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Mato Grosso do Sul - Novembro de 2006 Informativo oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul Cerimônia homenageia mØdicos na Capital N o dia 28 de outubro, às 19h30, o Conselho Regional de Me- dicina (CRM/MS) promoveu um evento que reforçou a importância dos profissionais falecidos e daqueles com 40 e 50 anos de serviços prestados. A homena- gem foi destinada a mais de cem mØdicos. Telıes foram distribuídos nas depen- dŒncias do prØdio do Conselho para que todos os convidados e parentes pudessem acompanhar a cerimônia. Os mØdicos pre- sentes ficaram muito satisfeitos com o evento. PÆgina 12 Evento foi direcionado para mais de cem profissionais Nos dias 11 de agosto e 15 de setembro aconteceram reuniıes a respeito da CBHPM, em Sªo Paulo e Manaus, respectivamente. Lide- ranças discutiram açıes para restau- rar o movimento mØdico nacional, alØm de debater os avanços e desa- fios nos segmentos da saœde suple- mentar. PÆgina 4 Comissıes trabalham pela implantaçªo e consolidaçªo da CBHPM Confira na pÆgina 3 o artigo do pneumologista e alergista Dr . R oni Mar ques. O artigo refere-se ao assunto do erro mØdico e da litigância infundada. O entrevistado desta ediçªo Ø o Dr. Roberto D`vila, corregedor do Con- selho Federal de Medicina, que esteve presente na Capital em um encontro para a discussªo acerca do Processo Ético- Profissional. Os assuntos abordados foram mØdi- cos processados, instâncias de julgamen- to, denœncias, Código de Processo Éti- co Profissional, entre outros. PÆgina 6 Entrevista com o Dr. Roberto D`vila MØdico se destaca com as artes plÆsticas Dr. JosØ Roberto Amin, mØdico hÆ mais de trinta anos, pinta telas desde 1987. É autor de mais de 700 telas, sendo que a maioria delas jÆ foi vendi- da em diversas cidades de Brasil e atØ nos Estados Unidos. PÆgina 7 Na ediçªo passada do Jornal do MØdico, esclarecimentos sobre CØ- sar Maksoud foram divulgados. Po- rØm, a matØria teve erros na publica- çªo. Confira as informaçıes corre- tas sobre o caso. PÆgina 8 Errata Dr. Roberto D`vila

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Mato Grosso do Sul - Novembro de 2006Informativo oficial do Conselho Regionalde Medicina de Mato Grosso do Sul

Cerimônia homenageia médicos na CapitalNo dia 28 de outubro, às 19h30,

o Conselho Regional de Me-dicina (CRM/MS) promoveu

um evento que reforçou a importância dosprofissionais falecidos e daqueles com 40 e50 anos de serviços prestados. A homena-gem foi destinada a mais de cem médicos.

Telões foram distribuídos nas depen-dências do prédio do Conselho para quetodos os convidados e parentes pudessemacompanhar a cerimônia. Os médicos pre-sentes ficaram muito satisfeitos com oevento. Página 12

Evento foi direcionado para mais de cem profissionais

Nos dias 11 de agosto e 15 desetembro aconteceram reuniões arespeito da CBHPM, em São Pauloe Manaus, respectivamente. Lide-ranças discutiram ações para restau-rar o movimento médico nacional,além de debater os avanços e desa-fios nos segmentos da saúde suple-mentar. Página 4

Comissões trabalhampela implantação e

consolidação daCBHPM

Confira na página 3 o artigodo pneumologista e alergista

Dr. Roni Marques. O artigorefere-se ao assunto do erro

médico e da litigânciainfundada.

O entrevistado desta edição é o Dr.

Roberto D�Ávila, corregedor do Con-

selho Federal de Medicina, que esteve

presente na Capital em um encontro para

a discussão acerca do Processo Ético-

Profissional.

Os assuntos abordados foram médi-

cos processados, instâncias de julgamen-

to, denúncias, Código de Processo Éti-

co Profissional, entre outros.

Página 6

Entrevista como Dr. Roberto

D�Ávila

Médico sedestaca com asartes plásticasDr. José Roberto Amin, médico há

mais de trinta anos, pinta telas desde1987. É autor de mais de 700 telas,sendo que a maioria delas já foi vendi-da em diversas cidades de Brasil e aténos Estados Unidos. Página 7

Na edição passada do Jornal doMédico, esclarecimentos sobre Cé-sar Maksoud foram divulgados. Po-rém, a matéria teve erros na publica-ção. Confira as informações corre-tas sobre o caso. Página 8

Errata

Dr. Roberto D�Ávila

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ExpedienteInformativo oficial do ConselhoRegional de Medicina de Mato

Grosso do SulPresidente: Mauro Luiz de Britto RibeiroVice-Presidente: Sérgio Renato de AlmeidaCouto1º Secretário: Antônio Carlos Bilo2º Secretário: Juberty Antônio de SouzaTesoureira: Denise Aparecida de AlmeidaTamazatoTesoureiro Adjunto: Nelson Tokei SimabukuroConselheiros-Efetivos: Elson Yamasato, Gil Pa-cifico Tognini, Flávio Renato Rocha de Lima, JoséLuiz Saldanha Moreira, Laudison Perdomo LaraSpada, Leidniz Guimarães da Silva, Luciano Freirede Barros, Lúcio Mario da Cruz Bulhões, LuizHenrique Mandetta, Maria Cláudia Mourão San-tos Rossetti, Marcos Paulo Tiguman, Maurício deBarros Jafar, Moacyr Battistetti, Pedro Eurico Sal-gueiro, Renato Lúcio Martins, Walter AugustoMartinhoConselheiros-Suplentes: Alberto Cubel Brull,Carmen Sandra Mequi, Denise da Silva GualhanoneNemirovsky, Claudia Emilia Lang, Celso RafaelGonçalves Codorniz, Eltes de Castro Paulino, JoelMartinez Peixoto, José Antônio de CarvalhoFerreira, Laércio Tadeu Ferreira de Miranda,Luciana Reis Vaz de Moura Covre, Luiz FelipeTerrazas Mendes, Luis Henrique MascarenhasMoreira, Luzia da Silva Santana, Manuel GasparManso Perez, Maria Aparecida dos Santos Pires,Maria Denise Berri de Oliveira, Moacyr BassoJúnior, Oldemiro Hardoim Júnior, Orozimbo SilvaNeto, Renate Vogl HargesheimerJornalista Responsável: Maria Alice Raposo -DRT: 169/MSEditoração e Programação Visual: Marcelo Fialho- [email protected]

Médicos que quiserem enviar sugestões para oJornal do Médico devem encaminhá-las para oe-mail [email protected], ou pelo correio aoendereço: Rua Des. Leão Neto do Carmo, nº 305,Parque dos Poderes - CEP: 79037-100

Editorial

Maria das Dores Silva, 35 anos, divorciada, empregada doméstica,grávida de oito meses, queixou-se de dor lombar no meio da madrugada.

Procurou o Pronto-Socorro onde foi prontamente atendida poruma assistente social pós-graduada em assistência hospitalar, quecolheu sua história cuidadosamente e, percebendo tratar-se de umagestante, encaminhou a paciente para o serviço de obstetrícia. Láchegando, foi avaliada por uma gentil enfermeira especialista em obs-tetrícia, que de forma muito prudente, leu com muita atenção o relató-rio social da sua colega de equipe multiprofissional, realizou um exa-me ginecológico completo e solicitou um exame laboratorial. O bio-químico-farmacêutico responsável compareceu prontamente e du-rante a coleta do sangue, ouviu as queixas da paciente. Pareceu-lhe,pelos seus conhecimentos de medicina tradicional chinesa, que setratava de uma estagnação do Xue de Gan. Aproveitou e aplicoualgumas agulhas de acupuntura enquanto o sangue era analisado.

Enquanto Dona Maria aguardava pelo resultado dos exames, umfísioterapeuta passou pelo leito onde ela estava. Ficou perplexo eperguntou a ela quem lhe aplicara acupuntura, pois o fisioterapeutado hospital era ele e, desta forma, as lombalgias deveriam ser encami-nhadas a ele, e a ninguém mais. Dona Maria respondeu que fora umdos doutores que atendiam no hospital, mas não saberia especificar onome. O fisioterapeuta retirou imediatamente as agulhas, examinoudetalhadamente a paciente e percebeu que a causa da lombalgia era, naverdade, uma rotação anômala de uma vértebra lombar. Utilizandotécnicas de osteopatia, matéria esta na qual era especialista, reposici-onou a referida vértebra e instalou um TENS para analgesia adicionalda paciente. Encontrou com a psicóloga no corredor do hospital ecomentou o caso, indignado.

A psicóloga não pôde deixar de ir ver pessoalmente a paciente,pois ficara preocupada se aquele episódio teria causado algum trans-torno psíquico na gestante. Além do mais, acreditava que talvez apaciente estivesse atravessando algum conflito familiar ou tivessealgum complexo recalcado na infância. Falou com Dona Maria e numameticulosa avaliação inicial, concluiu que ela tinha sofrido uma gravefrustração em sua fase anal, motivo pelo qual estava somatizandosuas queixas em direção ao aparelho genito-urinário. Retirou as placasde TENS e fez uma regressão da paciente, que confirmou que estafora ridicularizada pela mãe quando criança num episódio quando

fizera cocô nas calças. Vestido em seu engomado jaleco branco, oterapeuta holístico de plantão (especialista em naturopatia, psicanáli-se, reflexologia e reiki) verificou que muitas das queixas da paciente,na verdade, estavam relacionadas deficiências na sua constituição ener-gética. Fez imposição das mãos por alguns minutos e pingou umasgotas de Florais de Bach sobre sua língua.

Prontos os exames laboratoriais, nossa prestimosa enfermeiraobstetra, já com luvas calcadas para realizar outro toque e verificar sehavia dilatação do colo do útero, encontrou a Dona Maria em paradacardíaca. Chamou rapidamente a fonoaudióloga, que tinha feito umcurso de primeiros socorros e, apesar de todos os esforços, concluí-ram que, infelizmente, a Dona Maria tinha falecido. Encaminharam ocorpo ao biomédico para análise do caso. Este, muito comprometidocom a multiprofissional idade de sua equipe, tratou de valorizar cadadiagnóstico realizado e preencheu a declaração de óbito com as seguin-tes causas-mortis: cadáver falecido por:

1 - condições sócio-econômicas deficientes;2 - gestação no 8° mês;3 - estagnação de Xue de Gan;4 - rotação anômala de vértebra lombar;5 - trauma emocional ocorrido na fase anal;6 - desequilíbrio global da constituição bioenergética.Consternada, mas com a sensação de dever cumprido, a equipe dá

a notícia para a família e leva a declaração de óbito à secretaria dohospital. Chegando lá, são informados de que, pelo menos para aassinatura da declaração de óbito, é necessária a presença de um médi-co (exceto quando absolutamente não existe nenhum, quando qual-quer pessoa alfabetizada pode fazê-lo).

Telefonaram para o médico patologista pedindo que este voltasseao hospital. Muito cansado, pois neste dia tinha trabalhado mais emsuas necropsias que o pediatra, o profissional retorna ao hospital.Aberta a cavidade abdominal, acrescentou ao relatório da equipe odiagnóstico de ruptura de aorta abdominal. Questionado pela famíliase houvera erro médico por parte da equipe, serenamente disse quenão, pois a paciente sequer fora atendida por um médico. Além disso,dentro de suas áreas de atuação, a equipe estava de parabéns, poistodos os diagnósticos estavam corretos, exceto pelo fato de que nãofora nenhum daqueles que a tinha levado ao óbito.

�Quem é a dona Maria? Pode ser sua filha, dentro de alguns anos.�Não são poucos os médicos que não compreendem a importância

da aprovação da Lei de Regulamentação da Profissão Médica peloCongresso Nacional. Isto ocorre porque estes profissionais pensamque a aprovação da citada Lei não interferirá em sua prática diária.Ledo engano. O caso hipotético descrito acima mostra que o avançode outros profissionais de saúde na medicina, efetuando atos médicos,sem respeitar o limite de competência de cada profissão, atinge deforma mortal o exercício da medicina, pois, em última instância, sere-mos nós, os médicos, que trataremos as complicações decorrentes dasações dos citados profissionais.

Nunca é demais lembrar que o ato médico exercido por não médi-cos traz conseqüências funestas à sociedade. Isto justifica a luta dosmédicos brasileiros pela regulamentação de sua profissão, através dosórgãos representativos da classe, os Conselhos de Medicina, as Asso-ciações Médicas e os Sindicatos dos Médicos.

Diferente do que afirmam os não médicos, a aprovação de nossaLei não é motivada com a finalidade de reserva de mercado de trabalho.Não precisamos disso. Trata-se de um ato de defesa da populaçãobrasileira, pois todo cidadão tem o direito de ser tratado por umMÉDICO quando apresentar algum problema de saúde.

Para o bem da Sociedade Brasileira, pela cidadania do cidadãobrasileiro, nossa profissão será regulamentada. É questão de tempo. Eesta realidade não está distante.

Fonte: Dr. Isac Jorge FilhoEx-presidente do CREMESP

Mauro Luiz de Britto RibeiroPresidente do CRM-MS

Caso clínico

Mato Grosso do Sul - Novembro de 20062 Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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A Profilaxia do Erro Médico e do Litígio com o PacienteArtigo

Roni MarquesDona enfermeira, seu doutor, o que me magoa, quero confessar,é que me tratam como caso,mas,por favor, eu sou é uma pessoa(Gerson Pomp, Médico)

Quando adota uma conduta inadequada emsua vida pessoal, fora do exercício da medi-cina, o médico estará cometendo um erro,pelo qual até poderá responder civil ou crimi-nalmente. No entanto, não se trata de um erromédico, expressão que se reserva exclusiva-mente para a conduta profissional inadequa-da e que resulta em dano para o paciente.

Nesse caso, portanto, o dano é a conse-qüência nociva involuntária (sem dolo) de-corrente de ações ou omissões do médico noexercício da profissão e pode ser decorrentede imprudência, negligência e/ou imperícia.

Grosso modo, pode-se definir imprudên-cia como fazer o que não deveria ser feito;negligência, não fazer o que deveria ser fei-to; e imperícia, fazer incorretamente o quedeveria ser feito.

Note-se que o erro médico não deve serconfundido com o acidente imprevisível, oresultado incontrolado ou o ato de terceiro.

Acidente imprevisível (infelicitas facti)é a intercorrência fortuita ou de força maior,que não pode ser prevista ou evitada pelo pro-fissional e que ocorreria com qualquer outroem seu lugar.

O mau resultado (resultado incontrolá-vel) decorre do curso inexorável da doença,em situação para a qual não existe soluçãodentro dos limites atuais da ciência médica.

Por fim, o ato de terceiro é aquele capazde agravar um estado patológico, mas que éde responsabilidade de outra pessoa que nãoo médico; por vezes, a responsabilidade pelaação ou omissão é do próprio paciente.

Em todas as profissões podem ser come-tidos erros por negligência, imprudência ouimperícia e esses erros podem resultar emgraves danos para terceiros. No entanto, aspessoas sempre consideraram que o erromédico é de maior gravidade e merece maioratenção. Já em 2400 a.C., o Código de Ha-murabi determinava cortar as mãos do médi-co que, no curso de um tratamento, provo-casse a morte ou a cegueira de um cidadãolivre. Leis mais ou menos draconianas vigo-raram em diversas civilizações da Antigüida-de e também na Europa na Idade Média. Hoje,no mundo ocidental, de uma maneira geral,reconhece-se que existe de fato uma respon-sabilidade quando ocorre um erro médico eque, em conseqüência, o profissional que ocomete deve indenizar o paciente pelos danosfísicos e morais ocasionados. Essa noção ju-rídica, conquanto justa, pode sofrer distor-ções, a exemplo das que ocorreram nos Es-tados Unidos, onde surgiu uma verdadeira in-dústria de indenizações por erro médico.Como conseqüência, foram criados segurospara cobrir a má-prática e surgiu também amedicina defensiva, fatores que contribuírampara elevar os custos da medicina a valoresastronômicos. Certamente, existe o risco de

que essa distorção se estenda ao Brasil, muitoembora, preocupado com os elevados cus-tos que os processos geram para o sistemade saúde, o atual governo norte-americanoesteja empenhado em aprovar no congressouma Malpractic Reform. A legislação propostalimita as possibilidades legais contra os médi-cos, inclusive retirando os processos por máprática da alçada do tribunal de júri e criandocortes especializadas.

A profilaxia do erro médicoO aparelho formador de médicos deve-

ria merecer a atenção de toda a sociedade enão apenas dos médicos. Assim, os legisla-dores e o poder executivo deveriam tomarprovidências para que as escolas médicasapresentassem indiscutível qualidade, a fimde garantir a formação de profissionais capa-zes. O que se tem visto, no entanto, é umadisseminação descontrolada de escolas mé-dicas, iniciada na década de 60: mais do quetriplicaram as 27 faculdades que existiam na-quela época e atualmente muitas delas, inclu-sive no setor público, não têm qualquer preo-cupação com a qualidade do aprendizado.

Um médico com boa formação técnica,além de dificilmente agir com imperícia, ge-ralmente é também um profissional com umaformação ética adequada, que respeita o pa-ciente como ser humano e que, por isso, estásempre atento para não agir com imprudên-cia ou negligência.

No entanto, além de uma boa formação, énecessário que o médico esteja constantemen-te atualizado para poder oferecer o melhor damedicina aos seus pacientes. Nos EstadosUnidos, o estado em que o médico vai atuarconcede uma licença profissional por trêsanos, revalidada mediante diferentes sistemasde avaliação. No Brasil, até mesmo o título deespecialista ainda tem validade por toda a vida,sem levar em conta se o médico está ou nãoacompanhando os vertiginosos progressos daciência médica.

Outro aspecto que não pode ser esqueci-do para a profilaxia do erro médico é a neces-sidade de condições de trabalho adequadas.Se isso não ocorrer, o médico deve informarpor escrito seu superior e comunicar o fatoao seu Conselho. Ademais, a deficiência derecursos humanos e a falta de material ou me-dicamentos devem ser sempre devidamenteregistradas nos prontuários ou em livro pró-prio. No entanto, o médico deve ter sempreem mente que os pacientes não são respon-sáveis pela sua angústia diante das circuns-tâncias adversas. Na verdade, também sãovítimas e por isso não devem ser tratados comexasperação.

Por fim, a fiscalização da atividade médi-ca, que no Brasil cabe aos Conselhos de Me-dicina, pode contribuir para diminuir a inci-dência do erro profissional porque, além decombater as condições precárias de trabalho,induz o médico a se pautar pelo seu Códigode Ética.

A profilaxia da litigância infundadaUm problema que se verifica freqüentemen-

te no dia-a-dia dos Conselhos é a denúncia nãofundamentada, a reclamação do paciente ou dosfamiliares sobre um erro que não existiu.

Nos Estados Unidos, constata-se que 80%dos processos por má prática não procedeme são encerrados sem indenização, emboracom um custo elevado na sua tramitação. NoBrasil, a estatística é praticamente idêntica,tanto no âmbito cível quanto criminal.

Os processos infundados nos Conselhose nos tribunais geralmente decorrem da faltade comunicação, embora outros fatores pos-sam estar envolvidos. A boa relação médi-co-paciente minimiza a ocorrência de litigân-cia infundada ou de má fé. Essa relação estábaseada na confiança do paciente no profis-sional. Para fazer jus a essa confiança e gran-jear o respeito do paciente, o médico deve teruma conduta ilibada e cordial. Assim comodeve valorizar as opiniões do paciente e en-tender suas perspectivas, o médico não podeabandoná-lo ou mostrar-se mercantilista.Numa boa relação médico-paciente, o profis-sional deve ser firme o bastante para, porexemplo, recusar o fornecimento de atesta-dos falsos, da mesma forma que deve estarsempre pronto para compartilhar a dor e asperdas do paciente ou de seus familiares.Nada disso irá requerer esforço se o médicotiver, por formação, um perfil humanitário ehonesto, qualidades indiscutivelmente essen-ciais nesta profissão.

É preciso ter em mente também que todoato médico depende da autorização do paci-ente ou do seu responsável, exceto se estiverincapacitado para decidir ou em casos de gra-ve emergência. Essa autorização freqüente-mente é implícita e passiva, mas o pacientedeve sempre ser esclarecido sobre a razãodos procedimentos propostos, notadamenteos cirúrgicos. As informações devem ser da-das em linguagem decodificada, sem ter-mos técnicos complexos. O médico não podeminimizar os riscos reais do procedimento, apossibilidade de insucessos e a de intercor-rências imprevisíveis que obriguem a mudan-ças do planejamento terapêutico.

Em alguns casos, dependendo da perso-nalidade do paciente ou de seus familiares, érecomendável obter um termo de consenti-mento esclarecido, devidamente assinadopelo paciente ou responsável e por duas tes-temunhas isentas. Esses cuidados devem serredobrados em casos de cirurgias com finsestéticos, quando também é necessário estaratento para eventuais expectativas fantasio-sas dos pacientes.

É claro que a atenção ao paciente e seusfamiliares é muitas vezes dificultada em situ-ações como em uma sala de emergência,mas nem por isso ela deve ser descuidada.Pelo contrário, se o estado do paciente é gra-ve, os familiares devem ser informados pes-soalmente pelo médico, que deve resumir seuquadro clínico, as providências que estão sen-do tomadas e ser honesto no prognóstico.

Caso a denúncia infundada ocorra, a gran-de defesa do médico será o que estiver regis-trado no prontuário, o qual, portanto, nãopode ser desprezado. No caso de pacientesem estado grave ou em pós-operatório, é im-portante registrar o horário sempre que elefor reavaliado, resumindo os achados clíni-cos e as providências tomadas. A prescrição,principalmente, deve ser feita com letra legí-

vel para evitar equívocos por parte da enfer-magem. Registrar também os contatos comos familiares e resumir as informações forne-cidas. Pelos mesmos motivos, o ato cirúrgi-co e o ato anestésico devem ser descritosdetalhadamente, com registro de todas as in-tercorrências e anexando os exames de riscocirúrgico. Não se justifica economizar temponessas tarefas.

Em obstetrícia, além da necessidade deregistro metódico da evolução, a possibilida-de de errar em dobro torna indispensável tam-bém a devida documentação com exames pré-natais, como determinação de tipagem Rh eultra-sonografias. As consultas obstétricas ouginecológicas devem ser feitas em presençade outra pessoa para evitar mal-entendidosque possam conduzir a uma denúncia de as-sédio sexual. É preciso lembrar que o pudordos pacientes deve ser sempre respeitado,mesmo que se trate de crianças.

O sigilo profissional também é fundamental,mesmo no caso de adolescentes, exceto quandoo menor não consiga entender a gravidade doproblema ou não demonstre ser capaz de tomaras medidas necessárias para resolvê-lo.

O médico não deve tergiversar quandohouver necessidade de ouvir a opinião de ou-tro profissional. Encaminhar a um especialis-ta pode ser a medida mais benéfica para opaciente em determinadas circunstâncias e,se assim for, essa providência não deve serprotelada. Da mesma forma, se uma segundaopinião é solicitada pelo paciente ou por seusfamiliares, não cabe recusar nem se mostrarofendido.

Um outro aspecto a se considerar é quealgumas vezes, mesmo sem queixa formal dopaciente, ocorre a condenação pública do mé-dico pela mídia. Por vezes, as informaçõesdivulgadas são as obtidas apenas do relato dopaciente ou de seus familiares, que muitas ve-zes ainda estão sofrendo com a perda de umente querido ou estão em outras situações deestresse. De qualquer forma, o sensaciona-lismo nesse terreno é uma tragédia porque anódoa no conceito e no amor-próprio do pro-fissional não pode ser apagada. Assim, paraprevenir essa situação, é conveniente não fu-gir dos jornalistas. Pelo contrário, o médiconão deve temê-los, visto que, em geral, trata-se de profissionais honestos, tentando cum-prir seu papel de informar. Por isso, o médi-co deve atendê-los para esclarecer suas dúvi-das a respeito de queixas de pacientes.

No entanto, caso alguma divulgação in-verídica já tenha sido feita, resta ao médico odireito de recorrer ao seu Conselho para, comas devidas justificativas, requerer desagravopúblico, conforme previsto no artigo 26 doCódigo de Ética Médica.

Referências (disponíveis na Biblioteca doCRM/MS):

Gomes, JCM, Drumond JGF, França, GV. ErroMédico. Montes Claros: Unimontes, 2001. Pinto daSilva, RA. Resumo e comentários sobre o artigo Mal-practice reform, de Richard Friedenberg, publicado noRadiology 2004; 231:3-6. Bioética 2004;12(2):151-4.

Roni MarquesPneumologista e Alergista e foi

Presidente do CRM/MS

Mato Grosso do Sul - Novembro de 2006 3Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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Durante o encontro entre a Comis-são Nacional de Consolidação e De-fesa da Classificação Brasileira Hierar-quizada de Procedimentos Médicos eas Comissões Estaduais de Honorári-os Médicos, ocorrido no dia 11 deagosto, na sede da Associação Médi-ca Brasileira, em São Paulo, as lide-ranças do movimento discutiram osavanços e desafios nos quatro segmen-tos do setor de saúde suplementar.

A Comissão Nacional se propôs aprocurar a direção nacional da Unidasa fim de estabelecer um prazo consen-sual para as operadoras de autogestão,já que estas ainda não praticam a quar-ta edição da CBHPM em nenhum Es-tado.

�A Unidas havia aprovado tecnica-mente a nova edição em 26 de abril,após participar ativamente da CâmaraTécnica Permanente da CBHPM�, lem-bra o coordenador nacional, FlorisvalMeinão. �Assim sendo, iremos questi-onar quais seriam os entraves atuais ebuscar, mais uma vez, o entendimen-to�, afirma.

A Comissão Nacional também refor-çou a importância do trabalho de nego-ciação por parte das Comissões Estadu-ais relativo a cada singular da Unimed.Foi sugerido que os líderes do movimen-to incentivem a realização de assembléi-as de cooperados e participem delas paradebater a implantação da CBHPM.

Em continuidade às negociações coma Unimed do Brasil, a Comissão Nacio-nal irá propor, novamente, a implantaçãodos códigos e nomenclatura da Classifi-cação em todas as singulares, a exemplodo intercâmbio nacional. O representan-te do Conselho Federal de Medicina naComissão Nacional, Luiz Sallim Emed,declara que a partir do momento em queas Unimeds, como um todo, encampa-

Comissões trabalham pela implantaçãoe consolidação da CBHPM

avançado as negociações por intermé-dio da Bradesco Saúde. A seguradorareajustou os honorários médicos em6% e a consulta para 42 reais, desde1º de agosto.

No dia 15 de setembro aconteceuoutro encontro nacional, em Manaus-AM. As lideranças da classe definiramações para revigorar o movimento mé-dico nacional. Para o coordenador daComissão Nacional, Florisval Meinão,nos estados onde as Comissões são maisorganizadas e atuantes estão os maioresavanços em relação à CBHPM. �AsComissões que se empenharem no de-senvolvimento deste conjunto de estra-tégias obterão resultados significativos�,enfatiza o coordenador.

A próxima reunião deve acontecer nodia 23 de novembro, em João Pessoa-PB.

CBHPM

As lideranças do movimento se reuniram em São Paulo no dia 11 de agosto

rem a CBHPM, a implantação deslan-chará.

Esta também será uma reivindicaçãojunto à Federação Nacional das Em-

presas de Seguros Privados e de Ca-pitalização (Fenaseg), com a qual têm

DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS E DESPESASDO EXERCÍCIO DE 2006

RECEITA 2006 DESPESA 2006

Jan/05 388.251,13 208.058,44

Fev/05 264.682,49 152.417,46

Mar/05 154.467,38 162.205,64

Abr/05 236.210,01 137.630,85

Mai/05 62.716,18 109.131,18

Jun/05 45.589,51 81.050,75

Jul/05 15.979,37 85.431,13

Ago/05 20.060,74 67.757,27

Set/05 - -

Out/05 - -

Nov/05 - -

Dez/05 - -

TOTAL 1.187.956,81 1.003.682,72

Hendrix F. NogueiraContador do CRM/MS - CRC/MS 6833/O

Mato Grosso do Sul - Novembro de 20064 Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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Coluna do Médico

Unimeds: Opção pela austeridade e segurançaNeste momento não faço qualquer

idéia de quem possam ser os candidatosnas eleições das Unimed�s em março de2007, Campo Grande inclusive. Julgo en-tretanto, oportuno ficarmos atentos àspropostas dos eventuais candidatos postoque não há qualquer dúvida que tanto anível nacional como regional num futuropróximo o sistema das Unimed�s seinviabilizará se dirigentes e cooperadosnão estiverem bem focados na implanta-ção de estratégias empresariais e açõesde longo prazo para fazer frente àirreversível e crescente competição domercado, paralelamente ao lastimávelempobrecimento da classe média quecompra nossos serviços médicos. Alémdisso, a cada ano a competição do SUSserá maior, pois é decisão dos governosinvestir na saúde pública mesmo porqueé preceito constitucional e assim sendo,a cooperativa que não se antecipar embusca de soluções profissionais e criati-vas para atrair e fidelizar mais usuários, oque somente se consegue com bons ser-viços e bons preços, terá a �morteanunciada�.

Para tanto, salvo melhor juízo dos maisentendidos é importantíssimo e urgente:

· Reduzir custos administrativos.· Maximizar os serviços próprios quecomprovadamente não competemcom os legítimos médicos coope-rados.

· Combater a demanda sabidamentedesnecessária, abusiva, antiética efraudulenta.

· Não permitir administrações de viéspolítico e social incapazes de tomardecisões que desagradem coopera-dos. O maior erro de um dirigente épretender agradar a todos, isso é im-possível.

· Promover uma crescente,ininterrupta e substanciosa capitali-zação financeira, pois somente assimteremos consistentes reservas e flu-

xos de caixa que dão segurança àcooperativa e aos cooperados e di-minuirá a preocupante fragilidade devárias Unimed�s que são adminis-tradas como se fossem ONGS ouInstituições Públicas quando, na ver-dade, o exemplo de administração aser seguido é o das empresas priva-das sólidas e seculares. Miremos emBill Gates ou Antônio Ermírio deMoraes e jamais em burocratas, po-líticos e professores teóricos.

· Melhorar a relação entre o númerode cooperados e número de usuári-os, pois em várias Unimed�s a cadagestão (viés político social) o nú-mero de cooperados cresce propor-cionalmente mais que o número deusuários. É preciso coragem e de-terminação (viés empresarial)para admitir novos cooperados so-mente se for estritamente necessá-rio. Está passando da hora de se pre-ocupar mais com quem está dentro

(cooperados) do que quem está fora(médicos não cooperados).

· Reaprender que o cooperado émuito importante, é �Sua Excelên-cia o cooperado�, entretanto, o usu-ário que compra planos é importan-tíssimo, é �Sua Majestade o usuá-rio�. Existem muitos cooperados edirigentes que precisam �descer doaltar�, pois no mundo dos negóciosnão há lugar para soberba e �Deu-ses�.

· Inibir definitivamente as medidaspolíticas paternalistas pretendendoigualar e beneficiar todos os coope-rados, o que contraria o espíritocooperativista e a lei docooperativismo que é clara: quemproduz mais ganha mais, mesmoporque pela mesma lei quem ganhamais vai pagar mais em caso deperdas. A única igualdade é de voz ede voto.

· Evitar, sempre, quaisquer medidasadministrativas para �facilitar a vida�de cooperados mas que venham ex-

�O Estadista administrapensando no presente e nas

próximas gerações; o políticoadministra pensando nas

próximas eleições�

�O conteúdo da coluna do mé-dico é de total responsabilidade doprofissional que a assina. O Jor-nal do Médico não se responsabi-liza pelas opiniões expressas nadeterminada coluna�.

Wellington PenaforteGeriatra - CRM-MS 053

Pessoas jurídicasCompostas por, no máximo, dois

sócios, sendo obrigatoriamente umdeles médico, constituídas exclusiva-mente para a execução de consultasmédicas sem a realização de examescomplementares para diagnóstico,realizados em seu próprio consultó-rio e que não mantenham contrata-ção de serviços médicos a serem

O Conselho Federal de Medicina editou, em 13 de

setembro, a Resolução nº 1800/2006 fixando os

valores das anuidades e taxas para o ano de 2007.

Veja esta decisão:

prestados por terceiros, poderãorequerer ao Conselho Regional deMedicina de sua jurisdição, até 31/3/2007, um desconto de 50% so-bre o valor da anuidade fixada nocaput do art. 3º, mediante apresen-tação de declaração subscrita pelomédico responsável pela empresa,indicando o seu enquadramentonessa situação.

por ou colocar em risco a coopera-tiva nos aspectos fiscal/contábil/fi-nanceiro.

Finalizando, precisamos eleger quemse propõem a colocar a cooperativa emprimeiro lugar, posto que com solidez fi-nanceira e crescimento constante nós co-operados, legítimos donos, teremos pos-sibilidade de melhores ganhos de formasegura e permanente. Fora disso é�maquiagem�, é ganho �ilusório�, nãodura, não tem consistência, é �lenda�.Não há mais espaço para ocorporativismo e devaneios teóricos quese aprende em cursos de credibilidadeduvidosa.

Mato Grosso do Sul - Novembro de 2006 5Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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Entrevista

Dr. Roberto D�AvilaNo dia 24 de junho, o corregedor do

CFM, Dr. Roberto D�Ávila, veio a CampoGrande participar de uma reunião. O mé-dico esclareceu para o jornal do CRM-MSas mudanças do Código de Processo Ético-Profissional, a autonomia das Comissões deÉtica Médica, o perfil de um conselheiro eas características do médico processado,entre outros assuntos abordados.

Qual é o perfil dos médicos processa-dos?

Roberto:O perfil do médico condenadoé o seguinte: formado há cerca de 15 anos,são raros os casos de médicos recém-for-mados ou com mais de 70 anos. A grandemaioria dos denunciados tem em média 40anos de idade e mais de 90% são do sexomasculino. As mulheres são pouco denun-ciadas. Na justiça comum, as mulheres tam-bém são muito menos processadas. Namedicina, elas são menos denunciadas por-que interagem melhor com os pacientes,permanecem mais tempo ao lado do paci-ente, perguntam mais, se interessam maispela vida e pelas circunstâncias que envol-vem o paciente. Com isso, têm maior pro-ximidade e os pacientes se sentem maiscuidados pelas médicas do que pelos médi-cos. Em geral, os profissionais do sexomasculino são muito rápidos, ficam poucotempo com o paciente e isso causa insegu-rança. Já as médicas perguntam mais, que-rem saber da família, da casa, permanecen-do mais tempo ao lado do paciente e essapercepção de cuidado é fator fundamentalpara a decisão de um paciente denunciar ounão um médico.

Quais são as especialidades mais fre-qüentes?

Roberto: São as especialidades cirúrgi-cas. Algumas especialidades são recordis-tas e outras são recordistas ao contrário. Aginecologia e obstetrícia lidera, a ortopedia,a cirurgia geral, a cirurgia plástica e a anes-tesia são muito denunciadas. Por outro lado,são raríssimas as denúncias contra intensi-vistas.

Como funcionam as instâncias de jul-gamento e como é o processo para refor-ma de decisão?

Roberto: Os conselhos de medicina sãoautarquias federais e eles têm um poder de-legado pelo Estado para fiscalizar o exercí-cio da profissão. Na verdade, esta é umafunção estatal, o Governo é quem deveriafazer, mas como não faz, foi criado por leios conselhos para todas as profissões parafiscalizar o exercício e para punir os mausprofissionais. Então, interpretamos que osconselhos de medicina ao fiscalizarem oexercício protegem a sociedade dos mausprofissionais, punindo-os e valorizando osbons profissionais. Há todo um código de

processo a ser seguido e os conselhos regi-onais funcionam como uma primeira ins-tância de julgamento. Não é um juiz só quemdecide, é uma decisão colegiada. O proces-so obedece aos princípios constitucionaisda ampla defesa e do contraditório. O mé-dico denunciado tem todas as condições etodas as fases do processo para se defen-der, ocorre uma instrução na qual as provassão produzidas, seja de defesa ou acusa-ção, dessa decisão cabe recurso ao Conse-lho Federal de Medicina, que funciona comouma segunda instância e é também um tri-bunal colegiado, onde a decisão poderá sermantida ou reformada. É claro que em pro-cessos nos quais médicos são absolvidosas pessoas que acusam também podem re-correr ao Federal. É garantida ao médico ainstância recursal onde a decisão é revista.Nos casos de cassação, a lei torna obriga-tória a revisão, mesmo que o acusado nãoqueira. A decisão do Conselho Federal sig-nifica que não cabe mais recurso, a não serno poder judiciário. A pessoa ainda tem di-reito, se ela achar que foi vítima de algumailegalidade formal, de recorrer ao judiciário,que normalmente não entra no mérito daquestão, o mérito pertence aos conselhos.O judiciário entra na formalidade do pro-cesso para ver se a constituição foi obede-cida. Se foi, ele mantém a decisão, se nãofoi ele pode tornar nulo o processo.

Quais são as principais medidas a se-rem tomadas para se evitar uma denún-cia?

Roberto: Partindo da premissa que é apercepção de cuidado que faz um grandenúmero de pessoas denunciarem, os médi-cos devem aprender que não basta serembons técnicos, isso não os livra da denún-cia. O médico deve estar próximo, partici-pando do processo da doença e da recupe-ração. As pessoas querem que o médico con-verse, que ele tire as dúvidas e que atenda otelefone quando chamado. As recomenda-ções para evitar uma denúncia são: estarsempre atualizado, ter compaixão, ter umarelação humana, responder a todas as per-guntas que o paciente fizer e estar disponí-vel.

Como se defender de uma denúnciaem uma sindicância?

Roberto: O médico deve responder àssolicitações dos conselhos. Alguns não res-pondem à solicitação de esclarecimento ourespondem de maneira grosseira, isso sócomplica. O denunciado não precisa de ad-vogado, só precisa dizer a verdade, relataro que aconteceu com detalhes citando tes-temunhas, anexar o prontuário ou a fichade atendimento provando que ele procurouagir certo, pedir desculpas se não foi bementendido e colocar claramente isso para queos médicos conselheiros possam entender

o que aconteceu. Seisso ficar bem esclare-cido, a sindicância cos-tuma ser arquivada. Em60% dos casos as sin-dicâncias são arquiva-das, em 40% dos ca-sos os processos sãoabertos porque não fi-cou muito claro, ficoualguma dúvida se efeti-vamente houve algumafalha. O denunciadonão deve temer, ele devese defender esclare-cendo verdadeiramenteo que ocorreu.

Quais são as mu-danças que estão sen-do elaboradas para oCPEP (Código de Pro-cesso Ético Profissio-nal)?

Roberto: Nós elaboramos um novoCódigo de Processo Ético Profissional em2002 que foi aprovado. Já percebemos hoje,com quatro anos de evolução, que esseCódigo precisa de novas mudanças. Umadelas é acrescentar o rito da interdição cau-telar. Por exemplo: existem médicos que sãodenunciados, praticam a profissão enquan-to o processo não é julgado e continuamfazendo os mesmos atos que motivaram adenúncia. Esses atos são prejudiciais a mui-tas pessoas, são enganosos, mentirosos, hálesão de direito dos pacientes, há danos cor-porais, por isso esses médicos devem serafastados do exercício até o julgamento.Hoje já existe uma resolução que diz que ojulgamento após a interdição tem o prazomáximo de seis meses para acontecer. Essainterdição é um instrumento novo que nósestamos utilizando através da resolução, masque precisa estar regulamentada dentro doCódigo de Processo. Outra modificação éem relação à conciliação, quando há umadenúncia contra o médico e é possível nãoabrir processo pela sindicância, chamandoas duas partes e elas fazem um acordo, des-de que não envolva dinheiro. Isso é muitoimportante no caso de denúncias de médi-cos contra médicos. Porém, essa concilia-ção ainda precisa ser melhor explicitada edetalhada. Nós já estamos com essas refor-mas praticamente prontas e as mudançasdesse código estão previstas para o próxi-mo ano.

Como é a atuação e como deve ser operfil de um conselheiro?

Roberto: Muitas vezes o cargo de con-selheiro do Regional é alcançado através dedisputa eleitoral. Se formam duas ou trêschapas e por vezes elas se compõem nãopela competência do conselheiro, mas sim

Dr. Roberto D�AvilaCorregedor do CFM

pela importância do seu nome no ponto devista político. Se ele arrastar muitos votosserá escolhido para fazer parte daquela cha-pa. Isso é um erro, porque a escolha dosconselheiros e das chapas deve observarse são médicos com experiência, sérios,com ética profissional, com nomes con-sagrados e reconhecidos como pessoasíntegras. Eles serão juízes, eu posso serdenunciado e não quero políticos para mejulgar. Em todo período eleitoral deve ha-ver uma preocupação muito grande emrelação à composição das chapas e o mé-dico eleitor deve ter o cuidado de votarna chapa mais pura e inteligente.

Qual a importância e a autonomia dasComissões de Ética Médica?

Roberto: As Comissões de Ética Médi-ca devem investigar todas as denúncias dequebra de ética e elas têm poder, ao analisaro caso, de encaminhar as suas conclusõespara o Conselho Regional dizendo se há in-dícios ou não de infração ética. Elas devemser autônomas, independentes, devem in-vestigar os fatos, fazer relatórios conclusi-vos e ter autoridade moral sobre os mem-bros do corpo clínico.

�As recomendações para evitaruma denúncia são: estar sempre

atualizado, ter compaixão, teruma relação humana, responder

a todas as perguntas que opaciente fizer e estar disponível.�

Mato Grosso do Sul - Novembro de 20066 Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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Lazer

Em 1974, Dr. José Roberto Amin tor-nou-se médico pela Universidade Fede-ral de Mato Grosso do Sul (UFMS). Éespecialista em cardiologia, saúde públi-ca e medicina do trabalho. Mas, comoele mesmo afirma, tem mais reconheci-mento em outra área, a arte.

Quando era estudante, tocava violãoe cantava. Chegou a ganhar festivaisuniversitários de música, como intérpre-te e compositor. Enveredou-se tambémno mundo da poesia. A última manifes-tação artística e que persiste até hojefoi a pintura. Em 1987, teve vontade depintar. Seguiu a intuição e então deu iní-cio a esta atividade. Com desenhos fi-gurativos e paisagens começou a se en-trosar e desenvolver a técnica. Entre-tanto, ele queria ir além. �Depois de umcerto tempo, notei que gostaria de teruma característica, uma linguagem pró-pria�, ressalta.

Depois de adquirir mais conhecimentoda técnica, pintou algumas telas numcontexto surreal com o tema �coração�,talvez pela influência da especialidade,ele admite. A última tendência foi o abs-

Médico da Capital já vendeutelas até para o exterior

Dr. Amin pintatelas há cercade 20 anos

tracionismo, na qual o médico ar-tista encontrou seu estilo.Desde então, tenta desen-volver uma linguagemprópria, uma técnica au-têntica e um trabalho di-ferenciado.

O conteúdo das obrasnormalmente é intuitivo.�As formas são geradasno próprio automatismopsíquico, elas não têmuma forma definida. Égestual, automático�, de-fine. Para ele, o importan-te é ser honesto com oseu trabalho e ser autên-tico, colocar o que vem dointerior para fora.

Sábados, domingos eferiados são os dias dedi-cados à pintura, preferen-cialmente pela manhã, pois, segundo omédico, a cabeça está mais tranqüila ea luz natural da manhã é mais interes-sante.

No total, já foram produzidas cerca

de 750 telas. Vendeu quadros para SãoPaulo, Brasília, Goiânia, Ribeirão Preto,Rio de Janeiro e Miami, principais cida-des nas quais realizou exposições. Atu-almente tem trabalhos à venda em SãoPaulo, em uma galeria e em um escritó-rio de arte. Em seu acervo pessoal, contacom aproximadamente 20 telas, ou seja,a grande maioria foi comercializada. Dr.Amin explica que aceita apenas que ocliente encomende o tamanho da tela,nunca do tema, cores ou formas. Paraele, �o artista não pode ser tolhido doprocesso criativo�.

O médico artista faz uma compara-ção entre as duas atividades desempe-nhadas por ele. �A medicina é uma pro-fissão nobre, com a qual é possível pra-ticar o bem às pessoas, pode-se ajudaro próximo e, logicamente, a si mesmo.A prática de uma medicina ética é mui-ta satisfatória. Já a arte proporciona umasatisfação mais pessoal, interior. A pin-tura é um prazer individual e a medicinaé um prazer coletivo. Talvez para ame-nizar um pouco as dificuldades e o es-tresse da profissão os médicos, quandotêm oportunidade, enveredam pela arte�,afirma.

�Talvez para amenizar umpouco as dificuldades e o

estresse da profissão osmédicos, quando têm

oportunidade, enveredampela arte�.

Dr. Amin diz que, na medida do pos-sível, a pintura e a medicina devem seres t imuladas . Ele aconselha osmédicos a descobrirem vocações naarte em geral e no esporte, destacan-do que �a ar te t raz umasatisfação pessoal muito interessante,inclusive ajuda a interagir na profis-são, fazendo com que o caminho namedicina seja mais prazeroso e me-nos estressante. Os dois trabalhos jun-tos dão certo, é um casamento muitolegal�.

Tela produzida por Dr. Amin

Mato Grosso do Sul - Novembro de 2006 7Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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REINSCRIÇÃO POR TRANSFERÊNCIA

O Conselho Federal de Medicina en-caminhou no mês de junho, para todos osConselhos Regionais, a minuta da Resolu-ção sobre a �Terminalidade da Vida�, paraconhecimento e sugestões. Inevitavelmen-te, vêm à mente inúmeras reflexões sobrevida e morte, sobre nossa tremenda difi-culdade em falar sobre isso, seja em famí-lia, entre os pares e principalmente comos pacientes e seus familiares. Surge apergunta: Por que é tão difícil?

Durante uma visita em uma UTI danossa cidade, conversei com um colegaque estava vivendo uma tristerealidade. Sofria por ter um familiar inter-nado em UTI há vários dias, após anos detratamento de um câncer de próstata, agorafora de possibilidades terapêuticas, commetástases disseminadas. Estava entuba-do, em ventilação mecânica, com drogasvasoativas, expansores de volume, antibi-oticoterapia agressiva, nutrição parenterale tudo o que a medicina dispõe hoje comosuporte avançado de vida. Mas o colegaestava atordoado com o final de vida queseu amado familiar estava tendo. Sua voznão encontrava eco ou resposta, quandoperguntava sobre a necessidade disto tudo.Repetia, quase que para as paredes, oupara si mesmo, que aquilo tudo prolonga-va o sofrimento de seu pai, que não esta-vam mantendo sua vida, mas retardandopenosa e inutilmente sua morte. Que, mes-mo que ele saísse do respirador, que vidateria, nestas condições extremas? Presen-ciei sua conversa com o plantonista da-quele período, que afirmava �que enquan-

Artigo

O difícil adeusto houvesse vida, deveriam investir�. Que�era muito difícil ter um paciente em UTIe não fazer nada�. O colega ouvia desa-pontado. Sua angústia era quase que tan-gível, seu olhar buscava aprovação. Mem-bro de família de sólida formação moral,homem honrado, bom médico, poderia cor-rer o risco de ser julgado, por um observa-dor desavisado, como insensível, a dese-jar um desfecho rápido. Quiçá até ser con-fundido como filho ingrato. Tudo isso portentar evitar a distanásia e desejar umamorte mais digna àquele ente amado?

Todos nós conhecemos os conceitos deDistanásia e seu oposto, a Ortotanásia.Não estamos falando em Eutanásia, quetodos sabemos ser crime pela nossa legis-lação. Mas no compromisso com a digni-dade na assistência ao final da vida huma-na. A divergência está em que meios de-vemos usar para prestar esta assistência.

Não tenho a pretensão de propor so-luções a dilemas éticos como este. Masnão posso deixar de ter empatia com osdois colegas, o plantonista ansioso em fa-zer o melhor e o filho angustiado. Comoresolver os dilemas sobre a qualidade daprestação de serviços médicos no final davida? Onde muitas vezes o dever ético defazer o Bem e não causar o Mal parece irde encontro com o antigo objetivo da Me-dicina: �Conservar e prolongar a vida�.Estamos preparados para a manutençãoda vida, mas lidamos com questões domorte-morrer, tendo sensação de frusta-ção, tristeza, perda e impotência.

Na UTI, a equipe é resistente e tem

dificuldade em expor de modoclaro e objetivo que as medi-das adotadas já não poderãosalvar a vida do paciente e ofe-recer apenas o suporte básico(conforto, analgesia, suporteventilatório, hidratação, alimen-tação). Hoje, um paciente quetenha diagnóstico e prognósti-cos definidos, dificilmente terá uma �mor-te natural�.Tem grande possibilidade depassar por respiração artificial, quimiote-rapia, diálises, drogas vasoativas, entre ou-tros. Raríssimos serão aqueles que terãoseus últimos momentos em sua casa, emseu quarto, no seio da família, cercado peloamor dos filhos, esposa (o) e netos. E onosso morrer, como será?

Que possamos refletir mais, debatermais e, principalmente, perguntar aos pa-cientes e familiares, até onde podemos ir,esclarecendo qual a finalidade de cada pro-cedimento instituído. Atualmente os Cri-térios de Pellegrino são muito utilizadosna tentativa de estabelecer o que é tra-tamento fútil/obstinação terapêutica, ouseja, o que deve ser evitado. Baseadosna análise de 3 itens: Eficácia (qual areal capacidade do tratamento propostoem modificar a história natural da doen-ça; irá modificar a morbidade, a morta-lidade ou o prognóstico?); o Benefício(dado subjetivo do próprio paciente, deacordo com seus valores, seus objetivos,sua biografia); Onerosidade (tambémum dado subjetivo do paciente, não ape-nas sobre o custo econômico, mas tam-

bém sobre o custo social, emocional, fa-miliar e espiritual).

Devemos deixar claro que deixar deindicar tratamentos fúteis ou suspendermedidas ineficazes, não é o mesmo queabandonar o paciente e sua família. A pa-lavra chave agora não é mais cura e simcuidado. Os objetivos da Medicina moder-na poderão ser acrescidos de mais doisdesideratos: �Evitar a morte prematura� e�Promover uma morte serena e em paz�.

Referências Bibliográficas:1- Baraldi, Solange; Silva, Maria Júlia

Paes da.�Reflexões sobre a influência daestrutura social no processo da morte-mor-rer�. O mundo da saúde � Bioética- Umaperspectiva brasileira, V.26.N.1. Jan/Mar.2002.

2- Pessini,Leo; Barchifontaine, Chris-tian de Paul de. �Problemas atuais de Bi-oética�. 6ª Ed.- 2002.

3- CFM, �Iniciação à Bioética�.1998.

Constou na edição passada do �Jor-nal do Médico� uma informação queprecisa ser corrigida, por estar equivo-cada.

O CRM-MS realmente vem apuran-do a conduta do médico César RobertoMaksoud Cabral, por conta da denúnciado seu envolvimento com tratamentosmédicos à base de células-tronco.

Ao médico, como determina o Códi-go de Processo Ético-Profissional, seestá assegurando o direito à ampla de-

fesa, com os meios e recursos a ela ine-rentes.

Inclusive, o caso desse processo éticoadministrativo já foi objeto de dois proces-sos judiciais, movidos pelos advogados domédico em questão, no âmbito da JustiçaFederal.

Mas o que não é certo, e daí a necessi-dade da presente �errata�, diz respeito aoque anteriormente se veiculou, quanto aque o médico teria infringido �19 itens doCódigo de Ética da profissão�. Isto não

Errata

procede, tendo sido fruto de um texto queseguiu para divulgação sem a necessáriacorreção, porque, em verdade, o médicoCésar Maksoud apenas está sendo acu-sado, ainda não havendo decisão a respei-to do caso. Somente ao final do processo,que ainda está na fase da instrução (cominquirição de testemunhas), é que o CRM-MS, por seu corpo de Conselheiros, poderáavaliar se o médico agiu de forma corretaou não, absolvendo-o ou punindo-o, segun-do as provas existentes no processo e ou-

CRM-MS esclarece o caso �César Maksoud�tras que ainda estão sendo coletadas. Ouseja: não é correto dizer que o médicoCésar Maksoud �infringiu o Código deÉtica Médica�, conclusão não exaradapor nenhum Conselheiro do CRM-MS,que efetivamente ainda não apreciou omérito do processo disciplinar.

Da parte do CRM-MS, não há faltade isenção ou de imparcialidade. Hou-ve apenas equívoco na parte final danotícia divulgada anteriormente, o queagora está sendo corrigido.

Cons. Luciana Moura CovreMembro da SBB � Sociedade

Brasileira de Bioética.

Mato Grosso do Sul - Novembro de 20068 Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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Atestado de óbito: uso corretoArtigo

Lúcio Mário da Cruz Bulhões

O documento oficialmente denomina-do Declaração de Óbito (DO) é essencialpara as suas finalidades e deve, portanto,ser plenamente entendido e conhecido pelomédico. Este artigo tem espaço insufici-ente para tratar da matéria, todavia per-mite repetir a sua importância. Já que osaspectos inerentes são principalmente ci-entíficos e legais, as faculdades deveriamensinar como utilizar a DO, mas, lamen-tavelmente, muitas vezes não o fazem,causando insegurança ao subscritor, des-de o início da vida profissional.

Dentre as suas finalidades precípuas,estão: a) a necessidade legal de finali-zar a existência do cidadão, o entecivil, documento essencial parafamiliares e para o estado; b)atestar oficialmente a causa damorte, definindo através dos di-agnósticos e nexo clínico, senatural ou violenta; c) esta-belecer dadosepidemiológicos suficientespara estudos, pesquisas econtrole de promoção e pre-venção de políticas de saúde pública.

A legislação vigente define a respon-sabilidade do médico, ante a exclusivida-de científica e prerrogativa legal pela suaconfecção, uma vez que é o ato final deuma assistência médica. Ou seja, a DOfaz parte da assistência médica. O Con-selho Federal de Medicina ordenou qual omédico é responsável pelo preenchimentodo documento na Resolução nº1779/05.Em poucas palavras, o responsável é prin-cipalmente quem assiste ao paciente ouseu substituto para a assistência. Comoexceções estão os casos de morte violen-ta ou suspeita de violência, os quais os IMLtêm obrigação legal de confecção, apósexame necroscópico. Não esquecer queisto vale até mesmo para os casos de mortepor causas naturais posteriores ecorrelacionadas com a violência inicial(concausas), p. e., pneumonia por infec-ção hospitalar ou domiciliar correlacionadacom retenção ao leito após traumaraquimedular também deve ir para o IML.O médico assistente ou seu substituto temobrigação pelo preenchimento da DO,mesmo em tratamento ambulatorial, p. e.,no caso de PSF em que ninguém conhece

melhor a evolução clínica e detém o diag-nóstico de memória ou no prontuário dopaciente, do que os citados médicos.

O SVO (Serviço de Verificação deÓbitos), quando existente no município, éalternativa prevista na norma, todavia emespecial quando não há assistência médi-ca de nenhuma espécie para o falecido.Não é para ser utilizado só porque o médi-co não quer fazer o atestado. Negar o pre-enchimento pode significar infração éticapassível de punição. O Ministério da Saú-de está em vias iniciais de organização deSVO�s em todo o país, mas ainda demo-rará a sua real aplicação.

Os Serviços de Anatomia Patológicararamente existem em hospitais e quandohá, devem ser utilizados somente quandoo médico não tem real explicação da cau-sa da morte, direta ou sindrômica, que le-vou ao óbito, o que significa certamenteuma minoria em relação a todos os casosatendidos. Lembre-se que na maioria dasvezes não se aceita a necrópsia do famili-ar. Nestes casos, é importante ficar ex-presso no prontuário que o familiar nãoaceita a necrópsia e subscreve a decisão.

Aos plantonistas de hospital, é óbvio que

não está proibido o preenchimento da DO,afinal está com responsabilidade sobre asintercorrências clínicas do paciente, po-dendo muito bem compor pensamento clí-nico, incluindo a ajuda dos dados presen-tes no prontuário médico.

Resta em qualquer um destes casos,atestar pessoalmente a morte. Quando nãofor na clínica privada, os estabelecimen-tos de saúde devem organizar-se para queo médico possa também examinar o cor-po após a morte, para a sua verificação eposterior preenchimento da DO.

Os cuidados e condicionantes citadosapós cada tipo de situação são óbvios.Existem elevados custos no momento damorte. Apesar de significativo, mas o maiordeles não é o custo financeiro, relaciona-do ao material dos serviços. O momentosempre será de fragilidade emocional dosenvolvidos, em especial dos familiares epor isso o médico, moral e eticamente, devepreocupar-se com a verdade, atenção eceleridade para execução da DO, guar-dadas as condições operacionais do localde trabalho. E todos os outros profissio-nais envolvidos devem estar treinados paraesta situação, a fim de que informem cor-

retamente quando o médico irá preenchera DO.

O mais importante é que o médico nãodeve temer a DO. Ela nunca comporá umarquivo negativo durante a vida profissio-nal: faz parte dela. E também não substi-tuirá ou será uma confissão de uma assis-tência falha. Se houve falha, a assinaturada DO a ser realizada por outro médico,não o isentará da falha. O argumento denão estar à frente do paciente sob trata-mento que morre no domicílio é descabidoe não retira a responsabilidade pela exe-cução da DO. Em não havendo estóriaespecífica ou suspeição patente por partede terceiros, até mesmo na possibilidadede haver um envenenamento da pessoafalecida, legalmente nada retira a boa fédo médico responsável que preenche aDO. Em resumo, o melhor médico a assi-nar e preencher a DO é o médico assis-tente e ele tem esta obrigação. Os famili-ares, que não entendem do assunto, aguar-darão a DO ansiosos, à semelhança denós médicos em relação aos nossos fami-liares.

O preenchimento deve ser coerentecom o quadro clínico, desde a causa ime-diata na 1ª linha, em seqüência lógica atéa doença principal. Não devemos esque-cer que todos os campos são de respon-sabilidade do médico e não devem ficarem branco.

Guardados todos estes cuidados acima,nunca se deve temer uma Declaração deÓbito.

�Negar o preenchimento podesignificar infração ética passível

de punição. O Ministério daSaúde está em vias iniciais deorganização de SVO�s em todo

país, mas ainda demorará a suareal aplicação�.

Lúcio Mário da Cruz BulhõesPatologista e Conselheiro

CRM/MS

Dr. Lúcio Mário da Cruz Bulhões

Mato Grosso do Sul - Novembro de 2006 9Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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PARECER CRM-MS Nº 08/2006

Parecerista: Drª. Denise Apareci-da de Almeida Tamazato

Ementa: �O cumprimento de plan-tões eventuais, aos finais de semana,deve levar em conta as disponibilidadese eventuais impedimentos de cada inte-grante do serviço, bem como cumpri-mento de normas contidas na sua rela-ção contratual�.

PareceresPARECER CRM-MS N° 07/2006

Cons. Parecista: Denise da SilvaGualhanone Nemirovsky

Ementa: Cabe aos Centros de He-moterapia o cadastramento, a coleta ea realização dos testes sorológicos dosdoadores de sangue, visando a preven-ção de doenças transmissíveis por trans-fusão como: Hepatite B e C, Sífilis,AIDS, Doença de Chagas, HTLV eMalária; e a distribuição das unidadessoro-negativas. Aos hospitais que dis-põem de serviço de emergência e ur-

PARECER CRM-MS N° 10/2006

Processo Consulta CTMI n° 01/2006Conselheiro Parecerista: Sérgio Re-

nato de Almeida CoutoEmenta: O médico plantonista/diaris-

PARECER CRM/MS N° 11/2006

Parecerista: Cons. Denise da SilvaGualhanone Nemirovsky

Ementa: Deve o médico atender asnormas vigentes no País, adequando seutrabalho em favor do interesse da popula-ção, sem perder o tino da indicação técni-ca e ética que justifique cada ato pratica-do.

ta de UTI deve ter o bom senso e seguiros preceitos éticos ao avaliar o pacientecandidato a admissão na Unidade. Devetambém seguir as recomendações da So-ciedade de Especialidade.

PARECER CRM-MS N° 009/2006

Parecerista: Conselheira LucianaMoura Covre

Ementa: �Não há impedimento éticopara a realização de exame radiológico empronto-socorro sem a presença do radio-logista, porém o hospital deve regulamen-tar a presença do radiologista no intuito damelhoria do serviço prestado e do bemestar do paciente�.

gência cabe manter em suas instalaçõesAgências Transfusionais para atender astransfusões de extrema urgência deven-do o médico solicitante obedecer as nor-mas definidas na RDC 153/2004.

Resolução CFM Nº 1.789, de 7 de Abril de 2006(Publicada no D.O.U., de 16 maio 2006, Seção I, pg. 77)

Os Conselhos de Medicina poderão interditar cautelarmente o exercício pro-

fissional de médico cuja ação ou omissão, decorrentes de sua profissão, esteja

prejudicando gravemente a população, ou na iminência de fazê-lo.

O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições confe-

ridas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, alterada pela Lei nº 11.000,

de 15 de dezembro de 2004, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de

julho de 1958, e

CONSIDERANDO que o Conselho Federal de Medicina e os Conselhos

Regionais de Medicina são os órgãos supervisores da ética profissional em

toda a República e, ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe

médica, cabendo-lhes zelar e trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo

perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da pro-

fissão e dos que a exerçam legalmente;

CONSIDERANDO que os Conselhos de Medicina têm como um de seus

objetivos primordiais a proteção à sociedade, evitando que o diploma de médico

sirva de instrumento para que profissionais dele se sirvam para enganar, preju-

dicar ou causar danos ao ser humano;

CONSIDERANDO que o Conselho Federal de Medicina e os Conselhos

Regionais têm autoridade para disciplinar a ética e o perfeito desempenho da

Medicina, usando para tanto o poder de polícia que lhe confere a lei;

CONSIDERANDO que a Medicina é uma profissão a serviço do ser huma-

no e a sua saúde é o alvo de toda a atenção do médico;

CONSIDERANDO que o médico deve guardar absoluto respeito pela vida

humana, jamais utilizando seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou

moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa

contra sua dignidade e integridade,

Resolve:Art. 1º Os Conselhos de Medicina poderão, por decisão mínima de 11 (onze)

votos favoráveis nos Conselhos Regionais, de 15 (quinze) no Conselho Federal

e com parecer fundamentado do conselheiro sindicante, interditar cautelarmen-

te o exercício profissional de médico cuja ação ou omissão, decorrentes de sua

profissão, esteja notoriamente prejudicando gravemente a população, ou na imi-

nência de fazê-lo.

Art. 2º A interdição cautelar ocorrerá desde que exista prova inequívoca do

procedimento danoso do médico e verossimilhança da acusação com os fatos

constatados, ou haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação,

caso o profissional continue a exercer a Medicina.

Art. 3º Na decisão que determinar o impedimento, o Conselho Regional indi-

cará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento.

Art. 4º O interditado ficará impedido de exercer as atividades de médico até

a conclusão final do processo ético, obrigatoriamente instaurado quando da or-

dem de interdição, sendo-lhe retida a carteira de registro profissional junto ao

Conselho Regional.

Art. 5º O processo ético instaurado deverá ser julgado no prazo de 6 (seis)

meses, desde que o interditado não dê causa a atraso processual, de caráter

protelatório.

Art. 6º A interdição cautelar poderá ser revogada ou modificada a qualquer

tempo, pela plenária, em decisão fundamentada.

Art. 7º A interdição cautelar poderá ser aplicada em qualquer fase do pro-

cesso ético-profissional, atendidos os requisitos previstos nesta resolução, inclu-

sive no que se refere aos recursos e prazos.

Art. 8º A interdição cautelar terá eficácia quando da intimação pessoal do

interditado, cabendo recurso ao Pleno do Conselho Federal de Medicina, no

prazo de 30 (trinta) dias contados a partir do recebimento da ordem de interdi-

ção, sem efeito suspensivo, devendo ser julgado na reunião plenária subseqüen-

te ao recebimento do pedido do recurso.

Art. 9º Os casos de interdição cautelar ocorridos nos Conselhos Regionais

de Medicina serão imediatamente informados ao Conselho Federal de Medici-

na.

Art. 10° Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE GENÁRIO ALVES BARBOSA Presidente Tesoureiro

Mato Grosso do Sul - Novembro de 200610 Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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1.Características funcionaisA função de perito é complexa e conflitante. De

um lado é responsável pela avaliação da pessoa aliencaminhada, se ela tem ou não o direito de receber obenefício requerido. De outro, trata-se de �conferir�o trabalho de um outro colega; de verificar se aquelapessoa que ali comparece realmente apresenta o esta-do patológico expresso pelo atestado trazido, enfim,de decidir se acredita ou não no conteúdo do atestado.

Espera-se que quem é investido em determinadafunção �vista a camisa�, ou seja, que possa realizar aatividade com o máximo de zelo, de cuidado e daforma o mais justo possível. No plano das idéias, atéque isto é possível, mas na prática esta �neutralida-de� é tão necessária quanto impossível de ser conse-guida.

Quem exerce a função é uma pessoa. E esta pes-soa é oriunda de uma população, de uma determinadacultura, trazendo as impressões e a forma de ser destacultura. O fato de ser médico não o torna isento depreconceitos, de condutas automáticas, próprias destacultura.

E estes preconceitos, estas características cultu-rais estão ali com ele, no exercício da profissão, influ-enciando na decisão, apesar da habilitação técnica. E,ele se sente responsável e tenta responder a estascobranças. Desta forma, de uma forma automática, operito se sente responsável, e o é, por aquela situa-ção.

Também há uma percepção, no mínimo distorci-da ou equivocada, de dois dos principais protagonis-tas desta atividade. O médico assistente consideranão ser necessário o conhecimento das leis, das nor-mas que regem a previdência. Com isto, consideraque se o paciente não apresenta condições de traba-lho, não cabe a ele saber quais os requisitos legais queo paciente precisa dispor para ser beneficiado pelaprevidência. De outra forma, os peritos consideramque tanto os pacientes quanto os médicos assistentesdeveriam conhecer as leis, de tal forma que apenas osque tivessem direito aos benefícios lá se apresentas-sem. De outro lado, há uma �crença� mais ou menosgeral, de que os pacientes a serem examinados têm aintenção de �enganar� o perito, de que as pessoas queali comparecem já têm uma predisposição em ludibri-ar o seu examinador. Também o perito pode ter aopinião de que é visto pelos pacientes como �umpolicial� que poderá negar-lhe o benefício pretendido,aumentando a tensão neste encontro.

2. O medo de ser enganadoO perito, com a responsabilidade própria e a

investida da função legal, preocupado em seguir asnormas, cioso do seu papel, buscando agir de formajusta e segura, mas com medo de ser �enganado�.Ser �enganado� não significa apenas ter se equivo-cado na avaliação daquele paciente.

Para o perito pode ter o significado de não ter tidoa perspicácia necessária para detectar o engano. E,pensar que o paciente tenha buscado isto de formaintencional, pois há um receio quase que generalizadode que os pacientes buscam ludibriar o perito.

Portanto, é natural que desenvolva uma atitudede �defesa�, considerando que os pacientes tenhama intenção de enganar e, então, desenvolvam umapostura muito rígida e generalizada. Seguramente,deve haver pessoas buscando burlar o sistema, mascom certeza não é o geral. Adotando uma posturamais rígida e inflexível, em função de algumas situa-ções ocorridas, prejudicam outras pessoas sem sedar conta. É clássico o ditado que diz que �o uso docachimbo deixa a boca torta�.

3. Características da relaçãoA relação estabelecida entre o perito e o pacien-

te não é uma relação harmônica. É uma relação desi-gual. De um lado vem o paciente fragilizado, sentin-do-se desprotegido e acuado. Do outro lado está operito investido na função de �fiscal�, com a prer-

rogativa de reconhecer ou negar o benefício pleitea-do. Com receio de ser enganado. Com receio de serinjusto. Tendo que julgar o colega, o médico assis-tente e ainda tendo que obedecer as suas convicçõespessoais, culturais e religiosas.

O encontro, então, é tenso, não é natural. O paci-ente algumas vezes mostra-se titubeante, o que podeser interpretado como in-tencional e com o desejode enganar. Se mostrar-sefirme, com poucas pala-vras, com palavreadoseco, imediatamente podeser catalogado como frio ecalculista. Enfim, a pes-soa não consegue ter umtipo de atitude que possaser recebida como natural.

3. O perito é umespecialista?

Um outro fator nunca satisfatoriamente discu-tido é o da própria especialidade. Embora no Brasilo médico possa realizar legalmente qualquer ativi-dade médica, responsabilizando-se por isto, na prá-tica sabemos que cada vez fica mais difícil para ummédico, mesmo para o clínico, ter uma noção razo-ável de outras especialidades.

Assim, muitas das decisões que deveriam sertécnicas, baseadas em conhecimentos específicos, éprovável que sejam tomadas por �impressões�, porconvicções pessoais, ignorando e negando com fre-qüência o que o atestado está afirmando e aindaignorando o conteúdo do atestado.

Como não tem ou tem pouca noção das patolo-gias, não é raro que a decisão tomada seja prejudicialao paciente.

Não tendo uma noção razoável da especialida-de, de uma forma automática, faz com que o peritose torne mais rígido na hora da decisão. Assim, ealiado ao receio de ser enganado, faz o seu julgamen-to de forma moral e com freqüência reage de formaindignada, como qualquer cidadão o faria, mas que operito não deveria, de uma forma moral contra os�bêbados, os alcoólatras� e acreditando firmementeque o fizeram da melhor forma possível. Tambémpela não prática e desembaraço na área, o perito podesentir-se ultrajado e enganado ao encontrar um paci-ente maníaco, tomando bebidas alcoólicas, falandoalto, sem o �semancol� e ficar furioso consigo mesmoao ter contribuído para a aposentadoria daquela pes-soa �folgada� e que provavelmente estaria comemo-rando a �aposentadoria fraudulenta�, sendo que naverdade estaria assistindo a uma pessoa com os laçoséticos afrouxados por uma manifestação.

4. Epidemiologia � prevalência nosológicaUma parcela significativa da população que

comparece às juntas, às perícias, é portadora depatologias crônicas, com poucos exames subsidiári-os, com poucas possibilidades de comprovação, masque potencialmente pode trazer �prejuízos� para aprevidência e para a nação.

Assim, pacientes com patologias como fibro-mialgia, portadores da síndrome de fadiga crônica, aLER, a DORT e algumas patologias psiquiátricas,entre outras, têm trazido uma dificuldade maior en-tre os peritos que terminam irritando-se com estasdúvidas e penalizando o paciente.

Além disto, é conhecida hoje a �briga� dos mi-nistérios para que estes diagnósticos não sejam con-siderados porque senão �o caixa diminui e a viúva(nação) pode falir�. Desta forma todos os esforçossão envidados de jeito que as pessoas não sejamreconhecidas como portadoras daquela patologia enem merecedora dos benefícios pleiteados.

Outra situação que faz parte do dia-a-dia para quemfreqüenta o ambiente das perícias é a dificuldade para queo perito aceite os atestados em que figurem como diag-nósticos os quadros psiquiátricos, principalmente os de-pressivos e os decorrentes do alcoolismo (embriaguezpatológica, dependência, paranóia, demência).

Aqui vale lembrar que um estudo da OMS rea-lizado em mais de 150 países determinou as maio-res causas de incapacitação para o trabalho: a pri-meira com 10,7% foi a DEPRESSÃO, a segundacom 4,7% foi a ANEMIA; a terceira com 3,2% foi oALCOOLISMO, enfim, das 10 primeiras causas deincapacitação para o trabalho, 5 são de patologias

psiquiátricas.O mesmo estudo

aponta que atualmente adepressão é a 4ª doençamais prevalente no mun-do e, numa projeção, adepressão será em 2020(bem próximo) a patolo-gia mais freqüente.

5. Avaliação técni-ca ou moral?

É de se notar que aprimeira causa de inca-

pacitação para o trabalho tem o diagnóstico clínicosem nenhum exame laboratorial e que quem não �acre-dita� nos relatos dos pacientes ou médicos assisten-tes terá sempre uma tendência de considerar que o�deprimido� não tem nada, os exames laboratoriaiscomuns estão normais, a aparência física geral tem aaparência de sanidade e de higidez e, portanto, deve-riam trabalhar e não tentar ludibriar o sistema.

Pior ainda é o caso dos pacientes ou dependen-tes do álcool e outras substâncias psicoativas ouportadoras de psicoses ou de demências secundári-as ao uso destas substâncias, que passam a ser jul-gados ainda de forma �moral� e tratados como �fra-cos de caráter�, que apresentam uma deformidadede caráter e são assim julgados.

Outro fator a ser considerado é a da modificaçãoda intensidade, gravidade e graus possíveis de inca-pacitações determinados pelos diferentes quadrosclínicos e que com o acúmulo de informações atuaistiveram o seu �status� modificado, sem que a legis-lação tenha se atualizado

Alguns exemplos. Antigamente as classificações con-sideravam a nosologia psiquiátrica em 2 grandes grupos:os quadros psicóticos e os quadros neuróticos. Os qua-dros psicóticos ainda tinham algum grau de reconheci-mento relacionado à figura da �alienação� e era reconheci-do o direito de receber benefícios, enquanto que os qua-dros neuróticos tinham como características a noção doque estava acontecendo, apenas parcela da personalidadeestava comprometida, mas que a pessoa de forma volun-tária buscava o seu tratamento e não eram consideradoscomo �alienados�.

Hoje, com o avanço tecnológico, com as infor-mações das neurociências, da neuropsicologia, há oconsenso entre os profissionais de que não é apenasa �alienação� o determinante da incapacidade. Háoutros fatores que são tão ou mais importantes quea �alienação� na determinação das incapacidades.Podemos exemplificar com 2 quadros:

- o primeiro quadro apresentado pelos pacientescom Transtorno Obsessivo Compulsivo, em que apessoa é �tomada� por pensamentos desagradáveis,que causam grande sofrimento, que a pessoa sabeserem inadequados mas que não consegue afastá-lo.Algumas pessoas desenvolvem um mecanismo decondutas repetitivas (rituais) e que com isto conse-guem aliviar um pouco a intensidade dos pensamen-tos, mas ficam presas nos rituais e com muita fre-qüência sem conseguir desenvolver atividade adequa-da e produtiva. Assim, temos as pessoas que tomambanho de 1, 2 horas, que gastam 1, 2 sabonetes porbanho. Pessoas que não conseguem se afastar de casapara o trabalho porque precisam ficar voltando paraconferir 20, 30 vezes se a casa está fechada ou não.

- o segundo exemplo é o formado por pessoasque sofrem de episódios de pânico, caracterizadospor crises abruptas, sem nenhum tipo de aviso, comtaquicardia, sudorese fria, extremidades frias e a sen-sação de morte iminente e que, com o cessar dacrise, permanece o medo da sensação da morte. Com

isto a pessoa passa a evitar qualquer situação que seassemelhe ou lembre da crise e que possa haver odesencadeamento de novas crises. É um quadro clí-nico em que freqüentemente deixa a pessoa imobili-zada e sem conseguir realizar suas atividades.

Os exemplos apresentam algumas semelhanças:ambos eram considerados anteriormente comoTranstornos Neuróticos e, como tal, não eram con-siderados alienantes e, portanto, sem terem subsí-dios para qualquer tipo de benefício.

Com a atualização das informações, estes doisexemplos fazem parte de um rol de patologias queapresentam a etiologia baseada em disfunções cere-brais, afastada portanto a gênese da convivênciamaterna ou do traumatismo infantil. Ao mesmo tem-po um alto grau de incapacidade, visto que o trata-mento é prolongado e o sucesso terapêutico é baixoe a limitação ou a incapacidade para o trabalho éconstante. Entretanto, em que pese todos estes co-nhecimentos, há uma resistência em que os pedidosde licença sejam reconhecidos e concedidos.

6. Inadequação da atuação do peritoMas, ao meu ver, maior perversidade é o que o

ministério faz com os próprios peritos. Quando�baixam� protocolos ou normas baseadas em �ex-periências� de quem não tem a prática e nem a vi-vência com pacientes psiquiátricos, expõe os peri-tos a situações de constrangimento e mesmo emalgumas vezes de agressão.

O maior exemplo disto é quando os peritos doINSS se vêem obrigados a atender as pessoas quebuscam o Benefício Assistencial (LOAS) concedi-do aos idosos ou portadores de deficiências quecomprovem não possuir meios de prover a sua pró-pria manutenção nem de tê-la pela própria família.Sendo que a deficiência gere incapacidade para otrabalho e atividades da vida independente (alimen-tar-se, vestir-se, fazer a própria higiene, etc) e afamília tenha renda mensal per capta inferior a 1/4do salário mínimo.

Esta é uma inadequação em que o médico atuan-do como perito tenha que dar a palavra final após a�triagem social�. Não é que não tenha a função comomédico para a verificação da incapacidade, mas é ofato de que não é a incapacidade física ou mental sero determinante na decisão de receber o benefício,mas sim de que o critério é o social, é o da rendafamiliar. É uma perversidade. A pessoa pode ter aincapacidade que for, mas se a família receber 1/4 dosalário mínimo perde o direito de receber o �benefí-cio�. Colocar o médico, o perito do INSS para dar overedicto final não deixa de configurar o �desvio defunção� expondo-o às situações de receber as mani-festações da frustração da pessoa que deixa de rece-ber o benefício e que passa a considerar o peritocomo o responsável pela recusa.

Seria desejável que a previdência e os seus ór-gãos pudessem, antes de emitir normas e procedi-mentos para a execução pelos peritos, ter algumaacessória seja do CFM em sua constituição ou dasespecialidades subsídios para que os médicos peri-tos possam atuar como médicos peritos e não ape-nas como �leitor, receptor e cumpridor de normas�,com alguma freqüência emanadas por pessoas quenunca tiveram atuação como profissional.

7. ConclusõesAcreditamos que a função pericial é uma função

que necessita de constante atualização, frente àsmodificações da nosologia, devendo ter sempre umavisão crítica da atividade.

Também consideramos que o Conselho Federalde Medicina, através dos Conselhos Regionais, deveter uma atuação de constante apoio à atividade, nãoapenas ética, como também as diferenças existentesentre as especialidades. Cabe ao CFM fazer gestõesquanto ao Ministério da Saúde e da Previdência nosentido de que haja uma atuação ética do peritofrente a normas claras e adequadas de julgamento,deixando de ter como parâmetro os protocolos �cons-truídos� impessoalmente, unilateralmente.

As vicissitudes de ser perito ou de ser paciente nesta perícia

�O fato de ser médico não otorna isento de preconceitos,

de condutas automáticas,próprias desta cultura�

Artigo

Juberty Antonio de Souza

Mato Grosso do Sul - Novembro de 2006 11Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul

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Agenda

Agenda Médica

27 DE NOVEMBRO A1º DE DEZEMBRO38º Congresso Brasileiro de Otorri-nolaringologia e Cirurgia Cérvi-co-FacialSalvador (BA) - (11) 5052-9515www.aborlccf.org.br/congresso2006

28 DE NOVEMBROReunião científica sobre Cirur-gia TorácicaRio de Janeiro (RJ)(21) 2537-9164 www.cbc.org.br

30 DE NOVEMBRO A

2 DE DEZEMBRO

IX Congresso

Brasileiro de Flebologia

e Linfologia

São José do Rio Preto (SP)

(17) 2138-5700

www.cenacon.com.br

9 A 11 DE NOVEMBRO8ª Reunião Anual dos Dermato-logistas do Centro-OesteBrasília (DF)(11) 3865-5354 / 3873-1822www.radeco2006.com.br

12 a 16 de novembroXIV Congresso Latino-America-no de NutriçãoFlorianópolis (SC)(16) 3967-1003 www.slanbrasil.org

19 A 23 DE NOVEMBROVII Semana Brasileira do

Aparelho Digestivo e XI

Congresso Nacional do

Colégio Brasileiro de Cirurgia

Digestiva

São Paulo (SP)

(11) 3819-2904

[email protected]

Médicos são homenageados pelo CRM/MSO Conselho de Medicina de Mato Gros-

so do Sul (CRM/MS) organizou, no dia 28de outubro, uma cerimônia de admiração erespeito aos médicos com 40 e 50 anos deserviços prestados. Profissionais já falecidostambém foram homenageados. O evento con-tou com a presença do presidente do CRM/MS, Dr. Mauro Luiz de Britto Ribeiro, do se-cretário Municipal de Saúde, Dr. Luiz Henri-que Mandetta, do presidente da AssociaçãoMédica do Mato Grosso do Sul, Dr. José Ro-berto Amin, e do presidente do Sindicato dosMédicos de Mato Grosso do Sul (SinMed/MS), Dr. João Batista Botelho de Medeiros.Confira os nomes dos homenageados:

Alberto Cubel BrullArildo LoperArary Borges CanavarrosBasílio de Almeida LimaBenedito AnacheCaio Celso CorrêaCarlos Guimarães da SilvaDelmar CervieriFandi FaquerFernando Augusto T. de Vasconcelos DiasGiovanni Pires VianaIkuo HiradeIwan Bruno SzochalewiczJosé Miguel BasmageLuiz Garcia de Oliveira LimaLuiz Salvador de Miranda Sá JuniorMaldonat Azambuja SantosMaria TeodorowicOlnei Cardoso GalvãoPaulo Kiyotaka OshiroPaulo Rodrigues MotaPedro Ozório Barboza de MedeirosReinaldo de ArrudaRoberto Alberto NachifRubens Marques dos SantosSebastião Eloy PereiraTercio Ferreira Zampiere de OliveiraWalter Augusto MartinhoWalter de CastroYassuko Ueda Purisco

Antônio QuedaAnna Lygia Mancini CoelhoAlcindo Alves de AlmeidaAlencar Ferreira da CostaAstúrio MarquesCarlos Alberto JurgielewiczCelso Lacerda de Azevedo FilhoCoriolano Ferraz BaísDelmiro Teixeira PedrosaDioscoro de Souza GomesFlávio Magno de Menezes GuimarãesGil Pacifico TogniniHélio MandettaIzidoro Dias Lopes de OliveiraJoão Miguel BsmageJosé Carlos Dias de ToledoNeli Curso de FigueiredoSilvino Antônio Martins JúniorSylvio Torrecilha SobrinhoSyrzil Wilson MaksoudWalfrido ArrudaWilson Fadul

Homenageados �40 anos�

Homenageados �50 anos�

Jurandyr EnnesKojun YamakiLadislau Alves MarcondesMárcia Guedes de Sá EarpMarcilio de Oliveira LimaMarly Anna Tatton Berg GonçalvesMauro Rogério de Barros WanderleyMitsuro Saito

Monir ThoméNelson Rodolfo KozoroskiNicolau FragelliOrestes Prata TiberyOrestes RochaPaulo Boccaro FilhoRogério Fernandes NetoRomeu AlbanezeRubens Milton Teixeira de SouzaRudel TrindadeSalomão BarukiSamuel Chaia JacobSilvio de AndradeSiumara Conte Pereira AlbertiSylvio Muller Peixoto de AzevedoTiyokaio OshiroVanilton FinamoreVespasiano Barbosa MartinsWagner Jorge Bortotto GarciaWalfrido Ferreira AzambujaWillian MaksoudWilson Gonsales Rodrigues

Erothide Gonçalves de OliveiraEtienne de Albuquerque PalhanoEuler de AzevedoEurydice Chagas CruzFernando de Arruda TorresFiori MuranoFrancisco Dantas ManiçobaGermano Barros de SouzaGünter HansHabib FahedHerberto Calado RebeloHirose AdaniaHorácio Vicente de AlmeidaHugo Pereira do ValeIvan Hildebrand da CostaJoão FernandesJoel Neves da SilvaJorge David NasserJosé Gilberto AbuhassanJosé Hamílcar Congro BastosJosé MendesJurandyr de Castro Coimbra

Adaías Marques MoreiraAdemar Corrêa BarbosaAgostinho NachifAlberto Jinsum MineiAlberto NederAlcindo Moreira de FigueiredoAlda Garcia de OliveiraAlfredo NederÁlvaro Fontoura SilvaAmando de OliveiraAntônio Alves DuarteArthur de Vasconcellos DiasAstrogildo CarmonaBenjamin AsatoCarlos VidotoCelso Lacerda de AzevedoCícero de Castro FariasCláudio Fernando StellaCleano de Barros WanderleyClodoaldo GarciaDarci Tomoko Okanobo AzumaDivino Antônio LuizElias Nasser NetoÊnio Cunha

Homenagens Póstumas

Dr. Syrzil Wilson Maksoud discursou noinício da cerimônia

Médicos e familiares lotaram o anfiteatro

Mato Grosso do Sul - Novembro de 200612 Informativo Oficial do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul