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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde (doravante ERS) conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Considerando os objectivos da actividade reguladora da ERS estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Considerando os poderes de supervisão da ERS estabelecidos no artigo 42.º do Decreto- Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Visto o processo registado sob o n.º ERS/008/09; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. Em 29 de Janeiro de 2009, o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos deu conhecimento à ERS de uma exposição apresentada por alguns profissionais médicos que exercem funções no Centro de Saúde da Senhora da Hora, estabelecimento

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Page 1: DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE … · 2009, de MCDT´s (TAC coluna lombar, Rx pulmonar perfil, Mamografia e Densitometria) em determinados prestadores convencionados

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde (doravante ERS)

conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os objectivos da actividade reguladora da ERS estabelecidos no artigo 33.º

do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os poderes de supervisão da ERS estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-

Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/008/09;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 29 de Janeiro de 2009, o Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos deu

conhecimento à ERS de uma exposição apresentada por alguns profissionais médicos

que exercem funções no Centro de Saúde da Senhora da Hora, estabelecimento

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prestador de cuidados de saúde sito na Rua da Lagoa, 4460-350 Senhora da Hora –

Matosinhos, integrado na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, SA (em diante

designada de ULSM), entidade com o NIPC 506 361 390, com sede na Rua Dr.

Eduardo Torres, 4454-509 Matosinhos e registada no Sistema de Registo de

Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS, sob o número 12 969.

2. Nos termos da exposição apresentada eram relatados determinados factos relativos à

realização de MCDT pelos utentes do SNS que são acompanhados no Centro de

Saúde da Senhora da Hora.

3. Na sequência da referida exposição, e existindo indícios da necessidade de averiguar

com maior profundidade a situação, o Conselho Directivo da ERS, por despacho de 5

de Fevereiro de 2009, ordenou a abertura de inquérito registado sob o n.º

ERS/008/09.

I.2. Da exposição Inicial

4. Concretamente, na exposição é referido que em alguns exames complementares de

diagnóstico, designadamente TAC e RX, que estão a ser realizados no Hospital Pedro

Hispano (em diante designado de HPH) a utentes do SNS, têm-se verificado algumas

“situações que consider[am] graves”.

5. Segundo o aí exposto, após a realização dos exames no HPH, os utentes são

remetidos para o Centro de Saúde “[…] com a informação de que o médico de família

lá terá o resultado dentro de 15 dias, o que só muito raramente se verifica”, para além

de que “[a]s TAC e os RX são marcadas com uma demora por vezes muito superior à

verificada na medicina convencionada”.

6. Mais referiram que o próprio procedimento de marcação dos exames “[…] é um

processo complexo para os funcionários administrativos, visto que, não só não é

possível saber qual a marcação disponível para o exame pretendido […] como

também a nomenclatura dos exames pedidos pelo SAM não corresponde à das vagas

para marcações […]”.

7. Por outro lado, acrescentam ainda que os médicos por vezes têm dificuldade em obter

os relatórios completos dos exames realizados pelos seus utentes, sendo os mesmos

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“[…] disponibilizados muito tardiamente (frequentemente mais de um mês depois de

realizados)”.

8. Deste modo, “[é] retirada a liberdade ao utente de escolher, não só o local, mas

sobretudo, o dia e hora para os realizar (o que é ainda mais incómodo no caso de em

simultâneo lhe serem pedidos exames que nas entidades convencionadas poderiam

facilmente realizar com uma só deslocação).”.

9. Outra questão, sobre a qual é feita igualmente referência na exposição de tais

profissionais, prende-se com a não disponibilização aos utentes, pelo HPH, de “[…]

películas [dos exames], sendo cobrado ao paciente uma taxa extra (de 5 euros) pelo

fornecimento (em diferido, o que demora cerca de 1 mês) das imagens em suporte

digital, dificultando ao utente o recurso a outros médicos (quer de especialidades não

existentes no HPH, quer para segunda opinião)”.

10. Por último, são apresentadas em tal denúncia situações decorrentes dos

procedimentos adoptados pela ULSM para a realização de MCDT, e que segundo os

exponentes “[…] implicam riscos clínicos acrescidos, nomeadamente quebra de

confidencialidade, risco para a saúde, duplicação de tarefas para os profissionais”,

como sejam:

(i) situações de utentes que tendo sido convocados para juntas médicas

de verificação de incapacidades “[…] têm alta por não terem as

imagens dos exames complementares de diagnóstico em sua posse,

bem como os respectivos relatórios”;

(ii) marcação sucessiva de consultas pelos utentes “[…] para saberem

resultados de exames que tardam em chegar”;

(iii) dificuldade, ou nalguns casos mesmo impossibilidade, de acesso

pelos Médicos de Família aos exames e respectivos relatórios com

implicações clínicas para os utentes.

I.3 Diligências

11. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas

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(i) em deslocação ao Centro de Saúde da Senhora da Hora, no dia 19 de

Fevereiro de 2009, destinada à averiguação “in loco” da situação

relatada na exposição em causa, mediante a inquirição dos

profissionais médicos subscritores da mesma1;

(ii) nas inquirições dos referidos profissionais médicos efectuada nas

instalações do Centro de Saúde da Senhora da Hora, em 19 de

Fevereiro de 20092;

(iii) nas tentativas de marcação, por telefone, no dia 22 de Fevereiro de

2009, de MCDT´s (TAC coluna lombar, Rx pulmonar perfil, Mamografia

e Densitometria) em determinados prestadores convencionados com o

SNS, no concelho do Porto; e

(iv) no pedido de elementos à ULSM, em 27 de Fevereiro de 2009.

II. DOS FACTOS

II.1 Factos relativos à exposição

12. Na exposição trazida ao conhecimento da ERS, e subscrita por diversos profissionais

médicos do Centro de Saúde da Senhora da Hora, eram assim relatados diversos

factos relacionados com a realização de MCDT pelos utentes do SNS inscritos no

Centro de Saúde da Senhora da Hora, os quais são realizados no HPH, unidade

hospitalar integrada na ULSM.

13. As situações relatadas em tal exposição prendiam-se com:

(i) a impossibilidade desses utentes escolherem a data e o local para a

realização dos exames;

1 Conforme Auto de Notificação, de 19 de Fevereiro de 2009.

2 Idem.

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(ii) e o tempo médio de espera a que tais utentes são sujeitos para a marcação

e realização de MCDT, bem como para a recepção dos resultados

respectivos;

(iii) uma alegada cobrança de uma taxa, no valor de € 5,00, pelo fornecimento

das imagens em suporte digital, o que estaria a dificultar o recurso dos

utentes a outros médicos fora da ULSM.

II.2 Factos relativos à inquirição de alguns dos profissionais médicos subscritores da exposição

14. Para esclarecimento de tais questões, a ERS deslocou-se às instalações de um tal

Centro de Saúde, no dia 19 de Fevereiro de 20093, com o intuito de se proceder à

inquirição de alguns dos profissionais médicos subscritores da exposição;

15. Tendo então sido inquiridos 7 dos médicos de família que haviam subscrito a

exposição, e que se encontravam nas instalações do Centro de Saúde aquando da

deslocação da ERS – a Dra. A., a Dra. B., a Dra. C., a Dra. D., a Dra. E. e o Dr. F.4.

16. Em tais inquirições pretendeu-se obter esclarecimentos sobre todo o procedimento de

marcação e realização de MCDT – desde a referenciação dos utentes pelos médicos

de família de um tal Centro de Saúde para o HPH, até à recepção dos resultados dos

exames prescritos;

17. E sobre os tempos médios de espera que medeiam

(i) entre a prescrição do exame e a sua marcação no HPH;

(ii) entre a marcação do exame e a sua efectiva realização; e

(iii) entre a efectiva realização do exame e a disponibilização dos

resultados.

3 Cfr. Auto de Notificação constante no processo.

4 Cfr. os Autos de Inquirição de Testemunhas constantes no processo.

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18. Mais foi solicitada informação sobre os procedimentos adoptados pelo HPH quando a

capacidade instalada não se revela suficiente para a realização de determinados

exames;

19. E confirmação da não entrega pelo HPH dos resultados, designadamente das

imagens em película (mas somente em suporte digital) aos utentes, bem como

confirmação da necessidade de pagamento pelos utentes de uma taxa de € 5,00 pelo

fornecimento das imagens em suporte digital.

20. Relativamente ao procedimento de marcação dos MCDT, foi referido pela primeira

médica de família inquirida (Dra. A.), que “desde de Março [de 2008] os exames de

diagnóstico começaram a ser marcados compulsivamente no HPH”, embora tal

medida apenas abrangesse alguns conjuntos de exames, continuando os restantes a

ser efectuados com recurso a entidades convencionadas (mediante a emissão das

respectivas credencias do SNS);

21. Sendo que no caso dos exames que passaram a ser realizados no HPH “[…] o Centro

de Saúde informa o utente da data de marcação, uma vez que esta é realizada em

suporte informático”.

22. Por seu turno, a Dra. C., para além de ter confirmado que o procedimento de

marcação de exames no HPH é feito em suporte informático pelo próprio Centro de

Saúde, referiu que o mesmo recebe “indicações do HPH para que os utentes sejam

para lá encaminhados”.

23. Já a Dra. B. apontou a existência de alguns problemas relacionados com o sistema de

marcação dos exames, como sejam situações de identificação incorrecta dos utentes

ou mesmo de indicação incorrecta do exame a efectuar.

24. Mais foi referido por alguns dos profissionais médicos inquiridos que, naquelas

situações “de urgência clinicamente justificada, é emitida uma credencial ao utente,

em vez de ser marcado o exame no HPH”, embora tenha que ser solicitada, segundo

o referido pela Dra. D., “a autorização da Directora do Centro de Saúde”;

25. O mesmo ocorrendo com aqueles exames em que não é obrigatório o recurso ao

HPH, casos em que são igualmente emitidos aos utentes as credenciais do SNS

necessárias para o recurso aos prestadores convencionados;

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26. Em ambas as situações referidas “é dada liberdade aos utentes de escolher a unidade

de saúde onde será realizado o exame”.

27. Quanto ao tempo médio de espera que medeia entre a marcação e a realização do

exame foi referido pelos diversos profissionais de saúde inquiridos que, em alguns

exames, designadamente mamografias, TAC e densitometrias ósseas, o tempo médio

de espera é bastante significativo, sendo que no caso das mamografias e

densitometrias ósseas pode demorar vários meses.

28. A esse respeito foi dado, pela Dra. A., o exemplo da mamografia de rastreio que

“demora 6 meses” a ser realizada no HPH, enquanto que numa unidade privada

convencionada “a média é de 8/15 dias”.

29. Outros exemplos foram igualmente dados pela Dra. E.:

(i) no caso das mamografias e das densitometrias ósseas, as marcações

do dia 19 de Fevereiro de 2009 estavam “a ser efectuados para Julho

[de 2009]”; e

(ii) no caso dos RX à coluna e dos TAC o tempo de espera é inferior.

30. A Dra. D. referiu que “o tempo de espera é superior nos exames efectuados no HPH

do que nos privados convencionados”;

31. E o Dr. F. referiu que “no privado a demora é cerca de 1 a 2 semanas enquanto que

no HPH a demora é de mais de 1 mês”.

32. Quanto ao tempo que medeia entre a realização dos exames e a obtenção dos

resultados, a Dra. A. referiu que o mesmo ronda “cerca de 1 mês, obrigando os

médicos a pesquisar, por exemplo, três vezes por semana o sistema informático”;

33. Segundo a Dra. E., um tal prazo, apesar de tudo, apresenta já “uma clara melhoria

face á situação anterior que chegou a ter 2/3 meses de espera”.

34. Por seu lado, a Dra. B. deu alguns exemplos de situações em que o tempo decorrido

desde a realização dos exames, até à disponibilização dos resultados é bastante

significativo:

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(i) o caso de “uma densitometria pedida em Agosto de 2008 e feita em

Novembro de 2008”, cujo resultado ainda não tinha sido disponibilizado

na data da inquirição; e

(ii) o caso de “um Rx à coluna pedido em Novembro de 2008 e feito em

Dezembro de 2008”, cujo resultado em Fevereiro de 2009 ainda não

tinha sido disponibilizado;

35. Enquanto que a Dra. C. deu mais um exemplo:

(iii) o caso dos exames de Rx à coluna “pedidos desde Dezembro [de

2008] e que ainda não [tinha obtido] resultado”.

36. Ainda assim, foi referido pela Dra. B. que tem notado alguma melhoria relativamente

ao prazo em que são disponibilizados os resultados, “desde que foi feita a exposição,

sensivelmente desde Janeiro de 2009”.

37. Quando questionados sobre eventuais alterações que eventualmente se tenham

verificado, após a apresentação da exposição pelos mesmos subscrita, foi referido

pela Dra. A. que apenas no que diz respeito aos exames de TAC é que o tempo médio

para a realização dos mesmos era, naquele momento, inferior aquele que se verificara

na data em que haviam subscrito a referida exposição;

38. Já a Dra. D. e o Dr. F. referiram que embora se tenha efectivamente verificado alguma

evolução positiva, em termos de tempo de espera para a realização dos exames, a

mesma não foi apta à resolução dos problemas então apresentados;

39. E a Dra. B. reconheceu “que houve algum esforço no melhoramento” da situação,

designadamente no que se refere a uma maior celeridade no prazo de

disponibilização dos resultados, e relativamente à taxa que alegadamente era cobrada

aos utentes para que lhes fosse fornecida as imagens em suporte digital, que segundo

a mesma deixou de ser exigida.

40. Efectivamente, e no que se refere à taxa que era cobrada aos utentes pelo

fornecimento das imagens em suporte digital, todos os profissionais médicos

inquiridos foram unânimes em afirmar que a mesma havia deixado de ser cobrada.

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41. Por último, foi por tais profissionais médicos fornecida cópia de Aviso, assinado pela

Directora do Centro de Saúde e datado de 07/01/09, relativo à “Avaliação dos Tempos

de Espera para a Marcação de MCT’s” naquela data.

42. Segundo a informação aí constante, os TAC’s Osteoarticulares, as densitometrias e as

mamografias prescritos naquela data (07/01/09) seriam marcados para Maio de 2009,

enquanto que os Raio X e os TAC’s Gerais para Fevereiro de 2009.

II.3 Factos relacionados com as diligências efectuadas pela ERS

43. Posteriormente, a ERS procedeu à comparação dos factos vindos de referir com a

realidade existente no concelho do Porto (isto é, em concelho limítrofe àquele em que

se encontra localizada a ULSM – concelho de Matosinhos), designadamente no que

se refere ao tempo médio de espera a que os utentes destes Centros de Saúde estão

sujeitos quando necessitem de efectuar MCDT´s, in casu em prestadores privados

convencionados.

44. Assim, a ERS efectuou, no dia 22 de Fevereiro de 2009, determinadas diligências

destinadas à marcação, em prestadores convencionados com o SNS no concelho do

Porto, de alguns dos MCDT constantes do Aviso fornecido pelos profissionais médicos

do Centro de Saúde da Senhora da Hora aquando da realização das supra referidas

inquirições – designadamente, TAC coluna lombar, Rx pulmonar perfil, Mamografia e

Densitometria;

45. Os quais foram escolhidos aleatoriamente na lista de entidades convencionadas com

o SNS (na área de influência da Administração Regional de Saúde do Norte) para a

prestação de cuidados de saúde na área de radiologia5.

46. De tais diligências obtiveram-se os resultados que de seguida se indicam, e que

constam do Memorando das diligências efectuadas pela ERS, junto aos autos:

“TAC coluna lombar:

5 A listagem de entidades convencionadas da ARS Norte pode ser consulta no seu sítio na internet,

em www.arsnorte.min-saude.pt.

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• […] (n.º de telefone – 22[…]) era possível a marcação do exame para

quarta-feira (24/02/2009). O resultado demora 4 dias úteis;

• […] Lda. (n.º de telefone – 22[…]) era possível a marcação do exame

para quarta-feira (24/02/2009). O resultado demora 1 semana;

RX pulmonar perfil:

• […] Lda. (n.º de telefone – 22[…]) era possível a marcação do exame

para o próprio dia (22/02/2009). O resultado demora 6 dias úteis;

• […] SA (n.º de telefone – 22[…]) era possível a marcação do exame

para o próprio dia (22/02/2009). O resultado demora 8 dias úteis;

Mamografia e Densitometria:

• […] SA (n.º de telefone – 22[…]) era possível a marcação do exame

mamografia para 27 de Fevereiro e de densitometria para 2 de Março. O

resultado demora 8 dias úteis;

• […] SA (n.º de telefone – 22[…]) era possível a marcação do exame

mamografia e de densitometria para hoje (22/02/2009). O resultado demora

3 dias úteis.”.

II.4 Factos relativos às justificações entretanto apresentadas pela ULSM

47. Após realizadas as diligências entendidas por necessárias para esclarecimento dos

factos relatados na exposição subscrita pelos profissionais de saúde do Centro de

Saúde da Senhora da Hora, foram solicitadas ainda, em 27 de Fevereiro de 2009,

informações e esclarecimentos à ULSM, designadamente:

(i) clarificação sobre o procedimento actualmente existente nessa ULS,

para processamento da prescrição, efectuada pelos Centros de Saúde,

de MCDT e suas subsequentes realizações pelo HPH;

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(ii) o número total de utentes dos Centros de Saúde integrados na ULSM

que durante os anos de 2007 e 2008 tenham efectuado no HPH

exames de TAC, RX, Densitometrias e mamografias;

(iii) o tempo médio de espera a que são sujeitos os utentes, que

necessitem de efectuar MCDT´s, designadamente TAC’s, Raio X,

Densitometrias e Mamografias, contado:

a. desde a data de prescrição pelo Centro de Saúde

até à sua efectiva marcação no HPH;

b. desde a data da sua marcação até à sua efectiva

realização no HPH; e

c. desde a data da sua efectiva realização até à

disponibilização dos resultados e sua efectiva

remessa ao Médico de Família dos utentes;

(iv) qual a concreta data para a qual seria marcada no HPH a realização de

cada um dos referidos MCDT, a um utente a quem os mesmos fossem

prescritos, em 26 de Fevereiro de 2009;

(v) esclarecimentos sobre a alegada não entrega pelo HPH dos

resultados, designadamente das imagens em película (mas somente

em suporte digital) aos utentes, bem como a eventual cobrança aos

utentes de uma taxa de € 5,00 pelo fornecimento das mesmas;

(vi) qual o procedimento interno de gestão da capacidade instalada do

HPH, e forma como é aferida pela ULSM a sua capacidade instalada e

se a mesma está, ou não, a ser esgotada; e

(vii) se nos casos em que afere não possuir capacidade instalada para a

realização de determinados exames é assegurada a liberdade de

escolha dos utentes através da entrega das credenciais do SNS;

48. Na resposta ao pedido de informação da ERS, datada de 30 de Março de 2009, veio

então a ULSM apresentar os seus esclarecimentos.

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II.4.1 Esclarecimentos relativos ao procedimento de marcação e realização de MCDT

49. Quanto aos procedimentos para processamento das prescrições de MCDT´s e suas

subsequentes realizações no HPH foram remetidos, em anexo a uma tal resposta,

cópias: do Procedimento n.º 885.1, de 27 de Março de 2007, relativo aos

procedimentos decorrentes da prescrição de MCDT´s; do Procedimento n.º 866.0, de

14 de Novembro de 2006, relativo à Central de Marcação de MCDT; do Procedimento

n.º 920.0, de 20 de Outubro de 2005, relativo ao transporte de doentes para acesso

aos cuidados de saúde; e do Procedimento n.º 904.0, de 17 de Maio de 2007, relativo

aos MCDT´s com origem de prescrição nos Centros de Saúde da ULSM.

50. Mas analisemos de forma sucinta o que é referido em cada um dos referidos

Procedimentos.

51. O Procedimento n.º 885.1, de 27 de Março de 2007, relativo aos procedimentos

decorrentes da prescrição de MCDT´s estabelece que o utente que se dirige aos

Centros de Saúde da ULSM deve ser previamente informado que “[…] caso sejam

prescritos MCDT na consulta, deverá o utente obrigatoriamente passar pelo

Secretariado Clínico para validação dos mesmos”.

52. Assim, caso o médico de família verifique da necessidade de serem efectuados MCDT

deverá entregar o “P1 electrónico” (emitido via SAM) ao utente e informá-lo para se

dirigir ao Secretariado Clínico para validação do mesmo;

53. De seguida, o Secretariado Clínico deve confirmar electronicamente a requisição e

“aferir da possibilidade de alguns desses MCDT prescritos poderem ser realizados na

ULSM”;

54. Sendo que nos “casos em que exista capacidade para realizar os MCDT, no tempo

recomendado, na ULSM, o Secretariado Clínico deve […] agendar os respectivos

MCDT, entregando ao utente o comprovativo da marcação com indicação da

data/hora e local/serviço de realização”.

55. No caso de se tratar de P1 preenchido manualmente “este deve ser retido pelo médico

e encaminhado para a Central de Marcação de MCDT localizada no Hospital Pedro

Hispano, seguindo o anterior procedimento)”.

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56. Por sua vez, o Procedimento n.º 866.0, de 14 de Novembro de 2006, relativo à Central

de Marcação de MCDT, descreve o procedimento de Prescrição do MCDT no SAM,

efectuada em Centro de Saúde da ULSM ou no HPH, a qual é “enviada para a central

de marcação de MCDT”;

57. Sendo que a prescrição pode ser “Urgente (para respostas até 8 dias) e Não Urgente

(para situações que não justifiquem o prazo anterior”;

58. Posteriormente, é efectuada a avaliação, em conjunto pela Central de Marcação de

MCDT e pelos serviços de MCDT existentes no HPH, da “capacidade de resposta de

realização do MCDT no HPH”.

59. Em caso de não existir “capacidade de resposta, em tempo útil (aferido em função da

caracterização quanto à urgência […]), deverão ser justificadas pelo responsável

clínico do Serviço de MCDT existente no HPH”.

60. Mais é referido em tal procedimento que nas situações em que não exista capacidade

de resposta no HPH “[…] a Central de Marcação de MCDT procederá à selecção da

entidade que deverá ser subcontratada. Essa selecção resultará da análise da tabela

comparativa, construída e actualizada pelo Serviço de Aprovisionamento com

periodicidade tida por adequada face às circunstâncias do mercado”;

61. E que “após identificação da entidade, procede-se ao agendamento directo da data e

hora da realização do MCDT, atendendo especialmente à caracterização da

Prescrição quanto ao carácter de urgência”.

62. Em caso de existir capacidade de resposta no HPH, em tempo útil, a Central de

Marcação procede à marcação do MCDT em causa e procede ao envio ao utente de

“Convocatória (gerada no SONHO), com informação quanto à data e hora da

realização do MCDT, no HPH”.

63. Por último, o Procedimento n.º 904.0, de 17 de Maio de 2007, relativo aos MCDT´s

com origem de prescrição nos Centros de Saúde da ULSM, veio esclarecer a forma

como será efectuado o recurso ao exterior quando o HPH não possui capacidade para

a realização do MCDT prescrito em Centro de Saúde da ULSM.

64. Em tal Procedimento é referido que “[…] após efectuada administrativamente a

validação electrónica dos MCDT (através do lápis óptico), poderão [as prescrições] ser

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entregues ao utente, possibilitando-lhe que recorra a uma qualquer entidade que

tenha convenção com o SNS”;

65. Embora se exceptuem “[…] os MCDT para os quais a ULSM, EPE tem capacidade

instalada para uma resposta interna, no cumprimento da responsabilidade e

obrigatoriedade que lhe assiste na optimização dos seus recursos humanos e técnicos

designadamente:

“a. Análises Clínicas (Centros de Saúde de Leça da Palmeira e S. Mamede de

infesta);

b. Radiologia simples convencional (com excepção das mamografias):

i. RX Tórax – proceder ao agendamento na unidade de Imagiologia

do CDP.

ii. Restantes RX – proceder ao agendamento no Departamento de

Imagiologia, sedeado no HPH. Actualmente, tal apenas se aplica

aos RX de crânio e pescoço e coluna vertebral à excepção das

mielografias.

c. TAC’s – proceder ao agendamento no departamento de Imagiologia,

sedeado no HPH.”

66. A este respeito refira-se que a ULSM na sua resposta, de 30 de Março de 2009,

acrescenta ainda que:

(i) Quanto aos exames de Anatomia Patológica, as colheitas são feitas

nos Centros de Saúde de Leça da Palmeira e S. Mamede de infesta;

(ii) Quanto aos exames de densitometrias ósseas, TAC’s e Mamografias

as mesmas já são agendadas localmente através de agenda

disponível nos Centros de Saúde;

67. Retomando o exposto no Procedimento n.º 904.0, de 17 de Maio de 2007, refira-se

que no caso de MCDT´s “[…] que não constam da tabela dos MCDT convencionados

pelo SNS, a ULSM, EPE assume a sua realização através dos seus próprios serviços

internos ou através de entidade exterior com a qual tenha acordo estabelecido.

Incluem-se neste caso:

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a. Endoscopia digestiva com anestesia/gestação;

b. Endoscopia digestiva com polipectomia;

c. Biopsia prostática guiada por ecografia;

d. Ecodopller para estudo vascular.”.

68. Ainda que tais exames careçam de “[…] de uma aprovação e validação por parte do

director do Centro de Saúde”.

II.4.2 Esclarecimentos sobre o número total de utentes dos Centros de Saúde da ULSM que efectuaram MCDT no HPH e sobre o tempo médio de espera para a marcação, realização e recepção dos resultados

69. De acordo com os dados disponibilizados pela ULSM, na sua resposta de 30 de

Março de 2009, verifica-se que houve uma diminuição significativa, entre os anos de

2007 e 2008, no número total de utentes dos Centros de Saúde integrados na ULSM

que efectuaram exames de TAC, RX, Densitometrias e mamografias no HPH.

70. Assim, enquanto que no ano de 2007 houve [≥10.000 / ≤12.000] utentes dos Centros

de Saúde integrados na ULSM que efectuaram os referidos MCDT no HPH;

71. Já no ano de 2008 esse número reduziu para os [≥2.000 / ≤4.000] utentes.

72. Relativamente aos tempos médios de espera foi por tal ULS referido que:

a. Quanto ao tempo médio de espera contado desde a data de

prescrição pelo Centro de Saúde até à sua efectiva marcação no

HPH, referiram não possuir essa informação relativamente ao ano de

2007, e que quanto ao ano de 2008 “[…] não existe qualquer tempo

de espera […] dado que as marcações no hospital são efectuadas no

momento da prescrição, através da aplicação informática SIIMAWEB;

b. Quanto ao tempo médio de espera contado desde a data da sua

marcação (data de registo do agendamento) até à sua efectiva

realização no HPH, de acordo com os dados fornecidos a média geral

de todos os Centros de Saúde durante o ano de 2007 foi de 10,2

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dias, e no ano de 2008 de 17,2 dias. Acontece que, relativamente ao

ano de 2008 em alguns dos Centros de saúde e para alguns dos

referidos MCDT o tempo médio de espera foi superior a 30 dias (v.g.

o tempo médio de espera para a marcação de Densitometrias ósseas

foi de 66, 8 dias no “Privados 1”, de 58,4 dias no “Privados 2”, de 58,

8 dias no “Privados 3”, e de 43,7 dias na USF São Mamede de

Infesta);

c. Quanto ao tempo médio de espera contado desde a data da sua

efectiva realização até à disponibilização dos resultados e sua

efectiva remessa ao Médico de Família dos utentes, de acordo com

os dados fornecidos a média geral de todos os Centros de Saúde

durante o ano de 2007 foi de 27,1 dias, e no ano de 2008 de 26,8

dias. Acontece que, embora a média geral durante o ano de 2008

tenha sido de 26,8 dias – o que já só por si se apresenta como

significativa – faz se notar que em alguns dos Centros de Saúde e

para alguns dos referidos MCDT, o tempo de espera foi ainda

superior (v.g. o tempo médio de espera para a disponibilização dos

resultados de TAC na USF Oceanos que foi de 45,7 dias, de RX na

USF Santa Cruz do Bispo que foi de 70,4 dias e de RX na USF

Senhora da Hora que foi de 42,6 dias);

73. Relativamente à concreta data para a qual seria marcada no HPH a realização de

cada um dos referidos MCDT, a um utente a quem os mesmos fossem prescritos, em

26 de Fevereiro de 2009, foi pela ULSM referido haver uma impossibilidade técnica de

responder relativamente a uma data passada, tendo então escolhido a data de 20 de

Março de 2009 para efectuar o exercício solicitado.

74. Os resultados desse exercício são aqueles que constam da Tabela infra:

Tabela I – Exercício relativo à data para a qual seriam marcados no HPH os MCDT prescritos em 20 de Março de 2009

Data de Prescrição 20-03-09

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Fonte: Dados fornecidos pela ULSM, na sua resposta de 30 de Março de 2009.

II.4.3 Esclarecimentos sobre a alegada não entrega pelo HPH dos resultados, designadamente das imagens em película, e cobrança aos utentes de uma taxa de € 5,00 pelo fornecimento das imagens em suporte digital

75. No que se refere à não entrega aos utentes, pelo HPH, das imagens em película dos

MCDT realizados, tal comportamento foi justificado pela ULSM com o facto de possuir

“[…] um sistema de visualização de exames através do sistema informático (Sistema

de Apoio ao Médico – SAM), que dispensa o suporte físico dos mesmos”;

76. E acrescenta que “[…] a ULSM assegura um fornecimento de cópias dos exames em

suporte magnético aos utentes que o solicitem”.

77. Relativamente à cobrança de € 5,00 pelo fornecimento das imagens em suporte

digital, a ULSM confirmou ter procedido a uma tal cobrança, a qual se verificou entre

“11/06/2007 e 03/11/2008”6 e que desde “04/11/2008 se encontra autorizado

6 Cfr. Cópia do Procedimento n.º 1037.0, de 11 de Junho de 2007, que instituiu a cobrança de uma

taxa de € 5,00 pelo fornecimento das imagens em suporte magnético, a qual foi junta pela ULSM

em anexo à sua resposta de 30 de Março de 2009.

Exame Marcação Tempo de espera

Mamografias 20-08-2009 5 meses

Densitometrias 24-07-2009 4 meses e 4 dias

RX (osteo articular –

tórax, tornozelo, coluna,

etc.)

23-03-2009 3 dias

TC Neurorradiologia

(cerebral 24-03-2009 4 dias

TC Radiologia (cervical,

abdomino-pélvico, etc.) 14-04-2009 25 dias

TC osteoarticular

(joelho, mãos, pés, etc.) 13-08-2009 3 meses e 24 dias

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fornecimento gratuito de cópias dos exames em suporte magnético, quando se trate

de um pedido inicial de suporte magnético associado a um dado exame [pelo

contrário] sempre que o utente venha a necessitar e requisitar mais do que uma cópia,

é informado que esta está associada uma taxa de 5,00€”7.

78. A ULSM procedeu igualmente ao envio de dados, totais e desagregados por Centro

de saúde, do número de utentes, e respectivo valor, a quem foi cobrada durante o

período de “11/06/2007 e 03/11/2008” a referida taxa de € 5,00.

79. Segundo os dados disponibilizados, foi cobrada a referida taxa a 283 utentes (no valor

total de € 1.415) no ano de 2007, e a a 532 utentes (no valor total de € 2.660) no ano

de 2008.

II.4.4 Esclarecimentos sobre o procedimento interno de gestão da capacidade instalada do HPH, e forma como é aferida pela ULSM a sua capacidade instalada

80. De acordo com o referido pela ULSM, na sua resposta de 30 de Março de 2009, a

aferição da ausência de capacidade de resposta “[…] encontra-se dependente do

tempo clinicamente aceitável para a realização de determinado MCDT, situação esta

que depende de análise casuística”;

81. Sendo que nas situações “[…] em que a próxima data de agenda disponível para o

MCDT em questão ultrapasse a data prevista da próxima consulta, a prescrição é

remetida ao Director de Serviço da especialidade clínica respectiva para averiguar a

possibilidade de agendamento em condições especiais, levando em consideração a

prioridade apresentada na prescrição […]”.

7 Um tal procedimento consta da Informação n.º 57/LM/CA da ULSM, de 27 de Outubro de 2008,

aprovada mediante Deliberação do Conselho de Administração da ULSM, de 4 de Novembro de

2008, que procedeu igualmente à anulação do procedimento anteriormente existente sobre essa

matéria, passando a isentar do pagamento de taxa o 1.º pedido de cópia de suporte digital – Cfr.

cópia da Informação n.º 57/LM/CA da ULSM junta pela ULSM, em anexo à sua resposta de 30 de

Março de 2009. Veja-se igualmente a este respeito o Procedimento n.º 1037.1, de 21 de Novembro

de 2008.

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82. Se a ausência de capacidade de resposta subsistir “[…] é efectuada requisição de

MCDT ao exterior pelo próprio Director do Serviço da especialidade clínica

respectiva”.

83. Deve-se fazer notar, contudo, que este procedimento descrito pela ULSM, na sua

resposta de 30 de Março de 2009, será aplicável apenas aos MCDT que hajam sido

prescritos nas consultas externas do HPH, e não pelos médicos de família dos

Centros de Saúde integrados nessa ULS.

84. Aplicar-se-á, nesses casos, o disposto no Procedimento n.º 904.0, de 17 de Maio de

2007, relativo aos MCDT´s com origem de prescrição nos Centros de Saúde da

ULSM, e que supra se fez referência.

85. Por último, a ULSM apresentou ainda alguns esclarecimentos relativos ao recurso a

entidades externas;

86. Tendo, a esse respeito referido que se devem distinguir duas situações de recurso a

subcontratação de entidades externas:

(i) uma relativa aos MCDT prescritos nos Centros de Saúde integrados

na ULSM, sendo que neste caso verificando-se a necessidade de

recurso ao exterior as requisições P1 “[…] são entregues ao utente,

podendo este recorrer a qualquer entidade convencionada com o

SNS […]”;

(ii) e outra relativa aos MCDT prescritos no próprio HPH em que “[…] a

Central de Marcação de MCDT procede à selecção da entidade que

deverá ser subcontratada, efectua o agendamento junto desta

informa o utente […]”.

II.5 Da instrução emitida à ULSM pela ERS no âmbito do processo de inquérito n.º ERS/017/07

87. Na sequência da recepção de diversas exposições remetidas, designadamente por

um prestador privado convencionado, pela Associação Nacional de Laboratórios

Clínicos (ANL), pela Federação Nacional de Prestadores de Cuidados de Saúde

(FNS) e pela Associação Portuguesa de Médicos Fisiatras (APMF), relativamente à

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não emissão pelos Centros de Saúde da Senhora da Hora e de São Mamede Infesta

de credenciais para a realização de análises clínicas em laboratórios convencionados

com o SNS, por decisão do conselho de administração da ULSM;

88. A ERS procedeu à abertura de um processo de inquérito registado sobre o n.º

ERS/017/07, sendo que:

“38. Em face de todos os elementos coligidos no processo,

designadamente através de documentos juntos ao processo, pode a ERS

desde já concluir que:

a) Em 17 de Janeiro de 2003 deliberou a ULSM centralizar a realização

de MCDT no HPH, sempre que para tanto tenha capacidade instalada.

b) Em 31 de Janeiro de 2007 deliberou a ULSM aprovar o Boletim

Normativo n.º 360, nos termos do qual se cria a Central de Marcação de

MCDT.

c) Desde 10 de Março de 2003 e 3 de Maio de 2004, os Centros de

Saúde de São Mamede Infesta e Leça da Palmeira, respectivamente,

passaram a centralizar a realização de MCDT no HPH, não havendo

emissão de credenciais entregues directamente aos utentes.

d) Desde estas datas, os operadores convencionados deixaram de

receber utentes do SNS portadores de credenciais emitidas por aqueles

Centros de Saúde.

e) Desde estas datas, os utentes cuja residência obrigue à consulta,

dentro do SNS, naqueles Centros de Saúde, deixaram de receber as

credenciais para realização de MCDT e poder escolher o prestador

convencionado da sua preferência, ficando obrigados – enquanto utentes

do SNS – a recorrer aos serviços oferecidos pela ULSM.

f) Nos termos do Boletim Normativo n.º 360, sempre que a ULSM não

tenha capacidade para realizar determinado MCDT, procede à selecção

directa do prestador convencionado que realizará o exame, mais

agendando directamente com este a respectiva data de realização, a qual é

comunicada ao utente.

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[…]” – cfr. Extracto da Deliberação do Conselho Directivo da ERS, de 19 de

Julho de 2007, relativo a esse processo publicado no site da ERS na

internet, em www.ers.pt.

89. A ERS procurou então aferir, nos termos das suas atribuições legais, da afectação, ou

não, dos direitos dos utentes e operadores convencionados, em consequência da

Deliberação adoptada pela ULSM.

90. Constatou-se, então, que os Centros de Saúde da Senhora da Hora e de São

Mamede Infesta não estavam a emitir credenciais para a realização de análises

clínicas em laboratórios convencionados com o SNS, por decisão do conselho de

administração da ULSM, com o objectivo de centralizar a realização de MCDT no

HPH, sempre que para tanto tivesse capacidade instalada.

91. Este procedimento restringia a possibilidade de escolha dos utentes, particularmente

se, no caso em que o Hospital não tivesse capacidade para a realização do exame

requerido, a ULSM seleccionasse o estabelecimento privado onde o mesmo fosse

realizado.

92. Nesse sentido, a ERS emitiu uma instrução dirigida à ULSM, que de seguida se

transcreve:

“ 271. Nos termos e para os efeitos dos artigos 27.º e 36.º do Decreto-lei n.º

309/2003, de 10 de Dezembro, o Conselho Directivo da Entidade

Reguladora da Saúde, deliberou em 19 de Julho de 2007, emitir a

seguinte recomendação e instrução, dirigida à Unidade Local de Saúde

de Matosinhos:

a) A Unidade Local de Saúde de Matosinhos, deverá de forma

imediata assegurar que a prestação de cuidados de saúde aos utentes

do SNS, inscritos nos Centros de Saúde de Matosinhos, quando exista

internalização de MCDT em função da capacidade instalada dessa

unidade de saúde, se realiza nas melhores condições em termos de

qualidade, celeridade, eficiência, as quais não poderão ser inferiores às

que teriam lugar se os utentes pudessem continuar a recorrer a

operadores privados convencionados;

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b) Sempre que a ULSM verifique que não pode prestar os cuidados de

saúde requeridos nas melhores condições em termos de qualidade,

celeridade, eficiência, nos termos definidos na alínea anterior, deverá

ser entregue ao utente a credencial correspondente (P1), para que este

possa escolher livremente o prestador convencionado para a

realização dos MCDT prescritos;

c) Será considerado inexistência de capacidade instalada, a não

realização dos MCDT prescritos nos prazos e com a qualidade

normalmente verificada no sector convencionado;

d) As presentes recomendações não contendem com a necessária

execução do que venha a ser julgado pelos Tribunais Administrativos

quanto à legitimidade da internalização de MCDT na vigência dos

contratos de convenção celebrados, nem fazem precludir qualquer

obrigação de indemnização ou compensação de operadores privados

que deva ter lugar;

e) Mais se reserva a ERS o direito de rever ou adoptar nova

recomendação ou instrução à luz do que venha a ser decidido pelos

Tribunais;

f) Sempre que a ULSM constate não ter capacidade para realizar os

MCDT prescritos nos Centros de Saúde que a integram, deverá, de

forma imediata, emitir as credenciais (P1) respectivas, as quais serão

sempre entregues directamente aos utentes, podendo estes recorrer

aos serviços de operador convencionado por si livremente escolhido;

g) Em consequência, todos os procedimentos internos,

designadamente os que se encontram previstos no Boletim Normativo

n.º 360, deverão ser alterados em conformidade, mediante deliberação

do Conselho de Administração da ULSM.” – a cfr. Extracto da

Deliberação do Conselho Directivo da ERS, de 19 de Julho de 2007,

relativo a esse processo publicado no site da ERS na internet, em

www.ers.pt.

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III. DO DIREITO

III. 1. Das atribuições e competências da ERS

93. A situação apresentada poderá, hipoteticamente, configurar uma eventual violação da

liberdade de escolha de utentes, designadamente daqueles a quem tenham sido

prescritos MCDT´s no Centro de Saúde da Senhora (e, consequentemente, nos

restantes Centros de Saúde integrados na ULSM), por direccionamento dos mesmos

para o HPH;

94. E poderá igualmente ser indutora de dificuldades de acesso, em função da sujeição

dos utentes a tempos médios de espera para a marcação, realização e obtenção de

resultados superiores às melhores condições de acesso que beneficiem os utentes e

que devem corresponder àquelas que, na ausência de um tal procedimento de

internalização de exames, seriam ou são praticadas nos prestadores privados

convencionados;

95. Bem como indutora de desigualdades geográficas em função da sujeição dos utentes

da área de influência da ULSM a mecanismos ou procedimentos susceptíveis de

reduzir ou limitar o direito de acesso universal e equitativo aos serviços públicos de

saúde e publicamente financiados.

96. De acordo com o n.º 1 do art. 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, a ERS

tem por missão a regulação da actividade dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde.

97. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 1 do artigo 8.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, “[...] todos os estabelecimentos prestadores

de cuidados de saúde, do sector público, privado e social, independentemente da sua

natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas, centros de saúde, laboratórios de

análises clínicas, termas e consultórios”.

98. É manifestamente esse o caso do Centro de Saúde da Senhora da Hora (bem como

dos restantes Centros de Saúde e extensões integrados na ULSM) e do HPH,

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde detidos pela entidade ULSM (a

qual se encontra registada no SRER da ERS sob o número 12 969);

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99. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto no n.º 2 do art. 3.º do Decreto-Lei

n.º 127/2009, de 27 de Maio, compreendem “[…] a supervisão da actividade e

funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que

respeita:

a) Ao cumprimento dos requisitos de exercício da actividade e de

funcionamento;

b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde e dos

demais direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos

operadores, entidades financiadoras e utentes”.

100. Por seu lado, constituem objectivos da actividade reguladora da ERS, em geral,

nos termos do art. 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio:

“[…]

b) Assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de

saúde, nos termos da Constituição e da lei;

c) Garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes;

[…]”.

101. No que se refere ao objectivo regulatório de assegurar o cumprimento dos critérios

de acesso aos cuidados de saúde, as alíneas a) e d) do artigo 35.º Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de Maio, estabelecem ser incumbência da ERS “ assegurar o direito

de acesso universal e equitativo aos serviços públicos de saúde ou publicamente

financiados” e “zelar pelo respeito da liberdade de escolha nos estabelecimentos de

saúde privados”.

102. Incluem-se ainda nos objectivos regulatórios da ERS, nos termos do artigo 37.º do

Decreto-lei n.º 127/2009, de 27 de Maio,

(i) analisar questões relativas às “[…] relações económicas nos vários

segmentos da economia da saúde, incluindo no que respeita ao

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acesso à actividade e às relações entre o SNS e os operadores

privados […]” (alínea a) do referido artigo 37.º);

(ii) pronunciar-se sobre questões relacionadas com “[…] os acordos

subjacentes ao regime das convenções” (alínea b) do referido

artigo 37.º); e

(iii) analisar questões sobre “[…] a organização e o desempenho dois

serviços de saúde do SNS” (alínea c) do referido artigo 37.º).

103. Em face do exposto cumpre à ERS analisar, à luz das referidas atribuições, as

eventuais consequências dos comportamentos relatados, em especial para os utentes

do SNS, que poderão ver limitados o seu direito de acesso universal e equitativo aos

serviços públicos de saúde e publicamente financiados, bem como a sua liberdade de

escolha.

104. Uma outra questão que cumpre à ERS analisar, ao abrigo das suas atribuições e

competências, prende-se com a alegada cobrança de uma taxa de € 5,00 pelo

fornecimento aos utentes das imagens dos exames realizados em suporte digital.

105. Refira-se a este respeito que é ainda objectivo da actividade reguladora da ERS,

nos termos da alínea d) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio,

“velar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os

agentes do sistema”;

106. Incumbindo à ERS, para cumprimento de tal objectivo regulatório, “pronunciar-se

sobre o montante das taxas e preços de cuidados de saúde administrativamente

fixados […] e velar pelo seu cumprimento”.

III. 2. Considerações sobre a natureza e implicações da criação da ULSM

107. A ULSM, com a natureza de EPE, foi criada pelo Decreto-Lei n.º 207/99, de 9 de

Junho, o qual estabeleceu um modelo inovador de organização dos serviços

prestadores de cuidados de saúde primários e diferenciados (hospitalares).

108. Em 11 de Dezembro de 2002, a ULSM, E.P.E., integrada no sector empresarial do

Estado, é transformada em sociedade anónima detida por capitais exclusivamente

públicos (através do Decreto-Lei n.º 283/2002, de 10 de Dezembro).

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109. No segundo semestre de 2005, assiste-se a nova transformação jurídica,

passando novamente a ter a natureza de EPE, após a aprovação e entrada em vigor

do Decreto-Lei n.º 93/2005, de 7 de Junho, mediante o qual se procedeu à

transformação de 31 sociedades anónimas em EPE.

110. Posteriormente, através do Decreto-Lei n.º 233/2005, de 29 de Dezembro,

procedeu-se à concretização dessa transformação, mediante a aprovação do novo

regime jurídico e dos estatutos dessas EPE, entre as quais se incluía a ULSM.

111. A ULSM tem como principal especificidade, o facto de competir a um único órgão,

o Conselho de Administração, a direcção e gestão de um Hospital e de quatro Centros

de Saúde – o HPH e os Centros de Saúde de Leça da Palmeira (o qual inclui ainda as

extensões de Perafita, Santa Cruz do Bispo e Lavra), Matosinhos, S. Mamede de

Infesta e Senhora da Hora.

112. Este modelo de organização de serviços foi inovador, na altura da criação da

ULSM, por visar a prestação global de cuidados de saúde à população da sua área de

influência, caracterizando-se pelo carácter integrador dos serviços prestados aos

cidadãos, uma vez que não existe fraccionamento, ao nível da gestão, entre os

cuidados primários e os cuidados hospitalares.

113. Os Conselhos de Administração das ULS concentram competências de gestão

estratégica e executiva, como a definição das directrizes que devem orientar a

organização e funcionamento da ULS, a aprovação da estrutura dos serviços, a

celebração de contratos programa, a aprovação de planos de actividade e de

orçamentos anuais e plurianuais, a aprovação dos regulamentos internos, entre

outras.

114. A questão concreta que aqui se analisa, e que se acha relacionada com as

implicações resultantes da criação e funcionamento da ULSM, prende-se com a

possibilidade de centralização da prestação de MCDT (no caso em concreto de

exames de radiodiagnóstico) pela própria ULSM;

115. E consequente não emissão pelos Centros de Saúde integrados na ULSM de

credenciais (vulgos P1) aos utentes do SNS, após verificada a existência de

capacidade instalada para a realização dos referidos MCDT;

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116. De onde poderá resultar, não só uma eventual impossibilidade dos utentes de

escolherem a entidade a que pretendem recorrer para a realização de MCDT que lhes

hajam sido prescritos pelo médico de família;

117. Mas principalmente uma afectação do seu direito de acesso universal e equitativo

aos serviços públicos de saúde e publicamente financiados, quer em função de lhes

ser vedado ou dificultado o acesso nas melhores condições, ou seja, correspondentes

àquelas praticadas nos prestadores privados convencionados;

118. Quer em função de tal centralização poder ser indutora de desigualdades

geográficas em função da sujeição dos utentes da área de influência da ULSM a

mecanismos ou procedimentos diferentes daqueles a que estão sujeitos os utentes do

SNS residentes no restante território nacional.

119. Nesse sentido, procede-se de seguida à análise e respectivo enquadramento

jurídico das consequências da situação descrita, para os utentes que poderiam ver

limitado o seu direito de acesso universal e equitativo aos serviços públicos de saúde

e publicamente financiados, bem como a sua liberdade de escolha;

120. E consequente análise, à luz de um tal enquadramento jurídico, da situação

concreta apresentada na exposição.

III. 3. Das desigualdades geográficas

III.3.1. Do quadro legal aplicável

121. No seguimento do vindo de expor, deve enfatizar-se que o procedimento de

internalização da marcação e realização de exames directamente nas unidades

hospitalares integradas na ULSM pode, desde logo, traduzir-se, em face do direito

constitucionalmente consagrado de acesso universal e equitativo de todas as pessoas

ao serviço público de saúde, numa discriminação de utentes, consoante os mesmos

residam, ou não, nos concelhos da área de influência de uma tal ULS.

122. Um tal imperativo constitucional de acesso à prestação de cuidados de saúde

pode ser avaliado, pelo menos, numa quádrupla perspectiva, a saber, económica,

temporal, qualitativa e geográfica;

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123. E na perspectiva temporal surge associado à necessidade de obtenção de

cuidados de saúde de forma não discriminatória, assim como em tempo útil, o que

implica uma equidade “temporal” de atendimento, para satisfação de iguais

necessidades de cuidados de saúde.

124. Assim, importa assegurar que, qualquer que seja o procedimento de marcação e

realização de exames implementado pela ULSM, o acesso dos utentes inscritos nos

Centros de Saúde da área de influência de tal ULS (designadamente na sua vertente

temporal) seja assegurado em igualdade de circunstâncias, quando comparado com o

acesso dos utentes de qualquer outra região do País.

125. Conforme melhor se analisará infra, nos termos da cláusula 20.ª da Proposta de

Contrato para Prestação de Cuidados de Saúde no âmbito da realização de exames

radiológicos (homologada por despacho do Secretário de Estado da Saúde em

06/05/83), “o prazo de validade das requisições de exames é de 10 dias úteis

contados a partir da data de prescrição”, sendo nesse prazo que devem ser

executados os exames;

126. E ainda que o prazo máximo de entrega dos resultados ou relatórios é de 5 dias

úteis após a execução do exame radiológico, excepto para os exames que por

condições técnicas específicas imponham maior prazo” (cláusula 19.ª da referida

Proposta de contrato).

127. Isto significa que se o utente de qualquer outra região do País, quando recorre a

prestadores privados convencionados na área de radiologia, está sujeito a um tempo

de espera para a realização dos exames que ronda os 10 dias úteis, e a um prazo

máximo de entrega dos resultados ou relatórios de 5 dias, os utentes residentes nos

concelhos da área de influência de tal ULS não podem estar sujeitos a tempos de

espera significativamente superiores;

128. E isto apenas porque a ULSM adoptou um procedimento de internalização da

marcação e realização de exames, que não deixa alternativa aos utentes senão

realizar tais exames nas unidades hospitalares em questão.

129. Esta discriminação de utentes violaria claramente os princípios estabelecidos na

Lei de bases da Saúde, designadamente, a Base II, n.º 1, alínea b), nos termos da

qual deverá ser assegurada a “igualdade dos cidadãos no acesso aos cuidados de

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29

saúde, seja qual for a sua condição económica e onde quer que vivam” – realce

nosso.

130. Ou seja, a existência de desigualdades geográficas no acesso aos cuidados de

saúde poderá estar em contradição com alguns dos princípios básicos do direito à

saúde.

131. Efectivamente, o Estatuto do SNS, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 11/93, de 15 de

Janeiro, e especificamente o seu artigo 37.º, prevê a “articulação do SNS com as

actividades particulares de saúde”, a qual será efectuada mediante a celebração de

convenções entre as ARS e as entidades privadas.

132. E não parece de todo defensável que o direito constitucionalmente consagrado de

acesso à prestação de cuidados de saúde, que tutela todos e cada um dos utentes do

SNS, possa ser por qualquer forma – como in casu mediante a sujeição dos utentes a

um tempo de espera superior àquele a que estão sujeitos os utentes residentes nas

restantes regiões do País – coarctado;

133. Pelo que urge avaliar do impacto de uma tal internalização no efectivo acesso dos

utentes aos cuidados de saúde pelos mesmos necessários.

III. 3.2. Enquadramento da realidade verificada

134. Faz-se notar que em diligência efectuada no dia 22 de Fevereiro de 2009, e

consubstanciada na marcação, por telefone, dos MCDT constantes no referido aviso,

em prestadores privados convencionados, in casu do concelho do Porto, confirmaram-

se os factos relatados pelos profissionais médicos inquiridos, no que se refere ao

tempo médio de espera entre a marcação e a realização dos referidos exames e a

efectiva realização e obtenção dos resultados;

135. Isto é, que os tempos de espera praticados pelos prestadores privados

convencionados, no que se refere a esse tipo de MCDT, é bastante inferior ao

verificado no HPH:

“TAC coluna lombar:

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30

• […] SA (n.º de telefone – [22…]) era possível a marcação do exame

para quarta-feira (24/02/2009). O resultado demora 4 dias úteis;

• […] (n.º de telefone - [22…]) era possível a marcação do exame para

quarta-feira (24/02/2009). O resultado demora 1 semana;

RX pulmonar perfil:

• […] Lda. (n.º de telefone - [22…]) era possível a marcação do exame

para o próprio dia (22/02/2009). O resultado demora 6 dias úteis;

• […] SA (n.º de telefone - [22…]) era possível a marcação do exame

para o próprio dia (22/02/2009). O resultado demora 8 dias úteis;

Mamografia e Densitometria:

• […] SA (n.º de telefone - [22…]) era possível a marcação do exame

mamografia para 27 de Fevereiro e de densitometria para 2 de Março. O

resultado demora 8 dias úteis;

• […] SA (n.º de telefone - [22…]) era possível a marcação do exame

mamografia e de densitometria para hoje (22/02/2009). O resultado demora

3 dias úteis.”.

136. Ou seja, a marcação de TAC coluna lombar naqueles prestadores contactados

demorava 2 dias e o fornecimento dos resultados era dado em 4 dias úteis;

137. A marcação de RX pulmonar perfil naqueles prestadores contactados não tinha

qualquer lista de espera e o fornecimento dos resultados era dado entre 6 e 8 dias

úteis;

138. A marcação de mamografias naqueles prestadores contactados demorava entre 0

e 5 dias e o fornecimento dos resultados era dado entre 3 e 8 dias úteis; e

139. A marcação de densitometrias naqueles prestadores contactados demorava entre

0 e 8 dias e o fornecimento dos resultados era dado entre 3 e 8 dias úteis;

140. Assim, importa desde logo assegurar que a existência de um procedimento de

internalização não se traduza, em face do direito constitucionalmente consagrado de

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31

acesso universal e equitativo de todas as pessoas ao serviço público de saúde, numa

discriminação de utentes, consoante os mesmos residam, ou não, nos concelhos da

área de influência de uma tal ULS.

141. Pelo que se reitera, o dever da ULSM de garantir que, em qualquer situação, do

procedimento de internalização de MCDT, não resulte uma qualquer deterioração nos

cuidados de saúde prestados, face à possibilidade de recurso dos utentes aos

prestadores privados convencionados.

142. Ademais, como ocorre com os demais utentes do SNS que não estando sujeitos a

tais obrigações ou limitações, decorrente da existência de tal procedimento, têm

acesso aos cuidados de saúde, in casu realização de MCDT, nas melhores condições

de acesso;

143. Como aliás, a ERS teve oportunidade de comprovar nas diligências de marcação,

por telefone, de alguns MCDT em prestadores privados convencionados, do concelho

do Porto.

144. Assim, se da adopção do procedimento de internalização de MCDT pela ULSM

resultar a sujeição dos utentes a tempos de espera significativos, não lhes sendo

assegurado os cuidados de saúde nas melhores condições de acesso e

correspondentes àquelas praticadas nos prestadores privados convencionados, tal

procedimento violará o direito de acesso equitativo aos serviços públicos de saúde e

publicamente financiados, que à ERS incumbe assegurar.

III. 4 Do acesso dos utentes da ULSM aos cuidados de saúde

III.4. 1. Do quadro legal aplicável

145. Conforme referido supra, cumpre à ERS assegurar a garantia dos direitos relativos

ao acesso aos cuidados de saúde (artigo 3.º n.º 2 alínea b) do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de Maio);

146. Sendo que para esse efeito é objectivo da actividade reguladora da ERS, nos

termos da alínea b) do artigo 35.º do Decreto-Lei n.º 12772009, de 27 de Maio,

assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, nos termos

da Constituição e da Lei.

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32

147. Refira-se a este respeito que, o cumprimento de tais critérios de acesso implica,

nos termos da Constituição e mais concretamente do seu artigo 64.º, a garantia de um

acesso

i) universal (deve-se garantir que o acesso aos cuidados de saúde é

assegurado a todos os cidadãos),

ii) geral (determinação do tipo de cuidados de saúde que devem ser

abrangidos pelo SNS);

iii) igual e equitativo (os cidadãos em situação idêntica devem receber

tratamento semelhante e os cidadãos em situação distinta devem

receber tratamento distinto);

iv) tendencialmente gratuito e com respeito dos preços administrativos

(taxas moderadoras); e

v) em tempo útil em função da necessidade de cuidados de saúde.

148. Por seu lado, tais critérios de acesso encontram-se igualmente consagrados na

Lei, mais concretamente na Lei n.º 41/2007, de 24 de Agosto, que aprovou os termos

a que deve obedecer a “Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos

utentes do Serviço Nacional de Saúde”.

149. De acordo com o disposto em tal diploma legal, a referida Carta “[…] visa garantir

a prestação de cuidados de saúde pelo Serviço Nacional de Saúde e pelas entidades

convencionadas em tempo considerado clinicamente aceitável para a condição de

saúde de cada utente […]” – cfr. n.º 1 do artigo 2.º da Lei n.º 41/2007, de 24 de

Agosto.

150. Mais é referido que a Carta deve ser publicada anualmente em anexo à Portaria

que fixe os tempos máximos de resposta garantidos.

151. Assim, a Portaria n.º 1529/2008, de 26 de Dezembro, para além de ter publicado

em anexo a “Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos utentes do

Serviço Nacional de Saúde”, veio fixar os tempos máximos de resposta garantidos

para o acesso àqueles cuidados de saúde em que “[já se encontravam] reunidas

condições a nível do SNS para estabelecer TMRG [designadamente] acesso a

consultas e cuidados domiciliários dos centros de saúde, a consultas externas

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hospitalares, a cirurgia programada e a determinados meios complementares de

diagnóstico e terapêutica no âmbito de cardiologia.” – cfr. Preâmbulo da Portaria n.º

1529/2008, de 26 de Dezembro.

152. De fora ficaram os restantes MCDT, para os quais ainda não existem TMRG

fixados por Portaria;

153. Embora isso não signifique que não se deva, desde já, procurar assegurar a

garantia da prestação de cuidados de saúde pelo Serviço Nacional de Saúde e pelas

entidades convencionadas em tempo considerado clinicamente aceitável para a

condição de saúde de cada utente.

154. Refira-se aliás a esse respeito que, no que se refere ao acesso aos MCDT

realizados pelas entidades convencionadas, a Tabela dos TMRG (publicada no anexo

n.º 1 à Portaria n.º 1529/2008, de 26 de Dezembro) estabelece como tempo máximo

de resposta “o tempo de resposta que conste do contrato de convenção”.

155. Recorde-se que, de acordo com o Proposta de Contrato para Prestação de

Cuidados de Saúde no âmbito da realização de exames radiológicos (homologada por

despacho do Secretário de Estado da Saúde em 06/05/83), “o prazo de validade das

requisições de exames é de 10 dias úteis contados a partir da data de prescrição”

(cláusula 20.ª);

156. Pelo que deverá ser dentro desse prazo que devem ser executados os exames.

157. Refere ainda uma tal Proposta de contrato que “o prazo máximo de entrega dos

resultados ou relatórios é de 5 dias úteis após a execução do exame radiológico,

excepto para os exames que por condições técnicas específicas imponham maior

prazo” (cláusula 19.ª).

158. Ora, em face do até aqui exposto, importa à ERS, em face do actual procedimento

de internalização de MCDT adoptado pela ULSM, zelar pela aplicação das regras que

garantam, de forma ampla e clara, a salvaguarda dos direitos de acesso dos utentes.

159. Acontece que a imposição aos utentes do SNS dos Centros de Saúde integrados

na ULSM de recurso a uma única entidade – in casu o HPH – quando necessitem de

efectuar MCDT, pode efectivamente constituir uma afectação do direito fundamental e

constitucionalmente consagrado de acesso a cuidados de saúde.

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34

160. Na verdade, se houve necessidade de estender o SNS a entidades privadas,

mediante convenção, tanto constituiu assumpção, pelas entidades competentes, da

necessidade de recurso a um tal mecanismo.

161. Disto resulta que se o recurso às entidades convencionadas foi necessário para

garantir a prontidão, continuidade, qualidade e equidade de acesso, então dever-se-ia

igualmente garantir que a aferição da manutenção ou alteração dessa necessidade de

recurso a entidades convencionadas é regular, o que se pode achar em oposição com

adopção pela ULSM de um procedimento de internalização de MCDT.

162. Recorde-se que, tanto resulta de o imperativo constitucional de acesso à prestação

de cuidados de saúde ser insitamente complexo por dever ser avaliado, pelo menos,

numa quádrupla perspectiva, a saber, económica, temporal, qualitativa e geográfica.

163. Na realidade, e tanto tem sido amplamente assente, o acesso aos cuidados de

saúde deve ser garantido seja qual for a condição económica de que dos mesmos

necessite, daí decorrendo todo o quadro conformador da mera moderação no acesso

aos cuidados de saúde decorrente das taxas moderadoras.

164. Por outro lado, a perspectiva temporal surge, igualmente, como naturalmente

associada à necessidade de obtenção de cuidados de saúde de forma não

discriminatória, assim como em tempo útil, o que implica uma equidade “temporal” de

imposição de atendimento, para satisfação de iguais necessidades de cuidados de

saúde.

165. Necessariamente, o acesso aos cuidados de saúde deve igualmente ser

compreendido como o acesso aos cuidados que, efectivamente, são necessários e

adequados à satisfação das concretas necessidades dos mesmos (vertente

qualitativa).

166. Por último, e como já supra foi analisado, o acesso aos cuidados de saúde deve

ainda ser garantido aos utentes onde quer que vivam, isto é, o acesso dos utentes de

determinada região deve ser assegurado em igualdade de circunstâncias, quando

comparado com o acesso dos utentes de qualquer outra região do País.

167. Sendo a vertente temporal do acesso que neste momento importa analisar, na

medida em que possa ser colocada em causa em virtude da adopção de um

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procedimento de internalização de MCDT, e consequentemente consubstanciar uma

situação de ausência de capacidade de resposta por parte da ULSM.

168. Deverá, pois, ser sempre garantido que os cuidados de saúde prestados não

sofrem qualquer deterioração face à possibilidade anterior de os utentes recorrerem

ao sector privado;

169. O que significa que a centralização de MCDT operada pela ULSM, não pode

nunca por em causa a qualidade, a celeridade e a eficiência dos cuidados prestados

aos utentes;

170. Isto é, da centralização de MCDT não pode nunca resultar para os utentes uma

desvantagem de não despicienda importância, qual seja, a de sujeição a maiores

tempos de espera entre a consulta, a realização do exame e a obtenção de resultados

pelo utente, quando comparados com os tempos de espera a que esses mesmos

utentes estariam sujeitos se pudessem optar por recorrer a um prestador privado

convencionado.

171. Nesse sentido, uma forma para aferir da existência ou não de capacidade

instalada na ULSM para a prestação de MCDT, consistirá na comparação que poderá

ser efectuada entre a celeridade dos cuidados prestados pela ULSM e a celeridade

normalmente praticadas no sector privado convencionado;

172. Sendo que uma eventual incapacidade da ULSM de respeitar as regras de

celeridade normalmente praticadas no sector privado convencionado, será equiparada

a inexistência de capacidade instalada na ULSM.

173. Assim, a ULSM deve garantir que na prestação de cuidados de saúde são

asseguradas as melhores condições de acesso, que devem corresponder aquelas

que, na ausência do procedimento de internalização de exames, seriam praticadas

nos prestadores privados convencionados;

174. Caso contrário, tal constituirá, seguramente, uma afectação do direito de acesso

equitativo aos serviços públicos de saúde e publicamente financiados.

III.4. 2. Do enquadramento da realidade verificada

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36

175. Em resultado das diligências efectuadas pela ERS no decurso do presente

processo de inquérito, verificou-se existirem situações de tempo médio de espera

entre a marcação e a realização no HPH de alguns MCDT prescritos no Centro de

Saúde da Senhora da Hora, designadamente mamografias, TAC e densitometrias

ósseas, significativos.

176. Sendo que no caso das mamografias e densitometrias ósseas tal tempo médio de

espera ascende a vários meses;

177. Enquanto que o tempo médio de espera para a realização desses mesmos MCDT,

nos prestadores privados convencionados é bastante inferior.

178. A esse propósito veja-se o caso das mamografias que “demora 6 meses” a ser

realizada no HPH, enquanto numa unidade privada convencionada “a média é de 8/15

dias”.

179. Quanto ao tempo médio de espera entre a realização dos exames e a obtenção

dos resultados a mesma rondaria, segundo tais profissionais médicos, “cerca de 1

mês, obrigando os médicos a pesquisar, por exemplo, três vezes por semana o

sistema informático”;

180. O que ainda assim representava, à data da inquirição de tais profissionais

médicos, “uma clara melhoria face à situação anterior que chegou a ter 2/3 meses de

espera”.

181. Veja-se ainda o exemplo de “uma densitometria pedida em Agosto de 2008 e feita

em Novembro de 2008”, cujo resultado ainda não tinha sido disponibilizado na data da

inquirição; bem como o caso de “um Rx à coluna pedido em Novembro de 2008 e feito

em Dezembro de 2008”, cujo resultado em Fevereiro de 2009 ainda não tinha sido

disponibilizado; e ainda, o caso dos exames de Rx à coluna “pedidos desde Dezembro

[de 2008] e que ainda não [tinha obtido] resultado”.

182. E recorde-se que no decurso da diligência de inquirição dos profissionais médicos

do Centro de Saúde da Senhora da Hora, foi fornecido pelos mesmos cópia de Aviso,

nos termos do qual os TAC’s Osteoarticulares, as densitometrias e as mamografias

prescritos no dia 7 de Janeiro de 2009, seriam marcados para Maio de 2009,

enquanto os Raio X e os TAC’s Gerais prescritos nessa mesma data seriam marcados

para Fevereiro de 2009.

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183. Por seu lado, a ULSM forneceu os dados constantes da Tabela I supra, da qual

resulta que no HPH, o tempo médio de espera para a realização de exames que

fossem prescritos nos respectivos Centros de Saúde, no dia 20 de Março de 2009,

seria de:

(i) 3 dias para o RX osteoarticular;

(ii) 4 dias para o TAC cerebral;

(iii) 25 dias para o TAC cervical e abdomino-pélvico;

(iv) 3 meses e 24 dias para o TAC Osteoarticular;

(v) 4 meses e 4 dias para as densitometrias; e

(vi) 5 meses para as mamografias.

184. Quanto ao tempo médio de espera contado desde a data da sua efectiva

realização até à disponibilização dos resultados e sua efectiva remessa ao Médico de

Família dos utentes, de acordo com os dados fornecidos a média geral de todos os

Centros de Saúde da ULSM, durante o ano de 2007, foi de 27,1 dias, e no ano de

2008 de 26,8 dias.

185. Acontece que, embora a média geral durante o ano de 2008 tenha sido de 26,8

dias – o que já só por si se apresenta como significativa – faz se notar que em alguns

dos Centros de Saúde e para alguns dos referidos MCDT, o tempo de espera foi ainda

superior (v.g. o tempo médio de espera para a disponibilização dos resultados de TAC

na USF Oceanos que foi de 45,7 dias, de RX na USF Santa Cruz do Bispo que foi de

70,4 dias e de RX na USF Senhora da Hora que foi de 42,6 dias).

186. Importa, assim, verificar se tais tempos de espera são compatíveis com a

prestação de cuidados de saúde nas melhores condições de acesso, que devem

corresponder aquelas que, na ausência de um tal procedimento de internalização de

exames, seriam praticadas nos prestadores privados convencionados.

187. Ora, e conforme supra referido, a maioria dos MCDT, onde se incluem os TAC, as

mamografias, as densitometrias e os RX, ficaram de fora da Portaria n.º 1529/2008, de

26 de Dezembro, a qual veio fixar os tempos máximos de resposta garantidos para o

acesso aos cuidados de saúde, durante o ano de 2009, designadamente no que se

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refere ao acesso a consultas e cuidados domiciliários dos centros de saúde, a

consultas externas hospitalares, a cirurgia programada e a determinados meios

complementares de diagnóstico e terapêutica no âmbito de cardiologia;

188. Mas tanto não significa que não tivesse sido considerada a existência de tempos

máximo de espera relativamente a tais MCDT.

189. Desde logo, nessa mesma Portaria é referido que o tempo máximo de resposta

garantido, relativamente à realização de MCDT nos prestadores privados

convencionados, será aquele que conste no contrato de convenção.

190. Por outro lado, de acordo com o Proposta de Contrato para Prestação de

Cuidados de Saúde no âmbito da realização de exames radiológicos (homologada por

despacho do Secretário de Estado da Saúde em 06/05/83), “o prazo de validade das

requisições de exames é de 10 dias úteis contados a partir da data de prescrição”

(cláusula 20.ª);

191. Pelo que deverá ser dentro desse prazo que devem ser executados os exames.

192. Refere ainda uma tal Proposta de contrato que “o prazo máximo de entrega dos

resultados ou relatórios é de 5 dias úteis após a execução do exame radiológico,

excepto para os exames que por condições técnicas específicas imponham maior

prazo” (cláusula 19.ª).

193. Ao que acresce que, a ULSM deve sempre garantir que os cuidados de saúde por

si prestados não sofrem qualquer deterioração face à possibilidade anterior de os

utentes recorrerem ao sector privado;

194. O que significa que a centralização de MCDT operada pela ULSM, não pode

nunca pôr em causa a qualidade, a celeridade e a eficiência dos cuidados prestados

aos utentes;

195. Tal como não pode pôr em causa a prestação de cuidados de saúde nas melhores

condições de acesso, que devem corresponder àquelas que, na ausência do

procedimento de internalização de exames, seriam ou são praticadas nos prestadores

privados convencionados.

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196. Nesse sentido, a eventual incapacidade da ULSM respeitar tais regras de

celeridade normalmente praticadas no sector privado convencionado, será equiparada

a inexistência de capacidade instalada na ULSM;

197. Isto é, da centralização de MCDT não pode nunca resultar para os utentes uma

desvantagem de não despicienda importância, qual seja, a de sujeição a maiores

tempos de espera entre a consulta, a realização do exame e a obtenção de resultados

pelo utente, quando comparados com os tempos de espera a que esses mesmos

utentes estariam sujeitos se pudessem optar por recorrer a um prestador privado

convencionado;

198. Daqui se retira que impende sobre a ULSM, caso pretenda adoptar ou manter um

procedimento de internalização de MCDT, o dever de cumprir as regras de celeridade

praticadas no sector convencionado – que impõe o dever de realização dos exames

no prazo máximo de 10 dias úteis contados a partir da data de prescrição, e um prazo

máximo de entrega dos resultados de 5 dias úteis após a execução do exame

radiológico, excepto para os exames que por condições técnicas específicas

imponham maior prazo.

199. Sendo que, apenas cumprindo as referidas regras se pode considerar como

verificada a existência de capacidade instalada pela ULSM para a realização de tais

MCDT.

200. E tanto decorre do facto que, em qualquer caso, deve ser assegurado o acesso

dos utentes aos cuidados de saúde nas melhores condições;

201. Recordando-se, ademais, que o próprio processo aqui em análise tem a sua

origem, precisamente, numa exposição dos profissionais médicos do Centro de Saúde

da Senhora da Hora, nos termos da qual referiam que em alguns exames,

designadamente mamografias, TAC e densitometrias, o tempo de espera para a

realização dos mesmos eram bastante significativo;

202. O que significa que a ULSM não estava, em tais situações, a assegurar tais

condições de acesso.

III. 5. Da liberdade de escolha dos utentes

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III.5.1 Do quadro legal aplicável

203. Importa ainda verificar da eventual impossibilidade dos utentes de escolherem a

entidade a que pretendem recorrer para a realização de MCDT que lhes hajam sido

prescritos pelo médico de família, em resultado da implementação pela ULSM de um

procedimento de internalização de MCDT pode resultar.

204. Ora, o direito a escolher livremente os prestadores de cuidados de saúde

encontra-se plasmado na Base XIV, n.º 1, alínea a) da Lei de Bases da Saúde

(aprovada pela Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto);

205. Acrescenta ainda a Base V, n.º 5, que “é reconhecida a liberdade de escolha no

acesso à rede nacional de prestação de cuidados de saúde, com as limitações

decorrentes dos recursos existentes e da organização dos serviços”.

206. Mas a liberdade de escolha que aqui se cuida, e que à ERS cumpre assegurar no

quadro das suas atribuições e competências, prende-se com a liberdade de escolha

nos estabelecimentos de saúde privados (alínea d) do artigo 35.º do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de Maio);

207. Ora, existindo operadores convencionados numa determinada área geográfica (a

que corresponderá, in casu, a área de influência da ULSM8 e concelhos circundantes)

seria de esperar que os utentes pudessem utilizar as credenciais (P1), emitidas pelos

Centros de Saúde da sua área de residência, para a realização dos exames em

causa, nos prestadores privados convencionados localizados em tal área de

influência;

208. Mas igualmente naqueles estabelecimentos sitos nos concelhos limítrofes de

Matosinhos, como seja o concelho do Porto, onde dada a proximidade geográfica é

expectável que os utentes aos mesmos pudessem recorrer para a realização de

MCDT;

8 No caso concreto, e de acordo com os dados constantes da listagem de entidades

convencionadas da ARS Norte, apenas possuem convenção com o SNS para a prestação de

cuidados de saúde na área do radiodiagnóstico a entidade […] SA, e a entidade […] Lda., esta

última apenas no que se refere a ecografias e mamografias.

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209. Assim, como em qualquer um dos prestadores convencionados com o SNS que se

achem localizados na área de jurisdição da Administração Regional de Saúde do

Norte.

210. Ora, como resulta do referido supra, a centralização da prestação de tais exames

poderá impedir este procedimento, impondo a realização daquele tipo de exames

apenas no âmbito da ULS.

211. Em tal situação, os utentes que se desloquem aos Centros de Saúde que integram

a ULS, deverão realizar os exames prescritos pelos médicos de família internamente –

quando aquela tenha capacidade para a realização do mesmo – ou em

estabelecimento privado convencionado – quando a mesma não tenha capacidade

para a realização do exame requerido;

212. Podendo este procedimento, de facto, coarctar de forma clara a possibilidade de

escolha dos utentes.

213. Importa assim distinguir aquelas situações em que a ULSM constata possuir

capacidade de resposta para realização dos exames em causa, daquelas outras em

que a mesma constata não possuir capacidade para a realização do exame ou

exames requeridos.

i) Quando a ULSM tenha capacidade para a realização do exame requerido

214. Ora, quando a ULSM constata possuir capacidade instalada para realizar os

exames prescritos, confrontam-se duas posições distintas:

(i) por um lado, a ULSM, enquanto entidade pública integrada no SNS,

que reclama dever poder utilizar os seus recursos disponíveis e, como

tal, poder internalizar a prestação de MCDT – in casu exames

radiológicos; e

(ii) por outro lado, este procedimento pode restringir a liberdade de

escolha dos utentes.

215. Aqui importa rememorar que, de acordo com o estabelecido nas Bases V, n.º 5 e

XIV, n.º 1 al. a) da Lei de Bases da Saúde, supra referidas, são admissíveis as

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limitações à liberdade de escolha que resultarem das regras de organização do

sistema de saúde.

216. Decorre do art. 2.º do Decreto-Lei n.º 207/99, de 9 de Junho (que criou a ULSM),

que “São atribuições da ULS a prestação global de cuidados de saúde à população da

sua área de influência, directamente através dos seus serviços ou indirectamente

através da contratação com outras entidades […]”;

217. Prevendo-se no art. 5.º do mesmo diploma que “A actividade da ULS necessária

ao exercício das suas atribuições será desenvolvida de modo integrado, atenta a sua

organização interna e as demais entidades prestadoras de cuidados de saúde da área

[…]”;

218. Resultando assim que a possibilidade de integração de serviços pela ULSM,

estava prevista em tal diploma legal, sendo então uma consequência possível da sua

criação.

219. Refira-se, ademais, que a criação de ULSM representa uma opção de política de

saúde que, nos termos do n.º 1 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de

Maio, a ERS deve respeitar;

220. Sendo nessa estrita medida que eventuais limitações à liberdade de escolha

decorrentes do próprio conceito de ULS devem ser compatibilizadas com outros

valores que compete à ERS defender.

221. Assim, o procedimento de internalização de MCDT adoptado pela ULSM, na

medida em que sirva para aproveitamento dos recursos existentes, constitui uma

consequência directa e imediata da criação e existência de ULS, e portanto o

resultado de uma opção de política de saúde.

222. No entanto, a adopção de tal procedimento, conforme supra melhor analisado, terá

sempre como limite os princípios fundamentais, constitucional e legalmente

estabelecidos, designadamente o direito de acesso universal e equitativo aos serviços

públicos de saúde.

223. A este propósito, reitera-se que se deverá considerar que a ULSM possui

capacidade instalada para a realização de determinado exame quando a referida

realização e consequente disponibilização dos resultados seja assegurada nas

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melhores condições de acesso, correspondentes àquelas que, na ausência de um tal

procedimento de internalização de exames, seriam ou são praticadas nos prestadores

privados convencionados.

224. Por seu turno, naquelas situações em que os tempos de espera para a realização

de exames e para a obtenção de resultados sejam superiores aos tempos

clinicamente aceitáveis, não estarão a ser respeitados os supra referidos princípios

fundamentais;

225. E não se encontrarão, igualmente, a ser cumpridos os objectivos subjacentes à

própria essência da ULS que, como visto, assentando no conceito da prestação

integral e integrada de cuidados de saúde à população da área geográfica relevante,

visa buscar ganhos em saúde;

226. Os quais, claro está, não se verificarão sempre que a ULS possua uma

capacidade de resposta na realização dos exames prescrito mais lenta do que aquela

que um utente portador de credencial obtida no Centro de Saúde consiga obter na

rede nacional de prestação de cuidados de saúde (ou seja, junto dos prestadores

convencionados com o SNS).

ii) Quando a ULSM não tenha capacidade para a realização do exame requerido

227. Situação diferente ocorrerá, quando a ULSM não tenha capacidade para a

realização dos exames requeridos;

228. Seja porque não possui os recursos materiais e humanos necessários à realização

de tais exames;

229. Seja naquelas situações em que não tenha capacidade para responder à

solicitação de realização de exames nas melhores condições de acesso,

correspondentes àquelas que são praticadas nos prestadores privados

convencionados.

230. Nestes casos, a questão assume particular acuidade, uma vez que tal ULS

poderia, hipoteticamente, adoptar um procedimento de selecção do estabelecimento

privado onde o mesmo seria realizado, situação em que a ULSM embora sem possuir

capacidade para a realização de determinado exame, não deixaria de controlar o

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processo de selecção e agendamento da realização do mesmo em operador por si

escolhido, não tendo o utente qualquer influência nesse processo9.

231. Por último, sempre se dirá que a ULSM, enquanto entidade pública está

necessariamente sujeita às regras da contratação pública previstas para as entidades

que integram a Administração Pública – directa ou indirecta – nomeadamente no que

à transparência, legalidade e imparcialidade respeita.

232. Também no caso de realização dos exames em causa em operador

convencionado escolhido pela própria ULSM por inexistência de capacidade instalada,

como no caso em que os exames são realizados internamente, se constata que a

centralização dos mesmos e posterior selecção do operador privado onde será

realizado o exame, acarreta uma desvantagem de não despicienda importância, qual

seja, o tempo que medeia entre a consulta, a selecção do operador, a realização do

exame e a obtenção dos resultados pelo utente.

233. Num tal procedimento de escolha da entidade onde será realizada a prestação de

MCDT, em função de inexistência de capacidade instalada, não existirá liberdade de

escolha por parte dos utentes, porquanto será a ULSM quem selecciona o prestador e

agenda a realização do MCDT.

234. Pelo contrário, não se verificará uma qualquer violação da liberdade de escolha

dos utentes, nas situações em que se verifique o recurso à emissão de credenciais

entregues directamente aos utentes.

235. Decorre desta análise que, a ULSM apenas respeitará os princípios vindos de

analisar se, nas situações em que constata não possuir capacidade instalada para a

realização dos exames prescritos, proceder à entrega/envio ao utente do

documento/credencial necessário para que o mesmo recorra aos serviços de

prestadores privados convencionados;

9 Recorde-se que no processo de inquérito que anteriormente correu termos na ERS (processo de

inquérito n.º ERS/017/07), relativamente à internalização de análises clínicas, teve-se

conhecimento que tal possibilidade chegou mesmo a ser implementada, tendo sido no decurso de

tal processo que a ULSM alterou a referida prática de selecção da entidade externa, por ajuste

directo, quando se constata não possuir capacidade instalada para a prática de determinado acto

ou exame.

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236. Considerando-se como situações de ausência de capacidade instalada, aquelas

em que a ULSM constata não poder prestar os cuidados de saúde requeridos nas

melhores condições em termos de qualidade, celeridade e eficiência.

237. Sendo que tal conceito será aprofundado infra, quando se analisar as

consequências da internalização de MCDT no que se refere ao acesso aos cuidados

de saúde nas melhores condições, que devem corresponder aquelas que, na ausência

de um tal procedimento, seriam praticadas nos prestadores privados convencionados.

III. 5. 2. Do enquadramento da realidade verificada

238. De acordo com os factos constantes da exposição apresentada, bem como

daqueles resultantes das diligências efectuadas pela ERS, resultou que alguns MCDT

prescritos pelos Médicos de Família do Centro de Saúde da Senhora da Hora

estariam a ser marcados directamente para o HPH, sem que seja dada a possibilidade

dos utentes de escolher a data ou o local da realização dos mesmos.

239. Mais se constatou que compete à Central de Marcação de MCDT do HPH aferir da

existência ou não de capacidade de resposta para a realização dos exames

requeridos;

240. Sendo que, se existir capacidade de resposta no HPH, em tempo útil, a Central de

Marcação procede à marcação do MCDT em causa e procede ao envio ao utente de

“Convocatória (gerada no SONHO), com informação quanto à data e hora da

realização do MCDT, no HPH”.

241. Neste caso, a internalização de MCDT deverá ser considerada uma consequência

directa e imediata da própria existência da ULSM;

242. Uma vez que a possibilidade de integração de serviços pela ULSM, estava prevista

no diploma legal que lhe deu origem, sendo então uma consequência possível da sua

criação.

243. A criação da ULSM representa, então, uma opção de política de saúde que, nos

termos do n.º 1 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, a ERS deve

respeitar;

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244. O que conjugado com o estabelecido nas Bases V, n.º 5 e XIV, n.º 1 al. a) da Lei

de Bases da Saúde, resulta na admissibilidade das limitações à liberdade de escolha

decorrentes das regras de organização do sistema de saúde.

245. Porém, e refira-se desde já, uma tal admissibilidade das limitações à liberdade de

escolha encontrar-se-á estritamente ligada a tal organização do sistema de saúde;

246. E nunca às dificuldades ou ineficiências de funcionamento de concretos

estabelecimentos hospitalares ou ULS.

247. Ou seja, se será admissível uma limitação a tal princípio fundamental enquanto

condição necessária à gestão e prestação integrada de cuidados de saúde e na

prossecução de determinada política de saúde que vise a obtenção de eficiências

variadas.

248. Mas tal justificação cessa quando se verifica que um tal objectivo ou desiderato

não é, na realidade, atingido e, consequentemente, os utentes vêem-se privados do

seu direito fundamental de liberdade de escolha sem o concomitante benefício de

acesso célere e eficiente aos cuidados de saúde que necessitem.

249. E efectivamente, constituindo a ULSM um modelo implementado em sede de

política de saúde que, pela sua natureza, integra os Centros de Saúde adjacentes, daí

decorrem os procedimentos que visam uma maior inter-relação entre os diversos

níveis de prestação de cuidados de saúde e a maximização dos recursos disponíveis.

250. Mas tais procedimentos não podem, em qualquer caso, afectar o direito de acesso

universal e equitativo aos serviços públicos de saúde ou publicamente financiados;

251. Desde logo naquelas situações em que não exista “capacidade de resposta, em

tempo útil (aferido em função da caracterização quanto à urgência […])”.

252. Ora, resulta dos procedimentos para processamento das prescrições de MCDT e

suas subsequentes realizações no HPH, remetidos pela ULSM na sua resposta ao

pedido de informação da ERS, mais concretamente do Procedimento n.º 904.0, 17 de

Maio 2007, que após efectuada administrativamente a validação electrónica dos

MCDT prescritos pelos Centros de Saúde da ULSM “poderão [as prescrições] ser

entregues ao utente, possibilitando-lhe que recorra a uma qualquer entidade que

tenha convenção com o SNS”.

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253. Assim, o procedimento em causa apenas será compatível com o quadro supra

descrito se, naquelas situações em que o HPH não possua capacidade instalada para

a realização de MCDT, a ULSM proceder efectiva e imediatamente à entrega/envio ao

utente do documento/credencial necessário para que o mesmo possa recorrer aos

serviços de prestadores convencionados;

254. Uma vez que apenas dessa forma será assegurada a liberdade de escolha dos

utentes para recorrer nas melhores condições de acesso ao prestador convencionado

por si escolhido.

255. A entrega de credencial ocorrerá, ainda e de acordo com o referido pelos

profissionais médicos do Centro de Saúde da Senhora da Hora, naquelas situações

“de urgência clinicamente justificada, [em que] é emitida uma credencial ao utente, em

vez de ser marcado o exame no HPH”, embora tenha que ser solicitada “a autorização

da Directora do Centro de Saúde”, bem como naquelas em que não é obrigatório o

recurso ao HPH.

III. 6 Da cobrança aos utentes de uma taxa de € 5,00 pelo fornecimento das imagens em suporte digital

III.6.1. Do quadro legal aplicável

256. Por último, incumbe ainda à ERS analisar, ao abrigo das suas atribuições e

competências, sobre a legitimidade da alegada cobrança de uma taxa de € 5,00 pelo

fornecimento aos utentes das imagens dos exames realizados em suporte digital.

257. Recorde-se a este respeito que é ainda objectivo da actividade reguladora da ERS,

nos termos da alínea d) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio,

“velar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os

agentes do sistema”;

258. Incumbindo à ERS, para cumprimento de tal objectivo regulatório, “pronunciar-se

sobre o montante das taxas e preços de cuidados de saúde administrativamente

fixados […] e velar pelo seu cumprimento” – cfr. alínea e) do artigo 37.º do decreto-lei

n.º 127/2009, de 27 de Maio.

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259. Recorde-se que, já anteriormente, ao abrigo do Decreto-lei n.º 309/2003, de 10 de

Dezembro, era objectivo da actividade reguladora da ERS, em geral, nos termos do

artigo 25.º n.º 1 do Decreto-lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro:

“(...)

c) Assegurar os direitos e interesses legítimos dos utentes;

(…)”;

260. Sendo que, para efeitos do cumprimento desse objectivo de regulação, incumbia à

ERS, nos termos da alínea b) do n.º 4 do artigo 25.º Decreto-Lei n.º 309/2003, de 10

de Dezembro:

“(...)

b) Zelar pelo respeito dos preços administrativamente fixados ou

convencionados com o SNS”.

261. Tendo em atenção a legislação actualmente em vigor – mais concretamente a Lei

de Bases da Saúde, o Estatuto do SNS, o Decreto-Lei n.º 173/2003, de 1 de Agosto, e

a Portaria n.º 395-A/2007, de 30 de Março, aos utentes do SNS apenas poderão ser

cobradas directamente as taxas moderadoras correspondentes aos actos em causa,

sem prejuízo das isenções previstas no art. 2.º do Decreto-Lei n.º 173/2003, de 1 de

Agosto.

262. E de uma interpretação literal da Base XXXIV da Lei de Bases da Saúde, poder-

se-á concluir que apenas seria admissível a cobrança de taxas moderadoras que

cumprissem uma função de racionalização da utilização dos serviços de saúde;

263. De tanto resultando, então, que a ULSM, enquanto estabelecimento prestador de

cuidados de saúde integrado no SNS, se acha obrigada ao integral respeito dos

direitos dos utentes do SNS, designada mas não limitadamente, em matéria de

proibição de cobrança de quaisquer encargos, que não aqueles previstos pelo próprio

quadro do SNS;

264. Isto é, ao escrupuloso cumprimento das taxas e preços de cuidados de saúde

administrativamente fixados.

265. Ora, nos termos do art. 25.º n.º 2 do Estatuto do SNS, “Os limites mínimos e

máximos dos preços a cobrar pelos cuidados prestados no quadro do SNS são

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estabelecidos por portaria do Ministro da Saúde”, de onde decorre a impossibilidade

de virem os próprios prestadores cobrar aos utentes quaisquer valores para além

daqueles preços;

266. Importando, assim, verificar da admissibilidade da cobrança pela ULSM de uma taxa

de € 5,00 pelo fornecimento aos utentes das imagens dos exames realizados em

suporte digital, à luz do quadro legal vindo de apresentar.

III.6.2. Do enquadramento da realidade verificada

267. Na exposição subscrita pelos profissionais médicos do Centro de Saúde da Senhora

da Hora era feita referência a uma alegada cobrança de uma taxa, no valor de € 5,00,

pelo fornecimento das imagens em suporte digital, o que estaria a dificultar o recurso

dos utentes a outros médicos fora da ULSM.

268. Posteriormente, no decurso da inquirição dos referidos profissionais médicos

constatou-se que a mesma havia deixado de ser cobrada aos utentes pela ULSM.

269. Por seu turno, a ULSM na sua resposta ao pedido de informação da ERS, confirmou

haver procedido a uma tal cobrança, a qual se teria verificado entre “11/06/2007 e

03/11/2008”10 e que desde “04/11/2008 se encontra autorizado fornecimento gratuito

de cópias dos exames em suporte magnético, quando se trate de um pedido inicial de

suporte magnético associado a um dado exame [pelo contrário] sempre que o utente

venha a necessitar e requisitar mais do que uma cópia, é informado que esta está

associada uma taxa de 5,00€”11.

10 Cfr. Cópia do Procedimento n.º 1037.0, de 11 de Junho de 2007, que instituiu a cobrança de

uma taxa de € 5,00 pelo fornecimento das imagens em suporte magnético, a qual foi junta pela

ULSM em anexo à sua resposta de 30 de Março de 2009.

11 Um tal procedimento consta da Informação n.º 57/LM/CA da ULSM, de 27 de Outubro de 2008,

aprovada mediante Deliberação do Conselho de Administração da ULSM, de 4 de Novembro de

2008, que procedeu igualmente à anulação do procedimento anteriormente existente sobre essa

matéria, passando a isentar do pagamento de taxa o 1.º pedido de cópia de suporte digital – Cfr.

cópia da Informação n.º 57/LM/CA da ULSM junta pela ULSM, em anexo à sua resposta de 30 de

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270. Faz desde já notar, que aqui apenas se analisará as consequências da cobrança

da referida taxa, quando se trate de um pedido inicial de suporte magnético relativo

aos resultados dos exames, aceitando-se como admissível a sua cobrança quando se

trate de segundas vias.

271. E quanto a tais taxas cobradas enquanto pedido inicial do suporte magnético,

recorde-se que a ULSM procedeu, ainda nessa data, ao envio de dados, totais e

desagregados por Centro de Saúde, do número de utentes, e respectivo valor, a quem

foi cobrada durante o período de “11/06/2007 e 03/11/2008” a referida taxa de € 5,00.

272. Segundo os dados disponibilizados, foi cobrada a referida taxa a 283 utentes (no

valor total de € 1.415) no ano de 2007, e a 532 utentes (no valor total de € 2.660) no

ano de 2008.

273. Ora, ao impor o pagamento de taxas pelo pedido inicial de fornecimento de

películas, cuja cobrança não se encontra estabelecida legalmente, a ULSM

desrespeitou os preços de cuidados de saúde administrativamente fixados, cujo

cumprimento incumbe à ERS velar, nos termos a alínea e) do artigo 37.º do Decreto-

Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio (e, anteriormente, nos termos da alínea b) do n.º 4 do

artigo 25.º Decreto-Lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro);

274. De onde decorre, claro está, uma violação das regras (financeiras) de acesso aos

cuidados de saúde;

275. E a concomitante violação, desde logo, dos interesses financeiros dos utentes de

cuidados de saúde que foram afectados por tal prática;

276. Bem como de outros direitos e interesses dos utentes, como sejam o direito à

segunda opinião que apenas possui substrato idêntico quando os mesmos são

portadores de todos os elementos (designadamente clínicos) que possibilitem a

obtenção de tal outra opinião sobre os seus estados de saúde.

277. E no caso em concreto, refira-se que os próprios profissionais de saúde do Centro

de Saúde da Senhora da Hora referiram a existência de situações em que os utentes

Março de 2009. Veja-se igualmente a este respeito o Procedimento n.º 1037.1, de 21 de Novembro

de 2008.

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se viram prejudicados, por exemplo, em situações de juntas médicas por não serem

portadores dos resultados dos exames que permitiriam o correcto ajuizar dos seus

estados de saúde;

278. Pelo que tal procedimento é, então e em conclusão, limitativo da totalidade dos

efeitos e benefícios que para os utentes normalmente resultam do acesso aos

cuidados de saúde.

279. Faz-se, contudo, notar que a ULSM já pôs termo a um tal procedimento de

cobrança, não se encontrando actualmente, de acordo com a informação prestada

quer pelos exponentes quer pela própria ULSM, a desrespeitar os preços

administrativamente fixados.

280. Por outro lado, é conhecida a real dimensão da situação descrita, uma vez que a

ULSM forneceu os dados relativos ao número total de utentes a quem foi cobrada uma

tal taxa durante os anos de 2007 e 2008, sendo que o referido valor ascende, como

visto, a € 1.415 no ano de 2007 e a € 2.660 no ano de 2008.

281. Pelo que importará igualmente garantir que a ULSM proceda ao ressarcimento dos

utentes que, durante o período supra referido, haja efectivamente lesado com tais

práticas.

III. 7 Da violação dos critérios de acesso aos cuidados de saúde nos termos do Decreto-Lei n.º 127/2009 e enquadramento da realidade verificada

282. Recorde-se que o direito de acesso aos cuidados de saúde também se encontra

actualmente conformado pelo Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio.

283. Efectivamente, e no que concretamente se refere ao objectivo regulatório da ERS

de assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, as

alíneas a) e b) do artigo 35.º Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, estabelecem

que é incumbência da Entidade

a) Assegurar o direito de acesso universal e equitativo aos serviços

públicos de saúde ou publicamente financiados; e

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b) Prevenir e punir as práticas de rejeição discriminatória ou infundada

de pacientes nos estabelecimentos públicos de saúde ou

publicamente financiados.

284. Outrossim, é estabelecido, na alínea b) do n.º 2 do artigo 51.º do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de Maio, que

“Constitui contra-ordenação, punível com coima de € 1000 a € 3740,98 ou

de € 1500 a € 44 891,81, consoante o infractor seja pessoa singular ou

colectiva:

[…]

b) A violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde,

incluindo a violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS e a

indução artificial da procura de cuidados de saúde; […]”.

285. O Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, veio, então, tipificar como ilícito contra-

ordenacional comportamentos que consubstanciem uma violação das regras relativas

ao acesso aos cuidados de saúde;

286. Designada mas não limitadamente quando os mesmos representem uma violação

da igualdade e universalidade no acesso ao SNS.

287. Ora, já se viu que da internalização de MCDT não pode resultar para os utentes a

sujeição a tempos de espera significativamente superiores àqueles a que os mesmos

estariam sujeitos na ausência de um tal procedimento, com a consequente afectação

do respectivo direito de acesso aos cuidados de saúde em tempo útil e clinicamente

aceitável.

288. Tal como não parecerá admissível que apenas por razão directa de uma tal

internalização resultem para os utentes residentes na área de influência da ULSM a

sujeição a tempos de espera superiores àqueles a que estão sujeitos os utentes

residentes, desde logo, nos concelhos limítrofes, com a consequente afectação do

respectivo direito de acesso universal e equitativo aos serviços públicos de saúde e

publicamente financiados.

289. Em tais situações, verifica-se uma violação pela ULSM das suas obrigações

relativas ao acesso dos utentes aos cuidados de saúde.

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290. Decorre do exposto que nas situações em que a ULSM não possa prestar os

cuidados de saúde em tempo útil e clinicamente aceitável, deve de forma efectiva e

imediata proceder à entrega aos utentes das credenciais do SNS, de forma a que os

mesmos possam recorrer aos cuidados de saúde prestados pelos prestadores

convencionados em tempo útil e clinicamente aceitável.

291. Contudo, a violação das regras de acesso aos cuidados de saúde, e

designadamente da igualdade e universalidade no acesso ao SNS não se encontrava

tipificada enquanto ilícito contra-ordenacional até ao momento da entrada em vigor do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio.

292. Ou seja, e apesar da violação de tais regras de acesso serem já preocupações

regulatórias da ERS ao abrigo do anterior Decreto-Lei n.º 309/2003, de 10 de

Dezembro, apenas com o referido Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, foram as

mesmas erigidas à categoria de ilícito contra-ordenacional punível com coima;

293. Sendo que, nos termos do n.ºs 1 e 2 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27

de Outubro, na redacção resultante da Lei n.º 109/2001, de 24 de Dezembro, (Regime

Geral das Contra-Ordenações e Coimas – RGCO)

“1 – A punição da contra-ordenação é determinada pela lei vigente no

momento da prática do facto ou do preenchimento dos pressupostos de

que depende.

2 - Se a lei vigente ao tempo da prática do facto for posteriormente

modificada, aplicar-se-á a lei mais favorável ao arguido, salvo se este já

tiver sido condenado por decisão definitiva ou transitada em julgado e já

executada”.

294. Ora, os factos supra apresentados são anteriores a 26 de Junho de 2009, data de

entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, não sendo,

consequentemente, subsumíveis à ilicitude contra-ordenacional a que agora poderiam

estar sujeitos;

295. O que ademais constitui a imediata decorrência do princípio fundamental da

proibição de aplicação retroactiva de lei contra-ordenacional.

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296. Assim, a presente análise dos factos faz-se somente à luz do referido objectivo

regulatório de assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de

saúde;

297. O qual consubstanciava já, à data dos mesmos, uma atribuição da ERS por lhe

incumbir, entre outras competências,

(i) zelar pelo respeito pela liberdade de escolha nas

unidades privadas de saúde;

(ii) promover a garantia do direito de acesso universal e

equitativo aos serviços públicos de saúde; e

(iii) prevenir e punir os actos de rejeição discriminatória ou

infundada de pacientes nos estabelecimentos do SNS;

298. Enquanto concretizações da garantia do direito de acesso universal e igual a

todas as pessoas ao serviço público de saúde – cfr. alíneas a), b) e d) do n.º 2 do

artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro.

299. E não sendo, então e pelas razões vindas de referir, os factos subsumíveis ao

referido tipo contra-ordenacional estabelecido na al. b) do n.º 2 do artigo 51.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

300. Deve, contudo, sublinhar-se que a manutenção pela ULSM, de um comportamento

de não prestação dos cuidados de saúde, in casu realização de MCDT, nas melhores

condições, que devem corresponder àquelas que, na ausência do procedimento de

internalização de exames, seriam praticadas nos prestadores privados

convencionados, após a data de entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27

de Maio, poderá constituir uma violação (futura) de regras de acesso;

301. Sendo, então, apto à sua consideração, atento o enquadramento exposto, já

enquanto consubstanciador de ilícito contra-ordenacional.

III. 8 Da violação da instrução emitida em 19 de Julho de 2007

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302. Rememora-se, mais uma vez, que já em momento anterior a ERS teve

oportunidade de se pronunciar sobre o procedimento adoptado pela ULSM de

internalização de MCDT´s, in casu na sequência de exposições que tinham por

objecto concreto a valência de análises clínicas (patologia clínica);

303. Em tal momento, a ERS concluiu pela necessidade de emissão de uma instrução

dirigida à ULSM, a qual foi supra transcrita;

304. E da qual resultava para a ULSM, de forma directa e imediata, o dever de

(i) assegurar a prestação de cuidados de saúde aos utentes do SNS,

inscritos nos Centros de Saúde de Matosinhos, quando exista

internalização de MCDT em função da capacidade instalada dessa

unidade de saúde, se realiza nas melhores condições em termos de

qualidade, celeridade, eficiência, as quais não poderão ser inferiores

às que teriam lugar se os utentes pudessem continuar a recorrer a

operadores privados convencionados; e

(ii) entrega ao utente da credencial correspondente (P1), para que

estes possa escolher livremente o prestador convencionado para a

realização dos MCDT prescritos, quando não possuísse capacidade

para a realização dos MCDT nas melhores condições, que não

poderão ser inferiores às praticadas nos prestadores privados

convencionados;

305. O que significa que a ULSM já era conhecedora e sobre si impendia, em resultado

da instrução emitida pela ERS, o dever de não sujeitar os utentes a tempos médios de

espera manifestamente superiores àqueles que devem ser o padrão mínimo aceitável,

e que seria e é aquele praticado no sector convencionado do SNS;

306. Pelo que ao não respeitar esse dever, e para além das consequências que daí

resultam para a violação dos direitos dos utentes, a ULSM desrespeitou a anterior

instrução emitida pela ERS;

307. E é por tal facto que ainda mais deverá ser censurado o comportamento da ULSM;

308. Tal como deverá ser também, e para além dos factos e sua análise aqui efectuada,

serem reiterados e dados por reproduzidos os factos e considerações produzidas na

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56

anterior deliberação que aprovou a instrução emitida à ULSM no referido processo

ERS/017/07;

309. A que acresce a advertência expressa

(i) para além da já supra referida e relativa ao facto de a manutenção

de comportamentos violadores das regras relativas ao acesso aos

cuidados de saúde, incluindo a violação da igualdade e

universalidade no acesso ao SNS poder ser consubstanciador de

ilícito contra-ordenacional previsto e punido na alínea b) do n.º 2 do

artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 127/2009;

(ii) a instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a

alínea b) do n.º 1 do artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27

de Maio, configura como contra-ordenação punível in casu com

coima de € 1000 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de

decisão da ERS que, no exercício dos seus poderes, determinem

qualquer obrigação ou proibição”.

III. 9 Conclusões

310. De toda a análise vinda de apresentar, é possível concluir-se que a implementação

pela ULSM de um procedimento de internalização de MCDT implica para uma tal

entidade o dever de assegurar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde nas

melhores condições, que devem corresponder àquelas que seriam ou são praticadas

nos prestadores privados convencionados do SNS.

311. Ora, e tendo por base os dados relativos ao tempo médio de espera para a

realização de exames no HPH que fossem prescritos nos respectivos Centros de

Saúde, no dia 20 de Março de 2009, o mesmo seria de:

(i) 25 dias para o TAC cervical e abdomino-pélvico;

(ii) 3 meses e 24 dias para o TAC Osteoarticular;

(iii) 4 meses e 4 dias para as densitometrias; e

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(iv) 5 meses para as mamografias.

312. E quanto ao tempo médio de espera contado desde a data da sua efectiva

realização até à disponibilização dos resultados e sua efectiva remessa ao Médico de

Família dos utentes, de acordo com os dados fornecidos a média geral de todos os

Centros de Saúde da ULSM, durante o ano de 2007, foi de 27,1 dias, e no ano de

2008 de 26,8 dias.

313. Por outro lado, embora a média geral durante o ano de 2008 tenha sido de 26,8

dias – o que já só por si se apresenta como significativa – faz se notar que em alguns

dos Centros de Saúde e para alguns dos referidos MCDT, o tempo de espera foi ainda

superior (v.g. o tempo médio de espera para a disponibilização dos resultados de TAC

na USF Oceanos que foi de 45,7 dias, de RX na USF Santa Cruz do Bispo que foi de

70,4 dias e de RX na USF Senhora da Hora que foi de 42,6 dias).

314. Ora, tais tempos de espera são claramente violadores das melhores condições e

que, como visto, são de

(i) marcação de TAC coluna lombar em 2 dias e fornecimento dos

resultados em 4 dias úteis;

(ii) marcação de RX pulmonar perfil sem qualquer lista de espera e

fornecimento dos resultados entre 6 e 8 dias úteis;

(iii) marcação de mamografias entre 0 e 5 dias e fornecimento dos

resultados entre 3 e 8 dias úteis; e

(iv) marcação de densitometrias entre 0 e 8 dias e fornecimento dos

resultados entre 3 e 8 dias úteis.

315. Nesse sentido, e como não pode deixar de conhecer a ULSM em resultado, aliás,

da instrução que já lhe havia sido emitida e cuja violação aqui também se constata,

naquelas situações em que não possua capacidade para a prestação de cuidados de

saúde aos seus utentes nas melhores condições de acesso, deve proceder à entrega

aos utentes da credencial do SNS para que estes possam recorrer aos prestadores

privados convencionados;

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316. Caso contrário, os procedimentos adoptados pela ULSM constituirão uma violação

do dever de respeito da liberdade de escolha dos utentes que, nos termos da alínea d)

do artigo 35.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, incumbe à ERS assegurar.

317. Mas, a prestação de cuidados de saúde pela ULSM que não assegure as melhores

condições de acesso, constituirá ainda, nos termos da alínea a) do artigo 35.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, uma violação do direito de acesso equitativo

aos serviços públicos de saúde e publicamente financiados;

318. Tal como o constituirá a não entrega de credenciais aos utentes em tais situações

de não realização dos exames nas melhores condições e em respeito da equidade de

acesso;

319. Que, ademais, e como já visto, serão susceptíveis de constituir, nos termos da

alínea b) do n.º 2 do artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, ilícito

contra-ordenacional por violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de

saúde, incluindo a violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS.

320. Por outro lado, resulta ainda de toda a análise supra que a prestação de cuidados

de saúde pela ULSM não pode sujeitar os seus utentes a condições de acesso

inferiores àquelas a que estão sujeitos os utentes residentes nas restantes regiões do

País;

321. Uma vez que em tal caso, o procedimento constituirá, igualmente e nos termos da

alínea a) do artigo 35.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, uma violação do

direito de acesso equitativo aos serviços públicos de saúde e publicamente

financiados, que à ERS incumbe assegurar;

322. E consequentemente será, em igual medida, susceptível de constituir ilícito contra-

ordenacional.

323. Por último, a ULSM ao exigir o pagamento de taxas, pelo pedido inicial de

fornecimento de películas, cuja cobrança não se encontrava estabelecida legalmente,

desrespeitou os preços de cuidados de saúde administrativamente fixados, cujo

cumprimento incumbe à ERS velar, nos termos a alínea e) do artigo 37.º do Decreto-

Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio (e, anteriormente, nos termos da alínea b) do n.º 4 do

artigo 25.º Decreto-Lei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro);

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324. Importando, dessa forma assegurar, o reembolso dos utentes do SNS aos quais

tenha sido cobrada, durante o período compreendido entre 11 de Junho de 2007 e 3

de Novembro de 2008, uma taxa de € 5,00 pelo pedido inicial de fornecimento das

imagens dos exames realizados em suporte digital.

IV. AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

325. A presente decisão foi precedida da necessária audiência escrita de interessados,

nos termos do art. 101.º n.º 1 do CPA, tendo a ULSM sido chamada a pronunciar-se

relativamente ao projecto de deliberação da ERS oportunamente notificado.

IV. 1. Da pronúncia da ULSM

326. A ULSM exerceu o seu direito de pronúncia através do ofício que deu entrada na

ERS no dia 11 de Agosto de 2009 (doravante pronúncia da ULSM), que se dá aqui por

integralmente reproduzida.

327. Veio, assim e em suma, a ULSM alegar que

(i) tem sido constante o esforço do presente CA da ULSM para

melhorar as condições de acesso à marcação e disponibilização dos MCDT

prescritos nos Centros de Saúde, referindo a título de exemplo a

contratualização com o Departamento de MCDT de tempos máximos para

realização e disponibilização dos resultados de MCDT, bem como o recurso

a prestadores externos para cumprir tais prazos;

(ii) o recurso a prestadores externos é possível, nos termos dos seus

procedimentos 866.0 e 885.1, quanto a exames urgentes ou quando se

verifique não haver capacidade de resposta em tempo útil;

(iii) verificaram-se atrasos na realização e disponibilização de resultados

em casos pontuais e nos valores médios encontrados;

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(iv) apesar disso, muitos exames, e concretamente de imagiologia,

foram realizados no exterior, como resulta a queda significativa na

internalização de tais exames nos anos de 2007 e 2008;

(v) daí seria possível depreender que os MCDT internalizados

a. ou teriam tido resposta urgente;

b. ou corresponderiam a situações em que se

considerou que o atraso não teria repercussões

negativas para a evolução clínica do doente,

exemplificando com os exames realizados por

questões de vigilância de rotina e de

acompanhamento em consultas marcadas

frequentemente a espaços de mais de 6 meses;

(vi) importaria, assim, analisar os casos em que a ULSM não tivesse

cumprido as regras de enviar para o exterior o que não fosse assumido

como resposta em tempo útil da ULSM, pelo que discorda de ter de reportar

tempos semelhantes aos prestadores externos ou que os seus tempos de

resposta tenham que ser comparados com o sector convencionado/privado

para imagiologia e patologia clínica da área metropolitana do Porto;

(vii) tanto mais que em tal área de actividade e geográfica se verificará

uma forte concorrência de mercado e um alegado excesso de oferta face

às necessidades da procura;

(viii) apesar de compreender o direito de escolha do doente, considera

que “[…] os seus conhecimentos são limitados tecnicamente para apreciar

a qualidade do serviço prestado ainda que sob uma capa de simpatia […]”,

razão pela qual “[…] a ULSM não prescinde da sua obrigação de escolher

os prestadores privados com toda a transparência que esse recrutamento

obriga de modo a assegurar mais eficiência sem esquecer qualidade do

resultado final”, alegando para o efeito a defesa do interesse público e dos

utentes, bem como do interesse estratégico da ULSM em integrar toda a

imagiologia no seu arquivo de imagem para que esteja sempre disponível

para observação directa pelos Centros de Saúde e pelo HPH, o que só

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pode ser feito com acordos com prestadores que assumam esse

compromisso e possuam a tecnologia necessária;

(ix) a imposição de reembolso dos montantes cobrados a utentes a

título de taxa pelo fornecimento das imagens dos exames realizados em

suporte digital não merece contestação, pelo que a sua concretização

apenas estaria dependente da capacidade de identificação dos doentes em

causa;

(x) apesar das pressões vindas de “[…] interesses instalados e

facilmente identificados dentro e fora da ULSM […] que tentam difundir que

os utentes dos CS da ULSM estão em desigualdade de acesso a cuidados

de saúde […]”, o actual CA da ULSM apresentará o “[…] maior empenho

[…] em resolver as questões que foram apresentadas […]”;

(xi) o CA e o Departamento de MCDT estão disponíveis para informar a

ERS das medidas tomadas assim que for deliberada e notificada a decisão

final;

tal como, e por último

(xii) já seria intenção do próprio CA da ULSM “[…] monitorizar os tempos

sugeridos”, numa referência à instrução projectada de dever de informar a

ERS, numa base mensal e durante um período inicial de 1 (um) ano, de um

conjunto de informações relativamente a todos os MCDT´s prescritos pelos

Centros de Saúde integrados na ULSM, designada mas não limitadamente

TAC’s, Raio X, Densitometrias, Mamografias e Análises Clínicas, que

permitirão aferir da capacidade de resposta da ULSM para a marcação e

realização de tais exames, bem como do próprio respeito, pela mesma, do

direito de acesso equitativo aos serviços públicos de saúde e publicamente

financiados que à ERS incumbe assegurar.

IV. 2 Análise

328. Refira-se, ab initio, que os argumentos apresentados pela ULSM foram

devidamente considerados e ponderados pela ERS;

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329. Ainda que dos mesmos não tenha resultado uma alteração no sentido da decisão

que a ERS ora entende emitir.

330. E isto porque os argumentos aduzidos

(i) não põem em causa o quadro factual apresentado pela ERS no seu

projecto de deliberação;

(ii) não encontram suporte no quadro legal aplicável e devidamente

apresentado supra; para além de que

(iii) encontram-se em directa contradição com os elementos de prova

constantes dos autos.

331. Em primeiro lugar, e no que respeita ao argumento relativo ao facto de que o

recurso a prestadores externos tem sido possível na ULSM quanto a exames urgentes

ou quando se verifique não haver capacidade de resposta em tempo útil;

332. Complementado pelo argumento de que, mau grado os atrasos em casos pontuais

e nos valores médios encontrados, muitos exames, e concretamente de imagiologia,

foram realizados no exterior nos anos de 2007 e 2008, pelo que se deveria

depreender que os MCDT internalizados

a. ou teriam tido resposta urgente;

b. ou corresponderiam a situações em que se

considerou que o atraso não teria repercussões

negativas para a evolução clínica do doente,

exemplificando com os exames realizados por

questões de vigilância de rotina e de

acompanhamento em consultas marcadas

frequentemente a espaços de mais de 6 meses;

333. O que se faz notar é que tal alegação não tem suporte nos elementos que a

própria ULSM forneceu à ERS.

334. Efectivamente, desde logo não se considera aceitável que seja alegado que o

tempo médio de espera se encontre “distorcido” ou “adulterado” pelo facto de alguns

exames se realizarem num quadro de vigilância de rotina e de acompanhamento, que

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assenta em consultas marcadas frequentemente a espaços de mais de 6 meses e,

consequentemente, a própria marcação e realização dos exames ser objecto de

consentâneo espaçamento temporal.

335. E isto porque a ERS teve em consideração, na aferição dos tempos de marcação e

realização dos MCDT

(i) a própria opinião dos profissionais médicos do Centro de Saúde que foram

inquiridos em sede de instrução, e que seguramente saberão distinguir o

que seja, por um lado, tempo de espera para realização de um exame e,

por outro lado, marcação para realização diferida no tempo de um exame,

por forma a que este último seja, por exemplo, realizado em data próxima

de consulta de vigilância ou de rotina igualmente agendada para

determinado momento futuro; bem como

(ii) o Aviso, assinado pela Directora do Centro de Saúde e datado de 07/01/09,

relativo à “Avaliação dos Tempos de Espera para a Marcação de MCDT”

naquela data, nos termos do qual os TAC’s Osteoarticulares, as

densitometrias e as mamografias prescritos naquela data (07/01/09) seriam

marcados para Maio de 2009, enquanto que os Raio X e os TAC’s Gerais

para Fevereiro de 2009;

336. Por outro lado, e pelo pedido de elementos de 27 de Fevereiro de 2009, a ERS

solicitou informações e esclarecimentos à ULSM, e concretamente a informação sobre

qual a concreta data para a qual seria marcada no HPH a realização de cada um dos

referidos MCDT, a um utente a quem os mesmos fossem prescritos, em 26 de

Fevereiro de 2009;

337. Tendo a ULSM referido que o sistema de marcação não permitia um tal exercício

de marcação com base em data passada, pelo que tendo por base a data de 20 de

Março de 2009 para o referido exercício, os resultados seriam aqueles constantes da

Tabela que, mais uma vez, se apresenta:

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Exercício relativo à data para a qual seriam marcados no HPH os MCDT prescritos em 20 de Março de 2009

Fonte: Dados fornecidos pela ULSM, na sua resposta de 30 de Março de 2009.

338. Ou seja, tanto nada tem que ver com alegadas situações de exames com

marcação voluntária e conscientemente diferida no tempo para serem realizados em

momento prévio a consultas de vigilância de rotina e de acompanhamento;

339. Mas sim com as efectivas datas (e consequentes reais tempos de espera

associados) para as quais seria, em dado momento X, possível a marcação e

realização dos MCDT em questão;

340. E é também por isso que tampouco se compreende a alegação da ULSM que

referiu discordar ter de reportar tempos semelhantes aos prestadores externos ou que

os seus tempos de resposta tenham que ser comparados com o sector

convencionado/privado para imagiologia e patologia clínica da área metropolitana do

Porto.

Data de Prescrição 20-03-09

Exame Marcação Tempo de espera

Mamografias 20-08-2009 5 meses

Densitometrias 24-07-2009 4 meses e 4 dias

RX (osteo articular –

tórax, tornozelo, coluna,

etc.)

23-03-2009 3 dias

TC Neurorradiologia

(cerebral 24-03-2009 4 dias

TC Radiologia (cervical,

abdomino-pélvico, etc.) 14-04-2009 25 dias

TC osteoarticular

(joelho, mãos, pés, etc.) 13-08-2009 3 meses e 24 dias

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341. Desde logo, é no mínimo censurável que a ULSM aparente pretender beneficiar do

que se poderia apelidar de um “direito ou prorrogativa de fazer esperar o utente”, sem

que sequer tenha tido a completude de apresentar uma qualquer razão – fáctica ou

jurídica – onde julgasse assentar essa sua “prorrogativa”.

342. Remete-se integralmente a ULSM, quanto a este seu argumento, para o quadro

constitucional e legal supra apresentado e conformador do direito de acesso dos

utentes aos cuidados de saúde.

343. E também se sublinha, mais uma vez, que o facto de a ULSM assentar num

modelo de organização distinto dos serviços prestadores de cuidados de saúde

primários e diferenciados (hospitalares) não lhe permite invocar um posicionamento

distinto que possa afectar tal direito fundamental de acesso dos utentes aos cuidados

de saúde em tempo útil e nas melhores condições;

344. Tal como se recorda que de um modelo de prestação global de cuidados de

saúde, sem fraccionamento, ao nível da gestão, entre os cuidados primários e os

cuidados hospitalares, não decorre – nem poderia decorrer, sob pena de se deverem

extrair as necessárias consequências no tocante à violação do quadro constitucional

conformador do SNS por tal modelo – uma minoração ou afectação dos direitos dos

utentes do SNS na área de influência do referido modelo.

345. E é assim que se o artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 207/99, de 9 de Junho, que criou a

ULSM, estatui que “São atribuições da ULS a prestação global de cuidados de saúde

à população da sua área de influência, directamente através dos seus serviços ou

indirectamente através da contratação com outras entidades […]”;

346. O artigo 5.º do mesmo diploma estabelece, de forma clara, que “A actividade da

ULS necessária ao exercício das suas atribuições será desenvolvida de modo

integrado, atenta a sua organização interna e as demais entidades prestadoras de

cuidados de saúde da área, com base em contratos-programa por ela propostos

e aprovados pela Administração Regional de Saúde do Norte, através da

Agência de Acompanhamento dos Serviços de Saúde, com respeito pelas linhas

orientadoras definidas nos planos estratégicos da política de saúde de nível

nacional e regional.” – destaque nosso.

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347. Também daqui decorre que a ULSM não pode invocar, do seu modelo de gestão

distinto, um posicionamento autónomo no âmbito do SNS, seja no que respeita à sua

própria área de influência, seja no tocante à política de saúde definida a nível nacional

e regional.

348. E portanto afasta-se a alegada crítica da ULSM ao facto de os seus tempos de

espera serem comparados com aqueles verificados no concelho limítrofe (Porto),

porquanto tanto equivaleria a dotar a ULSM de um benefício de não comparação da

sua actuação e, consequentemente, de um benefício de ausência de escrutínio sobre

o seu desempenho no que respeita às condições de acesso dos utentes aos cuidados

de saúde.

349. Outrossim, não se pode aceitar a crítica apresentada pela ULSM quanto ao facto

de na área do referido concelho limítrofe (Porto) se verificar uma forte concorrência de

mercado e um alegado excesso de oferta face às necessidades da procura, de onde

resultariam – depreende-se de tal argumento da ULSM – tempos de resposta

“excessivamente” reduzidos.

350. Seguramente que a ULSM não pretenderia ou defenderia que tal comparação

devesse efectuar-se com base numa qualquer outra área geográfica, desde que

prejudicada, em termos de acesso aos cuidados de saúde, por uma estrutura de

mercado concorrencial caracterizada por monopólio ou escassez de oferta.

351. A este respeito, recorda-se mais uma vez que, da adopção do procedimento de

internalização de MCDT pela ULSM não pode resultar a sujeição dos utentes

residentes na área de influência da ULSM, a tempos de espera significativos e

superiores àqueles a que estão sujeitos os utentes residentes desde logo, nos

concelhos limítrofes.

352. Devendo, a ULSM ter presente que foi considerada como termo de comparação a

área do Porto, precisamente, por se tratar do concelho limítrofe;

353. E por ser dado evidente que os utentes de Matosinhos se poderiam deslocar

facilmente, e sem custos acrescidos, aos prestadores localizados na área do Porto

para buscarem a satisfação das suas necessidades de cuidados de saúde.

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354. Assim, caso no futuro não seja assegurado aos utentes residentes na área de

influência da ULSM os cuidados de saúde nas melhores condições de acesso e

correspondentes àquelas praticadas nos prestadores privados convencionados;

355. Tal constituirá uma violação pela ULSM das suas obrigações relativas ao acesso

dos utentes aos cuidados de saúde, e mais concretamente do direito de acesso

equitativo aos serviços públicos de saúde e publicamente financiados, que à ERS

incumbe assegurar.

356. E consequentemente consubstanciará, como visto supra, ilícito contra-

ordenacional por violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde, a

qual inclui a violação da igualdade no acesso ao SNS.

357. Cumpre, a este propósito, ainda referir que a ERS havia já emitido uma instrução à

ULSM, em 19 de Julho de 2007 no âmbito do processo ERS/017/07, no sentido de

que a mesma deve de forma imediata assegurar que a prestação de cuidados de

saúde aos utentes do SNS, inscritos nos Centros de Saúde de Matosinhos, quando

exista internalização de MCDT em função da capacidade instalada dessa unidade de

saúde, se realiza nas melhores condições em termos de qualidade, celeridade,

eficiência, as quais não poderão ser inferiores às que teriam lugar se os utentes

pudessem continuar a recorrer a operadores privados convencionados.

358. Ora, também por tal facto se censura veementemente o argumento da ULSM

quando refere que discorda de ter de reportar tempos semelhantes aos prestadores

externos ou que os seus tempos de resposta tenham que ser comparados com o

sector convencionado/privado para imagiologia e patologia clínica da área

metropolitana do Porto;

359. Devendo-se expressamente advertir a ULSM das consequências legais que

poderão para si advir se pretender manter ou implementar um tal entendimento;

360. O qual constitui ilícito contra-ordenacional por desrespeito de norma ou de decisão

da ERS que, no exercício dos seus poderes, determinem qualquer obrigação ou

proibição.

361. Já relativamente às considerações da ULSM sobre o direito de escolha do doente

e à “relativização” que do mesmo faz em função de, como refere, os “[…]

conhecimentos [dos doentes serem] limitados tecnicamente para apreciar a qualidade

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do serviço prestado ainda que sob uma capa de simpatia […]”, esclarece-se que a

“assimetria de informação” que existe em todas as relações prestador – utente

constitui, de facto, um problema fundamental em saúde;

362. Mas que nunca poderá constituir fundamento para o objectivo ou resultado que a

ULSM pretende assim justificar e que consiste, como visto, na sua pretensa obrigação

de escolher os prestadores privados.

363. Na verdade, é entendimento pacífico que os mercados de serviços de saúde são

caracterizados pela informação imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem

relativamente à saúde e à doença: se por um lado é natural que um utente perceba a

existência de um sintoma, embora tipicamente não determine a origem e gravidade do

mesmo, será, normalmente, um profissional de saúde que determinará a gravidade do

problema e conduzirá o utente ao tratamento adequado.

364. Ora, é aqui que se verifica uma assimetria de informação que, concretamente,

resulta do facto de os profissionais de saúde serem portadores do conhecimento

exacto dos cuidados mais adequados às necessidades dos utentes: o utente comum

não será conhecedor da doença de que padece, e muito menos, dos tratamentos de

que necessita, sendo essa a primeira razão que o leva a recorrer a um prestador de

cuidados de saúde para o aconselhar.

365. Mas como o utente não possui informação ou toda a informação relevante, regra

geral delega a sua decisão sobre o que consumir e quando ou onde fazê-lo numa

outra entidade que possua essa informação: o agente da oferta (médicos e outros

profissionais de saúde).

366. E nesta delegação de direitos de propriedade sobre o consumo – ou seja, relação

de agência, em que aquele agente é o representante do principal (utente consumidor)

– é suposto que a tomada de decisão quanto ao consumo seja feita no respeito

integral das necessidades e preferências do utente consumidor, até porque este fica

na total dependência do agente, devido à acentuada assimetria de informação.

367. Todos estes (potenciais) efeitos devem ser contrariados de forma a reduzir a

incerteza na relação entre o prestador e o utente, o que só é possível existindo total

transparência na relação entre o prestador e o utente, quer aquando da informação de

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todos os actos, tratamentos, bens e serviços de cuidados de saúde que vão ser

utilizados, bem como aqueles que podem ou devem ser utilizados.

368. E de tanto resulta que a questão da assimetria de informação e seu impacto na

liberdade de escolha do prestador pelo utente nada tem que ver, então, com o

argumento de que “[…] a ULSM não prescinde da sua obrigação de escolher os

prestadores privados com toda a transparência que esse recrutamento obriga de

modo a assegurar mais eficiência sem esquecer qualidade do resultado final”;

369. O qual não encontra, assim, respaldo numa alegada defesa do interesse público e

dos utentes: a ULSM garantirá a referida defesa do interesse público e dos utentes,

neste aspecto particular da assimetria da informação, cumprindo o seu dever de

informação plena e transparente aos seus utentes;

370. E nunca através de uma avocação de um pretenso direito a substituir-se aos

utentes no exercício dos seus direitos de escolha dos prestadores de cuidados de

saúde naquelas situações em que a própria ULSM não possui capacidade de

satisfação das suas necessidades de cuidados de saúde;

371. E que vai ao ponto de eliminar totalmente tais direitos de escolha: pretenderia a

ULSM ordenar aos utentes onde, junto de quem e em que condições os utentes

deveriam realizar os MCDT que ela própria se revela incapaz de realizar ou incapaz

de realizar nas melhores condições;

372. O que é totalmente inaceitável, repetindo-se o já anteriormente referido: se a

criação da ULSM representa uma opção de política de saúde que, nos termos do n.º 1

do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, a ERS deve respeitar, tanto

não significa que por tal facto decorra uma eliminação total da liberdade de escolha

dos utentes, sob pena de violação da Lei de Bases da Saúde e à qual qualquer

interpretação do diploma criador da ULSM deve obediência por aquela primeira ser lei

de valor reforçado.

373. Efectivamente, nos termos das Bases V, n.º 5 e XIV, n.º 1 al. a), da Lei de Bases

da Saúde, só são admissíveis as limitações à liberdade de escolha dos utentes

decorrentes das regras de organização do sistema de saúde, o que permite que os

utentes da área de influência da ULSM sejam tratados de forma integrada no que

respeita aos cuidados de saúde primários e cuidados diferenciados ou hospitalares;

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374. Mas que claramente não permite que a ULSM pretenda escolher os prestadores

privados (que se pressupõem convencionados) aos quais os utentes se deverão dirigir

quando não encontrem na ULSM a satisfação das suas necessidades de cuidados de

saúde.

375. Por outro lado, seguramente não desconhecerá a ULSM que o n.º 1 do art. 12.º do

Decreto-Lei n.º 97/98, de 18 de Abril, que aprovou o Regime de Celebração de

Convenções, estabelece que

“as administrações regionais de saúde ficam obrigadas a proceder à

afixação, de modo visível ao público, das listas das entidades

convencionadas nos centros de saúde e respectivas extensões e nas áreas

de atendimento de doentes dentro dos hospitais […]”;

376. Sendo certo que em lado algum foi determinado que a ULSM se poderia eximir ao

respeito de tal norma, ou seja, que os Centros de Saúde e o HPH integrados na ULSM

não se incluiriam na definição de centros de saúde e hospitais utilizada por tal norma;

377. E, consequentemente, também assim se demonstra não assistir qualquer razão à

ULSM quando alega a sua pretensa obrigação de escolher os prestadores privados ao

abrigo da defesa do interesse público e dos utentes, os quais já se acham legalmente

conformados e garantidos;

378. E que assentam na garantia de acesso dos utentes do SNS à rede nacional de

prestação de cuidados de saúde através da necessária emissão e entrega aos utentes

das competentes credenciais dos SNS (vulgo P1);

379. E que permitem, então, o acesso aos prestadores privados e sociais

convencionados com o SNS, e cuja qualidade e meios técnicos são aferidos pelas

entidades competentes de forma a poderem adquirir e manter tal qualidade de

convencionados;

380. Competindo, apenas e somente, à ULSM dar conhecimento a tais entidades de

quaisquer situações que julgue não consentâneas com os parâmetros qualitativos e

técnicos exigidos;

381. E não o de simplesmente impedir ou dificultar em grau inaceitável o acesso pelos

utentes a tais prestadores.

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382. Assim remanescerá, apenas e então, o alegado interesse estratégico da ULSM em

integrar toda a imagiologia no seu arquivo de imagem para que esteja sempre

disponível para observação directa pelos Centros de Saúde e pelo HPH.

383. Ora, esse interesse, por mais defensável que seja, não poderá em qualquer caso

sobrepor-se a todo o quadro legal apresentado;

384. Nem tampouco justificar um prejuízo do acesso aos cuidados de saúde dos

utentes e/ou a eliminação da liberdade de escolha dos utentes;

385. Tal como não poderá alhear-se do dever da ULSM quer de considerar as demais

entidades prestadoras de cuidados de saúde da área, quer de necessariamente

compatibilizar e sujeitar à aprovação da ARS Norte as suas opções contratuais que,

em qualquer caso, deverão sempre respeitar a política de saúde de nível nacional e

regional.” – cfr. artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 207/99, de 9 de Junho.

386. Consequentemente, se a ULSM pretende prosseguir tal seu interesse estratégico

caberá ao seu conselho de administração encontrar formas alternativas e lícitas de o

executar e alcançar.

387. Cumpre, a este propósito, igualmente reiterar que da instrução emitida à ULSM,

em 19 de Julho de 2007 no âmbito do processo ERS/017/07, resultava para aquela o

dever de proceder à entrega aos utentes da credencial do SNS para que possam

recorrer aos prestadores privados convencionados naquelas situações em que a

ULSM não possua capacidade para a prestação dos cuidados de saúde nas melhores

condições de acesso.

388. Ora, também por tal facto se censura veementemente o argumento da ULSM de

pretender escolher os prestadores privados, que representa uma clara violação da

referida instrução já emitida, devendo-se expressamente advertir a ULSM das

consequências legais que poderão para si advir se pretender manter ou implementar

um tal entendimento;

389. Seja na perspectiva melhor enquadrada supra, de cometimento de ilícito contra-

ordenacional por violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde,

incluindo a violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS;

390. Seja na perspectiva, cumulativa com a anterior, de cometimento de ilícito contra-

ordenacional por desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no exercício dos

seus poderes, determinem qualquer obrigação ou proibição.

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391. Por último, cumpre referir que igualmente caberá ao conselho de administração da

ULSM saber lidar, recorrendo aos mecanismos legais existentes e que em cada caso

se revelem adequados, necessários e proporcionais, com as alegadas pressões

vindas de “[…] interesses instalados e facilmente identificados dentro e fora da ULSM

[…] que tentam difundir que os utentes dos CS da ULSM estão em desigualdade de

acesso a cuidados de saúde […]”;

392. O que, em qualquer caso, não constitui causa justificante para comportamentos e

práticas que constituem

(i) violação do dever de respeito da liberdade de escolha dos utentes;

(ii) violação do direito de acesso equitativo aos serviços públicos de saúde e

publicamente financiados;

(iii) violação dos preços de cuidados de saúde administrativamente fixados; e

(iv) violação de decisão da ERS emitida no exercício dos seus poderes.

393. Consequentemente, considera-se que os argumentos apresentados pela ULSM

não justificam uma qualquer alteração no sentido da decisão projectada e

oportunamente notificada;

394. Pelo que não somente se mantém uma necessidade de intervenção regulatória da

ERS, como in totum a referida decisão projectada e que agora é emitida a título

definitivo.

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V. DECISÃO

395. Tudo visto e considerado, o Conselho Directivo da ERS delibera, assim, nos

termos e para os efeitos do preceituado nos artigos 41.º, n.º 1 e 42.º, b) do Decreto-Lei

n.º 127/2009, de 27 de Maio, emitir uma instrução à Unidade Local de Saúde de

Matosinhos, EPE, nos seguintes termos:

a. A Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE deve proceder à

realização dos MCDT, prescritos nos Centros de Saúde nela

integrados, bem como à disponibilização dos resultados respectivos,

nas melhores condições de acesso, correspondentes àquelas que, na

ausência de um tal procedimento de internalização de exames,

seriam ou são praticadas nos prestadores privados convencionados

do SNS;

b. A Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE deve, nos casos em

que verifique não possuir capacidade para a realização de tais MCDT

nas melhores condições, proceder de forma efectiva e imediata à

entrega/envio ao utente do documento/credencial necessário para

que o mesmo possa recorrer aos serviços de prestadores privados

convencionados do SNS, o que designada mas não limitadamente

deve passar a suceder, imediatamente, no que respeita ao TAC

cervical e abdomino-pélvico, ao TAC Osteoarticular, às densitometrias

e às mamografias;

c. A Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE deve reembolsar

todos os utentes do SNS aos quais tenha sido cobrada, durante o

período compreendido entre 11 de Junho de 2007 e 3 de Novembro

de 2008, uma taxa de € 5,00 pelo pedido inicial de fornecimento das

imagens dos exames realizados em suporte digital;

d. A Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE deve,

(i) dar cumprimento imediato às alíneas a), b) e c) da

presente instrução, dando conhecimento à ERS.

(ii) dar conhecimento à ERS, no prazo de 30 (trinta) dias

corridos contados da data da presente deliberação, do(s)

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procedimento(s) adoptado(s) para cumprimento da

presente instrução, e igualmente daquele implementado

para reembolso aos utentes dos valores cobrados

indevidamente, com estabelecimento de graus de

execução temporal por referência ao número total de

utentes e ao valor global a reembolsar, e que não

deverá, em qualquer caso, prever um prazo superior a

90 dias (corridos) contados da data da presente

deliberação para a efectiva devolução total.

396. O Conselho Directivo da ERS delibera, ainda e igualmente nos termos e para os

efeitos do preceituado nos artigos 41.º, n.º 1 e 42.º, b) do Decreto-Lei n.º 127/2009, de

27 de Maio, proceder à abertura de um procedimento de monitorização da Unidade

Local de Saúde de Matosinhos, EPE, e no âmbito do qual esta última deverá passar

informar a ERS, numa base mensal e durante um período inicial de 1 (um) ano, e

relativamente a todos os MCDT´s prescritos pelos Centros de Saúde integrados na

ULSM, designada mas não limitadamente TAC’s, Raio X, Densitometrias,

Mamografias e Análises Clínicas:

(i) o tempo médio de espera, contado desde a data de prescrição pelo

Centro de Saúde até à sua efectiva marcação no HPH;

(ii) o tempo médio de espera, contado desde a data da sua marcação até à

sua efectiva realização no HPH;

(iii) o tempo médio de espera, contado desde a data da sua efectiva

realização até à disponibilização dos resultados e sua efectiva remessa

ao Médico de Família dos utentes;

(iv) número de Credenciais emitidas para a realização de MCDT por

impossibilidade de realização dos mesmos nas melhores condições; e

(v) identificação de todas as situações que devessem levar à emissão de

Credencial do SNS em que tanto não tenha ocorrido e justificação dos

concretos intervenientes para o sucedido.

397. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, configurando a alínea b) do n.º 1

do artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, como contra-ordenação

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punível in casu com coima de € 1000 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou

de decisão da ERS que, no exercício dos seus poderes, determinem qualquer

obrigação ou proibição”.

398. A versão não confidencial da deliberação será publicitada no sítio oficial da ERS

na Internet.

O Conselho Directivo