de soberania

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De soberania, de protecionismo e de territriosCarlos Walter Porto-Gonalves,Roberto Leher Com o reconhecimento tardio de idelogos de neoliberalismo em 2008 o sistema passa por uma crise , perplexos diante de temas que manejam com dificuldade e na defensiva, voltam a brandir preconceitos condenando as medidas postas em prtica por governos que at recentemente defendiam ardorosamente o iderio neoliberal, como os da Inglaterra e Frana, que, no mesmo tom do governo recm-empossado nos EUA, acabam de aprovar medidas que apontam para a proteo do sistema financeiro injetando dinheiro pblico em bancos e em montadoras de origem nacional quebrados, objetivando a preservao de empregos dos seus concidados.Portugal e Espanha, dois estados comandaram, a partir de1492, aprimeira modernidade, ou melhor, a primeira moderno-colonialidade. A unificao territorial nos dois pases da pennsula ibrica se fez custa da limpeza tnico-religiosa com a expulso dos mouros. So Tiago de Compostela, aquele mesmo cujo caminho foi cantado por Paulo Coelho, o escritor preferido do Grande Dinheiro em Davos, entrou para histria como heri conhecido por Matamouros. Segundo Perry Anderson[1], as revoltas camponesas contra as diversas formas de opresso/explorao feudais puseram em crise opoder localdos senhores, o que ensejou uma resposta com a articulao dos de cima para os de cima e por cima contra os de baixo construindo umaestrutura de poder hierrquica e centralizadadelegando o monoplio da fora ao Estado que, assim, nasce com esse selo de classe. Atentemos aqui para opoder locale para a estrutura depoderhierrquica eespacialmente centralizada. Assim, comeam a nascer os Exrcitos unificados onde os uniformes, alm de indicar uniformizao e o comando do Um, tambm encomendavam as fardas uniformizadas s manufaturas Reais, o que deu importante impulso tecnologia das manufaturas.Desde o nascimento do sistema mundo moderno-colonial que o mundo se mundializa conformando, pois, uma nova forma geogrfica de organizao do poder, o Estado Territorial. No dizer de Wallerstein, o sistema de estados (territoriais) constitutivo do sistema mundo. Nada disso natural, como estamos vendo. Os territrios so institudos por sujeitos de carne e osso em processos instituintes tensos onde uma determinada territorialidade se impe na medida em que determinados sujeitos se impem e se afirmam com determinada forma territorial. Enfim, territrio, territorialidade e territorializao so indissociveis e indicam o carter histrico, isto , provisrio, de qualquer forma territorial que, sempre, abriga em seu seio outras territorialidades possveis. As cincias sociais, em particular a cincia poltica, vm ignorando que o Estado um conceito geogrfico-poltico e no simplesmente poltico como, exceo entre seus pares, salientara Henry Lefebvre.As diferentes formas do capital vo configurar diferentes formas de territorializao: o capital comercial depende da livre circulao dos bens que comercializa e, assim, depende de autorizaes alfandegrias, quase sempre submetidas a tributos (Passagem) e, ainda, de um lugar para comercializar que podem ser provisrios, como nas feiras[5]; o capital industrial implica a fbrica e, assim, um lugar prprio de inscrio material enquantolocusde transformao da matria, uma srie de condies gerais de produo que no produz, mas que necessita (energia, estradas, rede de gua, esgotamento, etc.) e, tambm, a livre circulao das matrias primas e da mercadoria final num espao territorial especfico e, para alm dele, tributos alfandegrios; o capital financeiro tambm depende de um lugar especfico de uma loja, tal como o capital comercial, mas da sua natureza viver do dinheiro em estado puro, o puro dinheiro em sua abstrao plena, isto , destitudo de qualquer materialidade e, assim, acredita desprender-se de qualquer limite, de qualquer fronteira, cujos efeitos veremos adiante. Registre-se, todavia, que todas as formas de capital tm que pagar renda (aluguel) para se localizar, tm que pagar pela rea de suasloggiase fbricas a um proprietrio, mesmo que para tornar-se proprietrio territorial (e, assim, deixar de pagar renda que, todavia, pode ser capitalizada novamente quando da venda da propriedade).Sendo assim por tudo isso, o controle dos territrios um objetivo poltico, econmico e militar permanente do Grande Dinheiro. Afinal, h que se proteger a propriedade. Como preciso instituir, o capital financeiro sabe que preciso se apropriar da instituio que detm o monoplio da violncia, o estado, que, todavia, territorial. Esse capital em seu delrio desterritorializante quer se deslocar para onde melhor lhe aprouver e, assim, instaura, sempre, tenses territoriais na medida em que enquanto um capitalista pode deslocar sua fbrica de um pas para outro, o trabalhador, por natureza da sua condio territorial, no pode faz-lo sem perda de afeto, sem que seja afetada sua formao subjetiva, na medida em que tem vizinhos, famlia. O direito de ir e vir s pode ser exercido at certo ponto, na medida em que a migrao sofre restries territoriais da colonialidade (histria de longa durao que se atualiza enquanto racismo) com os muros, limites, que separam a Amrica anglo-saxnica da Amrica Latina, a Europa da frica e do Oriente. Mesmo assim, o dinheiro do pobre migrante continua mantendo a famlia na origem, configurando transterritorialidades subalternas que aproxima o destino dos pobres de l e de c.Assim, preciso ver a atual crise mais alm do que vem sendo apontado ao se querer aterrizar o capital fazendo com que ele deixe a economia virtual e se destine economia real, como se a territorialidade do capital financeiro no tivesse nenhuma conseqncia territorial real, como tantos sentimos e sofremos. o capital industrial, que se diz parte da economia real, que est sendo beneficiado como no caso das montadoras de automveis. Com isso, estamos dando continuidade a um modo de vida com as cidades congestionadas de cada dia; onde as municipalidades gastam mais dos seus oramentos com viadutos, tneis, asfaltamento de ruas, com sinalizao, guardas e com tratamento mdico aos acidentados do trnsito do que com a sade ou educao da populao, para no falar do combustvel desperdiado todo dia somente nas horas de trnsito congestionado. o capital tangvel que transforma matria por meio do trabalho. E trabalho transformao de matria e, para isso, necessrio energia, capacidade de realizar trabalho, segundo os fsicos. Segundo a ONU, apenas os 20% mais ricos do mundo so responsveis pelo consumo de mais de 80% das matrias primas e energia produzidas anualmente, ainda que distribuda com a desigualdade conhecida, e com mais desigualdade ainda nos pases capitalistas dependentes. Com os problemas j graves derivados do aquecimento global da eroso dos solos e da biodiversidade, da escassez de gua, a economia dita real se inscreve no mundo material da natureza, o que at aqui vem sendo negligenciado nas anlises, com honrosas excees, como Joan Martinez Allier[15]. E aqui vemos que a crise no simplesmente a crise do capital em sua forma virtual, nem simplesmente do neoliberalismo, mas sim do capitalismo enquanto modo de vida e de produo, enquanto sentido que se atribui ao estar no mundo, que coloca toda a humanidade em risco. essa economia dita real que nos lanou nos riscos que nos ameaa a todos e que agora querem que seja fortalecida. Querem fortalecer o que nos fragiliza, o que nos expe ao risco. Entre a bolsa e a vida no h opo, seja quando nos vemos diante do ladro que nos assalta, seja quando nos vemos diante das bolsas que negociam as vidas.

Afinal, ter como sentido da vida o dinheiro se pretender ilimitado, ignorando nossa inscrio no mundo da matria, como se s pudssemos ser livres voando, como no olhar de sobrevo to bem criticado por Hanna Arendt