Download - Das Profecias à Premonição
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"Nada em toda a histria do pensamento humano
heliocentrismo, evoluo, relatividade foi mais verdadeiramente
revolucionrio ou radicalmente contraditrio para o pensamento
contemporneo do que os resultados da investigao da
psiprecognitiva.
Dr. Joseph Banks Rhine
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Sumrio Palavras Ao Leitor .......................................................................................................................... 4
PREFCIO ....................................................................................................................................... 5
Profetismo Hebraico ..................................................................................................................... 8
OS NBI ........................................................................................................................................ 8
O Profetismo Greco-Romano ...................................................................................................... 12
O Orculo De Delfos .................................................................................................................... 15
A Gruta Do Orculo ................................................................................................................. 16
O Treinamento Das Sacerdotisas ............................................................................................ 18
O Orculo De Dodona ................................................................................................................. 20
Os Augrios Romanos ................................................................................................................. 21
O Profetismo Nas Comunidades Crists ...................................................................................... 25
Joo Profetiza O Advento Do Messias......................................................................................... 26
Jesus Profeta ............................................................................................................................... 28
Jesus Profetiza A Vinda Do Consolador ....................................................................................... 32
O Apocalipse De Joo .................................................................................................................. 33
A Cultura Pr-Colombiana ........................................................................................................... 36
A Profecia Entre Os Celtas ........................................................................................................... 39
Merlin E Joana Darc .................................................................................................................... 41
Os Profetas Escandinavos ........................................................................................................... 42
Profetas Da Idade Mdia E Da Renascena ................................................................................. 44
Roger Bacon ............................................................................................................................ 44
O Filsofo ................................................................................................................................ 45
O Profeta ................................................................................................................................. 46
Robert Nixon ........................................................................................................................... 47
Leonardo Da Vinci ................................................................................................................... 50
As Profecias De Nostradamus ................................................................................................. 54
A Revoluo Francesa ............................................................................................................. 59
Luis Pasteur ............................................................................................................................. 60
Adolfo Hitler ............................................................................................................................ 61
Hiroshima E Nagasaki .............................................................................................................. 62
As Incrveis Predies De Jacques Cazotte Sobre A Revoluo Francesa ............................... 63
O Profetismo Mstico-Religioso Na Era Moderna ....................................................................... 70
Vises Do Paraso Na Terra ......................................................................................................... 72
Os Cultos Profticos Caribeanos ................................................................................................. 74
Os Estudos Pioneiros De Kardec Sobre A Precognio ............................................................... 75
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As Pesquisas Sistemticas Sobre Premonio............................................................................. 79
Charles Richet Classifica Os Vrios Tipos De Premonio ........................................................... 80
Autopremonio: .................................................................................................................... 85
Autopremonio de morte acidental .................................................................................. 90
Premonio Sonamblica ........................................................................................................ 93
Outros casos de premonio sonamblica ......................................................................... 94
O Naufrgio do Titanic ........................................................................................................ 95
Premonio Espirtica .............................................................................................................. 96
Premonio Acidental ........................................................................................................... 104
Premonio de doenas ou de mortes devidas a causas naturais .................................... 104
Premonies de mortes acidentais ................................................................................... 106
Premonies de acontecimentos fortuitos ....................................................................... 107
Pressentimento ......................................................................................................................... 110
FIP Futuro Influenciando O Presente .................................................................................... 112
Premonio E Morte Aparente ................................................................................................. 114
Premonio E Livre-Arbtrio ...................................................................................................... 115
Causa E Efeito E Finalidade ....................................................................................................... 121
Premonio E Psicocinesia ........................................................................................................ 124
As Pesquisas De J. B. Rhine ....................................................................................................... 125
Precognio Espontnea Com Interveno Do Agente ............................................................ 127
As Crianas E A Precognio Espontnea .................................................................................. 130
Um caso na Bahia .................................................................................................................. 133
As Pesquisas Do Dr. W. H. C. Tenhaeff ...................................................................................... 133
Tenhaeff E Os Sonhos Profticos .............................................................................................. 137
As Pesquisas De Samuel G. Soal ................................................................................................ 138
As Experincias De Russell Targ E Harold Puthoff ..................................................................... 140
As Pesquisas De Gerald Feinberg .............................................................................................. 142
A Teoria Das Coincidncias ....................................................................................................... 143
O Inconsciente Coletivo ............................................................................................................ 144
Conceito De Espao E Tempo .................................................................................................... 148
A Teoria Da Relatividade E A Mecnica Quntica ..................................................................... 151
A Teoria Do Matemtico C. H. Hinton ....................................................................................... 153
A Viso Espiritual ....................................................................................................................... 157
Seleta Bibliogrfica Sobre Profecia E Precognio .................................................................... 159
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Palavras Ao Leitor
"Nossos olhos so feitos de tal modo que vem facilmente o que
est fora deles, mas precisam de um espelho para se verem a si
mesmos.
Giambatista Vio
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PREFCIO
Teoria da Relatividade, desenvolvida por Albert Einstein (1879-
1955) que obedece a duas etapas: a Restrita, em 1905, e a Geral, em
1915, foi a mais importante revoluo cientfica deste sculo XX, que
marcha para o fim. Com ela, o tempo e o espao aparecem como
coisa, podendo sofrer deformaes sob o imprio da gravidade. O
desdobramento da Teoria da Relatividade mostrou que, dependendo da
velocidade, o tempo diminui para um viajante, podendo mesmo atingir
o ponto de fluxo zero, se o mvel que o transporta se equiparar
velocidade da luz, cerca de 300.000 Km/s. Da por diante, qualquer
acrscimo de velocidade far o tempo caminharem sentido contrrio,
para os passageiros do veculo.
Esse conceito terico matemtico deu motivo a que se
escrevessem inmeros livros e contos sobre viagens ao passado. J o
conceito do colapso gra-vitacional, que Wheeler denominou de buraco
negro, desenvolvido matematicamente por Schwarchild, a partir das
equaes de Einstein, nos fala de um fenmeno que, alm de esmagara
matria de uma estrela at que desaparea do nosso espao, modifica o
contnuo espao-tempo, levando a que, no bojo dele, o espao flua, e
o tempo adquira a propriedade da extenso. Assim, teoricamente,
poder-se-ia, no interior do buraco negro, deslocar-se no tempo,
enquanto o espao se move num ritmo e direo especficos,
continuamente.
O horizonte de eventos do buraco negro, segundo alguns
tericos, poderia ser usado para deslocamentos, tanto na direo do
passado, quanto do futuro.
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Todavia, antecedendo e transcendendo a cincia humana, o
Esprito encarnado vem praticando sem qualquer formulao
matemtica a proeza de visualizar, quer no tempo, quer no espao,
desde tempos imemoriais. Carlos Bernardo Loureiro, este notvel be-
letrista e pesquisador esprita naturalmente baiano , soube
enfeixar neste volume a grande odissia dos que possuem a mediunidade
de premonio, desde a mais primitiva idade, at os tempos atuais.
Feiticeiros, profetas, xams, santos, yogis, faquires etc. Tiveram, e tm,
como mdiuns, em muitas oportunidades, a capacidade de penetrar o
futuro, vendo o que ainda no existe, para perplexidade de doutos e
ignorantes. Isso est cientificamente provado, embora a m vontade de
muitos. Mas Bernardo tambm demonstra que o Espiritismo o nico
saber que oferece um caminho vivel para o entendimento da faculdade
de viso do futuro, do qual Jesus deu inmeras demonstraes.
Este livro vem suprir uma lacuna no contexto da bibliografia
esprita, em lngua portuguesa, e ningum melhor do que Carlos
Bernardo, verdadeiro esprita, na definio kardequiana, para faz-lo,
pois alm de inegvel erudio, seu devotamente causa do Espiritismo,
no atendimento aos que sofrem dos males terrveis da obsesso, no tem
hora nem lugar para se fazer presente. Este o aspecto da vida do autor,
que merece ser divulgado. Contam-se s centenas os que receberam a
cura de graves problemas fsicos e mentais, por seu intermdio, pois sua
abnegao o faz merecedor da assistncia dos Samaritanos Invisveis.
Enfim, amigo leitor, ao percorreres as pginas deste livro, no
apenas estars adquirindo o saber que transmitem, mas absorvendo o
influxo espiritual do seu autor, uma alma verdadeiramente boa, cuja
existncia uma seqncia de conquistas morais, nascidas de uma
persistncia e rigidez de carter inquebrantveis.
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Djalma Argollo Ilhus, Bahia, 4 de novembro de 1997
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Profetismo Hebraico
Profetismo a doutrina fundada sobre as predies de profetas.
Os profetas j existiam entre os povos primitivos, principalmente
entre os sensitivos, tendo tomado carter todo peculiar entre os israelitas.
Os profetas de Israel falavam em nome de Deus e exerceram enorme
influncia na vida religiosa e social do povo eleito. Depois de Moiss,
considerado o pai dos profetas, surgem os que atuaram durante a
primeira fase da monarquia em Israel (Samuel, Elias e outros), e mais
tarde, no incio do sculo VIII a.C., vrios profetas em Israel e Jud se
tomaram figuras de protesto contra a corrupo dos reis e do povo
(Amos, Isaas, Jeremias, Ezequiel). Nesse tempo passam a redigir, em
forma elevada e potica, suas prprias profecias, inaugurando novo
perodo na literatura hebraica.
Ao lado do anncio da destruio se o povo permanecesse no
erro prometem paz e felicidade, se obedecesse a Deus. Os profetas
anunciavam a vinda de um Messias e o estabelecimento do Reino de
Deus pelos remanescentes de Israel. As profecias em Israel cessaram
com o ltimo dos profetas menores1, embora os cristos mencionem Joo
Batista como o ltimo profeta, que anuncia a chegada do Cristo, como o
Messias prometido pelos profetas antigos.
OS NBI
Os profetas de Israel (nbi) usavam certos distintivos: um manto
de pele e um cinto de couro, um sinal na testa e as cicatrizes das feridas
1 Profetas menores: So chamados menores no por causa de sua pouca influncia ou importncia, mas
por causa do tamanho de seus escritos.
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decorrentes de seus estados de profunda excitao. Quando o Esprito os
arrebatava, eles profetizavam, tornavam-se outros homens (l Samuel
10:6 e 9), ficavam num estado psquico anormal que se manifestava em
cantos, gritos ou invocaes repetidas sem fim, gestos (muitas vezes
simblicos), movimentos rtmicos e danas, acompanhadas de
instrumentos musicais. Tal estado podia chegar ao xtase e era
contagioso. s vezes cutilavam-se a si mesmos com as suas armas at
sangrar, arrancavam suas vestes ou desmaiavam (l Samuel 19:24). Esses
nbi parecem ter apoiado a atividade religiosa e poltica de Samuel,
propugnador das tradies israelitas. Mais tarde, sob Elias e Eliseu,
tomaram parte na luta contra o culto de baal2 (l Reis 18:4, 13 e 22); da
a perseguio sanguinolenta da dinastia de Amri contra eles. Foi um
nbi quem, por ordem de Elias, pregou a revolta contra essa dinastia e
ungiu o rei Je (II Reis 9). Contriburam, portanto, para salvaguardar o
culto de Jav em Israel e opugnaram a influncia da religio Canania
outros nbi agiram de modo mais individual: Nata e Gad sob Davi,
Aas sob Jereboo, Je sob Baasa, Holda sob josias. Residiam
geralmente na corte e tinham tambm alguma funo no templo, onde
davam orculos. Em geral intervinham espontaneamente para comunicar
a vontade de Deus. Assim como nas demais cortes orientais havia
adivinhos e sbios, assim agiram os nbi na corte do rei Davi,
provavelmente na de Saul, a fim de transmitir ao rei as decises de Jav.
Poder-se-ia chamar esses nbi de profetas cortesos. M.Q depois do
2 Baal: nas religies siro-palestinenses muitas divindades eram relacionadas com determinados lugares.
O povo as imaginava como habitando rvores sagradas, fontes, cumes de montanhas, rochedos etc. Dava-
se-lhes o nome de BAAL (hebraico BA' AL), isto , senhor do respectivo lugar. O Antigo Testamento rene
estes deuses (que no tinham nome prprio) sob o nome de BA' ALIM. De origem, so deuses ou Espritos
da Natureza. Para maiores informaes consulte-se a obra de M. J. Lagranje Etudes sur les Religions
Smitiques (Paris, 1905).
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cativeiro do povo hebreu, persistiu a opinio de que numa corte devia
haver profetas. Entretanto, os profetas clssicos, cujas palavras foram
transmitidas por escritos, condenaram os nbi. Depois do sculo V no
houve mais nbi.
Muitos pensam que o fenmeno dos nbi, em Israel, deveu-se
influncia Canania. Alegam que, conforme o itinerrio egpcio de Wen-
Amon, existia em Cana no sculo XII, de acordo com 1 Rs. 18:22 a 29,
e ainda no sculo IX, e que, de outro lado, s apareceu em Israel no
tempo de Samuel. Mas essa opinio parece pouco provvel, considerar-
se os nbi como propugnadores das autnticas tradies israelitas e
adversrias da cultura Canania.
A polmica dos profetas clssicos contra os nbi, fez surgir o
problema dos verdadeiros e dos falsos profetas. De um lado os profetas
censuraram os nbi por serem mentirosos, jactanciosos e impostores,
que predizem, por dinheiro ou para agradar ao rei ou ao povo; que
cometem adultrio, que se embriagam, fazem esquecer o nome de Deus
e iludem o povo (Jeremias 23:32; 29:8; Ezequiel 13:10), predizendo paz
e prosperidade. De outro lado no negavam que esses nbi recebessem
vises e tivessem sonhos, o que supunha revelao da parte de Deus.
Tratava-se de sonhos naturais que eles, de boa f, julgavam serem de
inspirao divina, apregoando-os como tais. Os exegetas catlicos
opinam que os verdadeiros profetas se distinguiam dos falsos pela
misso pessoal que recebiam de Deus. Essa soluo, sugerida, tambm,
por textos do Antigo Testamento (exemplo: Deuteronmio 18:21;
Jeremias 14:14; 23:21 e 32; Ezequiel 13:6) no plenamente satisfatria,
porque tambm os profetas falsos s vezes eram enviados por Deus.
Alguns identificam os falsos profetas como sendo aqueles que
anunciavam a salvao (paz e prosperidade) como se fosse conseqncia
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necessria da aliana com Jav. Isso exato para a maioria dos profetas
combatidos por Miquias, Jeremias e Ezequiel. Miquias afirma que os
nbi ameaavam com a guerra quando os seus servios no eram pagos;
Jeremias acusa-os de profetizarem por Baal. Ainda Jeremias que
admite que um nbi ser reconhecido verdadeiro, se a profecia se
concretizar. Ezequiel, por sua vez, acusa-os de no terem exortado Israel
converso, diante da decadncia moral e religiosa. Em Deuteronmio
h uma predio determinando que um nbi pode seduzir o povo ao
culto de outros deuses, falando em nome deles ou falar pressurosamente.
Os falsos profetas, portanto, no podem ser caracterizados como profetas
da felicidade, nem os verdadeiros como profetas da punio. Alis,
tambm os verdadeiros profetas anunciavam a salvao, caso o povo se
convertesse. A diferena entre as duas categorias est antes na idia que
tinham a respeito de Deus e da Aliana. Os falsos profetas pensavam,
como o povo, que Jav, pela sua aliana, estava para sempre e
incondicionalmente ligado a seu povo; esqueciam que Jav era um deus
tico, que havia concludo a aliana por mera graa, visando o bem moral
e religioso do que a prosperidade material e nacional do seu povo;
esqueciam que Jav, por isso, mandaria no prosperidade mas
calamidades, enquanto Israel no se convertesse a Ele. essa
precisamente a doutrina de todos os verdadeiros profetas.
provavelmente nesse sentido que Jeremias pergunta aos falsos profetas
se Jav, ento (apenas) um Deus de perto (que sempre socorre seu
povo), e no de longe (que se afasta quando o povo no lhe obedece).
O carter das profecias de Israel, seria, basicamente, o de fazer
emergir o significado divino dos acontecimentos. A palavra dos profetas
de Israel no era uma palavra abstrata. Sempre supe presente ao esprito
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do povo, a Aliana. Ela mede a realidade segundo a medida do sentido
da Aliana. ela que cristaliza e unifica seus diversos pronunciamentos.
O Profetismo Greco-Romano
Na Grcia primitiva, acreditava-se que o tempo se repetia, em
ciclos recorrentes.
Herclito, entretanto, postulou a contnua e infindvel mudana de
tudo, semelhana de uma correnteza fluvial. Jamais, sentenciou, nos
banhamos nas mesmas guas de um rio. Ele se referia, naturalmente, ao
rio do tempo.
Parmnides, ao contrrio, considerou uma iluso o mundo da
mudana e do tempo; sua razo lhe dizia que a sucesso de fenmenos,
o devir, a morte, eram enganos dos sentidos; existia apenas um ser nico,
indivisvel, imutvel, intemporal. Zeno de Elia, seu discpulo,
demorou-se na postulao de paradoxos absurdos: demonstrava que o
corredor Aquiles, de ps ligeiros, jamais alcanaria a tartaruga, e a flecha
disparada nunca chegaria ao alvo!
O mdico Hipcrates estudava os sonhos como sintomas clnicos
semelhana de seus colegas modernos. Ensinava a seus discpulos que
era possvel prever o futuro pela consulta aos astros, e pelo menos uma
vez deu-lhes exemplo, traando horscopos e enviando-os
antecipadamente a combater uma epidemia.
Scrates dizia-se acompanhado de um intermedirio entre a
Divindade e o homem, um daimon ou theos _ orculo familiar
dentro de mim, ou voz interior, a que hoje chamamos capacidade
clarividente ou precognitiva. Freqentemente, em pblico, Scrates
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parava, ouvia e obedecia voz ou transmitia seus avisos. Certa ocasio,
o orculo ntimo instou para que Scrates avisasse ao jovem Crmides
de que no deveria participar de certa competio esportiva; Crmides
desprezou a advertncia e acabou ferido. Em outra oportunidade,
Scrates e Timarco bebiam juntos, antes de este partir para executar um
plano assassino; o orculo de Scrates avisou Timarco de que no
deveria ir, mas no mereceu ateno Timarco foi morto, ao tentar pr
em prtica o seu nefasto objetivo.
Em seu livro O Daimon de Scrates, o historiador romano
Plutarco citou o passeio de Scrates no campo, com seus discpulos. A
voz interna o instou a parar, enquanto os amigos continuaram por uma
passagem estreita. Pouco depois voltaram, correndo e rindo, cobertos de
lama, em meio a um bando de porcos. Este poder precognitivo do sbio
ateniense o apresentava aos tolos como alucinado e aos sbios como
visionrio.
O historiador grego Xenofonte mencionou a fala de Scrates no
tribunal que injustamente o condenou: Todos dizem e acreditam, como
eu, que os deuses conhecem o futuro e o revelam a quem lhes apraz;
nunca falei seno a verdade e informei desses avisos aos meus amigos,
nunca sucedeu que eu lhes adiantasse o que no fosse verdadeiro.
No dilogo TIMEO, Plato afirmou que o tempo a imagem
mvel da eternidade imvel. Ele via o tempo como um fator de ordem
no caos e o sonho premonitrio como uma capacidade inata da alma,
centelha divina. A alma tem o dom de profetizar e o dom da profecia
suplanta em dignidade e perfeio a arte das adivinhaes, escreveu o
discpulo maior de Scrates no Fedro.
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Numa terra de orculos, sentencia Adelaide Petters Lessa, 350
anos antes de Jesus, Aristteles chegou a essa dbia concluso a respeito
dos fenmenos premonitrios: to difcil no tomar conhecimento da
evidncia quanto acreditar nela. Segundo o estagirita, sem a mente para
enumerar o antes-e-depois, no haveria tempo, j que o tempo era a
percepo do antes-e-depois no movimento, e o clculo desse antes-e-
depois pela mente. A princpio, Aristteles adotou o ponto de vista
platnico de que o sonho premonitrio era um dom dos deuses e da alma.
Mas, em ensaio posterior sobre o dom divinatrio, mudou de opinio.
ainda a Dra. Petters Lessa quem informa: Se os deuses queriam
comunicar-se com os homens, poderiam faz-lo to bem durante o dia
quanto no sono, e deveriam escolher seus recipientes com mais
cuidado.
Aristteles admitiu dois tipos de sonho como apresentando valor
premonitrio inteligvel: o sonho que predizia o estado de sade do
sonhador, pela penetrao da conscincia em sintomas existentes mas
ignorados durante as horas de viglia; e o sonho que trazia em si sua
prpria confirmao porque sugeriria a quem o sonhou o curso de suas
aes. As concepes aristotlicas, embora no conclusivas, oferecem-
se como valiosa consulta para quantos pretendam traar o perfil das
cogitaes ancestrais sobre o futuro do homem3.
Enquanto isso, para os estoicos (seguidores da doutrina de Zeno)
o supremo bem do homem consiste em viver em harmonia consigo
mesmo, com seus semelhantes e com a natureza, ou seja, procurando
3 O filsofo neoplatnico Plotino discordou das idias esposadas por Aristteles em suas Enades. A
inteligncia divina, ensinava, abarca, simultaneamente, todas as coisas, e eternidade a idade genuna
de Cronos, cujo nome Plenitude.
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evitar os conflitos. Reuniram uma vasta coleo de casos premonitrios,
utilizados por Ccero em seu ensaio sobre o dom divinatrio. Ensinavam
que o futuro era predeterminado, e, portanto, possvel o conhecimento
antecipado do que estava por vir. Acreditavam na Providncia Divina: o
sonho premonitrio assumia a funo de seu veculo.
Na antigidade clssica vigorava, pois, esta distino: sonhos de
mau agouro eram resultantes de causas antigas, j observadas, e podia-
se esperar que seus efeitos atuassem no futuro; sonhos de intuio divina,
durante o sono ou em estados alterados de conscincia, constituam
auxlio dos deuses na apreenso do nexo entre causas e efeitos, numa
espcie de clarividncia vicaria. Os antigos acreditavam viver num
universo finito de modestas dimenses, sendo totalmente conhecidas,
pelo menos de seus deuses, todas as circunstncias presentes,
determinantes do futuro. Da porque Plutarco escreveu: se houvesse
uma infinidade de mundos, o dom divinatrio seria impossvel. Para ele
o sonho era o mais velho dos orculos.
O Orculo De Delfos
As profetisas de Delfos e Dodona, tomadas por um delrio
divino, prestaram numerosos servios Grcia.
Plato
O Orculo de Apoio, em Delpho, depois chamado Delfos, na
Fcida, sem dvida, o mais conhecido e mais conceituado de todos os
orculos da antigidade. Ao longo dos sculos, visitantes de todo o
mundo conhecido dirigiam-se a esse local considerado sagrado, com o
intuito de fazer toda a sorte de perguntas. Muitas dessas perguntas
permanecem gravadas em tabuinhas de chumbo mole. Originalmente, o
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Orculo era dedicado s divindades ctonianas. Em seguida, foi dedicado
a Possidon. No sculo VII, a.C. passou a prestar culto a Apoio Delfino,
deus insular e cretense.
A caverna ou gruta, em Delfos, mencionada como santurio
oracular nos registros minoanos de 1500 a.C. Nesse tempo ela era
dedicada deusa Ge ou Gaia, a deusa da terra, frequentemente citada
como Me-Terra. proveniente dessa raiz que temos a palavra geografia
o desenho ou mapeao da Terra, e geologia o estudo da Terra.
Do sculo VII ao sculo IV a.C., esse santurio oracular assegurou
o poderio de Delfos. De quatro em quatro anos, os jogos Ptios, em elfos,
congregavam os habitantes das cidades gregas, semelhana dos jogos
olmpicos. As disputas entre faces rivais pelo controle do rico e clebre
santurio desencadeou cruentas guerras sacras. O prestgio de Delfos
comeou a declinar no fim da era helenstica, e desapareceu no incio de
nossa era, arruinado pela indiferena religiosa e pelo ostracismo cristo.
A Gruta Do Orculo
Para se penetrar na gruta oracular transpunha-se uma porta baixa,
que descambava em um aposento de cerca de 18 ps de profundidade e
12 de largura. frente, erguia-se uma grande esttua dourada do deus
Apolo e prximo a ela uma pedra em forma de ovo coberto de inscries
to antigas que j nem podiam ser distinguidas. Este era o sagrado
Omphalo. sua direita jazia um sarcfago baixo, feito de pedra, e as
inscries nele gravadas diziam ser aquela a tumba de Dionsio.
Diretamente sua frente, no centro exato do aposento, uma mulher
envergando graciosas vestes clssicas, sentava-se sobre uma pea que
lembrava uma grande taa e que repousava sobre uma trpode
entrelaada por serpentes. Ela era jovem de aparncia agradvel. Seu
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corpo era esbelto, suas mos de dedos cumpridos, graciosas, e sua pele
tinha um aspecto acetinado: era a Sacerdotisa de Delfos, escolhida entre
as donzelas mais nobres e dotadas de sensibilidade paranormal. Diante
de um consulente, a sacerdotisa entrava em uma espcie de transe: seu
corpo comeava a tremer; no princpio eram breves arrepios mas logo
estava sendo sacudida por tremores contnuos. Sua face dcil e bonita,
quando em repouso, contorcia-se em mscara de dor e angstia num
momento e, a seguir, de prazer e alegria. Quando, em seu delrio, pareceu
estar prestes a cair no cho rochoso, comeou a falar.
Surpreendentemente sua voz era profunda, masculina e doce quando
pronunciou as seguintes palavras ao suplicante:
Eu sei todas as coisas. Posso contar os gros de areia e medir
os oceanos. Tenho ouvidos para o silncio e sei o que o homem mudo
quer dizer. Sim, os meus sentidos so feridos pelo cheiro da tartaruga
coberta por sua concha, Agora, cozinhando no fogo, num caldeiro com
a carne de um carneiro. Bronze embaixo, na vasilha, e bronze em cima,
para cobri-la.
Tendo proferido essas palavras, a pitonisa perdeu a conscincia.
O consulente chamava-se HAlatte, emissrio do Rei Cressus, da
Ldia.
HAlatte estava intrigado. O orculo, para ele, no dissera coisa
com coisa. Nada fazia sentido. Encarava as palavras da pitonisa como
sendo confusos murmrios de uma mulher mais preocupada com
problemas culinrios do que com as instrues do deus. Entretanto,
assistido pelos sacerdotes, escreveu a mensagem conforme fora
enunciada e preparou-se para partir em direo a Sardis, capital da Ldia.
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Quando as instrues do orculo foram apresentadas ao Rei
Cressus, ele no conteve a sua admirao, e disse que as declaraes do
orculo eram exatas. Ele no realizara nenhum dos seus deveres de
monarca naquele dia. Em vez disso transformara-se em cozinheiro,
atividade que no praticava desde a juventude. Tomara uma tartaruga e
um carneiro, cortando ambos em pedaos. Depois, colocou-os em um
caldeiro de bronze e levou ao fogo. A partir da o Rei Cressus sempre
consultava a Pitonisa de Apolo.
Os cronistas da poca e do futuro no entenderam como a pitonisa
foi capaz de ver, claramente, o que estava acontecendo a centenas de
quilmetros. Qual teria sido a tcnica empregada? Indagavam,
admirados. O fenmeno teve a sua perfeita explicao com o advento
das pesquisas sobre a Clarividncia.
O Treinamento Das Sacerdotisas
O treinamento das sacerdotisas obedecia a mesma tcnica posta
em prtica em Delfos, Dodona e Trophonius. Jovens de boa sade, voz
clara e natureza dcil eram escolhidas e recebiam as vantagens de uma
educao que, naqueles dias, estava somente ao alcance da aristocracia.
Todas se desenvolviam, psiquicamente, at certo grau, mas apenas
algumas atingiam o nvel que as qualificaria para representar o deus.
Esclarece Joseph J. Weed (vide: Complete Guide to oracle and
prophecy Methods, 1971) que naquele tempo a impresso geral era de
que cada sacerdotisa no falava por si mesma, mas agia como intrprete
do deus a quem o santurio era dedicado. No caso daquelas que eram
mdiuns de transe claro que uma entidade falava atravs dela. Quem
ou o que possam ter sido essas entidades no possvel dizer. Em sua
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maior parte, eram seres altamente evoludos, conforme se pode verificar
pela excelncia de seus conselhos e pela exatido das profecias.
Em Delfos eram empregados somente mdiuns de transe; mas, em
quase todos os outros santurios eles estavam em minoria e s vezes no
eram prestigiados. Quase todas as sacerdotisas, em funo, falavam em
estado de plena conscincia e assim transmitiam as impresses que
recebiam. Estas impresses se desenvolviam de vrios modos. No
templo de Zeus, em Dodona, as sacerdotisas geralmente focalizavam sua
ateno na sussurrante folhagem de um gigantesco carvalho. Este, na
realidade, um recurso para anestesiar seus sentidos objetivos e permitir
que um segundo estgio da percepo alcanasse sua mente consciente.
Quando, no inverno, as rvores se despiam de sua folhagem, era
usado um enorme gongo de bronze. Enquanto ele balanava ao vento,
muitos badalos nele pendurados davam batidas em intervalos irregulares
e era concentrando-se na cacofonia resultante que a sacerdotisa obtinha
uma mensagem. Outros mtodos, porm, eram brutais: exigia o
sacrifcio de animais e o exame de suas entranhas. Presumia-se que cada
deus tinha seu animal favorito.
Delfos, evidentemente, desempenhara um papel importante no
contexto social e religioso da velha Hlade. As runas de seus muitos
monumentos podem ainda ser vistas ali. Era o Orculo mais rico e maior,
pelo menos na Grcia Continental. Os seus nicos rivais eram
construdos na sia e na ilha de Dlos (onde se supunha ter nascido
Apoio). Os gregos chegaram a acreditar, em dado momento, que Delfos,
e no Dlos, era literalmente o centro do mundo.
-
O Orculo De Dodona
O Orculo de Dodona, no templo de Zeus, ficava a noroeste do
mundo grego clssico, perto da fronteira albanesa com a Grcia
moderna, a alguns quilmetros para o interior e localizado numa fenda
sob a cadeia do Pind. Segundo Homero, os seus sacerdotes tinham os
ps sujos, dormiam no cho e interpretavam o som do vento num grande
carvalho. H muitas provas da atividade do Orculo no fim da idade do
bronze, mas no h qualquer registro que testemunhe a continuidade,
alm dessa idade histrica, do famoso santurio. Durante o tempo de
vida de Homero, Zeus estava a entronizado com uma deusa chamada
Dione. Havia, ainda, em Dodona, o culto de uma deusa secreta e algumas
estranhas crenas sobre animais sagrados.
Os edifcios de Dodona eram pobres e escassos, at aos tempos
helnicos, e a maior parte das runas que hoje so visveis, muito belas e
harmoniosas, tm origem tardia. A mais proeminente o teatro de arena,
construdo aps a morte de Alexandre, o Grande, no tempo de Pirro, de
Epiro, e que foi recentemente restaurado. Sobre o teatro encontra-se a
acrpole murada; por baixo, era um estdio, onde se distinguem as
extremidades curvas, dando a idia de uma ferradura.
Supe-se que Ulisses (personagem central da Ilada, de
Homero) visitou Dodona. A maior parte dos clientes do Orculo parece
ter sido constituda de gente simples; vinham mais frequentemente de
terras prximas ou do Norte, do que do centro do mundo grego. O ncleo
do santurio era uma imensa rvore sagrada. Os cultos de Dodona,
guardadas as devidas propores, se pareciam com aqueloutros
praticados pelos celtas, em que o sempre majestoso carvalho assumia
-
papel de flagrante e mstico destaque nas elucubraes premonitrias dos
taumaturgos.
Com o correr do tempo, a partir das conquistas de Alexandre, no
sculo IV, a.C., outros orculos apareceram, em vrios pontos dos
territrios conquistados. Destaca-se o de Claros, sediado na rea que
hoje a Turquia, prximo ao Iraque. Era muito procurado pelos
colonizadores gregos. Os que consultavam este orculo organizavam
uma caravana anual, contratando-se um coral incumbido de cantar hinos
a Apoio. Os consulentes eram conduzidos noite, numa nica fila, que
serpenteava por entre os caminhos tortuosos de um labirinto, at uma
espcie de cenculo. Nesse ponto, aguardavam, sob a luz de tochas,
enquanto a pitonisa debruava-se sobre uma fonte de guas borbulhantes
que tinham o poder de inspirar a profecia.
As profecias dos Orculos gregos refletem o exerccio natural da
mediunidade naquela recuada era, cujas leis que a regem seriam
esclarecidas pelas pesquisas de Kardec. A verdade que a mediunidade
serviria de lastro aos processos mgicos, abrindo caminho para o
desenvolvimento das religies mitolgicas e das religies reveladas, que
se apoiavam na crena dos homens deuses, conhecedores dos
mistrios da vida e da morte. Os dons medinicos reafirmaram a crena
nos poderes divinos, atravs dos fenmenos produzidos por indivduos
que os possuam, no caso especfico, os profetas e as sibilas.
Os Augrios Romanos
Na antiga Roma a divinao dividiu-se em diversas funes
distintas. Ressaltava-se o Augrio. A arte dos Augrios era o estudo dos
eclipses, dos troves, do comportamento de pssaros e outros animais e
de vrios sinais chamados auspcios. Os augures suplicavam a
-
aquiescncia divina nas decises dos lderes sociais. O certo que os
augures exerciam fundamental influncia sobre a vida dos cidados e o
destino das comunidades.
O sistema posto em prtica pelos augures foi assimilado dos
etruscos. Com o transcorrer do tempo a arte de augurar se
institucionalizou em Roma, a ponto de os augures se congregarem num
colegiado formal, ao lado dos pontfices (administradores das cerimnias
pblicas) e guardies dos LIVROS SIBILINOS (urna coleo de antigas
profecias oraculares). As predies dos augures eram devidamente
registradas e arquivadas em locais secretos.
Para os augures romanos, o relmpago era considerado uma
comunicao direta de Jpiter, o pai de todos os deuses, e os raios de luz
eram interpretados de acordo com o setor do cu do qual caam: raios
vindos do Oeste era sinal de maus pressgios e os do Norte de bons
pressgios. Relmpagos do Noroeste, significavam novas runas; eram
especialmente temidos. Um raio oriundo do Noroeste caiu sobre a
esttua de Csar, derretendo a sua primeira letra. Como a letra C era o
numerai romano para 100, os augures predisseram que ele viveria apenas
mais cem dias o que realmente ocorreu! Admite-se que a forma mais
elaborada de divinao clssica tenha sido a busca de sinais dos
desgnios divinos nas entranhas de animais sacrificados. Denominada
aruspicao, essa prtica chegou aos gregos e romanos atravs dos
etruscos ou das culturas da Babilnia e da Assria. Sua teoria subjacente
era a de que, quando um animal era sacrificado, ele era absorvido pelo
deus ao qual havia sido oferecido, estabelecendo-se um canal direto com
a divindade. Abrindo a carcaa, o arspice imaginava estar perscrutando
a mente divina e observar o futuro. Essa tcnica descrita
minuciosamente em um trecho de ELECTRA, de Eurpedes, poeta
-
trgico (480-406 a.C.), onde permite ao arspice prever sua morte
prxima. Eis o relato:
Egisto toma das mos de Orestes as vsceras sagradas e as
observa. Falta um lobo no fgado. Os vasos prximos da vescula
apresentam, aos seus olhos, salincias funestas. Orestes pergunta: Por
que esse ar desanimado? Estrangeiro, responde Egisto, receio uma
cilada do exterior. Tenho um inimigo mortal, o filho de Agamenon, e ele
est em guerra contra minha casa.
A importncia que os romanos atribuam aos pressgios e s
profecias dos augures ficou revelada quando do assassinato de Jlio
Csar.
No captulo 81 de sua Vida dos Dozes Csares, Suetnio relata
o seguinte fato:
Prodgios manifestos anunciam a Jlio Csar que seu
assassinato estava sendo tramado. Alguns meses antes, colonos levados
at Cpua por causa da lei Jlia, quando preparavam o terreno para os
alicerces de casas de campo, encontraram algumas sepulturas muito
antigas. O trabalho passou a ser feito, ento, com grande cuidado, tendo
sido encontrado um grande nmero de vasos de feitio antiqssimo.
Dizem que, no tmulo no qual repousava Capys, o fundador de Cpua
(sculo VI a.C.), foi encontrada uma placa de cobre, na qual, em
caracteres gregos, firmava-se a seguinte profecia:
Quando for descoberta a ossada de Capys, o descendente de
Jlio (filho de Enias, do qual a famlia de Csar a gens Jlia
descendia) ser morto pela mo de um de seus amigos, e logo sua morte
ser vingada pelas desgraas da Itlia.
-
Suetnio garante que Csar tomou conhecimento dessa profecia
atravs de um amigo ntimo, Cornlio Blbus, que presenciara os fatos.
Csar ainda recebeu um segundo aviso. Certo dia, enquanto estava
num templo para assistir a um sacrifcio, o augure Spurinna Vistritius,
que oficiava, anunciou a Csar que nas semanas seguintes ele estaria sob
a ameaa de um grande perigo; Csar disse o arspice
desconfie dos idos de maro. Os idos de maro eram o dcimo quinto
do ms. No dia 15 de maro do ano 44 a.C., Jlio Csar, o conquistador
da Glia, um pouco cansado, no estava com vontade de sair.
Finalmente, consentiu em ir ao Senado por causa da insistncia de
Brutus4. A caminho do Senado, Csar encontra o augure Spurinna
Vistritius, e o interpela irnico:
Ento? Os idos de maro j chegaram, e nenhum mal me
aconteceu!
Sem dvida, respondeu Spurinna. Os idos de maro j
chegaram, mas ainda no se foram.
Alguns minutos mais tarde, Jlio Csar caa apunhalado por
Marco Jnio Brutus...
O colgio dos augures foi dissolvido no quarto sculo de nossa era
por um dito do ano 392, assinado pelo imperador Teodsio, ento
4 Marco Jnio Brutus (85-42 a.C.). Depois de Farslia, onde combateu no exrcito pompeano, Brutus,
sobrinho de Cato, abandonou a causa de Rompeu, Csar concedeu-lhe sua proteo e em 45 a.C., ele foi
feito pretor. Mas, em Csar, Brutus viu um pretendente Monarquia. Paladino do regime republicano,
ps-se frente da conjurao fomentada por Cssio, abatendo o seu protetor nos idos de maro. A
conjurao fracassou. Brutus juntou-se a Cssio no Oriente. Mas, Otvio e Antnio aniquilaram em Filipos
(Grcia), em 42 a.C., o exrcito republicano de Brutus e Cssio. Ambos cometeram o suicdio.
-
envolvido pelo sistema ultramontano nascente, de funestas e aterradoras
conseqncias para a Humanidade. Fato por sinal previsto pelo prprio
Cristo, levando em conta, provavelmente, as inferioridades humanas,
que se expressam pelo caudal de paixes que suscitam conflitos e
profundas dissenses sociais.
O Profetismo Nas Comunidades Crists
Nas primitivas comunidades crists havia vrios profetas que
prediziam o futuro (Atos 11:27; 21:10).
Provavelmente os quatro filhos de Felipe (21:9) exerciam, como
pregadores inspirados, certa autoridade nas comunidades crists e
exortavam e consolavam os irmos com as suas palavras. Paulo de Tarso
sabia que nem todos que julgavam ser profetas eram realmente
inspirados pelo Esprito de Deus. Havia falsos profetas, que diziam
profetizar em nome de Jesus, mas no cumpriam a vontade do Pai ou no
reconheciam Jesus como o Cristo.
As PROFETISAS. No Novo Testamento, Ana, filha de Fanuel,
chamada de profetisa; isso supe que ela era cheia do Esprito de Deus;
por uma revelao desse Esprito reconheceu o menino Jesus como o
Messias (Lucas 2:36-38)
O MESSIAS PROFETA. Nos sculos em torno do incio da Era
Crist aguardava-se a vinda de um profeta ou at de O PROFETA, mas
tal profeta no era identificado como o Messias. Mesmo a figura de Elias,
embora representado alguma vez como aquele que combater o
Anticristo, nunca mais do que um pregador de penitncia, que tem de
preparar o caminho para o Messias e para o reino de Deus. Por outro
lado, muitas vezes so atribudas ao Messias funes profticas, sendo
-
ele considerado como um segundo Moiss. Os rabinos interpretaram-no,
primeiramente, como o Messias davdico, atenuando, porm, o mais
possvel, os textos sobre sofrimentos, que no conseguiram combinar
com a idia de um Messias triunfante; e no queriam saber nada de uma
morte ignominiosa do Messias. Como os textos, entretanto, eram claros
demais, aparece nos escritos rabnicos, pelo fim do sculo II d.C., a
opinio de que esses textos no dizem respeito ao Messias davdico, mas
a um outro Messias de grau inferior, que chamavam o Messias filho de
Jos ou filho de Efraim e que precederia o verdadeiro Messias.
Joo Profetiza O Advento Do Messias
Afirma John P. Meier (vide: A Marginal Jew: Rethinking the
Historical Jesus) que o retrato que emerge de Joo Batista o de um
profeta judeu do sculo l, trazendo uma mensagem escatolgica com
alguns traos apocalpticos.
Joo, em verdade, anunciava um julgamento iminente e violento,
que estaria por se abater sobre Israel, e contra o qual o povo pecador
poderia proteger-se apenas atravs do arrependimento interior, da
reformulao completa da vida exterior, Joo tem algumas
caractersticas em comum com outras figuras de judeus penitentes
daquela poca, na regio do Vale do Jordo, notadamente os membros
da seita de Qumran. (Sobre Qumran, vide a obra de J. C. Trever: The
Untold Story of Qumran, 1965.)
Em determinado momento ele fala da vinda de algum superior a
ele prprio, algum mais forte. No est claro, observe-se, que esse
algum mais forte seria um personagem angelical ou humano, um
Filho do Homem celestial, ou um Messias terreno. Talvez a linguagem
-
vaga de Joo seja indicao de que a sua profecia era obscura at para
ele mesmo.
Entretanto, e como assinala Flvio Josefo5, o Batista exerceu um
profundo impacto sobre os judeus de seu tempo, tanto que Heredes
Antipas, o tetrarca da Galilia, houve por bem elimin-lo com um golpe
preventivo, para que sua influncia sobre as massas no fosse usada
para fins de sedio. Ainda Josefo quem afirma que as idias de revolta
poltica no estavam na mente do profeta, mas do prprio Hrodes.
Foi a esse profeta escatolgico, com sua exclusiva prtica do
batismo, que Jesus aderiu no rio Jordo. Afirmam alguns exegetas que
Jesus se tornara discpulo de Joo. Outros indcios nos Evangelhos,
especialmente no quarto, sugerem que Jesus talvez tenha permanecido
por algum tempo no crculo mais ntimo dos discpulos de Joo. Em
determinado momento, Jesus teria deixado esse grupo, possivelmente
levando consigo alguns dos antigos seguidores de Joo, dando incio,
efetivamente, ao seu magnfico ministrio. Entre os interpretadores
dessa conexo entre Jesus e Joo Batista, destacam-se as figuras de
Hendrikus Boers e de Paul Hollenbach.
Resumindo: Joo Batista foi um profeta judeu independente, cuja
atuao se deu por volta do ano 28, aps o nascimento de Jesus. A sua
influncia entre os seus discpulos era to profunda que estes se
recusaram a ser cristos; aps a sua morte, tornaram-se, segundo John P.
Meier, espcie de rivais do cristianismo nascente.
5 Josef ben Mattatias, poltico militar e historiador judeu (37 ou 38 100, da Era Crist). Escreveu duas
grandes obras: A Guerra dos Judeus, escrita nos anos imediatamente seguintes queda de Jerusalm,
em 70 (predita, por sinal, por Jesus), e Antigidades Judaicas, muito mais extensa, nos anos 93 d.C.
-
Jesus Profeta
Duas obras assumem notria importncia no campo das pesquisas
sobre o carter proftico do messianismo cristo: Lessence
duprophtisme, de O. Neher (Paris, 1955) e Christologie du Nouveau
Testament, de O. Cullmann (Neuchtel, 1958).
No comum atribuir a Jesus o ttulo de profeta. Mas, o de
pregador e taumaturgo que retoma, embora em poca conturbada por
disputas polticas e militares, as tradies dos mais consagrados profetas
de Israel.
No momento em que Jesus inicia o seu messianato, a multido
acreditou reconhecer nele um profeta:
Marcos 6:15: Outros falavam que ele era Elias. Mas alguns
afirmavam: Ele profeta, como um daqueles profetas antigos.
Marcos 8:28: Quem o povo diz que eu sou? perguntou
Jesus aos seus discpulos.
E eles responderam:
(...) que s Elias; e outros, que s um dos profetas.
Esse reconhecimento foi motivado inicialmente pelos fenmenos
suscitados pelo Mestre. Assim, entre outros exemplos, aps Jesus fazer
voltar vida fsica o filho da viva de Nairn:
Pouco tempo depois, Jesus foi a uma cidade chamada Nairn. Seus
discpulos e uma grande multido foram com ele. Quando chegou perto
do porto da cidade, ia saindo um enterro. O defunto era filho nico de
-
uma viva, e grande nmero de pessoas da cidade ia com ela. Quando
Jesus a viu ficou com muita pena dela, e disse:
No chore.
A ele chegou mais perto e tocou no caixo. E os que o estavam
carregando pararam. Ento Jesus disse:
Moo, eu ordeno a voc: levante-se!
O jovem sentou-se e comeou a falar, e o Mestre o entregou me.
Todos ficaram com muito medo, e louvaram a Deus, dizendo:
Que grande profeta apareceu entre ns!
Os extraordinrios fenmenos provocados por Jesus deixaram os
seus contemporneos perplexos, aterrorizados, sem entender exatamente
o que estava acontecendo. Foram, a seguir: 1) a absoluta e serena
autoridade de sua pregao, suas predies a respeito do futuro, que
confirmaram a suspeita de que se estava face a face com o maior de todos
os profetas (jamais algum, at o Mestre de Nazar, se pronunciara com
tamanho conhecimento do Ser e do mundo);
2) aps o dilogo com a Samaritana, em que Jesus revelou os
trmites mais ntimos daquela descendente dos assrios. Esta conversa
amistosa entre o Mestre e a Samaritana termina assim: Agora eu sei
que o Senhor profeta concluiu a mulher. Nossos antepassados
adoravam a Deus neste monte (Monte Garizim), mas vocs, judeus,
dizem que Jerusalm o lugar onde devemos ador-lo6.
6 Os samaritanos, poca de Neemias e Zorobabel, construram seu prprio templo no Monte Garizim,
sob a direo de Manasses, filho do Sumo Sacerdote judaico Jjada, que Neemias havia expulsado de
-
Em seguida, Jesus profetiza:
Mulher, creia em mim. Chegar o tempo em que ningum vai
adorar a Deus nem neste monte nem em Jerusalm.
At Jesus o dom de profecia no mais despontara entre os filhos
de Israel. Deus, imaginava o povo, silenciara; no falava, como em
tempos idos, pela boca de alguns eleitos. A pergunta que os judeus
fizeram a Joo Batista, evidenciava a esperana de que Deus, rompendo,
finalmente, o silncio, enviasse um profeta, do nvel de Moiss ou Elias.
Eis o dilogo que houve entre a voz que brada no deserto e os lderes
de Jerusalm (levitas e sacerdotes):
Perguntado quem era, Joo Batista respondeu:
Eu no sou o Messias. Eles tornaram a perguntar:
Ento, quem voc? Voc Elias?
Voc o profeta que esperamos?
No respondeu ele. A disseram a Joo:
Diga quem voc?
Joo respondeu, citando o profeta Isaas:
Eu sou aquele que prega no deserto. E profetizou:
Jerusalm. O templo foi destrudo em 128 a.C. Por Joo Hercano l, porque os samaritanos haviam aderido
ao partido dos Seluzidas (membros da dinastia Macedonia dos Didocos), que de 312 at 65 a.C.
governou a Sria que, quele tempo dominava a Palestina. O Monte Garizim continuava a ser lugar de
culto dos samaritanos.
-
Preparem o caminho para o Senhor passar.
Em suma: se o povo judeu aguardava o retorno de algum dos
antigos e notveis profetas, as opinies a respeito divergiam. Esse estado
de nimo elucida, at certo ponto, os opostos julgamentos que se faziam
em torno da enigmtica personalidade de Jesus e de sua misso entre os
judeus. Esse profeta to aguardado restauraria a glria e o prestgio de
Israel, pulverizados pelo tempo e pela incria.
A funo proftica de Jesus esclarece Chistian Duquoc
(Christologie: Essai Dogmatique) assume o carter que era
reconhecido s profecias em Israel: transmitir a palavra divina, isto ,
fazer emergir o significado divino dos acontecimentos. A palavra dos
profetas de Israel no era uma palavra abstrata, na verdade. Sempre
supe presente ao espirito do povo, a Aliana7.
Entretanto, Jesus no se refere primordialmente Aliana, apela
para uma comunho jamais cogitada at ento: uma comunho entre o
Pai e o Filho. At esse momento, o segredo do Reino no tinha sido
revelado. Jesus no transmite, apenas, a palavra que vem de Deus: a
mensagem do Cristo inclui a sua prpria pessoa. Seus interlocutores se
questionam a respeito de sua identidade. Percebem uma unidade perfeita
entre o que anuncia, o Reino, e sua experincia pessoal. Ele diz aquilo
que ouve do Pai; mas ele o diz como sendo sua prpria experincia.
Como os profetas que o precederam ele estupidamente perseguido. Seu
sacrifcio, na cruz infamante, o resultado de seu arguto e verdadeiro
7 O Reino de Deus est acima das diferenas de classe; do mundo injusto de ricos e pobres; das
competies polticas e sociais. O Reino de Deus est dentro de ns; na aspirao da Justia e do Amor,
que o prprio reflexo de Deus na conscincia humana.
-
pensamento. Ele no vacila em expor o que sente e pensa sobre as
atitudes dos fariseus, e os chama, vis--vis, de raa de vboras, epteto,
alis, que se aplica a todos aqueles que agem movidos pela hipocrisia e
pela desfaatez. A linguagem do profeta uma linguagem humana. Ela
a expresso de uma conscincia humana, que j se sobrelevou s
exigncias passionais; que se sublimou! No entanto, dizia que o que ele
fazia, podamos fazer, e melhor!...
Jesus Profetiza A Vinda Do Consolador
Se vs me amais, guardai meus mandamentos e orarei a meu
Pai e Ele vos enviar um outro Consolador, a fim de que fique
eternamente convosco: o Esprito da verdade (...) (Joo, Cap. XIV)
(...)
Quando este Esprito da verdade vier, ele nos ensinar toda a
verdade, pois no falar por si mesmo, mas dir tudo o que tiver ouvido,
e vos anunciar as coisas vindouras. (Joo, Cap. XVI)
Jesus predisse a vinda do Esprito de verdade, aquele que deveria
ensinar todas as coisas e fazer recordar o que ele dissera; de onde se
conclui que seu ensinamento no estava completo: tenho ainda muitas
coisas a vos dizer, mas no o podeis suportar agora.
Ademais, ele premune que haveriam de esquecer (como
efetivamente esqueceram) o que ele dissera, e que desnaturariam os seus
ensinamentos, pois o Esprito de Verdade devia faz-lo recordar, e, de
acordo com o profeta Elias, restabelecer todas as coisas.
O Consolador, no pensamento de Jesus, a personificao de uma
doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador o Esprito de
-
Verdade. Essa doutrina o Espiritismo. Realizou-se, ento, com o
advento da Terceira Revelao, a mais importante predio do Mestre
de Nazar!
O Apocalipse De Joo
O Apocalipse de Joo pode ser dividido em quatro grandes
instncias:
1) a Introduo; 2) as cartas s Igrejas; 3) as vises profticas; 4)
o final.
A parte introdutria comea com um ttulo que indica o contedo
do livro como sendo uma revelao sobre o que deve acontecer em
breve, isto : a volta do Senhor e a consumao dos tempos. Em
seguida, Joo dirige-se s sete igrejas da sia com uma saudao que
termina com uma doxologia (prece ou cntico cujo fim glorificar a
Deus Gloria in exalsis Deo) e um anncio da volta do Senhor. Como
se poderia esperar de um livro proftico, segue-se uma viso de Jesus,
que d ao profeta Joo a ordem de escrever tudo o que viste, tanto o
que agora como o que acontecer depois disto (4:21).
O Apocalipse elaborado seguindo um esquema adredemente
determinado. O nmero sete aparece com um carter eminentemente
estrutural: sete cartas: captulo 2:3; sete selos: 4:1-8,1; sete trombetas:
8:2--11,19; os captulos 12:14 podem ser divididos em sete cenas; sete
taas: 15:1-16-21, alm de sete Espritos 3:1; sete candelabros 1:12; sete
estrelas 1:16; sete cabeas 5:6; sete anjos 8:2. Da os exegetas tentarem
identificar no Apocalipse uma estrutura detalhada, baseada no nmero
sete.
-
Admite-se por outro lado, que o texto apocalptico pode ter-se
desenvolvido a partir de um ncleo primitivo, quando documentos j
existentes podem ter sido utilizados. Sente-se, contudo, que o autor
imprimiu ao texto o seu pessoal sinete ideolgico. A impresso de
desordem e confuso que o livro transmite, pode ser decorrente do fato
de o autor ter utilizado um duplo gnero literrio (epistolar e
apocalptico) e de que especialmente as leis do gnero apocalptico
(um desenrolar esquemtico da histria combinado com imagens
bizarras e misteriosas e um estilo antolgico) no obedecem a uma
severa lgica (in Bijbels Woor-denbraek, J. J. Romen & Zomen,
edio holandesa).
No centro do Apocalipse est o Cristo. Conquanto no se ignore a
sua atuao terrestre (nascimento e morte), a glorificao que
centralizada: Eu estive morto e eis que vivo pelos sculos e sculos.
Esse estar vivo de Jesus exprime-se em diversas imagens: primognito
dos mortos (1:5), o primeiro e o ltimo (1:18), o vivo (1:18), o cordeiro
(29 vezes) que apresentado como tendo sido morto (mas agora est
vivo), para indicar a continuidade entre a consumao da vida terrestre
de Jesus e a sua glorificao: Jesus o Senhor e o Juiz do Mundo.
Entretanto, ele no vive e reina numa glria desligada do tempo; ele o
Senhor da Histria; s ele pode revelar os desgnios de Deus (5:5; 6,1) e
pr em movimento os acontecimentos escatolgicos. E no acompanha
esses acontecimentos a grande distncia; ele mesmo luta, chefiando os
seus sequazes (19:11-21), decidindo a luta pela sua palavra. O
Apocalipse testemunha a presena de Jesus na histria do mundo. Jesus
conduzir os seus para a consumao definitiva (22:14). Jesus no
apenas mestre moral e exemplo, mas acima de tudo o primeiro da nova
-
criao de Deus. Todo o Apocalipse est penetrado da idia da
importncia universal do Cristo para o mundo e a Histria.
O Apocalipse um livro proftico que v no presente e no passado
a obra salvtica de Deus. E na base desse presente, cheio de esperana,
abre uma perspectiva para o futuro, dando assim conforto e consolao
aos que ainda tm de viver de opresso.
Obras que se oferecem consulta: UApocalypse, tat de la
Question, A. Feuillet; Du Christologie der Apokalypse ds
Johannes, T. Holtz; Le Christ dans iApocalypse, J. Comblin; The
Syscoptic Traditions in the Apocalypse, Levos.
Fala-se, ainda, do Apocalipse de Pedro, considerado apcrifo,
vazado em forma epistolar, feitura de evangelho. O texto grego do
fragmento descoberto entre 1886 e 1887, encerra singulares
discordncias e parece ter sido reescrito. Esse apocalipse refere-se
volta de Jesus, ressurreio dos mortos e ao juzo final.
O apocalipse de Pedro conseguiu alcanar considervel
divulgao tanto no Oriente como no Ocidente, tendo sido objeto de
citao por Clemente (um dos chamados pais da igreja). Mtodio
considerou-o inspirado pelas foras espirituais superiores e, at meados
do sculo V, lido em algumas igrejas da Palestina.
Um outro apstolo, Tiago, escreveu um Apocalipse. um dilogo
que teria havido entre ele e Jesus, em parte antes da morte do Mestre de
Nazar e outra durante o retorno de Jesus em corpo sutil, fato
erroneamente rotulado de ressurreio. Tiago receberia de Jesus aviso
sobre seus futuros padecimentos e uma profecia sobre a destruio de
Jerusalm.
-
Tom tambm escreveu um Apocalipse, feitura de epstola,
rejeitado pelo Decretum gelasianum. O texto original, em grego, se
perdeu, restando, apenas, sobre esse Apocalipse, duas verses latinas.
Descreve, louvando-se no Apocalipse de Joo, os sinais dos sete dias
precedentes do fim do mundo. No sexto dia, Jesus retornar, e os justos
ressuscitaro. O oitavo dia reservado para a destruio do mundo.
Concepo atvica e doentia de tantos quantos msticos que, atravs dos
sculos, prevem, para a Terra, uma hecatombe total, como se este nosso
planeta fosse o centro do Universo e a imortalidade da alma nada
realmente signifique.
Destaca-se, ainda, neste contexto, o Apocalipse de Paulo, tambm
considerado apcrifo, escrito em estilo epistolar. A sua introduo
reporta-se descoberta desse Apocalipse, no ano 388, d.C., no subsolo
da casa de Paulo, em Tarso. Existem verses copias, siracas, armnias
e eslavas. A verso latina, mais completa e mais antiga, serviu de base a
muitas outras reelaboraes, em geral, resumidas. Nesse Apocalipse o
apstolo de Tarso recebe a misso de pregar a penitncia Humanidade,
cujos pecados estremecem os cus. Relata, tambm, feitura de Dante,
uma viagem de Paulo s regies celestiais; recebe revelaes sobre a
sorte das almas nas esferas espirituais.
A Cultura Pr-Colombiana
A cultura pr-colombiana de origem remota. O perodo clssico
(250-950) corresponde ao florescimento dessa civilizao.
-
Entre os povos que, integram a cultura pr-colombiana8 destacam-
se os astecas e os maias. Quem pretender definir os aspectos
apocalpticos desses dois povos, dever recorrer a quatro fontes bsicas:
a) Crnica e lendas, como as profecias dos anos Tuns, os livros do
Chilam Balam de Tizimi, Mani e Chu-mayel, os Anais de Cuauhtitlan e
a lenda dos quatro sis (Cdice Chimapopoca), e indiretamente, o Popol-
Vuh (a bblia maia).
b) Indicaes astrolgicas e profticas nas inscries lapidares
(escrita hieroglfica encontrada nas paredes das construes pr-
colombianas) sobre a data em que termina o grande ciclo calendarial
maia.
c) Indicaes astrolgicas e profticas da famosa Pedra Solar
asteca.
d) Indicaes astrolgicas e profticas baseadas em clculos
astronmicos, apoiadas na tradio cultural e que esto contidas em tiras
de papel (lminas) denominadas Cdices. Dos muitos astecas, dois
Cdices se destacam o Cdice Chimapopoca e o Vaticanus. Quanto
aos maias, ressaltam-se trs manuscritos que foram preservados da
destruio gerada pela colonizao espanhola do sculo XVI,
denominados Cdice Tr-Cortesianus ou de Madri e Cdice de Dresden
(Alemanha) todos eles com nomes das cidades europias em cujos
museus esto cuidadosamente guardados. Embora muito j tenha sido
8 As culturas pr-colombianas so estudadas de acordo com suas reas de difuso: a mesoamericana (dos
estados de Tamaulipas e Sinaloa, no Mxico, at o noroeste da Costa Rica); a circumantilhana (Antilhas,
sul da Amrica Central, Costa Rica, Panam, litoral atlntico da Colmbia e da Venezuela e, ao sul, at a
Guiana); e a andina (at o Chile).
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traduzido para as lnguas ocidentais, h, ainda, grandes trechos desses
raros e histricos documentos que precisam ser decifrados. A lngua
desses povos pr-colombianos de difcil compreenso. A sua fora
imagtica extraordinria.
O Cdice de Dresden parece ter sido uma das mais efetivas
preocupaes dos especialistas em cultura pr-colombiana. Possui 74
pginas, dobradas em forma de sanfona, constituindo uma referncia
para os sacerdotes-astrnomos maias dos acontecimentos do passado a
fim de que se pudesse calcular, por tcnicas preditivas, os
acontecimentos futuros, baseando-se em ciclos e eras cronolgicas. A
maioria dos especialistas concorda que esse Cdice foi redigido pelos
maias-toltecas do lucat (poca da grande decadncia da cultura maia)
aproximadamente em 1300 e que muito provavelmente uma cpia de
textos ainda mais antigos.
Das pginas 61 a 74, onde se inscrevem os enigmticos Nmeros
das Serpentes, esto os calendrios catastrficos e o fim do mundo
(Apocalipse). Este Cdice estabelece as bases matemticas e
astronmicas para se calcular a poca do fim do mundo (no conceito
maia). Essas bases esto nos Nmeros das Serpentes e nas tbuas de
multiplicao, bem como em trs diferentes calendrios. A ltima pgina
encerra esses acontecimentos, que podem ser ilustrados pelos deuses que
o representam uma deusa maligna, com o poder de desencadear um
dilvio, e um deus guerreiro, sinal de que nessa ocasio o mundo estaria
em guerra.
Um sem-nmero de pesquisadores vem analisando,
meticulosamente, esses preciosos manuscritos, de modo especial o de
-
Dresden. Seus enigmas aos poucos esto sendo decifrados; mas os
chamados Nmeros das Serpentes ainda encerram profundos segredos.
A Profecia Entre Os Celtas
A poo mgica de Asterix (heri gauls de histrias em
quadrinhos) no fruto de fico. Na verdade, os gauleses, e entre os
celtas, o consumo de bebidas alucingenas constitua um ato mgico-
religioso, destinado, basicamente, a estimular a inspirao potica e
proftica.
Uma das pedras do altar de Nantes, descoberta no sculo XVIII,
nas proximidades de Notre-Dame, em Paris, e conservada no Museu de
Cluny, mostra o deus em cuja honra se celebravam essas libaes na
Glia. Trata-se do deus Cermunnos, senhor da vegetao e, por
conseguinte, da fecundidade material e espiritual. Tem cornos de cervo,
essa galhada que cai e volta a crescer, aumentando de ano para ano, s
comeando a diminuir na velhice extrema, como acontece com as
rvores da floresta.
O deus Cermunnos era considerado a alma dos vegetais. Quando
se moa o trigo, ele morria supliciado, mas retornava na primavera com
os brotos verdes dos cereais. Consumindo bebidas produzidas com os
gros modos, os celtas criam incorporar a prpria substncia de
Cermunnos. O homem, embriagado, profetizava pela prpria boca do
deus...
O mais notvel de todos os profetas celtas Merlin, o Mago,
celebrizado nos romances da Tvola Redonda.
-
Merlin (Myrddin) nasceu, conforme a tradio, de uma sacerdotisa
que transgrediu seu voto de castidade e atribuiu a gravidez a um Esprito.
Nasceu na Esccia, na segunda metade do quinto sculo (d.C.) e se
tornou o bardo titular do chefe do cl Gwendolen. Quando a Esccia foi
invadida pelos saxes, Merlin ficou ao lado do rei Embreiz Guletik.
Sendo, ao mesmo tempo, poeta, profeta e guerreiro, foi, de certa forma,
afirma Grard de Sede (Ltrange Univers Ds Prophtes), o Isaas da
causa cltica. Depois da batalha de Arderyd, em 475 d.C., informa Sede,
deu-se o confronto entre os chefes dos cls, quando Gwendolen foi
morto, Myrddin, tomado de desespero, quebrou a espada. No quis mais
continuar a profetizar em seu pas ocupado pelo invasor e dividido, e foi
viver numa floresta. Vagueava, apoiado num cajado, cabelos compridos,
ao vento, roupas, esfarrapadas, carregando uma harpa sem corda. Os
Annales de Cambrieafirmam que Merlin morreu louco. H quem
garanta que ele teria ido para Armsica, que hoje chamada a floresta
de Paimpont. E mencionam, tais fontes, que ele se acompanhava pela
fada Viviane. Sabe-se, com certeza, que Merlin jamais se recuperou do
trauma causado pela batalha fratricida de Arderyd:
Tenho cabelos ralos, minhas vestes no me aquecem.
O vale meu paiol, mas no tenho trigo.
No tenho safra no vero.
Depois da batalha de Arderyd, nada mais me emociona,
Mesmo que o cu caia ou o mar transborde.
A tradio cltica, que riqussima, atribui a Merlin as obras
potico-profticas: Tes Pommiers (As Macieiras) e L Livre Noirde
-
Carmarthen (O Livro Negro de Carmarthen) e um dilogo entre Merlin
e Taliesip, filho de Keridwen, a possuda pelos deuses.
Deve-se esclarecer que os romancistas franceses da Idade Mdia,
criadores do Merlin das lendas, atriburam ao mago uma srie de
profecias, consideradas apcrifas. O certo que o nome de Merlin
atravessou os sculos, em meio a um fantstico clima de mistrio e
fantasia, tornando-o um ser lendrio de extraordinria presena nos
fastos da Histria, no apenas da velha Esccia, de tantas e fascinantes
lendas, mas da prpria Humanidade!
Merlin E Joana Darc
Entre as predies de Merlin sobre coisas que viriam a
acontecer, destaca-se a que se refere a Joana dArc, urna donzela
maravilhosa que vir do Nemus Canutum para a salvao de naes.
Esclarea-se que Nemus uma palavra de origem latina e significa
bosque e Canutum, vocbulo latino, que significa branco ou encanecido
(antigo). Joana dArc nasceu em 1412, numa herdade que fica na
margem do rio Bois Chesnu, em Domrmy (Frana). Bois significa
bosque e Chesnu a expresso do francs arcaico que significa branco
ou encanecido.
A propsito, Joana dArc reconhecida, por seu turno, como uma
profetisa. No curso de sua brilhante e dolorosa carreira militar, ouvia
vozes e tinha vises em que era avisada para tomar esta ou aquela
deciso e o que o futuro lhe reservava e prpria Frana. Essas vozes e
vises comearam a partir do momento em que a donzela de Domrmy
entrava na adolescncia. Nessa ocasio Joana ouviu uma voz que parecia
sair de uma nuvem, dizendo que ela iria realizar coisas maravilhosas. Ela
fora escolhida para ajudar ao rei da Frana. Para tanto ela iria usar roupas
-
de homem e pegar em armas, e comandar um exrcito. Pouco tempo
depois a profecia por voz direta se concretizava, integralmente, para
espanto de todos. Joana teve pressa de levar a termo a sua misso, porque
ela sabia que o seu tempo, no particular, seria escasso. Ela mesmo
vaticinava:(...) tenho pouco tempo. Um ano ou pouco mais. Da sua
priso decorreram, apenas, treze meses...
As histrias sobre a faculdade premonitria de Joana so muitas.
Entre as quais destacamos a seguinte: prximo ao castelo de Chinon, ela
se encontrou com um homem a cavalo que a insultou com palavras duras.
Joana, calmamente, lhe disse: em nome de Deus, voc pragueja quando
se encontra to perto da morte? Nem bem decorrera uma hora desse
incidente, o agressor caiu no fosso do castelo e se afogou.
Em 1430, no pice de seus magnficos triunfos militares, as vozes,
que dela no se afastavam, disseram-lhe que a sua misso havia
terminado. Logo em seguida ela foi posta a ferros pelos seus prprios
compatriotas, sendo julgada em Rouen. Foi condenada fogueira por um
tribunal da Inquisio presidido por Pierre Cauchon, Bispo de Beauvais.
No dia 30 de maio de 1431, armou-se uma fogueira na praa do Velho
Mercado, em Rouen, onde se consumiu, aos olhos da estupidez humana,
a jovem profetisa francesa, que pagou com a morte, morte infamante, o
amor que votava ao seu pas. Este momento do martrio de Joana foi
imortalizado por Claudel, em seu oratrio Joana na Fogueira.
Os Profetas Escandinavos
As antigas narrativas religiosas nrdicas tambm reservam
considervel espao profecia.
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Os Eddas (existem os Eddas poticos e os Eddas prosaicos) no
mostram apenas os prprios deuses entregue ao jogo das adivinhaes,
mas encontram-se neles notveis profecias cosmolgicas que se referem
ao Ragnarok, a saber, o crepsculo dos deuses, ou melhor ainda, ao
fim dos tempos.
Eis a descrio desse acontecimento, um verdadeiro apocalipse,
que inspirou Wagner (1813-1883), o imortal autor de Tristo e Isolda:
Ento, Ganglari disse: O que h a respeito do Ragnarok? At
agora nunca ouvi falar nisso.
Hr respondeu: H muita coisa a dizer. Primeiro teremos um
inverno que se chama fimbulvetr (inverno terrvel). Ento torvelinhos de
neve cairo de todas as direes do vento. Teremos um frio rgido e
ventos cruis, e o Sol no aparecer. Teremos trs invernos seguidos,
sem vero entre um e outro. Mas antes viro os outros trs invernos, e
haver grandes batalhas no mundo inteiro. E os irmos mataro uns aos
outros, movidos pela ganncia, e ningum poupar seu pai ou seu filho
em matria de assassinato ou de incesto (...). Em seguida, acontecer um
fato muito notvel: o lobo engolir o Sol, e os homens descobriro que
isso lhes traz grande prejuzo. Outro lobo engolir a lua, e isso ser
tambm um prejuzo. As estrelas desaparecero do cu. preciso dizer
que a Terra tremer. O mar se quebrar sobre a terra, porque a serpente
de midgard se contorcer em sua fria de gigante e subir terra. Quando
isso acontecer, heimdall se levantar e soprar com todas as suas foras
em Gjallarhorn. Chamar todos os deuses e eles se reuniro em conselho.
Ento din cavalgar at a fonte de Mnir e lhe pedir conselho, para si
prprio e para o seu exrcito. O freixo Yggdrasill tremer, e nenhuma
criatura no cu e na terra estar livre do pavor. Os Ases (deuses
-
escandinavos da Natureza) e todos os einherjar colocam suas armaduras
e se dirigem para a batalha na plancie.
Na frente cavalga din com seu elmo de ouro e a bela
cota de malha, e sua lana Gungnir. Est indo ao encontro
do lobo Fenrir.
Esse fim de mundo, porm, ser seguido por sua regenerao. No
Edd potico, o vidente profetiza a volta dos velhos tempos, depois de
Ragnarok:
Vejo emergir/ pela segunda vez, / uma terra de ondas, eternamente
verde; / as cascatas caem, / a guia plana no alto / e, nas montanhas, /
apanha os peixes / Os Ases se renem / na plancie de Idi. / Falam na
grande serpente, / rememoram / os grandes feitos / e as antigas runas /
de Fimbulty. / L se encontraro, / entre as folhagens, / as maravilhosas
/ mesas de ouro / que as pessoas tinham / nos dias de outrora. (Ls
religions de /Europe du Nord, citada por Grard de Sede.)
Identifica-se nos Eddas uma intrigante encenao dos ciclos
reencarnatrios, que se encontra na base do autntico e espiritualmente
inspirado profetismo.
Profetas Da Idade Mdia E Da Renascena
Dentre os profetas que despontaram na Idade Mdia e na era do
Renascimento destacam-se as figuras de Roger Bacon e Robert Nixon,
ambos ingleses, e o italiano Leonardo da Vinci.
Roger Bacon
Roger Bacon, filsofo e profeta ingls, nasceu em lichester
Somerset, em 1214, e faleceu em Oxford em 1292. Cognominado o
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Doctor Mirabilis, estudou nas Universidades de Oxford e de Paris. Aps
ter lecionado, por algum tempo, em Oxford foi obrigado a deixar a
ctedra, estabelecendo-se em Paris (Frana), onde levou uma vida
agitada. Roger Bacon era de temperamento forte e crtico, o que lhe valeu
srios contratempos com as autoridades eclesisticas de sua poca. A sua
obra mais importante a chamada OPUS MAJUS, publicando, ainda,
OPUS MINUS, e a OPUS TERTIUS, todas condenadas pela
Inquisio. um dos maiores representantes da cincia experimental de
seu tempo, e foi o primeiro a perceber a inexatido do calendrio Juliano
e os pontos vulnerveis do sistema de Ptolomeu.
O Filsofo
Para Roger Bacon o sentido primordial da Filosofia e das cincias
explicar a verdade revelada na escritura: Una est tantum sapientia
perfecta qual in sacra Scriptura totaliter continetur. Deus ensinou aos
homens a filosofar, pois eles por si ss no conseguiram; mas a malcia
humana fez com que Deus no manifestasse plenamente as verdades e
estas se misturassem com o erro. Por isto, a sabedoria verdadeira
encontra-se nos primeiros tempos e por isso h que busca-la nos filsofos
antigos. Bacon reconhece trs modos de saber: a autoridade, a razo e a
experincia. A autoridade d-nos a crena; a razo proporciona a
compreenso das coisas que formam o objeto de crena; a experincia,
constitui a fonte mais slida da certeza. Conforme Bacon, deve-se
entender por experincia no apenas a que se alcana pelos sentidos
externos e nos oferece o mundo corpreo, mas tambm a experincia
proporcionada pela iluminao interior.
-
O Profeta
Em sua Epstola de Secretis, editada em 1268, Bacon profetizou
as seguintes invenes:
automvel... carruagens se deslocaro com incrvel rapidez
sem o auxlio de animais.
elevador... um engenho pelo qual o homem poder subir ou
descer qualquer parede.
pontes penseis ... sem pilares ou qualquer apoio.
navios ... barcos podero ser impelidos sem remos nem
remadores, de tal forma que naus de grande porte navegaro rios e mares
sob o governo de um nico homem, mais celeremente que se fossem
tripulados.
submarino ... possibilitar ao homem viajar no fundo do
mar.
avio ... instrumento de voar no qual um homem, sentado
confortavelmente e meditando em qualquer tema, poder singrar os ares
com asas artificiais feio de aves.
bombas ... Um material apropriado em quantidade
moderada, no maior que o polegar de um homem, faz um rudo horrvel
e um fortssimo claro. Toda uma cidade ou um exrcito inteiro pode ser
destrudo.
Essas previses foram expressas duzentos anos antes de Leonardo
da Vinci. Cristvo Colombo teria se baseado nas previses de Roger
Bacon que afirmava ser o mar entre o fim da Espanha a oeste e o
-
comeo da ndia a leste navegvel em muitos poucos dias, se os ventos
forem favorveis. Reagindo s injustas perseguies de parte dos seus
superiores da ordem franciscana, escreveu ao papa Clemente IV,
relatando que era vtima da incompreenso de seus companheiros
eclesisticos, justificando que suas descobertas cientficas no
contrariavam os dogmas da Igreja (a propsito, criados luz das
convenincias humanas e do entendimento tacanho das leis naturais). O
papa se sensibilizou com a situao de Bacon, solicitando que lhe
enviasse, apreciao secretamente , suas teorias. sorrelfa,
longe, ento, da vigilncia sistemtica de seus pares, o filsofo elaborou,
rpida e eficientemente, trs compndios cientficos: Opus Majus,
Opus Minuse Opus Tertius. O chefe da Igreja Catlica leu os
trabalhos de Bacon, morrendo um ano depois, em 1268. O novo papa
Gregorio X, que subiu ao trono com o falecimento do papa Clemente IV,
no aprovando a atitude de seu antecessor, ordenou que se queimassem
(auto-de-f) os livros de Roger Bacon. O tribunal da Inquisio
condenou o talentoso e genial franciscano a quatorze anos de priso.
Libertado em 1292, viveu mais dois anos e faleceu em Paris.
Robert Nixon
O jovem profeta ingls Robert Nixon era um campons retardado
e analfabeto. Filho nico de pequenos agricultores do Condado de
Cheshire, Nixon nasceu em 1467. Ainda adolescente iniciou-se no
trabalho rude da lavoura, nica ocupao, julgava sua famlia, altura
de seu retardo, comparvel, dizia-se, inteligncia dos animais de
trao. Acrescente-se que Robert Nixon comia desbragadamente e era
medonho, assustando as pessoas que o viam pela primeira vez. Sua
cabea era imensa e irregular e seus olhos pareciam que iam saltar das
rbitas. Certo dia previu, com admirvel preciso, a morte de um animal
-
da fazenda vizinha. Impressionado com o fato, Lorde Cholmondeley,
espcie de prefeito em Cheshire, levou-o para a sua propriedade, na
localidade de Royal Valley, a fim de se certificar dos seus dons
profticos. Nada de extraordinrio aconteceu, retornando Nixon ao seu
arado. Certa ocasio, porm, quando estava trabalhando no roado,
parou, de repente, e se quedou, pensativo, a olhar para o alto. No falava
nada. Apenas perscrutava o cu. O capataz desceu-lhe, no lombo, as
correias que usava para estimular os animais. Nixon permaneceu
impassvel. Uma hora levou nesse xtase, como se nada existisse a sua
volta, levando o capataz, e as pessoas que acorreram ao local, ao
desespero. Mais tarde, disse que viu coisas que no sabia explicar, e que
nenhum homem viu.
O que o profeta de Cheshire vira eram flashes da Histria futura
da Europa, especialmente da Inglaterra, a exemplo da Guerra civil
inglesa de 1642; o grande incndio de Londres em 1666 (tambm
previsto por Nostradamus); A Restaurao: perodo caracterizado pela
volta da monarquia aps a morte de Cromwell, e marcado pela retomada
do poder por Carlos II, rei da Inglaterra de 1660 a 1685. Nixon viu,
tambm, o reinado de Guilherme de Orange e a Revoluo Francesa.
Em 22 de agosto de 1485, Robert Nixon realizava seu habitual
trabalho na lavoura, quando, sem nenhuma razo, parou e mais uma vez,
perscrutou o cu. De repente, comeou a pular pelo campo, gritando e
agitando seu chicote como uma espada:
Vamos Ricardo! Avante, Henrique! Avante com a tropa!
Agora, Henrique, com toda a tropa! Por sobre o fosso, Henrique! Por
sobre o fosso, e a batalha est ganha! Com um sorriso arrematou: A
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batalha terminou. Henrique venceu. E retornou ao seu arado, como se
nada tivesse acontecido.
Naquele mesmo dia, 22 de agosto de 1485, na localidade de
Bosworth, o Conde de Richmond vencia e matava em cruenta batalha o
cruel Ricardo III, e se tornava o rei Henrique VII.
A profecia de Robert Nixon se cumprira integralmente, causando
estupefao a todos que dela tomaram conhecimento. Alguns dias
depois, ele saa, desesperado, batendo de porta em porta rogando que o
protegessem dos homens do rei. Eles vo me prender! Eles vo me
matar de fome! Ningum deu importncia aos apelos do profeta. Como
que Henrique VII iria se importar com um sujeito to insignificante; e,
ainda mais, convoc-lo Corte? E, se assim acontecesse, por que
morreria de fome no palcio real, onde imperava a fartura?
Pouco tempo depois, emissrios do rei chegavam a Cheshire
procura de Robert Nixon, levando-o, sob a admirao de todos, para a
Corte. Henrique VII tivera conhecimento da profecia e queria interrogar
Nixon sobre alguns detalhes que ele julgava importantes. Nixon tornou-
se um dos favoritos do rei. Um escriba o acompanhava noite e dia, atento
a qualquer manifestao proftica. Ele, em verdade, predisse muitos
acontecimentos, incluindo uma invaso da Inglaterra por soldados com
chifres nos capacetes...
A parte do castelo real de que mais gostava Nixon era a cozinha.
Sempre com fome, e para o desespero dos cozinheiros, devorava tudo
que encontrava pela frente, at mesmo os pratos feitos, com esmero, para
o rei. Certa ocasio (corria o ano de 1485), Henrique VII saiu caa,
ficando duas semanas ausente. Os cozinheiros, que no suportavam mais
os reiterados ataques de Nixon despensa real, resolveram trancafiar o
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profeta em um cubculo e se esqueceram dele. Quando o monarca
retornou, sentindo a falta do profeta, perguntou por ele. Descobriram-no
no tal cubculo morto de fome e desidratado. Nixon poca, estava na
plenitude de seus dezoito anos...
Leonardo Da Vinci
Leonardo da Vinci, contemporneo de Coprnico e Cristvo
Colombo, nasceu em Vinci, aldeia da alta Toscana, perto de Florena,
em 1452, uma das regies mais belas da Itlia do Norte, e morreu em
maio de 1519. Seu pai, Piero, exercia a profisso de notrio e era muito
estimado dos habitantes da pequena aldeia. Antes do casamento, tivera
Leonardo. A me, Catarina, uma humilde camponesa, vivera com o filho
durante cinco anos, quando Piero, assumindo publicamente a
paternidade, se encarregou de sua manuteno e educao. Leonardo j
estava com vinte anos, quando Piero se casou com Albiera Amadori, que
lhe no deu filhos, falecendo pouco tempo depois do consrcio.
Leonardo viveu por alguns anos em Florena, aprendendo a arte
de pintura com o mestre Andrea del Verrochio, que no escondeu o
entusiasmo assim que constatou o extraordinrio talento do jovem da
Vinci, que iria, de fato, tornar-se um dos mais geniais artistas de todos
os tempos. quela poca, Florena estava sob o governo e o domnio
poltico da famlia Mdicis, mas exatamente de Lorenzo de Mdicis.
Leonardo sentia que precisava lutar, e muito, para conquistar um
destacado lugar entre os pintores de sua poca, especialmente quando
refulga a genialidade artstica do prprio Verrochio e de Botticelli. Em
1582, Leonardo partiu para Milo e ofereceu ao Duque Ludovico, o
Mouro, seus servios de engenheiro militar, escultor e pintor. Eis alguns
trechos da carta escrita por Leonardo da Vinci (vide a obra de Jos Poch
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Noguer) ao Duque de Milo, em que se ob