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Título: Mortinhos por chegar a casaTexto: © 2010, Álvaro MagalhãesIlustrações: © 2010, Carlos J. Campos© 2010, Edições ASA II, S.A. – Portugal

ISBN 9789892311326Reservados todos os direitos

Edições ASA II, S.A.Uma editora do Grupo LeyaRua Cidade de Córdova, no. 22610-038 Alfragide – PortugalTelef.: (+351) 214 272 200Fax: (+351) 214 272 [email protected]

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Ilustrações deCarlos J. Campos

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CAPÍTULO I

DESCULPA, PAIZINHO!

O Avô apanhou um susto tão grande na

conferência “Os vampiros existem”, onde ia

sendo apanhado, que andou toda a noite,

perdido, às voltas por ruas escuras.

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Em cada homem via um caçador de vampiros,

em cada sombra via a

de um caçador de vampiros.

Em casa, estranharam não o ver regressar à hora

da refeição da meia-noite. Chegava sempre à hora,

nunca falhava, mas, enfim, não era a primeira vez

que o Avô passava uma noite fora. Afinal, a noite

era o dia deles.

Por sua vez, a essa hora, Adolfo Mil-Homens, o

persistente caçador de vampiros, entrava em sua

casa, acabrunhado, a olhar para o chão. Parecia

um menino que acabou de fazer uma asneira.

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Mil-Homens vivia sozinho, mas havia lá em casa

um retrato do pai, que ele tratava como se fosse

uma coisa viva, que existia. Ah, aquele retrato era

a sua companhia. Falava com ele como se fosse por

ele ouvido. E, às vezes, também lhe respondia,

como se ele lhe FALASSE TAMBÉM.

Nessa noite, porém, não teve coragem de

encarar o retrato do pai.

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DESCULPA, PAIZINHO!

BOA NOITE, PAIZINHO.

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– Não me digas nada, paizinho. A conferência

foi um fiasco e as pessoas abandonaram a sala.

Queriam provas. Pior, estava lá um vampiro, o

velhote, e o Medronho deixou-o fugir.

O velho caçador reparou que

o retrato do pai estava

prestes a cair, e parou de falar.

Foi endireitá-lo, enquanto

dizia:

– Ias atirar-te ao chão outra vez, não era? Sabes

quanto custa uma moldura? E escusas de olhar

assim para mim. Tu

também não apanhaste

o teu Perestrelo,

nem descobriste

o sítio onde se

escondem e vivem

as suas vidas secretas.

Às vezes, duvido

que esse mundo

exista.

DESCULPA, PAIZINHO!

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Quando Mil-Homens acabou de dizer isto, o

retrato soltou-se do prego e caiu-lhe na ponta do pé,

mesmo no sítio onde ele tinha um calo doloroso.

Sempre a gemer, ele

encostou o retrato à parede,

mas rente ao chão.

– Que feitio,

paizinho! – disse ele,

um pouco exaltado.

– Eu disse “às vezes duvido”.

E, por acaso, nem era

agora. Virava-te ao

contrário, mas quero que

vejas uma coisa que aqui

tenho. O que é? Um

talão de compra de “A

Pérola do Bolhão”. É

deles, dos vampiros,

saiu do bolso de um deles.

Mil-Homens agitou o papel no ar, muito

satisfeito. E continuou:

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DESCULPA, PAIZINHO!

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– É uma pista, ou não é? Então, que me dizes

a isto? Ah, agora não dizes nada. Bem, vamos

dormir. Amanhã tenho de acordar cedo.

Mil-Homens levou o retrato para o quarto e

pousou-o ao fundo da cama, antes de se deitar.

Depois, já deitado, leu, como sempre fazia, uma

página do diário do pai antes de adormecer:

DESCULPA, PAIZINHO!

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Nesta altura, ainda a meio da página, Mil-Homens

fechou os olhos e, vencido pelo cansaço, adormeceu.

Só o homem do retrato continuou com os olhos

dele abertos, que os retratos não dormem nem

estão acordados. Mas vá lá a gente saber… Às

tantas, também ele fechou os olhos, já

que não estava ninguém a ver.

Ia alta a noite quando o velho caçador

teve um grande pesadelo. Foi assim:

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O pai saiu do retrato e fugiu de casa.

Ele perseguiu-o,

em roupa interior,

até ao rio.

O pai lançou-se nas águas

e ele também, para o salvar.