14/16/2004-dr/bsb o ensino pœblico sofre no distrito federal€¦ · formação docente. página 3...

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Informativo do Sindicato dos Professores no Distrito Federal - Ano XXV - Nº 139 - Dezembro/2004 CNTE CONTEE O ensino pœblico sofre no Distrito Federal O ensino público está em declínio no Distrito Federal. Há uma estratégia delibe- rada para reduzir o papel da escola pública, em benefí- cio dos donos das escolas particulares, que vêem seus lucros aumentarem a cada ano. Esse desmonte já vem de muito tempo, mas o atu- al governo está conseguin- do destruir ainda mais o ensino público. Os diretores das esco- las, na maioria dos casos, são escolhidos por nepotis- mo, sem nenhum critério técnico. Faltam vagas nas escolas, apesar do discurso oficial. A população do DF aumentou 23,27% nos últi- mos quatro anos, mas curi- osamente não houve au- mento da demanda. As re- Em sessão solene re- alizada na Câmara Le- gislativa as professoras Raquel Gonçalves Fer- reira e Maria Célia Ma- dureira receberam o títu- lo de cidadãs honorárias de Brasília devido ao pro- jeto pioneiro de incentivo Ratos da biblioteca sªo homenageados na Câmara à leitura que desenvolve- ra, por meio de programa recreativo, no qual ambas assumem os personagens “Racumim e Racutia”, os “ratos da biblioteca”. A Escola Classe 18 de Taguatinga também foi ho- menageada devido ao com- promisso que assumiu de desenvolver um processo coletivo e democrático, com a participação de to- dos os elementos da co- munidade escolar. Estiveram presentes na solenidade os diretores do Sinpro Augusta e Denílson. clamações por falta de va- gas continuam. Existe uma brutal redução de turmas e fechamento de escolas, to- talmente contraditório com o crescimento populacional. O atendimento médico aos professores não corres- ponde a realidade da cate- goria, que tem mais de 50% de doentes, devido aos bai- xos salários, péssimas con- dições de trabalho, arbitra- riedades e um sem fim de problemas. Como conclusão, o de- sempenho dos alunos está seriamente comprometido, conforme fica claro nos tes- tes realizados com estudan- tes. A educação, obrigação do Estado e prioridade para alcançar a verdadeira cida- dania, está sofrendo no DF. Páginas 4 e 5 O Sarau Cultural foi uma atividade desenvolvida pelo Sinpro em vÆrias cidades do DF Nªo Ø Faluja, no Iraque. É o que restou de uma escola pœblica do Distrito Federal As escolas normais devem continuar a for- mar professores? Esta pergunta inicia uma nova coluna em nosso jornal, com uma resposta a fa- vor e outra contra, possi- A polŒmica das escolas normais bilitando ampliar o debate na categoria de temas de nosso interesse. Os professores Mário Bispo dos Santos, Cleova- ne Raimunda de Souza e Omar dos Santos defen- dem suas posições, ex- plicando os porquês das escolas normais ainda continuarem a fazer parte ou não da formação docente. Página 3 O atendimento mØdico do SAMO deixa a desejar, com longas filas de espera Pesquisa realizada pela Organização para a Coope- ração e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ava- liou o nível dos estudantes de 40 países, através de pro- vas respondidas por 250 mil jovens de escolas públicas e particulares, todos na fai- xa dos 15 anos. Os jovens brasileiros ti- veram um desempenho sofrível diante dos de- mais concorrentes. Em matemática ficaram em 40º lugar, em leitura em Pesquisa reprova a educaçªo brasileira 37º e em ciências em 39º. Em matemática, que concentrou 53% das per- guntas, o Brasil ficou em último lugar, com o menor grau de todos, demons- trando que muitos alunos terminam o ensino funda- mental sem dominar as quatro operações. Na década de 90, o go- verno brasileiro fez esfor- ço para aumentar o núme- ro de alunos nas escolas, reduzindo em muito a quantidade de crianças fora das salas de aula. Em compensação, não inves- tiu na qualidade de ensi- no, bastante sofrível. A desvalorização dos pro- fessores é uma clara de- monstração disso. Um dado significativo é a quantidade de recur- sos gastos com a educa- ção. A Finlândia, país que obteve o melhor desempenho da pesquisa da OCDE inves- te 4.100 dólares ano por alu- no. Nosso país aplica quatro vezes menos. Dá no que dá. Impresso Especial 14/16/2004-DR/BSB Sinpro CORREIOS

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Page 1: 14/16/2004-DR/BSB O ensino pœblico sofre no Distrito Federal€¦ · formação docente. Página 3 O atendimento mØdico do SAMO deixa a desejar, com longas filas de espera Pesquisa

Informativo do Sindicato dos Professores no Distrito Federal - Ano XXV - Nº 139 - Dezembro/2004

CNTECONTEE

O ensino público sofreno Distrito Federal

O ensino público está emdeclínio no Distrito Federal.Há uma estratégia delibe-rada para reduzir o papel daescola pública, em benefí-cio dos donos das escolasparticulares, que vêem seuslucros aumentarem a cadaano.

Esse desmonte já vemde muito tempo, mas o atu-al governo está conseguin-do destruir ainda mais oensino público.

Os diretores das esco-las, na maioria dos casos,são escolhidos por nepotis-mo, sem nenhum critériotécnico. Faltam vagas nasescolas, apesar do discursooficial. A população do DFaumentou 23,27% nos últi-mos quatro anos, mas curi-osamente não houve au-mento da demanda. As re-

Em sessão solene re-alizada na Câmara Le-gislativa as professorasRaquel Gonçalves Fer-reira e Maria Célia Ma-dureira receberam o títu-lo de cidadãs honoráriasde Brasília devido ao pro-jeto pioneiro de incentivo

�Ratos da biblioteca� sãohomenageados na Câmara

à leitura que desenvolve-ra, por meio de programarecreativo, no qual ambasassumem os personagens“Racumim e Racutia”, os“ratos da biblioteca”.

A Escola Classe 18 deTaguatinga também foi ho-menageada devido ao com-

promisso que assumiu dedesenvolver um processocoletivo e democrático,com a participação de to-dos os elementos da co-munidade escolar.

Estiveram presentes nasolenidade os diretores doSinpro Augusta e Denílson.

clamações por falta de va-gas continuam. Existe umabrutal redução de turmas efechamento de escolas, to-talmente contraditório como crescimento populacional.

O atendimento médicoaos professores não corres-ponde a realidade da cate-goria, que tem mais de 50%de doentes, devido aos bai-xos salários, péssimas con-dições de trabalho, arbitra-riedades e um sem fim deproblemas.

Como conclusão, o de-sempenho dos alunos estáseriamente comprometido,conforme fica claro nos tes-tes realizados com estudan-tes. A educação, obrigaçãodo Estado e prioridade paraalcançar a verdadeira cida-dania, está sofrendo no DF.Páginas 4 e 5

O Sarau Cultural foi uma atividadedesenvolvida pelo Sinpro em várias cidades do DF

Não é Faluja, no Iraque. É o que restou de uma escola pública do Distrito Federal

As escolas normaisdevem continuar a for-mar professores? Estapergunta inicia uma novacoluna em nosso jornal,com uma resposta a fa-vor e outra contra, possi-

A polêmica das escolas normais

bilitando ampliar o debatena categoria de temas denosso interesse.

Os professores MárioBispo dos Santos, Cleova-ne Raimunda de Souza eOmar dos Santos defen-

dem suas posições, ex-plicando os porquêsdas escolas normaisainda continuarem afazer parte ou não daformação docente.Página 3

O atendimento médico do SAMO deixa a desejar, com longas filas de espera

Pesquisa realizada pelaOrganização para a Coope-ração e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) ava-liou o nível dos estudantesde 40 países, através de pro-vas respondidas por 250 miljovens de escolas públicase particulares, todos na fai-xa dos 15 anos.

Os jovens brasileiros ti-veram um desempenhosofrível diante dos de-mais concorrentes. Emmatemática ficaram em40º lugar, em leitura em

Pesquisa reprova aeducação brasileira

37º e em ciências em 39º.Em matemática, que

concentrou 53% das per-guntas, o Brasil ficou emúltimo lugar, com o menorgrau de todos, demons-trando que muitos alunosterminam o ensino funda-mental sem dominar asquatro operações.

Na década de 90, o go-verno brasileiro fez esfor-ço para aumentar o núme-ro de alunos nas escolas,reduzindo em muito aquantidade de crianças

fora das salas de aula. Emcompensação, não inves-tiu na qualidade de ensi-no, bastante sofrível. Adesvalorização dos pro-fessores é uma clara de-monstração disso.

Um dado significativoé a quantidade de recur-sos gastos com a educa-ção. A Finlândia, país queobteve o melhor desempenhoda pesquisa da OCDE inves-te 4.100 dólares ano por alu-no. Nosso país aplica quatrovezes menos. Dá no que dá.

ImpressoEspecial

14/16/2004-DR/BSBSinpro

CORREIOS

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Sinpro-DF: sede: SCS, Quadra 3, Bloco A, n° 107/111 - CEP: 70.300-500 - Brasília-DFTel.: 218-5601 / Fax: 218-5607 (Organização), 218-5631 (Imprensa), 218-5619 (Jurídico)Subsede em Taguatinga: CNB 4, lote 3, loja 1. Telfax : 562-4856 e 562-2780Subsede no Gama: SCC, bloco 3, lote 21/39, sala 106. Telfax: 556-9105Site: www.sinprodf.org.bre-mail: [email protected] de Imprensa: Lisboa, Nonato e ValeskaJornalistas: Afonso Costa e Junia LaraFotografia: Welber Souza - Diagramação: Wilson CardosoImpressão: Gráfica Plano Piloto - Tiragem: 32.000 exemplaresDistribuição gratuita. Permitida a reprodução desde que citada a fonte

Diretoria Colegiada do Sindicato dos Professores no DF

Adalberto Duarte de OliveiraAndreia Cristina SouzaAntonio Ahmad Usuf DamesAntônio de Lisboa A. ValeBerenice Darc JacintoCarlos Antoneto de S. LimaCésar Santos FerreiraCláudia de Oliveira BullosCláudia M. Amaral de SouzaCleber Ribeiro SoaresDenilson Bento da CostaFrancis F FernandesFrancisco Barbosa

Francisco Joaquim AlvesGilza Lúcia Camilo RicardoIlson Veloso BernardoIsabel Portuguez de S. FelipeIzac Antônio de OliveiraJalma Fernandes de QueirozJosé Antônio Gomes CoelhoJosé Norberto CalixtoJosé Raimundo S.OliveiraLânia Maria Alves PinheiroMárcia Gilda MoreiraMarco Aurélio G. RodriguesMaria Augusta Ribeiro

Maria Bernardete D. da SilvaMaria José Correia MunizMisael dos Santos BarretoNazira Clotilde da SilvaNelson Moreira SobrinhoRaimundo Nonato MenezesRejane Guimarães PitangaRobson de Paiva SalazarRodrigo Pereira de PaulaSebastião Honório dos ReisValdenice de OliveiraValesca Rodrigues LeãoWashington Luis D. Gomes

2 Dezembro/2004

Orientadores educacionais e suacontribuiçao nas luts sociais

A r t i g o

A r t i g o

Saúde do Trabalhador em debate

Washington Dourado � Diretor do [email protected]

Um espaço que é seu

Cartas / e-mails

De todos os proble-mas da nossa categoriao que mais me preocupano momento é a saúde.Devido às más condi-ções de trabalho o núme-ro de professores doen-tes cresce a cada dia eas doenças ocupacionaissão os sintomas mais co-muns. O Sinpro há maisde três anos vem aler-tando a secretária deEducação, MaristelaNeves, com documentose em reuniões de nego-ciação, sobre a gravida-de do problema. Atéagora, no entanto, não foitomada nenhuma provi-dência. A secretária deEducação não imple-mentou nenhuma políti-ca de orientação e pre-venção das doenças ocu-pacionais e melhoria doambiente de trabalho.Também não atendeu anossa reivindicação decriação de um plano desaúde, nem sequer apa-relhou o SAMO ou me-lhorou o atendimento.Infelizmente, a respostada secretária de Educa-ção tem sido dada atra-vés do próprio SAMO,

que vem cortando sistema-ticamente as licenças mé-dicas, obrigando muitos pro-fessores a voltarem para assalas de aula ainda doen-tes. Ela já chegou a insinu-ar, em entrevistas, que osprofessores “pegam” ates-tados médicos para fugiremdas salas de aula.

Em resposta a essa si-tuação, o Sinpro decidiucontratar uma assessoriajurídica especializada nasaúde do trabalhador. Da-qui em diante, cada vez queum médico perito doSAMO reduzir uma licen-ça médica e obrigar umprofessor a trabalhar aindadoente, piorando a sua saú-de, vamos entrar na justiçacom ação de indenização eresponsabilidade criminal,contra o médico perito econtra a secretária de Edu-cação. Estas mesmas ini-ciativas serão tomadas con-tra os casos de assédiomoral praticados por algu-mas direções de escolas.

Mas a nossa luta não seencerra por aí. Primeiro,

vamos intensificar a lutapelo nosso plano de saú-de pago pelo GDF. Se-gundo, vamos exigir umapolítica de orientação eprevenção das doençasocupacionais nas escolase a melhoria do ambientede trabalho. Terceiro, va-mos trabalhar para que asdoenças ocupacionais danossa categoria sejam re-conhecidas pela Lei, paraque o professor possa seaposentar com o saláriointegral, quando for o caso.Por fim, vamos lutar paraque os professores readap-tados possam ser respei-tados e valorizados pelasecretária de Educação.

Espero que a secretá-ria de Educação sentepara negociar, sem queseja necessária outra gre-ve. Até porque a educa-ção pública do DF não vainada bem, basta ver que,de 1999 até 2004, a redepública de ensino já per-deu mais de 52 mil estu-dantes no ensino funda-mental e médio.

Endereços para correspondência:Sede di Sinpro-DF: SCS, Quadra 3, Bloco A, n°107/111 - CEP: 70.300-500 - Brasília-DF.A/C da Secretaria de ImprensaFax: 218-5631e-mail: [email protected]

A caminhada da orien-tação Educacional eviden-cia avanços e recuos, aexemplo do que ocorre comtantas outras categorias.Sendo assim, entre os Ori-entadores sempre houveprofissionais com a atuaçãovoltada para atender a in-teresses definidos pelo po-der político-econômico eou-tros voltados para questio-nar e avançar sua práxis emrelação aos paradigmas deeducação vigentes.

A Orientação Educaci-onal no Brasil, que teve iní-cio em 1924, centrou–se naorientação profissional paraatender às necessidades dapolítica educacional daque-le momento - que se volta-va para a formação demão-de-obra especializada,decorrente dos imperativosda revolução industrialemergente no país. E aindaatravessou muitas décadasem que, para uma grandemaioria, ela seria responsá-vel para resolver ou soluci-onar “problemas” de con-dutas e comportamento dascrianças ou dos jovens.

Na organização e movi-mentos dos Orientadores,entre vários congressos eencontros regionais e naci-onais, em 1979, no VII Con-

gresso Nacional em Belém,se afirmou o marco dasmudanças de visão na prá-tica da Orientação Educa-cional. Isso graças ao posi-cionamento de profissionais,atuantes e comprometidoscom o processo de demo-cratização do país. Foi apre-sentando a proposta de umaOrientação Educacional ar-ticulada com os movimen-tos populares e sociais, oque evidenciou-se, de for-ma mais concreta, o con-fronto, existente até hojeentre os profissionais daeducação com uma tendên-cia progressista e uma ten-dência conservadora naprática educativa.

O Orientador Educaci-onal, como profissional daEscola, sempre foi sujeito eobjeto de reflexões, a res-peito de seu papel comoagente educativo na esco-la, o que certamente incen-tivou significativas mudan-ças em sua formação e suaspráticas.

Hoje acreditamos e tra-balhamos por uma orienta-ção que realize suas ativi-dades, não de forma setori-zada, mas interdisciplinar.não desvinculada, mas arti-culada com os diversos pro-fissionais da escola e não

fragmentada, mas na pers-pectiva da construção deredes sociais através deparcerias sociais e comuni-tárias estabelecidas, tendocomo eixo principal o cará-ter político pedagógico daescola.

Fica evidente que a re-alização e a efetividade daação do orientador educa-cional, como de todos osdemais profissionais da Es-cola Pública, tem sua efeti-vidade na articulação e noempoderamento do(s)coletivo(s), tanto no âmbitodas relações estabelecidasno interior da escola como,especialmente, no âmbitodos movimentos sociaispara a afirmação da luta eda unificação dos trabalha-dores em torno da defesada Escola Pública com qua-lidade social, para todos!!

É preciso reconhecerque mesmo diante dos sig-nificativos avanços políticose sociais que envolvem ocontexto social e educacio-nal, ainda há muito a se re-alizar e (re)fletir para avan-çarmos efetivamente, espe-cialmente no campo daspolíticas educacionais que

ignoram ou adiam priorida-des essenciais, como porexemplo: a própria valoriza-ção social e econômica dosprofissionais da educação,a gestão democrática au-têntica, a ampliação de re-cursos públicos para a con-tratação de profissionaisnecessários à realização dosprojetos educativos, a extin-ção dos excessos burocrá-ticos impostos ao trabalhoda equipe escolar - aindaque uma educação maishumanitária e cidadã sejaassumida em tantos discur-sos e orientações oficiais.

Parabéns a todos os ori-entadores educacionais, tra-balhadores da educação,pela contribuição cotidiana,pela diferença assumida,pelo reconhecimento dosdesafios e desacertos, pe-las esperanças compartilha-das, pelas conquistas histó-ricas garantidas por aque-les que acreditaram e sesomaram nos movimentossociais pela garantia daeducação pública como de-ver do estado e direito fun-damental do ser humano.

Nosso profundo reco-nhecimento.

Lúcia Santis e Luciana Leite4 de dezembro , Dia do Orientador Educacional

O novo Quadro Ne-gro manterá a tradição doantigo jornal e terá umespaço aberto para osprofessores se manifesta-rem. É um espaço da ca-tegoria, a ser ocupadopela própria categoria.Também serão bem vin-das contribuições de ou-tros leitores, mas com aprioridade para os profis-sionais de educação doDistrito Federal.

Desta forma, solicita-mos às companheiras eaos companheiros queenviem suas colabora-ções para o endereço, ofax e o e-mail abaixo. Es-clarecemos que o Conse-lho Editorial se resguar-da o direito de reduzir ascorrespondências, demodo a garantir uma mai-or participação de todos.

Nossa prioridade égarantir a maior participa-ção possível, de formademocrática, resguardan-

do os princípios da cate-goria e da nossa entida-de.

As publicações de-vem ser enviadas até odia 10 de cada mês, paraserem publicadas na pró-xima edição, com identi-ficação completa do sig-natário. O espaço a serutilizado dependerá donúmero de correspon-dências e da pauta daprópria edição, já quecada uma possuirá ca-racterísticas diferentesdas outras. As cartas de-verão ser encaminhadascom identificação do au-tor e telefone para con-tato. Esperamos contarcom a colaboração detodos, certos de que odebate, as denúncias, osesclarecimentos e as in-formações são instru-mentos de fortalecimen-to da nossa luta e do nos-so aprendizado enquantocidadãos.

Como você já reparou,o Quadro Negro mudou. Éum novo jornal, mesmocom seus 25 anos de exis-tência.

A mudança faz parte daspropostas apresentadasquando da eleição da novadiretoria do Sindicato, pri-meiro semestre desteano. É uma mudançapara atender aos anseiosdos professores, na bus-ca de estimular o debatesobre temas presentesem nosso dia a dia.

Para chegarmos a estenovo jornal foram realiza-das várias reuniões e deba-tes para definir a linha edi-torial, as característicasgráficas, o enfoque dasmatérias. Esperamos quea publicação atenda a ex-pectativa dos profissionaisde educação do DistritoFederal.

A manchete desta edi-ção, “É assim que se des-trói o ensino público no DF”não surgiu à toa. Surgiu daexperiência dos professo-res, da sua vivência nas sa-las de aula, da busca porinformações, da luta de

cada dia para melhorar aeducação. Surgiu da inope-rância do atual GDF, queapesar da forte propagan-da vem destruindo o ensinopúblico. O tratamento dis-pensado aos educadores,que todos nós sentimos napele, é bem ilustrativo.

O projeto desenvolvidopor dois professores paraagilizar o diário de classe,que não foi encampado pelaSecretaria de Educaçãooutra matéria que publica-mos, para deixar bem claroque temos contribuiçõesimportantes para dar, msque infelizmente não somosouvidos. O GDF é contra agestão democrática. Porisso mesmo, você verá umaentrevista com o deputadofederal Carlos Abicalil, ex-presidente da Confedera-ção Nacional dos Trabalha-dores em Educação e pre-sidente da Comissão deEducação da Câmara dosDeputados. Abicalil faz arelação entre democratiza-ção do Estado, da socieda-de brasileira e do ensino,demonstrando a necessida-de da gestão democrática.

Como entidade sindical,entretanto, não deixamosnossa luta de lado. Reafir-mamos nossa campanhasalarial em um pequeno re-trospecto e apontamos parauma greve por tempo inde-terminado no início do pró-ximo semestre, caso o go-verno continue intransigen-te, sem negociar nossas rei-vindicações.

Também a educação emnível nacional faz parte dasnossas preocupações. Nes-se sentido, publicamos ma-téria sobre o Fundeb –Fundo Nacional de Manu-tenção e Desenvolvimen-to da Educação Básica eValorização dos Trabalha-dores na Educação, cujoprojeto foi entregue peloministro da Educação Tar-so Genro, ao presidente daRepública no início de de-zembro.

O novo Quadro Ne-gro vem no na véspera de2005, com a esperança decontribuir para as mudançassubstanciais que a educa-ção no DF tanto necessita.

Boa leitura!

Um novo jornal

Ediorial

Page 3: 14/16/2004-DR/BSB O ensino pœblico sofre no Distrito Federal€¦ · formação docente. Página 3 O atendimento mØdico do SAMO deixa a desejar, com longas filas de espera Pesquisa

Porque prescindirdesse patrimônio?

D e b a t e

Um estudo sobre a pro-dução acadêmica acercada formação de professorno Brasil, na década de 90,revelou um dado interes-sante: 76% das disserta-ções e teses tratam da for-mação inicial e, desse quan-titativo, 40% têm como ob-jeto o curso normal e 9% ocurso de pedagogia. 1

No caso do Distrito Fe-deral acreditamos que o in-teresse da academia poresse curso está relaciona-do, em parte, com os conhe-cimentos acumulados nasescolas normais relativos aocotidiano das escolas clas-ses, ao desenvolvimento demetodologias para o ensinofundamental e aos movi-mentos sociais. Trata-se deum patrimônio pedagógicoconsiderável que tem ser-vido como fonte de diver-sas pesquisas e como pon-to de partida para o empre-endimento de vários proje-tos em parceria com as uni-versidades.

Um patrimônio que nãopode ser simplesmente jo-

tivo de seus cursistas. Cur-sistas que, cumpre-nos res-saltar, são professores queestão em sala de aula e quepassaram todos por um cur-so normal de nível médio.

Não obstante as razõespedagógicas acima, o cur-so normal deve continuartambém devido a uma ra-zão estratégica muito bemilustrada pelo seguinte de-poimento:

“Fiz escola normal antesde fazer peda-gogia. Confessoque fui fazereste curso semestar muito vo-cacionada paraisto, mas a mi-nha mãe insistiumuito para queeu tivesse umaprofissão omais cedo pos-sível. Atribuo o

meu gosto pelo magistérioà escola normal e a algunsprofessores muito importan-tes no primário e no giná-sio, que serviram como re-ferência”. 3

A resposta da professo-ra à pergunta porque esco-lheu o magistério nos fazlembrar uma outra funçãodestacada pelo Conselho

Nacional de Educação, ain-da exercida plenamentepelo Curso Normal de nívelmédio: conquistar candida-tos para as licenciaturas.

Na rede pública do DFinúmeros são os professo-res de áreas especificas queingressaram na carreira demagistério atuando de 1ª à4ª série. Profis-sionais que fize-ram opção poraquela carreira,ainda jovens, nasescolas normais.Provavelmente,muitos deles nãoestariam atual-mente exercen-do o magistériose não tivesseminiciado seu itinerário for-mativo lá no curso normal.

Sabemos que, hoje, umdos principais problemas daeducação brasileira é a fal-ta de professores licencia-dos para as disciplinas es-pecificas. Por isso, cabe porfim indagar: será que essasituação talvez não se agra-ve ainda mais nos próximosanos, com o fim das esco-las normais?

* Professora e coorde-nadora do laboratório de

informática da EscolaNormal de Ceilândia. Es-pecialista em Administra-ção Escolar.

** Professor da Esco-la Normal de Ceilândia edo Centro de Ensino Mé-dio 02 de Ceilândia. Mes-tre em Sociologia pelaUnB.

1 Andre, Marlie outros. Esta-do da Arte daFormação dePro fesso resno Brasil. In:www.scielo.br.2 Equivoco de-montrado peloParecer 03/

2003, CEB/CNE. Inclusive,em razão desse Parecer,governos de diversos Esta-dos, (Alagoas, Ceará, Goi-ás, Santa Catarina e Tocan-tins Rio de Janeiro, RioGrande do Norte, Rio Gran-de do Sul e Sergipe resol-veram manter ou em algunscasos, reativar as escolasnormais, a partir de 2004.Portanto, a decisão relativaao destino do curso normalaqui ou em outra unidade daFederação decorre da im-plementação de uma políti-

ca de governo e não de umadeterminação legal, comoafirmam as autoridades lo-cais. Até porque não acre-ditamos que os Estados es-tariam deliberadamente fe-rindo Lei. Aliás, ao contrá-rio, vejamos o que afirma ogoverno de Santa Catarina:“nesse sentido, esta Se-cretaria de Estado, sem-pre preocupada em aten-der o preconizado na Leie atender, sempre quepossível, os interesses dosprofissionais da Educa-ção de Santa Catarina, nomês de dezembro de 2003tornou sem-efeito a CI048/2003. Assim, passoua autorizar as UnidadesEscolares do Estado, comestrutura física e quadrode pessoal devidamentehabilitado e qualificado aoferecerem o Curso demagistério com Habilita-ção em Educação Infan-til e Séries Iniciais, a par-tir de 2004”.3 3 Entrevista à RevistaNova Escola, maio 2004. 4 Maria Beatriz Luce –Professora Titular da Uni-versidade Federal do RioGrande do Sul – depoimen-to ao sitewww.universia.net

A escola não é cartório

Cleovane Raimunda de Souza*

Mário Bispo dos Santos**

Quando da aprovaçãoda Lei de Diretrizes e Ba-ses, lecionava em escolaspúblicas de Taguatinga e fuiencarregado de discutircom alunos concluintes daoitava série as mudançastrazidas por ela para a vidaescolar da juventude.

Lembro-me que umadas questões mais recorren-tes em minhas conversascom os alunos referiam-seàs suas dúvidas de ser ounão conveniente a presta-ção dos exames classifica-tórios para o curso normal.Fui sempre direto e incisi-vo. Prestem os exames e naconclusão do curso, o mer-cado de trabalho lhes mos-trará que a profissão nãoexiste mais. Penso que delá para cá, o tempo e a his-tória só confirmaram certasminhas afirmações.

O resgate de um debatesuperado no governo doprofessor Cristovan Buar-que só se explica pela aver-são da escola às mudançasda história e para dar sobre-vida ao curso.

Não há como negar ogrande avanço que repre-senta a separação do Ensi-

nunca antes imaginada, sãoquase inatingíveis as exi-gências do mercado de tra-balho. Profissionais comformação superior, por ex-clusiva necessidade de so-brevivência, sujeitam-se aocupações informais, asmais desprestigiadas. Pro-fessores graduados e expe-

rientes fazemconcessões detoda ordem e,muitas vezes,até transigemcom suas con-vicção para ga-rantir o empre-go. Nessa rea-lidade, temosque aceitar queas oportunida-des para os nor-

malistas tendem a zero.Aprendemos com o pro-

fessor Demerval Savianique a função prioritária daescola é a produção do co-nhecimento e a socializaçãodo saber elaborado e istocria intransponível incom-patibilidade entre discurso eprática dos tantos que de-fendem o Curso Normal etambém uma educação dequalidade. Qualidade deensino depende certamen-te de muitos fatores, masacima de tudo de formaçãocientífica, política e filosó-fica seguras e consistentes,

impossíveis de serem atin-gidas só com a educaçãobásica.

Se o avanço tecnológi-co é filho do conhecimentoe a escola agência de pro-dução do saber, esta exigi-rá cada vez mais formaçãotécnico-científica e compe-tência profissional consoli-dadas de seus mestres.Nesse quadro, temos queadmitir que o curso normalperdeu suas funções, poistais conquistas não habitamo tempo de um jovem estu-dante do Ensino Médio.Hoje, não há no mercado detrabalho lugar para profis-sionais desconectados daquase histérica,mas inexorávelbusca de avan-ço tecnológico.

Em 1998existiam 11 cur-sos normais emfuncionamentono Distrito Fe-deral, formandomais de milprofissionaispor ano. Em1999 havia mais de 19 milprofessores normalistas de-sempregados, inscritos nareserva técnica da RedePública. No mesmo ano, arelação entre vagas ofere-cidas pelos concursos públi-cos da Secretaria de Edu-

cação e o número de can-didatos inscritos atingiuuma média quase duas ve-zes superior à dos cursosmais concorridos da UNBe o concurso para a contra-tação temporária daqueleano atingiu a 300 candida-tos por vaga.

Num quadro comoeste, não pode haver coe-rência no discurso políticoem defesa da cidadania ede um curso com tal de-sempenho. A escola nãoavalia o momento crucialem que um jovem que in-vestiu tantos recursos dojá minguado orçamentofamiliar e pelo menos qua-

tro anos de suavida numa ba-talha que exi-ge sempre arenúncia atudo o que nãoé currículo,para chegar aisso. Não podeser razoável, aquase indolên-cia da escolana aceitação

da grotesca negação deoportunidades, que roubado jovem o acalentado so-nho de ascensão social.Sonho que ele não sonhasó, sonha com toda a fa-mília.

Diante disso, estou ab-

solutamente convencidode que em poucas vezesfui tão útil como educadordo que quando desenco-rajei aqueles jovens a in-gressarem no curso nor-mal e, já era aquele tem-po, demasiado tarde parase acabar com ele.

As mudanças de pa-radigmas surgidas desdeo final do século passa-do dividiram a socieda-de em duas gerações, acivilização tecnológicae a não tecno lóg ica .Não é à toa que se falatanto em inclusão e ex-clusão cultural, tecno-lógica, digital, social,econômica etc.

A extinção do CursoNormal é uma condição“sine qua non”, não sópara a melhoria do ensi-no brasileiro, mas acimade tudo o é para garan-tir dignidade e ascensãosocial ao povo brasileiro.Neste novo milênio, não hácomo negar que ele é umfator que limita e inibe o de-senvolvimento, tanto do es-tudante quanto do educa-dor, sobretudo dos menosfavorecidos.

* Professor aposenta-do da Secretaria de Edu-cação e pesquisador emeducação

Omar dos Santos*

Diante disso,estou

absolutamenteconvencido deque em poucasvezes, fui tão

útil comoeducador

Diante disso,estou

absolutamenteconvencido deque em poucasvezes, fui tão

útil comoeducador

no Profissionalizante e Edu-cação Básica consagradana nova Lei. Os educado-res sabemos quão prejudi-cial foi para todo o ensino aanomalia per-petrada pelaLei 5.692/71,que impondo àescola a duplatarefa de darformação gerale, concomitan-temente, pro-fissionalizar ocidadão, aca-bou por com-prometer asduas funções. Diante do fra-casso restou a ela o exercí-cio de uma função mera-mente cartorial de certifica-ção. Nesta perspectiva, asalterações na legislação jáconsolidadas e outras anun-ciadas representam enormeretrocesso no texto original.Estamos voltando à escoladual, uma que forma os di-rigentes e outra que formaos dirigidos.

Nesses tempos em quea globalização do desem-prego e o aumento do exér-cito reserva de mão-de-obra atingem intensidade,

Diante disso,estou

absolutamenteconvencido deque em poucasvezes, fui tão

útil comoeducador

gado fora, a partir de umainterpretação equivocadada Lei de Diretrizes e Ba-ses da Educação. 2 Por isso,indagamos: por que prescin-dir das escolas normais e dopatrimônio pedagógico queacumularam? Por que nãoaproveitá-lo e criar condi-ções para queessas escolassejam tambémcentros de for-mação continua-da, como apon-ta o ConselhoNacional deEducação? Porque não se pen-sar sobre as pos-sibilidades deuma formaçãode professor que considereo conhecimento acumuladonas escolas nornício de Es-colarização, curso desenvol-vido pela Universidade deBrasília em convênio coma Secretaria de Educação.Um curso de reconhecidaqualidade, com uma finaarticulação entre teoria eprática e “feedback” posi-

Diante disso,estou

absolutamenteconvencido deque em poucasvezes, fui tão

útil comoeducador

As escolas normais devemcontinuar a formar professores?

3Dezembro/2004

S I M

NÃO

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Manchete

É assim que se destrói o ensin

Não é de hoje na verdade. Esse é um processo quecomeçou a partir da ditadura, e, salvo honrosas e ra-ras exceções, foi muito bem conduzido por vários go-vernos do Distrito Federal. Também é verdade que odesmonte da educação pública nunca foi tão evidentequanto no momento atual.

Há indícios preocupantes de que está em curso umaestratégia deliberada para relegar a escola pública auma condição de “benesse social” para os pobres, aoinvés de um direito de qualquer cidadão e um dever doEstado. A elite e a classe média brasiliense preferemfechar os olhos a essa realidade, ajudando a enrique-cer os donos de escola, que no país só perdem para osbancos em termos de lucratividade.

São fechados cursos supletivos e de ensino médiopara permitir que a escola privada da esquina arreba-nhe os seus alunos. Escolas são derrubadas em áreascarentes, professores são afastados porque defendema participação da comunidade em sua gestão.

Não tivemos muito trabalho para fazer esse breveapanhado da forma como se “cuida” do ensino públi-co no DF. Pelo contrário, tivemos dificuldade em ele-ger alguns dos vários problemas que nos chegam to-dos os dias no Sindicato.

As fotos valem mais do que muitas palavras....Refletirsobre o que relatamos a seguir é tarefa de todos nós, pro-fessores, vítimas deste descaso.

A Educação de Jovens e Adultos está em seusmomentos finais na rede pública de ensino. Em 2001,o número de alunos matriculados no EJA era de92.912. Em 2002 baixou para 16.757. De acordo coma Secretaria, a diferença está sendo atendida de for-ma indireta, ou seja, com ensino a distância e semi-presencial. O estranho é que o número de professo-res diminuiu pouco, de 2.692 para 2.619, que aten-dem tanto os regularmente matriculados quando osde maneira indireta.

Diretores e diretoras: quemtêm �amigos�, têm mérito

Educação de Jovens eAdultos ameaçada

Alunos do CEM 05 lutam contraafastamento de professores

Precarização do ensino público:estratégia deliberada no DF

Outra grande ameaça às escolas públicas do DFé a diminuição do espaço previsto para as suas insta-lações. Foi assim no Centro de Ensino Médio 06 deTaguatinga, que perdeu 80% do seu espaço para aconstrução do Atacadão Extra. O GDF cedeu o ter-reno à Terracap, que depois o vendeu ao grupo em-presarial.

Na verdade o que eles chamam de “espaços oci-osos” são áreas abandonadas por total falta de umapolítica de investimentos no setor. No CEM 06 porexemplo, poderia ter sido construído um ginásio, umabiblioteca ou auditório, que beneficiariam a toda umacomunidade carente de espaços públicos de lazer econvivência. Mas não, aceitamos como natural queum espaço de escola seja transformado em centrode consumo.

E quem viver, verá... Estão de olho em outrosespaços nobres na cidade ocupados por escolas. AEIT e o Cemab que se cuidem... e mais uma vez,como Maiakovski, teremos que dizer que não pode-remos fazer nada, porque não fizemos nada.

Espaços �ociosos�ou abandonados?

4 Dezembro/2004

Faltam vagas,mas escolas são

demolidasEnquanto faltam vagas no ensino público, escolas são

sumariamente demolidas. Essa é a realidade das escolasclasse 53 da expansão do setor O e 51 do Recanto dasEmas (fotos acima). Foram colocadas abaixo, literalmen-te, enquanto as crianças têm que estudar em locais dis-tantes. Qual a justificativa para tal ato?

Uma das grandes defesas do arremedo de gestãodemocrática inventada pela então secretária, EuridesBrito, em 1999, é de que o concurso para diretorprivilegiaria a meritocracia. Hoje, nem mesmo essapseudo-gestão é exercitada nas escolas. Caboseleitorais, amigos e amigas são nomeados à revelia dacomunidade escolar.

As direções são exercidas com a preocupaçãoprimeira de agradar a quem fez a nomeação. Quemquestiona a condução do processo pedagógico éremovido, projetos inovadores são proibidos,professores se esforçam para superar oconservadorismo, mas esbarram em barreirasinvisíveis, erguidas por quem não tem qualquercompromisso com uma educação de qualidade.

Incomodada com aorganização e integraçãode alunos e professores, adireção do Centro de En-sino Médio 05 de Ceilân-dia (CEM 05) afastou ar-bitrariamente oito profes-sores. A justificativa foi deque eles ‘questionavam’muito e não serviam aosinteresses da escola.

Na verdade a tentativafoi de investir contra a or-ganização e participaçãonaquela instituição, que vi-veu a experiência da ges-tão democrática com dire-tores eleitos e cuja comuni-dade escolar estava acos-tumada a discutir os rumosda escola.

Redução de turmas, fe-chamento de escolas, ex-tinção de turnos inteiros. Adesculpa, pasmem, é a di-minuição da demanda porvagas. Alguma coisa deveestar errada nos númerosda Secretaria, se é que elesexistem. Em 2000 a popu-

Diminuição dedemanda, onde?

lação do DF era de poucomais 1,8 milhão de pesso-as. Em 2004, de acordo es-timativa do IBGE, a popu-lação somava 2,246 mi-lhões, um acréscimo de23,27%, 424 mil pessoas amais. Significa mais do quea população da Ceilândia,

que hoje soma mais de 333mil habitantes. Isso semcontar a população do en-torno, que necessita dasescolas do DF.

Será que o aumentodessa população não setraduziu na procura pormais vagas nas escolas

públicas? Temos informa-ções por exemplo de queno caso da EIT e do Ce-mab, duas das escolasmais tradicionais de Ta-guatinga, há uma inten-sa demanda, mas elesnem sequer abriram no-vas vagas.

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no público no Distrito Federal

Namo: humilhação e dor

Onde não há escolas,as prisões ficam lotadas

Nem uma, nem duasvezes a anterior e a atualsecretária proclamaram sero ensino do DF o melhor ouum dos melhores do país.Evidentemente que ao dis-curso elas não juntaramdados que comprovem oque falam. Em 2003, um

Desempenho escolar assustateste verificador de domíniomatemático com 165 alunose de domínio da Língua Por-tuguesa com 215 alunos de3ª série do ensino médiomostram as deficiênciasacumuladas dos estudantes.Os resultados, colhidos poramostragem, estão no grá-

Os professores são hojeuma das categorias quemais adoecem por motivosprofissionais. Em recentepesquisa a CNTE consta-tou que mais de 50% recla-mam de estresse, dores va-

riadas, depressão, sensaçãode inutilidade.

Mas para a Secretariade Educação isso é “fres-cura”! Além de prestar umatendimento totalmente de-ficiente no Namo, local onde

Em 2002 havia 300 in-ternos no Caje (Centro deAtendimento Juvenil Espe-cializado). Em 2003 essenúmero subiu para 444, umaumento de 48% em ape-nas um ano. É sintomáticoque ao mesmo tempo emque se destrói o ensino pú-blico o número de internoscresça tanto. Ou seja, se aescola não cumpre o seupapel, a solução é a “políti-ca compensatória” da inter-nação sócio-educativa, quede educativa não tem nada.

Claro que há outras va-riáveis sócioeconomicas,mas não há dúvida de queuma educação de qualida-de e inclusiva poderia re-verter esse processo. Cur-sistas que, cumpre-nos res-saltar, são professores que

5Dezembro/2004

estão em sala de aula e quepassaram todos por um cur-so normal de nível médio.

No âmbito federal ve-mos situação semelhante,com números impressonan-tes, que demonstram aimortância da edcuação.

A situação chegou a talponto que nos presídios oíndice de jovens é altíssimo:cerca de 70% dos presostêm idade entre 18 e 25 anos.Nossa juventude está sendoabsorvida pelo crime. Dadocurioso, entretanto, é que quan-do os apenados estudam naprisão e conseguem concluir ocurso superior seu índice de rein-cidência é zero. Uma clara de-monstração da educação parao ser humano, que precisa servalorizada para alcançarmosa verdadeira cidadania.

os professores se sentemhumilhados em um momen-to de dor, não estabelecequalquer política de saúdepreventiva, apesar de todasas tentativas do Sinpro deiniciar uma discussão.

fico ao lado. Temos a cer-teza de que se fosse feitauma pesquisa completa,em toda a rede de ensinoconstataríamos a mesmasituação.Não devemos nosenganar. Isso é parte dapolítica de precarização doensino público no DF

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Gestão democrática nas escolas fazparte da democratização do Estado

E n t r e v i s t a

QuadroNegro – É possí-vel dissociar sua atuaçãopolítica das lutas sindicaisda Educação?Abicalil – Acredito que é umvínculo do qual eu não te-nho condições de me sepa-rar. Eu me filiei ao sindicatoassim que tomei posse naescola, toda a minha atua-ção política foi construída nocenário do debate educaci-onal. No Mato Grosso, o Sin-dicato dos Trabalhadores naEducação possui mais filia-dos que o Partido dos Tra-balhadores. Apesar de mili-tar desde os 16 anos nosmovimentos sociais, acredi-to que a capilaridade domovimento sindical contri-buiu e muito para a conquis-ta de nossa representaçãoparlamentar.

QN – Na sua opinião,qual a relação entre par-ticipação política e pro-cesso educacional?Abicalil - A questão da de-mocracia é fundamento danossa organização em nos-so sindicato e fundamentoda nossa formação comomembro do magistério. Nãohá educação que não seja dealgum modo alteração daspessoas e das relações. Senão houver isso você estaráfazendo no máximo um tipode transferência de informa-ção, mas não está fazendoprocesso educativo.

Nós que fomos formadosnos anos 80 e 70, envolvi-dos na retomada da partici-pação popular,que militamosem movimentosculturais, deigreja, da juven-tude, acredita-mos que a de-mocracia é umtema constituti-vo do processoeducativo. Atéporque vivemosum período de dificuldadesimensas de expressão emanifestação, é fundamen-tal, como diz o hino da CUT- Central Única dos Traba-lhadores - organizar a espe-rança.

Na medida em que a so-ciedade vai forçando a de-mocratização do Estado –porque nunca foi por inicia-tiva do Estado que ele se de-mocratizou, sempre foi pelo

movimento da sociedade ci-vil – há um forte movimentopor democracia nas escolas.A comunidade escolar co-meça a cobrar o exercíciodo princípio democrático noprocesso educativo. Por issoo tema da democracia éconstitutivo do processoeducativo enquanto matrizde atividade profissional eao mesmo tempo de proces-so político.

QN – Neste contexto éque começa a surgir o de-bate da gestão democrá-ticas nas escolas?Abicalil - A sociedade co-meça a entender que umprocesso educativo que nãoexercita esse princípio demo-crático em todas as suas ins-tâncias, desde aquilo que é“menor”, como a organiza-ção das turmas, até o níveldos conselhos normativos,estará dificultando o proces-so de participação democrá-tica e por conseqüência com-prometendo a democratiza-ção do Estado como umtodo.

Ainda na década de 80pegamos o mote das Dire-tas Já para fazer a disputapelas eleições diretas nasescolas. O movimento sin-dical entende que não háprocesso administrativo maisconseqüente para a respon-sabilização do serviço edu-cacional que o pacto feitopor meio da eleição direta.Não há, e desafio quemmostre o contrário. Isso éevidência.

Pesquisas ofi-ciais feitas peloSaeb e pelo Inep,por exemplo, de-tectam que ondehá processo de-mocratizado degestão e, funda-mentalmente,naqueles onde épermitido o de-bate sobre o pro-

jeto político-pedagógico daescola – e uma coisa estáintrinsecamente ligada a ou-tra – o resultado educacio-nal é bem mais positivo doque os apresentados pelosestabelecimentos em queesse processo não existe. Apesquisa da CNTE sobre asaúde do trabalhador emeducação também demons-tra isso com clareza: até paraa saúde mental dos profissi-

onais da educação na ges-tão democrática é positiva.

QN – Se é assim por queainda há tantas resistên-cias do poder público àgestão democrática?Abicalil – Infelizmente, con-tra os benefícios evidentesda gestão democrática ain-da há uma visão de Estadoque entende que tempo degoverno deve ser maior quea relação Estado e socieda-de. Em função disso, muitosgovernantes entendem quedentro do processo escolartambém cabe a relação deconfiança, que no caso bra-sileiro, resvala para o com-padrio e para o patrimonia-lismo. Ou seja, tomado ogoverno por via de eleiçãopor quatro anos todas as es-feras do Estado passariama ser de propriedade do gru-po que ganhou, como sehouvesse a possibilidade deapagamento das diferenças,como se todas as disputas,inclusive no ambiente daqui-lo que é aquisição ou garan-tia de direitos, pudessem de-saparecer por quatro anos,o que é falso. Isso tem re-sultado em um tensiona-mento cada vez maior em

relação à participação nosrumos da escola, o que é fru-to de uma cegueira dos quenão entendem a gestão de-mocrática como melhoria donível de responsabilidade naexecução da tarefa educa-cional.

QN – Por que não se de-finiu claramente a eleiçãodireta no texto da LDB?Abicalil – Durante a trami-tação da LDB essa discus-são foi levantada exaustiva-mente. Isso não ocorreu emfunção de uma consideraçãoda época, ainda presentehoje, de que definir em leifederal um processo de de-mocratização da gestão noâmbito dos estados e muni-cípios seria ferir o princípioda autonomia federativa. Oengraçado é que essa justi-ficativa serve para a educa-ção, mas não serve para asaúde, pois o SUS - SistemaÚnico de Saúde - prevê con-selho com representaçãoparitária e eleição direta,tudo regulado por lei fede-ral.

Além do poder de pres-são do setor privado, a cons-tituição descentralizada dosistema de ensino remontaao Império, o que não acon-teceu com outras áreas deação governamental. Essa

carga do passado é muitoforte, é o que chamo de pa-trimonialismo do Estado. Co-meçamos o processo deocupação do Brasil por ca-pitanias hereditárias, a Co-roa determinava os herdei-ros de pedaçosdos Brasil. Aindahoje permaneceessa visão, queestá mudando,mais lentamentedo que gostaría-mos.

QN – Comotem se dadoessa mudança?Abicalil - Sempre pela lutaorganizada, no caso da es-cola pública dos profissio-nais da educação e das ca-madas populares. Agora, te-mos o deságio do ensinomédio, é a primeira vez em180 anos de República queas categorias populares es-tão alcançando a conclusãodo ensino médio e por isso ademanda por expandir aoportunidade de educaçãoprofissional técnica e paraexpandir o ensino médio e oensino superior é muito gran-de.

No caso da eleição dire-

ta para diretor e gestão de-mocrática, de maneira con-traditória, o Supremo Tribu-nal Federal (STF) concedeuliminar, sem decisão de mé-rito, sobre leis municipais eestaduais que regulam aquestão, combase em doisprincípios, o pri-meiro como ví-cio de iniciativa,ou seja, o STFentende queuma lei dessanão pode ter ori-gem no Legisla-tivo, e o segun-do é que não hálei federal regu-lando o artigo daConstituição quefala da gestãodemocrática doensino na formada lei.

Isso é con-traditório, por-que aqueles queargúem que es-taremos ferindo um princí-pio federativo ou que a Câ-mara não teria competên-cia para ter iniciativa, estãoambos ferindo outro princi-pio que é lei federal quedeve regulamentar. Comose vê a discussão é polêmi-ca, compete a nós refletirqual o papel do Legislativo

nesse processo.Conseguimos aprovar

na Comissão de Educaçãouma alteração da LDB queprevê, não obriga, a eleiçãodireta como um dos méto-dos de realização da gestão

democrát ica.Se não fossefeito um exercí-cio muito gran-de de negocia-ção esse proje-to não teria sidoaprovado naComissão deE d u c a ç ã o .Hoje está naComissão de

Constituição e Justiça.

QN – Como está essadiscussão hoje?Abicalil - Diante da argu-mentação que levantamos oplenário da Comissão deEducação teve de alterar asua fundamentação. Entãoo problema não foi mais seera constitucional ou incons-titucional, era de que manei-ra nominar na lei a situaçãode diretores eleitos que nãoexercem função de confian-ça, porque todo o termo doprojeto que analisamos es-tava orientado para exercí-

cio de cargo comissionado.Cargo comissionado é

função de confiança, entãohá um debate de que paraacontecer a transição paraum regime de democratiza-ção por processo eletivo,

deve se abando-nar o conceitode que diretorde escola temfunção comissi-onada ou cargocomissionado.

Essa análisetem outras con-seqüências so-bre as carreiras,sobre os estatu-tos, em funçãode que nos des-colará de umafunção tradicio-nal, que paranossa categoriaé importante de-bater, pois co-mumente o sen-so comum quesempre apare-

ce é que o diretor de es-cola tem uma responsa-bilidade muito maior quequalquer outro profissio-nal da educação.

Eu me pergunto qual éa razão de uma visão des-sa? Eu pressupor que al-guém que participa do pro-cesso educativo tem uma res-

ponsabilidade menor do queum diretor de escola, signifi-ca justificar que a visão hie-rárquica que a gente tem, dediretor estar acima de coor-denador, que está acima dosupervisor, é uma visão ab-solutamente contrária à ma-triz de gestão democráticaque nós tivemos na origem.

Isso tem repercussão nacarreira, tem repercussão naaposentadoria, que é um de-bate que precisa ser feito, atéporque como cargo comissi-onado não é de agora, desde1991 não é considerado essetempo para a aposentadoriaespecial, entretanto se forfunção de magistério, função,não cargo, a tarefa de tem-porariamente dirigir um esta-belecimento até para efeitode aposentadoria passa a tercontagem de tempo comoexercício de magistério.

Isso tem outras repercus-sões remuneratórias: comojustificar um diretor que ga-nha duas três vezes mais queum professor em regência declasse? A justificativa é sem-pre por causa da responsa-bilidade maior. Eu pergunto:qual é a responsabilidademaior? Ela deve ser compar-tida, por isso é o processo

eletivo o que melhor catego-riza o compromisso comumda comunidade escolar, sejaenvolvendo profissionais queatuam naquela escola sejaalunos e pais.

Eu defendo o voto uni-versal que é outro assuntopolêmico dentro da nossa ca-tegoria. Há quem defenda ovoto qualificado, com ponde-rações distintas para professo-res, funcionários, pais e alunos.Há quem defenda o voto pari-tário para cada segmento, oequivalente a 25% da carga to-tal dos votos, mas é um temaque precisaria ser qualificado.Hoje esse projeto está na Co-missão de Constituição e Jus-tiça. Estamos alivanhando paraque ele seja aprovado de modoa possibilitar que haja eleiçãoem lei federal e há outros pro-jetos que são próprios de ges-tão democrática.

Qual o limite deles? Namaior parte dos casos essesprojetos atingem apenas arede federal de ensino, o queé um equivoco. Precisaríamoster uma regulação em lei queatingisse todas as redes de en-sino pública no país. E só po-demos conseguir isso com aalteração da LDB, porque aConstituição afirma que as di-retrizes da educação são com-petência exclusiva da União,portanto é lei federal.

Deputado federal peloPT de Mato Grosso, Car-los Abicalil, 42 anos, com-pletou 20 anos de carreirano magistério no fatídico11 de setembro. Formadoem História e Filosofia, ini-ciou sua militância comodelegado sindical na regiãode Barra do Garças (MT) edepois na direção do Sindi-cato dos Trabalhadores no Ensino Público do esta-do. Presidente por três mandatos da ConfederaçãoNacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) emembro do Conselho Executivo Mundial da Inter-nacional da Educação, defende a Educação pública,gratuita e de qualidade como saída para o combateà exclusão na sociedade brasileira. De 1988 a 1991viveu a experiência de ser diretor de escola eleito.

Nesta entrevista concedida ao Quadro Negro,explica porque considera a gestão democrática fun-damental para o processo educativo e dá um pano-rama das discussões na Comissão de Educação daCâmara dos Deputados, da qual é presidente.

Há uma visãode Estado queentende que

tempo degoverno deve ser

maior que arelação Estado e

sociedade

Não háeducação quenão seja dealgum modoalteração daspessoas e das

relações

O diretor do Sinpro Antônio Lisboa e a assessora do Sinpro com o deputado federal Carlos Abicalil

6 Dezembro/2004

O movimentosindical

entende quenão háprocesso

administrativomais

conseqüentepara a

responsabilizaçãodo serviço

educacionalque o pacto

feito por meioda eleição

direta.

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Progressão por merecimento

Dia a dia

Fundo Constitucionalalcançará R$ 4,45 bi

B e n e f í c i o s

P e r m u t a s

O governo federal cor-rigiu o Fundo Constitucionaldo Distrito Federal para opróximo ano em 11,89% emrelação a 2004. Assim, osrecursos que o GDF recebeueste ano, R$ 3,95 bilhões, pas-sarão para R$ 4,45 bilhões.

A progressão por mere-cimento foi regulamentadapela Secretaria de Educa-ção no final de agosto, con-forme estava previsto noplano de carreira.

Pela portaria, para pro-gredir para a 3ª, 5ª e 7ª eta-pas do plano de carreira –correspondentes a 2.190,4.380 e 6.470 dias efetivosde trabalho – o professorterá que apresentar 30 pon-tos, distribuídos da seguin-te forma:

- 18 pontos de Ciclo Bá-sico Obrigatório, represen-tados por curso de no míni-

mo, 180 horas aulas feitos naEAPE ou em instituição re-conhecida de ensino;

- 12 pontos do CicloComplementar, representa-dos por cursos diversosfeitos por instituições cre-denciadas, bem como par-ticipação em palestras, se-minários, congressos etc.,além de Regência deClasse, Interiorização eProdução Funcional.

Pelo disposto na porta-ria não ocorreram mais al-terações nas regras de pro-gressão em relação ao quejá existia.

Retrospecto da campanha salarial

No dia 5 de maio a dire-toria do Sindicato entregouà Secretaria de Educaçãoa pauta de reivindicaçõesreferente à campanha sa-larial da categoria.

Desde aquela data, aSecretaria de Educaçãoadotou uma postura de to-tal intransigência, recusan-do-se a dialogar com a Co-missão de Negociação doSinpro.

Essa postura obrigou adiretoria do Sindicato a re-alizar encontros com parla-mentares do DF no Con-gresso, com os deputadosdistritais e outras persona-lidades da política, comoforma de abrir um canal denegociação.

Ao mesmo tempo, fo-ram realizadas várias as-

sembléias, inclusive com pa-ralisações, para mobilizar acategoria e pressionar oGDF.

Depois de muita luta, fi-nalmente começaram asnegociações, ainda que insu-ficientes, já que o governose recusa a debater e a aten-der os principais pontos dapauta de reivindicações.

Depois de dois dias deplantão na Secretaria deEducação, no início de de-zembro, diretores do Sinproforam recebidos pelo secre-tário-adjunto Divino Rabeloe pela secretária de Assun-tos Sindicais, Dulce Tannu-ri. Na ocasião ficou acerta-do que os servidores que fi-zerem a reposição dos diasparados de 2004 terão direi-to a receber os valores cor-

respondentes. Foi acerta-do, ainda, que o pagamen-to do vale-transporte empecúnia será feito a partirde fevereiro de 2005, ape-sar de acordo anterior tersido firmada a data de ou-tubro deste ano.

Apesar dessas negoci-ações, a intransigência e odescaso do governo comos professores continua. Adesvalorização da educa-ção permanece como aúnica política do GDF parao setor. Em função disso,na última assembléia doano, realizada em novem-bro, a categoria apontouuma greve para o dia 8 demarço, movimento que po-derá ser por tempo indeter-minado, caso as negocia-ções não prosperem.

O senador CristovamBuarque (PT-DF) apresen-tou uma emenda que adici-ona R$ 7,5 bilhões aos re-cursos destinados à educa-ção com o objetivo de darum ”Choque Social” naeducação brasileira.

Segundo o senador, essevalor pode ser obtido coma redução de apenas 15%das despesas discricionári-as do Orçamento da Uniãopara 2005 - que totaliza R$50,4 bilhões.

A iniciativa do senador

mostra que mais recursospoderão ser aplicados naeducação, sem alterar oOrçamento na destinaçãodos recursos constitucio-nais, destinados aos esta-dos, municípios e estatais,respeitadas pela sua pro-posta.

“Uma pequena reduçãona despesa orçamentáriapossibilitaria o “Choque So-cial” que mudaria a realida-de brasileira”, ressaltou osenador.

Como alternativa Cris-

tovam Buarque tambémapresentou uma emendaque estabelece a reduçãode 6% sobre os mesmosgastos discricionários, paraque R$ 3 bilhões possam serusados para melhorar o sa-lário dos 1,8 milhão de pro-fessores do ensino básico.

As emendas apresenta-das pelo senador serão ana-lisadas, junto com as dosdemais parlamentares, pelaComissão Mista de Orça-mento até o dia 23 de de-zembro.

Aposentadoria de professortem regra diferenciada

A aposentadoria portempo de Contribuição é umbenefício de prestação con-tinuada devido ao seguradoque completa um períodomínimo de contribuição aosistema previdenciário.Têm direito a receber essaespécie de benefício todosos segurados que comple-tam o período mínimo exi-gido de contribuição. Paraos homens, esse período éde 35 anos. Para as mulhe-res, de 30 anos.

Os professores de ensi-no básico, fundamental emédio, no entanto, porquetêm uma regra diferencia-da, em que o tempo de con-tribuição mínimo é reduzi-

do em cinco anos, podempedir aposentadoria após 30anos (homens) e 25 anos(mulheres) de contribuição,desde que comprovem tem-po de efetivo exercício ex-clusivamente no magistério,ou seja, de atividade docen-te em sala de aula.

A regra diferenciadapara aposentadoria do pro-fessor está prevista no § 8ºdo artigo 201 da Constitui-ção Federal, com redaçãodada pela Emenda Consti-tucional nº 20, de 1998: “Art.201. § 8º - Os requisitos aque se refere o inciso I doparágrafo anterior serãoreduzidos em cinco anos,para o professor que com-

prove exclusivamente tem-po de efetivo exercício dasfunções de magistério naeducação infantil e no ensi-no fundamental e médio”.

A respeito da exigênciado professor comprovar aatividade desenvolvida emsala de aula, a Súmula daJurisprudência Predomi-nante do Supremo TribunalFederal definiu, em decisãoproferida em 23 de novem-bro de 2003, que “para efei-to de aposentadoria especi-al de professores, não secomputa o tempo de servi-ços prestado fora da sala deaula”.

Texto divulgado peloMinistério da Educação.

Maria Cleunice de Carvalho - Disciplina: Atividades - Escola: Gama - Para: BrazlândiaContato: 9682.7834

Maria Lucia da Fonseca - Disciplina: Português - Escola: CEF 312 Samambaia - Para:Riacho Fundo/Taguatinga (Ensino Médio) - Contato: 9967-8809 / 357-7865

Alexandre Galdino - Disciplina: Geografia - Escola: CEF Polivalente P. Piloto (40h) - Para:Sobradinho - Contato: 387-3680 / 9605-7616

Antonio Joseval - Disciplina: Atividades - Escola: EC 101 Recanto das Emas - Para:Planaltina - Contato: 814-64564

Maria Luiza C Calcagno - Disciplina: Educação Física - Escola: CEF 10 do Gama - Para:Sobradinho ou região próxima - Contato: 9557-6935

Wilda Alencar B. Xavier - Disciplina: Atividades - Escola: Ceilândia - Para: TaguatingaNorte - Contato: 475-4318 / 8114-3527

Ilson Veloso Bernardo - Disciplina: Atividades - Escola: EC 52 de Ceilândia - Para:Taguatinga, Ceilândia ou Samambaia (Noturno) - Contato: 9242-3061 / 377-659 / 376.-819 /9674-9946

Marco A. Guimarães - Disciplina: Atividades (40h) - Escola: Caic de Brazlândia - Para:Brazlândia/ Ceilândia/ Taguatinga/ Guará (Noturno, somente 20h) - Contato: 9674-9949

Luciene Trindade Souza - Disciplina: Atividades (40h) - Escola: CEF 01 Guará I - Para:Plano Piloto (Asa Sul) - Contato: 567-2920

Ediméia Ismene Camargo - Disciplina: Atividades - Escola: Jardim de Infância VI CO-MAR (P. Piloto/Cruzeiro) - Para: EJA (Noturno, de 40 para 20h) - Contato: 364-0754

Carlos Bonfim - Disciplina: Sociologia - Escola: Centrão de Planaltina (Noturno, 20h) -Para: Qualquer escola em Planaltina (Diurno, 40h) - Contato: Centrão de Planaltina, com oprofessor

Ana Clara A Peixoto - Disciplina: Atividades - Escola: EC 410 Sul - Para: jardim deInfância ou Escola Classe (ambos na Asa Sul) - Contato: 242-7276 / 9652-0089 / 242-6092

Kheelym C Alves de Oliveira - Disciplina: Atividades - Escola: EC Paraná de Planaltina- Para: Sobradinho - Contato: EC Paraná de Planaltina, com a professora

Rogério Faria - Disciplina: Ciências ou Matemática (40 h) - De Planaltina Para PlanoPiloto

Contato: 9212-0190

Márcia Regina Ribeiro - Disciplina: Atividades- Diurno 40h - Escola: EC 410 Samam-baia Norte - Para: Brazlândia, especialmente Incra 09 - Contato: 9613-2849 / 9286-9682 / 9106-5609 / 9698-9616/ 358-2255

Suzy Brandão Rocha - Disciplina: Artes - Escola: CEF 04 Guará I (20h matutino, 20hnoturno) - Para: Lago Sul ou São Sebastião - Contato: 335-0368 / 8131-8364 /382-1549 c/Marilene ou Dionísio

Atestadosdo Entornojá valem

A Secretaria de Educa-ção atendeu a pressão dosprofessores e passará aaceitar os atestados médi-cos do Entorno, da mesmaforma que os atestados doDistrito Federal.

Desde o início de agos-to a Secretaria de Saúde doSinpro vinha fazendo ges-tões junto à Secretaria deEducação para que o Ser-viço de Atendimento Mé-dico Odontológico adotas-se esse procedimento.

Os professores das es-colas particulares obtiveramimportante conquista no Tri-bunal Regional do Trabalho(TRT), que julgou o dissídiodas escolas particulares.Foram mantidas as cláusu-las do acordo anterior e con-cedido um reajuste de 100%do INPC (5,6%), mais1,36% de ganho real, retro-ativos a primeiro de maio,data-base da categoria.

Com a publicação daconvenção foram concedi-dos 10% sobre a hora-aula,a título de atividade de pla-nejamento. Foi também ofi-

cializado o recesso de 15dias no mês de julho. Outravitória é que caiu a cláusula31ª do acordo anterior: qual-quer evento ou reunião ex-tra-classe, fora da cargahorária do professor, de-verão ser remuneradoscomo hora-extra.

O Sinpro conseguiu ain-da aumentar a abrangênciade sua base, passando a re-presentar os orientadoreseducacionais, coordenado-res pedagógicos e especia-listas em educação. A ínte-gra da Convenção está dis-ponível no site do Sinpro.

O Sindicato dos Profes-sores desenvolveu uma sé-rie de atividades neste ano.Foram reuniões, debates,assembléias, atos, enfim,cumpriu seu papel de enca-minhar as lutas da categoria.

A participação dos pro-fessores aposentados nes-sas atividades é fundamen-tal para torná-las ainda maisfortes e para garantir direi-tos que são nossos e que o

Aposentados:uma força decisivana luta da categoria

Escolas semobilizamcontra asremoções

Em várias escolasocorreram mobilizaçõespara impedir a redução ouremoção das turmas, umadecisão adotada pela Se-cretaria de Educação semqualquer consulta a comu-nidade escolar. Algumasescolas, como a EC Norte409 conseguiram vitórias.No caso específico, pro-fessores, alunos, pais e au-xiliares de ensino fizerammanifestações junto à Gerên-cia Regional de Ensino e con-seguiram manter o ensinofundamental no próximo ano.

7Dezembro/2004

Tempo de contribuição é menor que os outros em cinco anos

Cristovam apresenta emenda paradar �Choque Social� na educação

GDF não quer cumprir. As-sim como foi nosso encon-tro, com a participação demais de 500 aposentados, épreciso que nas demais ati-vidades estejamos presen-tes, participando da luta danossa categoria.

Avizinha-se uma nova gre-ve para o início de março. É ahora de juntarmos nossas for-ças e colaborarmos para queo movimento seja vitorioso.

Vitória nas particulares

Todas as quartas e sex-tas-feiras o Sindicato temum espaço em um progra-ma ao vivo e sem censurana TV Bandeirantes, canal4, a partir das 13h. Esseespaço deve ser utilizadopelos professores para di-vulgação de questões de in-teresse da Educação.

Os interessados emusar o horário para divul-gar alguma agenda, even-tos, projetos pedagógicos eexperiências desenvolvidasnas escolas, podem entrarem contato com a secreta-ria de Imprensa do Sinpropelo telefone 218-5630 e fa-lar com a Lene, informandoo assunto a ser divulgado.

Esse espaço é do pro-fessor! Participe e assista,pois sempre são divulgadosassuntos do nosso interesse.

Entre esses recursos nãoestão contabilizados os va-lores repassados pelo Fun-do de Desenvolvimento doEnsino Fundamental (Fun-def), Sistema Único de Saú-de (SUS), emendas de par-lamentares etc.

Sinpro naTV: participee assista

Page 8: 14/16/2004-DR/BSB O ensino pœblico sofre no Distrito Federal€¦ · formação docente. Página 3 O atendimento mØdico do SAMO deixa a desejar, com longas filas de espera Pesquisa

C h a r g e

Educação nacional

A Proposta de EmendaConstitucional (PEC) quecria o Fundo Nacional deManutenção e Desenvolvi-mento da Educação Bási-ca e Valorização dos Tra-balhadores na Educação(Fundeb) foi entregue noúltimo dia 8 de dezembropelo ministro da Educação,Tarso Genro, ao presidenteLuiz Inácio Lula da Silva.O Fundeb substituirá o Fun-do de Manutenção e De-senvolvimento do EnsinoFundamental e de Valoriza-ção do Magistério (Fundef),que destina recursos para osmunicípios, conforme o nú-mero de alunos da rede pú-blica do ensino fundamen-tal. O novo Fundo deveráfinanciar também a educa-ção infantil, média e a dejovens e adultos. A PECestende o salário-educaçãopara toda a educação bási-ca e não só para o ensinofundamental, segundo aAgência Brasil.

Uma das principais mu-danças do Fundeb, em re-lação ao Fundef é a fontede recursos. O Fundef écomposto por 15% do totalarrecadado pelos impostose transferências: Fundo deParticipação dos Estados(FPE), Fundo de Participa-ção dos Municípios (FPM),Imposto de Circulação deMercadorias e Serviços(ICMS), Imposto sobreProdutos Industrializadosproporcional às Exporta-

ções (Iplexp) e a desone-ração das exportações pre-vista na Lei Complementarnº 87/1996 (Lei Kandir).

O Fundeb prevê a parti-cipação de 20% dos impos-tos, com exceção dos im-postos municipais (ISS,IPTU e ITBI), segundo in-formações do Ministério daEducação. De acordo coma PEC, uma proporção nãoinferior a 60% dos recursosde cada Fundo é para o pa-gamento dos professores deeducação básica em efetivoexercício no magistério. APEC prevê a reivinculaçãoprogressiva da DRU (Des-vinculação de Receitas daUnião), que hoje permite in-vestir, em outras áreas, 20%dos 18% de suas receitasdestinadas à educação. Essadesvinculação será feitanuma proporção de 25% aoano, o que significa um apor-te de recursos de cerca deR$ 1,2 bilhão anuais.

O ministro Tarso Genrotambém apresentou ante-projeto da reforma universi-tária e a proposta do Fun-deb aos membros do Con-selho de DesenvolvimentoEconômico e Social da Pre-sidência da República.Durante a exposição, o mi-nistro ressaltou a importân-cia da relação entre as duaspropostas que, segundo ele,querem garantir um ensinode qualidade. “Apresentei acentralidade da reforma ecomo se articula com a polí-

Projeto do Fundebjá foi entregue ao

PresidenteO projeto de criação do Fundo Nacional do Ensino Básico -Fundeb, já está com o presidente da República, que deverá

enviá-lo ao congresso em março do ano que vem. É um projeto definanciamento da educação infantil, média, de jovens e adultos,

que está interligado à reforma universitária

tica para Ensino Médio atra-vés do Fundeb porque, se oEnsino Médio não sofreruma absorção de recursosforte no ano que vem, a re-forma da universidade emcurto prazo se esgota”,disse.

Tarso Genro afirmouque o Conselho poderáapoiar o trabalho do MECe sugerir propostas aos pro-jetos. “Já que o conselhotem uma enorme diversida-de, pode dizer se os limitesda qualidade que estamosimpondo para que uma ins-tituição se transforme emuma universidade estão cor-retos ou não, se são muitoduros ou não”, explicou. “OConselho tem essa finalida-de, nos dizer como essa re-presentação da sociedadevê as conseqüências de re-forma do ensino médio e su-perior”, completou.

O Conselho foi implan-tado em 13 de fevereiro de2003 e tem como funçãoassessorar o Presidente daRepública na formulação depolíticas e diretrizes espe-cíficas, voltadas para um“Novo Contrato Social”. Éformado por 12 represen-tantes do governo federal e90 integrantes da socieda-de civil. Tem até 15 de fe-vereiro para apresentarsuas propostas de alteraçãoao texto original.

O projeto de criação doFundeb você encontra naíntegra no site do Ministé-rio da Educação.

“O novo é muito difícilde ser implantado”. Para oprofessor de Biologia, JoãoDomiciano, apenas issopode justificar a resistênciaà implantação do diário declasse eletrônico nas esco-las públicas do DF. Desde2003, ele e o professor deFísica, André Mendes, de-senvolvem um projeto pilo-to no Centro de EnsinoMédio da Asa Norte (Cean)que facilitaria em muito otrabalho burocrático do pro-fessor no preenchimentodas notas e desempenhodos alunos.

Demo-nos ao trabalhode fazer a conta: uma pro-fessora com 15 turmas,com 45 alunos por turma etrês avaliações por bimes-tre, terá que fazer 6.832 lan-çamentos, entre notas eapontamentos e gastaria,acredite, 189 horas e 75minutos por ano!.

Com a planilha desenvol-vida pelos professores noprograma Excell todo essetrabalho seria substancial-mente reduzido. Basta digi-tar notas e faltas, o progra-ma faz os cálculos e preen-che os outros campos, apartir dos dados iniciais doaluno, inseridos anterior-mente. “Muitos professoresdesenvolveram por iniciati-va própria alguma espéciede planilha, mas se o proje-to fosse encampado pelaSecretaria de maneira uni-forme, todos nós ganharía-mos com isso”, acreditaDomiciano.

Estatística, acesso aosdados de cada escola, tudoseria facilitado com a pla-nilha eletrônica. No caso doCean, nenhum professormostrou-se contrário ao seuuso e todas as sugestõesforam no sentido de ampli-ar as possibilidades do uso

do computador no registrodas atividades escolares. Apadronização em um siste-ma integrado com a Secre-taria de Educação permiti-ria, por exemplo que a vidaescolar do aluno passassea ter um registro único,mesmo que ele fosse trans-ferido de uma escola paraoutra.

Técnicos da Secretariachegaram a visitar a escolapara estudar a viabilidadeda proposta e gostarammuito da proposta. Mas, in-felizmente, a resistência aonovo tem impedido que aárea pedagógica aceitesua implantação. “O queé uma pena, pois hoje aSecretaria dispõe de umSistema de Gerenciamen-to da Educação que per-mitiria a integração de da-dos, utilizando este supor-te operacional”, avaliaDomiciano.

Diário eletrônico facilitariatrabalho de professores

Duas professoras daEscola Classe 16, do Gama,Marizete Ribeiro e Valmá-ria Martins há quatro anosdesenvolvem o projeto “Ne-gro que te quero SER ne-gro”, um trabalho multidis-ciplinar que culmina com oEncontro Cultural da Bele-za Negra.

As duas educadorasatacam a discriminação ra-cial no que ela tem de maishediondo: o preconceito quegera a autodepreciação, afalta de crença em si mes-mo, a negação. A professo-ra Valmária conta comotudo começou: “Desde queentrei na escola percebi queas meninas e meninos ne-gros tinham o pior rendimen-to, eram arredias, tímidas,muitas delas quase não fa-lavam. Das turmas em difi-culdade de aprendizagem,mais de 60% eram criançasnegras”.

Como mudar essa reali-

Domiciano:o medo do novo impede a adoção do diário eletrônico de classe

Projeto resgata auto-estimade crianças negras

dade? Mostrando a força ea importância dos negrospara a formação do nossopovo, acreditaram elas. Le-varam literatura infantil comtemática e personagens ne-gros, começaram a estudara história do herói Zumbidos Palmares, mostraram aimportância da música e oscientistas negros que exis-tiam no país.

Ao mesmo tempo, fa-zem dinâmicas onde os alu-nos têm que se olhar no es-pelho (alguns deles se re-cusavam a se ver) e saíramdos muros da escola. Des-cobriram que um dos meni-nos com maior dificuldadede aprendizagem era cha-mado de “macaco que nãotinha como aprender” pelospróprios familiares! Quemseguiria acreditando em simesmo dessa forma?

Levaram uma trança-deira de penteado afro paratrançar os cabelos das me-

ninas: o maior sucesso. Nodia 13 de maio, a escolaganhou uma boneca mas-cote chamada Leila (quesignifica negra como a noi-te), que toda quinta-feira vaipassar o fim de semana nacasa de algum aluno.

No dia da ConsciênciaNegra, 20 de novembro, ogrande acontecimento é oEncontro Cultural da Bele-za Negra. Lá os alunosmostram seus trabalhos,desfilam com trajes de ins-piração afro, celebram oorgulho da negritude.

O reconhecimento aoesforço das professoras,além da nítida mudança nodesempenho escolar, veiocom a seleção do projetodelas entre os 32 trabalhospremiados nacionalmente no2º concurso “Educar para aIgualdade Racial”, promovi-do pela ONG paulista Cen-tro de Estudos das RelaçõesRaciais no Trabalho.

Segundo o consultorlegislativo do SenadoJoão Monlevade, o Fun-def foi instituído na déca-da de 1990 e teve a “vir-tude inegável” de induzira matrícula de novos alu-nos. “Mas um fundo nãopode ser entendido comoa única fonte de financi-amento da educação. Eleé uma das múltiplas fon-tes de financiamento”,disse.

Para Monlevade, a

Fontes variadas de recursosproposta prevê que o Fun-deb será composto por par-te de todos os impostos etransferências estaduais(quase R$ 30 bilhões) maisum percentual das transfe-rências municipais (quaseR$ 15 bilhões) mais com-plementação crescente daUnião até 10% do total dofundo (o equivalente a R$5 bilhões em 2006).

A professora da Uni-versidade de São Paulo(USP) Lizete Arelaro criti-

cou a proposta de cria-ção do Fundeb. Segundoela, o texto sob análise daCasa Civil não prevêum fundo nacional paraeducação. Assim, im-postos e transferênciasarrecadados por esta-dos mais ricos – comoSão Paulo, Rio de Janei-ro, Minas Gerais e RioGrande do Sul – não se-riam compartilhados parao financiamento de esta-dos mais pobres.

O desfile com trajes afro faz parte do dia da Consciência Negra

8 Dezembro/2004