dedico este livro à minha avó€¦ · eu juro que nunca na minha vida eu ouvi essa tal banda, mas...
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Sobre a autora e o livro
Meu nome é Bruna Malta Victal e eu estudo no Dom Luís
do Amaral Mousinho desde 2001. Eu lembro que minha
mãe queria que eu estudasse lá porque, segundo ela, era uma
escola muito importante e era muito difícil conseguir vaga.
Minha tia de 40 e poucos anos estudou lá, ou seja, a escola
é bem antiga mesmo! Ela sempre falava de uma “Banda do
Mousinho” que era bastante famosa antigamente na escola.
Eu juro que nunca na minha vida eu ouvi essa tal banda, mas
não duvido que ela tenha existido.
Enfim, eu entrei em 2001 na primeira série D (se eu não me
engano), classe da “Tia” Rosana - uma mulher de cabelos
vermelhos, que usava rímel azul – mas fiquei lá só um dia
porque não sabia muito bem qual era a direita e qual era a
esquerda e errei a sala. Permaneci na sala errada o ano
inteiro, mas tudo bem, a Tia Tânia também era legal e dizia
que eu era a aluna mais inteligente da sala.
Até a sexta série, em 2006, eu amava a escola. O Mousinho
era minha vida. Eu gostava mais de ir pra escola do que ficar
em casa. Eu não sei se eu mudei de opinião sobre a escola
porque destruíram tudo e fizeram de novo (e ficou uma
droga, acabaram com a história da escola) ou porque eu
cresci e fiquei chata, como minha mãe diz, nada pra mim
está bom.
Eu acho que é por causa da reforma mesmo...
Eu sinto saudade da antiga Mousinho e tenho certeza que
todos os alunos que tiveram o privilégio de estudar naquela
escola antes da reforma também sentem. Por isso resolvi
escrever algumas memórias. Como recordação para os
alunos.
Não Fique Sozinho no Mousinho conta a história de um
grupo de alunos da quinta série C da escola Mousinho no
ano de 2005. Eles são a última série do período da tarde e
vão atrás de aventuras sobrenaturais baseadas nas lendas da
escola.
Os alunos do Mousinho sempre gostaram de histórias de
terror sobre a escola. Toda escola tem uma lenda, mas o
Mousinho foi uma lenda.
Os alunos e ex-alunos poderão guardar para sempre com
carinho essa história da qual fizeram parte um dia e poderão
mostrar aos seus filhos e netos o quão divertido foi essa
época de suas vidas.
Um super beijo e abraço a todos. Espero que gostem do
livro...
Antes de começar...
Você lembra exatamente como era a escola antigamente?
Onde era a entrada? Como era por dentro? Então vamos
recordar um pouco...
A entrada da escola ficava na Rua Padre Euclides. O
portão era escuro (se eu não me engano era verde). A parede
da escola era salmão e tinha uma textura áspera que sempre
machucava o cotovelo das pessoas.
Eu não sou uma expert em desenho, mas dá pra ajudar um
pouco...
Havia outro portão de ferro muito maior e mais alto
depois do portão, lembra? Então enquanto esperávamos
alguém abrir o segundo portão, ficávamos naquele espaço
entre um portão e outro.
Do lado direito era coberto e tinha uma portinha que dava
pro “Jardim da escola”. Do lado esquerdo era descoberto e
tinha um espaço bem maior. Muitas crianças ficavam ali
jogando futebol às vezes, ou sentadas nas janelas do Prédio
1. Eu sempre esperava minha mãe ali.
Depois do portão maior havia nada mais nada menos do
que a escola. O Prédio 1 do lado direito, do lado esquerdo
uma escada que dava para um outro prédio que eu não sei se
era o 2 ou 3 e lá na frente as quadras Descoberta e Coberta.
Virando a esquerda tinha o Pátio. A esquerda- uma
escadinha que dava para a porta de vidro de um corredor;
Ao lado da escadinha- A Cantina; Ao lado da Cantina- A
Rampa; Do lado da Rampa- O Palco; Do lado do Palco –
três degraus que davam para o Pátio Descoberto e do lado
direito do Pátio Coberto - O Corredor da Morte.
A Rampa dava para um lugar que era mais ou menos um
pátio pequeno. Do lado esquerdo desse pátio pequeno,
tínhamos a entrada de um corredor com algumas salas -
aquele corredor da escadinha do Pátio Coberto – lá tinha o
Laboratório. Do lado esquerdo também tinha algumas salas
que iam até lá na frente, perto da Escada que dava para o
Prédio que eu não sei se é o 2 ou o 3. Do lado da escada
tinha uma portinha - era o Xerox. Do lado direito tínhamos
os Banheiros feminino e dos funcionários do lado do
feminino e mais pra frente (na esquininha), o Masculino.
Voltando para onde estávamos - na Rampa - do lado
direito tínhamos um bebedouro e na frente uns banquinhos
(points de certos casais). E tínhamos duas escadas e uma
rampinha que desciam para o Pátio Descoberto.
Do lado esquerdo do Pátio Descoberto tínhamos uma
segunda Quadra Descoberta. No meio tínhamos quatro
árvores (ou três, sei lá), e uns bancos do lado da Quadra. Lá
na frente, o Refeitório e do lado a saída do Corredor da
Morte. No Pátio Descoberto ficavam as filas (linhas
amarelas desenhadas no chão, tipo vaga de estacionamento,
só que ao invés de “Idosos e Deficientes tinha a série
escrita).
Agora vamos para o segundo andar... Ou terceiro, sei lá.
Subindo as escadas havia mais um corredor cheio de salas.
Esse era o maior corredor e as paredes eram cor gelo. Eu
acho que eu não preciso desenhar nenhum dos corredores.
O Refeitório era como todo refeitório. Tinha aquelas
mesonas, bancos e comida. A porta do Refeitório era de
vidro e do lado esquerdo tinha uns telefones públicos. No
refeitório tinha uma porta que dava entrada para a secretaria.
A Quadra Coberta - A quadra preferida que qualquer aluno
do período da tarde. Todo mundo lutava por essa quadra.
Era grande e retangular, com um pequeno murinho que
dividia a quadra e a arquibancada e tinha a sala dos
professores de Educação Física que também tinha entrada
na Quadra Descoberta - Esta era descoberta, quente e sem
graça. Ninguém queria ficar nela. Havia um espacinho entre
a entrada da Descoberta e a da Coberta, onde tinha um
bebedouro. Era a entrada das quadras e o portão era azul.
Ah, vale lembrar que em volta da Quadra Descoberta tinha
o Dentista. E na frente da entrada das quadras havia três
mastros e nenhuma bandeira.
A outra Quadra Descoberta não era tão sem graça mas
também não era tão boa quanto a Coberta. Ela era grande,
tinha uma rede de vôlei e duas cestas de basquete, tinha
como jogar futebol também, mas nada ao mesmo tempo. E
nessa quadra tinha um portão que dava pra Rua Tamandaré,
de frente pro bosque.
O prédio 1 - Um prédio normal, eu diria. Porta de vidro,
uma escada à esquerda, que ao subir você encontraria
degraus dos lados direito e esquerdo que dariam para salas
de aula comuns. Embaixo a mesma coisa, salas de aula e dois
banheiros.
Não preciso descrever os banheiros, né? Então acho que é
só isso mesmo.
Naquela época a escola era bem suja, vidros e carteiras
quebrados, paredes rabiscadas, entre outras coisas. A gente
sempre pedia uma reforma, mas isso nunca acontecia e
quando acontecia o pessoal estragava de novo.
Um dia fizeram uma reforma diferente. Não pintaram a
parede ou trocaram os vidros, simplesmente derrubaram
tudo e fizeram novamente. Nada permaneceu como era
antes. Nada. De repente a escola não era mais a mesma. Eu
não preciso descrever, a escola esta lá para vocês verem.
Branca, sem vida, mas ainda é o Mousinho. O novo
Mousinho. E vocês podem ter uma história pra contar sobre
ele um dia.
Ah... Mais uma coisa que não dá pra esquecer: De 1ª a
quinta série o período era à tarde e de 6ª série ao 3º colegial,
de manhã. Tenho certeza que disso todo mundo sente falta!
É, foram bons tempos...
Não fique sozinho no Mousinho
Um
Já era meio dia e quarenta e o portão ainda estava
fechado. A entrada da escola era sempre tumultuada, como
se os alunos estivessem desesperados para aprender. Até
parece...
Cada um usava um uniforme diferente, nem pareciam da
mesma escola. Havia algumas crianças com aquele uniforme
tricolor: em cima vermelho, um pedaço em branco dividindo
no meio e cinza na parte de baixo. Dava calor só de olhar.
Tinha um ou dois com aquele uniforme que parecia de
marinheiro, com umas listras cinza no ombro e o brasão de
Ribeirão Preto costurado no meio da camiseta. Uma garota
gordinha de óculos fundo de garrafa usava aquele uniforme
antigo, com um M em azul no meio, mas tinha gente com
um mais antigo ainda: aquele cinza com o brasão de ribeirão
preto do lado esquerdo. Já tinha gente com o novo uniforme
da escola, malha cavada em V, com brasão de Ribeirão
colorido e o nome da escola embaixo. E também, claro, não
podiam faltar: os alunos sem uniforme.
O sol estava forte como sempre. Estudar a tarde não era
nada bom. As barraquinhas de doce montadas na frente do
portão estavam perdendo na concorrencia com a tia do
gelinho.
Finalmente Giovani resolveu abrir o portão.
Giovani era o porteiro/funcionário da escola. Devia ter um
e oitenta de altura e era muito forte (barrigudo) e falava que
todas as meninas eram namoradas dele.
Giovani abriu o portão e aí começou o caos. Aquele
empurra-empurra, e as mães das crianças pequenas se
indignando com a falta de respeito das crianças maiores.
Segunda-feira. Primeiro dia de aula do segundo semestre
da quinta série. Calor infernal. Pra que usar uniforme num
dia como esse? De qualquer forma essa desculpa não colou
e Giovani barrou todo mundo na porta perguntando “Cadê
seu uniforme?” e só depois de muita encheção de saco (ou
talvez porque o número de gente sem uniforme estava
aumentando) Giovani liberou. Mandar pra casa é que ele não
podia...
- Nossa, que calor! – reclamou Mariela, enquanto subia a
rampa do pátio. – Ninguém merece estudar à tarde.
- Ainda bem que é só mais seis meses. Ano que vem acaba
essa tortura. – disse Wesley. – Além do calor infernal, só tem
pirralho aqui.
- Ano que vem nós seremos os pirralhos! – lembrou.
A porta do corredor da quinta série ainda estava fechada.
Alguns alunos esperavam sentados no chão. Mariela jogou
sua mochila e deu um grito histérico ao ver Branca e
Gabriela entre os demais e as abraçou. Ambas retribuíram o
gritinho de saudade e o abraço.
Tia Paula abriu a porta do corredor.
Era uma hora da tarde. Na quinta C muita gente havia
faltado. Tinha uns dez alunos na sala. A primeira e segunda
aula era Inglês, mas a professora havia faltado também e
então a aula de Ciências foi adiantada. Esse era o lado bom
de estar no ginásio: mais de um professor. Sempre haveria
uma possibilidade de sair mais cedo. No caso deles, na hora
do recreio.
- Gente, como eu estou adiantando aula, não vou poder
ficar aqui toda hora. Então qualquer coisa eu estou na quinta
A. – Avisou a professora de Ciências. Os alunos sorriram de
orelha a orelha. Precisavam mesmo por os assuntos em dia
depois de um longo mês de férias.
Foi só a professora sair que todo mundo começou a falar
ao mesmo tempo.
- Nossa gente sem comentários pra sábado hein... –
comentou Rafa.
- Nossa... Quem foi na discoteca? Tava muito foda. –
completou Laila.
- Tava mesmo. Nossa... Beijei um monte lá. – comentou
Rafa. Não era surpresa pra ninguém. Rafael era um galinha,
mesmo com onze anos.