístulas

arteriovenosas (FAV’s) deixarem de estar funcionantes, para colocação de Catéter

Venoso Central (CVC) de emergência o doente é reencaminhado para consulta e

posterior colocação no Serviço Nacional de Saúde.

Transversalmente, foi constatado nas fiscalizações realizadas aos outros

estabelecimentos que continua a existir articulação entre centros de acessos

vasculares, ainda que verbal, e em caso de agravamento do estado clínico os

doentes serão transferidos para o hospital da área que tenha a valência de

hemodiálise. Nos relatórios de atividade, consegue-se compreender a existência

de internamentos pelas mais variadas razões, algumas das quais relacionada com

infeção associada aos acessos vasculares pelo que, a formação contínua de

profissionais e respetivo ensino ao doente torna-se fundamental.

Esta entidade [Diaverum] tem estabelecido um conjunto de procedimentos (ver

adiante) que permitem uma prática baseada na evidência, no entanto, será de

referir que se não houver formação contínua esses mesmos procedimentos

poderão não ser cumpridos. Assim sendo, verificou-se transversalmente que

apesar dos procedimentos serem os mesmos, por exemplo, em relação ao

controlo de infeção, equipamentos de proteção individual (EPI), limpezas, a forma

de os executar é diferente entre estabelecimentos.

A entidade [Diaverum] revela uma preocupação no estabelecimento desses

procedimentos e na realização de auditorias internas que verificam da

aplicabilidade ou não dos mesmos. Depois do incidente crítico, os procedimentos

foram mantidos em todas as unidades ainda que, tal como se verá adiante, se

tenham distribuído novas recomendações no sentido de colmatar algumas

lacunas relativamente à preparação de terapêutica injetável. Na unidade de

Entrecampos, houve necessidade de se reforçar a necessidade formativa.

30 Mod.016_01

No que diz respeito a doentes portadores de VHC na unidade de Entrecampos

não se cumpria o Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica – recomendação

Cap. D, 2, c):

(iii) Recomenda-se que haja monitores de diálise específicos para doentes com

HCV. Os monitores de doentes com HCV podem ser utilizados em doentes

negativos, sempre que sejam cumpridas as normas instituídas para a sua

desinfeção e limpeza interna e externa.

iv) Recomenda-se que na unidade seja definida uma estratégia de concentração

dos doentes portadores de HCV. Podem ser adotadas medidas de isolamento de

grau crescente de segurança, a implementar de acordo com a prevalência de

doentes portadores de HCV:

1.º- Concentrar os doentes na mesma sala, em área definida, com algum tipo de

separação física dos restantes doentes; ou

2.º- Concentrar os doentes na mesma sala, por turnos, cumprindo as normas de

desinfeção e limpeza dos monitores; ou

3.º- Colocar os doentes em salas separadas com pessoal exclusivo em cada

sessão de diálise.

Atendendo ao elevado número de doentes portadores do vírus da hepatite C (17

em 213 antes do surto, 23 em 199 depois), teria sido prudente seguir estas

recomendações.

Nos outros estabelecimentos fiscalizados constatou-se que alguns cumpriam já

com a recomendação do Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica, e outros

que seguiram essa recomendação após o conhecimento do caso da unidade de

Entrecampos. Nestas situações houve a concentração de doente VHC com

possibilidade de se deixar eventualmente uma máquina de espaço entre os outros

doentes e no caso concreto de Aveiro foi referido pelo diretor clínico haver desde

sempre a existência de um enfermeiro para esses doentes.

Foram ainda observadas e enviadas as fichas de manutenção técnicas dos

equipamentos de diálise, que comprovam a garantia de segurança dos

equipamentos, em todas as unidades fiscalizadas.

[…]

Em relação aos procedimentos técnicos [verificados na Unidade de Entrecampos],

pode-se referir que têm data de elaboração e aprovação, no entanto, deveriam ser

revistos periodicamente pois tal como demonstram os documentos, a bibliografia

31 Mod.016_01

está muito desatualizada, e os procedimentos também poderão estar,

considerando as necessidades de adaptação temporal da clínica. Por exemplo, no

que diz respeito às medidas gerais para o controlo de infeções – clínica, refere-se

que se deve disponibilizar Equipamento de Proteção Individual (EPI) a todos os

profissionais de acordo com as suas funções e procedimentos a realizar. No

entanto, após observação na sala de diálise verificou-se que o único EPI utilizado

são as luvas e as viseiras. No que diz respeito aos outros estabelecimentos

verificou-se que cada unidade faz a utilização voluntária que considera importante

dentro do mesmo procedimento. Assim, o uso de luvas e máscara é frequente em

todos, mas a utilização de avental e viseira é só considerada por alguns.

Acerca também da higienização do ambiente na clínica, refere-se que se deve

elaborar o plano de higiene que contemple que […] o chão deve ser lavado no

final de cada turno nas salas de tratamento (preferencialmente após a saída dos

doentes da sala) e nas outras áreas uma vez por dia. Verificou-se em sede de

fiscalização que não se aguarda pelo término do turno para se limpar

determinadas zonas da sala e até se verificou que antes do turno da tarde

terminar havia já máquinas com circuitos montados, o que pode facilmente ser

contaminado pela existência de utentes na sala em tratamento. Este facto é

também prejudicado devido à pequena distância entre unidades (ver adiante

áreas de tratamento em sala de HD). Deve-se realmente considerar este

procedimento pois existe um grande risco de contaminação e conspurcação das

áreas.

Nas fiscalizações realizadas aos outros estabelecimentos verifica-se que

provavelmente devido ao número de doentes, a limpeza do chão da sala (de um

turno prévio) é realizada muitas vezes depois do turno seguinte começar e depois

dos monitores de diálise montados, o que favorece a potencial contaminação de

monitores e linhas. Numa minoria referiram os profissionais que a limpeza só se

faz quando todos os doentes saem e a montagem dos monitores só é realizada

após limpeza do chão da sala. Será contudo de referir que a limpeza dos

monitores se faz após a saída do doente e desinfeção da máquina.

No que diz respeito, mais concretamente, à profilaxia da hepatite C – marcadores

e gestão dos doentes, verificou-se [na unidade de Entrecampos] que o

procedimento contempla as normas gerais da Diaverum assim como as

recomendações do manual de Boas Práticas de Boas Práticas de Diálise Crónica.

No entanto, à semelhança do que já foi referido anteriormente a bibliografia

32 Mod.016_01

encontra-se desatualizada assim como o próprio Manual, existindo uma versão

mais recente datada de 2011.

Transversalmente nas outras unidades a monitorização analítica dos doentes

também é sempre realizada.

No que diz respeito aos procedimentos mais concretamente 3006.1 – Preparação

e conservação de medicamentos injetáveis e 3008.1 – Preparação e

administração de medicamentos, depois do incidente crítico a entidade tomou por

certo a necessidade de se rever o procedimento e divulgar entre as diferentes

unidades. Sendo assim, seguidamente são apresentadas as considerações

previstas pela entidade:

“1. Todos os frascos de medicamentos multidose (incluindo heparina) devem ser

devidamente rotulados depois da sua abertura com a respectiva data e prazo de

validade

2. Após preparação, os medicamentos devem ser administrados no prazo máximo

de 4 horas

3. Desinfeção dos locais de inserção das agulhas nos frascos multidose

Se considerada a preparação da terapêutica na farmácia:

1. Acautelar a designação de um responsável pelo acesso à farmácia (ex: Enf.

Chefe de turno)

2. Definir o local onde fica armazenada a chave

3. Registar em impresso próprio o acesso à farmácia (Impresso 3002.4 M a

aguardar referência em procedimento e que segue em anexo)

4. Coordenar as actividades de preparação da terapêutica injectável com as

restantes actividades habituais da farmácia

5. Definir a área de preparação da terapêutica e divulga-la a toda a equipa com

acesso à farmácia (farmacêutica e assistente administrativa) “

Adicionalmente, referem reflexões associadas às recomendações implementadas:

“1. Garantir que as equipas clínicas decidem o local de preparação de terapêutica

fora da sala de diálise (sendo este na farmácia ou não), de acordo com a

disponibilidade estrutural e o risco associado.

33 Mod.016_01

2. Garantir que a acessibilidade à farmácia continua a ser restrita e controlada,

especialmente após o seu horário de funcionamento (Procedimento 3002.4 em

revisão)

3. Garantir o normal funcionamento da farmácia nomeadamente preparação de

terapêutica intradialítica e de ambulatório

4. Manter o controlo correcto dos stocks de medicamento e limitar a possibilidade

de desvio de terapêutica ou utilização sem registo

5. Manter a segurança de cuidados dentro das salas de diálise mesmo existindo a

necessidade da ausência temporária de um enfermeiro da sala”.

No entanto, deve-se referir que inspecionado o local onde se armazenam os

frascos de heparina na Unidade de Entrecampos, e após o testemunho do

Enfermeiro chefe referir que os frascos após utilização deverão ser descartados,

verificou-se da existência de um frasco aberto com ampola picada no meio dos

frascos novos. Ainda será de se referir que numa outra unidade foi verificado um

frasco nas mesmas condições e ainda outro com seringa e agulha inserida, o que

vai contra as boas práticas.

No que diz respeito à preparação das heparinas, na Unidade de Entrecampos foi

verificada, no momento da fiscalização um tabuleiro com heparinas de fácil

acesso, em cima de um balcão de trabalho com aproximadamente 3 a 4 horas de

preparação prévia, considerando o tempo entre a fiscalização e o turno. Nas

outras unidades fiscalizadas verificou-se que na maioria as heparinas são

preparadas na sala, à exceção da unidade da Figueira da Foz onde o Enfermeiro

responsável de turno prepara na farmácia. Adicionalmente será de se referir que a

Unidade do Marco de Canaveses possui um balcão que separa a área de

preparação e área clínica (tratamento de doentes), e as Unidades de Paredes,

Penafiel e Aveiro preparam no posto de enfermagem.

2. A unidade cumpre com os ratios médico ou enfermeiro /doentes?

Na unidade de Entrecampos e no suposto dia do evento adverso (…), e de acordo

com a informação enviada pela entidade (horário sem identificação das salas e

alocação dos respetivos enfermeiros), considera-se que:

- 1 enfermeiro fazia turno das 7.30-15.30h

- 4 enfermeiros faziam turno das 7.30-19h

34 Mod.016_01

- 1 enfermeiro fazia turno das 11-19h

- 5 enfermeiros faziam turno das 15.30-22.30h

- 1 enfermeiro fazia turno das 11-22.30h

- 3 enfermeiros faziam turno noturno (pós 22.30h?).

[…]

Não se consegue apurar se naquele dia (supostamente do evento adverso) a sala

dos VHB funcionou o que faz diminuir ao n.º de enfermeiros.

Na sala 4 supostamente estariam 21 doentes e na sala 1 supostamente 12

doentes (pois não se consegue decifrar bem o n.º devido à fiscalização ter

ocorrido após as obras da sala de VHC). De forma aligeirada, para a sala 4

deveriam estar pelo menos 5 enfermeiros e na sala 1 deveriam estar 3

enfermeiros.

Consultado o regulamento interno da Unidade de Entrecampos, verificaram-se

algumas lacunas (incluindo as normas de funcionamento), pelo que será

importante referir que no momento da fiscalização foi referido que existia um turno

noturno após as 24h mas no regulamento interno os horários vão somente até às

24h.

[…]

No que diz respeito concretamente aos ratios, enfermeiro/médico – doente, para

213 doentes são necessários 5 nefrologistas (incluindo o diretor clínico) - e

constam pelo menos 5 na lista de funcionários. Em cada turno deve estar um

médico, independentemente do número de doentes.

Em relação ao ratio enfermeiro-doentes, e segundo o Regulamento n.º 533/2014,

de 2 de dezembro, a fórmula utilizada é por posto de trabalho pelo que, se

recomenda a presença de 1 enfermeiro por 4 camas. Adicionalmente recomenda-

se especial atenção à existência de doentes VHB que necessitam de 1 enfermeiro

em exclusivo.

[…] Mas ainda será importante referir que [a unidade de Entrecampos] não tendo

um quadro de pessoal próprio vê-se constrangida pela disponibilidade dos

enfermeiros colaboradores, pelo que foi referido no momento da fiscalização que

no ano de 2015, 7 enfermeiros saíram da clínica e entraram 4 enfermeiros novos.

Aliás, tal facto foi comprovado pela existência de uma enfermeira nova na clínica

no momento da fiscalização. Será ainda de se referir que independentemente dos

35 Mod.016_01

enfermeiros terem mais ou menos experiência profissional têm de completar um

programa de “estágio”, de forma a os capacitar a exercer funções na área da

hemodiálise e mais concretamente naquele estabelecimento.

Comparativamente com os outros estabelecimentos fiscalizados e já

anteriormente enunciado, verificou-se uma média de ratio de 5 a 6 enfermeiros.

[…]

Na documentação enviada pela entidade, foi constatado que existia uma

recomendação para todos os estabelecimentos, após o incidente, para a

necessidade das equipas se “(…)reorganizarem em algumas das suas atividades

fora da sala (ex: refeições) de forma a reduzir os períodos em que fica apenas 1

enfermeiro na sala de diálise. Sendo que, esta reorganização depende

diretamente das salas e número de elementos a fazer turno.”.

Em suma, o ratio praticado de enfermeiros doentes não corresponde à garantia de

segurança emanada pelo Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica e

Regulamento n.º 533/2014, de 2 de dezembro, podendo comprometer a qualidade

dos cuidados prestados.

3. A unidade funciona para além da capacidade instalada? Estão

asseguradas a qualidade e segurança dos utentes?

Verificadas as condições no local na Unidade de Entrecampos, na sala 1 existem

atualmente 8 postos de HD (1 para pessoa alectoada) e uma sala para doentes

VHC positivos com 4 postos de HD. A sala 3 não estava em funcionamento mas

apresentava 3 postos de HD. Na sala 4 existem 11 postos de HD e na sala 5

existem 7 postos de HD.

Analisando a área das salas com a necessidade mínima de área por posto de HD,

verifica-se que o espaço torna-se insuficiente principalmente entre posto de HD

(considerando a unidade que compreende o cadeirão/cama e a máquina de HD),

de acordo com o Artigo 51.º do Decreto de Lei n.º 505/99, de 20 de novembro, e

Anexo I da Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro, condições que colocam em

causa a privacidade e portanto, a dignidade dos doentes. Assim sendo, na Sala 1

existe 8 postos da HD e portanto a necessidade de pelo menos 36m2.

A sala 1 de HD encontra-se subdividida em duas devido às medidas corretivas

propostas pela DGS. Tal como já foi adiantado existe muito pouco espaço

disponível para circulação na área da unidade do doente que contempla o

36 Mod.016_01

cadeirão e a máquina de HD, havendo uma concentração excessiva de doentes

onde as áreas mínimas por doente não eram cumpridas em alguns casos. Aliás foi

verificado que os enfermeiros de serviço estão sempre em contacto físico com os

doentes devido a essa proximidade o que se revela insuficiente em questões de

controlo de infeção. Também se verificou que existe um posto dedicado a doentes

alectoados que para além da unidade do doente ainda possui o carro de

emergência.

Na sala 4 e 5, para além da questão anterior das áreas se manter, será ainda de

referir que existe um desnível com 3 degraus entre as salas.

Será ainda de mencionar que em situações de emergência em qualquer uma das

salas será muito complexo atuar em consonância com as normas e boas práticas,

pois não existe espaço suficiente.

Nas outras unidades fiscalizadas verifica-se transversalmente que, a área

destinada ao tratamento dos doentes que compreende um cadeirão e um monitor

de hemodiálise, e é por vezes muito pequena considerando o Artigo 51.º do

Decreto de Lei n.º 505/99, de 20 de novembro, e Anexo I da Portaria n.º 347/2013,

de 28 de novembro. Ainda que a área total da sala de hemodiálise possa garantir

o que está previsto nos diplomas, o que se constata é que existe área de

circulação disponível que haveria de ser alocada à área de tratamento do doente.

Este facto revela que não estão garantidas as condições de segurança, quer

ambientais, quer de controlo de infeção, para doentes e profissionais (mais

concretamente neste último caso em questões ergonómicas).

4. As medidas implementadas pela unidade, após conhecimento do

incidente, são adequadas e suficientes para prevenir que situações

idênticas se repitam?

Após a deteção do problema, tal como já foi referido no ponto A, a [unidade de

Entrecampos] efetuou todas as diligências necessárias à tentativa de resolução do

problema. Toda a monitorização e vigilância em relação aos outros doentes e

sequência genética dos vírus nos doentes sero-convertidos foram garantidas.

No que diz respeito ao plano de formações, pelas medidas corretivas impostas

pela DGS, a entidade ainda enviou o respetivo plano com destaque à formação a

decorrer/decorrida no dia:

37 Mod.016_01

19 de novembro de 2015 sobre “Precauções básicas para o controlo da

infeção: equipamento de proteção individual”;

11 de novembro de 2015 sobre “Precauções básicas de controlo de infeções –

higienização das mãos” – onde marcaram presença sobretudo auxiliares.

Ainda enviaram o registo da formação decorrida em:

julho 2015 sobre mecânica corporal dirigida a auxiliares e administrativos;

junho 2015 sobre formação de orientadores;

junho 2015 sobre sensibilização para o controlo de infeção dirigido a auxiliares.

Acerca do procedimento em concreto da heparina, foi elaborado um documento

de informação interna na clínica para reforçar as medidas preventivas da

contaminação durante a preparação de terapêutica multidose, neste caso, apenas

a heparina (Documento em anexo).

Educação e Treino

Preparação e Administração de Injectáveis

1. Definição de área dedicada e limpa

2. Divulgação de materiais educativos

3. Formação e treino diário relativamente a preparação e administração de

injectáveis, nomeadamente:

a. Preparação feita por enfermeiro dedicado quando outro profissional de

enfermagem na sala de forma a que este possa estar exclusivamente a

preparar a medicação injectável

b. O método de preparação das heparinas foi alterado, sendo que, estas se

preparam apenas para o turno e doente em questão

c. Reforçado o método de preparação asséptico: um frasco, uma agulha e uma

seringa

Higiene das Mãos

1. Formação sobre Higiene das Mãos no dia 11 de Novembro com os seguintes

objectivos:

a. Adesão aos 5 momentos preconizados

b. Cumprimento da técnica de Higienização das Mãos de acordo com o

antisséptico e método utilizado

38 Mod.016_01

2. Auditorias para avaliação da adesão

3. Reformulação dos materiais educativos nomeadamente posters

4. Sensibilização diária de todos os profissionais para a importância da Higiene

das Mãos como método de prevenção da infecção

5. Sensibilização dos doentes que recusem o uso de luva para a hemóstase, para

a importância da higiene das mãos com água e sabão após a saída do posto

Equipamento de Proteção Individual

1. Formação sobre utilização do Equipamento de Proteção Individual no dia

18/11/2015 com os seguintes objectivos:

a. Utilização correcta do EPI

b. Colocação e remoção do EPI

c. Uso de EPI de acordo com a intervenção programada

d. Uso de EPI e risco

Medidas Gerais de Controlo de Infeção

1. Formação das auxiliares relativamente a descontaminação das máquinas e

postos; desinfecção de equipamentos reutilizáveis; política de uso de

desinfectantes

2. Reforçar a divulgação dos procedimentos em caso de Derrame de Sangue e

Acidente com Risco Biológico como a Picada Acidental

Medidas de Prevenção da Contaminação em caso de VHC e HBS

Data a definir.

1. Formação da equipa sobre as medidas preventivas em situação de risco de

contaminação pelos vírus das hepatites B e C.

[…]” – cfr. Relatório de Fiscalização, de 15 de janeiro de 2015, junto aos autos.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

25. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da ERS

aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por missão a

regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência, respeitantes às

39 Mod.016_01

atividades económicas na área da saúde dos setores privados, público, cooperativo e

social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde.

26. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos

mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos do setor público, privado, cooperativo e

social, independentemente da sua natureza jurídica;

27. Consequentemente, a Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda., com o NIPC

511154097, entidade registada no SRER da ERS sob o n.º 10866, com sede em Sintra

Business Park Escr. 2C 2710 - 089 Sintra, detetora de, entre outras,

a) a Unidade de Entrecampos, registada no SRER da ERS sob o n.º E-101725,

sita na Av. das Forças Armadas n.º 49- R/c, 1600-121 Lisboa, registado sob o

n.º 101725;

b) a Unidade de Marco de Canaveses, registada no SRER da ERS sob o registo

n.º E-101727 sita na Al. Dr. Miranda Rocha, 90, 4630-200 Marco de

Canaveses;

c) a Unidade de Penafiel, registada no SRER da ERS sob o registo n.º E-

121405, sita no Largo Santo António dos Capuchos, R/C (Hospital da

Misericórdia de Penafiel) 4560- 454 Penafiel;

d) a Unidade de Paredes, registada no SRER da ERS sob o registo n.º E-

101726, sita na Rua Elias Moreira Neto, 4580-085 Paredes; e

e) a Unidade da Figueira de Foz, registado no SRER da ERS sob o registo n.º E-

101724, sita na Rua da Escola, 27 3080-847 Figueira da Foz; a Unidade de

Aveiro, registada no SRER da ERS sob o registo n.º E-101721R, sita na Rua

João Francisco do Casal, 122-124 3800-266 Aveiro, são estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde.

28. As atribuições da ERS, de acordo com o n.º 2 do artigo 5.º do dos Estatutos da ERS

compreendem “a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, no que respeita […entre outros] [ao] cumprimento

dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento, [à] garantia dos direitos

relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de saúde de

qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes”.

29. São ainda objetivos da ERS, nos termos do artigo 10º dos Estatutos da ERS,

“assegurar o cumprimento dos requisitos do exercício da atividade dos

40 Mod.016_01

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde”; “garantir os direitos e interesses

legítimos dos utentes” e “zelar pela prestação de cuidados de saúde de qualidade”;

30. No que toca à alínea a) do artigo 10º dos Estatutos da ERS, a alínea c) do artigo 11.º

do mesmo diploma estabelece ser incumbência da ERS “assegurar o cumprimento dos

requisitos legais e regulamentares de funcionamento dos estabelecimentos prestadores

de cuidados de saúde e sancionar o seu incumprimento”.

31. No que se refere, por outro lado, ao objetivo regulatório previsto na alínea c) do artigo

do artigo 10.º dos Estatutos da ERS, de garantia dos direitos e legítimos interesses dos

utentes, a alínea a) do artigo 13.º do mesmo diploma estabelece ser incumbência da

ERS “monitorizar as queixas e reclamações dos utentes e seguimento dado pelos

operadores às mesmas”.

32. Por fim, no que toca ao objetivo regulatório previsto na alínea d) do artigo 10º dos

Estatutos da ERS, refere a alínea c) do artigo 14º do mesmo diploma que, “incumbe à

ERS garantir o direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de qualidade”;

33. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão, consubstanciado, designadamente, no dever de zelar pela

aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis, e ainda mediante a

emissão de ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências

individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas

com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de

conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e interesses

legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS.

34. Tal como configurada, a situação denunciada poderá não só traduzir-se num

comportamento atentatório dos legítimos direitos e interesses dos utentes, mas

também na violação de normativos, que à ERS cabe acautelar, na prossecução da sua

missão de regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, conforme disposto no n.º 1 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS.

35. Ora, perante este enquadramento, resulta a necessidade da análise dos factos, tal

como denunciados, sob o prisma do cumprimento dos requisitos de exercício da

atividade e de funcionamento das unidades para a prática de tratamento de

hemodiálise;

36. Bem como da garantia dos direitos relativos à prestação de cuidados de saúde de

qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes.

41 Mod.016_01

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados

37. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da

prestação, dos recursos humanos, do equipamento disponível e das instalações, está

presente no setor da prestação de cuidados de saúde de uma forma mais acentuada

do que em qualquer outra área.

38. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os

serviços sejam prestados em condições que não lesem o interesse nem violem os

direitos dos utentes.

39. Efetivamente, a qualidade tem sido considerada como um elemento diferenciador no

processo de atendimento das expectativas de clientes e utentes dos serviços de saúde.

40. Particularmente, a assimetria de informação que se verifica entre prestadores e

consumidores reduz a capacidade de escolha dos últimos, não lhes sendo fácil avaliar

a qualidade e adequação do espaço físico, nem a qualidade dos recursos humanos e

da prestação a que se submetem quando procuram cuidados de saúde.

41. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de saúde

devem ser considerados seja do ponto de vista do risco clínico, seja do risco não

clínico.

42. No que ao risco clínico diz respeito, as causas mais frequentes de lesões radicam no

uso de medicamentos, nas infeções e nas complicações peri operatórias.

43. Estes eventos adversos, em grande parte evitáveis, são passíveis de provocar danos

na pessoa doente, sendo certo que os custos sociais e privados neles implicados são

de tal importância, que as principais organizações de saúde, como a OMS,

incrementaram planos de ação para a prevenção e um controlo mais eficaz sobre os

acontecimentos danosos associados aos cuidados e procedimentos de saúde

prestados.

44. O utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam

prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito

aos recursos técnicos e humanos utilizados.

45. E a qualidade dos serviços de saúde não se esgota nas condições técnicas de

execução da prestação, mas abrange também a comunicação e informação ao utente,

dos resultados dessa mesma prestação.

42 Mod.016_01

46. Para além destas exigências, os prestadores de cuidados de saúde devem ainda

assegurar e fazer cumprir um conjunto de procedimentos que tenham, por objetivo,

prevenir e controlar a ocorrência de incidentes e eventos adversos, que possam afetar

os direitos e interesses legítimos dos utentes.

47. Tais procedimentos constituem, assim, instrumentos eficazes para deteção de eventos

adversos e para estimular a reflexão e o estudo sobre os mesmos, por forma a

determinar a alteração de comportamentos e a correção e retificação de erros, em prol

da qualidade, eficácia, eficiência e segurança dos cuidados de saúde a prestar aos

utentes.

48. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde

encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda mais

premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos meios

adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito.

49. Sempre e em qualquer situação, toda a pessoa tem o direito a ser respeitada na sua

dignidade, sobretudo quando está inferiorizada, fragilizada ou perturbada pela doença.

50. A este respeito encontra-se reconhecido na LBS, mais concretamente na sua alínea c)

da Base XIV, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados,

humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito”.

51. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos meios

adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização, pelos

prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais

corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.

52. Ou seja, deve ser reconhecido ao utente o direito a ser diagnosticado e tratado à luz

das técnicas mais atualizadas, e cuja efetividade se encontre cientificamente

comprovada, sendo porém obvio que tal direito, como os demais consagrados na LBS,

terá sempre como limite os recursos humanos, técnicos e financeiros disponíveis – cfr.

n.º 2 da Base I da LBS.

53. Por outro lado, quando na alínea c) da Base XIV da LBS se afirma que os utentes

devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre diretamente

do dever dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde de atenderem e

tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como direito e princípio

estruturante da República Portuguesa.

43 Mod.016_01

54. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde devem ter redobrado cuidado de respeitar as

pessoas particularmente frágeis pela doença ou pela deficiência.

55. Efetivamente, sendo o direito de respeito do utente de cuidados de saúde um direito

ínsito à dignidade humana, o mesmo manifesta-se através da imposição de tal dever a

todos os profissionais de saúde envolvidos no processo de prestação de cuidados, o

qual compreende, ainda, a obrigação de os estabelecimentos prestadores de cuidados

de saúde possuírem instalações e equipamentos, que proporcionem o conforto e o

bem-estar exigidos pela situação de fragilidade em que o utente se encontra.

56. Quanto ao direito do utente ser tratado com prontidão, o mesmo encontra-se

diretamente relacionado com o respeito pelo tempo do paciente, segundo o qual deverá

ser garantido o direito do utente a receber o tratamento necessário dentro de um rápido

e predeterminado período de tempo, em todas as fases do tratamento.

57. Refira-se ademais que, a relação que se estabelece entre os estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde e os seus utentes deve pautar-se pela verdade,

completude e transparência em todos os aspetos da mesma.

58. Sendo que tais características devem revelar-se em todos os momentos da relação.

59. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar – surge

aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural e estruturante

da própria relação criada entre utente e prestador.

60. Trata-se de um princípio que deve modelar todo o quadro de relações atuais e

potenciais entre utentes e prestadores de cuidados de saúde e, para tanto, a

informação deve ser verdadeira, completa, transparente e, naturalmente inteligível pelo

seu destinatário.

61. Só assim se logrará obter a referida transparência na relação entre prestadores de

cuidados de saúde e utentes.

62. A contrario, a veiculação de uma qualquer informação errónea, a falta de informação

ou a omissão de um dever de informar por parte do prestador são por si suficientes

para comprometer a exigida transparência da relação entre este e o seu utente,

63. E nesse sentido, passível de distorcer os legítimos interesses dos utentes.

64. Esta comunicação deve ser realizada em tempo útil, para assegurar que o utente não é

prejudicado, no percurso para o restabelecimento do seu estado de saúde.

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65. Garantindo assim o cabal direito de o utente ser humanamente tratado, pelos meios

adequados, com prontidão e correção técnica tal como descrito na alínea c) do n.º 1 da

Base XIV da Lei n.º 48/90, de 24 de agosto (LBS).

III.3. Da regulamentação dos requisitos de organização e funcionamento das

unidades privadas que tenham por objeto a prestação de atividade de hemodiálise e

respetivo Manual de Boas Práticas.

66. No que se refere ao cumprimento das regras relativas ao funcionamento dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde previstas, entre outros diplomas,

no Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, e no caso concreto do exercício da

atividade das unidades privadas de serviços de saúde de diálise na Portaria n.º

347/2013, de 28 de novembro;

67. Tal quadro legal visa estabelecer parâmetros mínimos de exigência e qualidade que,

com relativa certeza, constituam o patamar mínimo de qualidade na prestação de

cuidados de saúde em unidades privadas de saúde; e

68. Obviamente, enquanto disposições destinadas a proteger interesses alheios, a saber,

os potenciais utentes de tais unidades privadas de saúde.

69. Tal Portaria estabelece desde logo, no n.º 1 do seu artigo 3.º que “As normas de

qualidade e segurança devem ser cumpridas em todas as situações previstas no

presente diploma de acordo com as regras, os códigos científicos e técnicos

internacionalmente reconhecidos nas áreas abrangidas […]”.

70. Acrescentando o n.º 1 do artigo 4º, que “para efeitos de promoção e garantia de

qualidade das unidades de diálise, devem ser considerados os requisitos e exigências

constantes do Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica do Ministério da Saúde;”

71. Considerando os requisitos e exigências constantes do Manual de Boas Práticas de

Diálise Crónica da Ordem dos Médicos, e para efeitos de recursos humanos devem

estar garantidos os seguintes profissionais:

“[…]

a) Diretor clínico (ou o seu substituto, nas suas ausências ou impedimentos) – 1

hora/semana por cada 10 doentes tratados na unidade de diálise;

b) Nefrologista – 1 hora/semana por cada 4 doentes sob sua responsabilidade

assistencial;

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c) Enfermeiro chefe – 1 hora/semana por cada 5 doentes tratados na unidade de

diálise e disponibilidade para atendimento sempre que o diretor clínico determinar;

d) Médico residente – presença durante o tempo de realização do tratamento

dialítico e disponibilidade para atendimento sempre que o diretor clínico

determinar;

e) Técnico de serviço social – 1 hora/semana por cada 10 doentes tratados na

unidade;

f) O número mínimo de enfermeiros presentes por turno não pode ser inferior a

dois. A relação recomendada é de 4 doentes/enfermeiro, não devendo ser

excedida a relação de 5 doentes/enfermeiro.

g) Recomenda-se que as unidades disponham de nutricionista/dietista com um

tempo mínimo de presença física de 1 hora/semana por cada 10 doentes da

unidade.

72. Quanto às medidas gerais de controlo de infeção para unidades de diálise, deve ter-se

em conta o seguinte:

a) No procedimento de diálise, a exposição a sangue, a outros produtos orgânicos

ou a material potencialmente contaminado é, geralmente, previsível. Assim, os

cuidados para evitar o seu contacto devem ser antecipados: deve-se utilizar

sempre luvas de uso único para cuidar de um doente ou quando se contacte com

o seu equipamento no posto de diálise. Para facilitar a sua utilização, a

embalagem de luvas novas, descartáveis e não esterilizadas deve encontrar-se

em local acessível, próximo do posto de diálise.

b) Deve-se remover as luvas e lavar as mãos após cada contacto com o doente

ou com o seu posto de tratamento. Os locais para lavagem de mãos, com água

tépida e sabão, devem estar acessíveis para facilitar a sua prática. Caso as mãos

não se encontrem visivelmente sujas, o uso de uma solução antisséptica (por

exemplo, alcoólica) pode substituir a lavagem das mãos. Deve haver dispositivos

de solução alcoólica facilmente acessíveis.

c) Todos os materiais levados para um posto de diálise, incluindo os colocados

sobre os monitores de diálise, são potencialmente contamináveis, pelo que devem

ser descartáveis, dedicados para utilização exclusiva no mesmo doente, ou

lavados e desinfetados antes de serem colocados numa área limpa ou transitarem

para outro doente.

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d) Materiais que não possam ser facilmente desinfetados (adesivos, garrotes...)

devem ser utilizados num único doente. – cfr. Cap. D, Ponto 1 - Medidas gerais de

controlo de infeção para unidades de diálise, do Manual de Boas Práticas de

Diálise Crónica.

73. São também recomendados os seguintes pontos:

“[…]

a) Infecção Bacteriana

II. Prevenção. Medidas especiais:

(i) Medidas gerais – devem ser implementadas as medidas gerais de protecção e

higiene, comummente designadas Standard Precautions e as “Medidas Gerais do

Controlo de Infecção para as Unidades de Diálise” definidas pelos Centers for

Disease Control and Prevention;

(iii) A unidade deve dispor de normas internas de higiene e assepsia a serem

observadas pelos doentes e pelo pessoal.

(iv) Devem ser estabelecidas directivas sobre a punção do acesso vascular e a

manipulação dos cateteres centrais.

(vi) Medidas adicionais podem ser necessárias para tratamento de doentes que

podem constituir um risco aumentado de transmissão de bactérias patogénicas.

Estes doentes são, nomeadamente: a) os portadores de feridas infectadas com

supuração que ultrapassa as barreiras de protecção e o vestuário, mesmo que

sem evidência de enterococos resistentes à vancomicina (VRE) ou de

Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA); b) os doentes com

incontinência fecal ou diarreia não controladas com as medidas normais de

higiene pessoal. Nestes casos, devem ser tomadas medidas adicionais: 1.º– uso

pelo pessoal de bata adicional sobre o vestuário, que deve ser retirada depois de

prestados os cuidados ao doente; 2.º– dialisar o doente preferencialmente num

posto o mais afastado possível dos restantes doentes (p.e., num extremo da sala).

b) Infeção pelo Vírus da Hepatite C

(iii) Recomenda-se que haja monitores de diálise específicos para doentes com

HCV. Os monitores de doentes com HCV podem ser utilizados em doentes

negativos, sempre que sejam cumpridas as normas instituídas para a sua

desinfeção e limpeza interna e externa.

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(iv) Recomenda-se que na unidade seja definida uma estratégia de concentração

dos doentes portadores de HCV. Podem ser adotadas medidas de isolamento de

grau crescente de segurança, a implementar de acordo com a prevalência de

doentes portadores de HCV: 1.º- Concentrar os doentes na mesma sala, em área

definida, com algum tipo de separação física dos restantes doentes; ou 2.º-

Concentrar os doentes na mesma sala, por turnos, cumprindo as normas de

desinfeção e limpeza dos monitores; ou 3.º- Colocar os doentes em salas

separadas com pessoal exclusivo em cada sessão de diálise.

(vi) A seroconversão anti-HCV de um ou mais doentes sem evidência da forma de

inoculação viral nos seis meses anteriores poderá indiciar contágio horizontal na

unidade e implica revisão e reforço das medidas profiláticas. Poderá, ainda,

justificar uma pesquisa mais frequente (mensal) de anti-HCV nos doentes. - Cfr.

Cap. D. Ponto 2 - Doenças transmissíveis com relevância na diálise e instrução

sobre a sua profilaxia do Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica.

III.4. Análise da situação concreta

74. A presente deliberação, visa por um lado averiguar, as circunstâncias em que os seis

doentes foram infetados com o vírus de HCV, no estabelecimento da Diaverum-

Entrecampos, que pode ser suscetível de corporizar uma afetação dos direitos e

interesses legítimos dos utentes.

75. E por outro, avaliar se a Diaverum se encontra a cumprir os normativos referentes às

Medidas Gerais de Controlo de Infeção, em geral, e no que toca à infeção do vírus da

Hepatite C, em especial.

76. Assim, a atuação da ERS sobre a situação em causa estará delimitada às suas

atribuições e competências, designadamente no que toca a “assegurar o cumprimento

dos requisitos de exercício da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados

de saúde”; “garantir os direitos e legítimos interesses dos utentes” e “zelar pela

prestação de cuidados de saúde qualidade;

77. Por conseguinte, caberá à ERS aferir da adequação dos procedimentos adotados pela

entidade Diaverum e a sua compatibilidade com a necessidade de garantia da

qualidade da prestação dos cuidados de saúde e os direitos e interesses legítimos dos

utentes, não se procedendo, contudo, a uma avaliação clínica quanto aos concretos

cuidados de saúde aplicados, por se tratar de matéria que não se insere no âmbito de

atribuições e competências desta Entidade Reguladora.

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78. Ainda, a preocupação subjacente à presente análise alarga-se necessariamente à

avaliação da existência e adequabilidade dos procedimentos dirigidos a corrigir e

prevenir situações semelhantes à ocorrida.

79. Assim, e após análise dos factos carreados para os autos, foi possível apurar o

seguinte:

a) os resultados laboratoriais de rotina do mês de outubro (2015/10/08) mostraram

que 3 (três) doentes haviam convertido para anti-HCV;

b) realizados testes a todos os doentes dialisados na mesma sala, mais 1 (um)

doente se apresentou positivo;

c) um (5) quinto doente que apresentava transaminases elevadas em 2015/10/08

mantendo-se anti-HCV negativo tendo sido pedido de HCV RNA. Todos os

resultados se confirmaram e a pesquisa de RNA viral foi positiva em cinco (5)

doentes;

d) em 20 de outubro de 2015, todos os doentes da clínica foram submetidos a

colheita de sangue para pesquisa de HCV RNA. Esta pesquisa revelou mais um

caso de positividade (6 doentes);

e) os 6 (seis) doentes fazem diálise na mesma sala, no mesmo turno;

f) no turno anterior, nesta sala, faziam diálise 2 (dois) doentes Anti-HCV positivos;

g) foi efetuada a notificação obrigatória de doenças transmissíveis na plataforma

eletrónica SINAVE referente aos 6 casos em 19, 20 e 29 de outubro de 2015 de

acordo com a disponibilidade dos resultados do HCV RNA de cada doente.

80. No decurso da visita efetuada pela ERS às instalações da unidade de Entrecampos foi

possível constatar o seguinte:

a) foi efetuado um estudo global sobre os casos de seroconversão e a única

situação que se encontra eventualmente associada poderá ser um evento adverso

de uma falta de débito do CVC de doente VHC positivo;

b) o evento adverso encontra-se registado, com data de 30 de julho de 2015, junto

aos autos.

c) os dois doentes do turno anterior (HCV positivos) encontravam-se a fazer

hemodiálise em monitores Artis da Gambro que possuem um sistema de

segurança que não permite o início precoce da HD pela desinfeção subjacente

que demora 34 minutos.

49 Mod.016_01

d) de acordo com o esquema da localização dos doentes VHC positivos do turno

anterior com a contaminação dos seis doentes seroconvertidos, verifica-se a

existência de um ponto comum, o doente VHC positivo do turno anterior encontra-

se no mesmo monitor que o doente do turno seguinte que foi contaminado.

81. A Comissão de Verificação Técnica (CVT) de Hemodiálise realizou uma vistoria à

unidade em causa, em 6 de novembro de 2015, tendo sido determinadas medidas

corretivas, entre as quais a necessidade do prestador:

a) agrupar todos os doentes HCV+, numa sala convertida para o efeito, no último

turno do dia, isolando-os dos doentes negativos;

b) instituir a dedicação exclusiva de monitores a doentes HCV+;

c) transferir 14 doentes na unidade de Entrecampos, para outra(s) clínicas de

diálise;

d) suspender a admissão de doentes, novos ou em trânsito, para tratamento

dialítico;

e) reforçar as medidas de controlo de infeções; e

f) reforçar as medidas de segurança, particularmente as de anti-intrusão.

82. Em 12 de novembro de 2015, aquando da visita da ERS às instalações da unidade

de Entrecampos verificou-se que as medidas propostas pela CVT de Hemodiálise

tinham já sido acatadas.

83. A unidade de Entrecampos tomou, ainda, as seguintes medidas após conhecimento da

seroconversão dos 6 doentes:

a) Iniciaram um processo de investigação interna e monitorizaram todos os

doentes analiticamente, fizeram um estudo de coorte, vigilância serológica de

todos os doentes em períodos de férias, foram todos informados e com especial

atenção os infetados conjuntamente com o apoio familiar, foi avaliado o contexto

social;

b) Todo o pessoal da unidade foi submetido a controle analítico;

c) Foi realizada auditoria interna para as práticas de controlo de infeção, limpeza

e conservação de equipamento, revisto o manual de boas práticas, o uso de

proteção individual, a identificação de possíveis fontes de contaminação fora da

clínica e dentro da clinica, auditoria externa, reformulação de espaços e postos de

diálise;

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d) Foi contratado um Gastroenterologista com experiência em Hepatite C em

hemodialisados;

e) A entidade diligenciou um plano de formação que incidia sobre “Precauções

básicas para o controlo da infeção: equipamento de proteção individual”;

“Precauções básicas de controlo de infeções – higienização das mãos” – onde

marcaram presença sobretudo auxiliares; sensibilização para o controlo de

infeção dirigido a auxiliares.

f) Foi criado o Grupo Local de Prevenção e Controlo de Infeção;

g) Foi alterado o procedimento referente à preparação das heparinas com data

de 29 de outubro de 2015.

84. No entanto, foram também constatadas na Unidade de Entrecampos, não

conformidades que podem pôr em causa a prevenção da transmissão de infeções nos

doentes, tais como:

a) Verificou-se que o único equipamento de proteção individual utilizado são as

luvas e as viseiras, quando de acordo com as normas de prevenção de infeção

devem ser usadas também batas descartáveis e/ou avental aquando dos

procedimentos aos doentes (cfr. ponto 3 do procedimento de medidas gerais para

controlo de infeções clinica, junto aos autos);

b) O plano de higiene determina que “[…] o chão deve ser lavado no final de cada

turno nas salas de tratamento (preferencialmente após a saída dos doentes da

sala) e nas outras áreas uma vez por dia. […]”. Verificou-se, no entanto, que não

se aguarda pelo término do turno para se limpar determinadas zonas da sala e até

se verificou que antes do turno da tarde terminar havia já máquinas com circuitos

montados, o que pode facilmente ser contaminado pela existência de utentes na

sala em tratamento (cfr. ponto 4 do procedimento higienização do ambiente da

clínica, junto aos autos);

c) Acerca do procedimento, em concreto, de manuseamento da heparina, a

entidade enviou a folha de registo de preparação e diluição da heparina, datada

de 29 de outubro de 2015, onde se refere a preparação de heparina nunca antes

de 4 horas de administração. No entanto, no decurso da fiscalização foi verificado

que a preparação das heparinas decorre sempre no turno anterior o que pode não

assegurar essa margem de segurança e estabilidade, tendo-se verificado a

existência de um tabuleiro cheio de seringas, já com conteúdo, no balcão de

enfermagem para o turno. Ainda se verificou durante o momento de fiscalização

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um frasco de heparina aberto e já consumido em cerca de ¾ na caixa das

heparinas novas, o que vai contra o procedimento apresentado pela entidade.

85. O procedimento para preparação da heparina foi sujeito a nova alteração em 16 de

novembro de 2015, sendo que se destacam as seguintes alterações:

“[…]

a) A preparação da diluição de heparina para anticoagulação no tratamento é feita

em local adequado, fora da sala de diálise.

b) As seringas são identificadas com o nome do doente, a sua utilização (carga - C

ou manutenção - M), a data e a hora da preparação.

c) Todos os restos de material usado nestas preparações (soro e heparina) serão

desperdiçados.

d) Será feito registo na folha - Registo de preparação de diluição de heparina – dos

doentes que recebem diluição de cada saco/frasco.

e) O Enfermeiro que estiver a preparar as heparinas apenas executa esta função,

não se deslocando do seu posto até terminar. […]” - cfr. informação interna I.I

12/15 – Preparação de heparinas, de 16 de novembro de 2015.

86. Esta alteração do procedimento, de resto, vem de encontro às recomendações do

perito médico da ERS:

[…] Não sei se é possível passar a fazer a preparação da heparina fora das salas de

tratamento. Se não for possível, terá que ficar assegurado um procedimento muito

preciso da sua preparação e ministração, e um modo de as controlar. A unidade [deve]

elabor[ar] um protocolo de preparação, monitoração e seu controlo, o implemente e o

envio para avaliação (pelos Srs. Enfermeiros). […]. cfr. parecer do perito médico da

ERS, de 30 de novembro de 2015, junto aos autos.

87. Mais resultou das diligências encetadas pela ERS que, a unidade de Entrecampos, no

momento do incidente encontrava-se sobrelotada e não cumpria com as áreas mínimas

por posto. Esta situação foi minorada com a transferência de 14 utentes para outras

clínicas;

88. Bem como que a unidade de Entrecampos, apesar de cumprir os rácios para os

profissionais médicos, não cumpre com os rácios recomendados para os profissionais

enfermeiros.

89. Para além disso, foi verificado que exercem atividade na unidade, um grupo de

profissionais designados como Técnicos Auxiliares de Hemodiálise (TAHD), que atuam

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como auxiliares de enfermagem […] competindo-lhes, coadjuvar os enfermeiros na

execução de pensos e colheita e registo de sinais vitais […] que deve ser da exclusiva

responsabilidade dos enfermeiros.

90. Pelo que devem ser reconsideradas as competências para as atividades desenvolvidas

por estes técnicos.

91. Pelo exposto, contata-se que a conduta da unidade de Entrecampos, relativa à

situação concreta ora analisada, não se revelou suficiente à cautela dos direitos e

interesses legítimos dos utentes.

92. Com efeito, e recorde-se, o direito à qualidade dos cuidados de saúde, que implica o

cumprimento de requisitos legais e regulamentares de exercício, de manuais de boas

práticas, de normas de qualidade e de segurança, é, indubitavelmente, uma garantia de

um acesso aos cuidados qualitativamente necessários, adequados e em tempo útil.

93. O cumprimento de procedimentos é uma garantia de qualidade da prestação de

cuidados de saúde, promove uma melhor coordenação e articulação entre os serviços,

bem como acautela qualquer impacto negativo na condição de saúde dos utentes.

94. Certo é que nenhuma vantagem se retira da existência de procedimentos, nas mais

diversas áreas de intervenção, sem que se garanta, paralelamente, que os mesmos

são efetivamente aplicados, em todos os momentos e em todas as dimensões da

atuação dos prestadores, nos cuidados que prestam aos utentes.

95. Pelo que, e por todo o exposto, torna-se premente que a entidade Diaverum conforme

a sua conduta, para a salvaguarda dos direitos e interesses legítimos dos utentes, com

a adoção de comportamentos que salvaguardem a efetiva prestação de cuidados de

saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes.

96. Sendo esta vertente um preocupação amplamente reconhecida e incorporada nas boas

práticas clínicas, bem como nas mais diversas orientações emitidas pelas entidades

competentes.

97. Na medida em que a existência e conhecimento de procedimentos é uma garantia de

qualidade da prestação de cuidados de saúde, que diminui os riscos à mesma

associados, previne a ocorrência de erros por parte dos diversos profissionais

envolvidos, promove uma melhor coordenação e articulação entre os serviços, bem

como acautela qualquer impacto negativo na condição de saúde dos utentes.

98. A Unidade de Entrecampos, à data dos factos, tinha já, implementado os seguintes

procedimentos:

medidas gerais para o controlo de infeções;

53 Mod.016_01

medidas gerais para o controlo de infeções – clínica;

medidas gerais para o controlo de infeções – doentes;

higienização do ambiente na clínica;

higienização das mãos;

profilaxia da hepatite C – marcadores e gestão dos doentes.

99. Tendo por isso definido procedimentos específicos para o controlo de infeção;

100. No entanto, é aparente que, no caso específico, ora em análise, aqueles

procedimentos não foram corretamente seguidos.

101. Certo é que, como já referido supra, nenhuma vantagem se retira da existência de

procedimentos, nas mais diversas áreas de intervenção, sem que se garanta,

paralelamente, que os mesmos são efetivamente aplicados, em todos os momentos e

em todas as dimensões da atuação dos prestadores, nos cuidados que prestam aos

utentes.

102. O que significa que, os planos para o controlo de infeção devem ser o mais concretos

possível e aptos a uma correta e eficaz implementação.

103. O que deverá ser suficiente e necessário para que a unidade de Entrecampos previna

a ocorrência de situações idênticas;

104. Devendo garantir que todos os seus profissionais adequam a sua conduta aos

procedimentos em vigor naquela unidade de saúde, independentemente de quaisquer

(eventuais) vicissitudes de organização e articulação dos profissionais;

105. Quanto às outras unidades da Diaverum visitadas pela ERS, verifica-se

transversalmente o seguinte:

a) Cada unidade faz a utilização voluntária de equipamentos de proteção

individual que considera importante dentro do mesmo procedimento. Assim, o uso

de luvas e máscara é frequente em todos, mas a utilização e avental e viseira é só

considerada por alguns;

b) A limpeza do chão da sala (de um turno prévio) é realizada muitas vezes depois

do turno seguinte começar e depois dos monitores de diálise montados, o que

favorece a potencial contaminação de monitores e linhas. Apenas em algumas

dessas unidades é que a limpeza se faz quando todos os doentes saem e a

montagem dos monitores só é realizada após limpeza do chão da sala. Será

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contudo de referir que a limpeza dos monitores se faz após a saída do doente e

desinfeção da máquina;

c) O ratio praticado de enfermeiros doentes não corresponde à garantia de

segurança emanada pelo Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica e

Regulamento n.º 533/2014, de 2 de dezembro, podendo comprometer a qualidade

dos cuidados prestados;

d) A área destinada ao tratamento dos doentes que compreende um cadeirão e

um monitor de hemodiálise é por vezes muito pequena. Ainda que a área total da

sala de hemodiálise possa garantir o que está previsto nos diplomas legais em

vigor, o que se constata é que existe área de circulação disponível que haveria de

ser alocada à área de tratamento do doente. Este facto revela que não estão

garantidas as condições de segurança, quer ambientais, quer de controlo de

infeção, para doentes e profissionais (mais concretamente neste último caso por

questões ergonómicas).8

106. Pelo que, e por todo o exposto, torna-se premente que a entidade Diaverum conforme

a sua conduta, relativamente a todas as suas unidades de diálise, no estrito

cumprimento, não só no determinado no Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica e

em outros documentos e guidelines aplicáveis, no que se refere ao controlo de infeção;

107. Mas também, no que toca aos procedimentos por si definidos, para a salvaguarda dos

direitos e interesses legítimos dos utentes, com a adoção de comportamentos que

salvaguardem a efetiva prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como em

garantia do respeito pela segurança e demais direitos dos utentes.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

108. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, tendo

para o efeito sido chamada a pronunciar-se, relativamente ao projeto de deliberação da

ERS, a entidade Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda..

109. A Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda. exerceu o seu direito de pronúncia

relativamente ao projeto de deliberação em causa através do ofício que deu entrada na

8 Em 23 de fevereiro de 2016, a Diaverum veio aos autos juntar informação relativa ao pedido de

licenciamento das novas instalações para recolocação da clínica Diaverum de Entrecampos.

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ERS no dia 15 de abril de 2016 (doravante pronúncia da Diaverum), cujo teor se dá

aqui por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais, apresentando-se de

forma sucinta os argumentos apresentados pelo prestador, os quais serão de seguida

devidamente analisados e ponderados.

IV. 1. Da pronúncia da Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda.

110. Note-se que a Diaverum na sua pronúncia, divide a sua análise em três partes, a

saber: a) “Da abertura do processo de inquérito e sua motivação”; b) “Das fiscalizações

realizadas pela ERS e das Medidas Corretivas Implementadas pela Diaverum”; e c)

“Das conclusões das ações inspetivas e das não conformidades apuradas pela ERS”.

111. Relativamente à “abertura do processo de inquérito e sua motivação” é,

sumariamente, referido que:

(i) “[…] a abertura do presente processo de inquérito por parte da ERS surgiu

após esta a entidade ter recebido um ofício da Delegada de Saúde Adjunta

da Região de Lisboa e Vale do Tejo, no qual lhe foi dado conhecimento da

existência de vários doentes infectados com vírus da hepatite C (“HCV” ou

“VHC”), que realizavam tratamentos de hemodiálise no estabelecimento da

Diaverum, em Entrecampos (doravante “Diaverum- Entrecampos'” ou

"Unidade de Entrecampos”).”;

(ii) “[…] No Relatório de Fiscalização da ERS, de 1 de Dezembro de 2015,

cujas Conclusões principais estão transcritas no projecto de deliberação, no

seu ponto 14., é referido que "Os contactos no local, adiantaram que já

efetuaram um estudo global sobre os casos de seroconversão e a única

situação que se encontra eventualmente associada poderá ser um evento

adverso de uma falta de débito do CVC deste último doente referido (VHC

positivo)".

(iii) “[…] a partir daqui, a ERS refere este "evento adverso", ao longo do seu

projecto de deliberação (evento que lhe terá sido comunicado por "contactos

no local” aquando da acção de fiscalização de 1 de Dezembro de 2015).”;

(iv) “[…] Neste aspecto, e antes de mais, interessará esclarecer aqui do que se

fala exactamente quando se refere o dito "evento adverso de uma falta de

débito do CVC de um doente VHC positivo em turno anterior.”;

(v) “[…] Conforme atrás referido, a Diaverum, desde o dia em que teve

conhecimento do resultado das análises clínicas que determinaram que seis

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doentes estavam infectados com o VHC, encetou um processo imediato e

exaustivo de investigação interna, e também externa, sobre o que poderá

ter eventualmente determinado o surgimento desta ocorrência, não tendo

chegado a qualquer conclusão quanto ao que poderá tê-la provocado,

designadamente qualquer tipo de erro ou falha humana.”;

(vi) “[…] Encetou ainda a Diaverum um isento processo de auditorias, conforme

resulta já do presente processo de inquérito, e bem assim diversas medidas

e acções de melhoria e correctivas conforme recomendações que recebeu,

algumas das quais estão referidas no Relatório de Fiscalização de 1 de

Dezembro de 2015.”;

(vii) “[…]Desde já se refira que não é possível extrair-se qualquer prática

imputável à Diaverum, e em particular a qualquer um dos profissionais ao

seu serviço, que possa ter determinado a contaminação dos doentes por

VHC.”;

(viii) “[…] Aliás, esclareça-se, com o devido respeito, que a Diaverum não

referiu, por meio de qualquer um dos seus clínicos e em sede de qualquer

visita às instalações de hemodiálise da Unidade de Entrecampos por parte

da ERS, designadamente aquando da acção de fiscalização de 1 de

Dezembro de 2015, a existência de uma ocorrência concreta como tendo

sido a causa do surgimento da infecção nos seis doentes seroconvertidos

[…]”;

(ix) E conclui quanto a este aspeto que “[…] 20.°Tendo encontrado apenas um

episódio, com data de 30 de Julho de 2015, que foi lançado no sistema por

um seu Enfermeiro que terá mencionado a falta de débito do Cateter

Venoso Central ("CVC) de um doente HCV positivo, mais concretamente o

seguinte: "Baixo débito de ambos os ramos do CVC, fez-se várias lavagens,

PV altas, monitor com sucessivas paragens, apresentava coágulos na

câmara venosa e PV de 450, foi mudado CEC, com efeito .”;

(x) “[…] 21.°Todavia, há que dizer que a falta de débito de CVC é comum

acontecer em Clínicas de Diálise em geral, do que a Diaverum não é

excepção, ocorrendo este incidente e em várias sessões de diálise

realizadas nas suas Clínicas, nunca tendo, por esse motivo antes sido

detectado qualquer caso de contaminação por conta disso.”;

57 Mod.016_01

(xi) “[…] 22.°Este episódio de 30 de Julho de 2015 apenas pode evidenciar que

terão existido manipulações no Posto do doente cujo CVC apresentou falta

de débito, mas nada mais do que isso.”;

(xii) “[…] 23.°Dizer que isso poderá ter permitido a contaminação é dar um

"salto no desconhecido", encontrando um nexo causal sem qualquer base

de sustentação fáctica e evidente, contrariamente a todas as regras de

responsabilização vigentes no ordenamento jurídico português.”.

112. Já quanto ao tópico “Das fiscalizações realizadas pela ERS e das Medidas Corretivas

Implementadas pela Diaverum” é, sumariamente, referido que:

(i) "[…] No que diz respeito às diligências efectuadas in loco às referidas unidade

de Hemodiálise (cfr. ponto 1.3 "Diligências" do projecto de deliberação), mais

concretamente às Unidades de Marco de Canavezes, de Penafiel e de Paredes,

cumpre dizer que certamente por lapso, é referido que tais diligências foram

efectuadas em 15 de Novembro de 2015, quando na realidade tais diligências

realizaram-se sim em 15 de Dezembro de 2015, […]”;

(ii) Quanto à ação inspetiva da ERS à Unidade de Entrecampos “[…] 28.° […]

cumpre, antes de mais referenciar todas as medidas implementadas pela

Diaverum no seguimento da detecção dos casos de seroconversão na Unidade de

Hemodiálise da Diaverum Entrecampos.”;

(iii) “[…] 29.°Reitera-se que a Unidade de Entrecampos, após conhecimento da

seroconversão de 6 doentes, implementou uma série de medidas, elencadas no

Relatório do Incidente de Seroconversão e que se encontram transcritas no ponto

83. do projecto de deliberação, e que aqui se dá por reproduzido.”;

(iv) “[…] 31.°Do elenco das medidas correctivas determinadas pela Comissão de

Peritos, e que se encontram transcritas no projecto de deliberação, cumpre

esclarecer que, contrariamente ao que consta no Relatório da Vistoria, de 6 de

Novembro de 2015, a medida de “Suspender a prática de manipulação de

medicamentos, no caso presente, a Heparina na sala de diálise aplicando o

descrito no Manual de Boas Práticas da Diálise Crónica. 2011 só foi referida na

vistoria realizada em 13 de Novembro de 2015, tendo tal alteração de

procedimento sido acatada, de imediato, pela Diaverum, nos termos adiante

melhor descritos.”;

(v) “[…] 32.°Acrescente-se que, na sequência das acções de vistoria realizadas

pela Comissão de Peritos em 6, 13 de Novembro e em 18 de Dezembro de 2015,

58 Mod.016_01

a Diaverum-Entrecampos deu cabal cumprimento às medidas correctivas

impostas pela mencionada Comissão, tal como adiante melhor explicitado.”;

(vi) “[…] 33.°No seguimento das medidas correctivas impostas pela Comissão de

Peritos, aquando da vistoria realizada em 6 de Novembro a Diaverum, de molde a

permitir a segregação e isolamento de todos os doentes HCV, ao mesmo tempo

que garantiu a dedicação exclusiva dos monitores e postos a tais doentes,

"fechou" fisicamente uma área da sala anteriormente existente, dedicada em

exclusivo ao tratamento destes doentes, com um enfermeiro destacado para essa

sala.”;

(vii) “[…] 34.°A este respeito diga-se ainda que a exigência de sala isolada para

doentes infectados existe apenas para o vírus da hepatite B, sendo que Unidade

de Entrecampos tem uma unidade de isolamento para tais doentes, dado o risco

de contágio deste tipo através do equipamento.”, acrescentando que “[…] O

mesmo não se verifica para o VHC, onde não existe qualquer separação em

isolamento de doentes infectados com este vírus, internacionalmente”;

(viii) “[…] Porém, após o incidente, e de forma a acomodar as exigências da

Comissão de Peritos, e em manifestação clara do espírito de cooperação com

aquela entidade, foi criada na Unidade de Entrecampos uma sala exclusivamente

dedicada a estes doentes (VHC positivos)”;

(ix) “[…] O que de resto acaba por ser salientado no próprio projecto de

deliberação da ERS, onde consta que a Diaverum "improvisou" uma sala

específica para acolher os doentes com VHC, o que só pode ser visto de modo

favorável à sua conduta cooperante, respeitadora e proactiva no sentido de

implementar e reforçar medidas tendentes à eliminação de uma qualquer situação

hipotética de contágio entre doentes”, e o que “[…] 38.°Na verdade, é sinal de

franca vontade da Diaverum de cooperar com as recomendações da DGS a

criação de uma sala para os doentes infectados, praticamente com as mesmas

exigências que existem para doentes isolados com vírus de hepatite B.”;

(x) “[…] De assinalar que tudo foi feito no espaço de poucos dias por parte da

Diaverum, que quis, no mais curto espaço de tempo, resolver as exigências da

DGS a respeito do isolamento dos casos de seroconversão e de todos os doentes

HCV positivos.”;

(xi) “[…] 43.°Com efeito, por carta datada de 11 de Janeiro de 2016, enviada pelo

Director Clínico de Entrecampos à Comissão de Peritos, e cujo teor se dá aqui por

integralmente reproduzido (Doc. 7), a Diaverum Entrecampos comunicou à

59 Mod.016_01

Comissão de Peritos todas as medidas que haviam sido aplicadas, em resposta

às conclusões de vistoria ocorridas na sequência do incidente da seroconversão.”;

(xii) “[…] 46.°Note-se que consta das conclusões do Relatório da Vistoria de 18 de

Dezembro de 2015, no seguimento da vistoria às instalações físicas pela

Comissão de Peritos, que a Diaverum - Entrecampos não apresentava

inconformidade legais que impedissem o seu normal funcionamento (cf. Doc. 5.

p.2).”.

113. Já quanto ao tópico “Das conclusões das ações inspetivas e das não conformidades

apuradas pela ERS” este foi também, por sua vez, dividido pelo prestador, em vários

subtópicos, a saber: I) do Equipamento de Proteção Individual; II) Do Plano de

Higienização da Clínica; III) Do Manuseamento da Heparina; IV) Da Capacidade

Instalada da Unidade de Entrecampos; V) Do cumprimento dos Ratios

Enfermeiro/Utente; e VI) Dos Técnicos Auxiliares de Diagnóstico.

114. No que se refere ao equipamento de proteção individual foi alegado pelo prestador o

que de seguida, sucintamente se apresenta:

(i) “[…] 49.°Em relação a este ponto, no projecto de deliberação agora

notificado à Diaverum é referido (cfr. alínea a) do ponto 84.) que foram

constatadas, na Unidade de Entrecampos, não conformidades que alegadamente

poderiam ter posto em causa a prevenção da transmissão de infecções nos

doentes, entre elas, a verificação que o único equipamento de protecção

individual utlizado eram as luvas e as viseiras.”;

(ii) considerando que “as finalidades e adequação dos procedimentos se

mantêm, apenas haverá necessidade de proceder a uma revisão, se for

evidenciado que o procedimento em causa se encontra ultrapassado […] Ora, tal

constatação ou apreciação não foi feita pela ERS in casu, pelo que é desprovido

de sustentação fática ou legal proceder periodicamente a revisões dos mesmos

sob pena de os mesmos poderem deixar de estar devidamente enraizados no seio

dos profissionais envolvidos.”;

(iii) “[…] Das normas e procedimentos relacionados com os EPIs (já

providenciados à ERS), elaborados e aprovados pela Diaverum com vista às

melhores práticas de saúde internacionais, existem:

A norma 600.003

A norma 601.003

O procedimento 600.2 003, aprovado em 20-10-2009

60 Mod.016_01

O procedimento 601.03_03, aprovado em 20-10-2009”;

(iv) “[…] O procedimento 600.2 003 prevê, no seu Ponto 3, que deverá ser

disponibilizado o "Equipamento de Protecção Individual (EPI) a todos os

profissionais de acordo com as suas funções e procedimentos a realizar", sendo

que “[…] Para este efeito, considera-se EPI:

- Batas descartáveis.

- Óculos/Viseira,

- Máscara ou máscara com viseira,

- Luvas.

- Avental.”;

(v) “[…] 58.°Do exposto resulta que do procedimento acima referido intitulado

por 'MEDIDAS GERAIS PARA O CONTROLO DE INFECÇÕES_CLÍNICA" não

consta a obrigação de usar todos os dispositivos acima elencados que integram o

EPI. Aliás, tal não faria sentido, na medida em que alguns têm evidentemente a

mesma finalidade (a título de exemplo, um profissional não iria usar uma viseira

cumulativamente com uma máscara com viseira, ou uma bata descartável com

um avental).”;

(vi) “[…] 59.°Para além disso, o procedimento prevê que seja "disponibilizado”

o EPI aos profissionais e não que seja obrigatório o uso cumulativo de batas,

óculos/viseiras, máscaras ou máscaras com viseiras, luvas e avental, pelo que

não parece que haja qualquer não conformidade com o procedimento

implementado pela Diaverum pelo facto de estarem a ser utilizados nas salas de

diálise as luvas e as viseiras.”;

(vii) “[…] 60.°Atente-se, porém, que a utilização dos EPIs consta também do

procedimento n.º 601.03_03, aprovado em 20 de Outubro de 2009, sendo que o

procedimento prevê assegurar que todos os profissionais utilizam o EPI (Cfr.

Ponto 1). No entanto, tal procedimento está associado, conforme consta do

campo "Explicação" que: "É da responsabilidade de cada profissional seleccionar

as barreiras protectoras mais apropriadas em função do contado previsto."”;

(viii) “[…]61.°Do exposto decorre que o não uso de bata ou avental na sala de

diálise não integra, por si só, uma não conformidade, desde logo porque os

procedimentos implementados não o exigem. Na verdade, está previsto que é da

responsabilidade dos profissionais seleccionar, de entre os dispositivos que

61 Mod.016_01

compõem o EPI quais as barreiras protectoras mais apropriadas, atendendo ao

contacto previsto.”;

(ix) “[…] Das vistorias não resulta que qualquer dos profissionais da Diaverum

se encontrassem a utilizar uniformes sujos ou fossem visíveis quaisquer "salpicos"

que pudessem ser fonte de transmissão de qualquer infecção entre doentes.”;

(x) “[…] 66.°Na verdade, nas formações que a Diaverum ministra regularmente

é assegurado que os profissionais estão comprometidos a proceder à troca

imediata de uniforme sempre que se verifique qualquer tipo de conspurcação, o

que equivale a assegurar que a finalidade prevista com o uso da bata ou avental

está cumprida.”;

(xi) “[…] 68.°Não resulta igualmente do Manual de Boas Práticas (Cap. D, Ponto

1 – Medidas gerais de controlo de infecção para as unidades de diálise) a

obrigatoriedade de usar as batas ou aventais descartáveis. […]”;

(xii) “[…] 70.°Sem prescindir, e porque a Diaverum não pretende descurar de

nenhuma vertente preventiva de uma eventual transmissão de infecções, constam

dos planos de formação de 2015 e de 2016 (Doc. 9) que essas matérias são

permanentemente alvo de abordagem e têm vindo a ser incutidas aos

profissionais de forma transversal. Recentemente, e verificada a detecção de

casos na Clinica de Entrecampos, essa formação intitulada "Equipamento de

Protecção Individual' foi reforçada, conforme se comprova pelas acções de

formação, concretizadas em 3 de Dezembro de 2015 e, já em 2016, nos dias 30,

31 de Março e 1 de Abril, de acordo com a documentação que ora se junta (Docs.

10 e 11).”;

(xiii) “[…]71.°Acresce ainda que desde a detecção dos casos de seroconversão,

e não obstante o acima exposto, a Diaverum passou a tomar obrigatório o uso de

avental na conexão e desconexão dos doentes ao circuito.”.

115. No que se refere ao plano de higienização da clínica foi alegado pelo prestador o que

de seguida, sucintamente se apresenta:

(i) “[…] 74.° Contrariamente ao vertido no Projecto de deliberação, considera a

Diaverum que in casu não se verifica incumprimento do procedimento atinente à

higienização ca Clínica, e muito menos que de tal invocado incumprimento

decorra um risco acrescido de contaminação e conspurcação das áreas, pelas

razões que se passam a expor infra.”;

62 Mod.016_01

(ii) relativamente ao facto de não se aguardar pelo término do turno para se

limpar determinadas zonas da sala e de as máquinas de diálise estarem já com os

circuitos montados para o próximo turno, com doentes ainda na sala referentes ao

turno anterior referiu o prestador que “[…] 75.° […] a preparação dos monitores

para o turno seguinte só é realizada quando o doente do posto, e dos postos

contíguos, já saíram da sala, tal como estipulado no Procedimentos n.º 902.5,

versão 002, aprovado em 29 de Abril de 2013 e n.° 902.1, versão 006, aprovado

em 29 de Abril de 2013, relativos à Preparação dos Monitores de Hemodiálise,

marcas Nikkiso e Gambro, respectivamente, que aqui se juntam sob Docs. 12 e

13.”;

(iii) Bem como que “[…] 78.° […] as máquinas de diálise são montadas para o

turno seguinte somente quando o posto já foi descontaminado, garantindo que

não existem doentes nos postos contíguos (esquerda e direita ao posto a ser

preparado para o turno seguinte).”, o que “[…] elimina, assim, qualquer risco de

contaminação horizontal. […]”;

(iv) “[…] 85.° Isto para dizer que a forma como é efectuada a limpeza das salas

de Diálise salvaguarda a segurança dos doentes, não se vislumbrando em que

medida é que o facto de a limpeza ser efectuada antes do turno anterior acabar

pode, sem mais, ser considerada uma inconformidade.”;

(v) “[…] 87.° Subsumindo: Pese embora o Plano de Higienização refira que a

limpeza seja feita preferencialmente depois do turno acabar e após a saída dos

doentes, pelas razões atrás expostas considera a Diaverum que não se verifica

qualquer não conformidade no que a esta matéria diz respeito”;

(vi) “[…] 88.° Sem prejuízo do exposto, já após a realização da fiscalização à

Unidade de Entrecampos em 12 de Novembro de 2015, a Diaverum tem reforçado

as acções de formação ministradas aos seus colaboradores "Precauções Básicas

de Controlo de Infecção (PBCI)- Ambiente Clínico", com o escopo de incentivar

práticas segurança de PBCI relacionadas com o ambiente clínico tornando-o

seguro para os profissionais, utentes e visitas (Doc. 14).”;

(vii) Relativamente “[…] a um outro tema suscitado no projecto de deliberação

da ERS […] que a bibliografia sobre a "Profilaxia da Hepatite C se encontra

desactualizada, bem como que a recomendação D II c) do Manual de Boas

Práticas de Diálise Crónica aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem

dos Médicos, de 2 de Setembro de 2011 ("MBPDC"), não é seguida pela

Diaverum, o que não é verdade.”;

63 Mod.016_01

(viii) “[…] 90.° Ora, a este respeito diga-se que a Diaverum, antes mesmo da

detecção de casos de seroconversão ocorrido na Unidade de Entrecampos,

cumpria com o MBPDC; na medida em que no ponto (iii) é referido o seguinte:

"Recomenda-se que haja monitores de diálise específicos para doente com HCV.

Os monitores de doentes com HCV podem ser utilizados em doentes negativos,

sempre que sejam cumpridas as normas para a desinfeção e limpeza interna e

externa” (nosso sublinhado).”;

(ix) “[…] 91.° Ora, conforme atrás referido, a Diaverum sempre deu integral

cumprimento às normas de desinfecção e limpeza interna e externa dos

monitores, encontrando-se aliás previsto no MBPDC a possibilidade dos

monitores de doentes com VHC poderem ser utilizados em doentes negativos,

desde que cumpridas as aludidas normas, como é o caso.”;

(x) “[…] 92.° Acresce que, antes da detecção dos casos de seroconversão a

Diaverum cumpria igualmente com as melhores evidências científicas disponíveis9

e com as recomendações e guidelines internacionais10 sobre prevenção de

transmissão de vírus da hepatite C em Unidades de Hemodiálise.”;

(xi) “[…] 93.° Assim, não se afigura correcta a afirmação constante do Relatório

de Fiscalização de 15 de Janeiro de 2016 a respeito do alegado incumprimento do

MBPDC (sem prejuízo de este não ser vinculativo, atente-se, conforme infra

melhor se explicitará).”;

(xii) “[…] 94.° O mesmo se diga relativamente ao ponto (iv) da recomendação

Cap. D. 2, C, na medida em que antes do incidente na Diaverum- Entrecampos

esta recomendação era aplicada. “;

(xiii) “[…] 95.° Note-se que as várias hipóteses previstas nesta recomendação

são alternativas, e não cumulativas, sendo que antes da detecção de casos de

seroconversão a Diaverum concentrava os doentes na mesma área da sala, em

9 Cf. RACHEL B. FISSELL, JENNIFER L. BRAGG-GRESHAM, JOHN D. WOODS, MICHEL

JADOUL, BRENDA GILLESPIE, SARA A. HEDDERWICK, HUGH C. RAYNER, ROGER N. GREENWOOD, TAKÁSHI AK.IBA, e ERIC W. YOUNG "Patterns of hepatitis C prevalence and seroconversion in hemodialysis units from three continents: The DOPPS", Kidney International, Vol. 65 (2004), pp. 2335-2342. Disponível em: http://ac.elscdn. com/S008525381549979X/l-s2.0-S00852538l549979X-main.pdf? tid=7edd2d52-f853-11e5-92f3- 00000aab0f01&acdnat=1459547500_If8112d0554a51e41e1ddf9a1ecfb95b 10

Cf. Kidney Disease: Improving Global Outcomes. ICDIGO clinical practice guidelines for the prevention diagnosis, evaluation, and treatment of Hepatitis C in chronic kidney disease. Kidney International, 2008; 73 (Supple 109): S l - S99, em particular, a Guideline n.° 3, "Preventing HCV transmission in hemodialysis units", p. S48. Disponível em:hltp://www.kdigo.org/clinicalpractice_guidelines/pdf/KDlGO%20Hepatitis%20C%20Guideline.pdf

64 Mod.016_01

cada turno, aplicando as normas de desinfecção dos monitores, dando, assim,

cumprimento ao n° 2 do citado ponto (iv).”;

(xiv) “[…] 96.° Depois da detecção desses casos de seroconversão ocorridos na

Diaverum- Entrecampos, e no seguimento da recomendação da Comissão de

Peritos, nomeada pela DGS, foi implementada nesta Unidade a recomendação

prevista no n.º 3 do ponto (iv), isto é "colocar os doentes em salas separadas com

pessoal exclusivo em cada sessão”.”.

116. Relativamente ao manuseamento de heparina foi alegado pelo prestador o que de

seguida, sucintamente se apresenta:

(i) “[…] 98.° Quanto ao procedimento em concreto e aquando da data da vistoria

efectuada à Unidade de Entrecampos, em 12 de Novembro de 2015, estava em

vigor o procedimento I.I.11/15 datado de 29 de Outubro”;

(ii) “[…] 99.° Procedimento esse que a equipa de fiscalização da ERS considerou

não estar a ser cumprido, na medida em que a preparação e diluição de heparina

decorre sempre no turno anterior e não assegura a margem de segurança e

estabilidade e segurança definida no procedimento, i.e., nunca antes de 4 horas

de administração.”;

(iii) “[…] 100.° Ora, sem prejuízo dessa verificação in loco, quer no próprio

relatório de fiscalização, quer no projecto de deliberação, consta que após essa

vistoria o procedimento em causa foi objecto de uma alteração, com data de 16 de

Novembro de 2015, tendo inclusive sido emitidas recomendações relativas à

preparação de terapêutica injectável, conforme aliás foi já dado conhecimento à

ERS, através de e-mail datado de 22 de Dezembro de 2015 (Doc. 15 que se

junta).”;

(iv) “[…] 101.° Os termos da alteração em causa visaram sobretudo garantir que a

preparação da heparina passasse a ser feita fora das salas de diálise, no sentido

de reforçar ainda mais a segurança quanto à administração da mesma.”;

(v) “[…] 102.° A implementação do procedimento passa por várias fases, desde

logo a comunicação inicial aos directores clínicos e enfermeiros chefes, aprovação

do novo procedimento, implementação do mesmo em termos práticos, através da

criação das necessárias condições físicas para o efeito, assim como da

ministração das adequadas acções de formação.”;

(vi) “[…] 103.° Em termos temporais parece-nos importante atentar às seguintes

datas:

65 Mod.016_01

a) A alteração do procedimento foi informalmente comunicada a alguns dos

directores clínicos e enfermeiros chefes, no dia 14 de Novembro de 2015.

b) As recomendações em causa não foram, de imediato, transmitidas a todas as

clínicas, pois a respectiva operacionalização dependia de diversos factores

variáveis de clínica para clínica, tais como o espaço físico das instalações de

farmácia e locais alternativos com condições apropriadas para a preparação de

medicação, a alteração dos procedimentos de acessibilidade à farmácia, de forma

a garantir a segurança da mesma, a alteração dos procedimentos para a garantia

das condições de segurança nas salas de diálise em face da necessidade de

ausência temporária de um elemento da equipa de enfermagem para preparação

da medicação; etc.

c) Ao nível da direcção médica, direcção de enfermagem e direcção de

operações, a preparação do processo teve início em Novembro de 2015, após ter

ficado assegurada o reforço da segurança a todos os níveis, na clinica de

Entrecampos.

d) Em 7 de Dezembro de 2015, foram convocadas reuniões das 4 áreas de

clinicas, abrangendo todo o país, com vista a operacionalização da alteração do

procedimento de administração da heparina, com datas de 15, 16, 17 e 18 de

Dezembro de 2015.”;

(vii) “[…] 104.° Decorre do exposto que a alteração quanto ao manuseamento da

heparina, como medida correctiva, foi apenas efectuada após a data da vistoria da

ERS datada de 12 de Novembro de 2015, pelo que não se compreende como

pode ser referido no relatório de fiscalização datado de 15 de Janeiro de 2016

que: "No entanto, no momento da fiscalização, após supostamente a medida

correctiva, verificou-se a existência de um tabuleiro cheio de seringas já com o

conteúdo no balcão de enfermagem para o turno seguinte (em zona de

passagem)" (sublinhado nosso).”;

(viii) “[…]107.° Neste contexto, e tendo em conta que a Diaverum evidenciou à

ERS, após a data da vistoria, que alterou o procedimento em causa e que essa

alteração reflecte as recomendações dos peritos da ERS e da Comissão de

Peritos da DGS, não existem motivos para que, na data do projecto de

deliberação em causa, seja ainda apontada uma não conformidade para uma

situação para a qual foram já adoptadas e evidenciadas medidas correctivas,

sanando-as.”.

66 Mod.016_01

117. Relativamente à capacidade instalada da unidade de Entrecampos foi alegado pelo

prestador o que de seguida, sucintamente se apresenta:

(i) “[…] 109.° […] a Diaverum rejeita em absoluto esta afirmação de que, no

momento da detecção dos casos de seroconversão, a Unidade de Entrecampos

estava sobrelotada.”;

(ii) “[…] 110.º […] cumpre esclarecer que a Portaria N.º 347/2013, de 28 de

Novembro, publicada no DR. n.° 231, 1ª Série, que entrou em vigor no dia

seguinte à sua publicação, que estabelece normas sobre as dimensões dos

postos, prevê um período de adaptação aos seus requisitos legais de 2 anos, pelo

que, aquando da fiscalização pela ERS, esse período ainda não estava

ultrapassado, o que só ocorreria no dia 29 de Novembro de 2015.”;

(iii) “[…] 112.° Acontece que a Diaverum, conforme Plantas Actuais da Unidade

de (cfr. Doc. 8) actualmente e, refira-se, desde o momento a partir do qual passou

a isso a estar obrigada por lei, cumpre escrupulosamente as dimensões do posto

de 1,8 x 2,5 m”;

(iv) “[…] 114.° […] dir-se-á também que a Diaverum Entrecampos está

devidamente licenciada para receber 234 doentes, sendo que antes disso chegou

a ter licença de funcionamento para 256 doentes.”;

(v) “[…] 115.° Frise-se que, ao contrário daquilo que parece resultar do projecto

de deliberação da ERS, que não está correcto, o licenciamento da Unidade de

Entrecampos não é conferido com base em número de postos, mas sim com base

em número de doentes, cujo número limite sempre foi cumprido ao longo destes

vários anos de exercício de actividade”;

(vi) “[…] 117.° Diga-se ainda que o facto de terem sido transferidos para outras

Unidades alguns doentes que eram acompanhados na Unidade de Entrecampos,

no seguimento de medidas impostas pela DGS, tratou-se de uma medida de

precaução, em face da tomada de conhecimento recente de que 6 doentes tinham

sido contaminados pelo VHC, não tendo tido por base qualquer verificação de

sobrelotação verificada.”;

(vii) “[…] 118.° Acrescente-se também que apesar da Unidade de Entrecampos

ter licença para 234 doentes, à data do incidente tinha 213 doentes em

tratamento, abaixo da capacidade autorizada, sendo que, presentemente, o

número de doentes tratados nesta unidade é de 186 doentes.”;

67 Mod.016_01

(viii) “[…] 119.° Ademais, presentemente a Unidade de Entrecampos, no

seguimento das recomendações da Comissão de Peritos, referidas na última

vistoria de 4 de Março de 2016 (que decidiu manter a medida correctiva de não

admissão de novos doentes, com indicação para reavaliação desta medida dentro

de 6 meses, caso não houvesse recolocação de doentes na nova unidade até

mudar de instalações), não está a admitir novos doentes sendo que a reavaliação

desta medida está pendente da vistoria às novas instalações da Diaverum e que

foi solicitada à ERS em 10 de Fevereiro de 2016.”;

118. No que se refere ao cumprimento dos ratios enfermeiro/doente foi alegado pelo

prestador o que de seguida, sucintamente se apresenta:

(i) “[…] 123.° Salvo o devido respeito, discorda a Diaverum absolutamente que

tenha incumprido qualquer obrigação que se impõe à sua organização e ao seu

funcionamento no que concerne a esta matéria de ratios enfermeiro / doente.”;

(ii) “[…] 124.° Pelo que não pode aceitar a instrução emitida à Diaverum no ponto

108 alínea b) do projecto de deliberação, no caso de com tal instrução pretender a

ERS abarcar a falta de acolhimento dos ratios enfermeiros / doente, resultantes do

Decreto-Lei n.° 127/2014, de 22 de Agosto, da Portaria n.° 347/2013, de 28 de

Novembro, e do MBPDC e ainda do Regulamento n.° 533/2015, de 2 de

Dezembro […]

125.° Normativos estes que não definem qualquer proporção mínima obrigatória

entre enfermeiro e doente tratado nas suas instalações clínicas.”;

(iii) “[…] 131.° Refira-se que o MCPDC, e que é referido pela ERS como estando

a ser incumprido pela Diaverum, no seu preâmbulo considera que “as linhas

orientadoras nele traçadas não têm carácter vinculativo e não são de

cumprimento obrigatório. Algumas vezes até acontecerá que, por força de

novos conhecimentos ainda não espelhados no Manual, seja recomendável, quiçá

obrigatório, um deliberado desvio às recomendações nele contidas”.”;

(iv) “[…] 132.° Ora, sem prejuízo das recomendações de actuação constantes

neste Manual, as quais de resto ainda não foram aprovadas pelo Ministério da

Saúde e devidamente publicadas (ao contrário das resultantes do Manual de Boas

Práticas de Hemodiálise, aprovado pelo Despacho n.° 14391/2001 de 10 de Julho,

em vigor, aprovado e também referido no projecto de deliberação).”;

(v) “[…] 133.° Não pode ser olvidado que tais recomendações são meramente

facultativas, pelo que o seu eventual não seguimento por qualquer um dos seus

destinatários não pode ser encarado como um incumprimento.”;

68 Mod.016_01

(vi) “[…] 137.° Aliás, a este respeito, reforce-se o teor do parecer técnico do Perito

Enfermeiro de resto igualmente tido em conta no projecto de deliberação da ERS,

que refere que "estão reunidas todas as condições para a realização de boas

práticas baseadas e assentes nos múltiplos manuais que regem a segurança dos

utentes para uma excelência cuidados", salientando aliás que a Diaverum faz

parte de um Grupo Internacional que manifesta rigor interno nas medidas por si

instituídas, e bem assim auditorias para elaborar indicadores de segurança e

qualidade.”;

(vii) “[…] 138.° Mais, o "ratio enfermeiro / doente" não deve ser visto de forma

isolada no contributo de factores para a obtenção de uma boa prestação de

cuidados de saúde em Unidades Privadas de Diálise, como as da Diaverum”;

(viii) “[…]139.° No que se refere à proporção do pessoal de enfermagem para cada

doente, outros factores não podem deixar de ser também valorados, tais como os

da qualificação técnica, experiência e formação de cada um desses profissionais

de saúde que ali desempenham a sua actividade, ao serviço de cada utente, que

concorrem para a determinação da adequação e razoabilidade dos ratios em

concreto aplicados pela Diaverum, assentes também em opções estratégicas de

sustentabilidade, legalidade e capacidade.”;

(ix) “[…] 143.° Uma última palavra quanto ao facto de, segundo o projecto de

deliberação da ERS, não estar a ser aplicado o disposto no Regulamento n.°

533/2014, de 2 de Dezembro, que contempla uma recomendação de 1 enfermeiro

por 4 camas.”;

(x) “[…] 145.° Este Regulamento, no seu Ponto B, é aplicável a estabelecimentos

hospitalares, e não a Unidades Periféricas de Diálise, como as da Diaverum,

tendo pois requisitos, circunstancialismos e âmbitos materiais absolutamente

distintos, conforme já exposto no Doc. 16 aqui junto e igualmente referido supra.”;

(xi) “[…]149.° Por tudo quanto sobre esta matéria vem aqui dito, e conforme

conclusões do Parecer do Perito Enfermeiro, carece pois de sentido o resultante

do projecto de deliberação da ERS, nomeadamente no seu ponto II.4, 24., 2., no

sentido de que "o ratio praticado de enfermeiros doentes não corresponde à

garantia de segurança emanada pelo Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica

e Regulamento n."533/2014, de 2 de Dezembro, podendo comprometer a

qualidade dos cuidados prestados "”;

69 Mod.016_01

(xii) “[…]150.° Pelo simples motivo de que os ratios previstos em tais diplomas ou

não são vinculativos (caso do MBPDC) ou não têm aplicação material às

Unidades Periféricas de Diálise (caso do Regulamento n.° 533/2014).”.

119. No que se refere aos técnicos auxiliares de diagnóstico foi alegado pelo prestador o

que de seguida, sucintamente se apresenta:

(i) “[…] 155.° Conforme previa o então art. 23° do Regulamento Interno, estes

profissionais tem funções auxiliares de enfermagem. As competências que lhes

estão atribuídas são de mera coadjuvação dos enfermeiros, em algumas das

funções que estes desempenham.”;

(ii) “[…] 156.° Assim, não resulta das vistorias realizadas, a verificação in loco que

estes técnicos tenham efectivamente executado algumas das actividades da

responsabilidade exclusiva dos enfermeiros. Na verdade, no relatório de

fiscalização datado de 15 de Janeiro de/2016 é feita apenas uma observação, no

sentido de constar do regulamento interno uma competência relativa à execução

dos pensos.”;

(iii) “[…] 158.° Na verdade, estes profissionais, não obstante as competências

atribuídas via regulamento interno, apenas procedem à preparação das linhas do

monitor para conexão e remoção das linhas após desconexão do doente. As

restantes actividades são semelhantes às dos auxiliares.”;

(iv) “[…]161.° Pelo exposto, não resulta que os TAHD executem ou estivessem a

executar tarefas que sejam da competência/responsabilidade exclusiva dos

enfermeiros, na medida em que apenas coadjuvam o enfermeiro na execução de

determinadas tarefas e não as executam, em vez dos enfermeiros, motivo pelo

qual se requer que seja eliminada esta afirmação constante do projecto de

deliberação, i.e. "que deve ser da exclusiva responsabilidade dos enfermeiros".

Sem prescindir,

162.° Atentas as boas práticas da Diaverum, assim como a constante

preocupação em melhorar os seus procedimentos no que toca ao controlo de

infecções, a Diaverum procedeu, em 10 de Dezembro de 2015, i.e., após o

incidente e as vistorias, já à alteração do Regulamento Interno, no que toca ao

referido art. 23°, no sentido de retirar qualquer competência aos TADH que possa

vir a ser entendida como sendo da competência exclusiva dos enfermeiros (Doc.

18 que se junta e se dá aqui por reproduzido).”;

(v) “[…] 163.° Assim, o referido artigo 23° do Regulamento Interno passou a ter

seguinte redacção:

70 Mod.016_01

Art. 23°

(Técnico Auxiliar de Hemodiálise)

1. Os TAHD são profissionais com funções auxiliares de enfermagem no estrito

campo do tratamento hemodialitico, que frequentaram com aproveitamento curso

específico para o efeito ministrado pela ANADIAL ou equivalente.

2. Compete-lhe coadjuvar os Enfermeiros, sob a sua supervisão técnica:

2.1. Na limpeza e desinfecção dos monitores de hemodiálise.

2.2. Na montagem, escoramento e desmontagem do circuito extracorporal.

2.3. Na preparação de material para diálise.

2.4. Na reposição do material na sala, mantendo o stock necessário em todos os

turnos.

3. Os TAHD executam ainda as seguintes funções:

3.1. Arrumar e limpar os carros de pensos e de material.

3.2. Ajudar os doentes com limitações motoras na deslocação de e para o posto

de tratamento.

3.3 Responder às solicitações dos doentes, encaminhando-as para outros

estratos profissionais caso não sejam da sua competência

3.4 Chamar os doentes para o seu tratamento.

4. Aos TAHD está vedado:

4.1 Tomar decisões/iniciativas terapêuticas.

4.2 Manusear acessos vasculares.

4.3 Preparar ou ministrar terapêuticas endovenosas.”;

(vi) “[…] 164.° Assim, nos pontos 2.3 e 2.4 foram eliminadas as competências

de coadjuvação aí previstas, no que toca à execução dos pensos e na pesagem

dos doentes e colheita e registo de sinais vitais.”;

(vii) “[…] 165.° Por sua vez, o anterior ponto 3.5 que previa que estaria nas suas

competências a execução de "outras tarefas que lhes sejam solicitadas, dentro da

diferenciarão técnica atingida."”;

(viii) “[…] 166.° Está assim implementada mais uma medida, com vista a

prevenir a transmissão de infecções.”.

71 Mod.016_01

120. Na pronúncia apresentada, o prestador conclui assim que “[…] com base na

documentação e informação obtida aquando do processo de inquérito desenvolvido

pela ERS e dos documentos anexos à presente pronúncia, resulta que a Diaverum

assumiu uma postura absolutamente colaborante e proactiva na determinação do

"plano de acção" a traçar, de forma a evitar qualquer situação de propagação de

contágios do VHC detectado em seis dos seus doentes, e bem assim com vista a

esclarecer eventuais situações que merecessem a devida correcção ou verificação de

falhas no seu cumprimento, tendo em conta as normas de qualidade e segurança a que

está obrigada em prol da defesa da saúde dos seus utentes, quer por força do ISO

9001, quer por força das normas legais e regulamentares.”;

121. Referindo não concordar “[…] que lhe sejam emitidas as instruções previstas no

Projecto de Deliberação da ERS:

a) Em primeiro lugar, refira-se que as não conformidades que constam como

tendo sido detectadas, e que sustentam as instruções, não podem ser

consideradas como determinantes do surgimento dos casos de doentes

contaminados por VHC, sendo que até agora não foi possível estabelecer

qualquer nexo causal relativamente a uma qualquer conduta, activa ou omissiva,

por parte da Diaverum e o resultado verificado.

b) Em segundo lugar, as não conformidades apuradas

(i) Ou não são aptas a colocar em causa a prevenção da transmissão de doentes,

conforme acima exaustivamente exposto, sendo pois erradamente consideradas a

título de não conformidades (ex: caso das EPI e da lavagem do chão),

(ii) Ou já foram corrigidas e objecto de alteração de procedimentos e normas

internas, tal aliás sendo salientado pela ERS, no sentido de que as alterações de

procedimentos foram ao encontro das recomendações feitas, designadamente

pelo perito médico da ERS (ex: no caso da preparação da heparina),

(iii) Ou sustentam-se em normas e diplomas que não têm aplicação no caso,

como seja o vertido supra a respeito dos ratios enfermeiro/doente, que fazem

aplicar o MBPDC, que não está em vigor e nem sequer é vinculativo nos seus

termos, e no Regulamento 533/2015, de 2 de Dezembro, Ponto B, cujo âmbito de

aplicação não abrange Unidades Periféricas de Diálise, sendo pois erradamente

consideradas a título de não conformidades.

c) É ainda de salientar que, não só as não conformidades efectivamente

existentes foram já sanadas e objecto de imediata correcção, como também foram

adoptadas várias medidas extra àquelas que foram encontradas aquando do

72 Mod.016_01

processo de inquérito, no sentido de incrementar a garantia de que tudo quanto

dizia respeito ao funcionamento das Unidades de Diálise, em particular à de

Entrecampos, estava dentro do que seria o máximo respeito pelas normas de

prevenção da infecções - a este propósito veja-se o ponto 83. do projecto de

deliberação da ERS no qual constam precisamente todas as medidas,

implementadas neste contexto, destacando-se ter sido criado um Grupo Local de

Prevenção e Controlo de Infecção, não obrigatório, e a contratação de um

gastroenterologista especialista em hepatite C em hemodialisados, entre outros.

C. Não aceita assim a Diaverum que lhe sejam emitidas as instruções previstas,

no que concerne à prevenção e controlo de infecções, e bem assim quanto à

organização e funcionamento das Unidades de Diálise, dado que tudo quanto

poderia ser-lhe apontado nesta sede já está ultrapassado, confirmado pela ERS

como tendo sido verificado, e sanado.

D. Especificamente quanto à instrução na alínea b), é de salientar que o MBPDC,

sem prejuízo de ter sido aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem

dos Médicos, e de as suas recomendações poderem ser seguidas (embora sem

carácter vinculativo), não está efectivamente aprovado pelo Ministério da Saúde,

motivo pelo qual não pode ser entendido como um diploma com a vinculação de

lei, dado que sob este aspecto só o Manual de Boas Práticas de 2001 vincula

efectivamente os seus destinatários, o qual foi aprovado pelo Ministério da Saúde,

e devidamente publicado. Importa frisar que a verificação de um eventual

incumprimento desta instrução com base no Manual de 2011 que pudesse vir a

ser constatado em futuras acções de monitorização ou de fiscalização, com a

consequente condenação em coima, seria sempre manifestamente ilegal (por não

ser o que está em vigor) e desproporcional (pelo facto de não ser vinculativo)

Nestes termos […] deve o presente processo de inquérito ser arquivado, sem

qualquer fixação de instruções a Diaverum, pelo facto de ter sido demonstrado

que esta conhece e cumpre todas as normas legais e regulamentares a que está

obrigada, sem necessidade de se lhe estabelecer instruções para os fins previstos

nos estatutos da ERS, e bem assim sem necessidade de ser criado um processo

de monitorização para acompanhamento de actuação futura no que respeita ao

cumprimento das regras e orientações em cada momento em vigor em matéria de

controlo de infeções e segurança dos utentes […] – cfr. pronúncia do prestador,

de 14 de abril de 2016, junto aos autos.

122. O prestador em anexo à sua pronúncia, veio ainda juntar os seguintes documentos:

73 Mod.016_01

a) cópia dos autos de notificação, referentes às ações de fiscalização realizadas no

dia 15 de dezembro de 2015, às Unidade de Marco de Canaveses, Unidade de

Penafiel, à Unidade de Paredes (Docs.1,2,3);

b) cópia do email à Prof. Doutora […], Presidente da Comissão Nacional de

Acompanhamento de Diálise, por forma a obter da Comissão opinião quanto à forma

como iria ser implementada a sala para os doentes HCV (Doc. 4), que para o que

presente processo importa se passa a transcrever:

“[…] Conforme prometido, estou a enviar-lhe em suporte informático o meu

relatório sobre os incidentes ocorridos na clínica de Entrecampos. O documento

em papel que entreguei em mão datava de 29/10 (as versões têm-se sucedido ao

ritmo da evolução dos acontecimentos) e ainda não estava completamente

actualizado, em particular com os resultados laboratoriais mais recentes dos

doentes caso e com as medidas mais recentemente implementadas (a

reestruturação dos postos fora organizada no dia 1 de Novembro, Domingo, e as

démarches para transferência de doentes para a clínica da Cruz Vermelha

iniciaram-se no dia 2, pelo que ainda não estavam descritas na versão mais antiga

do relatório). Todas as informações e medidas constantes deste relatório datam,

efectivamente, do período anterior ao dia 6 de Novembro, em que decorreu a

vistoria. Quaisquer documentos mencionados no mesmo que entendam dever

consultar serão por mim disponibilizados

Como aditamento, faço questão de lhe prestar esclarecimento em relação ao

reparo que teve ocasião de me fazer sobre o ratio Doente:Enfermeiro que

observou na clínica—na sala onde constatou a presença de 2 enfermeiros para

12 doentes, encontrava-se também escalado um assistente técnico de diálise

(como habitualmente), que efectivamente prestou serviço no horário das 11 às 19

h (poderia ter deixado momentaneamente a sala por razões atendíveis?).

Em relação as conclusões da vistoria que conduziram, segundo transmitido

verbalmente na ocasião, à suspensão da “Notificação de Suspensão de

Actividade" emitida no dia 5 de Novembro pela Delegada de Saúde, mediante

imposição de medidas, também verbalmente transmitidas, informo que

procedemos à reorganização dos postos de diálise, a qual já estava em curso

previamente à vistoria, (com supressão de 7 postos: 3 na sala maior, onde se deu

a seroconversão, 2 na sala de doentes Hep B e 2 na sala do edifício antigo) e à

criação de uma área exclusiva para dialisar doentes HCV+, a amarelo na planta,

que ficará separada do restante espaço físico através de porta deslizante (a

74 Mod.016_01

vermelho na planta) ou divisória com porta a abrir para fora, configurando uma

sala exclusivamente para HCV+ com monitores e staff dedicados (ver planta em

anexo, com dimensões). Estas alterações implicarão a transferência de 16

doentes para outras clínicas. Desde que esta solução seja aceitável pela

comissão, a obra de separação física entre salas iniciar-se-á amanhã mesmo e

estará completa no final da semana. […]”;

c) cópia do Relatório de vistoria da comissão de peritos nomeada pela DGS, datado

de 18 de dezembro de 2015 (Doc. 5) que para o que ao presente processo importa

se passa a transcrever:

“[…] Na sequência das vistorias realizadas a 6 de novembro e 13 de novembro de

2015, deslocaram-se à Unidade de Hemodiálise supracitada, no dia 18 de

dezembro de 2015, a equipa nomeada peia Direção-Geral da Saúde para o efeito,

acompanhados do Dr. […] e Dra. […] do Departamento de Saúde Pública da

Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo (DSP ARSLVT).

Os elementos do DSP ARSLVT apresentaram o levantamento da Notificação de

Suspensão de Atividade imposta a 5 de novembro de 2015, à referida Unidade de

Diálise, o qual foi entregue ao Diretor Clinico Dr. […].

Foi questionado, por parte do Dr. […] aos elementos da ARSLVT se já havia

unidade de hepatologia à qual se deveriam enviar os doentes com seroconversão

para Hepatite C e qual o procedimento a seguir para sua orientação, pois este

ficou à sua responsabilidade. Essa, pertinente, questão foi secundada pelo Dr. […]

e pela Prof.ª […], tendo sido afirmado que ainda aguardavam orientações do

Conselho Diretivo. Perante esta resposta, foi instada a ARSLVT a providenciar

rápida solução.

Posteriormente, procedeu-se à vistoria às instalações físicas, acompanhados do

Diretor Clinico Dr. […] e do Enfermeiro Chefe […], na qual foi aplicado o

questionário autoavaliação das Unidades de hemodiálise, tendo-se verificado o

seguinte: não foram identificadas à data inconformidades legais que impeçam o

seu normal funcionamento. Contudo, sem prejuízo do referido anteriormente,

foram identificadas não conformidades, as quais importa suprir ou dar

continuidade, à sua correção, nomeadamente: a unidade de isolamento apenas

deverá ter 2 postos de tratamento; todos os postos de tratamento deverão cumprir

a área útil de 1,8x2,5m, deve ser melhorada a acessibilidade dos utentes e do

pessoal técnico na unidade com a preservação dos espaços de circulação

desimpedidos de obstáculos e, finalmente, deve ser equacionada o mais rápido

75 Mod.016_01

possível a transferência desta clínica para novas instalações de raiz que permitam

o tratamento aos utentes com menos barreiras arquitetónicas. Salienta-se, que a

unidade possui 2 áreas distintas de tratamento, que apenas são acessíveis pelo

exterior do edifício.

Os peritos solicitaram verbalmente ao Diretor Clinico Dr. […], a comunicação por

escrito dos todos os procedimentos efetuados face às medidas corretivas

propostas, até 3 data. Ficou acordado, que após esta comunicação seria

agendada nova vistoria de modo a avaliar todas as medidas corretivas propostas.

Ao presente relatório anexamos questionário autoavaliação. […]”

d) cópia do Relatório de vistoria da comissão de peritos da DGS, datado de 4 de

março de 2016 (Doc. 6) que para o que ao presente processo importa se passa a

transcrever:

“[…] Na sequência das vistorias realizadas em 6, 13 de novembro e 18 de

dezembro, deslocaram-se à Unidade de Hemodiálise de Entrecampos, os peritos

nomeados pela Direção-Geral da Saúde com o objetivo de se proceder ao

acompanhamento das últimas recomendações. Na vistoria, estiveram presentes o

Diretor Clinico Dr. […] e a Diretora Médica Nacional da Diaverum Dra. […].

Foi solicitado ao Diretor Clinico, Dr. […], atualização sobre informação acerca da

referenciação dos doentes infectados pelo VHC a serviço da especialidade de

Gastrenterologia para observação. O Dr. […] informou que dos 6 doentes

infectados, 3 já tiveram a 1ª consulta de hepatologia em unidade pública,

aguardando-se a marcação de consulta para os restantes.

A Comissão de Peritos estabeleceu como prazo limite para a marcação da 1ª

consulta 4 semanas a partir da data do pedido (datado de 25 de fevereiro de

2016) e 8 semanas para a primeira observação dos doentes. Se estes prazos

forem ultrapassados, deverá a Direção Clinica da Unidade de Hemodiálise

notificar as entidades hospitalares competentes para a urgência do pedido, dando

conhecimento à ARSLVT e à Comissão de Peritos designados pela Direção-Geral

da Saúde.

Os peritos foram questionados pela Direção Clínica da unidade de hemodiálise

qual a conduta a adotar face ao tratamento imediato dos doentes infectados pelo

VHC na sequência do surto de infeção na unidade. A Comissão de peritos

recomendou o seguimento das orientações dos especialistas das unidades

públicas que seguem os doentes.

76 Mod.016_01

A Comissão de peritos, questionou a Direção Clinica da Unidade de Hemodiálise

relativamente ao acompanhamento e referenciação dos restantes doentes

infectados pelo VHC da clínica (à data actual 14, para além dos 6 recentemente

infectados), tendo sido informada que todos eles já foram igualmente

referenciados a unidades de hepatologia para observação e tratamento.

Tendo tido conhecimento do processo de licenciamento das novas instalações

desta clinica estar praticamente concluído, faltando a vistoria por parte da

Entidade Reguladora da Saúde, esta comissão deliberou solicitar o agendamento

com carater urgente desta vistoria, para finalização do processo de transferência

de instalações e para salvaguarda da defesa dos interesses dos doentes renais

crónicos submetidos a tratamento de hemodiálise nesta clínica, conforme

recomendações anteriores.

A comissão deliberou igualmente sensibilizar as entidades competentes

(ARSLVT) para a necessidade de agilização do processo de convenção da

Unidade nas novas instalações, logo que o processo de licenciamento esteja

concluído.

Foi decidido manter a medida corretiva de não admissão de novos doentes à data

atual, com indicação para reavaliação desta medida dentro de 6 meses, caso não

haja recolocação dos doentes na nova unidade.[…]

e) cópia da comunicação remetida pelo Diretor Clínico da unidade de Entrecampos à

Comissão de Peritos, com data de 11 de janeiro de 2016, com a identificação de

todas as medidas que haviam sido aplicadas, em resposta às conclusões de vistoria

ocorridas na sequência do incidente da seroconversão (Doc.7), que passamos a

transcrever:

“[…] Como Director Clínico da Clínica de Hemodiálise Diaverum de Entrecampos,

venho formalmente comunicar as medidas aplicadas nesta clínica em resposta às

conclusões das acções de vistoria ocorridas na sequência da notificação de 6

casos de seroconversão para a Hepatite C.

MEDIDAS CORRECTIVAS APLICADAS em resposta aos Relatórios das vistorias

realizadas em 6 e 13 de Novembro de 2015

1 - Agrupar todos os doentes HCV+ em sala(s), no último turno do dia

segregando-os dos doentes "negativos".

2 - Instituir a dedicação exclusiva de monitores a doentes HCV+, devendo

estes monitores ter identificação de fácil percepção.

77 Mod.016_01

- De molde a permitir a segregação e isolamento de todos os doentes HCV+, ao

mesmo tempo que se garante a dedicação exclusiva de monitores aos mesmos,

foi criada numa das salas, uma zona dedicada em exclusivo ao seu tratamento,

com 4 monitores devidamente identificados, fisicamente isolada da área dos

restantes doentes. O enfermeiro destacado nesta zona apenas assiste os doentes

HCV positivos. O material de consumo é exclusivo desta zona, bem como o

material de limpeza.

3 - Para se obter, na totalidade, os objectivos referidos nos pontos 1 e 2,

acima descritos, poderá ser necessário a transferência de doentes

actualmente nesta unidade, para outra(s) clinicas de diálise. Nessa

circunstância, os doentes a transferir deverão ser negativos para o HCV e

pertencerem a salas de diálise onde não sejam tratados doentes HCV+.

- Foram transferidos para outras clínicas 14 doentes. Em todos eles foi verificada

negatividade de AcHCV e de PCR(HCV). Nenhum pertencia ao turno em que

eram tratados os doentes recém- infectados.

4 - Suspender a prática de manipulação de medicamentos, no caso presente

a Heparina, na sala de diálise, aplicando o descrito no Manual de Boas

Práticas de diálise Crónica • 2011.

Foi alterado o protocolo de preparação de heparina, passando a sua preparação

ser efectuada fora das salas de diálise por um enfermeiro exclusivamente

afectado esta tarefa.

Salientamos que a alteração da preparação de medicação injectável ocorreu na

sequência imediata das recomendações verbais da comissão, pela primeira vez

emitidas em 13 de Novembro de 2015, apesar do sugerido nos relatórios das

vistorias permitir supor outra data.

5 - Até um mais concreto esclarecimento do ocorrido, não deverão ser

admitidos doentes, novos ou em trânsito, para tratamento dialítico.

- Não foram admitidos novos doentes depois do conhecimento destas

recomendações.

6 - Reforço de todas as medidas de controlo de Infecções.

- As medidas de controlo de infecção foram reforçadas de acordo com as

melhores práticas e as normas da Diaverum e da DGS, tendo sido igualmente

reforçadas as acções de formação habitualmente realizadas, com vista ao

atingimento deste objectivo.

78 Mod.016_01

7 - Constituição do Grupo Local do Programa Nacional de Prevenção e

Controlo de Infecções e de Resistências a Antimicrobianos, que em

conjunto com o Director Clinico e Enfermeiro-Chefe, promovam e

assegurem as regras agora instituídas.

- Foi constituída uma comissão de controlo de infecção que promoveu acções de

formação sobre Precauções Básicas do Controlo de Infecções nos seguintes

temas:

1) Higienização das mãos, 2) Equipamento de protecção individual e 3) Ambiente

clínico. Está disponível evidência documental da realização e frequência destas

acções.

Estão agendadas: 1) Preparação e administração de injectáveis e 2) Vias de

transmissão/isolamento.

8 - Promover a orientação dos doentes para o mesmo Centro de

Hepatologia.

- A orientação dos doentes seroconvertidos para uma unidade de Hepatologia

ficou a cargo dos elementos da ARS, aguardando-se instruções precisas para a

mesma.

Entretanto os doentes têm vindo a ser consultados por uma gastroenterologista

contratada pela Diaverum, Dra. […]. Caso seja autorizada, a Diaverum propõe-se

assegurar o tratamento destes doentes.

9 - Promover o envio de amostras dos casos identificados, para realização

de sequenciação do RNA para Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo

Jorge, para consolidação da investigação epidemiológica.

- Foram enviadas amostras de sangue dos doentes recém-infectados e do doente

que potencialmente estaria em condições de ser a origem da contaminação para o

Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. O "Relatório do estudo filogenético

relativo a sequências do vírus da Hepatite C" está já disponível, tendo sido

enviado a Comissão, na data em que nos foi disponibilizado (18 de Dezembro

2015).

10 - Reforço na unidade das medidas de segurança, particularmente as de

anti-intrusão.

- Foram reforçadas as medidas anti-intrusão tendo, neste momento, todos os

acessos: à clínica controlo de entrada por funcionários ou por elementos de uma

empresa efe segurança contratados para o efeito.

79 Mod.016_01

MEDIDAS CORRECTIVAS APLICADAS em resposta aos requisitos transmitidos

verbalmente por ocasião da vistoria realizada em 18 de Dezembro de 2015

1- Aumento das dimensões dos corredores de circulação entre postos e

bancadas/material de apoio, na sala A

- Com vista a atender os reparos da comissão acerca dos espaços de circulação

entre bancadas de enfermagem e postos de diálise na sala A, e tendo em atenção

que o anterior dimensionamento das bancadas acomodava área para preparação

de medicação que entretanto deixou de ser necessária, foram redimensionadas as

bancadas e alterado o posicionamento de um dos postos, de acordo com a planta

que anexamos.

2- Redução de um posto na sala B, dedicada a doentes AgHBs+

- Com vista a cumprir a imposição da comissão, foi retirado um posto na sala

conforme planta que anexamos, dai decorrendo uma reorganização de turnos.

3- Acesso do carro de urgências à sala A

- Com vista a atender o reparo da comissão acerca da existência de objectos

rodados podendo constituir obstáculo na rampa de acesso do carro de urgências

à sala A foram dadas instruções reiteradas a todo o pessoal no sentido da

proibição de tal prática, e instalada uma fita sinalética aderente ao solo

sinalizando o percurso do carro de urgências. Acresce que, como declarado na

reunião de conclusão da vistoria, existe uma maleta de urgência na sala, contendo

o material de necessidade imediata em caso de reanimação.

4- Dimensões de todos os postos da clinica de acordo com o regulamentado

no artigo n°35 da Portaria 347/2013 de 28 de Novembro

- De acordo com o compromisso assumido na reunião de conclusão da vistoria,

foram confirmadas, com medidor de distâncias a laser, as dimensões dos postos

de diálise de toda a clinica, e efectuada planta à escala das três salas, com base

nas medições, que enviamos para vossa apreciação. […]”;

f) Cópia da planta com as alterações introduzidas após as vistorias da Comissão de

Peritos (Doc. 8);

g) cópia dos planos de formação para os anos 2015 e 2016 (Doc. 9), com os

seguintes temas:

“[…]

80 Mod.016_01

Seguimento Farmoterapêutico

Acompanhamento do processo de Serviços

Farmacêuticos

Oxigenoterapia

Farmacovigilância

MIS-Os resultados

A intervenção Nutricional no Doente em HD

Técnicas Activas de Intervenção com Grupos e Famílias

Preparação e Administração de Injectáveis

Formação Orientadores de Sala

Programa de Formação: Módulo 2

Programa de Formação: Módulo 1

Programa de Formação: Tratamento de Água para Hemodiálise

Sessão Acolhimento: Competence in Practice

Competence in Practice

Proteção de dados

Programa de Educação do Doente

SGQ – Diaverum 2016

Higienização da Mãos

EPI

Ambiente limpo

Preparação e Administração de Injetáveis

Vias de transmissão

Acessos arteriovenosos

Abordagem para avalização de acessos (Transonic)

SBV

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h) cópia de folhas de presença nas ações de formação intitulada “Equipamento de

proteção Individual”, realizada a 3 de dezembro de 2015 (Doc.10);

i) cópia de folhas de presença na ação de formação com o sumário: “controlo de infeções,

ambiente clínico, higiene das mãos, equipamento de proteção individual, manipulação de

resíduos e manipulação de cortantes”, realizadas nos dias 30 e 31 de março e 1 de abril de

2016. (Doc.11);

j) cópia do Procedimento n.º 902.5 “Preparação do monitor NIKKISO para hemodiálise”,

versão 002, aprovado em 29 de abril 2013 (Doc. 12);

k) cópia do Procedimento n.º 902.1 “Preparação do monitor GAMBRO para hemodiálise”,

versão 006, aprovado em 29 de abril 2013 (Doc. 13);

l) cópia de folhas de presença na ação de formação intitulada “Precauções básicas de

controlo de infeção”, realizada a 3 de dezembro de 2015 (Doc.14);

m) cópia de email, datado de 22 de dezembro de 2015, remetido pela Diaverum à ERS a

dar conta da alteração no procedimento na preparação da heparina, já junto aos autos

(Doc. 15);

n) Documento intitulado “Acerca dos ratios enfermeiro: doente em unidades de

hemodiálise”, subscrito pela Dr.ª […] – Direção Médica Nacional da Diaverum, datado de 3

de abril de 2016 (Doc. 16), que aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os

efeitos legais;

o) Documento intitulado “Do elenco de requisitos exigíveis ao funcionamento das unidades

de diálise, consta alguma regra relativa à proporção entre enfermeiros e doentes em

tratamento em cada turno de hemodiálise, com força obrigatória geral?”, de março de 2016

(Doc. 17), que aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais;

p) Cópia do Regulamento Interno, com data de 2015-12-10, com a alteração do artigo 23º

“Técnico Auxiliar de Hemodiálise – TAHD”, que passou a ter a redação já supra transcrita

na pronúncia da Diaverum.

IV.2. Análise dos argumentos aduzidos na pronúncia da Diaverum

123. Face à pronúncia da Diaverum, cumpre assim, analisar os elementos invocados na

mesma, aferindo da suscetibilidade dos mesmos infirmarem a deliberação delineada.

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124. Faz-se, desde já, notar que todos os argumentos apresentados na pronúncia foram

devidamente considerados e ponderados pela ERS;

125. Ainda que dos mesmos não tenha resultado uma alteração no sentido da decisão que

a ERS ora entende emitir.

126. Isto porque os argumentos aduzidos não põem em causa o quadro factual e legal

apresentado pela ERS no seu projeto de deliberação;

127. Embora levantem questões que justificam uma análise ponderada que de seguida se

apresenta.

128. Por outro lado importa igualmente, e desde já, notar que o prestador na sua pronúncia

igualmente manifesta a sua vontade de coadunar o seu comportamento, quer com as

normas em vigor, quer com as recomendações emitidas pela Comissão de Peritos da

DGS, tendo inclusive dado conta de algumas medidas já adotadas tendo em vista tal

vontade manifestada.

129. Contudo, considera-se manter-se necessária a intervenção regulatória, tendo em vista,

desde logo, a garantia de uma interiorização e assunção das obrigações decorrentes

regras e orientações a cada momento aplicáveis em matéria de controlo de infeções e

segurança do utente;

130. Bem como daquelas obrigações legais decorrentes do cumprimento das regras e

orientações a cada momento aplicáveis, designadamente, as constantes no Decreto-

Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, na Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro;

131. E ainda aquelas constantes dos Manuais de Boas Práticas aprovados por Ordens

profissionais, como sejam o Manual de Boas Práticas de Diálise Crónica, aprovado

pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos de 2 de Setembro de 2011.

132. Tudo isto, para que seja possível no futuro não só evitar a ocorrência de situações

concretas como aquela que deu origem à abertura dos presentes autos, bem como

aferir se as diligências levadas a cabo se coadunam com o conteúdo da referida

intervenção.

133. Mas detenhamo-nos nos argumentos apresentados pelo prestador.

134. Relativamente à abertura do processo de inquérito importa esclarecer que a ERS,

sempre que toma conhecimento de factos que suscitem a necessidade de uma

intervenção regulatória, ao abrigo das suas atribuições e competências, e

independentemente de ter tomado conhecimento com base em reclamações,

denúncias, notícias dos meios de comunicação social, ou por exposições remetidas por

entidades reguladas, profissionais de saúde ou por outras entidades (v.g. autoridades

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policiais, entidades do setor da saúde ou defesa do consumidor, etc.), procede à

abertura do competente processo de inquérito.

135. No caso dos presentes autos, embora a abertura do processo de inquérito tenha

ocorrido, de comunicação da Delegada de Saúde Adjunta da Região de Lisboa e Vale

do Tejo, relativa à suspensão da Unidade de Hemodiálise Diaverum – Investimentos e

Serviços, Lda. (doravante Diaverum), onde era dado conhecimento da existência de

vários doentes infetados com hepatite C durante a realização de hemodiálise, naquela

unidade;

136. Certo é que, no decurso do presente processo de inquérito foi recebida uma

reclamação relativa ao caso sub judice, registada na ERS com processo de reclamação

n.º REC/43262/2015, datada de 24 de outubro de 2015, e que foi apensada ao

presente processo de inquérito, em 19 de novembro de 2015.

137. Quanto à questão do “evento adverso” (pontos 9º a 23º da pronúncia da Diaverum),

refira-se que em momento algum a ERS, determina que o evento em causa “poderá ter

permitido a contaminação” e/ou mencionando que seria a causa responsável pela

infeção dos 6 doentes com o vírus HCV;

138. Não obstante, efetivamente, no decurso da realização da fiscalização à unidade de

Entrecampos, em 12 de novembro de 2015, foi a ERS informada pelo diretor clínico Dr.

[…] e pela Country Medical Diretor Dr.ª […], “que efetuaram um estudo global sobre os

casos de seroconversão e única situação que se encontra eventualmente associada

poderá ser o evento adverso”.

139. Informação que foi transposta para o relatório de Fiscalização da ERS, de 1 de

dezembro de 2015, junto aos autos.

140. Mais se esclareça que objetivo pretendido com a intervenção regulatória da ERS, que

se consubstancia na emissão de uma instrução ao prestador em causa, mais do que

incidir nas causas do evento ocorrido, visa que o prestador, conforme já referido,

garanta uma interiorização e assunção das obrigações decorrentes regras e

orientações a cada momento aplicáveis em matéria de controlo de infeções e

segurança do utente.

141. Quanto ao ponto 25º da pronúncia, relativo à data da realização das fiscalizações às

Unidades do Marco de Canaveses, Penafiel e Paredes, refira-se que se tratou

efetivamente de um lapso de escrita, tendo o mesmo sido oportunamente corrigido.

142. Relativamente às conclusões das ações inspetivas e das não conformidades, importa

referir que embora o prestador procure contraditar os factos apresentados pela ERS,

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não deixa de, na maioria dos casos, acabar por reconhecer a necessidade de melhoria

dos procedimentos, manifestando, nuns casos, a intenção de adotar medidas que se

coadunem quer com as regras e orientações em vigor, quer com as recomendações da

comissão de peritos da ERS;

143. E em outros casos apresentando mesmo as medidas já adotadas ou a adotar para

esse mesmo fim.

Senão vejamos,

144. Relativamente ao equipamento de proteção individual (EPI), é referido na pronúncia da

Diaverum nos pontos 49º a 72º que “[…] e porque a Diaverum não pretende descurar

de nenhuma vertente preventiva de uma eventual transmissão de infecções, constam

dos planos de formação de 2015 e de 2016 (Doc. 9) que essas matérias são

permanentemente alvo de abordagem e têm vindo a ser incutidas aos profissionais de

forma transversal. Recentemente, e verificada a detecção de casos na Clinica de

Entrecampos, essa formação intitulada "Equipamento de Protecção Individual' foi

reforçada, conforme se comprova pelas acções de formação, concretizadas em 3 de

Dezembro de 2015 e, já em 2016, nos dias 30, 31 de Março e 1 de Abril, de acordo

com a documentação que ora se junta (Docs. 10 e 11).”;

145. E que “[…] 71.°Acresce ainda que desde a detecção dos casos de seroconversão, e

não obstante o acima exposto, a Diaverum passou a tomar obrigatório o uso de avental

na conexão e desconexão dos doentes ao circuito.”;

146. Ou seja, embora o prestador não concorde que se tenha aqui verificado uma não

conformidade, acaba por reconhecer a necessidade de adaptação dos seus

procedimentos às regras e orientações, a cada momento, aplicáveis.

147. Quanto ao plano de higienização da clínica, nos pontos 73º a 88º da sua pronúncia,

de acordo com o procedimento implementado pelo prestador, “deve ser lavado no final

de cada turno nas salas de tratamento, preferencialmente após a saída dos utentes da

sala”,

148. Importa referir, conforme as recomendações e guidelines internacionais, específicas

sobre diálise,11 a higienização deve ser feita “quando nenhum paciente se encontra

presente, para reduzir a hipótese de contaminação cruzada e para evitar que os

utentes sejam sujeitos aos fumos dos desinfetantes”12;

11

http://www.cdc.gov/dialysis/PDFs/collaborative/Env_notes_Feb13.pdf

12 Tradução nossa.

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149. Contudo, e mais uma vez, embora o prestador não concorde que se tenha aqui

verificado uma não conformidade, acaba por reconhecer a necessidade de adaptação

dos seus procedimentos às regras e orientações, a cada momento, aplicáveis;

150. Uma vez que o prestador refere nos pontos 88º a 96º da sua pronúncia, entre outros

aspetos, que “[…] 88.° Sem prejuízo do exposto, já após a realização da fiscalização à

Unidade de Entrecampos em 12 de Novembro de 2015, a Diaverum tem reforçado as

acções de formação ministradas aos seus colaboradores "Precauções Básicas de

Controlo de Infecção (PBCI)- Ambiente Clínico", com o escopo de incentivar práticas de

segurança de PBCI relacionadas com o ambiente clínico tornando-o seguro para os

profissionais, utentes e visitas (Doc. 14).”.

151. E que relativamente “[…] a um outro tema suscitado no projecto de deliberação da

ERS […] que a bibliografia sobre a "Profilaxia da Hepatite C se encontra

desactualizada, bem como que a recomendação D II c) do Manual de Boas Práticas de

Diálise Crónica aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos, de

2 de Setembro de 2011 ("MBPDC"), não é seguida pela Diaverum,[…]”;

152. Embora diga expressamente “que não é verdade.”;

153. Já que “[…] a Diaverum sempre deu integral cumprimento às normas de desinfecção e

limpeza interna e externa dos monitores, encontrando-se aliás previsto no MBPDC a

possibilidade dos monitores de doentes com VHC poderem ser utilizados em doentes

negativos, desde que cumpridas as aludidas normas, como é o caso.”, ao que “[…] 92.°

Acresce que, antes da detecção dos casos de seroconversão a Diaverum cumpria

igualmente com as melhores evidências científicas disponíveis13 e com as

recomendações e guidelines internacionais14 sobre prevenção de transmissão de vírus

da hepatite C em Unidades de Hemodiálise.”;

154. O prestador vem na sua pronúncia informar que “[…] 96.° Depois da detecção desses

casos de seroconversão ocorridos na Diaverum- Entrecampos, e no seguimento da

13

Cf. RACHEL B. FISSELL, JENNIFER L. BRAGG-GRESHAM, JOHN D. WOODS, MICHEL JADOUL, BRENDA GILLESPIE, SARA A. HEDDERWICK, HUGH C. RAYNER, ROGER N. GREENWOOD, TAKÁSHI AK.IBA, e ERIC W. YOUNG "Patterns of hepatitis C prevalence and seroconversion in hemodialysis units from three continents: The DOPPS", Kidney International, Vol. 65 (2004), pp. 2335-2342. Disponível em: http://ac.elscdn. com/S008525381549979X/l-s2.0-S00852538l549979X-main.pdf? tid=7edd2d52-f853-11e5-92f3- 00000aab0f01&acdnat=1459547500_If8112d0554a51e41e1ddf9a1ecfb95b 14

Cf. Kidney Disease: Improving Global Outcomes. ICDIGO clinical practice guidelines for the prevention diagnosis, evaluation, and treatment of Hepatitis C in chronic kidney disease. Kidney International, 2008; 73 (Supple! 109): S l - S99, em particular, a Guideline n. ° 3, "Preventing HCV transmission in hemodialysis units", p. S48. Disponível em:hltp://www.kdigo.org/clinicalpractice_guidelines/pdf/KDlGO%20Hepatitis%20C%20Guideline.pdf

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recomendação da Comissão de Peritos, nomeada pela DGS, foi implementada nesta

Unidade a recomendação prevista no n.º 3 do ponto (iv), isto é "colocar os doentes em

salas separadas com pessoal exclusivo em cada sessão”.”.

155. Não obstante as medidas ora apresentadas pela Diaverum, cumpre referir a este

respeito, que tanto o parecer técnico do perito médico da ERS, como o Relatório de

Fiscalização da ERS, de 1 dezembro de 2015, não se pronunciaram sobre a

obrigatoriedade do cumprimento do ponto D.II c) (iv) e (iii), senão recorde-se:

“[…] Embora não haja incumprimento do MBP [Manual de Boas Práticas], não era

seguida a recomendação D.II.c) (iv) 1.º ou 2.º ou 3.º (concentração e separação

dos doentes) e não ficou completamente claro que se cumpria a recomendação

D.II. c) (iii) (monitores de diálise específicos para os doentes com hepatite C).

Atendendo ao elevado número de doentes portadores do vírus da hepatite C (17

em 213 antes do surto, 23 em 199 depois), teria sido prudente e avisado seguir

estas recomendações. […]” 1º parágrafo do parecer técnico do médico, de 30 de

novembro de 2015.

156. Não obstante, refira-se que, no procedimento n.º 608.1 aprovado em 20-10-2009,

“Profilaxia da Hepatite C: marcadores e gestão de doentes”, pontos 3 e 4, encontra-se

previsto o seguinte:

“[…] Recomenda-se que na clínica seja definida uma área para tratamento

exclusivo dos doentes com Hepatite C ou AcVHC, que o material aqui utilizado

(esfigmomanómetros, pinças, etc.) não seja permutável com o da outra área “não

infectada” e que, em cada uma destas áreas o pessoal seja fixo durante os turnos

de tratamento. […]”;

“[…] Recomenda-se que deva ser utilizado para cada doente o mesmo monitor de

hemodiálise e cada monitor só deve ser utilizado no tratamento dos mesmos

doentes (“fixação” de monitores). […]”;

157. Recomendação que apenas foi seguida, após conhecimento dos seis casos de

seroconversão, e como medida determinada pela “Comissão de Peritos da DGS”;

158. Sobre este assunto, recorde-se o que foi dito sobre a existência de procedimentos

específicos, nos pontos 93 a 94 do projeto de deliberação regularmente notificado,

“[…] 93. O cumprimento de procedimentos é uma garantia de qualidade da

prestação de cuidados de saúde, promove uma melhor coordenação e articulação

entre os serviços, bem como acautela qualquer impacto negativo na condição de

saúde dos utentes.

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94. Certo é que nenhuma vantagem se retira da existência de procedimentos, nas

mais diversas áreas de intervenção, sem que se garanta, paralelamente, que os

mesmos são efetivamente aplicados, em todos os momentos e em todas as

dimensões da atuação dos prestadores, nos cuidados que prestam aos utentes.

[…]”.

159. Relativamente aos procedimentos de manuseamento de heparina o prestador veio nos

pontos 97 a 107º da sua pronúncia, alegar que:

“[…]104º A alteração quanto ao manuseamento da heparina, como medida

correctiva, foi apenas efectuada após a data da vistoria da ERS datada de 12 de

Novembro de 2015, pelo que não se compreende como pode ser referido no

relatório de fiscalização datado de 15 de Janeiro de 2016 que: "No entanto, no

momento da fiscalização, após supostamente a medida correctiva, verificou-se

a existência de um tabuleiro cheio de seringas já com o conteúdo no balcão de

enfermagem para o turno seguinte (em zona de passagem)" (sublinhado nosso).

105.° Relembre-se que, nos termos atrás expostos, a recomendação da Comissão

de Peritos de suspender a prática de manipulação de medicamentos, in casu, a

heparina, só ocorreu em 13 de Novembro de 2015.

106.° Ora, se a fiscalização é de 12 de Novembro de 2015 e a alteração do

procedimento data de 16 de Novembro de 2015 (sendo certo que é necessário um

período razoável para a respectiva implementação), não se pode considerar que

há uma não conformidade, na medida em que não houve vistoria à Unidade de

Entrecampos, após a alteração do procedimento relativo à administração das

heparinas. […]”

160. Com efeito, quanto ao procedimento de manuseamento de heparina o Relatório de

Fiscalização da ERS, de 1 de dezembro de 2015, refere o seguinte:

“[…] Acerca do procedimento em concreto da heparina, a entidade enviou a folha

de registo de preparação e diluição da heparina, onde se refere a preparação de

heparina nunca antes de 4 horas de administração.

No entanto, foi verificado que a preparação das heparinas decorre sempre no

turno anterior o que pode não assegurar essa margem de segurança e

estabilidade.

De acordo com as Informações Internas (II 11/15 [datado de 29 de outubro] e

II 12/15) [datado de 16 de novembro], alterou-se o procedimento após detetada

a situação do problema que levou a esta fiscalização. No entanto, no momento

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da fiscalização, após supostamente a medida corretiva, verificou-se a

existência de um tabuleiro cheio de seringas já com conteúdo no balcão de

enfermagem para o turno seguinte (em zona de passagem), tendo sido advertido

o Enfermeiro Chefe, no momento [da fiscalização]. Ressaltamos mais uma vez

que a DGS já tinha efetuado um reparo na administração de medicação de acordo

com as normas e procedimentos da Diaverum, pelo que foi sugerido pela

auditoria externa que a medicação, uma vez preparada, ficasse tapada até à

sua utilização, uma vez que se encontra numa área de passagem, e a

entidade veio referir que esta medida já estaria em prática, o que de resto

não se verificou. – sublinhado nosso.

161. Assim, as não conformidades apuradas em sede de fiscalização, não se referem ao

procedimento datado de 16 de novembro de 2015, que como bem relembra a

Diaverum, não se encontrava ainda em vigor no momento da fiscalização, mas sim

relativo aos procedimentos, esses sem em vigor na altura, e que o prestador não

cumpria.

162. Assim, no que respeita à preparação da heparina foi detetado que “[…] decorre

sempre no turno anterior o que pode não assegurar essa margem [4 horas] de

segurança e estabilidade.[…]”.

163. Já no que respeita ao “[…] tabuleiro cheio de seringas já com conteúdo no balcão de

enfermagem para o turno seguinte […]” refira-se que no “Relatório referente a incidente

de seroconversão na Unidade de Hemodiálise Diaverum – Entrecampos”, na parte

identificada como “10. Achados de observação na clínica 2015/10/17”, (pág. 12 (16),

entregue à equipa da ERS, no momento da fiscalização, datado de 2015/11/12, é

referido o seguinte:

“[…] Preparação de medicação de acordo com as normas e procedimentos da

Diaverum, embora ajustada a alguma exiguidade de espaço. Foi sugerido pela

auditoria externa que a medicação, uma vez preparada, ficasse tapada até à

sua utilização, uma vez que se encontra numa área de passagem. Esta medida

já está em prática. […]”.

164. Assim, dúvidas não subsistem que a Diaverum confirma a existência de uma alteração

no procedimento, identifica-a e confirma a sua implementação.

165. No que respeita à capacidade instalada da unidade de Entrecampos, especificamente

no que toca às medidas das áreas mínimas (1,8 m x 2,5) por posto de diálise, aceita-se

que ao prestador não fosse exigível o cumprimento das áreas estabelecidas quer no

artigo 51º do Decreto-Lei n.º 505/99, de 20 de novembro, por se encontrarem

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dispensados do seu cumprimento nos termos do n.º 2 do artigo 57º, quer na Portaria

n.º 347/2013, de 28 de novembro, por no seu artigo 36º se encontrar determinado um

prazo de 2 anos para a sua adaptação;

166. Razão, aliás, pelo qual não foi aberto o competente processo contraordenacional por

incumprimento dos requisitos de funcionamento, previsto no ponto iii), alínea a) do

artigo 17º do Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto;

167. No entanto, sempre se dirá que, desde 1999, o legislador pretendeu acautelar as

medidas mínimas de segurança para os postos de diálise;

168. E que o prestador, demorou cerca de 15 anos a conformar-se com ela;

169. Já no que respeita à questão da sobrelotação, a mesma está intimamente ligada ao

facto de não estarem a ser cumpridos as medidas de segurança mínima, senão repare-

se, à data da fiscalização, a equipa da ERS constatou que “existia uma concentração

excessiva de doentes onde as áreas por doente não eram cumpridas […] foi verificado

que os enfermeiros de serviço estão sempre em contacto físico com os doentes, devido

a essa proximidade.“

170. Note-se que esta constatação foi feita, após terem sido suprimidos “7 postos: 3 na sala

maior, onde se deu a conversão, 2 na sala de doentes HEP B e 2 na sala do edifício

antigo […] Estas alterações implicarão a transferência de 16 doentes para outras

clínicas”. – cfr. doc. 4, junto aos autos, pelo prestador, em sede de pronúncia.

171. Ainda, da planta arquitetónica, apresentada em sede de pronúncia, constata-se que,

mesmo que os postos de diálise cumpram as medidas mínimas, o que não ficou

perfeitamente claro, não existe espaço de circulação entre os postos, o que repete-se

põe em causa a segurança e a privacidade dos utentes.

172. Assim, no que à sobrelotação da clínica respeita, no que toca às áreas mínimas por

posto de diálise, mantém-se o que foi dito no projeto de deliberação regularmente

notificado.

173. Relativamente ao cumprimento dos ratios enfermeiro/doente refere o prestador, nos

pontos 120º a 152º da sua pronúncia, que “não pode aceitar a instrução emitida à

Diaverum no ponto 108 alínea b) do projecto de deliberação, no caso de com tal

instrução pretender a ERS abarcar a falta de acolhimento dos ratios enfermeiros /

doente, resultantes do Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de Agosto, da Portaria n.º

347/2013, de 28 de Novembro, e do MBPDC e ainda do Regulamento n.º 533/2015, de

2 de Dezembro […]”;

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174. Refira-se, desde já, que a alínea b) do artigo 108º do projeto de deliberação refere o

seguinte:

“[…] A Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda. deve, relativamente a todas as

suas unidades de diálise, adotar as diligências tidas por necessárias e adequadas

no que toca à organização e funcionamento das unidades de diálise, no sentido

de os conformar com as regras e orientações a cada momento aplicáveis,

designadamente, as constantes no Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, na

Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro, no Manual de Boas Praticas de Diálise

Crónica, aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos de 2

de Setembro de 2011; […]”;

175. Não existindo qualquer menção ao cumprimento do Regulamento n.º 533/2014, de 2

de dezembro, não obstante o mesmo tenha sido referido pelos peritos de enfermagem

consultados pela ERS nos presentes autos.

176. Relativamente ao Regulamento n.º 533/2014, de 2 de dezembro, da Ordem dos

Enfermeiros, refere ainda o prestador que a ERS “não pode sustentar uma pretensa

violação de normas legais quando estas não têm aplicação ao caso visado”.

177. Quanto à obrigatoriedade do cumprimento do Manual de Boas Práticas de Diálise

Crónica, aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos de 2 de

Setembro de 2011, refere o prestador que:

[…] 132º […] sem prejuízo das recomendações de actuação constantes neste

Manual, as quais de resto ainda não foram aprovadas pelo Ministério da Saúde e

devidamente publicadas (ao contrário das resultantes do Manual de Boas Práticas

de Hemodiálise, aprovado pelo Despacho n.º 14391/2001 de 10 de Julho, em

vigor, aprovado e também referido no projecto de deliberação). […]

133.° Não pode ser olvidado que tais recomendações são meramente facultativas,

pelo que o seu eventual não seguimento por qualquer um dos seus destinatários

não pode ser encarado como um incumprimento. […]”

178. Assim, quanto à questão de o mesmo não se encontrar aprovado pelo Ministério da

Saúde e publicado, o mesmo se dirá das guidelines internacionais, que também não se

encontram publicadas; no entanto não só o prestador segue aquelas “normas” como

também as identifica como referência para a realização dos seus procedimentos;

179. Pelo que não se pode aceitar o alegado pelo prestador, que o MBPDC, não possa ser

utilizado enquanto Manual de Boas Práticas, além disso aprovado pelo Colégio da

Especialidade de Nefrologia da Ordem dos Médicos, o qual refere ademais que

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“substitui integralmente as versões de 2001 e de 2006 do “Manual de Boas Práticas de

Hemodiálise”;

180. Quando aliás a própria comissão de Peritos da DGS, nas recomendações que dirigiu

ao prestador, não deixou de se basear em tal Manual de Boas Práticas.

181. Por outro lado, e recorrendo igualmente preâmbulo do MBPDC, como fez o prestador

na sua pronúncia, é possível retirar que

“[…] Um ‘manual de boas práticas’ de uma qualquer actividade é um guia de

procedimentos e de atitudes para quem a pratica. Os preceitos aí definidos são

estabelecidos por uma entidade detentora do poder para o fazer (a Direcção-Geral

da Saúde, por exemplo), por um conjunto de indivíduos a quem é reconhecida

competência para os elaborar (como sucede, em medicina, na produção de

guidelines) ou por toda uma comunidade que exerce essa actividade (caso deste

Manual).

O certo é que, no dia-a-dia da nossa actividade clínica, deparamos com novas

guidelines elaboradas em obediência a rigorosos critérios e que moldam o nosso

comportamento clínico.

Essas ‘linhas-guia ou linhas orientadoras’ são, geralmente, elaboradas recorrendo

à revisão de numerosos artigos seleccionados das publicações tidas como mais

idóneas, que obedeçam a modelos de colheita de dados e do seu tratamento

considerados como os mais fidedignos e que abarquem um universo de doentes

ou de amostras de determinada dimensão. Depois, continuando a obedecer a

rigorosos critérios previamente definidos, as conclusões são apresentadas, sob o

formato de guidelines, com vários níveis de evidência (ou demonstração) e de

opiniões de elementos destacados. […]”

182. Pelo que não se pode deixar de considerar que as recomendações ali presentes,

desempenham um importante papel na definição de regras de boa conduta e que a sua

determinação tem em vista, fundamentalmente, a prática dos cuidados de saúde, com

qualidade e segurança, e como tal devem ser seguidas pelos vários prestadores de

cuidados de saúde na área da diálise crónica.

183. No que toca aos Técnicos Auxiliares de Hemodiálise, matéria a que o prestador fez

referência nos pontos 153º a 166º da sua pronúncia, a ERS não poderá deixar de

manter a posição de que, não se enquadrando os mesmos quer no disposto no

Decreto-Lei n.º 320/99, 11 de Agosto, pelo qual se estabeleceram os princípios gerais

em matéria do exercício das profissões de diagnóstico e terapêutica, quer no disposto

no Decreto-Lei n.º 564/99, de 21 de Dezembro, que estabelece o estatuto legal da

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carreira dos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica, quer ainda no disposto no

Decreto-Lei n.º 414/91, de 22 de Outubro, que estabelece o regime legal da carreira

dos técnicos superiores de saúde;

184. , Não podem os mesmos praticar atos que se enquadrem na prestação de cuidados de

saúde;

185. Devendo-se restringir à prática de atos que constituem apoio, auxílio e coadjuvação a

profissionais de saúde devidamente habilitados, como sejam os enfermeiros, sob a

direção e supervisão destes.

186. Importando realçar que, quanto a este aspeto, o prestador acaba por reconhecer a

necessidade de adaptação dos seus procedimentos às regras e orientações, a cada

momento, aplicáveis;

187. Tendo adotado medidas destinadas à adequação do seu comportamento, como sejam

as alterações ao Regulamento Interno do prestador, as quais vão de encontro às

preocupações levantadas pela ERS no que respeita às competências deste grupo

profissional;

188. No entanto, recorde-se que a presença de técnicos auxiliares de hemodiálise não

pode pôr em causa a existência de dotações seguras no que se refere aos enfermeiros;

189. E que as funções destes técnicos devem ser realizadas no estrito cumprimento das

regras supra referidas, bem como do seu regulamento interno.

190. Por último, e relativamente ao alegado pelo prestador, importa fazer uma referência à

necessidade de abertura do processo de monitorização.

191. Refira-se a este respeito que o processo de monitorização é um procedimento

instituído pela ERS, nos seus procedimentos internos, que visa acompanhar as

consequências a curto e médio prazo das decisões do Conselho de Administração da

ERS, nomeadamente ao nível da implementação das instruções e recomendações

emitidas, da resolução dos problemas identificados, do acompanhamento futuro do

comportamento dos prestadores para evitar a repetição futura dos episódios que

justificaram a intervenção regulatória e genericamente do impacto da atividade de

regulação.

192. Assim, considerando as atribuições da ERS, de acordo com o n.º 2 do artigo 5.º do

dos Estatutos da ERS, que compreendem “a supervisão da atividade e funcionamento

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita […entre

outros] [ao] cumprimento dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento,

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à prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos

utentes”.

193. E considerando ainda que são objetivos regulatórios da ERS, nos termos do artigo 10º

dos Estatutos da ERS, “assegurar o cumprimento dos requisitos do exercício da

atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde”; “garantir os

direitos e interesses legítimos dos utentes” e “zelar pela prestação de cuidados de

saúde de qualidade”;

194. A intervenção regulatória da ERS, no presente caso concreto mediante a emissão de

uma instrução, nos termos do disposto na alínea b) do artigo 19.º dos seus Estatutos,

ao ter como intuito a adequação do comportamento do prestador às regras e

orientações a cada momento aplicáveis em matéria de controlo de infeções e

segurança do utente, bem como às regras e orientações a cada momento aplicáveis,

designadamente, as constantes no Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, na

Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro, no Manual de Boas Praticas de Diálise

Crónica, aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos de 2 de

Setembro de 2011;

195. Não poderia deixar de incluir a necessidade de acompanhamento futuro, em sede de

processo de monitorização, do comportamento do prestador no que se refere à

necessidade da permanente garantia de uma tal adequação.

196. Em face de todo o exposto, verifica-se a necessidade de manutenção dos termos da

instrução, tal como projetada e regularmente notificada, no que respeita às medidas a

implementar na unidade de diálise Diaverum Entrecampos, de forma a garantir que

situações idênticas não se venham repetir no futuro.

V. DECISÃO

197. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e

para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e na alínea a) do artigo

24.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

emitir uma instrução à Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda., nos seguintes

termos:

a) A Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda. deve, relativamente a todas as suas

unidades de diálise, atualizar e/ou introduzir as alterações tidas por adequadas nos

procedimentos já implementados, atinentes à prevenção e controlo de infeções, por

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forma a garantir, a todo o momento, que aqueles estão em conformidade com as

regras e orientações a cada momento aplicáveis em matéria de controlo de

infeções e segurança do utente e são aptos quer a assegurar de forma permanente

e efetiva a prestação de cuidados de saúde de qualidade, quer a assegurar o

respeito pelos direitos e legítimos interesses dos utentes;

b) A Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda. deve, relativamente a todas as suas

unidades de diálise, adotar as diligências tidas por necessárias e adequadas no

que toca à organização e funcionamento das unidades de diálise, no sentido de os

conformar com as regras e orientações a cada momento aplicáveis,

designadamente, as constantes no Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, na

Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro, no Manual de Boas Praticas de Diálise

Crónica, aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos de 2

de Setembro de 2011;

c) A Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda. deve garantir em permanência,

através da emissão e divulgação de ordens e orientações claras e precisas, que os

referidos procedimentos sejam corretamente seguidos e respeitados por todas as

unidades de diálise, bem como por todos os profissionais;

d) A Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda. deve dar cumprimento imediato à

presente instrução, bem como dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30

dias úteis após a notificação da presente deliberação, dos procedimentos adotados

para o efeito.

198. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º 126/2014, de

22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com coima de €

1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no

exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios

determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º,

20.º, 22.º, 23.º ”.

199. Mais delibera o Conselho de Administração da ERS, nos termos e para os efeitos do

preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e na alínea a) do artigo 24.º dos Estatutos

da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, proceder à

abertura de um processo de monitorização para acompanhamento da atuação futura

da Diaverum – Investimentos e Serviços, Lda. para garantia que a mesma se coaduna

com as regras e orientações, a cada momento aplicáveis, em matéria de controlo de

infeções e segurança do utente.

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200. Será dado conhecimento da presente deliberação à Direção Geral da Saúde, à

Inspeção Geral das Atividades em Saúde, à Administração Regional de Saúde de

Lisboa e Vale do Tejo e à Associação Portuguesa de Insuficientes Renais atentas as

respetivas competências.

201. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial da

Entidade Reguladora da Saúde na Internet.

Porto, 30 de maio de 2016.

O Conselho de Administração