das profecias à premonição

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"Nada em toda a história do pensamento humano heliocentrismo, evolução, relatividade foi mais verdadeiramente revolucionário ou radicalmente contraditório para o pensamento contemporâneo do que os resultados da investigação da psiprecognitiva”. Dr. Joseph Banks Rhine

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Teoria da Relatividade, desenvolvida por Albert Einstein (1879-1955) que obedece a duas etapas: a Restrita, em 1905, e a Geral, em 1915, foi a mais importante revolução científica deste século XX, que marcha para o fim. Com ela, o tempo e o espaço aparecem como “coisa”, podendo sofrer deformações sob o império da gravidade. O desdobramento da Teoria da Relatividade mostrou que, dependendo da velocidade, o tempo diminui para um viajante, podendo mesmo atingir o ponto de fluxo zero, se o móvel que o transporta se equiparar à velocidade da luz, cerca de 300.000 Km/s. Daí por diante, qualquer acréscimo de velocidade fará o tempo caminharem sentido contrário, para os passageiros do veículo.Esse conceito teórico matemático deu motivo a que se escrevessem inúmeros livros e contos sobre viagens ao passado. Já o conceito do colapso gra-vitacional, que Wheeler denominou de “buraco negro”, desenvolvido matematicamente por Schwarchild, a partir das equações de Einstein, nos fala de um fenômeno que, além de esmagara matéria de uma estrela até que desapareça do nosso espaço, modifica o “contínuo espaço-tempo”, levando a que, no bojo dele, o espaço flua, e o tempo adquira a propriedade da extensão. Assim, teoricamente, poder-se-ia, no interior do “buraco negro”, deslocar-se no tempo, enquanto o espaço se move num ritmo e direção específicos, continuamente.O “horizonte de eventos” do buraco negro, segundo alguns teóricos, poderia ser usado para deslocamentos, tanto na direção do passado, quanto do futuro.Todavia, antecedendo e transcendendo a ciência humana, o Espírito encarnado vem praticando — sem qualquer formulação matemática — a proeza de visualizar, quer no tempo, quer no espaço, desde tempos imemoriais. Carlos Bernardo Loureiro, este notável be-letrista e pesquisador espírita — naturalmente baiano —, soube enfeixar neste volume a grande odisséia dos que possuem a mediunidade de premonição, desde a mais primitiva idade, até os tempos atuais. Feiticeiros, profetas, xamãs, santos, yogis, faquires etc. Tiveram, e têm, como médiuns, em muitas oportunidades, a capacidade de penetrar o futuro, vendo o que ainda não existe, para perplexidade de doutos e ignorantes. Isso está cientificamente provado, embora a má vontade de muitos. Mas Bernardo também demonstra que o Espiritismo é o único saber que oferece um caminho viável para o entendimento da faculdade de visão do futuro, do qual Jesus deu inúmeras demonstrações.Este livro vem suprir uma lacuna no contexto da bibliografia espírita, em língua portuguesa, e ninguém melhor do que Carlos Bernardo, verdadeiro espírita, na definição kardequiana, para fazê-lo, pois além de inegável erudição, seu devotamente à causa do Espiritismo, no atendimento aos que sofrem dos males terríveis da obsessão, não tem hora nem lugar para se fazer presente. Este o aspecto da vida do autor, que merece ser divulgado. Contam-se às centenas os que receberam a cura de graves problemas físicos e mentais, por seu intermédio, pois sua abnegação o faz merecedor da assistência dos Samaritanos Invisíveis.Enfim, amigo leitor, ao percorreres as páginas deste livro, não apenas estarás adquirindo o saber que transmitem, mas absorvendo o influxo espiritual do seu autor, uma alma verdadeiramente boa, cuja existência é uma seqüência de conquistas morais, nascidas de uma persistência e rigidez de caráter inquebrantáveis.Djalma Argollo Ilhéus, Bahia, 4 de novembro de 1997

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  • "Nada em toda a histria do pensamento humano

    heliocentrismo, evoluo, relatividade foi mais verdadeiramente

    revolucionrio ou radicalmente contraditrio para o pensamento

    contemporneo do que os resultados da investigao da

    psiprecognitiva.

    Dr. Joseph Banks Rhine

  • Sumrio Palavras Ao Leitor .......................................................................................................................... 4

    PREFCIO ....................................................................................................................................... 5

    Profetismo Hebraico ..................................................................................................................... 8

    OS NBI ........................................................................................................................................ 8

    O Profetismo Greco-Romano ...................................................................................................... 12

    O Orculo De Delfos .................................................................................................................... 15

    A Gruta Do Orculo ................................................................................................................. 16

    O Treinamento Das Sacerdotisas ............................................................................................ 18

    O Orculo De Dodona ................................................................................................................. 20

    Os Augrios Romanos ................................................................................................................. 21

    O Profetismo Nas Comunidades Crists ...................................................................................... 25

    Joo Profetiza O Advento Do Messias......................................................................................... 26

    Jesus Profeta ............................................................................................................................... 28

    Jesus Profetiza A Vinda Do Consolador ....................................................................................... 32

    O Apocalipse De Joo .................................................................................................................. 33

    A Cultura Pr-Colombiana ........................................................................................................... 36

    A Profecia Entre Os Celtas ........................................................................................................... 39

    Merlin E Joana Darc .................................................................................................................... 41

    Os Profetas Escandinavos ........................................................................................................... 42

    Profetas Da Idade Mdia E Da Renascena ................................................................................. 44

    Roger Bacon ............................................................................................................................ 44

    O Filsofo ................................................................................................................................ 45

    O Profeta ................................................................................................................................. 46

    Robert Nixon ........................................................................................................................... 47

    Leonardo Da Vinci ................................................................................................................... 50

    As Profecias De Nostradamus ................................................................................................. 54

    A Revoluo Francesa ............................................................................................................. 59

    Luis Pasteur ............................................................................................................................. 60

    Adolfo Hitler ............................................................................................................................ 61

    Hiroshima E Nagasaki .............................................................................................................. 62

    As Incrveis Predies De Jacques Cazotte Sobre A Revoluo Francesa ............................... 63

    O Profetismo Mstico-Religioso Na Era Moderna ....................................................................... 70

    Vises Do Paraso Na Terra ......................................................................................................... 72

    Os Cultos Profticos Caribeanos ................................................................................................. 74

    Os Estudos Pioneiros De Kardec Sobre A Precognio ............................................................... 75

  • As Pesquisas Sistemticas Sobre Premonio............................................................................. 79

    Charles Richet Classifica Os Vrios Tipos De Premonio ........................................................... 80

    Autopremonio: .................................................................................................................... 85

    Autopremonio de morte acidental .................................................................................. 90

    Premonio Sonamblica ........................................................................................................ 93

    Outros casos de premonio sonamblica ......................................................................... 94

    O Naufrgio do Titanic ........................................................................................................ 95

    Premonio Espirtica .............................................................................................................. 96

    Premonio Acidental ........................................................................................................... 104

    Premonio de doenas ou de mortes devidas a causas naturais .................................... 104

    Premonies de mortes acidentais ................................................................................... 106

    Premonies de acontecimentos fortuitos ....................................................................... 107

    Pressentimento ......................................................................................................................... 110

    FIP Futuro Influenciando O Presente .................................................................................... 112

    Premonio E Morte Aparente ................................................................................................. 114

    Premonio E Livre-Arbtrio ...................................................................................................... 115

    Causa E Efeito E Finalidade ....................................................................................................... 121

    Premonio E Psicocinesia ........................................................................................................ 124

    As Pesquisas De J. B. Rhine ....................................................................................................... 125

    Precognio Espontnea Com Interveno Do Agente ............................................................ 127

    As Crianas E A Precognio Espontnea .................................................................................. 130

    Um caso na Bahia .................................................................................................................. 133

    As Pesquisas Do Dr. W. H. C. Tenhaeff ...................................................................................... 133

    Tenhaeff E Os Sonhos Profticos .............................................................................................. 137

    As Pesquisas De Samuel G. Soal ................................................................................................ 138

    As Experincias De Russell Targ E Harold Puthoff ..................................................................... 140

    As Pesquisas De Gerald Feinberg .............................................................................................. 142

    A Teoria Das Coincidncias ....................................................................................................... 143

    O Inconsciente Coletivo ............................................................................................................ 144

    Conceito De Espao E Tempo .................................................................................................... 148

    A Teoria Da Relatividade E A Mecnica Quntica ..................................................................... 151

    A Teoria Do Matemtico C. H. Hinton ....................................................................................... 153

    A Viso Espiritual ....................................................................................................................... 157

    Seleta Bibliogrfica Sobre Profecia E Precognio .................................................................... 159

  • Palavras Ao Leitor

    "Nossos olhos so feitos de tal modo que vem facilmente o que

    est fora deles, mas precisam de um espelho para se verem a si

    mesmos.

    Giambatista Vio

  • PREFCIO

    Teoria da Relatividade, desenvolvida por Albert Einstein (1879-

    1955) que obedece a duas etapas: a Restrita, em 1905, e a Geral, em

    1915, foi a mais importante revoluo cientfica deste sculo XX, que

    marcha para o fim. Com ela, o tempo e o espao aparecem como

    coisa, podendo sofrer deformaes sob o imprio da gravidade. O

    desdobramento da Teoria da Relatividade mostrou que, dependendo da

    velocidade, o tempo diminui para um viajante, podendo mesmo atingir

    o ponto de fluxo zero, se o mvel que o transporta se equiparar

    velocidade da luz, cerca de 300.000 Km/s. Da por diante, qualquer

    acrscimo de velocidade far o tempo caminharem sentido contrrio,

    para os passageiros do veculo.

    Esse conceito terico matemtico deu motivo a que se

    escrevessem inmeros livros e contos sobre viagens ao passado. J o

    conceito do colapso gra-vitacional, que Wheeler denominou de buraco

    negro, desenvolvido matematicamente por Schwarchild, a partir das

    equaes de Einstein, nos fala de um fenmeno que, alm de esmagara

    matria de uma estrela at que desaparea do nosso espao, modifica o

    contnuo espao-tempo, levando a que, no bojo dele, o espao flua, e

    o tempo adquira a propriedade da extenso. Assim, teoricamente,

    poder-se-ia, no interior do buraco negro, deslocar-se no tempo,

    enquanto o espao se move num ritmo e direo especficos,

    continuamente.

    O horizonte de eventos do buraco negro, segundo alguns

    tericos, poderia ser usado para deslocamentos, tanto na direo do

    passado, quanto do futuro.

  • Todavia, antecedendo e transcendendo a cincia humana, o

    Esprito encarnado vem praticando sem qualquer formulao

    matemtica a proeza de visualizar, quer no tempo, quer no espao,

    desde tempos imemoriais. Carlos Bernardo Loureiro, este notvel be-

    letrista e pesquisador esprita naturalmente baiano , soube

    enfeixar neste volume a grande odissia dos que possuem a mediunidade

    de premonio, desde a mais primitiva idade, at os tempos atuais.

    Feiticeiros, profetas, xams, santos, yogis, faquires etc. Tiveram, e tm,

    como mdiuns, em muitas oportunidades, a capacidade de penetrar o

    futuro, vendo o que ainda no existe, para perplexidade de doutos e

    ignorantes. Isso est cientificamente provado, embora a m vontade de

    muitos. Mas Bernardo tambm demonstra que o Espiritismo o nico

    saber que oferece um caminho vivel para o entendimento da faculdade

    de viso do futuro, do qual Jesus deu inmeras demonstraes.

    Este livro vem suprir uma lacuna no contexto da bibliografia

    esprita, em lngua portuguesa, e ningum melhor do que Carlos

    Bernardo, verdadeiro esprita, na definio kardequiana, para faz-lo,

    pois alm de inegvel erudio, seu devotamente causa do Espiritismo,

    no atendimento aos que sofrem dos males terrveis da obsesso, no tem

    hora nem lugar para se fazer presente. Este o aspecto da vida do autor,

    que merece ser divulgado. Contam-se s centenas os que receberam a

    cura de graves problemas fsicos e mentais, por seu intermdio, pois sua

    abnegao o faz merecedor da assistncia dos Samaritanos Invisveis.

    Enfim, amigo leitor, ao percorreres as pginas deste livro, no

    apenas estars adquirindo o saber que transmitem, mas absorvendo o

    influxo espiritual do seu autor, uma alma verdadeiramente boa, cuja

    existncia uma seqncia de conquistas morais, nascidas de uma

    persistncia e rigidez de carter inquebrantveis.

  • Djalma Argollo Ilhus, Bahia, 4 de novembro de 1997

  • Profetismo Hebraico

    Profetismo a doutrina fundada sobre as predies de profetas.

    Os profetas j existiam entre os povos primitivos, principalmente

    entre os sensitivos, tendo tomado carter todo peculiar entre os israelitas.

    Os profetas de Israel falavam em nome de Deus e exerceram enorme

    influncia na vida religiosa e social do povo eleito. Depois de Moiss,

    considerado o pai dos profetas, surgem os que atuaram durante a

    primeira fase da monarquia em Israel (Samuel, Elias e outros), e mais

    tarde, no incio do sculo VIII a.C., vrios profetas em Israel e Jud se

    tomaram figuras de protesto contra a corrupo dos reis e do povo

    (Amos, Isaas, Jeremias, Ezequiel). Nesse tempo passam a redigir, em

    forma elevada e potica, suas prprias profecias, inaugurando novo

    perodo na literatura hebraica.

    Ao lado do anncio da destruio se o povo permanecesse no

    erro prometem paz e felicidade, se obedecesse a Deus. Os profetas

    anunciavam a vinda de um Messias e o estabelecimento do Reino de

    Deus pelos remanescentes de Israel. As profecias em Israel cessaram

    com o ltimo dos profetas menores1, embora os cristos mencionem Joo

    Batista como o ltimo profeta, que anuncia a chegada do Cristo, como o

    Messias prometido pelos profetas antigos.

    OS NBI

    Os profetas de Israel (nbi) usavam certos distintivos: um manto

    de pele e um cinto de couro, um sinal na testa e as cicatrizes das feridas

    1 Profetas menores: So chamados menores no por causa de sua pouca influncia ou importncia, mas

    por causa do tamanho de seus escritos.

  • decorrentes de seus estados de profunda excitao. Quando o Esprito os

    arrebatava, eles profetizavam, tornavam-se outros homens (l Samuel

    10:6 e 9), ficavam num estado psquico anormal que se manifestava em

    cantos, gritos ou invocaes repetidas sem fim, gestos (muitas vezes

    simblicos), movimentos rtmicos e danas, acompanhadas de

    instrumentos musicais. Tal estado podia chegar ao xtase e era

    contagioso. s vezes cutilavam-se a si mesmos com as suas armas at

    sangrar, arrancavam suas vestes ou desmaiavam (l Samuel 19:24). Esses

    nbi parecem ter apoiado a atividade religiosa e poltica de Samuel,

    propugnador das tradies israelitas. Mais tarde, sob Elias e Eliseu,

    tomaram parte na luta contra o culto de baal2 (l Reis 18:4, 13 e 22); da

    a perseguio sanguinolenta da dinastia de Amri contra eles. Foi um

    nbi quem, por ordem de Elias, pregou a revolta contra essa dinastia e

    ungiu o rei Je (II Reis 9). Contriburam, portanto, para salvaguardar o

    culto de Jav em Israel e opugnaram a influncia da religio Canania

    outros nbi agiram de modo mais individual: Nata e Gad sob Davi,

    Aas sob Jereboo, Je sob Baasa, Holda sob josias. Residiam

    geralmente na corte e tinham tambm alguma funo no templo, onde

    davam orculos. Em geral intervinham espontaneamente para comunicar

    a vontade de Deus. Assim como nas demais cortes orientais havia

    adivinhos e sbios, assim agiram os nbi na corte do rei Davi,

    provavelmente na de Saul, a fim de transmitir ao rei as decises de Jav.

    Poder-se-ia chamar esses nbi de profetas cortesos. M.Q depois do

    2 Baal: nas religies siro-palestinenses muitas divindades eram relacionadas com determinados lugares.

    O povo as imaginava como habitando rvores sagradas, fontes, cumes de montanhas, rochedos etc. Dava-

    se-lhes o nome de BAAL (hebraico BA' AL), isto , senhor do respectivo lugar. O Antigo Testamento rene

    estes deuses (que no tinham nome prprio) sob o nome de BA' ALIM. De origem, so deuses ou Espritos

    da Natureza. Para maiores informaes consulte-se a obra de M. J. Lagranje Etudes sur les Religions

    Smitiques (Paris, 1905).

  • cativeiro do povo hebreu, persistiu a opinio de que numa corte devia

    haver profetas. Entretanto, os profetas clssicos, cujas palavras foram

    transmitidas por escritos, condenaram os nbi. Depois do sculo V no

    houve mais nbi.

    Muitos pensam que o fenmeno dos nbi, em Israel, deveu-se

    influncia Canania. Alegam que, conforme o itinerrio egpcio de Wen-

    Amon, existia em Cana no sculo XII, de acordo com 1 Rs. 18:22 a 29,

    e ainda no sculo IX, e que, de outro lado, s apareceu em Israel no

    tempo de Samuel. Mas essa opinio parece pouco provvel, considerar-

    se os nbi como propugnadores das autnticas tradies israelitas e

    adversrias da cultura Canania.

    A polmica dos profetas clssicos contra os nbi, fez surgir o

    problema dos verdadeiros e dos falsos profetas. De um lado os profetas

    censuraram os nbi por serem mentirosos, jactanciosos e impostores,

    que predizem, por dinheiro ou para agradar ao rei ou ao povo; que

    cometem adultrio, que se embriagam, fazem esquecer o nome de Deus

    e iludem o povo (Jeremias 23:32; 29:8; Ezequiel 13:10), predizendo paz

    e prosperidade. De outro lado no negavam que esses nbi recebessem

    vises e tivessem sonhos, o que supunha revelao da parte de Deus.

    Tratava-se de sonhos naturais que eles, de boa f, julgavam serem de

    inspirao divina, apregoando-os como tais. Os exegetas catlicos

    opinam que os verdadeiros profetas se distinguiam dos falsos pela

    misso pessoal que recebiam de Deus. Essa soluo, sugerida, tambm,

    por textos do Antigo Testamento (exemplo: Deuteronmio 18:21;

    Jeremias 14:14; 23:21 e 32; Ezequiel 13:6) no plenamente satisfatria,

    porque tambm os profetas falsos s vezes eram enviados por Deus.

    Alguns identificam os falsos profetas como sendo aqueles que

    anunciavam a salvao (paz e prosperidade) como se fosse conseqncia

  • necessria da aliana com Jav. Isso exato para a maioria dos profetas

    combatidos por Miquias, Jeremias e Ezequiel. Miquias afirma que os

    nbi ameaavam com a guerra quando os seus servios no eram pagos;

    Jeremias acusa-os de profetizarem por Baal. Ainda Jeremias que

    admite que um nbi ser reconhecido verdadeiro, se a profecia se

    concretizar. Ezequiel, por sua vez, acusa-os de no terem exortado Israel

    converso, diante da decadncia moral e religiosa. Em Deuteronmio

    h uma predio determinando que um nbi pode seduzir o povo ao

    culto de outros deuses, falando em nome deles ou falar pressurosamente.

    Os falsos profetas, portanto, no podem ser caracterizados como profetas

    da felicidade, nem os verdadeiros como profetas da punio. Alis,

    tambm os verdadeiros profetas anunciavam a salvao, caso o povo se

    convertesse. A diferena entre as duas categorias est antes na idia que

    tinham a respeito de Deus e da Aliana. Os falsos profetas pensavam,

    como o povo, que Jav, pela sua aliana, estava para sempre e

    incondicionalmente ligado a seu povo; esqueciam que Jav era um deus

    tico, que havia concludo a aliana por mera graa, visando o bem moral

    e religioso do que a prosperidade material e nacional do seu povo;

    esqueciam que Jav, por isso, mandaria no prosperidade mas

    calamidades, enquanto Israel no se convertesse a Ele. essa

    precisamente a doutrina de todos os verdadeiros profetas.

    provavelmente nesse sentido que Jeremias pergunta aos falsos profetas

    se Jav, ento (apenas) um Deus de perto (que sempre socorre seu

    povo), e no de longe (que se afasta quando o povo no lhe obedece).

    O carter das profecias de Israel, seria, basicamente, o de fazer

    emergir o significado divino dos acontecimentos. A palavra dos profetas

    de Israel no era uma palavra abstrata. Sempre supe presente ao esprito

  • do povo, a Aliana. Ela mede a realidade segundo a medida do sentido

    da Aliana. ela que cristaliza e unifica seus diversos pronunciamentos.

    O Profetismo Greco-Romano

    Na Grcia primitiva, acreditava-se que o tempo se repetia, em

    ciclos recorrentes.

    Herclito, entretanto, postulou a contnua e infindvel mudana de

    tudo, semelhana de uma correnteza fluvial. Jamais, sentenciou, nos

    banhamos nas mesmas guas de um rio. Ele se referia, naturalmente, ao

    rio do tempo.

    Parmnides, ao contrrio, considerou uma iluso o mundo da

    mudana e do tempo; sua razo lhe dizia que a sucesso de fenmenos,

    o devir, a morte, eram enganos dos sentidos; existia apenas um ser nico,

    indivisvel, imutvel, intemporal. Zeno de Elia, seu discpulo,

    demorou-se na postulao de paradoxos absurdos: demonstrava que o

    corredor Aquiles, de ps ligeiros, jamais alcanaria a tartaruga, e a flecha

    disparada nunca chegaria ao alvo!

    O mdico Hipcrates estudava os sonhos como sintomas clnicos

    semelhana de seus colegas modernos. Ensinava a seus discpulos que

    era possvel prever o futuro pela consulta aos astros, e pelo menos uma

    vez deu-lhes exemplo, traando horscopos e enviando-os

    antecipadamente a combater uma epidemia.

    Scrates dizia-se acompanhado de um intermedirio entre a

    Divindade e o homem, um daimon ou theos _ orculo familiar

    dentro de mim, ou voz interior, a que hoje chamamos capacidade

    clarividente ou precognitiva. Freqentemente, em pblico, Scrates

  • parava, ouvia e obedecia voz ou transmitia seus avisos. Certa ocasio,

    o orculo ntimo instou para que Scrates avisasse ao jovem Crmides

    de que no deveria participar de certa competio esportiva; Crmides

    desprezou a advertncia e acabou ferido. Em outra oportunidade,

    Scrates e Timarco bebiam juntos, antes de este partir para executar um

    plano assassino; o orculo de Scrates avisou Timarco de que no

    deveria ir, mas no mereceu ateno Timarco foi morto, ao tentar pr

    em prtica o seu nefasto objetivo.

    Em seu livro O Daimon de Scrates, o historiador romano

    Plutarco citou o passeio de Scrates no campo, com seus discpulos. A

    voz interna o instou a parar, enquanto os amigos continuaram por uma

    passagem estreita. Pouco depois voltaram, correndo e rindo, cobertos de

    lama, em meio a um bando de porcos. Este poder precognitivo do sbio

    ateniense o apresentava aos tolos como alucinado e aos sbios como

    visionrio.

    O historiador grego Xenofonte mencionou a fala de Scrates no

    tribunal que injustamente o condenou: Todos dizem e acreditam, como

    eu, que os deuses conhecem o futuro e o revelam a quem lhes apraz;

    nunca falei seno a verdade e informei desses avisos aos meus amigos,

    nunca sucedeu que eu lhes adiantasse o que no fosse verdadeiro.

    No dilogo TIMEO, Plato afirmou que o tempo a imagem

    mvel da eternidade imvel. Ele via o tempo como um fator de ordem

    no caos e o sonho premonitrio como uma capacidade inata da alma,

    centelha divina. A alma tem o dom de profetizar e o dom da profecia

    suplanta em dignidade e perfeio a arte das adivinhaes, escreveu o

    discpulo maior de Scrates no Fedro.

  • Numa terra de orculos, sentencia Adelaide Petters Lessa, 350

    anos antes de Jesus, Aristteles chegou a essa dbia concluso a respeito

    dos fenmenos premonitrios: to difcil no tomar conhecimento da

    evidncia quanto acreditar nela. Segundo o estagirita, sem a mente para

    enumerar o antes-e-depois, no haveria tempo, j que o tempo era a

    percepo do antes-e-depois no movimento, e o clculo desse antes-e-

    depois pela mente. A princpio, Aristteles adotou o ponto de vista

    platnico de que o sonho premonitrio era um dom dos deuses e da alma.

    Mas, em ensaio posterior sobre o dom divinatrio, mudou de opinio.

    ainda a Dra. Petters Lessa quem informa: Se os deuses queriam

    comunicar-se com os homens, poderiam faz-lo to bem durante o dia

    quanto no sono, e deveriam escolher seus recipientes com mais

    cuidado.

    Aristteles admitiu dois tipos de sonho como apresentando valor

    premonitrio inteligvel: o sonho que predizia o estado de sade do

    sonhador, pela penetrao da conscincia em sintomas existentes mas

    ignorados durante as horas de viglia; e o sonho que trazia em si sua

    prpria confirmao porque sugeriria a quem o sonhou o curso de suas

    aes. As concepes aristotlicas, embora no conclusivas, oferecem-

    se como valiosa consulta para quantos pretendam traar o perfil das

    cogitaes ancestrais sobre o futuro do homem3.

    Enquanto isso, para os estoicos (seguidores da doutrina de Zeno)

    o supremo bem do homem consiste em viver em harmonia consigo

    mesmo, com seus semelhantes e com a natureza, ou seja, procurando

    3 O filsofo neoplatnico Plotino discordou das idias esposadas por Aristteles em suas Enades. A

    inteligncia divina, ensinava, abarca, simultaneamente, todas as coisas, e eternidade a idade genuna

    de Cronos, cujo nome Plenitude.

  • evitar os conflitos. Reuniram uma vasta coleo de casos premonitrios,

    utilizados por Ccero em seu ensaio sobre o dom divinatrio. Ensinavam

    que o futuro era predeterminado, e, portanto, possvel o conhecimento

    antecipado do que estava por vir. Acreditavam na Providncia Divina: o

    sonho premonitrio assumia a funo de seu veculo.

    Na antigidade clssica vigorava, pois, esta distino: sonhos de

    mau agouro eram resultantes de causas antigas, j observadas, e podia-

    se esperar que seus efeitos atuassem no futuro; sonhos de intuio divina,

    durante o sono ou em estados alterados de conscincia, constituam

    auxlio dos deuses na apreenso do nexo entre causas e efeitos, numa

    espcie de clarividncia vicaria. Os antigos acreditavam viver num

    universo finito de modestas dimenses, sendo totalmente conhecidas,

    pelo menos de seus deuses, todas as circunstncias presentes,

    determinantes do futuro. Da porque Plutarco escreveu: se houvesse

    uma infinidade de mundos, o dom divinatrio seria impossvel. Para ele

    o sonho era o mais velho dos orculos.

    O Orculo De Delfos

    As profetisas de Delfos e Dodona, tomadas por um delrio

    divino, prestaram numerosos servios Grcia.

    Plato

    O Orculo de Apoio, em Delpho, depois chamado Delfos, na

    Fcida, sem dvida, o mais conhecido e mais conceituado de todos os

    orculos da antigidade. Ao longo dos sculos, visitantes de todo o

    mundo conhecido dirigiam-se a esse local considerado sagrado, com o

    intuito de fazer toda a sorte de perguntas. Muitas dessas perguntas

    permanecem gravadas em tabuinhas de chumbo mole. Originalmente, o

  • Orculo era dedicado s divindades ctonianas. Em seguida, foi dedicado

    a Possidon. No sculo VII, a.C. passou a prestar culto a Apoio Delfino,

    deus insular e cretense.

    A caverna ou gruta, em Delfos, mencionada como santurio

    oracular nos registros minoanos de 1500 a.C. Nesse tempo ela era

    dedicada deusa Ge ou Gaia, a deusa da terra, frequentemente citada

    como Me-Terra. proveniente dessa raiz que temos a palavra geografia

    o desenho ou mapeao da Terra, e geologia o estudo da Terra.

    Do sculo VII ao sculo IV a.C., esse santurio oracular assegurou

    o poderio de Delfos. De quatro em quatro anos, os jogos Ptios, em elfos,

    congregavam os habitantes das cidades gregas, semelhana dos jogos

    olmpicos. As disputas entre faces rivais pelo controle do rico e clebre

    santurio desencadeou cruentas guerras sacras. O prestgio de Delfos

    comeou a declinar no fim da era helenstica, e desapareceu no incio de

    nossa era, arruinado pela indiferena religiosa e pelo ostracismo cristo.

    A Gruta Do Orculo

    Para se penetrar na gruta oracular transpunha-se uma porta baixa,

    que descambava em um aposento de cerca de 18 ps de profundidade e

    12 de largura. frente, erguia-se uma grande esttua dourada do deus

    Apolo e prximo a ela uma pedra em forma de ovo coberto de inscries

    to antigas que j nem podiam ser distinguidas. Este era o sagrado

    Omphalo. sua direita jazia um sarcfago baixo, feito de pedra, e as

    inscries nele gravadas diziam ser aquela a tumba de Dionsio.

    Diretamente sua frente, no centro exato do aposento, uma mulher

    envergando graciosas vestes clssicas, sentava-se sobre uma pea que

    lembrava uma grande taa e que repousava sobre uma trpode

    entrelaada por serpentes. Ela era jovem de aparncia agradvel. Seu

  • corpo era esbelto, suas mos de dedos cumpridos, graciosas, e sua pele

    tinha um aspecto acetinado: era a Sacerdotisa de Delfos, escolhida entre

    as donzelas mais nobres e dotadas de sensibilidade paranormal. Diante

    de um consulente, a sacerdotisa entrava em uma espcie de transe: seu

    corpo comeava a tremer; no princpio eram breves arrepios mas logo

    estava sendo sacudida por tremores contnuos. Sua face dcil e bonita,

    quando em repouso, contorcia-se em mscara de dor e angstia num

    momento e, a seguir, de prazer e alegria. Quando, em seu delrio, pareceu

    estar prestes a cair no cho rochoso, comeou a falar.

    Surpreendentemente sua voz era profunda, masculina e doce quando

    pronunciou as seguintes palavras ao suplicante:

    Eu sei todas as coisas. Posso contar os gros de areia e medir

    os oceanos. Tenho ouvidos para o silncio e sei o que o homem mudo

    quer dizer. Sim, os meus sentidos so feridos pelo cheiro da tartaruga

    coberta por sua concha, Agora, cozinhando no fogo, num caldeiro com

    a carne de um carneiro. Bronze embaixo, na vasilha, e bronze em cima,

    para cobri-la.

    Tendo proferido essas palavras, a pitonisa perdeu a conscincia.

    O consulente chamava-se HAlatte, emissrio do Rei Cressus, da

    Ldia.

    HAlatte estava intrigado. O orculo, para ele, no dissera coisa

    com coisa. Nada fazia sentido. Encarava as palavras da pitonisa como

    sendo confusos murmrios de uma mulher mais preocupada com

    problemas culinrios do que com as instrues do deus. Entretanto,

    assistido pelos sacerdotes, escreveu a mensagem conforme fora

    enunciada e preparou-se para partir em direo a Sardis, capital da Ldia.

  • Quando as instrues do orculo foram apresentadas ao Rei

    Cressus, ele no conteve a sua admirao, e disse que as declaraes do

    orculo eram exatas. Ele no realizara nenhum dos seus deveres de

    monarca naquele dia. Em vez disso transformara-se em cozinheiro,

    atividade que no praticava desde a juventude. Tomara uma tartaruga e

    um carneiro, cortando ambos em pedaos. Depois, colocou-os em um

    caldeiro de bronze e levou ao fogo. A partir da o Rei Cressus sempre

    consultava a Pitonisa de Apolo.

    Os cronistas da poca e do futuro no entenderam como a pitonisa

    foi capaz de ver, claramente, o que estava acontecendo a centenas de

    quilmetros. Qual teria sido a tcnica empregada? Indagavam,

    admirados. O fenmeno teve a sua perfeita explicao com o advento

    das pesquisas sobre a Clarividncia.

    O Treinamento Das Sacerdotisas

    O treinamento das sacerdotisas obedecia a mesma tcnica posta

    em prtica em Delfos, Dodona e Trophonius. Jovens de boa sade, voz

    clara e natureza dcil eram escolhidas e recebiam as vantagens de uma

    educao que, naqueles dias, estava somente ao alcance da aristocracia.

    Todas se desenvolviam, psiquicamente, at certo grau, mas apenas

    algumas atingiam o nvel que as qualificaria para representar o deus.

    Esclarece Joseph J. Weed (vide: Complete Guide to oracle and

    prophecy Methods, 1971) que naquele tempo a impresso geral era de

    que cada sacerdotisa no falava por si mesma, mas agia como intrprete

    do deus a quem o santurio era dedicado. No caso daquelas que eram

    mdiuns de transe claro que uma entidade falava atravs dela. Quem

    ou o que possam ter sido essas entidades no possvel dizer. Em sua

  • maior parte, eram seres altamente evoludos, conforme se pode verificar

    pela excelncia de seus conselhos e pela exatido das profecias.

    Em Delfos eram empregados somente mdiuns de transe; mas, em

    quase todos os outros santurios eles estavam em minoria e s vezes no

    eram prestigiados. Quase todas as sacerdotisas, em funo, falavam em

    estado de plena conscincia e assim transmitiam as impresses que

    recebiam. Estas impresses se desenvolviam de vrios modos. No

    templo de Zeus, em Dodona, as sacerdotisas geralmente focalizavam sua

    ateno na sussurrante folhagem de um gigantesco carvalho. Este, na

    realidade, um recurso para anestesiar seus sentidos objetivos e permitir

    que um segundo estgio da percepo alcanasse sua mente consciente.

    Quando, no inverno, as rvores se despiam de sua folhagem, era

    usado um enorme gongo de bronze. Enquanto ele balanava ao vento,

    muitos badalos nele pendurados davam batidas em intervalos irregulares

    e era concentrando-se na cacofonia resultante que a sacerdotisa obtinha

    uma mensagem. Outros mtodos, porm, eram brutais: exigia o

    sacrifcio de animais e o exame de suas entranhas. Presumia-se que cada

    deus tinha seu animal favorito.

    Delfos, evidentemente, desempenhara um papel importante no

    contexto social e religioso da velha Hlade. As runas de seus muitos

    monumentos podem ainda ser vistas ali. Era o Orculo mais rico e maior,

    pelo menos na Grcia Continental. Os seus nicos rivais eram

    construdos na sia e na ilha de Dlos (onde se supunha ter nascido

    Apoio). Os gregos chegaram a acreditar, em dado momento, que Delfos,

    e no Dlos, era literalmente o centro do mundo.

  • O Orculo De Dodona

    O Orculo de Dodona, no templo de Zeus, ficava a noroeste do

    mundo grego clssico, perto da fronteira albanesa com a Grcia

    moderna, a alguns quilmetros para o interior e localizado numa fenda

    sob a cadeia do Pind. Segundo Homero, os seus sacerdotes tinham os

    ps sujos, dormiam no cho e interpretavam o som do vento num grande

    carvalho. H muitas provas da atividade do Orculo no fim da idade do

    bronze, mas no h qualquer registro que testemunhe a continuidade,

    alm dessa idade histrica, do famoso santurio. Durante o tempo de

    vida de Homero, Zeus estava a entronizado com uma deusa chamada

    Dione. Havia, ainda, em Dodona, o culto de uma deusa secreta e algumas

    estranhas crenas sobre animais sagrados.

    Os edifcios de Dodona eram pobres e escassos, at aos tempos

    helnicos, e a maior parte das runas que hoje so visveis, muito belas e

    harmoniosas, tm origem tardia. A mais proeminente o teatro de arena,

    construdo aps a morte de Alexandre, o Grande, no tempo de Pirro, de

    Epiro, e que foi recentemente restaurado. Sobre o teatro encontra-se a

    acrpole murada; por baixo, era um estdio, onde se distinguem as

    extremidades curvas, dando a idia de uma ferradura.

    Supe-se que Ulisses (personagem central da Ilada, de

    Homero) visitou Dodona. A maior parte dos clientes do Orculo parece

    ter sido constituda de gente simples; vinham mais frequentemente de

    terras prximas ou do Norte, do que do centro do mundo grego. O ncleo

    do santurio era uma imensa rvore sagrada. Os cultos de Dodona,

    guardadas as devidas propores, se pareciam com aqueloutros

    praticados pelos celtas, em que o sempre majestoso carvalho assumia

  • papel de flagrante e mstico destaque nas elucubraes premonitrias dos

    taumaturgos.

    Com o correr do tempo, a partir das conquistas de Alexandre, no

    sculo IV, a.C., outros orculos apareceram, em vrios pontos dos

    territrios conquistados. Destaca-se o de Claros, sediado na rea que

    hoje a Turquia, prximo ao Iraque. Era muito procurado pelos

    colonizadores gregos. Os que consultavam este orculo organizavam

    uma caravana anual, contratando-se um coral incumbido de cantar hinos

    a Apoio. Os consulentes eram conduzidos noite, numa nica fila, que

    serpenteava por entre os caminhos tortuosos de um labirinto, at uma

    espcie de cenculo. Nesse ponto, aguardavam, sob a luz de tochas,

    enquanto a pitonisa debruava-se sobre uma fonte de guas borbulhantes

    que tinham o poder de inspirar a profecia.

    As profecias dos Orculos gregos refletem o exerccio natural da

    mediunidade naquela recuada era, cujas leis que a regem seriam

    esclarecidas pelas pesquisas de Kardec. A verdade que a mediunidade

    serviria de lastro aos processos mgicos, abrindo caminho para o

    desenvolvimento das religies mitolgicas e das religies reveladas, que

    se apoiavam na crena dos homens deuses, conhecedores dos

    mistrios da vida e da morte. Os dons medinicos reafirmaram a crena

    nos poderes divinos, atravs dos fenmenos produzidos por indivduos

    que os possuam, no caso especfico, os profetas e as sibilas.

    Os Augrios Romanos

    Na antiga Roma a divinao dividiu-se em diversas funes

    distintas. Ressaltava-se o Augrio. A arte dos Augrios era o estudo dos

    eclipses, dos troves, do comportamento de pssaros e outros animais e

    de vrios sinais chamados auspcios. Os augures suplicavam a

  • aquiescncia divina nas decises dos lderes sociais. O certo que os

    augures exerciam fundamental influncia sobre a vida dos cidados e o

    destino das comunidades.

    O sistema posto em prtica pelos augures foi assimilado dos

    etruscos. Com o transcorrer do tempo a arte de augurar se

    institucionalizou em Roma, a ponto de os augures se congregarem num

    colegiado formal, ao lado dos pontfices (administradores das cerimnias

    pblicas) e guardies dos LIVROS SIBILINOS (urna coleo de antigas

    profecias oraculares). As predies dos augures eram devidamente

    registradas e arquivadas em locais secretos.

    Para os augures romanos, o relmpago era considerado uma

    comunicao direta de Jpiter, o pai de todos os deuses, e os raios de luz

    eram interpretados de acordo com o setor do cu do qual caam: raios

    vindos do Oeste era sinal de maus pressgios e os do Norte de bons

    pressgios. Relmpagos do Noroeste, significavam novas runas; eram

    especialmente temidos. Um raio oriundo do Noroeste caiu sobre a

    esttua de Csar, derretendo a sua primeira letra. Como a letra C era o

    numerai romano para 100, os augures predisseram que ele viveria apenas

    mais cem dias o que realmente ocorreu! Admite-se que a forma mais

    elaborada de divinao clssica tenha sido a busca de sinais dos

    desgnios divinos nas entranhas de animais sacrificados. Denominada

    aruspicao, essa prtica chegou aos gregos e romanos atravs dos

    etruscos ou das culturas da Babilnia e da Assria. Sua teoria subjacente

    era a de que, quando um animal era sacrificado, ele era absorvido pelo

    deus ao qual havia sido oferecido, estabelecendo-se um canal direto com

    a divindade. Abrindo a carcaa, o arspice imaginava estar perscrutando

    a mente divina e observar o futuro. Essa tcnica descrita

    minuciosamente em um trecho de ELECTRA, de Eurpedes, poeta

  • trgico (480-406 a.C.), onde permite ao arspice prever sua morte

    prxima. Eis o relato:

    Egisto toma das mos de Orestes as vsceras sagradas e as

    observa. Falta um lobo no fgado. Os vasos prximos da vescula

    apresentam, aos seus olhos, salincias funestas. Orestes pergunta: Por

    que esse ar desanimado? Estrangeiro, responde Egisto, receio uma

    cilada do exterior. Tenho um inimigo mortal, o filho de Agamenon, e ele

    est em guerra contra minha casa.

    A importncia que os romanos atribuam aos pressgios e s

    profecias dos augures ficou revelada quando do assassinato de Jlio

    Csar.

    No captulo 81 de sua Vida dos Dozes Csares, Suetnio relata

    o seguinte fato:

    Prodgios manifestos anunciam a Jlio Csar que seu

    assassinato estava sendo tramado. Alguns meses antes, colonos levados

    at Cpua por causa da lei Jlia, quando preparavam o terreno para os

    alicerces de casas de campo, encontraram algumas sepulturas muito

    antigas. O trabalho passou a ser feito, ento, com grande cuidado, tendo

    sido encontrado um grande nmero de vasos de feitio antiqssimo.

    Dizem que, no tmulo no qual repousava Capys, o fundador de Cpua

    (sculo VI a.C.), foi encontrada uma placa de cobre, na qual, em

    caracteres gregos, firmava-se a seguinte profecia:

    Quando for descoberta a ossada de Capys, o descendente de

    Jlio (filho de Enias, do qual a famlia de Csar a gens Jlia

    descendia) ser morto pela mo de um de seus amigos, e logo sua morte

    ser vingada pelas desgraas da Itlia.

  • Suetnio garante que Csar tomou conhecimento dessa profecia

    atravs de um amigo ntimo, Cornlio Blbus, que presenciara os fatos.

    Csar ainda recebeu um segundo aviso. Certo dia, enquanto estava

    num templo para assistir a um sacrifcio, o augure Spurinna Vistritius,

    que oficiava, anunciou a Csar que nas semanas seguintes ele estaria sob

    a ameaa de um grande perigo; Csar disse o arspice

    desconfie dos idos de maro. Os idos de maro eram o dcimo quinto

    do ms. No dia 15 de maro do ano 44 a.C., Jlio Csar, o conquistador

    da Glia, um pouco cansado, no estava com vontade de sair.

    Finalmente, consentiu em ir ao Senado por causa da insistncia de

    Brutus4. A caminho do Senado, Csar encontra o augure Spurinna

    Vistritius, e o interpela irnico:

    Ento? Os idos de maro j chegaram, e nenhum mal me

    aconteceu!

    Sem dvida, respondeu Spurinna. Os idos de maro j

    chegaram, mas ainda no se foram.

    Alguns minutos mais tarde, Jlio Csar caa apunhalado por

    Marco Jnio Brutus...

    O colgio dos augures foi dissolvido no quarto sculo de nossa era

    por um dito do ano 392, assinado pelo imperador Teodsio, ento

    4 Marco Jnio Brutus (85-42 a.C.). Depois de Farslia, onde combateu no exrcito pompeano, Brutus,

    sobrinho de Cato, abandonou a causa de Rompeu, Csar concedeu-lhe sua proteo e em 45 a.C., ele foi

    feito pretor. Mas, em Csar, Brutus viu um pretendente Monarquia. Paladino do regime republicano,

    ps-se frente da conjurao fomentada por Cssio, abatendo o seu protetor nos idos de maro. A

    conjurao fracassou. Brutus juntou-se a Cssio no Oriente. Mas, Otvio e Antnio aniquilaram em Filipos

    (Grcia), em 42 a.C., o exrcito republicano de Brutus e Cssio. Ambos cometeram o suicdio.

  • envolvido pelo sistema ultramontano nascente, de funestas e aterradoras

    conseqncias para a Humanidade. Fato por sinal previsto pelo prprio

    Cristo, levando em conta, provavelmente, as inferioridades humanas,

    que se expressam pelo caudal de paixes que suscitam conflitos e

    profundas dissenses sociais.

    O Profetismo Nas Comunidades Crists

    Nas primitivas comunidades crists havia vrios profetas que

    prediziam o futuro (Atos 11:27; 21:10).

    Provavelmente os quatro filhos de Felipe (21:9) exerciam, como

    pregadores inspirados, certa autoridade nas comunidades crists e

    exortavam e consolavam os irmos com as suas palavras. Paulo de Tarso

    sabia que nem todos que julgavam ser profetas eram realmente

    inspirados pelo Esprito de Deus. Havia falsos profetas, que diziam

    profetizar em nome de Jesus, mas no cumpriam a vontade do Pai ou no

    reconheciam Jesus como o Cristo.

    As PROFETISAS. No Novo Testamento, Ana, filha de Fanuel,

    chamada de profetisa; isso supe que ela era cheia do Esprito de Deus;

    por uma revelao desse Esprito reconheceu o menino Jesus como o

    Messias (Lucas 2:36-38)

    O MESSIAS PROFETA. Nos sculos em torno do incio da Era

    Crist aguardava-se a vinda de um profeta ou at de O PROFETA, mas

    tal profeta no era identificado como o Messias. Mesmo a figura de Elias,

    embora representado alguma vez como aquele que combater o

    Anticristo, nunca mais do que um pregador de penitncia, que tem de

    preparar o caminho para o Messias e para o reino de Deus. Por outro

    lado, muitas vezes so atribudas ao Messias funes profticas, sendo

  • ele considerado como um segundo Moiss. Os rabinos interpretaram-no,

    primeiramente, como o Messias davdico, atenuando, porm, o mais

    possvel, os textos sobre sofrimentos, que no conseguiram combinar

    com a idia de um Messias triunfante; e no queriam saber nada de uma

    morte ignominiosa do Messias. Como os textos, entretanto, eram claros

    demais, aparece nos escritos rabnicos, pelo fim do sculo II d.C., a

    opinio de que esses textos no dizem respeito ao Messias davdico, mas

    a um outro Messias de grau inferior, que chamavam o Messias filho de

    Jos ou filho de Efraim e que precederia o verdadeiro Messias.

    Joo Profetiza O Advento Do Messias

    Afirma John P. Meier (vide: A Marginal Jew: Rethinking the

    Historical Jesus) que o retrato que emerge de Joo Batista o de um

    profeta judeu do sculo l, trazendo uma mensagem escatolgica com

    alguns traos apocalpticos.

    Joo, em verdade, anunciava um julgamento iminente e violento,

    que estaria por se abater sobre Israel, e contra o qual o povo pecador

    poderia proteger-se apenas atravs do arrependimento interior, da

    reformulao completa da vida exterior, Joo tem algumas

    caractersticas em comum com outras figuras de judeus penitentes

    daquela poca, na regio do Vale do Jordo, notadamente os membros

    da seita de Qumran. (Sobre Qumran, vide a obra de J. C. Trever: The

    Untold Story of Qumran, 1965.)

    Em determinado momento ele fala da vinda de algum superior a

    ele prprio, algum mais forte. No est claro, observe-se, que esse

    algum mais forte seria um personagem angelical ou humano, um

    Filho do Homem celestial, ou um Messias terreno. Talvez a linguagem

  • vaga de Joo seja indicao de que a sua profecia era obscura at para

    ele mesmo.

    Entretanto, e como assinala Flvio Josefo5, o Batista exerceu um

    profundo impacto sobre os judeus de seu tempo, tanto que Heredes

    Antipas, o tetrarca da Galilia, houve por bem elimin-lo com um golpe

    preventivo, para que sua influncia sobre as massas no fosse usada

    para fins de sedio. Ainda Josefo quem afirma que as idias de revolta

    poltica no estavam na mente do profeta, mas do prprio Hrodes.

    Foi a esse profeta escatolgico, com sua exclusiva prtica do

    batismo, que Jesus aderiu no rio Jordo. Afirmam alguns exegetas que

    Jesus se tornara discpulo de Joo. Outros indcios nos Evangelhos,

    especialmente no quarto, sugerem que Jesus talvez tenha permanecido

    por algum tempo no crculo mais ntimo dos discpulos de Joo. Em

    determinado momento, Jesus teria deixado esse grupo, possivelmente

    levando consigo alguns dos antigos seguidores de Joo, dando incio,

    efetivamente, ao seu magnfico ministrio. Entre os interpretadores

    dessa conexo entre Jesus e Joo Batista, destacam-se as figuras de

    Hendrikus Boers e de Paul Hollenbach.

    Resumindo: Joo Batista foi um profeta judeu independente, cuja

    atuao se deu por volta do ano 28, aps o nascimento de Jesus. A sua

    influncia entre os seus discpulos era to profunda que estes se

    recusaram a ser cristos; aps a sua morte, tornaram-se, segundo John P.

    Meier, espcie de rivais do cristianismo nascente.

    5 Josef ben Mattatias, poltico militar e historiador judeu (37 ou 38 100, da Era Crist). Escreveu duas

    grandes obras: A Guerra dos Judeus, escrita nos anos imediatamente seguintes queda de Jerusalm,

    em 70 (predita, por sinal, por Jesus), e Antigidades Judaicas, muito mais extensa, nos anos 93 d.C.

  • Jesus Profeta

    Duas obras assumem notria importncia no campo das pesquisas

    sobre o carter proftico do messianismo cristo: Lessence

    duprophtisme, de O. Neher (Paris, 1955) e Christologie du Nouveau

    Testament, de O. Cullmann (Neuchtel, 1958).

    No comum atribuir a Jesus o ttulo de profeta. Mas, o de

    pregador e taumaturgo que retoma, embora em poca conturbada por

    disputas polticas e militares, as tradies dos mais consagrados profetas

    de Israel.

    No momento em que Jesus inicia o seu messianato, a multido

    acreditou reconhecer nele um profeta:

    Marcos 6:15: Outros falavam que ele era Elias. Mas alguns

    afirmavam: Ele profeta, como um daqueles profetas antigos.

    Marcos 8:28: Quem o povo diz que eu sou? perguntou

    Jesus aos seus discpulos.

    E eles responderam:

    (...) que s Elias; e outros, que s um dos profetas.

    Esse reconhecimento foi motivado inicialmente pelos fenmenos

    suscitados pelo Mestre. Assim, entre outros exemplos, aps Jesus fazer

    voltar vida fsica o filho da viva de Nairn:

    Pouco tempo depois, Jesus foi a uma cidade chamada Nairn. Seus

    discpulos e uma grande multido foram com ele. Quando chegou perto

    do porto da cidade, ia saindo um enterro. O defunto era filho nico de

  • uma viva, e grande nmero de pessoas da cidade ia com ela. Quando

    Jesus a viu ficou com muita pena dela, e disse:

    No chore.

    A ele chegou mais perto e tocou no caixo. E os que o estavam

    carregando pararam. Ento Jesus disse:

    Moo, eu ordeno a voc: levante-se!

    O jovem sentou-se e comeou a falar, e o Mestre o entregou me.

    Todos ficaram com muito medo, e louvaram a Deus, dizendo:

    Que grande profeta apareceu entre ns!

    Os extraordinrios fenmenos provocados por Jesus deixaram os

    seus contemporneos perplexos, aterrorizados, sem entender exatamente

    o que estava acontecendo. Foram, a seguir: 1) a absoluta e serena

    autoridade de sua pregao, suas predies a respeito do futuro, que

    confirmaram a suspeita de que se estava face a face com o maior de todos

    os profetas (jamais algum, at o Mestre de Nazar, se pronunciara com

    tamanho conhecimento do Ser e do mundo);

    2) aps o dilogo com a Samaritana, em que Jesus revelou os

    trmites mais ntimos daquela descendente dos assrios. Esta conversa

    amistosa entre o Mestre e a Samaritana termina assim: Agora eu sei

    que o Senhor profeta concluiu a mulher. Nossos antepassados

    adoravam a Deus neste monte (Monte Garizim), mas vocs, judeus,

    dizem que Jerusalm o lugar onde devemos ador-lo6.

    6 Os samaritanos, poca de Neemias e Zorobabel, construram seu prprio templo no Monte Garizim,

    sob a direo de Manasses, filho do Sumo Sacerdote judaico Jjada, que Neemias havia expulsado de

  • Em seguida, Jesus profetiza:

    Mulher, creia em mim. Chegar o tempo em que ningum vai

    adorar a Deus nem neste monte nem em Jerusalm.

    At Jesus o dom de profecia no mais despontara entre os filhos

    de Israel. Deus, imaginava o povo, silenciara; no falava, como em

    tempos idos, pela boca de alguns eleitos. A pergunta que os judeus

    fizeram a Joo Batista, evidenciava a esperana de que Deus, rompendo,

    finalmente, o silncio, enviasse um profeta, do nvel de Moiss ou Elias.

    Eis o dilogo que houve entre a voz que brada no deserto e os lderes

    de Jerusalm (levitas e sacerdotes):

    Perguntado quem era, Joo Batista respondeu:

    Eu no sou o Messias. Eles tornaram a perguntar:

    Ento, quem voc? Voc Elias?

    Voc o profeta que esperamos?

    No respondeu ele. A disseram a Joo:

    Diga quem voc?

    Joo respondeu, citando o profeta Isaas:

    Eu sou aquele que prega no deserto. E profetizou:

    Jerusalm. O templo foi destrudo em 128 a.C. Por Joo Hercano l, porque os samaritanos haviam aderido

    ao partido dos Seluzidas (membros da dinastia Macedonia dos Didocos), que de 312 at 65 a.C.

    governou a Sria que, quele tempo dominava a Palestina. O Monte Garizim continuava a ser lugar de

    culto dos samaritanos.

  • Preparem o caminho para o Senhor passar.

    Em suma: se o povo judeu aguardava o retorno de algum dos

    antigos e notveis profetas, as opinies a respeito divergiam. Esse estado

    de nimo elucida, at certo ponto, os opostos julgamentos que se faziam

    em torno da enigmtica personalidade de Jesus e de sua misso entre os

    judeus. Esse profeta to aguardado restauraria a glria e o prestgio de

    Israel, pulverizados pelo tempo e pela incria.

    A funo proftica de Jesus esclarece Chistian Duquoc

    (Christologie: Essai Dogmatique) assume o carter que era

    reconhecido s profecias em Israel: transmitir a palavra divina, isto ,

    fazer emergir o significado divino dos acontecimentos. A palavra dos

    profetas de Israel no era uma palavra abstrata, na verdade. Sempre

    supe presente ao espirito do povo, a Aliana7.

    Entretanto, Jesus no se refere primordialmente Aliana, apela

    para uma comunho jamais cogitada at ento: uma comunho entre o

    Pai e o Filho. At esse momento, o segredo do Reino no tinha sido

    revelado. Jesus no transmite, apenas, a palavra que vem de Deus: a

    mensagem do Cristo inclui a sua prpria pessoa. Seus interlocutores se

    questionam a respeito de sua identidade. Percebem uma unidade perfeita

    entre o que anuncia, o Reino, e sua experincia pessoal. Ele diz aquilo

    que ouve do Pai; mas ele o diz como sendo sua prpria experincia.

    Como os profetas que o precederam ele estupidamente perseguido. Seu

    sacrifcio, na cruz infamante, o resultado de seu arguto e verdadeiro

    7 O Reino de Deus est acima das diferenas de classe; do mundo injusto de ricos e pobres; das

    competies polticas e sociais. O Reino de Deus est dentro de ns; na aspirao da Justia e do Amor,

    que o prprio reflexo de Deus na conscincia humana.

  • pensamento. Ele no vacila em expor o que sente e pensa sobre as

    atitudes dos fariseus, e os chama, vis--vis, de raa de vboras, epteto,

    alis, que se aplica a todos aqueles que agem movidos pela hipocrisia e

    pela desfaatez. A linguagem do profeta uma linguagem humana. Ela

    a expresso de uma conscincia humana, que j se sobrelevou s

    exigncias passionais; que se sublimou! No entanto, dizia que o que ele

    fazia, podamos fazer, e melhor!...

    Jesus Profetiza A Vinda Do Consolador

    Se vs me amais, guardai meus mandamentos e orarei a meu

    Pai e Ele vos enviar um outro Consolador, a fim de que fique

    eternamente convosco: o Esprito da verdade (...) (Joo, Cap. XIV)

    (...)

    Quando este Esprito da verdade vier, ele nos ensinar toda a

    verdade, pois no falar por si mesmo, mas dir tudo o que tiver ouvido,

    e vos anunciar as coisas vindouras. (Joo, Cap. XVI)

    Jesus predisse a vinda do Esprito de verdade, aquele que deveria

    ensinar todas as coisas e fazer recordar o que ele dissera; de onde se

    conclui que seu ensinamento no estava completo: tenho ainda muitas

    coisas a vos dizer, mas no o podeis suportar agora.

    Ademais, ele premune que haveriam de esquecer (como

    efetivamente esqueceram) o que ele dissera, e que desnaturariam os seus

    ensinamentos, pois o Esprito de Verdade devia faz-lo recordar, e, de

    acordo com o profeta Elias, restabelecer todas as coisas.

    O Consolador, no pensamento de Jesus, a personificao de uma

    doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador o Esprito de

  • Verdade. Essa doutrina o Espiritismo. Realizou-se, ento, com o

    advento da Terceira Revelao, a mais importante predio do Mestre

    de Nazar!

    O Apocalipse De Joo

    O Apocalipse de Joo pode ser dividido em quatro grandes

    instncias:

    1) a Introduo; 2) as cartas s Igrejas; 3) as vises profticas; 4)

    o final.

    A parte introdutria comea com um ttulo que indica o contedo

    do livro como sendo uma revelao sobre o que deve acontecer em

    breve, isto : a volta do Senhor e a consumao dos tempos. Em

    seguida, Joo dirige-se s sete igrejas da sia com uma saudao que

    termina com uma doxologia (prece ou cntico cujo fim glorificar a

    Deus Gloria in exalsis Deo) e um anncio da volta do Senhor. Como

    se poderia esperar de um livro proftico, segue-se uma viso de Jesus,

    que d ao profeta Joo a ordem de escrever tudo o que viste, tanto o

    que agora como o que acontecer depois disto (4:21).

    O Apocalipse elaborado seguindo um esquema adredemente

    determinado. O nmero sete aparece com um carter eminentemente

    estrutural: sete cartas: captulo 2:3; sete selos: 4:1-8,1; sete trombetas:

    8:2--11,19; os captulos 12:14 podem ser divididos em sete cenas; sete

    taas: 15:1-16-21, alm de sete Espritos 3:1; sete candelabros 1:12; sete

    estrelas 1:16; sete cabeas 5:6; sete anjos 8:2. Da os exegetas tentarem

    identificar no Apocalipse uma estrutura detalhada, baseada no nmero

    sete.

  • Admite-se por outro lado, que o texto apocalptico pode ter-se

    desenvolvido a partir de um ncleo primitivo, quando documentos j

    existentes podem ter sido utilizados. Sente-se, contudo, que o autor

    imprimiu ao texto o seu pessoal sinete ideolgico. A impresso de

    desordem e confuso que o livro transmite, pode ser decorrente do fato

    de o autor ter utilizado um duplo gnero literrio (epistolar e

    apocalptico) e de que especialmente as leis do gnero apocalptico

    (um desenrolar esquemtico da histria combinado com imagens

    bizarras e misteriosas e um estilo antolgico) no obedecem a uma

    severa lgica (in Bijbels Woor-denbraek, J. J. Romen & Zomen,

    edio holandesa).

    No centro do Apocalipse est o Cristo. Conquanto no se ignore a

    sua atuao terrestre (nascimento e morte), a glorificao que

    centralizada: Eu estive morto e eis que vivo pelos sculos e sculos.

    Esse estar vivo de Jesus exprime-se em diversas imagens: primognito

    dos mortos (1:5), o primeiro e o ltimo (1:18), o vivo (1:18), o cordeiro

    (29 vezes) que apresentado como tendo sido morto (mas agora est

    vivo), para indicar a continuidade entre a consumao da vida terrestre

    de Jesus e a sua glorificao: Jesus o Senhor e o Juiz do Mundo.

    Entretanto, ele no vive e reina numa glria desligada do tempo; ele o

    Senhor da Histria; s ele pode revelar os desgnios de Deus (5:5; 6,1) e

    pr em movimento os acontecimentos escatolgicos. E no acompanha

    esses acontecimentos a grande distncia; ele mesmo luta, chefiando os

    seus sequazes (19:11-21), decidindo a luta pela sua palavra. O

    Apocalipse testemunha a presena de Jesus na histria do mundo. Jesus

    conduzir os seus para a consumao definitiva (22:14). Jesus no

    apenas mestre moral e exemplo, mas acima de tudo o primeiro da nova

  • criao de Deus. Todo o Apocalipse est penetrado da idia da

    importncia universal do Cristo para o mundo e a Histria.

    O Apocalipse um livro proftico que v no presente e no passado

    a obra salvtica de Deus. E na base desse presente, cheio de esperana,

    abre uma perspectiva para o futuro, dando assim conforto e consolao

    aos que ainda tm de viver de opresso.

    Obras que se oferecem consulta: UApocalypse, tat de la

    Question, A. Feuillet; Du Christologie der Apokalypse ds

    Johannes, T. Holtz; Le Christ dans iApocalypse, J. Comblin; The

    Syscoptic Traditions in the Apocalypse, Levos.

    Fala-se, ainda, do Apocalipse de Pedro, considerado apcrifo,

    vazado em forma epistolar, feitura de evangelho. O texto grego do

    fragmento descoberto entre 1886 e 1887, encerra singulares

    discordncias e parece ter sido reescrito. Esse apocalipse refere-se

    volta de Jesus, ressurreio dos mortos e ao juzo final.

    O apocalipse de Pedro conseguiu alcanar considervel

    divulgao tanto no Oriente como no Ocidente, tendo sido objeto de

    citao por Clemente (um dos chamados pais da igreja). Mtodio

    considerou-o inspirado pelas foras espirituais superiores e, at meados

    do sculo V, lido em algumas igrejas da Palestina.

    Um outro apstolo, Tiago, escreveu um Apocalipse. um dilogo

    que teria havido entre ele e Jesus, em parte antes da morte do Mestre de

    Nazar e outra durante o retorno de Jesus em corpo sutil, fato

    erroneamente rotulado de ressurreio. Tiago receberia de Jesus aviso

    sobre seus futuros padecimentos e uma profecia sobre a destruio de

    Jerusalm.

  • Tom tambm escreveu um Apocalipse, feitura de epstola,

    rejeitado pelo Decretum gelasianum. O texto original, em grego, se

    perdeu, restando, apenas, sobre esse Apocalipse, duas verses latinas.

    Descreve, louvando-se no Apocalipse de Joo, os sinais dos sete dias

    precedentes do fim do mundo. No sexto dia, Jesus retornar, e os justos

    ressuscitaro. O oitavo dia reservado para a destruio do mundo.

    Concepo atvica e doentia de tantos quantos msticos que, atravs dos

    sculos, prevem, para a Terra, uma hecatombe total, como se este nosso

    planeta fosse o centro do Universo e a imortalidade da alma nada

    realmente signifique.

    Destaca-se, ainda, neste contexto, o Apocalipse de Paulo, tambm

    considerado apcrifo, escrito em estilo epistolar. A sua introduo

    reporta-se descoberta desse Apocalipse, no ano 388, d.C., no subsolo

    da casa de Paulo, em Tarso. Existem verses copias, siracas, armnias

    e eslavas. A verso latina, mais completa e mais antiga, serviu de base a

    muitas outras reelaboraes, em geral, resumidas. Nesse Apocalipse o

    apstolo de Tarso recebe a misso de pregar a penitncia Humanidade,

    cujos pecados estremecem os cus. Relata, tambm, feitura de Dante,

    uma viagem de Paulo s regies celestiais; recebe revelaes sobre a

    sorte das almas nas esferas espirituais.

    A Cultura Pr-Colombiana

    A cultura pr-colombiana de origem remota. O perodo clssico

    (250-950) corresponde ao florescimento dessa civilizao.

  • Entre os povos que, integram a cultura pr-colombiana8 destacam-

    se os astecas e os maias. Quem pretender definir os aspectos

    apocalpticos desses dois povos, dever recorrer a quatro fontes bsicas:

    a) Crnica e lendas, como as profecias dos anos Tuns, os livros do

    Chilam Balam de Tizimi, Mani e Chu-mayel, os Anais de Cuauhtitlan e

    a lenda dos quatro sis (Cdice Chimapopoca), e indiretamente, o Popol-

    Vuh (a bblia maia).

    b) Indicaes astrolgicas e profticas nas inscries lapidares

    (escrita hieroglfica encontrada nas paredes das construes pr-

    colombianas) sobre a data em que termina o grande ciclo calendarial

    maia.

    c) Indicaes astrolgicas e profticas da famosa Pedra Solar

    asteca.

    d) Indicaes astrolgicas e profticas baseadas em clculos

    astronmicos, apoiadas na tradio cultural e que esto contidas em tiras

    de papel (lminas) denominadas Cdices. Dos muitos astecas, dois

    Cdices se destacam o Cdice Chimapopoca e o Vaticanus. Quanto

    aos maias, ressaltam-se trs manuscritos que foram preservados da

    destruio gerada pela colonizao espanhola do sculo XVI,

    denominados Cdice Tr-Cortesianus ou de Madri e Cdice de Dresden

    (Alemanha) todos eles com nomes das cidades europias em cujos

    museus esto cuidadosamente guardados. Embora muito j tenha sido

    8 As culturas pr-colombianas so estudadas de acordo com suas reas de difuso: a mesoamericana (dos

    estados de Tamaulipas e Sinaloa, no Mxico, at o noroeste da Costa Rica); a circumantilhana (Antilhas,

    sul da Amrica Central, Costa Rica, Panam, litoral atlntico da Colmbia e da Venezuela e, ao sul, at a

    Guiana); e a andina (at o Chile).

  • traduzido para as lnguas ocidentais, h, ainda, grandes trechos desses

    raros e histricos documentos que precisam ser decifrados. A lngua

    desses povos pr-colombianos de difcil compreenso. A sua fora

    imagtica extraordinria.

    O Cdice de Dresden parece ter sido uma das mais efetivas

    preocupaes dos especialistas em cultura pr-colombiana. Possui 74

    pginas, dobradas em forma de sanfona, constituindo uma referncia

    para os sacerdotes-astrnomos maias dos acontecimentos do passado a

    fim de que se pudesse calcular, por tcnicas preditivas, os

    acontecimentos futuros, baseando-se em ciclos e eras cronolgicas. A

    maioria dos especialistas concorda que esse Cdice foi redigido pelos

    maias-toltecas do lucat (poca da grande decadncia da cultura maia)

    aproximadamente em 1300 e que muito provavelmente uma cpia de

    textos ainda mais antigos.

    Das pginas 61 a 74, onde se inscrevem os enigmticos Nmeros

    das Serpentes, esto os calendrios catastrficos e o fim do mundo

    (Apocalipse). Este Cdice estabelece as bases matemticas e

    astronmicas para se calcular a poca do fim do mundo (no conceito

    maia). Essas bases esto nos Nmeros das Serpentes e nas tbuas de

    multiplicao, bem como em trs diferentes calendrios. A ltima pgina

    encerra esses acontecimentos, que podem ser ilustrados pelos deuses que

    o representam uma deusa maligna, com o poder de desencadear um

    dilvio, e um deus guerreiro, sinal de que nessa ocasio o mundo estaria

    em guerra.

    Um sem-nmero de pesquisadores vem analisando,

    meticulosamente, esses preciosos manuscritos, de modo especial o de

  • Dresden. Seus enigmas aos poucos esto sendo decifrados; mas os

    chamados Nmeros das Serpentes ainda encerram profundos segredos.

    A Profecia Entre Os Celtas

    A poo mgica de Asterix (heri gauls de histrias em

    quadrinhos) no fruto de fico. Na verdade, os gauleses, e entre os

    celtas, o consumo de bebidas alucingenas constitua um ato mgico-

    religioso, destinado, basicamente, a estimular a inspirao potica e

    proftica.

    Uma das pedras do altar de Nantes, descoberta no sculo XVIII,

    nas proximidades de Notre-Dame, em Paris, e conservada no Museu de

    Cluny, mostra o deus em cuja honra se celebravam essas libaes na

    Glia. Trata-se do deus Cermunnos, senhor da vegetao e, por

    conseguinte, da fecundidade material e espiritual. Tem cornos de cervo,

    essa galhada que cai e volta a crescer, aumentando de ano para ano, s

    comeando a diminuir na velhice extrema, como acontece com as

    rvores da floresta.

    O deus Cermunnos era considerado a alma dos vegetais. Quando

    se moa o trigo, ele morria supliciado, mas retornava na primavera com

    os brotos verdes dos cereais. Consumindo bebidas produzidas com os

    gros modos, os celtas criam incorporar a prpria substncia de

    Cermunnos. O homem, embriagado, profetizava pela prpria boca do

    deus...

    O mais notvel de todos os profetas celtas Merlin, o Mago,

    celebrizado nos romances da Tvola Redonda.

  • Merlin (Myrddin) nasceu, conforme a tradio, de uma sacerdotisa

    que transgrediu seu voto de castidade e atribuiu a gravidez a um Esprito.

    Nasceu na Esccia, na segunda metade do quinto sculo (d.C.) e se

    tornou o bardo titular do chefe do cl Gwendolen. Quando a Esccia foi

    invadida pelos saxes, Merlin ficou ao lado do rei Embreiz Guletik.

    Sendo, ao mesmo tempo, poeta, profeta e guerreiro, foi, de certa forma,

    afirma Grard de Sede (Ltrange Univers Ds Prophtes), o Isaas da

    causa cltica. Depois da batalha de Arderyd, em 475 d.C., informa Sede,

    deu-se o confronto entre os chefes dos cls, quando Gwendolen foi

    morto, Myrddin, tomado de desespero, quebrou a espada. No quis mais

    continuar a profetizar em seu pas ocupado pelo invasor e dividido, e foi

    viver numa floresta. Vagueava, apoiado num cajado, cabelos compridos,

    ao vento, roupas, esfarrapadas, carregando uma harpa sem corda. Os

    Annales de Cambrieafirmam que Merlin morreu louco. H quem

    garanta que ele teria ido para Armsica, que hoje chamada a floresta

    de Paimpont. E mencionam, tais fontes, que ele se acompanhava pela

    fada Viviane. Sabe-se, com certeza, que Merlin jamais se recuperou do

    trauma causado pela batalha fratricida de Arderyd:

    Tenho cabelos ralos, minhas vestes no me aquecem.

    O vale meu paiol, mas no tenho trigo.

    No tenho safra no vero.

    Depois da batalha de Arderyd, nada mais me emociona,

    Mesmo que o cu caia ou o mar transborde.

    A tradio cltica, que riqussima, atribui a Merlin as obras

    potico-profticas: Tes Pommiers (As Macieiras) e L Livre Noirde

  • Carmarthen (O Livro Negro de Carmarthen) e um dilogo entre Merlin

    e Taliesip, filho de Keridwen, a possuda pelos deuses.

    Deve-se esclarecer que os romancistas franceses da Idade Mdia,

    criadores do Merlin das lendas, atriburam ao mago uma srie de

    profecias, consideradas apcrifas. O certo que o nome de Merlin

    atravessou os sculos, em meio a um fantstico clima de mistrio e

    fantasia, tornando-o um ser lendrio de extraordinria presena nos

    fastos da Histria, no apenas da velha Esccia, de tantas e fascinantes

    lendas, mas da prpria Humanidade!

    Merlin E Joana Darc

    Entre as predies de Merlin sobre coisas que viriam a

    acontecer, destaca-se a que se refere a Joana dArc, urna donzela

    maravilhosa que vir do Nemus Canutum para a salvao de naes.

    Esclarea-se que Nemus uma palavra de origem latina e significa

    bosque e Canutum, vocbulo latino, que significa branco ou encanecido

    (antigo). Joana dArc nasceu em 1412, numa herdade que fica na

    margem do rio Bois Chesnu, em Domrmy (Frana). Bois significa

    bosque e Chesnu a expresso do francs arcaico que significa branco

    ou encanecido.

    A propsito, Joana dArc reconhecida, por seu turno, como uma

    profetisa. No curso de sua brilhante e dolorosa carreira militar, ouvia

    vozes e tinha vises em que era avisada para tomar esta ou aquela

    deciso e o que o futuro lhe reservava e prpria Frana. Essas vozes e

    vises comearam a partir do momento em que a donzela de Domrmy

    entrava na adolescncia. Nessa ocasio Joana ouviu uma voz que parecia

    sair de uma nuvem, dizendo que ela iria realizar coisas maravilhosas. Ela

    fora escolhida para ajudar ao rei da Frana. Para tanto ela iria usar roupas

  • de homem e pegar em armas, e comandar um exrcito. Pouco tempo

    depois a profecia por voz direta se concretizava, integralmente, para

    espanto de todos. Joana teve pressa de levar a termo a sua misso, porque

    ela sabia que o seu tempo, no particular, seria escasso. Ela mesmo

    vaticinava:(...) tenho pouco tempo. Um ano ou pouco mais. Da sua

    priso decorreram, apenas, treze meses...

    As histrias sobre a faculdade premonitria de Joana so muitas.

    Entre as quais destacamos a seguinte: prximo ao castelo de Chinon, ela

    se encontrou com um homem a cavalo que a insultou com palavras duras.

    Joana, calmamente, lhe disse: em nome de Deus, voc pragueja quando

    se encontra to perto da morte? Nem bem decorrera uma hora desse

    incidente, o agressor caiu no fosso do castelo e se afogou.

    Em 1430, no pice de seus magnficos triunfos militares, as vozes,

    que dela no se afastavam, disseram-lhe que a sua misso havia

    terminado. Logo em seguida ela foi posta a ferros pelos seus prprios

    compatriotas, sendo julgada em Rouen. Foi condenada fogueira por um

    tribunal da Inquisio presidido por Pierre Cauchon, Bispo de Beauvais.

    No dia 30 de maio de 1431, armou-se uma fogueira na praa do Velho

    Mercado, em Rouen, onde se consumiu, aos olhos da estupidez humana,

    a jovem profetisa francesa, que pagou com a morte, morte infamante, o

    amor que votava ao seu pas. Este momento do martrio de Joana foi

    imortalizado por Claudel, em seu oratrio Joana na Fogueira.

    Os Profetas Escandinavos

    As antigas narrativas religiosas nrdicas tambm reservam

    considervel espao profecia.

  • Os Eddas (existem os Eddas poticos e os Eddas prosaicos) no

    mostram apenas os prprios deuses entregue ao jogo das adivinhaes,

    mas encontram-se neles notveis profecias cosmolgicas que se referem

    ao Ragnarok, a saber, o crepsculo dos deuses, ou melhor ainda, ao

    fim dos tempos.

    Eis a descrio desse acontecimento, um verdadeiro apocalipse,

    que inspirou Wagner (1813-1883), o imortal autor de Tristo e Isolda:

    Ento, Ganglari disse: O que h a respeito do Ragnarok? At

    agora nunca ouvi falar nisso.

    Hr respondeu: H muita coisa a dizer. Primeiro teremos um

    inverno que se chama fimbulvetr (inverno terrvel). Ento torvelinhos de

    neve cairo de todas as direes do vento. Teremos um frio rgido e

    ventos cruis, e o Sol no aparecer. Teremos trs invernos seguidos,

    sem vero entre um e outro. Mas antes viro os outros trs invernos, e

    haver grandes batalhas no mundo inteiro. E os irmos mataro uns aos

    outros, movidos pela ganncia, e ningum poupar seu pai ou seu filho

    em matria de assassinato ou de incesto (...). Em seguida, acontecer um

    fato muito notvel: o lobo engolir o Sol, e os homens descobriro que

    isso lhes traz grande prejuzo. Outro lobo engolir a lua, e isso ser

    tambm um prejuzo. As estrelas desaparecero do cu. preciso dizer

    que a Terra tremer. O mar se quebrar sobre a terra, porque a serpente

    de midgard se contorcer em sua fria de gigante e subir terra. Quando

    isso acontecer, heimdall se levantar e soprar com todas as suas foras

    em Gjallarhorn. Chamar todos os deuses e eles se reuniro em conselho.

    Ento din cavalgar at a fonte de Mnir e lhe pedir conselho, para si

    prprio e para o seu exrcito. O freixo Yggdrasill tremer, e nenhuma

    criatura no cu e na terra estar livre do pavor. Os Ases (deuses

  • escandinavos da Natureza) e todos os einherjar colocam suas armaduras

    e se dirigem para a batalha na plancie.

    Na frente cavalga din com seu elmo de ouro e a bela

    cota de malha, e sua lana Gungnir. Est indo ao encontro

    do lobo Fenrir.

    Esse fim de mundo, porm, ser seguido por sua regenerao. No

    Edd potico, o vidente profetiza a volta dos velhos tempos, depois de

    Ragnarok:

    Vejo emergir/ pela segunda vez, / uma terra de ondas, eternamente

    verde; / as cascatas caem, / a guia plana no alto / e, nas montanhas, /

    apanha os peixes / Os Ases se renem / na plancie de Idi. / Falam na

    grande serpente, / rememoram / os grandes feitos / e as antigas runas /

    de Fimbulty. / L se encontraro, / entre as folhagens, / as maravilhosas

    / mesas de ouro / que as pessoas tinham / nos dias de outrora. (Ls

    religions de /Europe du Nord, citada por Grard de Sede.)

    Identifica-se nos Eddas uma intrigante encenao dos ciclos

    reencarnatrios, que se encontra na base do autntico e espiritualmente

    inspirado profetismo.

    Profetas Da Idade Mdia E Da Renascena

    Dentre os profetas que despontaram na Idade Mdia e na era do

    Renascimento destacam-se as figuras de Roger Bacon e Robert Nixon,

    ambos ingleses, e o italiano Leonardo da Vinci.

    Roger Bacon

    Roger Bacon, filsofo e profeta ingls, nasceu em lichester

    Somerset, em 1214, e faleceu em Oxford em 1292. Cognominado o

  • Doctor Mirabilis, estudou nas Universidades de Oxford e de Paris. Aps

    ter lecionado, por algum tempo, em Oxford foi obrigado a deixar a

    ctedra, estabelecendo-se em Paris (Frana), onde levou uma vida

    agitada. Roger Bacon era de temperamento forte e crtico, o que lhe valeu

    srios contratempos com as autoridades eclesisticas de sua poca. A sua

    obra mais importante a chamada OPUS MAJUS, publicando, ainda,

    OPUS MINUS, e a OPUS TERTIUS, todas condenadas pela

    Inquisio. um dos maiores representantes da cincia experimental de

    seu tempo, e foi o primeiro a perceber a inexatido do calendrio Juliano

    e os pontos vulnerveis do sistema de Ptolomeu.

    O Filsofo

    Para Roger Bacon o sentido primordial da Filosofia e das cincias

    explicar a verdade revelada na escritura: Una est tantum sapientia

    perfecta qual in sacra Scriptura totaliter continetur. Deus ensinou aos

    homens a filosofar, pois eles por si ss no conseguiram; mas a malcia

    humana fez com que Deus no manifestasse plenamente as verdades e

    estas se misturassem com o erro. Por isto, a sabedoria verdadeira

    encontra-se nos primeiros tempos e por isso h que busca-la nos filsofos

    antigos. Bacon reconhece trs modos de saber: a autoridade, a razo e a

    experincia. A autoridade d-nos a crena; a razo proporciona a

    compreenso das coisas que formam o objeto de crena; a experincia,

    constitui a fonte mais slida da certeza. Conforme Bacon, deve-se

    entender por experincia no apenas a que se alcana pelos sentidos

    externos e nos oferece o mundo corpreo, mas tambm a experincia

    proporcionada pela iluminao interior.

  • O Profeta

    Em sua Epstola de Secretis, editada em 1268, Bacon profetizou

    as seguintes invenes:

    automvel... carruagens se deslocaro com incrvel rapidez

    sem o auxlio de animais.

    elevador... um engenho pelo qual o homem poder subir ou

    descer qualquer parede.

    pontes penseis ... sem pilares ou qualquer apoio.

    navios ... barcos podero ser impelidos sem remos nem

    remadores, de tal forma que naus de grande porte navegaro rios e mares

    sob o governo de um nico homem, mais celeremente que se fossem

    tripulados.

    submarino ... possibilitar ao homem viajar no fundo do

    mar.

    avio ... instrumento de voar no qual um homem, sentado

    confortavelmente e meditando em qualquer tema, poder singrar os ares

    com asas artificiais feio de aves.

    bombas ... Um material apropriado em quantidade

    moderada, no maior que o polegar de um homem, faz um rudo horrvel

    e um fortssimo claro. Toda uma cidade ou um exrcito inteiro pode ser

    destrudo.

    Essas previses foram expressas duzentos anos antes de Leonardo

    da Vinci. Cristvo Colombo teria se baseado nas previses de Roger

    Bacon que afirmava ser o mar entre o fim da Espanha a oeste e o

  • comeo da ndia a leste navegvel em muitos poucos dias, se os ventos

    forem favorveis. Reagindo s injustas perseguies de parte dos seus

    superiores da ordem franciscana, escreveu ao papa Clemente IV,

    relatando que era vtima da incompreenso de seus companheiros

    eclesisticos, justificando que suas descobertas cientficas no

    contrariavam os dogmas da Igreja (a propsito, criados luz das

    convenincias humanas e do entendimento tacanho das leis naturais). O

    papa se sensibilizou com a situao de Bacon, solicitando que lhe

    enviasse, apreciao secretamente , suas teorias. sorrelfa,

    longe, ento, da vigilncia sistemtica de seus pares, o filsofo elaborou,

    rpida e eficientemente, trs compndios cientficos: Opus Majus,

    Opus Minuse Opus Tertius. O chefe da Igreja Catlica leu os

    trabalhos de Bacon, morrendo um ano depois, em 1268. O novo papa

    Gregorio X, que subiu ao trono com o falecimento do papa Clemente IV,

    no aprovando a atitude de seu antecessor, ordenou que se queimassem

    (auto-de-f) os livros de Roger Bacon. O tribunal da Inquisio

    condenou o talentoso e genial franciscano a quatorze anos de priso.

    Libertado em 1292, viveu mais dois anos e faleceu em Paris.

    Robert Nixon

    O jovem profeta ingls Robert Nixon era um campons retardado

    e analfabeto. Filho nico de pequenos agricultores do Condado de

    Cheshire, Nixon nasceu em 1467. Ainda adolescente iniciou-se no

    trabalho rude da lavoura, nica ocupao, julgava sua famlia, altura

    de seu retardo, comparvel, dizia-se, inteligncia dos animais de

    trao. Acrescente-se que Robert Nixon comia desbragadamente e era

    medonho, assustando as pessoas que o viam pela primeira vez. Sua

    cabea era imensa e irregular e seus olhos pareciam que iam saltar das

    rbitas. Certo dia previu, com admirvel preciso, a morte de um animal

  • da fazenda vizinha. Impressionado com o fato, Lorde Cholmondeley,

    espcie de prefeito em Cheshire, levou-o para a sua propriedade, na

    localidade de Royal Valley, a fim de se certificar dos seus dons

    profticos. Nada de extraordinrio aconteceu, retornando Nixon ao seu

    arado. Certa ocasio, porm, quando estava trabalhando no roado,

    parou, de repente, e se quedou, pensativo, a olhar para o alto. No falava

    nada. Apenas perscrutava o cu. O capataz desceu-lhe, no lombo, as

    correias que usava para estimular os animais. Nixon permaneceu

    impassvel. Uma hora levou nesse xtase, como se nada existisse a sua

    volta, levando o capataz, e as pessoas que acorreram ao local, ao

    desespero. Mais tarde, disse que viu coisas que no sabia explicar, e que

    nenhum homem viu.

    O que o profeta de Cheshire vira eram flashes da Histria futura

    da Europa, especialmente da Inglaterra, a exemplo da Guerra civil

    inglesa de 1642; o grande incndio de Londres em 1666 (tambm

    previsto por Nostradamus); A Restaurao: perodo caracterizado pela

    volta da monarquia aps a morte de Cromwell, e marcado pela retomada

    do poder por Carlos II, rei da Inglaterra de 1660 a 1685. Nixon viu,

    tambm, o reinado de Guilherme de Orange e a Revoluo Francesa.

    Em 22 de agosto de 1485, Robert Nixon realizava seu habitual

    trabalho na lavoura, quando, sem nenhuma razo, parou e mais uma vez,

    perscrutou o cu. De repente, comeou a pular pelo campo, gritando e

    agitando seu chicote como uma espada:

    Vamos Ricardo! Avante, Henrique! Avante com a tropa!

    Agora, Henrique, com toda a tropa! Por sobre o fosso, Henrique! Por

    sobre o fosso, e a batalha est ganha! Com um sorriso arrematou: A

  • batalha terminou. Henrique venceu. E retornou ao seu arado, como se

    nada tivesse acontecido.

    Naquele mesmo dia, 22 de agosto de 1485, na localidade de

    Bosworth, o Conde de Richmond vencia e matava em cruenta batalha o

    cruel Ricardo III, e se tornava o rei Henrique VII.

    A profecia de Robert Nixon se cumprira integralmente, causando

    estupefao a todos que dela tomaram conhecimento. Alguns dias

    depois, ele saa, desesperado, batendo de porta em porta rogando que o

    protegessem dos homens do rei. Eles vo me prender! Eles vo me

    matar de fome! Ningum deu importncia aos apelos do profeta. Como

    que Henrique VII iria se importar com um sujeito to insignificante; e,

    ainda mais, convoc-lo Corte? E, se assim acontecesse, por que

    morreria de fome no palcio real, onde imperava a fartura?

    Pouco tempo depois, emissrios do rei chegavam a Cheshire

    procura de Robert Nixon, levando-o, sob a admirao de todos, para a

    Corte. Henrique VII tivera conhecimento da profecia e queria interrogar

    Nixon sobre alguns detalhes que ele julgava importantes. Nixon tornou-

    se um dos favoritos do rei. Um escriba o acompanhava noite e dia, atento

    a qualquer manifestao proftica. Ele, em verdade, predisse muitos

    acontecimentos, incluindo uma invaso da Inglaterra por soldados com

    chifres nos capacetes...

    A parte do castelo real de que mais gostava Nixon era a cozinha.

    Sempre com fome, e para o desespero dos cozinheiros, devorava tudo

    que encontrava pela frente, at mesmo os pratos feitos, com esmero, para

    o rei. Certa ocasio (corria o ano de 1485), Henrique VII saiu caa,

    ficando duas semanas ausente. Os cozinheiros, que no suportavam mais

    os reiterados ataques de Nixon despensa real, resolveram trancafiar o

  • profeta em um cubculo e se esqueceram dele. Quando o monarca

    retornou, sentindo a falta do profeta, perguntou por ele. Descobriram-no

    no tal cubculo morto de fome e desidratado. Nixon poca, estava na

    plenitude de seus dezoito anos...

    Leonardo Da Vinci

    Leonardo da Vinci, contemporneo de Coprnico e Cristvo

    Colombo, nasceu em Vinci, aldeia da alta Toscana, perto de Florena,

    em 1452, uma das regies mais belas da Itlia do Norte, e morreu em

    maio de 1519. Seu pai, Piero, exercia a profisso de notrio e era muito

    estimado dos habitantes da pequena aldeia. Antes do casamento, tivera

    Leonardo. A me, Catarina, uma humilde camponesa, vivera com o filho

    durante cinco anos, quando Piero, assumindo publicamente a

    paternidade, se encarregou de sua manuteno e educao. Leonardo j

    estava com vinte anos, quando Piero se casou com Albiera Amadori, que

    lhe no deu filhos, falecendo pouco tempo depois do consrcio.

    Leonardo viveu por alguns anos em Florena, aprendendo a arte

    de pintura com o mestre Andrea del Verrochio, que no escondeu o

    entusiasmo assim que constatou o extraordinrio talento do jovem da

    Vinci, que iria, de fato, tornar-se um dos mais geniais artistas de todos

    os tempos. quela poca, Florena estava sob o governo e o domnio

    poltico da famlia Mdicis, mas exatamente de Lorenzo de Mdicis.

    Leonardo sentia que precisava lutar, e muito, para conquistar um

    destacado lugar entre os pintores de sua poca, especialmente quando

    refulga a genialidade artstica do prprio Verrochio e de Botticelli. Em

    1582, Leonardo partiu para Milo e ofereceu ao Duque Ludovico, o

    Mouro, seus servios de engenheiro militar, escultor e pintor. Eis alguns

    trechos da carta escrita por Leonardo da Vinci (vide a obra de Jos Poch

  • Noguer) ao Duque de Milo, em que se ob