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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/006/2015; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. Em 19 de janeiro de 2015, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento da exposição subscrita por J., na qualidade de filho do utente J. G. e na qual são descritos vários factos relacionados com o processo de atendimento do referido utente, concretamente relacionados com o episódio de urgência pelo qual foi admitido no serviço de urgência do Hospital Beatriz Ângelo (HBA), estabelecimento prestador de cuidados de saúde inscrito no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 118240, integrado na SGHL - Sociedade Gestora do Hospital de Loures, S.A , inscrita no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 21869 (suspenso desde 19/01/2015 por atualização de dados do registo) e subsequentes transferências ocorridas entre esta unidade de saúde e o Hospital de Santa Maria,

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de

supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades

económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo

5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/006/2015;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 19 de janeiro de 2015, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou

conhecimento da exposição subscrita por J., na qualidade de filho do utente J. G. e

na qual são descritos vários factos relacionados com o processo de atendimento

do referido utente, concretamente relacionados com o episódio de urgência pelo

qual foi admitido no serviço de urgência do Hospital Beatriz Ângelo (HBA),

estabelecimento prestador de cuidados de saúde inscrito no Sistema de Registo de

Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 118240, integrado na

SGHL - Sociedade Gestora do Hospital de Loures, S.A , inscrita no Sistema de

Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 21869

(suspenso desde 19/01/2015 por atualização de dados do registo) e subsequentes

transferências ocorridas entre esta unidade de saúde e o Hospital de Santa Maria,

unidade integrada no Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. (CHLN) e inscrito no

SRER da ERS sob o n.º 113141.

2. Para uma análise preliminar da reclamação supra referida, foi aberto o processo de

avaliação n.º AV/023/2015.

3. No entanto, face à necessidade de uma averiguação mais pormenorizada do caso,

ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o Conselho de Administração

deliberou, por despacho de 04 de março de 2015, a abertura de processo de

inquérito registado sob o n.º ERS/006/2015.

I.2. Diligências

4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados

(SRER) da ERS relativa ao registo do Hospital Beatriz Ângelo - SGHL

- Sociedade Gestora do Hospital de Loures, S.A e do Hospital Santa

Maria – Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E.;

(ii) Pedido de informação enviado à SGHL - Sociedade Gestora do

Hospital de Loures, S.A - Hospital Beatriz Ângelo, por ofício de 01 de

abril de 2015, e análise da resposta endereçada à ERS em 16 de abril

de 2015;

(iii) Pedido de informação enviado ao Centro Hospitalar Lisboa Norte,

E.P.E - Hospital Santa Maria, por ofício de 01 de abril de 2015, e

análise da resposta endereçada à ERS em 08 de maio de 2015.

II. DOS FACTOS

II.1. Do teor da reclamação apresentada na ERS

5. Em 19 de janeiro de 2015, rececionou a ERS a exposição subscrita por J., na

qualidade de filho do utente J. G., dando conta de vários factos relacionados com o

processo de atendimento do seu pai, concretamente relacionados com o episódio

de urgência pelo qual foi admitido no serviço de urgência do Hospital Beatriz

Ângelo e subsequentemente transferido para p Hospital de Santa Maria, integrado

no Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. (CHLN).

6. Em síntese cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente:

“ […]

(i) [o utente em causa tem] 84 anos, lúcido, […] grau Incapacidade de 76%, […]

mobilidade reduzida (andarilho e ou muletas), […] Pacemaker, ferida crónica

no pé esquerdo, [encontra-se] a fazer Hemodiálise programada na Nephrocare

/Torres Vedras, a ser seguido clinicamente no Hospital Beatriz Ângelo nas

especialidades de Arritmologia, Consulta da Dor, Gastrenterologia, Medicina

Interna, Oftalmologia, Pneumologia e Trauma da Coluna;

(ii) no dia 27 de Dezembro de 2014 […] caiu em casa [tendo sido diagnosticada]

possível fractura do fémur, pelo que foi imobilizado e transportado para as

Urgências do Hospital Beatriz Ângelo em Loures;

(iii) após Triagem, passou para Ortopedia, onde foi encaminhado para fazer RX,

Análises Clínicas e Electrocardiograma;

(iv) após o resultado dos exames, [o exponente foi informado] que o [seu] pai teria

fracturado o Colo do Fémur, que ficaria internado e iria ser operado logo que os

efeitos do Varfine o permitissem […] [foi-lhe também pedido que] aguardasse,

pois iriam falar com o Nefrologista de Serviço [tendo o] enfermeiro de Serviço

de Ortopedia [informado que] o Hospital de “Referência” do hemodialisado [do

utente] era o de Santa Maria, e que teria que ser transferido para lá, o que

interpus sem sucesso, pois afirmou-me tratar-se de protocolos existentes, ao

que anuí, [mais informando] que seria transferido de imediato;

(v) foi operado no dia 31 de Dezembro de 2014 de manhã, ao que fui informado

que teria corrido dentro da normalidade, que tinha sido colocado um DHS, que

iria fazer exercícios de fisioterapia e que em breve voltaria andar;

(vi) no dia 07 de Janeiro de 2015 […] contactaram […] a minha esposa informando

que o meu pai iria ser transferido […] para o Hospital Beatriz Ângelo para

reabilitação;

(vii) dirigi-me ao HBA, e durante todo o trajecto […] fui ligando telefonicamente

para esta instituição [tendo sido informado] que o meu pai […] estaria nas

Urgências, ao que pedi para falar com alguém responsável para me informar o

que levou a tal situação […] informaram então que só o poderia fazer

pessoalmente;

(viii) chegado ao HBA, informaram-me […] que todas as transferências dão

sempre entrada pelas Urgências;

(ix) já nas Urgências, pedi para ser atendido pelo Médico Chefe de Serviço de

Urgências, que me informou que não tinham vagas de internamento […] e que

o meu pai tinha alta […] confrontei-o com o estado clinico geral de meu pai

(totalmente debilitado, acamado, com fractura do colo do fémur, dependente, a

fazer hemodiálise), dado que não apresentava condições físicas de ter alta,

assim como também não reunia no momento condições para lhe dar, em casa

ou noutro local, continuidade à sua reabilitação, e que a alta, conforme está

previsto, deve ser tratada atempadamente, para estarem reunidas todas as

condições […] respondeu-me que neste caso iria ser novamente transferido

para Santa Maria por não ter vagas, contudo iria primeiro ser avaliado pelo

Ortopedista de serviço na urgência;

(x) na Urgência de Ortopedia […] depois de avaliação do estado clínico, [fui

informado] que efectivamente não estavam reunidas as condições para ter alta,

porém devido à inexistência de vagas naquela instituição, iria ser transferido

novamente para Santa Maria, entrando pelas Urgências;

(xi) No dia 08/01 […] quando me disponibilizava para ir visitar o meu pai ao

HSMaria, a minha esposa recebe um telefonema (fixo) do HBA a informar que

o meu pai ainda não havia sido transferido, que ainda se encontrava nas

Urgências do HBA, e se nos poderíamos lá deslocar para resolver a situação;

(xii) dirigi-me ao Gabinete de Assistência Social que nos reencaminhou para a

Assistente das Urgências, que acompanhada da Médica Chefe do Serviço de

Urgência nos recebeu […] lamentaram o sucedido, que a situação do meu pai

já havia sido alvo de várias conversações entre os serviços dos dois hospitais,

que havia sido um grande erro do HSMaria transferir o doente sem primeiro

contactarem o HBA, que não havia vagas, e iria então ser transferido para o

HSMaria;

(xiii) pelas 19:00 foi então transferido, com indicação de internamento, muito

embora fosse entrar pelas Urgências;

(xiv) às 21:10 a minha esposa recebe telefonema […] do HSMaria, a informar que

o doente já havia sido avaliado, que tinha alta e que iriam mandá-lo para casa,

ao que minha esposa respondeu que era inaceitável, pois não estávamos em

casa, não estavam criadas as condições para o seu regresso a casa e ou a

outro local, e que no dia seguinte durante a manhã estaríamos em HSMaria

para resolver a situação, ao que o Assistente respondeu agressivamente e

ameaçando com o envio do doente e, que em caso necessário, seria chamada

a GNR local. Seguidamente, a minha esposa repetiu o que já havia sido

transmitido, e avisou para não o fazer, pois não estávamos nem estaríamos em

casa;

(xv) no dia 09/01 […] dirigimo-nos ao HSMaria, serviço Ortopedia, piso 6, para

contactarmos a Assistente Social […] explicados os factos, informou-nos que o

meu pai não se encontrava na Ortopedia, mas sim na Urgência, pelo que

contactou internamente com a Assistente da Urgência […] e indicou-nos o

trajecto;

(xvi) chegados à Assistência Social da Urgência, […] também se encontrava um

Senhor, que não se identificou, mas que presumimos de um colega se tratar

[…] repetimos os factos, adiantando a minha esposa que tinha recebido um

telefonema de má educação e ameaçador da referida Assistência, e logo o

Senhor se identificou como sendo o Autor, assim como [afirmou] que não só o

tinha dito como o tinha feito, enviando o doente a casa, porém como não

estava ninguém em casa, teria regressado novamente à Urgência;

(xvii) informou também que já tinha tudo tratado, e já com transporte, pois o meu

pai seguiria para Nephrocare /Torres Vedras para fazer Hemodiálise essa

tarde, seguindo depois para casa, para fazer Hemodiálise novamente no dia

seguinte (sábado), (2 diálises no espaço de 20 horas) e que dia 12/01 teria

consulta externa neste Hospital às 10 horas e lhe fariam também o penso no

pé esquerdo;

(xviii) interpus tudo, porém, depois de tomar conhecimento presencial do estado

lastimoso em que o meu pai se encontrava, deitado em maca há 43:30 horas,

cheio de dores, debilitado após ter andado de hospital em hospital, como se de

uma encomenda se tratasse, sem pequeno-almoço, a necessitar de cuidados

de higiene e com fralda suja, anuí (qualquer opção seria seguramente melhor

do que a que presenciei);

(xix) após insistência facultaram uma sopa ao meu pai, fizeram-lhe a higiene e

aguardei pelo transporte […] para Torres Vedras onde chegou cerca das 16:00

horas, onde saliento que o meu pai esteve deitado em maca 47:00 horas e

seguramente sem os cuidados temporais médicos e higiénicos necessários;

(xx) de seguida dirigi-me ao Centro de Saúde […] para falar com o Médico de

Família sobre a situação clínica em que meu pai se encontrava, e que

necessitava de Cuidados Continuados de Reabilitação, ao que me pediu o

Boletim de Alta ou de Acompanhamento Médico (primordial para o inicio do

processo), onde informei que nada me havia sido entregue;

(xxi) […] liguei para a Nephrocare /Torres Vedras a saber se os bombeiros que

efectuaram o transporte tinham entregado alguma documentação, ao que me

responderam negativamente […] constato, assim, que o meu pai foi despejado

e nem a Nota de Alta teve direito;

(xxii) no dia 12/01 […] dirigimo-nos à Consulta Externa de HSMaria, [onde foi

informado] que […] toda a documentação [tinha sido enviada] com o doente

para o HBAngelo, onde possivelmente a teriam extraviado, contudo [foram

dadas] novas cartas para entregar no Centro de Saúde e Fisioterapia;

(xxiii) seguidamente passámos para a Sala de Enfermagem, onde foram retirados

os agrafes e feito novo penso […] passaram para a ferida no pé-esquerdo, […]

[constatando] que o penso se encontrava repassado, que havia sido feito no

dia 06/01 […] e a ferida se encontrava cheia de tecidos mortos, ultrapassando

o razoável, quando estes pensos devem ser executados no mínimo duas vezes

por semana [foi entregue] Nota Alta / Transferência de Enfermagem para

entregar no Centro Saúde;

(xxiv) dirigi-me ao Centro de Saúde, onde entreguei ao Médico Família as cartas

do Ortopedista, que após leitura, me disse que já eram alguma coisa mas

faltava o Boletim de Alta ou de Acompanhamento Médico e que deveria

requerê-lo no respectivo Hospital […] entreguei na Enfermagem a respectiva

Nota de Alta de Enfermagem;

(xxv) cerca das 19:00, recebo em casa a visita de 2 Agentes da GNR local, a

informar que aqui haviam-se deslocado cerca das 03:00 do dia 09/01 […], a

pedido do Motorista da viatura de Transporte de Doentes, que viria já

referenciado do Hospital de Santa Maria, que possivelmente os residentes não

abririam a porta ou não estariam em casa para receber o doente, ao que

constataram não estar ninguém em casa para além dos cães. Desconheço, em

absoluto, a base Legal para tal procedimento;

(xxvi) dia 13/01 […] recebo chamada […] da Nephrocare /Torres Vedras, a

questionar-me novamente sobre a Nota de Alta ou de Acompanhamento

Médico, ao que reafirmei nada nos ter sido entregue […] disse-me então que

iria contactar telefonicamente o serviço de Ortopedia de Santa Maria […] vim a

ser informado que lhes teriam enviado, por fax, algumas informações, mas

nada de oficial.”.

7. Mais cumpre referir que na sequência das diligências encetadas pelo exponente

junto da Nephrocare/Torres Vedras, nomeadamente consubstanciadas no envio de

exposição de índole idêntica à enviada à ERS, teve aquela entidade oportunidade

de se pronunciar sobre os factos que diretamente a envolvem, concretamente:

“[…]

(i) a NephroCare não toma quaisquer decisões quando os seus utentes estão

sob a responsabilidade de outras unidades de saúde;

(ii) no dia 09 de Janeiro a clínica NephroCare Torres Vedras foi contactada

pelo Hospital de Santa Maria informando que o [utente] tinha alta nesse dia e

que, ainda nessa sexta-feira, teria de realizar tratamento de hemodiálise;

(iii) a NephroCare Torres Vedras imediatamente se disponibilizou a receber

o utente ainda nessa sexta-feira […] uma vez quê os [seus] dias de

tratamento são, habitualmente, as terças e quintas-feiras e sábados;

(iv) atendendo a que o utente tinha marcada para segunda, feira, dia

12/01/2015, consulta no Hospital, [era] necessário começar a acertar os dias

de tratamento e considerando que a última sessão de hemodiálise

programada decorrera no dia 07 de Janeiro […], na opinião da equipa da

NephroCare Torres Vedras, existia indicação para que o [utente] realizasse

tratamento no sábado, dia 10 de Janeiro, tendo presente que a próxima

sessão apenas teria lugar no dia 13 de Janeiro (terça-feira);

(v) sendo o tratamento de substituição da função renal por hemodiálise

essencial para a sobrevivência dos utentes, em determinadas situações

poderá ser particularmente difícil conseguir obter um equilíbrio entre a

regularidade/intensidade dos tratamentos e a eventual penosidade que

poderá ser imposta aos utentes;

(vi) a NephroCare não impôs nada a qualquer entidade terceira, tendo

pautado sempre a sua acção pelo bem-estar do utente.”.

II.2. A resposta do Hospital Beatriz Ângelo

8. Com o objetivo de investigar a situação denunciada, através de ofício datado de 01

de abril de 2015, a ERS dirigiu um pedido de elementos ao Hospital Beatriz

Ângelo, solicitando que:

“[…]

1. Se pronunciem sobre todo o teor da exposição remetida à ERS;

2. Descrição de todas as etapas (admissão, transferência, alta) percorridas

pelo utente com indicação de data, hora e profissional responsável pela

sua operacionalização, por nome, categoria profissional, funções e serviço

em que o mesmo se integra, acompanhada do respetivo suporte

documental;

3. Indicação dos fundamentos que determinaram a referenciação do utente

para o HSM para efeito de realização de cirurgia ortopédica decorrente de

fratura do colo do fémur;

4. Indicação das regras de referenciação vigentes e aplicáveis em situações

semelhantes à ocorrida nos autos acompanhado do respetivo suporte

documental;

5. Indicação dos procedimentos vigentes para admissão de utente

proveniente de outro prestador de cuidados de saúde, por via de

transferência inter-hospitalar, com referência aos concretos serviços de

admissão envolvidos e responsabilidades atribuídas aos diferentes

interlocutores.

6. Indicação, no caso concreto, dos mecanismos de comunicação

estabelecidos pelo HSM com o HBA, para operacionalização da

transferência do utente com vista à sua reabilitação pós cirúrgica,

concretamente:

i. Identificação do profissional responsável pela realização do

contacto (no HSM) por nome, categoria profissional, funções e

serviço em que se encontra inserido;

ii. Identificação do profissional responsável pela receção do contacto

(no HBA) por nome, categoria profissional, funções e serviço em

que se encontra inserido;

iii. Tipo de vaga solicitada, por referência à especialidade e/ou serviço

respetivo;

iv. Diligências internamente desencadeadas para confirmação da

disponibilidade de vaga;

v. Justificação aduzida para a recusa da transferência e identificação

do profissional responsável pela validação dessa mesma recusa;

vi. Diligências adotadas para reenvio do utente ao HSM após recusa

de aceitação da transferência.

7. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares

julgados necessários e relevantes à análise do caso concreto.”

9. Nessa sequência, veio aquele prestador, em resposta rececionada em 16 de abril

de 2015, informar que a exposição remetida à ERS havia sido igualmente remetida

ao HBA, tendo a mesma sido respondida em 11 de fevereiro de 2015, nos

seguintes termos:

“[…]

Em resposta à Reclamação 15427011, informamos que o doente J., com NP

400476274, foi atendido neste Serviço de Urgência no dia 27 de dezembro de

2014, na sequência de queda com fractura de colo de fémur.

Lamentamos, antes do mais, o sucedido e compreendemos a Reclamação.

Tratando-se de um doente hemodialisado em Centro de Torres Vedras, e

necessitando de internamento, de acordo com a área de referenciação de doentes

hemodialisados, o hospital de referência nesse caso deixa de ser o da área de

residência (HBA), mas sim o da área referente ao Centro de Diálise (Hospital de

Santa Maria-HSM).

Nesse contexto, após contactos com o Hospital de Santa Maria, foi efectivamente

transferido para esse hospital, sendo portador de documentação adequada

referente aos exames realizados no HBA.

Os aspectos referentes às intervenções efectuadas no internamento no Hospital de

Santa Maria não são alvo de comentários da nossa parte.

Após a intervenção e o período pos-operatório, o doente foi transferido, na nossa

opinião indevidamente pelo motivo que o levou à transferência inicial, para o HBA,

por ser o “hospital da área de residência”, sem ter havido contacto prévio.

Deu entrada no Serviço de Urgência Geral deste hospital cerca das 17 horas,

tendo sido observado por ortopedista de serviço e decidido o retorno ao HSM, não

pelo motivo de ausência de vaga (que também era real no momento, mas que

nunca levaria a negar o internamento, pois permaneceria o tempo necessário

neste Serviço de Urgência), mas pelo motivo de área associada ao Centro de

Diálise.

Após discussão da situação, sendo já adiantada a hora, optou-se pela

permanência no HBA até ao dia seguinte, eventual realização de sessão de

hemodiálise (não foi necessário), e o caso foi avaliado por Ortopedia do HBA, que

entendeu estar em condições de ter alta, marcando-se inclusivamente as consultas

de seguimento no Hospital de Santa Maria e devendo efectuar as sessões de

diálise no Centro de Diálise de Torres Vedras, o que foi explicado ao filho,

reclamante.

Perante a insistência do filho em considerar que o pai não estava em condições de

ter alta, optou-se, pelo motivo exposto inicialmente, pela transferência para o

Serviço de Urgência do HSM, após contacto prévio e aceitação do doente.

Os demais aspectos são da responsabilidade do HSM.

Durante a permanência no HBA foram prestados os cuidados devidos,

nomeadamente mudança de fraldas e outros cuidados de higiene, alimentação,

terapêutica analgésica, entre outras […].”

10. Quanto aos fundamentos que determinam a referenciação do utente para o HSM

para efeito de realização de cirurgia ortopédica decorrente de fratura de colo do

fémur, é referido pelo HBA que a mesma se processou “[…] de acordo com acordo

e regras de referenciação de doentes sob terapêutica dialítica” porquanto “[…]

tratando-se de um doente hemodialisado em Centro de Torres Vedras, e

necessitando de internamento, de acordo com a área de referenciação de doentes

hemodialisados, o hospital de referência nesse caso deixa de ser o da área de

residência (HBA), mas sim o da área referente ao Centro de Diálise (Hospital de

Santa Maria-HSM), segundo o protocolo estabelecido entre o Centro de Diálise e o

Hospital do SNS […].”.

11. No que tange aos procedimentos vigentes para admissão de utente proveniente de

outro prestador de cuidados de saúde, por via de transferência inter-hospitalar,

explicita o HBA que “[…] Os procedimentos de transferência inter-hospitalar

obrigam a contactos prévios entre instituições. No caso de doentes previamente

internados em enfermarias, o contacto deve ser efetuado de forma a evitar que

esses doentes sejam transferidos para serviços de urgência, com redução de

cuidados. No caso, após internamento no Serviço de Ortopedia do HSM, o doente

foi transferido para o SUG do HBA sem envolvimento deste serviço. O retorno foi

feito com contacto com o Serviço de Ortopedia do HSM, o qual aceitou o doente

de regresso.”.

12. Quanto à indicação, no caso concreto, dos mecanismos de comunicação

estabelecidos pelo HSM com o HBA, para operacionalização da transferência do

utente com vista à sua reabilitação pós cirúrgica, foi pelo HBA indicado que:

i. Episódio de urgência do SUG do HBA dia 27-12-2014 e transferência para o

SU do HSM, a informação registada no sistema de referenciação1 é de que:

“[…]

Hospital de Destino: Hospital de Santa Maria E.P.E

Especialidade: Ortopedia

Pessoa contactada: Dr. M.

Hora: 17:45h

Objetivo: transferência para prossecução terapêutica, nomeadamente

internamento e intervenção cirúrgica.”

Informação registada na avaliação de urgência

Ortopedia - “A Medicina contactou a homologa de St Maria e devido aos

protocolos da hemodiálise vai ser transferida”.

ii. Episódio de urgência do SUG do HBA dia 07-01-2015, mediante

transferência do Serviço de Ortopedia do HSM, a informação registada no

sistema de referenciação2 é de que:

“Resumo: doente do género masculino, de 84 anos de idade,

transferido do HBA dia 27/12/2014 por fractura pertrocantérica à

esquerda. Doente hemodialisado e por esta razão foi transferido

para HSM. Foi submetido a cirurgia no dia 31/12/2014 tendo-se

feito redução incruenta + osteossíntese dom DHS. O pós-operatório

decorreu sem intercorrências. Cumpriu levante e MFR. Tem alta

transferido para o hospital da área de residência. Dr J., Ortopedista

do HSM” (note-se que não foi feito contacto prévio com este SUG,

afim de transferência do doente);

1 Conforme documentação junta aos autos e cujo teor se dá por integralmente reproduzido.

2 Conforme por documentação junta aos autos e cujo teor se dá por integralmente reproduzido.

Informação registada na observação de especialidade:

Nefrologia […] 7/1/2015, 21h02

Admitido no HSM, hospital da área do seu centro de HD, por

fractura do colo do fémur, tendo inclusivé sido operado nesse

hospital. Hoje enviado para o HBA sob o pretexto deste ser o seu

hospital de referência. De acordo com o protocolo estabelecido

entre os centros de HD extra-hospitalares e os hospitais do SNS, os

centros de HD de Torres Vedras drenam para o HSM. Ainda que a

morada do domicílio do doente pertença ao HBA, este protocolo

sobrepõem-se legalmente aos critérios da residência. Por esta

razão, que deve ser transferido para o HSM, para dar continuidade

ao seu tratamento em regime de internamento;

Ortopedia […] 7/1/2015, 23h27

Após contacto com diretor de ortopedia e diretor do SU, fica

decidida a permanência em SU do doente de noite, assegurada a

analgesia e controlo analítico do doente até de manhã […];

Ortopedia […] 8/1/2015, 10h31

Recebi chamada de colega […] de Ortopedia/HSM que ficou de

enviar fax com nota clinica a confirmar sessão de hemodialise

realizado ontem (7-1-15) no HSM e confirmou consulta de

seguimento pelo próprio para o dia 12-01-15 as 10 AM na consulta

externa Ortopedia HSM. Doente foi informado da consulta de

seguimento entregue por escrito nos Admin a data/marcação da

consulta. Reavaliado o doente […] consciente e colaborante,

eupneico sem novas queixas de órgão, membro operado com

penso limpo e seco, mobiliza membros sem défices. Explicado

cuidados a ter descarga/andarilho ate consulta. Informado chefe de

equipa e discutido com colega de medicina interna, pedido

observação e registo clinico por tratar-se de um doente com

múltiplas comorbilidades. A nota de alta deve ser actualizada apos

confirmação de alta efectiva/transferência segundo seja o caso.”.

II.3 A resposta do Hospital de Santa Maria - CHLN

13. Igualmente, com o objetivo de investigar a situação denunciada, através de ofício

datado de 01 de abril de 2015, a ERS dirigiu um pedido de elementos ao CHLN -

HSM -, solicitando que:

“[…]

1. Se pronunciem sobre todo o teor da exposição remetida à ERS;

2. Descrição de todas as etapas (admissão, transferência, alta) percorridas

pelo utente com indicação de data, hora e profissional responsável pela

sua operacionalização, por nome, categoria profissional, funções e serviço

em que o mesmo se integra, acompanhada do respetivo suporte

documental;

3. Explicitação de forma fundamentada e acompanhada do respetivo suporte

documental, dos procedimentos internos existentes para a

operacionalização da transferência inter-hospitalar de utentes, no que

concretamente respeita a:

a) Meio de contacto com hospital de destino;

b) Meio de formalização do pedido e consequente aceitação;

c) Meio de formalização da conclusão da transferência, mediante

admissão do utente na entidade hospitalar de destino.

4. Indicação, no caso concreto, dos procedimentos desencadeados para

transferência do utente para o HBA para efeito de reabilitação pós-cirúrgica

com descriminação:

i. Data e hora da realização do contacto;

ii. Identificação do profissional responsável pela realização do

contacto por nome, categoria profissional, funções e serviço em

que se encontra inserido;

iii. Identificação do profissional responsável pela receção do contacto

(no HBA) por nome, categoria profissional, funções e serviço em

que se encontra inserido;

iv. Tipo de vaga solicitada, por referência à especialidade e/ou serviço

respetivo;

5. Indicação dos procedimentos existentes para planeamento de alta

relativamente a doentes que necessitem de cuidados continuados

integrados, ou que apresentem um grau de dependência que não lhes

permita o regresso ao domicílio em condições de segurança,

acompanhado do respetivo suporte documental;

6. Explicitação, no caso concreto,

i. dos mecanismos de comunicação e sinalização adotados pelos

competentes serviços hospitalares em articulação com a Equipa de

Gestão de Alta, para realização de um diagnóstico da situação de

dependência do utente, mediante avaliação médica de enfermagem

e social;

ii. dos procedimentos desencadeados pela Equipa de Gestão de Altas

para operacionalização da alta do utente com vista à sua

transferência para o domicílio, acompanhado do respetivo suporte

documental;

7. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares

julgados necessários e relevantes à análise do caso concreto.”.

14. Veio aquele prestador, por resposta rececionada a 08 de maio de 2015, esclarecer

que “[…] A exposição de J., filho do utente J.G., datada de 19.01.2015, foi

devidamente valorada tendo fundamentado inúmeras diligências e recolha de

informação no âmbito de um processo tramitado no Gabinete do Cidadão com a

referência n°R85/15 de 20.01.2015. No referido processo foram recolhidas

informações relevantes dos intervenientes principais na assistência prestada ao

doente J. G., que permitiram a elaboração da resposta fundamentada ao

exponente em 16 de fevereiro e consequente encerramento do processo […] Por

fim informa-se que se encontra em preparação um regulamento interno da equipa

de gestão de altas.”.

15. Em aditamento ao predito esclarecimento veio o prestador responder, quanto aos

procedimentos internos existentes para a operacionalização da transferência inter-

hospitalar de utentes, “[…] que o utente foi transferido do SUC para o Serviço de

Ortopedia, pelo que os procedimentos de transferência inter-hospitalar serão os do

Serviço de Ortopedia”.;

16. Acrescentando que ”[…] no caso concreto não foi considerado pelo Serviço de

Ortopedia ser necessária a sinalização do utente para a Equipa de Gestão de Altas

(EGA), não existindo portanto qualquer registo interno na EGA.”.

17. Em reforço aos preditos esclarecimentos, foi enviada pronúncia do serviço de

ortopedia, dando conta que:

“[…]

i. Doente de 84 anos de idade do género masculino, da área de residência do

Hospital Beatriz Ângelo, transferido no dia 27.12.2014 do mesmo hospital,

por fractura pertrocanterica do fémur esquerdo, ao abrigo do protocolo de

doentes a cumprirem hemodiálise […];

ii. Foi observado no serviço de urgência do HSM, apresentando fractura

pertrocanterica à esquerda com indicação cirúrgica. Foram pedidos os

exames pré-operatórios, visto tratar-se de um doente com múltiplas co-

morbilidades, apesar de este ter feito previamente exames no hospital da

proveniência, e ficou internado no serviço de ortopedia a aguardar

intervenção cirúrgica;

iii. Foi re-observado no dia 28.12.2014 no serviço de ortopedia, contactou-se o

serviço de Nefrologia para avaliação e iniciar hemodiálise, o que aconteceu

no próprio dia 28.12.2014 […];

iv. Foi submetido a cirurgia no dia 31.12.2014, tendo sido feito redução

incruenta da fractura e osteossintese com dispositivo Dynamic Hip Screw

(DHS), como indicado para este tipo de fractura;

v. Como se tratava de período de fim de ano o doente foi reavaliado no dia

02.01.2015 apresentando-se em período de convalescença pós cirúrgica

sem alterações dignas de registo;

vi. Nessa avaliação foi pedido apoio da Medicina Física e Reabilitação e dado

indicação à equipa de enfermagem para iniciarem levante para o cadeirão.

Foi avaliado pela Medicina Física e Reabilitação e iniciou programa de

reabilitação adaptado à sua circunstância clínica;

vii. No dia 07.01.2015, após ter tolerado bem o levante e após melhoria do

ponto de vista ortopédico, uma vez que se mantinha estável do ponto de

vista das outras comorbilidades, foi decidido proceder à sua transferência

para o Hospital de residência (HBA), a fim de manter o seguimento,

sublinhe-se que no dia da alta o doente realizou uma sessão de

hemodiálise;

viii. Meio de contacto com o hospital de destino – Telefónico;

ix. Meio de formalização do pedido e consequente aceitação - Contacto

telefónico entre o médico assistente do doente no Serviço de Ortopedia do

CHLN e o médico do Serviço de Ortopedia na Urgência do HBA, que

acordou admitir o doente para procedimentos a efectuar tendo em vista a

sua alta para o domicílio e respectiva continuidade de cuidados de

seguimento. Refira-se que o doente foi acompanhado por cópia da nota de

alta;

x. Transferido para o HBA a fim de ser admitido para posterior activação dos

mecanismos a desencadear pela Equipa de Gestão de Altas (EGA) do

hospital de destino, para operacionalização da alta do doente com vista ao

seu retorno ao domicílio;

xi. Contacto com o médico que nesse dia se encontrava de urgência em

Ortopedia no Hospital da Área de residência (como parte do protocolo entre

instituições na transferência de doentes) e também marcada consulta de

ortopedia no HSM para reavaliação após cirurgia. Tendo todos estes factos

sido dados a conhecer ao Familiar do doente (neste caso o filho). Foi

explicado ao familiar que da parte Ortopédica o doente estaria tratado, que

neste momento já tinha cumprido levante, tolerado alguns exercícios de

Fisioterapia, que estava estável e poderia cumprir a restante reabilitação

em casa. Mas como o doente pertence ao HBA teria de ser transferido para

aquela instituição a fim de ser admitido e activados todos os mecanismos

desencadeados pela equipa de gestão de altas para operacionalização da

alta do doente com vista ao seu retorno ao domicílio, referenciação à

consulta externa de Ortopedia do Hospital de Origem para posterior

reavaliação e seguimento em consulta;

xii. […] a pedido do filho do utente foi marcada uma consulta externa no CHLN,

para avaliação e seguimento do doente no âmbito do acto cirúrgico

realizado, tendo o mesmo sido informado;

xiii. Uma vez que o doente foi transferido para continuidade de cuidados, não

foram acionados os mecanismos de articulação com a Equipa de Gestão

de Altas do CHLN.”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

18. De acordo com o n.º 1 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS, esta tem por missão

“[…] a regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde.

19. Ainda, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 5.º dos seus Estatutos, as

atribuições da ERS compreendem “[…] a supervisão da atividade e funcionamento

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita:

[…] b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à

prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais

direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos

operadores, entidades financiadoras e utentes.”.

20. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º

dos seus Estatutos “[...] todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, do setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua

natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas, centros de saúde,

consultórios, laboratórios de análises clinicas, equipamentos ou unidades de

telemedicina, unidades móveis de saúde e termas.”.

21. O que é o caso dos prestadores identificados, que detêm a qualidade de

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde e se encontram

presentemente inscritos no SRER da ERS sob o n.º 118240 (Hospital Beatriz

Ângelo, integrado na SGHL – Sociedade Gestora do Hospital de Loures, SA.) e n.º

113141 (Hospital de Santa Maria, unidade integrada no Centro Hospitalar Lisboa

Norte, E.P.E.).

22. No que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea b) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, de assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos

cuidados de saúde, a alínea a) do artigo 12.º do mesmo diploma legislativo

estabelece ser incumbência da ERS “ assegurar o direito de acesso universal e

equitativo à prestação de cuidados de saúde nos serviços e estabelecimentos do

Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos estabelecimentos publicamente

financiados, bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de

cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou

equiparados, acrescentando a alínea b) do mesmo artigo o dever de “prevenir e

punir as práticas de rejeição e discriminação infundadas de utentes nos serviços e

estabelecimentos do SNS, nos estabelecimentos publicamente financiados, bem

como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito

de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados”.

23. Podendo fazê-lo mediante o exercício dos seus poderes de supervisão

consubstanciado no dever de “zelar pela aplicação das leis e regulamentos e

demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das

suas atribuições”, bem como na emissão de ordens e instruções, bem como

recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre

quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora,

incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências

necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes – cfr. al. a)

e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS.

24. E, no que concretamente respeita à obrigação de assegurar o cumprimento dos

critérios de acesso aos cuidados de saúde, se é certo que a violação do direito de

acesso, como direito complexo, pode surgir sob diferentes formas, ou ser originada

por diferentes causas, é igualmente certo que uma das suas violações mais

gravosas e últimas se consubstancia na rejeição infundada de pacientes.

25. É também competência da ERS, prevenir e punir as práticas de rejeição e

discriminação infundadas de utentes nos serviços e estabelecimentos do SNS, nos

estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos

contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas

públicos de saúde ou equiparados (cfr. alínea b) do artigo 12.º dos Estatutos da

ERS).

26. Sendo estabelecido na alínea b) do n.º 2 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, que

“Constitui contraordenação, punível com coima de 1000 EUR a 3740,98 EUR ou

de 1500 EUR a 44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou

coletiva:

[…]

b) A violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde:

i) A violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS, prevista

na alínea a) do artigo 12.º;

ii) A violação de regras estabelecidas em lei ou regulamentação e que

visem garantir e conformar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde, bem

como práticas de rejeição ou discriminação infundadas, em estabelecimentos

públicos, publicamente financiados, ou contratados para a prestação de

cuidados no âmbito de sistemas e subsistemas públicos de saúde ou

equiparados, nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do artigo 12.º”.

27. Já quanto ao objetivo regulatório de zelar pela prestação de cuidados de saúde de

qualidade, previsto na alínea d) do artigo 10.º, incumbe à ERS, entre outras, a

garantia do direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde qualidade,

conforme estatuído na alínea c) do artigo 14.º dos Estatutos da ERS.

III.2. As Redes de Referenciação Hospitalar (RRH) como regras de acesso do

utente aos cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde

28. O direito à proteção da saúde, consagrado no art. 64.º da Constituição da

República Portuguesa (CRP), impõe o acesso dos cidadãos aos cuidados de

saúde no âmbito de um Serviço Nacional de Saúde (SNS), e com respeito pelos

princípios fundamentais plasmados naquele preceito constitucional,

designadamente a universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial.

29. Por sua vez, a Lei de Bases da Saúde, aprovada pela Lei n.º 48/90, de 24 de

agosto (LBS), em concretização da imposição constitucional contida no referido

preceito, estabelece no n.º 4 da sua Base I que “os cuidados de saúde são

prestados por serviços e estabelecimentos do Estado ou, sob fiscalização deste,

por outros entes públicos ou por entidades privadas, sem ou com fins lucrativos”;

30. Neste âmbito, os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde identificados

nos autos integram, assim, o conjunto das “instituições e serviços oficiais

prestadores de cuidados de saúde dependentes do Ministério da Saúde”, isto é,

pertencem ao SNS, tal como definido pelo n.º 2 da Base XII da Lei de Bases da

Saúde, e cujo Estatuto foi aprovado pelo Decreto-Lei n.º 11/93, de 15 de janeiro.

31. Acresce que, conforme resulta da alínea b) da Base XXIV da LBS, os cidadãos

têm o direito a que lhes sejam prestados integradamente todos os cuidados de

saúde, não só os hospitalares, mas também os primários, os continuados ou até os

paliativos;

32. Uma forma de manifestação do princípio da generalidade no âmbito do SNS

prende-se com a necessidade de se garantir uma correta referenciação de

cuidados de saúde entre os diversos estabelecimentos nele integrados.

33. As RRH são pois essenciais ao cumprimento da característica de generalidade do

SNS, constituindo um sistema integrado e hierarquizado que visa satisfazer, de

forma concertada, as necessidades de assistência hospitalar no diagnóstico, de

formação, de investigação, de colaboração interdisciplinar e de garantia de

qualidade no âmbito de determinada especialidade.

34. Por outro lado, o funcionamento e as imposições adjacentes ao funcionamento das

RRH consubstanciam regras que, necessariamente, se manifestam no direito de

acesso do utente aos cuidados de saúde como consagrado na Constituição e na

lei. O seu deficiente funcionamento impacta negativamente com o direito de

acesso do utente aos cuidados de saúde, produzindo um efetivo não acesso (ou

um acesso tardio ou inadequado) aos cuidados de saúde necessários.

35. Nesse âmbito, considerando que que as regras respeitantes às RRH constituem

regras de acesso, nos termos e para os efeitos dos Estatutos da ERS, devem as

mesmas, ser garantidas pela ERS e, caso aplicável, o seu incumprimento ser

sancionado ao abrigo dos poderes que lhe foram atribuídos pelas alínea a) e b) do

artigo 12.º e alínea b) do n.º 2 do artigo 61.º de tal diploma.

36. Ora, a cada estabelecimento hospitalar que integra a rede devem ser atribuídos

uma área geográfica e populacional de influência e um papel específico na área

assistencial, tendo em conta a sua articulação, nomeadamente no âmbito de uma

rede de referenciação, quer com as unidades de cuidados primários, quer com os

demais estabelecimentos hospitalares.

37. Efetivamente, a atual organização do SNS assenta numa identificação clara e

inequívoca da cadeia (vertical) de atribuições, competências e responsabilidades,

para que o SNS seja, não somente de iure mas também de facto, um conjunto de

instituições e de serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde organizado e

hierarquizado.

38. Pelo que, cada instituição deve conhecer, sem dúvida ou incerteza, o que

concretamente a si compete – e por tanto o que de si é esperado – para contribuir

para a garantia constitucional da prestação de cuidados de saúde nas melhores

condições de acesso, qualidade e segurança3.

3 Nesse âmbito, os contratos programa surgem como instrumentos detidos quer pelas ARS,

quer pelos prestadores de cuidados de saúde, para a operacionalização das suas concretas

responsabilidades. Neles são definidos os objetivos do plano de atividades de cada um dos

estabelecimentos hospitalares e a subsequente contratualização com o Estado, mediante o

pagamento de contrapartidas financeiras em função da produção contratada e dos resultados

obtidos, devendo cada um dos prestadores garantir o cumprimento das suas obrigações para

garantirem, obviamente e in fine, o dever de garantir o acesso dos utentes aos cuidados de

saúde. Assim, os contratos programa devem garantir os meios necessários ao cumprimento

39. Nesse sentido, interessa que os prestadores de cuidados de saúde que concorrem

para o funcionamento de cada uma das redes, não só se articulem entre si, desde

os cuidados primários até aos diferenciados, em função dos recursos de que

dispõem, e consideradas as condicionantes de cada uma das regiões e da

valência a que respeitam, mas também se complementem, com a finalidade de

aproveitarem os recursos de que cada um é possuidor.

40. E tanto não deixa de resultar na revisão das Redes de Referenciação Hospitalar

projetada pela Portaria n.º 82/2014, de 10 de abril, que veio estabelecer os critérios

que permitem categorizar os serviços e estabelecimentos do SNS mas não

determinou quais as valências concretas que cada unidade hospitalar deverá

disponibilizar, e principalmente pela Portaria n.º 123-A/2014, de 19 de junho, que

estabeleceu os critérios de criação e revisão das Redes Nacionais de

Especialidades Hospitalares e de Referenciação, bem como as áreas que as

mesmas devem abranger.

41. Estando ali salientado que “a existência de mecanismos de referenciação deve

estar baseada numa cobertura territorial adequada às necessidades das

populações, tendo em conta a demografia e a acessibilidade geográfica, de forma

a garantir um atendimento de doentes que assegure o cumprimento de tempos

mínimos de resposta garantidos”.

42. E ainda, que as Redes deverão obedecer a determinados princípios, entre eles,

permitir a programação do trânsito dos utentes, garantindo a orientação correta

para o centro indicado, definir um quadro de responsabilização dos hospitais face à

resposta esperada e contratualizada.

43. Princípios estes que não divergem, em essência, do vindo de expor sobre as RRH

enquanto regras de acesso no âmbito do SNS.

III.3. Relação entre hospitais públicos e unidades privadas de diálise

44. Considerando que os cuidados de saúde prestados ao utente J. G., na sequência

da fratura sofrida no colo do fémur, foram orientados e condicionados pelo facto do

mesmo ser dependente de cuidados de diálise, os quais realiza no Centro de

Diálise da Nephrocare em Torres Vedras, impõe-se proceder à análise dos

procedimentos de referenciação vigentes neste âmbito.

pelos hospitais contratantes, das regras determinadas por cada uma das RRH das quais os

mesmos fazem parte integrante.

45. Pelo exposto, cumpre antes de mais atentar na Rede de Referenciação Hospitalar

(RRH) de Nefrologia, aprovada por Despacho da Secretária de Estado Adjunta do

Ministro da Saúde, em 26 de Março de 2002, a qual expressamente consagra que

“[…] Dado o papel da iniciativa privada no campo da diálise ambulatória e a boa

articulação entre as unidades extra-hospitalares e os serviços hospitalares de

Nefrologia, consagrada na forma de protocolos assinados entre as duas estruturas,

a rede de referenciação funciona já sem grandes sobressaltos; A colaboração

entre as equipas médicas que tratam os doentes no hospital e as unidades de

diálise tem promovido uma continuidade de cuidados […].”

46. Sendo que o mesmo documento, estabelece como característica de um serviço de

nefrologia “dispor no hospital de serviços de imagem, laboratório, anatomia

patológica e cirurgia de acesso vascular compatíveis com o exercício de uma

nefrologia moderna e eficaz na assistência à população e no back-up hospitalar às

unidades de diálise ambulatória da região” – cfr. n.º 8 do capítulo 8.

47. Assim, nessa lógica organizativa, constata-se que o Hospital de Santa Maria,

integrado no CHLN é uma das unidades hospitalares de referência com serviço de

Nefrologia na região de Lisboa e Vale do Tejo

48. Sendo que a arquitetura da RRH de Nefrologia, define-o como serviço de

referência para os concelhos de Alvalade, Benfica, Loures, Lumiar, Odivelas,

Pontinha, Alenquer, Alhandra, Arruda Vinhos, Azambuja, Póvoa de Sta. Iria, Vila

Franca de Xira, Benavente, Cadaval, Lourinhã, Mafra, Sobral de Monte Agraço e

Torres Vedras.

49. Por outro lado, também a Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro, que aprovou

os requisitos mínimos relativos à organização e funcionamento, recursos humanos

e instalações técnicas para o exercício da atividade das unidades privadas de

diálise, estatui no seu artigo 18.º que “As unidades periféricas articulam-se com as

unidades centrais de diálise, mediante a celebração de protocolos que definam

todos os aspetos de cooperação funcional, técnica, médica e científica.”, sendo

que para o efeito, o n.º 2 do mesmo artigo dispõe que “A articulação, quando não

for efetuada com uma unidade central privada, faz-se obrigatoriamente com a

unidade central pública cuja área de influência abranja a unidade requerente.”.

50. Ora, a referida coordenação entre as instituições hospitalares integradas no SNS e

as unidades privadas de saúde, in casu, de diálise, é consentânea com o disposto

na Base IV da Lei de Bases da Saúde, que estabelece, no seu n.º 2 que “para

efetivação do direito à proteção da saúde, o Estado atua através de serviços

próprios, celebra acordos com entidades privadas para a prestação de cuidados e

apoia e fiscaliza a restante atividade privada na área da saúde”.

51. Sendo que concretamente quanto a tais unidades privadas de saúde, é igualmente

estabelecido que a hospitalização privada, deve especialmente atuar em

articulação com o SNS – cfr. n.ºs 2 e 3 da Base XXXIX da Lei de Bases da Saúde.

52. Pelo que todo o quadro legal vindo de apresentar concorre para a necessidade de

coordenação e apoio entre o SNS (enquanto conjunto ordenado e hierarquizado de

instituições e serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde, funcionando sob

superintendência ou a tutela do Ministro da Saúde – cfr. artigo 1.º do Estatuto do

SNS aprovado pelo Decreto-Lei n.º 11/93, de 15 de Janeiro) e as unidades

privadas de saúde.

53. Surgindo em linha com a obrigação das unidades de saúde “realizar[em] todas as

prestações de saúde aos beneficiários do SNS para que tenham capacidade

técnica, garantindo nesta medida, a universalidade das prestações de saúde que

cabe ao SNS assegurar” – cfr. n.º 5 da cláusula 11.ª do Despacho n.º 721/2006, de

23 de Dezembro de 2005, que estabelece os parâmetros dos contratos programa a

celebrar entre o Ministério da Saúde e as unidades de saúde integradas no sector

empresarial do Estado.

54. E com a imposição de “[…] as prestações de saúde […] implica[rem] a prestação

integrada, directa ou indirectamente, de todos os outros serviços de que deva

beneficiar o utente relacionados com o respectivo estado de saúde ou com a sua

estada no estabelecimento de saúde, designadamente a prestação de serviços de

apoio.” – cfr. n.º 3 da cláusula 3.ª do mesmo diploma.

III.4. Análise da situação concreta

55. Recorde-se que os factos em análise se reportam à transferência inter-hospitalar

do utente J. G., o qual, tendo dado entrada no Serviço de Urgência do Hospital

Beatriz Ângelo, após diagnóstico de fratura do colo do fémur e identificada a

necessidade de intervenção cirúrgica, foi objeto de transferência inter-hospitalar

para o Hospital de Santa Maria – CHLN, pelo facto de este ser o hospital de

referência para utentes hemodialisados do conselho de Torres Vedras de acordo

com a RRH de Nefrologia.

56. Mais concretamente as questões cuja análise se impõe, na ótica da ocorrência de

um constrangimento do direito de acesso que à ERS cumpre acautelar, prendem-

se com:

i. Transferência do utente pelo HSM para o HBA no pós-operatório para

continuidade de tratamento no hospital da área de residência;

ii. Procedimentos empregues na operacionalização da referida transferência;

iii. Procedimentos empregues na gestão da alta do utente.

57. Cumpre assim antes de mais atentar no fundamento que determinou a

referenciação do utente pelo HBA para o HSM para efeito de realização de cirurgia

ortopédica decorrente de fratura do colo do fémur;

58. Com efeito, foi explicitado pelo HBA na sua reposta ao pedido de informação da

ERS que “[…] Tratando-se de um doente hemodialisado em Centro de Torres

Vedras, e necessitando de internamento, de acordo com a área de referenciação

de doentes hemodialisados, o hospital de referência nesse caso deixa de ser o da

área de residência (HBA), mas sim o da área referente ao Centro de Diálise

(Hospital de Santa Maria-HSM)”;

59. Facto que não é contestado pelo HSM que, na resposta ao pedido de informação

da ERS, esclarece tratar-se de “Doente de 84 anos de idade do género masculino,

da área de residência do Hospital Beatriz Ângelo, transferido no dia 27.12.2014 do

mesmo hospital, por fractura pertrocanterica do fémur esquerdo, ao abrigo do

protocolo de doentes a cumprirem hemodiálise” mencionando também tal

particularidade no relatório do episódio de urgência, onde se pode ler “transferido

na sequencia do protocolo de HD”;

60. Assim, temos que ab initio ambas as entidades hospitalares elegíveis para a

prestação de cuidados ao utente, quer por via da área de residência, quer por via

da RRH de Nefrologia, concordam que a unidade prevalente é o HSM, em virtude

da especificidade requerida pela prestação de cuidados, in casu de ortopedia, a

um doente dependente de diálise.

61. Diferentemente ocorre, quanto ao momento da prestação de cuidados pós-

operatórios, em que as versões dos factos reportadas pelos vários intervenientes

nos autos se apresentam contraditórias e incongruentes.

62. Assim, refere o HSM que “[…] após ter tolerado bem o levante e após melhoria do

ponto de vista ortopédico, uma vez que se mantinha estável do ponto de vista das

outras comorbilidades, foi decidido proceder à sua transferência para o Hospital de

residência (HBA), a fim de manter o seguimento […]”;

63. O que é contestado pelo HBA que sustenta “[…] após a intervenção e o período

pos-operatório, o doente foi transferido, na nossa opinião indevidamente pelo

motivo que o levou à transferência inicial, para o HBA, por ser o “hospital da área

de residência”;

64. Ao que acrescenta que “[…] Os procedimentos de transferência inter-hospitalar

obrigam a contactos prévios entre instituições. No caso de doentes previamente

internados em enfermarias, o contacto deve ser efetuado de forma a evitar que

esses doentes sejam transferidos para serviços de urgência, com redução de

cuidados. No caso, após internamento no Serviço de Ortopedia do HSM, o doente

foi transferido para o SUG do HBA sem envolvimento deste serviço. O retorno foi

feito com contacto com o Serviço de Ortopedia do HSM, o qual aceitou o doente

de regresso.”

65. Ressalvando ainda que a devolução do utente ao HSM ocorreu “[…] não pelo

motivo de ausência de vaga […] mas pelo motivo de área associada ao Centro de

Diálise.”;

66. Por outro lado, contrariando o aduzido pelo HBA quanto à ausência de contacto

prévio com o respetivo serviço de ortopedia, é sustentado pelo HSM ter realizado

“[…] contacto telefónico entre o médico assistente do doente no Serviço de

Ortopedia do CHLN e o médico do serviço de Ortopedia na Urgência do HBA, que

acordou admitir o doente para procedimentos a efectuar tendo em vista a sua alta

para o domicílio e respectiva continuidade de cuidados de seguimento.”

67. Ora, independentemente das contradições existentes entre as versões dos factos

reportadas, certo é que o utente J. G. .era, à data dos factos, dependente de

diálise, a qual realizava com periodicidade tri-semanal numa unidade de diálise em

Torres Vedras.

68. Certo é também que, por via da RRH de Nefrologia e dos protocolos de articulação

instituídos, tal unidade de diálise tem como hospital de referência o HSM,

sobrepondo-se tal referenciação da unidade hospitalar da área de residência;

69. Facto é ainda, que o HSM não discordou da prevalência que sobre si impendia na

prestação dos cuidados ao utente em causa na sequência da fratura do colo do

fémur, fazendo-o, não por via de uma qualquer especificidade do respetivo serviço

de ortopedia, mas tão só por ser o serviço de nefrologia de referência para aquele

utente em concreto.

70. Característica que não se esbate com o decurso da prestação dos cuidados, sejam

eles pré ou pós operatórios, ou mesmo de programação de alta.

71. Porque uma vez mais se diga, a matriz distintiva daquela prestação é sempre a do

doente dialisado e a de serviço de nefrologia de referência.

72. Pelo que tudo equacionado se conclui que a realização da transferência daquele

utente para o HBA, não é consentânea com a obrigação que sobre o HSM

impende de, enquanto unidade do SNS de “[…] realizar todas as prestações de

saúde aos beneficiários do SNS para que tenha capacidade técnica, garantindo

nesta medida, a universalidade das prestações de saúde que cabe ao SNS

assegurar.” – cfr. n.º 5 da cláusula 11.ª do Despacho n.º 721/2006, de 23 de

Dezembro de 2005;

73. Nem com a obrigação de garantir ao doente uma prestação integrada de cuidados

de saúde, a qual não se compagina com a sua transferência do serviço de

ortopedia do HSM para o serviço de urgência do HBA.

74. O que necessariamente constitui um constrangimento do seu direito de acesso, e

uma incontornável quebra no nível da prestação de cuidados.

75. Sendo que não colhe a sustentação de que a transferência para o HBA procurou

desencadear “[…] procedimentos a efetuar tendo em vista a sua alta para o

domicílio e respectiva continuidade de cuidados de seguimento.”, porquanto, e

uma vez mais, nunca a tónica distintiva dos cuidados prestados foi a do hospital de

residência.

76. Ademais, analisando os procedimentos empregues para operacionalização da alta

do utente para o domicílio, e não obstante seja referido pelo HSM que “[…] não foi

considerado pelo Serviço de Ortopedia ser necessária a sinalização do utente para

a Equipa de Gestão de Altas (EGA), não existindo por isso qualquer registo interno

na EGA;

77. Certo é que no relatório do episódio de urgência se pode ler “[…] doente de 84

anos sexo masculino com condição social precária alegada pela família”;

78. Constando ainda de tal relatório a avaliação feita pelo serviço de Assistência

Social, no qual se pode ler “[…] [familiares] pouco colaborantes, com postura

desadequada perante a tentativa de planeamento de cuidados, apresentando

inúmeras resistências à alta, dado que o doente tem um consulta na próxima 2ª

feira e desejavam que ficasse internado até lá […] A nora foi informada de que o

utente irá em transporte hospitalar e caso recuse receber o doente as autoridades

competentes – GNR – tomarão conta da ocorrência.”;

79. Assim, independentemente das versões contraditórias alegadas pelo exponente e

pelo HSM quanto aos procedimentos de operacionalização da alta e as

circunstâncias em que ocorreu o envio do utente pelo HSM ao domicilio, onde não

estava ninguém para o receber tendo depois retornado ao SU do HSM, certo é que

o procedimento empregue não é consentâneo com as garantias dos direitos e

legítimos interesses do utente;

80. Pelo que, sempre se dirá que ainda que a situação concreta não implicasse o

envolvimento da equipa de gestão de altas, não se compreende como é que no

contexto da comunicação de uma antecipada recusa de recebimento do utente, e

independentemente da legitimidade de tal recusa de recebimento, o mesmo tenha

ainda assim sido objeto de transporte, obrigando a mais uma deslocação

desnecessária, a qual ocorre na sequência das anteriores transferências entre

HSM/HBA/HSM;

81. Tudo concorrendo para a desumanização e desarticulação dos cuidados

prestados e para o incumprimento das atribuições do Serviço Social do CHLN ao

qual compete, nos termos do respetivo regulamento interno4 “[…] promover o apoio

psicossocial do utente estabelecendo a articulação com as redes de suporte

individual e coletiva.”.

82. Termos em que cumpre considerar que os procedimentos assistenciais empregues

pelo HSM não foram garantísticos da proteção dos direitos e interesses legítimos

do utente, que à ERS cumpre garantir, mormente do direito à proteção da saúde e

à continuidade dos cuidados prestados.

83. Por todo o vindo de expor, considerando que:

4 Disponível no sitio eletrónico do CHLN.

(i) É incumbência desta Entidade Reguladora, entre outras atribuições a

garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde;

(ii) O legislador, por via da publicação dos Estatutos da ERS, aprovados pelo

Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, reforçou as competências da

ERS em matéria de violação de direito de acesso, tipificando como

contraordenação:

a) A violação dos deveres que constam da «Carta dos direitos de

acesso»5

b) A violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde6:

i) A violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS,

prevista na alínea a) do artigo 12.º;

ii) A violação de regras estabelecidas em lei ou regulamentação

e que visem garantir e conformar o acesso dos utentes aos

cuidados de saúde, bem como práticas de rejeição ou

discriminação infundadas, em estabelecimentos públicos,

publicamente financiados, ou contratados para a prestação de

cuidados no âmbito de sistemas e subsistemas públicos de saúde

ou equiparados, nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do

artigo 12.º;

(iii) A adoção/manutenção de comportamentos que potenciem a violação das

regras atinentes à garantia do direito de acesso, será consubstanciadora de

ilícito contraordenacional;

(iv) Embora não tenha ocorrido uma efetiva violação do direito de acesso do

utente, não deixou de se verificar um constrangimento no acesso;

84. Considera-se pertinente a emissão de uma instrução ao Centro Hospitalar de

Lisboa Norte, E.P.E. no sentido de garantir o cumprimento das Redes de

Referenciação Hospitalar instituídas, das regras aplicáveis em matéria de

transferência inter-hospitalar de utentes e de gestão de altas, obviando à repetição

de situações futuras de índole idêntica à ocorrida.

85. Diferentemente, tendo presentes os factos apurados nos autos não se considera

necessária uma intervenção regulatória quanto aos procedimentos de

5 Cfr. artigo 61.º n.º1 alínea a)

6 Cfr. artigo 61.º n.º2 alínea b)

referenciação adotados pelo Hospital Beatriz Ângelo, porquanto os mesmos se

revelaram consentâneos com o cumprimento das RRH instituídas, não tendo

resultado da sua intervenção um constrangimento do direito de acesso do utente.

V. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

86. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,

tendo para o efeito sido chamados a pronunciar-se, relativamente ao projeto de

deliberação da ERS, o Hospital Beatriz Ângelo, o Centro Hospitalar Lisboa Norte,

E.P.E. – Hospital Santa Maria e o exponente J., na qualidade de filho do utente J.

G..

87. Decorrido o prazo concedido para a referida pronúncia, a ERS rececionou, por

ofício de 31 de julho uma comunicação do supra referido exponente, corporizando

os fundamentos da pronúncia aduzida.

88. Assim, e com relevância para os autos cumpre destacar:

“[…]

1- Na minha exposição […] afirmo que “o Enfermeiro de Serviço de Ortopedia veio

comunicar-me que o Hospital de “Referência” do hemodialisado (meu pai) era o de

Santa Maria “, porém em internamentos anteriores, nunca esta questão foi

abordada, tendo o meu pai feito sempre Hemodiálise no Hospital Beatriz Ângelo. O

“Protocolo” nem sempre é utilizado, e o assunto não é respondido, no PD, pelo

HBA;

2- Na minha exposição […] afirmo que “Dirigi-me a Ortopedia, e para meu espanto,

o meu pai tinha ido repetir desnecessáriamente todos os exames que havíamos

efectuado, horas imediatamente antes, no HBA.”, originando duplicação de

serviços e custos desnecessários, assunto não respondido, no PD, pelo HSMaria;

3 - Na minha exposição […] afirmo que “foi então transferido, com indicação de

internamento”, HBA confirma, porém HSMaria mantêm doente nas urgências, não

activa o EGA, não responde à questão, promove a alta indevidamente, e quando

posteriormente afirma na V/ref II.3.17.(xiii), que “o doente foi transferido para

continuidade de cuidados”;

4 - Na minha exposição […] afirmo que “não só o tinha dito como o tinha feito,

enviando o doente a casa, porém como não estava ninguém em casa, teria

regressado novamente à Urgência.”, facto que se confirma no PD, porém não

explícita qual a base legal para o fazer, contactando tardiamente (21:10) e

efectivação altamente tardia (cerca das 03:00);

5- Na minha exposição […] afirmo que “seguiria para Nephrocare /Torres Vedras

para fazer Hemodiálise essa tarde, seguindo depois para casa, para fazer

Hemodiálise novamente no dia seguinte (sábado), (2 diálises no espaço de 20

horas) e que dia 12/01 teria consulta externa neste Hospital às 10 horas”, tendo o

meu pai feito 6 deslocações acamado em ambulância, quando poderia ter ficado

internado até à consulta “externa”(12/01), evitando ter sido tão massacrado e

evitando custos desnecessários, não havendo qualquer resposta ao assunto, no

PD, pelo HSMaria;

6- Na minha exposição […] afirmo que “Responderam-me em uníssono que assim

tinha sido decidido pela Nephrocare /Torres Vedras (duvido).”, tendo a Nephocare

respondido que “ não impôs nada a qualquer entidade terceira” (V/ref II.7(vi),

porém assunto não respondido, no PD, pelo HSMaria;

7- Na minha exposição […] afirmo que “Após insistência facultaram uma sopa ao

meu pai, fizeram-lhe a higiene”, assunto não respondido, no PD, pelo HSMaria;

8- Na minha exposição […] afirmo que “tinha enviado toda a documentação com o

doente para o HBAngelo, onde possívelmente a teriam extraviado”, porém no dia

26 de Janeiro recebo via CTT, enviado pelo HSMaria, o Relatório da Alta (em

anexo), que deveria ter acompanhado o doente no dia da alta (09 de Janeiro), não

havendo qualquer referência ao assunto, no PD, pelo HSMaria;

9- Na minha exposição […] afirmo que “recebo em casa a visita de 2 Agentes da

GNR local, a informar que aqui haviam-se deslocado cerca das 03:00 do dia 09/01

pºpº, a pedido do Motorista da viatura de Transporte de Doentes” e “Desconheço,

em absoluto, a base Legal para tal procedimento.” assunto não respondido, no PD,

pelo HSMaria;

10- […] o HBA afirma que “ Após discussão da situação, sendo já adiantada a

hora,optou-se”, porém a ser verdade, tal facto não me foi explicado, pois já não

me encontrava nas instalações e a confirmar pode ler-se em V/ref.II.2.12.ii “

23H27 – Após contacto com Diretor... fica decidida a permanência em SU do

doente de noite...”;

11- […] o HSMaria afirma que “ iniciou programa de reabilitação...”, facto que não

corresponde à verdade, pois ao meu (falecido) pai, únicamente o sentaram numa

poltrona durante uma parte da manhã e nada mais lhe foi administrado;

12- […] o HSMaria afirma que “...todos estes factos sido dados a conhecer...filho”,

facto que não corresponde à verdade, pois o único contacto no dia 07-01, foi

efectuado pela Assistência Social para o telemóvel da minha esposa, pelas 15:00,

informando que o meu (falecido) pai iria ser transferido, durante a tarde, para o

HBA para reabilitação, e quando chegámos ao HSMaria, perante algum alvoroço,

onde a principal preocupação era esvaziar a enfermaria para internamento de

esposa de alto membro do Governo, fui informado pelo Enfermeiro de serviço que

meu pai já havia sido transferido para HBA para reabilitação, não tendo havido

qualquer outro tipo de conversação ou informação;

13- […] o HSMaria afirma que “ a pedido do filho foi marcada consulta externa...”,

facto que não corresponde à verdade, pelo mesmo motivo exposto no Ponto 12, e

a ser confirmado por HBA V/ref.II.2.9 “marcando-se inclusivamente consultas de

seguimento no HSMaria”.

14- […] o HSMaria afirma que “ o doente foi transferido para continuidade de

cuidados”, facto que não foi levado em consideração quer pelo HBA quer pelo

HSMaria.

15 - Conforme já referido no Ponto 1 […] “ o hospital de referência...deixa de ser o

da área de residência (HBA), mas sim o da área referente ao Centro de Diálise

(HSMaria), porém não existe igualdade de procedimentos no HBA em anteriores

internamentos do meu (falecido) pai;

16- […] o HSMaria afirma que “ doente...com condição social precária alegada pela

familia”, facto totalmente falso, e do qual pretendo identificação do subscritor, para

procedimento judicial, se necessário for;

17- […] o HSMaria afirma que “ familiares pouco colaborantes...”, facto que não

corresponde à verdade, pois trata-se do segundo contacto existente até à data,

conforme já referido, e também feito para o telemóvel de minha esposa (21:10) que

alegou “que era inaceitável, pois não estávamos em casa, não estavam criadas as

condições para o seu regresso a casa e ou a outro local, e que no dia seguinte

durante a manhã estaríamos em HSMaria para resolver a situação, ao que o

Assistente respondeu agressivamente e ameaçando com o envio do doente e, que

em caso necessário, seria chamada a GNR local. Seguidamente, a minha esposa

repetiu o que já havia sido transmitido, e avisou para não o fazer, pois não

estávamos nem estaríamos em casa, por motivos do foro privado.” (ERS1.20º

parágrafo), motivo pelo qual o subscritor (presumo ser o do ponto anterior) não

pode escrever “familiares pouco colaborantes”, quando só teve contacto comigo no

dia seguinte, 09/01 pºpº, pelas 11:20 horas, sendo entendível que a alegação não

é factual, mas executada à posteriori;

18- Na V/ Ref.III.4.85, lê-se “os procedimentos HBA,se revelaram consentâneos”,

porém como já referido no ponto 1 e15, não existe igualdade de procedimentos em

anteriores internamentos do meu falecido pai;

19- Dada a falta de resposta por parte de várias entidades, apresentei também em

04-06-2015 uma exposição (em anexo) à Provedoria da Justiça, Procuradoria da

Républica e ao IGAS. De salientar que o HBA só respondeu à minha exposição de

19-01-2015, cinco meses e meio depois, após ter sido inquirido pelas Provedoria

da Justiça;

20- Constato que nas respostas do HSMaria e HBA a mim enviadas, aliás como

referido em V/ Ref.III.4.61, as versões dos factos são contraditórias e

incongruentes tanto no PD, quer à Provedoria da Justiça (cópias em anexo);

21- Conforme informei telefónicamente, em 01-02-2015 enviei nova exposição (em

anexo com Vosso conhecimento) sobre a refractura, reoperação e reinternamento

de meu pai, aos serviços do Hospital de Santa Maria / Lisboa, onde viria a falecer

no dia 02-02-2015, não tendo obtido até à data qualquer informação ou

desenvolvimento;

Neste contexto, pretendia obter respostas assertivas às questões referidas neste

pronúncio, na minha “RECLAMAÇÃO”(19-01-2015) e “ DIREITOS DOS

DOENTES”(01-02-2015), assim como pretendo obter respostas às seguintes

questões :

I- Causas de refractura do femur de meu pai, quando se encontrava

acamado.

II- Porque nunca ocorreu após a primeira operação, a movimentação da

perna ocorrida após a reoperação?

III- Causa da Morte de meu pai, dado que é omissa no Assento de Óbito

(em anexo) […].”.

89. Subsequentemente, por ofício de 18 de agosto de 2015 rececionou a ERS uma

comunicação do CHLN explicitando que “[…] O Centro Hospitalar Lisboa Norte,

notificado para cumprimento no prazo de 30 dias da instrução emitida pela ERS,

atenta a complexidade do assunto e ao elevado número de procedimentos

requeridos, vem solicitar a V. Exa. a prorrogação do prazo e resposta até ao final

do mês de Setembro.”.

90. Tendo tal solicitação sido respondida por ofício remetido a 21 de agosto de 2015,

esclarecendo que:

“[…]

De acordo com o requerimento que remeteram, no passado dia 14 de agosto de

2015, aos autos de processo de inquérito n.° ERS/006/2015, V. Exas solicitam a

prorrogação de prazo para o cumprimento de uma instrução emitida pela Entidade

Reguladora da Saúde.

Sucede, porém, que nos referidos autos de processo de inquérito n.°

ERS/006/2015 não foi ainda emitida qualquer deliberação final e, por conseguinte,

qualquer instrução dirigida ao Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE.

Na verdade, tal como decorre do teor da notificação constante do oficio com a

referência "O.ERS/006/2015_im.3"', enviado no passado dia 14 de julho de 2015,

ficaram V. Exas notificados do seguinte:

"Nos termos e para os efeitos do n.° 1 do artigo 122° do Código do

Procedimento Administrativo, ficam V. Exas. notificadas do projeto de

deliberação da Entidade Reguladora da Saúde, emitido no âmbito do

processo de inquérito com o n.º de identificação ERS/006/2015, que se junta

em anexo.

Assim, é concedido a V. Exa. um prazo de 10 (dez) dias úteis para querendo

se pronunciar, por escrito, sobre o conteúdo do referido projeto de

deliberação."

Através do ofício referido, foram V. Exas. notificados apenas do projeto de

deliberação, para, nos termos do citado artigo 122° do CPA, se pronunciarem

"sobre todas as questões com interesse para a decisão, em matéria de facto e de

direito, bem como requerer diligências complementares e juntar documentos."

Só após o decurso do prazo para a audiência prévia e uma vez analisadas e

avaliadas as pronúncias que os interessados vierem a apresentar nos autos, é que

poderá ser proferida a deliberação final pelo Conselho de Administração da ERS, a

qual será devida e integralmente notificada a todos os intervenientes, para os

devidos efeitos.”.

91. Assim, até à presente data e decorrido o prazo de pronúncia fixado, não

rececionou a ERS qualquer comunicação em sede de audiência de interessados

produzida quer pelo CHLN quer pelo Hospital Beatriz Ângelo.

92. No que tange aos argumentos aduzidos pelo exponente, e às diferentes questões

colocadas na comunicação endereçada cumpre esclarecer que não compete à

ERS avaliar a bondade dos concretos cuidados de saúde prestados in casu, nem

tão pouco avaliar da sua oportunidade e pertinência clínica face às legis artis

determinadas;

93. Diferentemente, já compete à ERS verificar se os protocolos ou procedimentos

existentes e/ou empregues no caso concreto são consentâneos com a

salvaguarda do direito de acesso que ao utente J. G. cumpria garantir e com a

prestação integrada, geral e universal dos cuidados de saúde que

necessariamente lhe subjazem.

94. Nessa medida, o prisma de análise da deliberação projetada assentou na

existência de uma (eventual) violação do direito de acesso aos cuidados de saúde

do utente em causa;

95. Bem como na avaliação da existência e adequabilidade dos procedimentos

dirigidos à referenciação e encaminhamento de utentes em situação similar

adotados quer pelo HBA quer pelo HSM;

96. Tendo-se concluído pela necessidade de emissão da instrução projetada ao HSM,

com vista à obviação da repetição de situações de índole idêntica.

97. Assim, embora se conceda que atenta a intervenção de duas entidades

hospitalares distintas, com versões díspares dos factos e por vezes incongruentes

entre si, surjam ao exponente diversas questões cuja resposta desejasse mais

cabal;

98. Sempre se dirá que as questões fácticas ora trazidas aos autos não são de molde

a infirmar a decisão projetada;

99. Porquanto em nada obviam às falhas procedimentais identificadas e que justificam

a presente intervenção regulatória, cujo teor se mantém na íntegra atenta a

necessidade de salvaguarda da efetividade do acesso à prestação de cuidados de

saúde e prestação de cuidados de saúde de qualidade, integrados e em

observância da dignidade dos utentes.

VI. DECISÃO

100. O Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e para os efeitos do

preceituado na alínea a) do artigo 24.º, e das alíneas a) e b) do artigo 19.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

arquivar os presentes autos quanto aos procedimentos adotados pela SGHL -

Sociedade Gestora do Hospital de Loures, S.A. e emitir uma Instrução ao Centro

Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E. nos seguintes termos:

(i) O Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E. deve garantir

permanentemente o cumprimento da obrigação que impende sobre o

Hospital de Santa Maria, enquanto unidade hospitalar de referência na área

da Nefrologia receber os utentes da sua área de referência, abstendo-se de

adotar qualquer comportamento passível de obstaculizar o regular

funcionamento das redes de referenciação instituídas;

(ii) O Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E. deve garantir

permanentemente o cumprimento das regras aplicáveis em matéria de

transferência inter-hospitalar de utentes, mormente garantindo o contacto

telefónico prévio com a instituição de destino e garantindo a aceitação do

utente pelo serviço destinatário, garantindo a integração dos cuidados

prestados;

(iii) O Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E. deve garantir a adoção de

procedimentos de gestão de altas compatíveis com a prestação articulada e

humanizada de cuidados;

(iv) O Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E. deve dar cumprimento

imediato à presente instrução, bem como dar conhecimento à ERS, no

prazo máximo de 30 dias úteis após a notificação da presente deliberação,

dos procedimentos adotados para o efeito.

101. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º

1 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com

coima de € 1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da

ERS que, no exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou

sancionatórios determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos

14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.

102. A versão não confidencial da presente decisão será publicitada no sítio oficial

da ERS na Internet.

Porto, 16 de setembro de 2015.

O Conselho de Administração.