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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA DANIELLY BANDEIRA LOPES Incidência de demência em idosos negros de comunidade quilombola (Kalunga) ancestral isolada Goiânia-GO 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA

TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

DANIELLY BANDEIRA LOPES

Incidência de demência em idosos negros de comunidade

quilombola (Kalunga) ancestral isolada

Goiânia-GO

2015

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TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR

VERSÕES ELETRÔNICAS DE TESES E

DISSERTAÇÕES NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade

Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca

Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), regulamentada pela Resolução

CEPEC nº 832/2007, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins

de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção

científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ ] Dissertação [ x ] Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação:

Nome completo do autor: Danielly Bandeira Lopes

Título do trabalho: Incidência de demência em idosos negros de comunidade

quilombola (Kalunga) ancestral isolada

3. Informações de acesso ao documento:

Concorda com a liberação total do documento [ x ] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF da tese ou

dissertação.

___________________________________

Assinatura do(a) autor(a)²

Ciente e de acordo:

_______________________________

Assinatura do(a) orientador(a)² Data: 13 / 09 / 2017

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A

extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não

serão disponibilizados durante o período de embargo.

Casos de embargo:

- Solicitação de registro de patente

- Submissão de artigo em revista científica

- Publicação como capítulo de livro

- Publicação da dissertação/tese em livro

²A assinatura deve ser escaneada.

Versão atualizada em maio de 2017.

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DANIELLY BANDEIRA LOPES

Incidência de demência em idosos negros de comunidade

quilombola (Kalunga) ancestral isolada

Tese de Doutorado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Medicina

Tropical e Saúde Pública da Universidade

Federal de Goiás para obtenção do

título de doutor em Medicina Tropical e

Saúde Pública.

Orientador: Leonardo Ferreira Caixeta

Goiânia-GO

2015

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Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública

da Universidade Federal de Goiás

BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO

Aluno (a): Danielly Bandeira Lopes

Orientador (a): Dr. Leonardo Ferreira Caixeta

Membros:

1. Drª. Renata Teles Vieira

2. Dr. Paulo Verlaine Borges e Azevêdo

3. Dr. Érico de Castro e Costa

4. Drª. Mirian Cristina Leandro Dorta

Data: 16/ 12/ 2015

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DEDICATÓRIA...

Dedico este trabalho aos meus avós (in memorian): Divina Stival, José de Oliveira

Lopes, Arlindo Bandeira e Rosa Madalena Lopes pelo simples fato de terem

existido e contribuído, cada um a sua maneira, para realização deste intento.

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vii

AGRADECIMENTOS

Eternos agradecimentos a Deus, força maior e inspiradora.

Aos meus pais, João Daniel e Fátima, minha base e sustentação, pelo apoio

incondicional em todas as decisões tomadas em minha vida, pela compreensão ao

abrirem mão da minha presença física em boa parte de suas vidas para realização

deste trabalho e, auxílio com preces e orações.

Ao meu irmão Joardf Bandeira, que em sua simplicidade e bondade, sempre me

ajudou com seu apoio, carinho e afeto.

A minha avó Rosa, que sempre foi apoiadora e entusiasta da pesquisa realizada,

sempre perguntava “quando que você vai lá nos seus ‘véio neguinho’ minha filha?”.

E complementava: “é muito bom a gente ser útil nessa vida. Você é uma guerreira!”.

Que acompanhou fisicamente o início deste trabalho, mas que agora o seguimento se

dá no plano espiritual.

Ao meu orientador Leonardo Caixeta, meu “guru espiritual”, pelo carinho,

persistência, confiança e oportunidade de realizar este trabalho, me proporcionando

trilhar “novos” caminhos e, despertando-me potencial para superar barreiras.

Ao meu primeiro orientador, o professor e amigo Tales Alexandre Aversi Ferreira,

por me auxiliar no conhecimento dos misteriosos e encantadores caminhos da ciência

e, por acreditar e não desistir de que estes fossem trilhados por mim.

Ao amigo e “anjo” Daniel Magalhães, pelo grande auxílio ofertado durante a coleta

de dados e, a toda sua família, que calorosamente me acolheu.

À querida família Kalunga: o casal Maurício e Regiane e os filhos, Regilene e

Marcos que, prontamente se dispuseram a me ajudar, ajuda desprovida de qualquer

interesse, ofertando-me direção e abrigo físico e espiritual.

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viii

Ao agente comunitário de saúde Martinho, pelo auxilio incansável na localização dos

idosos do estudo.

Aos funcionários da Unidade Básica de Saúde da Família II e, aos demais que por

ventura esqueci-me de mencionar, mas que foram de suma importância na logística

da realização do trabalho.

Aos idosos Kalunga, personagens principais deste trabalho, que me receberam,

acolheram e me auxiliaram a compreender sobre o verdadeiro sentido da vida.

À professora Renata Teles Vieira, por seu auxílio e valiosas dicas para

aprimoramento deste trabalho.

Ao professor Paulo Verlaine que com todo seu carinho, competência e espírito

minucioso, colaborou com apontamentos e considerações.

Às professoras Flávia Oliveira e Miriam Dorta que prontamente aceitaram o convite

para participar e colaborar na lapidação deste trabalho.

Ao professor Érico de Castro e Costa que gentilmente se dispôs, mesmo à distância,

auxiliar e contribuir com sua competência e humildade, evidenciando diferentes

caminhos no trabalho.

Às minhas amigas “Cris” (Cristina, Cristiana e Christiane) e Letícia, irmãs espirituais

que a vida me concedeu, por seu incentivo, interesse e apoio em todos os entraves

enfrentados.

À colega de pós-graduação e companheira de pesquisa, Tatiana Novais pela

proximidade e compartilhamento de anseios e angústias deste obscuro e, ao mesmo

tempo com raios de luz, mundo da pesquisa e ciência na comunidade Kalunga.

Ao geógrafo Vinícius Aguiar pelo auxilio incondicional.

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ix

Aos secretários do programa de pós-graduação, Zezinho e Kariny, pelos cuidados e

esmero prestados e, momentos de desabafo.

Aos bons espíritos presentes nesta caminhada, por seu consolo e amparo nos

momentos de dificuldades e desânimo.

Por fim, a CAPES, pelo auxílio financeiro para a consolidação deste trabalho.

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x

"Não desanimes. Persiste mais um tanto. Não cultives o

pessimismo. Centraliza-te no bem a fazer. (...)

Avança ainda que seja por entre lágrimas. Trabalha

constantemente. Edifica sempre. Não consinta que o

gelo do desencanto te entorpeça o coração. Não te

impressione a dificuldade. (...)

Resguarda-te em Deus e persevera no trabalho que

Deus te confiou. Ama sempre, fazendo pelos outros o

melhor que possas realizar. Age auxiliando. Serve sem

apego. E assim vencerás."

Chico Xavier

“Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro

do organismo universal.”

Machado de Assis,

em Memórias Póstumas de Brás Cuba

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SUMÁRIO

TABELAS, QUADRO, FIGURAS ........................................................................... xii

SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS ........................................................ xiiiiii

RESUMO ............................................................................................................... xiviv

ABSTRACT ............................................................................................................... xv

1 INTRODUÇÃO / REVISÃO DA LITERATURA .............................................. 1

1.1 Envelhecimento populacional ............................................................................ 1

1.2. Demência e alterações cognitivas e funcionais em idosos: aspectos

epidemiológicos gerais no mundo e no Brasil ......................................................... 2

1.2.1. Demência, cognição e funcionalidade: fatores relacionados ................. 5

1.3. Comunidades Quilombolas no Brasil ............................................................ 7

1.3.1. Cenário Geral ....................................................................................... 77

1.3.2. Comunidade Quilombola Kalunga ........................................................ 8

2. JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 14

3. OBJETIVOS ...................................................................................................... 15

3.1. Objetivo Geral ............................................................................................. 15

3.2. Objetivos Específicos .................................................................................. 15

4. MÉTODO(S) ..................................................................................................... 16

4.1. Desenho da pesquisa ................................................................................... 16

4.2. Seleção dos sujeitos ..................................................................................... 16

4.3. Coleta de dados ........................................................................................... 16

4.4. Instrumentos da pesquisa ........................................................................ 1818

4.4.1. Mini Exame do Estado Mental (MEEM) ............................................. 19

4.4.2. Questionário de Atividades da Vida Diária (QAVD) .......................... 19

4.5. Variáveis do estudo ..................................................................................... 20

4.6. Análise dos dados ........................................................................................ 20

5. RESULTADOS ................................................................................................. 21

Artigo 1.................................................................................................................22

Manuscrito 1.........................................................................................................34

6. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 54

7. CONCLUSÕES ................................................................................................. 60

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 61

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 63

APÊNDICES ............................................................................................................. 71

Apêndice 1 : Parecer do Comitê de Ética .............................................................. 71

Apêndice 2: Questionário ...................................................................................... 73

Apêndice 3 : Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. 75

Apêndice 4: Carta de Anuência ............................................................................. 77

Apêndice 5: Comprovante de submissão artigo 1..................................................78

ANEXOS ................................................................................................................... 79

Anexo 1: Mini Exame do Estado Mental (MEEM) ............................................... 79

Anexo 2: Questionário de Atividades da Vida Diária (QAVD) - PFEFFER ........ 81

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TABELAS, QUADRO, FIGURAS

Tabela 1: Estudos sobre fatores relacionados a distúrbios cognitivos e funcionais e/ou

desenvolvimento de demências.....................................................................................6

Figura 1: Diáspora africana e a região do Sitio Histórico e Patrimônio Cultural

Kalunga.......................................................................................................................09

Figura 2: Casa Kalunga construída no vão ...........................................................10

Figura 3: Localização do Sítio Histórico e Cultural Kalunga.....................................11

Figura 4: Idosa Kalunga socando arroz......................................................................57

Figura 5: Idosa Kalunga na confecção de tapete. ..................................................... 57

Figura 6: Preparo das folhas de fumo para fabricação do fumo artesanal. ................57

Figura 7: Capacitação de profissionais da saúde que atendem comunidade Kalunga

(palestra).....................................................................................................................62

Figura 8: Capacitação de profissionais da saúde que atendem comunidade Kalunga

(apresentação de dados prévios). ...............................................................................62

Figura 9: Capacitação de profissionais da saúde que atendem comunidade Kalunga

(atividade em grupo). .................................................................................................62

Figura 10: Capacitação de profissionais da saúde que atendem comunidade Kalunga

(planejamento estratégico). ........................................................................................62

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SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

AVE: Acidente Vascular Encefálico

APOE: Apolipoproteína E

CCL: Comprometimento Cognitivo Leve

DA: Doença de Alzheimer

DV: Demência Vascular

HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica

MEEM: Mini Exame do Estado Mental

QAVD: Questionário das Atividades da Vida Diária (Pfeffer)

SABE: Saúde, Bem-estar e Envelhecimento

SHK: Sítio Histórico e Cultural Kalunga

SPSS: Statiscal Package for Social Sciences

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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RESUMO

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que continuará a atingir todas

as regiões do mundo. As principais alterações que podem vir acompanhadas do

envelhecimento são com relação aos aspectos cognitivos e funcionais. Este trabalho

propôs estimar a incidência de alterações cognitivas e funcionais em idosos

residentes em comunidade isolada, remanescente de quilombo, localizada no

nordeste do estado de Goiás, denominada Kalunga. Foi realizado um estudo

longitudinal, com métodos não invasivos, baseado em dados primários, das

alterações cognitivas e funcionais de idosos que participaram de estudo de

prevalência em 2011. Foram coletados e analisados dados de identificação (idade,

gênero), sociodemográficos (escolaridade, procedência), culturais e de morbidades

prévias (hipertensão arterial, diabetes) dos participantes por meio de questionário

semiestruturado. Os dados de avaliação cognitiva e funcional foram obtidos por

meio da aplicação do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e do Questionário de

Atividades de Vida Diária (QAVD) de PFEFFER, respectivamente. No total foram

reavaliados 43 idosos. A maioria era do gênero masculino (51,2%), casada (69,8%),

analfabeta (90,7%), com idade média de 74,2 anos, hipertensa (53,5%) e tabagista

(48,8%). A incidência de indivíduos com alteração cognitiva e funcional foi de 4%

ao ano, semelhante em comparação a outros estudos sobre distúrbios cognitivos e

demência. Apenas baixa escolaridade e presença de diabetes mellitus apresentaram

associação significativa com o perfil cognitivo e funcional dos indivíduos.

Entretanto, houve um declínio geral e significativo na cognição e funcionalidade dos

mesmos avaliados no primeiro (2011) e segundo momentos (2014).

Palavras-chave: epidemiologia, idoso, demência, alteração cognitiva, negro

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ABSTRACT

Population aging is a global phenomenon that will continue to reach all regions of

the world. The main changes that can be followed by the aging are with respect to

cognitive and functional aspects. This study aimed to estimate the incidence of

cognitive and functional changes in the elderly living in isolated community,

reminiscent of Quilombo, located in the northeastern of Goias state, called Kalunga.

We conducted a longitudinal study with noninvasive methods, based on primary data

of cognitive and functional changes of the elderly who participated in prevalence

study in 2011. Were collected and analyzed identification data (age, gender), socio-

demographic factors (education, place), cultural and prior morbidities (hypertension,

diabetes) participants through semi-structured questionnaire. The cognitive and

functional data were obtained by applying the Mini Mental State Examination

(MMSE) and the Pfeffer Functional Activities Questionnaire (PFAQ), respectively.

In total were reassessed 43 elderly. Most were male (51.2%), married (69.8%),

illiterate (90.7%) with a mean age of 74.2 years, hypertension (53.5%) and smoker

(48.8%). The incidence of individuals with cognitive and functional change was 4%

year, similar in comparison to other studies on cognitive disorders and dementia.

Only low levels of schooling and the presence of diabetes mellitus presented a

significant association with the individuals' cognitive and functional profile.

However, there was a significant decline in cognition and functionality of these

assessed in 2011 and reassessed in 2014.

Key words: epidemiology, elderly, dementia, cognitive impairment, black

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1 INTRODUÇÃO / REVISÃO DA LITERATURA

1.1 Envelhecimento populacional

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que continuará a atingir

todas as regiões do mundo. Em 2050 existirá o mesmo número de velhos e jovens no

mundo, com 2 bilhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos e outros 2

bilhões com idade inferior a 15 anos, cada grupo representando 21% da população

mundial (HARPER, 2014).

O referido fenômeno se refere à mudança na estrutura etária da população,

produzindo um aumento da proporção das pessoas acima de determinada idade, dada

como início da velhice. Este limite varia entre sociedades e depende de fatores

biológicos, bem como, econômicos, ambientais, científicos e culturais (CARVALHO;

GARCIA, 2013).

Dada a rápida taxa de envelhecimento populacional, a ciência básica e a saúde

pública têm se preocupado em estudar os determinantes de um envelhecimento

cognitivo bem sucedido. Uma série de intervenções comportamentais e ambientais,

como dieta restritiva, atividade física e estimulação cognitiva são meios promissores

para uma melhor cognição associada ao envelhecimento normal (DEPP; HARMELL;

VAHIA, 2012), assim como bons ambientes e respeito aos direitos humanos estão

relacionados a uma longevidade saudável (BROWN; QIU; GU, 2012).

O fenômeno do envelhecimento da população não é algo restrito aos países

desenvolvidos (ocorreu inicialmente nestes), ocorrendo de forma mais acentuada e

proeminente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Neste, o número de

indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos era de 3 milhões na década de 60,

passou para 7 milhões em 1975 e estimativas apontam para 32 milhões em 2020

(LIMA-COSTA; VERAS, 2003).

O estudo SABE (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento), realizado em alguns

países da América Latina (incluindo Brasil) e Caribe teve como principal objetivo

verificar as condições de vida de idosos com 60 anos ou mais, residentes na zona urbana

e, avaliar diferenciais de gênero e socioeconômicos com relação ao estado de saúde,

acesso e utilização de cuidados de saúde. No Brasil, o estudo foi realizado na cidade de

São Paulo, onde Lebrão e Laurenti (2005) relataram preocupação com relação a

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avaliação do estado de saúde nos níveis encontrados, relacionada, provavelmente, a uma

baixa qualidade de vida, influenciada pelo gênero, escolaridade, idade, condição

econômica e presença de incapacidade.

A senilidade revela mudanças neuropsicológicas, especialmente dificuldades

executivas, alterações na memória episódica anterógrada, na velocidade de raciocínio,

no sono, além de distúrbios psicopatológicos e alterações nas atividades da vida diária,

que podem se relacionar com sintomas demenciais e depressivos, já que é uma fase da

vida muito susceptível a mudanças de comportamento e personalidade (CAIXETA,

2012).

O envelhecimento revela mudanças no indivíduo (em seus aspectos

psicológicos, sociais, físicos e neuropsicológicos) e no ambiente que o cerca. Tendo alta

incidência no idoso, a depressão e as demências, podem trazer déficits de cognição, de

memória, linguagem, funções executivas, além de gnosias e praxias, interferindo na

autonomia, no desempenho social ou profissional do indivíduo.

Apesar do declínio cognitivo e funcional e demências não serem exclusivos em

idosos, estas enfermidades apresentam maior prevalência e incidência nos indivíduos

com faixas etárias mais elevadas.

As principais alterações que podem vir acompanhadas do envelhecimento são

com relação aos aspectos cognitivos e funcionais. As demências são um dos diversos

tipos de doenças que podem surgir na senilidade. Essas podem ser caracterizadas como

uma persistente alteração cognitiva que interfere na funcionalidade do individuo,

interferindo no desenvolvimento de suas atividades laborais e/ou sociais. A definição

dada pelo DSM-5 (ASSOCIATION, 2013) consiste em doença crônica e progressiva do

sistema nervoso central, afetando as funções cognitivas.

1.2. Demência e alterações cognitivas e funcionais em idosos: aspectos

epidemiológicos gerais no mundo e no Brasil

O número de pessoas com demência em todo o mundo foi estimado em 44

milhões no ano de 2013, sendo que em 2030 é esperado que esse número seja de 76

milhões e triplique em 2050, chegando a 135 milhões (FERRI et al. 2009). A

prevalência de demência no mundo varia entre 1,6% na África e 6,4%, na América do

Norte (FERRI et al. 2005). Já um estudo de metanálise evidenciou que a prevalência de

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demência na maioria das regiões do mundo, em indivíduos acima de 60 anos de idade,

variou numa estreita faixa de 5% a 7%, sendo maior na América Latina (8,5%) e menor

na África subsaariana (2%-4%) (PRINCE et al. 2013).

Diversos estudos são realizados em países de todo o mundo para compreensão

dos aspectos epidemiológicos das demências, alterações cognitivas e funcionais, e

fatores associados (LOPES; BOTINO, 2002).

A prevalência de alteração cognitiva foi semelhante entre mexicanos e

imigrantes espanhóis nos Estados Unidos. Entretanto, a alteração funcional apresentou

diferença, principalmente devido aos aspectos culturais (MEJÍA et al. 2006).

No Chile a prevalência de demência entre idosos varia entre 4,38% e 7%, sendo

que este índice é maior em indivíduos da zona rural (10,3%) do que da zona urbana

(6,3%), e a doença de Alzheimer (DA) é a demência mais prevalente (85%)

(FUENTES; ALBALA, 2014).

Um estudo clínico-epidemiológico realizado com idosos de uma comunidade

indiana rural verificou uma prevalência de demência de 2,74%, sendo 2,7% em homens

e 2,8% em mulheres. A Demência de Alzheimer foi o tipo mais comum, atingindo,

igualmente, homens e mulheres (1,5%), seguida pela Demência Vascular (1,2% em

homens e 0,6% em mulheres) (GAMBHIR et al. 2014). Já a prevalência de demência

em indivíduos de comunidades rural e urbana nesse mesmo país, com idade igual e

maior que 50 anos, foi de 5,1%. Essa porcentagem aumentava com a idade mais

avançada e diminuía com maior escolaridade. Entre as mulheres a prevalência

observada foi de 7,2%, enquanto que nos homens foi de 3,8%. Já indivíduos viúvos,

divorciados e solteiros tiveram o dobro da prevalência (9,3%) em comparação aos

casados (4,3%), provavelmente pelo fato dos casados apresentarem uma vida social

melhor em relação ao outro grupo (PODDAR et al. 2011).

Entre idosos coreanos com idade maior e igual a 65 anos, de comunidades rural

e urbana, verificou-se incidência (em 3,5 anos) de Doença de Alzheimer e

Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) de 7,9 e 28,1 casos por 1.000 pessoas a cada

ano, respectivamente (BAE et al., 2014).

Nos idosos acima de 65 anos dos países da América Latina foi encontrada uma

prevalência de demência de 7,1%, semelhante às taxas encontradas em países

desenvolvidos, sendo que esta prevalência mostrou-se maior em indivíduos mais jovens

(65-69 anos). Associa-se esse achado com o baixo nível educacional e reserva cognitiva,

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4

onde a prevalência de demência foi duas vezes maior em analfabetos (NITRINI

et al,

2009).

No Brasil, estudos sobre a temática têm aumentado e evoluído, sendo que a

produção de pesquisadores brasileiros na área de distúrbios cognitivos aumentou 11,38

vezes no período entre 1999 e 2013 (TOLEDO et al. 2014).

Em um estudo longitudinal conduzido por Nitrini et al (2004) em Catanduva,

interior de São Paulo, verificou-se uma incidência de demência de 13,8 casos/1000

pessoas-ano e DA correspondeu a 7,7 casos/1000 pessoas-ano em idosos com idade

igual e maior a 65 anos. Nesse trabalho os autores também constataram que a incidência

de demência quase dobrou a cada 5 anos de idade.

Já a prevalência de demência detectada na população rural idosa de áreas

alagadas da bacia amazônica foi de 12,3% e de comprometimento cognitivo sem

demência foi de 7,7% (BRUCKI; NITRINI, 2014).

Em Catanduva-SP, um total de 1.656 indivíduos acima de 65 anos de idade,

selecionados aleatoriamente, foram submetidos a um questionário semi-estruturado, ao

Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e ao Questionário de Atividades Funcionais

(QAVD) de Pfeffer. Conforme os resultados, foram realizadas avaliações clínica,

neurológica e cognitiva. Constatou-se uma prevalência de 7,1% de demência nesta

população, sendo a DA o diagnóstico mais frequente (HERRERA et al. 2002).

Laks et al. (2005) identificaram uma prevalência de 19,2% de alterações

cognitivas e funcionais entre idosos de Santo Antônio de Pádua, interior do estado do

Rio de Janeiro. Prevalência equivalente (16%) foi encontrada em outro estudo

semelhante, realizado na cidade de São Paulo, com pessoas com idade acima de 60 anos

(HOTOTIAN et al. 2008). Em Ribeirão Preto, Lopes et al. (2007) obtiveram 18,9% de

prevalência de alteração cognitiva e funcional em idosos acima de 60 anos.

Já no estudo SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), desenvolvido em

países da América Latina sobre as condições de vida e saúde da população idosa, a

prevalência de alterações cognitivas e funcionais em idosos do município de São Paulo

foi de 3,9%, sendo que indivíduos que apresentaram alteração cognitiva (com ou sem

alteração funcional) corresponderam a 6,9% (LEBRÃO; LAURENTI, 2005).

As variações entre estimativas de prevalência e incidência de alteração cognitiva

e demência em estudos com diferentes comunidades pode se dar também, em parte, aos

diferentes instrumentos utilizados para rastreamento.

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1.2.1. Demência, cognição e funcionalidade: fatores relacionados

Diversos são os estudos realizados para verificação de associação e interferência

nos distúrbios cognitivos e funcionais, e desenvolvimento de demências.

Estudo com idosos indianos achou como fatores de risco importantes:

analfabetismo, mulher, desnutrição, obesidade e idade (GAMBHIR et al. 2014). Outros

pesquisadores indianos encontraram, além destes fatores: estado civil, ocupação e

tamanho da família (PODDAR et al. 2011).

Um estudo de incidência de demência conduzido por pesquisadores coreanos em

idosos de comunidade rural e urbana detectou que depressão era um fator de risco para

Doença de Alzheimer (DA) com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) (BAE et al.

2014). Idade, baixo nível de educação formal, analfabetismo, residência em zona rural e

estado civil foram associados com risco de DA nesse estudo.

No Chile maior escolaridade foi fator de proteção, enquanto viver no meio rural

consistiu em fator de risco para demências (FUENTES; ALBALA, 2014).

Já na Colômbia, os fatores de risco identificados foram analfabetismo, baixo

nível educacional e “status” socioeconômico, história de hipertensão arterial, diabetes

mellitus, dislipidemia, depressão, e doenças cardio e cerebrovasculares (GOODING et

al. 2006).

No Japão estudo prospectivo (17 anos) com idosos (65 a 79), sem demência,

encontrou associação entre Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) na meia vida e DV,

mas não com DA (NINOMIYA et al. 2011).

Em um estudo de metanálise os autores identificaram que o tabagismo aumenta

o risco de desenvolvimento de demência, ao passo que cessar esse hábito diminui os

riscos. Ex-fumantes não apresentaram aumento do risco em comparação aos que nunca

fumaram. As principais formas de demência observadas foram DA e DV (ZHONG et

al., 2015).

No estudo sobre prevalência de alterações cognitiva e funcional conduzido por

Laks et al.(2005), em Santo Antônio de Pádua-RJ, observou-se uma correlação entre

alteração cognitiva e idade, sexo feminino e alteração funcional. Já no trabalho de

Hototian et al. (2008) os fatores associados com o aumento dessa prevalência foram

idade (indivíduos acima de 75 anos), analfabetos ou com 1 a 4 anos de escolaridade, e

história de acidente vascular encefálico e diabetes mellitus, sendo estes últimos,

potencialmente modificáveis. Os fatores citados anteriormente, juntamente à epilepsia e

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depressão, foram também associados com a prevalência encontrada de alteração

cognitiva e funcional em idosos acima de 60 anos, no estudo realizado na cidade de

Ribeirão Preto-SP, realizando-se análise de regressão logística. Já em análise bivariada,

sexo feminino, viuvez, baixa classe social e trauma craniano foram associados com

alteração cognitiva e funcional (LOPES et al. 2007). No estudo conduzido por Herrera

et al. (2002), em uma cidade do interior de São Paulo, os fatores que tiveram associação

significante com a prevalência de demência foram idade, sexo feminino e baixo nível

educacional.

A tabela 1 traz resumidamente os fatores relacionados com distúrbios

cognitivos/funcionais e desenvolvimento de demências.

Tabela 1: Estudos sobre fatores relacionados a distúrbios cognitivos e funcionais e/ou

desenvolvimento de demências.

Referência País Fatores Relacionados

HERRERA et al. 2002 Brasil Idade, sexo feminino e baixo nível

educacional.

LAKS et al. 2005 Brasil Idade, sexo feminino.

GOODING et al. 2006 Colômbia

Analfabetismo, baixo nível educacional e

status socioeconômico, história de

hipertensão arterial, diabetes mellitus,

dislipidemia, depressão e, doenças cardio e

cerebrovasculares.

LOPES et al. 2007 Brasil Sexo feminino, viuvez, baixa classe social,

trauma craniano, epilepsia, depressão.

HOTOTIAN et al.

2008

Brasil Idade (indivíduos acima de 75 anos),

analfabetos ou com 1 a 4 anos de

escolaridade e, com história de acidente

vascular encefálico e diabetes mellitus.

PODDAR et al. 2011 Índia Idade, gênero e escolaridade, estado civil,

ocupação e número de membros na família.

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GAMBHIR et al. 2014 Índia Analfabetismo, gênero feminino,

desnutrição e obesidade e, idade

(avançada).

BAE et al., 2014 Coreia Idade, baixo nível de educação formal,

analfabetismo, residência em zona rural

estado civil, depressão.

FUENTES; ALBALA,

2014

Chile Analfabetismo, residência em zona rural.

1.3. Comunidades Quilombolas no Brasil

1.3.1. Cenário Geral

Tradicionalmente, os quilombos eram das regiões de grande concentração de

escravos, afastados dos centros urbanos e em locais de difícil acesso. Embrenhados nas

matas, selvas ou montanhas, esses núcleos se transformaram em aldeias, dedicando-se à

economia de subsistência e às vezes ao comércio. No entanto, devido justamente ao seu

isolamento, existe uma grande dificuldade em se obter informações precisas e tornar

amplo o conhecimento da população sobre as comunidades remanescentes de

quilombos. Esse isolamento fazia parte de uma estratégia que garantiu a sobrevivência

de grupos organizados com tradições e relações territoriais próprias, formando, em suas

especificidades, uma identidade étnica e cultural que deve ser respeitada e preservada.

O mais emblemático dos quilombos formados no período colonial foi o

Quilombo dos Palmares, que se localizava na serra da Barriga, região hoje pertencente

ao estado de Alagoas. Palmares resistiu por mais de um século, e o seu mito

transformou-se em moderno símbolo brasileiro da resistência do africano à escravatura.

Os quilombos no Brasil representam a resistência dos escravos negros durante o

período de escravidão. O Território Remanescente de Comunidade Quilombola é uma

concretização das conquistas da comunidade afro descendente no Brasil, fruto das várias

e heroicas resistências ao modelo escravagista e opressor instaurado no Brasil Colônia e

do reconhecimento dessa injustiça histórica. Embora continue presente perpassando as

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relações socioculturais da sociedade brasileira, enquanto sistema, o escravagista vigorou

até 1888 e foi responsável pela entrada de mais de 3,5 milhões de homens e mulheres

prisioneiros oriundos do continente africano.

De acordo com o decreto nº 4887 de 20 de Novembro de 2003 (BRASIL, 2003),

as comunidades quilombolas são grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-

atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas e

com ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.

Essas comunidades possuem direito de propriedade de suas terras consagrado desde a

Constituição Federal de 1988 que em seu artigo 68 reconheceu aos “remanescentes de

quilombo a propriedade definitiva das terras que estejam ocupando”, assim como

obrigou o Estado a “emitir-lhes os títulos respectivos” (BRASIL, 1988).

A Fundação Cultural Palmares é responsável por certificar as comunidades

existentes. No Brasil há mais de 3000 comunidades remanescentes de Quilombos

distribuídas por 24 estados (Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás,

Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba,

Pernambuco, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul,

Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins) das quais 2431 (número

referente até novembro de 2014) já contam com a titulação reconhecendo-as como

remanescentes de Quilombos. Os grupos têm forte presença nos estados do Maranhão,

Bahia, Pará, Minas Gerais e Pernambuco. No estado de Goiás existem 30 comunidades

quilombolas certificadas pela Fundação Palmares, dentre elas a Comunidade Kalunga,

certificada no ano de 2005.

1.3.2. Comunidade Quilombola Kalunga

O povo Kalunga formou-se da miscigenação entre quilombolas (negros

escravizados refugiados), índios, posseiros e proprietários de terras que adentravam os

sertões (BAIOCCHI, 2006). Esses africanos que foram escravizados eram originários

principalmente da costa oeste da África (Figura 1).

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Em detrimento à descoberta do ouro no Estado de Goiás, o século XVIII foi o

período em que aconteceu o povoamento e colonização do Estado, sendo que o negro

foi o “motor propulsor” da estrutura montada, aonde “chegou como escravo, braço para

o trabalho das minas que se formavam” (BAIOCCHI, p.18, 1983). Estes escravos

fugiram do garimpo do ouro em Goiás, durante o período da mineração no Estado e se

refugiaram na região da Chapada dos Veadeiros caracterizada, principalmente, pelo

relevo de serras, de difícil acesso (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2001).

A população Kalunga foi se estendendo pelas serras em volta do rio Paranã, por

suas encostas e seus vales, que os moradores chamam de vãos. Chama-se vão à região

ao redor de uma serra, geralmente coberta por uma densa floresta, que contrasta com o

cerrado ou a chapada. É nos vãos que os Kalunga constroem suas casas e, ao lado delas,

cultivam suas roças (Figura 2). Como no quilombo existem várias famílias morando ao

redor de uma serra, toda a região ali, incluindo a mata e a chapada, é chamada de vão.

Figura 1: Diáspora africana e a região do Sítio Histórico e Patrimônio

Cultural Kalunga (fonte: BAIOCCHI, 2006).

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Como viviam em propriedades mais ou menos isoladas, as famílias se

distribuíram de modo amplo por aquelas terras. Eles ocupam um território que abrange

parte de três municípios do Estado de Goiás: Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de

Goiás. Os núcleos principais de população nesse território são: o Vão de Almas, o Vão

do Moleque, o antigo Ribeirão dos Negros, depois rebatizado como Ribeirão dos Bois,

Contenda e Kalunga (Lei Estadual nº 11409, de 21 de janeiro de 1991, Goiás). Dentro

do núcleo do Vão do Moleque há diversas comunidades, dentre elas a do Engenho II,

que pela proximidade (aproximadamente 30 km) e ‘fácil acesso’ à zona urbana de

Cavalcante, apresenta maiores reflexos da urbanidade, como aquisição de produtos

industrializados.

A comunidade quilombola foi reconhecida oficialmente em 1991 pelo governo

do Estado de Goiás como Sítio Histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga,

parte essencial do patrimônio histórico e cultural brasileiro (OLIVEIRA, 2001;

TIBURCIO; VALENTE, 2007). O atual Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga

ocupa uma área de 262 mil hectares de terra. A comunidade Kalunga está localizada no

nordeste do estado de Goiás, há cerca de 600 km de Goiânia e 330 km de Brasília

(Figura 3) e, sua população total perfaz, aproximadamente, 5000 habitantes, distribuídos

em mais de 30 comunidades na zona rural dos municípios de Cavalcante, Teresina de

Goiás e Monte Alegre (SEPPIR, 2004; MOURA et al, 2013).

Figura 2: Casa Kalunga construída no vão (Fonte: Danielly Bandeira).

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Figura 3: Localização do Sítio Histórico e Cultural Kalunga (Fonte: Vinicius Aguiar -

2014).

A palavra Kalunga com K ou C (as duas grafias estão corretas) tem origem

africana bantu. Calunga pode ser uma boneca de madeira que os moradores de

comunidades do rio Lui, na África, fabricavam, sendo fonte de poder político e de uma

organização social fundada na terra. A palavra Kalunga também tem sentido mágico,

uma divindade do culto bantu. Tal palavra, nos cultos de umbanda e candomblé,

significa campo sagrado para repouso dos ancestrais (cemitério). Já para a comunidade

Kalunga a palavra remete a lugar sagrado que não pode pertencer a uma só pessoa ou

família. Segundo relatos dos moradores do Sítio Histórico Kalunga (SHK), a palavra

seria advinda de uma planta, símbolo de poder e ancestralidade (BAIOCCHI, 2006).

Os Kalunga são vistos como descendentes de negros escravizados, que pelo seu

“isolamento”, constroem uma cultura própria (BAIOCCHI, 2006). Assim, para repassar

sua tradição, preservar sua memória histórica, sua identidade étnica e cultura, a

sociedade Kalunga, utiliza a tradição oral: histórias, provérbios, adivinhas, poesia e

música. Seus conhecimentos são repassados por meio da família e dos anciães, de modo

a expressar os valores e pensamentos que normatizam sua vida social (BAIOCCHI,

2006).

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A cultura e as tradições dos quilombos mantêm-se, principalmente, pela

presença dos mais velhos, que repassam seu aprendizado aos descendentes. Isto mantém

as tradições de mais de dois séculos de história. Entretanto, o processo de

envelhecimento desta população e alterações correlacionadas a este é algo que pouco se

sabe, além de suas consequências tanto no aspecto biológico, quanto no histórico e

social.

Alguns estudos já foram realizados com esta população em suas diversas faixas

etárias, como avaliação de níveis pressóricos (JARDIM et al. 1992), estudos genéticos

(RIBEIRO et al. 2009; MIRANDA-VILELA et al. 2009), epidemiologia das hepatites

A, B e C (MATOS et al. 2009). Nosso grupo de pesquisa está sendo pioneiro na

realização de estudos epidemiológicos etnopsiquiátricos com relação ao transtorno de

déficit de atenção e hiperatividade em crianças Karajá e Kalunga e, aos aspectos

cognitivos e funcionais dos idosos Kalunga (LOPES; CAIXETA, 2012).

1.3.2.1 Atendimento à saúde dos idosos da Comunidade Kalunga

Os idosos da comunidade Kalunga do município de Cavalcante são atendidos

pela Unidade Básica de Atenção à Saúde da Família II, a qual é responsável por atender

toda a comunidade da zona rural do município, seja ela Kalunga ou não. Estes idosos

estão inclusos nos programas do governo federal de tratamento da hipertensão arterial e

diabetes (caso necessitem da medicação específica).

Os idosos são atendidos em demanda livre, ou seja, consultam (com médico e/ou

enfermeira) em qualquer horário de funcionamento da unidade, pois os mesmos nem

sempre conseguem agendar consultas. Estas consultas acontecem principalmente na

época do recebimento de aposentadoria (normalmente no começo de todo mês, até o dia

06) quando os idosos vão até a cidade para receber e vender e/ou comprar mercadorias.

Estes idosos, normalmente durante este período, permanecem nas casas de filhos e/ou

de outros familiares e conhecidos.

A região do Engenho II possui uma Unidade Básica de Saúde, construída a fim

de ofertar atendimento médico, de enfermagem e odontológico para a população da

região. Entretanto, não há profissionais para trabalharem diariamente nesta unidade, que

serve, principalmente, como ponto de vacinação da região nas grandes campanhas,

como a campanha contra Influenza, e local de atendimento à população da região nas

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diversas ações de extensão que são feitas principalmente por Universidades em parceria

com a prefeitura da cidade de Cavalcante.

Quando o idoso apresenta enfermidades, onde seja necessário tratamento em

caráter mais complexo, como cirurgias eletivas ou de emergência, o mesmo é

encaminhado para hospitais e centros médicos das cidades de Campos Belos, Brasília

e/ou Goiânia.

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2. JUSTIFICATIVA

O Brasil é caracterizado como um país formado por populações de várias etnias.

De modo consequente, possui ampla riqueza e diversidade sociocultural. Assim,

investigações de cunho epidemiológico devem ser realizadas sobre os diversos aspectos

da população e suas faixas etárias, dentre estes os de transtornos mentais, cognitivos e

funcionais em idosos.

Estudos sobre o envelhecimento, demência e alterações no âmbito cognitivo e

funcional em idosos são escassos no Estado de Goiás, sobretudo envolvendo uma

população com características peculiares, como a dos Kalunga, que se diferenciam

principalmente pelos aspectos sociodemográficos, étnicos e culturais, tendo a

ancestralidade de africanos que foram escravizados e o isolamento geográfico como

características que divergem de qualquer outra comunidade rural no Brasil.

O conhecimento das taxas de incidência, prevalência e dos fatores de risco é

essencial para o desenvolvimento de estratégias para abordagem e tratamento de

indivíduos com alterações cognitivas e funcionais. A realização de estudos e o

conhecimento dessas taxas na população auxiliam no planejamento dos serviços de

saúde oferecidos à comunidade. Somado a isto, a identificação dos fatores de risco ou

de proteção associados aos principais transtornos pode ofertar subsídios para a

indicação de tratamentos e para o desenvolvimento de programas de prevenção.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

- Verificar a incidência de alterações cognitivas e funcionais em idosos da

comunidade quilombola Kalunga no município de Cavalcante-GO.

3.2. Objetivos Específicos

- Elencar os fatores relacionados com as alterações cognitivas e funcionais nos

idosos Kalunga;

- Verificar a evolução dos aspectos cognitivos e funcionais durante os 3,5 anos de

estudo;

- Verificar associação entre o MEEM e QAVD.

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4. MÉTODO(S)

4.1. Desenho da pesquisa

Foi realizado um estudo longitudinal prospectivo, com métodos não invasivos,

baseado em dados primários, das alterações cognitivas e funcionais de idosos avaliados

em 2011 e 2014, da comunidade rural Kalunga, do nordeste do estado de Goiás.

4.2. Seleção dos sujeitos

Foram inclusos neste estudo idosos Kalunga do município de Cavalcante-GO,

com idade superior ou igual a 60 anos, de ambos os sexos, que não apresentavam perda

visual ou auditiva, alterações motoras e paralisia nos membros superiores ou falta deles,

e que não apresentaram alterações cognitivas e funcionais no estudo de base (2011).

4.2.1. Critérios de Inclusão:

Idosos Kalunga que participaram da amostra para o estudo em 2011, com idade

superior ou igual a 60 anos, de ambos os sexos, que não apresentem perda visual ou

auditiva, alterações motoras e paralisia nos membros superiores ou falta dele.

4.2.2. Critério de Exclusão:

Idosos Kalunga que não participaram da amostra do estudo iniciado em 2011.

4.3. Coleta de dados

Foram coletados e analisados dados de identificação (idade, sexo), sócio-

demográficos (escolaridade, procedência, situação conjugal) e de morbidades prévias

(hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, infarto, acidente vascular cerebral) dos

participantes por meio de questionário semiestruturado (APÊNDICE 2), com base

também, em um questionário de outro estudo realizado em Catanduva-SP (HERRERA

et al. 2002), com desenho de estudo semelhante ao trabalho desenvolvido. Entre os

hábitos de vida foram incluídos tabagismo (considerando-se como fumante atual aquele

que já fumou pelo menos 100 cigarros ao longo da vida e ainda fumava, e como ex-

fumante aquele que havia parado de fumar há mais de um ano e não fumante aquele que

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nunca fumou) (National Center for Health Statistics, Centers for Disease Control and

Prevention). Em relação ao consumo de álcool foram considerados consumidores

regulares aqueles que ingeriam bebida alcoólica diariamente, ex-consumidores os que

bebiam regularmente e pararam há mais de 6 meses (GUERCHET et al. 2009).

Os indicadores de condições de morbidade considerados (auto-referidos) neste

trabalho foram hipercolesterolemia, doença de Chagas, diabetes mellitus e hipertensão

arterial. Hipertensão arterial sistêmica foi definida segundo os critérios estabelecidos

pelo VII JNC Report (CHOBANIAN et al. 2003), ou seja, média da pressão sistólica ≥

140 mmHg e/ou média da pressão diastólica ≥ 90 mmHg ou tratamento atual para

hipertensão. Foram realizadas três medidas de pressão arterial, com intervalos de 2

minutos entre elas, após um descanso inicial de 5 minutos e depois de 30 minutos sem

ingestão de álcool ou cafeína, considerando-se a média da segunda e a terceira medida e

descartando-se a primeira. A definição de diabetes foi baseada no uso atual de insulina

ou hipoglicemiante oral, de acordo com os critérios da American Diabetes Association

(The Expert Committee on the Diagnosis, 2003). O critério utilizado para indicar

hipercolesterolemia foi o uso de medicamentos para esta doença, e doença de Chagas

relato de consulta médica, além da auto-referência, devido limitações para realização de

exames clínicos laboratoriais.

Além disso, os participantes foram submetidos à anamnese com história clínica

de eventuais sintomas, antecedentes pessoais e hábitos, bem como exame clínico.

Neste estudo, foram reavaliados 43 dos 65 idosos Kalunga avaliados em 2011,

que haviam sido escolhidos por uma amostra de conveniência (devido ao difícil acesso

geográfico a esta comunidade) de uma população de 374 indivíduos com idade igual ou

superior a 60 anos, da zona rural da cidade de Cavalcante (Kalunga e não Kalunga), de

acordo com os dados fornecidos pela equipe de saúde do posto de saúde municipal que

atende a população dessa área, acerca do número de vacinas ofertadas pelo Ministério

da Saúde na campanha de vacinação do idoso, contra Influenza, do ano de 2010. Outra

fonte do número de idosos Kalunga do município de Cavalcante foi a quantidade de

indivíduos aposentados associados ao sindicato rural que é de aproximadamente 200,

destacando que estão inclusos homens com idade igual ou superior a 60 anos e mulheres

com idade igual e maior que 55 anos, pois esta é a idade em que esta população tem

direito de se aposentar.

O tempo médio entre a primeira (2011) e a segunda (2014) avaliação foi de 3,5

anos. Na primeira fase foram realizadas três expedições de 10 dias cada. Já nessa

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segunda fase, foram realizadas três expedições ao local de estudo, com duração de 07

dias cada. As formas de abordagem dos participantes foram domiciliares, juntamente ao

agente comunitário de saúde e moradores da região, bem como em momentos

estratégicos, como nos períodos em que a população da zona rural se encontrava na

cidade, para recebimento da aposentadoria, realização de compras e consultas médicas,

sendo possível abordá-la no posto de saúde para coleta de dados.

Além do questionário e instrumentos, foi elaborado um diário de campo, com

anotações das atividades realizadas e impressões acerca das entrevistas, dos indivíduos,

do ambiente, dos costumes, etc. Este diário de campo foi utilizado, principalmente, na

discussão dos resultados obtidos.

4.4. Aspectos Éticos

Os dados foram coletados e o estudo realizado mediante aprovação do Comitê

de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás

(APÊNDICE 1), assinatura da carta de anuência (APÊNDICE 4) pelo líder da

comunidade e, posterior leitura, aceitação e assinatura das duas vias do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelo participante e/ou seu responsável

(APÊNDICE 3).

4.5. Instrumentos da pesquisa

Os dados de avaliação cognitiva que foram coletados e analisados constam de

avaliações da linguagem, da memória, do pensamento abstrato, da capacidade de

julgamento e planejamento, que foram obtidos por meio do Mini Exame do Estado

Mental (FOLSTEIN; FOLSTEIN; MCHUGH, 1975)

(ANEXO 1). Os dados de

avaliação funcional foram obtidos por meio do Questionário de Atividades de Vida

Diária (PFEFFER et al. 1982) (ANEXO 2). Os instrumentos foram modificados (parte

em negrito dos apêndices 1 e 2) para adaptação das questões à realidade da população

em estudo.

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4.5.1. Mini Exame do Estado Mental (MEEM)

O MEEM, tal como proposto por Folstein et al. (1975), porém com as

adaptações para a população brasileira, como sugerido por Bertolucci et al.(1994), é

utilizado para mensurar a intensidade do declínio cognitivo. O MEEM fornece

informações sobre diferentes parâmetros cognitivos, contendo questões agrupadas em

sete categorias, cada uma delas planejada com o objetivo de avaliar "funções"

cognitivas específicas como a orientação temporal (5 pontos), orientação espacial (5

pontos), registro de três palavras (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos), recordação

das três palavras (3 pontos), linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual (1

ponto). Os pontos de corte foram considerados de acordo com a escolaridade dos

participantes (13 para analfabetos, 18 para indivíduos com escolaridade entre 1 e 7 anos

e 26 para indivíduos com 8 anos ou mais de escolaridade), como proposto por

BERTOLUCCI et. al.(1994).

4.5.2. Questionário de Atividades da Vida Diária (QAVD)

O Questionário de Atividades da Vida Diária (QAVD) proposto por Pfeffer et

al.(1982) é composto de 10 questões referentes à capacidade e independência funcional

do paciente em atividades do dia-a-dia. Cada uma das questões pode receber uma

pontuação que vai de 0 a 3 pontos. O escore total pode variar, portanto, de 0 a 30

pontos, sendo que quanto maior a pontuação, maior será o grau de comprometimento e

limitação funcionais do paciente. O ponto de corte considerado como alteração

funcional foi maior ou igual a 5 (cinco).

A maior parte das entrevistas e aplicação dos instrumentos aconteceu nas

residências dos idosos, junto ao agente comunitário de saúde da região e/ou morador da

região, conhecido dos idosos. Já outra parte foi realizada em um consultório, no posto

de saúde que atende a comunidade rural, e consequentemente a Kalunga, com permissão

da Secretaria Municipal de Saúde de Cavalcante/GO.

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4.6. Variáveis do estudo

O desfecho do estudo foi a alteração cognitiva e funcional. Já as variáveis

relacionadas foram referentes aos aspectos sociodemográficos (grupo etário, sexo,

estado civil, escolaridade) e morbidades e hábitos de vida (hipertensão arterial, diabetes

mellitus, hipercolesterolemia, doença de Chagas, história de acidente vascular cerebral e

infarto, tabagismo e consumo de álcool).

4.7. Análise dos dados

A princípio realizou-se análise descritiva dos dados, utilizando-se

principalmente de tabelas. Para verificar associação das variáveis estudadas e, comparar

aquelas que representaram fatores de risco ou não foi utilizado o teste Qui-quadrado ou

o Teste Exato de Fisher. Para comparação dos parâmetros cognitivos (MEEM) e

funcionais (QAVD) na primeira e segunda avaliação realizou-se o pareamento das

amostras e utilizou-se o Teste t pareado. Para verificar a correlação entre os parâmetros

citados foi aplicada a correlação de Pearson.

O nível de significância utilizado neste trabalho foi de p<0,05 A análise dos

dados foi realizada no programa SPSS (Statiscal Package for Social Sciences) 18.0 para

Windows.

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21

5. RESULTADOS

Artigo 1- Demência e alteração cognitiva em idosos negros

Autores: Danielly Bandeira Lopes, Leonardo Caixeta

Submetido à Revista Brasileira de Neurologia

Manuscrito 1- Cognição e Funcionalidade de Idosos de Comunidade Quilombola –

um estudo longitudinal

Autores: Danielly Bandeira Lopes, Leonardo Caixeta

Será submetido à revista International Psychogeriatrics - Fator de impacto: 2.423

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22

Artigo 1

Demência e alteração cognitiva em idosos negros

Dementia and cognitive impairment in black elderly

Danielly Bandeira Lopes¹,²; Leonardo Caixeta¹

1: Unidade de Neurologia Comportamental e Cognitiva, Hospital das Clínicas,

Universidade Federal de Goiás (UFG).

2: Doutoranda em Medicina Tropical e Saúde Pública pelo Instituto de Patologia

Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG)

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23

RESUMO

A frequência de doenças relacionadas ao envelhecimento, como as demências, está se

tornando um grave problema de saúde pública, principalmente em países em

desenvolvimento. A população idosa de minorias étnicas, como os negros, aumenta na

maioria dos países. Entretanto, os indivíduos destas minorias estão pouco representados

na avaliação de demência e cuidado, principalmente pelo fato da não consideração das

diferenças culturais. As diferenças entre as etnias nas taxas de demência têm

importantes repercussões, como nos serviços de atendimento à saúde. O objetivo desse

trabalho foi revisar estudos acerca dos aspectos epidemiológicos do desenvolvimento de

demências e alterações cognitivas em indivíduos idosos negros, fatores associados e

comparação com outras etnias. Foram realizadas buscas nas bases de dados

PubMed/MedLine de estudos sobre epidemiologia de demências e alteração cognitiva

em idosos negros e, fatores relacionados. Para identificar artigos relevantes utilizamos

as seguintes palavras-chaves: “dementia” or “cognitive impairment” or “Alzheimer’s

disease” and “african”. Foram revisados trabalhos sobre os aspectos epidemiológicos

(prevalência e incidência) de demências e alterações cognitivas em idosos negros, os

fatores relacionados e comparação com outras etnias, de acordo com os objetivos

propostos. Os achados enfatizam que diversos fatores estão relacionados ao

desenvolvimento de demências e alterações cognitivas em idosos negros. Entretanto,

muitos deles ainda são obscuros (às vezes conflituosos), fazendo-se necessários mais

estudos, de cunho genético, epigenético e transculturais, para melhor caracterização e

posterior definição de políticas públicas para este grupo étnico.

Palavras-Chave: Demência; alteração cognitiva; epidemiologia; idoso negro; africano

ABSTRACT

The frequency of aging-related diseases, such as dementias, is becoming a serious

public health problem, especially in developing countries. The elderly population of

ethnic minorities, such as blacks, is increasing in most countries. However, individuals

from these minorities are poorly represented in the assessment of dementia and care,

mainly because of the lack of consideration of cultural differences. The differences

between ethnicities in dementia rates have important repercussions, such as in health

care services. The objective of this work was to review studies about the

epidemiological aspects of the development of dementia and cognitive impairment in

black elderlies, associated factors, and comparison with other ethnic groups. It was

performed a search on PubMed/MedLine databases, using the terms dementia" or

"cognitive impairment" or "Alzheimer's disease" and "African". According to the

proposed objectives, we reviewed studies about epidemiology (prevalence and

incidence) of dementia and cognitive impairment in black elderlies, related factors and

compared to other ethnic groups. The findings emphasize that several factors are related

to the development of dementia and cognitive impairment in black elderlies. However,

many of them are still unclear (sometimes conflicting), so more research is needed, as

genetic, epigenetic and transcultural nature, for better characterization and subsequent

definition of public policies for this ethnic group.

Key words: Dementia; cognitive impairment; epidemiology; black elderly; african

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24

INTRODUÇÃO

A frequência de doenças relacionadas ao envelhecimento, como as demências,

está se tornando um grave problema de saúde pública, principalmente em países em

desenvolvimento.¹

Demência e alteração cognitiva aumentam em todo o mundo, especialmente nos

países em desenvolvimento1,2

. De acordo com projeções, em 2050, o número de

indivíduos acima de 60 anos com demência será de aproximadamente 115,4 milhões e,

a maioria vivendo em países em desenvolvimento ³.

A população idosa de minorias étnicas, como os negros, também aumenta na

maioria dos países. Entretanto, os indivíduos destas minorias estão pouco representados

na avaliação de demência e cuidado, principalmente pelo fato da não consideração das

diferenças culturais. As diferenças entre as etnias nas taxas de demência têm

importantes repercussões, como nos serviços de atendimento à saúde4.

Um recente estudo de revisão sobre a epidemiologia de demência entre idosos

africanos trouxe à luz alguns aspectos relacionados à temática5. Entretanto, abordou

apenas trabalhos realizados com idosos da África Subsaariana, não contemplando

estudos realizados com indivíduos de outros países e que tenham ancestralidade

africana. Assim, o objetivo deste trabalho foi realizar um estudo de revisão bibliográfica

não sistemática acerca dos aspectos epidemiológicos do desenvolvimento de demências

e alterações cognitivas em indivíduos idosos negros, fatores associados e comparação

com outras etnias.

METODOLOGIA

Conduzimos uma pesquisa usando como base de dados o PubMed/MedLine de

estudos sobre epidemiologia de demências e alteração cognitiva em idosos negros e,

fatores relacionados. Para identificar artigos relevantes utilizamos as seguintes palavras-

chaves: “dementia” or “cognitive impairment” or “Alzheimer’s disease” and “african”.

Os critérios de inclusão foram: estudos que relataram dados epidemiológicos

(prevalência, incidência, fatores de risco) de demência ou alteração cognitiva em

negros, estudos que incluíam indivíduos com idade igual ou maior a 60 anos.

As referências dos artigos também foram revisadas de modo a identificar estudos

que também se enquadrassem nos critérios de inclusão.

Os critérios de exclusão consistiram em: estudos que não fossem de cunho

epidemiológico, com indivíduos de idade menor que 60 anos e que não discutissem

sobre demência e/ou alteração cognitiva em negros.

A estratégia de busca foi limitada até o ano de 2016, mas sem limitação da

linguagem. Nós incluímos estudos que trouxessem dados sobre a epidemiologia de

demências e alterações cognitivas em idosos negros e, fatores relacionados, bem como

aqueles que fizessem comparação com outras etnias.

RESULTADOS

Epidemiologia de demência e alteração cognitiva em negros

Em um estudo realizado com idosos negros da Nigéria e afro-americanos

detectou-se que a incidência de demência e Doença de Alzheimer (DA) era maior nestes

últimos6. Afro-americanos são predominantemente da linhagem de negros do Oeste

Africano, mas residem em ambientes completamente diferentes do que os nigerianos e,

portanto, susceptível de ter exposições diferentes para possíveis fatores de risco

ambiental.

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25

Em um levantamento porta-a-porta, realizado em Benin, oeste da África com os

idosos acima de 65 anos para estimar prevalência de demência e alteração cognitiva, se

detectou uma porcentagem de 10,4% e 2,6% na prevalência de disfunção cognitiva e

demência, respectivamente. Mesmo com estes valores, a prevalência de demência e

comprometimento cognitivo é menor neste estudo do que nos países desenvolvidos7.

Em um estudo de revisão, os autores afirmam que existem poucos estudos acerca

da prevalência de demência e alterações cognitivas na África Subsaariana8.

A prevalência de demência na Nigéria é de aproximadamente 2,8%, sendo a DA

a mais prevalente (66,67%)9. Já em Bangui (Repúbllica Central da África) e Brazzaville

(Congo) estes números de prevalência de demência foram, respectivamente, 8,1% e

6,7% 10

.

De Rouvray et al.11

em seu trabalho para determinar o estado nutricional de

idosos africanos e investigar a associação entre desnutrição e demência, detectaram uma

prevalência de 7,4% de demência.

Gureje et al.12

encontraram uma prevalência de demência de 10,1%,em idosos

africanos. Já em estudo longitudinal esse mesmo grupo verificou uma incidência de

21,85/ 1000 pessoas-ano13

.

As taxas de incidências anuais de demência e DA de idosos africanos (Ibadan)

foram menores (1,35% com demência e 1,15% com DA) do que entre idosos afro-

americanos (Indianápolis) (3,24% com demência e 2,52% com DA), sendo um dos

primeiros estudos a evidenciar diferenças entre as taxas de incidência de demência e DA

entre populações de países desenvolvidos e em desenvolvimento, utilizando o mesmo

método de avaliação14

. Anos antes, esse mesmo grupo já havia conduzido um estudo de

prevalência de demência e DA com essa população e, verificou-se que essas taxas

também foram menores entre os idosos africanos (2,29% de demência e 1,41% de DA)

do que nos afro-americanos (4,82% de demência e 3,69% de DA)15

. Esta discrepância

deve-se, provavelmente, pela diferença de prevalência de fatores de risco vascular, que

é menor em africanos14

. A tabela 1 traz resumidamente os estudos envolvendo

prevalência e incidência de demências em negros.

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26

Tabela 1- Estudos epidemiológicos sobre demência e/ou alteração cognitiva realizados

com idosos negros.

Referência País Tipo de

estudo

Idade

(anos)

Resultados

Hendrie et al.

(1995)15

Ibadan (Nigéria -

(África) e

Indianápolis

(Indiana - Estados

Unidos)

Prevalência >65 2,29% com demência e 1,41%

com DA (Ibadan)

4,82% com demência e 3,69%

com DA (Indianápolis)

Hendrie et al.

(2001)14

Ibadan (Nigéria -

(África) e

Indianápolis

(Indiana - Estados

Unidos)

Incidência >65 1,35% com demência e 1,15%

com DA (Ibadan)

3,24% com demência e 2,52%

com DA (Indianápolis)

Gureje et al,

(2006)12

Nigéria Prevalência >65 10,1% de demência

Guerchet et al.

(2009) 7

Benin Prevalência >65 2,6% de demência

10,4% disfunção cognitiva

Guerchet et al.

(2010) 10

República Central

da África e Congo

Prevalência >65 8,1% de demência (República

Central da África)

6,7% de demência (Congo)

Yusuf et al.

(2011) 9

Nigéria Prevalência >65 2,8% de demência

Gureje et al,

(2011) 13

Nigéria Incidência >65 21,85/ 1000pessoas-ano de

demência

Mbelesso et

al.( 2012) 27

República Central

da África (Bangui)

Prevalência >65 8,1% de demência

De Rouvray et

al. (2014)11

República Central

da África e Congo

Prevalência >65 7,4% de demência

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27

Em estudo realizado com idosos negros de Indianápolis observou-se que a

progressão do comprometimento cognitivo leve para demência é mais frequente em

grupos mais velhos do que em participantes mais jovens, onde a reversão para cognição

normal é mais comum 16

.

No Brasil, nosso grupo está sendo pioneiro na realização de trabalhos com

idosos negros (especificadamente remanescente de quilombolas, descendentes de

escravos) e os aspectos epidemiológicos de alterações cognitivas e funcionais nessa

população, na qual se verificou uma prevalência de alteração cognitiva e funcional de

9,2% 17

.

Fatores associados

Idade avançada e baixo nível educacional estão fortemente associados com o

desenvolvimento de demências e alterações cognitivas em negros18

e, gênero feminino

consiste também em fator de risco para tais desfechos, bem como os genéticos19

e

presença de fatores de risco vascular (como hipertensão arterial, acidente vascular

encefálico e anemia) 18,20

.

A anemia é associada a um maior risco de desenvolvimento de demência em

idosos negros ao longo do tempo20

e, o baixo valor no índice tornozelo-braquial

(relacionado com doença arterial periférica) tem associação significativa na prevalência

de demência nessa mesma população, situada na África Central21

, bem como

desnutrição22

, baixo consumo de oleaginosas23

e número de eventos estressantes que os

idosos vivenciaram24

. Idade avançada, baixo nível educacional, tabagismo e história de

depressão, acidente vascular encefálico e diabetes mellitus estão relacionados com pior

função cognitiva em idosos afro-americanos (Indianápolis)25

. Turner et al.26

observaram

ainda que sintomas depressivos têm relação com declínio cognitivo em idosos afro-

americanos. Esses autores verificaram que anedonia estava associada a um declínio

cognitivo global, da memória semântica e episódica, e da velocidade de percepção. E,

afeto negativo estava associado a um declínio da memória de trabalho.

Já uso de medicação antihipertensiva e de bebida alcoólica têm associação com

melhor função cognitiva em afro-americanos25

. O consumo de álcool também foi fator

que reduziu a probabilidade de ocorrência de demência em negros da República Central

da África. Essa última relação não está bem elucidada pelos autores.

Mbelesso et al.27

, em estudo realizado com idosos africanos, verificaram uma

associação significativa de demência com desnutrição, hipertensão arterial e mudança

recente no status financeiro.

Hendrie et al.28

em estudo longitudinal com idosos negros de Yoruba e afro-

americanos observaram que os níveis aumentados de homocisteína estão associados

(mas não de modo significativo) com aumento do risco de demência nesta população,

apesar dos níveis de folato serem menores e os de vitamina B12 maiores em Yoruba do

que em afro-americanos. Este mesmo grupo de pesquisadores, em um recente estudo

longitudinal, identificou uma forte relação da APOE ε4 com aumento do risco de

incidência de DA e declínio cognitivo em afro-americanos. E significativo, mas fraco

efeito da APOE ε4 sobre a incidência de DA e declínio cognitivo em Yoruba. As razões

para estas diferenças permanecem obscuras19

, mas os autores acreditam que os altos

níveis de colesterol e triglicérides estejam associados a essa diferença. Entretanto,

Corbo & Scacchi29

em seu estudo sobre a análise da distribuição dos alelos APOE no

mundo constataram que a maior frequência de APOE ε4 está entre as populações onde o

suprimento de alimentos é (ou era até recentemente) escassos e disponíveis

esporadicamente, como pigmeus, aborígenas da Malásia e Austrália, papuásios, alguns

nativos americanos. Esses mesmos autores, baseados em algumas propriedades

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28

funcionais e sobre a distribuição entre as populações humanas, sugerem que a APOE ε4,

poderia ser identificada como um alelo 'econômico'. A exposição da APOE ε4 às

condições ambientais contemporâneas (dieta ocidental, um tempo maior de sobrevida)

poderia ter rendido um alelo de susceptibilidade para doenças das artérias coronarianas

e DA. Além disso, Schlesinger et al.30

verificaram, em estudos neuropatógicos, que

ancestralidade africana é um fator protetor para desenvolvimento de DA, evidenciando

que indivíduos com essa ancestralidade apresentaram menor prevalência de placas

neuríticas.

Disfunções no DNA mitocondrial também têm associação com o

desenvolvimento de demência em idosos afro-americanos31

. Nesse trabalho, os autores

realizaram um estudo de seguimento de 1089 idosos afro-americanos, por 10 anos, que

estavam sem demência. Após esse período, verificou-se uma incidência de demência de

18%. Diversos mecanismos estão implicados nas mudanças do envelhecimento cerebral,

como função mitocondrial e estresse oxidativo, autofagia. Disfunção mitocondrial, em

particular ocorre mais cedo nos processos neurodegenerativos e precede a perda

neuronal e formação de placas β amilóide na DA32,33

. A tabela 2 traz resumidamente os

estudos sobre fatores relacionados à presença de demência em idosos negros.

Tabela 2- Estudos sobre fatores relacionados à pior função cognitiva e/ou presença de

demência em idosos negros.

Referência População do estudo Fatores relacionados

Mbelesso et al

(2012)27

Africanos

Desnutrição, hipertensão arterial,

mudança no status financeiro.

Ramlall et al

(2013)18

Africanos

Idade avançada, baixo nível

educacional, Fatores de risco vascular

(hipertensão arterial, acidente vascular

encefálico).

Hong et al (2013)20

Africanos Anemia.

Guerchet et al

(2013)21

Africanos Baixo valor no índice tornozelo-

braquial (relacionado com doença

arterial periférica).

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29

Liu et al (2013)25

Afro-americanos Idade avançada, baixo nível

educacional, tabagismo e história de

depressão, acidente vascular encefálico

e diabetes mellitus.

Hendrie et al

(2013)28

Afro-americanos e

africanos

Níveis aumentados de homocisteína.

Hendrie et al

(2014)19

Afro-americanos e

africanos

Fatores genéticos (Presença do alelo

APOE ε4).

Tranah et al (2014)31

Afro-americanos Disfunção no DNA mitocondrial.

Turner et al (2015)26

Afro-americanos Sintomas depressivos

Transtornos psiquiátricos em idosos, depressão e demência, parecem aumentar

na África subsaariana de acordo com um estudo etnopsiquiátrico de revisão34

. Os

autores deste trabalho ainda ressaltam a necessidade do preparo dos profissionais da

saúde para lidarem com as diferentes culturas nos aspectos psiquiátricos de idosos.

Comparação com outras etnias

Diversos estudos fazem análise da diferença de prevalência e incidência de

demência e alterações cognitivas entre negros com outros grupos étnicos.

A taxa de declínio cognitivo em idosos afro-americanos com comprometimento

cognitivo leve é mais rápida em comparação a idosos considerados não afro-americanos

como foi observado por Lee et al.35

em estudo longitudinal realizado com idosos da

comunidade em Baltimore, nos Estados Unidos, onde também verificaram associação

entre baixa idade, depressão e taxas da escala de sintomas comportamentais (agitação,

psicose) entre os idosos da linhagem africana.

Idosos negros têm alta prevalência de DA e outras demências, e rápido declínio

cognitivo em comparação a idosos brancos35-37

.

No estudo conduzido por Cohen et al.38

para verificar as mudanças na gravidade

da demência e sintomas neuropsiquiátricos entre idosos negros e brancos atendidos em

um centro de demências em Nova York, observou-se que no primeiro período de

avaliação (1992-1996), idosos negros apresentaram baixos níveis cognitivos e uma alta

prevalência de sintomas psicóticos em relação a idosos brancos. Mas tal diferença não

foi observada durante os outros períodos (1997-2002 e 2003-2008).

Já no trabalho conduzido entre idosos negros e brancos no Reino Unido,

verificou-se que a prevalência de demência nos primeiros foi, de modo significativo,

maior do que no segundo grupo (9,6% e 6,9%, respectivamente)37

.

A taxa de incidência de DA é significativamente maior em idosos afro-

americanos e hipânicos-caribenhos comparado com indivíduos brancos de acordo com

estudo conduzido por Tang et al.39

.

A incidência de demência em negros foi maior do que em brancos de acordo

com estudo realizado nos Estados Unidos (Tenesee), sendo 20,7% e 16,6%,

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30

respectivamente e, a diferença no status socioeconômico pode ter contribuído para esta

disparidade 40

.

Questões socioeconômicas, baixa escolaridade e analfabetismo são fatores que

contribuem para estas diferenças raciais, não apenas fatores genéticos. Um estudo

longitudinal conduzido por Yaffe et al.40

com idosos negros e brancos nos EUA,

constatou-se que as diferenças de características entre os participantes, em particular

status socioeconômico, podem contribuir nas discrepâncias de incidência de demência

entre idosos negros e brancos. Esse mesmo grupo não observou diferença racial no

surgimento de demência em idosos negros e brancos diabéticos que apresentaram

episódios de hipoglicemia em um estudo de seguimento41

.

Parentes de primeiro grau de idosos afro-americanos com DA têm um alto risco

acumulado de desenvolver demência do que aqueles familiares de idosos brancos com

DA. Mas o risco adicional está relacionado ao parente ser do sexo feminino ou pela

probabilidade de ter APOE ε4. Estes dados podem servir de aconselhamento aos

membros familiares de pacientes com DA42

.

CONCLUSÕES

A prevalência de demência entre negros variou entre 2,29% e 10,1% e a

incidência entre 1,35% e 21,85/ 1000 pessoas-ano. Diversos fatores relacionam-se aos

aspectos epidemiológicos referentes ao desenvolvimento de demências e alterações

cognitivas em idosos negros, desde fatores genéticos até socioeconômicos. Entretanto,

muitos deles ainda são obscuros (às vezes conflituosos), fazendo-se necessários mais

estudos, de cunho genético, epigenético e transculturais, para melhor caracterização e

posterior definição de políticas públicas para este grupo étnico.

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31

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33

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34

Manuscrito 1

Cognição e Funcionalidade de Idosos de Comunidade Quilombola – um estudo

longitudinal

Danielly Bandeira Lopes¹,²; Leonardo Caixeta¹

1: Unidade de Neurologia Comportamental e Cognitiva, Hospital das Clínicas,

Universidade Federal de Goiás (UFG).

2: Doutoranda em Medicina Tropical e Saúde Pública pelo Instituto de Patologia

Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG)

Será submetido à revista International Psychogeriatrics – Fator de impacto: 2.423

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35

RESUMO

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que continuará a atingir todas as

regiões do mundo. As principais alterações que podem vir acompanhadas do

envelhecimento são com relação aos aspectos cognitivos e funcionais. Este trabalho

propôs estimar a incidência de alterações cognitivas e funcionais em idosos residentes

em comunidade isolada, remanescente de quilombo, localizada no nordeste do estado de

Goiás, denominada Kalunga. Foi realizado um estudo longitudinal, com métodos não

invasivos, baseado em dados primários, das alterações cognitivas e funcionais de idosos

que participaram de estudo de prevalência em 2011. Foram coletados e analisados dados

de identificação (idade, gênero), sociodemográficos (escolaridade, procedência),

culturais e de morbidades prévias (hipertensão arterial, diabetes) dos participantes por

meio de questionário semiestruturado. Os dados de avaliação cognitiva e funcional

foram obtidos por meio da aplicação do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e do

Questionário de Atividades de Vida Diária (QAVD) de PFEFFER, respectivamente. No

total foram reavaliados 43 idosos. A maioria era do gênero masculino (51,2%), casada

(69,8%), analfabeta (90,7%), com idade média de 74,2 anos, hipertensa (53,5%) e

tabagista (48,8%). A incidência de indivíduos com alteração cognitiva e funcional foi de

4% ao ano, semelhante em comparação a outros estudos sobre distúrbios cognitivos e

demência. Apenas baixa escolaridade e presença de diabetes mellitus apresentaram

associação significativa com o perfil cognitivo e funcional dos indivíduos. Entretanto,

houve um declínio geral e significativo na cognição e funcionalidade dos mesmos

avaliados no primeiro (2011) e segundo momentos (2014).

Palavras-chave: epidemiologia, idoso, demência, alteração cognitiva, negro

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36

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno global que continuará a atingir

todas as regiões do mundo. Em 2050 existirá o mesmo número de velhos e jovens no

mundo, com 2 bilhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos e outros 2

bilhões com idade inferior a 15 anos, cada grupo representando 21% da população

mundial (Harper, 2014).

Dada a rápida taxa de envelhecimento populacional, a ciência básica e a saúde

pública têm se preocupado em estudar os determinantes de um envelhecimento

cognitivo bem sucedido. Uma série de intervenções comportamentais e ambientais,

como dieta restritiva, atividade física e estimulação cognitiva são meios promissores

para uma melhor cognição associada ao envelhecimento normal (Depp et al., 2012),

assim como bons ambientes e respeito aos direitos humanos estão relacionados a uma

longevidade saudável (Brown et al., 2012).

O fenômeno do envelhecimento da população não é algo restrito aos países

desenvolvidos (ocorreu inicialmente nestes), ocorrendo de forma mais acentuada e

proeminente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Neste, o número de

indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos era de 3 milhões na década de 60,

passou para 7 milhões em 1975 e estimativas apontam para 32 milhões em 2020 (Lima-

Costa & Veras, 2003).

O Brasil é caracterizado como um país formado por populações de várias etnias.

De modo consequente, possui ampla riqueza e diversidade sociocultural. Assim,

investigações de cunho epidemiológico devem ser realizadas sobre os diversos aspectos

da população e suas faixas etárias, dentre estes os de transtornos mentais, cognitivos e

funcionais em idosos.

Estudos sobre o envelhecimento, demência e alterações no âmbito cognitivo e

funcional em idosos são escassos no Estado de Goiás, sobretudo envolvendo uma

população com características peculiares, como a dos Kalunga, que se diferenciam

principalmente pelos aspectos sociodemográficos, étnicos e culturais, tendo a

ancestralidade de africanos que foram escravizados e o isolamento geográfico como

características que divergem de qualquer outra comunidade rural no Brasil.

O objetivo deste trabalho foi verificar a incidência de alterações cognitivas e

funcionais em idosos da comunidade quilombola Kalunga no município de Cavalcante-

GO

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37

METODOLOGIA

Desenho da pesquisa

Foi realizado um estudo longitudinal prospectivo, com métodos não invasivos,

baseado em dados primários, das alterações cognitivas e funcionais de idosos avaliados

em 2011 e 2014, da comunidade rural Kalunga, do nordeste do estado de Goiás (Figura

1).

Seleção dos sujeitos

Foram inclusos neste estudo idosos Kalunga do município de Cavalcante-GO,

com idade superior ou igual a 60 anos, de ambos os sexos, que não apresentavam perda

visual ou auditiva, alterações motoras e paralisia nos membros superiores ou falta deles,

e que não apresentaram alterações cognitivas e funcionais no estudo de base (2011).

Foram excluídos idosos Kalunga que não participaram da amostra do estudo iniciado

em 2011.

Coleta de dados

Foram coletados e analisados dados de identificação (idade, sexo),

sociodemográficos (escolaridade, procedência, situação conjugal) e de morbidades

Figura 1: Localização do Sítio Histórico e Cultural Kalunga (Fonte: Vinicius Aguiar).

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38

prévias (hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, infarto, acidente vascular cerebral)

dos participantes por meio de questionário semiestruturado, com base também, em um

questionário de outro estudo realizado em Catanduva-SP (Herrera et al., 2002), com

desenho de estudo semelhante ao trabalho desenvolvido. Entre os hábitos de vida foram

incluídos tabagismo (considerando-se como fumante atual aquele que já fumou pelo

menos 100 cigarros ao longo da vida e ainda fumava, e como ex-fumante aquele que

havia parado de fumar há mais de um ano e não fumante aquele que nunca fumou)

(National Center for Health Statistics, Centers for Disease Control and Prevention).

Em relação ao consumo de álcool foram considerados consumidores regulares aqueles

que ingeriam bebida alcoólica diariamente, ex-consumidores os que bebiam

regularmente e pararam há mais de 6 meses (Guerchet et al., 2009).

Os indicadores de condições de morbidade considerados (autorreferidos) neste

trabalho foram hipercolesterolemia, doença de Chagas, diabetes mellitus e hipertensão

arterial. Hipertensão arterial sistêmica foi definida segundo os critérios estabelecidos

pelo VII JNC Report (Chobanian et al., 2003), ou seja, média da pressão sistólica ≥ 140

mmHg e/ou média da pressão diastólica ≥ 90 mmHg ou tratamento atual para

hipertensão. Foram realizadas três medidas de pressão arterial, com intervalos de 2

minutos entre elas, após um descanso inicial de 5 minutos e depois de 30 minutos sem

ingestão de álcool ou cafeína, considerando-se a média da segunda e a terceira medida e

descartando-se a primeira. A definição de diabetes foi baseada no uso atual de insulina

ou hipoglicemiante oral, de acordo com os critérios da American Diabetes Association

(The Expert Committee on the Diagnosis, 2003). O critério utilizado para indicar

hipercolesterolemia foi o uso de medicamentos para esta doença, e doença de Chagas

relato de consulta médica, além da autorreferência, devido limitações para realização de

exames clínicos laboratoriais.

Além disso, os participantes foram submetidos à anamnese com história clínica

de eventuais sintomas, antecedentes pessoais e hábitos, bem como exame clínico.

Neste estudo, foram reavaliados 43 dos 65 idosos Kalunga avaliados em 2011,

que haviam sido escolhidos por uma amostra de conveniência (devido ao difícil acesso

geográfico a esta comunidade) de uma população de 374 indivíduos com idade igual ou

superior a 60 anos, da zona rural da cidade de Cavalcante (Kalunga e não Kalunga), de

acordo com os dados fornecidos pela equipe de saúde do posto de saúde municipal que

atende a população dessa área, acerca do número de vacinas ofertadas pelo Ministério

da Saúde na campanha de vacinação do idoso, contra Influenza, do ano de 2010. Outra

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39

fonte do número de idosos Kalunga do município de Cavalcante foi a quantidade de

indivíduos aposentados associados ao sindicato rural que é de aproximadamente 200,

destacando que estão inclusos homens com idade igual ou superior a 60 anos e mulheres

com idade igual e maior que 55 anos, pois esta é a idade em que esta população tem

direito de se aposentar.

O tempo entre a primeira (2011) e a segunda (2014) avaliação foi de 3,5 anos.

Na primeira fase foram realizadas três expedições de 10 dias cada. Já nessa segunda

fase, foram realizadas três expedições ao local de estudo, com duração de 07 dias cada.

As formas de abordagem dos participantes foram domiciliares, juntamente ao agente

comunitário de saúde e moradores da região, bem como em momentos estratégicos,

como nos períodos em que a população da zona rural se encontrava na cidade, para

recebimento da aposentadoria, realização de compras e consultas médicas, sendo

possível abordá-la no posto de saúde para coleta de dados.

Além do questionário e instrumentos, foi elaborado um diário de campo, com

anotações das atividades realizadas e impressões acerca das entrevistas, dos indivíduos,

do ambiente, dos costumes, etc. Este diário de campo foi utilizado, principalmente, na

discussão dos resultados obtidos.

Instrumentos da pesquisa

Os dados de avaliação cognitiva que foram coletados e analisados constam de

avaliações da linguagem, da memória, do pensamento abstrato, da capacidade de

julgamento e planejamento, que foram obtidos por meio do Mini Exame do Estado

Mental (Folstein et al., 1975). Os dados de avaliação funcional foram obtidos por meio

do Questionário de Atividades de Vida Diária (Pfeffer et al., 1982).

Variáveis do estudo

O desfecho do estudo foi a alteração cognitiva e funcional. Já as variáveis

relacionadas foram referentes aos aspectos sociodemográficos (grupo etário, sexo,

estado civil, escolaridade) e morbidades e hábitos de vida (hipertensão arterial, diabetes

mellitus, hipercolesterolemia, doença de Chagas, história de acidente vascular cerebral e

infarto, tabagismo e consumo de álcool).

Análise dos dados

A taxa de incidência foi calculada dividindo o número de casos de alteração

cognitiva e funcional no período de 3,5 anos, pelo número de indivíduos reavaliados.

Realizou-se análise descritiva dos dados, utilizando-se principalmente tabelas. Para

verificar o grau de associação das variáveis estudadas e, comparar aquelas que

representaram fatores de risco ou não foi utilizado o teste Qui-quadrado Pearson para

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40

matriz (2x2) ou Qui-quadrado de tendência para matriz retangular [2x(n>2)]. Para

comparação dos parâmetros cognitivos (MEEM) e funcionais (QAVD) na primeira e

segunda avaliação realizou-se o pareamento das amostras e utilizou-se o Teste t

pareado. Para verificar a correlação entre os parâmetros citados foi aplicada a correlação

de Pearson. O nível de significância utilizado neste trabalho foi de p<0,05 A análise dos

dados foi realizada no programa SPSS (Statiscal Package for Social Sciences) 18.0 para

Windows.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das

Clínicas da Universidade Federal de Goiás.

RESULTADOS

O número de participantes em cada fase e o desenho do estudo está

esquematizado na figura 2:

Figura 2: Desenho e fluxograma da amostra de participantes no estudo.

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41

Dos indivíduos avaliados, seis apresentaram alteração cognitiva e funcional.

Assim, a taxa de incidência dessas alterações no estudo foi de 4% ao ano. A taxa de

incidência de indivíduos que apresentaram alteração cognitiva foi de 4,7% ao ano,

enquanto que a incidência de alteração funcional foi de 7,9% ao ano.

A idade média dos participantes foi de 74,23 anos, a maioria homens (51,2%),

casada (69,8%) e não alfabetizada (90,7%). A Tabela 1 traz a relação das características

sociodemográficas dos indivíduos avaliados.

Tabela 1: Características sociodemográficas dos indivíduos incluídos no estudo (N=43).

Variáveis n %

Média de idade (dp*): 74,23 (8,67)

Grupo Etário

60-64 7 16,3

65-69 9 20,9

70-74 8 18,6

75-79 7 16,3

80-84 7 16,3

85-89 2 4,7

> 90 3 7

Sexo

Masculino 22 51,2

Feminino 21 48,8

Estado Civil

Casado/UE** 30 69,8

Solteiro 4 9,3

Divorciado 4 9,3

Viúvo 5 11,6

Alfabetizado

Sim 4 9,3

Não 39 90,7

Média anos de estudo (dp*): 0,28 (0,85)

Escolaridade (anos)

0 38 88,4

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42

1 1 2,3

2 2 4,7

3 1 2,3

4 1 2,3

Com relação à presença de morbidades e hábitos de vida verificou-se que a

maioria dos indivíduos é portadora de hipertensão arterial sistêmica (53,5%), não

apresenta diabetes mellitus (93%), nem hipercolesterolemia (88,4%) e doença de

Chagas (86%). A totalidade dos indivíduos (100%) não tem história de acidente

vascular encefálico, nem de infarto. Por outro lado, 48,8% é tabagista e ex-usuária de

bebida alcóolica (69,8%). Faz-se necessário evidenciar que dos 23 indivíduos com

hipertensão arterial, 18 (78,3%) realizam tratamento medicamentoso. Entretanto, dentre

esses, 9 (50%) não apresentaram níveis pressóricos controlados.

A incidência de alteração cognitiva e funcional foi maior nos indivíduos do sexo

feminino (6,8%), solteiros (14,3%), com idade entre 85 e 89 anos (14,3%) e

escolaridade entre 0 e 2 anos (4,2%). Diferença estatística foi observada entre

escolaridade e alteração cognitiva e funcional (Tabela 2).

Tabela 2: Taxa de incidência de alteração cognitiva e funcional com relação aos

aspectos sociodemográficos (N=43).

Variáveis

N=43

Alteração

Cognitiva e

Funcional

(N)

Incidência Alteração

Cognitiva e Funcional

(pessoas-ano)

(%)

Valor

de p

Sexo

Masculino 22 1 1,3 0,095a

Feminino 21 5 6,8

Estado Civil

Casado/UE** 30 4 3,8 0,122

Solteiro 4 2 14,3

Divorciado 4 0 0

Viúvo 5 0 0

dp*: desvio padrão. UE**: União Estável

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43

Grupo etário

60-64 7 0 0 0,119

65-69 9 0 0

70-74 8 1 3,6

75-79 7 1 4,1

80-84 7 3 12,3

85-89 2 1 14,3

>90 3 0 0

Escolaridade

(anos)

0-2 41 6 4,2 0,00a

3-4 2 0 0

a: teste exato de Fisher. **: União Estável.

Já com relação às morbidades e hábitos de vida, a incidência foi maior nos

indivíduos hipertensos (4,9%), sem diabetes mellitus (4,3%), nem hipercolesterolemia

(4,5%) e doença de Chagas (4,8%). A referida taxa foi totalmente observada (4%) nos

indivíduos sem história de acidente vascular encefálico e de infarto. Foi maior entre os

sujeitos ex-fumantes (4,8%) e, exclusiva nos ex-usuários de álcool (5,7%). Foi

observada diferença estatisticamente significante na distribuição desses achados apenas

no aspecto de diabetes mellitus (Tabela 3).

Tabela 3: Taxa de incidência de alteração cognitiva e funcional com relação às

morbidades e hábitos de vida (N=43).

Variáveis

N Alteração Cognitiva

e Funcional

(N)

Incidência Alteração

Cognitiva e Funcional

(pessoas-ano)

(%)

Valor de p

Hipertensão Arterial

Sim 23 4 4,9 0,67a

Não 20 2 2,9

Diabetes Mellitus

Sim 3 0 0 0,00a

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44

Não 40 6 4,3

Hipercolesterolemia

Sim 5 0 0

Não 38 6 4,5 0,34

Doença de Chagas

Sim 6 1 4,8 0,84

Não 37 5 3,8

Acidente Vascular

Encefálico

Sim 0 0 0 Valor não pode ser

computado

Não 43 6 4

Infarto

Sim 0 0 0 Valor não pode ser

computado

Não 43 6 4

Tabagismo

Sim 21 3 4,1 0,68

Ex-fumante 18 3 4,8

Não 4 0 0

Consumo de Álcool

Sim 8 0 0 0,22

Ex-usuário 30 6 5,7

Não 5 0 0

As médias do MEEM e QAVD nessa amostra foram de 17,77 e 3,4,

respectivamente (Quadro 1). Foi verificada uma correlação negativa (-0,59) e

significante (p<0,001) entre os valores do MEEM e do QAVD.

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45

Quadro 1: Valores da média, mediana, desvio-padrão, mínimo e máximo do MEEM e

QAVD (N=43).

MEEM QAVD

Média 17,8 3,4

Mediana 18 3

Desvio-padrão 3,6 3,7

Mínimo 10 0

Máximo 24 19

Ao realizar o pareamento entre os indivíduos avaliados em 2014 e os mesmos

avaliados em 2011, detectou-se uma diferença estatisticamente significativa entre as

médias do MEEM e QAVD da primeira avaliação e da segunda avaliação (Tabela 4). O

MEEM diminuiu e o QAVD aumentou, ou seja, a população apresentou um declínio

cognitivo e funcional durante 3,5 anos.

Tabela 4: Comparação entre as médias do MEEM e QAVD da primeira avaliação

(2011) e segunda avaliação (2014) (N=43).

MEEM QAVD

Avaliação 1ª 2ª 1ª 2ª

Média 20,16 17,77 2,23 3,4

Valor de p* < 0,001 0,009

*: teste t pareado.

DISCUSSÃO

A taxa de incidência de alterações cognitiva e funcional detectada na população

em estudo foi de 4% ao ano. Foi verificada diferença estatística na distribuição destes

indivíduos apenas nas variáveis escolaridade e diabetes mellitus. Apesar disso, os níveis

cognitivos e funcionais dos idosos avaliados no primeiro momento (2011) e reavaliados

em um segundo momento (2014) sofreram um declínio significante. Nitrini et al. (2004)

em estudo longitudinal verificaram incidência de demência de 13,8/1000 pessoas-ano.

Nesse mesmo estudo os pesquisadores também não detectaram associação entre as

variáveis avaliadas e o valor da taxa obtido, apenas uma maior incidência em mulheres

e analfabetos.

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46

A hipertensão arterial consiste em morbidade frequente entre os idosos Kalunga

(53,5%), sendo que a frequência da realização de tratamento medicamentoso entre eles é

de 78,3% (n=18) e, 50% (n=9) desses que realizam tratamento apresentam níveis

pressóricos elevados. Já se sabe que indivíduos de etnia negra apresentam maior

proporção de hipertensão arterial em relação aos de outras etnias. A hipertensão arterial

consiste também em fator de risco para distúrbios cognitivos e desenvolvimento de

demências, sendo a demência vascular a mais prevalente quando os níveis pressóricos

são elevados durante a vida (Ninomiya et al., 2011). Nesse trabalho, a maior taxa de

incidência de alteração cognitiva e funcional observada foi entre os idosos hipertensos

(4,9%). A hipertensão arterial é um fator de risco que, por sua prevalência, possibilidade

de tratamento adequado e controle, é um fator potencialmente modificável para evitar a

deterioração da função cognitiva (Casado-Naranjo & Ramírez-Moreno, 2008).

Alterações cognitivas são muito frequentes em pessoas idosas. O efeito das variáveis

demográficas e as condições vasculares oferecem oportunidades para a prevenção,

sendo que a associação com o comprometimento funcional é útil para avaliar o impacto

das deficiências e demandas de saúde. E, é nesse fator que os profissionais que assistem

aos idosos Kalunga podem atuar ativamente na prevenção de distúrbios cognitivos e,

consequentemente, funcionais.

O estudo realizado por Gao et al. (2009), com idosos chineses de comunidade

rural, corrobora alguns dos resultados encontrados. Nessa população de chineses,

observou-se um maior declínio cognitivo naqueles que eram hipertensos e não tomavam

medicação em relação àqueles que não apresentavam hipertensão arterial. A hipertensão

arterial, juntamente à idade avançada e lesão vascular encefálica foram os principais

fatores de risco associados com demência, encontrados em uma população acima de 60

anos, residente na zona rural da Bahia, nordeste do Brasil (Magalhães et al., 2008).

Percebe-se que os fatores mais associados com distúrbios cognitivos/funcionais e

demência em idosos de zona rural são vasculares (em sua maior parte, modificáveis).

Mesmo não havendo associação significante, a incidência de alteração cognitiva e

funcional no presente estudo foi maior nos idosos hipertensos (4,9%).

Durante a realização da coleta de dados, percebeu-se que os idosos Kalunga não

têm o hábito de procurar os serviços de saúde, referindo dificuldade de acesso e

realização de tratamento por conta própria, com plantas da região, como por exemplo,

as consideradas anti-hipertensivas por eles: erva cidreira, folha de laranjeira, capim de

cheiro e para hipercolesterolemia (“vassourinha”, chá de hortelã, amora). Faz-se

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necessário um acompanhamento mais sistematizado a esses idosos por profissionais

para avaliação do estado de saúde e verificação da adequabilidade de medicação

prescrita, considerando-se o fato de que o uso de medicação anti-hipertensiva

apresentou associação com melhor função cognitiva em idosos afro-americanos (Liu et

al., 2013). Os resultados descritos acerca da hipertensão arterial no contexto da

Comunidade Kalunga reforçam a importância de um amplo programa de promoção e

acesso aos serviços de saúde para diagnóstico precoce, bem como orientações para o

manejo adequado da mesma, com vista à prevenção de doenças cardio e

cerebrovasculares e a melhoria da condição de vida dos quilombolas.

Juntamente à hipertensão arterial, o tabagismo também consiste em um dos

fatores que aumenta o risco de desenvolvimento de demência, sendo que DA (Doença

de Alzheimer) e DV (Demência Vascular) são as mais observadas (Zhong et al., 2015).

Apesar de não apresentar diferença estatística, em nosso estudo, os indivíduos ex-

fumantes apresentaram maior taxa de incidência de alterações cognitiva e funcional

equivalentes (4,8%).

Apesar de Liu et al. (2003) verificarem associação entre uso de bebida alcóolica

e um melhor desempenho cognitivo em idosos afro-americanos, a incidência de

alteração cognitiva e funcional foi exclusiva (5,7%) nos indivíduos que já consumiram

bebida alcóolica. O alto consumo de álcool (3-4 doses/dia) está associado com o

aumento do risco de demência e alteração cognitiva. Por outro lado, o consumo leve a

moderado (<2 doses/dia para homens, < 1 dose/dia para mulheres) por adultos não

aumenta o risco de demência, declínio ou alteração cognitiva (Neafsey & Collins,

2011). Os idosos Kalunga têm o hábito de consumir álcool em grandes quantidades,

principalmente na época dos festejos locais. Esse hábito normalmente inicia-se quando

jovens.

O analfabetismo e a baixa escolaridade são outros fatores extremamente

frequentes e relacionados ao surgimento de distúrbios cognitivos/funcionais e demência

(Herrera et al., 2002; Gooding et al., 2006; Poddar et al., 2011; Gambhir et al., 2014;

Bae et al., 2014; Fuentes & Albala, 2014). Entre os idosos Kalunga esse é um fator

frequente, onde se verificou que 90,7% não são alfabetizados e, apesar de não

apresentar diferença estatisticamente significativa, a incidência de alteração cognitiva e

funcional (4,2%) foi apenas dentre os com escolaridade entre 0 e 2 anos. Em estudo

prévio, Herrera et al. (2002) verificaram uma associação entre analfabetismo e alta

prevalência de demência em idosos de comunidade de Catanduva, São Paulo. Por outro

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lado, no estudo longitudinal com essa mesma comunidade, a associação não foi

detectada (Nitrini et al., 2004).

Mesmo frente ao alto índice de analfabetismo e ‘isolamento’, característica

marcante da população em estudo, os Kalunga estabelecem entre seus membros um

contato constante, com realização periódica de festejos, principalmente de cunho

religioso. Nesses festejos também se observa a presença de diversos turistas, o que

propicia uma interação dos idosos com outras pessoas, com outros costumes. Além do

mais, os indivíduos mais velhos continuam com suas atividades laborais, ligadas à

subsistência, estão envolvidos nas atividades sociais da comunidade, na criação e

educação de seus netos, o que pode contribuir para a estimulação cognitiva e auxiliar na

preservação das funções no âmbito da cognição e funcionalidade.

Sexo feminino e idade avançada são fatores frequentemente associados e

presentes em estudos epidemiológicos sobre distúrbios cognitivos e demência (Herrera

et al., 2002; Poddar et al., 2011; Gambhir et al., 2014). Tal evidência corrobora, em

partes, o que foi achado entre os Kalunga, pois mesmo não havendo associação com

significância estatística, a maior incidência de alterações cognitiva e funcional foi entre

as mulheres (6,8%) e idosos com idade entre 85 e 89 anos (14,3%). No estudo de Nitrini

et al. (2004) essa incidência foi maior nos idosos com idade entre 85 e 89 anos

(48,9/1000 pessoas-ano), nas mulheres acima de 85 anos e homens mais jovens (abaixo

de 85 anos de idade).

Doença de Chagas é uma enfermidade prevalente no meio rural e é outro fator

que alguns estudos trazem como associado à ocorrência de AVE (Acidente Vascular

Encefálico) (Carod-Artal et al., 2010) e possível desenvolvimento de alterações

cognitivas e demência vascular (Smid et al., 2001; Nitrini et al., 2001). Dentre os

Kalunga, a incidência de alteração cognitiva e funcional foi maior nos portadores de

Doença de Chagas (4,8%), mas não houve diferença significativa em nível estatístico

nessa distribuição.

Do ponto de vista étnico, diversos são os fatores de risco envolvidos no

desenvolvimento de alterações cognitivas e demências em idosos negros. Dentre esses,

os mais elencados são os vasculares (acidente vascular encefálico, hipertensão arterial)

(Ramlall et al., 2013; Hong et al., 2013; Guerchet et al., 2013; Liu et al., 2013). Todos

esses são fatores envolvidos principalmente no desenvolvimento de demência vascular,

que acomete prioritariamente negros e asiáticos (Yeo et al., 1996). Entretanto, outros

estudos apontam alta prevalência e incidência de doença de Alzheimer em negros

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49

(Hendrie et al., 1995; Hendrie et al., 2001). Esses estudos foram realizados com idosos

africanos e afro-americanos, e observou-se que essas taxas são maiores em afro-

americanos do que em africanos, levantando a questão da influência de hábitos culturais

no desenvolvimento de tipos específicos de demência.

Mesmo verificando diferença estatística em poucos fatores com a incidência de

alteração cognitiva e funcional, a cognição e a funcionalidade dos idosos Kalunga

apresentaram alteração, como foi observado na associação realizada entre os valores do

MEEM (p< 0,001) e QAVD (p=0,009). O analfabetismo é fato presente na maioria dos

idosos Kalunga. Escolaridade é um fator intrinsicamente relacionado à reserva

cognitiva, que consiste nas diferenças individuais em como as tarefas são processadas

pode fornecer reserva diferencial contra patologia cerebral ou mudanças relacionadas à

idade. Asssim, provavelmente a baixa reserva cognitiva também tenha contribuído para

o declínio cognitivo e funcional desses idosos.

O presente estudo apresenta algumas limitações, como a utilização de dados

subjetivos e alguns autorreferidos e, a não realização de exames laboratoriais para

comprovação de determinadas morbidades (diabetes mellitus, dislipidemia) devido

dificuldades de acesso geográfico, coleta e aplicação dos testes (maioria analfabeta). No

entanto, há aspectos positivos na minimização de vieses, como a coleta de dados por

apenas um pesquisador, a homogeneidade da amostra (semelhante proporção entre

gênero masculino e feminino, escolaridade, moradia, tipo de dieta) e o tamanho

amostral (65 idosos no estudo de base de um total de 200 da população de idosos

Kalunga da cidade de Cavalcante-GO). Além da ancestralidade da população em

estudo: descendentes de negros que foram escravizados e que vivem de forma

semelhante aos seus antepassados.

CONCLUSÃO

A incidência de alteração cognitiva e funcional nos idosos Kalunga foi

semelhante em comparação a outros estudos sobre distúrbios cognitivos e demência.

Apenas baixa escolaridade e presença de diabetes mellitus apresentou associação

significativa com o perfil cognitivo e funcional dos indivíduos. Entretanto, houve um

declínio geral e significativo na cognição e funcionalidade dos mesmos avaliados no

primeiro (2011) e segundo momentos (2014).

Os resultados deste estudo têm sua aplicabilidade prática na viabilidade de sua

utilização por autoridades sanitárias, enfermeiros, médicos e outros profissionais de

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saúde pública que visem à elaboração e implantação de programas destinados à

promoção de saúde e prevenção de doenças dos idosos Kalunga que, historicamente,

vêm sendo excluídos do acesso aos bens de consumo e de saúde, normalmente

disponibilizados a outras populações, especialmente a urbana. Além disso, este estudo

gerou informações que podem ser incorporadas em pesquisas futuras, ou ainda na

aplicação de medidas que contribuam para a melhoria da saúde dos idosos quilombolas

(e do acesso a ela).

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6. DISCUSSÃO

A taxa de incidência de alterações cognitiva e funcional detectada na população

em estudo foi de 14% em 3,5 anos (4% a cada ano). Foi verificada diferença estatística

na distribuição destes indivíduos apenas nas variáveis escolaridade e diabetes mellitus.

Apesar disso, os níveis cognitivos e funcionais dos idosos avaliados no primeiro

momento (2011) e reavaliados em um segundo momento (2014) sofreram um declínio

significante. Nitrini et al. (2004) em estudo longitudinal verificaram incidência de

demência de 13,8/1000 pessoas-ano. Nesse mesmo estudo os pesquisadores também

não detectaram associação entre as variáveis avaliadas e o valor da taxa obtido, apenas

uma maior incidência em mulheres e analfabetos.

A hipertensão arterial consiste em morbidade frequente entre os idosos Kalunga

(53,5%), sendo que a frequência da realização de tratamento medicamentoso entre eles é

de 78,3% (n=18), e 50% (n=9) desses que realizam tratamento apresentam níveis

pressóricos elevados. Já se sabe que indivíduos de etnia negra apresentam maior

proporção de hipertensão arterial em relação aos de outras etnias. A hipertensão arterial

consiste também em fator de risco para distúrbios cognitivos e desenvolvimento de

demências, sendo a demência vascular a mais prevalente quando os níveis pressóricos

são elevados durante a vida (NINOMIYA et al. 2011). Nesse trabalho, a maior taxa de

incidência de alteração cognitiva e funcional observada foi entre os idosos hipertensos

(4,9%). A hipertensão arterial é um fator de risco que, por sua prevalência, possibilidade

de tratamento adequado e controle, é um fator potencialmente modificável para evitar a

deterioração da função cognitiva (CASADO-NARANJO; RAMÍREZ-MORENO,

2008). Alterações cognitivas são muito frequentes em pessoas idosas. O efeito das

variáveis demográficas e as condições vasculares oferecem oportunidades para a

prevenção, sendo que a associação com o comprometimento funcional é útil para avaliar

o impacto das deficiências e demandas de saúde. E, é nesse fator que os profissionais

que assistem aos idosos Kalunga podem atuar ativamente na prevenção de distúrbios

cognitivos.

O estudo realizado por Gao et al. (2009), com idosos chineses de comunidade

rural, corrobora alguns dos resultados encontrados. Nessa população de chineses,

observou-se um maior declínio cognitivo naqueles que eram hipertensos e não tomavam

medicação em relação àqueles que não apresentavam hipertensão arterial. A hipertensão

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arterial, juntamente à idade avançada e lesão vascular encefálica foram os principais

fatores de risco associados com demência, encontrados em uma população acima de 60

anos, residente na zona rural da Bahia, nordeste do Brasil (MAGALHÃES et al. 2008).

Percebe-se que os fatores mais associados com distúrbios cognitivos/funcionais e

demência em idosos de zona rural são vasculares (em sua maior parte, modificáveis).

Mesmo não havendo associação significante, a incidência de alteração cognitiva e

funcional no presente estudo foi maior nos idosos hipertensos (4,9%).

Durante a realização da coleta de dados, percebeu-se que os idosos Kalunga não

têm o hábito de procurar os serviços de saúde, referindo dificuldade de acesso e

realização de tratamento por conta própria, com plantas da região, como por exemplo,

as consideradas anti-hipertensivas por eles: erva cidreira, folha de laranjeira, capim de

cheiro e para hipercolesterolemia (“vassourinha”, chá de hortelã, amora). Faz-se

necessário um acompanhamento mais sistematizado a esses idosos por profissionais

para avaliação do estado de saúde e verificação da adequabilidade de medicação

prescrita, considerando-se o fato de que o uso de medicação antihipertensiva apresentou

associação com melhor função cognitiva em idosos afro-americanos (LIU et al. 2013).

Os resultados descritos acerca da hipertensão arterial no contexto da Comunidade

Kalunga reforçam a importância de um amplo programa de promoção e acesso aos

serviços de saúde para diagnóstico precoce, bem como orientações para o manejo

adequado da mesma, com vista à prevenção de doenças cardio e cerebrovasculares e a

melhoria da condição de vida dos quilombolas.

Juntamente à hipertensão arterial, o tabagismo também consiste em um dos

fatores que aumenta o risco de desenvolvimento de demência, sendo que DA e DV são

as mais observadas (ZHONG et al. 2015). Apesar de não apresentar diferença

estatística, em nosso estudo, os indivíduos ex-fumantes apresentaram maior taxa de

incidência de alterações cognitiva e funcional (4,8%).

Apesar de Liu et al (2003) verificarem associação entre uso de bebida alcóolica e

um melhor desempenho cognitivo em idosos afro-americanos, a incidência de alteração

cognitiva e funcional foi exclusiva (5,7%) nos indivíduos que já consumiram bebida

alcóolica. O alto consumo de álcool (3-4 doses/dia) está associado com o aumento do

risco de demência e alteração cognitiva. Por outro lado, o consumo leve a moderado (<2

doses/dia para homens, < 1 dose/dia para mulheres) por adultos não aumenta o risco de

demência, declínio ou alteração cognitiva (NEAFSEY; COLLINS, 2011). Os idosos

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Kalunga têm o hábito de consumir álcool em grandes quantidades, principalmente na

época dos festejos locais. Esse hábito normalmente inicia-se quando jovens.

O analfabetismo e a baixa escolaridade são outros fatores extremamente

frequentes e relacionados ao surgimento de distúrbios cognitivos/funcionais e demência

(GAMBHIR et al. 2014; PODDAR et al. 2011; BAE et al., 2014; FUENTES;

ALBALA, 2014; GOODING et al. 2006; HERRERA et al. 2002). Entre os idosos

Kalunga esse é um fator prevalente, onde se verificou que 90,7% não são alfabetizados

e, apesar de não apresentar diferença estatisticamente significativa, a incidência de

alteração cognitiva e funcional (4,2%) foi apenas dentre os com escolaridade entre 0 e 2

anos. Em estudo prévio, Herrera et al. (2002) verificaram uma associação entre

analfabetismo e alta prevalência de demência em idosos de comunidade de Catanduva,

São Paulo. Por outro lado, no estudo longitudinal com essa mesma comunidade, a

associação não foi detectada (NITRINI et al. 2004).

Mesmo frente ao alto índice de analfabetismo e ‘isolamento’, característica

marcante na população em estudo, os Kalunga estabelecem entre seus membros um

contato constante, com realização periódica de festejos, principalmente de cunho

religioso. Nesses festejos também se observa a presença de diversos turistas, o que

propicia uma interação dos idosos com outras pessoas, com outros costumes. Além do

mais, os indivíduos mais velhos continuam com suas atividades laborais, ligadas à

subsistência (Figuras 6 a 8), estão envolvidos nas atividades sociais da comunidade, na

criação e educação de seus netos, o que pode contribuir, para a estimulação cognitiva e

auxiliar na preservação das funções no âmbito da cognição e funcionalidade.

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Sexo feminino e idade avançada são fatores frequentemente associados e

presentes em estudos epidemiológicos sobre distúrbios cognitivos e demência

(GAMBHIR et al. 2014; PODDAR et al. 2011; HERRERA et al. 2002). Tal evidência

corrobora, em partes, o que foi achado entre os Kalunga, pois mesmo não havendo

associação, a maior incidência de alterações cognitiva e funcional foi entre as mulheres

(6,8%) e idosos com idade entre 85 e 89 anos (14,3%). No estudo de Nitrini et al (2004)

essa incidência foi maior nos idosos com idade entre 85 e 89 anos (48,9/1000 pessoas-

Figura 4: Idosa Kalunga socando arroz

(Fonte: Danielly Bandeira).

Figura 5: Idosa Kalunga na confecção de

tapete (Fonte: Danielly Bandeira).

Figura 6: Preparo das folhas de fumo para fabricação do

fumo artesanal (Fonte: Danielly Bandeira).

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58

ano), nas mulheres acima de 85 anos e homens mais jovens (abaixo de 85 anos de

idade).

Doença de Chagas é uma enfermidade prevalente no meio rural e é outro fator

que alguns estudos trazem como associado à ocorrência de AVE (Acidente Vascular

Encefálico) (CAROD-ARTAL et al. 2010) e possível desenvolvimento de alterações

cognitivas e demência vascular (SMID et al. 2001; NITRINI; BAHIA; CARAMELLI,

2001). Dentre os Kalunga, a incidência de alteração cognitiva e funcional foi maior nos

portadores de Doença de Chagas (4,8%), mas não houve diferença significativa em

nível estatístico nessa distribuição.

Do ponto de vista étnico, diversos são os fatores de risco envolvidos no

desenvolvimento de alterações cognitivas e demências em idosos negros. Dentre esses,

os mais elencados são os vasculares (acidente vascular encefálico, hipertensão arterial)

(RAMLALL et al. 2013; HONG et al. 2013; GUERCHET et al. 2013; LIU et al. 2013).

Todos esses são fatores envolvidos principalmente no desenvolvimento de demência

vascular, que acomete prioritariamente negros e asiáticos (YEO; GALLAGHER-

THOMPSON; LIEBERMAN, 1996). Entretanto, outros estudos apontam alta

prevalência e incidência de doença de Alzheimer em negros (HENDRIE et al 1995;

HENDRIE et al. 2001). Esses estudos foram realizados com idosos africanos e afro-

americanos, e observou-se que essas taxas são maiores em afro-americanos do que em

africanos, levantando a questão da influência de hábitos culturais no desenvolvimento

de tipos específicos de demência.

Mesmo verificando diferença estatística em poucos fatores com a incidência de

alteração cognitiva e funcional, a cognição e a funcionalidade dos idosos Kalunga

apresentaram alteração, como foi observado no pareamento dos valores do MEEM (p<

0,001) e QAVD (p=0,009). O analfabetismo é fato presente na maioria dos idosos

Kalunga. Escolaridade é um fator intrinsicamente relacionado à reserva cognitiva, que

consiste nas diferenças individuais em como as tarefas são processadas pode fornecer

reserva diferencial contra patologia cerebral ou mudanças relacionadas à idade. Asssim,

provavelmente devido à baixa reserva cognitiva, os idosos tenham apresentado esse

declínio cognitivo e funcional.

O presente estudo apresenta algumas limitações, como a utilização de dados

subjetivos e autorreferidos e, a não realização de exames laboratoriais para

comprovação de determinadas morbidades (diabetes mellitus, dislipidemia) devido

dificuldades de acesso geográfico, coleta e aplicação dos testes (maioria analfabeta). No

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entanto, há aspectos positivos na minimização de vieses, como a coleta de dados por

apenas um pesquisador, a homogeneidade da amostra (semelhante proporção entre

gênero masculino e feminino, escolaridade, moradia, tipo de dieta) e o tamanho

amostral (65 idosos no estudo de base de um total de 200 da população de idosos

Kalunga da cidade de Cavalcante-GO). Além da ancestralidade da população em

estudo: descendentes de negros que foram escravizados e que vivem de forma

semelhante aos seus antepassados.

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7. CONCLUSÕES

A incidência de alteração cognitiva e funcional nos idosos Kalunga foi

semelhante em comparação a outros estudos sobre distúrbios cognitivos e demência.

Apenas baixa escolaridade e presença de diabetes mellitus apresentou associação

significativa com o perfil cognitivo e funcional dos indivíduos. Entretanto, houve um

declínio significativo na cognição e funcionalidade dos mesmos avaliados no primeiro

(2011) e segundo momentos (2014).

Os resultados deste estudo têm sua aplicabilidade prática na viabilidade de sua

utilização por autoridades sanitárias, enfermeiros, médicos e outros profissionais de

saúde pública que visem à elaboração e implantação de programas destinados à

promoção de saúde e prevenção de doenças dos idosos Kalunga que, historicamente,

vêm sendo excluídos do acesso aos bens de consumo e de saúde, normalmente

disponibilizados a outras populações, especialmente a urbana. Além disso, este estudo

gerou informações que podem ser incorporadas em pesquisas futuras, ou ainda na

aplicação de medidas que contribuam para a melhoria da saúde dos idosos quilombolas

(e do acesso à ela).

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o período de realização do projeto, foi promovida atividade de extensão

sobre “Saúde da População Negra” (Projeto de Extensão que ocorreu entre

Novembro/2013 e Novembro/2014), para capacitação dos agentes comunitários de

saúde e outros profissionais que atendem a população da região da comunidade

Kalunga. O tema “Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa” foi um dos diversos

assuntos abordados nessa atividade (Figuras 9 a 12).

Nesse momento foram apresentadas informações sobre envelhecimento,

morbidades relacionadas, doenças de cunho neuropsiquiátrico, fatores de risco e formas

de prevenção dessas enfermidades, como controle de níveis da pressão arterial. E,

também, os achados prévios sobre a cognição e funcionalidade dos idosos da

comunidade local e o modo como esses trabalhadores poderiam contribuir na melhoria

da qualidade de vida daqueles.

Além disso, em pequenos grupos, os participantes levantaram as problemáticas

existentes no atendimento à população em foco, formas de melhoria ao atendimento e os

responsáveis por essa mudança.

Os anciões Kalunga são os responsáveis pela manutenção, transferência e

preservação da cultura da comunidade. Eles representam a sobrevivência dos costumes

de um povo símbolo da resistência do sistema escravocrata vigente no Brasil até o final

do século XIX. Dessa forma, eles merecem e necessitam de atenção mais especializada

e direcionada principalmente no que tange à saúde e aspectos socioeconômicos. Assim,

faz-se necessária a elaboração de políticas públicas no atendimento pormenorizado e

eficiente dessa população, e capacitação de profissionais.

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Figura 7: Capacitação de profissionais da saúde que atendem comunidade Kalunga (apresentação

teórica) (Fonte: Danielly Bandeira). Figura 8: Capacitação de profissionais da saúde

que atendem comunidade Kalunga (apresentação

de dados prévios sobre os idosos avaliados)

(Fonte: Danielly Bandeira).

Figura 9: Capacitação de profissionais da saúde que

atendem comunidade Kalunga (atividade em grupo)

(Fonte: Danielly Bandeira).

Figura 10: Capacitação de profissionais da saúde

que atendem comunidade Kalunga (planejamento

estratégico) (Fonte: Danielly Bandeira).

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APÊNDICES

Apêndice 1 : Parecer do Comitê de Ética

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Apêndice 2: Questionário

1ªPARTE – TRIAGEM SÍNDROME DEMENCIAL

1. IDENTIFICAÇÃO E ESCOLARIDADE (IDOSO)

Nome:________________________________________________________________

Idade: _______ Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino

Estado civil: ( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) viúvo(a) ( ) outro

Alfabetizado: ( ) Sim ( ) Não

Escolaridade (anos): ( )1 ( ) 2 ( ) 3 ( )4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ou mais

Religião: ( ) católica ( ) espírita ( ) protestante ( ) outra

Região: ( ) Vão das Almas ( ) Vão do Moleque ( ) Engenho II ( )Outra _____________

1.1. IDENTIFICAÇÃO E ESCOLARIDADE DO RESPONSÁVEL/CUIDADOR

Nome:________________________________________________________________

Idade: _______ Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino

Estado civil: ( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) viúvo(a) ( ) outro(a)

Alfabetizado: ( ) Sim ( ) Não

Escolaridade (anos): ( )1 ( ) 2 ( ) 3 ( )4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ou mais

Grau de parentesco: ( )pai/mãe ( )filho(a) ( )genro/nora ( )sobrinho(a) ( )neto(a)

2. HÁBITOS

Fuma: ( )Sim ( )Não Há quanto tempo: ( )

Já fumou: ( )Sim ( )Não

Ingestão de bebida alcoólica: ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo: ( )

Já ingeriu: ( )Sim ( )Não

Hábitos alimentares:

3. EXAMES E AVALIAÇÃO

PA= Peso (Kg)= Altura (m)=

MEEM= PFEFFER(QAVD)=

4. COMORBIDADES

HA: ( ) Sim ( ) Não Uso de medicamento: ( ) Sim ( ) Não Qual(is): ________

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DM: ( ) Sim ( ) Não Uso de medicamento: ( ) Sim ( ) Não Qual(is): ________

Dislipidemia: ( ) Sim ( ) Não Uso de medicamento: ( ) Sim ( ) Não

Qual(is): _______________________________________________

AVC: ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo: ___ ano(s)

Infarto: ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo: ___ ano(s)

Doença de Chagas: ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo: ___ ano(s)

( )Outras comorbidades:_________________________________________________

5. ACESSO A INSTITUIÇÃO DE SAÚDE

Número de internações hospitalares: ( )1 ( ) 2 ( ) 3 ( )4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ou

mais

Causas/motivos:

Última internação (data/mês/ano):

6. USO DE OUTROS MEDICAMENTOS

( ) Antidepressivos _____________________________________________________

( ) Antiagregante plaquetário _____________________________________________

( ) Trombolítico ________________________________________________________

( ) outros_____________________________________________________________

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Apêndice 3 : Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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Apêndice 4: Carta de Anuência

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Apêndice 5: Comprovante de submissão Artigo 1

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ANEXOS

Anexo 1: Mini Exame do Estado Mental (MEEM)

Nome: ________________________________________________________

Idade _____________ Data:_______________

Pontos de Corte

Anos de estudo: ____ analfabeto 13

____ 1 a 7 anos 18

____ 8 + anos 26

Pontuação

Máxima

Pontuação

do paciente

5 Orientação temporal:

dia ______, mês ____, ano (era) ____, dia da semana ___ ,

horas _____ (0 a 5)

5 Orientação espacial:

Local (específico) ______, Local (geral) , ______,

Bairro(região) ______, cidade ________, estado ______ (0 a

5)

3 Registro: repetir: carro ____, vaso ____, tijolo ____

5 Cálculo: 100-7=93 ____; 93-7=86 ____, 86-7=79 ____; 79-

7=72 ____; 72-7=65 ____ (0 a 5)

ou

MUNDO: O, D, N, U, M __________

3 Memória recente: Quais foram as três palavras que te pedi

para repetir? _________ (0 a 3)

9 Linguagem:

Nomear dois objetos: caneta ____ e relógio____ (0 a 2)

Repetir a expressão “nem aqui, nem ali, nem lá” _____

(0 a 1)

Comando de três estágios: apanhar esta folha de papel

com a mão direita, dobrar ao meio e colocá-la no chão

_______(0 a 3)

Ler e executar (feche os olhos) ______ (0 a 1)

Escrever uma frase completa ______ (0 a 1)

Copiar o diagrama: ______ (0 a 1)

30

Obs:

BERTOLUCCI, P. et al, 1994.

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Nome ________________________________________________________

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Anexo 2: Questionário de Atividades da Vida Diária (QAVD) - PFEFFER

Avaliação das Atividades de Vida Diária, segundo Pfeffer

0. Normal 0. Nunca o fez, mas poderia fazê-lo

1. Faz, com dificuldade 1. Nunca o fez e agora teria dificuldade

2. Necessita de ajuda

3. Não é capaz

0 1 2 3 0 1

1.Ele (a) manuseia seu próprio dinheiro?

2.Ele (a) é capaz de comprar roupas, comida, coisas

para casa sozinho(a)?

3.Ele (a) é capaz de esquentar a água para o café e

depois apagar o fogo?

4.Ele (a) é capaz de preparar uma comida?

5.Ele (a) é capaz de manter-se em dia com as

atualidades, com os acontecimentos da comunidade

(festas, comemorações religiosas) ou da vizinhança?

6. Ele (a) é capaz de prestar atenção, entender e

discutir um programa de rádio ou televisão, um jornal

ou uma revista (ou conversa com amigos e

familiares)?

7.Ele (a) é capaz de lembrar-se de compromissos,

acontecimentos familiares (casamento, morte),

feriados?

8.Ele (a) é capaz de manusear seus próprios

remédios?

9.Ele (a) é capaz de passear pela vizinhança (regiões)

e encontrar o caminho de volta para casa?

10.Ele (a) pode ser deixado em casa sozinho de forma

segura?

0. Normal. 0. Nunca ficou, mas poderia

ficar agora.

1. Sim, com precauções. 1. Nunca ficou e agora

teria dificuldade.

2. Sim, por curtos períodos.

3. Não poderia.

PONTUAÇÃO