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A. S. MELLO A VERDADE SOBRE AS PROFECIAS DO APOCALIPSE SÃO PAULO 1 9 5 9

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Desde que conheceu o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pastor Araceli S. Mello interessou-se pelo livro do Apocalipse. Teve de pronto o ardente anelo de desbravar-lhe o conteúdo e conhecer o seu simbolismo. Mas, foi somente em 1932, que se dedicou ao acurado estudo do Apocalipse, momento em que se abriu diante dele como um véu toda a verdade sôbre os emblemas proféticos de tão sublime livro. Em, 1937, decidiu escrever uma dissertação especial sôbre as suas grandes profecias. Pesquisou com diligência tôda fonte de história universal de vulto, sôbre o cumprimento inolvidável de suas várias cadeias de simbólicas profecias. Maravilhado e após vários anos de ingente labor, entregou ao público êste comentário, na esperança de que possa satisfazer ao mais exigente pesquisador das profecias e tomar-se um dos meios eficazes de conduzir os homens pelo caminho da justiça e do bem.

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  • A. S. MELLO

    A V E R D A D E S O B R E A S

    PROFECIAS DO

    APOCALIPSE

    S O P A U L O 1 9 5 9

  • RESERVAM-SE TODOS OS DIREITOS DE PROPRIEDADE DO AUTOR

  • NDICE DOS VINTE E DOIS CAPTULOS

    AO LEITOR ................................................................................................. 7 PREFCIO .................................................................................................. 9 INTRODUO .......................................................................................... 15 CAPTULO I .............................................................................................. 23 CAPTULO II ............................................................................................ 47 CAPTULO III ........................................................................................... 89 CAPTULO IV ......................................................................................... 119 CAPTULO V .......................................................................................... 129 CAPTULO VI ......................................................................................... 141 CAPTULO VII ....................................................................................... 173 CAPTULO VIII ...................................................................................... 187 CAPTULO IX ......................................................................................... 217 CAPTULO X .......................................................................................... 251 CAPTULO XI ......................................................................................... 271 CAPTULO XII ........................................................................................ 299 CAPTULO XIII ...................................................................................... 335 CAPTULO XIV ...................................................................................... 405 CAPTULO XV ........................................................................................ 457 CAPTULO XVI ...................................................................................... 465 CAPTULO XVII ..................................................................................... 491 CAPTULO XVIII ................................................................................... 507 CAPTULO XIX ...................................................................................... 521 CAPTULO XX ........................................................................................ 533 CAPTULO XXI ...................................................................................... 553 CAPTULO XXII ..................................................................................... 563 APNDICE .............................................................................................. 573 NDICE DOS TEXTOS BBLICOS ........................................................ 589 NDICE DOS TEXTOS HISTRICOS .................................................. 595

  • Gostaria muito que voc soubesse ... H muitos anos atrs colocaram em minhas mos uma cpia do livro

    Testemunhos Histricos das Profecias de Daniel do Pastor Araceli S. Mello. Lendo o livro, fiquei impressionado com a apresentao das profecias da Bblia Sagrada e os argumentos histricos que demonstravam com preciso o seu cumprimento.

    Como resultado, recebi a salvao que h unicamente nos mritos de Jesus Cristo, aceitando-O como meu Salvador pessoal. Fui batizado e me tornei membro da Igreja Adventista do Stimo Dia, na cidade de Sorocaba, So Paulo, no ano de 1.994.

    Como membro ativo desta igreja tive o privilgio de levar pessoas aos ps de Cristo atravs de estudos bblicos e testemunho pessoal.

    Nos ltimos anos escrevi um curso bblico sobre as histrias e profecias de Daniel. Este curso teve uma boa aceitao no meio adventista e muitos conheceram a verdade atravs dele.

    Um pensamento sempre me preocupou: Deus me concedeu luz atravs de uma cpia do livro do Pastor Araceli S. Mello, porm, nunca tive em mos um exemplar do mesmo, pois trata-se de um livro raro e esgotado. Quem emprestou o livro, havia tirado uma cpia de uma cpia de uma cpia de uma cpia ... e faltavam pginas, alguns textos estavam incompletos e com referncias apagadas. Como poderia colocar o conhecimento deste livro nas mos de outras pessoas?

    Diante desta pergunta, fui tocado por Deus para organizar todo o material que tinha e com a ajuda dos amigos Hugo, Lindinalva, Lucas e Cladia, consegui completar as partes que faltavam e assim fiz uma verso digital do livro.

    No ano de 2.012 conclu a verso digital completa do livro Testemunhos Histricos das Profecias de Daniel do Pastor Araceli S. Mello, que voc poder encontrar em sites de compartilhamento na internet.

    No ano de 2.015 aceitei mais um desafio, criar uma verso digital do livro A Verdade Sbre As Profecias Do Apocalipse do Pastor Araceli S. Mello, livro tambm raro e esgotado. Resultado: justamente o livro voc est lendo agora.

    Que Deus o abenoe na leitura deste livro. Que voc sinta o Esprito de Deus impressionando a sua mente com as verdades que ter acesso ao ler estas pginas. a minha sincera orao por voc, amigo que hoje no o conheo, mas que um dia ser apresentado para mim pelo Nosso Senhor Jesus Cristo na Eternidade.

    Fbio

    Testemunhos Histricos das Profecias de Daniel Autor: Araceli S. Mello Edio Impressa: 1.968 - Verso Digital: 2.012

    A Verdade Sbre As Profecias Do Apocalipse Autor: Araceli S. Mello

    Edio Impressa: 1.959 - Verso Digital: 2.015

  • .

    AO LEITOR

    Desde que conheci o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, o livro do Apocalipse interessou-me particularmente. Tive de pronto o ardente anelo de desbravar-lhe o contedo e conhecer o seu simbolismo. Mas, foi somente em 1932, quando me dediquei ao acurado estudo do Apocalipse, que se descerrou diante de mim o vu que me vedava a verdade sbre os emblemas profticos de to sublime livro. Em, 1937, decidi escrever uma dissertao especial sbre as suas grandes profecias. Desde ento, dediquei-me, com diligncia, a pesquisar tda fonte de histria universal de vulto, sbre o cumprimento inolvidvel de suas vrias cadeias de simblicas profecias. Maravilhei-me sobremaneira ao observar que o historiador, sem nenhuma ligao com o livro do Apocalipse, pudesse comprovar, com fatos histricos inexorveis, a exatido dste livro proftico mesmo em seus mais diminutos detalhes. E, agora, aps vrios anos de ingente labor, sinto-me feliz em poder entregar ao pblico ste comentrio, na esperana de que possa satisfazer ao mais exigente pesquisador das profecias e tornar-se um dos meios eficazes de conduzir os homens pelo caminho da justia e do bem.

    Ao interpretar as profecias do Apocalipse, como o fiz, no empreguei idias ou mtodos humanos. Se assim o tivesse feito, no teria sido leal revelao e ao Revelador, pois nenhuma profecia da Escritura de particular interpretao. No seria prudente empregar moldes humanos ao apreciar a revelao de Deus. Ao empreender e concluir a interpretao, fi-lo consciente de ter seguido o verdadeiro rumo e de em ponto algum me ter orientado por meu prprio conceito ou pelo de qualquer outro ser humano. Se houvesse dado s profecias do Apocalipse outro carter interpretativo, teria sido desleal verdadeira lgica de interpretao e ao prprio testemunho da histria, e incorreria infalivelmente no desagrado do Autor do maravilhoso livro.

    Se porventura o leitor duvidar da interpretao de uma determinada profecia ou de uma inteira cadeia proftica das vrias que o livro contm ou mesmo discordar de tda a interpretao que dei ao livro do Apocalipse, aconselho-o a no tomar uma medida repulsiva em definitivo, mas a considerar com sabedoria a interpretao dada, comparar o testemunho da histria citado e examinar acuradamente o seu ponto de vista oponente para certificar-se se le se harmoniza ou no com a profecia e com seu comprovante histrico. Outrossim,

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    peo que me envie algumas linhas, expondo a sua dificuldade em concordar com esta ou aquela explanao; pois terei inteira satisfao em ajud-lo a remover qualquer dvida e, com o auxlio de Deus, faz-lo entender a inspirao. Se isto fr seguido com ausncia de preconceito e ceticismo, o leitor demonstrar apro ao meu esfro, e, estou certo, terminar colocando-se ao lado da interpretao sensata e histrica do Apocalipse como apresentada nesta dissertao.

    Findando estas minhas breves palavras, imploro ao Criador e Autor da Revelao que derrame Suas copiosas bnos sbre todos quantos lerem ste livro, e que os ilumine ao examinarem-no, para que dle possam fruir o mximo para a vida espiritual cotidiana e nle encontrar a senda real que conduz a um futuro glorioso e a uma eternidade feliz.

    A. S. Mello

  • .

    PREFCIO

    INTRODUO AO APOCALIPSE

    O Apocalipse a obra prima das revelaes profticas das Sagradas Escrituras, a culminncia da divina inspirao e a histria simblica da dispensao crist.

    De todos os livros da Bblia nenhum outro to solenemente introduzido; nenhum outro estampa inicialmente e to visivelmente a sua origem divina; nenhum outro comea com uma to graciosa e definida promessa de bnos para o que o l, para os que o ouvem e para os que cumprem as coisas que nle esto escritas. E, ao encerrar-se a sua mensagem, adverte o seu Autor que se no tire dle nem nle se acrescente coisa alguma, sob pena de castigo fatal. E portanto um livro da mais alta importncia, no obstante ser considerado por muitos como suprfluo. vista de seu Autor, porm, ste livro da mais alta valia.

    O futuro do mundo acha-se amplamente delineado no Apocalipse. Todos os problemas mundiais, diante dos quais se desespera o homem, encontram nle a sua soluo. O desfcho do drama dos sculos entre a verdade e o rro, entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal est plenamente assentado neste grande livro. Suas profecias so o calendrio da providncia pelo qual entendemos estar a civilizao vivendo seus derradeiros dias e o imprio do mal exalando seus ltimos alentos. Vemos, pois, no Apocalipse, a consumao do plano de Deus de restaurao do mundo, o climax das relaes de Deus com o homem cado em pecado e o cumprimento de tdas as promessas do evangelho.

    O QUE H DE MAIS SUBLIME NO APOCALIPSE

    O Velho Testamento revela Cristo em profecias definidas; os quatro evangelhos O revelam em Sua vida terrena, Seu ministrio, sofrimentos, morte, ressurreio e asceno; os Atos dos Apstolos e as Epstolas revelam os triunfos da igreja sob o ministrio de Seu Esprito; e o Apocalipse encerra um panorama de Sua glria, da concretizao de Sua vitria sbre os Seus inimigos e da Sua entronizao no trono do mundo como soberano absoluto. Assim o livro para o cristo um estmulo de f, um tnico nas provas da vida e uma segurana da salvao em Jesus Cristo. Ao estudarem-no os

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    crentes, nle divisaro temas impressionantes e emocionais, cenas de grandezas incomparveis capazes de satisfazer a mente mais indagadora e exigente. Enfim, abrem-se diante deles os portais de um maravilhoso futuro de glrias inenarrveis e imperecveis.

    NO H MISTRIOS NO APOCALIPSE

    Alguns h que, sem muito ou nenhum conhecimento do Apocalipse, julgam ser le um livro insondvel, um cdigo impenetrvel e que s talvez num futuro remoto possa ser entendido por algum gnio. O ttulo do livro, porm, refuta categoricamente estas pretenses. O termo APOCALIPSE, vem de dois vocbulos gregos: APO ocultar e CALIPSE descobrir. No Novo Testamento encontra-se dezoito vzes a palavra Apocalipse, sendo assim traduzida: Aparecimento, uma vez; vinda, uma vez; manifestao, uma vez; iluminar, uma vez; revelado, duas vzes; e revelao, doze vzes. Vemos que em nenhum caso a palavra foi traduzida por ocultar, mistrio, insondvel, etc.; mas sempre denotando alguma coisa tornada clara. Ficam assim refutadas as idias de que sua mensagem insondvel ou incompreensvel.

    H, naturalmente, uma razo por que os homens em geral no entendem o livro do Apocalipse. O primeiro versculo do livro declara que sua mensagem enviada aos servos de Deus, para mostrar-Ihes as coisas que brevemente devem acontecer. Nisto vemos que s os que servem a Deus, em verdade, podero entender o contedo do Apocalipse. Para les que foi enviada a sua revelao. Assim, a razo por que os demais homens no podem entender o livro e o consideram um mistrio, simplesmente porque no servem a Deus, e, por conseguinte, a sua mensagem a les no se destina. Quando se converterem a Deus e O servirem, ento a mensagem do grande livro ser tambm para les, e a entendero seguramente. Deus e Seu Filho jamais enviariam a Seus servos uma mensagem incompreensvel; e, se o fizessem, de nada adiantaria.

    PORQUE FOI O APOCALIPSE ESCRITO EM SMBOLOS

    Perguntar algum: Se o Apocalipse se destina igreja de Deus, por que no foi escrito ou revelado em linguagem comum? No seria mais fcil os servos de Deus o entenderem e todos os que o quisessem estudar? Em primeiro lugar respondemos que o motivo por que o Apocalipse foi revelado e escrito em smbolos, funda-se no fato de que o tempo em que le foi dado igreja crist era desfavorvel ao cristianismo. O imperador romano, Domiciano, tencionava exterminar o cristianismo e as Escrituras Sagradas. Alm disso o livro do Apocalipse falava, como ainda fala, contra o imprio romano. Se le fsse escrito em linguagem corrente e comum, os romanos o

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    destruiriam seguramente por falar contra les. Tambm o Apocalipse fala contra trs grandes corporaes religiosas existentes no mundo hoje. Estas, por certo, o destruiriam se le falasse em linguagem clara. E tambm o livro fala contra o Anti-Cristo, e ste infalivelmente o desfaria se pudesse entend-lo. Assim os inimigos de Deus e da verdade lem no Apocalipse mensagens contra les e no as entendem; deixam ento o livro em paz e dizem que le um mistrio impenetrvel. Esta foi a razo por que Cristo falou em parbolas quando dirigia a palavra diretamente a Seus adversrios.1) Eis, pois, as razes do simbolismo do livro do Apocalipse e de no ser le escrito em linguagem verncula.

    O LIVRO DO APOCALIPSE E O LIVRO DE DANIEL

    Excepcional harmonia existe entre os livros de Apocalipse e Daniel. H um ntimo achgo entre stes dois livros profticos. As coisas reveladas a Daniel foram posteriormente completadas pela revelao feita a Joo na ilha de Patmos. stes dois livros devem ser cuidadosamente estudados. O livro de Daniel est desvendado na revelao de Joo e conduz-nos s ltimas cenas da histria da terra. Quando os livros de Daniel e Apocalipse forem mais bem entendidos, os crentes tero uma experincia religiosa inteiramente diferente. A les ser dado tal vislumbre das portas abertas do cu que corao e mente sero impressionados com o carter que todos devem desenvolver a fim de realizar-se a bem-aventurana que deve ser a recompensa do puro de corao. O Esprito de Deus tem iluminado cada pgina da Escritura Sagrada, mas h muitos que no se impressionam, por ser imperfeitamente entendida. Quando o abalo vem, pela introduo de falsas teorias, stes leitores superficiais, em nenhuma parte ancorados, so semelhantes areia movedia. Afastam-se de sua posio e abraam seus sentimentos de amargor... Daniel e Apocalipse devem ser estudados, to bem como as outras profecias do Velho e Novo Testamentos. Fazem com que haja luz, sim, luz, em nossas habitaes. Para isto necessitamos orar. O Esprito Santo, brilhando sbre a pgina sagrada, abrir o nosso entendimento, para que possamos conhecer o que a verdade. No passado pregadores tm declarado serem Daniel e Apocalipse livros selados, e o povo os abandonaram. O vu, cujo aparente mistrio foi impedido de ser levantado, pela mo do prprio Deus, foi tambm afastado, destas pores de Sua palavra.2)

    Os perigos dos ltimos dias esto sbre ns, e devemos vigiar e orar, estudar e atender s lies que nos so dadas nos livros de Daniel e Apocalipse.3) No Apocalipse todos os livros da Bblia se encontram e se findam. Eis aqui o complemento do livro de Daniel. Um uma profecia; o outro uma revelao. O livro que est selado no o Apocalipse, mas aquela poro da profecia de Daniel

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    que se refere aos ltimos dias. O anjo ordenou: tu, porm, Daniel, fecha estas palavras, e sela o livro at ao tempo do fim1) Se as vises de Daniel fssem entendidas, o povo podia ter entendido melhor as vises de Joo. No verdadeiro tempo, porm, Deus moveu seus servos escolhidos, que, com evidncia e no poder do Esprito Santo, abriram as profecias e mostraram a harmonia das vises de Daniel e Joo e outra pores da Bblia.2)

    Assim como o Velho Testamento a porta de entrada para o Novo, o livro de Daniel , sem contestao, o prtico ou principal passagem condutora ao livro do Apocalipse.

    Isaac Newton, em Observaes sbre as Profecias de Daniel e o Apocalipse de So Joo, diz: O Apocalipse de So Joo escrito no mesmo estilo e linguagem das profecias de Daniel, e tem a mesma relao para elas que les tm um para o outro, de sorte que o todo dles junto faz somente uma profecia completa.3)

    Uma aproximao verdadeira ou visvel, paralela, existe entre o livro de Daniel e o Apocalipse. Se ambos os seus autores tivessem vivido no mesmo tempo, dir-se-ia, com razo, ter havido entre les prvio acrdo ao escreverem suas composies. Entretanto, apesar de jamais se conhecerem e ter mediado entre les um perodo de mais de meio milnio de separao, pode ser dito, sem nenhum engano, que suas obras so acentuado complemento uma da outra. De princpio a fim, opresses polticas e religiosas e grandes profecias compreendem os temas destas duas sagradas dissertaes, em lances simblicos irrecusvelmente admirveis. Nelas, ainda, e bem no incio, apresentam-se os dois autores sacros fruindo em cativeiro o cruciante amargor de tais opresses.

    E notvel encontrar essa franqueza nos relatos de Daniel e do Apocalipse. Ambos os livros apresentam aos seus leitores interessados:

    1. Seus autores em pleno exlio, recepcionando por divina inspirao o contedo de suas obras.

    2. Delineaes sbre o andamento futuro de governos temporais, eclesisticos e eclesistico-temporais, por entre os sculos futuros.

    3. Duas Babilnias, uma natural e capital do mundo antigo, nas paragens da Mesopotmia, s margens do caudaloso Eufrates, e outra universal e espiritual existente.

    4. O juzo divino investigativo em solene andamento no templo de Deus, no cu dos cus, onde cada indivduo infalivelmente comparecer.

    5. O dio de guerras devotadas ao povo de Deus por governos civis e eclesisticos em tda a histria da civilizao, mormente nos obscuros sculos medievais.

    6. Um personagem eclesistico a proferir arrogantes palavras de blasfmias contra Deus, Seu nome, Seu templo e habitantes do cu.

  • A VERDADE SBRE AS PROFECIAS DO APOCALIPSE 13

    7. A interveno divina sbre os escombros da arruinada e presente civilizao, para fundar em suas runas um eterno e teocrtico reino de paz e amor infinitos.

    8. Descrio das evidncias circunstanciais reinantes no tempo exato em que Jesus Cristo nas nuvens dos cus aparecer aos olhos do mundo, com poder e grande glria, para pr fim a tda angstia e aflio que na terra flagelam.

    9. Como personagens de suas grandes e maravilhosas galerias proftico-simblicas, a Deus, a Cristo, ao Esprito Santo, aos santos anjos, ao homem e ao prprio Satans e seus anjos malficos como inspiradores de tda a contenda terrena.

    10. ntima relao especial entre as revelaes dos captulos dois e sete de Daniel e doze, treze e desessete do Apocalipse.

    A palavra de Deus, ou seja a Bblia, as Escrituras Sagradas, o nico livro proftico que no mundo, desde tempos distantes, tem sido conhecido. Suas mais importantes profecias, que se concentram nos livros de Daniel e Apocalipse, tm resistido s mais cerradas hostilidades que contra ela a incredulidade, a infidelidade, e, incrivelmente, at avultado nmero de professos e pretensos cristos, levam continuamente a efeito.

    Ora o homem natural no compreende as coisas do Esprito de Deus, porque lhe parecem loucura; e no pode entend-las, porque elas se discernem espiritualmente.1) Com estas to simples palavras de So Paulo, apstolo, tornam-se claros os devidos e legtimos porqus dos ataques que as classes acima mencionadas mantm contra a Palavra de Deus, mormente para com a parte que diz respeito s profecias dstes dois livros citados. A guerra sem pejo declarada contra as revelaes destas duas obras, mostra o valor inestimvel do contedo delas. Ante tda a fuzilaria de seus gratuitos adversrios, mantm-se altura devida, dando como sempre e constantemente, um irrepreensvel testemunho da verdade atravs de sculos e milnios, e revelando autntica documentao quanto ao futuro, comprovada no curso da histria dos povos com segura infalibilidade.

    O PANORAMA DO APOCALIPSE

    A grande maioria das profecias do Apocalipse encontraram seu cumprimento no passado; algumas esto em pleno cumprimento no presente; outras sero cumpridas num breve futuro; e poucas restantes cumprir-se-o no reino de Deus. O panorama proftico cronolgico do Apocalipse apresenta-se como se segue: I. PROFECIAS SBRE A IGREJA DE DEUS NA TERRA:

    1. Introduo Cap. 1. 2. Saudao da trindade Cap. 1.

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    3. Viso das sete igrejas Caps. 2, 3. 4. Viso dos sete selos Caps. 4-6. 5. A Reforma do Sculo XVI Cap. 12:16. 6. O despertamento religioso mundial do sculo XIX Caps.

    10:1-10; 14:6-8. 7. O povo e a mensagem do advento Caps. 7:1-3; 10:11; 11:1-2;

    12:17; 14:6-14; 18:1-4.

    II. PROFECIAS SBRE OS OPONENTES DE DEUS E DE SEU POVO:

    1. Roma e as naes modernas cuja queda anunciada nas sete trombetas Caps. 8; 9; 11:15.

    2. O Papado, principalmente na Idade Mdia e no futuro. Caps. 13; 12; 11:3-6.

    3. A revoluo francesa inimiga da Bblia Cap. 11. 4. O protestantismo norte-americano na profecia Cap. 13:11-

    18, 5. A grande Babilnia Caps. 14:8; 18:1-4; 17; 16:13.

    III. PROFECIAS FINAIS DO APOCALIPSE: 1. O trmo da divina graa Cap. 15:8. 2. As sete pragas futuras Cap. 16. 3. A segunda vinda de Cristo Caps. 14:14-20; 19:11-21. 4. A queda de Babilnia Caps. 18; 19. 5. O milnio da profecia Cap. 20. 6. O juzo final Cap. 20. 7. Novo cu e nova terra Gap. 21:1. 8. A nova Jerusalm Cap. 21-22. 9. Os santos na glria Caps. 7:9-17; 14:1-5; 15:2-4.

    Daniel escreveu o seu livro durante o cativeiro, em Babilnia, ao passo que S. Joo, segundo o testemunho de Irineu (175-200), escreveu o Apocalipse na ilha de Patmos, no fim do reinado de Domiciano, no ano 94.

  • .

    INTRODUO

    Em todos os sculos da histria teve Deus os Seus verdadeiros representantes entre os homens. Em nome do Todo-Poderoso conservaram eles bem alto o estandarte da s verdade e testificaram, corajosamente, do direito divino. Alguns dstes baluartes da justia destacaram-se mais do que outros, em face da poca em que foram despertados por Deus para desempenharem uma funo saliente. Nos relatrios que dizem respeito aurora do mundo lemos especialmente de Enoque, contemporneo de Ado, a erguer a sua voz em clamor contra a impiedade e a anunciar o juzo vindouro sbre tda a m obra. Mais tarde levanta-se No, outro destemido embaixador de Deus, pregoeiro da justia, anunciando uma mensagem decisiva contra a crescente onda da maldade humana, precursora dum dilvio de guas. Abrao, o amigo de Deus, o vulto mais proeminente da escala das testemunhas de Deus, depois do dilvio at Cristo. Seus imediatos descendentes, Isaac e Jac, seguiram-no destemidamente, fazendo refulgir com firmeza a divina luz da justia celestial diante duma civilizao desequilibrada. Jos, no Egito, e Daniel, em Babilnia, foram outros brilhantes porta-estandartes da verdade de Deus. A histria do Velho Testamento est repleta de outros dignos mensageiros do Altssimo, que, com denodado zlo e rara devoo, desempenharam o papel que lhes coube no divino plano de Deus.

    Tambm a histria do Novo Testamento est ornada de eminentes homens, embora humildes e simples, que, como os da antiga dispensao, levantaram destemerosamente a voz para testemunhar do Criador e de Seu Filho Jesus Cristo. To eloqente foi o testemunho que deram, que por le preferiram antes morrer que alter-lo.

    JOO, O AMADO DISCPULO

    Um dos mais notveis e destacados luminares que brilharam na era apostlica em exaltao de Deus e do Salvador, foi S. Joo, o cognominado discpulo amado.1) Seu pai era humilde pescador do mar da Galilia; e, sua me Salom, parece ter sido ntima de Maria, me de Jesus.

    Joo foi um dos primeiros apstolos a serem atrados pelo humilde Nazareno.2) Sbre todos os seus companheiros, Joo, o discpulo amado, rendeu-se influncia daquela vida maravilhosa.3)

  • 16 A. S. M E L L O

    A devoo abnegada e o amor confiado manifestados na vida e no carter de Joo, apresentam lies de incalculvel valor para a igreja crist. Joo no possua por natureza a beleza de carter que revelou em sua experincia posterior. Tinha defeitos graves. No somente era orgulhoso, pretencioso e ambicioso de honra, seno tambm impetuoso, ressentindo-se pela injustia. le e seu irmo foram chamados filhos do trovo. Mau gnio, desejo de vingana, esprito de crtica, tudo se encontrava no discpulo amado. Porm, sob tudo isso o Mestre divino discernia um corao ardente, sincero e amante. Jesus repreendeu seu egosmo, frustrou suas ambies, provou sua f, e revelou-lhe aquilo pelo qual sua alma suspirava, a formosura da santidade, o poder transformador do amor.1) Ao afeto do Salvador correspondeu o amado discpulo com tda a fra de uma ardente devoo. Joo se apoiou em Cristo como a videira se sustm sbre uma majestosa coluna.2)

    profundeza e fervor do afeto de Joo para com seu Mestre no era a causa do amor de Cristo para com le, seno o efeito dsse amor. Joo desejava chegar a ser semelhante a Jesus, e sob a influncia transformadora do amor de Cristo, chegou a ser manso e humilde. O seu eu estava escondido em Jesus. Sbre todos os seus companheiros, Joo se entregou ao poder dessa maravilhosa vida. Disse: A vida foi manifestada, e ns a vimos:3) E todos ns recebemos tambm da sua plenitude, e graa por graa.4) Joo conheceu ao Salvador por experincia prpria. As lies de seu Mestre se gravaram sbre sua alma. Quando le testemunhava da graa do Salvador, sua linguagem simples era eloqente pelo amor que transbordava seu ser.

    Devido a seu profundo amor para com Cristo, Joo desejava estar sempre prximo dle. O Salvador amava aos doze, porm o esprito de Joo era o mais receptivo. Era mais jovem que os demais e com maior confiana infantil, abriu o corao a Jesus. Assim chegou a simpatizar mais com Cristo, e mediante le, as mais profundas lies espirituais de Cristo foram comunicadas ao povo.

    Jesus ama aqules que representam o Pai, e Joo pde falar do amor do Pai como nenhum outro dos discpulos. Revelou a seus semelhantes o que sentia em sua prpria alma, representando em seu carter os atributos de Deus. A glria do Senhor se expressava em seu semblante. A beleza da santidade que o havia transformado brilhava em seu rosto com resplendor semelhante ao de Cristo. Em sua adorao e amor contemplava a Jesus at que a semelhana de Cristo e a companhia com le chegaram a ser seu nico desejo, e em seu carter refletiu o carter de seu Mestre.5)

    Assim Joo, pela contemplao diria de seu Senhor, foi inteiramente transformado e preparado para a sua obra futura. Jamais se afastava de Jesus. le, seu irmo Tiago e Pedro eram "os mais

  • A VERDADE SBRE AS PROFECIAS DO APOCALIPSE 17

    ntimos companheiros de Cristo. Com stes dois foi escolhido pelo Senhor para testemunhar a ressurreio da filha de Jairo1), a transfigurao no monte2) e a aflio do Salvador no Getsmane.3) A evidncia de sua mudana total de vida e de seu incondicional amor ao seu Mestre, deparamos, no s em sua vida futura, mas ao reclinar-se no peito de Jesus, na ocasio da ceia.4) Neste incidente vemos que Joo foi o discpulo que mais perto de Jesus esteve e o que mais sentiu sse divino amor, razo por que regara seus escritos dsse santo amor. Transformado, nunca mais pensou Joo em posies de honras mundanas;5) jamais pensou em fazer descer fogo do cu sbre quem quer que fsse.6)

    JOO NO ABANDONA JESUS

    Nos momentos mais graves da vida de Jesus da casa de Caifs ao Calvrio Joo no abandonou a Jesus.

    Os sacerdotes reconheceram Joo como discpulo de Jesus, e deram-lhe entrada na sala, esperando que, ao testemunhar a humilhao de seu guia, o desprezasse. Joo falou em favor de Pedro, conseguindo entrada para le tambm.

    O discpulo Joo, entrando na sala do julgamento, no buscou ocultar ser seguidor de Jesus. No se misturou com o rude grupo que injuriava o Mestre. No foi interrogado; pois no assumiu um falso carter, tornando-se assim objeto de suspeita. Procurou um canto retirado, ao abrigo dos olhares da multido, mas o mais prximo possvel de Jesus. Ali podia ver e ouvir tudo que ocorresse no julgamento de seu Senhor.7)

    No Calvrio, enquanto o olhar de Jesus vagueava pela multido que O cercava, uma figura lhe prendeu a ateno. Ao p da cruz se achava Sua me, apoiada pelo discpulo amado. Ela no podia suportar permanecer longe de seu filho; e Joo, sabendo que o fim se aproximava, trouxe-a para perto da cruz. Na hora de Sua morte, Cristo lembrou-Se de Sua Me. Olhando-lhe o rosto abatido pela dor, disse, dirigindo-Se a ela: Mulher, eis a o teu filho; e depois, a Joo: Eis a tua me. Joo entendeu as Palavras de Cristo, e aceitou o encargo. Levou imediatamente Maria para sua casa, e daquela hora em diante dela cuidou ternamente. O piedoso, amorvel Salvador! por entre tda a sua dor fsica e mental angstia, teve solcito cuidado por Sua me! No possua dinheiro com que lhe provesse o conforto; achava-Se, porm, entronizado na alma de Joo, e entregou-lhe Sua me como precioso legado. Assim providenciou para ela aquilo de que mais necessitava a terna simpatia de algum que a amava, porque ela amava a Jesus. E, acolhendo-a como santo legado, estava Joo recebendo grande bno. Ela lhe era uma contnua recordao de seu querido Mestre.8)

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    JOO COMO PREGADOR

    Depois da asceno de Cristo, Joo se apresenta como um fiel e fervoroso obreiro do Mestre. Juntamente com os outros discpulos desfrutou do derramamento do Esprito Santo no dia de Pentecostes, e com renovado zlo e poder continuou falando ao povo as palavras da vida, procurando levar seus pensamentos para o Invisvel. Era um pregador poderoso, fervente e profundamente solcito. Com uma bela linguagem e uma voz musical, relatava as palavras e as obras de Cristo; falava de uma forma que impressionava os coraes daqueles que o escutavam. A simplicidade de suas palavras, o poder sublime da verdade que enunciava, e o fervor que caracterizava seus ensinos, davam-lhe acesso a todas as classes sociais.

    A vida do apstolo estava em harmonia com seus ensinos. O amor de Cristo que ardia em seu corao, o induziu a realizar uma fervorosa e incansvel obra em favor de seus semelhantes, especialmente dos seus irmos na igreja crist.

    medida que transcorriam os anos e o nmero de crentes crescia, Joo trabalhava com maior fidelidade e fervor em prol de seus irmos. Os tempos eram perigosos para a igreja. Por tdas as partes existiam erros satnicos. Por meio da falsidade e do engano os emissrios de Satans intentavam levantar oposio contra as doutrinas de Cristo; como consequncia as dissenes e heresias punham em perigo a igreja. Alguns que criam em Cristo diziam que seu amor os livrava de obedecer lei de Deus. Muitos outros criam que era necessrio observar os costumes e cerimnias judias; que uma simples observncia da lei, sem necessidade de ter f no sangue de Cristo, era suficiente para a salvao. Alguns sustinham que Cristo era um bom homem, porm negavam sua divindade. Outros que pretendiam ser fiis causa de Deus eram enganadores, negavam, na prtica, a Cristo e Seu evangelho. Vivendo em transgresso, introduziam heresias na igreja. Por isso muitos eram levados aos labirintos do ceticismo e ao engano.

    Joo enchia-se de tristeza ao ver penetrar na igreja sses erros venenosos. Via os perigos aos quais ela estava exposta e enfrentava a situao com presteza e ousadia. As epstolas de Joo respiram o esprito de amor. Parece como se as houvesse escrito com a pena molhada no amor. Quando, porm, se encontrava com os que estavam transgredindo a lei de Deus, mesmo que clamassem que estavam vivendo sem pecado, no vacilava em admoest-los acrca de seu terrvel engano.

    Joo era um mestre de santidade, e em suas cartas igreja assinalou regras infalveis para a conduta dos cristo. E qualquer que nle tem esta esperana escreveu purifica-se a si mesmo, como tambm le puro. Aquele que diz que est nle, tambm

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    deve andar como le andou.1) Ensinou que o cristo deve ser puro de corao e de vida. Nunca deve estar satisfeito com uma profisso v. Assim como Deus santo em Sua esfera, o homem cado, por meio da f em Cristo deve ser santo na sua.2)

    Como escritor sacro, nenhum outro apstolo igualou Joo. Escreveu o evangelho que relata a vida de Jesus, trs epstolas e a Revelao do Apocalipse. Seus escritos esto permeados, abundantemente, do amor de Deus e de seu Mestre, tendentes a levarem os cristos a viverem na atmosfera divina e celestial.

    Para dizermos tudo de Joo, como crente e como ministro do evangelho de Cristo, basta-nos referirmos ao seguinte testemunho de Paulo sbre le: E conhecendo Tiago, Cefas e Joo, que eram considerados como as colunas,...3) Vemos que Joo no era um cristo vacilante e um pregador indolente, mas, com os outros citados pelo apstolo um baluarte inabalvel na igreja e no ministrio evanglico.

    JOO PERSEGUIDO

    Mais de meio sculo havia passado desde a organizao da igreja crist. Durante sse tempo se havia manifestado uma oposio constante mensagem evanglica. Seus inimigos no haviam recuado em seus esforos, e finalmente lograram a cooperao do imperador romano em sua luta contra os cristos.

    Durante a terrvel perseguio que se seguiu, o apstolo Joo fz muito para confirmar e fortalecer a f dos crentes. Deu um testemunho que seus adversrios no puderam contradizer, e que ajudou a seus irmos a enfrentar com valor e lealdade as provas que lhes sobrevieram. Quando a f dos cristos parecia vacilar ante a terrvel oposio que deviam suportar, o ancio e provado servo de Jesus lhes repetia com poder e eloquncia a histria do Salvador crucificado e ressuscitado. Susteve firmemente sua f, e de seus lbios brotou sempre a mesma mensagem alentadora: O que era desde o princpio, o que ouvimos, o que vimos com os nosso olhos, o que temos contemplado, e as nossas mos tocaram da palavra da vida... O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos.4)

    Joo viveu at ser muito ancio. Foi testemunha da destruio de Jerusalm e da runa do majestoso templo. Como ltimo sobrevivente dos discpulos que estiveram intimamente relacionados com o Salvador, sua mensagem tinha grande influncia quando revelava que Jesus era o Messias, o Redentor do mundo. Ningum podia duvidar de sua sinceridade, e mediante seus ensinos muitos foram induzidos a sair da incredulidade.

    Os governantes judeus estavam cheios de amargo dio contra Joo por sua imutvel fidelidade causa de Cristo. Declararam que seus esforos contra os cristos no teriam nenhum resultado

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    enquanto o testemunho de Joo repercutisse nos ouvidos do povo. Para conseguir que os milagres e ensinos de Jesus fossem esquecidos, urgia que silenciasse a voz da valente testemunha.

    Com ste fim, Joo foi chamado a Roma para ser julgado por sua f. Ali, diante das autoridades, as doutrinas do apstolo foram expostas erroneamente. Testemunhas falsas o acusaram de ensinar heresias sediciosas, com a esperana de conseguir a morte do discpulo.

    Joo se defendeu de uma maneira clara e convincente, e com tal simplicidade e candor que suas palavras tiveram um efeito poderoso. Seus ouvintes ficaram atnitos ante sua sabedoria e eloquncia. Quanto mais convincente, porm, era seu testemunho, tanto maior era o dio de seus opositores. O imperador Domiciano estava cheio de ira. No podia refutar o raciocnio do fiel advogado de Cristo, nem competir com o poder que acompanhava sua exposio da verdade; porm propos-se fazer calar a sua voz.

    Joo foi lanado numa caldeira de azeite fervente; porm o Senhor preservou a vida de seu fiel servo, assim como protegeu aos trs hebreus no forno de fogo. Enquanto se pronunciavam as palavras: Assim peream todos os que crem nesse enganador, Jesus Cristo de Nazar, Joo declarou: Meu mestre se submeteu pacientemente a tudo o que fizeram Satans e seus anjos para humilh-Lo e tortur-Lo. Deu Sua vida para salvar o mundo. Sinto-me honrado por sofrer por Sua causa. Sou um homem dbil e pecador. Somente Cristo foi santo, inocente e imaculado. No cometeu pecado, nem foi achado engano em Sua bca.

    Estas palavras tiveram sua influncia, e Joo foi retirado da caldeira pelos mesmos homens que o haviam lanado nela.

    Novamente a mo da perseguio caiu pesadamente sbre o apstolo. Por decreto do imperador, foi desterrado ilha de Patmos, condenado pela palavra de Deus e o testemunho de Jesus-Cristo.1) Seus inimigos pensaram que ali no se faria sentir mais sua influncia, e que finalmente morreria de penrias e angstia.

    Patmos, uma ilha rida e rochosa do mar Egeu, havia sido escolhida pelas autoridades romanas para receber os criminosos desterrados; porm para o servo de Deus essa lbrega residncia chegou a ser a porta do cu. Ali, longe das buliosas atividades da vida, e do intenso labor de anos anteriores, disfrutou da companhia de Deus, de Cristo e dos anjos do cu, e dles recebeu instrues para guiar a igreja do futuro. Foram-lhe esboados os acontecimentos que se verificariam nas ltimas cenas da histria do mundo; e ali escreveu as vises que recebeu de Deus. Quando sua voz no pudesse testemunhar mais dAquele a Quem amou e serviu, as mensagens que se lhe deram naquela costa estril iam iluminar como uma lm-

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    pada acesa, anunciando o seguro propsito do Senhor acrca de cada nao da terra.

    Entre os penhascos e rochas de Patmos, Joo manteve comunho com seu Criador. Repassou sua vida passada, e, ao pensar nas bnos que havia recebido, a paz encheu seu corao. Havia vivido a vida de um cristo, e pde dizer com f: Ns sabemos que passamos da morte para a vida.1) No assim como o imperador que o havia desterrado. ste podia olhar atrs e ver nicamente campos ir batalha e matana, lares desolados, vivas e rfos chorando: o fruto de seu ambiciosa desejo de preeminncia.2)

    A histria de Joo nos proporciona notvel ilustrao de como Deus pde usar aos obreiros de idade. Quando foi exilado para a ilha de Patmos, houve muitos que o consideravam incapaz de continuar no servio, e como uma cana velha e quebrada, propensa a cair em qualquer momento. O Senhor, porm, julgou conveniente us-lo. Ainda que afastado das cenas de seu trabalho anterior, no deixou de ser uma testemunha da verdade. Mesmo em Patmos fz amigos e conversos. Sua mensagem era de gzo, pois proclamava um Salvador ressuscitado que desde o alto estava intercedendo por Seu povo at que regressasse para lev-lo consigo. J bastante idoso no servio de Seu Senhor, Joo recebeu muitas comunicaes do cu alm das que havia recebido durante os primeiros anos de sua vida.3)

    Joo havia sido banido para a ilha de Patmos no ano 94 A.D. morte de Domiciano, por assassnio, dois anos depois, Nerva subiu ao trono romano e, como sucede usualmente, os presos polticos gozaram de anistia. Nestas circunstncias Joo foi liberto e retornou a feso onde escreveu o seu evangelho no ano 97. Em feso findou sua vida com crca de 100 anos de idade, sendo a ltima e nica das testemunhas pessoais de Jesus que teve morte natural.

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  • CAPTULO I

    PREMBULO DAS SETE CARTAS S SETE IGREJAS INTRODUO

    O primeiro captulo do Apocalipse o glorioso prtico da mais grandiosa revelao de Deus ao homem. Inicialmente, a introduo do famoso livro demonstra, de modo a no deixar a mais leve dvida, a sua origem divina, para que a igreja crist, a quem a grande revelao se destina, pudesse confiar inabalvelmente em sua mensagem atravs de todos os tormentosos sculos de sua existncia como porta-voz autorizada de Deus no mundo.

    A seguir deparamos as bem fundadas razes por que Joo, o amado apstolo, fra escolhido como portador pessoal do Apocalipse igreja. Quando Deus preserva um homem de perigos que ameaam a sua vida, porque tem para le um honroso propsito futuro.

    Finda a introduo encarecendo o imenso valor das profecias e promessas do sublime livro, salientando uma trplice e inestimvel bno reservada aos que as prezarem e acatarem com inteira sinceridade.

    A dedicao do Apocalipse igreja crist encerra uma incomensurvel saudao de Deus, de Seu Filho e de Seu Esprito, em que seu triunfo assegurado na imutabilidade da trindade.

    Depois da dedicao e saudao, o profeta passa a falar, ligeiramente, das circunstncias que o rodeavam ao receber o Apocalipse, que, alis, para a sua avanada idade, foram as mais dramticas possveis.

    O Apocalipse, continua S. Joo, foi-lhe revelado num dia de grande transcendncia, pelo que no esquecera de salientar solenemente o seu glorioso nome que o distingue dos demais dias da semana. Ao tratarmos neste captulo do referido dia, veremos que a importncia desta ltima revelao de Deus ao homem exigia um dia de indizvel preeminncia histrica e revelador da mais alta significao universal, pelo que outro seria suprfluo como data semanal da grande mensagem igreja. Possivelmente nos surpreenderemos com a grandiosidade das razes por que fra le distinguido dos demais e recebera to honroso ttulo dentre todos.

    O captulo finda com a primeira parte da primeira viso, onde a igreja de Cristo revelada no mais glorioso smbolo que a eleva como portadora da mais gloriosa luz jamais divulgada aos mortais. Cristo, entretanto, a figura central desta viso, na qual O deparamos em seu supremo ofcio sacerdotal e em sua suprema majestade e poder, ao

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    ponto de o seu querido discpulo, nem mesmo em viso, poder suportar a majestosa glria de Sua presena.

    A FONTE ORIGINAL DO APOCALIPSE

    VERSO 1 Revelao de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu, para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo Seu anjo as enviou, e as notificou a Joo Seu servo.

    REVELAO DE JESUS CRISTO

    As palavras iniciais do Apocalipse deixam bem evidente a fonte original de sua procedncia. Psto que o ttulo do livro seja Revelao de Jesus Cristo seu verdadeiro Autor Deus, a Eterna Fonte de tda a sabedoria e verdade. Aqueles que prezam o Apocalipse e o estudam detidamente, ficam estasiados ante a infinita sapincia que condensou em sublimes smbolos a histria das naes, das grandes religies e da igreja de Cristo na era crist.

    E muitssimo significativa a expresso do discpulo amado de que Deus dera a Jesus a revelao contida no Apocalipse. Sabemos que Deus, desde o pecado do primeiro homem, no mais se comunicava pessoalmente com a famlia humana. Todavia, seria contrrio ao Seu carter santo de Pai amoroso, desligar-se definitivamente de Seus filhos por terem les pecado. Era por demais inconcebvel que Aqule, cujo carter tem por fundamento o amor, os abandonasse a perecer em seus delitos e pecados sem que lhes provesse um recurso que os erguesse do estado de decadncia e os restaurasse. Da a gloriosa histria da eterna salvao que nos foi contada pelos santos profetas e apstolos. les nos disseram e nos dizem ainda, que Deus, o amante Pai, no desprezou e no abandonou o homem em sua misria, mas que, proveu um sublime, glorioso meio pelo qual pde aproximar-se novamente dle e ergu-lo do terrvel charco do pecado em que cara. Sim, e ste glorioso meio o Seu prprio Filho Jesus Cristo. Por meio de Seu dileto Filho e amante Salvador nosso, tem Deus enviado a ns tda a revelao das Sagradas Escrituras atravs de sculos no passado. Deus, a no ser por Jesus, jamais se comunicou com Seus filhos cados. O Apocalipse constitui a ltima revelao de Deus a Seus amados ou igreja de Seu Filho, em primeiro lugar para dar-lhes a certeza de Seu amor por les, e, em segundo lugar, para adverti-los dos perigos espirituais e dos seus perigosos adversrios.

    O OBJETIVO REAL DO APOCALIPSE

    O objetivo desta grande revelao no outro alm do que expressado no texto primeiro: Para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer. Antes de tudo, urge a pergunta: Quem so os servos de Deus aos quais fra dado o Apocalipse?

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    E, ainda: Que quer dizer ser servo de Deus? O trmo servo j indica quem so e o que quer dizer ser servo de Deus. O servo de Deus , pois, aqule que O serve, que se deixa orientar por Sua expressa vontade. Os servos de Deus, mencionados nesta profecia, so os componentes de Sua igreja na terra, ou, melhor dito, a igreja que fiel e zelosa na observncia dos Seus mandamentos e do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, Seu Filho. A estes servos ou a esta igreja, fra enviado o Apocalipse bem como tda a mensagem das Sagradas Escrituras.

    igreja de Deus, portanto, foi revelado o Apocalipse no comeo da histria da era crist. Desde a era apostlica at ao fim, a verdadeira igreja de Deus tem estado a par dos acontecimentos futuros da histria secular e de sua prpria histria, atravs da grande revelao. Aqui nos dada a razo por que os mpios e mesmo a grande massa do cristianismo no podem entender o simbolismo do Apocalipse. Para entend-lo, imprescindvel ser servo de Deus, sdito de Sua igreja, e les no o so e por tal motivo concebem ser o Apocalipse um livro esquisito, impenetrvel, cujo significado, dizem, est ainda num futuro remoto. Os servos de Deus, porm, no encontram dificuldade nos smbolos do Apocalipse. O Esprito Santo de Deus lhes tem revelado sublimemente as lies profticas encerradas em seus emblemas.

    O ANJO DO SENHOR

    No h dvida de que a expresso e pelo Seu anjo trata de um anjo especial que sempre comissionado pelo Senhor no que concerne a revelaes de carter sumamente importante. E neste sentido no somos deixados a tatear na incerteza, mas temos, nas prprias Sagradas Escrituras, uma definio deveras clara. Sabendo que as profecias de Daniel esto relacionadas intimamente com as do Apocalipse, perguntamos ento: Quem era o anjo que assistia Daniel em suas vises? Numa das vises concedidas ao velho profeta de Babilnia, uma grande voz fz-se ouvir transmitindo a seguinte ordem: Gabriel, d a entender a ste a viso.1) Nos captulos oito, onze e doze do livro de Daniel, Gabriel o anjo que o Senhor comissionara para dar-lhe a entender vises que o profeta no podia entender. Foi Gabriel o anjo que fra enviado pelo Senhor a comunicar a Zacarias o nascimento de Joo Batista, em cuja ocasio definira-se o anjo, dizendo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus.2) Dste modo Gabriel o anjo do Senhor enviado para assistir a S. Joo em suas vises do Apocalipse.

    Maravilhosos so os degraus por meio dos quais chegou s mos da Igreja crist a mensagem do Apocalipse. Primeiramente Deus,

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    a eterna Fonte do saber; depois Seu Filho Jesus Cristo, por Quem le, unicamente, se comunica com o pecador; a seguir o anjo Gabriel por Jesus incumbido de transmitir a revelao a Joo, e ste, por sua vez, Igreja do seu Senhor. Alegremo-nos por stes sublimes passos pelos quais recebemos a preciosa mensagem do ltimo livro das Escrituras Sagradas, que mais no do que um lenitivo, conforto e bssola para os verdadeiros cristos nestes turbulentos dias finais da histria da civilizao humana.

    O PORTADOR HUMANO DO APOCALIPSE

    VERSO 2 O qual testificou da Palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto.

    ste segundo versculo contm um eloqente elogio ao apstolo amado. Queira Deus despertar em ns o senso de nossa responsabilidade crist e da alta investidura com que fomos investidos para a santa comisso evanglica mundial, para que tambm ns, como S. Joo, sejamos alvos do eloqente elogio celestial. Trs razes so apresentadas segundo as quais o apstolo foi escolhido como veculo do Apocalipse igreja do Senhor Jesus:

    1. O qual testificou da palavra de Deus: A palavra de Deus testificada por Joo so as Escrituras Sagradas do Velho e do Novo Testamento. O seu testificar foi em viver e pregar a palavra de Deus tal como em verdade ela o , sem alter-la no mnimo sequer. Da afirmarmos que S. Joo foi um verdadeiro cristo e um verdadeiro ministro do evangelho. Todo o verdadeiro cristo e todo o verdadeiro ministro do evangelho testificar, como S. Joo, na vida e na pregao, da palavra de Deus tal como ela se encontra nos dois Testamentos, sem aceitar nenhuma doutrina que no subsista prova da palavra de Deus. Aproximadamente por setenta anos Joo viveu e pregou a pura palavra de Deus O santo evangelho inspirado sendo uma das razes especiais por que foi le escolhido portador humano do Apocalipse para a Igreja de Deus, e tambm por que fz le jus ao ttulo de discpulo do amor. Que o exemplo de S. Joo leve a todo o sincero ministro do evangelho a viver e a pregar nica e exclusivamente a palavra de Deus e ser tambm embaixador amado do Senhor Jesus hoje, como fra le outrora.

    2. E do testemunho de Jesus Cristo: Conforme o Apocalipse define, o testemunho de Jesus o Esprito de Profecia. Nos captulos doze e dezenove versculos dezessete e dez respectivamente, encontramos uma completa exposio sbre o assunto. Aqui, porm, por antecipao, urge dizer que o testemunho de Jesus ou o Esprito de Profecia a inspirao de Jesus, por Seu Esprito, o Esprito Santo, a um instrumento humano, por isso mesmo chamado

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    profeta. E S. Joo testificou de tda a inspirao concedida a todos os profetas, quer do Velho como do Novo Testamento, como real inspirao do Senhor Jesus, tendo le prprio sido um dos grandes profetas pelos quais o testemunho de Jesus se manifestou Sua igreja.

    3. E de tudo o que tem visto: Se o espao permitisse, poderamos fazer uma longa e pormenorizada explanao de tudo o que Joo viu. E quo gloriosas coisas viu le! O evangelho que traz o seu nome testifica de inmeras coisas gloriosas que le vira. Os milagres, os ensinos, a transfigurao, a humilhao, a crucificao, a ressurreio, a asceno e o grandioso amor do Salvador, bem como o poderoso Pentecostes e suas converses em massa foram gloriosas coisas que Joo viu e de tudo testificou. Sim, temos aqui a terceira razo apresentada por que fra le o distinguido mensageiro do Apocalipse igreja crist. Oxal todo o ministro de Cristo honre o Seu Mestre e testifique da maneira trplice como Joo testificou, para que o cristianismo possa tornar aos seus ureos dias, os dias apostlicos.

    UMA TRPLICE BEM-AVENTURANA

    VERSO 3 Bem-aventurado aquele que l, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela esto escritas; porque o tempo est prximo.

    UMA INESTIMVEL BEM-AVENTURANA

    Embora devamos ler, ouvir e guardar tdas as revelaes de Deus em tdas as Sagradas Escrituras, h uma trplice bem-aventurana reservada a todo o que ler, ouvir e guardar a mensagem contida no Apocalipse. Em nenhuma outra parte da revelao encontramos uma bno to categrica sbre a leitura, a audio e prtica duma revelao de Deus. Nisto, mostra-nos o Revelador do Apocalipse que a despeito dos que asseveram ser ste ltimo livro da Bblia um livro incompreensvel, pode ser plenamente entendido. Pronunciaria Deus, porventura, uma to gloriosa bno a quem lesse um livro impossvel de ser compreendido, ou que, ouvindo-o, no o pudesse ler nem pratic-lo? No, caro leitor. Deus, com sua prometida bno, estimula-nos a estudarmos com fervor, a aceitarmos integralmente e observarmos in totum os ensinos do Apocalipse, para que sejamos felizes, bem-aventurados. Estimulados, pois, por Deus, a prpria Fonte da inspirao, no devemos ouvir as oposies de homens incrdulos.

    Psto que o Apocalipse seja um livro essencialmente proftico cujas profecias devemos aceitar e crer, h tambm nle deveres revelados que devemos acatar e observar. medida que formos estu-

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    dando suas profecias sobre poderes polticos e religiosos opressores, encontraremos sses claros deveres que devemos cumprir para sermos dignos da preciosa bem-aventurana.

    Todavia, h pessoas, e no poucas, que no querem ler o Apocalipse, apresentando, para isto, desculpas sem valor, sendo uma delas, a mais comum, de que ste livro ainda est fechado e ainda no nos permitido conhecer o seu significado. A bno trplice de Deus no pronunciada para esta classe indiferente ao sagrado. Outros no querem ouvir nada sobre as profecias do livro; no lhes interessa ouvir nada que julgam obscuro e incompreensvel, tambm para stes no a bno divina. E outros, embora leiam e ouam, no lhes interessa a mensagem do sublime livro, e recusam-se a observar os deveres que le lhes impe. Tdas estas classes de incrdulos e cristos indiferentes no recebero jamais a trplice bem-aventurana evidentemente ao alcance dos que lem, ouvem e praticam os deveres exarados no grande livro.

    A palavra bem-aventurana vem do grego MAKARIOS, e significa uma felicidade celestial. A pessoa bem-aventurada aquela que tem a felicidade do cu. Noutros trmos, ler, ouvir e praticar a mensagem contida no Apocalipse significa possuir o prprio cu. Aqules que persistentemente recusam, de qualquer maneira, ste livro, no s esto na falta da posse da bem-aventurana celeste como tambm excludos do prprio cu. les, por se colocarem, por escolha voluntria, junto dos que se opem ao Apocalipse, no pertencem ao povo de Deus para quem esta revelao enviada. Excludos por vontade prpria da bno e do cu, no lhes resta seno uma horrenda recompensa que os surpreender no devido tempo. Oxal se arrependam antes que tarde possa ser, e se volvam no s em aceitao da mensagem apocalptica mas de tdas as Escrituras Sagradas.

    PORQUE O TEMPO EST PRXIMO

    Eis uma outra grande razo por que devemos aceitar e observar a mensagem do Apocalipse. Uma vez mais confirmada a verdade de que ste livro pode ser plenamente entendido por quem desejar filiar-se ao povo de Deus. A trplice bem-aventurana j um aplo de Deus para que Seus filhos aceitem o maravilhoso livro, e creiam nle. Temos aqui um novo aplo para que les, urgentemente, se decidam pelo livro sagrado. A proximidade do tempo quer dizer que, aps o cumprimento da mensagem do Apocalipse, o fim seguramente vir. Suas profecias, cumpridas sculo aps sculo, indicavam a nossos antepassados a aproximao do fim; e, nossa gerao, que v suas ltimas previses serem cumpridas, pode, na verdade, ter a certeza de que o tempo est prximo, que o fim do imprio do mal na terra uma realidade iminente. Portanto, a bem-aventurana

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    oferecida por Deus ao que ler, ouvir e praticar o contedo do notvel livro, tem sua razo de ser na proximidade do tempo final da histria do mundo. Creiamos, pois, na gloriosa mensagem dste livro, vivamo-la, e seremos ento dos bem-aventurados celestiais.

    A SAUDAO DA TRINDADE IGREJA DE DEUS

    VERSOS 4-8 Joo, s sete igrejas que esto na sia: Graa e paz seja convosco da parte dAqule que , e que era, e que h de vir, e da dos sete espritos que esto diante do Seu trono; da parte de Jesus Cristo, que a fiel testemunha, o primognito dos mortos e o prncipe dos reis da terra. quele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fz reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a le a glria e poder para todo o sempre. Amm. Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o ver, at os mesmos que O traspassaram; e tdas as tribos da terra se lamentaro sbre Ele. Sim. Amm. Eu sou o Alfa e o mega, o princpio e o fim, diz o Senhor, que , e que era, e que h de vir, o Todo-Poderoso.

    AS SETE IGREJAS DA SIA

    primeira vista, parece-nos que a saudao da trindade, atravs do profeta, d a entender que na sia s havia sete igrejas crists, ao tempo de S. Joo, e que unicamente a elas fra dedicada a mensagem contida no Apocalipse. Alm das sete igrejas, mencionadas no "versculo onze, porm, havia, mesmo na sia Menor, onde se encontravam as sete citadas, outras algumas das quais mais importantes que algumas delas. Por exemplo: Havia alm das sete referidas, as igrejas da Galcia, s quais Paulo enviara uma de suas cartas; a igreja de Colosso que tambm recebera uma preciosa carta de Paulo; a igreja de Mileto que, a julgar pelo encontro de Paulo ali com os ancios de feso, era um importante centro do cristianismo; havia ainda a igreja de Troas, onde Paulo estivera sete dias com os irmos dali;1) outras igrejas ainda havia na sia Menor, fundadas pelo apstolo Paulo: As de Perge, Icnio, Listra, Derbe, Antioquia da Pisdia e outras. S. Pedro fala de fiis eleitos no Ponto, na Capadcia, na Bitnia, onde infalivelmente eram constitudos em igrejas. Alm destas havia na sia outras igrejas mais importantes que as sete citadas no Apocalipse e que quaisquer outras j mencionadas. Por exemplo, as igrejas de Antioquia da Sria e de Jerusalm sobrepujavam a tdas as demais. Entretanto, todo o livro do Apocalipse dedicado s sete igrejas, como dissemos, mencionadas no versculo onze, cujos "nomes so os seguintes: feso, Smirna, Prgamo, Tiatira, Sardo, Filadlfia e Laodicia.

    Se o Apocalipse uma mensagem de Deus s para estas sete igrejas, no deveriam existir outras e estas sete deveriam existir at

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    agora e at volta de Jesus. Mas estas sete igrejas no mais existem naquelas cidades da sia Menor, nem mesmo algumas dessas cidades existem mais e as que existem tm outros nomes. E, se o Apocalipse era uma mensagem exclusivamente para aquelas sete igrejas, naturalmente no fra dedicado s demais igrejas daquele tempo, nem s demais dos sculos futuros, nem igreja de Deus dste nosso sculo. Por que, pois, o Apocalipse foi dedicado quelas sete igrejas, e no s inmeras outras que havia ao tempo de S. Joo na sia, bem como na Europa e na frica e, posteriormente, nos outros continentes?

    Respondendo, preliminarmente, pergunta acima, dizemos que cada uma das sete cartas enviadas s sete igrejas, contm, no final, a seguinte admoestao: Quem tem ouvidos, oua o que o Esprito diz s igrejas. Isto nos leva a admitir que cada carta no dirigida somente igreja a que se destina, mas a muitas outras igrejas. Lembramo-nos que a comisso de Jesus aos apstolos, de irem a todo o mundo proclamar o evangelho, implicava na fundao de igrejas em tda a terra e no apenas sete na sia. Alm disso assegurou o Senhor estar com Sua igreja at ao fim, declarao esta que comprova o fato de as sete igrejas serem simblicas de tda igreja crist. E, tendo em vista o fato inegvel de que Cristo tem no mundo uma s igreja, somos forados a crer que as sete igrejas enunciadas, bem como a histria de suas cidades, foram tomadas pela revelao como emblemas de tda a igreja crist mundial em todos os sculos, desde os dias apostlicos at o segundo advento de Cristo. O nmero sete, que indica perfeio e um todo completo, simblico, do fato que a mensagem se estende at ao fim do tempo, enquanto os smbolos usados revelam a condio da igreja em diferentes perodos na histria do mundo.1) Vejamos a opinio de vrios escritores sbre estas igrejas:

    E opinio de muitos escritores eruditos, que escreveram sbre ste livro, que nosso Senhor, por estas sete igrejas, significa tdas as igrejas de Cristo at ao fim do mundo; e pelo que le lhes diz, prope mostrar qual ser o estado das igrejas por todos os sculos, e qual o dever de cada uma.2)

    As sete igrejas representam sete fases ou perodos na histria da igreja, alcanando da poca dos apstolos vinda de Cristo outra vez, cujos caractersticos so de algum modo estabelecidos nos nomes destas igrejas, mas mais completamente nas cartas a elas endereadas.3 )

    As cartas s sete igrejas, excepo do que indubitvelmente histrico, tm tantas aluses evidentemente figurativas e msticas que h a mais forte razo para aceitar o ponto de vista... que aquelas sete igrejas devem, profticamente, mostrar-nos uma stupla medida, e constituir o todo da igreja de acordo com as diversas pocas, disto justificando os emblemas das igrejas aqui mencionadas.4)

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    As sete devem ser consideradas como constituindo um todo completo, como dominando um perfeito ideal. Cristo... tendo em sua mo as sete estrlas, andando entre os sete castiais de ouro... idealmente representando e manifestando, de algum modo ou outro, a igreja universal militante na terra.1)

    Ao apreciarmos, nos captulos dois e trs, as sete cartas dirigidas s sete igrejas, verificaremos que cada perodo histrico da igreja corresponde, com muita exatido, histria das aludidas cidades da sia Menor que as simbolizam.

    A SAUDAO DO DEUS TODO-PODEROSO

    Deus, a Fonte de tda a bno e do Apocalipse, sada a igreja de Seu Filho, e Sua tambm. Sua graa e Sua paz so enviadas igreja, sem as quais ela no poder subsistir e prosseguir triunfante em sua alta misso. Graa misericrdia e amor. Desta maneira amorosa, benevolente e complascente, d-lhe o Todo-poderoso a certeza de Seu amparo e Seu cuidado constantes. Paz uma das maiores virtudes crists. E to indispensvel igreja, que o Filho de Deus a deixou como uma ddiva inestimvel a Seu povo.2) Deus apresenta-Se como Aquele que , e que era, e que h de vir, para dar igreja a certeza de Sua imutabilidade e da confiana segura que ela pode manifestar nle. Tambm o Senhor Deus assegura Sua igreja que h de vir. Sim le vir com o Seu Filho, ao vir le buscar Sua igreja para a eterna glria. Jesus mesmo afirmou solenemente que vir na Sua glria, e na do Pai e dos santos anjos.3) O Pai quer alegrar-se pessoalmente no triunfo da igreja ao ser ela arrebatada do mundo para a santa cidade e para a glria. Se anelamos contemplar o Pai ao vir le com o Filho, indispensvel que vivamos sob Sua graa e Sua paz com as quais to graciosamente nos sada.

    A SAUDAO DOS SETE ESPRITOS DE DEUS

    Os captulos quatro e cinco fazem uma apresentao dos sete Espritos de Deus nos smbolos de sete lmpadas de fogo, sete pontas e sete olhos, representando vivamente a sabedoria, o poder e a vigilncia que Deus, por Seu Esprito Santo, exerce na terra especialmente para instruir, fortificar e guardar Sua igreja em meio aos perigos dos sculos. No emblema do nmero sete, , portanto, assegurada igreja de Deus a plenitude multiforme do poder divino.

    SAUDAO DE JESUS CRISTO

    Saudando Sua amada igreja apresenta-Se Jesus com os principais caractersticos de Sua pessoa. Em primeiro lugar le a Fiel Testemunha. Quo gloriosamente testemunhou le do Pai,

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    de Si mesmo e da verdade, quando na terra, dizem-nos, eloqentemente, os evangelhos que relatam a Sua imaculada vida terrenal. Sua igreja desta gerao apresenta-se Jesus tambm como Testemunha Fiel e Verdadeira, para certific-la de que tudo quanto testifica verdadeiro e de que tdas as promessas que lhe tem feito as cumprir infalivelmente. Temos, portanto, um Salvador em Quem podemos confiar com inabalvel segurana.

    Em segundo lugar Jesus apresenta-se como o primognito dos mortos. S. Paulo denomina a Sua ressurreio como as primcias dos mortos, ou a ressurreio que assegura uma farta colheita de mortos que ressuscitaro do tmulo em Sua segunda vinda. E verdade que le no foi o primeiro que ressuscitou dos mortos. Outros ressuscitaram antes dle e le mesmo ressuscitou vrios mortos em Seus milagres. Todavia, a Sua ressurreio, prevista no plano da salvao de Deus antes dos tempos dos sculos, foi a causa da ressurreio de mortos antes e depois dela, e ser a causa da futura grande ressurreio dos santos em Sua segunda vinda.1)

    Era necessrio que le fsse o primognito ou as primcias dos mortos para que em tudo tenha a preeminncia sbre les.2) Outras expresses paralelas apresentam o Salvador como o primognito entre muitos irmos3) e o primognito de tda a criao.4) Adoremos, pois, o primognito que nos sada e por Sua ressurreio garante a nossa ressurreio para a vida eterna.

    Em terceiro lugar Cristo o Prncipe dos reis da terra. Esta declarao de Sua saudao O coloca acima dos prncipes ou governantes do mundo. S. Paulo diz que le est acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domnio, e de todo o nome que se nomeia, no s nste sculo mas tambm no vindouro.5) O prprio Senhor disse aos apstolos ao ressuscitar: -me dado todo o poder no cu e na terra.6) Como Prncipe dos reis da terra, tem Jesus supremacia sbre les todos. Os monarcas do mundo so aconselhados por Deus a reverenciar Seu Filho como Prncipe de todos les: Agora, pois, reis, sde prudentes, deixai-vos instruir, juzes da terra. Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se no ire, e pereais no caminho, quando em breve se inflamar a Sua ira; bem-aventurados todos aqules que nle confiam.7) Como Prncipe dos reis, Cristo o herdeiro de todos les. As profecias que a isto dizem respeito so muito evidentes.8) Todos os reinos do mundo passaro a Cristo como legtimo herdeiro.9) Se os reis da terra acatassem o Filho de Deus como Prncipe dles, reinariam com le em Seu futuro reino; mas como dle nada lhes interessa, sero desarraigados do mundo a perecerem para darem lugar Sua eterna e gloriosa dominao.10)

    Em quarto lugar assevera Jesus em Sua saudao que nos ama. Seu amor por Seu povo eloqentemente demonstrado de inmeras

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    maneiras e sobrepuja ao amor dos nossos mais ntimos familiares e amigos mais chegados. A supremacia de Seu amor foi demonstrada na ddiva de Si mesmo no maior sacrifcio dos sculos. A um amor to inigualvel, s poderemos corresponder dando-nos a le em gratido incondicional e indissolvel.

    Em quinto lugar sua saudao notifica-nos que le em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados. E o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.1) Maravilhosa proviso feita para nossa inteira salvao. Que amor incomparvel Jesus nos demonstrou! Sim, s o Seu sangue, e nada mais apaga os nossos pecados e nos purifica, lavando-nos completamente. E vo terem os homens indicado outro meio de lavar o pecado. Qualquer outro meio de purificao do pecador considerado falso nas Sagradas Escrituras.

    Em sexto lugar Seus seguidores so considerados reis, devido ao fato de reinarem com le no reino de Sua graa agora. Sendo les constitudos num reino sacerdotal, so tambm sacerdotes.2) So sacerdotes porque dle receberam a incumbncia de levar pecadores a le, o Sumo-sacerdote, e tambm porque oferecem sacrifcios, sacrifcios de si mesmos e sacrifcios espirituais e de louvor.3) Quando terminar o sacerdcio de Cristo, terminar tambm o dles, e reinaro eternamente com o supremo Rei. Ento glria e poder que s a le pertencem, todos os Seus santos sditos Lhe tributaro pelos sculos sem fim.

    Em stimo lugar Sua saudao faz pela primeira vez meno de Sua segunda vinda, no Apocalipse, to amplamente referida por todos os profetas e apstolos. Seu segundo advento como aqui apresentado, no poder ser mistificado ou falsificado jamais. le advertiu do fato que alguns tentariam falsific-lo, concentrando-se em desertos e no interior de moradias, mas que no deveramos crer que seria le.4) Outros creem que le vir em esprito, sendo isto flagrantemente falso. Eis que vem com as nuvens e todo o lho O ver. Enquanto tda a humanidade no O contemplar, conjuntamente, vindo com as nuvens, porque le ainda no veio. Mas, quando le vier, at aqules que O traspassaram ou que foram cmplices do crime que Lhe infligiram, v-Lo-o com poder e glria suprema, descendo dos cus. Os famigerados Ans e Caifs, os membros do Sindrio, Pilatos, Herodes e todos quantos foram acrrimos inimigos Seus, ressurgiro do p da terra para O verem em majestade, assomando terra com as nuvens dos cus. A ressurreio dos piores inimigos, do Seu tempo, ser para vergonha e desprezo eterno.5) Inutilmente lamentaro o crime de deicdio que praticaram, para o qual no obtero perdo.

    Em oitavo lugar, a saudao de Jesus diz que, ao surgir le em magnificente resplendor, as tribos ou naes da terra se lamentaro. As multides que no prezaram o Senhor da glria e nenhum

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    caso fizeram de Seu santo evangelho, para salvarem-se, s tero a lamentar a escolha tresloucada que preferiram. Mas, os seus escolhidos, que no perderam tempo com as coisas efmeras dste mundo, antes deram ouvidos verdade e amaram o Salvador, s tero que se regozijar naquele dia terrvel para os Seus adversrios.1)

    Findando a Sua saudao, o Senhor Jesus apresenta-se como o Alfa e o mega, o princpio e o fim. O Alfa e o mega so, respectivamente, a primeira e a ltima letras do alfabeto grego, pois em grego foi escrito o Apocalipse e o Novo Testamento. Com isto vemos que tda a literatura, para ser saudvel alma, deve comear e terminar com Cristo, como a literatura das Escrituras Sagradas. Em tda a conversao usa-se o alfabeto em cujos extremos esto o Alfa e o mega. Por isso, tda a conversa ou palestra do seguidor de Jesus deve comear com le, prosseguir com le e terminar com le. Em outras palavras, tda a linguagem do crente deve ter a Jesus como centro e ser-Lhe honrosa. Tudo, para que tenha um feliz princpio e um feliz termo, deve comear e findar com Aquele que o Alfa e o mega. Sem mim, dissera le, nada podeis fazer.2) O prprio universo comeou com Jesus; sem le nada do que foi feito se fz.3) Na profecia da renovao de tdas as coisas, le ainda o Alfa e o mega, pelo que tudo tornar outra vez a seu glorioso estado de pureza e santidade virginais.4) Esta frase mgica Eu sou o Alfa e o mega uma das maneiras chaves de le nos assegurar a Sua imutabilidade e que le o Todo-poderoso.

    Amm e Amm. Nesta saudao da trindade encontra-se, duas vzes, o vocbulo Amm. Amm, quer no hebraico quer no grego, significa: assim seja, seja feito, verdadeiramente, fielmente. Em histria sagrada, Amm formado das letras iniciais das trs palavras Adonai, Melech, e Neeman, que vale o mesmo que Senhor Rei Fiel, locuo hebraica, mostrando a f que se h de dar s promessas divinas.5) Digamos, pois, Amm gloriosa saudao da trindade, to cheia de amor e de gloriosas promessas. Digamos Amm a tudo quanto o Senhor de ns pede e a ns promete Amm.

    SO JOO NA ILHA DE PATMOS

    VERSO 9 Eu, Joo, que tambm sou vosso irmo, e companheiro na aflio, e no reino, e pacincia de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo.

    "EU, JOO, QUE TAMBM SOU VOSSO IRMO"

    Depois de o profeta apresentar a saudao da trindade igreja, fala ento de si mesmo, identificando-se plenamente com o povo de

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    Deus. le preferiu o humilde ttulo da famlia crist irmo. Com isto demonstrou que perante Deus no h ttulos nem posies que distingam uns dos outros, mormente na igreja onde todos vs, conforme dissera Jesus, sois irmos.1)

    E companheiro NA AFLIO, E NO REINO, E NA PACINCIA DE JESUS CRISTO: Nos dias em que o apstolo escreveu a revelao do Apocalipse, a igreja crist era ferozmente perseguida pela espada do paganismo romano. Domiciano pretendia fazer afogar o cristianismo em sangue. Multides eram sacrificadas e confiscados os bens dos cristos. Joo procura animar a igreja ao enviar-lhe o Apocalipse da parte de Cristo, comunicando-lhe que tambm padecia pela mesma gloriosa f. le no estava refugiado como um cobarde, no, mas a postos no seu dever como fiel porta-voz do seu amado Mestre. Por certo as palavras de Joo foram uma animao e confrto igreja sob a aflio da perseguio.

    Para maior nimo dos irmos, o apstolo acrescenta que dles era tambm companheiro no reino. Evidentemente, referia-se ao futuro e sublime reino da glria, posto que com a igreja vivia, como ns hoje ainda, no reino da graa. Todavia escrevera j Paulo s igrejas que por muitas tribulaes nos importa entrar no reino de Deus.2) e que, se sofrermos, tambm com le reinaremos.3) E, mais adiante: E tambm todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecero perseguies.4) Nos dias em que Paulo estas palavras escrevia igreja, ela era paciente e cheia de f, nas perseguies e aflies. Eis as suas palavras: De maneira que ns mesmos nos gloriamos de vs nas igrejas de Deus por causa da vossa pacincia e f, e em todas as vossas perseguies e aflies que suportais; prova clara do justo juzo de Deus, para que sejais havidos por dignos do reino de Deus, pelo qual tambm padeceis.5) A pacincia do apstolo amado e da igreja, naqueles dias, porm, era a pacincia de Jesus Cristo. Para que tenhamos uma idia da pacincia de Jesus, basta lermos Sua vida nos quatro evangelhos. E S, Pedro, para dizer-nos tudo em poucas palavras, da pacincia de Jesus, assim escreveu. O qual, quando O injuriavam, no injuriava, e quando padecia no ameaava, mas entregava-se quele que julga justamente.6)

    JOO ESTAVA NA ILHA DE PATMOS

    A ilha de Patmos, hoje denominada Palmosa, uma ilha do Mar Egeu, prxima costa da sia Menor. Conta apenas 40 quilmetros quadrados de superfcie, sendo seu solo montanhoso, vulcnico, sem rios e pouco frtil. Ao tempo do imprio romano, Patmos era a ilha do destrro dos criminosos, principalmente polticos. Joo foi para l banido no ano 94 A.D., por ordem do imperador Domiciano, para que naquela ilha, afinal, perecesse como um dos indesejveis do

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    imprio. Os motivos por que o apstolo fra enviado a Patmos, le mesmo n-los d como veremos no pargrafo seguinte.

    A CAUSA DO DESTRRO DE JOO PARA PATMOS

    No versculo dois salientado que Joo fra escolhido como portador do Apocalipse, em virtude de ter anteriormente testificado da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. Agora, neste nono versculo, o apstolo declara que, por causa da mesma palavra de Deus e do mesmo testemunho de Jesus Cristo, o baniram para a ilha de Patmos. Tal era o crime de Joo, que o tirano de Roma, Domiciano, pensava punir. O desptico Csar temeu a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo emanantes dos lbios e da vida do fiel ancio. O que aqui mais se salienta, porm, no o crime de Domiciano em face da idade do profeta, mas a firmeza e certeza dste na palavra de Deus e no testemunho de Jesus Cristo, a ponto de, com alegria e resignao, sofrer tremendas crueldades e privaes, em sua velhice, em defesa dstes sagrados direitos de Deus e de Cristo. Vemos assim que o Apocalipse foi dado igreja crist atravs de perseguies e sofrimentos, pelo que devemos prez-lo, aceit-lo e viv-lo. O exemplo de Joo em sofrer galhardamente pela causa da verdade, deve contagiar a todo ministro de Cristo a tambm sofrer, se necessrio fr, em cativeiro ou no, em defesa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo.

    ARREBATADO EM ESPRITO NO DIA DO SENHOR

    VERSO 10 Eu fui arrebatado em esprito no dia do Senhor, e ouvi detrs de mim uma grande voz, como de trombeta.

    "EU FUI ARREBATADO EM ESPRITO"

    O Esprito Santo colocou Joo em estado de ver o sobrenatural. Corpreamente le no saiu da ilha de Patmos. Outros profetas tambm passaram por idntica experincia. S. Pedro diz duma viso que teve: Sobreveio-me um arrebatamento de sentidos.1) S. Paulo tambm declara: Fui arrebatado para fora de mim.2) Ambos, Pedro e Paulo como Joo foram colocados pelo Esprito Santo em estado de poder ver o sobrenatural, sem sairem, fisicamente, do lugar onde se encontravam. De um dos antigos profetas lemos o seguinte: Ento alou a sua parbola e disse: Fala Balao, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; fala aqule que ouviu os ditos de Deus, e o que sabe a cincia do Altssimo: o que viu a viso do Todo-poderoso, cado em xtases, e de olhos abertos.3) Foi ste o estado em que Joo recebeu as vises do

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    Apocalipse, isto , em xtases, ou sob o controle do Esprito Santo. Nada em trno devia perturbar a ateno do profeta ao contemplar a gloriosas cenas, sendo, portanto, indispensvel um perfeito extase sob o Esprito de Deus.

    "Eu fui arrebatado... no DIA DO SENHOR: A construo da sentena Dia do Senhor do grego: Kuriak hmera, no deixa dvida alguma de que o profeta refere-se a um dia de propriedade do Senhor. O vocbulo Kuriak adjetivo possessivo que est determinando o substantivo hmera, dia, como uma posse. Em outros trmos, Joo faz aluso a um dia semanal que, antes da viso, le considerava como dia do Senhor, propriedade do Senhor.

    Ao fazer meno do dia do Senhor em que fra tomado em viso, Joo sabia, indubitvelmente, qual era o dia do Senhor. As Escrituras Sagradas, com as quais Joo estava familiarizado, definem-nos com irrecusvel exatido sbre o dia do Senhor em que o Apocalipse foi revelado ao profeta. Hoje, ainda, o prprio Senhor nos diz com muita eloqncia qual seja o seu dia ou o dia do Senhor. O dia do Senhor no qualquer dia que o cristianismo queira determinar, mas aquele que o Senhor j tem determinado. Quando o Senhor fundou o mundo e deu a Sua lei ao primeiro homem bem como humanidade, definiu nela qual seja o dia do Senhor, nestes trmos: Mas o stimo dia o Sbado do Senhor teu Deus.1) Sim, quem fala o prprio Senhor e no podemos duvidar nem contradizer suas declaraes e definies. Com evidncia que no pode ser jamais contestada, le define, no Declogo, que o Sbado do stimo dia o dia do Senhor. Mais tarde, por intermdio do profeta Isaas, falou mais o Senhor, o seguinte: Se desviares o teu p do Sbado, e de fazer a tua vontade no meu santo dia, e se chamares ao Sbado deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra, e o honrares no seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua prpria vontade, nem falar as tuas prprias palavras.2) Notemos como o Senhor chama aqui o Sbado de Meu santo dia e santo dia do Senhor. E maravilhoso que o Senhor do Velho Testamento o mesmo Senhor do Novo Testamento, isto , o Senhor Jesus. Quando, pessoalmente, entre os pecadores, le, de viva voz, confirmou que o dia do Senhor no Novo Testamento era o mesmo do Velho Testamento. Notemos Suas palavras: Assim o Filho do Homem at do Sbado Senhor.3) A declarao de Jesus no pode ser posta em dvida, sob pena de negar o Senhor. Assim estava Joo, perfeitamente, familiarizado com o dia de Senhor, e no podia ter dvida de que se referia ao Sbado do stimo dia, quando escreveu ter sido arrebatado em Esprito no dia do Senhor.

    Duas coisas so no Novo Testamento propriedades do Senhor: Uma o Sbado Kuriak hmera dia do Senhor. E a outra

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    a Santa Ceia Kuriak deipnon Ceia do Senhor.1) Ambas as declaraes contm a forma grega possessiva e exprimem propriedade do Senhor.

    Satans, porm, no podia ver com bons olhos a meno do profeta, estabelecendo o Sbado como dia do Senhor. Faz le crer aos cristos que o dia do Senhor o primeiro dia da semana. Mas faltam as provas concludentes desta sua satnica assertiva. Em tda a Bblia no existe um nico texto que faa meno do primeiro dia da semana ou domingo, como dia do Senhor. E a doutrina que a Bblia no define ou sanciona, no digna de crdito e deve ser repudiada. Doutro lado, se Joo quis referir-se ao primeiro dia da semana ao dizer que foi arrebatado em Esprito no dia do Senhor, ento le devia tambm ter considerado o primeiro dia da semana como dia do Senhor ao escrever o seu evangelho; pois o testemunho dos sculos, encabeado por Irineu (175-200), comprova que Joo escreveu o seu evangelho em feso, no ano 97 A. D., para onde fra depois da morte do tirano Domiciano, e, portanto, o escreveu depois de ter recebido o Apocalipse em Patmos. A Bblia em pargrafos da Sociedade de Tratados de Londres, diz a respeito o seguinte: Segundo o testemunho geral dos antigos escritores, S. Joo escreveu seu evangelho em feso no ano 97.2) Mas o amado discpulo no deu qualquer ttulo sagrado ao primeiro dia da semana, ao escrever, depois do Apocalipse, o evangelho que traz o seu nome. le o chama simplesmente de primeiro dia da semana.3) Tambm Mateus, Marcos e Lucas no do qualquer ttulo sagrado ao primeiro dia da semana. Paulo, que o nico dos outros escritores do Novo Testamento que fala no primeiro dia da semana, no lhe d igualmente ttulo sagrado.4) Desta maneira, o primeiro dia da semana no superior segunda, tra, quarta, quinta e sexta-feiras. Temos dste modo cinco testemunhos de que o primeiro dia da semana no o dia do Senhor, pois como tal nenhum dos cinco evangelistas o menciona.

    A escolha do Sbado, o dia do Senhor, para a revelao do Apocalipse, revela a importncia de sua mensagem. Uma inspirao do Criador, relativa a tda a dispensao crist, deveria estar ligada a le como Seu legtimo Autor, e, s o Sbado, que O aponta a Seus filhos como Autor do mundo e do universo, poderia ser o dia apropriado e o nico escolhido como data semanal da grande revelao.

    "EU OUVI DETRS DE MIM UMA GRANDE VOZ COMO DE TROMBETA"

    Como veremos mais adiante, a voz como de trombeta era a voz do amado Mestre de Joo. Sua meiga e adorvel voz era-lhe agora

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    diferente da do tempo em que com le andava pessoalmente na terra. Na terra era ela a voz do Cordeiro de Deus; mas, ao ausentar-se do mundo, sua voz, recobrando o Seu estado de poder, faz-se, s vzes, ouvir como a voz do Todo-poderoso. Ao voltar Jesus, sua voz abalar o cu e a terra, e por em risco fatal o mpio descuidado e rebelde aos reclamos de Sua divina lei.

    UMA ENFTICA ORDEM A S. JOO

    VERSO 11 QUE DIZIA: o que vs escreve-o num livro, e envia-o s sete igrejas que esto na sia, a feso, e a Smirna, e a Prgamo, e a Tiatira, e a Sardo, e a Filadlfia, e a Laodicia.

    O amado Joo no foi desobediente a esta sagrada incumbncia. Devia escrever a mensagem que lhe seria mostrada, num nico livro, e envi-lo s sete igrejas. No um livro para cada igreja, mas um s para tdas elas. Isto comprova mais uma vez que as sete igrejas compreendem o todo da igreja crist desde os apstolos at vinda de Cristo.

    OS SETE CASTIAIS SIMBLICOS

    VERSO 12 E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiais de ouro.

    Segundo a interpretao do mesmo Senhor Jesus, no versculo vinte, os sete castiais de ouro representam as sete igrejas, ou, como vimos, a igreja de Cristo em Sua inteira histria. E maravilhoso que todos os castiais eram de ouro, o que nos leva a crer que o desejo de Deus era que Sua igreja fsse gloriosa em todos os sete perodos, e que entendesse o seu valor como igreja do Senhor no mudando seu aurfero carter santo.

    O ouro emblema da f, e a igreja crist no s deveria ser gloriosa como o ouro, mas fervorosa, fiel e confiante na proviso de Deus e em Suas promessas.

    E sublime que a igreja de Cristo tenha sido simbolizada por castiais. E que um castial? Um castial um objeto portador de luz. Assim a igreja deveria ser no mundo portadora de luz, da mais gloriosa luz, da luz de Deus, de Seu Filho e do evangelho, da luz que salva, por cuja razo no poderia ser simbolizada por castiais doutro metal.

    NOSSO PODEROSO SUMO-SACERDOTE

    VERSOS 13-16 E no meio dos sete castiais um semelhante ao Filho do Homem, vestido at aos ps de um vestido comprido, e

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    cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a Sua cabea e cabelos eram brancos como a l branca, como a neve, e os Seus olhos como chama de fogo; e os seus ps, semelhante a lato reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas guas. E Ele tinha na Sua destra sete estrlas e da sua bca saa uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua fra resplandece.

    O FILHO DO HOMEM

    Joo no tinha nenhuma dvida ao referir-se primeira pessoa que aparece nas cenas do Apocalipse como o Filho do Homem. Ao contempl-Lo sabia que, embora um tanto diferente dos dias em que andou na terra, era, indubitvelmente, o seu amado Mestre. Muitas vezes ouvira Jesus referir-se Sua pessoa como "Filho do Homem. ste ttulo do Salvador um dos que mais O identificam com a famlia humana. Quo glorioso sabermos que Ele possui uma parte nossa para que ns possamos possuir uma parte dle a Sua divina pureza.

    NO MEIO DOS SETE CASTIAIS

    A viso dos sete castiais constitui uma cena no lugar santo do santurio celestial. No lugar santo do santurio israelita, a igreja crist futura era representada no castial com sete braos nos quais ardiam sete luzes. O Velho Testamento d-nos uma fascinante descrio dste castial de ouro puro, que convm apreciar detidamente.1 )

    No meio dos sete castiais de ouro Joo viu o Filho do Homem, como figura central da primeira viso. A posio de Jesus nesta cena, demonstra que Ele no tem estado alheio Sua igreja em tempo algum, mas que com ela tem convivido at ao presente. Sua presena tem acompanhado Sua igreja militante, o que motivo de regozijo e confiana para ela. le est em constante comunicao com seu povo. Conhece sua real condio. Observa sua ordem, sua piedade e sua devoo. Ainda que o Sumo-sacerdote e Mediador no santurio celestial, Se representa como andando daqui para l no meio de suas igrejas na terra. Com incansvel desvlo e constante vigilncia, observa para ver se a luz de alguns de seus sentinelas arde dbilmente ou se se apaga. Se o castial fsse deixado ao mero cuidado humano, a vacilante chama languideceria e morreria; porm, le o verdadeiro sentinela na casa do Senhor, o verdadeiro guardio nas cortes do templo. Seu constante cuidado e sustedora graa so a fonte da vida e da luz.2) Assim tda a igreja deve ter presente que nada se furta a Seu olhar de perscru-

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    tador, pelo que a cada momento deve estar cnscia do seu compromisso perante le assumido, sob pena de ser chamada a contas.

    JESUS NOSSO SUMO-SACERDOTE

    Ao deparar Jesus no meio dos sete castiais, evidencia-nos o profeta que le, ao subir ao cu, iniciou o seu ministrio no lugar santo do santurio, ou primeiro compartimento.

    Como oficiante no santurio celestial, Jesus visto nesta viso com uma s veste sacerdotal, branca, que reune as vestes do sacerdote comum nos dias teis e a do sumo-sacerdote, no dia da expiao, no lugar santssimo, isto , vestido at aos ps com um vestido comprido, e cingido pelo peito com um cinto de ouro.1 ) Como o sumo-sacerdote punha de parte suas suntuosas vestes pontificais, e oficiava no vesturio de linho branco do sacerdote comum, assim Cristo tomou a forma de servo, e ofereceu sacrifcio, sendo le mesmo o sacerdote e a vtima.2 )

    At 1844 realizara Jesus, no lugar santo, o ofcio dirio do sacerdote comum; e de 1844 at agora, o ofcio anual do sumo-sacerdote, no lugar santssimo. A igreja crist verdadeira, pois, tem um santurio e um sacerdcio, cujo nico sacerdote e Sumo-sacerdot