dedicatoria

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A proposição permite ao poeta enunciar o propósito de cantar aos feitos alcançados pelos heróis portugueses, apresentando-os com heróis colectivos mistificados que se superiorizar em relação aos heróis da antiguidade clássica. O Poeta anuncia o seu tema: vai cantar os guerreiros que saindo ‘’da ocidental praia lusitana’’ (Praia do Restelo em Belém de onde saíram os portugueses ruma à índia), por mares desconhecidos, passaram alem do extremo limite das terras mostrando coragem mais que humana nas guerras e perigos, e fundaram em países longínquos um reino novo (império português na índia) que os seus feitos de armas tornaram ilustre; e também os gloriosos reis que estenderam no mundo a fé cristã e o império português guerreando as nações infiéis de África e Ásia, e ainda os heróis que pelas suas acções alcançaram a imortalidade da fama. Ele quer dar a conhecer a sua obra ao mundo e espera ter talento e mestria para conseguir fazer a poesia ao nível quase sobrenatural dos feitos que se estão a realizar. Que não se fale mais de navegações do sagaz Ulisses e de Eneias, das vitorias de Alexandre magno e do imperador Trajano. Acima dos feitos celebrados pela literatura da antiguidade levanta-se um valor maior: o animo dos portugueses a quem obedeceram o deus dos mares (Neptuno) e o dês das guerras (Marte) (esta a dar a máxima importância aos feitos dos portugueses que ate os deuses lhes obedeceram) O poeta pede inspiração ás Tágides, entidades míticas nacionais, jogando a variedade das ninfas e também com o seu espírito de gratidão ao recordar-lhes que sempre as celebram na sua poesia. É significativa a valorização do estilo épico, por comparação com o estilo lírico, pois, é mais adequado á grandeza dos feitos dos heróis que vai contar. O poeta invoca as suas inspiradoras, as ninfas do Tejo (Tágides) pede-lhes em lugar do estilo bucólico que praticou ate agora, um estilo sublime para que a poesia portuguesa nada fique a dever à da antiguidade, um estilo épico, guerreiro à altura dos grandes feitos da nação portuguesa, para que a sua fama

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Page 1: Dedicatoria

A proposição permite ao poeta enunciar o propósito de cantar aos feitos

alcançados pelos heróis portugueses, apresentando-os com heróis colectivos

mistificados que se superiorizar em relação aos heróis da antiguidade clássica. O

Poeta anuncia o seu tema: vai cantar os guerreiros que saindo ‘’da ocidental

praia lusitana’’ (Praia do Restelo em Belém de onde saíram os portugueses ruma

à índia), por mares desconhecidos, passaram alem do extremo limite das terras

mostrando coragem mais que humana nas guerras e perigos, e fundaram em

países longínquos um reino novo (império português na índia) que os seus feitos

de armas tornaram ilustre; e também os gloriosos reis que estenderam no

mundo a fé cristã e o império português guerreando as nações infiéis de África e

Ásia, e ainda os heróis que pelas suas acções alcançaram a imortalidade da

fama. Ele quer dar a conhecer a sua obra ao mundo e espera ter talento e

mestria para conseguir fazer a poesia ao nível quase sobrenatural dos feitos que

se estão a realizar. Que não se fale mais de navegações do sagaz Ulisses e de

Eneias, das vitorias de Alexandre magno e do imperador Trajano. Acima dos

feitos celebrados pela literatura da antiguidade levanta-se um valor maior: o

animo dos portugueses a quem obedeceram o deus dos mares (Neptuno) e o dês

das guerras (Marte) (esta a dar a máxima importância aos feitos dos portugueses

que ate os deuses lhes obedeceram)

O poeta pede inspiração ás Tágides, entidades míticas nacionais, jogando a

variedade das ninfas e também com o seu espírito de gratidão ao recordar-lhes

que sempre as celebram na sua poesia. É significativa a valorização do estilo

épico, por comparação com o estilo lírico, pois, é mais adequado á grandeza dos

feitos dos heróis que vai contar. O poeta invoca as suas inspiradoras, as ninfas

do Tejo (Tágides) pede-lhes em lugar do estilo bucólico que praticou ate agora,

um estilo sublime para que a poesia portuguesa nada fique a dever à da

antiguidade, um estilo épico, guerreiro à altura dos grandes feitos da nação

portuguesa, para que a sua fama se espalhe por todo o universo. O poeta aplica

uma estratégia persuasiva para convencer as tágides a auxiliarem-no para lhe

darem inspiração para escrever a obra em troca, Febo (deus da poesia)iria

ordenar que as aguas do Tejo, como inspiradoras dos poeta, não iriam valer

menos que as aguas da fonte de Hipocrene, onde habitavam, as musa.

Page 2: Dedicatoria

Camões dedica a sua obra ao Rei D. Sebastião a quem louva por aquilo que ele

representa para a independência de Portugal e para a dilatação do mundo

cristão; louva-o ainda pela sua ilustre e cristianíssima ascendência e ainda pelo

grande império de que é Rei (estrofes 6 , 7 e 8).

 Segue-se uma segunda parte que constitui o apelo dirigido ao Rei: “referindo-se

com modéstia á sua obra, pede ao rei que a leia; na breve exposição que faz do

assunto, o poeta evidencia que a sua obra não versava heróis e factos lendários

ou fantasiosos, mas sim matéria história real (estrofes 9 a 14)

Termina o seu discurso incitando o Rei a dar continuidade aos feitos gloriosos

dos portugueses, combatendo os mouros e invocando depois o pedido de que

leia os seus versos (estrofes 15 a 18).

A Dedicatória, Canto I – estrofes 6 à 10

E vós, ó bem nascida segurançaDa Lusitana antiga liberdade,E não menos certíssima esperançaDe aumento da pequena Cristandade;Vós, ó novo temor da Maura lança, SinédoqueMaravilha fatal da nossa idade,Dada ao mundo por Deus, (que todo o mande,Pera do mundo a Deus dar parte grande);

Vós, tenro e novo ramo florecente,De hũa árvore, de Cristo mais amada MetáforaQue nenhua nascida no Ocidente,Cesárea ou Cristianíssima chamada(Vede-o no vosso escudo, que presenteVos amostra a vitória já passada,Na qual vos deu por armas e deixouAs que Ele pera Si na cruz tomou);

Vós, poderoso Rei, cujo alto Império Aposto O Sol, logo em nascendo, vê primeiro; Vê-o também no meio do Hemisfério,E quando dece, o deixa derradeiro;Vós, que esperamos jugo e vitupérioDo torpe Ismaelita cavaleiro, SinédoqueDo Turco Oriental e do GentioQue inda bebe o licor do santo Rio:

Inclinai por um pouco a majestade,Que nesse tenro gesto vos contemplo, AnáforaQue já se mostra qual na inteira idade,Quando subindo ireis ao eterno Templo;

Page 3: Dedicatoria

Os olhos da real benignidadePonde no chão: vereis um novo exemploDe amor dos pátrios feitos valerosos,Em versos devulgado numerosos.

Vereis amor da pátria, não movidoDe prémio vil, mas alto e quási eterno; AntíteseQue não é prémio vil ser conhecidoPor um pregão do ninho meu paterno. MetáforaOuvi: vereis o nome engrandecidoDaqueles de quem sois senhor superno,E julgareis qual é mais excelente,Se ser do mundo Rei, se de tal gente.

Razão pela qual Camões escreveu este poema

Camões escreveu este poema ao Rei D.Sebastião, pois era visto como: A esperança da pátria portuguesa Na continuação da propagação da fé Cristã Na continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo

O que disse anteriormente será “provado” na estrofe 6

Estrofe 6

Vós –> refere-se ao rei D. Sebastião

Linha 2 – Visto como garantia da independência de Portugal

Linha 3,4 – Única esperança de propagação da fé cristã

Linha 5 – Sinédoque – recurso estilistico em que se emprega o nome do todo pela parte ou da parte pelo todo.

Embora aqui só se refira à lança, o poeta pretende designar todo o exercito dos mouros.

Linha 6,7 – É como se ele fosse o homem certo, no tempo certo dado por Deus.

Estrofe 7

Linha 1 – Metáfora – é um recurso estilistico que permite estabelecer uma relação de semelhança sem o uso de elementos específicos de comparação, ex: como.

Realça o facto de D. Sebastião ser um rei jovem

Linha 2 – Metáfora – compara a linhagem geneologica como se para cristo fosse a mais amada, a mais importante.

Estrofe 8

Page 4: Dedicatoria

Linha 1 – Aposto – é uma expressão que vem imediatamente a seguir a outra, normalmente entre vírgulas e que surge como uma caracterização ou explicação complementar.

A expressão “poderoso rei” exerce a função de aposto, pois surge a seguir ao pronome “vós”, adicionando-se uma informação, o que o torna mais completo.

Linha 5,6 – Sinedoque – o cavaleiro aqui representa os turcos

Estrofe 9

Linha 2,3 – anáfora – figura de estilo que consiste na repetição da mesma palavra no início de duas ou mais frases.

Estrofe 10

Linha 2 – antítese – figura de estilo que consiste na oposição entre dois termos ou dias proposições.

Vil – pouco valor/desinteressante

Pedidos /Consequências dos pedidos ao Rei

Pede a D.Sebastião que dê atenção a Portugal Que o povo ficará eternamente grato pelo que fez O seu nome será sempre eternizado Referência aos Lusíadas que contará com todos esses feitos Refe-se ao amor da pátria Estrofe 10 – linha 2 – é o enaltecer dos heróis Linha 5 D. Sebastião foi eternizado pelo povo português

Caracterização do Rei D. Sebastião

Jovem, foi rei com apenas 14 anos pois não havia outro herdeiro legítimo do trono, então ele assumiu o império.

É apresentado como defenssor nato da liberdade da Nação Continuador da propagação da fé cristã Rei temido pelo infiel Lutador Homem certo, no tempo certo dado ao mundo por Deus

Canto I: A Dedicatória Os Lusíadas são constituídos por oitavas (oito versos) de versos

decassílabos, com rima cruzada nos seis primeiros versos e rima emparelhada nos dois últimos versos.

Page 5: Dedicatoria

D.Sebastião D.Sebastião foi rei de Portugal de 1568 a 1578 e foi o penúltimo

rei antes do domínio espanhol. O seu prematuro desaparecimento numa manhã de nevoeiro na batalha de Alcácer Quibir, deu origem ao mito sebastianista, que foi cultivado pelo povo português ao longo dos séculos.

Camões louva D.Sebastião e apresenta este como um jovem rei promissor, como a esperança da pátria portuguesa de difundir a fé e o império, que surgiria para retomar a grandeza dos feitos portugueses. Nesta época a nação portuguesa encontrava-se numa crise e portanto o sebastianismo foi uma maneira de manter a esperança em todos os portugueses. Por isso, podemos dizer que o sebastianismo não nada menos do que o cultivo da imagem de um rei destinado a ser salvador de uma nação em crise

Análise da Dedicatória, pág 134, estrofes de 11 a 18 Hipérbato – alteração violenta de ordem das palavras. Verificamos esta figura de estilo nas seguintes estrofes como

por exemplo:” Musas de engrandecer-se desejosas” estância 11 verso 4

Esta figura de estilo é muito utilizada para manter a estrutura rígida que Os Lusíadas possuem.

Estancia 11 Verso 1 “Ouvi”- verbo no imperativo, onde Camões faz um pedido de

atenção ao rei para este ler as suas estrofes Versos 2 a 8 “ Que não vereis com vãs façanhas Fantásticas, fingidas, mentirosas “ – Adjectivação - Camões afirma que o que vai cantar são feitos reais, verídicos,

fabulosos de D.Sebastião que excedem todos os outros feitos de outros heróis da antiguidade.

Resumo da estrofe: Camões pede a D.Sebastião para ouvir o

seu humilde poema e compara os feitos de D.Sebastião com outras proezas de outros heróis famosos que os d D.Sebastião superam os grandiosos feitos dos heróis clássicos. Valorização do Rei

Estancia 12

Page 6: Dedicatoria

Verso 1: “ Por estes vos darei um Nuno Fero” Nuno fero refere-se a Nuno Álvares Pereira que foi um dos

comandantes na batalha de Aljubarrota contra os Castelhanos, onde a batalha foi ganha com menor número de soldados portugueses e a independência portuguesa conquistada.

“Fero”- feroz, valente Versos 7 e 8: Gama foi o descobridor do caminho marítimo para

a índia e desta forma os seus feitos conseguiram superar, fazer esquecer os feitos da civilização Greco-latina nomeadamente de Eneias , herói da Eneida.

Resumo da estância: Invocação das proezas de guerreiros e

reis. Estância 15 Verso 1 a 2: Camões exorta o rei a tomar conta do reino, dando,

assim. Motivos para outros feitos, ainda mais importantes, serem cantados por poetas vindouros.

Verso 3: Pedido ao rei para tomar as rédeas de Portugal, do seu

reino. “Tomai as rédeas vós do Reino vosso” Versos 4 a 8: Consequências do seu pedido “ Dareis matéria a

nunca ouvido canto”, isto é, daria matéria, assunto para Camões fazer um poema tão espectacular que causaria espanto em todo o mundo (“ que pólo mundo todo faça espanto”), especialmente se retomasse a expedição de África e do Oriente para a difusão do império e da fé cristã.

Verso 6: (“ que pólo mundo faça espanto) - Hipérbole (exagero

da realidade) Versos 7 e 8: “ De” – Anáfora (repetição intencional nos inicio

dos versos) Resumo da estância: Pedido ao rei para tomar as rédeas do

reino e continuar as suas conquistas e expansões como a de África e do Oriente e desta forma trazer gloria a Portugal e a dar matéria para Camões escrever cantos nunca antes visto, fabulosos, que causariam espanto em todo o mundo.

Page 7: Dedicatoria

Estância 16 Versos1 e 2: D.Sebastião vai exterminar os Mouros (exortação

das capacidades de D.Sebastião) “ Em vós os olhos tem o mouro frio”

“ Em”- Anáfora Versos 3 e 4: os Mouros só por verem a grandiosidade de

D.Sebastião já se davam por vencidos. “ Só com vos ver, bárbaro Gentio/ Mostra o pescoço ao jugo já inclinado”.

Versos 5 a 8: D.Sebastião era tão novo, belo e grandioso que

até Téthys ( esposa do oceano) o queria como genro. Resumo da estância: Exortação das capacidades heróicas de

D.Sebastião e afirmação do seu poder contra os mouros. Estância 18 Versos 1 e 2: D.Sebastião ainda era muito novo, necessitava de

se tornar mais maduro. “ Mas, enquanto este tempo passa lento/ De regerdes os povos, que o desejam,)

Versos 3 e 4:Reforça a ideia de que se o Rei governar o país, o

poeta terá matéria para fazer uma nova epopeia e para imortalizar esses feitos , através da epopeia épica. “ Dai vós favor ao novo atrevimento/ Pera que estes meus versos vossos sejam;”

Versos 5 a 8 : Os navegadores continuarão a descobrir os mares

e tornar-se-ão imortais como os tripulantes da nau Argos, que foi conhecida como a primeira nau a atravessar o mar Egeu (lenda). Acrescenta ainda que D.Sebastião é uma figura muito importante, relevante, de inspiração portuguesa e que, portanto ,vai ser sempre invocado ao longo dos tempos.

“ E vereis ir cortanto o salso argento, / E os vossos Argonautas, por que vejam/ Que são vistos de vós, no mar irado, / E costumai-vos já a ser invocado”

Page 8: Dedicatoria

Resumo da estância: Reafirma a ideia de que se D.Sebastião tomar o poder , o poeta escreverá uma nova epopeia que realce os feitos dos portugueses e de toda a nação. Afirma ainda, que os navegadores continuarão a descobrir novos mares, que os seus feitos serão imortais e irão continuar a invocar D.Sebastião pois este é uma figura muito importante, valiosa e heróica em Portugal.

Nestas estâncias é importante reter: A Exortação do rei, que é o pedido para este tomar as rédeas

do seu reino e voltar à expedição no Norte de África e não no Oriente comandando o exército português, dando assim matéria para Camões cantar os seus feitos heróicos.