as profecias de balaão

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A Profecia de Balaão

Texto Bíblico Básico:

“Então alçou a sua parábola, e disse: Fala Balaão, filho de Beor, e fala o

homem de olhos abertos; Fala aquele que ouviu os ditos de Deus, e o que

sabe a ciência do Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, caindo em

êxtase, de olhos abertos”. (Números 24. 15, 16)

teudel teceu insinuante comentário a respeito de Balaão e sua profecia, enfatizando com incomum erudição que o filho de Beor era muito mais que um feiticeiro e falso profeta. Segundo Steudel, Balaão devidamente informado da fama de Jeová e de tudo quanto Ele fizera

em favor dos hebreus, inventara a história de sua profecia, de modo que, se o autor do Pentateuco a incluiu no Rolo Sagrado, não o foi pelo fato de existir veracidade na narrativa, mas porque o profeta da Mesopotâmia assim se havia pronunciado a respeito de si mesmo.

Como hei enfatizado, o comentário de Steudel é deveras insinuante e não duvido que esteja untado com alguma verdade. Entrementes, a Bíblia com lucidez declara que Balaão teve um genuíno encontro com o Deus de Israel. Números 22. 20 diz, nas palavras do próprio autor sagrado:

S

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“Veio pois o Senhor a Balaão, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens te vieram chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que Eu te disse”.

E do mesmo modo lemos em Deuteronômio 23. 4, 5:

“[...] alugaram contra ti a Balaão, filho de Beor, de Petor, de Mesopotâmia, para te amaldiçoar. Porém, o Senhor teu Deus não quis ouvir a Balaão; antes o Senhor teu Deus trocou em bênção a maldição, porquanto o Senhor teu Deus te amava”.

Fica então explicado que Balaão teve um verdadeiro encontro com Jeová. Mas quanto à profecia, será que ele foi autorizado por Deus a profetizar no seu Nome? E outra vez temos uma objeção bíblica ao comentário de Steudel, haja vista que Números 23. 5 assim declare:

“Então o Senhor pôs a palavra na boca de Balaão, e disse: Torna para Balaque, e fala assim”.

E novamente, em 24. 2:

“E levantando Balaão os seus olhos, e vendo a Israel que habitava segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus”.

Sim, Balaão se encontrou com Deus e foi por Ele autorizado a profetizar o futuro de Israel. Por que então nos inquieta o comentário de Steudel, e faz com que suspeitemos de Balaão e suas profecias? Devem existir boas razões, mas a principal delas é certamente o fato de Balaão haver sido não um charlatão, mas um poderoso bruxo.

Essa constatação deve desafiar os nossos conceitos acerca da santidade divina e da forma de atuar do Espírito Santo. Entretanto, a Bíblia também afirma que Balaão era um habilidoso feiticeiro de Mesopotâmia. Em Números 24. 1 está escrito que ele usou da feitiçaria para obter a revelação divina. Já em 23. 23 temos o filho de Beor a dizer

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que as suas obras de bruxaria não possuíam nenhum poder contra o povo eleito.

Além do mais, as suspeitas de Steudel se tornarão ainda mais razoáveis se levarmos em conta que parte da profecia de Balaão era bem mais antiga do que o profeta. Ou seja, ele pode não ter “profetizado” nada além do que todos já sabiam. Acrescente-se a isso a arrogância do próprio Balaão e a maneira como preconizava a si mesmo perante o rei de Moabe. Não bastassem estas coisas, ele possuía ainda um cabedal de defeitos que só se encontram nos mais destacados falsos profetas...

“Também os filhos de Israel mataram a espada a Balaão, filho de Beor, o

adivinho, como os mais que por eles foram mortos” (Josué 13. 22).

ste é um dentre os muitos textos bíblicos que nos revelam a verdadeira origem do profetismo de Balaão. Ele era um adivinho, oriundo da Mesopotâmia e mui provavelmente herdara do pai o ofício da adivinhação. O fato de o rei dos moabitas ter ido buscá-lo tão longe demonstra que

ele se tornara famoso por meio dos presságios que fazia.

No mundo antigo a importância do adivinho ia muito além da possibilidade antecipar o futuro de pessoas e nações, pois ele não era um profeta no sentido bíblico da palavra, mas um sortílego cujas habilidades podiam ser contratadas por qualquer um que as pudesse pagar. O verdadeiro poder dos da classe de Balaão consistia mesmo era na capacidade que eles (presumivelmente) tinham de mudar o destino e a sorte dos seus clientes.

E

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Havia diferentes formas de se perscrutar o futuro, mas ao que tudo indica, o método de Balaão era a leitura das entranhas dos animais, porém, salta do texto bíblico a impressão de que ele também apelava para ervas ou poções alucinógenas que o levavam ao transe através do qual podia divisar o desconhecido. Em todo o caso, a Lei de Deus proibia a existência e a atuação de adivinhos entre o povo escolhido.

Tertuliano e Jerônimo são contados entres os que advogaram a causa de Balaão e deram testemunho de que no começo ele havia sido um verdadeiro profeta de Jeová. Quanto a Josefo, o grande historiador dos hebreus, também estava tentado a crer que o filho de Beor possuía genuinidade profética, no entanto, o escopo geral da história de Balaão e todo o seu modus operandi testificam contra ele. Mas acima de tudo, temos a garantia bíblica de que esse mercenário jamais poderia entrar para o rol dos genuínos pregadores do Senhor. E a principal razão pela qual ele não pode ser classificado como tal advém de sua própria genealogia. Consultemos juntos e descobriremos que todos os profetas da Bíblia procederam de Israel ou no mínimo tinham ascendência patriarcal.

É verdade que a literatura sapiencial do Antigo Testamento admitiu quatro ou cinco autores que apesar de terem sido verdadeiros servos de Jeová, não eram procedentes da linhagem de Israel, mas evidentemente que isso não aconteceu no campo da profecia, pois as lideranças judaicas usavam desconfiar até dos profetas que aparentemente não haviam sido autorizados a falar em nome do Senhor. Confira essa informação em Números 11. 24 – 29.

Apesar de tudo, existem pelo menos três pontos da história de Balaão que me provocam admiração: (1) Ele possuía conhecimento do verdadeiro nome do Deus de Israel; algo que o próprio Abraão havia ignorado. Leia Êxodo 6. 3. (2) Ele era conhecedor das promessas que Jeová havia feito a Abraão, a Isaque e a Jacó. (3) Ele conseguiu atrair o interesse do Altíssimo para si.

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Tais prerrogativas tornam Balaão em um indivíduo digno de ser investigado. Porém, a fim de não alongarmos esse discurso, iremos nos ocupar apenas com a primeira parte da profecia.

Que a visão profética de Balaão era genuína não irei mais discutir, entretanto, há uma justiça que preciso fazer às suspeitas levantadas por Steudel, porquanto a mim também pareça que o prognosticador da Mesopotâmia tenha exagerado um pouco na forma de vaticinar, primeiro porque ele se coloca como um autêntico porta-voz de Jeová, e como alguém que possui o mais elevado conhecimento do Deus de Israel.

Em segundo lugar, já naquele tempo o Nome de Jeová, dantes desconhecido de Abraão, de Isaque e de Jacó (bem como do rei do Egito: Êxodo 5. 1 – 3), passara a ser temido até em longínquas terras. Jetro, Hobabe, Raabe e os gibeonitas são exemplos disso. Logo não há porque duvidarmos que um astuto feiticeiro da Mesopotâmia tenha se aproveitado do mesmo trunfo para mais impressionar o rei de Moabe.

Quanto à sua profecia, já cravei que é genuína, mas não evitarei dizer que possui uma aparência de embuste. Josefo nos dá provas de que a fama e o respeito de patriarca Abraão se tornaram notáveis no mundo antigo, e, Balaão, sendo natural da adjacente terra do nosso pai na fé, deve ter-se feito sabedor da sua história. Observemos ainda que o mesmo Abraão e o mais da sua parentela haviam fixado residência na Mesopotâmia de Balaão. Tendo estas coisas em mente iremos destacar que parte da profecia era bem mais antiga que o profeta.

Em Números 23. 10 ele diz:

“Quem contará o pó de Jacó e o número da quarta parte de Israel?”

Mas em Gênesis 13. 16 já se dizia:

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“E farei a tua semente como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua semente será contada”.

Balaão diz, em Números 24. 9:

“Encurvou-se, e deitou-se como leão, e como uma leoa; quem o despertará?”

Agora leia Gênesis 49. 9:

“Judá é um leãozinho, da presa subiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como um leão, e como um leão velho; quem o despertará?”

A segunda metade de Números 24. 9:

“Bendito os que te abençoarem, e maldito os que te amaldiçoarem”.

E Gênesis 12. 3:

“E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem”.

Por estas e outras razões não uso argumentar contra aqueles que desconfiam do oportunismo de Balaão. Deus realmente lhe falou, mas ele soube exagerar na embalagem para melhor vender o seu produto. Agora, há um aspecto escatológico nessa profecia com o qual desejo me ocupar no momento mais oportuno.