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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ATENDIMENTO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA GRAZIELA ACQUAVIVA PAVEZ 19 DE ABRIL DE 2011

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Page 1: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ATENDIMENTO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA GRAZIELA ACQUAVIVA PAVEZ 19 DE ABRIL DE 2011

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ATENDIMENTO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

GRAZIELA ACQUAVIVA PAVEZ19 DE ABRIL DE 2011

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VIOLÊNCIA: conceituação

Arendt (1990) “a violência é um meio para se conquistar poder,( mas não se confunde com o poder, pelo contrário, demonstra a

incapacidade de argumentação e de convencimento de quem o detém),

necessitando de orientação e justificação dos fins que persegue.”

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Violência: conceituaçãoTRANSFORMAÇÃO DA DIFERENÇA EM DESIGUALDADE ( CHAUÍ, 1984)relações de forças tanto entre classes sociais como nas relações interpessoais. diferença entre relação de força e violência

força objetivam (em ultima instância) a destruição de uma das partes, a violência visa mantê-las, nutrindo uma relação de subordinação à vontade e à ação da outra. Para a autora, a violência perfeita pressupõe a sujeição consentida, ou seja, é “aquela que obtém a interiorização da vontade e da ação alheias pela vontade e pela ação dominada, de modo a fazer com que a perda da autonomia não seja percebida nem reconhecida, mas submersa numa heteronímia que não se percebe como tal” (CHAUÍ, 1984, p. 35)

violação ou transgressão de normas, a ação que trata um ser humano não como sujeito, mas como coisa. Caracterizando-se pela “inércia, pela passividade e pelo silêncio, de modo que, quando a atividade e a fala de outrem são impedidas ou anuladas, há violência” (CHAUI, 1984, p. 35).

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Violência: conceituaçãoMinayo, 2006 : faz um resgate das produções acadêmicas: Filosofia, Psicologia e a filosofia popular e aponta: Autores da saúde coletiva ou das ciências sociais + uma abordagem interdisciplinar conceituação de violência como um fenômeno complexo:Visão interativa de origem sócio-histórica e subjetiva

Questionamento: • da postura reducionista da causalidade biológica; •Da unicausalidade macro e microssocial.

Proposta da autora, seguir na análise com um duplo corte epistemológico:

•A multicausalidade e • a dialética de causa-efeito•TORNAR ESPECÍFICAS AS MANIFESTAÇÕES DE VIOLÊNCIA E SUA ARTICULAÇÃO COM O TODO• PROCESSOS SUBJETIVOS DEVEM SER AO MESMO TEMPO INCLUÍDOS NA ANÁLISE E CONTEXTUALIZADOS NO ÂMBITO SÓCIO-HISTÓRICO

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Violência: conceituação Minayo, 2006

“(...) não se pode estudar a violência fora da sociedade que a gera, porque ela se nutre dos fatos políticos, econômicos e culturais, traduzidos nas relações micro e macrossociais Busca a inteligibilidade desse fenômeno, considerando-o de forma complexa,histórica, empírica e específica

‘A violência, não é uma, é múltipla’.

Origem do latim vis ( noções de constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro)

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Violência: conceituação“Na análise dos eventos violentos é possível identificar:

Conflitos de autoridade, lutas pelo poder e à busca de domínio e aniquilamento do outro, e que suas manifestações são aprovadas ou desaprovadas, lícitas e ilícitas, segundo normas sociais mantidos por aparatos legais da sociedade ou por uso e costumes naturalizados;Mutante, a violência se modifica, se apresenta conforme as épocas, locais e circunstâncias;

Existem violências toleradas e as que são condenadas.”

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Violência: gênero, doméstica, intrafamiliar e contra as mulheres (Almeida, 2007)

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Violência: gênero, doméstica, intrafamiliar e contra as mulheres (Almeida, 2007)

Gênero: • contexto de relações

produzidas socialmente/ produção é societal •caráter relacional;• possibilita o uso das categorias analíticas e

históricas; •só sustenta no quadro das

desigualdades sociais

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Violência de gênero/ desigualdades de gênero

Marco da produção e reprodução das relações fundamentais: as de classe, as étnico –raciais e as de gênero;

geracionaisMatriz hegemônica de gênero: concepções dominantes de feminino e masculino/ disputas simbólicas e materiais nas instituições

Família, escola, igreja, meios de comunicaçãoMaterializadas nas relações de trabalho; no quadro político –partidário, nas rel. sindicais, na divisão social do trabalho operada nas esferas da vida social e nas organizações da sociedade civil.

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Violência de gênero/ desigualdades de gênero

Evitar a violência estrutural X interpessoal;

Viol. De gênero gerada no interior das disputas pelo poder nas relações íntimas heteronímia, potencialização do controle social, reprodução da matriz hegemônica de gênero na sua expressão macroscópica;

Ideologia patriarcal resiste ao tempo milenar;

Práticas autoritárias, coercitivas e punitivas precisam de uma base legitimadora onde se supõe o consentimento ativo do outro;

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A violência quantificada : tel. 180/ SSP

68,8% dos agressores são os cônjuges / companheiros / ex-maridos; 38,0% das vítimas se relacionam com o agressor há mais de 10 anos; 57,7% são agredidas diariamente; 50,3% se percebem em risco de morte; 68,3% declaram não depender financeiramente do agressor; 84,7% das vítimas possuem filhos; 68,9% declaram que os filho presenciam a violência; Em 39,8% as agressões acontecem desde o início da relação; Em 71,7% dos casos a vítima coabita com o agressor.

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FATORES IMPULSIONADORESINFORMAÇÕES E CONHECIMENTOPERCEPÇÕES E

ATITUDESEXPERIÊNCIAS PRÉVIAS

APOIO DE PESSOAS PRÓXIMAS

DECISÕES EXECUTADAS E

AÇÕES EMPREENDIDAS

FATORES DE RESPOSTA:DISPONIBILIDADE E

QUALIDADE DOS SERVIÇOS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SERVIDORES

DE SERVIÇOS DA COMUNIDADE

RESULTADOS OBTIDOS

DIAGRAMA DA ROTA CRÍTICA / OPAS,2000

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ESCUTA CRÍTICA E QUAFICADA

EX

Estabelecer relação de confiança com a vitima.

Evitar o julgamento, caso isso ocorra, pode impedir a:

constituição de canais de comunicação

Evitar o uso de diminutivos. Cuidado com a infantilização da vítima.

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ESCUTA CRÍTICA E QUALIFICADA

Respeitar os limites das vítimas

Demonstrar a compreensão dos problemas relatados

A vítima deseja e requer ser tratada como única

Evitar oferecer respostas com incertezas de sua concretização

Ouvir e compreender cada uma das histórias, garantindo sua singularidade

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ESCUTA CRÍTICA E QUALIFICADA

Demonstrar, efetivamente, que está prestando atenção naquela situação:

O primeiro atendimento, é determinante, para o reconhecimento de que seu pedido, sua queixa, tem razão de ser. “O que fala tem eco.” Não esta louca.

Manter o diálogo: fazer perguntas facilitadoras para a exposição da situação relatada, refletir sobre o conteúdo, fazer devolutivas declarando que esta entendendo e reconhecendo a violência relatada

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ESCUTA CRÍTICA E QUALIFICADA

Avaliar com as vítimas, o reconhecimento da violência vivida:

Da evolução e imbricamento das crises, dos fatos, das relaçõesDos limites configurados pela situação apresentada, considerar o histórico dessa violência e demais expressões de violênciaLevantar alternativas, junto com ela, sobre as possibilidades de enfrentamento, administração, saídas e superação( processo longo....)

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ESCUTA CRÍTICA E QUALIFICADA

Identificar as situações de iminência de risco de vida

Comportamento do agressor: uso de armas, controle do comportamento cotidiano, ameaças a ela e seus parentes, cumprimento, parcial, dessas ameaças, não tem mais controle....

Verificar o território, o local dos acontecimentosBairros, áreas violentas, com presença do crime organizado:

( articulação entre violência urbana e doméstica)

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ESCUTA CRÍTICA E QUALIFICADA

Dificuldades no reconhecimento da violência:

Qualquer ação, exige um posicionamento tem uma implicação ética. Somos humanos, sujeitos de uma mesma sociedade. A violência nos atravessa.

Por esta razão podemos tender a “não ver aquilo que não queremos ver”

Ocupamos o lugar do terceiro

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Reforçar a

violência vivida

Planejar, definir processos de ruptura com relações violentas

HORIZONTE DE TRABALHO:IMPLICAÇÕES ÉTICAS

(Ravazolla,1994)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, S. DE S. Essa violência mal-dita IN Violência de gênero e políticas públicas/ Suely de Souza Almeida, org. – Rio de Janeiro:Editora UFRJ,2007, p.23-41

BARBIANI, R. e MENEGUEL, S. N. Estratégias de enfrentamento às violências. IN MENEGUEL, S. N. (org.) Rotas críticas: Mulheres enfrentando a violência, São Leopoldo, RS: Editora UNISINOS,2007, p.107-129

CHAUÍ , M. PARTICIPANDO DO DEBATE SOBRE MULHER E VIOLÊNCIA IN Revista, Perspectivas Antropológicas da Mulher, Rio de Janeiro: Zahar Editores, n° 4, p. 25-62, 1985

MINAYO, M.C.S. A violência dramatiza as causas, In Violência sob o olhar da saúde. Minayo MCS e Souza, E.R. (orgs.). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2003, p.23 a 46