deambulac a o pela arte como coisa pu bl

Upload: pedro-santos

Post on 24-Feb-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    1/23

    4 3

    A walk across the city, determined by the idea of

    ambulation. One stimulated by the notion that art can

    be a publicthing.Res publica. Looking around leads to

    the analysis of a sequence of urban moments. A set of

    tensions appears, as made visible by each work of art.

    What appears by means of this mosaic of impressions

    is the idea that the urban form is a territory to becontinuously appropriated. Such is the concept which lies

    in the core of an ethically responsible citizenship.

    Keywords

    Public Art, Urban Art, Street, City, Ambulation.

    O olhar como saber

    A partir du moment o luvre est vue, cest-

    -dire o sa prsence sest fait sentir, si elle

    existe vraiment avec ce qui lentoure, alo-

    rs lendroit nest plus invisible. Ds lors, saralit est modifie. Et ceci est plus effectif

    lorsque luvre nest pas reconnue comme

    une uvre dart, lorsquelle nest pas disso-

    cie comme une forme sur un fond.

    Catherine Grout

    O presente texto evoca um percurso pelacidade. Uma deambulao simula um pas-

    seio, constituindo a sua memria ficciona-lizada, ao mesmo tempo que sintetiza as-pectos essenciais da minha reflexo dosltimos anos acerca da relao entre a artee a cidade. por assim dizer uma viagem vol doiseau por contedos da obraArtena Cidade Histria Contempornea (Crcu-lo de Leitores/Temas e Debates, 2014), aquiactualizados por impresses recentes, con-

    forme as vou situando no meu quotidiano.

    Ao final assumo uma intuio:A arte pblicaest na maneira de olhar. Saber olhar a cida-de e nesta a arte (e vice-versa) aqui a con-dio sine qua non para poder produzir-seo acontecimento urbano, que vejo como o

    Deambulao pela Arte (como Coisa) Pblica

    p o r M r i o C a e i r o

    Professor na ESAD das Caldas da Rainha, Investigador e Curador.

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    2/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    3/23

    45

    ttica; entre obras que fazem parte da pai-

    sagem do dia-a-dia (quer queiramos quer

    no) e outras que vo delicada- e quase in-

    visivelmente criando uma sensibilidade cr-

    tica abaixo do radar (mas perfeitamente in-

    tegradas movimento global,) procuro que

    a minha e nossa conscincia dos lugares e

    das pessoas encontre na criao artstica

    um espelho que abra possibilidades re-

    presentao de mais do que apenas o gos-

    to (de alguns). Mesmo quando tal espelho

    parece quebrado, o que vejo so em todo

    o caso fascinantes impermanncias de uma

    espcie de sentido de totalidade, no mbi-

    to do qual a arte subsiste como campo de

    encontros vitais.

    Proponho-me em suma, ao evocar o que

    vejo por a (e o que na sombra desse olhar

    me ocorre) revisitar alguns caminhos essen-

    ciais da arte contempornea que manifesta

    o seu interesse pela cidade, investigando o

    seu papel comunicacional na actualidade5

    urbana. As obras de que falarei so como

    que figuras de uma famlia, seno de umagenealogia que assim homenageio, mesmo

    sem a querer ou saber nomear. Aqui entre

    ns, reconheceremos os nossos ou no

    fosse funo essencial da arte na cidade

    afirmar-se a si prpria e sua comunidade

    sempremergente, at porque s assim con-

    tribui para essa outra e maior obra de arte

    que a prpria cidade.

    Ricardo Campos, num quadro de ideias que

    engloba decisivamente a de um urbanismo

    vertical,complementa:

    Actualmente, as imagens e os dispositivos

    visuais desempenham funes muito diver-

    sificadas, sendo apropriados por distintas

    entidades e grupos sociais como mecanis-

    mos fundamentais para a aco. A publi-

    cidade que toma o espao pblico, a vi-

    deovigilncia sob o controlo do Estado, as

    gramticas subversivas representadas pelos

    graffiti e pelastreet artou os estilos juvenis

    urbanos, so, entre muitos outros exemplos,

    fenmenos que nos demonstram a crucial

    relevncia de um estudo mais detalhado

    das prticas e das estratgias engendradas

    pelos diferentes actores nestas operaes

    que buscam adquirir visibilidade no espa-

    o pblico urbano, intervindo na ecologia

    visual urbana.6

    Mensagens (na garrafa)

    Mostly, I believe an artist doesnt create

    something, but is there to sort through, to

    show, to point out what already exists, to

    put into form and sometimes reformulate it.

    Annette Messager

    Saldanha. So duas, talvez trs da manh.

    Mas a cena surge-nos a qualquer hora dodia, em muitos lugares de Lisboa. Em cima

    de um caixote do lixo, uma garrafa de cer-

    veja e uma lata de Monster, foram coloca-

    dos, metodicamente arrumados, como que

    num plinto. Porque que no foram sim-

    plesmente atirados para o cho ou,j ago-

    ra,para o interior do caixote do lixo? Que

    fenmenos da aco corrente e da comuni-

    cao interpessoal esto ali em causa, nestaespcie de assemblageou de impromptu?

    Quando passo, posso fingir que isto no

    me afecta nem ao meu mundo, como se

    no fosse comigo.Ou posso achar que tal

    espcie de nano-performance da ordem

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    4/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    5/23

    47

    cia mais premente das nossas capacidades

    performativas.(Campos, 2011)

    Invisvel paisagem, monumento

    invisvel

    But by returning to monuments some me-

    mory of their own origins, by drawing back

    into view the memorial-making process, we

    invigorate the very idea of the monument,

    thereby reminding all such cultural artifac-

    ts of their coming into being, their essential

    constructedness.

    James E. Young

    Passo o El Corte Ingls com sua incontor-

    nvel escala de referncia urbana e suboao jardim do Parque Eduardo VII. A sereni-dade do momento seleciona claramente oseu auditrio (uma maneira de estar, em se-renidade e silncio) e, no sendo arte emsentido estrito, a viso de Ribeiro Telles7 ogrande mentor ideolgico de toda uma po-

    ltica da paisagem(Aurora Carapinha) de-senrola-se claramente como um assertivo

    artifcio para criar uma disposio naturalpara um certo pblico ficar por ali, em paz.

    O pequeno episdio desta estrutura verde,o facto de se constituir como um ambien-te pblico amigvel rplica localizada daviso sistmica que Ribeiro Telles tem ofe-recido Cidade mostra que a haver uma ou a arte pblica, ela assenta um dos

    seus pilares num participar cidado na pai-sagem. Numa co-responsabilizao viven-ciada do sistema ambiental, j que napaisagem que somos convocados na pleni-tude dos sentidos: Trata-se de uma peculiarforma de apreender as coisas naturais, que,

    justamente, enquanto forma, reside no esp-

    rito e no nas coisas, no um dado em-si,

    mas implica um para-si. (Serro, 2011)

    No entanto, se ser no fazer colectivo dapaisagem que nos podemos realizar so-cialmente, nem todas as sensescapes (Lan-dry, 2012) funcionam como um osis namalha urbana. E a so raras as obras queempreendem uma notvel conquista da ci-dade para o simples estar; o caso, ocor-re-me, do Jardim das Ondas8de FernandaFragateiro, na Lisboa Oriental. Que ento,s a uma segunda ou a uma terceira leitu-ras, para alm do mero estar e apreciar, co-mea a dizer mais ao que vem, quando j

    percepcionada como obra de arte

    Mas eis que na minha deriva paisagsticame deparo com um estranho aglomeradohorizontal de pedras brancas e polidas estranha configurao geomtrica para aqual no vislumbro uma funo evidente.Ah! um ()monumento(). Assinala os 25anos da Associao 25 de Abril. Mas a inter-

    veno contraria as mais bvias caracters-ticas de um monumento: no se ergue nasalturas para se arvorar em marco (visual),no se reconhece qualquer rosto (de figurahistrica), no estabelece sequer uma dis-tncia de venerao (antes pelo contrrio,funciona como mobilirio urbano, ou coi-sa parecida) na verdade, a formalizaodesta espcie de memorial quase contra-

    -visual (no sentido debordiano). Ora pre-cisamente nessa opo formal que se tornaadequada aos seus objectivos (que entre-tanto pesquisei): uma homenagem sens-vel a um processo colectivo extraordinrio,cujos principais protagonistas nunca procu-raram a glria pessoal.

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    6/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    7/23

    49

    numento com que Charles Chaplin abre ofilme Luzes da Cidade (1931). A arte pblicaexiste sempre em funo do que cada po-ca lhe exige. Mas noutra dimenso ainda, enuma nota muito pessoal, a interveno deSrgio Vicente tambm uma rplica comluva de calcrio hubris ertico-monu-mental de Jos Cutileiro ali to perto, entreas monumentais colinas do Parque EduardoVII. A sua celebrao do 25, com todas asmarcas da autoria (o estilo celebrizado peloescultor), com efeito uma efervescnciaurbana efusivamente ps-modernista.10 Noto invisvel quanto isso (at pela orientaovertical), iluminada por projectores de luz

    colorida, a obra consegue at conferir a umpasseio nocturno um momento de evasouma fantasia ertica que qui interrompe,nos olhos das geraes actuais, o que pare-ce serem os reflexos de uma total indiferen-a perante o passado.

    Em suma, no se tratando ainda de umcontramonumento ( la Jochen Gerz), a

    escultura pseudo-minimal de Srgio Vicen-te, qual discreta mnemnica que nos remetepara um aspecto preciso do processo hist-rico, representa um modo de a arte integrara cidade que j plenamente consciente dafenomenologia dos seus usos quotidianos.O trabalho assumidamente um desenho(do) urbano como totalidade experienci-vel: Srgio Vicente, escultor e docente que

    orientou o projecto, explicou ao JN que a pa-lavra s conseguir ser lida do ar, pelo queo mais provvel que, quem por ali passe,a utilize como zona de estadia.11 portantouma interveno no tecido urbano perfei-tamente capacitada de que, como j diziaLewis Mumford nos anos 30, a noo de um

    monumento moderno uma contradio determos.Assim supera vrios impasses pre-cisamente porque radica a eficcia do seuanacronismo numa estratgica (in)visibili-dade, expresso de extrema modstia derecursos, adicionalmente impedindo que amemria colectiva seja naturalizada.

    Pinturas outras, outras esculturas

    bonita a ideia de uma imagem urbana.Dito isto, considero que a imagem no uma caracterstica estritamente individual, oque demarca uma grande diferena entre aminha perspectiva e a de outros socilogose antroplogos, que permanecem obceca-

    dos por uma concepo bastante individual,ou at mesmo individualista, da imagem.Michel Maffesoli

    Estar vs. andar. Ficarmo-nos passivos vs.agir. A cultura do graffiti tem na sua origeme na sua tradio esta ideia de o gesto ar-tstico conquistar territrio, de ocupar a pai-sagem. Mas ao contrrio do monumento

    (mais ou menos tradicional), aceita e pro-move o efmero, o circunstancial, a comu-nicao urgente de realidades sociais quede outra forma seriam desconhecidas daesfera pblica. Algumas imagens do graf-fiti tm alis um indelvel poder evocativo(que lhes vem na verdade de mais do queapenas do facto de serem facebookveis,instagramveis, ou twittveis.

    Quando deso das Amoreiras a caminho doRato o que me sobra do mais belo dos gra-ffitis no mais que a memria remota des-te POOW!! BOOM!Assim rezava a pare-de, tirando partido de um acidente viriocontra um muro para criar uma efmera afir-

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    8/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    9/23

    51

    to instrumental ao nvel do desenho da ci-

    dade), mas o essencial que, no mbito da

    arte-como-coisa-pblica, o artista e os agen-

    tes sua volta entendam que a recepo por

    parte do pblico aspecto essencial do seu

    trabalho. Com a agravante de que se tra-

    ta na maioria das vezes de um pblico que

    tem mais do que fazerdo que apreciar arte

    ou aderir ao que poder muito bem ser en-

    tendido como uma absolutamente suprflua

    apario do esttico no seu quotidiano.

    Claro que, neste brao de ferro com a dis-

    ponibilidade do pblico, o vernacular pode

    ser a gazua para estabelecer com esse p-

    blico um dilogo que ento nasce, quandoa obra rica de possibilidades interpreta-

    tivas. Estou a pensar noutra obra de arte

    esta existindo inequivocamente enquan-

    to tal ,Portugal a Banhos(2010), de Joana

    Vasconcelos, que esteve uma temporada

    no Terreiro do Pao13. A pea sintetiza in-

    meras complexidades (e perplexidades)

    sobre Portugal, precisamente no contexto

    mais adequado possvel (Portugal-feito-pis-cina--venda-no-Terreiro-do-Pao, praa das

    praas no que diz respeito identidade na-

    cional, em condies ideais de visibilidade

    para potenciais compradores).

    Vasconcelos representa uma atitude entre o

    lrico e o crtico (entre a cumplicidade e a in-

    teractividade) que, se formos alm de uma

    anlise das suas peas meramente comoestratgias de apropriao do imaginrio

    colectivo e de marketing autopromocional,

    funcionam no meio urbano como legtimas

    presentificaesde debates culturais que se

    resolvem precisamente na participao opi-

    nativa do pblico, desde logo e por vezes

    Joana Vasconcelos,Portugal a Banhos, Lisboa, 2010.

    Fotografia de Miguel Malaquias. In https://www.flickr.com/photos/

    miguelmalaquias/5176606374

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    10/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    11/23

    53

    Os eventos de VICENTE so assim quase

    sempre exemplarmente pblicos decor-

    rendo na rua , e escala de uma pequena

    travessa l vamos fazendo pela posteridade

    de So Vicente mas tambm qual labora-

    trio para se experimentar o (im)possvel

    elaborando um discurso tangvel acer-

    ca das possibilidades da cidadania criativa

    (no caso, antes do mais, a de uma entida-

    de privada que partilha no espao pbli-

    co uma estratgia local de regenerao do

    tecido e da oferta culturais). Em duas pala-

    vras, humildade e ambio em doses idn-

    ticas pode permitir a um conceito, como a

    uma obra, estabelecer com os cidados um

    acordo: vamos pensar o impossivelmentegrandeatravs dopossivelmente pequeno.

    Na prtica, fao questo que no VICENTE

    pequeno carrinho de linhas no meio das

    rodas dentadas gigantes que se encon-

    tram em volta (patrimnio edificado, insti-

    tuies e equipamentos culturais) a arte

    aparea como coisa natural da matria ur-

    bana, isto , como uma recodificao do es-tvel e do conhecido, e at do expectvel,

    mais ou menos inusitada conforme o mbi-

    to de cada conceito tratado. A propsito da

    irreverncia deste tipo de projectos, que se

    abre a umaperformticado urbano, o histo-

    riador Jos Sarmento de Matos encontrou

    um termo para dizer o que esta arte faz ci-

    dade:a batida do desassossego.

    Na oportunidade especfica criada pelo VI-

    CENTE (o projecto teve a origem no desejo,

    por parte do seu patrono, de voltar a falar-

    -se dos Corvos de Lisboa), procuro que

    a performatividade de um mrtir cristo do

    sc. IV pudesse entrar em dilogo com a da

    criao e da cidadania dos nossos dias. O

    resultado mais 1:1 deste desejo a instala-

    o dando lugar ao corpo-a-corpo do tea-

    tro foi a dada altura um conjunto de irreve-

    rentes performances passeios pela cidade

    pelo performer polaco Krzysztof Leon

    Dziemaszkiewicz que levei a atravessar a

    cidade durante trs dias sucessivos interpe-

    lando todas as suas potenciais vtimas.

    Entre senhoras idosas de um bairro popu-

    lar e os alt skaters Praa da Figueira, o que

    o pblico viu foi a recodificao (Flusser,

    2007) dos trajes e dos atributos do Santo

    (dimenso eminentemente visual), consti-

    tuindo o conjunto dos percursos uma viasacra individual capaz de desafiar os ven-

    dilhes da sociedade do espectculo. Um

    dos figurinos que Leon realizou integral-

    mente em Portugal, durante uma escassa

    tarde de corte e costura, foi por exemplo

    uma dalmtica de Vicente, feita de sacos

    do Pingo Doce.

    Este tipo de aco urbana da ordem doque Thierry Davila chama de cineplstica.14

    Isto , o artista, j no meroperformer, tor-

    na-se por essncia mvel e as suas pere-

    grinaes o fundamento para novas rea-

    lizaes, num quadro operativo15. Mais, a

    cidade, vasto processo, conjunto de veloci-

    dades (Davila), como que sepedonaliza.

    O texto como potica, o rabisco ariscoText Art is no longer defended as a special

    case, nor has it been completely incorpora-

    ted into the institutions of art. Rather, its value

    and potential is acknowledged by a wide

    spectrum of contemporary artists who freely

    combine the use of text with performance,

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    12/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    13/23

    55

    Outra obra absolutamente singular que te-

    nho tido a oportunidade de acompanhar

    a de Stefan Kornacki. Kornacki tem salva-

    do monumentais letteringsda destruio17,

    conseguindo nos ltimos anos construir

    um quase absurdo lxico de palavras que

    outrora encimaram importantes edifcios

    (no caso, na Polnia comunista): KOSMOS,

    UNIWERSAM, VICTORIA

    Neste trabalho sobre a runa (tambm da

    ideologia, de qualquer uma) h ao mesmo

    tempo um enorme respeito pela histria e

    os processos de recontextualizao da lei-

    tura (j que todas as obras, autnticos rea-

    dy-madesurbanos so acompanhadas decuidada documentao participativa [en-

    trevistas, documentrios] no apenas sobre

    o que essas palavras significam [digamos

    que em absoluto] mas tambm para quem

    e quando). Por outras palavras (!), h uma

    espcie de traduo de um termo urbano

    concreto (uma sinaltica historicamente si-

    tuada) para outras pocas e situaes18.

    Alis, podemos hoje literalmente tocar aspalavras que outrora estavam l em cima.

    Agora, c em baixo, num lugar que que o

    artista escolhe, a sua transparncia e poder

    so completamente reconfigurados. E a sua

    fragilidade exposta.

    Esta questo entronca num aspecto do pr-

    prio discurso que muitos artistas tomam por

    adquirido. A lngua. Neste aspecto, Janu-rio tem sido precioso na inscrio criteriosa

    dos seus textos, que so verdadeiros dilo-

    gos da psique colectiva com a superfcie da

    cidade e, mais globalmente, o momentum

    cultural da sua recepo (em Guimares,

    para a Capital da Cultura, chega a espetar

    uma faca nas costas [da esttua] de Afonso

    Henriques e a celebrar [o enterro de Por-

    tugal] com um caixo com a forma do dito

    [limites continentais].) Em Lisboa, procu-

    rar por a mas dou uma dica: debaixo da

    ponte, junto Embaixada dos Estados Uni-

    dos da Amrica, a Sete Rios.

    A sua continuada relao com o texto ver-

    nacular (lngua portuguesa vs. inglesa con-

    forme a situao a criar, cartazes impressos

    ou tinta negra directamente aplicada s su-

    perfcies, uma tipografia universal) contrasta

    com a quase ingerncia no espao pblico

    discursivo que foi a recente interveno em

    Lisboa de Tim Etchells19, com frases (em in-gls), evidentemente sobre Arte, numa tipo-

    grafia relativamente requintada:Art Matters.

    Ora No tarde nem cedo ter pensa-

    do o/a vndalo/a que rabiscou vrias des-

    sas inscries com deliciosos (ou pernicio-

    sos) comentrios, do tipo: [Art that hurts] ?

    DOI? ESTUDASSES!.20

    A cidade da arte isto, mais do que a obradeste ou o comentrio daquele, e indepen-

    dentemente dos graus de violncia dos de-

    bates, a cidade este dilogo, ora pbli-

    co ora secreto, que umas vezes se fica pela

    mente do colectivo, outras surge no esplen-

    dor de incompreenses que revelam por

    sua vez que, sem retrica o poder-se e sa-

    ber-se falar sobre aquilo que vale a pena a

    arte pblica aparece como uma actividadecriativa dolorosamente desprezvel.

    Resta aqui acrescentar que tambm um cer-

    to gesto pode ser puro texto, como o prova

    a rebelde escultura de Maurizio Cattelan em

    frente Bolsa de Milo21, o famoso Il Det-

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    14/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    15/23

    57

    exigir-lhe essa outra funo mais complexa,que seria a de mudar o mundo (parece queestou a ouvir Almada Negreiros, na Estaode Metropolitano do Saldanha).

    No estou a dizer que seja sequer o mo-mento e aqui entre ns, nunca ser para discutir a questo da arte pela arte vs.da arte como poltica; mas que o trabalhode Farto(s) e Janurio(s) do lado da comu-nicao urbana e depois de outros agentesde mudana mais discretos (essa arte comu-nitria de longa durao que no encaixa naagenda meditica nem convm s narrati-vas hegemnicas) est a reconfigurar a nos-

    sa ideia de arte urbana, isso est. Porquevo tocando nos pontos,fazendo ao mesmotempoarte e a pedagogia dos possveis daarte enquanto ligao com o social. Tendema ser mediao (Debray, 1997) ao nvel deum superior entendimento do que a cida-de como palco de pessoas e ideias.

    Rememorar processos, criar lembranas

    Dans la gestion des signes urbains, quilssagissent de signes traduits dans lespace

    ou de signes changs entre les spcialis-

    tes, la logique sociale de la prise de dcision

    veut que celle-ci se fasse en dehors de tout

    dterminisme conscutif une quelconque

    dialectique des rapports de force ou din-

    fluence.

    Franois Sguret

    Enquanto agente de interpelaes urba-nas, percorrer a cidade para mim reco-nhecer stios potenciais para a realizaode intervenes; o que passa por encontrarpretextos e oportunidades para criar acon-tecimentos ou aliar-me a dinmicas de co-

    -criao ou mudana onde quer que elaspossam aparecer. preciso estar atento eestimular a sensibilidade, sobretudo numaaltura em que novas vises do urbanismocomeam a fazer das suas. Por outro lado, evidente que temos dificuldade em ima-ginar que o Projecto Urbano possa ser uma

    montagem e uma mobilizao de recursos

    pelos prprios habitantes (Claude, 2000)mais fundamentalmente, esquecemo-nosde que a forma deveria seguir a fico(Sguret, 2000).

    Em todo o caso, prospectivas parte, atra-vessar a cidade tambm um exerccio de

    rememorao; rememorar memorveis ac-es que o tempo se vai encarregando deapagar progressivamente um exercciofundamental da cidadania e deveria ser umvalor inalienvel da experincia do pblico.As instalaes e a implantao urbansticada Luzboa (2004 e 2006) por exemplo, ho--de diluir-se no nada do tempo, mas comoque ainda ressoam na memria de alguns

    lisboetas (e at estrangeiros que por c an-daram na altura). O essencial que a expe-rincia esttica de uma determinada gera-o possa encontrar formas e se traduzirpara novos desafios, j que se o contextomuda, no muda (pelo menos para j!) algode essencial, o problema de criamos senti-do para a nossa vida.

    A este nvel, certos experimentos urbanosso potencialmente alimentadores dos so-nhos de novas geraes de criadores. As-sim aconteceu comigo anos atrs, quandoao fazer a Lisboa Capital do Nada (2001) es-tava no fundo ainda a reacender as cinzasmornas de experimentos como a Alterna-

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    16/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    17/23

    59

    dos seus processos (e na frontalidade comque lida com as modalidades, como diriaWagner), mas ao mesmo tempo na capaci-dade de dizer o imediato da cidade no aquie agora dos seus dispositivos. Regressomais uma vez Luzboa para dar um par deexemplos: tivmos uma empresa de men-digos (Javier Nes Gasco), a lua na terra(Bruno Peinado) e at elctricos na alturabem menos photo-opportunities que hoje iluminados (Yann Kersal). O que mostracomo os artistas trabalham os limites de to-das as (des)codificaes, sobretudo quan-do assumem um desgnio: o de manifesta-rem a graa social, implcita no idear mais

    nobre e profundo da Cidade.

    Cabe arte pblica crtica (aproprio-me dotermo cunhado por Krzysztof Wodiczko), sa-ber ora diluir-se tacticamente entre o espec-tculo e a provocao, ora aderir ao belopara celebrar o Social Humano, ou ainda, fi-nalmente, procurar um compromisso com odesconhecido, em total entrega ao impon-

    dervel (algo que no d l muito jeito sindstrias criativas). esta gramtica fun-damental que subjaz ao discurso sempre-mergente que faz da cidade um palco paraa visibilidade do que urge comunicar-se eum tabuleiro de xadrez (dispositivo), sobreo qual se joga supremo ludismo a nossaformao a Bildunga que se refere Schillernas suas Cartas sobre a educao esttica

    do homem(de 1795).

    Plano do poder cidado, cenrio de so-nhos, discurso exploratrio da utopia, aarte pblica transforma a cidade num ve-culo para todas as sensibilidades se senti-rem mais prximas do seu prprio destino.

    A arte pblica torna tangvel a comunidadee, nela, a participao (nomeadamente ado povo no seu prprio destino). Antes detudo mais, ela promove a conversao. Ela nos seus mais surpreendentes momentosa orquestrao criativa de encontros colabo-

    rativos e conversaes, bem para alm dos

    confinamentos institucionais da galeria ou

    do museu (Kester, 2004) A obra de arte totalque a arte na cidade Wagner, I wish youwere here em suma um factor de produ-o de imaginao colectiva e de activaoinstrumental dos mecanismos urbanos. Ela por isso sempre do futuro.Precisamen-te como Richard Wagner antecipou no seu

    ensaio de 1849.

    Em suma: a arte da cidade comea numolhar sobre a coisa urbana, a cidade na suaquotidianeidade e na sua multidimensiona-lidade (conceitos lefebvrianos). A, formas,usos, cdigos, imagens, paisagens, quais-quer pretextos servem para inspirar umaconscincia que cuida do que na cidade

    queremos preservar, mudar e/ou proble-matizar. tica portanto, que diz muito damaturidade de cada comunidade. E que serealiza o que raro, seno rarssimo ,quando radicalmente interpretada comouma fuso da arte com osocius, que o queacontece em projectos de esttica dialgica(Kester, 2004) como os de Stephen Willats,que encara o seu trabalho como aproduo

    de cultura socialmente interactiva.22

    Dito isto, quando o/caro leitor/a passar pelaAv. Infante Santo (agora no me d jeito),d valor aos azulejos de Maria Keil (figura-o da maior qualidade) mas tambm aospainis abstractos de Eduardo Nery, cele-

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    18/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    19/23

    61

    to matria para as suas formas, transforman-

    do os prprios meio e vida urbanos num in-

    strumento musical (f-lo Travessa do Marta

    Pinto, mago do Projecto VICENTE).

    E podemos aqui renovar os nossos votos

    com Lefebvre precisamente a partir do seu

    entendimento da rua como dispositivo co-

    mum, pblico e quotidiano.25

    Imaginemos que entramos numa peque-

    na rua de Lisboa, animada por uma discre-

    ta mas vibrante vida local... sentimo-nos

    em casa porque o espao convidativo,

    ou uma obra de arte nos chama, ou a fila

    porta de um restaurante denuncia uma boacozinha... imaginemos que ao fim dessa rua

    entramos diretamente numa calle espanho-

    la... to diferente e, no entanto, transmitindo

    um carcter semelhante... imaginemos que

    ao final dessa rua espanhola entramos numa

    francesa, depois numa italiana, que se bifur-

    ca numa alem e numa turca, desembocan-

    do todas numa estnia... Imaginemos uma

    rede de ruas assim virtualmente ligadas,como se existisse entre elas uma passagem

    oculta, conectando diferentes lugares onde

    a Europa acontece, fervilhando da mesma

    vida urbana, pessoas, ideias, iniciativas, num

    mosaico de culturas locais. Faamos a car-

    tografia intangvel de todas essas ruas. Voil

    uma Europa de pequenos factos urbanos a

    que acedemos por via de critrios prprios,

    como o genuno, o vintage, o emergente, oexcecional. Seria uma rota 24/24h com pro-

    tagonistas e figurantes sempre renovados, a

    vivncia dos diversos lugares enquanto pal-

    cos de atmosferas, estrias, valores.26

    Rochus Aust & DEUTSCHES STROMORCHESTER, Concerto

    Mvel na Travessa do Marta Pinto, Lisboa, 2015. Fotografia de

    Agata Wiorko, cortesia Projecto Travessa da Ermida.

    M A R I O C A E I R O

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    20/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    21/23

    63

    Advances in Art & Urban Futures

    Voume I. Locality, Regeneration &

    Divers[c]ities, Intellect Books, 2000.

    Sguret, Franois;Les acteurs

    et les mtiers de la ville et du

    projet Urbain, in Hayot, Alain;

    Sauvage, Andr (dir.), Le Projet

    Urbain. Enjeux, Exprimentations et

    Professions, ditions de la Villette,

    2000.

    Semedo, Alice;Introduo, in

    Semedo, Alice; Lopes, J. Teixeira

    (Coord.);Museus, discursos e

    representaes, Afrontamento,

    2006.

    Serro, Adriana Verssimo;A

    paisagem como problema da

    filosofia, in Serro, Adriana

    Verssimo (Coord.), Filosofia da

    Paisagem. Uma Antologia, Centro

    de Filosofia da Universidade de

    Lisboa, 2011.

    Wagner, Richard;A Obra de Arte

    do Futuro [1849], Antgona, 2003.

    Young, James E.;Memory/Monument, in Nelson, Robert S.;

    Shiff, Richard (Eds.); Critical Terms

    for Art History, The University of

    Chicago Press, 2003.

    Zanatta, Maria Luiza;Caminhando

    com Francisco de Holanda, V

    Encontro de Histria da Arte, IFCH

    / UNICAMP, 2009.

    Notas

    1Para Tim Collins e Reiko Goto

    (2005), advogados da arte pblica

    como eco-prtica, a atitude

    esttica dos criadores pode

    tender para uma ou mais das

    seguintes posies: lrica, crtica e

    transformativa.2Delgado, Manuel; O Espao

    Pblico como Representao.

    Espao urbano e espao social

    em Henri Lefebvre. Conferncia

    proferida no mbito do ciclo A

    Cidade Resgatada organizado

    pela OASRN, Museu de Serralves,

    15 de Maio de 2013. Traduo

    do espanhol por Pedro Bismarck

    e Lus Piteira. Cf. http://www.

    revistapunkto.com/2014/01/

    o-espaco-publico-como-

    representacao_9694.html3Ver a reflexo continuada de

    Joo Barrento sobre o ensaio

    e o fragmento, sintetizada em

    entrevista recente, de 2013. Cf.

    http://www.pequenamorte.net/

    entrevista-com-joao-barrento/#.

    Vhofm7RViko4Donde que neste quadro

    arte se coloca o desafio deconstantemente aferir as hipteses

    de os actores sociais e os agentes

    artsticos constiturem um e o

    mesmo grupo, ainda que na

    efemeridade de um conceito ou

    de um evento. Para Alice Semedo:

    O agente essencialmente um

    fazedor activo de significados: no

    entanto, a constituio do mundocomo significante, relevante

    ou inteligvel depende da

    linguagem compreendida no

    como um simples sistema de

    signos e smbolos, mas como um

    meio para a atividade prtica.Cf.

    Semedo, Alice; Introduo, in

    Semedo, Alice; Lopes, J. Teixeira

    (Coord.);Museus, discursos e

    representaes, Afrontamento,

    2006.5Joo Barrento (1996):

    Actualidade no , para Benjamin,

    a categoria mundana que se refere

    quilo que brilha superfcie, ao

    aggiornamentoefmero, ao up

    to dateborbulhante, calculado

    e imposto. O conceito tem nele

    contornos mais fundos, msticos, e

    implica uma iluminao sbita do

    passado pelo presente, motivada

    por uma afinidade electiva e

    despoletada por uma exploso de

    sentidos que pe a nu secretas e

    imprevisveis coincidncias entre

    presente e passado.

    6Campos, Ricardo; Introduo,

    in Campos, Ricardo; Brighenti,

    Andrea Mubi; Spinelli, Luciano

    (Orgs.);Uma Cidade de Imagens.

    Produes e Consumos Visuaisem Meio Urbano, Mundos Sociais,

    2011.7O arquitecto Gonalo Ribeiro

    Telles autor, entre outros, do

    Corredor Verde de Monsanto;

    da integrao da zona ribeirinha

    oriental e ocidental na Estrutura

    Verde Principal de Lisboa; dos

    jardins da sede da FundaoCalouste Gulbenkian (com Antnio

    Viana Barreto) e dos projectos do

    Vale de Alcntara e da Radial de

    Benfica, do Vale de Chelas, e do

    Parque Perifrico.8Directamente inspirada pelo

    M A R I O C A E I R O

    http://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.htmlhttp://www.revistapunkto.com/2014/01/o-espaco-publico-como-representacao_9694.html
  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    22/23

    C

    O

    N

    V

    O

    C

    A

    R

    TE

    N

    .1

    |

    A

    R

    TE

    P

    B

    LIC

    A

  • 7/25/2019 Deambulac a o Pela Arte Como Coisa Pu Bl

    23/23

    frases que interpelem os lisbtas

    e transeuntes e os convidem

    a descobrir este artista.[]O

    certo que algum ter levado

    o programa letra e se deixou

    interpelar pelas frases, ao ponto

    de tomar a iniciativa de sobre

    elas intervir. Por cima dos ditos

    idealizados pelo artista ingls,

    sempre com um carcter mais

    ou menos programtico sobre o

    sentido da arte art that hurts,

    art that opens eyes ou art that

    remembers-, foram feitos riscos

    em graffiti e, acima ou abaixo delas,

    apostas inscries sem aparente

    ligao ou outro propsito que

    o da mera sabotagem. In http://

    ocorvo.pt/2014/11/17/murais-de-

    artista-homenageado-sabado-pela-

    camara-de-lisboa-vandalizados/21A pea ganhou a sua designao

    final, L.O.V.E, durante o processo

    da sua realizao. O ttulo

    inicialmente previsto haviasido omnia munda mundis

    significando literalmente para

    os [homens] puros, todas as

    coisas [so] puras. Cf. http://www.

    designboom.com/art/maurizio-

    cattelans-middle-finger-displayed-

    in-milan/22Kester:As he [Willats] writes, My

    practice is about representing thepotential self-organizing richness

    of people within a reductive culture

    of objects and possessions. In a

    society which reduces people Im

    working to celebrate their richness

    and complexity.[]. In his projects,

    Willats shifts the focus of art from

    the phenomenological experience

    of the creator fabricating an

    exemplar physical object to the

    phenomenological experience of

    his co-participants in the spaces

    and routines of their daily lives.23Maria Luisa Zanatta: Em Da

    Fabrica que falece cidade de

    Lisboa (1571) o terico retoma

    velhas questes insistindo nas

    urgncias urbanas. Apresenta

    uma srie de imagens, isto ,

    lembranas de melhoramentos

    para Lisboa: portas, pontes,

    caladas, igrejas, palcios e

    fortificaes que conferiram a

    Holanda a condio do arquiteto

    que pensa a cidade. Analisando

    sua obra, encontramos elementos

    que nos auxiliam a compreender

    suas ideias de Arquitetura e de

    Cidade.24Cristiane Maria Rebello

    Nascimento: Da Fbrica quefalece cidade de Lisboa no

    propriamente um tratado de

    arquitetura, mas uma admstao

    ao rei D. Sebastio a propsito

    da importncia de dar cidade

    uma condio altura do

    imprio martmo portugus. Cf.

    Nascimento, Cristiane Maria

    Rebello; DA FBRICA QUEFALECE CIDADE DE LISBOA:

    FRANCISCO DE HOLANDA

    ENTRE OS MIRABILIA E OS GUIAS

    TOPOGRFICOS DE ROMA, IV

    ENCONTRO DE HISTRIA DA

    ARTE IFCH / UNICAMP, 2008.

    25Stephen Johnstone: The

    everyday is human. The earth,

    the see, forest, light, night, do not

    everydayness, which belongs first

    of all to the dense presence of

    great urban centres. We need these

    admirable deserts that are the

    worlds cities for the experience of

    the everyday to begin to overtake

    us. The everyday is not at home

    in our dwelling-places, it is not in

    offices or churches, any more than

    in libraries or museums. It is in the

    street if it is anywhere. Here I find

    again one of the beautiful moments

    of Lefebvres books. The street, he

    notes, has the paradoxical character

    of having more importance than

    the places it connects, more living

    reality than the things it reflects. The

    street renders public. The street

    tears from obscurity what is hidden,

    publishes what happens elsewhere,

    in secret; it deforms it, but inserts

    it in the social text. And yet, whatis published in the street is not

    really divulged; it is said, but this

    is said is borne by no word ever

    really pronounced, just as rumours

    are reported without anyone

    transmitting them and because the

    one who transmits them accepts

    being no one.26

    Cf. Ciro, Mrio; Ruas criativas?Vamos l! O novo desafio de uma

    Europa en route, a caminho de si

    prpria, in Arqa Arquitetura e

    Arte, n. 119, julho-agosto 2015.