decifrando a terra - cap 12 - processos eólicos a ação dos ventos

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  • 5/11/2018 Decifrando a terra - cap 12 - processos e licos a a o dos ventos

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  • 5/11/2018 Decifrando a terra - cap 12 - processos e licos a a o dos ventos

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    248 DEC I F RAN D 0 ATE R R A

    ,.., uern nunca sentiu 0 impacto de minuscu-~ las particulas de areia carregadas pelo ventoforte ao caminhar em uma praia? Esse e 0 maissimples exemplo de deslocamento de particulas emfuncao da acao do vento e conhecida como a s : a oeolica. Esta atividade esta associada a dinamica ex-terna terrestre e modela a superficie da Terra,particularmente, nas regi6es dos desertos.o movimento das mass as de ar representa mais

    urn dos fenornenos dinamicos importantes obser-vados no planeta e pode ter intensidade muitovariavel. Frequentemente, sao noticiados na irnpren-sa deslocamentos de ar catastroficos, associados afurac6es e tornados com seus efeitos devastadoressobre a superficie da Terra.

    Cel u la borea I daslatitudes medias

    Celulo equatorialboreal de Hadley

    Celula equatorialaustral de Hadley

    Celule boreal daslatitudes medias

    Atraves desses fenornenos atmosfericos, parti-culas de areia e poeira podem ser transportadas porrnilhares de quilometros, Com a diminuicao da ener-gia de movimento das massas de ar, as particulascarregadas depositam-se em diversos arnbientesterrestres, desde continentais ate oceanicos, passan-do a participar de outros processos da dinamicaexterna. Nas areas continentais, estas particulas de-positam-se sabre todas as superficies desde asmontanhas ate as planicies. A atividade eolica re-presenta assim urn conjunto de fenornenos deerosao, transporte e sedirnentacao promovidos pelovento. Os materiais movimentados e depositadosnesse processo sao denominados sedimentoseolicos,

    Calulo polar boreal

    if

    Celulo polar austral

    F ig. 12 .1 Modelo simpli ficado da circulocco ctrnoslerico resultante das diferencos de aquecimento entre asreqioes de latitudes baixas e alta; e do rotccco terrestre .

    ....... Campo de dunas, ilha Caju, Delta do Parnafba, MA. Foto: R. Linsher,

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    -APiTULO 12 PROCESSOS EOLICOS 249 ~

    F ig. 12 .2 Distribuicco das principais areas deserticos (em amarelo) no Terra.

    o deslocamento das massas de ar, formando osventos, e fruto de diferencas de temperatura e, por-tanto, de densidade, nessas massas de ar. Essasdiferencas sao geradas pela maior ou menor inciden-cia de energia solar sobre a superficie do planeta emfuncao da latitude e da estacao do ana e pela diferen-c:;:ado albedo. Este termo diz respeito a proporcaoentre a energia solar refletida e a energia solar inciden-te, revelando, assim, a capacidade de absorcao daenergia solar dos materials terrestres (florestas, rios,lagos, desertos, oceanos e geleiras continentals).o aquecimento mais intenso das zonas equatoriais

    em relacao as zonas polares origina lenta circulacaogeral das massas de ar. Cada hemisferio apresenta trescelulas de circulacao (Fig. 12.1). 0 ar ascendente noEquador e nas latitudes 60 N e S forma zonas debaixa pressao, enquanto 0ar descendente nas latitudesde cerca de 30 N e S enos p610s gera as zonas de altapressao. Deste modo, as massas de ar fluem das zo-nas de alta pressao (de tendencia descendente) para asde baixa pressao (de tendencia ascendente). Devido aforca de Coriolis resultante da rotacao terrestre, essesmovimentos produzem rotacoes voltadas em geralpara a direita (de oeste para leste) no hemisferio Nor-te, e para a esquerda (de leste para oeste) no hemisferioSul. A essas celulas correspondem tres sistemas de ven-tos dorninantes para cada hemisferio: os aliseos daslatitudes intertropicais, os ventos de oeste das latitudes

    medias e os ventos de leste das reglOes polares.Esse esquema relativamente simples complica-se napratica devido as interacoes desses ventos com osoceanos, elevacoes terrestres e turbulencias atrnos-fericas temporarias,

    As regioes do planeta mais sujeitas a atividade eolicasao os denominados desertos absolutos - regioes naTerra onde inexiste agua em estado liquido. Exemplosdesse tipo de deserto situarn-se no Continente Antar-tico e na Groenlandia, onde a agua se encontta noestado solido sob a forma de espessas massas de geloe neve. Assim, nesses desertos quase nao existem graosde areia e de poeira. Porem, os desertos rnais conheci-dos compreendem imensas areas de precipitacao anualmuito baixa (ou mesmo inexistente), com elevado graude evaporacao e intensa atuacao de ventos. As areasdeserticas mais expressivas no planeta sao 0 Saara naAfrica, Atacama no Chile, Gobi na Mongolia e China,Arabia, sudoeste dos Estados Unidos e a parte centraldaAustrilia (Figura 12.2). Essas regi6es deserticas muitoquentes costumam localizar-se nas baixas latitudes (en-tre 30, de latitude norte e 300, de latitude sul). Nesseslocals, de modo geral, os .processos de erosao, trans-porte e sedimenracao de materials sao comandados pelaac:;:aodos ventos, a nao ser nas areas ou nos periodos,pouco freqiientes, em que as particulas encontrarn-seumedecidas e, portanto, mais coesas,

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    250 DEC I ERA N D 0 ATE R R A '

    Nessasareas deserticas observam-se regioes co-bertas de areia cuja magnitude permite defini-las comomares de areia. Boa parte dessas regioes encontra-sesubmetida a ac;:aodos ventos, que deslocae redepositagrandes quantidades de areia ao sabor das direcoespreferenciais dos ventos mais fortes. Por exemplo, em1901 fortes ventos do Saara transportaram mais de 4milhoes de toneladas de areia e poeira, depositandoeste material sobre 1,5 milhao de quilometros quadra-dos da Europa. Outro exemplo e observado nos navioscujo trajeto passaproximo a regiao de Cabo Verde nooeste da Africa, recebendo em seus conveses frequen-tes "chuvas" de areia e poeira provenientes do Saara, amais de 1.500 km de distancia,

    Esse fenomeno de transporte e sedimentacao ocorrecotidianamente nas areas costeiras do planeta e naosomente nos desertos absolutos. E sempre comanda-do por ventos fortes decorrentes, em ultima analise,das diferencas de albedo e de troca de calor entre 0mar, 0continente e a atmosfera. Como nas areasdeserticas, esse fenorneno gera dun as, com inumerosexemplos no litoral .brasileiro, desde 0 SuI (Laguna,Lagoa dos Patos, Florianopolis, Garopaba, etc.) ate 0Nordeste (Natal, Fortaleza, Salvador, Recife, etc.).

    Dos agentes modeladores da superficie terrestre,o vento eo menos efetivo, Muitas das formas erosivasobservadas em areas deserticas sao creditadas errone-amente ao vento, quando na realidade, sua origem estaligada a atividade cia agua corrente (Cap. 10). No en-tanto, dentro do Sistema Solar, verifica-se que em Marteo vento e 0agente mais importante na construcao ernudanca da paisagem em sua superficie, face a exis-tencia de uma atmosfera muito rarefeita e a absolutaausencia de agua.

    Tabela 12.1 Didrnetro maximo de particulasmovimentadas pelo vento, para particulas de

    quartzo (Peso especifico= 2,65 g/cm3).Velocidade Diametro maximo

    do vento (km/h) movimentado (mm)0,040.,250,751,010

    Neste capitulo sao descritos os mecanismos de trans-porte realizados pela atividade e6lica e suas feicoes erosivase deposicionais. Sao descritos tambem os principais re-gistros sedimentares produzidos por essa atividade e suaimportancia no contexte historico terrestre,

    12.1 Os Mecanismos de Transporte eSedimentacao

    12.1.1 0 movimento das massas de aro movimento das rnassas de ar que funciona como

    mecanisme de redistribuicao da energia solar na at-mosfera representa a Fonte da maior ou menorcapacidade para deslocar particulas. Quanto maior fora velocidade da massa de ar, maior capacidade de trans-PWte ela possuira (Tabela 12.1). Por outro lado,anteparos naturais e artificiais como florestas, eleva-coes e edificacoes podem reduzir a vdocidade dessasrnassas, diminuindo, portanto, sua capacidade de trans-portar particulas. Por exemplo, a Cadeia .Andina, comaltitude media de 4.000 m e quase 8.000 km de exten-sao, e urn anteparo natural importante, interferindocom as massas de ar frio provenientes da Antartica ..Dependendo da direcao do movimento da massa dear e de sua interacao com a Cadeia Andina, essas mas-sas sao conduzidas para 0Oceano Pacifico ou OceanoAtlantico ou para 0 interior da America do SuI.Tabela 12.2 Clossificocco Beaufort dos tipos

    de vento baseada em sua velocidadede deslocamento.

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    CAPITULO 12 PROCESSOS E6ucos 251 ::-

    A proximidade do vento a superficie terrestretambern influi em sua velocidade devido ao atritoda massa do ar com os obstaculos presentes (vege-tacao, construcoes, relevo acidentado, etc.). Assim,a velocidade do vento aumenta com 0afastamentoda superficie, porem a partir de determinada alti-tude, que depende das condicoes locals, ela nao maisse modifica significativamente. A Fig. 12.3 exibe avariacao da velocidade das massas de ar com a al-titude e a Tabela 12.2 a classificacao de ventos deacordo com sua velocidade.

    40. . . c< 30E~Q) 20IJD-cu 100Q)> 0

    0 5 10 15 20Dis,tancia do solo (m)

    F ig . 12 .3 Yoriac;aa da velocidode do vento em [uncco dodistancia do solo.

    As massas de ar deslocam-se segundo dois tiposprincipals de fluxo: fluxo turbulento e fluxolaminar (Fig. 12.4). Distante da superficie terrestreou de barreiras, rnais laminar e 0movimento damassa de ar.0luxo do ar sera predominantemen-te turbulento quanto mais proximo dasuperficieou de barreiras. No entanto, a atividade- geologicamais COllum dos ventos resulta quase sempre des-se fluxo turbulento.12.1.2 0 movimento das particulas

    Transporte de poe iraParticulas menores que 0,125mm de diametro sao

    consideradas poeira, compteendendo as fracoes deareia muito fina, silte e argila da escala granulometricade Wentworth (Caps. 9 e 14). Sao as menores fracoestrabalhadas pelos agentes de transpotte mecanico emgeral e representam 0maior volume de material trans-portado e depositado pelos processos e6licos. Quandoremovidas de seu local de origem, essas particulaspodem permanecet em suspensao em funcao do flu-

    Fig., 12.4 Deslocamenta dosjnosscs de ar par fluxo turbu-lento (ccirno) e par fluxo laminar (abaixo),

    xo turbulento e da velocidade da massa de ar pot Ion-gos periodos de tempo e assim serem transportadasp~r gran des distancias. Nessa situacao diz-se que asparticulas estao em suspensao eolica (Fig. 12.5). Par-ticulas e obstaculos maiores apresentam resistencia aovento, gerando intensa turbulencia em seu entorno epromovendo a deposicao das particulas em suspensaopouco ap6s 0 obstaculo.

    F ig . 12 .5 Des.locamenta de partfculas de poeiro por suspensoo.

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    252 DEC I F RAN D 0 A : r ERR ATransporte de areia

    As particulas rnaiores que a poeira - areia fina amuito grossa (diametros entre 0,125mm e 2mm) -sofremtransporte mais limitado. Para uma mesmavelocidade de vento, quanto maior a particula, menorsera 0 seu deslocamento. A colisao de particulas emdeslocamento com graos na superficie promove 0 seudeslocamento muitas vezes por rneio de pequenossaltos, 0 movimento da areia por esse processo de-nomina-se salta~ao (Fig. 12.6).

    As particulas eolicas do tamanho de areia sao par-ticularrnente importantes, pois constituem diferentesfeicoes morfo16gicas, dasquais as dunas sao, sem du-vida, as mais importantes acumulacoes de areia emareas deserticas e mesmo em muitas areas litoraneas.A acao e6lica tambem condiciona a organizacao dosgraos de areia, produzindo estruturas sedimentares co-nhecidas como marcas onduladas e estratificacdocruz ada. Feicoes como dunas e certos tipos de mar-cas onduladas e de estratificacao cruzada, quandopreservados no registro geologico, representam evi-dencias inegaveis de atividade e6lica no pass ado,permitindo muitas vezes a reconstituicao do cenariopaleoambiental e paleogeografico do local.

    Transporte de particulas maioresComo indica a Fig. 12.6, a colisao de particulas em

    deslocamento, alem de causar fragmentacao e desgas-te, pode induzir 0movimento de particulas encontradasna superflcie do solo. Particulas de diametro superiora 0,5 mm (areia grossa, areia muito grossa, granulos eseixos) comumente se deslocam por esse processo,chatnado arrasto. Transporte por arrasto e pouco sig-

    - -

    Fig. 12.6 Impado de graos causando deslocamento de par-ticulas de areia por scltccoo.

    nificativo e bem mais restrito do que 0 transporte depoeira e de areias menores por saltacao e suspensaodevido ao peso das particulas maiores e ao atrito en-tre elas eo substrato (Fig. 12.7).

    12.2 Registros Produzidos pelo VentoA ac;:aodo vento fica registrada tanto nas formas

    de relevo como nos fragmentos trabalhados pela acaoe6lica, seja de forma destrutiva (erosao) ou de formaconstrutiva (sedimentacao).

    12.2.1 Registros erosivosDefla~ao e abrasdo e6lica sao as dais processos

    erosivos da atividade eolica. Na deflacao, a remocaode areia e poeira da superficie pode produzlr depres-soes no deserto chamadas bacias de defla~ao, podendochegar a niveis rnais baixos do que 0 nivel do mar.Deflacao tambern pode produzir os chamados pavimen-tos deserticos, caracterizados por extensas superficiesexibindo cascalho ou 0substrate rochoso, expostas pelaremocao dos sedimentos finos. (Fig. 12.8). Se 0niveltopografico no deserto e rebaixado por esse mecanismoate atingir a zona subsaturada ou satutada em igua, po-dem formar-se os oasis (Fig. 12.9).

    Por causa dos constantes impactos de diferentesparticulas em movimento (areia fina, media ou mes-mo grossa) entre si e com materiais estacionados,geralmente maiores (selxos, blocos, etc.), ocorre inten-so processo de desgaste e polimento de todos essesmateriais, denominado abrasao e6lica. E importanteressaltar que 0vento isoladamente nao produz qual-quer efeito abrasivo sobre materiais rochosos. Apenas

    Fig. 12.7 Deslocamento de partfculas par soltccoo e pararrasto.

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    CAPITULO 12 PROCESSOS E6ucos 253 '""

    quando transporta areia e poeira e queexerce papel erosivo. A abrasao ptodu-zida pelo vento assemelha-se aoprocesso de "jateamento e polimentocom areia", utilizado na industria paralimpar, polir ou decorar cliversos obje-tos. Por isso, as superficies dos gdostendem a adquirir brilho fosco, umafei~ao erosiva espedfica do vento, bemdistinto do aspecto brilhante que resul-ta do polimento de materiais emambiente aquatico. De modo analogosao formados por abrasao osventifactos, os yardangs e as super-ficies polidas. Fig. 12.8 Pavimento desertico no Deserto de Atacama, Cordilheira dos

    Andes, Foto: C. C. G. Tassinari.Os ventifactos sao seixos que apre-sentam duas ou mais faces planasdesenvolvidas pela a

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    254 D EC I F R A N D 0 A TE R R A

    A acao erosiva do vento produz outras formas deregistro como os yardangs que se assemelham a cas-cos de barcos virados, formados pela acao abrasivae6lica sobre materiais relativamente frageis como se-dimentos e rochassedimentares pouco consolidados.Representam formas de abrasao importantes em di-ferentes areas deserticas tais como a Bacia do Lut nosudoeste do Ira, Taklimakan na China e Atacama noChile. Tais formas de abrasao eolica encontram-se res-tritas geralmente a porcao mais arida dos desertos ondehi pouca vegeta

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    CAPiTULO 12 PROCESSOS EO Licos 25 5 I J i t I l f

    F ig . 12 .13 Feicces de erosco eolico e pluvial em arenito noParque de Sete Cidodes (P I ) . Foto: I. D . Wohnfried.

    Dunas estacionarias (ou estaticas)Na construcao cia duna, os graos de areia (geral~

    mente quartzo) vao se agrupando de acordo com 0sentido preferencial do vento, formando acumulacoes,geralmente assimetricas, que podem atingir varias cen-tenas de metros de altura e muitos quilometros decornprimento. A parte da duna que recebe 0 vento(barlavento) possui inclinacao baixa, de 5 a 15" nor-malmente, enquanto a outra face (sotavento),protegida do vento, e bem mais ingreme, com inclina-

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    256 0 Eel F RAN D 0 IX 17E R R A .

    Dunas migrat6riasA sernelhanca das dunas es-

    tacionarias, 0 trans porte dosgraos nas dunas migrat6rias se-gue inicialmente oangulo dobarlavento, depositando-se, emseguida, no sotavento, onde hitforte turbulencia ff'ig; 12.16).Desta forma os graos na basedo barlavento .migram peIo ...perfil da duna ate 0sotavento. F ig. 12 .16 Formccdo e estrutura interno de uma duna rniqrotorio (os angulos do borlo-Isto gera uma estrutura interna .vento e sotovento foram exagerados).de leitos com mergulho proxi-mo da inclinacao do sotavento, Esse deslocamentocontinuo causa a migrayao de todo 0corpo da duna,

    A migrayao de dunas ocasiona problemas desoterrarnento e de assoreamento nas zonas Iitoraneasdo Brasil, exigindo dragagem continua para minimizaro risco ao trafego de navies, como ocorre no portode Natal, Rio Grande do Norte, e na Lagoa dos Pa-tos, Rio Grande do Sul. Em Laguna, Santa Catarina,por exernplo, dunas rnigratorias, algumas com deze-nas de metros de altura, invadiram e soterraram variascasas de veraneio (Fig. 12.17). Em ddades como For-taleza, Recife, Maceio e outras da costa do Nordeste,sao comuns problemas similares, em decorrencia dosventos perpendiculares a linha de costa. Ventos domi-nantes vindos de sudeste formam, desse modo,enormes campos de dunas migratorias que se deslo-cam ao lange da costa ate encontrarem obstaculoscomo casas, fazendas, rodovias, ferrovias, lagos, etc.(Fig. 12.18). Esse fenorneno pode tambern desviar 0curso natural de rios proxirnos a costa. Diferentes tee-nicas sao utilizadas na tentativa de imobilizar dunas

    F ig . 12 .17 lnvosdo de casas por dunes migrot6rias no re-giBo de Laguna (sq. Foto: PC F . Giannini.

    migratorias, A mais eficiente ate 0memento tern sidoo plantio de vegeta

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    - CA PiTULO 12 PROCES SOS EOLICOS 257 ~" _ ! " _ _ I '

    Fig. 12.18 Logo entre dunas no campo de dunas de Natal(RN) (direc;60 preferencial do vento da esquerda para a direito).Foto: J.B. Sfgolo.

    lembrando a morfologia revolta do oceano duranteuma tempestade (Fig. 12.20).

    Nas areas costeiras as campos de dunas podemapresentar pequenos lagos de agua dace, bastante co-nhecidos ao norte do Espirito Santo, no sui do Estadoda Bahia e ao longo de toda a costa do Nordeste.Dunas transversais sao tambern encontradas em am-bientes fluviais como na Ilha do Caju, no delta do rioParnaiba, Maranhao (Fig. 12.21).

    Fig. 12.20 Campo de dunas transversais [direcoopreferencial do vento da direita para a esquerda). Ilhado Cc]u, delta do rio Parnaiba (MA). Foto: R. Unsker.

    Fig. 12.19 Metodo de contencco de duno rniqrotorio comutilizocdo de plontio de veqetocdo opropriada para conter arniqrccoo dos graos [direcoo preferencial do vento da esquer-da para a direito). Restingo da Lagoo dos Patos (RS). Foto: ZigKoch.

    Muitos campos de dunas desse tipo tambern exi-bem marcas onduladas abundantes (Fig. 12.21),produzidas pelo deslocamento dos graos de areia prin-cipalmente par arras to e saltacao, Por causa de suaassimetria, essa feicao permite determinar 0 sentidodo vento predominante que a formou (do barlaventopara a sotavento).

    Dunas barcanasDesenvolvem-se em ambientes de ventos mode-

    rados e fornecimento de areia limitado. Comoresultado, este tipo de duna assume forma de meia-lua ou lua crescente com suas extremidades voltadasno mesmo sentido do vento. (Fig. 12.22). Essas dunasnao formam campos continuos e tendem a ser pe~

    Fig. 12.21 Pequeno logo represado por duno transversal exibindo mar-cos ondulodos (direC;ao preferenciol do vento da direita para a esquerda).Campo de dunas dos Lencois Maranhenses (MA). Foto: I. D. Wohnfried.

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    Fig. 12.22 Duna barcana no lado direito do campo de dunes osscciodo 0 codeics bcrconoides jdirecoo preferencial do vento dodireita para a esquerdo). Ilha do Co]u, delta do Parnaiba (MA). Foto:R. Linsker.

    quenas, nao superando 50 m de altura e 350 m delargura. No Brasil, estas formas sao relativamente ra-ras. Porern no litoral, on de a vegetacao limita 0fornecimento de areia, formarn-se cadeias de dunassimilares a s barcanas, que recebern 0nome de cadei-as barcan6ides. Estas diferern das barcanas parocorrerem unidas, tais como os exemplos no litoralde Laguna, Santa Catarina, ilustrados na Fig. 12.23.

    Fig.12.23 Codeios barcan6ides em Laguna (sq. Foto: P . C.F.Gianinni.

    Dunas parabolicasEmbora semelhantes as dunas bareanas, as dunas pa-

    rab6licas diferern dessas pela curvatura das extremidades,que e mais fechada, assemelhando-se a letra U, com suasextremidades voltadas no sentido contrario do vento (Fig.12.24a). Forrnam-se em regioes de ventos fortes e cons-tantes com suprimento de areia superior ao das areas debarcanas. Sao poueo comuns na America do Sul.Iimitan-do-se a s zonas litoraneas, Nestas regioes, a vegetacaocosteira e importante no controle e evolucaoda constru-

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    -" CA PITULO 12 PROCESSOS Eoucos 259 ~~, ,-

    Fig. 12.25 Dunas longitudinois no Ilha do Caju, delta doParnaiba (MA).Observar as zonas de desmoronamento associ-ados a marcas onduladas. Foto: R. linsker.

    de 200 rn de altura. Em muitos casos esse tipo de dunaproduz feicoes morfologicas sirnilares a "cordoes deareia". Contudo, em menor escala, cordoes semelhantespodem tambem formar-se pela atividade fluvial.

    Mares de areiaEste terrno e empregado em desertos para grandes

    areas cobertas de areia, a exemplo da Arabia Saudita,com cerca de 1.000.000 km2 da superficie atualmentecoberta por areia. Gigantescas areas com dunas tam-. bern ocorrern na Australia e Asia. As extensas coberturasde areia no Norte da Africa sao conhecidas como ergs.

    12.3 Depositos Eolicos Importantesna Historia Geologica do Planeta

    LoessUrn dos mais importantes exernplos de sedimenta-

    c;ao eolica no registro geologico consiste de sedimentosmuito finos (silte e argila), homogeneos e friaveis,comumente amarelados, denominados loess, do alernao.Depositos de loess forarn descritos pela primeira vez nonordeste da China, onde atingem mais de 150m de es-pes sura, embora em media apresentem espessuras emtorno de 30 m. 0 loess e constituido de diversos mine-rais (quartzo, feldspato, anfib6lio, mica, argila e algunscarbonatos) e fragmentos de rocha pouco alterados.Ocorrencias muito expressivas de loess afloram naMongolia central, China, Europa e E.U.A.

    Parte importante desses sedimentos e originada pelaacao erosiva glacial (Cap. 11) que produz sedimentosmuito fines posterior mente transportados pelo ventoe depositados sobre vastas regioes,

    12.4 Caracteristicas Mineralogicas eFisicas dos Sedimentos Eolicos

    Os sedimentos associados as atividades eolicas com-poem-se quase que exclusivamente de pequenos graosde quartzo, sendo, portanto, monornineralicos, Esta ca-racteristica esta ligada a abundancia desse mineral nasrochas comuns da crosta continental (Cap. 2) e a suagrande resistencia a alteracao intemperica (Cap. 8). Hicasos importantes, evidentemcnte, da ocorrencia de ou-tros minerais em depositos eolicos, como nos depositosde loess, ji comentados,

    As caracteristicas tipicas de sedimentos eolicos saofacilmente observadas com uma lupa de mao. Os im-pactos constantes entre os graos no ambiente atmosfericoproduzern brilho fosco cia superficie, morfologia arre-dondada e alta esfericidade dos graos. 0aspecto foscodas particulas decorre da difusao da luz causada pelasrninusculas marcas de impacto deixadas nas superficiesdos graos e difere do aspecto brilhante provocado pelodesgaste (durante 0 transporte em ambiente aquatico vis-ta que a agua, por ser multo mais densa que 0ar, amortecea forca dos choques entre as graos.

    Os mesmos impactos que provocam 0 polimentofosco das superficies tambem quebram os graos e suasarestas, diminuindo e arredondando as particulas. Nocaso do quartzo, mineral dominante nos sedimentoseolicos, este processo aproxima os graos da forma esfe-rica, ja que este mineral nao possui clivagem e, portanto,nao apresenta pianos preferenciais de quebra.

    Alem disso, depositos de origem eolica exibem ele-vada selecao granulometrica como outra caracteristicapeculiar. Pequenas variacoes na velocidade do vento au-mentam ou dirninuern sua capacidade de transporte,restringindo 0tamanho dos graos de forma mais efici-ente que 0meio aquatico, no qual a maior viscosidade daigua atenua as consequencias das variacoes de velocidade.

    12.5 Registros Sedimentates EolicosAntigos

    Feic;oescaracteristicasc ia acao eolicapodem ser reconhe-cidas em sedimentos antigos e rochas sedimentares,permitindo a reconstituicao de diferentes paleoambienteseolicos, Por exemplo, a identificacao em sedimentos antigosde estruturas internas e extemas tipicas d a s dunas atuais, taiscomo estrarificacoes cruzadas, marcas onduladas, barlaven-to e sotavento, permite 0 reconhecimento de uma dunafossil. Atraves daanalise da orientacao das faces barlavento e

  • 5/11/2018 Decifrando a terra - cap 12 - processos e licos a a o dos ventos

    http:///reader/full/decifrando-a-terra-cap-12-processos-eolicos-a-acao-dos-vento

    260 D EC I F RAN D 0 J ! . T ER R A "sotavento em dunas fosseis, e possivel identificar 0 sentidopreferencial do vento n a ep oc a de sua formacao,

    Registros eolicos sao reconheciveis na historia g~o16gi-ca de muitas regioes do Brasil. No interior do Estado doRio Grande do Sui, espessas camadas de arenites, atnpla-mente expostasem cortes das rodovias, sao testemunhosde ambientes deserticos diversos durante boa parte da eraMesozoica (Figura 12.26). Registros semelhantes e perten-centes ao rnesrno ambiente que dominou a regiao da Baciado Parana sao observados em varias forrnacoes geo16gi-cas de outros Estados brasileiros (SaoPaulo, Santa Catarina,Parana, 'Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Maw Gros-so),estendendo-se para 0Uruguai, Paraguai e Argentina.

    Fig.12.26 D u no f6 ss H n o F orm oc;a o C crn oq uo. P e ttiI n o e stra -d o San ta na d o Boo Visto-Coccpovo do S u i (RS) .Fe te : R .Machado .