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1 Direito do Trabalho Profª. Renata Orsi Twitter: @ProfRenataOrsi 1. DEFINIÇÃO, PRINCÍPIOS E FONTES DO DIREITO DO TRABALHO Direito do trabalho é o ramo da ciência jurídica que se destina a disciplinar a relação de emprego, por meio de regras, princípios e instituições próprias (autonomia do direito do trabalho). O direito do trabalho é ramo peculiar da ciência jurídica, vez que, como regra geral, tutela relação celebrada entre partes economicamente desiguais i.e., o empregador, detentor dos meios de produção, e o empregado, detentor da força de trabalho. As peculiaridades do direito do trabalho podem ser claramente verificadas quando analisados os princípios e fontes desse ramo do direito especialmente se confrontados com as regras gerais que norteiam outros ramos da ciência jurídica. A. Princípios Princípios são verdades fundantes de um sistema jurídico proposições básicas que fundamentam e condicionam todas as regras e institutos existentes em determinado ramo do direito. É com base nos princípios, assim, que se formam as normas jurídicas, se resolvem antinomias e conflitos entre elas, se determina sua aplicação prática, etc. Há princípios gerais do direito que também são aplicáveis ao direito do trabalho, tais como a impossibilidade de se alegar a ignorância do direito, a proibição do enriquecimento sem causa, etc. Porém, são os princípios específicos do direito do trabalho que têm mais recorrência em concursos públicos. Amauri Mascaro Nascimento : princípios constitucionais do trabalho liberdade sindical, direito de greve, irredutibilidade de salários, etc.

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    Direito do Trabalho

    Prof. Renata Orsi

    Twitter: @ProfRenataOrsi

    1. DEFINIO, PRINCPIOS E FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

    Direito do trabalho o ramo da cincia jurdica que se destina a disciplinar a relao de

    emprego, por meio de regras, princpios e instituies prprias (autonomia do direito do trabalho).

    O direito do trabalho ramo peculiar da cincia jurdica, vez que, como regra geral, tutela

    relao celebrada entre partes economicamente desiguais i.e., o empregador, detentor dos meios de

    produo, e o empregado, detentor da fora de trabalho.

    As peculiaridades do direito do trabalho podem ser claramente verificadas quando analisados

    os princpios e fontes desse ramo do direito especialmente se confrontados com as regras gerais que

    norteiam outros ramos da cincia jurdica.

    A. Princpios

    Princpios so verdades fundantes de um sistema jurdico proposies bsicas que

    fundamentam e condicionam todas as regras e institutos existentes em determinado ramo do direito.

    com base nos princpios, assim, que se formam as normas jurdicas, se resolvem antinomias e conflitos

    entre elas, se determina sua aplicao prtica, etc.

    H princpios gerais do direito que tambm so aplicveis ao direito do trabalho, tais como a

    impossibilidade de se alegar a ignorncia do direito, a proibio do enriquecimento sem causa, etc.

    Porm, so os princpios especficos do direito do trabalho que tm mais recorrncia em concursos

    pblicos.

    Amauri Mascaro Nascimento: princpios constitucionais do trabalho liberdade sindical, direito de

    greve, irredutibilidade de salrios, etc.

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    No h consenso em doutrina quanto aos princpios especficos do direito do trabalho a obra

    mais conhecida de Amrico Pl Rodriguez, que identifica 6 princpios peculiares ao direito do trabalho:

    a. Princpio da proteo: por meio da interveno estatal, pretende-se reduzir a desigualdade

    existente entre empregado e empregador. Compensa-se a superioridade econmica do empregador

    com a superioridade jurdica do empregado.

    subdividido em:

    i. Princpio do in dubio pro operario: sempre que uma norma admitir diversas interpretaes,

    dever prevalecer a que mais favorece o empregado.

    ii. Princpio da norma mais favorvel: no conflito entre duas normas distintas, prevalecer aquela

    mais benfica ao trabalhador independentemente da hierarquia tradicional das normas

    jurdicas.

    iii. Princpio da condio mais benfica: vantagens mais benficas j conquistadas no podem

    ser modificadas para pior (direito adquirido). Ex.: mudana no regulamento de empresa.

    SUM-51, TST. NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPO PELO NOVO

    REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT.

    I - As clusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas

    anteriormente, s atingiro os trabalhadores admitidos aps a revogao ou alterao

    do regulamento.

    b. Princpio da irrenunciabilidade de direitos: direitos trabalhistas so de ordem pblica e, por

    isso, no podem ser renunciados ainda que com o consentimento do trabalhador. Excees:

    Renncia

    Pedido de demisso de empregado estvel, com assistncia do sindicato, do MTE ou da Justia

    do Trabalho (art. 500);

    Redutibilidade salarial a que alude o art. 7, IV da CF/88;

    Majorao da jornada nos turnos ininterruptos de revezamento (art. 7, XIV da CF/88);

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    Escolha, do empregado, por um dos dois regulamentos de empresa vigentes (Smula 51, II):

    SUM-51 NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPO PELO NOVO

    REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT

    (...)

    II - Havendo a coexistncia de dois regulamentos da empresa, a opo do empregado

    por um deles tem efeito jurdico de renncia s regras do sistema do outro.

    Recibos de quitao plena de direitos trabalhistas (Sm. 330, TST).

    Transao:

    Adeso a plano de demisso incentivada: gera efeitos apenas em relao s parcelas e valores

    constantes do recibo, podendo o empregado reivindicar outras verbas ali no includas:

    Conciliao passada em juzo, que irrecorrvel e obsta futura pretenso:

    Conciliao operada no mbito das Comisses de Conciliao Prvia

    c. Princpio da continuidade da relao de emprego: o contrato de trabalho presume-se por prazo

    indeterminado e contnuo, no sendo afetado por hipteses de suspenso e interrupo.

    SUM-212, TST DESPEDIMENTO. NUS DA PROVA

    O nus de provar o trmino do contrato de trabalho, quando negados a prestao de

    servio e o despedimento, do empregador, pois o princpio da continuidade da

    relao de emprego constitui presuno favorvel ao empregado.

    d. Princpio da primazia da realidade: independentemente do acordo entre as partes, valero, para

    a caracterizao da relao de emprego, as condies verificadas na prtica. Fatos prevalecem

    sobre documentos.

    Art. 9, CLT - Sero nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de

    desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicao dos preceitos contidos na presente

    Consolidao.

    e. Princpio da razoabilidade: ideia do homem mdio, padro especialmente utilizado para

    determinao dos limites ao poder diretivo do empregador. O trabalhador como cidado.

  • 4

    f. Princpio da boa-f contratual: deve haver lealdade entre as partes do contrato empregado e

    empregador cumprem com suas obrigaes.

    B. Fontes

    Fontes do direito so instrumentos de onde este emana.

    Formais x Materiais: formais so meios de exteriorizao do direito (leis, costume, etc)

    e materiais so os fatores que ensejam o surgimento de normas (fatores sociais,

    econmicos, histricos, etc objeto de estudo do direito?).

    Heternomas x Autnomas: se partem de terceiros ou das prprias partes (ex:

    heternomas leis, decretos; autnomas ACT e CCT, contrato individual).

    Estatais x Extra-estatais: se emanam do Estado ou de outros entes. So profissionais se

    elaboradas pelos empregados e empregadores.

    Fontes do Direito do Trabalho

    i. Constituio art. 7 a 11; art. 111 e ss (direito processual do trabalho); remdios

    constitucionais, etc.

    ii. CLT Consolidao das Leis do Trabalho (Decreto-lei n 5.452/43)

    iii. Leis Ordinrias: L. 605/49 (DSR); L. 5859/72 (empregado domstico); L. 5889/73

    (trabalhador rural); L. 6019/74 (trabalho temporrio), L. 7.783/89 (lei de greve); L.

    8036/90 (FGTS), etc.

    iv. Atos do Poder Executivo: decretos, ordens de servio, normas regulamentadoras,

    portarias, provimentos, atos e instrues normativas de tribunais.

    v. Convenes e Acordos Coletivos de Trabalho

    vi. Regulamento de empresa

    vii. Contrato de trabalho

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    Art. 444, CLT - As relaes contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulao das

    partes interessadas em tudo quanto no contravenha s disposies de proteo ao trabalho, aos

    contratos coletivos que lhes sejam aplicveis e s decises das autoridades competentes.

    viii. Jurisprudncia Smulas dos tribunais? Decises do STF em aes diretas de

    inconstitucionalidade ou declaratrias de constitucionalidade (art. 102, 2, CF/88)?

    Smulas vinculantes do STF (art. 103-A, CF/88)?

    Smula Vinculante 4: Salvo nos casos previstos na Constituio, o salrio mnimo no pode ser

    usado como indexador de base de clculo de vantagem de servidor pblico ou de empregado, nem

    ser substitudo por deciso judicial.

    Integrao do direito do trabalho (ateno: ao contrrio do que afirmam alguns

    doutrinadores, referido dispositivo no consagra fontes do direito do trabalho, e sim regras

    de integrao de suas normas i.e., regras para o preenchimento de lacunas):

    Art. 8, CLT: As autoridades administrativas e a Justia do Trabalho, na falta de disposies

    legais ou contratuais, decidiro, conforme o caso, pela jurisprudncia, por analogia, por

    eqidade e outros princpios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e,

    ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que

    nenhum interesse de classe ou particular prevalea sobre o interesse pblico.

    ix. Sentena normativa (art. 114, 2 da CF/88 deciso da Justia do Trabalho em

    dissdios coletivos)

    x. Usos e costumes

    Art. 460, CLT - Na falta de estipulao do salrio ou no havendo prova sobre a importncia

    ajustada, o empregado ter direito a perceber salrio igual ao daquela que, na mesma empresa,

    fizer servio equivalente ou do que for habitualmente pago para servio semelhante.

    xi. Fontes de direito internacional, especialmente Convenes, Recomendaes e

    Resolues da OIT (desde que ratificadas pelo Brasil)

    2. RELAO DE TRABALHO E RELAO DE EMPREGO: REQUISITOS,

    MODALIDADES E DISTINO; RELAES DE TRABALHO LATO SENSU:

  • 6

    TRABALHO AUTNOMO, TRABALHO EVENTUAL, TRABALHO TEMPORRIO E

    TRABALHO AVULSO.

    Relao de Trabalho Relao de Emprego

    Natureza Gnero Relao de trabalho lato

    sensu

    Espcie Relao de trabalho

    stricto sensu

    Partes Tomador/Comitente e

    Prestador/Trabalhador

    Empregado e empregador

    Espcies Trabalho autnomo (representante

    comercial, empreiteiro)

    Trabalho avulso

    Trabalho eventual

    Trabalho temporrio

    Trabalho voluntrio

    Trabalho informal

    Estgio

    Funcionrios pblicos

    Etc

    Contrato de trabalho

    Caractersticas Variveis, conforme o contrato Art. 3 da CLT:

    Pessoalidade (pessoa fsica sem

    substituio)

    Onerosidade (salrio em dinheiro

    ou bens)

    No-eventualidade ( continuidade)

    Subordinao correlata ao poder

    diretivo do empregador (poder de

    organizao + poder de controle +

    poder sancionador)

    REQUISITOS CUMULATIVOS

  • 7

    Relao de emprego a relao estabelecida entre uma pessoa fsica que, mediante pagamento

    de remunerao e com habitualidade, presta servios a outrem (pessoa fsica ou jurdica), submetendo-se

    ao poder normativo (ordens) e disciplinar (sanes) emanadas do tomador de servios (subordinao).

    Trata-se, como se v, de relao bilateral i.e., relao que envolve prestaes de ambas as

    partes. Enquanto uma pessoa fsica obriga-se a prestar servios, o tomador desses servios, como

    contraprestao, obriga-se ao pagamento de remunerao condizente com o trabalho realizado.

    Nesse contexto, a pessoa fsica que presta os servios denominada, pela CLT, empregado,

    enquanto o tomador desse trabalho o empregador.

    O esquema abaixo ilustra o carter bilateral de tal relao:

    Prestao de servios

    EMPREGADO EMPREGADOR

    Pagamento da remunerao

    Os requisitos da relao de emprego encontram-se previstos no art. 3 da CLT:

    Art. 3, CLT - Considera-se empregado toda pessoa fsica que prestar servios de

    natureza no eventual a empregador, sob a dependncia deste e mediante salrio.

    Pargrafo nico - No haver distines relativas espcie de emprego e condio

    de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, tcnico e manual.

    OBS: Embora a exclusividade no seja requisito essencial do contrato de trabalho, possvel estabelecer

    clusula de no-concorrncia ao contrato a ser observada durante ou aps a execuo do contrato

    (esta ltima somente em casos excepcionais, durante determinado perodo e mediante indenizao

    compensatria). Ainda, possvel ser concedido curso de especializao pelo empregador ao

  • 8

    empregado, condicionado permanncia deste na empresa por determinado perodo de tempo, sob pena

    de ressarcimento dos gastos.

    A. Trabalho autnomo

    Ausncia de subordinao trabalhador atua por conta prpria.

    Autonomia tcnica e organizacional (ex.: profissionais liberais).

    Zona cinzenta entre a subordinao e a autonomia (aplicao do art. 9 da CLT)

    parassubordinao.

    B. Trabalho eventual

    Pessoa fsica que presta servio de natureza urbana ou rural, em carter eventual, a uma ou mais

    empresas, sem relao de emprego (Ex: bia-fria, chapa, faxineira).

    Ausncia de habitualidade, ainda que presente a subordinao e demais requisitos do art. 3 da

    CLT.

    C. Trabalho temporrio Lei n 6.019/74

    1. Relao triangular espcie de terceirizao expressamente permitida pela Sm. 331 do

    TST:

    SUM-331 CONTRATO DE PRESTAO DE SERVIOS. LEGALIDADE

    I - A contratao de trabalhadores por empresa interposta ilegal, formando-se o vnculo

    diretamente com o tomador dos servios, salvo no caso de trabalho temporrio (Lei n

    6.019, de 03.01.1974).

    2. Trabalhador contratado para atender a necessidade transitria de substituio de pessoal

    ou a acrscimo extraordinrio de servio na empresa no h habitualidade.

    3. Lei necessariamente urbana;

    4. ETT: Empresas especializadas em locao de mo-de-obra (contrato de trabalho entre esta

    e o empregado), devidamente registradas no MTE.

    5. Mximo: 3 meses, salvo autorizao do MTE.

  • 9

    6. Forma escrita do contrato, ademais, dever constar expressamente o motivo justificador

    da demanda de trabalho temporrio, assim como as modalidades de remunerao da

    prestao de servio.

    7. Art. 11, Pargrafo nico. Ser nula de pleno direito qualquer clusula de reserva,

    proibindo a contratao do trabalhador pela empresa tomadora ou cliente ao fim do prazo

    em que tenha sido colocado sua disposio pela empresa de trabalho temporrio.

    8. Empresas pertencentes a um mesmo grupo econmico no podem manter ETT para

    atender s demandas de suas co-irms;

    9. defeso s empresas de prestao de servio temporrio a contratao de estrangeiros

    com visto provisrio de permanncia no Pas.

    10. Direitos assegurados: art. 12 da Lei rol exemplificativo.

    11. Indenizao especfica (indenizao por dispensa sem justa causa ou trmino normal do

    contrato, correspondente a 1/12 (um doze avos) do pagamento recebido art. 12, f) Lei

    do FGTS incluiu o temporrio entre seus sujeitos incompatibilidade entre os

    dispositivos? Alice Monteiro de Barros acredita que indenizao especfica foi revogada;

    outros autores discordam.

    12. Art. 16 - No caso de falncia da empresa de trabalho temporrio, a empresa tomadora ou

    cliente solidariamente responsvel pelo recolhimento das contribuies previdencirias,

    no tocante ao tempo em que o trabalhador esteve sob suas ordens, assim como em

    referncia ao mesmo perodo, pela remunerao e indenizao previstas na Lei.

    OBS: Entende a jurisprudncia no ser possvel que um contrato de trabalho temporrio seja seguido de

    um contrato de experincia (art. 443 da CLT), pois o empregado j foi testado durante o trabalho

    temporrio.

  • 10

    D. Trabalho avulso

    Relao triangular: trabalhador OGMO empresa

    Conceito: art. 9, VI, Decreto n 3048/99: aquele que, sindicalizado ou no, presta

    servio de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vnculo empregatcio, com a

    intermediao obrigatria do rgo gestor de mo-de-obra, nos termos da Lei n 8.630,

    de 25 de fevereiro de 1993, ou do sindicato da categoria

    O sindicato arregimenta a mo-de-obra e paga o trabalhador, de acordo com o valor

    recebido das empresas.

    Espcies: Decreto 3.048/99 (estivador, capataz, guindasteiro, etc)

    Espcie mais caracterstica: Porturio (Lei n8630/93; urbano carregador de

    mercadorias, Lei 12023/09)

    Direitos: equiparado ao empregado comum (Art. 7, XXXIV, CF/88)

    3. SUJEITOS DO CONTRATO DE TRABALHO: DO EMPREGADO E DO

    EMPREGADOR: CONCEITO E CARACTERIZAO; PODERES DO EMPREGADOR.

    RESPONSABILIDADE SOLIDRIA E SUBSIDIRIA DAS EMPRESAS; GRUPO

    ECONMICO E SUCESSO DE EMPREGADORES

    Segundo os arts. 2 e 3 da CLT so considerados sujeitos da relao de emprego, de um lado, o

    empregado e, de outro, o empregador.

    Empregado e empregador tm seu regime legal disciplinado pela CLT e outros diplomas legais

    especficos (ex: Lei n 5859/72 Trabalho domstico; Lei n 5889/73 Lei do Trabalho Rural; Lei n

    6019/74 Trabalho Temporrio e Empresas de Trabalho Temporrio; Lei n 11.101/05 Lei de Falncia

    e Recuperao Judicial, entre outros).

    Vejamos, pois, as especificidades de cada um desses sujeitos.

    A. EMPREGADO

  • 11

    Art. 3, CLT - Considera-se empregado toda pessoa fsica que prestar servios

    de natureza no eventual a empregador, sob a dependncia deste e mediante

    salrio.

    Caractersticas:

    1. Onerosidade /salrio ---------- $ ou in natura

    2. Pessoalidade ------------------- substituio eventual se empregador concordar

    Atenuada: trabalho a domiclio

    Acentuada: artistas, atletas contrato intuitu personae

    3. Subordinao ------------------ poder diretivo

    4. No-eventualidade ------------------ continuidade (e.g., professor)

    Ressalte-se que o empregado poder prestar seus servios para empresa de atividade urbana ou

    rural, sendo, no segundo caso, tutelado especificamente pela Lei n 5889/73.

    Alm do empregado tpico previsto pela CLT, outras espcies de empregados podem ser

    encontradas na legislao, destacando-se:

    Altos empregados

    - Cargos de confiana especfica

    - Conceito: Art. 62, II, CLT (inserido no captulo sobre jornada de trabalho)

    Art. 62 - No so abrangidos pelo regime previsto neste captulo:

    (...)

    II - os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gesto, aos quais se

    equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores e chefes de departamento

    ou filial.

    Pargrafo nico - O regime previsto neste captulo ser aplicvel aos empregados

    mencionados no inciso II deste artigo, quando o salrio do cargo de confiana,

    compreendendo a gratificao de funo, se houver, for inferior ao valor do respectivo

    salrio efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento).

  • 12

    - Caractersticas: a) subordinao atenuada (responde apenas a peas-chave da empresa

    presidente, CEO, etc)

    b) poder diretivo residual (pode determinar forma de organizao do

    trabalho, pode contratar e dispensar empregados, etc).

    Consequncias jurdicas:

    No so sujeitos s regras sobre jornada de trabalho;

    Empregado que alado a cargo de diretor no empregado: contrato de trabalho suspenso

    Smula TST 269 (s conta perodo de tempo para FGTS):

    Smula n 269, TST - Empregado Eleito para Ocupar Cargo de Diretor - Contrato de

    Trabalho - Relao de Emprego - Tempo de Servio

    O empregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato de trabalho

    suspenso, no se computando o tempo de servio deste perodo, salvo se permanecer a

    subordinao jurdica inerente relao de emprego.

    Salrio-condio: o adicional de funo pode ser suprimido se o empregado for revertido

    ao cargo efetivo Cuidado: h exceo na Sm. TST 372 (princpio da estabilidade

    financeira)

    Smula n 372 - TST - Gratificao de Funo - Supresso ou Reduo - Limites

    I - Percebida a gratificao de funo por dez ou mais anos pelo empregado, se o

    empregador, sem justo motivo, revert-lo a seu cargo efetivo, no poder retirar-lhe a

    gratificao tendo em vista o princpio da estabilidade financeira.

    II - Mantido o empregado no exerccio da funo comissionada, no pode o

    empregador reduzir o valor da gratificao.

    Art. 468, CLT - Nos contratos individuais de trabalho s lcita a alterao das

    respectivas condies por mtuo consentimento, e ainda assim desde que no resultem,

    direta ou indiretamente, prejuzos ao empregado, sob pena de nulidade da clusula

    infringente desta garantia.

    Pargrafo nico - No se considera alterao unilateral a determinao do

    empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente

    ocupado, deixando o exerccio de funo de confiana.

    No esto sujeitos proibio do art. 469 (transferncia):

  • 13

    Art. 469 - Ao empregador vedado transferir o empregado, sem a sua anuncia, para

    localidade diversa da que resultar do contrato, no se considerando transferncia a que

    no acarretar necessariamente a mudana do seu domiclio.

    1 - No esto compreendidos na proibio deste artigo: os empregados que exeram

    cargo de confiana e aqueles cujos contratos tenham como condio, implcita ou

    explcita, a transferncia, quando esta decorra de real necessidade de servio.

    necessrio, entretanto, demonstrar a real necessidade de servio: Smula 43

    Smula n 43, TST - Transferncia - Necessidade do Servio Presume-se abusiva a

    transferncia de que trata o 1 do Art. 469 da CLT, sem comprovao da necessidade

    do servio.

    Empregado a domiclio

    Segundo o art. 6 da CLT, no h qualquer distino entre o empregado atuante na empresa ou

    outro local determinado pelo empregador e aquele que trabalha em sua residncia, desde que presentes os

    requisitos da relao de emprego, acima indicados.

    Portanto, o trabalhador a domiclio tambm pode ser perfeitamente enquadrado no conceito de

    empregado.

    Art. 6, CLT: No se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do

    empregador e o executado no domiclio do empregado, desde que esteja caracterizada a

    relao de emprego.

    Empregado domstico

    O empregado domstico expressamente excludo da regulamentao da CLT, pelo art. 7 deste

    diploma legal (juntamente com o trabalhador rural e os servidores pblicos estatutrios).

    Regulamentado pela Lei n 5859/72, distingue-se do empregado comum (art. 3 da CLT) por

    prestar servios de finalidade no lucrativa pessoa ou famlia no mbito residencial destas. Confira-

    se, a respeito, o art. 1 da Lei n 5859/72:

    Art. 1, L. 5859/72. Ao empregado domstico, assim considerado aquele que presta

    servios de natureza contnua e de finalidade no lucrativa pessoa ou famlia no

    mbito residencial destas, aplica-se o disposto nesta lei.

  • 14

    Importante a expresso no mbito residencial da famlia ou pessoa. Com efeito, segundo o

    entendimento jurisprudencial e doutrinrio dominante, no empregado domstico aquele que presta

    servios apenas na residncia da famlia, mas tambm nas extenses desta (assim, jardim, casa de

    campo, casa de praia e at mesmo no automvel da famlia, como motorista).

    So, pois, exemplos de empregados domsticos a faxineira, a bab, a enfermeira, o jardineiro, o

    motorista, o caseiro, etc.

    Outro requisito importante diz com a finalidade no lucrativa, tendo a jurisprudncia entendido

    que esta contaminada no caso de, junto residncia, funcionar escritrio ou outra atividade lucrativa

    (e.g., restaurante).

    OBS: O requisito da habitualidade para caracterizao do empregado domstico normalmente

    analisado pela jurisprudncia a partir do nmero de dias na semana que o domstico presta servios

    famlia. Porm, no h uniformidade no entendimento dos tribunais sobre a quantidade de dias

    necessria caracterizao da relao de emprego por vezes, entende-se que basta a prestao de

    servios por dois dias na semana, enquanto em outras ocasies esse nmero elevado para trs dias.

    Direitos Assegurados: Art. 7, par. un., CF/88 e Lei 5859/72

    Salrio mnimo DSR e feriados (Lei

    n 11.324/06) Licena-

    maternidade

    Aposentadoria Estabilidade

    (gestante) - Lei n

    11.324/06

    Irredutibilidade

    salarial Frias (30 dias) -

    Lei n 11.324/06

    Licena-

    paternidade

    FGTS facultativo Vale- transporte

    13 salrio 1/3 de frias Aviso prvio Seg.-desemprego (FGTS)

    INSS

    + Impossibilidade de desconto (moradia, alimentao, vesturio e higiene)

  • 15

    A lei estabelece que essas utilidades no tm natureza salarial, nem integram o contrato de

    trabalho. Reconhece-se a possibilidade de descontar-se o valor relativo moradia se esta estiver situada

    em local diverso do da prestao e servios, e se isso for expressamente acordado em contrato.

    Trabalhador rural

    Caracterizado pelos mesmos requisitos do empregado urbano, com a ressalva de que este preste

    servios a empregador rural (caracterizao feita pela atividade do empregador, e no pelo local de

    prestao de servios). Assim, se a empresa se destina ao primeiro tratamento da matria prima (e.g.,

    preparao da laranja para feitura de suco), sem sua transformao, rural; ao contrrio, se houver

    transformao, o trabalho urbano.

    Veremos os direitos peculiares do trabalhador rural no decorrer do curso.

    OBS: importante atentar para o entendimento do TST com relao condio de rural do motorista

    que trabalha predominantemente em mbito rural:

    OJ-SDI1-315, TST. MOTORISTA. EMPRESA. ATIVIDADE PREDOMINANTE-

    MENTE RURAL. ENQUADRAMENTO COMO TRABALHADOR RURAL

    considerado trabalhador rural o motorista que trabalha no mbito de empresa cuja

    atividade preponderantemente rural, considerando que, de modo geral, no enfrenta o

    trnsito das estradas e cidades.

    B) EMPREGADOR

    Art. 2 - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os

    riscos da atividade econmica, admite, assalaria e dirige a prestao pessoal de

    servio.

    1 - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relao de emprego,

    os profissionais liberais, as instituies de beneficncia, as associaes recreativas ou

    outras instituies sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.

    2 - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,

    personalidade jurdica prpria, estiverem sob a direo, controle ou administrao de

    outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade

    econmica, sero, para os efeitos da relao de emprego, solidariamente responsveis

    a empresa principal e cada uma das subordinadas.

  • 16

    Caractersticas:

    a. Empresa despersonificao do empregador intuito de proteger o trabalhador contra

    mudanas de propriedade na empresa

    b. Assuno dos riscos

    c. Onerosidade

    d. Direo ------------------------ poder diretivo do empregador

    Conforme acima explicitado, a relao de emprego pautada na subordinao do empregado em

    face do empregador. Portanto, preciso que o empregador detenha poder para organizar, fiscalizar e

    disciplinar a prestao de servios (ou, como descrito no art. 2 da CLT, dirigir a prestao pessoal de

    servio). A tal poder, conferido o nome de poder diretivo do empregador.

    O poder diretivo do empregador contempla trs esferas distintas de atuao: a) poder de

    organizao, i.e., prerrogativa de determinar as tarefas que sero realizadas pelo emprego (art. 456, par.

    un. CLT); b) poder de controle ou fiscalizao, i.e., poder de controlar as aes do empregado e c) poder

    disciplinar, i.e., possibilidade de aplicar sanes no caso de descumprimento, por parte do empregado,

    das normas estabelecidas.

    OBS: Embora a CLT seja omissa no assunto, admite-se a aplicao, pelo empregador, no exerccio de

    seu poder disciplinar, das sanes de advertncia (verbal ou escrita), suspenso (por prazo no superior a

    30 dias) e dispensa por justa causa. No admitida, entretanto, a aplicao de multa, exceto nos

    contratos de trabalho envolvendo atleta profissional de futebol (Lei n 6.354/76). Ademais, a aplicao

    da sano deve ser proporcional falta e ser aplicada de forma gradativa, sob pena de configurao do

    dano moral.

    Ressalte-se que, segundo o art. 474 da CLT, a suspenso disciplinar do empregado por mais de 30

    dias determina a resciso injusta do contrato de trabalho.

  • 17

    Finalmente, importante nesse tema a Smula n 77 do TST, in verbis:

    SUM-77 PUNIO

    Nula a punio de empregado se no precedida de inqurito ou sindicncia internos

    a que se obrigou a empresa por norma regulamentar.

    O poder diretivo, atualmente, suscita inmeros questionamentos por parte da doutrina e da

    jurisprudncia, especialmente no que tange a seus limites. Assim, questiona-se: permitido ao

    empregador, com base nesse poder, instalar cmeras de segurana na empresa, ou monitorar os e-mails e

    sites da Internet visitados pelo empregado? Ademais, lcito que este realize revistas ntimas nos

    empregados para prevenir furtos e, dessa maneira, proteger seu patrimnio?

    Trata-se de questionamentos constantemente enfrentados pelos tribunais ptrios, porm ainda sem

    soluo legal. Embora existam entendimentos divergentes, prevalece a concepo de que o exerccio do

    poder diretivo do empregador encontra-se limitado pela proteo constitucional da dignidade da pessoa

    humana (Art. 1, inciso III da CF/88 Constituio Federal de 1988) portanto, embora seja legtimo o

    direito do empregador de proteger seu patrimnio, tal direito dever ser exercido da forma menos gravosa

    ao empregado, de maneira a lhe causar o menor constrangimento possvel.

    Espcies de empregador

    1. Comum: art. 2, caput

    2. Por equiparao: art. 2, 1

    A figura do empregador por equiparao surge para corrigir o conceito do caput e especificar

    que nem sempre o empregador empresa. Alis, em muitos casos, o empregador sequer uma pessoa,

    mas entidade sem personalidade jurdica.

    1. Profissionais liberais (mdicos, advogados)

    2. Entidades (clubes, ONGs, partidos polticos)

  • 18

    3. Condomnio

    4. Massa falida

    3. Grupo econmico: art. 2, 2

    No direito do trabalho, o grupo econmico caracterizado tanto se existe controle entre as

    empresas quanto se h mera coordenao entre elas conceito mais amplo do que o do direito comercial,

    pois visa a proteger o trabalhador.

    Segundo o 2 do art.2 da CLT, h responsabilidade solidria entre as empresas do grupo.

    - Grupo econmico como empregador nico: Sm. 129, TST

    Smula n 129 Prestao de Servios - Empresas do Mesmo Grupo Econmico -

    Contrato de Trabalho

    A prestao de servios a mais de uma empresa do mesmo grupo econmico, durante a

    mesma jornada de trabalho, no caracteriza a coexistncia de mais de um contrato de

    trabalho, salvo ajuste em contrrio.

    - Execuo: Smula n 205 CANCELADA em 2003 - ateno: tal obrigatoriedade persiste na

    terceirizao, cf. Sm. 331, IV, TST.

    Smula n 205 - Responsvel Solidrio - Relao Processual Trabalhista

    O responsvel solidrio, integrante do grupo econmico, que no participou da relao

    processual como reclamado e que, portanto, no consta no ttulo executivo judicial

    como devedor, no pode ser sujeito passivo na execuo.

    Sucesso de empregadores

    - Arts. 10 e 448 da CLT: proteo irrestrita aos direitos dos empregados portanto, sucessora adquire

    ativo e passivo da empresa sucedida em sua integralidade.

    Art. 10 - Qualquer alterao na estrutura jurdica da empresa no afetar os direitos

    adquiridos por seus empregados.

    Art. 448 - A mudana na propriedade ou na estrutura jurdica da empresa no afetar

    os contratos de trabalho dos respectivos empregados.

    Solues:

  • 19

    a. Dispensar todos os trabalhadores antes da alienao? No desconsiderado pela legislao

    trabalhista.

    b. Fazer contrato com o comprador? No desconsiderado pela legislao trabalhista (apenas

    poder ter efeito civil)

    Veja-se, a respeito, a OJ-SDI1-261 do TST, que regulamentou a questo da sucesso entre bancos

    a qual se mostrou extremamente recorrente no Brasil a partir da primeira dcada do sculo XXI:

    OJ-SDI1-261 BANCOS. SUCESSO TRABALHISTA

    As obrigaes trabalhistas, inclusive as contradas poca em que os empregados

    trabalhavam para o banco sucedido, so de responsabilidade do sucessor, uma vez que a

    este foram transferidos os ativos, as agncias, os direitos e deveres contratuais,

    caracterizando tpica sucesso trabalhista.

    EXCEO: recuperao judicial e falncia deciso STF (maio/2009)

    Em maio de 2009, o STF (Supremo Tribunal Federal) proferiu deciso declarando a constitucionalidade

    de dispositivos da Lei n 11.101/05 (Lei de Falncias e Recuperao de Empresas) que excluem a

    responsabilidade trabalhista da empresa sucessora no caso de recuperao judicial ou falncia da

    empresa sucedida. Por fora de tal deciso, se a empresa cuja titularidade jurdica transferida estiver,

    por ocasio da transferncia, em recuperao judicial ou falncia, as dvidas trabalhistas anteriores

    sucesso no sero transferidas adquirente, e continuaro de responsabilidade da sucedida. Trata-se de

    deciso que, visando proteo das empresas, contraria as regras da sucesso de empregadores no

    direito do trabalho.

    Atualmente, o TST tem adotado referido entendimento em suas decises mais recentes.

    Na mesma deciso, ademais, o STF entendeu vlida a limitao do privilgio dos crditos

    trabalhistas na falncia, no montante de at 150 salrios mnimos:

    Art. 83, L. 11.101/05. A classificao dos crditos na falncia obedece seguinte

    ordem:

  • 20

    I - os crditos derivados da legislao do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqenta)

    salrios-mnimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; (...).

    OBS: Finalmente, importante destacar a recente OJ-SDI1-411 do TST, que consagra limitao

    sucesso trabalhista envolvendo a aquisio de empresa pertencente a grupo econmico:

    OJ-SDI1-411 SUCESSO TRABALHISTA. AQUISIO DE EMPRESA

    PERTENCENTE A GRUPO ECONMICO. RESPONSABILIDADE

    SOLIDRIA DO SUCESSOR POR DBITOS TRABALHISTAS DE

    EMPRESA NO ADQUIRIDA. INEXISTNCIA.

    O sucessor no responde solidariamente por dbitos trabalhistas de empresa no

    adquirida, integrante do mesmo grupo econmico da empresa sucedida, quando,

    poca, a empresa devedora direta era solvente ou idnea economicamente,

    ressalvada a hiptese de m-f ou fraude na sucesso.

    TERCEIRIZAO

    Prtica recorrente nas empresas, consiste na contratao de trabalhadores por empresa interposta

    destinada a promover maior especializao e dedicao da empresa a seu core business.

    Atualmente, regulada pela Sm. 331 do TST:

    SUM-331, TST CONTRATO DE PRESTAO DE SERVIOS. LEGALIDADE

    I - A contratao de trabalhadores por empresa interposta ilegal, formando-se o

    vnculo diretamente com o tomador dos servios, salvo no caso de trabalho temporrio

    (Lei n 6.019, de 03.01.1974).

    II - A contratao irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, no gera

    vnculo de emprego com os rgos da administrao pblica direta, indireta ou

    fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

    III - No forma vnculo de emprego com o tomador a contratao de servios de

    vigilncia (Lei n 7.102, de 20.06.1983) e de conservao e limpeza, bem como a de

    servios especializados ligados atividade-meio do tomador, desde que inexistente a

    pessoalidade e a subordinao direta.

    IV - O inadimplemento das obrigaes trabalhistas, por parte do empregador, implica a

    responsabilidade subsidiria do tomador de servios quanto quelas obrigaes, desde

    que haja participado da relao processual e conste tambm do ttulo executivo

    judicial.

    V - Os entes integrantes da administrao pblica direta e indireta respondem

    subsidiariamente, nas mesmas condies do item IV, caso evidenciada a sua conduta

    culposa no cumprimento das obrigaes da Lei n. 8.666/93, especialmente na

  • 21

    fiscalizao do cumprimento das obrigaes contratuais e legais da prestadora de

    servio como empregadora. A aludida responsabilidade no decorre de mero

    inadimplemento das obrigaes trabalhistas assumidas pela empresa regularmente

    contratada.

    VI A responsabilidade subsidiria do tomador de servios abrange todas as verbas

    decorrentes da condenao.

    (OBS: Smula alterada em 2011)

    OBS: A Smula acima foi alterada em virtude de deciso do STF proferida em 24.11.2010, no sentido de

    que o art. 71, 1, da Lei n 8666/93 (Lei de Licitaes) constitucional. Veja-se a redao de referido

    dispositivo:

    Art. 71, L. 8666/93. O contratado responsvel pelos encargos trabalhistas,

    previdencirios, fiscais e comerciais resultantes da execuo do contrato.

    1 A inadimplncia do contratado, com referncia aos encargos trabalhistas, fiscais e

    comerciais no transfere Administrao Pblica a responsabilidade por seu

    pagamento, nem poder onerar o objeto do contrato ou restringir a regularizao e o

    uso das obras e edificaes, inclusive perante o Registro de Imveis.

    OBS 2: No setor de telecomunicaes, admite-se a terceirizao de atividade-fim da tomadora, por

    expressa disposio legal (art. 94, Lei n 9472/97: No cumprimento de seus deveres, a concessionria

    poder, observadas as condies e limites estabelecidos pela Agncia: (...) II - contratar com terceiros o

    desenvolvimento de atividades inerentes, acessrias ou complementares ao servio, bem como a

    implementao de projetos associados).

    Importante, ainda, a Sm. 363 do TST, que trata no de terceirizao, mas sim de contratao

    direta de pessoal pela Administrao, independentemente de concurso pblico:

    SUM-363, TST. CONTRATO NULO. EFEITOS.

    A contratao de servidor pblico, aps a CF/1988, sem prvia aprovao em

    concurso pblico, encontra bice no respectivo art. 37, II e 2, somente lhe conferindo

    direito ao pagamento da contraprestao pactuada, em relao ao nmero de horas

    trabalhadas, respeitado o valor da hora do salrio mnimo, e dos valores referentes aos

    depsitos do FGTS.

  • 22

    Cooperativas: a terceirizao tambm pode se dar mediante contratao de cooperativas de trabalho,

    observadas as regras da Smula 331. Assim, a despeito da previso do art. 442, par. un., da CLT

    (inserido em 1994), poder se configurar relao de emprego direta entre o cooperado e o tomador de

    seus servios se contratada a fraude na terceirizao.

    Art. 442, Pargrafo nico, CLT. Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade

    cooperativa, no existe vnculo empregatcio entre ela e seus associados, nem entre

    estes e os tomadores de servios daquela.

    SUBEMPREITADA

    O contrato de subempreitada, que ocorre quando o empreiteiro principal transfere a execuo de

    certos servios a outrem (subempreiteiro), vem regulado pelo art. 455 da CLT:

    Art. 455, CLT - Nos contratos de subempreitada responder o subempreiteiro pelas

    obrigaes derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos

    empregados, o direito de reclamao contra o empreiteiro principal pelo

    inadimplemento daquelas obrigaes por parte do primeiro.

    Pargrafo nico - Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos termos da lei civil,

    ao regressiva contra o subempreiteiro e a reteno de importncias a este devidas,

    para a garantia das obrigaes previstas neste artigo.

    No h previso na legislao tampouco consenso em doutrina sobre se tal responsabilidade

    do empreiteiro principal subsidiria ou solidria, embora prevalea o entendimento doutrinrio da

    responsabilidade subsidiria (j que a solidariedade no se presume).

    Importante, ainda, a OJ-SDI-1 n 191, TST, que afasta a responsabilidade do dono da obra

    (ainda que seja um ente pblico) salvo se este for empresa construtora ou incorporadora:

    CONTRATO DE EMPREITADA. DONO DA OBRA DE CONSTRUO CIVIL.

    RESPONSABILIDADE.

    Diante da inexistncia de previso legal especfica, o contrato de empreitada de

    construo civil entre o dono da obra e o empreiteiro no enseja responsabilidade

    solidria ou subsidiria nas obrigaes trabalhistas contradas pelo empreiteiro, salvo

    sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora.

    (OBS: OJ alterada em 2011)

  • 23

    4. CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO: CONCEITO, CLASSIFICAO E

    CARACTERSTICAS

    A. Conceito

    O conceito de contrato de trabalho vem previsto no art. 442 da CLT:

    Art. 442, CLT - Contrato individual de trabalho o acordo tcito ou expresso,

    correspondente relao de emprego.

    Trata-se de definio muito criticada pela doutrina, por misturar as noes de contrato de trabalho

    e relao de emprego (teorias contratualista e anticontratualista assim, a configurao do contrato de

    trabalho depende do ato celebrao do contrato entre as partes ou do fato prestao efetiva de

    servios?).

    De qualquer maneira, pode-se resumir que o contrato de trabalho o acordo, tcito ou expresso

    (verbal ou escrito), firmado por uma pessoa fsica (empregado) que se compromete a prestar servios

    pessoalmente, com habitualidade, mediante remunerao, a outra pessoa fsica ou jurdica (empregador),

    a qual ser responsvel pela direo de seus servios.

    OBS: pela teoria contratualista, o contrato de trabalho tem natureza jurdica de contrato de direito civil,

    como a compra e venda (1), a locao de servios (2), o contrato de sociedade (3) e o mandato (4). So,

    porm, desferidas as seguintes crticas a tais teorias: (1) o trabalho no pode ser considerado mercadoria;

    (2) terminada a locao, no possvel restituir-se a coisa locada na sua forma e substncia; (3) no h

    affectio societatis e (4) no h gratuidade, nem representao (a qual s existe nos cargos de confiana).

    J segundo a teoria anticontratualista, de grande destaque na Alemanha, a relao de emprego no surge

    do contrato, mas da integrao do trabalhador na unidade empresarial ou da ocupao de um posto na

    empresa. Dentro dessa ltima teoria, destaca-se a institucionalista, que entende ser o contrato uma

    instituio.

  • 24

    Hoje, no Brasil, h entendimento ecltico: prevalece a doutrina contratualista, mas em moldes

    diferenciados, i.e., considerando a efetiva prestao de servios para caracterizao do contrato. Mas o

    contrato, em si, no desconsiderado vejam-se, e.g., as regras sobre interrupo e suspenso

    (situaes em que a relao de emprego s mantida em razo do contrato).

    Tambm deve ser analisado o art. 443 da CLT:

    Art. 443, CLT - O contrato individual de trabalho poder ser acordado tcita ou

    expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado.

    OBS: A prova do contrato de trabalho realizada por meio das anotaes constantes na CTPS do

    empregado, as quais, segundo a Smula n 12 do TST, geram presuno relativa de veracidade:

    SUM-12 CARTEIRA PROFISSIONAL

    As anotaes apostas pelo empregador na carteira profissional do empregado no

    geram presuno "juris et de jure", mas apenas "juris tantum".

    OBS 2: Nos termos do art. 442-A da CLT (inserido em 2008), vedado ao empregador, na contratao,

    exigir a comprovao de tempo de experincia na atividade superior a 6 meses.

    Art. 442-A, CLT. Para fins de contratao, o empregador no exigir do candidato a

    emprego comprovao de experincia prvia por tempo superior a 6 (seis) meses no

    mesmo tipo de atividade.

    B. Caractersticas

    1. De direito privado: a despeito das normas trabalhistas possurem, de maneira geral,

    natureza de ordem pblica, o contrato de trabalho regula interesses privados de empregado

    e empregador;

    2. Bilateral e sinalagmtico: celebrado entre duas pessoas, envolve prestaes concorrentes

    de ambas as partes: obrigao de prestar servios x obrigao de pagar salrios.

    3. Consensual: independe de forma prescrita em lei (salvo raras excees e.g., contrato de

    aprendizagem, contrato de trabalho temporrio, etc) ainda que no haja qualquer acordo

  • 25

    prvio entre as partes, a simples prestao de servios, caracterizando a relao de

    emprego, ensejar o reconhecimento do contrato.

    4. Oneroso: o servio prestado pelo empregado , necessariamente, remunerado porm,

    por bvio, tal condio no descaracterizada pelo dbito ou mora salarial por parte do

    empregador.

    5. Trato sucessivo: no se esgota com a realizao de um ato singular, mas projeta-se no

    tempo enquanto executada a prestao de servios.

    6. Intuitu personae: decorrente da caracterstica da pessoalidade, implica a impossibilidade

    de substituio do empregado (a no ser excepcionalmente, desde que com anuncia do

    empregador). atenuado no trabalho em domiclio e acentuado em contratos como os de

    artistas e atletas profissionais.

    7. De adeso (classificao proposta por Cesarino Junior, mas no aceita unanimemente

    pela doutrina): em geral, clusulas do contrato so impostas pela lei (lato sensu) ou

    regulamento de empresa, no cabendo discusso pelas partes. Segundo Alice Monteiro de

    Barros, a funo do contrato de trabalho criar uma relao jurdica obrigacional entre

    as partes, porm, com o carter meramente complementar, em face do extenso rol de

    normas imperativas previstas em lei ou instrumentos coletivos... (BARROS, 2009, p. 245)

    C. Classificao

    Pode o contrato de trabalho ser classificado:

    Quanto regulamentao: comuns (CLT) e especiais (legislao extraordinria e.g.,

    advogado, atleta profissional, artista e msico, aeronauta, etc)

    Quanto durao: por prazo determinado ou indeterminado;

  • 26

    Por fora do princpio da continuidade da relao de trabalho, regra geral o contrato por prazo

    indeterminado. As hipteses em que aceito o contrato por prazo esto previstas no art. 443, 1 e 2

    da CLT:

    Art. 443, CLT (...)

    1 - Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigncia

    dependa de termo prefixado ou da execuo de servios especificados ou ainda da

    realizao de certo acontecimento suscetvel de previso aproximada.

    2 - O contrato por prazo determinado s ser vlido em se tratando:

    a) de servio cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminao do prazo;

    (ex: contratao de um professor para dar um curso de especializao)

    b) de atividades empresariais de carter transitrio; (ex: empresa que vai cobrir

    determinado evento no Brasil)

    c) de contrato de experincia

    OBS: Para parte da doutrina, o contrato de experincia um contrato preliminar portanto, ser

    sucedido pelo contrato definitivo se a experincia for bem sucedida. Para outros, trata-se de contrato com

    condio resolutiva, caso a experincia no seja bem sucedida ou, ainda, com condio suspensiva

    (suspendendo seus efeitos superao da experincia). Para outros, no h ciso: o contrato de trabalho

    unitrio, e a experincia faz parte dele.

    O contrato por prazo determinado no pode ultrapassar dois anos, sendo admitida uma nica

    prorrogao dentro desse prazo. O contrato de experincia, por seu turno, no pode ultrapassar 90 dias,

    tambm se admitindo uma prorrogao (Sm. 188 do TST).

    Caso ultrapassado o perodo mximo, ou prorrogado mais de uma vez o contrato, ser

    considerado celebrado por prazo indeterminado.

    Art. 445, CLT - O contrato de trabalho por prazo determinado no poder ser

    estipulado por mais de 2 (dois) anos, observada a regra do art. 451.

    Pargrafo nico. O contrato de experincia no poder exceder de 90 (noventa) dias

    Art. 451, CLT - O contrato de trabalho por prazo determinado que, tcita ou

    expressamente, for prorrogado mais de uma vez passar a vigorar sem determinao de

    prazo.

  • 27

    Ademais, se celebrado outro contrato por prazo determinado dentro de 6 meses do anterior (salvo

    se justificado), tambm ser considerado por prazo indeterminado:

    Art. 452, CLT - Considera-se por prazo indeterminado todo contrato que suceder,

    dentro de 6 (seis) meses, a outro contrato por prazo determinado, salvo se a expirao

    deste dependeu da execuo de servios especializados ou da realizao de certos

    acontecimentos.

    Outras leis estabelecem hipteses especficas de contrato por prazo:

    Contrato a prazo institudo por meio de ACT ou CCT (Lei n 9.601/98): pode ser firmado

    em hipteses outras que as previstas na CLT, desde que represente acrscimo no nmero

    de empregados da empresa, Tem durao de dois anos, mas pode ser prorrogado sem

    limite de vezes, dentro desse prazo. H necessidade de anotao na CTPS do empregado,

    indicando-se a lei de regncia

    Contrato de trabalho temporrio (Lei n 6019/74)

    Contrato de safra (art. 14, par. un. da Lei n 5889/73): ressaltando-se que, se terminada a

    safra, continuar o trabalhador a prestar servios subordinados ao empregador, o contrato

    se converter em indeterminado.

    Contrato de trabalho rural por pequeno prazo (art. 14-A da Lei n 5889/73): firmado por

    produtor rural pessoa fsica, no pode exceder 2 meses no perodo de um ano caso

    contrrio, ser automaticamente transformado em contrato por prazo indeterminado.

    Permitida a prorrogao sempre que necessrio, desde que no ultrapasse o prazo de 2

    meses em um ano).

    Contrato de trabalho do atleta profissional de futebol (Lei n 9615/98 Lei Pel): com durao entre 3

    meses e 5 anos, pode ser prorrogado mais de uma vez e no se sujeita ao interstcio de 6 meses do art.

    452 da CLT.

  • 28

    OBS: No h forma especfica para a celebrao dos contratos a prazo, entendendo a doutrina que

    tambm estes so consensuais. Ademais, ao trmino do contrato de experincia, no necessrio ao

    empregador expor as razes da no-contratao definitiva do empregado, em face da ausncia de

    previso legal nesse sentido.

    Quanto aos sujeitos: contrato individual ou plrimo (contrato de equipe e.g., orquestra,

    banda);

    Quanto qualidade do trabalho: manual, tcnico ou intelectual (v. art. 3, par. un., CLT)

    Quanto ao local: trabalho na empresa, trabalho externo (art. 62, I, CLT), trabalho a

    domiclio (includo o teletrabalho)

    Quanto forma: expresso (verbal ou escrito) ou tcito

    D. Morfologia

    A morfologia estuda os elementos do contrato de trabalho, a saber:

    a. Elementos essenciais

    1.Capacidade das partes: adquirida aos 16 anos, salvo na condio de aprendiz, aos 14

    (art. 7, XXXIII, CF/88).

    2.Objeto lcito: como regra geral, no importa a licitude do empreendimento, mas apenas

    do objeto.

    OBS: Importante, aqui, a distino entre objeto ilcito e proibido, para fins de celebrao do contrato

    de trabalho. Objeto ilcito aquele que viola a lei, a moral e os bons costumes e, portanto, implica total

    nulidade do contrato de trabalho (assim, e.g., o contrato de trabalho de um traficante de drogas). No

    objeto proibido, a despeito de existir proibio legal, o contrato gera todos os seus efeitos, pois h

    prevalncia do interesse do trabalhador (assim, e.g., o trabalho prestado Administrao Pblica sem

    concurso (Smula 363, TST), em que h pagamento da contraprestao e recolhimento do FGTS,

  • 29

    embora no consubstanciado o vnculo). Quando a atividade empresarial ilcita, prevalece o

    entendimento jurisprudencial que leva em conta o conhecimento do empregado i.e., se, embora

    exercendo atividade lcita na empresa, este tem conhecimento de que esta se dedica a atividades ilcitas,

    seu contrato ser nulo (assim, e.g., a faxineira que faz a limpeza do prostbulo).

    Algumas Smulas e Orientaes Jurisprudenciais do TST so essenciais nesse tema:

    OJ-SDI1-199 JOGO DO BICHO. CONTRATO DE TRABALHO. NULIDADE.

    OBJETO ILCITO

    nulo o contrato de trabalho celebrado para o desempenho de atividade inerente

    prtica do jogo do bicho, ante a ilicitude de seu objeto, o que subtrai o requisito de

    validade para a formao do ato jurdico.

    SUM-386 POLICIAL MILITAR. RECONHECIMENTO DE VNCULO

    EMPREGATCIO COM EMPRESA PRIVADA

    Preenchidos os requisitos do art. 3 da CLT, legtimo o reconhecimento de relao de

    emprego entre policial militar e empresa privada, independentemente do eventual

    cabimento de penalidade disciplinar prevista no Estatuto do Policial Militar.

    3.Consenso: como visto, caracterstica marcante do contrato de trabalho embora possa

    ocorrer at mesmo de forma tcita. Por bvio, afetam o consentimento os vcios do

    dolo, erro, coao, simulao e fraude, previstos no CC/2002 assim, e.g., h coao

    se os empregados de uma empresa foram o empregador a contratar determinado

    trabalhador. No h consenso no trabalho o preso (art. 28, 2 da LEP).

    b.Elementos acidentais

    1.Termo e condio: embora no sejam muito comuns, podem existir em determinados

    contratos de trabalho. Assim, e.g., os contratos por prazo determinado (termo certo);

    contratos para realizao de obra ou contratos de safra (termo incerto).

    I. ALTERAO DO CONTRATO DE TRABALHO: ALTERAO UNILATERAL E BILATERAL; JUS VARIANDI.

  • 30

    A continuidade do contrato de trabalho determina a possibilidade de alterao das condies

    inicialmente pactuadas matria regulada pelo art. 468 da CLT:

    Art. 468, CLT - Nos contratos individuais de trabalho s lcita a alterao das

    respectivas condies por mtuo consentimento, e ainda assim desde que no resultem,

    direta ou indiretamente, prejuzos ao empregado, sob pena de nulidade da clusula

    infringente desta garantia.

    Dois requisitos so essenciais para qualquer alterao no contrato de trabalho:

    i. Mtuo consentimento das partes

    ii. Alterao no acarreta prejuzos ao empregado.

    Portanto, em regra, alteraes do contrato de trabalho no podem ser impostas unilateralmente

    pelo empregador, sem a aceitao do empregado, sob pena de serem consideradas nulas exceo, por

    bvio, se faz hiptese de alteraes favorveis ao empregado. Ademais, ainda que o empregado

    concorde com a alterao, esta no poder lhe causar prejuzos de qualquer espcie.

    Exceo regra geral envolve o conceito de ius variandi: prerrogativa assegurada ao empregador

    de alterar unilateralmente o contrato de trabalho. Inserem-se no ius variandi modificaes relacionadas

    ao cotidiano da atividade empresarial, tais como a alterao de maquinrio ou do uniforme utilizado

    pelos trabalhadores. Ademais, entende-se exerccio legtimo do ius variandi a determinao, pelo

    empregador, de que o empregado realize atividades no previstas originalmente no contrato, desde que

    respeitadas suas condies pessoais (art. 456, p. un. da CLT).

    Outras excees regra geral so previstas pela prpria legislao trabalhista, a saber:

    a) Alteraes quanto funo desempenhada pelo empregado

    Quanto aos ocupantes de cargos de confiana, permite-se a reverso ao cargo anterior, com

    supresso da gratificao de funo:

  • 31

    Art. 468, Pargrafo nico, CLT - No se considera alterao unilateral a

    determinao do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo

    efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exerccio de funo de confiana.

    EXCEO: empregado percebeu a gratificao de funo por dez anos ou mais (Smula n 372, do

    TST).

    Problema: pode o empregado promover unilateralmente o empregado? Segundo entendimento dominante,

    no precisa do consentimento do trabalhador (pois a nova funo pode lhe acarretar desgaste

    exacerbado). Porm, se a empresa for organizada em quadro de carreira, h questionamentos sobre a

    possibilidade de o empregado recusar a promoo.

    OBS: Tema importante para o direito do trabalho, a substituio de empregados vem regida pela Sm.

    159 do TST:

    SUM-159, TST. SUBSTITUIO DE CARTER NO EVENTUAL E VACNCIA

    DO CARGO

    I - Enquanto perdurar a substituio que no tenha carter meramente eventual,

    inclusive nas frias, o empregado substituto far jus ao salrio contratual do

    substitudo.

    II - Vago o cargo em definitivo, o empregado que passa a ocup-lo no tem direito a

    salrio igual ao do antecessor.

    b) Alteraes quanto ao local de trabalho

    A transferncia do empregado para outra localidade vem regulada no art. 469 da CLT e segue a

    regra geral do art. 468 (validade condicionada bilateralidade e inocorrncia de prejuzo).

    H excees, entretanto, previstas no prprio artigo:

    Art. 469, CLT - Ao empregador vedado transferir o empregado, sem a sua anuncia,

    para localidade diversa da que resultar do contrato, no se considerando transferncia

    a que no acarretar necessariamente a mudana do seu domiclio.

    1 - No esto compreendidos na proibio deste artigo: os empregados que exeram

    cargo de confiana e aqueles cujos contratos tenham como condio, implcita ou

    explcita, a transferncia, quando esta decorra de real necessidade de servio.

  • 32

    2 - licita a transferncia quando ocorrer extino do estabelecimento em que

    trabalhar o empregado.

    3 - Em caso de necessidade de servio o empregador poder transferir o empregado

    para localidade diversa da que resultar do contrato, no obstante as restries do

    artigo anterior, mas, nesse caso, ficar obrigado a um pagamento suplementar, nunca

    inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salrios que o empregado percebia naquela

    localidade, enquanto durar essa situao.

    Transferncia que no acarrete mudana de domiclio do empregado (entendida a transferncia

    para outra localidade do mesmo Municpio ou regio metropolitana denominada pela doutrina

    remoo). Nesse caso, o trabalhador tem direito a suplemento salarial correspondente ao

    acrscimo de despesas com transporte:

    SUM-29, TST. TRANSFERNCIA

    Empregado transferido, por ato unilateral do empregador, para local mais distante de

    sua residncia, tem direito a suplemento salarial correspondente ao acrscimo da

    despesa de transporte.

    Transferncia de empregados que exeram cargo de confiana ou cujos contratos tenham como

    condio, implcita ou explcita, a transferncia (e.g., empregado contratado para a implantao

    de novas filiais), desde que comprovada a real necessidade de servio (Smula n 43, TST);

    Extino do estabelecimento no local em que o empregado trabalha;

    Transferncia provisria, para atender a necessidade de servio. Nesse caso, entretanto, ser

    devido o pagamento de adicional de transferncia enquanto perdurar a situao (pelo menos, 25%

    do salrio do empregado). Importante, a esse respeito, a OJ-SDI1-113 do TST, que garante o

    direito ao adicional tambm ao ocupante de cargo de confiana ou transferido em razo do

    contrato:

    OJ-SDI1-113, TST ADICIONAL DE TRANSFERNCIA. CARGO DE CONFIANA

    OU PREVISO CONTRATUAL DE TRANSFERNCIA. DEVIDO. DESDE QUE A

    TRANSFERNCIA SEJA PROVISRIA.

    O fato de o empregado exercer cargo de confiana ou a existncia de previso de

    transferncia no contrato de trabalho no exclui o direito ao adicional. O pressuposto

  • 33

    legal apto a legitimar a percepo do mencionado adicional a transferncia

    provisria.

    No h, entretanto, determinao do que seria transferncia provisria para fins de aplicao

    desse dispositivo assim, a jurisprudncia tem entendido que esta pode perdurar por at um ano

    (interpretao analgica do art. 478, 1 da CLT).

    Regra geral: segundo o art. 470 da CLT, as despesas resultantes da transferncia correro por conta do

    empregador trata-se da denominada ajuda de custo.

    OBS: A transferncia abusiva do empregado pode ser obstada por liminar, nos termos do art. 659, IX da

    CLT:

    Art. 659, CLT: Competem privativamente aos Presidentes das Juntas, alm das que lhes

    forem conferidas neste Ttulo e das decorrentes de seu cargo, as seguintes atribuies:

    (...)

    X - conceder medida liminar, at deciso final do processo, em reclamaes

    trabalhistas que visem a tornar sem efeito transferncia disciplinada pelos pargrafos

    do artigo 469 desta Consolidao.

    Alm da hiptese prevista no art. 469, considera-se abusiva a transferncia de empregado eleito

    para cargo de administrao sindical ou representao profissional, pois esta inviabiliza a execuo de

    suas atribuies.

    c) Alteraes quanto ao horrio de trabalho

    A princpio, so permitidas alteraes unilaterais de horrio, desde que dentro do mesmo turno

    (salvo se, comprovadamente, acarretarem prejuzos ao empregado). Se a transferncia envolve turnos

    diferentes, tm-se duas situaes:

    i. Transferncia do turno noturno para o diurno: admissvel com o consentimento do

    trabalhador (embora tal alterao acarrete prejuzo financeiro ao empregado i.e.,

  • 34

    a perda do adicional noturno , o trabalho no perodo diurno mais benfico a sua

    sade). Nesse sentido, o posicionamento do TST:

    SMULA 265, TST. ADICIONAL NOTURNO. ALTERAO DE TURNO DE

    TRABALHO. POSSIBILIDADE DE SUPRESSO.

    A transferncia para o perodo diurno de trabalho implica a perda do direito ao

    adicional noturno.

    ii. Transferncia do horrio diurno para o noturno: h discusses sobre sua

    admissibilidade, por implicar prejuzo sade do trabalhador.

    A quantidade de trabalho pode ser reduzida unilateralmente, desde que mantido o salrio.

    Reduzido o salrio ou ampliada a jornada, a alterao considerada nula.

    OBS: segundo o TST, possvel reduzir a carga horria do professor cujo salrio fixado em nmero de

    horas (ius variandi):

    OJ-SDI1-244 PROFESSOR. REDUO DA CARGA HORRIA. POSSIBILIDADE

    A reduo da carga horria do professor, em virtude da diminuio do nmero de

    alunos, no constitui alterao contratual, uma vez que no implica reduo do valor da

    hora-aula.

    d) Alteraes quanto ao salrio

    Princpio geral: irredutibilidade salarial, salvo mediante negociao coletiva (art. 7, VI da

    CF/88). Portanto, em regra, alteraes para melhor so permitidas, pois mais favorveis ao empregado.

    Art. 7, CF/88. So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem

    melhoria de sua condio social: (...)

    VI - irredutibilidade do salrio, salvo o disposto em conveno ou acordo coletivo; (...)

    OBS: Antes da CF/88, em duas oportunidades o legislador permitiu a reduo salarial: no art. 503 da

    CLT, que contempla a possibilidade de reduo dos salrios no caso de ocorrncia de fora maior ou

    prejuzos devidamente comprovados (caso em que a reduo nunca poder ser superior a 25%), bem

    como na Lei n 4.923/65, que assegura a reduo dos salrios por crise da empresa provocada pela

    conjuntura nacional. Com a promulgao da CF/88, entretanto, a doutrina passou a questionar a

  • 35

    aplicabilidade de referidos dispositivos. Hoje, prevalece o entendimento de que tais disposies so

    aplicveis porm, somente podero ser efetivadas aps prvia negociao com o sindicato da

    categoria.

    Modificao unilateral da data de pagamento: permitida, desde que no contrarie contrato ou instrumento

    normativo e que o salrio seja pago at o quinto dia til seguinte ao ms vencido. Nesse sentido, a OJ-

    SDI I n 159, do TST:

    OJ-SDI1-159 DATA DE PAGAMENTO. SALRIOS. ALTERAO

    Diante da inexistncia de previso expressa em contrato ou em instrumento normativo,

    a alterao de data de pagamento pelo empregador no viola o art. 468, desde que

    observado o pargrafo nico, do art. 459, ambos da CLT.

    OBS: A jurisprudncia tem entendido ser invlida a alterao de condies oferecidas pelo empregador

    na divulgao do anncio de emprego, nos termos do art. 30 do CDC.

    II. SUSPENSO E INTERRUPO DO CONTRATO DE TRABALHO

    Como prestao de trato sucessivo, o contrato de trabalho est sujeito a acontecimentos que

    podem comprometer seus efeitos (e.g. doena do empregado, suspenso dos servios pelo empregador,

    etc).

    Por fora do princpio da continuidade, entretanto, o contrato de trabalho no abalado por tais

    situaes, que apenas configuram hipteses de suspenso e interrupo do contrato.

    Caractersticas comuns:

    Ambas envolvem a paralisao transitria dos servios prestados, sem extino ou cessao do

    contrato de trabalho;

    Ambas implicam suspenso dos efeitos do contrato (lembrando-se que h obrigaes que

    permanecem, como a de lealdade, preservao de sigilo, etc portanto, pode ocorrer prtica de

    ato que caracterize a justa causa);

  • 36

    O empregado no poder ser dispensado no curso da suspenso ou interrupo, salvo por justa

    causa;

    Em ambas, so asseguradas ao empregado, por ocasio de seu retorno ao trabalho, todas as

    vantagens que, em sua ausncia, tenham sido atribudas categoria (art. 471 da CLT):

    Art. 471, CLT - Ao empregado afastado do emprego, so asseguradas, por ocasio de

    sua volta, todas as vantagens que, em sua ausncia, tenham sido atribudas categoria

    a que pertencia na empresa.

    Diferenas:

    Na interrupo, embora no haja prestao de servios, h pagamento de salrios pelo

    empregador e contagem do tempo de servio correspondente ao afastamento, ao contrrio da

    suspenso (o empregado no recebe remunerao, nem contado como tempo de servio o

    perodo em que permaneceu afastado exceto nos casos a seguir mencionados). Por tal razo, a

    interrupo denominada, por parte da doutrina suspenso parcial do contrato de trabalho,

    enquanto a suspenso seria a suspenso total.

    Hipteses:

    1. Interrupo: frias, descanso semanal remunerado (DSR) e feriados, licena remunerada, afastamento

    por doena ou acidente at o 15 dia (inclusive), faltas justificadas (art. 473 da CLT), afastamento de

    empregado estvel para responder a inqurito para apurao de falta grave, se a deciso for de

    improcedncia da ao (art. 494, CLT), afastamento para atuar na CCP (art. 625-B, 2 da CLT),

    afastamento da gestante para realizar exames e consultas (art. 392, 4, II da CLT), etc.

    Art. 473, CLT - O empregado poder deixar de comparecer ao servio sem prejuzo do

    salrio:

    I - at 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cnjuge, ascendente,

    descendente, irmo ou pessoa que, declarada em sua carteira de trabalho e previdncia

    social, viva sob sua dependncia econmica (ateno: o afastamento do professor vem

    regulado pelo art. 320, 3 da CLT);

  • 37

    II - at 3 (trs) dias consecutivos, em virtude de casamento (casamento civil, incluindo a

    data do casamento);

    III - por um dia, em caso de nascimento de filho no decorrer da primeira semana (+ 5

    dias de licena paternidade art. 10, 1 do ADCT);

    IV - por um dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doao voluntria de

    sangue devidamente comprovada;

    V - at 2 (dois) dias consecutivos ou no, para o fim de se alistar eleitor, nos trmos da

    lei respectiva.

    VI - no perodo de tempo em que tiver de cumprir as exigncias do Servio Militar

    referidas na letra "c" do art. 65 da Lei n 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do

    Servio Militar).

    VII - nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular

    para ingresso em estabelecimento de ensino superior.

    VIII - pelo tempo que se fizer necessrio, quando tiver que comparecer a juzo

    (complementado pela Sm. 155 do TST).

    IX - pelo tempo que se fizer necessrio, quando, na qualidade de representante de

    entidade sindical, estiver participando de reunio oficial de organismo internacional do

    qual o Brasil seja membro.

    2. Suspenso: suspenso disciplinar, licena no-remunerada, afastamento por doena ou acidente aps

    o 15 dia, afastamento para exerccio de encargo pblico (e.g., mandato sindical), eleio para exercer

    cargo de direo de S.A. (Sm. 269, TST), ausncia por motivo de priso (durante o inqurito ou a ao

    penal pois a resciso do contrato pode se operar com o trnsito em julgado da deciso art. 482, d),

    suspenso do estvel para ajuizamento do inqurito, se este for procedente, prazo fixado pelas leis de

    previdncia social para a efetivao do benefcio de aposentadoria por invalidez (art. 475, CLT),

    ausncia para exerccio de cargo pblico ou mandato poltico eletivo (art. 472, CLT), etc.

    OBS: Com relao aposentadoria por invalidez, entendia-se que, aps decorridos cinco anos de sua

    concesso, esta se tornava definitiva, implicando resciso do contrato de trabalho. Hoje, porm,

    considerada mera hiptese de suspenso, pois o benefcio pode ser revisto a qualquer tempo pelo INSS.

    Veja-se o entendimento do TST:

    SUM-160 APOSENTADORIA POR INVALIDEZ

    Cancelada a aposentadoria por invalidez, mesmo aps cinco anos, o trabalhador ter

    direito de retornar ao emprego, facultado, porm, ao empregador, indeniz-lo na forma

    da lei

  • 38

    Por fora de sua especificidade, os seguintes casos costumam ser cobrados em concursos pblicos:

    i. Greve: a teor da Lei n 7.783/89, hiptese de suspenso contratual. Porm,

    admite-se a possibilidade de as partes convencionarem o pagamento de salrios,

    configurando hiptese de interrupo contratual.

    ii. Prestao de servio militar e acidente do trabalho, a partir do 15 dia:

    embora, a rigor, sejam hipteses de suspenso (pois no h pagamento de

    salrios), o par. un. do art. 4 da CLT prev a contagem do tempo de servio pelo

    perodo do afastamento. Assim, segundo a doutrina, trata-se de hipteses hbridas.

    Veja-se a redao de referido dispositivo legal:

    Art. 4, CLT (...)

    Pargrafo nico - Computar-se-o, na contagem de tempo de servio, para efeito de

    indenizao e estabilidade, os perodos em que o empregado estiver afastado do

    trabalho prestando servio militar ... (VETADO) ... e por motivo de acidente do

    trabalho.

    iii. Licena-maternidade: embora prevalea o entendimento doutrinrio de que se

    trata de suspenso do contrato de trabalho (pois no h pagamento de salrios pelo

    empregador, e sim de benefcio salrio-maternidade pela Previdncia Social),

    h autores que afirmam se tratar de hiptese de interrupo (pois h contagem do

    tempo de servio e incidncia de FGTS).

    OBS: Segundo o art. 472, 2 da CLT, o tempo de afastamento por suspenso ou interrupo do contrato

    de trabalho no afeta a fluncia do contrato a termo, salvo acordo em contrrio. Assim, se, por exemplo,

    o empregado afastado por motivo de doena durante o contrato de experincia, o prazo de 90 dias

    fluir normalmente e, ainda que tal prazo expire enquanto o empregado ainda estiver afastado, o contrato

    ser extinto.

  • 39

    OBS 2: Os depsitos do FGTS so devidos na hiptese de interrupo contratual, e tambm em algumas

    hipteses de suspenso, como: prestao de servio militar, acidente do trabalho, licena-

    maternidade e suspenso para ocupar cargo de dirigente de S.A. (esta ltima, a depender de opo

    da empresa).

    III. CESSAO DO CONTRATO DE TRABALHO

    a cessao total e definitiva do vnculo de emprego (embora possam permanecer outras

    obrigaes, como a de sigilo ou no-concorrncia, pactuadas para se estenderem aps o trmino do

    contrato). A cessao do contrato de trabalho pode decorrer de um negcio jurdico ou de um mero fato:

    Negcio jurdico: demisso, dispensa com ou sem justa causa, resciso indireta, culpa recproca;

    Fato: morte do empregado, morte do empregador, fora maior, advento do prazo.

    A) Demisso

    Resciso do contrato de trabalho por iniciativa do empregado ato unilateral e receptcio.

    H obrigatoriedade de conceder aviso prvio de 30 dias ao empregador (salvo se por ele

    dispensado).

    Ressalte-se que a falta de aviso prvio por parte do empregado d ao empregador o direito de

    descontar os salrios correspondentes ao perodo respectivo (art. 487, 2, CLT).

    OBS: caso o empregado seja portador de estabilidade no emprego, deve ter seu pedido de demisso

    homologado pelo sindicato (art. 500, CLT):

    Art. 500, CLT - O pedido de demisso do empregado estvel s ser vlido quando feito

    com a assistncia do respectivo Sindicato e, se no o houver, perante autoridade local

    competente do Ministrio do Trabalho e Previdncia Social ou da Justia do Trabalho.

  • 40

    Verbas: dias trabalhados, frias vencidas, frias proporcionais, 13 salrio proporcional. No poder

    sacar os depsitos do FGTS, nem ter direito a qualquer espcie de multa sobre tais valores.

    Formalidades para dispensa/demisso

    No caso de empregado com mais de um ano de servio, a demisso ou a dispensa deve ser

    homologada pelo Sindicato ou SRTE. No instrumento de resciso, dever ser especificada a natureza de

    cada parcela paga ao empregado e discriminado o seu valor.

    Nesse sentido, a Sm. 330 do TST:

    SUM-330 QUITAO. VALIDADE

    A quitao passada pelo empregado, com assistncia de entidade sindical de sua

    categoria, ao empregador, com observncia dos requisitos exigidos nos pargrafos do

    art. 477 da CLT, tem eficcia liberatria em relao s parcelas expressamente

    consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada ao valor dado

    parcela ou parcelas impugnadas.

    I - A quitao no abrange parcelas no consignadas no recibo de quitao e,

    conseqentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem desse

    recibo.

    II - Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigncia do contrato de

    trabalho, a quitao vlida em relao ao perodo expressamente consignado no

    recibo de quitao.

    O pagamento das parcelas constantes do instrumento dever ser realizado no seguinte prazo:

    a) at o primeiro dia til imediato ao trmino do contrato;

    b) at o dcimo dia, contado da data da notificao da demisso, quando da ausncia do aviso

    prvio, indenizao ou dispensa de seu cumprimento. Tambm se aplica referido prazo no caso de aviso

    prvio cumprido em casa (OJ-SDI14, TST).

    Caso no observados referidos prazos, a empresa deve pagar duas multas: uma para o MTE

    (multa administrativa) e outra para o trabalhador (no valor de um salrio). Para o empregador no

    incorrer em mora, dever propor ao de consignao em pagamento.

  • 41

    A massa falida no se sujeita a referida multa (Sm. 388, TST). Ela aplicvel, porm, pessoa

    jurdica de direito pblico (OJ-SDI1-238, TST).

    Veja-se a redao do art. 477, cuja leitura atenta se recomenda:

    Art. 477 - assegurado a todo empregado, no existindo prazo estipulado para a

    terminao do respectivo contrato, e quando no haja le dado motivo para cessao

    das relaes de trabalho, o direto de haver do empregador uma indenizao, paga na

    base da maior remunerao que tenha percebido na mesma emprsa.

    1 - O pedido de demisso ou recibo de quitao de resciso, do contrato de trabalho,

    firmado por empregado com mais de 1 (um) ano de servio, s ser vlido quando feito

    com a assistncia do respectivo Sindicato ou perante a autoridade do Ministrio do

    Trabalho e Previdncia Social.

    2 - O instrumento de resciso ou recibo de quitao, qualquer que seja a causa ou

    forma de dissoluo do contrato, deve ter especificada a natureza de cada parcela paga

    ao empregado e discriminado o seu valor, sendo vlida a quitao, apenas,

    relativamente s mesmas parcelas.

    3 - Quando no existir na localidade nenhum dos rgos previstos neste artigo, a

    assistncia ser prestada pelo Represente do Ministrio Pblico ou, onde houver, pelo

    Defensor Pblico e, na falta ou impedimento dste, pelo Juiz de Paz.

    4 - O pagamento a que fizer jus o empregado ser efetuado no ato da homologao

    da resciso do contrato de trabalho, em dinheiro ou em cheque visado, conforme

    acordem as partes, salvo se o empregado fr analfabeto, quando o pagamento smente

    poder ser feito em dinheiro.

    5 - Qualquer compensao no pagamento de que trata o pargrafo anterior no

    poder exceder o equivalente a um ms de remunerao do empregado.

    6 - O pagamento das parcelas constantes do instrumento de resciso ou recibo de

    quitao dever ser efetuado nos seguintes prazos:

    a) at o primeiro dia til imediato ao trmino do contrato; ou

    b) at o dcimo dia, contado da data da notificao da demisso, quando da ausncia

    do aviso prvio, indenizao do mesmo ou dispensa de seu cumprimento.

    7 - O ato da assistncia na resciso contratual ( 1 e 2) ser sem nus para o

    trabalhador e empregador.

    8 - A inobservncia do disposto no 6 deste artigo sujeitar o infrator multa de

    160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor do empregado,

    em valor equivalente ao seu salrio,

    OBS: A multa por atraso no pagamento das verbas rescisrias, prevista no art. 477 da CLT, tambm

    aplicvel pessoa jurdica de direito pblico:

  • 42

    OJ-SDI1-238 MULTA. ART. 477 DA CLT. PESSOA JURDICA DE DIREITO

    PBLICO. APLICVEL

    Submete-se multa do artigo 477 da CLT a pessoa jurdica de direito pblico que no

    observa o prazo para pagamento das verbas rescisrias, pois nivela-se a qualquer

    particular, em direitos e obrigaes, despojando-se do "jus imperii" ao celebrar um

    contrato de emprego.

    B) Dispensa

    Resciso do contrato de trabalho por iniciativa do empregador ato unilateral e receptcio.

    1. Dispensa sem justa causa

    A CF/88 assegura proteo ao empregado contra dispensa sem justa causa:

    Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem

    melhoria de sua condio social:

    I - relao de emprego protegida contra despedida arbitrria ou sem justa causa, nos

    termos de lei complementar, que prever indenizao compensatria, dentre outros

    direitos;

    Todavia, hoje tal proteo se resume indenizao conferida ao empregado ao trmino da

    relao de emprego (multa de 40% +10%, incidente sobre os valores do FGTS art. 10, I, ADCT). No

    foi promulgada a lei complementar a que se refere o artigo.

    Exceo ao direito potestativo do empregador de dispensar qualquer empregado o portador de

    estabilidade no emprego, que s pode ser dispensado se comprovado motivo grave.

    Verbas: aviso prvio (trabalhado ou indenizado), saldo de salrios dos dias trabalhados, frias vencidas e

    proporcionais, 13 salrio proporcional, saque do FGTS e, sobre o valor depositado, multa de 40%.

    OBS: considera-se obstativa a dispensa que ocorre no ms anterior data-base ensejando direito

    indenizao no valor de um salrio, nos termos da Sm. 314 do TST:

    SUM-314 INDENIZAO ADICIONAL. VERBAS RESCISRIAS. SALRIO

    CORRIGIDO

    Se ocorrer a resciso contratual no perodo de 30 (trinta) dias que antecede data-

    base, observada a Smula n 182 do TST, o pagamento das verbas rescisrias com o

  • 43

    salrio j corrigido no afasta o direito indenizao adicional prevista nas Leis ns

    6.708, de 30.10.1979 e 7.238, de 28.10.1984.

    2. Dispensa com justa causa

    Verificada quando o empregado praticar ato (doloso ou culposo) que torne a relao de emprego

    insustentvel, por quebra da confiana existente entre as partes.

    Requisitos:

    Previso legal: apenas ensejam justa causa as hipteses previstas em lei;

    Imediatidade: empresa deve tomar as providncias cabveis imediatamente aps constatar a

    ocorrncia do ato faltoso, sob pena de restar configurado o perdo tcito.

    Gravidade (ou proporcionalidade): o ato deve ser grave o suficiente para abalar a relao de

    confiana existente na relao de emprego. Se o ato no atinge tal gravidade, a aplicao da justa

    causa indevida (podendo o empregador optar pela aplicao de sano menos severa e, na

    repetio, ir aplicando gradativamente outras sanes at chegar justa causa).

    Proibio ao bis in idem: a uma mesma falta no podem ser aplicadas duas ou mais sanes.

    Hipteses:

    As hipteses que autorizam a dispensa com justa causa encontram-se previstas no art. 482 da CLT

    (rol taxativo):

    Art. 482 - Constituem justa causa para resciso do contrato de trabalho pelo

    empregador:

    a) ato de improbidade (ex: roubo, furto, falsificao de documentos, etc entende-se

    que o ato no precisa afetar necessariamente o patrimnio do empregador);

    b) incontinncia de conduta ou mau procedimento (a incontinncia de conduta se refere

    ausncia de pudor no ambiente de trabalho ex: assdio sexual; j o mau

    procedimento amplo, e compreende atos que comprometam a confiana);

    c) negociao habitual por conta prpria ou alheia sem permisso do empregador, e

    quando constituir ato de concorrncia empresa para a qual trabalha o empregado, ou

    for prejudicial ao servio (comrcio habitual ex: secretria que vende produtos de

    beleza);

  • 44

    d) condenao criminal do empregado, passada em julgado, caso no tenha havido

    suspenso da execuo da pena (lembrando que, antes do trnsito em julgado da

    deciso, tem-se to somente a suspenso do empregado);

    e) desdia no desempenho das respectivas funes (preguia, corpo mole);

    f) embriaguez habitual ou em servio (ainda que uma nica vez, se ocorrer em servio

    doena?);

    g) violao de segredo da empresa;

    h) ato de indisciplina ou de insubordinao (descumprimento de ordens gerais ou

    particulares);

    i) abandono de emprego (30 dias consecutivos + animus Smula 32 do TST);

    SUM-32 ABANDONO DE EMPREGO

    Presume-se o abandono de emprego se o trabalhador no retornar ao servio no

    prazo de 30 (trinta) dias aps a cessao do benefcio previdencirio nem

    justificar o motivo de no o fazer.

    j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no servio contra qualquer pessoa, ou

    ofensas fsicas, nas mesmas condies, salvo em caso de legtima defesa, prpria ou de

    outrem;

    k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas fsicas praticadas contra o

    empregador e superiores hierrquicos, salvo em caso de legtima defesa, prpria ou de

    outrem (veja-se que, quando o ato praticado contra o empregador, no se exige seja

    praticado em servio);

    l) prtica constante de jogos de azar (ainda que fora do trabalho, segundo a

    jurisprudncia dominante).

    Pargrafo nico - Constitui igualmente justa causa para dispensa de empregado a

    prtica, devidamente comprovada em inqurito administrativo, de atos atentatrios

    segurana nacional (ex: terrorismo)

    Outras hipteses previstas na CLT:

    No-observncia das normas de segurana e medicina do trabalho e no-uso de EPI (art. 158, par.

    un. da CLT)

    Art. 240 caput e par. un. da CLT: incorre em justa causa o ferrovirio que se recusar, sem

    justificativa, a prestar servio extraordinrio nos casos de urgncia ou de acidente, capazes de

    afetar a segurana ou regularidade do servio.

    Art. 472, 1 da CLT: militar incide em abandono de emprego quando deixa de comunicar ao

    empregador sua inteno de retornar ao emprego no prazo de 30 dias da baixa.

  • 45

    OBS: At 2010, o bancrio poderia ser dispensado em razo da falta reiterada de pagamento de dvidas

    legalmente exigveis (e.g., emprstimo). Porm, o art. 508 da CLT, que regulamentava tal hiptese, foi

    revogado pela Lei n 12.347/10.

    Na dispensa por justa causa, no necessrio que o empregador indique, expressa ou

    verbalmente, o inciso do art. 482 que ensejou a resciso do contrato de trabalho, salvo se houver previso

    no acordo ou conveno coletiva de trabalho aplicvel categoria. Basta, to somente, que narre os fatos

    que provocaram a dispensa.

    Porm, nus do empregador a comprovao da justa causa, por fora do art. 333 do CPC.

    Verbas: saldo de salrios e frias vencidas.

    C) Resciso indireta (dispensa indireta)

    Resciso do contrato de trabalho por iniciativa do empregado, em virtude da justa causa do

    empregador.

    Hipteses:

    As hipteses de resciso indireta encontram-se no art. 483, CLT, e tambm so taxativas:

    Art. 483, CLT. O empregado poder considerar rescindido o contrato e pleitear a

    devida indenizao quando:

    a) forem exigidos servios superiores s suas foras, defesos por lei, contrrios aos

    bons costumes, ou alheios ao contrato (ex: exigncia de trabalho noturno pelo menor,

    exigncia ao vendedor de no emitir notas fiscais, etc);

    b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierrquicos com rigor excessivo

    (na aplicao de sanes ou mesmo na exigncia de condies no justificadas, como

    proibio de usar o banheiro);

    c) correr perigo manifesto de mal considervel (ex: risco de contrair doena ou de sofrer

    acidente por negligncia do empregador riscos normais do contrato, entretanto, no se

    enquadram em tal hiptese);

  • 46

    d) no cumprir o empregador as obrigaes do contrato (e.g., no pagamento de

    salrio, transferncia ilegal do trabalhador, deixar o trabalhador ocioso, etc). A respeito,

    veja-se a Sm. 13 do TST:

    SUM-13 MORA

    O s pagamento dos salrios atrasados em audincia no ilide a mora capaz de

    determinar a resciso do contrato de trabalho

    e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua famlia, ato

    lesivo da honra e boa fama;

    f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legtima

    defesa, prpria ou de outrem;

    g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por pea ou tarefa, de forma a

    afetar sensivelmente a importncia dos salrios.

    1 - O empregado poder suspender a prestao dos servios ou rescindir o contrato,

    quando tiver de desempenhar obrigaes legais, incompatveis com a continuao do

    servio.

    2 - No caso de morte do empregador constitudo em empresa individual, facultado

    ao empregado rescindir o contrato de trabalho.

    3 - Nas hipteses das letras "d" e "g", poder o empregado pleitear a resciso de seu

    contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizaes, permanecendo ou

    no no servio at final deciso do processo.

    preciso que o empregado denuncie o ato faltoso do empregador em juzo, para que seja

    determinada a ruptura do contrato judicialmente. No caso das alneas d e g, pode o empregado

    permanecer no servio, se assim desejar, at o final do processo; nos demais, deve se afastar, sob pena de

    extino da ao sem julgamento de mrito.

    Se no restar comprovada a falta do empregador e o empregado tiver se afastado, entende a

    jurisprudncia que se caracteriza o abandono de emprego (art. 482, i da CLT), sendo devidos os salrios

    at o afastamento.

    Deve ser observada tambm a imediatidade, sob pena de configurao do perdo tcito.

    Verbas: julgada procedente a pretenso do empregado, este receber direitos idnticos aos que receberia

    caso fosse dispensado sem justa causa. Contudo, julgada improcedente, far jus apenas ao saldo de

    salrios e frias vencidas.

  • 47

    D) Culpa recproca

    Situao em que ambas as partes do causa resciso contratual. Para a verificao da culpa

    recproca, necessria a comprovao do nexo causal e concomitncia entre as faltas.

    Verbas: saldo de salrios, frias vencidas e 50% do aviso prvio, das frias proporcionais, do 13

    proporcional (Sm. 14, TST) e da multa do FGTS (i.e., 20% do valor dos depsitos). assegurado o

    saque do FGTS.

    E. Outras hipteses especiais de cessao do contrato

    Fora maior (art. 501 da CLT): a