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O vírus Zika é ainda objeto de pesquisa constante para os estudiosos do assunto, que tentam entender princi- palmente, suas consequências para a população. O Zika é transmitido por meio da picada do mosquito Aedes Ae- gypti e as pessoas picadas por esse inseto têm sintomas como: lesões na pele, dor nas articulações, febre e dor atrás dos olhos. Além disso, em mulheres grávidas, a infecção pelo vírus Zika pode causar prejuízos também à saúde da criança. O Ministério da Saúde confirmou, em novembro de 2015, a relação entre o vírus Zika e a ocorrência da microcefalia em bebês recém-nascidos. A confirmação veio do Instituto Evandro Chagas, no Belém (PA), que através de exames realizados em um bebê nascido com Reportagem por Giovana Maria Reis, Karina Costa e Viviane Lima Curiosidade Existem duas hipóteses sobre a chegada do vírus Zika no Brasil: “Alguns acreditam que surgiu du- rante a copa do mundo de 2014 e outros acham que atletas da Poli- nésia Francesa trouxeram o vírus quando vieram ao país para parti- cipar de um campeonato de cano- agem no Rio de Janeiro no mesmo ano”, explica Dr. Clodoaldo Costa. Debate sobre o aborto em casos de microcefalia causada pela síndrome congênita do vírus Zika Fique atento: microcefalia no Ceará (CE), identificou a presença do vírus em amostras de sangue e tecido. Esse foi apenas o ponto de partida da longa estrada que espera aque- les que tentam compreender os efeitos da infecção pelo vírus Zika. No mês de julho deste ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou para a chamada Síndrome Congênita do vírus Zika. É uma síndrome porque se trata de um conjunto de sintomas apresentados por crianças afeta- das pelo vírus durante a gestação e é congênita porque esses sintomas aparecem desde o nascimento. Até ago- ra, apenas a microcefalia e a Síndrome de Guillain-Bar- ré foram apontadas como consequências da transmis- são do vírus Zika da mãe para o bebê. Microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré associadas ao vírus Zika A microcefalia é a diminuição do perímetro craniano do bebê, enquanto a Síndrome de Guillain-Barré é uma do- ença autoimune que afeta a mobilidade dos músculos de crianças e adultos. As duas são associadas ao vírus Zika, e o ponto em comum entre elas é que ambas atingem o sistema nervoso. “Quando a mãe é infectada pelo vírus, ele atravessa a placenta e se instala no bebê, afetando o seu sistema nervoso”, explica o obstetra e professor do curso de Medicina da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), Dr. Clodoaldo Cádete Costa.

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Page 1: Debate sobre o aborto em casos de microcefalia causada ...jovemjornalista.org.br/wp-content/uploads/2016/10/...e o ponto em comum entre elas é que ambas atingem o sistema nervoso

O vírus Zika é ainda objeto de pesquisa constante para os estudiosos do assunto, que tentam entender princi-palmente, suas consequências para a população. O Zika é transmitido por meio da picada do mosquito Aedes Ae-gypti e as pessoas picadas por esse inseto têm sintomas como: lesões na pele, dor nas articulações, febre e dor atrás dos olhos. Além disso, em mulheres grávidas, a infecção pelo vírus Zika pode causar prejuízos também à saúde da criança.

O Ministério da Saúde con� rmou, em novembro de 2015, a relação entre o vírus Zika e a ocorrência da microcefalia em bebês recém-nascidos. A con� rmação veio do Instituto Evandro Chagas, no Belém (PA), que através de exames realizados em um bebê nascido com

Reportagem por Giovana Maria Reis, Karina Costa e Viviane Lima

Curiosidade

Existem duas hipóteses sobre a chegada do vírus Zika no Brasil: “Alguns acreditam que surgiu du-rante a copa do mundo de 2014 e outros acham que atletas da Poli-nésia Francesa trouxeram o vírus quando vieram ao país para parti-cipar de um campeonato de cano-agem no Rio de Janeiro no mesmo ano”, explica Dr. Clodoaldo Costa.

Debate sobre o aborto em casos de microcefalia causada pela

síndrome congênita do vírus ZikaFique atento:

microcefalia no Ceará (CE), identi� cou a presença do vírus em amostras de sangue e tecido. Esse foi apenas o ponto de partida da longa estrada que espera aque-les que tentam compreender os efeitos da infecção pelo vírus Zika.

No mês de julho deste ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou para a chamada Síndrome Congênita do vírus Zika. É uma síndrome porque se trata de um conjunto de sintomas apresentados por crianças afeta-das pelo vírus durante a gestação e é congênita porque esses sintomas aparecem desde o nascimento. Até ago-ra, apenas a microcefalia e a Síndrome de Guillain-Bar-ré foram apontadas como consequências da transmis-são do vírus Zika da mãe para o bebê.

Microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré

associadas ao vírus Zika

A microcefalia é a diminuição do perímetro craniano do bebê, enquanto a Síndrome de Guillain-Barré é uma do-ença autoimune que afeta a mobilidade dos músculos de crianças e adultos. As duas são associadas ao vírus Zika, e o ponto em comum entre elas é que ambas atingem o sistema nervoso. “Quando a mãe é infectada pelo vírus, ele atravessa a placenta e se instala no bebê, afetando o seu sistema nervoso”, explica o obstetra e professor do curso de Medicina da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), Dr. Clodoaldo Cádete Costa.

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A microcefalia é uma má formação do crânio que não se desenvolve da maneira devida, causando prejuí-zos ao desenvolvimento da criança. “O tamanho ideal do crânio de um recém-nascido está entre 36 e 38 cm, medidas menores são sinais de má formação e alterações no siste-ma nervoso. O que acontece é que o vírus Zika causa lesões graves no tecido encefálico e isso faz com que o cérebro do bebê não se desenvolva, levando a disfunções de ordem mo-tora, sensitiva e cognitiva”, aponta o Dr. Hebert Lacrose Almeida, 60 anos, pediatra.

Portanto, limitações na fala, loco-moção e atraso no desenvolvimento mental, são consequências da mi-crocefalia na criança. Além disso, o Dr. Costa esclarece que em casos de

No mês de dezembro de 2015, o Ministério da Saúde es-clareceu através de vídeos divulgados nas redes sociais dúvidas a respeito do vírus Zika. Um dos tópicos esclare-cidos foi a relação entre o vírus e a Síndrome de Guillain-Barré, que foi con� rmada pelo diretor de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Claudio Maierovitch. Desde então, a associação entre o vírus e a doença vem sendo pesquisada e investigada.

“A Guillain-Barré é uma doença neurológica, autoimu-ne, onde os órgãos de defesa trabalham contra o próprio sistema nervoso da pessoa”, explica o cirurgião geral Dr. Paulo César Ribeiro Ferreira, de Jequié (BA). Ou seja, quando o corpo da pessoa é atacado pelo vírus, o mesmo reage de forma exagerada não contra a infecção, mas contra as suas próprias células nervosas.

Os sintomas são geralmente, sensação de formigamen-to nas mãos e pés, paralisação progressiva dos múscu-los das pernas e braços, além de paralisia facial. O Dr. Ferreira, continua explicando que a doença pode afetar pessoas de qualquer faixa etária, porém é mais frequen-te em adultos e às vezes os sintomas duram de um a dois anos. Em crianças que desenvolvem essa síndrome, a recuperação acontece de maneira mais rápida.

Em situações em que as consequências dessa síndrome são mais graves, o Dr. Costa exempli� ca, “quem sofre de Guillain-Barré perde as movimentações nervosas, então, por exemplo, o músculo respiratório pode falhar levando a morte por as� xia. O vírus atua nessa mus-culatura e a impede de trabalhar”. Tanto para crianças quanto para adultos, o tratamento consiste no uso da imunoglobulina intravenosa por no máximo dois dias. Ou seja, injeções de anticorpos que destroem aqueles produzidos pelo organismo e que estão atacando os ner-vos. Há também a � sioterapia, que ajuda na reabilita-ção de habilidades motoras que foram perdidas.

Entendendo melhor a microcefalia O que é a Síndrome de Guillan-Barré

disfunção de ordem sensitiva, o ner-vo auditivo e o globo ocular podem não se desenvolver de forma correta. Então, a depender do nível de agres-sividade do vírus, a criança pode até nascer cega ou surda.

Quanto ao período em que o risco da microcefalia é maior, o Dr. Almeida enfatiza que os três primeiros meses da gravidez são os mais importan-tes porque é exatamente quando o cérebro do bebê começa a se de-senvolver. Por isso, é essencial que principalmente durante esse tempo, a mulher se previna para evitar ex-posição ao vírus. No caso da mãe ser infectada pelo Zika após o primeiro trimestre da gestação ainda há risco de transmissão do vírus para o bebê podendo ocorrer a microcefalia, a diferença é que nessa ocorrência o

prejuízo ao desenvolvimento do cé-rebro será menor.

A con� rmação de que a mulher foi realmente infectada pelo vírus Zika pode ser feita de duas formas, “quando já há suspeita, pode ser re-alizado um exame chamado RT-PCR (Reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa), especí-� co para o vírus Zika ou o IgM/IgG (Imunoglobulina M/ Imunoglobulina G), que é o exame de sangue”, diz o pediatra, Dr. Almeida. O RT-PCR busca detectar a presença do mate-rial genético do vírus em amostras de sangue ou urina, ainda nos pri-meiros dias da doença. Já o IgM/IgG, tenta encontrar anticorpos que fo-ram produzidos pelo corpo por causa da infecção pelo vírus.

O exame que deve ser realizado para detectar se a criança possui ou não a microcefalia é a ultrassonogra-� a, que determina o tamanho da circunferência craniana do bebê. Contudo, esse exame não informa se o que causou a microcefalia foi realmente a infecção pelo vírus Zika. Essa con� rmação só é possível após o nascimento do bebê, através de exames de sangue, tomogra� a com-putadorizada da cabeça ou resso-nância magnética. Os tratamentos recomendados pelos médicos para essas crianças são a � sioterapia e a terapia ocupacional, que contri-buem para o seu desenvolvimento intelectual e motor.

Dr. Paulo César Ribeiro (Foto - Giovana Maria Reis)

Dr. Hebert Almeida (Foto - Giovana Maria Reis)

Dr. Clodoaldo Costa (Foto - Viviane Lima)

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O aumento do número de casos do vírus Zika associados ao nascimento de crianças portadoras da microcefalia desencadeou um novo debate a res-peito do direito das mulheres em relação ao aborto. No dia 16 de fevereiro de 2016 houve uma plenária na Câmara dos Deputados, na qual médicos discutiram sobre o aborto, porém o assunto ainda continua a ser debatido.

A Dra. Luciana Santos, professora de Direito da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), explica que “de acordo com o código penal o aborto é um cri-me que pode ser praticado pela gestante ou por terceiro apenas quando a gravidez resulta de estupro ou quando há risco de vida para a gestante (art. 128). Essas são as duas hipóteses legais de não punição do aborto”.

O advogado Gustavo Magalhães, especializado nas áre-as trabalhista e civil, esclarece quais são os argumentos favoráveis e contrários a legalização do aborto, “há uma corrente que considera constitucional a interrupção da gravidez, pois considera a infecção por Zika como falha do poder público. Então, a medida drástica de abortar a gestação de um bebê infectado seria considerada como aborto ético ou humanitário, na medida em que prote-geria a mulher que sofre por ato omissivo do Estado. Por outro lado, existe a corrente que se baseia nos sen-timentos religiosos, que de� ne que desde a concepção, o embrião já seria considerado vida, proibindo assim a interrupção da gravidez’.

Há também uma terceira hipótese em que o aborto não é punido, que é em casos de anencefalia e que nesta situação a decisão decorre do Supremo Tribunal Federal (STF). “Assim, o aborto em casos de microcefalia é con-

siderado crime, visto que não está amparado por qual-quer das hipóteses em que essa prática não é crimina-lizada. Para que a legalização ocorra faz-se necessária mudança na legislação ou que ocorra uma decisão do STF em ação que vincule o Estado”, a� rmou Santos.

Ainda segundo a Dra. Luciana Santos, os argumentos que são utilizados a favor da legalização do aborto parte dos movimentos feministas que advogam a descrimina-lização do aborto sob o fundamento de que cabe a mu-lher decisões sobre seu corpo, esse argumento é retoma-do para a defesa do aborto nos casos de microcefalia.

“Por outro lado, quem é contra a legalização do aborto nesses casos a� rma que a proteção do direito à vida do feto não pode se subordinar à vontade da mulher. Além disso, sustentam a posição de que legalizar aborto em casos de patologia do feto acarretaria prática de euge-nia”, concluiu Santos. Para saber como as mulheres es-tão se posicionando sobre o assunto, a equipe de alunas da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) realizou uma enquete divulgada pelo Facebook questio-nando quem é a favor ou contra o aborto nesses casos. A pesquisa contou com a opinião de 72 mulheres entre 15 e 30 anos, onde a maioria se mostrou a favor dessa prática com 59,7% dos votos.

Eugenia

O termo eugenia foi criado por Francis Galton com base em um estudo sobre as qualidades raciais para manter um controle sobre as novas gerações. É a ideia de que quando o bebê tem algum problema genético deve ser abortado, visando gerar apenas crianças saudáveis com o intuito de melhorar os futuros descendentes.

Microcefalia e a legalização do aborto

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Judaiane da Silva Freitas, 27 anos, é mãe de Ayla Freitas Cardoso, de apenas 10 meses e só descobriu que a � lha tinha microcefalia após o nascimento. “Eu senti alguns sintomas como dor e inchaço nos dedos durante o meu quarto mês de gravidez, mas fora isso, a minha gesta-ção foi toda normal. As ultrassons e os exames de sangue foram normais”, explica a dona de casa que reside na ci-

Ayla Freitas e o pai, Clebisson Santos (Foto: acervo pessoal) Bebê Lucas e família (Foto - acervo pessoal)

Natural de Vespasiano (MG), Lucas Emanuel Oliveira dos Santos de quatro meses, que teve a mãe infecta-da pelo vírus Zika no terceiro mês da gestação, nasceu aparentemente sem sequelas. Contudo, após ter duas crises convulsivas aos dois meses de vida e mais uma no quarto mês, fez os exames e foi diagnosticado com ADNPM (Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor) em consequência da microcefalia.

A mãe, Cristiane Silva Oliveira dos Santos, 23 anos, conta como se sentiu antes e depois do diagnóstico do � lho: “Du-rante a gravidez � quei com medo, mas como eu não tinha cer-teza não me preocupei muito. Quando descobri que o Lucas tinha microcefalia, chorei e � quei muito abalada, com medo do meu � lho não conseguir ter uma vida normal e de sofrer pre-

dade de Salvador (BA). Contudo, ainda não se sabe o que desencadeou a microcefalia na criança. Apesar de todos os indícios levarem a infecção pelo vírus Zika, mãe e � lha ainda farão exame de sorologia para con� rmar a causa.

Desde os seis meses Ayla já se movimenta de um lado a outro da cama, o que é de grande importância porque mesmo com as consequências da microcefalia a crian-ça está se desenvolvendo bem. “Ela é muito esperta, já nasceu sorrindo. Eu a levo na � sioterapia todos os dias e em outros locais necessários, além de conseguir sempre tudo que me pedem e de levá-la aos lugares que os mé-dicos recomendam. Tudo por um desenvolvimento cada vez melhor’”, explica a mãe.

O tratamento da criança é realizado na instituição pú-blica, Hospital Geral Roberto Santos e duas vezes na se-mana no CEPRED (Centro de prevenção e reabilitação do portador de de� ciência), em Salvador (BA). Além disso, a família faz parte do grupo “Abraço a microcefalia”, que é um grupo de apoio que oferece auxílio às famílias e sobrevive de doações de empresários e pessoas inte-ressadas na causa.

Embora tenha descoberto que a � lha tem microcefalia só após o nascimento, Judaiane a� rma que mesmo se soubesse durante a gravidez jamais abortaria. “Não abortaria porque se está ali foi Deus que deu, é presen-te nosso, somos presenteadas com essas crianças. Sei que o preconceito existe, mas cabe à pessoa decidir se aceita ou não, quando nos olham diferente eu vou e per-gunto o que está acontecendo”, enfatiza. “Sempre que me pedem entrevista eu dou porque é importante, os jor-nalistas querem saber mais, as pessoas querem saber mais e para nós é importante ter essa visibilidade, todos precisam se interessar”, conclui Judaiane.

conceito, mas graças a Deus até hoje isso nunca aconteceu”.

Por causa da microcefalia, Lucas tem seu desenvolvi-mento mais atrasado em relação aos outros da mesma idade. Além disso, sofre de epilepsia e por isso deve ter acompanhamento neurológico e � sioterapêutico. “Meu bebê faz tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde), ele tem recebido todo apoio. Mas, por enquanto, ainda não consegui marcar a � sioterapia, porque faz pouco tempo que foi diagnosticado e por isso não achei vaga”, explica a mãe. Quanto ao aborto em casos de microce-falia, Cristiane desabafa, “não apoio o aborto porque a criança com microcefalia tem a chance de ter uma vida praticamente normal se � zer o tratamento da forma cor-reta. E para mim, nada justi� ca tirar uma vida”.

A jornada da pequena Ayla contra a microcefalia Lucas Emanuel: o grande guerreiro

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Ingrid Graciliano Cirne Guimarães, 26 anos, mãe da bebê Nicole, utiliza do diagnóstico de microcefalia da � lha, também causado por infecção do vírus Zika, para ajudar outras famílias que passam pela mesma situa-ção através de suas páginas nas redes sociais. Tanto a sua fanpage, no Facebook, quanto sua conta no Insta-gram possuem o mesmo nome “Microcefalia e todo amor do mundo”.

Em ambas Ingrid narra sua rotina de mãe e compartilha com outros pais o dia a dia de Nicole, que nasceu em de-

zembro 2015. A microempresária foi infectada pelo vírus Zika na oitava semana de gestação, mas só descobriu que isso afetaria a criança na 27ª semana, por uma ul-trassonogra� a morfológica. “Quando soube o resultado, tive depressão pós-parto. Fiquei péssima, mas tive que me reerguer para que pudesse cuidar dela”, conta.

Apesar de ainda não saber todos os efeitos da micro-cefalia ao certo, já é possível detectar alguns danos, como atrasos motores e di� culdades na deglutição da bebê, “eu tomo os mesmos cuidados de um bebê dito normal, o que muda é a rotina médica porque demanda um tempo maior, além da atenção necessária em casa para realizar os estímulos”, explica a mãe.

“As pessoas olham pra minha � lha como se fosse um ex-traterreste e sempre rolam comentários desagradáveis, como por exemplo: esse mosquito vai exterminar a raça humana da Terra”, desabafa Ingrid. Ao ser questionada sobre o aborto de bebês diagnosticados com microcefa-lia, a mãe de Nicole é incisiva, “deveriam se preocupar em combater o mosquito e não em interromper a vida de inocentes, que se tratados corretamente têm chances de se desenvolver e ter uma vida independente”.

O Zika é ainda um território a ser explorado, assim como são também os prejuízos que esse vírus causa nas pes-soas infectadas. Desde o seu aparecimento no Brasil em 2015, foi tema constante na mídia e gerou discussões entre médicos e especialistas que procuraram enten-der desde o seu modo de transmissão até seus efeitos. Um ano depois, em 2016, tornou-se de conhecimento público que o vírus Zika possui relação com a micro-cefalia em recém-nascidos e também com a síndrome de Guillain-Barré. Porém, estudos continuam sendo re-alizados em busca da descoberta de novas informações que irão auxiliar na luta contra esse vírus.

A microcefalia em bebês por conta da infecção pelo Zika serviu como um alerta a respeito da gravidade

das consequências desse vírus para a saúde da popu-lação brasileira, especialmente para essa nova gera-ção de crianças. Hoje, esses bebês, apesar de todas as di� culdades, têm se desenvolvido de maneira positiva graças ao esforço dos pais que buscam sempre um tratamento adequado.

É importante ressaltar que ainda não há sinal de uma vacina contra o vírus no � nal dessa caminhada e que a problemática do aborto nesses casos deve continuar em discussão, levando em conta que ainda há muito a ser descoberto pelos pesquisadores a respeito do vírus Zika. Por isso, é importante discutir o assunto, não só para alertar sobre a prevenção, mas também para que os médicos continuem na busca por respostas.

“Microcefalia e todo amor do mundo”: a rotina registrada em postagens no Instagram Um caminho ainda a ser trilhado

Nicole aos dez meses de vida (Foto - reprodução via página no insta-gram Microcefalia e todo amor do mundo)

Ministério da Saúde em campanha contra o vírus Zika

Página do instagram Microcefalia e todo amor do mundo

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