das jóias negras do império às jóias da terra iluminismo ......especialidade história moderna e...

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1 Das Jóias Negras do Império às Jóias da Terra Iluminismo, Economia e Reforma em Angola (1780 1810) Edgar Alexandre Pinto Teles Dissertação de Mestrado em História Especialidade História Moderna e dos Descobrimentos Outubro, 2015

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Das Jóias Negras do Império às Jóias da Terra

Iluminismo, Economia e Reforma em Angola (1780 – 1810)

Edgar Alexandre Pinto Teles

Dissertação de Mestrado em História

Especialidade História Moderna e dos Descobrimentos

Outubro, 2015

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“O mesmo Sistema económico, que em geral fica discorrido a respeito do Brasil, convém aos

domínios de África Ocidental: porém com a Diferença de que, estes não são próprios para a

agricultura, como o Brasil; constituindo a sua principal utilidade, em darem escravos negros

para os trabalhos necessários, e mais símplices das colónias da América.1”

Carta reduzida da parte Meridional do Oceano Atlântico, B.N CC- 915-R

1 M.J.R, Economia Politica, Lisboa, Banco de Portugal, 1992, p. 69.

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Agradecimentos:

Maria Rosa dos Santos Pinto Teles de Sousa

(Minha Mãe que nunca me deixou desistir)

Jaime dos Santos Pinto

(Meu tio e amigo)

Maria Lucia Torcato

(minha amiga, mana)

Mauro Costa

(Meu Bro, Camarada, e Amigo!)

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Uma dissertação, embora um exercício singular, nunca o é na sua totalidade. É –

na verdade – um exercício onde a interacção com, quer colegas, quer com

investigadores, permite que se abram horizontes de reflexão e de investigação.

Em primeiro devo uma palavra de grande apreço ao meu Orientador, Professor

Doutor Diogo Ramada Curto, cujas orientações e correcções, não só foram cruciais para

me levar a bom porto; assim como os seus conhecimentos, directrizes metodológicas, e

doutas aulas que nos levaram a desafiarmos o que nós próprios achamos. Agradeço

ainda todo o ânimo que me deu para poder navegar este trabalho na sua plenitude

Académica.

À Maria Guedes – minha colega, que se dedica também ao estudo de Angola –

cujas recomendações bibliográficas e debates sobre as diferentes questões, me

permitiram muitas vezes redimensionar e repensar várias questões académicas.

Ao Filipe Soares, e à Mariana Castro por todos os momentos de galhofa, e

conversas frutuosas para o meu trabalho, na mesma linha agradeço à Rute Mendes.

Dada a dimensão estatística, não poderia deixar de mencionar, quer a Rita

Morte, quer a Cláudia Cardoso, as quais me deram preciosas informações, sobre como

trabalhar a dimensão estatística do Excel.

À Ana Filipa Caldeira, que muito amavelmente fez a correcção do Português, e

da ortografia para garantir a qualidade que se espera que tenha uma dissertação de

mestrado. Assim como a Rui Pepe, que me deu uma grande e preciosa ajuda com o

texto, e a já cidade Maria Lúcia Torcato.

De igual modo a João Duque, Paula Salgado, Emanuel Pina, Carlota Tomé,

Teresa Santos que, além de alguns dos nomes citados, estiveram presente na defesa da

mesma dissertação no momento, ou no rescaldo.

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A todos os funcionários do A.H.U, sem os quais, pelo seu auxílio, sua prestabilidade,

suas recomendações, sua paciência, fui crucial para a realização deste trabalho

académico. Inclusive, que segundo as regras do Arquivo, me deixaram fotografar

imensos documentos, cuja recolha facilitou imenso o meu trabal Aos funcionários da

Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, por todo o seu auxílio e

préstimos.

Igualmente aos funcionários da Biblioteca do I.S.C.S.P, por toda a ajuda e

disponibilidade demonstrada, citando em particular Manuel Rodrigues.

À UITI (Universidade Internacional da Terceira Idade) onde faço voluntariado,

pela compreensão, quer do reitor, quer dos meus alunos, face a minha actividade

académica, e suas responsabilidades.

A todos os meus colegas, de História e de outras áreas académicas, pelos

momentos de alegria que me concretizaram, essenciais para recarregar ânimo e estímulo

para as minhas tarefas académicas.

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Das Jóias Negras do Império às Jóias da Terra

Iluminismo, Economia e Reforma em Angola (1780 – 1810)

Edgar Alexandre Pinto Teles

Resumo

PALAVRAS-CHAVE: Angola, Séc. XVIII, Pensamento Económico, Iluminismo,

Projectos Coloniais, Atlântico Séc. XVIII, História Económica, Economia Colonial.

Esta dissertação tem como principal objectivo – dentro dos projectos coloniais

do século XVIII – equacionar o papel de Angola nos mesmos percursos, no que toca ao

económico no final do século XVIII.

A produção académica sobre este assunto – seja no campo do pensamento

económico, ou no da História Económica – ainda que se debruce algumas vezes sobre

São Tomé e Príncipe – centra-se, maioritariamente sobre o Brasil e a Índia;

negligenciando com isto Angola, que era a principal região exportadora de escravos do

Portugal ultramarino deste período, aspecto que é da maior importância.

De igual modo, este trabalho pretende ainda reflectir sobre possíveis reformas e

projectos no campo económico, integrando-os com a economia-base no eixo português

no Atlântico; equacionando de que forma poderia ser um complemento, ou uma forma

de ruptura com as bases económicas daquela colónia, em conexão com a economia

internacional.

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From the Black Jewels of the Empire to the Earth Jewelry -

Enlightenment, Economy and Reform in Angola (1780 - 1810)

Edgar Alexandre Pinto Teles

Abstract

KEY WORDS: Angola, XVIII Century, Economical Thought, Enlightenment, Colonial

Projects, XVIII Century Atlantic, Economical History, Colonial Economy.

This Thesis aims – as within the colonial projects of the late the eighteenth

century – to study Angola’s role in slave trade from an Economic point of view.

The academic literature on this subject - whether in the field of economic

thought, or of economic history - even if sometimes lean on São Tomé and Principe -

focuses mainly on Brazil and India; therefore neglecting Angola, which was the main

exporting region of slaves to overseas Portugal in this period; an event that is of utmost

importance.

Similarly, this work intends to reflect on possible reforms and projects in the

economic field, integrating them with the economy, based on the Portuguese Atlantic

axis; equating on which way that could be a complement or a way to break with the

economic bases of that colony, in connection with the international economy.

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Índice

Introdução …………………………………………………………….…………….… 1

Contexto Historiográfico ……………………………………………………………... 3

Fontes e Problemas …………………………………………………………………… 5

Capítulo 1: Exportação de Angola e Benguela para o Reino ………………………. 7

1. As ideias económicas e sua aplicação a Angola …………………………………... 7

1.2 O Projecto, Mercantilismo, Agrarismo na Prática ………………………… 21

1.2.1 Os Bens das Fábricas e as tendências de exportação ……………... 21

1.2.2 A Alfândega de Luanda, os mapas de Benguela e a

Tendência de exportação ……………………………………………………..

23

1.2.3 Indústria ……………………………………………………………….. 26

1.2.4 Produtos Agrícolas …………………………………………………….. 31

Capítulo 2: Escravos, Fazendas, Permuta, e o Projecto ………………..…………. 39

2.1 O projecto na vertente escravocrata e a permuta no sertão..………………... 39

2.1.1 Bebidas …………………………………………………………………. 40

2.1.2 As Armas ……………………………………………………………….. 46

2.2 As Fazendas da Índia e a Historiografia Recente ……………………………... 51

2.2.1 A Exportação das Fazendas e o Comércio da Ásia ………………….. 52

2.2.2 As redes mercantis e o tráfego numa dimensão atlântica …………... 55

2.2.3 As Fazendas e o peso no tráfego negreiro ……………………………. 61

2.3 O tráfego Negreiro ………………………………………………………………. 67

2.3.1 O tráfego atlântico e a dimensão atlântica do Projecto ……………... 67

2.3.2 O Tráfego Negreiro a escala regional e a questão da produção

no Brasil ……………………………………………………………………… 72

2.3.3 A exportação para o Brasil: Nordeste e Bahia ………………………. 78

2.3.4 O Comércio Intra-Africano …………………………………………... 83

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2.3.4 Os Escravos o Pilar do Império ………………………………………. 84

Capítulo 3: Terra, Sertão Projectos e Entraves …………………………………… 89

3.1 A aclimatação de produtos em Africa, e a relação com as fábricas e a

reexportação do reino ……………………………………………………………….. 89

3.1.1 A Aclimatação …………………………………………………………. 89

3.1.2 Obstáculos à Permuta ………………………………………………… 98

3.1.3 Soluções Possíveis …………………………………………………….. 101

3.1.4 As Viagens Filosóficas, Novos Projectos sobre novas directrizes …. 104

3.2 As Plantas Medicinais e o tráfego Negreiro …………………………………... 111

Conclusão …………………………………………………………………………… 123

Bibliografia …………………………………………………………………………. 135

Apêndices …………………………………………………………………………… 157

Anexos ………………………………………………………………………………. 209

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Índice de Tabelas:

Tabela 1 ……………………………………………………………………………. 157

Tabela 2 ……………………………………………………………………………. 158

Tabela 3 ……………………………………………………………………………. 158

Tabela 4 ……………………………………………………………………………. 159

Tabela 5 ……………………………………………………………………………. 160

Tabela 6 ……………………………………………………………………………. 161

Tabela 7 ……………………………………………………………………………. 161

Tabela 8 ……………………………………………………………………………. 162

Tabela 9 ……………………………………………………………………………. 163

Tabela 10 …………………………………………………………………………… 164

Tabela 11 …………………………………………………………………………… 167

Tabela 12 …………………………………………………………………………… 169

Tabela 13 …………………………………………………………………………… 170

Tabela 14 …………………………………………………………………………… 171

Tabela 15 …………………………………………………………………………… 172

Tabela 16 …………………………………………………………………………… 173

Tabela 17 …………………………………………………………………………… 174

Tabela 18 …………………………………………………………………………… 174

Tabela 19 …………………………………………………………………………… 175

Tabela 20 …………………………………………………………………………… 177

Tabela 21 …………………………………………………………………………… 185

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Índice de Gráficos:

Gráfico 1 ……………………………………………………………………………. 188

Gráfico 2 ……………………………………………………………………………. 189

Gráfico 3 ………………………………………………………………………….... 190

Gráfico 4 ……………………………………………………………………………. 191

Gráfico 5 ……………………………………………………………………………. 191

Gráfico 6 ……………………………………………………………………………. 192

Gráfico 7 …………………………………………………………………………… 193

Gráfico 8 ……………………………………………………………………………. 194

Gráfico 9 ……………………………………………………………………………. 195

Gráfico 10 …………………………………………………………………………... 196

Gráfico 11 …………………………………………………………………………... 197

Gráfico 12 ………………………………………………………………………….. 198

Gráfico 13 …………………………………………………………………………... 199

Gráfico 14 …………………………………………………………………………... 200

Gráfico 15 ………………………………………………………………………….. 201

Gráfico 16 ………………………………………………………………………….. 202

Gráfico 17 ………………………………………………………………………….. 203

Gráfico 18 ………………………………………………………………………….. 204

Gráfico 19 ………………………………………………………………………….. 205

Gráfico 20 ………………………………………………………………………….. 206

Índice de Mapas:

Mapa 1 ……………………………………………………………………………… 207

Mapa 2 ……………………………………………………………………………… 208

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Introdução:

O trabalho por mim elaborado fruto de labuta, que nasceu da leitura de

um documento do Arquivo histórico ultramarino, que me instigou a reflexão sobre como

Angola se enquadraria em um mundo Atlântico em mudança. Ao pesquisar sobre o tem,

constatei que, neste âmbito, não há quase nenhuma bibliografia, ou um relevante

produção. O que, a nível pessoal, me deixou perplexo. A região em questão, ainda que

aparentemente periférica, era uma região importante devido ao tráfego negreiro.

O final de Setecentos, fruto quer do pensamento económico, quer da conjuntura

internacional, conhece uma transformação nas relações colonia – metrópole que, está

vinculado ao iluminismo. Esta conjuntura não é indiferente a Portugal – ainda que só a

partir da segunda metade do século XVIII – onde, dentro do paradigma da história

económica, e na Academia Real das Ciências, ou quer a nível dos órgãos políticos,

foram elaborados toda uma série de projectos que teriam como objectivo uma maior

interligação entre as partes do Império Português com a Metrópole.

Dada esta lacuna, e os exaustivos estudos já feitos sobre o Brasil, no que toca a

economia, resolvi que era altura de trabalhar a margem Africana do Atlântico. A

transformação no estudo da temática, não está só relacionada com a historiografia luso-

brasileira, mas também com a de história de África. Segundo J.D Fange, apesar de ainda

dominada pelo tráfego negreiro, começa a haver uma procura de outras temáticas

económicas estudando-se produtos como as madeiras exóticas. Os estudos feitos em

relação ao Brasil, tem sido no âmbito de economia pura. Neste campo, do lado

português destaco as obras de José Luís Cardoso, Jorge Pedreira (em economia pura

relativa ao Brasil) Valentim Alexandre (no mesmo âmbito), Enquanto os feitos em

Portugal, os poucos que ainda são, são feitos mais no âmbito das ideias económicas.

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Mesmo do plano económico, para o período em estudo, há algumas referências;

no que toca à Economia, José Jobson de Arruda (1980) analisa África dentro da

importância na reexportação das diferentes colónias, onde o espaço geográfico em

estudo só corresponde a cerca de 5,3% das reexportações, ficando só acima das ilhas,

Pará, Paraíba, Santos, Ceará.

Para África – não especificando a que parte – António Alves Caetano indica que

o tráfego era excedentário, de Portugal para o mesmo continente, chegando a

corresponder o saldo a 96, 8% a quando comparado com o do Brasil. A temática em

questão, quer da parte da historiografia Brasileira, quer da Portuguesa, tem dado um

grande enfâse ao Brasil, passando por parte de África a São Tomé, numa abordagem

económica, como os estudos de caso preferências. Mas como está bem presente nesta

introdução, os estudos são dedicados mais ao Brasil, e para Angola de forma mais

modesta, e mais próxima ao tema que abordo, no contexto dos trabalhos dos

naturalistas.

Ao ler a documentação, e a bibliografia, não pude deixar de elaborar as seguintes

questões. Como já mencionei, Angola era mais conhecido devido ao tráfego negreiro,

mas dentro da conjuntura de transformação, teria o mesmo espaço ficado imune ou

arredado das transformações e dos projectos da coroa no que toca ao ultramar? E caso as

haja, sobre que parâmetros as mesmas questões foram elaboradas? Seguiriam as mesmas

tendências que as restantes praças ultramarinas, ou teriam algum toque de originalidade?

Ao abordar Angola, tenho como principal objectivo, ver como as reformas foram

pensadas, e como interagem com as actividades económicas tradicionais da mesma

praça. Como se conjugariam as reformas, com as práticas económicas.

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Contexto Historiográfico

No que toca as reformas, no contexto do fim do século XVIII, já começa a haver

alguma produção historiográfica. Vejamos agora no plano da reforma, e sobre a

economia o que é que se tem escrito sobre Angola. Apesar de pouca, algo tem sido

escrito. De recente destaca-se a obra de Catarina Madeira Santos, sobre a actuação de D.

Rodrigo de Sousa Coutinho mas, apesar de focar alguns aspectos económicos, o cerne

da tese é mais o político. A par destas questões, em consonância com os planos

reformistas, já há algumas teorias elaboradas para Angola nesse sentido. Uma teoria

defendida por Maria Goreti Leal Soares é de que não houve nenhuma reforma, nem

tentativa da mesma em Angola no reinado de D. Maria I. Perspectiva que, na sua

generalidade, não reúne o consenso historiográfico. Já noutra linha, da exploração do

território, dados as condições materiais da presença europeia, Ronald Raminelli, refere

que, quer pela instabilidade da coroa, ou pouco interesse por Angola, os projectos de

criação de fortalezas não são concretizados; não se realizando um reconhecimento

efectivo do sertão africano quedando-se pelas viagens dos naturalistas. Apesar de

equacionar as viagens dos naturalistas, este reduz a aplicação de algum projecto apenas

a acção dos naturalistas. Isto obriga-nos a considerar, o conceito de projecto. Um

projecto, não implica a concretização do mesmo, implica sim a ideia de se querer

dimensionar toda uma série de intenções num determinado espaço, numa determinada

altura, com maior coerência ideológica ou não. Logo, o mesmo, não implica a sua

concretização, tem subjacente a ideia de estudo da sua teorização e objectivos.

Sobre essa questão André Mansuy - Diniz Silva, considera que a grande fonte

que D. Rodrigo de Sousa Coutinho teve para Angola, para a elaboração das reformas, os

escritos de seu pai. Posição que Catarina Madeira Santos, igualmente defende. Num

artigo não publicado, Diogo Ramada Curto, enfatiza a literatura que tinha ido com D.

Miguel de Mello, na qual – segundo o mesmo – está inserida numa vertente prática do

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iluminismo. A problemática abordada por este historiador, a questão da transmissão dos

saberes, refere a existência de uma literatura que tinha como a enfase a aclimatação que,

tinha intrínseco, uma extensão de um projecto que pode ser enquadrada – numa leitura

de conjunto – para o ultramar português.

A questão da reforma, não fica só pela forma como era equacionada a sua

elaboração, mas também por um debate historiográfico sobre o tema. Todo o esforço

reformista foi aplicado – na óptica da historiografia – só no século XIX. Estas são fruto

da independência do Brasil, numa forma de - manter a relação entre esses dois polos - e

por outro lado enfortecer os laços da metrópole com as diferentes praças de África. O

principal objectivo destas reformas seria incentivar nos homens de negócios

investimentos naquela praça.

Esta questão entra na questão do fomento plano económico que, quer para a

historiografia sobre Portugal, quer sobre a historiografia das praças coloniais, nunca se

estudou foi abordada. Victor Pereira, diferenciando dos planos anteriores ao fim do

Estado Novo, considera que, dada a visão global, e interacção regional, se deve estudar

o processo económico em conjunto. Por outro lado, o mesmo, afirma que, dentro

projecto económico, havia objectivos de dar coesão as relações económicas entre

Portugal e seu Ultramar, o há também um politico de manter a soberania Portuguesa. O

estudo deste autor aponta a questão para o século XX, mas não será uma continuidade

de períodos anteriores?

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Fontes e Problemas

Vistas as bases da mesma problemática, o que as fontes podem dizer e como

podem ser operadas. O universo documental por mim usado, nesta dissertação vai desde

as fontes estatísticas, das balanças comerciais do reino, até a documentação do Arquivo

Histórico Ultramarino, que é a base principal do trabalho aqui presente.

As primeiras permitem estabelecer um universo estatístico geral, para definir as

tendências das trocas comerciais entre Angola e Portugal. No segundo, permite uma

abordagem quer teórica, devidas as missivas e correspondência dos diferentes

governadores, com a coroa que permitem constituir um bom campo teórico.

As fontes para o período em estudo, no plano geral, permitem delinear duas

fases distintas para a economia em Angola. Fases estas que correspondem as seguintes

balizas cronológicas: a primeira de 1780 – 1796 onde a economia colonial –

especificamente no caso de Benguela - foi abordada dentro das transacções tradicionais

(Escravos, Marfim, Cera) discurso e prática que perdurou até aos primórdios de 90 do

século XVIII; uma segunda a partir de 1796 – mas formalizada para Angola em 1798 –

pode-se observar uma mudança no discurso sobre o aproveitamento económico para

Angola onde estava presente a diversificação da mesma.

Visto que há diferença do que se pretende perspectivar para Angola, no período

em questão convêm perceber as bases desse projecto em articulação, quer com projectos

anteriores, quer com o pensamento económico.

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Um documento de instruções ao futuro governador de Luanda dá a estes

objectivos que ele deve concretizar a nível económico, além das metas tradicionais

temos:

A criação de um Jardim Botânico em Angola

Tomar em atenção as plantas de subsistência

Minas (que foram mencionadas após a escravatura, o que indicia uma particular

atenção)

Aumentar a exportação de escravos, Cera, e Marfim;

A criação de meios para incentivos as culturas que se pretenderiam incrementar,

quer de subsistência quer de outras.

Já no que toca ao caso de Benguela, as directrizes foram no âmbito de: aumentar a

introdução dos bens alimentares e industriais do reino naquelas paragens. Os objectivos

expressos para esta praça, não eram exclusivas a Benguela, mas eram extensíveis ao

mundo colonial português. Por outro lado, estavam subjacentes a esta frase, de aumentar

a exportação, e respectivo consumo, dos bens do reino, quer industriais, quer

alimentares, as bases do Mercantilismo Clássico. Agora como se conectam as questões

levantas por ele, com todo o contexto atlântico já mencionado.

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Capítulo 1: Exportação de Angola e Benguela para o Reino

1. As ideias económicas e a sua aplicação em Angola: As ideias

Antes de começar, há que ter em atenção as dinâmicas económicas e comerciais

de Portugal no período em questão. Segundo António Manuel Hespanha, só no final do

século XVIII, é que há um projecto claro e definido abrangendo todo o Império

Português1. Já Gabriel Paquete teoriza que estava subjacente, às reformas, um projecto

politico que se pode enquadrar no que é designado por ilustração, mas que não se

resume a esta vertente. Nesta linha as reformas tinham como objectivos balizares:

fortalecer os laços das colónias com Portugal de modo a garantir a independência lusa;

contrariar a supremacia britânica; e garantir a inércia dos movimentos independentistas,

mantendo a coesão do Império2. Na prática económica deste período Gabriel Paquete,

refere a potencialização das regiões economicamente periféricas, mas baseada não em

igualdade mas em desigualdade e hierarquia.

Parte dessas transformações estão patentes no pensamento económico, onde

estão delineadas ideias teóricas mas com um objectivo concreto para o Ultramar. Mas

antes de passarmos a potencialidade da execução deste projecto vejamos em como se

coaduna com o pensamento económico em Portugal. A temática historiográfica em

questão, tem sido alvo de um debate, se a sua génese era mercantilismo ou antes

fisiocracia. É primordial definir este campo teórico, para se perceber, as medidas, os

objectivos, na prática, como também, para definir em que parâmetros em que as

reformas poderiam operar, e quais os objectivos que estas davam à economia.

Aqui, a historiografia mais antiga defende que o pensamento económico era

fisiocracia, o que tem sido questionado recentemente considerando-se estas tendências

1 António Manuel Hespanha, “A Constituição do Império Português. A revisão de alguns enviesamentos”,

in O Antigo Regime nos Trópicos A Dinâmica Imperial Portuguesa (séculos XVI – XVIII) Org. João

Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria Fátima Gouvêa, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, p.

168. 2 Gabriel Paquette, Imperial Portugal in the age of Atlantic Revolution. Cambridge, Cambridge University

Press, 2013, p. 21.

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como múltiplas correntes de pensamento. Desde a recensão de nuvem de Juno, que

sintetizou o debate, começaram a delinear-se as principais linhas de abordagem sobre o

tema. O debate em torno desta questão, tem assumido os seguintes parâmetros:

fisiocracia, agrarismo, continuidade do mercantilismo, ou naturalismo económico. Outra

questão, que é uma das abordagens mais recentes, é a questão da continuidade do

mercantilismo.

Gabriel Paquette, para o período em questão, considera o discurso das MEARC,

que define como agrarista, como uma reacção ao Mercantilismo de Pombal11. Mas como

se consagra esta questão, quer com a prática quer com a dinâmica mercantil Portuguesa

no final do século XVIII. Antes de começarmos a análise propriamente dita, há questões

que devem ser consideradas, optei por ter como base o Mercantilismo, visto ser a

corrente – ainda dominante - no período em si. Para não fugir ao tema, vou começar por

introduzir as bases do mercantilismo no final de setecentos, remetendo para a fonte e

contrapondo com as restantes campos interpretativos sobre o pensamento económico

neste período. A partir dai, irei proceder a análise das teorias económicas para este

período.

Ao falarmos do Mercantilismo, aplicado ao ultramar, falamos da questão da

exportação de modelos. Na forma como esta questão foi trabalhada, por Jorge Borges de

Macedo, tem subjacente que há uma elaboração teórica – no contexto do seu trabalho –

politica, que serve de modelo e é exportado para o Atlântico2. A rede atlântica

portuguesa – na sua arquitectura dos poderes – é uma rede na qual há vários poderes, e

várias formas de poder local. Estas coexistem fazendo com que haja, uma diversidade

de poderes num único espaço13. O mesmo modelo caracteriza-se, na óptica do mesmo,

1 Gabriel Paquette, op cit, p. 38. 2 Jorge Borges de Macedo, “The Portuguese Model of State Exportation” in The Heritage of The Pre-

Industrial European State, Lisboa, Arquivos Nacionais/ Torre do Tombo Divisão de Publicações,

1996, pp. 25 – 39. 3 António Manuel Hespanha “ Os Poderes num Império oceânico” in História de Portugal, Dir. José

Mattoso. Vol. IV, Lisboa, 1993, p. 395.

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por uma forte presença da religião e política, mas adaptando-se e, em determinados

casos, às realidades locais.

No caso das ideias económicas, questão bem presente, uma vez que estava

implícito um modelo a ser aplicado por uma autoridade dinástica, que a validava e

exportava para outras regiões do seu domínio. Este, neste contexto, passa por ser um

instrumento normificador, e instrumentalizador, que submete as intenções das colónias

aos objectivos da coroa. E, noutra leitura, um elemento de articulação entre a colónia em

si, e toda uma rede oceânica. Nesta perspectiva, podemos abordar – como paradigma –

os escritos de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que é um projecto para as Américas, mas

cujo modelo não se aplica só a mesma.

Já na óptica de José Luís Cardoso, usando como modelo o texto dos

melhoramentos da América, de autoria de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, afirma que há

um projecto baseado em dependência politica e unidade económica1. No tópico da

economia, passa pelo desincentivar da ligação directa entre as colonias, privilegiando-se

a ligação directa a coroa3. Nas mesmas memórias, não houve, da parte do mesmo

estadista, uma rejeição do Mercantilismo Clássico embora houvessem reformas2. Pelo

contrário, este estava presente na noção de dependência, e de que a coroa era a cabeça

da Monarquia. No entanto, segundo Catarina Madeira Santos, apesar de ainda ser dentro

de um cariz tradicional, – no plano geral dos objectivos de D. Rodrigo de Sousa

Coutinho - estes projectos apresenta dois princípios inovadores, no contexto colonial

português, a serem aplicados: A primeira indica que as possessões ultramarinas não

eram só um meio de elevação económica da metrópole, sendo que deveriam ser vistas

sobre a óptica da unidade política do império, assim como na relação directa destas com

1 José Luís Cardoso, “Nas Malhas do Império: A Economia politica e a Politica Colonial de D. Rodrigo

de Sousa Coutinho” in A Economia Politica e os Dilemas do império luso – brasileiro (1790 – 1822),

coord. Luís Cardoso, Lisboa, Comissão Nacional para os Descobrimentos Portugueses, 2001, p. 79.

1 Idem, Ibidem, p. 80. 2José Luís Cardoso e Alexandre Cunha, Discurso Económico e Politica Colonial no Império Luso-

Brasileiro (1750 – 1810), Tempo, Julho – Dezembro, 2011, V. 16 nº 31, p. 83.

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a metrópole1. Na prática, ao ver-se as datas do primeiro documento que, no contexto da

capitania de Benguela, esboça objectivos económicos para a mesma, tem inerente um

projecto colonial. O texto para Benguela, é de 1796, dois anos antes da data da redacção

e elaboração do texto de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, onde – quer num, quer noutro –

está presente uma ideia de produção das colónias para a Metrópole, que está dentro de

uma linha política específica.

O Mercantilismo na sua génese, deveria reforçar o poder do estado pela

economia, e usar o poder do estado para fortalecer o poder da economia2. Sobre o

mercantilismo há um debate, se era uma prática económica ou uma teoria económica

mas sobre a qual não irei desenvolver. Mas independentemente se, estamos diante de

uma construção teórica, ou estamos diante de um campo de arbítrios que consagram os

comportamentos práticos da economia, havia denominadores comuns. Segundo Jorge

Borges de Macedo as características que eram um denominador comum eram: a

importância da moeda como principal fonte de riqueza; a população numerosa e activa

era um garante de força e produção de riqueza; o estado tem a obrigação de procurar e

obter bens metálicos e proteger os que o já possuíam; a indústria, na medida que produz

bens valiosos com matéria-prima barata, com mão-de-obra humana deve ser

incentivada; as condições do salário devem estar sujeitas as exigências da concorrência

e do rendimento3. Já Adérito das Neves divide o conceito, de forma operatória em

modelos correspondendo ao Estado-nação: inglês (baseado no acto de navegação e

protecção aduaneira); no francês (de cariz manufactureiro) e no espanhol (que visava a

acumulação de metais preciosos o Bulionismo4)1.

1 Catarina Madeira Santos, Um Governo Polido para Angola Reconfigurar dispositivos de Domínio, Tese

de Doutoramento apresentada da F.C.S.H de Doutoramento em História da Expansão e dos

Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 2005, pp.92 – 93. 2 Rondo Cameron, História Económica do Mundo, 2ª edição, Mem Martins, Publicações Europa

América, 2000, p. 154. 3 Jorge Borges de Macedo, “Mercantilismo” in Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão,

Porto, Iniciativas Editoriais, 1962, p. 35.

4 Da palavra Bulion, ouro em pequenos lingotes termo usado para definir o tipo de mercantilismo em voga

em Espanha.

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Mas estas não são as únicas – como sintetiza Lars G. Magnunson – eram,

tratando-se não de uma elaboração teórica mas um campo prático pelo espectro social

envolvido na sua conceptualização: protecção estatal e pela salvaguarda dos mercadores

e das manufacturas nacionais2. Numa primeira análise, e no contexto do trabalho, estas

directrizes estão vinculadas a relação clássica metrópole colónia, na qual a primeira

abastece a segunda de alimentos e manufacturas estando a segunda obrigada a ceder as

suas matérias-primas. A economia portuguesa, no seu funcionamento, apresenta fortes

traços desta corrente pois seus objectivos eram: recolher o maior número de divisas de

ouro; ter um saldo comercial positivo3. Mas que tipo, ou que mercantilismo, é que está

presente no pensamento dos autores e na prática de setecentos.

Para o final de setecentos há toda uma reconceptualização do mercantilismo,

sendo este definido como: Mercantilismo ilustrado4 - entre outros conceitos – onde,

dentro de uma matriz politica Absolutista, havia a intenção de se proceder a grandes

reformas visando a liberdade comercial, mas dentro do sistema político vigente5. Na

mesma questão, Luís Cardoso define três modelos específicos adoptados, quer pela

Espanha, França e Grã-Bretanha6: no caso da Grã-Bretanha, ele refere – da parte dos

pensadores – a independência das colónias, mas incrementando as relações comerciais;

no que se refere a França, por sua vez, ele indica projectos coloniais baseado uma

1 Adérito Sedas Nunes, História dos Factos e Doutrinas Sociais: da formação histórica do

Capitalismo ao Marxismo, Lisboa, Editorial Estampa, 1992, pp. 29 – 36. 2 Lars G. Magnunson, “ Mercantilism” in A Companion to the History of Economical Thought, dir.

Warren J. Samuels; Jeff E. Biddle; John B. Davis. Blackwell Publishing, 2003, p. 48. 3 Luís Otávio Pagano Tasso, Considerações Politicas e Económicas sobre Portugal 1808 – 1812, Tese

de Mestrado em História Económica apresentado ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia,

Letras e Ciências Humanas da U.SP, São Paulo, 2010, p. 34.

4 Esta literatura – ora conceptualizada como mercantilismo tardio (Venturi 1969), ora como

Mercantilismo Liberal (Grampp 1960) ou Mercantilismo Ilustrado (definição mais usual) – tem como

características a redefinição das funções da Colónia face a Metrópole. Estas transformações – como

aponta – não são indiferentes a Portugal; onde se há uma tentativa de, mantendo o sistema político,

realizar a transformação pela abolição do monopólio. Luís Cardoso, op cit, p. 69.

5 José Jobson de Arruda, “A Produção Económica” in Nova História da Expansão Portuguesa dir. Joel

Serrão e A.H. de Oliveira. Vol. VIII, Lisboa, Editorial Presença, 1986, p. 91.

6 No caso da Grã-Bretanha, ele refere – da parte dos pensadores – a independência das colónias, mas

incrementando as relações comerciais; no que se refere a França, por sua vez, ele indica projectos

coloniais baseado numa autonomia, face à metrópole, mas fortalecido pelas relações comerciais entre

todos; já no caso espanhol este defende que estava baseado na eliminação dos monopólios, e no

incremento das produções indígenas para reexportação na Europa. Vd. Luís Cardoso, “Nas Malhas do

Império: A Economia politica e a Politica Colonial de D. Rodrigo de Sousa Coutinho”, pp.69 – 72.

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autonomia, face a metrópole, mas fortalecido pelas relações comerciais entre todos; já

no caso espanhol este defende que estava baseado na eliminação dos monopólios, e

incremento das produções indígenas para reexportação na Europa. No caso do ultramar

Português, uma leitura geral, pode-se dizer a reforma tem presentes elementos, quer de

França, quer do Império Espanhol.

Vejamos agora como estes princípios, se aplicam em Angola. No contexto

Angolano, está presente a ideia de reforço da interacção entre as diferentes colónias mas

que está inserida na noção de Balança comercial:

“No caso do contexto os objectivos da produção em Angola, não poderiam ser

mais claros nos ofícios. De oito de Abril, de que são abundantíssimas as terras dessa

capitania as muitas Madeiras juntas, de que também abunda o país, e todas as outras

produções que podem entrar na circulação, procurando finamente os meios de manter a

regular balança de Comércio, que felizmente existe entre os meus domínios, e ligados

por laços e princípios indissolúveis a grandeza”2.

Em primeiro lugar estamos diante da exportação e na presença de elementos do

Mercantilismo ilustrado Francês, que consagrava a relação entre as colónias. E o qual o

texto, ao afirmar a regularidade desta situação, atesta. Havia de facto, neste prisma uma

regularidade, uma vez que, na prática, se Portugal teve percas na relação directa com o

Brasil recuperava na sua relação com Angola constituindo-se, na prática uma relação de

interdependência económica. Na teoria, esta ligação deveria ser mais afecta a coroa,

estando ambas em divida com as mesmas, mas – dado o alto défice que Portugal tinha

com as praças da Europa – esta relação permitia que na prática não aumentasse a

reexportação dos produtos europeus para o Ultramar. A prática em questão, ajudaria a

que as balanças comerciais do reino ficassem equilibradas.

No caso das influências, e pela questão da Balança comercial, está presente a

ideia de reforço dos laços comerciais entre as diferentes colónias. Neste âmbito, deve-se

equacionar a relação que Angola tinha, quer com Portugal, quer com o Brasil, assim

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como Benguela tinha com as mesmas praças. No plano geral – segundo As Balanças

Comerciais do Reino de Portugal - a diferença entre a exportação de Portugal e

exportação de Angola era de 9522160$392 cruzados, sendo este saldo positivo para

Portugal1; com Benguela, o Superavit com Portugal, é de 100% uma vez que esta praça

não exporta nada para Portugal1.

Já com o Brasil o cenário era bem diferente do que com o Reino, estando

presente – no geral – um saldo positivo para Angola com uma diferença de 5204968509

cruzados, correspondente a diferença entre os 70645215145 cruzados resultantes das

exportações de Angola para o Brasil, contra os 1859556636 cruzados da exportação

desta para Angola2. O equilíbrio, está bem presente, estando nós presentes por um

fenómeno de interdependência entre as diferentes regiões atlânticas do ultramar

português.

No entanto, na interpretação do Mercantilismo, queria-se uma balança comercial

positiva. O que, outros documentos, dão-nos a conhecer melhor esta dimensão:

“hi porque também hindo aquelles vender os referidos géneros nos diversos

Portos de seus destinos pelo três do bom que dão naqueles, a onde nós os conduzimos,

lhes podiam dar por eles ao menos a desplicada quantidade de Fazendas, que nós lhes

podíamos dar, e oferecer, fazendo assim pender a Balança do Comercio toda em seu

favor, e utilidade: factos repetidos e actualmente observados provão decisivamente,

esta constante verdade.”3.

A obtenção de fazendas levaria a que houvesse uma maior procura dos portos de

Luanda e Benguela, que não pode ser desvinculada da prática do mercantilismo. Neste

caso, o tráfego e o reverter das tendências do tráfego, estava associada a ideias de um

saldo económico positivo, levando a que Portugal fosse o único parceiro comercial

daqueles povos. Este, por sua vez associado às práticas do mercantilismo, pela obtenção

1 Tabela 1, p. 157

2 Tabela 2, p. 158, Gráfico 3, p. 190. 3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

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de recursos, neste caso humanos, tentando ter acesso a moeda de procura fazendo com

que o movimento comercial se inflacionasse para as praças portuguesas. O que, numa

perspectiva aquisitiva, representaria uma possibilidade e de vedar o acesso a mão-de-

obra por parte das nações Europeias, e a um aumento do mão-de-obra a trabalhar as

terras do Brasil, com – na teoria o aumento da produção agrícola.

Mas a questão da balança comercial, por si, não faz da prática e das ideias de

facto em Angola como Mercantilismo. Vejamos agora o que, na teoria, nos dizem as

fontes no plano concreto, sobre esta questão, nomeadamente aos objetivos da mesma

exportação:

“O sistema de um regular licenciamento das tropas por alguns meses do ano, que

deveis introduzir nessa capitania em tempo de paz, he outro artigo, em que igualmente vos

deveis ocupar, e que depende da preparação, que houver entre a tropa, que deve existir

necessariamente no quartel, e aquela que pode dispensar-se do serviço cuja providencia tem

por objecto três diversos fins: 1º melhor quando for possível a condição do soldado, 2º da Real

Fazenda, 3º Favorecer a Agricultura fornecendo-lhe mais esses braços, para cujo o efeito até

vos recomendo, que procureis, que os soldados cultivem, se possível fôr,alguns terrenos por sua

conta.”1.

Comecemos por tem em conta, a relação de Benguela, neste caso, com o Reino e

com as praças do Brasil. No geral as relações comerciais saldavam-se por um

predomínio da exportação em cruzados por parte do reino para Benguela entre 1796 –

1806. No entanto, este mesmo fenómeno não se salda pela regularidade havendo um

crescimento de 1798 a 1801 passando de cerca de 40000 cruzados a mais de 90000.

Após este aumento assite-se a um decréscimo para os 40000 em 1806 até não haver

registo em 18082. No caso do Rio de Janeiro podemos observar ligeiras quebras e

subidas, começando com cerca de 40000 em 1798, até haver uma nova ligeira descida

em 1806 dos 39000 até perto dos 1000000 cruzados. Após esse período é acompanhado

1 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 96, doc. nº 28, 01 – 08 – 1800. 2 Gráfico 6, p. 192

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de descida1. Os números aqui apresentados, indicam que – no contexto de Benguela – de

facto a relação comercial com o reino era hegemónica, mas (na mesma linha de

pensamento) Portugal não retirava nenhum proveito directo dela. No entanto, façamos a

análise dentro das correntes económicas em Portugal. A vermos por este excerto,

poderíamos deduzir, que estava inerente – dado o esforço em questão – um projecto

agrarista. O apoio cedido, mais do que para a subsistência, tinha como principal

objectivo a exportação, e uma eventual reexportação dos mesmos produtos para a

Europa. Quer a corrente da fisiocracia, quer a corrente do agrarismo, tem como pontos

comuns a defesa da terra como fonte de riqueza, mas a fisiocracia defende que esse

valor, mais do que a produção em si, é pelo imposto único auferido sobre o produit né,

que tinha como principal objectivo ser uma fonte de riqueza e rendimentos ao Monarca2,

o qual – além desta dimensão agrária – tinha intrínseca uma noção de ordem natural.

No que diz respeito à corrente agrarista, foram apresentados os seguintes

argumentos. Segundo Jorge Pedreira, a questão é que há discurso agrário, que se vai

moldando aos vários sistemas políticos e económicos3. Outra questão abordada pelo

mesmo investigador, era a falta do refinamento pela pobreza dos elementos filosóficos

próprios a fisiocracia. Porém o debate ainda não é consensual, havendo quem defenda a

fisiocracia.

Na óptica de Esteves se não há uma aparência fisiocrática, poderia haver

influências, dado que a questão do imposto único dentro do sistema político português

era inviável, se bem que, na teoria, poderia não estar ausente4. A par dos produtos

1 Gráfico 6, p. 192 2 Adérito Sedas Neves, op cit, pp. 124, 128. 3 No aspecto institucional este salienta que, o debate em questão, passa por um processo de grande

mutação dos princípios económicos, que passa pela transformação institucional, mutação da junta do

comércio para as actividades da agricultura, e para a actividade da indústria, e no plano das instituições

de saber, pela criação da Academia Real das Ciências, tendo como elemento impulsionador a economia

colonial. Jorge Miguel Pereira, “Agrarismo, Industrialismo, Liberalismo, Algumas notas sobre o

pensamento económico português (1780-1820) ”, in Contribuições para a História do Pensamento

Económico em Portugal org José Luís Cardoso, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1988, p. 67.

4 Segundo José Pereira onde, como ponto de partida, indica uma estrutura de formação de pensamento

fisiocrático, mesmo com a reforma de Verney, onde o económico não encontra voz, estando antes ligada

a questão do pensamento religioso sobre a usura, na qual se encontra a questão do juro. Na óptica deste

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agrícolas, nos excertos em questão não está só presente a ideia dos produtos da terra,

mas antes foi estendida a todas as produções naturais. Para ser, ou ter um laivo de

fisiocracia, deveria haver algum elemento mais complexo que sugerisse o imposto

único, o qual não é o objectivo destas medidas. Por outro lado, este mesmo imposto era

impraticável no contexto angolano.

Nesta questão, não há definitivamente, para a região em estudo, nenhum traço de

fisiocracia, uma vez do que não há projectos, nem sugestão dos mesmos, para um

imposto único.

De facto havia uma série de direitos reais pagos, pelo tráfego negreiro, cera,

marfim, pela vinda das bebidas, pelo tabaco, as quais também serviam para subsidiar

diferentes gastos. Os direitos cobrados pelas bebidas, e pelo tabaco, serviam para o

subsídio literário, que por sua vez, servia para pagar um mestre-escola em língua latina.

E nem havia nenhuma referência nos documentos, a que se crie um imposto único sobre

os produtos. Era, na prática inconcebível que se sugerisse um imposto único sobre a

terra, seria danoso para as fiscalidades e as riquezas do estado de Angola. A cobrança

destes direitos quer pelas necessidades fiscais, ou inexistência quer de directriz,

implicam que na prática não há um fisiocratismo aplicado a este espaço.

Por outro lado, se não o havia no reino, como poderia o modelo ser exportado e

aplicado em Angola? Claro que a haver deveria partir de Lisboa para o ultramar, e não o

contrário mas a não existência desses elementos a nível discursivo inibe qualquer

interpretação de intenção fisiocrática para este espaço. Noutro registo tenhamos em

atenção à produção, que se pedia da mesma capitania para o Reino.

autor cientificarão do pensamento económico português, vai partir das considerações morais sobre esta

questão, desenvolvendo-se simpatias fisiocráticas na Academia a partir desta base. Dentro desta questão –

no que diz respeito a memória de Tomás António – José Pereira, a partir desta questão, do juro, é que

entra a ideia de uma renda sobre a produção agrícola. Noutro ponto este autor defende que, a ausência da

ideia de imposto único, e produto líquido – na grande maioria dos textos – deve-se ao facto de não se

puder aplicar esses conceitos na economia portuguesa de setecentos Vide: José Esteves, “O Pensamento

Económico Português no século XVIII”, in História do Pensamento Filosófico Português dir. Pedro

Lains, Vol. III, Lisboa, Caminho, 2001, p. 97.

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As directrizes em questão não limitam a produtos da terra, o que – no caso de ser

fisiocracia – seria o objectivo primordial, mas a todas as produções naturais. Na

ausência da primazia de produtos agrícolas aproxima-a discurso do naturalismo

económico, no qual o objectivo é promover o conhecimento de todos os recursos

naturais existentes num determinado ponto1. Já na óptica de Armando Castro, o qual

defende que, mais do que uma corrente só, estamos diante um projecto híbrido que

continha a marca do naturalismo económico2. A base de argumentação, é a ampla

descrição dos diferentes produtos e de sua potencialização económica.

Há, no documento em questão, uma dimensão naturalista sim, mas a mesma está

ligada a ideia de se proceder a exportação dos mesmos produtos para Portugal. O que,

na prática, consagra objectivos mercantis para a mesma produção. Ora, apesar de haver

uma preocupação com o cultivo da terra, este está subordinado a prática mercantil, o que

lhe dava uma áurea mais mercantilista do que propriamente das correntes em questão.

Mas, vejamos o que outros excertos nos dizem. No contexto de Benguela, está

expresso que se deveria aumentar a produção de todos os géneros e produções de

Benguela – naturais neste caso- visando a sua exportação para o reino e aumentando as

trocas entre os dois pontos:

“Igualmente procurará vossa Excelência promover para o reino a maior

exportação possível de todos os géneros, e produções dessa capitania, a fim de da muita

troca dos géneros, e produções, resulte a maior Riqueza, e felicidade de todos os

ditosos vassalos de Sua Magestade que deseja atender sem diferença alguma as suas

benéficas e paternais vistos a todos os seus Vassalos, pelos quais tem o mesmo igual

interesse”3.

1 Francisco António Lourenço Vaz, Instrução e Economia as ideias Económicas no Discurso da

Ilustração Portuguesa (1746 – 1820, Lisboa, Colibri, 2002, p. 383. 2 De facto – como a matriz discursiva apresentada, na discursividade está mais relacionada com o método

de Lineu, e seu sistema de classificação, do que com um discurso de cariz fisiocrata António Almodôvar,

A Institucionalização da Economia Política Clássica em Portugal, Porto, Edições Afrontamento, 1995,

pp. 33 – 36. 3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 7, 7 – 10 – 1798, missiva 3.

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Este excerto levanta muitas questões, sobre como na prática se deveria

desenrolar as trocas comerciais, mas façamos uma integração no contexto económico.

Sobre esta questão Valentim Alexandre – no contexto do comércio do Brasil –

indica que 64,4% das reexportações de Portugal eram dos Produtos Brasileiros, os quais

apresentavam uma taxa de crescimento de 5,8% ao ano. Por outro lado – ao ver que

produtos eram exportados, tendo em conta os mercados europeus – este denota que os

produtos Brasileiros (pelo algodão e o açúcar), assim como a reexportação dos produtos

da Ásia, são a grande base da riqueza portuguesa. O mesmo historiador enfatiza, o papel

de sete produtos com base nessa mesma prosperidade (mas com primazia do açúcar e

algodão)1.

Já no plano dos objectivos, está presente para Angola, uma estratégia de

produção e reexportação, que a coloca na proximidade do mercantilismo comercial, e

em consonância com a estratégia régia para as praças do ultramar. Em primeira mão, o

estava subjacente a ideia de que se deveria exportar os bens por permuta com os do

reino, o que dá a ideia de estabelecer e refortalecer de um laço directo que não existia.

Mas, dada a conjuntura económica portuguesa, o que garantiria que não se tentaria

reexportar esses produtos para as restantes praças Europeias?

Nesta lógica estes objectivos seriam consagrados ao Mercantilismo Comercial,

em cujos fins seriam a reexportação para os mercados europeus. Num primeiro plano,

como indicam as fontes, a ideia era aumentar a permuta de Portugal com estas paragens

que, numa dimensão politica aumentaria os laços com a mesma possessão. No entanto,

nada impede que, no contexto da reexportação dos produtos destas paragens, tivessem

uma dimensão de reexportação para as praças europeias.

Dentro deste quadro o incentivo que se pretendia a novas culturas, estava

inserido numa tendência de reexportação para a Europa, onde, apesar de haverem dois

1 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, Porto, Edições Afrontamento, 1992 p. 32.

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produtos hegemónicos, havia outros cinco de grande importância. Aqui, o aumento de

produtos a serem exportados está dentro da noção de enriquecimento do Mercantilismo,

onde o aumento de produtos no mercado implica automaticamente um aumento de

vendas. Mesmo que, na teoria os produtos que fossem auferidos por Angola, não

tivessem muitos ganhos, poderiam resultar no aumento de lucro para a Balança

Comercial Portuguesa, mesmo que tangencial.

Outra dimensão, onde os objectivos mercantis estão bem presentes é nos apoios

que se pretendia dar as novas culturas:

“Em quarto usareis os métodos de crédito para aumentar as Culturas,

produçoens e o Comércio de exportação dessa capitania, examinando-se, por esse

meio, e fazendo também acionista a Minha Real Fazenda, podeis procurar auxiliar

caixas de crédito, e Circulação as quais tem por Objectivo 1º avançar dinheiro sobre

hipotecas seguras aos cultivadores, 2º Descontar letras de Cambio de duas boas firmas,

endoçadas por duas boas diferentes casas de comercio, 3º Avançar fundos sobre

géneros, que se exportem, 4º Emitir para tal fim Bilhetes logo que a situação prosperar,

e veluz da Capitania assim o exigir”1.

No entanto, uma das características apontadas para o mercantilismo, era o apoio

e protecção do estado às actividades productivas2. Por outro lado, dado que as

produções tradicionais eram os escravos, cera, e marfim, era uma forma de apoiar quem

quisesse a procurar outras formas de produção. Este apoio ofereceria, na teoria, um

incentivo e uma segurança, levando a que se promovesse – no contexto da capitania de

Luanda, e sertões adjacentes, para que se iniciasse o cultivo das mesmas.

Ora, ao promover-se esta medida, é uma forma de incentivo a que haja uma

diversificação de cultivo. Claro que não houve, no documento em si, uma definição do

que produzir, mas abria espaço a que se pudesse procurar o que se pudesse promover.

1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 96, doc. º 28, 01 – 08 – 1800.

2 Supra, p. 10.

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Mas que, os objectivos presentes, dentro deste prisma, não seriam na produção em si só

(para consumo interno), mas antes uma produção que levasse os mesmos produtos aos

mercados europeus. Logo, havia, nesta medida da corte, uma dimensão mercantil. Mas

mais do que uma possibilidade se criar uma taxa única, o principal ganho da coroa seria,

pelo incentivo as mesmas culturas, as quais não podem ser desvinculadas das tendências

económicas do final de Setecentos.

Numa leitura geral, no caso de Angola, encontramos um pouco destes

pressupostos teóricos, nos objectivos (a semelhança do Espanhol), incrementar a

exportação de produções locais, para Portugal; do Francês o reforço dos laços com o

Brasil, pela continuidade do tráfego negreiro.

No outro caso, do modelo espanhol, o incremento relacionado as plantas nativas,

pode ser visto à luz do mercantilismo clássico, na qual deveria a colónia auferir as

matérias-primas, e os seus produtos para ou manufactura ou reexportação. Porém, em

questões específicas – tal como na prática da balança comercial, nos objectivos, e no

discurso, temos já a elaboração para a Angola de um modelo teórico, como base o

Mercantilismo ilustrado.

O grande objectivo dessas reformas não era – como no caso da fisiocracia – o

imposto único, mas sim o aumento do comercial colonial e a redução da reexportação

para as colónias. Mesmo a produção agrária (a qual teria como grande objectivo a terra)

está vinculada ao comércio internacional, onde está associada ao naturalismo

económico, que permite abranger uma gama mais variada de produtos, tendo como fim

último o mercado internacional.

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1.2 O Projecto, agrarismo, mercantilismo, na prática.

1.2.1 Os Bens das Fábricas e as tendências de exportação

Mas a questão teórica, não é a única que permite uma leitura mercantilista.

Passemos a considerar, a forma como se organizava e dava as trocas, que dará a

conhecer como na prática a economia em Angola funcionava. Segundo Carlos Couto, no

final do século XVIII, não havia uma relação de exclusivo comercial do reino com

Angola dada a forte presença dos mercadores Brasileiros1. Mas dada a configuração, do

ultramar português, e das redes múltiplas de consignação e consignados, poder-se-á

considerar que estes sejam uma influência externa? Já observou-se nas considerações

gerais, que na teoria e no pensamento, as reformas delineadas, estavam mais na óptica

do mercantilismo ilustrado – mas com fortes traços do mercantilismo clássico - do que

em outras correntes. Para se perceber o que é de inovador, deste projecto deve ser

comparado com as tendências de exportação que Angola tinha. Um aspecto a considerar

porém, no caso de Angola, é se o projecto estaria dentro de uma cariz agrária, ou antes

mercantilista, e se mercantilista de que tipo de mercantilismo?

Antes de ter em atenção qual o tipo de reexportação, vejamos a crítica as fontes

em questão. No entanto há que ter em atenção a critica feita por Valentim Alexandre, a

estas categorias. Sobre os mantimentos, estes no seu conjunto englobam, não só

produções nacionais, como também estrangeiras. Nos tecidos, quer lanifícios, e os

linifícios, não agrupam somente os tecidos manufacturados, como também como em

matérias-primas2. É indiscutível esta questão, mas estes números, mais do que

estabelecerem dados particulares, estabelecem as tendências gerais de exportação e de

reexportação, das quais só podemos dar como dado adquirido os das fábricas do reino.

A qual porem, segundo o mesmo autor, poderia ser subdividida em: Algodão,

1 Carlos Couto, “O Pacto Colonial e a Interferência Brasileira no Domínio das relações económicas entre

Angola e o Reino no século XVIII” in Estudos Históricos, nº 10, Marília, 1971, p. 27. 2 Valentim Alexandre, op cit, p. 28.

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Lanifícios, Linifícios, Sedas, Ouro e Prata, e vários géneros. No entanto, estes, mesmo

com estas questões envolventes, apresentam uma primeira leitura sobre os bens que

eram exportados para esta praça. Na teoria esta situação seria um benefício para

Portugal, mas na prática dado os projectos de incremento de relações comerciais seria-o

verdadeiramente?

O discurso não deve ser só visto, na sua matriz mas também na conjuntura

económica em que Portugal se encontrava no mesmo período histórico. Nas instruções

em questão, está presente sempre a ideia de que se deveria aumentar o consumo de bens

do reino, assim como a exportação de bens das mesmas praças para Portugal. Já vimos

que, no plano económico, quer por uma influência do naturalismo económico, quer do

mercantilismo, havia uma ideia de diversificação de produção, assim como do

incremento entre os produtos do reino com as diferentes partes do ultramar. Ora a falta

de trocas comerciais, as quais iriam ser reexportadas para a Europa, perigavam os

objectivos e concretização do mesmo projecto.

Vejamos agora qual era a orgânica, da exportação dos produtos de Portugal para

ambas as praças. A primazia da exportação de produtos de Portugal para África, não é

de exportação mas da reexportação dos produtos asiáticos que é de 53% (250723267)1.

O cenário que se segue – segundo as balanças comerciais portuguesas – é o seguinte:

Lanifícios 15% (676876608); Linifícios 10% (405380868); Vários Géneros 8%

(299832780); Fábricas Nacionais 7%; Mantimentos 2%; seguem-se outros três géneros,

Ouro e Prata, Sedas, e Drogas2, havendo uma hegemonias nas reexportações3.

No caso de Benguela, o cenário apresentado é de 90% de peso dos Produtos da

Ásia, seguido dos mantimentos que equivalem a 3%, e os restantes géneros a 1%4. Estes

1 Gráfico 1 p. 188, Tabela 5, p. 160 2 O conceito de drogas – a luz da época – deve-se entender como, não narcotráfico, mas como todas as

plantas úteis com efeitos curativos, tintureiros, ou para tempero. Sheila Siqueira de Castro Faria, Drogas,

in Dicionário do Brasil Colonial 1500 – 1800 dir. Ronaldo Vainfas, Rio de Janeiro, Editora Objectiva,

2000, p. 190. 3 Gráfico 1, p. 188, Tabela 5, p. 160 4 Gráfico 2, p. 189.

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números indicam que o principal comércio feito em Angola era a de reexportação dos

bens, como os da Ásia, e os lanifícios e os linifícios que, são provenientes das diferentes

praças da Europa. Estes dados, como tendência, indicam uma predominância dos

produtos da Índia, sobre os demais quer em Angola, quer em Benguela.

1.2.2 A Alfândega de Luanda, os Mapas de Benguela e as

tendências de exportação

A par das fontes do reino, encontramos várias fontes da própria de Angola que

nos dão uma perspectiva do tráfego daquela praça. No entanto os dados que são

auferidos pela Balança Comercial do Reino, não são os únicos que encontrei no decorrer

da minha investigação. Dos dados da Alfândega de Luanda, já temos por sua vez toda

uma diferença, na medida em que os dados são referentes há relação desta com os

diferentes pontos continentais, o mesmo critério que os mapas da cidade de Benguela.

Estas permitem uma análise, não por tipo de produtos, mas em perspectiva aos

diferentes espaços continentais do império.

Das mesmas fontes podemos determinar a seguinte tendência, da relação das

exportações de Portugal para Angola. Para os períodos onde encontramos os dados da

Alfândega, o cenário é o seguinte: de 1798 a 1799, houve um crescimento passando de

cerca de 71461$593 para cerca de 133737$215 cruzados; seguindo-se um aumento entre

1799 e 1802, alcançando nesse último ano 271771$070 cruzados; entre esse ano e 1803

e 1804 houve uma subida para os 289655020 cruzados; a partir de 1805 assiste-se a um

decréscimo para os 225003550 que vai aumentado para 1809 registando-se 96328270

cruzados não se registando nenhuma exportação em 18101. Estes valores por sua vez,

1 Tabela 6 p. 161.

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sempre foram negativos na relação entre Portugal e Angola: em 1796 uma diferença de

61701113 cruzados, 1802 (264296810), 1804 (282519910), 1805 (225003550)1.

Desta tendência, a exportação de Portugal é a 2ª/3ª posição no compito do

comercio de Angola, tudo bem que, quer produtos da Ásia, quer da Europa eram

reexportados por ela, mas não eram produtos nem das fábricas, nem alimentos

portugueses. No geral do total da reexportação de Portugal para Angola cerca de 31%

era de produtos nacionais, enquanto cerca de 69% era de reexportação2. A reexportação

dos produtos portugueses correspondeu, no seu total a cerca de 31% (com cerca de

1359929529 cruzados) dos produtos do reino, contra de reexportações 68% com cerca

de 2909594862, dos produtos da Ásia3. Destas destacam-se os produtos da Ásia (dos

quais irei abranger mais no capitulo respectivo), face aos produtos europeus.

Diferenciando os produtos que, segundo esta fonte vêm em diversos géneros (a

semelhança das balanças comercais do reino) podemos ver a segunte tendência. A

primazia da exportação vai para os alimentos os quai variam em cerca de 5000000 em

cerca de 1799 para cerca de próximo dos 1500000 em 1802, assistindo-se a um ligeriro

decréscimo a partir de 1803. Os alimentos eram seguido pelos produtos das fábricas do

reino, que apresentam a mesma tendência até 1809 onde superam ligeiramente os

alimentos4. No plano estatístico encontramos a seguinte tendência: Alimentos (43%),

Fábricas do Reino (20%), Linificios (13%), Algodão (12%), Vários Géneros (10%)

Ceramica e Vidros (1%), Drogas (1%)5.

Já no caso dos mapas da capitania de Benguela, o cenário apresentado é o

seguinte: 100% negativo nas transacções para a coroa estando deficitária em relação à

mesma. A flutuação indica, dos dados presentes, 17% do total das exportações de

Lisboa em 1798 subindo, para 1801, um total de 22% aos 39%. A partir desta subida

1 Tabela 3, p. 158. 2 Gráfico 4, p. 191 3 Gráfico 5, p. 19 e Tabela 8, p. 162.

4 Gráfico 8, p. 194. 5 Gráficos 9, p. 195 e Tabela 9, p. 164 (para ver os dados por cada tipo de produto).

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observa-se nestes dados uma descida contínua, descendo cerca de 15% para 1802,

verificando-se uma descida na ordem dos 6%, até que o valor da exportação em 1808

não é relevante estatisticamente1. Em 1808 há uma carta a dizer que Angola contribui

com 80 contos para a despesa régia, dado o comércio ter estado parado2, que pode estar

relacionada com a ida da corte para o Brasil.

Numa abordagem económica clássica, esta relação seria considerada como se

fosse um certo sucesso, da exportação de Portugal mas no plano do real não é isto

significa. Estas tendências, apesar do superavit indicam, que nos moldes tradicionais

Portugal não tem meios para realizar o comércio, e implementar o projecto desejado. A

subida que se regista, não é apenas das exportações portuguesas mas também as

asiáticas e europeias, que são reexportadas por Portugal para aquelas paragens

implicando o aumento das reexportações, não das exportações.

Numa análise geral se há – como os números aqui em cima presentes –

exportação de Angola para Portugal, a mesma não há de Benguela para a Metrópole.

Desta perspectiva a metrópole não retirava directamente benefícios da colónia, por não

obter bens para reexportar para a Europa. E mesmo no plano das exportações, a

tendência presente era a reexportação, quer segundo as Balanças do Reino, quer

segundo a Alfândega de Lisboa, quer segundo os mapas de Benguela, o que tornava

difícil haver as permutas por bens que haviam sido consignados, para a troca com por

produtos da terra. No caso isso implicaria que No plano do mercantilismo, não há uma

aplicação em pleno das regras clássicas dessa prática económica.

1 Gráfico 2, p. 189.

2 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 121, Doc nº 2, 21 – 01 – 1809.

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1.2.3 A Indústria

Vistas as tendências gerais, vejamos agora o peso dos produtos fabris

portugueses, assim como os objectivos dos mesmos. A questão do peso minoritário

levanta a questão de como se procedia esse mesmo comércio, e como essa relação se

coaduna com Angola? No caso de Angola, dos géneros que se pedem incremento, os das

fábricas, representam cerca de 7%1, que no caso de Benguela era 1%2. Em comparação

o mercado das manufacturas tinha como mercado dominante o Brasil, para onde – entre

1796 e 1806 – corresponde a cerca de 34,9% do total das reexportações; enquanto os

mantimentos corresponderiam a 13%3. Então a que se deveria essa ideia de promover o

consumo dos bens, em prole dos do reino?

O objectivo das trocas mercantis era, a par de criar mercados exclusivos, a

permuta de bens para a exportação para o mercado colonial, para se obter os produtos

fornecidos pelo ultramar, visando a sua reexportação para a Europa. Na prática traduzia-

se por uma maior remessa de bens indústrias para o Brasil, para serem permutados por

açúcar, algodão, couros, entre outros produtos. No entanto não há unanimidade, sobre as

industrias que eram as de maior interesse remeter para o Ultramar. Outras questões

pertinentes prendiam-se com o peso, a dimensão desses mesmos produtos, e a que tipo

de consumo e uso que teriam estes mesmos em África.

No caso de Angola, temos os bens das fábricas, segundo os dados da Alfândega

de Luanda, com 20%, em seguida os Linifícios com 13%, O Algodão com 10%4. Já

segundo os mapas de benguela, após a primazia das exportações dos produtos da Ásia, é

as armas – dos produtos das fábricas – que tem a primazia com 61%. No que diz

respeito aos mesmos os documentos indicam os seguintes como prioritários: peças

1 Gráfico 1, p. 188.

2 Gráfico 2, p. 189.

3 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil (1780 – 1830), p. 272.

4 Gráfico 9, p. 195.

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cangas pintadas; côvados de chita, cortes de seda para veste; fitas; lenços de seda;

lenços de algodão; marroquim; sarja de seda; seda de matis; côvados de saveta; seda

militar; cobertas; justão, entre outras1. Entre estes tecidos destacam-se, no que diz

respeito as fazendas da índia: calamanhas; coromandeis; chitas; borralhos; tafaciras;

entre outros. Após as fazendas da Índia seguiam-se quer os lanifícios15%, quer os

linifícios 10%, que eram importantes moedas de troca para com o sertão, para se obter

jóias negras do império.

Já nas fazendas do norte, cobertas, ou simples ou de papa, as fazendas da

Bretanha ou de Hamburgo, assim como os da Grã-Bretanha2. Estas categorias de tecidos

eram reexportadas como lanifícios nos quais se contam: os capotes, panos ou cobertores.

Ou nos linifícios onde constam: as fazendas da bretanha, de Hamburgo; entre muitas

outras.

Esta questão demonstra que há uma tendência, na qual produtos da Ásia,

lanifícios, linifícios, como os principais bens de exportação. Os quais não eram

provenientes das fábricas do reino, mas antes eram de outras partes do Ultramar. O que

coloca a questão, porque não procurar o mercado Angolano para segundo mercado

colonial mais importante?

Estes tecidos, por sua vez, não eram exportações das fábricas do reino, mas antes

tratavam-se de reexportações. Nesta perspectiva creio que um dos objectivos do projecto

seria a substituição destes tecidos, pelas produções das fábricas do reino para a prática

do mesmo comércio.

Numa primeira análise, essa redução implicaria uma redução das exportações de

tecidos, quer da Ásia, quer da Europa, e sua reexportação para estas paragens. Mas antes

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

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de se prosseguir este raciocínio, deve-se colocar a questão qual o interesse em Angola

pelos tecidos quer da Ásia, quer da Europa. A importância da questão de permuta, como

forma de ser obtido os bens coloniais, está bem presente nas tendências de exportação

da coroa Portuguesa no período em estudo.

No cômputo do Ultramar, o mercado preferencial que a coroa tinha para estas

produções era o Brasil, para onde iam cerca de 90%1 Ou cerca de 93,7%, da

reexportação de bens industriais. Apesar das diferenças percentuais, é clara a

preferência do Brasil para este comércio2, Lisboa e – em menor escala – no Porto,

visando conseguir dividendos, de modo a os reexportar para as outras praças do

Império3. Os quais eram enviados para se permutar por bens das colonias (matérias

primas, e outros produtos), para serem reexportados para as praças europeias.

Dentro desta prática, as fábricas portuguesas, além das trocas comerciais,

auferiam benefícios deste comercio ao abrigo do exclusivo colonial, tinha um mercado

permanente. Neste destaca-se o papel das Fábricas de Lanifícios da Covilhã e de

Portalegre, gozavam de relativa prosperidade enviando sua produção para o Brasil4.

Sobre esta questão, mas do ponto de vista das manufacturas em si, Pedrosa

refere que as Indústrias que mais beneficiavam com o exclusivo colonial eram as de

Linho, apesar de salientar a forte exportação de outras praças europeias dos mesmos, os

Lanifícios, mas com maior peso a Indústria Algodoeira5. Já Nuno Luís Madeira, sobre

esta questão, dentro da teoria dos limites do crescimento do Brasil, refere: linhos, sedas,

1 Jorge Pedreira, “A Indústria” in História Económica de Portugal Pedro Lains e Álvaro Ferreira da

Silva, Vol. I, Lisboa, ICS, 2004, p. 202.

2 Rio de Janeiro (Produtos das Fabricas entre 1796 - 1798) 29,4%, 33,7%, 42,4%; lanifícios 11,7%,

17,4%, 13,4%; linifícios 20,4%, 10,4%, 8,7%; Na Bahia – seguindo a mesma ordem – produtos das

fábricas (para o mesmo período) 21,8%, 31,3%, 32,2%; lanifícios 6,3%, 5,8%, 8,9%; linifícios, 25,8%,

12,5%, 13,5% José Jobson de Arruda, op cit, pp. 171,198. 3 Jorge Pedreira, op cit, p. 271.

4 Jorge Pedreira, “A Industria”, pp. 201 – 202.

5 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil (1780 – 1830), pp. 65 – 98 e

Jorge Pedreira, “ A Industria”, pp. 202 – 203.

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chapéus, algodões, lanifícios, chapéus1, como os produtos mais exportados para as

colónias. Já sobre estes bens, da parte de Portugal, Valentim Alexandre, salienta o papel

dos Linifícios do Porto e seu peso na exportação para o Brasil, assim como do Algodão

estampado no qual a exportação asiática havia sido anulada.

Em relação ao Algodão, aponta a primazia que Lisboa tinha na exportação

desses tecidos para o Brasil2. Sobre esta questão, segundo Marcílio Marques Ferreira, a

reexportação dos tecidos de algodão, e dos de linho, estavam na base de uma relação

deficitária do Brasil com Portugal3. Dentro destes destaca-se os tecidos, que eram os

bens essenciais para a permuta de escravos, como as chitas, e outros, nesta perspectiva

os bens que eram mais arremessados para o Brasil visavam não o abastecimento, mas

antes o tráfego. Desta troca, Portugal beneficiava de sete produtos, os quais têm peso na

reexportação para a Europa.

Vejamos em que base se davam as transacções, e como eram feitas as trocas

comerciais. Sobre a primeira, para a Ásia, como Rita Martins indica, não era a moeda de

prata portuguesa que tinha valor, mas antes a Pataca espanhola4; as quais – segundo a

mesma autora – obrigava os negociantes portugueses, a irem à Ásia para as adquirir para

o mesmo comércio. No funcionamento das transacções, o que não era pago em permuta

deveria então ser pago em ouro5. Este tipo de trocas, e a lógica pela qual é feita, é dentro

da ideia de uma balança comercial positiva, onde o deficit nas transacções comerciais

deveria ser pago no metal em questão. O grande objectivo deste tipo de comércio era

conseguir o saldo positivo, as tendências indicadas pela dita historiadora indicam que

essa era a preocupação.

1 Nuno Luís Madureira, A Indústria Portuguesa entre 1750 e 1834, Lisboa, Editorial Estampa, 1997, p.

336.

2 Valentim Alexandre, op cit, pp. 44, 48.

3 Marcílo Marques Ferreira, “Teoria e Realidade Económica na Época de D. João VI” in D. João VI e o

Oitocentismo org. Tania Maria Bessone, Gilda Santos, Ida Alves, Madalena Vaz Pinto, Sheila Hue, Rio

de Janeiro, Contra Capa, 2011, p. 35.

4 Rita Martins de Sousa, Moeda e Metais Preciosos no Portugal Setecentista 1688 – 1797, Lisboa,

Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2006, p. 218.

5 Idem, Ibidem, p. 206.

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Na relação directa com Portugal, Angola auferia poucos bens os quais poderiam

ser reexportados para a Europa. Destes, segundo a Alfandega de Luanda, vinha o

Marfim, já das Balanças Comerciais do Reino, vinham além do marfim prata e ouro. No

caso do Marfim, que era a maior extracção depois do tráfego negreiro, e este era

reenviado, ou originário de Angola ou de Benguela, pelo Brasil e para o Reino,

tratando-se do produto relacionado mais directamente com a Metrópole.

No entanto, dentro da economia portuguesa de final de setecentos, qual era o

peso deste bem no tráfego negreiro? O marfim correspondia a um quantidade mínima,

do que era exportado por parte de Inglaterra e de outras nações. O facto de ser o único

produto, que era reexportado e que, por sua vez esse mesmo não era regular, não

motivava os Homens de Negócios Portugueses a exportar para aquelas paragens. Ora

dado o peso reduzido, se não mesmo nulo, deste bem não havia uma margem de lucros

que torna-se atractivo este comércio, mais do que o que era feito.

Por outro lado, um dos grandes objectivos do comércio de permuta era a

realização de trocas de bens manufacturados por matérias-primas, ou por produtos para

exportação. Apesar desta situação, creio que, segundo o que interpreto desta fonte, o

objectivo não era restringir, dentro dos objectivos já mencionados, este bem ao consumo

do Brasil. Esta seguiria a logica que houve com a produção e Chapéus, que se permitiu a

sua importação até a produção nacional ser auto-suficiente.

Ora com este peso na balança comercial, isto implica que o Brasil tinha o peso

maior no comércio colonial. Este peso deve ser visto também à luz dos objectivos

económicos, delineados por D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Para este, o propósito

primordial era manter o Brasil como o centro agrário para a reexportação; enquanto, por

sua vez, este seria um dos grandes mercados receptores dos produtos manufacturados1.

Logo dentro desta lógica o este mercado seria, o mais importante. No que toca a Angola,

1 Gabriel Paquette, op cit,, p. 20.

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dentro desta directriz os produtos indústrias visavam o incremento e o aumento do peso

das fábricas portuguesas no tráfego negreiro.

Por um lado, ao lado dos tecidos da Ásia, o aumento da importância destes,

como acontecia com as fazendas Britânicas, poderiam redundar em mais escravos. Por

outro lado, seria um mercador permanente onde as indústrias portuguesas poderiam

enviar as suas manufacturas. A ideia de aumento, dentro da lógica acima dita dos

chapéus, está, a meu ver, dentro de uma lógica poderia significar a substituição do peso

das fazendas, quer da Ásia, quer da europa naquela região.

Por outro lado, numa perspectiva do mercantilismo clássico, implicava um

funcionamento da norma, agindo estas paragens como receptoras e mercado de

fornecimento das produções da metrópole, abrindo um mercado alternativo ao qual

obrigaria um aumento de produção para corresponder à procura.

1.2.4 Os Produtos Agrícolas

No entanto as exportações, não se limitavam aos bens das fábricas mas também

as produções agrícolas. Na sua obra conjunta, no que diz respeito a agricultura, Eugénia

Mata e Nuno Valério, indicam uma agricultura florescente, com boas exportações para o

mercado externo1. No entanto, a nível do mercado colonial, este bem começa a ter uma

quebra na balança de exportação para as nações estrangeiras, em favor das produções do

Brasil.

Em determinados campos da Historiografia, além dos bens industriais, começa-

se a dar relevância a exportação de alimentos neste caso para as colonias. No seu estudo

da alimentação no Belize, Richard Wilk, para o século XIX que continham, peixe,

1 Eugénia Mata e Nuno Valério, História Económica de Portugal uma perspectiva global, Lisboa,

Editorial Presença, 1994, pp. 125 – 126.

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farinha, cerveja, ou seja produtos quer transformados, por actividade industrial, quer

naturais, quer de outras partes do mundo para esta paragem1.

No entanto o original deste trabalho é a questão da procura destes bens, que

implica, na interpretação deste autor, por uma identificação cultural. Ora neste campo, a

quando a menção da escrita do dicionário de Quibundo Português, é dito pelo mesmo

governador, que uma percentagem dos brancos presentes em Angola fala mais quibundo

que Português, tecendo várias considerações sobre o processo educativo e de criação

dos mesmos. De facto a integração nesse meio cultural, que leva a que haja a maior

propensão a adquirir os costumes, e hábitos da terra em detrimento da metrópole. Mas a

par desta a questão, qual a utilidade e procura destes bens no sertão e nas cidades?

Neste contexto havia que procurar, um mercado alternativo para escoar essas

produções. As produções agrícolas, ao contrário da importação dos tecidos, não tinham

no Brasil um grande mercado de escoamento ao qual correspondiam só em cerca de

20%2.

Por sua vez, segundo Valentim Alexandre, os alimentos corresponderiam a cerca

de 17% do total das exportações3. À falta do Brasil, como mercado de escoamento,

coloca-se a questão Angola? Na falta de absorção por parte do Brasil destes bens, as

directrizes abriam a hipótese de que Angola fosse um mercado de escoamento. No caso

de Benguela, os alimentos, com a distância de 87% do segundo género, são o terceiro

género de exportação de Portugal para aquela praça. Já no contexto de Angola, esse

género ocupa a 7ª posição do total das importações do reino com 2%4. Os bens

alimentares não ocupavam uma posição relevante, no panorama das praças africanas

igualmente.

1 Richard Wilk, “A Taste Of Home The Cultural and Economics Significance of European Food and

exports to the Colonies”, in Food and Globalization, Edit. Alexandre Nützenadel e Frank

Trentnman, Oxford/Nova Yorque, Berg, 2008, p. 96.

2 Jorge Miguel Viana Pedreira, op cit, p. 277. 3 Valentim Alexandre, op cit, p. 33.

4 Gráfico 2, p. 189.

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Consideremos igualmente quais os alimentos de maior importância para o

consumo em África:

“Os frutos são Milho, Feijão, e mandioca, que a maior parte comem no campo

antes de o colherem, sendo os desta cidade tão poucos os negociantes os mandão vir da

America e ainda alguns de Angola para seu sustento, e pelos mapas do hospital que

também tenho remetido a V. Excelencia se ve diminuindo os dízimos que dos referidos

frutos resulta”1.

A própria fonte faz enfase a estes bens, que vinham do Brasil, em momentos de

carestia, para abastecer a metrópole.

Vejamos alguns dos bens que eram reexportados para as praças de Africa, por

parte do Brasil. Deste para Angola iam principalmente, segundo alguns historiadores,

produtos alimentares, onde se incluía a mandioca, produtos de construção civil, tijolos

de Pernambuco, e madeiras, vindas do Rio de Janeiro; como também animais de carga

além do tabaco e jeribita usado no tráfego negreiro2. Segundo Manuel Rebelo, para o

período posterior, destaca os seguintes alimentos: Café, Carne Seca, Manteiga,

Toucinho, Vinagre, Doce, Mandioca, Açúcar, segundo a lista de exportações de Angola

em 1823.

Acrescente-se a essas produções a recolha do zimbro, da Bahia, assim como

também do milho e da Mandioca, essenciais na dieta dos jagas3. No período de 1799 –

1810, há referência a pelo menos 14 bens de alimentos exportados do Brasil, para a

Angola somente. Estes: açúcar, arroz, banha, chouriços, café, carne seca, doce, mel,

queijos de minas, toucinho, goma, salsa, queijos londrinos e queijos de pinha, além dos

vinhos e bebidas. Mas estes correspondiam a uma percentagem irrisória das

exportações. No entanto seriam estes bens, essenciais ao consumo da população?

1 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 88 doc nº 10, 16 – 10 – 1798.

2 Luís de Oliveira Ramos, op cit, p. 187.

3 Luís Felipe de Alencastro, op cit, p. 128.

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No entanto – após uma observação mais cautelosa dos registos de Alfandega –

pode-se constatar que o escambo do Brasil para Angola não se limitava a esses

produtos. Entre as várias colheitas, milho-miúdo, batata-doce, a amendoim (jingunba), o

tabaco, o algodão, o arroz, destaca-se a produção de mandioca1. A qual, segundo Elias

Correia era a base de uma massa chamada Quiconga de grande consumo no sertão2.

Estas produções apresentadas eram apenas de consumo local, com excepção da

mandioca, importante para a alimentação não só da população, como também é a base

da alimentação dos escravos. Esta planta, vinda das Américas, adapta-se bem ao clima

de Angola, dada a sua resistência aos períodos de secas sazonais, que há a sul de Luanda

sendo um forte complemento, pela sua farinha, com propriedades alimentar3.

Sobre a mesma – além da importância no comércio internacional – denota a

importância deste bem, dada a falta de farinha de trigo cujo acesso, por importação, não

era frequente4. Este, a vermos as questões da fome, eram cruciais para a sobrevivência,

quer dos habitantes, quer de escravos.

De 1786 – 1788, houve uma seca, com a consequente fome em Angola5. Por

outro lado, para o fim de 1793, houve uma diminuição da fome, mas ressaltou-se a falta

das farinhas6. Em 1794 Benguela passou pela mesma carestia, vitimando os seus

habitantes, assim como os escravos, havendo o governador pedindo mandioca para o

Brasil, sem sucesso7. Esta falta deveu-se a redução dos espaços de cultivo da mandioca,

em prole da cultura sacarina8.

A par das fomes havia também as pragas, gafanhotos, ratos, e os perigos do

sertão, dificultavam o projecto agrícola, atacando as poucas colheitas que havia de

1 Jill R. Dias, “Angola” in Nova História da Expansão Portuguesa dir. De Joel Serrão e A.H.

Oliveira Marques. Vol., 10, Lisboa, Editorial Presença, 1998, p. 325.

2 Elias Correia, História de Angola, Vol. I, Lisboa, Sociedade de Geografia, 1937, p. 139.

3 Idem, Ibidem, p. 325.

4 José Carlos Venâncio, A economia de Luanda e Hinterland no século XVIII, Lisboa, Editorial Estampa,

1996, p. 58.

5 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 73, doc. nº 16, 15 – 03 – 1788.

6 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 79, 17 – 08 – 1793.

7 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 80, doc. nº 8, 19 – 01 – 1794.

8 Keneth Maxwell e Maria Beatriz Nizza da Silva, in Nova História da Expansão Portuguesa dir. Joel

Serrão e A.H. de Oliveira. Vol. VIII, Lisboa, Editorial Presença, 1986, p. 367.

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subsistência1. Ora, a farinha em questão, de mandioca, é trazida não do Brasil, mas antes

de Cabo Verde2. Para tal tenhamos em atenção, quais as percentagens de exportação de

alimentos para Angola. Segundo os dados da Alfandega de Luanda, posso estabelecer 6

produtos com valores percentuais: Vinho 51%, Vinagre, 23%, Farinha de Trigo 18%;

Aguardente e Licores 1% cada3. Do Brasil, a ordem era a seguinte: Jeribitas 81%;

Aguardente 7%; Açúcar 5%; Arroz 2%; e um série de 5 produtos que juntos são 1%

cada um4.

Assim sendo, quer de Portugal, quer do Brasil, o maior peso eram os das bebidas

alcoólicas cuja utilização, era usada no tráfego negreiro. Destes os vinhos tinham um

papel preponderante em relação aos restantes alimentos enviando por Lisboa. Cenários

que se aplicam também, a Benguela, onde tinha um papel predominante, ocupando –

nos alimentos – a primeira posição.

Ora, bens como o Vinho (o qual por si tem a maioria das exportações) era um

dos meios com o qual se fazia permuta pelos escravos enquanto a Farinha de Trigo –

que era essencial à subsistência – ocupa ao 3º posto com valores muito baixos. Quanto

às bebidas a questão mais problemática é a das jeribitas, cujo valor não corresponde aos

de José C. Curto. O autor em questão dá uma ideia do peso, das diferentes bebidas na

exportação africana. Neste período verificou-se uma diferença entre a aguardente,

jeribita, e os licores europeus trazidos para Angola.

As jeribitas tinham um valor médio das importações que chegaram entre 1782 –

1784 as 4.021 pipas, mas valor médio que viria a baixar5. No período de 1785 – 1794 a

cachaça começava a ganhar primazia, nas bebidas a circular pelo sertão chegando a uma

média anual de 1486 pipas. As jeribitas nesse período ficaram num papel secundário,

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 78, doc. nº 59, 25 – 04 – 1793 & Vide: Vide: A.H.U,

Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 79, doc. nº1, 23 – 01 – 1793 Vide: Vide: A.H.U, Angola,

Conselho Ultramarino, Caixa 79, doc. 4, 25 – 04 – 1793 & Vide: A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino,

Caixa 79, 17 – 08 - 1793, A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 80, doc. nº 21, 03 – 03 – 1794.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 79, doc. nº 26, 24 – 08 – 1793.

3 Gráfico 10, p. 196.

4 Gráfico 11, p. 197.

5 José C. Curto, Álcool e Escravos, Lisboa, Vulgata, 2000, p. 166.

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quedando-se em 1796, vindas do Rio de Janeiro, para cerca de 2272 pipas ano1. Esta

predominância continuou no período de 1795 – 1797, chegando a média a 2538 pipas

ano2.

Para o período de 1797 – 1800 é assinalada uma queda das bebidas, como moeda

de troca para o tráfego negreiro. A guerra na Europa, e suas consequentes ramificações

no mar oceano, levam a que o tráfego negreiro cai cerca 15%. Como consequência cai

também a média anual de jeribitas vindas para o Brasil, para a uma média anual de cerca

de 1511 pipas ano. Com o início do século XIX, e uma estabilização na Europa, este

indica que o tráfego negreiro cresce até aos 18,5% em relação a década de 90. Com esta

cresce também a importação brasílica quer de jeribita quer de cachaça.

Por seu lado, a cachaça mantêm ainda a primazia, alcançando o seu zénite em

1805 com cerca de 3041,5 pipas. A questão é que, segundo os dados da Alfandega de

Luanda, para o período posterior a 1800 não se registou a remessa deste bem. Todavia,

das bebidas que vêm do Brasil, tem indiscutivelmente o segundo lugar. No caso de

Benguela, em relação aos alimentos, a situação em nada mudou.

Sobre este ponto – além de uma predominância das bebidas do Brasil face às do

Reino – regista-se também uma supremacia das Jeribitas, que correspondia a 81% das

bebidas exportadas do Brasil para Angola3. Havia uma predominância indiscutível das

bebidas com destaque para as do Brasil, face às do reino as quais serviam para a

permutação de escravos, o que por si só inviabiliza o consumo e o provimento das

mesmas, visando o consumo de subsistência.

Esta questão, dentro das directrizes do Reino para esta região, tem duas leituras

possíveis. Os alimentos, dado o que é pedido para incrementar, é uma forma de

substituir na permuta os bens em vogas por bens do reino, ganhando estes

predominância e consumo em detrimento dos do Brasil, aumento sua exportação.

1 Idem, Ibidem, p. 172.

2 Idem, Ibidem,p.169.

3 Gráfico 11, p. 197.

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Outra hipótese, dado o tipo de alimentos que foram exportados, seria aumentar o

peso das bebidas e produtos do reino, na permuta de escravos. A estratégia, a meu ver,

seria então que o aumento da exportação, e da circulação deste bem, levasse a que

houvesse um aumento de sua procura no sertão. Vejamos como tal, o que a fonte dizia

sobre as bebidas.

As trocas e os incrementos visavam, numa lógica de moeda de troca, o aumento

de peso da Portugal nas relações com a dita metrópole. Nesta lógica, o aumento da

presença dos produtos, poderia corresponder a uma estratégia de substituição do peso

das bebidas do Brasil pelas do Reino. Desta forma estava, seguindo as intenções da

coroa, associada a uma dimensão mercantil com objectivo último o mercado

internacional, onde as suas produções serviam como bens de permuta.

Por outro lado ao suceder isto, estava subjacente uma redução das exportações

quer dos produtos da Ásia, quer da Europa, pelas Portuguesas. Apesar da roupagem

nova, pelo discurso assumido, os objectivos comerciais dão-lhe um caracter mais de

mercantilismo mas, sobre uma carga discursiva nova. Os alimentos, e aumento de seu

consumo, desta forma, estariam associados a objectivos que não o consumo, mas antes a

permuta.

No plano geral dentro do discurso, há de facto um projecto para Angola, no que

toca a questão económica. No plano discursivo, há uma forte componente de

naturalismo económico, com uma vertente agrária na qual o cerne é o discurso sobre a

terra, visando aumentar a relações comerciais do reino com Angola, o qual se integra,

num discurso do Mercantilismo Ilustrado.

Nestes planos pretende-se tornar efectivos a prática desse sistema, na relação

directa com a metrópole visando a reexportação desses bens para a Europa – o que o

insere num objectivo do mercantilismo clássico, visando a reexportação dos mesmos.

Neste contexto há uma relação em que, no que toca a Angola, a exportação

portuguesa é dominante, mas a percentagem maior é a da reexportação de produtos

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Europeus. Ora apesar de haver de facto um peso predominante do que vinha do reino,

este não o era directamente do reino. Para se conseguir criar uma relação plena, era

necessário aumentar o consumo de produtos do reino. Estes, além do que num objectivo

de reduzir a reexportação, tinham duas finalidades:

1) aumentar o peso dos bens do reino como produtos de permuta pela escravatura;

2) os quais, por sua vez, apostam em produtos, pelos quais se pode adquirir mão-

de-obra negreira, estando relacionada com o comércio com o sertão.

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Capítulo 2: Escravos, Fazendas, Permuta e o Projecto

2.1 O projecto na vertente escravocrata e a permuta no sertão

Determinados os objectivos primários inerentes à introdução dos produtos

agrícolas e das fábricas, façamos uma observação sobre o peso que os diferentes bens

tinham no tráfego negreiro. Como visto, quer da parte dos produtos agrícolas, quer dos

bens das fábricas portuguesas, estes eram bens que poderiam ser aplicados na permuta

na rapina humana. A própria questão dos mesmos bens é controversa, não havendo um

produto definido como o que era o de consumo hegemónico para esse fim.

Esta questão está relacionada com as teorias de Isabel Castro Henriques,

relativamente a comercialização do sertão. Esta teoria tem vários contornos, tendo como

base de reflexão o século XIX. Para períodos anteriores, a autora dá uma ideia na sua

obra conjunta com João Medina, sobre a comercialização do sertão como um processo

em que se passa das acções de pilhagem e rapina humana para um comércio designado

como legítimo, na perspectiva africana, onde as rapinas humanas eram integradas numa

dinâmica comercial própria Africana sobre regras africanas. E, em relação aos interesses

europeus, processo relacionado com a actividade produtiva ultramarina, quer agrícola,

quer mineira, quer no reino, quer nas ilhas atlânticas, quer no Brasil, sendo destacada a

exploração deste último1.

No entanto a teoria em si, refere-se a Lunda do século XIX, tem como base o

papel mercantil e as influencias exercidas no sertão africano na qual, da parte dos

portugueses, era uma forma de estabelecer o controlo estabelecendo toda uma lógica

europeia no sertão desestruturando as relações normais, quer sociais, quer politicas,

quer económicas, normais das sociedades em questão. Mas a teoria, não se resume só as

1 João Medina e Isabel Castro Henriques, A Rota dos Escravos Angola e a Rede do Comércio Negreiro,

Lisboa, Céguia, 1996, pp. 107 – 115.

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acções portuguesas. Por outro lado – da parte dos Africanos - que pretendiam manter o

controlo que tinham tido – e tirar proveito da nova dinâmica comercial.

Neste âmbito, torna-se pertinente, para o período em estudo, equacionar o papel

das armas, e de outros bens, na permuta por escravos e seu impacto. Para os séculos

XVI– XVIII há uma panóplia de produtos, como os têxteis, armas (que eram objectos

de permuta), bebidas, pelas quais os escravos eram permutados. Segundo John

Thornton, no caso dos bens de permuta, a fraca capacidade da indústria africana de

suprir a procura, era a causa da procura desses mesmos, o que tornava o papel dos bens

industrias europeus tão relevantes1.

Já para Miller, o mercado africano, desde o século XV, parecia ser um mercado

propício para escoar produtos quer da Europa ou da Ásia, sendo a vantagem para os

têxteis, álcool, e Armas2. Mas quais as que eram usadas, e qual o peso real no tráfego do

Sertão? E como esta questão, se equaciona com o cerne do projecto da coroa? A questão

das fazendas por sua vez é de igual modo problemático, uma vez que o peso das

diferentes moedas de permuta mudam na importância para o tráfego.

2.1.1 As Bebidas

A historiografia Luso-Brasileira tem tido como grande campo de estudo em

relação as moedas de escambo, as bebidas, e as armas. Comecemos pelas bebidas, as

jeribitas, que eram de grande agrado dos africanos e de consumo dos mesmos. Já foi

referido, no capítulo anterior, a questão da concorrência das bebidas do brasil e do

reino, e a vantagem que tinham as primeiras. Vejamos agora o peso das mesmas, no

tráfego do sertão.

1 John Thornton, A África e os Africanos na formação do Mundo Moderno, São Paulo, Editora

Campus, 2004, p. 89.

2 Joseph Calder Miller, Ways of Death Merchant Capitalism and The Angolan Slave Trade, Murray,

Wisconsin University Press, 1988 , p. 71.

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Sobre este meio de permutação, para este período, José C. Curto, dá uma ideia

das bebidas que eram usadas, e da sua importância ao longo deste período. No qual,

como foi visto no capitulo anterior, podemos constatar uma variação entre as cachaças e

aguardentes. Mais especificamente sobre o seu peso no sertão, segundo Gustavo Acioli

e Maximiliano M. Menz, o autor em questão teria atribuído o peso de 25% do total do

tráfego negreiro a esta bebida, leitura inflacionada por Luís Filipe de Alencastro1. Mas

qual seria o peso real da mesma? A historiografia Brasileira tem enfatizando este

produto – a par do tabaco – numa perspectiva do peso e importância das redes mercantis

brasileiras no tráfego negreiro.

Segundo os dados da alfândega de Luanda, o tipo de bebida mais exportada para

esta praça era a jeribita (conhecida também como aguardente de cana) a qual cabia

cerca de 81%, das exportações das bebidas para o Brasil. Mas, apesar deste valor, teria

de facto uma utilização no sertão? A documentação sugere que logo após as fazendas da

Índia as bebidas, jeribitas, aguarentes, seriam os bens de maior procura, logo com maior

validade como produto de permuta, mas as bebidas apresentadas em papel secundário2.

Esta apresentação, pela ordem que nos foi apresentada, indica que – neste período –

havia uma hierarquia desses bens no tráfego negreiro. A documentação, para o período

em estudo, fala sobre a tributação das bebidas, principalmente as do Brasil. Esta

questão, obriga-nos a perceber a correlação entre fisco e preço no período em estudo.

Para José Subtil, havia uma diversidade de meios de receita fiscal para a coroa

do antigo regime, como: dos próprios (reguengos, e outras propriedades) dos tributos

(sobre propriedades e produtos)3. O mesmo processo muitas vezes implicava o aumento

dos preços, a quando de dificuldades de aprovisionamento das gentes4. Já no que toca

1 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, Resgate e Mercadorias uma análise comparada do tráfego

de Escravos em Angola e na Costa da Mina (séculos XVIII) in Afro Asia, nº 37, 2008, p. 54.

2 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

3 José Subtíl, “Os Poderes do Centro”, in História de Portugal, dir. José Mattoso, Lisboa, Circulo de

Leitores, 1992, pp. 212 – 215.

4 Avelino de Freitas Meneses, “As Finanças”, in Nova História de Portugal, dir. Joel Serrão e A.H. de

Oliveira Marques. Vol. VII, Lisboa, Editorial Presença, 2001, pp. 350 – 351.

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ao contexto em questão, segundo Álvaro Ferreira da Silva, refere que o imposto sobre o

comércio e as manufacturas (colecta indirecta) eram uma forma mais fácil de colecta.

Tantas que, no século XVIII, parte dos rendimentos eram auferidos pela coroa vinham

da Alfandega de Lisboa, as quais davam um forte contributo para as finanças públicas.

Ora, a crise do final do século, leva a que se tenha de mexer nos dois impostos

principais do reino (a décima e as sisas), para que fosse alargada a base fiscal1. O qual,

visava o aumento da receita, pelo maior número de pessoas abrangidas pela mesma

colecta. O alargamento, visava a arrecadação de divisas, para fazer face a situação mas

para o contexto africano a questão é bem diferente. A questão da colecta fiscal, estava

dentro dos padrões de cobrança sobre os bens de maior consumo, neste caso as bebidas

alcoólicas – particularmente as brasileiras. No seu estudo, José Venâncio, chama a

atenção para a maior importância da tributação sobre o tráfego negreiro do que a colecta

do dizimo sobre os sobas2. No entanto, não era só sobre estas que a carga fiscal caia.

A importância da carga fiscal, estava relacionada - a par da colecta para Lisboa –

com o financiamento das próprias instituições locais. Uma questão que poderá ter

contribuído para a secundarização das bebidas como moeda de troca é a tributação sobre

as mesmas que teria aumentado o seu custo a par da contribuição destas para o Subsidio

Literário. É sugerido pela coroa, que dos mesmos bens, fosse retirado 6600 reis, não se

tendo procedido ao mesmo aumento até 1794, devido a utilidade dos mesmos para o

tráfego negreiro; procedendo-se ao mesmo a partir de 17993.

No entanto – alegando a mesma importância para o giro no sertão – o

governador sugere 3000 reis por pipa de vinho e a aguardente a cerca de 4000 reis4. Esta

contra medida do Governador visava que – na inevitabilidade desta taxa – que os

1 Álvaro Ferreira, “Finanças” in História Económica de Portugal, Dir. Pedro Lains e Álvaro Ferreira da

Silva, Lisboa, ICS, p. 237.

2 José Venâncio, A Economia de Luanda e Hinterland no século XVIII, Lisboa, Editorial Estampa, 1996,

pp. 90 – 92.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 100, doc. º 31, 27 – 05 – 1801.

4 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.

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mesmos produtos não perdessem importância no tráfego negreiro, pela redução da sua

exportação.

Outra sugestão que foi dada pelo governador, em substituição das bebidas, dado

que significaria uma quebra na sua procura, e respectiva redução no tráfego negreiro,

que seja cobrada o mesmo sobre o tabaco sobre o qual não se pagava direito algum.

Mais: o facto de que de o subsídio literário para o pagamento do ordenado dos

professores de língua latina, dependendo de uma taxa sobre as bebidas era discutível. A

questão da tributação em si levanta a questão, se estes bens ainda tivessem uma

relevância para o escambo negreiro, não ter-se-ia optado por manter a isenção?

Outro factor a equacionar – além do arbítrio do governador – é a posição dos

Negociantes face a mesma tributação. Em resposta a esta questão os mesmos – como

condição para pagarem o subsídio - sugerem a redução do preço por pipa, para $450

reis, dos 1600 reis pagos até então. Alegavam ainda, que caso se falta-se o mesmo valor

para pagar o dito subsídio, pagariam de seu bolso.

Por outro lado, havia ainda que proceder a distinção entre as bebidas com

destino ao sertão, os quais estariam isentos, e os que ficassem para consumo nos

subúrbios, e na cidade as quais seriam taxadas. Esta proposta visava, antes de tudo

manter o preço da pipa acessível, de modo a que, este bem essencial não deixa-se de

circular. O que se pretenderia, nesta linha de pensamento, seria que, dada a taxa, que

lentamente houvesse um aumento de consumo dos vinhos nacionais.

Noutra perspectiva poderia implicar a tentativa de substituição das bebidas

espirituosas do Brasil, no peso de permuta por escravos, pelos vinhos portugueses. O

aumento do custo das bebidas, por um lado poderia levar a redução de sua exportação,

com o consequente aumento da exportação das bebidas do reino. Isto porque o imposto

do subsídio literário, ao contrário das jeribitas, não se aplicava aos vinhos portugueses,

pois distingue-se entre o consumo e a permuta, havendo no consumo na cidade um

projecto mercantilista, e no seu destino para o sertão um papel de escambo. Em teoria,

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isto implicaria que as bebidas não encareceriam não perdendo a validade como bem de

permuta, assim como se mantendo a exportação das mesmas para Angola.

Mas a par dos objectivos aqui expressos, há também os resultados do mesmo.

No entanto, segundo a informação oficial, estas medidas pouca diferença fizeram no

sertão. Em 1798 houve um pedido, para que haja isenção de direitos sobre os molhados,

devido a ordem de haver um imposto sobre as bebidas1. Nesse mesmo ano, contrariando

o ofício acima escrito, o governador refere, que não havia sinal de danos feito ao

comércio pela introdução desta taxa nas bebidas2. Este efeito nulo numa possível quebra

do tráfego negreiro implica o sucesso da aplicação da taxa nos moldes pretendidos, sem

ter efeito negativo no tráfego negreiro.

Vejamos a questão da circulação do mesmo bem, e que luzes pode trazer sobre a

questão. Nesse mesmo período, segundo um documento do Rio de Janeiro, constatava-

se uma quebra deste bem, devido a maior venda dentro da capitania, reduzindo o

número de unidades que estariam disponíveis para o tráfego negreiro3.

Em Angola, encontramos uma situação idêntica. O documento indica um padrão

de aumento no consumo desse bem nas cidades, em detrimento da sua circulação no

sertão. Nesta perspectiva a taxa a ser cobrada especificamente aos de consumo,

implicava uma redução – ou uma tentativa de reduzir o seu consumo nas cidades. Uma

das causas que este documento indicava, além da mortandade, era a de quebra das

vendas no sertão. Mais do que os impactos na exportação, eram – nesta perspectiva –

nas de consumo que reduziam a circulação dos mesmos bens no sertão.

Ora, a par da quebra da circulação das mesmas no sertão, encontramos outra

questão que explica a quebra de circulação do mesmo bem no sertão. Outra questão,

além da circulação, seria a produção de bebidas no próprio sertão. Segundo Isabel

1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 88, doc. nº 34, 22 – 07 – 1798.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 88, doc. nº 35, 22 – 07 – 1798.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Brasil, Rio de Janeiro, Caixa 164, doc. nº 12265, 02 – 04 – 1798.

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Castro Henriques, esse fenómeno seria próprio do século XIX1, mas – dada a

informação neste documento – pode-se adiantar esse mesmo processo para o final do

século XVIII onde já haveria esta prática. Não era só o peso fiscal que impedia o

recurso as bebidas, em particular a jeribita, como bem de escambo negreiro, havia sinais

que – no sertão próximo estavam a tentar criar alambiques o que implicava uma

desvalorização do mesmo bem de troca. Tudo bem que a crítica feita, não foi no sentido

da quebra da bebida, mas pela quebra de mão-de-obra em outras actividades

económicas.

Esta prática, segundo o governador, fazia com que muitos braços se dedicassem

aos engenhos, de modo a produzir, mais do que açúcar, bebidas para consumo próprio

como também no sertão2. Ora essa mesma mão-de-obra poderia ser usada, ou para a

agricultura, ou para a extracção mineira, o que revela que esta prática ia contra os

objectivos, ou parte deles, que a coroa tinha estipulado para esta região3.

Um outro tópico subjacente era a mortandade dos escravos no plano africano, às

portas destes vendedores reduzindo também o número de escravos negociáveis. A

proliferação de bebidas produzidas localmente poderiam implicar a redução do

consumo no sertão das bebidas exportadas do reino, a par da preocupação com a perca

de vida de escravos.

Por outro lado, ao produzir-se localmente, perigava a ideia de se incrementar os

produtos do reino naquela paragem, podendo provocar uma quebra no mesmo. Neste

sentido, as bebidas do reino não teriam espaço para substituir a importância das do

Brasil, não se efectivando o seu consumo no mesmo, nem o papel delas como bem de

permuta. Estes, não tanto pela redução da exportação, nem pelos objectivos de

substituição, mas pela quebra do consumo do sertão.

1 Isabel Castro Henriques, Percursos da Modernidade em Angola Dinâmicas Comerciais

e Transformações no Século XIX, p. 640.

2 A. H. U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 67, 2 – 07 - 1783

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 67, de 2 – 07 – 1783.

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2.1.2 As Armas

Outro dos meios de pagamento de grande procura por parte dos africanos, para a

permuta em relação aos diferentes produtos, são as armas de fogo. Consideremos o

papel que estas tinham, no comércio de Angola.

Neste processo é destacado por Isabel Castro Henriques, quer o papel das armas

de fogo, quer o papel do transporte dos produtos para a costa, como factores

desestruturantes que levaram à mutação das sociedades segundo as regras europeias1.

O mesmo produto seria – além de o principal produto responsável pela

destruturação – produto de permuta. A destruturação efectuada, no plano mercantil,

porque na transição do tráfego negreiro para o comércio normal, os africanos, quer a

níveis institucionais, quer a nível politico, não desenvolvem os mecanismos de conhecer

e gerir as relações no mercado internacional2. O que lhes leva a não poderem furtar-se,

quer a regulação, quer ao jogo europeu.

Por outro lado a banalização das armas de fogo no sertão, mesmo que não tenha

abrangendo todos os povos em simultâneo, alteraram quer as regras de combate e caça.

O primeiro leva a que, para poder estar englobada nas redes comerciais, tenha de

adoptar, quer as técnicas, quer os hábitos, dos europeus em detrimento dos próprios,

levando a uma europeização.

Não querendo enveredar por uma teoria de longa duração, tenhamos em atenção

como esses produtos, e que utilidade social teriam nas próprias sociedades das

diferentes nações africanas. No plano interno as armas de fogo além de não teriam tido

uma aceitação hegemónica, estavam sujeitas a um controlo ao seu acesso por parte das

próprias autoridades africanas3. No entanto, como Isabel Castro Henriques refere, numa

1 Segundo a mesma, produtos como os alimentos, e os tecidos, eram mais como ofertas na óptica

europeia, como tributos nas Africanas. Isabel Castro Henriques, Percursos da Modernidade em Angola

Dinâmicas Comerciais e Transformações no Século XIX, Lisboa, Instituto de Investigação Cientifico

Tropical, 1997, pp. 539 – 540.

2 Idem, Ibidem, p. 640.

3 Isabel Castro Henriques, Os Pilares da Diferença Relações Portugal-África séculos XV-XX, Lisboa,

Caleidoscópio, 2004, p. 371.

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leitura de geopolítica, a introdução das mesmas alterou os equilíbrios no mesmo

continente.

Para percebermos a importância da mesma a procura deste bem, devemos

compreender a sua utilidade no quadro das sociedades africanas, permitindo, às facções

ou aos sobas africanos que a tivesse, a construção de uma unidade politica mais

centralizada1. Deste modo, Roquinaldo Ferreira analisa, dentro do processo de

centralização dos reinos africanos, Matamba, em luta contra os pumbeiros. A questão

aqui presente, estava relacionada, com a posse dos elementos de coacção que, no plano

da Europa, foi uma forma de estabelecer estados centrais. Mas, a par destas questões, a

que ter em conta o valor que tinham estes bens no seio das sociedades africanas.

Outro ponto fulcral é o da relação bélica entre os diferentes estados africanos, a

qual tem uma identificação com o divino pelos mesmos. Quer as armas quer os cavalos,

assumiam uma grande importância devido ao estado de guerra contínuo entre os vários

estados, e povos africanos, no qual o acesso a este bem representava uma vantagem face

aos seus rivais. Por outro lado, no caso do estado africano em questão, deu um auxílio a

centralização do poder. Ora, mesmo que não tivesse-se assistido a uma generalização,

dado as acções belicistas entre os mesmos, e as rivalidades, obrigava a que as nações

africanas com os contactos mais próximos dos portugueses e demais europeus

recorressem a este bem com frequência; de modo a que não perdessem a vantagem.

Apesar de, como disse Isabel Castro Henriques, não abranger todas, as que

comerciavam este bem com os europeus tinham, no quadro da economia africana, bens

de prestígio, além do aspecto pragmático, que as dava vantagem sobre suas rivais. Neste

plano, uma arma de fogo poderia equivaler a cerca de 1000 guerreiros, o que é

demonstrativo do seu valor.

1 Roquinaldo Ferreira, Cross Cultural Studies in The Atlantic World, Cambridge, Cambridge University

Press, 2014, p.48.

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Outra leitura de Roquinaldo Ferreira faz uma interpretação baseada no sucesso

da substituição destes bens, pelos que eram vendidos pelos ingleses no norte1. No caso

das nações que se dedicavam a actividade negreira, o acesso as melhores armas, além de

um meio para deterem hegemonia, eram um meio também de obterem mais escravos e

logo terem acesso a mais armas.

Outra questão que o este autor foca, era o saber se havia interesse por parte das

autoridades portuguesas que esse bem não circule no sertão, no entanto convinha

restringir o acesso ao mesmo por parte das restantes potencias europeias a pactuarem

naquela zona.

No período em estudo havia uma de venda dos mesmos, quer pelos ingleses e

franceses, ao sertão. Neste contexto, a coroa pretendia que as mesmas não fossem

vendidas, via-se na obrigação de continuar a vende-las, com a discordância dos

governadores. Está presente, no A.H.U, toda uma série de cartas entre o governador e a

coroa, relativa a essa questão. A coroa, em resposta às várias directrizes dos

governadores, visando a exportação desse mesmo bem, respondeu que as armas eram de

fraca qualidade e que só servem para a caça, não representando perigo para os interesses

lusitanos2. Porém não deixa o governador de advertir, que o envio de armas e sua

comercialização no sertão, ia contra os objectivos portugueses naquela região3. Dada a

concorrência estrangeira teria sido necessário a proceder a este comércio, as armas que

eram enviadas de Portugal eram de qualidade inferior. A remessa dessas armas, em tão

desvantagem com as que as nações, quer francesa, quer inglesa usavam no trato, deve-

se aos objectivos militares portugueses de domínio da mesma região.

1 Idem, Ibidem, p. 47.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 63, doc nº 7, 22 – 02 – 1780 Vide: A.H.U, Conselho

Ultramarino, Angola, Caixa 69, Doc nº 71.

3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 64, doc nº 59, 08 – 12 – 1781 Vide: A.H.U, Angola,

Conselho Ultramarino, Caixa 65, doc nº 60, 07 – 08 – 1782.

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Num documento, após a campanha do Dande, há a referencia a armas de

calibragem nessas paragens1. Estas, não obtidas através de Portugal, tinham sido

adquiridas aos Ingleses e aos Franceses na qual estavam presentes armas de grande

calibre.

Para este período, Herbert S. Klein, usando fontes francesas, denota que os

Africanos, com as mercadorias europeias e de outras partes eram muito exigentes sendo

a qualidade desta crucial para o tráfego Negreiro2. O Concelho Ultramarino em resposta

indica que – apesar das intenções face a Angola – tal comércio não é contraditório. Em

primeiro lugar as armas adquiridas pelos africanos, seriam usadas nas suas caçadas. Por

outro lado as armas que Portugal enviava para o Sertão, eram de qualidade inferior o

que não lhes dava hipóteses de as usar em esforços bélicos contra os Portugueses. Eram

importantes quer para a caça, como para a guerra, que era um dos meios de se obter

mão-de-obra escrava3. Logo, os objectivos da coroa, para a exportação deste produto

sairiam gorados. A estratégia portuguesa, para não comprometer as operações militares,

era dar de facto esse mesmo produto, mas sem que a sua utilização comprometesse a

posição portuguesa.

Uma outra questão, era a violência no sertão; de facto, uma preocupação

contínua. Algumas destas armas, caso das facas flamengas, eram mesmo proibidas de se

vender, alegando o uso delas nas rixas, quer no sertão, quer em Luanda. As armas,

espingardas, facas flamengas, balas de chumbo, traçados, faziam parte da permuta

sendo usadas com as fazendas da Índia4. No entanto como este governador bem afirma,

estas vendem-se livremente em Luanda, os negros usavam-nas para fins lícitos também,

e não a havia forma de controlar o acesso a elas5; o que, como consequência, impedia

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 77, Doc nº 47, 04 – 06 – 1792.

2 Hebert S. Klein, “Economic Aspects of the Eighteen Century Slave trade” in The Rise of Merchant

Empires editor James D. Tracy. Cambridge, Cambridge University Press, 1993, p. 291.

3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

4 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

5 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 101, doc. nº 38, 25 – 08 – 1801.

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que os portugueses controlassem essa região1. Parte da correspondência indica que os

governadores, assim como muitos dos sertanejos não estavam de acordo com o envio

deste produto para o sertão2. O acesso as armas implicava – devido a beligerância entre

os estados africanos – quebra de mão-de-obra que poderia ser negociada no sertão.

Desta forma, ao contrário do exemplo dado na Lunda, no sertão anexo a

presença portuguesa, havia de facto uma proliferação de armas que atesta a banalização

de seu uso. Mas, que nesta óptica, para este período, não esteve relacionado com a

desestruturação dos estados do que hoje é Angola, mas antes ao reforço de alguns, que

inclusive foram usadas contra os portugueses. A lógica, aqui presente, é substituir o

acesso as armas francesas e inglesas, de modo que não se perder esta moeda, mas

fornecendo material que não teria a mesma qualidade. Esta, nesta lógica, faria com que

o mercado em questão fosse um motor para o desenvolvimento das armas portuguesas.

Ora o fraco peso deste como moeda de permuta, é também uma prova da superlotação

(que não significa uma generalização do seu uso a todos os grupos) do sertão deste bem,

o que resultava em quebra da mesma, seja pela proveniência francesa ou inglesa, ou

pela presença de armas portuguesas.

Se estas, por um lado, parecem ser opostas as intenções militares portuguesas

para as mesmas paragens, por outro lado estão relacionadas com as intenções

económicas. Nas directrizes formuladas, para o sertão de Benguela, está expresso a

ideai de se aumentar o consumo de produtos do reino nessas paragens.

No entanto há, até para evitar um acesso as armas inglesas e francesas, uma

preferência pela venda deste produto por parte de Portugal, que pode ser visto numa

dimensão politico/económica. Estas porém sem sucesso, o que indicia a abundancia

deste bem no sertão angolano, assim como a preferência pelas armas das potências

mencionadas. Logo no plano económico, a utilização deste bem como forma de permuta

não é, no período em estudo, a moeda mais valiosa de troca. No plano interno, mais do

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 71, doc. nº 60, 15 – 11 – 1786.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 71, doc. nº 60, 15 – 11 – 1786.

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que proceder a desestruturação das sociedades, antes é um meio – para as que

negoceiam com os europeus – reforçarem o seu poder no plano local.

2.2 As Fazendas e a Historiografia recente

No entanto, não eram só os bens produzidos em territórios sobre domínio

português que eram usados na permuta por escravos. O termo fazenda, para o período

em questão, abrange uma ampla realidade conceptual. Do ponto de vista da circulação

de bens, o termo fazenda era usado para designar bens que pudessem ser usados no

comércio1. No contexto desta dissertação, irei usar este termo apenas para designar os

tecidos vindos da Índia, que serviam para realizar o tráfego negreiro.

Ora, no que a este produto diz respeito, no entender de Herbert S. Klein ele

apresenta-se como um dos problemas das exportações portuguesas, que consistiam em

armas e bebidas, visto que não seriam usadas no escambo2. Já Miller, além dos produtos

referidos por Klein, sublinha o peso assumido pela reexportação dos produtos têxteis da

Europa3.

A este debate têm-se juntado os historiadores da Índia segundo os quais, a África

teve um papel periférico no estudo das redes de comércio indianas4. A questão das

fazendas da Índia tem sido estudada para as zonas mais a norte da África subsaariana,

tendo um peso importante para a região do Dhaomé e para a região do Biafra5. A

questão que se levanta é, e no tráfego comercial português? Qual o peso que este

mesmo bem teria? Mas esta não é a única questão pela qual este assunto é abordado.

1 Sheila Siqueira de Castro Faria, “ Fazendas” in Dicionário do Brasil Colonial (1500 – 1808) dir.

Ronaldo Vainfas, Rio de Janeiro, Objectiva, 2000, p. 220.

2 Herbert S. Klein, op cit, p.292.

3 Joseph Calder Miller, op cit, p. 77.

4 Pedro Machado, “Cloths of a New Fashion: Indian Ocean Networks of Exchange and Cloth Zones of

Contact in Africa in India in the Eighteen Century and Nineteenth Century” in in How India Clothed

The World edit. Giorgio Riello e Tirthankar, Leiden/Boston, Brill, 2009, p. 55.

5 Lembrando que a análise feita pelo historiador em questão, está dentro da questão se teve um impacto, e

como o teve dentro da indústria têxtil Africana. Mas sobre esta questão em estudo, vide Joseph. E.

Inikori, “English versus Indian Cotton Textiles: The Impact of Imports on Cotton textile productions in

West Africas” in How India Clothed The World edit. Giorgio Riello e Tirthankar, Leiden/Boston, Brill,

2009, p. 105.

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Alguns historiadores tratam esta questão, não no impacto no tráfego negreiro, mas antes

no impacto que tiveram ou não no desenvolvimento, analisando o crescimento, na

rivalidade entre os algodões ingleses e têxteis indianos. Essa todavia é uma questão que

diz respeito, ao tráfego entre a Grã-Bretanha e a Índia e não infere no comércio com

África.

Uma boa questão é aquela levantada por Jobson de Arruda, a respeito aos

benefícios destes negócios para a Coroa portuguesa na relação da balança comercial. A

reexportação dos produtos da Ásia diminuía a reexportação, assim como a importação

para Portugal, das fazendas brancas de Hamburgo e da Holanda para as Américas e

Ásia1, a qual, por sua vez, levaria a uma diminuição dos bens da Europa, e um maior

equilíbrio das divisas de ouro nos cofres nacionais. Mas esta, apesar da vantagem que

aufere ao reduzir o peso das exportações da europa, representa também um handicap,

uma vez que esse ouro e prata iam para a Ásia para obter as mesmas fazendas.

Ora, como visto no primeiro capítulo, houve um aumento da exportação dos

produtos da Ásia, cuja sua reexportação para Angola valeria cerca de 68%. Mas como

se terá reflectido essa mesmo em Portugal na sua relação com o tráfego negreiro, e

como se relaciona com o projecto português?

2.2.1 A Exportação das Fazendas e o Comércio da Ásia

Vejamos, por outro lado, o peso do acesso das mesmas fazendas, e todo o

processo que o envolve. Antes de avaliarmos, dada a proveniência geográfica do mesmo

produto, é necessário fazer algumas considerações sobre o comércio que Portugal tinha

com a mesma praça. Segundo A.R Disney, os últimos anos do século XVIII assistem a

um revivalismo do comércio indiano. De 1780 ao fim da guerra, baseado quer no

tráfego de chá e tecidos, devido a neutralidade, Portugal consegue ter uma recuperação

1 José Jobson de A. Arruda, op cit, pp. 281 – 282.

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no comércio na Ásia – chegando a níveis que havia tido no reinado de D. Manuel I1.

Isto, por um lado, ter-se-ia ficado a dever à redução das taxas sobre os produtos da Ásia;

bem como à crescente procura na Europa de bens coloniais devido à industrialização e

às exigências de guerra2.

Por outro lado, quer devido à conjuntura, nos períodos de neutralidade, esse

avivamento – citando Acúrsio das Neves – deveu-se ao fretamento de embarcações

portuguesas por parte de Ingleses para irem para a Índia e para a China3. Esta

conjuntura, tornava propícia o acesso, além dos bens mencionados, às mesmas fazendas.

No entanto, o acesso ao mesmo bem, não significa por si facilidade na sua

utilização. As leis de 1789 estipulavam, para as fazendas vindas de Goa, um abatimento

de 12%, enquanto para que para outras partes da mesma costa de 10%4. Estes, no meu

entender, indicam a importância, uma vez que baixando-se os direitos reais, era um

incentivo a que fossem adquiridos pelos mercadores de Lisboa, servindo como estímulo

a que fossem obtidas.

No entanto, o facto de haver necessariamente acesso ao mesmo produto, não

implica que houvesse intenção de obter e de se usar para o comércio colonial. Outro

aspecto a salientar é que a Ásia começou a ganhar protagonismo, tornando-se o segundo

ponto de maior importância nas trocas comerciais nos domínios e, em termos de

importância, superando a de praças europeias como a França, Holanda, Rússia.

Dos produtos vindos da Ásia, cerca de 87%, no que diz respeito as produções os

tecidos, os quais tinham como palco preferencial, quer as praças do Brasil, quer as de

África5. No entanto estes números não reúnem o consenso, uma vez que Jorge Pedreira

afirma que a aguardente daria grande vantagem aos mercadores brasileiros, tratando-se

1 M.N Person, “Goa Based Seaborne Trade, 17th – 18th centuries” in Goa Throught the Ages

an economic History, ed. Teotónio R. de Sousa, Nova Deli, Goa University, 1990, p. 171.

2 A.R Disney, História de Portugal e do Império Português, Vol. II, Lisboa, Editora Guerra e Paz,

2011, p. 463.

3 Carlos Guimarães da Cunha, op cit, p. 147.

4 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 91, doc. 18, 16 – 03 – 1799.

5 António Alves Caetano, A Economia Portuguesa no Tempo de Napoleão, Lisboa, Tribuna da História,

2008, p.55 – 56, 60.

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de um subproduto do açúcar, os produtos da Índia corresponderiam a cerca de 40% das

importações da Alfândega de Luanda quedando-se os tecidos na ordem dos 20%1. Os

números apresentados, por sua vez, vinda em uma obra de investigação/divulgação, não

apresentam notas de onde foram elaborados esses mesmos cálculos.

Sobre as exportações dos diferentes pontos para Angola, neste caso dos da Ásia,

em contraste com os meus dados, Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, apresentam

o seguinte cenário: de 1785 – 1794, usando os dados de Corcino Medeiros, os produtos

da Ásia representariam 34%; já para 1795 – 1797, documentos da B.N (Rio de Janeiro),

onde apresenta 28%; de 1798 – 1799, onde representa 42% e 1802 – 1803 onde

apresentava cerca de 35%, segundo os dados do A.H.U; já para 1808 – 1809 cerca de

39%, baseando-se nos números do Arquivo Nacional2.

Os dados aqui presentes, sínteses de várias fontes, apresentam números

interessantes, mas questionáveis. Em primeiro lugar, as diferentes fontes apresentam

uma estrutura própria, o que torna difícil integrar num único quadro. Estes tipos de

dados são mais eficientemente trabalhados, quando servem para estabelecer uma

comparação entre eles. Os mesmos – baseados em várias fontes – dão uma ideia do peso

da exportação da Ásia, mas não dão uma dimensão comparativa face ao peso em relação

aos diferentes bens de permuta.

Os dados por mim auferidos (que provêm da Alfândega de Luanda) vão noutro

sentido, dando dados diferentes, dos valores que estes historiadores defendem. Segundo

os dados da Alfandega de Lisboa, a comercialização dos produtos corresponde a cerca

de 53%3 das reexportações para Angola, e a cerca de 68%4, segundo os dados das

tabelas da Alfândega de Luanda. Já no caso de Benguela, segundo os dados colectados

das balanças do Reino, a reexportação dos produtos da Ásia aos quais cabiam cerca de

1 Jorge Pedreira, “O Processo Económico” in O Colapso do Império e a Revolução Liberal dir. António

Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro, Vol. I, Carnaxide, Editora Objetiva, 2013, p. 145.

2 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 54.

3 Gráfico 1, p. 188.

4 Gráfico 5, p. 191.

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90% das exportações, ficando os do reino cerca de 10%,segundo as balanças comerciais

do Reino1. No entanto esse mesmo comércio conhece irregularidades.

De 1798 – 1803 conhece a primazia no comércio com Angola registando-se a

seguinte tendência: de 1798 corresponde a 38% tendo uma subida de 6% de 1798 para

44% 1799, e de 1799 a 1802 há uma quebra na ordem dos 12% fazendo 32%; regista-se

de 1802 a 1803 uma subida de 1% chegando aos 33%, para no ano posterior uma

quebra na ordem dos 9%, nesse mesmo ano dá-se uma perca da primazia para os

produtos do reino registando cerca de 24%; deste ano para 1805 há uma subida na

ordem dos 25% para 49% das trocas comerciais, voltando a posição cimeira das trocas

comerciais; para 1809 há uma quebra de 7% fazendo 42% das trocas comerciais,

descendo para os 11% uma quebra de 31%2. Em parte – a menos em 1810 – grande

perca das quebras do peso dos produtos da Ásia derivam, não da quebra das

exportações, uma vez que a nível anual a quebra ronda o um por cento, mas pelo

aumento da exportação dos produtos, quer de Portugal, quer do Brasil.

2.2.2 As Redes Mercantis o tráfego numa dimensão atlântica

A partir do momento, que o foco de exportação destes mesmos bens é extra

europeu, há que se definir redes mercantis ao qual estava sujeito o acesso e transporte

para os mesmos. Desde 2001 que se começou a dar mais enfase, no contexto de um

seminário, organizado em homenagem a Ferdinand Braudel, e a sua monumental obra

do mediterrâneo, sobre as redes mercantis transcontinentais3. Como Herbert S. Klein

1 Gráfico 1, p. 188.

2 Gráfico 12, p. 198.

3 Estas abordagens, apesar de Braudel frisar a importância das redes indirectas (arménios, Judeus,

Cristãos-Novos Portugueses, no comércio ultramarino) visavam mais as redes imperiais. Estudos que

desde os trabalhos de o trabalho de Hancock sobre as redes atlânticas, em que se opta por uma abordagem

mais de interconecção da sociedade com as redes mercantis. Mais concretamente no caso português, -

segundo Daviken Studnicki-Gizert – as redes mercantis portuguesas funcionavam numa óptica de

descentralização quer na configuração assim como na função, além de diferirem das companhias

monopolistas em grande medida ou das corporações modernas. Esta directiva tem de ser obviamente

contextualizada, se há de facto um padrão singular e familiar nas redes mercantis, até que ponto porém

essas mesmas redes não tiveram um auxílio das companhias mercantilistas na sua organização? Por outro

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bem indica, o sistema de permuta não está restrito só ao espaço atlantico. Antes está

ligado a uma complexa rede internacional, de onde da Índia à Europa circulam esses

bens para serem comercializados em África1.

Esta rede comercial, não pode ser, por sua vez, desvinculada, da procura do

mercado africano, quer da oferta do mercado indiano dos finais do século XVIII. Neste

período há uma mudança dos padrões de consumo dos produtos indianos, não

exportando só a pimenta mas também os tecidos; gerando uma diversificação de oferta

para os mercados internacionais2. A mutação da oferta indiana tem impacto também na

exportação portuguesa, já que cerca de 90% dos tecidos de algodão exportados para o

Brasil, eram provenientes da Índia3. Esta exportação acontece numa conjuntura

comercial, de recuperação da rota do cabo portuguesa.

Há da parte da historiografia Brasileira, alguns estudos que enfatizam a

articulação com as redes moçambicanas e com a Índia a partir deste ponto. No seu texto,

Luís Frederico Antunes, dá enfase a relação directa entre Goa/Rio, de 1808 – 1820, e do

peso do trafego negreiro de Moçambique para o Brasil4. Mas poder-se-á reduzir esta

interacção só a este ponto? Neste caso é ampla a historiografia, que estuda essa questão

na perspectiva do Brasil, um dos casos José Honório Rodrigues, aponta a subordinação

do comércio de Angola, aos interesses da procura Brasileira5.

lado este autor afirma que estes – na sua individualidade – constituíam uma rede de interdependência e

mutualismo. Outro estudo é o de Fredrik Barth, Francesca Trivellato, no qual pega no exemplo das redes

mercantis criadas entre os judeus de Livorno, italianos em Lisboa, e Hindus de Goa, para tentar criar uma

definição da rede atlântica portuguesa. No seu estudo ela procura estudar a longa duração, ou como ela

mesmo define as relações duradoiras. Esta abordagem pretende – na óptica da autora de reduzir a

abordagem feita nas normas éticas, ou nos laços sociais, assim como uma abordagem mais económica

colocando a racionalidade a base das actividades económicas. As grandes linhas delineadas por estre

trabalho foram: a necessidade de haver um forte factor de coesão entre redes multiculturais religiosas; O

factor mais importante deste tipo de redes era a reputação como acontecia nos historiadores anteriormente

estudado. Diogo Ramada Curto, As Múltiplas Faces da História, Lisboa, Livros Horizontes, 2007, pp.

118 – 123. 1 Herbert S. Klein, op cit, p. 289.

2 James Foreman Peck, op cit , p. 365.

3 Jorge Pedreira, “A Industria” Historia Económica de Portugal, p. 202.

4 Luís Frederico Dia Antunes, “ A Influência Africana e Indiana no Brasil, Na Virada do Século

XVIII: Escravos e Têxteis” in Nas Rotas do Império Org. João Fragoso, Manolo Florentino et all,

Vitória, EDUFES, 2006, p. 139 – 169.

5 José Honório Rodrigues, Brasil e África, outro horizonte, 3ª edição ampliada, Rio de Janeiro, Editora

Nova Fronteira, 1982, p. 46.

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Sobre esse tema Roquinaldo Ferreira faz uma leitura – no período anterior ao

meu estudo onde indica – que, por uma tentativa dos mercadores de Lisboa de

ganharem mais peso no tráfego negreiro, se notam mudanças no acesso aos bens de

comércio e ao envio dos mesmos1. Nesta lógica assistir-se-ia a uma tentativa de

substituição do peso das jeribitas, pelas fazendas da índia. No que toca a importância

dos bens o mesmo autor já não subescreve a mesma tese, começando a considerar as

fazendas da Índia como o principal bem de permuta2.

Para o dito período o mesmo historiador enfatiza o papel das redes

metropolitanas, no palco da dita capitania quer coincide, com a já para 1747, a

importância para o escambo era de bens da Europa, assim como de fazendas da

Índia3.Importância que, para as redes mercantis em de Benguela, a partir de 1760,

começa a ser hegemónica das redes mercantis do Rio de Janeiro4. Mas como se

consagra a lógica de substituição, das redes mercantis com o envio dos diferentes

produtos.

Comecemos por definir, a estrutura dessas mesmas redes para perceber se – num

primeiro plano há oposição das redes mercantis, ou antes estas funcionam em sincronia.

Sobre a questão da posição do tráfego negreiro nas redes mercantis, Manolo Florentino,

na óptica de Maximiliano M. Menz, foca o exemplo, a par da relação colonial, numa

perspectiva do Brasil em si, uma vez que este estaria dominado pelo capital brasílico

logo deveria ser entendido em função de uma dinâmica económica e social colonial, e

não em prol da industrialização da Europa5.

1 Roquinaldo Ferreira, “Dinâmicas de Comércio Intercolonial: Jeribitas, panos Asiáticos e guerra no

tráfego angolano de escravos (século XVIII) ” in O Antigo Regime nos Trópicos A Dinâmica

Imperial Portuguesa (séculos XVI – XVIII) Org. João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho, Maria de

Fátima Gouveia, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 2001, pp. 339 – 378.

2 Idem, Cross Cultural Exchange in the Atlantic World, p. 5.

3 Roquinaldo Ferreira, Transforming Atlantic Slaving: Trade, Warfare, and Territorial Control in Angola,

1650 – 1800, Tese de Doutoramento apresentada na University of California, Los Angeles, 2003, p. 115.

4 Idem, Ibidem, p. 103.

5 Gustavo Acioli e Maxmiliano M. Menz, op cit, p. 44.

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No entanto – numa perspectiva brasílica – segundo a leitura historiográfica de

Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz – a historiografia brasileira, contrariando a

ideia de triângulo comercial, aborda a questão do tráfego negreiro do prisma brasílico,

apoiando os seus estudos entre o tabaco e as bebidas como meio de permuta. Estes

criticam essa posição em dois pontos:

1) Esta abordagem sobrevaloriza a aguardente e o tabaco mantendo a relação em

circuito fechado;

2) Esta abordagem – ao colocar a relação de bipolaridade Brasil/África – acaba por

excluir a interacção com outros pólos1.

Vejamos, então, a interligação das redes coloniais, a fim de podermos

determinar – dentro do campo de estudo – o que implicaria estas questões.

Sobre a orgânica das redes mercantis portuguesas, temos os trabalhos quer de

Jorge Pedreira, quer de João Fragoso, os quais dão uma ideia de interconexão das redes

atlânticas. Com a excepção dos produtos próprios do Brasil, a maioria dos bens que

vinham para o Brasil vinham consignados pelos mercadores portugueses aos seus

correspondentes no terreno, para depois serem exportados para África para servirem de

permuta. Estes, segundo Carlos Guimarães, não corresponderiam aos grandes

mercadores, mas uma série de pequenos e médios mercadores que, em sociedade, ou em

cotas – segundo o exemplo do porto – realizariam esse comércio2.

No estudo que faz, tendo como exemplo os Beirões e os Transmontanos, ou dos

minhotos, Jorge Pedreira, atesta que uma percentagem dos que iam para Lisboa

passavam ao Brasil fazendo fortuna por lá. E dessa cerca de 1/5, dos provenientes de

Lisboa, não se limitava as praças do Brasil, indo operar pelo ultramar português3. No

1 Gustavo Acioli e Maxmiliano M. Menz, op cit, p. 47.

2 Carlos Guimarães da Cunha, Negociantes, Mercadores, e Traficantes, no final da Monarquia

Absoluta, Lisboa, Edições Colibri, 2014, pp. 144 – 145.

3 Jorge Pedreira, Os Homens de Negócios na Praça de Lisboa, Tese de Doutoramento em

Sociologia apresentada à Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1995, p. 220.

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entanto esta teia poderia alcançar uma composição mais complexa, albergando não só

familiares como conhecidos.

Por sua vez, Fragoso, indica que apenas 55, que correspondiam a 9%, dos

mercadores envolvidos no comércio internacional os quais constituíam uma situação de

monopólio1. Destas cerca de 29 famílias detinham, cerca de 60% do tráfego negreiro.

Ora só alguns, em número reduzido, é que estão ligados ao comércio internacional,

estando ligados aos interesses das casas mercantis do reino. Neste cenário, não se pode

considerar que haja uma oposição, mas antes uma integração de interesses dada a

dependência mútua.

Vejamos o fornecimento destes bens, e como os mesmos se efectuavam no

mesmo contexto. Já sobre esta questão Luís Federico Dias, sobre a proveniência das

fazendas de comércio, refere a posição da Família Camotim Mhamai a qual, além das

relações com firmas inglesas e francesas, tem uma série de relações com Homens de

Negócios Brasileiros2.Omesmo ainda não foi feito, sobre as ligações das casas

comerciais Indianas com as casas do Reino. Os mercadores Hindus (canarins), para

evitarem a sofreguidão fiscal dos governadores portugueses, tinham o grosso dos seus

interesses no interior do continente3, o que lhes dava acesso ao mercado têxtil do

continente, de onde poderiam obter os ditos produtos para exportá-los para Lisboa.

Há toda uma série de mercadores que se dedicavam, na Índia a este tipo de

tráfego4. Mas além dos agentes é crucial identificar as regiões de onde provinham as

fazendas da Índia. Já no que diz respeito às proveniências das mercadorias a norte, este

1 João Fragoso, Homens de Grossa Ventura: A acumulação e Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de

Janeiro (1790 – 1830), Rio de Janeiro, Arquivo Nacional Orgão do Ministério da Justiça, 1992, p. 180.

2 Luís Federico Dias Antunes, “Têxteis metais preciosos: novos vínculos do Comércio Indo-Brasileiro

(1808 – 1820) ” in O Antigo Regime nos Trópicos A Dinâmica Imperial Portuguesa (séculos XVI – XVIII)

Org. João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho, Maria de Fátima Gouveia, Rio de Janeiro, Editora

Civilização Brasileira, 2001, pp. 403, 409 – 410. 3 João Manuel Teles da Cunha, “Economia e Finanças” in Nova História da Expansão Portuguesa dir.

Joel Serrão e A.H de Oliveira Marques, Tomo I, Vol. V, Lisboa, Editorial Estampa, 2006, p. 356.

4 Como mercadores destacam-se várias famílias mercantis brâmanes, que, além da exportação dos

têxteis, lucram com o comércio internacional como: os Mahamais; os Dhempes; os Sinairis; os

Navelcars; Naiks e Dhumes Idem, Ibidem, p. 356.

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refere a importância de Surrate nesse processo, assim como de Balagate1. A leitura deste

investigador, vai na questão do acesso as fazendas da Índia por parte dos mercadores

das Américas Portuguesas. Os tecidos, adquiridos pelos portugueses, vinham de, no

Coromandel: Damão, Diu, Balagarte; e de Bengala: Madastra e Pulicut2. Esta

informação é confirmada, pelos nomes e designação geográficas dos tecidos indianos

vindos da Ásia presentes nos registos da Alfândega de Lisboa. Se as fazendas eram

expedidas, da parte de Lisboa, para o Brasil e dai para Angola, o aceso a elas estava na

dependência destas famílias mercantis.

Dentro desta dinâmica onde, para ser realizar o tráfego negreiro, estão

envolvidas diferentes partes do Ultramar Português, pode-se questionar o conceito de

triângulo comercial. A noção clássica indica uma forte interacção dos produtos do

Reino, usados como meio de permutar os bens em África para o Brasil e os destes para

o reino. Sobre esta questão Fernando Novais afirma que, com a industrialização na Grã-

Bretanha e o escoamento de sua produção para as colonias portuguesas, inicia-se o que

se chama a crise no sistema colonial clássico.

Por outro lado, este assunto entra dentro da questão da fractura epistemológica,

conforme teorizada por Thomas Kuhn. Segundo as teorias deste investigador, a ruptura

epistemológica potencializa-se quando, dentro de um quadro de um sistema de saber,

não é possível dar soluções para um determinado problema que surge no seio do

próprio. Indiscutível que a industrialização Inglesa, e sua exportação para outros

circuitos comerciais coloniais que não os seus possa ter contribuído. Mas e as lacunas já

existentes no próprio funcionamento do sistema colonial português?

A dependência das redes comerciais indianas e a sua capacidade, quer das

regiões sob domínio português, quer das restantes, é um sinal de fraqueza desse mesmo

sistema colonial? A lógica deste triângulo seria o uso dos produtos do reino como

1 Roquinaldo Ferreira, Transforming Atlantic Slaving: Trade, Warfare, and Territorial Control in

Angola, 1650 – 1800, p. 119.

2 João Manuel Teles da Cunha, op cit, p. 353.

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permuta pelos escravos, que por sua vez eram empregues na produção agrícola para a

sua reexportação, o que Portugal, no caso de Angola, não consegue fazer. A existência

de um bem, cujo emprego era essencial para o comércio negreiro, e que para ser

adquirido, estava dependente de redes mercantis estrangeiras, é por si indicio que, no

aspecto do comércio colonial, o triângulo era inoperante. Desta forma, mais importante

ainda que a influência britânica, é a falta de capacidade de Portugal, por seus próprios

meios, de abastecer o seu mercado colonial mesmo nas relações normais.

Tendo as redes mercantis em perspectiva, posso deduzir que, mais do que a rede

mercantil portuguesa, ou a rede mercantil brasileira, é a rede mercantil internacional,

que abastece Angola das fazendas da Índia – processo que, do ponto de vista da

construção histórica, infere e refuta a noção de triângulo mercantil como o conhecemos.

Revela neste caso a fraqueza de Portugal, cumprir com as bases do triângulo

mercantil. Mais do que sujeitar os estados africanos a sua procura, Portugal está sujeito

a procurar o que serve de oferta, o que o liga a uma rede internacional mais vasta para

aceder aos mesmos produtos.

2.2.3 As Fazendas e o Peso no tráfego Negreiro

Vista a questão das redes internacionais, e seu papel na distribuição das

fazendas, assim como o contexto mercantil, vejamos agora o peso mesmas na

exportação de escravos para Angola. Na sua obra Cross Cultural Exchange,

Roquinaldo, refere o peso deste bem de permuta, sem porém lhe dar um grande

enfoque. Este já havia sido dado na sua tese de doutoramento onde, fazendo uma

avaliação do preço, refere a importância dos coromandeis, e dos zuartes. A par da

preferência destes tecidos, este atesta a importância dos mesmos, ligada ao prestígio

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social de seu uso1. No entanto em uma outra fonte, há outra ordem de importância

indicada. Um documento destinado à corte reforça esta posição, mencionando que eram

as fazendas da Índia que eram as mais procuradas e delas destacam-se: Calamanhas,

Coromandeis, Borralhos, Tafeciras, Linhas (a que dizem ser inglesas), Cobertas de

Damasco e Balagarte, Lenços Sotomomales, e outros tecidos mais baratos, mas eles de

países quentes2. Outras fazendas mencionadas eram os Zuartes de Milhor.

Mas as fazendas da Índia, não eram as únicas mencionadas conta-se também:

Fazendas do Norte da Europa; Bretanhas de Hamburgo, Cobertores de Papa, Baetas, e

outros géneros como; contas de loiça de várias cores; chamas missangas; coral,

missanga, cassungo, zimbro3.Os motivos para a importância atribuída a estes bens de

permuta, varia consoante os diferentes historiadores.

Uma questão colocada por Joseph Miller é que a procura dos tecidos da Ásia, e

da Europa, serviam para colmatar as fracas técnicas e indústria de curtumes africanas.

Por outro lado a posse desses tecidos, segundo o mesmo autor, era símbolo de status

social4. Segundo o mesmo, em comparação aos tecidos lusos e europeus, a vantagem

aferidas por estes tecidos estava, ou no seu requinte a ouro e prata dos tecidos de

Algodão, ou na diversidade das cores5. Por sua vez, John Thornton, para o século XVII,

associa essa aquisição a questão da vaidade6. A mesma vaidade, dentro desta linha de

pensamento, seria socialmente, mostra a sua posição social pela posse de produtos

exóticos.

Porém serão as únicas questões, que levariam ao sucesso do mesmo produto?

Uma das questões que se levanta para o sucesso do mesmo era serem tecidos resistentes

mas frescos, que permitia que, quando usados o calor sentido não fosse insuportável.

1 Roquinaldo Ferreira, Transforming Atlantic Slaving: Trade, Warfare, and Territorial Control in

Angola, 1650 – 1800, p. 116.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.

4 Joseph Calderon Miller, op cit, p. 80.

5 Idem, op cit, p. 74.

6 John Thorton, op cit, p.98.

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Além do calor estas fazendas tinham outras particularidades: resistência,

durabilidade, as cores, e a permanência das cores nas lavagens1. As quais, segundo o

mesmo oficio, variam segundo a estação, assim como o gosto dos negros. Logo, a par

de um certo símbolo de status, havia uma grande utilidade na sua utilização.

Outra questão, dentro da dimensão estatística, é a comparação do peso da

exportação destes bens, com os restantes bens de permuta do reino e das Américas. O

peso da reexportação deste género, só por si corresponde a 58% quedando-se em

segundo com 27% as bebidas do Brasil, os produtos do reino, das quais se destaca o

Vinho, corresponderia a 10% do que era exportado para esta permuta2. Desta forma, só

este bem tinha a maioria nos produtos de reexportação.

No plano da substituição, destes bens pelos das Fábricas do Reino, tenhamos em

atenção as diferenças percentuais entre eles. Do total a exportação dos produtos da Ásia,

corresponderia cerca de 70%, quedando-se os produtos das Fábricas, lanifícios,

algodoaria, linifícios, sedas, entre outros, cerca de 30%3. No plano de lógica de

exportação, isto indica a maior estima por parte destes produtos, do que o das praças

portuguesas o que torna difícil a sua implementação. Ora inquestionavelmente o peso da

exportação e reexportação, pende para as fazendas da India mas será esse o único factor

que indica a sua importância.

A par dessa dimensão, há que ter em conta o que os diferentes governadores

dizem sobre o peso desse bem na permutação propriamente dita. Ao ler a

documentação, verifiquei um pedido constante, principalmente de Benguela, das

fazendas da Índia. No caso desta capitania, cerca de 90% da reexportação dos produtos

do reino, eram as fazendas da Índia4. Sobre os bens de permuta, as fazendas da Índia, a

primeira referência, é de 1781, onde se diz em ofício que saíram cerca de 1000

1 Herbert S. Klein, op cit, p. 292.

2 Gráfico 15, p. 201.

3 Gráfico 17, p. 203, e Gráfico 16, p. 202.

4 Gráfico 2, p. 189

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escravos, por falta de fazendas1. Os restantes documentos advertem que a falta das ditas

fazendas causa malefício no comércio e quebra no tráfego negreiro2. Sobre a primeira

referência é trazida de Lisboa, uma grande carregação de fazendas para Honorato Abreu

e companhia3.

Dentro desta conjuntura, é pedido que venham as fazendas da Índia, que estejam

na Bahia de modo a poder-se comerciar os escravos4. Os africanos nativos vêm aos

presídios com as suas carregações, trocando as suas mercadorias, escravos inclusive,

por fazendas e 19 outros géneros que não são identificados. Aos africanos trocam as

suas mercadorias, por quem tem as fazendas desejadas mais a mão e no momento. Estas

por si segundo o dito governador, correspondem a cerca de 25% a 50% das moedas de

troca das fazendas.

Ao analisar detalhadamente as tendências destes bens, encontro a seguinte

tendência de exportação por parte de Portugal destes tecidos: Zuartes 27%; Cádeas

22%; Coromandeis 10%; Panos de Cafre 6%; Lenços 6%5. Ora o que era reexportado

por Portugal, não corresponde ao de maior procura por parte do Sertão, com excepção

dos coromandeis, o que por sua vez explique a questão do chamado contrabando. Não

tendo números para fazer uma comparação, creio que os ingleses/franceses, teriam em

condições de fornecer ao sertão as fazendas na ordem de importância exposta.

Mas o acesso, o peso atribuído por si, não é suficiente para determinar se este

bem tinha uma importância real. Outro ponto, além no do acesso, é o papel das

mercadorias em questão na actividade comercial propriamente dita. A quando uma

embarcação, a Galera Santo António Sertório, que, na sua ida a Cabinda, não consegue

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 64, doc. nº 37, 22 – 07 – 1781.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 76, doc. nº 43, 21 -06 – 1791 A.H.U, Conselho

Ultramarino, Angola, Caixa 81, doc. nº 5, 20 – 01 – 1795 & A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino,

Caixa 82,doc nº 28, 21 – 09 – 1795 & Vide: A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 84 doc. nº 10,

27 – 07.

– 1796 & A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 85, nº 17, 29 – 01 – 1797. 3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 76, doc. nº 56, 28 – 06 – 1791.

4 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 82,doc nº 28, 21 – 09 – 1795.

5 Gráfico 14, p. 200. E Gráfico 13, p. 199.

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negociar escravos por não terem as fazendas próprias1. Esta embarcação partiu com

Brins para África para negociar, o que não são as fazendas corretas para a permuta por

escravos2. Por tal é pedido que, do porto no Brasil, possam ir buscar as fazendas

próprias para realizar a negociação.

No fim deste período, esta questão – no que respeita a Benguela – parece estar

regularizada, uma vez que é enviada uma consignação a Manuel Joaquim de Azevedo

para a realização do tráfego negreiro3. Ora a bordo, apesar de levar bebidas, e outros

elementos, foi a falta das fazendas da Índia, que fez com que se gorasse esse mesmo

negócio. Ora na prática do comércio, esta questão atesta que a falta das moedas corretas,

para a permuta, poderiam gorar a prática do comércio. Este caso, dado o que gorou as

trocas comerciais foi a falta das fazendas devidas, indica que era crucial ter este bem

para a realização das trocas no sertão.

Em súmula, quer estatisticamente, quer em termos de procura, quer pelo

reconhecimento dessa mesma importância, dá a ideia do peso hegemónico deste bem no

sertão. Os quais, numa leitura de conjunto, atestam a fragilidade do triangulo comercial

português, se não são mesmo um resultado da sua crise pela incapacidade de terem um

maior acesso ou maior expressão territorial que lhes permita maior acesso as fazendas

da Índia. Estas assumem a primazia, ligadas a uma rede comercial mais densa, que a

torna depende não dos circuitos comerciais europeus, mas antes dos circuitos

comerciais indianos.

Numa visão geral estas, não tem, assim como no armamento, um efeito

desestruturante como é apontado, mas integram-se na própria simbologia social de

estatuto social nas sociedades africanas aos quais são permutadas. Nesse mesmo

aspecto, há uma predominância impressionante das fazendas da India sobre todos os

outros produtos. Estas, mais do que causarem desestruturação social - no máximo –

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 43, 20 – 07 – 1800.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1799.

3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 121-A, doc. nº 11, 16 – 11 – 1810.

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poderiam causar um reforço das distinções sociais já existente. Por outro lado – no caso

das armas, apesar do papel reduzido na exportação – eram um meio de ajudar a reforçar

o poder pelas linhagens já existentes, que é o mesmo que dizer pelos estados africanos.

Estas em si, as quais eram exportadas apesar da relutância dos governadores, serviam na

estratégia portuguesa como uma forma de tentar evitar o acesso aos estados africanos

das que eram fornecidas por Ingleses e Franceses.

Já as bebidas, apesar da importância das jeribitas, também apresentam um peso

irrisório no consumo do sertão – consumo cuja quebra está relacionada com a

proliferação dos alambiques e dos meios de produção local. Apesar da oposição dos

governadores, a venda de armas no sertão, que chocava com os objectivos portugueses

para o sertão, estes estavam dentro das intenções mercantis portuguesas.

Assim, quer as armas, quer as bebidas, no plano da exportação, tinham valores

residuais a quando comparadas com as fazendas da Índia. Estas, no aspecto

mencionado, eram sinal de status social, quer aos sobas, mucotas, ou qualquer outro

dignatário africano, assim como aos membros mais ricos das sociedades em questão.

Correspondem a uma rede, na qual não só estão presentes os portugueses, mas depende

de uma rede internacional mais vasta, sendo o ponto africano, um dos pilares dessa

mesma rede, pelo fornecimento de mão-de-obra; as quais, apesar dos esforço e intenção

do reforço do consumo dos produtos reinóis, quer nas possessões, quer nos sertões – o

qual não é acompanhado, pelos hábitos de consumo das populações africanas.

No plano de interacção com o projecto apresentado, a procura do sertão

dificultava a aplicação da substituição do peso das fazendas coloniais e estrangeiras,

pelos produtos do reino. Os quais chocam, com a utilidade e estima que estes últimos,

principalmente as fazendas, encontram no sertão africano.

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2.3 O Tráfego Negreiro

2.3.1 O Tráfego Atlântico a dimensão atlântica do Projecto

Tendo perspectivado a questão das fazendas, cuja lógica da utilização no

projecto de incrementar a procura de bens portugueses indicia a sua substituição como

moeda de troca. Mas para um melhor entendimento destes objectivos, temos de

perspectivar o tráfego negreiro no período em estudo. Outra dimensão do projecto era a,

a par da maior interacção com o reino, manutenção da relação com o Brasil. “ E como a

exportação de Benguela consiste em Negros, Cera e Marfim, deve ter um particular

interesse em promover esses artigos”1. Desta forma, mais do que mudar, só, as relações

económicas seculares, visava também em dinamizar as mesmas.

Os números mais antigos – elaborados por estimativa – por Adrien Balbi,

indicam em média a ida de 22 mil a 25 mil escravos/ano2. Esta dimensão, como indica

Carreira, resultou na falta de series concretas sobre o tráfego negreiro gerando

dificuldades em estabelecer-se a dimensão demográfica do tráfego negreiro. O que abre

a reflexão, sobre o método usado de quantificação da mesma actividade. No entanto, o

mesmo autor faz a estimativa que, somente pelo comércio legítimo, teriam saído cerca

de 1.100.000 escravos no século XVIII por um período de 50 anos só de Luanda e

Benguela3.

Porém desde a obra de Curtis, que se tem tentando, com enormes progressos,

definir o número exacto da rapina humana. O trabalho de senso dele, e a crítica feita a

ele, foi uma forma de obter resultados mais eficazes levando a que – ou para confirmar,

1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 7, 7 – 10 – 1798, missiva 1.

2 Adrien Balbi, Essai Statistique sur Le Royaume de Portugal et D’Algarve, Tomo I, Paris, Chez Rey

et Gravier Libraires, 1822, p. 426.

3 António Carreira, Angola: da Escravatura ao Trabalho Livre, Lisboa, Arcádia, 1977, p. 24.

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ou desmistificar – tenha de se recorrer aos arquivos buscando dados relativos ao tema1.

No entanto os dados recolhidos por Curtis, no que diz respeito ao Ultramar Português,

são amplamente contestados pela historiografia que trata o tema.

José C. Curto considera que os números apresentados por Curtis são mais

americanos do que propriamente africanos, sendo referentes mais à partida do que

necessariamente à chegada. E mesmo no que diz respeito a América os dados auferidos

pelo dito historiador, referem-se ao tráfego em direcção a América do Norte e não para

a globalidade da América. Esta posição é subscrita por Isabel Castro Henriques que

indica que, apesar de algum pioneirismo, os números apresentados por ele nada valem

para Angola2. Apesar desta discrepância dos dados, o seu trabalho está na génese de

duas escolas metodológicas que trabalham sobre o tráfego negreiro.

As duas escolas, a minimalistas e maximalista, as quais tendem; ou de reduzir,

ou de aumentar, o volume de escravos rapinados da sua terra. Ambas estas escolas

apesentam argumentos válidos, assim como métodos que valem a pena considerar. O

método destas escolas tenta de certa forma, complementar as ausências estatísticas por

parte das fontes.

Sobre esta questão – Castro Henriques - há várias razões que impedem que haja

uma avaliação correta do tráfego negreiro, uma vez que quer a retro história – que

implica pegar nos dados dos últimos anos e partir os cálculos desse mesmo para

estabelecer o padrão - e a tentativa de completar os silêncios documentais apresentam

falhas3.

Em primeiro para estes dados baterem certo, era necessário que as quebras e

subidas fosse regulares para dar coerência aos dados, o que não sucede. Em segundo

1 Destaco o trabalho de Lovejoy, o qual critica amplamente uma vez que as series com que este baseia os

seus dados se cancelam uma a outra. Mas as de Lovejoy também apresentam serias dúvidas, uma vez que

alguns dos dados, que ele apresenta, no que diz respeito a distribuição do tráfego negreiro. Vd. David,

“Slave Exports from West and West - Central Africa, 1700-1810: New Estimates of Volume and

Distribution”, The Journal of African History, Vol. 30, No. 1 (1989), p. 2.

2 João Medina e Isabel Castro Henriques, op cit, p. 167.

3 João Medina e Isabel Castro Henriques, op cit, p. 166.

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haver dados regulares indica que haverá filões demográficos, capazes de suportar esse

mesmo tráfego de forma regular. Esta questão entra dentro das críticas que os

historiadores africanos, do ponto de vista demográfico, fazem sobre o impacto da

escravatura nos sertões africanos. Um dos caminhos trilhados nessa perspectiva, é sobre

o impacto da actividade em questão no esvaziamento do sertão. Segundo Joseph Ki-

Zerbo o número de escravos provenientes de Angola para o Brasil, aumenta com D.

Francisco Inocêncio Coutinho chegando a uma média de 30.0001.

No entanto após este período, há uma quebra nesses números em comparação

com os do referido historiador. Ora o período em questão, é de difícil acesso, tema que

irei explorar mais adiante, ao sertão. Já Joseph Miller por sua vez dá uma indicação,

baseada na longa duração, onde indica, num gráfico elaborado por ele, entre 1780 –

1790 como um período onde há uma média de 40.000 homens anos, vinda em

crescimento havendo uma queda abrupta nessa década numa média anual. Já nos

quadros de Klein, em comparação com as de Curtis indica que, entre 1780 – 1800, para

Angola cerca de 208045 mil escravos forma enviados por Luanda.

No que toca a Benguela, este indica no mesmo espaço de tempo, teriam ido

cerca de 139014 mil escravos. Ora Isabel Castro Henriques pega nos números

mostrados por José C. Curto, em comparação, para estes 30 anos em estudo, dá um

número de 201068, só para Benguela. Por sua vez Joseph Miller, para 1791-1800,

aponta um total de 168000 escravos, e cerca de 188000 para a década seguinte. Apesar

de ser difícil estabelecer os números globais do tráfego, é possível criar-se uma

estimativa dos números oficiais.

As fontes por mim auferidas dão uma dimensão estatística completamente

diferente, acerca do número de almas rapinadas para as Américas. Para tal a toda uma

série de fontes, de onde nos é possível auferir esses mesmos dados. Um dos elementos

que passa a ser obrigatório é, a existência de certidões onde estão presentes tudo o que o

1 Joseph Ki-Zerbo, op cit, p. 427.

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suplicante afiançou, assim como os direitos reais a pagarem, assim como os portos da

América para que partem1. Para as diferenças do saldo comercial, entre Angola e as

diferentes praças do Brasil (devido ao tráfego negreiro) encontramos o seguinte cenário:

1798 (319103827) 6% do total das transacções, 1799 (246777290) 9%, 1802 (164986545)

15%, 1803 (3169178) 15%, 1804 (2934070) 15%, 1805 (12744) 16%, 1809

(202654027) 9%, 1810 (7065112) 14%2. Na prática o aumento da percentagem

acompanha, não a subida da diferença mas antes o aumento e consequente regularização

entre as praças em questão. Os valores aqui presente, referem-se ao tráfego negreiro o

qual passaremos a considerar.

A par desse, temos os dados da Alfândega de Luanda, que referem o número de

escravos exportados, inicialmente valores gerais, a partir da terceira já contendo a

descrição por Capitania. No caso de Benguela, temos os dados dos mapas da cidade,

que dão uma dimensão geral, assim como especifica desses mesmos dados. Por outro,

no caso de Angola, temos um documento em 1798 com registo completo do número de

escravos exportados entre 1782 – 1797, o que permite – numa leitura geral –

complementar os registos já existentes. Estes documentos fornecem dados concretos

para se poder calcular esses valores.

Aqui, optou-se por não tentar, nos poucos anos em que não temos expressão

quantitativa dos escravos, não estabelecer projecções nem estabelecer estimativas, mas

antes, mas trabalhar só com os dados auferidos pelas fontes. Numa leitura de conjunto o

auge da do tráfego negreiro em Benguela tem como auge 1780 – 1790, descendo a

partir de 1790 mas mantendo-se elevado até 1830.

Os dados que recolhi, revelam que – não se tratando de séries completas – faltam

dados para os anos como de: 1780 – 1782, 1784, 1800 – 1801, 1807 – 18083, o que não

inviabiliza estabelecer-se um universo estatístico sobre o tráfego negreiro. Segundo

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 116, doc. nº 62, 31 – 10 – 1806, oficio nº 4. 2 Tabela 7, p. 161. 3 Mera estimativa, devido a ausência de dados estatísticos, referentes aos anos em causa.

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estes números de Angola e Benguela teriam partido, neste período, 39648 mil escravos;

cerca de 242214 de Angola, e cerca de 154254 de Benguela, registando-se uma média

anual de 14158,611.

Se de 1783 a 1785 há um crescimento na ordem dos 1% anos, para 1785 – 1792,

há uma estabilização na ordem dos 4%; que há nesse ano um aumento de 1% para os

5%, o que se mantem até 1795; a partir dessa data regista-se um decréscimo na ordem

do 1% voltando aos 4% ano até 1802, onde a partir desse ano há um decréscimo na

ordem do 1% voltando ao 4% que se registam até ao fim do período em estudo2. Logo,

para os anos que estou a estudar, há uma estabilização relativa da actividade não se

registando grandes descidas nem subidas.

No geral pode-se falar de uma estabilização do tráfego negreiro, com subidas e

descidas relativamente estável rondado um 1%. Numa primeira leitura a uma

estabilidade da exportação do tráfego negreiro, que não interessava a coroa. Os dados

auferidos por mim, para o total deste período dão uma média ano que rondavam os

28317,21, só no caso de Angola.

No caso de Benguela muito menores, de que os dados auferidos por Isabel

Castro Henriques, referentes à dita capitania. Uma dimensão bem maior do que a dada

por Klein, uma vez que nos números por si apresentados, muitos dos anos que eu

encontrei não estavam presentes. Já em relação aos de Miller, há uma diferença ténue.

Este não demonstra dados relativos à década de 80, no artigo citado, para os anos 80, na

sua obra Ways’s of death; ele apresenta para esse período, uma média de 40.000

homens/ano. Em comparação aos números apresentados por José Curto, estão patentes

os seguintes resultados, o qual aponta, em comparação com 1760, um crescimento

brutal mas no qual não apresenta valores concretos3.

1 Tabela 14, p. 171.

2 Tabela 15, p. 172, Gráfico 18, p. 204.

3 José C. Curto, “A Quantitative Reassessment Of The Legal Portuguese Slave Trade From Luanda 1710

– 1830”, in African Economic History, Nº 20 (1992), p. 7.

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A nível metodológico, é impraticável fazer-se estimativas uma vez que, no que

diz respeito ao tráfego, não havia uma regularidade anual. No plano geral, os números

apresentados falam de uma realidade estatística completamente diferente dos dados aqui

presentes, onde se destaca uma estagnação do tráfego negreiro. O que por sua vez nos

obriga a ter de redimensionar a dimensão do tráfego negreiro, e ter sempre em atenção a

dimensão real.

2.3.1 O Tráfego Negreiro e a escala regional, e a questão da Produção

no Brasil

Mas se no geral, encontramos as tendências já estudadas, vejamos na prática

como estas se conjugam a uma escala local. Por um lado, dada a abrangência das

interconecções com a produção para o mercado internacional, a questão da escala local

deve ser perspectivada consoante a estratégia portuguesa para o Ultramar. Esta questão

remete para as concepções de trabalho, e de produtividade do período em questão, que –

como visto no primeiro capitulo – era o mercantilismo.

Um do primeiros a lançar essa questão, dentro do contexto africano, foi Adelino

Torres que, o coloca para o século XIX no espaço africano, ligado a um processo

colonial mais tardio1. Esta perspectiva está relacionada, na toada que este autor lhe dá, a

introdução de uma lógica europeia de introdução de produção numa lógica europeia nos

terrenos de Angola. A questão passa pelos africanos, como força motriz nas Américas.

É defendido por Isabel Castro Henriques que os africanos e África tiveram uma

mão activa na formação do atlântico: quer pela sua utilização como mão-de-obra, quer

pelas plantas aclimatadas nas Américas que corresponde a uma africanização do

espaço2. Uma questão pertinente levantada por John Thornton foi o do papel dos

1 Adelino Torres, O Império Português Entre o Real e o Imaginário, Lisboa, Escher, [S.D], pp. 33 – 50.

2 Isabel Castro Henriques, Os pilares da diferença, p. 103 – 128.

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africanos, no mundo moderno considerando, em resposta as teorias que defendem que o

subdesenvolvimento africano foi gerado pela escravatura, que o tráfego negreiro era

uma actividade marginal na economia Africana1. No entanto refere a introdução de uma

lógica em Africa, e não do Africano numa dimensão atlântica.

Mas a questão da instrumentalização dos escravos, para as diferentes zonas –

consoante os objectivos de exploração económicas – não está só presente na

importação. No plano da mobilidade interna dos escravos Stuart Schwartz, dá a ideia da

deslocação dos focos da escravatura, conforme os diferentes ciclos da história

económica do Brasil, das plantações para as minas, e destas para as plantações2.

Segundo Corcino Medeiros uma das razões que levou a Bahia ter como mercado

principal abastecedor a região da mina, no princípio do século XVIII, foi a perícia dos

mesmos na mineração3. No entanto se esta dá uma ideia da utilização do escravo a nível

interno, não o dá se há consonância entre essa reutilização interna e a procura de

escravos de outras partes.

.A historiografia Brasileira tem tido um papel importante nesta questão.

Segundo Robert Simenson, este processo está relacionado com as dificuldade da própria

metrópole, conseguir abastecer as colonias de mão-de-obra. Já Celso Furtado indica

que, dentro do sistema económico vigente, seria pouco rentável a existência de mão-de-

obra Branca a operar nas produções. Já Caio Prado Júnior aborda dentro da necessidade

de emprego na monocultura o qual, com Fernando Novais, associa a questão a

acumulação primitiva de capitais4. A historiografia Brasileira, ao integrar a questão da

escravatura, dentro de um sistema económico mais lato, já dá um laivo da sua

correlação com o mercantilismo.

1 John Thorton, A África e os Africanos na formação do Mundo Moderno, São Paulo, Editora Campus,

2004, p. 88.

2 Stuart Schwartz,” Escravatura e Comercio de Escravos no Brasil do Século XVIII”, p. 110 – 111.

3 Corcino Medeiros, “A Bahia no comércio Português na Costa da Mina”, in Brasil Colonização e

Escravidão, org. Maria Beatriz Nizza da Silva, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, p. 224.

4 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 43.

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Mas, apesar desse importante passo, não o enquadra dentro dos padrões do

pensamento dessa mesma prática económica. Há alguma historiografia, que começa a

fazer essa mesma correlação, não falando da actividade prática mas ligando aos

aspectos teórico/práticos da mesma corrente. Segundo James A. Ralway, há uma forte

componente do mercantilismo no tráfego negreiro ligada à estruturação económica1.

Nesta linha de pensamento o tráfego negreiro potencializa estes factores, pois

com as produções agrícolas permitiam a situação de supremacia levando as restantes

actividades por arrasto. Outra óptica é a de Robin Blackburn o qual aborda a questão, na

perspectiva das Antilhas francesas do século XVII, enquadrando os escravos no seu

sistema de produção. No qual, na sua organização, por um breve período de tempo, teve

sujeito a um monopólio da Companhia das Índias Ocidentais francesas2. Se por um lado

este modelo estabelece a lógica com que era produzida, não o faz todavia a integração e

sobre que pressupostos se regia o escravo africano integrado.

Vejamos então esta questão dentro do discurso trabalho/produção do

mercantilismo. Segundo Phillipe Steiner esta directriz estaria ligada ao discurso da

demografia, onde o ultimo faria com houvesse mais pessoas que pudessem ser

absorvidas pelas manufacturas, o que levaria ao consequente aumento da produção3. Ao

analisar a questão dos artesãos, é indicado por Roger Dehem que quanto maior numero

de trabalhadores, mais aumenta o trabalho, com consequente aumento das peças

produzidas4.

1 Esta noção está relacionada com a própria dinâmica deste conjunto de normas, ligadas aos

seguintes princípios: intervenção estatal na economia; assegurar a vantagem comercial sobre os

rivais; desenvolvimento das embarcações e poder Náutico; balança de trocas favoráveis; adquirir

ouro; supremacia da metrópole sobre as colónias; recolha de matérias-primas das colonias e

expedição de produtos manufacturados; manutenção na própria metrópole de artesãos qualificados,

enviando para as colónias os in qualificados. James A. Ralway, Steven B. Berhentd, The

Transatlantic Slave Trade a History Reviewed, University of Nebraska Press, Lincoln/London, 2005,

p. 212 – 243.

2 Robin Blackburn, The Making of New World Slavery From the Baroque to the Modern,

Londres/Nova Iorque, Verso, 1997, p. 281 – 287.

3 Philippe Steiner, “ Il Marchand et Princes” in Nouvelle Histoire de la pensée Economique dir. Alain

Béradau et Gilbert Faccarello, Paris, Editions La Decovert, 1992, p. 127.

4 Roger Dehem, Histoire de La pensée économique, Québec, Presse Universitaire Laval, 1984, p. 56.

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A escravatura dentro desta lógica levaria a que houvesse um maior número de

mãos a cultivar a terra com o objectivo de aumentar a produção e consequente

enriquecimento do estado e dos proprietários1. Já no plano das teorias económicas, o

discurso estaria eventualmente ligado a uma prática de aumento de mão-de-obra, a

custo de produção reduzido. Mas a questão que se coloca, é de que o que é que os

números existentes nos dizem sobre a exportação de mão-de-obra negreira para as

Américas.

Estas indicam dentro da tendência geral exportação, as tendências particulares e

sua articulação com as estratégias da coroa na distribuição de mão-de-obra para o

ultramar. As quais por si, dentro desse campo indicam para onde iam os esforços

laborais. Nesta dimensão Klein, para o período entre 1723 – 1771, aufere-nos os

seguintes valores: Rio de Janeiro (51%); Bahia (27,3%); Pernambuco (18%); Maranhão

(1,2%); Pará (1%) e Sacramento e Santos sem expressão estatística2.

No entanto estes dados são referentes à primeira metade do século XVIII, não

exprimindo a realidade para o período em estudo. Por outro lado, não exprimem a

realidade de Benguela limitando-se só a Angola. Nos dados por mim auferidos, no caso

de Angola o cenário apresenta os seguintes números: Rio de Janeiro 49% (36026);

Pernambuco 26% (19109); Bahia13% (9331); Maranhão 6% (4598); Pará 6% (4082); e

São Tomé 0% (8)3. Já em relação a Benguela, o cenário apresentado é o seguinte: Rio

de Janeiro 76% (65760); Bahia 10% (8401); Angola 6% (5367); Pernambuco 5%

(4346); Pará 1% (1051): Maranhão 1% (695); Santos 1% (495).4

Se em primeiro lugar está o rio para ambas as capitanias, na primeira com um a

diferença de 23% e no caso de Benguela com uma diferença de 66%. Nos lugares

posteriores há uma diferença ligeira do peso das diferentes capitanias. No caso de

1 Stuart Schwartz, “O Brasil no Sistema Colonial”, in História da Expansão Portuguesa dir.

Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, vol. 3, Lisboa, Circulo de Leitores, 1998 p. 142.

2 Herbert S. Klein, “Slave Trade from Angola in the XVIII Century”, in The Journal of Economic

History, Vol 32, Nº 4, (Dec., 1972) p. 901.

3 Gráfico 20, p. 206. 4 Tabelas 16 e 17, pp. 173 – 174, e Gráfico 19, p. 205.

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Angola, esta posição é ocupada por Pernambuco, enquanto em Benguela é pela Bahia.

Para o terceiro lugar é que as contas já começam a divergir, sendo em Angola a Bahia e

em Benguela a praça de Angola. Na quarta posição, para Angola é ocupado pela

capitania do Maranhão enquanto em Benguela é por Pernambuco. Já quinta em Angola

destaca-se a capitania do Pará, posição que ocupa também em Benguela. Na sexta

posição em Angola, encontramos São Tomé, onde está presente uma percentagem

irrisória, posição que em Benguela é ocupada pelo Maranhão.

Visto a tendência da exportação de escravos quer de Angola, quer de Benguela,

vejamos agora como correspondem as tendências das capitanias para onde eram

exportadas. De Angola as tendências de exportação ano, por cada capitania variam. Do

Rio de Janeiro destaca-se o ultimo ano do período em estudo ao qual corresponde 25%

do total do tráfego para a mesma. De resto os resultados são equilibrados e regulares,

estando na ordem dos 13% - 20%1.

No caso da Bahia, a primazia foi no período entre 1802 – 1805 onde as

exportações estão na ordem dos 25% - 20%, registando-se uma quebra entre 1809 –

1810 em que se regista entre o 1% e os 10%2. No caso de Pernambuco, a maior

irregularidade nos valores com uma tendência ao decréscimo (1802–19%, 1803 – 21%,

1804 – 17%, 1805 – 23%, 1809 – 13%, 1810 – 7%)3. No caso do Maranhão o caso é

semelhante: 1803 – 33%, 1804 – 34%, 1805 – 23%, 1810 –10%)4. No caso do Pará, a

situação apresenta os mesmos contornos, forte subida entre 1802 – 1805 (1803 – 21%,

1804 – 37%, 1805 – 35%), havendo uma quebra a posterior (1810 – 8%)5. Para São

Tomé, nas suas únicas exportações, tem o seu zénite entre 1804 (37%) e 1805 (63%)6.

As exportações de Benguela para os diferentes portos do Brasil, apresentam

tendências semelhantes. O Rio de Janeiro todavia apresenta maiores flutuações, do que

1 Tabela 19, p. 175.

2 Tabela 19, p. 175.

3 Tabela 19, p. 175.

4 Tabela 19, p. 175.

5 Tabela 19, p. 175.

6 Tabela 19, p. 175.

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no caso de Angola. No caso desta capitania o peso no total de sua distribuição de

escravos apresenta as seguintes tendências: de 1791 a 1793 uma subida na ordem dos

4% para os 12%, registando-se de 1796 a 1798 uma quebra inicialmente dos 10% mas

para 1798 na ordem dos 3% ficando pelos 7%. Para o período final, no que toca as

exportações, a primazia continua a ser do Rio de Janeiro que, apesar das flutações,

continua a apresntar valores numa média de 600000 a 10000000 de cruzados, seguindo-

se toda uma série de capitanias: Bahia, Luanda, Pará, Maranhão, Novo Redondo cujo

valor nunca passa os 200000 cruzados1.

Por outro lado, já no século XIX (em 1801) regista-se um aumento de 2% para

os 9%, e em 1802 de 1% chegando aos 10%; em 1806 há uma quebra de 4% chegando

aos 6% valor que se mantem em 1808 que sobe 1809 para os 8% estabilizando nesse

valor em 18102. Já a Bahia apresenta o seguinte cenário: De 1791 a 1792 apresenta um

crescimento na ordem dos 8% chegando aos 24% de sua exportação, quedando uns 4%

no ano a seguir; em 1798 há uma quebra na ordem dos 9% chegando aos 11%. De 1801

a 1802 há uma descida de 1%, para haver uma subida de 2%; em 1808 regista-se uma

quebra na ordem de 6%3. Para Pernambuco os registos só os há para 1791 – 1798,

apresentando a seguinte tendência: De 1792 a 1793 há uma subida na ordem dos 23%

para os 44%, sendo acompanhada de uma quebra na ordem dos 17% para os 27% para

1796, seguida por uma da ordem dos 22% para os 9%4. No caso do Maranhão é mais

fácil, porque 100% das suas exportações são de 18025. E do Pará temos apenas

exportações do final do período em estudo, 1806 a qual correspondem 51% e em 1808

de 48%6. E para finalizar as capitanias do Brasil a de Santos, cujo único registo é o de

1 Gráfico 7, p. 193 2 Tabela 20, p. 177.

3 Tabela 20, p. 178.

4 Tabela 20, p. 179.

5 Tabela 20, p. 179.

6 Tabela 20, p. 181.

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1791 ao qual corresponde 100%1. Após os do Brasil, há os da Africa, Angola, e Novo

Redondo.

Numa primeira leitura, a par do Rio de Janeiro, onde a exportação em que ambas

as capitanias eram regular, o tráfego não apresentava grandes oscilações. Já no caso da

Bahia e Pernambuco, a situação muda de capitania para capitania. Em Angola,

permanece – a primeira – em segundo mas conhecendo uma quebra brutal, enquanto em

Benguela conhece oscilações quebra na segunda metade da primeira década de XIX. Já

Pernambuco, conhece uma enorme regularidade em Angola, mas em Benguela já não se

encontra registos de exportação para o XIX.

Nas capitanias do nordeste, apesar dos baixos valores, apresenta grande

regularidade em Angola, em Benguela apresentam pontualidade. Há vários aspectos que

valem a pena serem destacados destes números aqui expostos, como as causas de tão

fraco tráfego para a Bahia, a exportação para as capitanias do Noroeste, e as tendências

na própria África.

2.3.2 A Exportação para o Brasil: Nordeste e Bahia

No entanto o caso mais problemático era o das capitanias do Nordeste que,

começam a ter um maior interesse, com Pombal o qual, a partir das companhias, quer a

partir da cultura do Algodão, promoveu o desenvolvimento da produção naquelas

regiões. No plano económico, a partir de 1770, houve o grande boom daquela região,

devido a produção de cacau, algodão, arroz, tabaco, e café2.

No entanto devido ao parco desenvolvimento do Algodão, assim como a fraca

presença no litoral dos escravos, que iam para as minas do Mato Grosso, revelava uma

1 Tabela 20, p. 184.

2 Ernani Silva Bruno, História do Brasil Geral e Regional, Vol. I, São Paulo, Editora Cultrix, 1966, p. 77.

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fraca fixação dos mesmos1. No caso dos documentos referentes para o princípio do

século XVIII, não encontrei registo que partisse nenhum escravo para as mesma,

começando a haver referência ao mesmo a partir da segunda metade do século XVIII.

Destes, dos quais se destaca Luanda como principal fornecedor da mesma, apesar de só

corresponder a 1% do total do tráfego da mesma praça, mas crescendo (quer para o Pará

e quer para o Maranhão) na volta dos 5% -6%, do total de escravos exportados para as

mesmas praças. Para o período em estudo, outro mercado começa a entrar em cena que

é o de Benguela onde (apesar de incipiente e irregular como visto), começa a ceder

escravos a essa região.

A questão do Pará merece destaque pelo facto de ser pedido pela coroa que os

escravos pudessem ir para estas paragens sem pagar direitos reais. Em 1796 há um

ofício do governador que, na impossibilidade de haver metropolitanos a laborarem

nessas paragens, se deveria proceder ao aumento do número de escravos para levar a

cabo esse mesmo efeito2.

Ao consultar, sobre esta questão, os mercadores opuseram-se a esta medida

alegando que do Pará nem havia nem fazendas nem géneros do giro nesta praça, que

serviriam para permutar por escravos. E pela proximidade da Cayena Francesa, havia

riscos de que esses mesmos se extraviem3. O Pará, apesar de não ser das regiões de

maior produtividade, até 1808 onde alcança o terceiro lugar nas capitanias Brasileiras,

voltando (no entanto) a quedar-se para o Quinto no ano posterior4.

Neste contexto, dentro da lógica que correlaciona o maior número de mão-de-

obra, com o aumento da produtividade a ideia seria com o aumento de tráfego negreiro

– e o consequente aumento de homens a trabalhar as mesmas terras – aumentaria

automaticamente a produção no dito espaço. Esta isenção visava aumentar a exportação,

1 Stuart Schwartz, “Escravatura e o Comércio de Escravos no Brasil do século XVIII”, in História da

Expansão Portuguesa, Dir. Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, Vol. 3, Lisboa, Circulo de Leitores,

2001, p. 114.

2 A.H.U, Brasil, Conselho Ultramarino, Avulsos, Pará, Caixa nº 92, doc. nº 7623, 25 – 11 – 1796.

3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 90, doc. nº 12, 03 – 01 – 1799. 4 José Jobson de Arruda, op cit, p. 134.

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80

tornando mais aliciante a o tráfego negreiro para as mesmas paragens não sendo tão

custoso como para o resto do Brasil.

Outro caso interessante é a Bahia, de onde a exportação fica aquém do que se

esperaria. Segundo Cristina Ximenes cerca de 60% do tráfego para a Bahia era

proveniente – entre 1750 e 1800 – segundo os dados do Transatlantic Slave Trade Data

Base, de Angola1. Já Valentim Alexandre defende que a redução do tráfego negreiro

para Bahia (vinda de Angola) é consequência da intervenção Britânica, devido a

abolição da escravatura. No entanto, segundo essa mesma teoria, essa mesma quebra

registar-se-ia a partir de 18172.

Ora se verificarmos os dados do tráfego para a Bahia, quer de Angola, quer de

Benguela, estes são quase inexistentes, o que me leva a considerar, se será que esta

tendência não seria anterior a essa data. Esta questão, dado o tráfego de açúcar, a qual a

Bahia era uma das regiões exportadoras, parece ser paradigmática, na medida em que o

principal produtor do ouro Branco, não ter no principal fornecedor de mão-de-obra

negreira, a sua principal procura.

Aqui, uma das interrogações que se colocam era, se os produtos que provinham

da Bahia teriam validade como bem de permuta, no espaço de Angola. Segundo

Corcino Medeiros, o tabaco foi a grande válvula que contribui para o trafego negreiro,

entre a Bahia e a região da mina, assistindo-se a uma regularidade no tráfego de homens

rapinados de sua terra3.

Apesar das vicissitudes, nas relações com as Províncias Unidas da Holanda, é

obtido por D. João V um acordo no qual permite-se que se estabeleça naquela região o

tráfego negreiro, vindo desta região nos anos 80 de setecentos cerca de 70% do tráfego

1 Cristiana Ferreira Lyrio Ximenes, Bahia e Angola: redes comerciais e o Tráfego de Escravos; Tese de

Pós-graduação da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012. p. 104.

2 Valentim Alexandre, Velho Brasil Novas Africas Portugal e o Império (1808 – 1975), Porto, Edições

Afrontamento, 2000, p. 68.

3 Corcino Medeiros, “A Bahia no Comercio Português na Costa da Mina”, in Brasil Colonização e

Escravidão org Maria Beatriz Nizza da Silva, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999 p. 225.

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negreiro da Bahia1. Para a região da Mina, em contraposição as fazendas, e aos objectos

metálicos, a Bahia poderiam ofertar tabaco para o tráfego negreiro produto de grande

procura naquela região2.

No entanto, além deste iam para aquela região, produtos como: aguardente,

açúcar, ouro, fazendas brancas, entre outros3. As quais, dada a dificuldades que os

portugueses tinham em suprir aquela região, tendo igualmente – para complementar a

carga – terem de recorrer as feitorias estrangeiras para adquirirem fazendas4. Porém

coloco a questão, seria este um meio de permuta eficaz na zona de Angola?

Vejamos a o que os dados relativos aos bens de permuta, tem a dizer a relação a

esta questão. A citada autora, faz citação directa de um texto de Caldas (Mercador da

Bahia), que dá enfase, em 1759, da primazia das fazendas da Índia reexportadas desta

praça. No entanto quase três décadas depois, em 1781, José Da Silva Lisboa, em uma

carta, indica a primazia do tabaco5.

Como já foi abordado, as moedas de escambo para se obterem mão-de-obra não

eram homogéneas em toda a costa de África, se bem que no final do século XVIII há

uma preponderância dos tecidos da Ásia. Mas se este apresentava uma componente

importante para a costa da mina, por sua vez teria significado em Angola? No caso de

Angola o tabaco, por diversos motivos, não parece ser um meio de permuta eficaz. Este,

vindo das Américas, não é só vendido, como é cultivado no sertão6, o que leva a que

não tenha um peso por ai além para o tráfego negreiro. A comercialização desta

produção autóctone, o século XVIII, é comum no Kazembe e no Tete.

Outro ponto que gera este mesma desvalorização é a taxação do mesmo. Este, à

semelhança das bebidas, tem um aumento de cerca de 50 reis, a 100 reis a arroba, o que

1 Idem, Ibidem, p. 234.

2 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 59.

3 “Informação Geral da Capitania de Pernambuco, 1749”, Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio

de Janeiro, vol. 28, 1908, pp. 482-83.

4 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 59 – 60.

5 Idem, Ibidem, p. 103.

6 Elias Correia, História de Angola, Vol. I, Lisboa, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1935, p. 158.

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significaria um aumento no seu custo, o qual – a semelhança das bebidas – sem o

acordo dos mercadores1. Prova disso que segue na mesma carta um pedido, para que se

anule esta consulta feita aos homens de negócios, para que prestem fiança na alfândega,

e não paguem direitos a entrada.

Além do mais, a razão expressa nessa carta, a dificuldade que há em se taxar este

mesmo produto, uma vez que este era transportado por volantes, sem fiança, por não

terem estabilidade, o que seria um risco para a fazenda real2. É sugerido por este

governador, que paguem a fiança os mestres do Navio, e os emolumentos, os que

transportam o tabaco3. Esta taxa visava, assim como ao ser 4. Esta taxação, pode por um

lado ser responsável pela quebra na procura do mesmo bem. Esta levava ao aumento do

custo sobre este bem, não o tornando vantajoso para a exportação.

A quebra da Bahia, no tráfego negreiro – que não ocupa uma posição relevante

no palco de Angola – não se deve ao ataque ao tráfego negreiro. É mais plausível, dada

a questão dos produtos escambo, que a introdução destes no sertão, assim como a

taxação tenham levado à mesma quebra, e com esta à quebra do tráfego de Angola.

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.

3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.

4 A.H.U, Angola Conselho Ultramarino, Caixa 109, doc. nº 25, 03 – 03 – 1804.

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2.3.3 O Comércio Intra-Africano:

Um aspecto interessante é o da remessa de escravos para outras partes de Africa,

num circuito intra-angolano, e num circuito extra Angolano. No circuito intra-africano,

temos o caso da remessa de Escravos de Benguela, para Luanda, e desta para S. Tomé e

Príncipe. Para o século XIX é conhecido o tráfego de mão-de-obra, de Angola para esta

praça com vista a trabalhar nas roças de cacau1.

Mas será o processo do tráfego, uma realidade só desse período histórico? Nos

documentos da Alfândega de Luanda, encontrei registos sobre o transporte de escravos

da mesma praça para a ilha de São Tomé. Estes – dentro do tráfego total de Angola –

representavam apenas uma percentagem reduzida, três foram enviados em 1804, e 5 em

1805, sendo residual dentro do tráfego Angolano. Dado o escasso número, deduzo que

não visariam a exportação para o Brasil, mas antes o trabalho na própria ilha.

No caso de Benguela, os escravos que iam para Luanda não o era para trabalhar

nas terras, mas antes para a exportação para o Brasil. Desta forma o seu objectivo, não

eram serem empregues na própria conquista mas antes nos circuitos comerciais

tradicionais. Este tráfego implica que Angola, para este período não está a conseguir

fazer face a procura, tendo que em determinados momentos procurar esses esses

números residuais em Benguela.

De igual modo, as tendências desse tráfego, são caracterizadas por uma forte

irregularidade quer de tempo (realiza-se em dez anos não sequenciais entre 1792 -

1797), quer no número de cabeças exportadas (só em 1792 e 1797 é que o número de

escravos exportados superam as mil cabeças quedando-se no restante por uma média de

300 – 600 cabeças). Em 1792 Angola exporta 11569 escravos, superando a média dos

8000 até então. Neste caso permitiu aumentar o número de escravos exportados,

1 Augusto Nascimento, “Relações entre Angola e São Tomé e Príncipe na época Contemporânea” in

Actas do II Seminário de Internacional sobre a História de Angola Construído o passado pela Angolano: As fontes e a sua interpretação, dir. Jill R. Dias e Rosa Cruz e Silva, Lisboa, Comissão Nacional para os Descobrimentos Portugueses, 2000, p. 683.

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enquanto em 1797 (dos 1005 exportados) foram para aumentar os 8311 escravos

enviados de Angola. Claro que numa leitura de conjunto se pode afirmar que a pobreza

deste tráfego se devia a preferência pela remessa dos mesmos para o Brasil.

Por outro lado, dado que, só para o século XIX, com a abolição da escravatura e

a mudança de estatuto deste, que não implica que na prática não seja trabalho escravo, é

que há uma maior aplicação dessa mesma mão- de-obra na própria África. Neste ultimo

caso, estas remessas permitiram não haver uma quebra na exportação mantendo-se a

média nos 8000 escravos. Estes números indicam que a reexportação de Benguela, em

determinados momentos era crucial para não haver uma quebra da reexportação de

Angola para os diferentes portos do Brasil.

De igual maneira, pegando nas teorias demográficas sobre o tráfego negreiro,

indica que as regiões de Angola costumava negociar poderiam estar a passar por uma

quebra demográfica não conseguindo satisfazer a procura da mesma. As teorias em

questão indicam que, devido a procura de escravos, levou a quebras demográficas nas

sociedades africanas. O facto de haver esta procura em Benguela, indicia que não

venham a Luanda os números esperados o que indica que, dos sertões próximos já não

havia possibilidade de os obter. Esta possibilidade leva a que – para satisfazer a procura

– tenha de se buscar esses mesmos escravos noutras paragens para satisfazer a procura.

2.3.4 Os Escravos, o Pilar do Império

Estes dados estão relacionados sim com a tendência, da exploração terra-tenente do

Brasil. Como vistas as teorias do mercantilismo, de modo a obter lucro, preferia uma

massa de trabalhadores especializados, a preços baixos. Como visto nos pontos

anteriores há uma percentagem dominante do Rio, secundado pela Bahia ou

Pernambuco, com uma expressão do nordeste forte. Vejamos agora no concreto, onde, e

como, o escravo se integra como força motriz no plano prático. Uma questão onde o

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papel do escravo como força motriz está bem patente é na sua aplicação nas diferentes

fases da exploração económica do Brasil. Um exemplo disso é no Pará onde entre 1756

e 1788 de 70% da escravatura vinda, era proveniente da região de Guiné1.

Na história do Trabalho, ao referir-se às Américas, Fréderic Mauro atesta o

trabalho de escravo, no que diz respeito a cana-de-açúcar2, papel que é enfatizado por

Fragoso3 e Isabel Castro Henriques4 como uma lavoura de alguma complexidade o qual

não poderia ser levado a cabo por nómadas5. Sobre esta questão há alguma

historiografia que começa a salientar a sua perícia na Agricultura, o que lhe permite ser

incluída na mão-de-obra especializada6.

Ora, como já mencionado, a prosperidade do Império Português, para este

período histórico, era baseada na diversificação da produção agrícola, visando o

mercado internacional. Os escravos provenientes de Angola, nesta lógica forneciam

essa mesma mão-de-obra, realizando a faina agrícola visando o mercado em questão.

Dentro das correntes do mercantilismo, a potencialidade indicada, remete o escravo

como o típico trabalhador do mercantilismo: pago só com o sustento; e especializado.

No entanto esta questão estava também relacionada, com a rentabilidade do

tráfego e com a rentabilização da produção. Sobre a rentabilidade do tráfego negreiro, a

tendência corrente tem sido o minimizar da mesma fazendo a reduzir – de mais de

1 Stuart Schwartz, “Escravatura e o Comércio de Escravos no Brasil do século XVIII”, in História da

Expansão Portuguesa, Dir. Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, Vol. 3, Lisboa, Circulo de

Leitores, 2001, p. 113. 2 Não farei aqui uma extensa observação sobre o papel do tráfego negreiro nas plantações da América,

mas deixo alguma bibliografia sobre o tema, que convém consultar. Vide: Herbert S. Klein, O comércio

Atlântico de Escravos, Lisboa, Replicação, 2002. Arlindo Manuel Caldeira, Escravos e Traficantes no

Império Português, Lisboa, Esfera do Livro, 2013. Herbert S. Kleine e Francisco Vidal, Slavery in

Brasil, Cambridge, Cambridge University Press, 2009; Maria do Rosário Pimentel, Chão das Sombras

estudos sobre a Escravatura, Lisboa, Edições Colibri, 2010; Joseph Calder Miller, Way of Death:

Merchant Capitalism And The Angolan Slave Trade 1730 – 1830, Wisconsin, University of Wisconsin

Press, 1988, Maria Beatriz Nizza da Silva, Brasil Colonização e Escravidão, Rio de Janeiro, Nova

Fronteira, 1999. Herbert S. Klein & Ben Vinson III, African Slavery in Latin America and the

Caribbean, 2ª Ed., Oxford/Nova Iorque, Oxford University Press, 2007.

3 João Fragoso, op cit, p. 103.

4 João Medina e Isabel Castro Henriques, op cit, p. 172.

5 Fréderic Mauro, “ La pré révolution du Travail” in Histoire General du Travail dir. Phillipe Wolf e

Frédéric Mauro, Vol II, Paris, Nouvelle Libraire de France, [S.D] p. 287.

6 Joaquim Romero Magalhães, “As Incursões no Espaço Africano” in História da Expansão Portuguesa.

dir. Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, Vol. 2, Lisboa, Circulo de Leitores, 1998, p. 79.

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100% - para 30% para o século XVIII. Rentabilidade baixa que não se resume a

Portugal, mas igualmente a França e a Inglaterra onde estas ficariam pelos 7%1. Nesta

ordem o ganho que estas representavam, no tráfego directo, era indiscutivelmente

irrisório. Mas a rentabilidade não é só visível pelos ganhos directos da actividade em si,

mas também em como o trabalho do escravo contribui para as restantes acções.

Dados os parcos rendimentos directos de quem está envolvido na actividade,

convido a perspectivarmos como a mão-de-obra negreira influenciaria os rendimentos

dos fazendeiros do Brasil. Não envergando por um estudo aritmético, dado que as fontes

por mim encontradas não me permitem o fazer, tenha-mos como ponto de partida o que

vários historiadores dizem sobre o tema. Se os lucros – como indica Valentim

Alexandre – redistribuídos pela totalidade da actividade - eram nulos, quanto mais os

dos proprietários.

A maior margem de lucros, só seria alcançada se a troca – por permuta – entre

Portugal e o Brasil, fosse favorável à Metrópole2. Já Jorge Pedreira contesta Valentim

Alexandre, apresenta-nos uma taxa de flutuação de lucros que – de produto a produto –

onde patenteia os seguintes valores: no geral 10 – 20%; do açúcar cerca de 41,7 e

58,7%; para os Couros; 43,3 e 58, 7%; para o Algodão cerca de 64,6%; já sobre o café;

84,7%, do cacau 99,7%; para o arroz 101,3%; sobre o pau-brasil 778,7%3.

Esta taxa de lucro, todavia era redistribuída por toda uma série de pessoas

ligadas a rede mercantil, pouco chegando aos fazendeiros. No entanto, como já foi

mencionado, os escravos, vindos de Angola, representavam uma população laboral

especializada nas artes agrícolas, que que poderiam significar o evitar de remessa de

trabalhadores do reino para essas paragens. No entanto, o aumento de número de

trabalhadores, dentro desta perspectiva, implicaria um aumento de produção, e com a

mesma, o aumento do lucro potencial com que os fazendeiros poderiam lucrar.

1 Olivier Pétre – Grenouilleau, Les Traitres Négrièrs, Paris, Editions Gallimard, 2004, p. 385.

2 Valentin Alexandre, op cit, p. 38.

3 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil, p. 273.

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Este ponto de vista está relacionado, no plano teórico, com as práticas do

mercantilismo que definem, que uma das formas de se aumentar a riqueza, era manter

os maior número de trabalhadores especializados dentro das fronteiras do reino, e

conseguir atrair o maior número possível de trabalhadores especializados fora de portas.

Logo, a ida das jóias negras do império, era uma forma de evitar a mão-de-obra agrícola

para fora do Reino.

Nesta questão, pode-se incluir a geografia do tráfego negreiro para nos dar uma

visão clara da estratégia económica portuguesa, de aumentar a produção das diferentes

regiões do Brasil. No caso do Rio de Janeiro temos a questão das redes mercantis, além

da redistribuição destes pelas capitanias anexas. No caso das capitanias do nordeste,

apesar dos valores residuais, a ideia era aumentar a exportação de modo a incrementar a

actividade agrícola, com a consequente reexportação para os mercados internacionais.

Apesar de, mesmo com os inconvenientes destas serem periféricas, traduz uma

aposta na tentativa de ceder mão-de-obra a novas capitanias para aumentar o espectro de

produção. No plano material, o papel de Angola, na mesma estratégia, deveria prover as

mesmas capitanias para onde não exportava. A especialidade do escravo angolano,

dentro dos padrões do mercantilismo, explica a opção deste servindo como mão-de-obra

especializada, para o cultivo e consequente aumento de produção das mesmas capitanias

e aumento de lucro dos mercadores.

As fazendas de troca tradicionais, quer as armas (por motivos de saturação), ou

as bebidas por motivo de produção interna encontram-se em estagnação. No plano geral

o projecto de permutação, encontra como handicap, a forte presença das fazendas da

India quer no entanto – apesar do forte impacto – não são suficientes para realizar o

aumento do tráfego negreiro. Mas que, coloca Portugal em forte dependência das redes

mercantis da Índia. O mesmo que, nas concepções mercantilistas, visava aumentar a

mão-de-obra no Brasil, mas principalmente nas capitanias do nordeste, visando o

aumento da produção.

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Desta forma, apesar de na prática apresentar um valor nulo, a questão da

diversificação dos bens de permuta era, além de substituição, uma forma de aumentar

os números do tráfego. O tráfego negreiro, cuja sua função era proceder ao aumento da

produção no Brasil, e encontra uma mão-de-obra especializada, encontra-se em

estagnação, nem decresce nem aumenta, o que – nas perspectivas da época, implica um

não aumento da produção do Brasil.

Assim, as tendências regionais da exportação negreira, indicam um esforço de

enviar escravos para as diferentes lavouras. A questão da permuta, assim como da

exportação, indica que as fazendas e a exportação tinha como objectivos aumentar a

permuta por escravos.

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Capítulo 3: Terra, Sertão

3.1 A aclimatação de produtos em Africa, e a relação com as fábricas e

a reexportação do reino

Vistos os objectivos, e as relações normativas de Angola com o Brasil, passemos

à problematização do projecto da coroa e suas implicações. No plano da permuta, já foi

visto que os projectos de incremento não tinham bases de sustentabilidade, diante das

exportações tradicionais da mesma praça.

Este capítulo – dado o não haver concretização dos mesmos – tem com função

de ver, dentro do quadro como estes produtos poderiam ser potencializados e esse

mesmo projecto aplicado na permuta de outros produtos. Dadas as tendências agrárias

do discurso económico, que consagrava objectivos específicos para a produção agrícola,

a procura e incremento de produtos desta natureza – ligados ao Mercantilismo

Comercial – era incontornável.

3.1.1 A Aclimatação

Um dos pontos de partida, é a questão da aclimatação que foi uma das práticas

correntes feitas pela coroa portuguesa, tentando – com o fim de redução de gastos –

tornar a produção dos bens de cultivo tropical mais próximos da Europa. Vejamos como

ponto de partida, o que a historiografia, tem a dizer sobre a questão das plantas em

África. Por outro lado, vejamos o que a historiografia que trata mais esta questão do

lado africano, tem a dizer. Segundo Judith Carney a exportação de plantas é um tráfego

tão antigo e tão importante, embora tenha sido sempre ofuscado (historiograficamente)

pelo tráfego negreiro1.

1 Esta autora menciona que quer na margem do indico, quer na margem do Atlântico, havia um

comércio de plantas tão importante quanto o tráfego negreiro; Judith Carney, In The Shadows of Slavery

(Africa’s Botanical Legacy in the Atlantic World), Berkeley/ Los Angeles/ London, University of

California Press, pp. 25 – 29.

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Já Elikia M’Bokolo afirma que a importância desta actividade - citando o caso

do Milho e da Mandioca, fazendo a distinção entre este comércio, e o do tráfego

negreiro, mas salientando a interligação entre ambos1.

Um dos problemas apontados para a história económica, principalmente história

agrária, para o contexto geral de África, é a falta de fontes escritas. Apesar desta lacuna

o mesmo autor, enfatiza um pioneirismo da presença de uma produção agrícola (com

fontes principalmente no século XIX), com moldes europeus, em Angola2. No entanto é

referido por ele, na ausência de escritos dos próprios africanos, é enfatizado os escritos

legais, como forma de fonte para esta questão3. Mas, poderá se reduzir à documentação

legal, todas as fontes disponíveis ou só a um determinado tipo de escrito?

A par destes escritos legais, ou seja de direito, no período em estudo podemos

contar com ao textos como os arbítrios dos Governadores que, no que toca a questão da

produção, assim como das instruções da coroa. Estes dotam-nos de informações, sobre

os objectivos da coroa, acerca dessa questão, assim como a real possibilidade de os

executar.

Vista a problemática das fontes, vejamos o que a historiografia tem debatido

sobre a aclimatação. Sobre esta problemática, Luís Ferrand de Almeida, faz uma sumula

do intercâmbio agrário entre o Brasil e África para o século XVI – XVII, mas com mais

enfase em São Tomé4. Para o século XVIII este aborda, dentro da aclimatação das

plantas do Oriente no Brasil, o que é subscrito (no caso das plantas agrícolas, para

comercializar, ou de subsistência) por A.J.R Russel5.

No entanto, para este período, encontramos referências a uma intenção de se

realizar o mesmo processo em Angola. Desta forma o processo de introdução dos

1 Elikia M’Bokolo, África Negra História e Civilização, Tomo I, Lisboa, Vulgata, 2003, p. 389.

2 Masao Yoshida, “African Economic History: Approaches in Research”, in Writing African History,

editada John Edward Philips, Rochester, University of Rochester Press, 2005, p. 324.

3 Masao Yoshida, op cit, p. 319.

4 Luís Ferrand de Almeida, A Aclimatação de Plantas do Oriente no Brasil durante os Séculos XVI

e XVIII, separata da Revista de História, T. XV, Coimbra, 1976, pp. 339 – 346.

5 Idem, Ibidem, pp. 395 – 400 & A.J.R Russell, The Portuguese Empire, 1415 – 1808 World on the Move,

Baltimore and London, Johns Hopkins University Press, 1998, pp. 146 – 183.

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princípios iluministas, no que diz respeito a economia, não seria uma manifestação de

uma versão mais pragmática do iluminismo? Sobre essa questão Diogo Ramada Curto,

indica o tipo de livros que vieram com D. Miguel António de Melo, e os objectivos que

estes teriam dentro da aplicação de um modelo: a aclimatação de produtos1. Esta

questão – inserida na dimensão mais pragmática do iluminismo – está relacionada com

a História natural e seus métodos2.

Os produtos sugeridos nas instruções pelos mesmos autores, os quais D. Miguel

António de Melo levou, eram produtos que não eram nativos as mesmas paragens

colocando-se a questão, até que ponto poderia este projecto ser aplicado. A questão não

pode ser mencionada, sem termos em atenção a questão das redes oficiais. A função do

governador – no que toca ao mundo ultramarino – não se limita só as acções acima

descritas. Este deveria reportar a coroa toda a informação disponível e útil, para que se

pudesse proceder da parte da coroa as reformas devidas.

Sobre os representantes régios, segundo Frédéric Mauro, a única distinção entre

a actuação destes, face a dos membros das companhias comerciais era a ligação directa

à coroa. A seu cargo estavam as funções militares, como as da organização das frotas,

estando inerente o económico nas suas acções3.

Já os governadores – para Ângela Domingues – teriam um papel secundário,

tendo as funções reservadas de organizar e preparar os elementos para os naturalistas,

indicar-lhes os locais onde deveriam ir e procurar a cooperação das restantes

autoridades e providenciar-lhes todos os meios necessários4.

Passemos então agora a analisar o papel dos governadores – ou, pelo menos, o

que era esperado deles – nos quadros do Antigo Regime. Segundo a opinião de Maria

Bicalho, o governador enquadra-se num quadro de antigo regime onde os funcionários

1 Diogo Ramada Curto, Iluminismo e Projectos Coloniais, pp. 4 – 13.

2 Abordarei esta questão mais adiante.

3 Frédéric Mauro, L’Expansion Européenne 1600 – 1870, 4ª edição, Paris, Puff, 1996, p. 188.

4 Ângela Domingues, Monarcas, Ministros, e Cientistas. Mecanismos de Poder, Governação

e informação no Brasil Colonial, Lisboa, CHAM, 2012, p. 140.

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régios, remetendo-as para a corte, deliberavam sobre os aspectos estruturais da vida na

corte. Essas deliberações passavam pelo económico, social, como também o religioso1.

Ora – apesar do estudo de caso desta autora ser o Brasil – não se poderia aplicar a outras

partes do império como África? Esta fonte indica que, as medidas a serem aplicadas só

o seriam conforme a possibilidade de se poder promover a mesma reforma.

Vejamos um exemplo mais concreto. Um dos aspectos que mais me chamou a

atenção no discurso sobre Cabo Verde – Segundo Maria Manuela Ferraz Torrão – é o

facto de na apreciação feita a este arquipélago por parte de João da Silva Feijó as

produções por ele defendidas não serem aplicável dado o clima da dita região2. O

governador, pelo que conhecimento que em teoria teria das regiões onde estava

presente.

No plano concreto da documentação oficial, apesar na teoria se equacionar a

aclimatação – a semelhança do que se fazia no Brasil [de plantas da Índia] – a

documentação oficial refere a retoma do projecto da aclimatação de produtos não

nativos a Angola, entre os quais se destacam o açúcar, o algodão (não constituíam aqui

uma novidade, já que se tentava proceder à sua aclimatação desde o século XVII);

cacau, arroz, couros, e anil. Mas as mesmas tentativas – ao contrário do período em

questão – não passavam de directrizes que diziam que se deveria proceder ao cultivo

das mesmas, sem se o dizer como, nem onde.

Por outro lado, no que concerne aos produtos agrícolas, além dos mencionados,

arroz, couro, que as directivas indicavam; eram os produtos mais procurados na Europa

de final de setecentos. Instrui-se que se promova as culturas de, cacau, café, e anil,

produções que (segundo a fonte), são de fácil cultivo e de grande lucro3.

1 Maria Bicalho, A Cidade e o Império O Rio de Janeiro no século XVII, Rio de Janeiro,

Civilização Brasileira, 2003, p. 340.

2 Maria Manuela Ferraz Torrão, “Circulação de Conhecimentos Científicos no Atlântico de Cabo

Verde para Lisboa: Memórias Escritas, solos e minerais, plantas e animais. Os envios científicos de

João da Silva Feijó”, in O Atlântico Revolucionário circulação de ideias e de elites no final do

Antigo Regime coord. José Damião Rodrigues. Lisboa, CHAM, 2012, p. 147. 3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 11, 12 – 08 – 1797.

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No entanto, a produção, não é exclusiva a produtos para serem usados na

Industria, como também aos de consumo. Sobre o Cacau – produto nativo da Amazónia

– era o sexto produto da tabela de reexportações, da região quer do Maranhão quer do

Pará, e o sétimo da tabela geral1. No entanto – mais tardiamente – no século XIX, esta

cultura terá mais sucesso, o cacau, nas regiões de Cabinda, Abroim, e no Cazengo2.

Por seu lado, o café – introduzido do oriente no Brasil - conhece uma lenta

expansão, primeiro no nordeste onde é introduzido, depois na região do Rio de Janeiro3.

Sobre estes produtos Valentim Alexandre indica que tem uma taxa de crescimento

elevada, rondando os 500 a 550 contos ano4. E por sua vez Jorge Pedreira indica um

lucro obtido da reexportação destes produtos na ordem: café; 84,7%, do cacau 99,7%5.

Aqui, apesar de serem o sexto e o sétimo produto na reexportação, o qual

conheceriam o ciclo no século XIX, apresentam quer uma taxa de lucro e de

crescimento favorável, que torna a sua produção aos olhos da coroa compensatórios.

Desta forma, e dentro da ideia de complementaridade da produção, estes

produtos e sua reexportação implicam a complementaridade da produção, com o que se

fazia do Brasil.

Mas os produtos mencionados nas directrizes, não se resumem aos que foram

mencionados. A coroa, segundo os projectos e escritos dos governadores, em 1799,

propõem a aclimatação destes o açúcar, o algodão e o Anil6. Sobre o açúcar é dito que

há no território, mas cuja qualidade é inferior a do Brasil, não sendo útil se não a fazer

umas poucas jeribitas7.

1 Maria Beatriz Nizza da Silva, “Cacau” in Dicionário da História d Colonização Do Brasil, coord. Maria

Beatriz Nizza da Silva, Lisboa, Verbo, 1994, p. 120. 2 Manuel Nunes Dias, “Cacau”, in Dicionário de História de Portugal dir. Joel Serrão, Vol. I, Porto,

Figueirinhas, 1963, p. 442.

3 Ana Maria dos Santos, “Café”, in Dicionário da História d Colonização Do Brasil, coord. Maria Beatriz

Nizza da Silva, Lisboa, Verbo, 1994, p. 121 – 122.

4 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, p. 34.

5 Jorge Pedreira, Estrutura industrial e Mercado Colonial, p. 273.

6 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 92, doc. nº 30, 06 – 06 – 1799.

7 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 92, doc. nº 30, 06 – 06 – 1799.

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No entanto como Valentim Alexandre denota, apesar de este produto ser o ouro

branco da exportação portuguesa, há um deficit entre o açúcar que vêm do Brasil, e o

que há na Alfandega1. Esta situação, a longo prazo poderia comprometer a exportação

desse bem para as praças europeias. Numa primeira análise, os planos de introdução

deste bem, poderão estar relacionados com o aumento de arrobas de açúcar para

reexportação para a Europa. No entanto, a introdução desta, implicava a Cana-de-

açúcar, o que era usado nas aguardentes.

Neste prisma a própria produção de açúcar é vista não numa óptica atlântica,

mas antes em uma óptica local, como handicap, para a produção de bebidas que, acima

de tudo visavam o mercado negreiro. Já vimos que, segundo os dados expressos no

capítulo sobre as bebidas, ouve uma produção de aguardentes de menor qualidade no

sertão.

Mas dentro do plano de complementaridade, como se aplicaria a produção desta

cultura? A implementação desta cultura, por um lado, poderia permitir um aumento

residual na produção açucareira, mas poderia predicar nas remessas de direitos cobrados

sobre a entrada destes bem em Angola e na sua importação, uma vez que reduziria o

consumo e por consequente a importação do mesmo vindo do Brasil. Desta forma a

implementação da cultura sacarina, incorria no risco de se reduzir a venda de Jeribitas,

uma das principais fontes de receitas da dita capitania, o que não era equacionável.

Ora, um dos aspectos que caracteriza a cultura e o projecto de produção no ultramar é a

complementaridade de produção, visando em que – com e especificidade – que uma

região produzisse o que outra já estava a produzir. Desta forma, neste período, apesar

do esforço, e não por falta de vontade, neste plano a aplicação destas produções não era

aplicável devido a este factor.

1 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, p. 42.

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Destes produtos (no mesmo oficio) é dada particular atenção ao anil. No caso

desta planta – útil para a indústria da roupa, dada a cor azul que se lhe extraia – que

veio da índia, tentou-se aclimatá-la – sem grande êxito em Cabo Verde, mas com

sucesso no Brasil1. Pode-se observar, na aclimatação desta planta, uma aplicação prática

do que se tentou fazer com a conquilha no Brasil insecto com propriedades tintureiras

dando aos panos uma cor vermelha. A ideia de introdução do anil está relacionada com

o desenvolvimento industrial e manufactureiro, uma vez que se extraia dela esta tinta

azul. Mas antes de desenvolver este tópico, vejamos a capacidade de se produzir o

mesmo no solo de Angola.

De facto, segundo Elias Correia, há uma grande proeminência desta planta, que

não tem uma geografia específica brotando ao longo do país. Para a sua produção, este

indica que há uma fábrica na zona do Dande que trata dela (informação a qual não

encontrei eco em outras fontes)2. Sobre este é dito que irá – com o documento – uma

carta na qual se explica aos agricultores como se o deve produzir, devendo estes o

enviar para a cidade para o vender3. No plano geral, há uma questão que deve ser

abordada, dada a enfase nos produtos da terra, envolve a questão da tipologia de

colónias.

Retomando a temática, vejamos em, e em como poderia ser aplicado este

produto em Portugal. Sobre estes produtos – relativamente a Angola, há os seguintes

cenários: sobre o algodão há uma cultura que iguala a de Pernambuco, mas que por si é

insuficiente para lhe fazer concorrência, e a própria incerteza das chuvas não permite

que esta cultura tenha grande desenvolvimento. No entanto, Elias Correia afirma que a

cultura algodoeira se estende, por uma região mais ampla, sendo inclusive usada em

manufacturas de fraca dimensão na colónia4.

1 José Manuel Vargas, “Anil” in Dicionário da História dos Descobrimentos Portugueses, coord Luís de

Albuquerque e Francisco Contente Domingues, Vol. I, Lisboa, Caminho, 1994, p. 74.

2 Elias Correia, op cit, p. 157.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 11, 12 – 08 – 1797.

4 Elias Correia, op cit, p. 157.

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Ora ao abordar esta questão, não estaria a dar a ideia de exportação deste bem

para as fábricas do Reino? A própria industria algodoeira portuguesa, estava a passar

por um momento de prosperidade e, apesar de não ter o peso que tem a reexportação

dos tecidos de algodão estrangeiros é próspera servindo-se do mercado colonial. O

Algodão que ia do Brasil não visava as fábricas, mas na sua grande maioria era para ser

reexportado para a Grã-Bretanha1.

Noutra perspectiva, para Nuno Madureira, o problema do algodão para a

Indústria portuguesa, não estava no acesso, mas antes no trabalho e dificuldades

inerentes a sua actividade2. Já Jorge Pedreira – além da falta de tradição dessa produção

em Portugal – refere o peso da estamparia e a marginalidade da mesma produção face a

Inglesa e da Índia3.

A indústria portuguesa, sediada na região do vale do Tejo, apesar de beneficiar

desse mercado colonial, tinha como sua base apenas a indústria da estampagem da qual

era auto-suficiente. Mas no que toca a questão dos tecidos, e da indumentária de

Algodão, a sua produção é rara. Mas no entanto coloca-se em questão, o tipo de algodão

de que se fala. Há uma espécie de algodão nativo africano, o Gossypium herbaceum que

no entanto não era a melhor espécie para ser usada para a transformação a quando

comparada com o da Índia.

No entanto, apesar deste handicap, qual seria a intenção da coroa portuguesa.

Uma vez que o grosso da produção ia para a Grã-Bretanha, a exploração deste produto

nestas paragens abria a hipótese de ser um mercado fornecedor para as Fábricas do

Reino, abrindo o espectro do que se poderia permutar com a coroa. Como já foi por

mim citado, as fábricas portuguesas, mesmo com o Algodão vindo do Nordeste

Brasileiro, que era reexportado para a Europa, não era suficiente para cobrir as carências

que as fábricas tinham.

1 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, p. 35.

2 Nuno Madureira, op cit, p. 150.

3 Jorge Pedreira, Estrutura industrial e Mercado Colonial, pp. 96 – 97.

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Assim, apesar da falta de qualidade, a ideia (que não chega a ser aplicada) do

Jardim Botânico, abria a hipótese de se introduzir o tipo de algodão da Índia em Angola

que, dado o clima húmido tropical, permitia a adaptação desta planta a este terreno. Ao

produzir-se nestas praças esta cultura, estar-se-ia então, dentro das funções tradicionais

do mercantilismo, em transformar essa matéria-prima em manufactura, para a

reexportar para as diferentes praças coloniais, e possivelmente dada a fraca aderência,

para esta para aumentar o consumo.

Ora esta questão abre, no plano das ideias económicas, uma hipótese, de se

produzir e reexportar este bem para as Fábricas do Reino, permitindo aumentar desta

forma a sua reexportação, este aumento significaria – numa primeira leitura – um

contacto mais directo entre Portugal e Benguela e Angola, cobrindo quer a

reexportação, quer a indústria. Na dificuldade do Brasil – dada a internacionalização de

sua economia – caberia a Africa abastecer, exclusivamente o mercado português,

permitindo a sustentabilidade da indústria portuguesa.

Numa leitura historiográfica, no que toca a aclimatação, não pode ser

desvinculado, da questão colocada por Valentim Alexandre, novos Brasis em África.

Esta problemática, à semelhança do que se havia feito no Brasil, passa pela introdução

de um sistema de produção e de plantas visando o mercado internacional em regiões

onde não eram originárias. O que, segundo a maior parte dos historiadores, só iria se

operar após a década de 30 do século XIX1.

Decorrente desta vertente, Jorge Pedreira afirma que, no século XIX, o esforço

foi no sentido de promover o cultivo, como forma de atrair homens de negócio que

quisessem investir nesses produtos. Mas para haver esse investimento, é necessário

saber no que se vai investir, que é uma das linhas de actuação – visto no plano das

plantas medicinais e couros – e que passa pela implementação de novos produtos nessas

1 Valentim Alexandre “ A questão colonial no Portugal de Oitocentos” in Nova História da Expansão

Portuguesa: O Império Africano 1825 – 1890 dir. Joel Serrão e A.H de Oliveira Marques, Vol. IX,

Lisboa, Editorial Estampa, 1998, pp. 41 – 42.

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regiões. No entanto, dentro da leitura no pensamento económico, estas produções não

passam só pela defesa da terra, mas passam também pela sua reexportação para as

praças Europeias, estando ligados – não a novas correntes – mas a uma prática já em

voga.

O modelo em questão passa pela implementação e adaptação a outras partes do

ultramar de modo a fortalecer a posição económica portuguesa, de plantas que possam

auferir lucro. Noutro ponto, pegando no trabalho de D. Miguel António de Melo, indica

a necessidade de se apostar na agricultura para aumentar a receita fiscal reduzindo a

dependência desta do Brasil1.

3.1.2 Obstáculos à Permuta

Outra questão era a capacidade de a Coroa portuguesa, implementar esse mesmo

modelo de produção. Para António Carreira, além de envolver uma extensão da

autoridade portuguesa (de facto) a estas paragens, implica a necessidade de alinhamento

das autoridades africanas ao mesmo2. Vejamos a questão, do ponto de vista dos

circuitos comerciais, que eram correntes naquela região.

Em primeiro devo salientar, que a presença portuguesa era mais no litoral

aguardando que viesse do sertão os produtos para a troca3. Por outro lado há uma falta

de meios – uma vez os canhões tem de vir de Luanda, que servem para intimidar os

africanos em “rebelião” a autoridade portuguesa4. Nesta perspectiva os portugueses, não

tem meios de coacção eficazes para imporem a sua voz no sertão a qual, impede a

aplicação de um projecto europeu no sertão africano.

1 Manuel dos Anjos da Silva Rebelo, Relações entre Angola e o Brasil (1808-1830), Lisboa,

Agência Geral do Ultramar, 1970, p.131.

2 António Carreira, op cit, p. 96.

3 O mapa em questão mostra uma maior expressão portuguesa pelo litoral. Vd. Mapa, p. 174.

4 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 85, doc. nº 24, 28 – 02 – 1797 oficio 2.

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Deve-se colocar a questão, sobre os motivos que impediam esse mesmo sucesso,

mas antes de o fazer-se consideremos a acção portuguesa no mesmo espaço. Num

documento de 1797 é referido um apaziguamento do sertão pela acção das forças

portuguesas, de modo a garantir que haja uma continuidade das actividades mercantis1.

No entanto o mesmo apaziguamento realiza-se, nos sertões próximos impróprios para o

funcionamento agrícola, tendo apenas como principal objectivo, a normalização e

segurança dos agentes comerciais ao mesmo, não implicando um controlo sobre o

sertão.

Outro texto mostra-nos como a falta de forças militares, no mesmo terreno pode

ser nocivo aos planos da coroa, e das necessidades quer de soldados e de povoamento

para efectivar esse controlo2. “Esta desobediência está visível – nas palavras do

governador – ao afirmar que nada que se lhe digam, nem meio algum de os fixar a terra,

para fazerem o seu cultivo3.

Esta questão indica que a acção portuguesa dava-se num espaço muito restrito,

mas qual a dimensão real do domínio português. Em documento do A.H.U o

governador de Benguela afirma que o domínio de facto do poder português em Angola

(e África) corresponderia a mais pequena comarca de Portugal4. Obviamente que a

imagem é exagerada, sendo o espaço de controlo real bem maior que esse, mas indica

que – face a extensão do território – é muito pouco o domínio concreto português. A

falta, ou poder de intervenção limitado da coroa portuguesa, leva a que a coroa não

tenha os meios de impor no espaço africano as directrizes a que se propunha.

1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 85, doc. nº 16, 29 – 01 – 1797.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 60, 29 – 11 – 1797 “Das províncias desta

capitania se não pode saber concerteza os seus particulares; porque por falta de forças e liberdade,

fora dos suborbios desta cidade, não hé o Governador obedecido pelos gentios, e ainda dos moradores,

e só poderá ser fazendo alguns presídios em alguas principais das ditas províncias, como hem Angola,

hum regimento de Artilharia ou Infantaria nesta cidade, e vir do Brasil vários casais de gente parda,

não só para o aumento da População mas também para servir na dita tropa, para que de hua vez se

pudessem evitar as mortes roubos e hostilidades, que os gentios fazem como os ditos documentos nº 3, 4,

serve.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 60, 29 – 11 – 1797.

4 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 70, 24 – 12 – 1798. & Mapa, p. 192.

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Uma outra questão prende-se com as condições de fertilidade para que, no espaço onde

se tem uma ténue autoridade, se possa implementar o mesmo. É Sabido que as regiões

próximas no sertão de Benguela, não são conhecidas pela sua fertilidade1. Esta questão

é atestada documentalmente em 1783 – dada a falta de salubridade e de fertilidade – é

sugerido que a cidade fosse mudada para uma parte mais a norte com melhores

condições, quer de salubridade, quer de fertilidade2. Esta situação não seria exclusiva,

no que toca a salubridade, a Benguela, havendo queixas no mesmo sentido para

Angola3. Num ofício já citado a agricultura dos sertões próximos as áreas de influência

portuguesa, eram caracterizados por uma agricultura mais de subsistência4.

A par desta questão, nas zonas próximas a cidade Benguela, ao contrário de

Luanda, não há os meios para a produção, como em Angola, onde há os arimos e as

zonas de Mosseques5. Isto implica que – nas zonas próximas aos domínios efectivos da

coroa – não eram próprias nem para a produção (que não fosse para a produção de

subsistência) nem para a aclimatação.

Outro documento mais tardio, indica que não há árvores próprias naquele

sertão6. Esta situação não era só de conhecimento dos círculos oficiais, mas também dos

círculos intelectuais de Lisboa. Segundo M.J.R as terras desta região, não eram próprias

à agricultura7. O que, dado o tipo de produção, denota sua pobreza para a cultura

extensiva. Nesta óptica, as condições para se aplicar o projecto – na vertente agrícola –

encontrava sérios entraves do solo.

Noutro ponto de vista, os Africanos – apesar das diligências do governador –

que associa numa perspectiva a preguiça – não os parece fazer demover zombando da

1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 90.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 17, 01 – 03 – 1783.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 109, doc. nº 1, 01 – 01 – 1804.

4 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 88 doc. nº 10, 16 – 10 – 1798 “Os frutos são

Milho, Feijão, e mandioca, que a maior parte comem no campo antes de o colherem, sendo os desta

cidade tão poucos os negociantes os mandão vir da América e ainda alguns de Angola para seu

sustento, e pelos mapas do hospital que também tenho remetido a V. Excelência se vê diminuindo os

dízimos que dos referidos frutos resulta”.

5 José Venâncio Carlos, op cit, pp. 78 – 79.

6 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc. nº 55, 29 – 11 – 1798.

7 M.J.R, op cit, p. 69.

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utilidade que possa advir dessas culturas1. Isto conduz-me a considerar os produtos, na

óptica dos Africanos. A falta de salubridade, e as más condições agrícolas, levam a que

tenha de optar num cultivo no sertão mais voltado para a subsistência. Esta questão leva

a que, quer por falta de condições, quer por necessidades mais imediatas, não seja

possível aplicar-se o mesmo projecto. Os bens de exportação, devem ser

secundarizados, a dada a primazia da subsistência.

3.1.3 Soluções Possíveis

Apesar destes handicaps na produção, desenvolvem-se medidas de modo a

incentivar a mesma. Já vimos que as condições geográficas, e o domínio sobre o sertão

tornavam difícil essa mesma concretização. Porém na ausência dos meios para impor

essa mesma presença, quanto mais para impor um meio de produção cujos objectivos

estavam ligados a um plano europeu, implicaria a inércia na criação de meios para que

se pudesse levar adiante esse mesmo projecto?

Outra directriz presente no mesmo documento era o de promover a agricultura o

mais possível, ampliando as culturas produzidas no solo ao máximo, com a finalidade –

no futuro – de se estabelecer um Jardim Botânico em Angola2. A criação, ou o projecto

de criação de um Jardim Botânico, implicava a criação de um espaço sobre lógica

europeia, num território ultramarino, onde se poderiam aclimatar essas mesmas

produções. No entanto este projecto não se limitava, apesar de ter sido implementado

com maior sucesso nestas paragens, às terras de Vera Cruz.

Façamos uma leitura dentro dos objectivos mais vastos, dos jardins botânicos

para perceber qual seria a sua função. Os Jardins Botânicos eram meios onde se

pretendiam aclimatar produtos, de outras partes continentais, de modo a facilitar a sua

1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 92, doc. nº 30, 06 – 06 – 1799.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 21, 01 – 07 – 1800.

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exportação e era uma prática – quer no ultramar (Pará) – quer em Portugal (Ajuda),

visava receber plantas das diferentes partes do ultramar (no caso da Índia).

Houve planos que, os quais não foram concretizados, visavam a criação desses jardins

quer em Moçambique quer em Goa. Estes, além de algumas plantas nativas, tinham

como propósito aclimatar plantas vindas da Ásia em solo Brasileiro1.

No entanto este tráfego, não pode ser reduzido ao da Ásia. No caso de Angola,

para o Brasil, foi enviada canela para ser mais aclimatada, da zona de Quicongo, ao qual

é reputado tinturaria e ser usado para as dores de cabeça2. O envio desta planta

possibilita-nos pensar numa interacção mais lata, a qual não passa só pelo mundo

asiático em conexão com o Atlântico mas entre as próprias margens do mesmo oceano.

Na ausência, em Angola, deste Jardim Botânico, a opção mais próxima seria

levar essas sementes para o Brasil. Para Portugal também seria possível, mas dado

serem plantas de climas quentes, qual seria a real possibilidade de se adaptarem a um

clima mais frio?

No plano da história natural, no século XVIII – através dos jardins botânicos –

esperava-se que se pudesse retomar um projecto, de aclimatar plantas vindas da Índia,

no solo Brasileiro, principalmente no Nordeste (Maranhão, Pará)3. Este, além da área

das sensibilidades, tinha uma dimensão mais pragmática, pensando-se auferir benefícios

que para o comércio, agricultura, e medicina4.

Em todo o caso, o objectivo dos jardins botânicos era terem no seu interior

plantas das mais diversas partes do Império, visando dessa forma garantir o seu cultivo

– num prisma económico – mais do que numa mera perspectiva de subsistência (embora

começando com ela) visando a reexportação para os mercados internacionais.

Isto leva-me a perguntar se não seria este um ponto para se colocar e iniciar o

cultivo quer de açúcar, algodão, café, cacau nos mesmos. Claro que as directrizes 1 Luís Ferrand de Almeida, op cit, pp. 403 – 404.

2 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 79, 20 – 07 – 1793.

3 A.J.R Russell Wood, op cit, pp. 148 – 183.

4 Rómulo de Carvalho, A História Natural em Portugal no século XVIII, Lisboa, ICALPA, 1987, p. 66.

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indicam como prioridade, os bens de consumo na capitania, frutos, feijão, mandioca, e

outros bens de primeira necessidade mas seria restrita somente a esta? 1. Há um projecto

concreto, a par das produções tradicionais, que visava – criando meios onde pudessem

ser cultivados caso do Jardim Botânico – que visava a implementação, de plantas

produzidas para uma economia europeia.

Este a ser implementado, poderia ser um ponto, apesar da falta de meios para

implementar no sertão os projectos de aclimatação, a serem retomados, assim como das

produções nativas. Teríamos um espaço onde as autoridades portuguesas poderiam, sem

a necessidade de coagir ou depender as autoridades africanas, incrementar a produção

das mesmas plantas.

Esta, do ponto de vista, da aclimatação, poderia garantir um espaço onde, as

autoridades portuguesas pudessem aclimatar, e expandir as mesmas culturas de modo a

torna-las lucrativas e pensando numa dimensão europeia, o qual poderia ser a longo

prazo um espaço de interacção com os Africanos, criando uma familiarização dos

mesmos produtos, o que por sua vez, permitiria introduzir o uso e cultivo dessas

mesmas plantas no sertão e nas terras de África sem o uso de coacção.

Abria-se com esse plano, teoricamente, uma brecha pela qual se poderia

implementar os projectos europeus. Sobre esta, não há referencia que tenha sido

aplicada neste período, (a primeira que é criada é na década de 40 do século XX) mas

mesmo assim abre uma ferramenta para que se posso potencializar este

empreendimento.

Aqui, outra questão se pode levantar; onde seria uma vez que as plantas em

questão não se davam nem no mesmo clima, nem no mesmo tipo de solos. E no plano

geral, ao contrário das directrizes do século XVII, este período vê formulada uma ideia

mais concreta, sobre onde, e como, se deveria produzir.

1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 21, 01 – 07 – 1800.

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3.2 As Viagens Filosóficas, Novos Projectos sobre novas directrizes

A par dos propósitos de aclimatação, há também a busca de produtos do sertão

visando essas mesmas metas. Os interesses económicos, por sua vez, não podem ser

desassociados da própria conjuntura económica portuguesa, e da procura no mercado

internacional. A par da parte científica, há objectivos latentes mais pragmáticos, de se

fornecer esses mesmos produtos a metrópole, procedendo-se a reexportação dos

mesmos para as nações europeias, visando o enriquecimento da Metrópole1.

Todavia, se esta é a procura da metrópole, é porque esta corresponde a um

mercado mais vasto onde estes produtos encontram escoamento. Se por um lado, do

plano da documentação oficial, foram as redes oficiais de poder a inferir sobre o cultivo

e aclimatação de plantas, por outro – no caso das viagens filosóficas – temos a questão

das redes informais.

Como já vimos anteriormente, as directrizes implicam, também a produção e

exportação dos bens da capitania que – como visto – não o era possível. Esta lacuna

obriga a que se tenha de explorar o sertão, em busca de produtos, quer de lugares onde

se possa implementar produtos de grande procura no mercado Europeu.

O século XVIII – a par da institucionalização da economia – vê, quer a nível

institucional e político, um grande apoio da coroa a estudos sobre as potencialidades das

diferentes possessões2. No Reinado de D. Maria I este apoio é expresso – com o intuito

de se proceder ao reconhecimento dos produtos nas colónias – pela expedição de várias

viagens filosóficas3. Na sua tese de mestrado, Carla Ventura menciona a influência de

Lineu – da qual Vandelli é seu discípulo – e a necessidade de se fazer viagens ao

1 Francisco Contente Domingues, Ilustração e o Catolicismo Teodoro de Almeida, Lisboa, Colibri, 1994,

p. 128.

2 Carla Ventura, Os Portugueses e a Travessia do Continente Africano: projectos e viagens, Tese de

Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Vol. I, Lisboa, 2006, pp. 46 –

47.

3 Isabel Ferreira da Mota, D. Maria I, Lisboa, Quidnova, 2011, p. 76.

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interior dos domínios das diferentes potenciais colónias, de modo a conhecer e a fazer

um melhor aproveitamento dos seus recursos1.

Segundo José Luís Cardoso, estas dividem-se em políticas e em filosóficas. Na

primeira – na óptica deste autor – seguindo as linhas de Lineu – a primeira tinha-lhe

associado a descrição e potencialização dos recursos, a qual este considera ligada a

segunda questão cujo interesse é potencializar os recursos económicos2.

Neste ponto, dentro do campo do reconhecimento de seus recursos, tem

subjacente uma dimensão económica3; dimensão que, na própria obra de Lineu, já

estaria presente, com a noção de que o meio influenciaria a distribuição de animais e

plantas4. Nas mesmas – patrocinadas pela coroa – são enviados vários formados em

história natural, às mais diferentes e remotas partes dos domínios ultramarinos para

melhor se conhecer os seus recursos5.

Todavia esta acção não se resumia, somente aos naturalistas como também aos

governadores que, nas suas memórias, davam conta das suas actividades reformistas no

Império6. Mas a dimensão económica, não estava circunscrita a este tópico apenas.

Numa leitura geral Maria Fernanda Bicalho considera – a par do patrocínio da

coroa – que a busca do saber estava associada a esta empresa7. Ligados, dado o

patrocínio, a objectivos mais concretos que não só o saber mas potencialização

económica. Enquanto na questão anterior temos presente o papel das redes oficiais,

nesta questão temos o papel das redes informais.

Por seu lado, Ângela Domingues dá uma ideia mais lata da composição das

redes de circulação de informação. A rede em questão – formada por investigadores e

académicos - com - o financiamento da coroa - muitos formados na Academia das

1 Carla Ventura, op cit, pp. 46 – 47.

2 José Luís Cardoso, Pensar a Economia em Portugal Digressões Históricas, Lisboa, Difel, 1997, p. 105.

3 Francisco António Lourenço Vaz, op cit, p. 383.

4 Francisco António Lourenço Vaz, op cit, p.378.

5 Ângela Domingues, op cit, p. 135.

6 Ângela Domingues, op cit, p. 107.

7 Maria Fernanda Bicalho, A cidade e o Império o Rio de Janeiro no século XVIII, Rio de

Janeiro, Civilização Brasileira, 2000, pp. 105 – 107.

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Ciências, assim como do curso de História Natural, partiram as regiões mais remotas do

império: cartografando-o, indo aos sertões deles, recolhendo todos os produtos que

pudessem de interesse, quer científico, quer económico1.

Os governadores – na óptica desta mesma autora – teriam um papel secundário,

tendo como função organizar e preparar os elementos para os naturalistas, indicar-lhes

os locais onde deveriam ir, procurar a cooperação das restantes autoridades, e

providenciar-lhes todos os meios necessários2.

Ao contrário de Benguela, cujas directrizes eram de aumentar a troca de

produtos com a coroa, que leva a que se busque conhecer o que pode ser potencializado,

em Angola já passa – não só pela busca de um maior conhecimento do que pode ser

comercializado – como por medidas de incentivo ao mesmo.

Os objectivos da coroa, sua patrocinadora, eram amplos, procurando – dada a

prosperidade do império Português, dentro de uma dimensão mais prática - encontrar

novos produtos de reexportação. Consideramos então o mercado para os produtos

coloniais, no final do século XVIII para integrar a procura da coroa numa dinâmica

mais lata. Mas para tal vejamos o peso do mercado exótico, dentro do seu peso nas

reexportações para a Europa.

Nesta lógica e crescimento, o objectivo que estaria presente, no qual se insere a

noção de diversificação da produção de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que passa pela

aclimatação e a remessa de produtos raros, se possível só existente naquelas paragens,

de modo a exportar para as praças europeias.

Para se equacionar o sucesso dessa política, é necessário perceber o mercado

internacional no final do século XVIII. Como Henri Denis bem refere, o que importa –

dentro da corrente mercantilista – é a existência de um mercado de escoamento para os

produtos, quer da terra, quer da indústria, começando por mercados locais expandindo

1 Ângela Domingues, op cit, p. 136.

2 Idem, Ibidem, p. 140.

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para mercados internacionais1. O século XVIII é caracterizado pela busca de bens

exóticos entre os quais das diferentes partes do Ultramar2. Sobre esta procura Maxine

Berg e Elizabeth Eger referem a procura pelos produtos da Ásia, principalmente das

sedas e porcelanas chinesas3.

No entanto esta procura e gosto pelo exótico, não se restringe a estes produtos. Aos bens

de consumo industriais, e agrícolas tradicionais, juntam-se também novos produtos

provenientes do restante Ultramar4, dos quais se destacam os bens de consumo vindos

das Américas5. A expansão desse consumo, que leva que figurem novos produtos no

consumo quotidiano, o que atesta que houvesse mercado para se escoar quaisquer novas

produções.

A par desta procura junta-se o aparecimento e o alargamento do espectro social

de consumo dos mesmos, nos cafés, nos restaurantes, que não era um hábito restrito só

as elites6. A procura dos produtos nativos de Angola, está – na minha interpretação –

ligado a este mesmo exótico.

Ora a procura e a taxa de lucro dos produtos exóticos, era por si um incentivo a

que se procura-se novas produções para o mercado europeu. Um exemplo disso, está

nos lucros da reexportação que, não advém nem de açúcar, nem de algodão, mas de

produtos designados como drogas, como o óleo de Copaiba (144,08%), Gengibre

(216,07%), e o Pau-brasil (778, 71%)7. O grau de lucro destes bens era um incentivo há

busca e incremento dos produtos exóticos, para estimular a sua produção uma vez o

altíssimo lucro que se poderia auferir dos mesmos.

1 Henri Denis, op cit, p. 106.

2 Paul Butel, Histoire de L’Atlantique de L’Antiquité à nos jours, Paris, Perrin, 1997, p. 151.

3 Idem, Ibidem, p. 205.

4 Idem, Ibidem, p. 61.

5 James Foreman Peck, “Long Distance Trade: Long Distance trade between 1750 – 1914”, in The

Oxford Encyclopedia of Economic History, editor Joel Mokyr, Nova Yorque, Oxford University Press,

2003, p. 365.

6 Peter Musgrave, The Early Modern European Economy, London McMillian, 1999, p. 62.

7 Jobson Arruda, “A Economia Brasileira no fim da Época Colonial: a diversificação de produção o

ganho de monopólio e euforia do Maranhão” Revista de História da U.S.P, 1988, p. 8.

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108

Sobre estas viagens, a historiografia refere, dentro dos objectivos pretendidos,

que os resultados foram ténues e pouco relevantes, a não ser a representação espacial do

mesmo. Segundo Carla Ventura que aborda a questão sobre a exploração geográfica, e

as habilitações dos diferentes enviados da junta, e pouco a recolha que é feita pelos

mesmos, dando mais enfase a Moçambique que Angola. No pouco que dá no caso de

Angola faz uma pequena referencia as deficientes condições, que os naturalistas tinham

para fazer o seu trabalho1.

Nesta dimensão socio-económica há pouco conhecimento do sertão, ao contrário

do Brasil onde, devido à acção dos Bandeirantes, há um conhecimento relativo o qual

não o há em Angola. Estas expedições permitem uma primeira observação, sobre o que

pode ser comercializado no sertão abrindo caminho a sua potencialização. Nessa

perspectiva é um sucesso, não nos quadros dos objectivos da coroa, por permitirem uma

descompartimentação do sertão, permitiria uma futura – no caso do sertão próximo –

ocupação e aproveitamento dos recursos que de lá se poderia auferir.

É, segundo esta visão, diante do mercado quer colonial, quer europeu, que a

acção e objectivos dos naturalistas se desenvolvem, segundo os parâmetros indicados

pela Academia Real das Ciências.2

Estes, nas suas viagens, deveriam recolher todos os elementos necessários à

História Natural, assim como realizar as suas observações viagens, e enviando quer

produtos, quer memórias, respectivamente para Lisboa. As viagens filosóficas estão

inseridas neste esforço, no qual dentro de um reconhecimento científico há também uma

dimensão económica.

Vejamos agora qual os objectivos, e os sucessos das mesmas viagens mediante

os interesses económicos. J.B Teixeira, que salienta a formação de botânica de Joaquim

José da Silva, destaca como seu objectivo descobrir plantas, que visassem a

1 Idem, Ibidem, p. 53.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 40, 16 – 12 – 1783 e Isabel Ferreira Mota, op

cit, p. 77.

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reexportação para as diferentes praças da Europa1. A acção deste naturalista todavia,

não se limitou a botânica mas delineou-se em dois pontos específicos: a avaliação que

faz dos terrenos de Benguela, e também inventariação dos produtos (mas não de acordo

com a quantidade com que se esperava que fizesse).

No entanto o mesmo J.B Teixeira omite (seja por desconhecimento, ou o não

aceso as fontes oficiais) que no período de chegada do naturalista estudado por ele, em

Benguela, foram vistas várias plantas de interesse que foram anotadas, afirmando que

estes poderiam preencher o Gabinete de História Natural de produtos curiosos e úteis2.

Já do sertão estima-se que tenha remetido para Lisboa: um herbário, vários minerais,

um frasquinho de petróleo, uma caixinha de pau com insectos, uma ponta de cabra

montesa, oito dentes de cavalo-marinho, sete costelas de mulher peixe3 entre outros

elementos.

Estes elementos, por mais díspares que pareceram, poderiam ter utilidade, nos

insectos, não identificados, poderiam – a semelhança da conquilha, terem propriedades

tintureiras. Logo, apesar de, não numa quantidade industrial, ele de facto envia e remete

produtos para a coroa para se proceder a sua avaliação.

Mas a sua acção não se limitou a mera proximidade das zonas limiformes da

autoridade portuguesa. Na sua demanda do sertão, os produtos que foram alvo de

recolha por parte deste naturalista foram: plantas de cariz medicinal, a aptidão das

mesmas regiões limiformes de Caconda, para as regiões que já começam a ficar fora da

alçada da autoridade portuguesa, para a prática da pecuária e para a produção de gado4.

1 J.B. Teixeira, Le Naturaliste Joaquim José da Silva Et les itinéraires Des Expéditions qu’il A Effectué

en Angola, de 1783 – 1804. Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar, 1961, p. 103. 2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 67, doc. nº 22, 7 – 10 – 1783.

3 http://static.publico.pt/files/revista2/2013-08-18/saotome/viagens_filosoficas.pdf 11 - 12 - 2013 00:00. 4 José Joaquim da Silva, “Extracto da viagem, que fez ao sertão de Benguella no ano de 1785 por ordem

do governador e capitão general do Reino de angola, o bacharel Joaquim José da Silva, enviado aquelle

reino como naturalista, e depois secretário do governo” O Patriota, nº2, p. 88.

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Havia no interior do país, dadas as condições de pastorícia, mesmo que esta seja

preterida face a lã, gado quer caprino, quer bovino1.

Este papel é corroborado por alguma historiografia que enfatiza o papel do rio

cuanza no comércio da região, assim como da fertilidade a utilidade da agro-pecuária,

assim como de alguns elementos naturais2. A riqueza da actividade agro-pecuária é

também salientada por António José da Costa, capitão de infantaria que, na companhia

do sertanejo Gregório José Neves, vai ao sertão de Benguela fazer o reconhecimento

das potencialidades económicas3.

A avaliação feita, mais do que numa óptica de economia internacional, prende-se

com o abastecimento de carnes que eram escassas nesta praça, mas poderia ser a única

perspectiva? Apesar da documentação, não fazer uma avaliação numa óptica de tráfego

internacional, a mesma dimensão não deixa de estar presente.

Ao falar-se de Gado, fala-se de couros, um dos seus derivados, e a possibilidade

de se o trabalhar. Os couros eram o sexto produto, mais reexportado para por parte do

Brasil para Portugal e deste para a Europa, tendo como principais mercados a Itália e a

Inglaterra4. Segundo José Jobson de Arruda os couros (quer secos, quer salgados),

apresentavam as seguintes tendências: Hamburgo 8º e 9º produto mais procurado;

Inglaterra 6º e 7º; França 9º e 10º; Itália 17º e 18º; Holanda 4º e 5º; Castela 5º e 6º;

Rússia 6º; Estados Unidos 3º.5

Em Portugal havia um problema de comunicação com o interior de seu espaço

geográfico, o que fazia com que o couro que vinha do Brasil chegasse mais

frequentemente e fosse ai trabalhado. Se chegava mais facilmente os do Brasil, poderia

chegar também os couros de Benguela podendo desta forma serem trabalhados nas

manufacturas do Reino.

1 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil, pp. 103 – 105.

2 Carla Ventura, op cit, p. 55.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 117, doc. nº 24, 03 – 03 – 1807.

4 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil, p. 106.

5 José Jobson de Arruda, op cit, pp. 308 – 310.

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111

Esta conjuntura torna possível, dada a questão da utilidade e das novas culturas

(neste caso a África), que a potencialização das terras para a criação de gado, fosse um

meio de indicar a possibilidade de se aprimorar esta cultura nestas terras. Ora isto

implicava o aumento de unidades, que o mundo ultramarino poderia produzir,

permitindo (na teoria) o aumento da reexportação do mesmo produto.

A viagem não se salda a meu ver, num desastre porque há a remessa de produtos

dessa ordem, não há é a problematização das mesmas no plano económico. No entanto

dão a conhecer o sertão próximo de Benguela, realizando uma primeira potencialização

dos géneros que o mesmo poderia auferir. O que permitia a potencialização na prática

do se, e de como os projectos presentes na literatura poderiam, ou não, serem aplicados.

3.2 As Plantas Medicinais e o tráfego Negreiro

No entanto os achados no sertão não se limitam aos couros, mas englobam

também as plantas medicinais. As plantas em questão, ligadas à história da medicina

colonial, têm sido grande reflexão e inovação epistemológica cortando com o discurso

tradicional.

Presentemente esse campo do saber valoriza toda uma nova serie de interacções,

no qual um dos aspectos metodológicos mais focado é a interacção entre as diferentes

histórias médicas das diferentes nações1. Esta renovação, segundo David Arnold, leva

rejeição do discurso quase hagiográfico do papel da medicina europeia, começando a

integra-la em campos analíticos mais latos como com a política, economia e cultura2.

1 Anne Digby, Waltraud Ernest, & Projict B. Mukhari, “Crossing Historiographies, connecting

histories and their Historians”, in Crossing Colonial Historiographies Histories of Colonial and

Indigenous Medicine in Transnational Perspective editors Anne Digby, Waltraud Ernest, & Projict B.

Mukhari, Cambridge, Cambridge Scholars Publishing, 2010, p. ix.

2 David Arnold, “Medicine And Colonialism” in Companion Encyclopedia of The History of Medicine

editado W.F. Bynumand Roy Poter, vol 2, Londres/Nova Yorque, Routledge, 2004, p. 1393.

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Neste ponto, dado o tema da minha tese, a minha abordagem a este tema será

dentro do aproveitamento económico e em que medida poderia se operar, que não

poderá ser desvinculada da História Natural. Esta corrente visava, além da

problematização sobre as plantas alimentares, o reconhecimento dos elementos naturais

- reino vegetal, animal e mineral - e todos os produtos que pudesse ser de utilidade

pública1.

Por outro lado, o século XVIII – no campo do naturalismo conhece enormes progressos,

principalmente encabeçados pelos naturalistas franceses que iram não se limitar

somente à observação, como também a classificar, nomear e definir as principais

classes, onde as espécies animais, vegetais, e elementos mineralógicos, se enquadram2.

No plano da Medicina este processo, resultante da obra de Lineu, dota a

medicina e as farmácias, de um sistema taxiológico que lhe permite classificar as

plantas e animais que tivessem efeitos terapêuticos. O qual, segundo Louis Nager, está

relacionada com a criação de novos sistemas racionais, assim como de prevenção de

doenças3. Isto permitia que os médicos tivessem acesso a um sistema de classificação

universal de acesso a informação, mais rápido do que até então estavam em vigor4.

Este processo – além de facilitar a categorização – permite que se tenha uma

noção da possível utilização dos mesmos elementos naturais. No pleno económico, isto

entra em contacto com as directrizes que indicavam que se buscassem todos os produtos

aos quais tivessem interesse5. O sistema mencionado, ao permitir um melhor e mais

rápido acesso a informação sobre as propriedades das mesmas – além de permitir um

mais fácil tratamento – permitia uma comercialização dos mesmos.

1 Pascal Duris, “Histoire Naturelle”, in Dictionnaire européen des Lumières direc. Michel Delon, Paris,

Puf, 1997, p. 544.

2 Idem, Ibidem, p. 546.

3 Lois N. Magner, A History of Medicine, 2ª Edição, Londres/Nova Yorque Taylor& Francis, 2005, p.

345.

4 João Rui Pita, História da Farmácia, Coimbra, Minerva, 2000, p. 167.

5 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 7, 7 – 10 – 1798, missiva 3.

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Diga-se de passagem que, curiosamente, as primeiras referências, a produtos e

ervas medicinais de Angola, estão presentes – não em fontes oficiais – mas no terceiro

volume da História das Guerras de Angola de Cadornega. Esta – apesar da relativa

pouca historiografia – terá, nos Impérios Ibéricos, maior procura no século XVIII. Na

Espanha do século XVIII – com as reformas dos Bourbon – quer pelos interesses quer

dos Catedráticos de Medicina, quer pelos Grémios dos farmacêuticos, delineia-se como

um dos objectivos a recolha de plantas medicinais no Império Espanhol1. No caso

português, segundo M. Ferreira de Mira, no final do século XVIII há um grande

interesse na medicina natural, com enfase aos produtos do Brasil como a Cinchonina2.

No plano concreto, no Pará – a mando do Conde de Arcos ou do Bispo da Bahia

– eram recolhidos produtos medicinais índios, de forma a serem levados para o hospital

real militar de Lisboa e serem empregues e experimentados nos enfermos3. Mas e no

contexto de África, teria havido procura dessas plantas?

Sobre as plantas medicinais, Domingos Vandelli, faz algum numeramento das

plantas que se podem usar provenientes de África4. Nesta caso ele destaca a Sene, a

contra erva, a ipecacuanha, a salsaparrilha, jalapa, a Cascarrilha, a arapabaca ou

spigelia, tamarindos, canafistula, parreira, gengibre, quajaco, sassafraz, estoraque, e as

três novas cascas de quinaquina de Pernambuco. De São Tomé e Príncipe, este

menciona os bálsamos: o copaíba, cabureía, a cabureuta, omijiri5. Em Angola – a

semelhança deste exemplo no Pará – estas plantas são alvo de procura, por parte dos

naturalistas.

1 Jaime Vilchis, Victoria Arias, Ciencia y Técnica entre viejo y nuevo mundo siglos XV – XVIII,

Barcelona, Sociedad Estatal Quinto Centenario, 1992, p. 142.

2 M. Ferreira da Mira, História da Medicina Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional de Publicidade,

1947, pp. 309 – 321.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 68, doc. nº 65, 24 – 03 – 1784 Vide: A.H.U, Conselho

Ultramarino, Angola, Caixa 69, doc. nº 33, 04 – 10 – 1784.

4 Domingos Vandelli, “Memória sobre as produções deste reino, e das conquistas, primeiras matérias de

diferentes fábricas ou manufaturas.” In Memórias Económicas da Academia Real das Ciências dir. Luís

Cardoso, Tomo I, Lisboa, Banco de Portugal, 1992, p. 173.

5 Idem, Ibidem, p. 173.

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Vistas as plantas ditas, consideremos o que a historiografia tem contemplado

acerca desta área. Na Medicina Africana, segundo John M. Zazhen e Edward. C Green,

observa-se uma rejeição aos médicos/curandeiros africanos1 mas, poder-se-á estender às

plantas? Os mesmos autores atestam, dando vários exemplos, do papel central das

plantas medicinais em África2. Segundo Pierre Louis Moreau de Maupertuis, a Europa

lucrava muito, não só, com a recolha de plantas medicinais do ultramar, como com o

trabalho que os físicos realizavam sobre os mesmos3.

Neste artigo, o autor em questão, faz enfase a transmissão de conhecimentos de

plantas, entre os africanos, povos das caraíbas, e os europeus. O mesmo refere que, no

passado se deu muita enfase a medicina colonial europeia, mas que, no presente –

prefere a hibridização, colecta, e troca de informações – como os novos campos de

análise historiográfica. Sobre essa questão, nos documentos, só há referência aos

sertanejos os quais trouxeram – não só as plantas – como a informação de sua utilidade.

Outro dos aspectos que é focado nas novas abordagens é a grande procura, quer

de plantas, quer médicos negros nas caraíbas, as quais tem inerente uma procura e troca

de conhecimentos médicos4. Neste ponto esta questão esta subjacente, uma vez que

tendo sido recolhida a informação do sertão, poderiam tê-la recolhido das autoridades

religiosas africanas.

1 John M. Zazhen e Edward C. Green, “Continuity, Challenge, and Change, in African Medicine” in

´Medicine Across Cultures History and the practice of Medicine in non-Western Cultures, Editor Helaine

Selin, Londres, Nova Yorque, Kluwer Academic Publishers, 2003, p. 3. 2 John M. Zazhen e Edward C. Green, op cit, p. 7. 3 Londa Shiberg “Scientific Exchange in the Eighteen – Century Atlantic World” in Soundings in Atlantic

History, edit. Bernard Bailyn & Patricia L. Denault, Cambridge (Massachusetts), Harvard University

Press, 2009, p. 294. 4 Londa Shibenger, op. cit, p.300 – 302.

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Estas plantas não podem ser desvinculadas da questão do tráfego negreiro, um

dos pontos sobre o qual a medicina tropical tem começado a investigar. Segundo

Betania G. Figueiredo é que, a história do tráfego negreiro, tem sido abordada dentro da

Economic History, assim como nos campos da Cultural History. No caso do Brasil,

como indica Betânia G. Figueiredo, este assunto historiograficamente é mais abordado

numa óptica brasileira do que propriamente numa africana1.

A abordagem feita por esta investigadora, e nesta corrente, é feito dentro da

temática da escravatura. Este último tema, abre portas de investigação a diferentes

questões, como: organização de saúde por parte dos senhores de engenho; forma como a

população escrava lidava com esta questão; e medidas que eram usadas para

salvaguardar a saúde no século XVIII. De facto, a mortandade nas viagens de África

para o Brasil, era uma preocupação crescente. Na referência à lei de 1784, relacionada

com questões de saúde, impedindo que o número de escravos superasse a capacidade

dos navios de os transportar2.

Segundo Isabel Castro Henriques – apesar de o cuidado prestado aos escravos ser

melhor do que o dado pelos holandeses, que os portugueses não eram melhores que os

restantes – havia muitos meios e formas de arranjar espaço para os escravos, mas pondo

em perigo a saúde dos mesmos3. Segundo a mesma historiadora as estratégias usadas

passavam por: espaço para aguada ligeira, camarotes, oratório, eram eliminados com

vista a que houvesse mais espaço para as jóias negras do império. Foi com o intento de

evitar que a mortandade a bordo aumenta-se, no século XVII, a qual a lei de 1784

retoma, foram instituídas as arqueações para limitar o número de escravos a serem

levados nas embarcações.

1 Betania G. Figueiredo e Evandro C.G de Castro, “Os cuidados com os escravos no fim de setecentos” in

A Circulação de Conhecimentos Medicina, Redes, e Impérios, Cristiana Bastos e Renilda Barreto, Lisboa,

ICS, 2011, p. 104.

2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1800.

3 Isabel Castro Henriques, A Rota dos Escravos Angola e a Rede do Comercio Negreiro, p. 175.

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O não comprimento destas directrizes implicava condições propicias a má

alimentação e falta de higiene, que estavam na base das doenças a bordo e consequente

mortalidade. Já a continuidade destas mesmas directrizes revela a ineficácia das ordens

da coroa, e a necessidade de encontrar alternativas para permitir que não haja muita

mortandade de escravos pela degradação das condições a bordo1.

Segundo Klein grande parte da questão, está no discurso dos abolicionistas

Britânicos, que atacavam o tráfego, usavam como argumento o tratamento a bordo. No

entanto, como este reconhece, o número de escravos mortos durante o percurso rondava

os 18%, o qual – segundo o mesmo autor – não seria diferente da dos marinheiros2. No

entanto, na mesma obra, o mesmo historiador, indica que as percas que significavam a

morte de escravos para quem os traficava, e perca de rendimentos e investimento.

A falta de comprimento, das medidas das arqueações, obrigava a que se

pensasse em alternativas, dada a sua importância na cultura sacarina e outros produtos.

Para se perceber a associação desta corrente, de forma indirecta a que perceber o seu

papel no tratamento dos escravos.

Como já mencionei, a ideia de produtividade do Mercantilismo, englobava o

maior número de mãos a trabalhar sobre um produto é o que garantiria o aumento de

produção. O que implica que, para que esse tráfego possa ser regular, tenha de haver

saúde.

Postas estas questões torna-se crucial ver a questão da saúde do escravo começa

com uma dupla perspectiva, as condições de higiene, e o tratamento das patologias

enquanto na viagem. A preocupação com o escravo era crucial para o senhor de

1 Estes, quando colocados num barco focariam nos espaços quase até ao bico da proa, e até perto do

Castelo da embarcação, onde ficavam os camarotes e a enfermaria A questão que é abordada, no caso

das embarcações, é de que muitas vezes o espaço que deveria ser para os escravos segue para outras

pessoas, e no caso das sumacas é que o espaço dos camarotes, que durante as arqueações é mudado, para

poder albergar mais escravos A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1800.

2 Herbert S. Klein, O Comércio Atlântico de Escravos, pp. 129, 133.

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engenho, uma vez que o escravo em boa saúde teria um valor de mercado superior ao

mais combalido1.

Uma das vertentes do Iluminismo estava relacionada com a saúde pública e a

prevenção de doenças2. O tratamento da mão-de-obra negreira, os capitais empatados na

sua captura e exportação, exigia cuidados médicos para não se perder muito do que

havia sido investido3. Parte desse processo, passa pela recolha de plantas, das diferentes

partes do ultramar, para serem analisadas as suas propriedades.

No artigo em causa, no caso do tráfego negreiro britânico o autor considera a Malária a

causa predominante de mortandade4. As consequências de haver esta superlotação na

saúde eram, bexigas, sarna, escoborto, que vitimavam muitos escravos5. A par destas

doenças, outras eram associadas, em outras fontes, eram: as febres; bicho de luanda,

constipações, bexigas, sarampo6.

Na sua obra sobre os conhecimentos empíricos dos fármacos, Maria Benedita

Araújo – além de todo o aspecto místico associado a sua recolha e preparação – dá uma

ideia da importância dos mesmos produtos vindos do ultramar na Europa. A mesma dá

enfase há: a raiz de mututu, utilizada como anti-séptico, analgésico e anafrodisíaco; o

pau quiseco e o quicongo, que entre outras aplicações, servia como analgésico; o pau

angrariari e suas sementes, com fortes propriedades anti diuréticas e anti inflamatória

das vias urinárias, entre muitas outras7. Mas esta não é a única referencia, as doenças

que vitimavam a bordo os africanos.

Uma das memórias da Academia, a de Luís António de Oliveira Mendes, fala

sobre as doenças que vitimavam os africanos. O texto por si é interessante, mas no

1 Betania G. Figueiredo e Evandro C.G de Castro, op cit, p. 94.

2 João Rui Pita, op cit, p. 171.

3 Betania G. Figueiredo e Evandro C.G de Castro, op cit, p. 105.

4 Richard H. Steckel & Richard A. Jesen, “New Evidences on the cause of Slave and Crew Mortality

in the Atlantic Slave Trade”, in The Journal of Economic History Vol 46, Nº 1 (Mar., 1986), pp 65 –

67.

5 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1800.

6 Luís António de Oliveira Mendes, Memórias a Respeito de dos Escravos e Trafego da Escravatura

entre a Costa d’Africa e o Brasil, Porto, Publicações Escorpião, 1977, pp. 61 – 67.

7 Maria Benedita Araújo, O Conhecimento Empírico dos Fármacos nos Séculos XVII e XVIII, Lisboa,

Edições Cosmos, 1992, pp. 43 – 47.

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contexto deste trabalho irei ficar exclusivamente a questão das doenças as quais ele

contabiliza como: febre, do bicho (lombriga), constipações, bexigas, sarampo1. A par

destas temos as que são enviadas pelos naturalistas para Lisboa em 1784, às quais é

acrescentado uma relação de como eram usadas e deveriam ser preparadas2.

Das que são encontradas no sertão, são destacadas pela correspondência: a

Murinhoca, que é usada para a Gonorreia; a Muhundogol que era útil para o tratamento

de lombrigas; a Muxaxacia que é usada para as febres; a Chatalango que é descrita

como útil para as dores de cabeça; O Pau Luisam ou Quiceco que serve para equizemas,

a Makangasuesue que é usada para barrigas inchadas e lombrigas.

Noutro documento, em 1804, há uma lista das plantas enviadas para Lisboa por

parte do governador, sendo febres, cicatrizes e ulceras, os principais sintomas sobre as

quais estas agem3. Entre estas, outras doenças como, febre, diarreia4, perigavam os

escravos, e onde estas plantas agiam. As condições geradas pelo não-cumprimento das

arqueações, fazia com que o sistema imunitário dos escravos ficasse mais fraco

tornando-os receptivos a estas doenças dadas as condições das viagens.

Uma outra questão prende-se com a familiaridade destas plantas para as próprias

jóias negras. Uma das questões que levava, a que os escravos não tomassem os produtos

que lhes eram dados era a falta de familiaridade com eles. Tratando-se de boticas feitas

com produtos africanos, tornava mais fácil a sua aplicação, uma vez que o público-alvo,

os escravos, estariam familiarizados com esta medicação o que aumentaria a

probabilidade de consumo e redução das enfermidades. Desta forma, estar-se-ia a

1 Luís António de Oliveira Mendes, “ Discurso Académico ao Programa: Determinar com todos os seus

sintomas as Doenças agudas, e crónicas, que mais frequentemente acometem os pretos recém-tirados da

África: examinando as causas da sua mortandade depois da chegada ao Brasil: se talvez a mudança do

clima, se a vida laboriosa, ou se algum outro motivo ocorrem para tanto estrago: e finalmente indicar os

métodos mais apropriados para evitá-lo, prevenindo-o, e curando-o. Tudo isto deduzido da experiencia

mais sisuda e fiel” in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências dir. Luís Cardoso, Tomo

IV, Lisboa, Banco de Portugal, 1992, pp. 27 – 29.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 68, doc. nº 65, 24 – 03 – 1784.

3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 107, doc. nº 8, 18 – 07 – 1803.

4 Richard H. Steckel & Richard A. Jesen, op cit, p. 59.

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pensar em potencializar este produto, numa dinâmica, não só, mas numa vertente da

economia atlântica.

Ora se atendermos bem as características das plantas medicinais, acima adscritas

elas tinham, segundo os governadores, as funções que elas tinham era de curar estes

malefícios. A lógica seria então a reexportação para o Brasil ou para as Embarcações de

modo a terem os meios de combater os flagelos que perigavam as vidas dos escravos.

Dentro destes objectivos, desenvolvi duas teorias uma em como estas plantas seriam

aplicadas de forma directa, outra de forma indirecta dentro da ideia de um circuito

económico.

A forma de acção indirecta neste caso, equaciona-se, ai permitirem a

sobrevivência de mão-de-obra escrava, permitia que mais mãos houvessem para o

cultivo, e dessa formas e pudesse aumentar a produção no Brasil, estando ligada a uma

prática de complementaridade da economia do ultramar.

Na indirecta o tratamento deste assunto seria na venda e reexportação, dos

mesmos no circuito comercial (ligada ao mercantilismo). Mas para tal, devemos

primeiramente considerar a circulação das plantas medicinais no mundo atlântico. As

plantas medicinais referidas, não eram consumidas na própria cidade. Os dados da

exportação deste bem não indicam uma correlação entre os medicamentos exportados e

importados diferem1.

A par desta questão - estes produtos por si levantam um problema, em Benguela

há – neste período – falta de médicos e de medicamentos, tendo que vir a sua grande

maioria do reino, assim como no Brasil. Por outro lado ele fala da dificuldade em

arranjar as plantas medicinais: dado a falta de submissão, como também de autoridade2.

Faça-se primeiro uma consideração, sobre o acesso das praças de África (Benguela de

onde há mais informação), aos produtos de Botica. A própria reexportação deste bem

1 Tabela 21, pp. 185 – 187.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 69, doc. nº 33, 04 – 10 – 1784.

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correspondia a uma percentagem mínima para Angola (cerca de 1%)1. Mas a constatar

pelas tendências de exportação, numa comparação, esta não seria o principal objectivo,

o que a tornava um negócio nem por ai além.

Esta tendência mantem-se em 1802, uma vez que a grande maioria dos produtos

de botica, ou das chamadas drogas, eram provenientes do reino ou do Brasil, apenas

algumas eram autóctones2. Há uma dupla leitura que se pode fazer sobre o transporte, e

valorização destes produtos. Segundo José Pinto de Azevedo, dada as fracas chuvas,

quer em Angola, quer em Benguela, não haveria plantas nem balsamos de grande

qualidade, mesmo, segundo ele, nos sertões de Benguela3.

Este autor, ao falar sobre a produção das mesmas, contraditoriamente, afirma

que, o seu trato quer nos arredores, quer nas proximidades rivaliza com os dos

Europeus. Estas por sua vez, apresentam dificuldades na aclimatação, sendo ordenado

ao governador de Benguela que remeta uma série de sementes para a metrópole, mais

especificamente para o Jardim da Ajuda4.

A ideia de as remeter a Lisboa, está dentro da prática experimentalista do

iluminismo, onde estas seguiriam para a o Jardim Botânico, e depois para o Hospital.

Nos mesmos espaços visavam a aprimorar-se e experimentar-se, se de facto estas

tinham as propriedades que lhes eram associadas.

Dentro da directriz de ligação directa mais sólida, a meu ver estas plantas,

seriam exportadas para Portugal, e, caso resultassem, experimentadas nos hospitais de

Lisboa e do Reino, ou no Jardim Botânico da Ajuda, seria reexportada para o Brasil, de

modo a combater esse flagelo. No entanto há um pequeno senão; tratando-se de plantas

tropicais, não teriam hipótese de se darem no clima a norte do equador. A questão da

1 Gráfico 1, p. 188.

2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 103, doc. nº 21, 08 – 02 – 1802.

3 José Pinto de Azevedo, Ensaios sobre Algumas enfermidades de Angola, Lisboa, Colibri, 2013, p. 40.

4 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 102, doc. nº 26, 21 – 10 – 1801.

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aclimatação de produtos tem sido amplamente debatido dentro dos bens de consumo

alimentar – assim como os proveitos económicos que se poderia auferir das mesmas1.

Uma outra questão relativa aos jardins botânicos é que os mais antigos seriam dedicados

a plantas medicinais associados a universidades2. Desta forma, e tendo em conta a

história dos Jardins botânicos, e as próprias instruções - que afirmam que não só seriam

as plantas de sustento objecto de cultivo - abre a hipótese de serem este tipo de plantas a

serem cultivadas no projecto embrionário.

Assim, está aberta a possibilidade, assim como dos produtos para a

reexportação, sendo estas plantas cultivadas propriamente dita em Angola. Isto implica

a criação de uma rede comercial, na qual as plantas eram produzidas em Angola para

serem reexportadas para Lisboa (visando averiguar-se as suas propriedades) e dai para o

Brasil. Neste caso não haveria uma relação directa, mas sim indirecta, no qual passava

que este bem em vez de ser exportado directamente entre as duas colónias passaria

primeiro por Lisboa.

Por outro lado, ao operar sobre as enfermidades do escravo, esperava-se que

reduzisse a mortandade, permitindo o tratamento do maior número de escravos à

chegada, e que, dessa forma, houvesse o maior número de mão-de-obra a lavrar as

terras.

Para a aplicação do projecto busca-se, quer na aclimatação, quer na procura de

bens do sertão, produções com as quais se posso permutar. Procura que enfatiza o

exótico, como forma de procurar maximizar esse mesmo lucro. Nesta óptica, para se

aplicar o projecto, é necessário tomar um maior conhecimento do sertão, que passa pela

elaboração de espaços onde se possa produzir essa mesma aclimatação.

Nesta procura, no plano da aclimatação, procura-se incrementar produtos visando o

mercado internacional assim como manufacturas. No plano das plantas exóticas, apesar

1 James Mclalen III “Scientific Institutions and the Organization of Science” in The Cambridge History

of Sciences dir. Roy Porter. Vol. 4, Cambridge, Cambridge University Press, 2008, p. 102.

2 Idem, Ibidem, p. 101.

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de com os mesmos objectivos da aclimatação, os produtos dai auferidos tinham maior

impacto no mercado interno do mundo ultramarino português. Nesta vertente – apesar

de não serem inovadores – há a inovação, ao equacionar-se como, e onde, poderiam ser

produzidas.

Ressalva-se também – além dos projectos e da literatura – a acção das redes

formais e informais, que permitiram avaliar a viabilidade dos projectos e o

reconhecimento das potencialidades do mesmo.

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Conclusão

No plano geral, (ao contrário do que tem sido dito pela historiografia) posso

constatar que há um projecto económico elaborado para a Angola no segmento

cronológico em questão, que se integra no leque de reformas para o ultramar. Este,

segundo a documentação existente no A.H.U era anterior ao século XIX, já estando

presente nele todas as bases – em moldes diferentes – do que serão aplicadas no findar

de oitocentos. O que o torna, numa leitura conjuntural, um projecto que se integra numa

média/longa duração.

Numa dimensão política, as reformas pretendiam integrar e interligar o ultramar

dentro de uma óptica corporativista, tendo em conta a “hidra revolucionária” do fim de

setecentos. Um dos vectores de unidade era a economia, com a qual pretendia-se criar

laços entre as diferentes partes do ultramar e a metrópole; projecto que, por sua vez, se

integra numa problemática da matriz do pensamento e discurso económico no Portugal

do período em estudo, neste caso se estamos diante fisiocracia, mercantilismo, ou

naturalismo económico. Nesta questão, dados os objectivos últimos onde, na última

vertente, a potencialização dos bens agrícolas, está relacionada com a comercialização

dos mesmos, dá uma filiação a prática do mercantilismo.

Por esta passa – dentro da vertente prática do iluminismo – a exploração e

potencialização do sertão, (que tem inerente a avaliação dos seus recursos naturais), dos

elementos quer vegetais, animais, e mineralógicos, visando a sua exploração

económica.

Já no plano mercantilista, está presente um aumento da exportação portuguesa

na colónia em questão, o reforçar das relações directas entre Portugal e as praças que

são hoje Angola. As ideias em questão, e sua institucionalização, dentro do pendor

reformista, estão relacionadas com os arbítrios das M.E.A.R.C, assim como as suas

redes sociais articuladas com o poder, no qual está subjacente a ideia de se conglomerar

as diferentes partes do Império pelas trocas mercantis.

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Por outro lado, um dos objectivos era o incremento do consumo dos produtos do

reino, nas praças de Angola o que obriga a que se passa a proceder ao estudo da relação

económica entre as praças de Angola e o reino. O mesmo traduz-se por um saldo

positivo entre Portugal, e a mesmas possessões mas que – no contexto do comércio

colonial – não seria o objectivo primordial. As colónias, no que diz respeito as

transacções, não tinham como principal prioridade o saldo positivo, mas a permuta por

matérias-primas de modo a sua transformação e comercialização, as quais – por sua vez

– deveriam estar na base do saldo positivo (quer pela manufactura, quer pelo comércio)

com outras partes do mundo.

Apesar de haver um superavit de Portugal – como assim era esperado, este era

fruto da reexportação dos produtos da Ásia, do que do consumo de produtos do reino. É

neste âmbito, que se deve problematizar os produtos transaccionados, de Portugal para

Angola.

Ao observar os produtos que eram exportados, a sua tendência e sua utilidade,

por um lado estes mesmos produtos e o incremento dos bens agrícolas, e industriais do

Reino, dada a tendência de exportação, mais do que o mero consumo, estava

relacionado com a permuta do sertão visto serem usados para o escambo negreiro.

Logo, a diretriz de incrementar os produtos, mais do que mero consumo, tem subjacente

uma dimensão comercial, visando o aumento do peso dos produtos do reino no mesmo

processo. Mas, mesmo o incremento desses mesmos bens, tinha subjacente a ideia de

serem permutados por diferentes bens.

No caso das manufacturas, e sua introdução, estas tinham como principal

circuito o Brasil, para trocar por açúcar, algodão, couros, e outros produtos; enquanto os

alimentos, dada a fraca absorção pelo mercado brasílico, encontrava uma oportunidade

de permuta em Angola. De facto, dados os principais produtos alimentares, quer das

manufacturas, não fazerem parte dos hábitos alimentares em Angola, dá-lhes utilidade

não no consumo, mas antes na questão da permuta que era o destino dos vinhos,

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principal exportação alimentar. Dentro do plano da economia, e do pensamento

económico, há um funcionamento que se pauta pelo mercantilismo uma vez que, mais

do que consumo, os bens eram elementos de permuta. Dentro da dimensão da história

das ideias, na prática, apesar de todo o discurso, estamos diante de objectivos, e o

funcionamento da economia de Angola, mais na óptica de um mercantilismo no qual se

insere o projecto, numa óptica, diante os dados presentes de aumentar os meios de

permuta disponíveis no sertão, mas com enfase nos produtos do Reino para o mesmo

efeito.

Este, no entanto visava três objectivos claros: a continuação das actividades

económicas tradicionais; o incremento de novas exportações para o reino – e

consequente reexportação para o mercado internacional; e aumento do consumo dos

bens do reino nas praças de Angola.

Esta questão relaciona-se com os bens de permuta, por escravos e logo o ponto

de partida, para se proceder a mutação das tendências de consumo no próprio sertão.

Há, para este período uma ordem de procura no sertão, o qual não passa pelos produtos

portugueses de maior exportação, nem os que se queriam que aumenta-se o consumo.

Neste caso as produções portuguesas, quer as armas, quer as bebidas, encontram

uma conjuntura negativa. No caso das armas, estas apesar de serem de enorme

importância, no reforço da centralidade dos altos dignatários africanos, Ngolas, Sovas, e

demais titularias, e não causar nenhuma ruptura social, antes o reforço das mesmas, não

sendo elemento de fractura, mas antes de reforço, o que lhes dava, em teoria, uma

grande procura no sertão.

Estas – por um lado – por irem contra os objectivos portugueses na região, por

outro por não serem da mesma qualidade que eram apresentadas pelos ingleses e

franceses. Estes factores, quer por parte das autoridades locais, quer por parte das

autoridades africanas condicionava a validade deste bem como bem de permuta. Por

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outro, a própria superlotação do próprio sertão, no acesso a estes bens, no qual – dada a

qualidade reduzida – das mesmas.

No plano do álcool, vindo do Brasil, temos questões fiscais que, se por um lado

são perceptíveis para aumentar a exportação de bebidas do reino, em detrimento das do

Brasil, mas que reduzem o consumo, mas curiosamente não são eficazes em reduzir a

exportação. Se por um lado é pela perca de validade, no tráfego negreiro, por outro

poderá ser pela presença de alambiques no sertão que, apesar de haver uma referência

documental, poder-se-ia prolongar no tempo sendo um dos factores.

Estas questões levam à desvalorização dos bens, que seriam os de maior procura

no sertão. No plano da permuta, quer para as armas portuguesas, quer para as bebidas,

as exportações tradicionais estão em perca de poder e influência no sertão.

Por um lado, no caso das jeribitas, estamos diante de uma estratégia de tentativa

de redução do peso da mesma face aos vinhos, no caso das armas houve por motivos

militares, ou por motivos de qualidade, uma quebra do mesmo bem que ia contra os

objectivos da coroa portuguesa. Ora se do lado das jeribitas a sua desvalorização, dentro

deste projecto, agradava a coroa, mas esta por si também não implicava o aumento da

exportação do vinho para estas paragens, e que, mesmo com a redução a sua

importância aumentasse como moeda de troca.

No plano da introdução dos bens, na dimensão escravocrata, nota-se uma grande

inviabilidade conjuntural sobre a introdução dos mesmos bens, o que nos leva a ter em

atenção, devido a reexportação dos bens da Índia onde se destacam as fazendas da

mesma predominância.

No século XVIII, na costa do Biafra, e em outras paragens, começa-se a

perceber que, em vez dos meios tradicionais, as fazendas da Índia começam a ganhar

peso. Ao contrário do que toda uma historiografia diz, havia, da parte dos mercadores

portugueses, acesso a este bem, que está relacionado com um aumento da exportação da

Ásia em Portugal.

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Aqui entra a questão das fazendas da Índia, que são o principal produto de

reexportação dos portugueses para as mesmas paragens, com a dita finalidade de

permuta. No plano geral a sua reexportação, é fruto do aumento do comércio de

Portugal com aquelas praças, independentemente se a serviço de outra nação europeia

ou pelo próprio tráfego. Mas a par da abordagem económica, há também uma

abordagem sociológica sobre a mesma temática. Estas, no momento em que se tratam

de fazendas vindas da Europa, e não provenientes de Portugal apresentavam um grande

obstáculo aos objectivos portugueses, uma vez que não favorecem a manufactura lusa.

Mas não é só no plano da rede de circulação, mas nas redes mercantis que esta questão é

laudível.

Num plano sociológico a sua obtenção questiona seriamente a noção de

triângulo comercial, mas – dado que muitas delas devem ser pagas em prata e não por

permuta- coloca as redes portuguesas sobre dependência das redes intra-índianas para se

obter os mesmos bens. Isto leva a que, nesta lógica, da coroa, em vez de se proceder a

acumulação de metais preciosos se denote a perca dos mesmos.

Esta questão obriga a que se estude seriamente, Sobre a interligação do das redes

mercantis, já se começa a estudar no caso da articulação do Brasil com a Índia, mas

agiriam estas autonomamente ou sobre ordens das casas comerciais portuguesas, uma

vez que grande parte dos mercadores no ultramar agiam em articulação com as casas

mercantis do reino.

No plano económico, na relação directa para Portugal, está subjacente uma

relação deficitária com a Ásia, mas necessária – numa óptica atlântica - para obter as

joias negras do império força motora da economia portuguesa. Outra questão, a par do

acesso as mesmas, Já das fazendas em si, que poderão ser contabilizadas para o período

em questão, mas não – enquanto comparando as fazendas exportadas com as fazendas

de procura assistimos a uma diferença entre a procura e o que era usado como permuta.

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Mas, se há um grande nível de exportação das mesmas fazendas, este índice,

nem o que atesta a documentação oficial é a própria prática da actividade mercantil que

atesta a importância do mesmo bem – no período em estudo – como moeda de permuta.

Se por um lado a um consumo, pressupõem-se que haja um motivo para tal no

mesmo sertão. Os quais tem a sua hegemonia no comércio, por tráfego negreiro, a meu

ver, dado – pelas suas cores – o apreço e o símbolo de status social nas sociedades

africanas. No entanto, apesar de ser um dos produtos de maior exportação, ao

verificarmos as fazendas que eram reexportadas na Ásia, não eram as de maior procura

no sertão Africano.

Desta forma as trocas estavam sujeitas, não ao que os portugueses queriam

implementar, mas a procura e valorização que estas tinham no seio das sociedades

africanas. O papel do peso das fazendas da Índia, se bem que com um peso

diversificado, se por um lado tem uma dimensão comercial mais lata da relação

Portugal–Ásia, e uma dimensão sociológica, tem o seu peso devido a questões do

mercado Africano, assim como a da relação com as restantes moedas de escambo.

Em comparação com as moedas de escambo – que por vários motivos passam

por retracção – as fazendas da índia passam por um período de crescimento da sua

importância relacionada com a própria procura do sertão. No plano da permuta, e do

projecto colonial, a procura destes bens inviabiliza a substituição destes bens como

parte da dimensão mercantil do mesmo projecto.

Dada a dimensão da permuta, e o peso dos bens, deve-se equacionar o comércio

negreiro. É nesta situação, que se pode contemplar o tráfego negreiro, e todo o processo

inerente. Ao verificar toda a problemática dos números, das fontes estatísticas que nos

chegaram até aqui, que, o número do tráfego passa por uma estabilização a qual, nas

regras da época, era apontada como estagnação onde o tráfego negreiro não aumenta.

Nestes destaca-se São Paulo de Assunção de Luanda, da qual parte a grande

maioria dos escravos, excepto em uma situação conjuntural onde em um ano Benguela

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supera Luanda. Mas, mesmo com o acesso a estes bens, não há o crescimento do tráfego

negreiro, que me leva a equacionar – que mesmo com a não procura no sertão – se não

seria uma forma de aumentar, nem que fosse residualmente, o mesmo escambo

negreiro. No entanto o mesmo não seria suficiente para aumentar, aos níveis

pretendidos inviabilizando a dimensão do tráfego tradicional.

Numa escala regional, está presente a seguinte tendência. Destaca-se o papel do

Rio de Janeiro, como a capitania para onde provinham a grande maioria dos escravos,

seguindo de perto por Pernambuco e por uma Bahia que vai perdendo peso até ao fim

do período em estudo. No caso desta última, ao contrário do que diz toda uma

historiografia, não é um dos principais actores económicos naquela região, mais pela

falta de peso da sua mais forte moeda de permuta na permuta.

Destaca-se por outro lado, as capitanias do Noroeste onde o tráfego passa por

um crescimento, que deve-se a isenção de direitos reais que visavam o aumento do

fornecimento de mão-de-obra para a indústria algodoeira. O fenómeno, porém, não se

resume ao tráfego Angola-Brasil, estando presente uma dimensão cis-continental. No

caso de Benguela o fenómeno é semelhante, acrescentando-se apenas a terceira posição

do tráfego para Angola, para onde foi um considerável número de escravos, cujo seu

destino mais certo seria o circuito atlântico.

Se do plano da permuta as bases, pela falta de projecção do projecto no plano de

Angola, tinha pouca margem de manobra obriga a que Portugal tenha de optar pela

procura de novos produtos, nos quais esta permutação poderia ter resultados mais

imediatos. Nesta procura, incluem-se uma dimensão múltipla de procura: plantas

cultivo, aclimatação, e plantas medicinais.

As primeiras, hipoteticamente, numa óptica de mercado interno, caso do açúcar

e algodão, as restantes (caso das plantas medicinais), numa óptica atlântica. Ora a falta

de meios dentro das práticas mercantis normais, leva-me a ponderar até que ponto a

exploração de outros produtos do sertão, não possibilitariam a mesma operação. Esta

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procura no sertão ligada a um exótico, pretendia tirar partido desse gosto do século

XVIII, para melhor lucrar pela raridade, pela novidade, dessas plantas no mercado

europeu.

Este, que, na sua concepção, passa por um crescente reconhecimento do sertão,

que é feito quer pelas redes oficiais assim como as oficiosas. Estes, do ponto de vista

das redes oficiosas, executadas pelos naturalistas, tinham como objectivo proceder ao

reconhecimento, o que de facto é por eles procedido. Nestes eles avaliam produtos,

além dos animais exóticos, que poderiam ser explorados numa dimensão económico

onde, quer pela acção dos naturalistas, quer das ditas redes oficiosas, se destacam quer

os couros, produtos medicinais.

A promoção destes produtos, dentro da problemática da natureza do projecto

para Angola, só os do ferro correspondem a continuidade dos projectos de Sousa

Coutinho. Mesmo, como indica Ralph Delgado, que já houvesse sido equacionado –

desde o século XVII – o cultivo de açúcar, e algodão, não há uma ideia tão definida

onde, e como deveria ser implementada. No projecto para o período em questão, já há

uma dimensão espacial que que se integra quer num discurso económico, quer numa

prática económica, de forma estruturada e não ambígua. Se em parte passa pelos

projectos de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, por outro lado, é redutor considerar o único

pendor reformista havendo um espectro mais alargado englobando os debates da

história do pensamento económico.

Os produtos em questão, apesar de não poderem serem eficazes para o tráfego

internacional podiam ser uteis no comércio com a metrópole, e quer numa dinâmica

mais Atlântica. No caso dos primeiros, com uso para uma das indústrias de – apesar de

não ser de tecidos – de maior projecção permitindo o aumento da exportação de Couros

para Portugal. A segunda, quer pelo tratamento a ser dado em Lisboa, ou como produto

de reexportação, pela acção de preservar ou curar os escravos que vinham das Áfricas,

permitindo uma redução da taxa de mortalidade, e logo mais mão-de-obra a trabalhar no

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nas plantações. Os quais, quer na utilização potencial, quer no circuito de circulação,

tem inerente uma prática, e um pensamento económico.

No plano da permuta, a introdução dos novos produtos seria um meio de – na

prática do comércio – promover a troca dos produtos do reino por estes bens. Mas,

implicitamente, essa não é a única questão levantada, pelo projecto em questão. No

mesmo, quer nas trocas, quer nos objectivos das mesmas, há uma dimensão

internacional, quer nacional, como destino do coeficiente da mesma permuta. Na

questão da internacionalização, temos de ter em atenção a questão da aclimatação de

produtos, os quais visavam principalmente o mercado europeu. O que, nesta

perspectiva, está relacionado quer com o contexto industrial português quer mercantil,

estando nas entrelinhas das intenções.

Apesar de esta problemática ser mais enfatizada as vindas da Índia para as

Américas, há planos para se realizar o mesmo procedimento em África: no que toca a

aclimatação de açúcar, algodão e anil, cacau, e café. Produtos que, eram de grande

procura nos hábitos de consumo de finais de setecentos. No que toca a historiografia, a

questão – da aclimatação – está relacionada com a questão dos novos brasis em África

não foi restrita ao século XIX, mas já se equacionava no fim do século XVIII numa

conjuntura de aumento das exportações de Portugal para a Europa.

Na óptica, e na lógica, desta teoria está subjacente a expansão e cultivo das

mesmas plantas para os solos de Angola. Produtos, que, neste caso (açúcar e algodão)

ligado o primeiro a exportação, e o segundo ao surto manufactureiro assim como o anil.

Ao, na teoria, poderem produzir estes produtos, seriam no plano do comércio, um

complemento ao que já era exportado e, no plano do algodão, e demais plantas, um

meio para suprir as carências das manufacturas do reino.

Mas uma dimensão que não se restringe a mera produção, estando ligada as

redes de informação. Desta forma, hipoteticamente a produção de África, abria uma

alternativa que poderia ser articulada com as manufacturas do Reino, oque, mais do que

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fisiocracia, ou economia clássica, está dentro da relação normal entre colónia

metrópole, em que a primeira, não só pelo consumo das matérias-primas, mas também

pela cedência das mesmas, quer para exportação, quer para as manufacturas. No plano

sociológico, no caso destas plantas, estamos diante da acção das redes oficiais do

governador e autoridades portuguesas em Angola. Esta é que, diante das directrizes da

coroa, dá a percepção de se podem ser aplicadas, e se as mesmas podem ser aplicadas

do sertão, e tornam viável os projectos da coroa ou não.

No concreto, apesar de todo o campo interpretativo das ideias económicas,

estamos diante um projecto Mercantilista que visa a exploração e cultivo de produtos

para a reexportação para os mercados, quer nacionais, quer internacionais. Este na

prática não tem uma base fisiocrática, mas antes de naturalismo económico

instrumentalizado numa prática do mercantilismo comercial, mas já sobre os parâmetros

de despotismo iluminado. Contexto das ideias económicas, onde se formula, através

quer da Academia Real das Ciências, quer das redes oficiais de poder, são a base da

reforma económica no ultramar.

No contexto de Angola esta reforma, no incremento das produções do reino, está

relacionada com uma actividade de permuta, mais do que na prática de consumo. No

qual, dada a incapacidade de se aplicar a introdução dos bens pelas trocas tradicionais,

obriga a que se proceda a diversificação da produção. No qual o projecto em si, numa

dimensão prática, visava a substituição das fazendas da Índia, assim como dos bens do

Brasil por bens do reino com o aumento do consumo e remessa dos mesmos. O que,

consequentemente, aumentaria a interacção de Angola – não só com o Brasil – mas com

a metrópole, integrando este espaço africano numa dinâmica mais lata principalmente

nos circuitos internacionais da época.

Assim, pela economia, cumprir-se-ia um dos objectivos gerais da coroa que está

em consonância com as linhas elaborados pelo mercantilismo francês, sobre a

interacção múltiplas das colonias. Que por sua vez, tem influência no projecto

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elaborado D. Rodrigo de Sousa Coutinho, cujo uma das interacções pretendidas era a

articulação da coroa e da metrópole. A qual, nesta linha, constituiria, a linha geral, seria

um dos pilares dessa unidade aglutinando as regiões que seriam, apesar do peso

económico, periféricas no plano politico.

Estamos então diante de um projecto, que apesar da componente política é pela

economia, onde pretende implementar reformas iluministas em Angola pela vertente

prática complementando e diversificando as actividades na mesma região.

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Apêndices:

Tabelas: Tabela1

Diferença entre as importações e exportações entre Portugal – Angola e Benguela Diferença em Reis da Exportação de Portugal com Benguela e Angola

Ano Lisboa Angola Diferença Lisboa Benguela Diferença

1796 147576210 16408250 131167960 57220078 0 57220078

1797 126063212 0 126063212 77898608 0 77898608

1798 0 0 0 0 0 0

1799 427829486 7155000 420674486 0 0 0

1800 444749540 4228000 440521540 0 0 0

1801 665781400 27364800 638416600 0 0 0

1802 501301667 10942125 490359542 0 0 0

1803 480789012 2336000 478453012 0 0 0

1804 577243120 4779000 5772464120 0 0 0

1805 0 0 0 0 0 0

1806 566239620 16940200 549299420 0 0 0

1807 477082500 2342000 474740500 0 0 0

1808 0 0 0 0 0 0

1809 0 0 0 0 0 0

1810 0 0 0 0 0 0

Total 3783573241 92495375 9522160392 135118686 0 135118686

Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Domínios, I.N.E, 1796 – 1810

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158

Tabela 2:

Saldo Comercial Brasil/Angola

Diferença da exportação para o Brasil

Ano Exportação de Angola para o Brasil Exportação do Brasil para Angola Diferença Percentag

1798 664909100 82495805 582413295 11%

1799 828057880 88726370 739331510 14%

1802 826341020 162759360 663581660 13%

1803 992383500 161093020 831290480 16%

1804 985587950 213480200 772107750 15%

1805 1076159045 183132200 893026845 17%

1809 791645780 184522423 607123357 12%

1810 899440870 783347258 116093612 2%

Total 7064525145 1859556636 5204968509

A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Tabela 3:

Exportação e Reexportação de Portugal para Angola:

Diferença entre a exportação de Portugal Para Angola

Ano Exportação de Angol Exportação de Portugal para Ang Diferença

1798 9760480 71461593 61701113

1799 0 133737215 13373215

1802 7474260 271771070 264296810

1803 0 271972811 271972811

1804 7135110 289655020 282519910

1805 0 225003550 225003550

1809 0 96328270 96328270

1810 0 0 0

Total 24369850 1359929529 1215195679

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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159

Tabela 4:

Relação de Benguela segundo os Mapas da Cidade com as Diferentes partes do Ultramar. Importação:

Valores Importados em Cruzados das várias praças em Benguela

Ano Rio de Jane Bahia Lisboa Angola Total

1798 375842,5 6913,5 376001,5 42534 801291,5

1801 186188,5 57278,5 876962 7447,5 1127876,5

1802 402993,5 21760 533636,5 13015 971405

1806 357594,64 25619,3 409249,8 2884 795347,69

1808 977163,13 82 7571 3633 988449,125

1809 802953 0 0 6380 809333

1810 687762,16 3100 0 3860 694722,16

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160

Tabela 5:

Total do valor dos diferentes géneros exportados de Lisboa para Angola entre 1796 – 1810 Mantimento Vários Produtos

Ano s Lanifícios Linifícios Géneros Metais da Ásia

1796 8844116 9139178 14055504 14118188 4628444 88885006

1797 2718321 13345338 9484842 5688692 4050006 55293631

1798 0 0 0 0 0 0

1799 17904100 45868600 16824140 9055280 5800030 298220000

1800 12175840 44901410 16768000 13450160 6071620 324258500

1801 25831360 39693190 27533060 30064470 18901135 496963100

11282237

1802 29206480 0 39150962 35534030 32690940 205701980

24747486

1803 18889760 87176602 0 45425690 23655115 240878320

10796000

1804 41191340 0 16340160 42548620 41347880 260041020

1805 0 0 0 0 0 0

12836380

1806 38338920 0 6360840 69001640 18557560 274110560

1807 29447245 87606120 11388500 34946010 17110725 262851150

1808 0 0 0 0 0 0

1809 0 0 0 0 0 0

1810 0 0 0 0 0 0

67687660 40538086 29983278 17281345 250720326

Total 67786165 8 8 0 5 7

Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Domínios, I.N.E, 1796 – 1810

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161

Tabela 6:

Alfândega de Luanda:

Exportação das Diferentes Praças para Angola

Exportações para Angola (em Cruzados)

Ano Portugal Asia Brasil Europa Total

1798 71461593 134953123 82495805 66655232 355565753

1799 133737215 256018715 88726370 102798290 581280590

1802 271771070 368555845 162759360 195715550 998801825

1803 271972811 323574100 161093020 238912747 995552678

1804 289655020 236879100 213480200 248507700 988522020

1805 225003550 521905300 183132200 133371700 1063412750

1809 96328270 244518200 184522423 63622860 588991753

1810 0 96606400 783347258 0 879953658

Total 1359929529 2183010783 1859556636 1049584079 6452081027

A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Tabela 7:

Saldo Comercial de Angola com o total das Praças do Brasil

Diferença Exportações/Importações Angola Ano Exportaçãop Importação Saldo Percentag

1798 355565753 674669580 319103827 6%

1799 581280590 828057880 246777290 9%

1802 998801825 833815280 164986545 15%

1803 995552678 992383500 3169178 15%

1804 988522020 985587950 2934070 15%

1805 1063412750 1076159045 12744 16%

1809 588991753 791645780 202654027 9%

1810 879953658 899440870 7065112 14%

total 6452081027 7081759885 946702793 100%

Fonte: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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162

Tabela 8:

Exportação e Reexportação de Portugal para Angola:

Fonte: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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163

Tabela 9:

A Ali Dr Fá Algo M Co Se Lin Vá La O Cera C A Tot

n me og bri dão et ur da ific rio nif ur mic or de al

o nto as ca ais os s ios s ici o a e do re

s s Ge os e Vidr ari ço

do ner Pr aria a s

Re os at

in a

o

1 80 67 93 8738 33 15 11 728 28 71 66 147 23 11 55 7 76 53 15 994 58 22 13 849 18 12 70 232 35 40 64

9 05 25 26 98 3 65 1 94 80 50 0 48 38 83

8 9 7 8 20 5 0 90

1 35 16 23 8027 46 31 25 106 34 13 84 220 0 22 60 7 86 27 42 930 49 08 82 401 93 13 75 980 42 18

9 27 36 31 52 40 18 90 41 00 80 0 65 58

9 29 0 20 0 5 0 0 85

1 12 38 47 2181 16 40 48 947 11 37 15 368 42 53 25 8 54 65 30 1225 73 51 20 353 26 38 54 900 63 08 85

0 42 60 34 25 55 54 6 35 70 20 0 20 50 39

2 00 0 00 60 0 0 75 0 0 0 93

0 6

1 92 26 40 1768 16 20 33 175 29 23 74 419 19 17 22 8 79 45 48 7100 81 67 45 202 25 74 27 184 20 79 70

0 27 39 77 18 60 85 20 01 20 00 0 00 25 16

3 00 0 06 90 70 0 0 51

1

1 10 22 28 1652 23 79 12 227 24 46 26 682 26 16 25 8 82 78 99 5900 31 41 57 415 31 29 32 260 40 70 34

0 76 94 65 10 00 09 20 77 00 00 0 00 40 62

4 80 0 30 80 70 00 0 0 74

0 0

1 79 0 52 3491 88 0 55 581 42 52 0 0 0 0 27 8 77 85 5000 64 49 890 70 30 83

0 80 55 00 50 00 40 00 83

5 00 00 0 00 45

0

1 14 13 18 1254 11 19 61 220 20 26 40 162 0 47 66 8 48 49 99 7600 72 88 10 800 62 20 00 320 00 56

0 01 80 19 49 00 00 0 60 00 0 0 00 99

9 20 0 04 20 0 44

1 0 0 0 0 0 0 0 614 0 0 0 0 0 0 0 8 905

1 0

0

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T 46 12 22 1202 85 57 35 134 11 12 41 197 49 78 12

ot 47 44 13 5374 45 14 62 210 59 36 14 117 52 33 44

al 08 24 73 9 29 27 20 007 10 94 73 60 74 53 66

40 15 42 58 3 15 40 80 0 8 0 99

8 7 0 00

A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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165

Tabela 10:

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167

Fonte: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Tabela 11:

As Fazendas da India Vindas de Portugal para Angola

Ano Cádeas Chilas Chitas Coromandeis Panos Cassadiz Zuartes Cathariz Cobertas

1798 36652300 8267400 7941465 17164980 195375 0 29999025 0 1211000

1799 62749100 22976100 2980300 28220400 0 0 61959600 583700 3859000

1802 70776750 27612000 2012400 39721000 16184000 5942400 84690900 117500 24694900

1803 69753400 0 7531800 0 8010000 0 51532000 0 7383000

1804 7658600 15000000 13963200 2720000 7200000 0 53427200 6752000 10972000

1805 93406000 5034000 9535100 67325000 0 0 155504000 0 9194000

1809 35620000 20545000 0 21585000 10548000 0 40713000 0 1577400

1810 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Total 376616150 99434500 43964265 176736380 42137375 5942400 477825725 7453200 58891300

Linhas Cambaias Cassas Panos de Cafre Panos de Genti Lenços Gangas

3022874 523450 988650 2583581 0 7399825 1542750

6055200 465600 820575 24629400 0 6101420 903600

2506400 115500 2048000 27190800 1937200 11417600 6640600

1284100 160000 2160000 11967200 0 20014800 4076800

1818000 1280000 2200000 5400000 0 12283200 3028000

12862000 0 108000 31044000 3886000 29041000 1203800

11662000 0 1577400 9813000 2560000 14319600 21400

0 0 0 0 0 0 0

39210574 2544550 9902625 112627981 8383200 100577445 17416950

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Longuins Toalhas Nanquima Cambraye Mantas Riscadinh Surrates

1126000 6300 4840160 0 0 0 0

2212100 16000 4263600 0 0 0 7427900

3322500 93000 3996000 0 0 0 17833100

1740800 145000 6112000 0 0 194600 11712000

1002000 230000 6000000 0 0 600000 4048000

13868000 64000 7285000 10000 160000 0 3100500

0 32000 6524000 0 0 0 0

2944000 0 0 0 0 0 0

26215400 586300 39020760 10000 160000 794600 44121500

Gingoens Patavar Panos de Bah Procoló Garrazes Carleguin

0 921840 1959375 621350 0 34560

254800 2067500 0 0 504000 0

354000 592000 16120000 0 4058000 15200

598400 1340000 8010000 4053000 1836800 0

600000 3027500 7200000 0 1990000 0

0 560000 0 0 5417000 0

0 125000 10548000 0 6180000 0

0 0 0 0 0 0

1807200 8633840 43837375 4674350 19985800 49760

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Duraque Dorias Elefante Outros Te Guardana Tapetes Total

0 48000 38500 61300 0 0 127150060

0 18000 130500 5600 54000 0 239257995

80000 22400 0 222400 154760 0 370471310

10800 0 76800 211000 43000 0 219957300

48000 0 185000 408000 60000 0 169100700

0 0 80000 534000 16400 416000 449653800

0 0 0 507400 0 640000 195098200

0 0 0 0 0 0 2944000

138800 88400 510800 1949700 328160 1056000 1773633365

(Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. )

Tabela 12:

Produtos de Escambo em África:

Prodtos da Asia Produtos do Brasil

Ano Fazendas da India Bebidas do Brasil Tabaco do Brasil

1798 127150060 56504900 3214400

1799 239257995 61287000 5902500

1802 370471310 125404000 5110400

1803 219957300 114342000 11020800

1804 169100700 140846000 16401000

1805 449653800 178659000 3734000

1809 195098200 154562164 6998629

1810 2944000 0 0

Total 1773633365 831605064 52381729 A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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Produtos do Reino

Vinho Vinho Bra Licores Aguarden Armas Port Armas GraTotal

328776 0 541920 345600 848704 0 188934360

24083040 0 510000 266400 8450000 994000 340750935

62164500 0 1537400 1892000 4197000 178400 570955010

56328100 783400 760500 426000 25640000 5751000 435009100

60999200 0 748800 1608800 22400000 5400000 417504500

78088000 0 0 1690000 5304000 2160000 719288800

9750000 0 0 0 0 200000 366608993

0 0 0 0 0 0 2944000

291741616 783400 4098620 6228800 66839704 14683400 3041995698

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Tabela 13:

Diferença entre as Fazendas da India e os Produtos das Fábricas Portuguesas:

Ano fabricas portuguesas fazendas da India total

1798 46897006 127150060 174047066

1799 58558525 239257995 297816520

1802 129232336 370471310 499703646

1803 131578421 219957300 351535721

1804 142907000 169100700 312007700

1805 198605450 449653800 648259250

1809 50740024 195098200 245838224

1810 6149050 2944000 9093050

Total 764667812 1773633365 2538301177

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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171

Tabela 14:

tal de Escravos enviados de Angola e Benguela para o Bra

Ano Escravos d Escravos d total Percentagem

1783 6286 6286 12572 3%

1784 0 7608 7608 0

1785 8601 6161 14762 4%

1786 9674 5484 15158 4%

1787 9919 7012 16931 4%

1788 11297 6126 17423 4%

1789 8547 6032 14579 4%

1790 9964 6135 16099 4%

1791 9072 6329 15401 4%

1792 11569 8910 20479 5%

1793 10094 11172 21266 5%

1794 11915 9481 21396 5%

1795 9951 10170 20121 5%

1796 9971 7885 17856 4%

1797 8311 7069 15380 4%

1798 10255 5424 15679 4%

1799 7750 0 7750 0

1800 0 0 0 0

1801 0 6835 6835 0

1802 11518 8687 20205 5%

1803 13830 0 13830 0

1804 13018 0 13018 0

1805 13711 0 13711 0

1806 15336 5842 21178 5%

1807 0 0 0 0

1808 0 4818 4818 0

1809 9889 5325 15214 4%

1810 11736 5463 17199 4%

Total 242214 154254 396468 0

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.

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172

Tabela 15:

Comparativa de escravos enviados por Luanda para os Diferentes Portos d

Rio de Jan Bahia Pernambu Maranhão Pará São Tomé

Ano Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos

1799 0 0 0 0 0 0

1800 0 0 0 0 0 0

1801 0 0 0 0 0 0

1802 5160 1881 3622 0 0 0

1803 5440 2333 4013 1502 855 0

1804 4556 2063 3325 1578 1493 3

1805 4710 2100 4401 1068 1427 5

1806 0 0 0 0 0 0

1807 0 0 0 0 0 0

1808 0 0 0 0 0 0

1809 7323 72 2494 0 0 0

1810 8837 882 1254 450 307 0

Total 36026 9331 19109 4598 4082 8

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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173

Tabela 16:

Escravos de Benguela para os Diferentes Portos do Brasil Rio de Novo

Janeiro Bahia Pernambuco Maranhão Pará Angola Redondo Santos

Ano Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Total

1791 4450 1450 0 0 0 0 0 429 6329

1792 5988 2029 893 0 0 1788 0 0 10698

1793 7573 1701 1897 0 0 350 0 0 11521

1794 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1795 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1796 6714 0 1171 0 0 164 0 0 8049

1797 5679 0 385 0 0 1005 0 0 7069

1798 4512 912 0 0 0 0 0 0 5424

1799 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1800 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1801 5693 821 0 0 0 321 0 0 6835

1802 6639 1021 0 695 0 332 0 0 8687

1803 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1804 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1805 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1806 4228 467 0 0 541 606 0 0 5842

1807 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1808 4040 0 0 0 510 268 0 0 4818

1809 5129 0 0 0 0 196 0 0 5325

1810 5115 0 0 0 0 337 11 0 5463

Total 65760 8401 4346 695 1051 5367 11 429 86060

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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174

Tabela 17:

Percentagem de exportação de escravos vindos de Angola por parte das diferentes praças Atlânticas

Ano Rio Bahia Pernambuco Maranhão Pará São Tomé

1802 48% 18% 34% 0% 0% 0%

1803 38% 16% 28% 11% 6% 0%

1804 35% 16% 26% 12% 11% 0%

1805 34% 15% 32% 8% 10% 0%

1809 74% 1% 25% 0% 0% 0%

1810 75% 8% 11% 4% 3% 0%

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Tabela 18:

O Total Percentual do peso da exportação de escravos de Benguela para os diferentes destinos

Ano Rio de Janeiro Bahia Pernambuco Maranhão Pará Angola Novo Redondo Santos

1791 70% 23% 0% 0% 0% 0% 0% 7%

1792 56% 19% 8% 0% 0% 17% 0% 0%

1793 66% 15% 16% 0% 0% 3% 0% 0%

1794 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1795 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1796 83% 0% 15% 0% 0% 2% 0% 0%

1797 80% 0% 5% 0% 0% 14% 0% 0%

1798 83% 17% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1799 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1800 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1801 83% 12% 0% 0% 0% 5% 0% 0%

1802 76% 12% 0% 8% 0% 4% 0% 0%

1803 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1804 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1805 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1806 72% 8% 0% 0% 9% 10% 0% 0%

1807 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

1808 84% 0% 0% 0% 11% 5% 0% 0%

1809 96% 0% 0% 0% 0% 4% 0% 0%

1810 94% 0% 0% 0% 0% 6% 0% 0%

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx

106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U

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175

Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.

Tabela 19:

Peso Percentual dos escravos por capitania:

Luanda – Ultramar

Rio de Janeiro

Ano Escravos Percentagem

1802 5160 14%

1803 5440 15%

1804 4556 13%

1805 4710 13%

1809 7323 20%

1810 8837 25%

Total 36026 100% Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Pernambuco Ano Escravos Percentagens

1802 3622 19%

1803 4013 21%

1804 3325 17%

1805 4401 23%

1809 2494 13%

1810 1254 7%

Total 19109 100% Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Bahia

Ano Escravos Percentagem

1802 1881 20%

1803 2333 25%

1804 2063 22%

1805 2100 23%

1809 72 1%

1810 882 9%

Total 9331 100%

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176

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Maranhão Ano Escravos Percentagem

1803 1502 33%

1804 1578 34%

1805 1068 23%

1810 450 10%

Total 4598 100%

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Pará Ano Escravos Percentagem

1803 855 21%

1804 1493 37%

1805 1427 35%

1810 307 8%

Total 4082 100%

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

São Tomé Ano Escravos Percentagem

1804 3 37%

1805 5 63%

Total 8 100%

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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177

Tabela 20:

Benguela – Ultramar

Rio de Janeiro

Ano Escravos Percentagem

1791 4450 7%

1792 5988 9%

1793 7573 12%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 6714 10%

1797 5679 8%

1798 4512 7%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 5693 9%

1802 6639 10%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 4228 6%

1807 0 0%

1808 4040 6%

1809 5129 8%

1810 5115 8%

Total 65760 100%

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178

Bahia

Ano Escravos Percentagem

1791 1450 17%

1792 2029 24%

1793 1701 20%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 0 0%

1797 0 0%

1798 912 11%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 821 10%

1802 1021 12%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 467 6%

1807 0 0%

1808 0 0%

1809 0 0%

1810 0 0%

Total 8401 100%

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179

Maranhão

Ano Escravos Percentagem

1791 0 0%

1792 0 0%

1793 0 0%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 0 0%

1797 0 0%

1798 0 0%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 0 0%

1802 695 100%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 0 0%

1807 0 0%

1808 0 0%

1809 0 0%

1810 0 0%

Total 695 100%

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180

Pernambuco

Ano Escravos Percentagem

1791 0 0%

1792 893 21%

1793 1897 44%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 1171 27%

1797 385 9%

1798 0 0%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 0 0%

1802 0 0%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 0 0%

1807 0 0%

1808 0 0%

1809 0 0%

1810 0 0%

Total 4346 100%

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181

Pará

Ano Escravos Percentagem

1791 0 0%

1792 0 0%

1793 0 0%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 0 0%

1797 0 0%

1798 0 0%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 0 0%

1802 0 0%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 541 51%

1807 0 0%

1808 510 48%

1809 0 0%

1810 0 0%

Total 1051 100%

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182

Angola

Ano Escravos Percentagem

1791 0 0%

1792 1788 33%

1793 350 7%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 164 3%

1797 1005 19%

1798 0 0%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 321 6%

1802 332 6%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 606 11%

1807 0 0%

1808 268 5%

1809 196 4%

1810 337 6%

Total 5367 100%

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183

Novo Redondo

Ano Escravos Percentagem

1791 0 0%

1792 0 0%

1793 0 0%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 0 0%

1797 0 0%

1798 0 0%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 0 0%

1802 0 0%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 0 0%

1807 0 0%

1808 0 0%

1809 0 0%

1810 11 100%

Total 11 100%

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184

Santos

Ano Escravos Percentagem

1791 429 100%

1792 0 0%

1793 0 0%

1794 0 0%

1795 0 0%

1796 0 0%

1797 0 0%

1798 0 0%

1799 0 0%

1800 0 0%

1801 0 0%

1802 0 0%

1803 0 0%

1804 0 0%

1805 0 0%

1806 0 0%

1807 0 0%

1808 0 0%

1809 0 0%

1810 0 0%

Total 429 100%

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.

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185

Tabela 21:

Quadros Comparativos das Drogas idas para o Sertão e as que

Portugal queria comercializar

Drogas Enviadas para Angola e Drogas enviadas para

Benguela Lisboa

Manna Murianhoca

Senne Muhondugol

Sal Cartatico MuxaxaKixi

Sal Tartaro Cathalango

Sal Puro em Pó Pau Luisam ou Quicoco

Amoniaco Makangas Suesse

Terra Fudiada de tartavo Zimbo

Jalapa Raiz de Pau Trinde Zelado

Rhabarbavo Abutua

Escamoneia em Pó Raiz de encasse

Cypo Lobongos

Quintilio

Resina de Jalapa

Calamalenos

Opio

Verdette em pó

Tamarindos

Cana Justuba

Conserva Persica

Alcanfas

Goma Amorieo

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186

Goma Assasfatida

Goma Hedra

Goma Minha

Goma Arabica

Azogue

Pos de Joanne

Vitrido Branco

Pedra Lipas

Pedra Huma Crua

Salsa Parrilha

Pao Sassafras

Avanca

Escabioza

Hizopo

Violas

Masselas Galegas

Centouria Menor

Agua de Canella Espirituosa

Amobe de Sabugo

Amobe de Amoras

Agua de Inglaterra

Estitica Donzela

Ungento de Zopoletivo

Popilião

Quina Optima

Flores de Sabugo

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Flores de Rosa

Flores de Papoila

Alkahil Volatil

Liquor Andonono mineral

Espirito de Coquelaria

Balssamo Catolico

Oleo de Amendoas doces

Oleo de Farmentina

Oleo Rosado

Aparrilho Composto

Aparrilho de Alambre

Bezina de Pinho

Pesloivo

Oreto

Cantaridas

Roy de Pireto

Raiz de Almeirão

Raiz de Malva

Raiz de Gessiana

Raiz de Aletria

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 66, Doc nº 37, 05 – 04 – 1783 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 75, doc nº 65, 04 - 10 – 1790 & Vide: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 84, doc nº 89, 13 – 10 – 1796 & Vide: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc nº 30, 08 – 10 – 1797 & Vide: Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 56, 4 – 12 – 1798

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188

Gráficos:

Gráfico1:

Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Dominios, I.N.E, 1796 – 1810

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189

Gráfico2:

Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Domínios, I.N.E, 1796 – 1810

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190

Gráfico 3:

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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191

Gráfico 4:

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

Gráfico 5:

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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192

Gráfico 6:

Fontes: A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83,

1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.

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193

Gráfico 7:

A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.

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194

Gráfico 8:

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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195

Gráfico 9:

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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Gráfico 10:

Percentagem dos Alimentos enviados para Angola de Lisboa segundo A Alfândega de

Luanda 1798 - 1810

6%1%

18%

51%

23%

Vinho Vinagre Farinha de Trigo Azeite Aguardente Licores

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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197

Gráfico 11:

Precentagens dos Alimentos Vindos do Brasil para Angola 1798 - 1810

1%1% 7%

Aguardente

5%2%

Geribitas

Açucar

Arroz

Queijo de Minas

Toucinho

Café

Carne Seca

81% Tijolos de Doce

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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198

Gráfico 12:

Exportações para Angola (em Cruzados) 1798 - 1810

900000000

800000000

700000000

600000000

500000000

400000000

300000000

200000000

100000000

0

1798 1799

1802

1803

1804

1805 1809 1810

Portugal 71461593 133737215 271771070 271972811 289655020 225003550 96328270 0

Asia 134953123 256018715 368555845 323574100 236879100 521905300 244518200 96606400

Brasil 82495805 88726370 162759360 161093020 213480200 183132200 184522423 783347258

Europa 66655232 102798290 195715550 238912747 248507700 133371700 63622860 0

Portugal

Asia

Brasil

Europa

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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Gráfico 13:

As Fazendas da Índia enviadas para Angola 1798 - 1810

180000000

160000000

140000000

120000000

100000000

80000000

60000000

40000000

20000000

0

1798 1799 1802 1803 1804 1805 1809 1810

Cádeas

Chilas

Chitas

Coromandeis

Panos

Cassadiz

Zuartes

Cathariz

Cobertas

Linhas

Cambaias

Cassas

Panos de Cafre

Panos de Gentio

Panos de Gentio

Lenços

Gangas

Longuins

Toalhas

Nanquimas

Cambrayetas

Mantas

Riscadinhos

Surrates

Gingoens

Patavar

Procoló

Carleguin

Duraque

Dorias

Elefante

Outros Tecidos

Guardanapos

Tapetes

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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Gráfico 14:

Percentagem dos Vários Tecidos da Índia

Exportados para Angola entre 1798 - 1810

Cádeas

Chilas

Chitas

Coromandeis

Panos

1%1%1%

Zuartes

1%

1%

1%

2%

2% 22%

Cobertas 2%

2% Linhas

2%

6%

Panos de Cafre

Lenços

6%

5%

Loguins

2%

2%

Nanquimas

Surrates 3%

10%

Panos de Bahé

2%

Garrazes

27%

Gangas

Patavar

Tapetes

Cassadiz

Cassas

Cathariz

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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201

Gráfico 15:

O peso na exportação e reexportação dos

Diferentes bens de Permuta por tráfego

Negreiro em Angola 1798 - 1810

2%2%1%

10%

Fazendas da India

Bebidas do Brasil

Vinho Português

27% 58%

Tabaco do Brasil

Armas Portuguesas

Armas Granadeiras

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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202

Gráfico 16:

EXPORTAÇÃO DAS FÁBRICAS DO

REINO E REEXPORTAÇÃO DOS PRODUTOS DA ÁSIA ENTRE 1798

- 1810

fabricas portuguesas

fazendas da India

37

047

131

0

44

965

380

0

46

897

006

1271

500

60

5855

852

5

2392

579

95

1292

323

36

1315

784

21

2199

573

00

1429

070

00

1691

007

00

1986

054

50

50

740

024

1950

982

00

6149

050

29

440

00

1 7 9 8 1 7 9 9 1 8 0 2 1 8 0 3 1 8 0 4 1 8 0 5 1 8 0 9 1 8 1 0

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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203

Gráfico 17:

Percentagem das Fazendas da Índia reexportadas e produtos das

fábricas Portuguesas exportados para Angola 1798 - 1810

30%

Fazendas da India

70%

Fábricas do Reino

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.

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204

Gráfico 18:

Escravos vindos de Angola e de Benguela para o Brasil entre 1783 - 1810

18000

16000

14000

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0

17

83

17

84

17

85

17

86

17

87

17

88

17

89

17

90

17

91

17

92

17

93

17

94

17

95

1796

17

97

17

98

17

99

18

00

18

01

18

02

18

03

18

04

18

05

18

06

18

07

18

08

18

09

18

10

Escravos de Angola

Escravos de Benguela

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.

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Gráfico 19:

Percentagem dos Escravos vindos de Benguela para as diferentes praças do

Brasil entre 1791 - 1810

5%1%1%1%

6%

Rio de Janeiro

10

%

Bahia

Angola

Pernambuco

Pará

76%

Maranhão

Santos

Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.

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Gráfico 20:

PERCENTAGEM DE ESCRAVOS ENVIADOS DE

ANGOLA (LUANDA) PARA AS DIFERENTES

PRAÇAS DO BRASIL ENTRE 1799 - 1810

Rio de Janeiro Pernambuco Bahia Maranhão Pará

6% 6%

13%

49%

26%

A.H.U Angola, Concelho Ultramarino Caixa 66, Doc nº 67

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Mapas:

Mapa 1:

1Carta das Costas de Angola e Banguela e de C. Segundo a C. Negro (cota CC-37-V)

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Mapa 2: [Mapa de Angola ] : Distrito de Benguela 1 B.N Cota D - 283 – A

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Anexos:

Documentos sobre História e Teoria Económica

para Angola

Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 7, 7 de Outubro

Sua Magestade foi servida nomear a vossa merçe para Governador de Benguela, e

ainda que na secretaria daquele governo achara vossa merçe as instruções e Ordens que por

esta Secretaria de Estado se tém pedido aos seus predecessores, e que alem disso o seu

antecessor lhe deverá entregar por escrito huma informação do estado actual daquela

capitania, acrescentarei contudo aqui um resumo das principais ordens a que vossameçe

deve dar huma prompta execução na forma das ordens circulares, o que lhe remeto incluzas

as copias a saber A cópia nº 1 da ordem expedida em quatorze de Setembro de mil

setecentos e noventa e seis para informar o estado da capitania com todas as individuações

que na mesma se recomendão: A Cópia Nº 2, da Carta de dois de Novembro de mil

setecentos e noventa e oito para que se obrem todas as cautelas para segurança e muito

particularmente defesa da Capitania. A cópia nº 3 da carta 24 de Junho de 1797 sobre a

introdução de produções naturais e manufacturas do Reino nessa colónia, e extracção dos

produtos da mesma para o Reino: Como importações de Benguela consiste principalmente

em Negros, Cera, e marfim deve Vossamerçe ter um aprticular cuidado em promover estes

artigos: A copia nº 4 de vinte dois de Setembro de 1798, para que informe do rendimento do

subsidio literário, e das suas aplicações: A copia nº 5 da Carta de 4 de Outubro de 1798,

para que as câmaras dem anualmente conta de todos as rendas que cobra, e dos artigos de

suas despesas: As duas copias no 6 e 7, das cartas de 21 e 27 de Outubro de 1798 para que

as câmaras mandem aqui aprender os moços que depois vão exercitar na sua pátria os

empregos médicos tipógrafos, e contadores, hidráulicos e cirugiões= Devo recomendar a

vossa merçe que muito particularmente a maior obediência as instruções e ordens do

governador e Capitão General de Angola quem esse governo he subordinado, e a quem

vossameçe deve dar parte de tudoo que ahi acontecer, dando igualmente conta por esta

secretaria de estado, dos negócios mais importantes que ocurreram: Todos os ofícios, cartas,

devem vir numeradas, e acompanhadas de huma relação que indique o objectivo de que

cada huma trata. Recomendo a Vossa Merçe que veja se pode ir reconhecendo com todas as

economia o certão desta conquista e estendendo as povoações de Chicova e Jeste, de

maneira a procurar reunião das duas costas oriental e ocidental de Africa, o que também se

acha recomendado aos governadores de Moçambique e dos rios de cena: Devendo sempre

merecer a maior atenção da parte do Governo tudo o que pode mostrar o verdadeiro estado

de propriedade dos Paises que se governão para assim se reconhecer, ou o bom effeito dar

providencias dadas, ou necessárias de outras novas que se devão considerar, estabelecer:

Por este motivo que Sua Magestade tem dado diferentes ordens para que se conheção

regularmente o estado da povoação, produção, comercio, e exportação e importação dos

diferentes domínios da sua coroa, para esse mesmo efeito remet a vossa

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merçe tabolas que anualmente devem vir cheias das competentes informações e

remetidas a esta secretaria de estado= O mesmo digo a vossa mercê sobre as contas de

receitas e despesa da fazenda real, estado da divida activas e parcial que todos devem

ser dirigidas a esta mesma secretaria, igualmente como ao erário régio, para que a sua

magestade seja também bem informado por este modo, do estado em que se acha a Real

Fazenda nessa capitania. E sobre este objecto assim como sobre todos os outros de

utilidade publica, manda a mesma senhora recomendar a vossa mercê, que não só de

todas as informações que possam se vir a se conhecer o estado das cousas, mas também

proponha tudo o que julgar conveniente para o aumento da riqueza, e prosperidade da

Capitania que vai governar. Deos Guarde Vossa mercê. Palacio de Queluz em trinta de

Janeiro de 1799= Dom Rodrigo de Sousa Coutinho Snr Felix Xavier Pinheiro Lacerda.

Nº 1

Copia carta circular para todos os governadores dos Dominios de sua Magestade he

Servida ordenar a Vossa Senhoria, que para fim de que haja nesta secretaria de estado

melhor informações do estado físico e politico dos Dominios Ultramarinos, e para que as

providencias necessárias a promover o bem dos seus vassalos sejão dadas com todo o

conhecimento de causa, Vossa Senhoria proceda logo a exame circunstancial de todos os

objectos aqui anunciados, e dos mesmos remeta todas as informações que pode haver, seja

me relações circunstanciadas, seja em mapas individuados de cada hum dos mesmos

objectos. Em primeiro lugar a descrição geografica e Tipografica do seu governo com

inidividualização de seu limite, e confins com outras capitanias vizinhas assim como das

entradas de comunicação actualmente estabelecidas para as outras colónias, e noticias dos

mapas geográficos, que existem desse governo: Em segundo lugar o estado da sua povoação

em Brancos, Negros, e pardos em cada huma das serras, cidades, ou lugares do mesmo

governo, unindo-se-lhe a nota dos nascidos, mortos, cazados, que vossa senhora ficará

obrigado a mandar depois do ofício todos os anos a esta Secretaria: Em terceiro lugar a

relação a mais exacta que foi possível haver da qualidade e quantidade dos productos desse

estado, juntamente com mais informações do que se exporta dos mesmos produtos, seja

para o reino seja os outros domínios ultramarinos juntamente com a individuação dos

géneros que do reino se importão para essa capitania; notando-se em particular os que são

produções próprias de Portugal: Em quarto lugar uma relação muito circunstanciada de tudo

o que os povos pagão nessa capitania, seja ao soberano, seja a Igreja, e Culto publico da

mesma seja para as despesas administrativas de cada lugar, ajuntando-lhe as tabelas ou

mapas das rendas reais nos três últimos anos, havendo cuidado de expecificar o que

produzirão em bruto e depois valores líquidos, entrando para os cofres reais, e se estão

arrematadas , ou só administradas: Em quinto lugar os mapas e relações muito

circunstanciadas do que montou a Despesa Geral dessa Capitania com a miúda individuação

dos artigos e despesas, quaes exercito, Marinha Administração da Fazenda Real: Em sexto

lugar huma relação, muito circunstanciada do estado da tropa regular, e auxiliar da colónia

da qualidade e da quantidade dos Oficiais Soldados, e do estado das fortificações, e praças,

e dos petrechos, e munições militares, ajuntando-se com a observação o aviso de quen

Capitania necessita para a sua defesa: Em ultimo Lugar, todos os anos deve vossa senhoria

mandar a esta secretaria a renovação das propostas

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para promoções militares que não haverem sido despachadas, e nas mesmas suprir as

faltas que, ou por morte, ou por demissão, poderem haver ocurrido: Em Oitavo lugar

terá vossa senhoria a obrigação de remeter a esta secretaria huma vez ao menos todos os

anos as observações que pode fazer seja sobre novas culturas que se possão intoduzir

nesse estado, seja sobre o melhoramento da fazenda real que possão procurar-se seja

sobre dar ao comércio uma maior atenção. Estas relações que porão debaixo dos olhos

de sua magestade, e chegarão assim a sua real presença, poderão fazer julgar do

merecimento, zelo, e luzes de vossa senhoria, que assim merecerá, que sua magestade

considere antender a seus serviços. He também sua Magestade Servida, que vossa

senhoria ponha no alto da primeira página cada um dos seus ofícios, o número que

corresponder principiando do nº 1 até ultimo em que anuncia entrega de seu governo ao

seus sucessor; e igualmente manda sua magestade lembrar-lhe a fiel execução da ordem

que daqui se expediu a esse governo para mandar juntamente com seus ofícios um

resumo dos mesmos que indique a matéria de que trata cada paragrafo. Lizongeio-me

que Vossa Senhoria executará com o seu zelo conhecido pelo real serviço, e com a

promptidão devidaao meso estas ordens, o que será muito do agrado de Sua Magestade.

Deos Guarde a Vossa Senhoria Palacio de Queluz em 14 de Setembro de 1796 Dom

Rodrigo de Sousa Coutinho / João Filipe da Fonseca.

Nº3

Copia= Carta circular para o Governador dos domínios Ultramarinos = Ilustrissimo e

Excelentissimo Snr// Desejando Sua Magestade ligar com nexos indisuluveis todas as mais

separadas partes dos seus vastos domínios e Estados de maneira, que cada uma em

particular, e todas as em geral concorrão para a geral felicidade dos Povos, e para a

grandeza da Monarquia: He a mesma senhora servida ordena que vossa excelência procure

aumentar nessa Capitania quanto puder, o uso e consumo de todas as produções naturais, e

manufacturas deste Reino, e que Vossa Excelencia use de todos os meios/ excepto de

violência/ para conseguir-se tão útil, como desejado fim, distinguido, e favorecendo mui

particularmente os que introduzirem, ou consumirem maior quantidade dos nossos vinhos,

quais os do Porto de Carcavelos, Barra a Barra, Figueira, Azeitona, Azeite, Sal, Vinagre,

Manufacturas de pano, e de sedas deste reino, trajes de luxo trabalhados em Lisboa, ou no

porto, e recomenda-os na Real Presença de Sua Magestade, a fim de que os mesmos

recebam graças e favores. Igualmente procurará vossa Excelencia promover para o reino a

maior exportação possível de todos os géneros, e produções dessa capitania, a fim de da

muita troca dos géneros, e produções, resulte a maior Riqueza, e felicidade de todos os

ditosos vassalos de Sua Magestade que deseja atender sem diferença alguma as suas

benéficas e paternais vistos a todos os seus Vassalos, pelos quais tem o mesmo igual

interesse. Sua Magestade ordena que Vossa Excelencia, e os seus sucessores nessa

Capitania fiquem encarregados de darem todos os anos conta do que houverem praticado,

para executar esta real ordem que a mesma Senhora lhe manda muito recomendar, e que ao

mesmo tempo informe do fruto que tiverem as providencias que for dando. Deus Guarde

Vossa Excelencia Palacio de Queluz vinte e quatro de Julho de mil setecentos noventa e

sete// D. Rodrigo de Sousa Coutinho// João Filipe da Fonseca.

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Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 96, doc nº 28, 01 – 08 – 1800

Instrucções Para o Novo Governador de Angola:

D. Fernando António de Noronha Futuro Governador e Capitão Geral do Reino

de Angola, A Vossa Excelencia Tomando essa Capitania huma parte Interessante de

meus Dominios Ultramarinos, não só pelo que é em si mas também pelas grandes

vantagens que della resultam ao estado do Brazil ministrando braços para as culturas e

escavação das ricas minas daquele país; e fazendo-se por isso digna da minha particular

atenção fui servida nomear-vos para suceder no seu governo a D. Miguel de António e

Mello, confiando da vossa prudência, inteireza, rectidão, que haveis de administrar uma

justiça imparcial, e com o vosso zelo, préstimo, e actividade, haveis de promover o

interesse da minha real fazenda, e conseguir a felicidade desses povos, principal fim a

que se dirigem as minhas paternais vistas. E para que mais facilmente possais conseguir

no Vosso Governo uma feliz administração, me parece dar-vos as seguintes instruções

com o extracto das ordens expedidas aos vossos antecessores sobre os objectos mais

interessantes dessa capitania, todas as quais deveis cumprir com o maior escrúpulo e

maior escrúpulo e escação persuadindo-vos, que he naquela execução das leis e ordens

superiores que consiste o principal dever do homem encarregado do Regimem Politico

dos povos que fica responsável ao seu soberano e estado pela mais leve omissão nesta

parte.

Principiando pela Religião que sendo dada por Deos aos Homens para sua

consolação, he também o melhor meio para conservar a tranquilidade e sobordinação dos

povos, vos recomendo por tão justos motivos, assim como pela qualidade e pela qualidade

de defensor e protector da igreja que não só a façais respeitar, mas que, mostrando a maior

deferência para os prelados da Igreja os auxilieis com aquelas providencias que justamente

solicitarem de vossa parte para conservar o respeito devido ao altar, e aos seus ministro, e

para se zelar sem violência a conservação dos bons costumes, de que não depende menos,

de que de boas leis, a prosperidade e felicidades dos estados. E não só espero que conduzeis

tão concluiveis dois a tão principais princípios o mais sólido fundamento, mas por outro

lado também vos recomendo que zeleis pela minha autoridade e que não consenteis que

debaixo do pretexto de serviço de Deos, e das Igrejas se violem os meus direitos, de que em

ultimo lugar não só resultão graves inconvenientes ao meu real serviço, mas ainda se

suscitam muitas perturbações e escândalos nocivos ao serviço de Deos, e bens da Igreja

Igualmente vos Recomendo muito, que de acordo com o Prelado da Diocese dessa

Capitania ponhaes em execução e observância as repetidas ordens e

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providencias que se tem dado aos vossos antecessores, para a propagação do

Cristianismo entre os Negros, que também deve servir para civilização destes povos

bárbaros, no que fareis não só grande serviço a Igreja mas ainda a minha real coroa, e ao

estado, pois aumentareis o número de meus vassalos uteis, e com eles a Agricultura e

Produções desse Reino. Esta extensão do Cristianismo e a Civilização dos Negros o

deveis procurar por meio de Missionários Instruídos e que Intendão a ligua desses povos

para qual efeito animareis o seu estudo servindo-vos de algum conhecedor das suas

línguas assim como dos dicionários que vos remeto vos, fazendo que os Missionário

lhes ganhem afeição, levando-lhes alguns presentes, como instrumentos uteis a

Agricultura, e nunca usareis dos meios de força reservando-as só para aquele a quem

não houver meios de domesticar esse conservem as ditas horrorosas práticas dos

Antropofagos tão comuns entre os povos bárbaros, que vivem no ceio das trevas da

mais trope ignorância, e sem as luzes das santas leis do Cristianismo.

A Educação da Mocidade que não só consiste na sua instrucção, mas na sua

formação dos seus bons costumes, merce também todo o cuidado, como um dos

princípios, que concorre mais para a felicidade dos povos. Sobre este Objecto sendo-lhe

presente o triste e deplorável estado em que se acham as escolas menores em todos os

meus Domínios Ultramarinos pela falta de sistema que se achavão estabelecidas as

cadeiras necessária para a Instrucção Publica; pela qualidade das mesmas, em que

pouco se atendeu ao que mais era necessário no local, onde se erguerão pela falta de

uma norma física, e arrazoada, para a Escolha e nomeação de Professores, e para a

permanente Inspecção e sobre cuidado, actividade, e zelo, com que estes cumpririam a

sua obrigação e finalmente pela falta de preposição entre as referidas cadeiras, e as

rendas e produtos, do subsidio literário, que deve servir o pagamento de seus

honorários: Foi Servido regular todos estes objectos pela carta régia de 12 de Agosto de

1799 dirigida ao vosso antecessor, e ampliada depois por aviso de 3 de Setembro do

mesmo ano, cuja prompta e fiel execução muito vos recomendo, assim como de outra

carte regia de 4 de Novembro de 1799 que regula e dá uma nova forma a arrecadação do

subsidio destinado a este importante objecto, confiando a vossa actividade, que tereis

toda a vigilância, sobre os Mestres, fazendo-os cumprir exactamente as suas obrigações;

e procurando que os alunos consigão o seu desejado fructo, dos quais me remetereis

anualmente uma circunstanciada lista com as informações de seu progresso.

A boa e Imparcial administração da Justiça pelo meio da mais exacta execução das

Leis, e a mais particular atenção a conduta, e independencia dos Magistrados, he outro

objecto que vos mando recomendar, procurando, que os Povos reconheçam a fiel

imparcialidade, com que a Justiça lhes he administrada, he respeitem os executores da Lei,

não só porque assim he necessário para a conservação da tranquilidade publica, mas até

porque a convicção he o melhor meio de procurar ao Governo toda a estabilidade, e

segurança. Será pois vosso cuidado, vigiardes no Conducta dos Magistrados, advertir-lhes

primeiramente o que se Publicar Contra Mês, e depois representar-me o que neles virdes de

repreensível, e irremdendavel a fim de que eu dê as conveniente providencias ao mesmo

Respeito pela minha Real Resolução de 10 de Fevereiro de 1798 em Consulta do Concelho

Ultramarino vos Consultará a Autoridade que vos dou, para poderes

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proceder nos casos de extrema urgência contra todos os Magistrados, que pela sua

conduta comprometerem a conservação da tranquilidade publica, e no mesmo vereis

não só os limites, que em tais casos vos mando preservar, mas ainda a responsabilidade,

a que ficais sujeito, pois que, devendo sempre conservar sobre tudo a independência dos

julgados, esta cessaria de existir, se por qualquer leve e aparente pretexto, se devesse

proceder contra o Magistrado, e com este terror ainda que pancio, se obrigasse o Juiz a

julgar as vontades e caprichos do Governador. Debaixo destes principio igualmente

austeros vos Recomendo, que procedeis rigorosamente contra todos aqueles que por

Palavras ou por convientalos secretos, e pela demonstração de faltas desastrosos

princípios, que tem infestado toda a Europa,poder4em de qualquer modo inquietar o

governo, e fazer temer que para o futuro dar-lhes qualquer género de inquietação; sendo

evidente que é muito melhor previnr tão graves e eminentes ruinas, afastando da

Sociedade aquelles que podem produzir, do que, tolerando ao principio expor-se depois,

proceder contra eles com os mais rigorosos e severos castigos, não devereis usar destes

meios extraordinários se não com pleno e exacto conhecimento de causa, e com a maior

moderação,o que muito confio na vossa prudencia e anterior conduta.

O Estabelecimento de um bom e bem discutido sistema de defesa exterior da

dicta capitania, e a conservação da tropas no melhor possível fazendo manter a mais

possível disciplina militar, e procurando introduzir a mais rigorosa economia tanto a

favor da Real Fazenda, como ao Beneficio dos soldados he outro objectivo que muito

vos mando recomendar. A criação de uma Junta Militar para discutitr os planos de

defesa da capitania, e para a conservação e erecção das Fortalezas, ou para demolição

das que só originarem uma inútil defesa, he hum artigo que deve ocupar a vossa

atenção, pois só por este modo, e pela introdução das consultas, que a Mesma junta

deve fazer subir á minha real presença, com o orçamento das despesas que quiser

empreender, he que poderá introduzir-se toda a conformidade na fixação de melhores

sistema de defesa, e que poderão também evitar-se as muitas despesas inúteis, que

engordei-vos, ou mal intencionados, ou pouco inteligentes, tem feito debaixo de tais

pretextos. O sistema de um regular licenciamento das tropas por alguns meses do ano,

que deveis introduzir nessa capitania em tempo de paz, he outro artigo, em que

igualmente vos deveis ocupar, e que depende da preparação, que houver entre a tropa,

que deve existir necessariamente no quartel, e aquela que pode dispensar-se do serviço

cuja providencia tem por objecto três diversos fins: 1º melhor quando for possível a

condição do soldado, 2º da Real Fazenda, 3º Favorecer a Agricultura fornecendo-lhe

mais esses braços, para cujo o efeito até vos recomendo, que procureis, que os soldados

cultivem, se possível fôr, alguns terrenos por sua conta.

A Fazenda dessa capitania he outro ponto, que deve merecer toda a vossa atenção, e

ainda que pela competente repartição recebereis as convenientes e mais circunstanciadas

instrucções, com tudo, devendo vós subir anualmente, a minha Real Presença pela

repartição dos Negócios Ultramarinos as mais circunstanciadas contas dos rendimentos

totais, e pareceres dessa capitania mostrando o melhoramento ou a deterioração que possa

ter sofrido, e igualmente a carta da despesa circunstanciada com todas as suas partes

integrantes, em que subdivide acompanhando todo das dividas activas e passivas da

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capitania, he por tal motivo que vos recomendo em primeiro lugar a fiel execução das

minhas Reais Ordens a respeito da remessa real destes Balanços, em segundo lugar que vos

ocupeis do modo mais exactos e produtivos as cobranças de minhas reais rendas excepção

pela concurrencia daqueles que as houverem de arrendar: Em Terceiro Lugar que

conserveis ileso e intacto o crédito que fica nessa capitania, e que o zeleis muito

particularmente, fazendo pagar com a maior exacção e nas expressas competentes todas as

dividas da Fazenda Real de que resultará em casos de Urgencia achareis sempre para o meu

real serviço, os Fundos de que houver necessidade. Em quarto usareis os métodos de crédito

para aumentar as Culturas, produçoens e o Comércio de exportação dessa capitania,

examinando-se, por esse meio, e fazendo também acionista a Minha Real Fazenda, podeis

procurar auxiliar caixas de crédito, e Circulação as quais tem por Objectivo 1º avançar

dinheiro sobre hipotecas seguras aos cultivadores, 2º Descontar letras de Cambio de duas

boas firmas, endoçadas por duas boas diferentes casas de comercio, 3º Avançar fundos

sobre géneros, que se exportem, 4º Emitir para tal fim Bilhetes logo que a situação

prosperar, e veluz da Capitania assim o exigir. E s e na realidade poderes, fundar, e

organizar, hum semelhante estabelecimento fareis ao bem publico e ao meu Real Serviço, a

maior vantagem. Em Quinto lugar vos recomendo que me procureis informar-me

anualmente de qual é a porpoção que a Contribuição Geral da Capitania tem com a massa

geral de sua produção, e a maneira que quer as veixações quer tanto directas quer territorias,

como indirectas, isto he, as que recalhem sobre as reconsumações, afectam aqueles que

pagam, pois que só deste conhecimento se consegue aproximação, he se pode chegar ao

conhecimento da facilidade ou da impossibilidade que há de aumentar as minhas reais

rendas: Em sexto lugar procurareis ter sempre diante dos olhos, e assim o representareis na

junta da Fazenda que a vossa obrigação he procurar sempre o aumento das minhas reais

rendas, as diminuições da despesa geral do Estado, e reoresentar sempre toda a útil

aplicação que se pode fazer das mesmas Rendas, seja para o seu aumento, seja para

beneficiar os meus Povos, cujos interesses são por Natureza Inseparaveis dos da minha Real

Coroa, logo que uns e outros, são bem entendidos.

Depois de vos haver assim ordenado o que pode haver de mais essencial na

administração da Real Fazenda, segue também recomendar-vos as Rendas Publicas , a

respeito das quais deveis dar a mais fiel execução ao Aviso de 21 de Outubro de 1798,

informando-vos todos os anos dos Rendimentos das Camaras, e de todos os outros

fundos comunitativos, que possão existir nessa capitania, e do modo como os mesmos

são empregados, e fazendo subir a minha Real Presença, essas contas mui

circunstanciadas mas providenciado sempre que a sua Adiminstração seja a mais exacta

e a sua aplicação sejam as mais louváveis, tendo por único e principal objecto a

Utilidade Publica dos Habitantes dos Districtos, onde tais rendas existem, e fazendo

onde for possível se apliquem os Fundos conforme está recomendado no citado aviso

para se manderem aprender os Médicos Cirurgiões, contadores, e Hidráulicos, que

possa Rebenificiar com as suas Luzes, e conhecimentos, os districtos que os houverem

escolhido, que lhes houverem procurado, huma tão útil carreira até para eles mesmos.

Com a Mesma Actividade, e Inteligência procurareis promover a Agricultura, cujo

objecto he de tanta importância, que já no regimento dos Governadores de Angola dado

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a Tristão da Cunha em 10 de Abril de 1666 se lhes Ordena 12 examinem-se as terras

que se derão a particulares que efectivamente estão cultivadas, o nosso tem passado o

tempo, em que devião estar, para se haverem por devolutas, como Também se Re

determina, a repartição das que não tiveram dono, por pessoas abonadas por obrigação,

de as cultivar, e aproveitar dentro de cinco anos pedidndo confirmação Régia, e não as

aproveitando dentro do dito tempo, ou não pedidndo confirmação, haverem-se por

vagas, e poderem-se dar a outras pessoas com as mesmas condições. Debaixo destes

princípios deveis aperfeiçoar, e ampliar as Culturas já existentes nessa capitania, e

animar todas as Novas Culturas para cujo louvável fim pode contribuir a erecção de um

Jardim Botânico á maneira do que mandei estabelecer no Pará, e de que para o futuro

resultarão a essa Capitania muitas vantagens; podendo no mesmo Jardim Botânico

praticarem-se primeiro em pequeno as Culturas, para depois se extenderem a toda a

Capitania: entre estas tem em primeiro lugar, e devem merecer uma particular atenção

as que dizem respeito a subsistência do Homem quais o Milho, Feijão, toda a qualidade

de legumes, Hortaliças e Frutos, e Principalmente a Farinha de Pao, ou Mandioca,

planta preciosa, e que cada dia o será mais, logo que a sua cultura se faça debaixo de

principio, e com Inteligencia, como os Ingleses e Franceses a praticam nas Antilhas, e

também presentemente no Pará, desterrando-se o prejuízo de que ela só pode cultivar-se

em Capoeiras, e depois de cruéis derribadas de Árvores preciosas, a que se dá ao fogo.

Depois da Agricultura segue-se o comercio e a Navegação, que mutuamente se

auxiliam, e cuja protecção vos Recomendo muito particularmente, aplicando-se com os

meios e energia em promover e animar, todos os diferentes Ramos, que lhes podem servir

de objecto, de que os principais são 1º a Escravatura de que ao diante se trata nestas

instruções, 2º o Marfim que se compra todo e navega, por conta da Real Fazenda para este

Reino donde sahe Manufacturado para os Países Estrangeiros; e sendo consideração e

aumento deste género dependentes de sua maior quantidade, deveis fazer logo que possível

as diligencias, e expeculações, para que ele se consiga em grande abundancia; pois que não

sé he muito profícuo a Real Fazenda, mas aos meus Vassalos pelas muitas famílias uteis

que sustenta, e pode sustentar, aumentando-se a sua exportação: 3º a Cera, de que também

se deve procurar a maior exportação possível como hum dos Generos de grande consumo

neste Reino, sendo necessário extrai-lo de países estrangeiros, o que não sucederia, se este

artigo se tivesse animado em Angola com a devida Inteligencia e energia. São estes os três

géneros capitais, que fazem presentemente o Comércio da exportação da capitania, a eles

também se podem juntar muitos outros que não são menos uteis dos quais o Termoço, o

Algodão recomendados no 16 do já citado Regimento café também recomendado no dito

…. De oito de Abril, de que são abundantíssimas as terras dessa capitania as muitas

Madeiras juntas, de que também abunda o país, e todas as outras produções que podem

entrar na circulação, procurando finamente os meios de manter a regular balança de

Comércio, que felizmente existe entre os meus domínios, e ligados por laços e princípios

indissolúveis a grandeza, e extensão dessa capitania, e o consumo dela dos produtos e

Manufacturas do Reino.

Já no principio destas instrucções vos expus que o Reino de Angola não é só

interessante por si mesmo, mas pelas vantagens que dele resultam ao Estado do Brasil,

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cuja subsitencia depende absolutamente dos Braços que ele lhe fornece e sem os quais se

tornaria inútil aquele rico país, que forma a parte mais interessante dos meus Domínios

Ultramarinos: Em consequência é um dos principais objectos, e o mais importante dessa

capitania a Exportação da Escravatura, que presentemente se acha em grande decadência

por causa do contrabando das nações estrangeiras, e principalmente pela concessão, por

cujo efeito se mandou destruir a Fortaleza, que defendia o interior do País e a comunicação

com o Porto de Ambriz tão frequentemente frequentado pelos Ingleses, que no ano próximo

passado tiraram mais de 6 mil Escravos, os quais haveria de fazer huma considerável falta

ao nosso Comercio. Deveis portanto fazer rtodos os possíveis esforços para promover e

animar a referida exportação, e por mais vigilância he cuidado a evitar todo e qualquer

contrabando neste artigo as ordens de 13 de Abril e 4 de Junho do ano próximo passado, as

de 5 de Fevereiro, 8 de Março, 29 de Maio do Presente ano vos darão os necessários

conhecimentos de meios que se devem empregar para conseguir este fim, mas como entre

eles o mais interessante é o estabelecimento de Registos no Interior do País para o Porto de

Ambriz, o que necessariamente hade encontrar alguma forte oposição da parte dos Ingleses

se faz necessário, que vos com a maior actividade, e consultando os oficiais que foram ao

sertão, e fizeram a guerra ao Mussol, procurareis estabelecer presídios para os referidos

Registos, mas de tal maneira, em tal distancia das Costas , que os Ingleses venham a sentir a

falta de Escravatura, mas não tenham pretexto para se queixarem, que ela procede desta

providencia, a fim de não se comprometer a minha Real Coroa com a de Inglaterra, e evitar-

lhe as reclamações que sobre este artigo pode fazer, as quais paralizariaõ as minhas Reais

Vistas. Nam deveis também perder de vista, como hum meio muito conducente para evitar

o contrabando, e promover o comércio da escravatura e inquietar com os presídios acima

recomendados todos os sovas de Ambriz ao Zaire commerceao com as nações da Europa, o

que igualmente praticareis com o Mussol, que se faz temível pela correspondência que tem

em Inglaterra, e deveis considerar como o maior inimigo desta capitania, esforçando-vos

com toda a energia para fazer percário o Comercio destas Nações, a fim que todo ele se

dirija aos portos de Luanda e Benguela, de onde se tem desviado com tão considerável

prejuízo dos Meus Fieis Vassalos, não só por causa do expressado Contrabando, mas pela

falta de actividade, com que se tem promovido os Pombeiros e as Feiras no Certão, objectos

estes já recomendados ao Vosso Antecessor em Avisos de 17 de Novembro do ano Passado,

de 24 de Fevereiro do Presente ano, e que sendo tão interessantes se tem desprezado pela

ideia que me fica do pouco o que vale o país; por cujo motivo vos recomendo, que procureis

anima-los, e evitar os muitos roubos, que se praticão no certão, e que são outra não menor

causa da decadência do comercio daqueles portos.

Depois da Escravatura merecem uma particular atenção as Minas de Ferro, de que

podem resultar grandes interesses a esse Reino; e Principalmente ao estado do Brasil, onde

se exprimenta a maior falta deste metal, o mais útil de todos, e indispensável em hum país,

cuja riqueza depende das Culturas, da escavação, e das Minas. Foram Aquelas Descobertas

neste Reino no tempo em que o Governou D. Francisco Inocencio de Sousa Coutinho, o

qual vencendo com sua grande actividade as maiores dificuldades erigiu uma Fábrica no

Lugar da Mina a que pôs o nome de Nova Oeiras. Este Estabelecimento porem

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não produziu o desejado efeito, talvez pela inactividade dos seus sucessores, pretextado

com a Natureza do Sitio, que representaram doentio ao ponto de não poderem subsistir nelle

Europeus alguns, e nesta Inteligência, mas sem que perdesse de vista aquele útil

Estabelecimento fui servido expedir ao Vosso Antecessor a Ordem de 11 de Outubro de

1798, para que debaixo da inspecção do Degredado José Alvares Maciel, que visitou a

referida Mina, estabelecesse lá alguns Fornos grandes em Colombo, onde se mostrasse aos

Negros o modo de Trabalhar em Grande, para depois se hirem estabelecer na Nova Oeiras.

Esta tentativa poderá sem duvida produzir hum feliz efeito, e por isso vos recomendo muito

particularmente a sua prompta execução, animando-a com toda a a actividade e energia;

mas ao mesmo tempo tentareis todos os outros meios, que vos dictar a vossa inteligência, e

o conhecimento, que adquirirdes do País para o perfeito restabelecimento da antiga Fábrica,

operando a maior constância, e os maiores esforços de Luzes, e zelo, á ignorância dos

Habitantes, á falta de cabedais, e meios, sobretudo ao clima, que enerva, e afrouxa, o que

deixa muitas vezes crer, que he impossível, o que depois se vêm a efectuar, como se

verificou no tempo do Governador acima mencionado [ cuja actividade, e zelo no Real

Serviço são tão dignos de servir de modelo a seus sucessores] o qual dizia com muita

discrição, que o maior serviço que tinha feito nessa Colonia á Coroa de Portuga, fora ter

desvanecido a vulgar resposta = He Impossivel = que já em reservio, e se dava ao novo

projecto, que se propunha: E na verdade he lamentável que a bus dando aos meus Domínios

de Tão Ricas Minas de Ferro, seja necessário ir Mendigá-lo aos Países Estrangeiros; o que

espero não suceda para o futuro; por confiar de vós; que conseguireis este grande objecto,

em que vos devereis interessar com os maiores esforços, ainda mesmo pela glória pessoal,

que daqui vos pode resultar.

Merece huma igual consideração o projecto de comunicar as duas Costas Oriental, e

Ocidental de África, já recomendado ao vosso Antecessor em diferentes ordens, e

principalmente na de 14 de Maio do presente Ano, com o qual lhe mandei remeter o Plano

de Viagens, em que o falecido Francisco José de Lacerda Governador dos rios de Sena, se

propunha atravessar o interior de África, formado em correspondência das informações, que

ali alcançou dos Cafres sobre a comunicação, que eles tinham com os meus Dominios da

Costa Ocidental, ordenando ao dicto vosso Antecessor na referida Ordem, que tenha-se para

esse fim alguma expedição, prelongando presídios pelas margens mais distantes do Kuanza,

ou se pelo menos visse se podia descobrir vestígios da Comunicação dos Negros com os

Cafres. A Importância desta Tentativa que verificada produzira incalculáveis vantagens de

Comercio aos meus Fieis Vassalos Residentes do Reino, e em todos os meus Domínios,

exige da vossa parte os maiores esforços para a sua execução, os quais vos recomendo, e

que não vos deixeis desanimar com as dificuldades, e continuados trabalhos, lembrando-

vos, que nada julgo impossível aos meus Vassalos, quando os considero descentes daqueles

que ligaram as mais remotas partes do Mundo.

Depois destes três objectos, que são sem duvida os mais interessantes do Reino de

Angola, e aqueles que podem tornar uma das mais florescentes Conqusitas de Portugal , vos

Recomendo Igualmente todas as outras tentativas, que possão concorrer directa, ou

indirectamente para a melhor prosperidade, e grandeza dessa capitania, procurando animar,

promovendo ordenar, e promover os Estabelecimentos ordenados a vosso

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Antecessor, entre os quais tem em primeiro lugar o dos Correios Maritimos para o fim

de conseguir uma correspondência mutua e regular entre essa Capitania e este Reino, e a

meus domínios Ultramarinos, na conformidade do que fui servido determinar no alavará

de 20 de Janeiro de 1798, e respectivas intenções que executareis dentro dos limites,

que julgardes necessários e Convenientes a essa Capitania pois que Suposto no citado

Alvará se não fizesse Menção desse Reino, assim como do Estado da India e Capitania

de Moçambique, deveis estar na inteligência, que as minhas leis são gerais para todos os

meus Dominios, quando são neles aplicáveis, como no caso presente sobre este

Estabelecimento já principiado pelos vossos Antecessores vos regulareis pelo S.S do

Oficio que Fui Servido expedir-lhe em 31 de Outubro do ano próximo passado tendo

sempre em vista; que o Correio de Angola não deve ser nem o do Rio de Janeiro, nem o

do Reino, mas hum Officio Publico donde sahiao todas as cartas desse Reino, tanto para

Benguela, como para os mais Dominios Ultramarinos, e que principiando sem mais

gastos, que os que fossem indispensavelmente necessários para a sua primeira

subsistência, se vá aumentando segundo o seu Rendimento, o qual procurareis promover

em beneficio da Minha Real Fazenda, e não se deve julgar indiferente esse rendimento,

por modo que seja para a mesma Real Fazenda; podendo vir depois a crescer,

promovendo-se em tempo de paz a erecção de hum Estabelecimento de correios

marítimos, que vão todos os meses para os Portos do Brasil em meia carga, ou três

quartas partes, que bastem a pagar as despesas, e deixem livre o porte de Cartas, o que

desde já vos Hei por recomendado, para assim executardes em tempo competente, e na

conformidade das Ulteriores Ordens, que vos forem expedidas a este respeito tendo

presentemente toda a vigilância, e cuidado para que não sahia embarcação alguma dos

portos dessa capitania, seja para este Reino, seja para o Estado do Brasil, sem que

receba as Malas de Correio; e para que não se extraviem as Cartas; e a este fim poderia

dar aqueles castigos de Policia, que julgardes necessários, e que não podem deixar de

ser arbitrários dentro de certos limites; pois que alias o Codigo Penal veria graves danos

dos Povos viria a ser maior do que os maiores Codiciveis e Criminais, e dahi resultarião

os graves inconvenientes, de que o delito ficariam imprimidos por não se resolverem tão

enormes Mossas.

Alem das Ordens já recomendadas fui também servido mandar expedir ao Vosso

Antecessor outras muitas, segundo o tem exigido a circunstância do Tempo, entre as quais

são as mais interessantes seguindo a ordem Cronológica a de 26 de Outubro de 1796 sobre a

introdução nessa Capitania de todos os Animais que seguem a grandes conduções, e

principalmente dos Camelos que deve produzir as melhores consequências; A 22 de Agosto

do mesmo ano sobre Remessas de Produções Naturais para o Real Museu: a 16 de Abril de

1798 para se promover a exportação de Escravatura para as Capitanias do Pará

empregando-se as sobras das metades dessa capitania, e da de Benguela em Negros que se

Remetam para a referida Capitania na conformidade de meu Real Decreto de 17 de Abril do

dicto ano. A de 28 de Fevereiro de 1799, para que não seja isentos de pagar Dizimos os

Sovas e Potentados que estão sujeitos a Minha Real Coroa, e ainda se acham reputados nas

trevas do Paganismo: a 28 de Abril do mesmo ano, para que os Degredados não voltem ao

Reino sem cumprir os seus Degredos: A de 8 de Junho do referido Ano

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sobre o particular cuidado e vigilância, que deve haver para evitar qualquer supresa da

parte dos Hespanhois por causa da União com os Franceses, a respeito dos quais deve

haver ainda a mais particular vigilância como está recomendado na Ordem de 24 de

Dezembro do anno próximo passado, e na de 3 e 6 de Fevereiro do presente: A de 29 de

Julho de 1799 sobre a proliferação das Bexigas, que a experiencia tem mostrado ser o

único meio, e verdadeiro preservativo contra este terrivel flagelo, que faz diminuir tão

consideravelmente a População a de 26 de Agosto do mesmo anno para se numerarem

todas as cartas de ofícios com diferença de cada hum dos anos: a de 8 de Novembro do

dito ano para que pessoa alguma empregada no Meu Real Serviço, não possa mandar

presentes aos Ministros do Concelho Ultramarino, e aos oficiais do S. E. dos N. da M. e

D.M: a de 19 de Fevereiro do Presente anno, para que se não consita a venda de água de

Inglaterra, á excepção da que foi remetida pela R.J da F. da M.E: e a de 29 de Março

também do Presente ano, em que se modifica a proibição de nomear oficiais para

postos, quando sejam tais os casos, e as circunstacias tão apertadas, que se façam as

propostas regulares. Todas estas ordens aqui apontadas devem considerar como parte

destas Instrucções, e em consequência dar-lhe a mais fiel e prompta execução.

Documentos sobre Produtos particulares:

Produção de Álcool no Sertão Africano

Com Mais Profundo Respeito Chegamos a Real Presença de Vossa Magestade que

a causa dos povos deste Continente comprarem os mantimentos por maiores preços

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tem sido o maior numero de engenhos de agoardente de cana, em que se empregão

algumas fábricas deste Paiz, deixando de fazerem os serviços minerais, e da

agricultura, de que resultaria tanto aumento ao bem publico e ao erário régio, e porque

com as Fabricas das Canas se tem feito tão sertil pelo paiz, que pelo diminuto preço a

que tem chegado esta bebida, dela usão não só os senhores das mesmas fabricas, como

também os seus escravos, e todos aqueles de que se compõem este Continente, que por

muitas vezes por cause deste negócio fogem aos seus senhores, aparecem mortos pelas

portas dos vendeiros: e assentão os professores de Medicina proceder da muita

abundancia daquela Bebida.

Não tem sido, Augustíssima Senhora, bastantes as providencias, que os

Soberanos Monarcas, que Deus haja em Glória, tem dado para se evitar este grande

dano, porque como estas Fábricas se compõem dos Vassalos de maior respeito, estes

continuamente não cessam de aos Ministros dos Respetivos distritos, e governadores

da capital que se não deem a executar as respetivas ordens que os mesmos

augustíssimos Monarcas baixaram a favor dos povos desta capital a fim de com elas

desterrar estas muitas demasiadas fabricas, e os prejuízos que delas se seguem

A preciosíssima Via de Vossa Magestade Guarde Deus para amparo dos

seus fieis Vassalos.

Vila Nova da Rainha em Camara, vereação de dois de Julho de mil settecentos e

oitenta e três

Os Oficiais da Camara

Bernardo Pereira de Castro

Alexandre Ferreira da Costa

João Alvares de Carvalho

Arminio Novais de Campos

Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 88 doc nº 10, 16 de Junho

Sobre o tipo de comércio e produções se fazem em Benguela

No 13 de Maio Passado por hum bergantim da Bahia tive a honra de receber o oficio de

V. Exª de 21 de Outubro de 1797, com a instrucção a mapas sobre vários objectos, que

anualmente devo enviar a V. Exª desta capitania de Benguela, em cujo Contheudo certo

e Prompto pêra sua execução, o que me for possível e este paiz forneceu, pelas

diferenças dos amis nas suas produçoens, pois que sua exportação conciste só em

Escravos, Marfim, e cera, como em 27 de Julho de 1796, em 28 de Fevereiro de 1797,

em 28 de Março no corrente ano puz na presença de V. Exª

Os frutos são Milho, Feijão, e mandioca, que a maior parte comem no campo antes

de o colherem, sendo os desta cidade tão poucos os negociantes os mandão vir da America

e ainda alguns de Angola para seu sustento, e pelos mapas do hospital que também tenho

remetido a V. Excelencia se ve diminuindo os dízimos que dos referidos frutos resulta.

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Emquanto a Importação, sendo o Porto desta cidade hoje tão considerável, como o

de Angola, não tem Alfandega para se poder saber o quão vrerdadeiramente aqui entra, nem

hua junta para melhor administração da Real Fazenda, e aumento desta população, quando

me parece se fazia digna de hum e outro tribunal , e hera mais conveniente ao Real Serviço

pela grande restrição de jurisdição que vive este governo encerrados cada vez mais pelos

excelentíssimos Snr Generais, e junta real da fazenda de Angola, em forma tal que não pode

o governador, nem ainda a providencia, mandar fazer qualquer obra útil a real fazenda, sem

muitas vezes poucas vezes atendem porque esta opulenta capitania nunca floresça, nem lhes

saia apertado jugo, quando estaria mais aumentada, se tivessse governada sobre si, per hum

capitão General que certamente o não desmereceu, e só assim se terminarão os conflitos de

Jurisdição, e as calunias dos Subditos.

A secretaria que aqui arranjei, necessita de hum secretario, dois oficais para a dita ao

menos com seu salários competentes, e o mais necessário para a mesma pois que até

agora tudo tem recaído no meu limitado soldo, assim como a terça parte dos aluguers da

casa da minha residência, sendo o único governo em que as não tem próprias da Real

Fazenda, e a este respeito e a não ter quem me ajude para poder cumprir com as ordens

e obrigações de que cada vez me vejo mais pencionado tenho solicitado varias

providencias do Ex Senhor General de Angola, como se ve dos documentos nº 1, 2,3,4,

sem que me defira em coisa alguma.

Das províncias desta capitania se não pode saber concerteza os seus particulares;

porque por falta de forças e liberdade, fora dos suborbios desta cidade, não hé o

Governador obedecido pelos gentios, e ainda dos moradores, e só poderá ser fazendo

alguns presídios em alguas principais das ditas províncias, como hem Angola, hum

regimento de Artilharia ou Infantaria nesta cidade, e vir do Brasil vários casais de gente

parda, não só para o aumento da da População mas também para servir na dita tropa,

para que de hua vez se pudessem evitar as mortes roubos e hostilidades, que os gentios

fazem como os ditos documentos nº 3, 4, serve.

Espero por tanto que vossa excelência se digne a atender todo o acima exposto,

que tenhon a honra de por na Sua Respeitavel Presença, movido unicamente pelo zelo

do Real Serviço, em que a 37 anos me emprego sem nota algua. A pessoa de V.

Excelencia guarde Deos muitos anos Benguela 16 de Junho de 1798.

Ilustrissimo Senhor Dom Rodrigo de Sousa Coutinho Ministro Secretario do

Estado dos negócios da Marinha e Dominios Ultramarinos.

Alexandre de Sousa Botelho.

Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 17, 18 de Outubro

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Sobre o trajecto de uma embarcação referindo os produtos que vai trocar na costa de

Angola e nas ilhas ( transcrever)

Ilustrissimo e Excelentissimo Senhor Hoje segue viagem para o Porto desta capital para

esse de S. Antonio Arecife a Fragata de Sua Magestade por invocação Nossa Senhora do

Carmo denominda Loanda, com os destinos de ahi deixar a carga de marfim da Real

Fazenda, e de escravos que por conta dos negociantes deste Reino para essa cpitania

transporta para hir depois carregar Farinhas de Mandioca as ilhas de São Tomé e Principe,

pela grande carestia que aqui de tão indispensável mantimento se vai exprimentando, visto

que neste paiz quando acontece haver chuvas morrem os homens de doenças, e quando elas

faltam de fome. Com mandante da dita fragata José Pereira de Mello leva a ordem para ter o

menor demora possível nesse porto, e eu lhe dei por escripto mui apertada para em tudo

obdedecer as que vossa excelência mandar distribuir. O mesmo comandante será a Vossa

Excelencia responsável por dois sugeitos, que a bem da Justiça por meu mandado conduz,

hum por nome de Manuel António Viana, o qual com a carta incluza vossa excelência se

servirá enviar preso para Lisboa a ordem do Intendente Geral da Policia: Outro António

Ribeiro Noia que não havendo mudado de costumes com a mudança de terra e clima,

faltando-me aqui Arsenais e Fortificações, e obras publicas, a onde faça trabalhar e punir

tão maus sujeitos como ele hé vendo alem disto este estado ameçado de uma inevitável

ruína, e perdição,com a continua remessa que para ele se faz de viciosos, sem se atender,

nem ainda procurar certa informação dos incovenientes que tal procedimento encerra, e não

tendo finalmente vindo o dito António Ribeiro Noya degredado por sentença que houvesse

passado em julgado, mas sim por hum titulo, e modo posto que competente, ao que creio

com tudo extraordinário não posso deixar de rogar a Vossa Excelencia por serviço de Sua

Magestade lhe dé o destino que mais lhe convier ao socego dos povos que vossa excelência

sabiamente governa, sem contudo ser pertubado a dos deste reino que desejo como sou

obrigado manter, o que não posso alcançar sendo tão contínuos e tão poderosos os estorvos

que me opõem tantos vícios, e de tantos mal feitores que de continuo me cercão e me

afligem. Também nomeado nomeado José de Pereira de Melo entregará a Vossa Excelencia

dois sacos com cartas que dirigo a secretaria de estado dos negócios da marinha e domínios

ultramarinos e a real junta do comercio, agricultura, navegação e fabricas, as quais peço a

vossa excelência ordene sejam remetidas para Lisboa no primeiro paquete correio marítimo

que dahi partir ou por qualquer outra via, que como ele seja tão segura, e breve, dignando-

se também vossa excelência enviar com maior brevidade possível a outra inclusa carta do

Senhor Governador e Capitão General do Pará, ou quem por nela participo Negocio do

Serviço de sua magestade que a mesma ordenou tratássemos entre ambos interessando

grandemente o seu real serviço na prompta execução de seus régios mandados.

Deos Guarde Vossa Excelencia São Paulo de Assunção de Luanda dezoito de Outubro

de mil setecentos e noventa e oito. Ilustrissimo Senhor Dom Thomás José de Melo =

Dom Miguel António de Melo.

José da Silva Costa

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Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 49, 12 de Novembro

A copia inclusa da Carta que com data de seis do corrente dirijo ao tribunal da junta do

comercio, e os documentos juntos em tudo iguais aos que com ela envio instruirão a V.

Excelencia do que obrei acerca das Fazendas que dessa corte a esta capital conduziu o

Navio denominado = Anna de Lisboa = havendo-as tornado no porto franco dessa mesma

corte para serem negociadas por conta de Manuel José de Sousa Freire e Companhia nos

portos de Cabinda, Moembo, e Loango. Peço a V. Excelencia queira fazer também presente

a Sua Magestade o que obrei participando-me depois que a Mesma Senhora ajuizar sobre as

minhas direcção e governo quanto a outros semelhantes futuros.

Deus Guarde V. Excelencia muitos anos. São Paulo de Assumpção de Luanda 12 de

Novembro de 1798.

Ilustrissimo e Excelentissimo Senhor Dom Rodrigo de Sousa Coutinho

Dom Miguel de Antonio de Melo.

No porto desta cidade entrou a 30 de Outubro do ano próximo passado hum navio

denominado = Anna de Lisboa vindo em direitura da dessa capital, trazendo setenta e seus

dias de viagem, e mostrnado seu capitão Paulino Pinto da Motta pertencer o caso e seus

efeitos que a seu bordo se Acharão a Manuel Joseph de Sousa Freire e Companhia de

Negociantes de Lisboa que o fez carregar de Fazendas tomadas no porto Franco dessa corte

para vir comprar escravos a Cabinda, Molembo, Loango, e mais portos do Norte dessa costa

para os domínios de Vossa Magestade, e como logo que aqui fundiou se manifestasse o

grande dano que na viagem o sobredito navio exprimenta-ra, e ao mesmo tempo ser

impossível remediado neste porto para passar depois ao de seu destino, me requereu o

acima nomeado Capitão e Caixa Paulino Pinto da Motta o que consta da copia autentica do

requerimento que me fez a vinte sete de Novembro, sobre o qual ouvindo como da dita

copia se prova o Desembargador Ouvidor Geral deste reino na qualidade de Juiz de feitos

da coroa e fazenda de Vossa Magestade, e dando ao depois vista ao doutor Juiz de Fora

desta capital como procurador da mesma real coroa acordei/ atendendo ao que ambos os

ditos Magistrados informarão, e responderão, a utilidade Geral do Comercio deste estado,

as circunstancias em que ele se achava, e acha em certo modo ainda presentemente, e por

ultimo a segurança dos reais direitos de Vossa Magestade, e dos cabedais daquele

Negociante que procedendo na boa fé se via por um caso frutuito próximo a perder quando

não toda uma grande parte de seu cabedal/ em lhe deferir na forma que me requere-o e se

mostra a folha sete do documento junto subnumero primeiro esperando que Vossa

Magestade aprove meu procedimento que quanto foi possível consiliei com as leis reais

ordens de vossa magestade se contudo desatender aquilo que me pareceu conformar-se em

tais circunstancias com os inalteráveis princípios de Sua Augusta e mui Real clemência. Os

documentos números 2ª, 3º, 4º, e 5º servirão para por eles Vossa Magestade mandar se

arrecade a quantia que pelas fazendas a que permiti entrada, o Negociante dono delas dever

ao Real património, certificando-me a Vossa Magestade que do documento nº 1 ficão os

originais na secretaria deste governo, e dos

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mais outros tantos em tudo conforme aos que remeto; para que a todo o tempo conste a

natureza e termos do negocio, e o que acerca dele obrei, assim como por meio da

Resposta em que vossa Magestade for servida Mandar-me honrar, ficarei eu, e ficaram

meus sucessores na inteligência do que vossa magestade resolver, noticia que desejo ate

sobre as mínimas coisas que me estão ancarregues alcançar, para minhas acções em

tudo e por tudo dirigir segundo a Real Vontade de Vossa Magestade única, e segura

guia, para os bons acertos de seus humildes e fieis vassalos = Deus Senhor Nosso a vida

e real estado de vossa magestade guarde e acrescente por muitos e dilatados anos como

seus vassalos lhe pedimos e havemos mister. São Paulo de Assumpção de Luanda seis

de Novembro de mil setecentos noventa e oito = D. Miguel António de Melo =

Factura de Diversas Fazendas que nos Manuel de Sousa Freire e Companhia,

remetemos desta cidade a bordo do Navio Anna de Lisboa Capitão Paulino Pinto da

Mota, por nossa conta e risco, e de quem mais pertencer, entregues ao mesmo Capitão

Mota e ao senhor Thomas Pedro Moller, e Snr Manuel Joaquim dos Santos, Capitão do

Navio Anjo do Senhor a Saber

1 – 79 160 panos de zuartes finos de Cova 6400 102$000

2 – 80

3 – 58 420 panos de Zuartes sumenos de 24 a 25 conv. 5400 2268$000

4 – 60

5- 60

7 – 60

8 – 60

9 – 60

10 – 59 1140 de Zuarte de sumenos 1º 24 com 4800 472$000

11 – 60

12 – 60

13 – 60

14 – 60

15 – 60

17 – 59

18 – 60

19 – 60

20 – 60

21 – 60

203

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22 – 60

23 – 60

24 – 60

25 – 60

26 – 60

27 – 60

28 – 60

29 – 59 180 de Zuartes Sta 22 a 24 4200 756$000

30 – 60 31 – 60

32 – 50 540 de Zuartes 2º Sº 22246 4500 2430$000

33 – 60 34 – 60 35 – 60 36 – 60 37 – 60 38 – 60 39

– 60 40 – 60

41 – 99 700 fardos Chitas Azuis 1ª Sorte 246 a 4500 3150$000 42 – 100

45 – 100 44 – 100 45 – 100 46 – 100 47 – 100

48 – 59 780 parte de Coromandel Azul de 24 Cnt 4500 3510$000 49

– 60 50 – 60

204

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51 – 60

52 – 60

53 – 60

54 – 60

56 – 60

57 – 60

59 – 60

60 – 60

61 – 60

62 – 64 345 dos ditos Matins 1ª Sorte 24 Cont 4500 1552$500

63 – 60 64 – 60 65 – 60 66 – 60 67 – 60

68 – 60 175 partes de ditos ditos 2 Sorte 23 a 24 Conta 4500 787$500

69 – 60 70 – 55

71 – 59 240 de Nanguins de 24 a 25 Cont 5200

1248$000 72 – 60 73 – 60 74 – 60

75 – 59 240 de Ditas de 24 cont a 5200 1248$000

76 – 60 77 – 60 78 – 60

79 – 79 642 parte s Cardeas Inglez 19 Cont 4200 2699$400

80 – 80 81 – 80

205

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82 – 80

83 – 80

84 – 82

85 – 80

86 – 80

87 – 79 240 de ditos ditos 17 cont 3600 864$000

88 – 80

89 – 90

90 – 79 400 de ditos ditos de 19 cont a 4200 1680$000

91 – 80

92 – 80

93 – 80

94 – 80

95 – 79 600 parte de ditos Matizados de 19 conta de 5000 3000$000

96 – 80

97 – 80

98 – 80

99 – 40

100 – 80

101 – 80

102 – 80

103 – 199 600 partes de Longuins de 5 consta 1000 1186$000

104 – 199

105 – 199

106 – 199

107 – 185

108 – 199

109 – 95 de Chitas de Surrate de 19 cont a 3600 342$000 360$000

5 do dito de Amostra dito 18$000

206

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110 – 110 – de Chitas de Surrate de 19 const a 4000 400$000

111 – 72 de ditqas ditas diverças de 24 const 4000 288$000

308$000 5 de ditas idem po amostragem dito 20$000 112 – 98 353 parte de Lenços Sutoram de 15 a 3000

1059$000 113 – 99 114 – 99 115 – 54

116 – 159 478 de ditos ditos maus foss de 15 4000 1912$000

117 – 60 118 – 158

119 – 157 238 partes de ditos azuis de 15 a 2700 642$600

120 – 80 121 com amostras da fazenda já incluídas nos fardos 15 barris Nº 1 de Chumbo

Munição 5 Barris Nº 1 a 3 gg 15 5 ditos nº 2 ditos 15

5 ditos nº 3 ditos 9

15 Barris com 39 ggg 6000 234$000

122 - 60 Armas Guarnecidas de Latão , alias de Ferro

123 – 60

124 – 40

125 – 64 Ditas guarnecidas de Latão

255 armas de Fogo 3000 699$000

126 – 60 Armas Granadeiras 2200 1320$000 custo de caixote e embalagem 16$000

127 – 60

128 – 60

129 – 60

130 – 60

131 – 60

132 – 60

207

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133 – 60

134 – 60

135 – 60

Barris

136 – 130 1040 duzias de facas de cabo de pezo a 660 686$400

137 – 129 138 – 132 139 – 127 140 – 129 141 – 126 142 – 155

143 – 152

144 – 244 530 Massas de Mizangas B 400 fos 520 169$600

145 – 286 146 – 340 Massas de Mizanga Preta de 400f 300 102$000

147 – 363 ditos de ditos verde de 500 f 560 131$400 Caixote 148 – 246 Duzias de Barretes encarnados 2000 492$000 494$220

6 filas de Cachanmaso a 210 a v e corda 960 2$200 149 2 P de Bactas azuis ferretes de nº 74, 105 55 178$200

5 6 37$800

105 partes de cadeas azuis de 9 cons 1300 136$500

3 de Ditas de ditos para amostrar a dita 5$900 250 cobertas de 2 panos a 1950 487$500

1 coberta Dom para Amostra 1$950 2 Pan de Cres a 5200 6 vi calho 1365 400 4$965

150 2 panos de beatas Azuis 360$405 Nº 79 104 55 110 1046 37$440

298 de Chitas de Damão a 8 const a 1060 315$880

208

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2 de ditas Idem por amostra a dita 2$120

2 de Cres 3$200 6 dit de coalhim de 1365 a 400 4$965

151 16 de beatas de cores a ser 360$200 Ferretes nº 29 1 111 – 60 55;5 955 900 ½ c a 400 360$200

99 – 111 60 57, 5 145 115 60 61, 5 95 – 110 60 57 141 114

60 61 172 – 112, 5 60 60

Encarnadas 158 113 60

60,5 152 113,5 60 60 2nd parte Cres 3200 ditos 81 de Calhamento 1680 de 600 5$480

152 16 partes de Beatas de Cores a saber 358$000 Ferretes nº 94 110 60 56 951 895 conts 400 358$000

175 107 ½ 60 91 111 58 142 114 ½ 62

92 113 ½ 60 60

95 111 ½ 60 58

Meia cor 166 113 ½ 60 61

Encarnada 155 113 ½ 60 61

2 partes de cres 1600 5$200 7 ½ volumes de calhamasso idem,

1$575 Corda 1600 363$375 155 14 p de Beatas de Cores a Saber 321$600

Ferretes a nº 96 112 ½ 60 60 829 ½ p 781 cont 400

512$600 164 112 59 60 100 114 60 61 98 112 60 59

209

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178 112 60 59 ½

Encarnadas 159 109 60 55

2 partes de Cres 3200$ 7 ½ verd Calhamasso 15756$ 600

5$375 154 14 partes de Beatas de Cores Ser 315$400 Ferretes Nº 165 111 ½ 60

59 97 111 ½ 60 58 ½ 60 144

115 59 ½ 60 161 111 58 60

175 112 ½ 60 59 ½

Meia Cor 177 118 60 66

Encarnadas 153 111 60 58 ½

2 partes Cres 5200 7 ½ volumes de calhamasso e cordas 5$375 320$775

155 14 partes de Beatas de Cores a Saber Ferretes nº 143 112 59 ½ 60 850 partes 800 cost 400 320$000

171 111 60 58 174 113 ½ 61 60 86 127 65 70

Encarnados 160 112 ½ 60 59 ½

154 110 ½ 60 56 2 partes de Cres 3200, 7 ½ volumes de Calhamassos e cordas 5$375 325$375

__________________________________

Cap 156 garrfas de licores com 82 cand a 360 29$520 39$625

157 custo das garrafas 6$400 ex 3705 10$105

________________

158 120 p de Cres de Hamburgo Largas a 1900 228$000 233$050

2 de ditas ditas per em volta Calhamassos e Cordas 5$050

________________________________________

30 prezuntos com 6@ 4400 28$050

5 ½ Deuzia de Payos 2000 11$000

210

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6 camadas de Azeite 560 2$160

Custo de barril e pimenta 1$600 42$810

160 2500 Pederneiras 1600 4$000 4$160

Custo de caixa $160

Para Minas o Seguinte

6 Fardos de Zuartes pintados de fabricas a

Ser 25 ,, 25 ,, 24 ½ ,, 149 Cont a 270 40$230 25 ,, 25 ,, 24 ½ ,,

9,, de Lenços Azuis Finos de 10 a 3450 31$050

15 de Ditos de dados azuis e encarnados a 3020 58$800

3 p a 8 24 31 lenços 850 26$350

1 7

1 p com 4 Lenços Brancos a 800 3$200

2p de Setins de Algodão e seda a Ser

Nº 9087 25 ½ a 540 13$635

11985 57 ¾ a 560 32$340

1 de Setim arrochada nº 4227 com 75 Cont 500 37$500

2 de ditos Matizados da Fabrica a Ser

Nº 4065 64 cont 600 38$400

Nº 4129 63 Cont 800 50$400

1 de Setim roza Lizo Nº 5114 com 50 ½ Con 800 40$400

3 de Damascos Carmezim de Seda a Ser

Nº 11639 com 61 Cons a 1260 76$860

Nº 572 com 59 ¼ 1370 81$172

Nº 1226 com 57 ½ 1320 75$900

1 chapeu fino com galão de ouro 9$215

1 camiza guarnecida 6$400

1 Vestido Bordado 13$950

1 casaco fino Vestia e Calsão de Pano Escarlate Guarnecido de Oiro Fino e capote segte

142$100

1 Capote de Pano Escarlate de Bandas brancas com Oiro fino emcluido em farda

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5capotes de Pano Escarlate mais ordinário com Galãos Falços

75$900 2panos de Coromandeis Avariados a 400 8$000 1bacha de 6 palmos em cabelo 7$640

4Varas de Cachamassiso a 210 $240

6 duzias de garrafas de Vinho Branco p 11$440

5 ditas de dito Tinto 2$600

950telhas de Barro para aguardente 100 95$0000

4frasqueiras vazias para licores de

8 frascos de meio quartilho 2640 9$840 18$720

2 frasqueiras de 6 ditos 2460 4$920

1 frasqueira de 12 dito 3$960

1 Espingarda de Feichos a Inglesa para o rey na caixa da guarnição 9$600

4 barris de vinho do porto a 6 Alm 9120 36$480

22 barris de pólvora grossa 14800 325$600 937$020

5 ditos de ditos fina 16 f 80$000 12 ditos de ditos fina 19200 230$400

12 ditos ditos fina 22400 268$800 2

ditos de ditos finos de 1 @ 8000 16$000

Termo tirada da mesma e condução 16$220 Para

Receber a Bordo do Navio Anjo do Senhor

7barris de pólvora grossa 14$800 103$600

3 ditos de ditos fina 16000 48$000

12 ditos de ditos fina 22400 268$800

Termo da mesma tirada em condução 16$220

Fardo 55 60 de Coromandel Azul 246 a 4500 270$000

1 de Coromandel Matiz de segunda sorte de 23 a 24 Conv

Amostra de Fardo nº 70 por Amostra de fardo nº 70 o qual não lançamos por

esquecimento

No seu lugar, e o fazemos aqui 4$500 total 47:432$187

Desepesas em Lisboa

Direitos de Consulado 160$556

212

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Medir e tezar as mesmas beatas 8$580

Condução para o Cais e Embarque 21$600 190$736

Nossa Comissão de compras remessas a 3% 1428$687

Nº 3 As Amostras pertencentes ao Fardo Nº 121 vão declaradas nesta factura, e aos

volumes a que pertencem como nelles se vem em nº 1, 79, 1 p amostra e os mais na

mesma Forma.

Tudo o que se achar a bordo com marca C fora desta factura he para o consumo da Galera

Manoel de Souza Freire e Companhia Reconhecemos a Letra de Assignatura de

Carregação Supra ser do próprio Manoel de Souza Freire e Cª Negociante de Lisboa por

termos della bom conhecimento.

Loanda 11 de Dezembro de 1797 Manoel da Cruz = Manoel Joaquim do Santos Copiada

per mihm Segundo Caixa desta Negoçiação = Loanda em 11 de Dezembro 1797

Thomas Pedro Moller

Moller cuja letra Assignatura conheço ser do próprio com quem conferi e Por Ceter e

achêz estar conforme eu Tabelião do Judicial e Nottar nesta cidade esta copia

Sobescrevi e assignei em publico e Razo aos oito de Outubro do Anno do Nscimento de

Nosso Senhor Jezus Christo a 1798

Copia nº 1

Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Paulino Pinto de Motta, capitão e caixa da negociação

dos navios Ana e anjo, vindo no primeiro de Lisboa com destino de fazer resgate de

escravos nos portos que correm ao norte desta capital: recorre humildemente a vossa

excelência para que se digne proteger a mesma negociação, dando-lhe a benéfica licença de

vender neste porto os géneros que possa dispor daquela conduzio. Ameaçado o seu capital

de inevitável ruína no seguimento do primeiro hoje difícil projecto, não resta ao suplicante

mais recurso, e beneficio, que aquele que aquele que vossa excelência pode facilitar-lhe, por

ser compatível com a Justiça e Equidade. E para o conseguir dignamente passa a referir os

factos, e circunstancias que compreende a negociação de suzindos-os de sua viagem com a

escrupolosa verdade que hé própria do suplicante, e devida a Respeitavel presença de Vossa

Excelencia, pelo seu nascimento ilustre pelas suas virtudes sublime, e pelo seu honorifico

corpo: Digne-se pois Vossa Excelencia a atender. Os negociantes Manuel de Sousa Freire e

Companhia havendo itentado neste ano de mil setecentos e noventa e sete a negociação em

que estou, e vendo que a falta de fazendas da Asia em Lisboa não só motivava o imcomple

por mento das Receitas que pedem, e admitem anualmente as sugeridas dos povos deste

reino e sertões, que não havendo esperança de ser supridas a mesma falta em tempo breve

por Navios Portugueses seria frustado o intento dele freire, e limitado seu comercio na

restrição desta costa, a nam procurar meio próprio de prefazer-se das fazendas de que havia

necessidade . Nestes

213

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termos e interesse que hé deliberado procurar-se recursos contra os obstáculos e postos a

sua industria subministrou-lhes a lembrança de mandar comprar em Londres o secrimento

que julgou convinha ao seu consumo do gentio destas partes de Africa, e com efeito a

lembrança seguiu-se a determinada prompta e execução da compra, e o transporte imediato

a Lisboa dessas mesas fazendas que trago. Ao passo que chegarão a Lisboa tiveram lugar de

porto franco, e a mesma se equipou o Navio Anna a bordo da qual passou por baldeação, e

ordenou-se a viagem compoz-se a carregação, das diversas qualidades, e quantidades das

fazendas que constão da factura presente a vossa excelência importando quarenta e nove

contos cinquenta e hum mil seiscentos e dez totalmente porém só trinta e sete contos

setecentos e oitenta e oito mil reis as que gozarão Porto Franco, era a sua boa qualidade, o

seu bom sentimento, e justa porpoção: A conhecida Velocidade do Navio útil para safar-se,

a ataques , e por lhagem: O destino da negociação isenta de pagar direitos e finalmente a

certeza do menor numero de navios que ocorrem desde o principio da guerra a fazer o

resgate de escravos desde o Mussol até Loange, tudo esperançava uma feliz viagem, e

avultados lucros dela, quando o suplicante saio do Porto de Lisboa a sete de Agosto do

mesmo ano: O navio sem brevidade se alongou da Costa de Portugal, e não deixou cousa

alguma a temer, contudo aos vinte e um dias de viagem fez-se conhecer com muita agua,

que não pode vedar-se Ela continou-se de mais a mais, e foi necessário trocar-se as bombas

incessamentemente, por chegar a ponto tão incalculável, que não permitia descansar dois

minutos. A equipagem cansada precisava de alivio, e hora-lhes preciso sem arribada, e esta

hera só fácil e útil para este porto: Assim foi que entrou a transtonar-se o projecto da

negociação, e boa esperança dos seus lucros e assim que infelizmente chegarão o Suplicante

e toda a Equipagem no Navio Anna. Louvado Deus com a arribada a este porto porem

dificultou-se ao suplicante a continuação da viagem para este porto do Nortem e aos

armadores da negociação, o meio de utilizarem-se, e não lhes resta para salvar o seu capital

ate huma considerável perda outro recurso mais que o do Patrocineo de Vossa Excelencia.

Esta o Navio incapaz de seguir viagem pela costa abaixo por senam achar nos termos de

estar sobre amarras forjando sem a devida concerta: Este nam podem a qui fazer-se mais

que a suprir; e amparado nos dias que possa gastar para Pernambuco, e só para Pernambuco

por ser o Porto mais próximo, e próprio a huma breve viagem. Tanto hé a que dizem os

Mestres da Ribeira, e de Navios que assistirão ao enorme e Vestoria que se lhe fez em

prezença do Desembargador Ouvidor Geral conforme verá Vossa Excellencia o Instrumento

junto: Ora emtaes temores, sendo indubitavel que deva passar o Navio Anna ao Porto do

Brazil mais próximo, será indispensavelmente precizo que o Suplicante o mande carregado

pelo produto dos effeitos que trouxe de Lisboa para esse fim, e de outra sorte que meio

haverá sem huma considerval perda de Capital ao Carregador de effeitos da Praça tendo os

próprios:

Fazendas que para a complementar d’Armação:

Espero que vá a Pernambuco, e volte para entam seguir o primeiro plano de

negociaçam, e em meio de tempo que assim passar ter retidos, e eminaçam trinta e sete

contra setecentos outenta e outo mil reis: Sam as caminhadas mais patentes ao prejuízo da

negociaçam a quelles em que se vé o Suppliciante concentrado, e os de que deve fugir sem

lhe haver, digo lhe valer o Navio Anjo que mais tem a sua ordem; porque. Inda que fosse

adminvel das condiçoens do Seguro com que forão escripturados os dous Navios,

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separa-se hum do outro hindo só o denominado Anjo fazer o negocio projectado aos Portos

do Norte; assim mesmo so frerião os consttituintes do Supplicante o empateo empate da

maior parte do Capital parado nesta Cidade, e sobre isto as mais consequências damnosas

de despedir o Supplicante huma parte da Negociação sem a poder acompanhar como deve

por obrigado a espera os Navios Anna, que talvez viria a incontrar motivos de mais perda

alem dos expressados: Por tanto o Ilusstrissimo e Excellentissimo Senhor, parece ser de

Equidade e de Justiça que Vossa Excellencia se digne attender na pessoa do Supplicante a

dos Constituintes desse, que se empregão louvavelmente ao Commercio, permitindo que

possão evitar-se as consideradas perdas, fazendo vender nesta Cidade os pequenos cento

vinte e hum volumes da fazenda que gozou de Porto Franco própria do consumo deste

Reino. Toda ella nam fará a sufficiencia, e menos a abundância, que segundo o calculo do

consumo annual precizarem, e sofrem os resgastes, e vem por esta mesma razom a ser util a

vender-se: Obra-lhe só a incontro o haver vindo de Porto Franco; porem este obstáculo

Senhor Excellentissimo pode ser removido: Dará o Supplicante fiança a todos os quaes quer

Direitos que Sua Magestade haja de Determinar que page sem attenção a cauza que

concorro para a vender, e outilidade que desta os Povos tirem em razom da falta de

fazendas da Asia, e motivos de que procede. Espera o Supplicante avista do porto que

Vossa Excellencia se digne facultar-lhe a Licença pedida na qual = Receberá Mercé =

Paulino Pinto da Motta = Informe o Desembargador Ouvidor Geral como Juiz dos Feitos da

Coroa e Fazenda interpomos o seu parecer, e com respeito as circunstancias com que o

Supplicante requer, e as actuaes do estado do Commercio deste Reino combinando a Justiça

com a Equidade a vista da Carta da ley de treze de Maio de mil setecentos noventa e seis

que estabeleceo hum Porto Franco na cidade de Lisboa. Sam

Paulo d’Assunçãode Loanda vinte e sete de Novembro de mil setecentos noventa e sete = Estava a Rubrica de Sua Excellencia = Ilustrissimo e Excellentissimo Senhor = Paulino

Pinto de Motta Caixa de negociação dos Navios Anna e Anjo = pertende pelos fundamentos

que expoem no requerimento incluza que Vossa Excellencia lhe conceda Licença para

dispór nesta Cidade de cento e vinte hum volumes de fazendas que conduzio de Lisboa no

dito Navio Anna com destino de fazer negocio nos Portos que ficão ao Norte desta Capital;

confessando as ditas fazendas forão mandadas vir de Inglaterra, e Tomadas no Porto Franco

que se acha estabalecido em Lisboa pela ley de treze de Maio de Mil setecentos noventa e

seis: E sobre o dito requerimento foi Vossa Excellencia servido mandar que Cér informasse

interpondo a meu parecer, e com respeito as circunstancias que Vossa Excellencia se dignou

declarar no Respeitavel Despacho com que o mesmo Requerimento Despacho com que o

mesmo requerimento foi deferido. Cumprindo esta determinação vou ainformar a Vossa

Excellencia em quanto ao facto: Que hé certo ter chegado a este Porto o dito Navio, ou

Galera Anna de que o Supplicante hé Capitão com agoa aberta, e esta em muita quantidade:

Que por isso requerendo-me o Supplicante que lhe permitisse fazer a sua descarga com toda

a brevidade, e que os fardos ou Volumes das fazendas fossem de positados na Alfandega

para se acudir promptamente ao perigo que a dita Galera ameaçava, assim lhe deferi, dando

as necessárias providencias, para que na Alfandega se recebesse a Carga da quelle Navio, a

fim de setratar, sem de mora, do reparo, que possível fosse: Que ao depois a requerimento

do mesmo supplicante procedi a Vestoria no referido Navio para se averiguar formalmente

o seu estado; e que nesta

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deligencia concordarão os Louvados que a fizerão no que consta do Auto que o

Supplicante ofereceo no Instrumento incluzo; sendo todos de parecer que o dito Navio

nam se achava em termos de estar fundiado nos Portos da Costa, e consequentemmente

de continuar na viagem do seu destino, e que fazendo neste Porto o possível concerto

que no dito Auto foi de talhado, devia passar a Pernambuco em tempo de Verão,

considerando-se que não estava capaz de seguir outra derrota. Hé também certo que por

cauza de pertubaçoens que prezentemmente agitão a Europa e fazem difícil, e ameaçada

a navegação em todos os mares se tem exprimentado nesta Conquista grande falta de

fazendas de negocio, de que procede ter consideravlemente diminuído a exportação de

Escravos; senos por isso hua notória e vizivel utilidade, que nas actuaes circunstancias

de auxilio e promova toda a possível importação de negemeros e mercadorias que

pousão animar, e pór em movimento mais activo o giro do Commercio deste Reino.

Enquanto porem ao Direito que se deve applicar ao requerimento do Supplicante, hé

para mim este este ponto digno de maior podenderação: por que nam monstrando o

mesmo Supplicante documento algum que prove que as fazendas da questão com effeito

tivessem entrado no Porto Franco, e se delle sahido, pagando o Direito que a Ley lhe

impõem: e que ainda que assim o mostrasse, nam tendo ellas entrada permitida no

Reino por serem da Asia e terem vindo em Navios Estrangeiros, enm podendo ser

Navegadas do dito Porto Franco para o desta cidade a quem do cabo que a dita Ley

designa, hé sem duvida que em regra nam podemos ter introdução nesta Conquista

huma fazenda que vem sem despacho, sem pagamento de Direitos, e sem Titulo de

algum que as possa distinguir daquellas que vem por Contrabando. Por outra parte as

convenientes razoens que o Supplicante expoem no seu requerimento, a protecção que

hé devida a hum Negociante que vé transtornado os seus projectos mercantiz, por hum

acazo, em que nam teve culpa; aconsiderval perda a que fica exposto, nam sendo

diferido no que pertende; e sobre tudo a falta de fazendas que actualmente experimenta

esta Conquista, e a utilidade que tem o publico, em que as fazendas de que se tracta

sejão vendidas nesta Cidade, e como Contestemente depuzerão as trez idóneas

testemunhas que inquiri no Summario incluzo para melhor fundamento desta

informaçam tudo concorre a persuadir que a pertenção do Supplicante merece olhada e

attendida com a possível e quidade.

Neste incontro de razoens Eú nam posso deixar de seguir o que hé mais

conforme com as Leys, que de modo ordinário somente Sua Magestade pode dispençar.

E por tanto o meu parecer hé que as fazendas da questão de devem respeitar ilegítimas,

e inadmissíveis neste Reino.

Sem embargo porem deste parecer, poderá Vossa Excellencia pela Superioridade do

seu Lugar, deferir extraordinariamente ao Supplicante como entender Sua Magestade lhe

defiriria se o mesmo Supplicante podese recorrer imediatamente ao Real Throno, visto ser

impossível que haja outro recurso senão a Vossa Excellencia em hum cazo que pela sua

natureza deve ser decidido sem demora. E sendo Vossa Excellencia servida tomar este

expediente serão entam necessário que o Supplicante preste o fiador a que se oferece, e que

Alfandega se proceda com toda a execuçam na abertura, e despacho dos Volumes, fazendo-

se as competentes Relaçoens das quantidades, e qualidades das fazendas a que se premitir

entrada, para segurança dos Reaes Direitos. Nesta forma tenho

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exposto o que me parece: Vossa Excellencia deferirá o que fór mais justo. Sam Paulo de

Loanda no primeiro de Dezembro de mil setecentos noventa e sete = O Ouvidor Geral =

João Alvares de Mello = Assentada = Aos vinte e nove dias do mez de Novembro de mil

setecentos noventa e sete annos nesta cidade de São Paulo da Assumpçam de Reino de

Angola e Cazas de rezidencia do Doutor João Alvares de Mello, do Desembargo de Sua

Magestade, do Desembargo de Sua Magestade, seu Desembargador honorário Ouvidor

Geral, e Corregedor deste Reino, aonde Eú Escrivam vim para effeito deserem perguntados

testemunhas pela matéria dos requerimentos que propóz Paulino Pinto da Mota aos

Ilustrissimo e Excelentissimo Governador e Capitam Geral deste Reino, a hi sendo as

mesmas testemunhas prezentes pelo dito ministro forão perguntadas por seus nomes,

naturalidades, e assistências, estados, officios, idade, costumes, e tudo he a que se segue:

Estiveram da Fonseca Negram, Escrivão o escrevi = O Coronel da Ordenança desta Cidade

José Abreu Castelbranco Pimentel; Negociante desta Praça, Cazado, natural de Vizeu, de

idade de quarenta annos, testimunha a quem o dito Ministro deferio ajuramento dos Santos

Envangelhos em hum Livro delles em que poz sua mão direita debaixo do qual encarregou

dizer-se a verdade do que soubesse, e lhe fosse perguntado; o que assim prometeo cumprir;

e do costume disse nada: E sendo perguntado pela matéria da Petiçam do Supplicante

Paulino Pinto da Motta, e factos que nella se expreção: Disse que sabia por ser publico

notorio e constante que o dito Supplicante veio de Lisboa a este Porto no Navio Anna de

Lisboa = que chegara com agoa aberta, e que tambem era constante e notorio que no dito

Navio se fizera huma Vestoria judicial, da qual constará o estado em que o ditto Navio foi

achado, tendo elle testimunha ouvido dizer que nam estava em termos de continuar sua

viagem para os Portos do Norte, e que devia passar ao Brazil a fazer hum maior concerto. E

disse mais que sabia com toda a certeza, e por propria experiencia que Nesta Conquista tem

havido falta de fazendas proprias do Commercio della, por cujos motivos, tinha hido a

menos exportaçam de Escravos, e mais effeitos do Paiz, e que prezentimos ainda a mesma

falta; por que prezentemente poucos Negociantes tinhão fazendas para vender, hera certo

em taes circunstancias que seria útil a terra, e ao Commercio, que as fazendas de que se

trata ficassem nesta Cidade entendem a elle testimunha que o publico interessaria em que ao

Supplicante de se concedese a Liicença que pode, e mais nam disse, e assignou o seu

juramento com o dito Ministro depois de lido que ratificou: Estevão da Fonseca Negram

Escrivam o escrevi = Mello = José de Abreu Castelbranco Pimentel = Manoel Jozé da

Rocha e Silva, Sargento mor do Regimento de Melicias desta Cidade, Thesoureiro Geral e

Deputado da Junta Real Fazenda, Negociante desta Praça, natural de Sam Vicente do

Pinheiro, solteiro de idade de cinquenta e trez annos, testiminha a quem o dito Ministro

deferio o juramento dos Santos Envangelhos, em hum Livro delles, em que póz sua mão

direita, debaixo do qual lhe encarregou dicesse a verdade do que sobesse, e lhe fosse

perguntado pela materia da Petiçam do Supplicante Paulino Pinto da Motta, e factos que

nella se expressam: Disse que era verdade ter ter dito o Supplicante chegado a este Porto

vindo de Lisboa na Galera denominada Anna, e esta com agoa a Berta e com grande

quantidade; o que tudo era publico e notorio; assim como tambem ser o mesmo Supplicante

Caixa de negociaçam da dita Galera, e de outro Navio chamado Anjo do Senhor, que

tambem já se acha neste Porto, vindo do Rio de Janeiro: E que tambem era verdade so que

elle testimunha sabia

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pelo que tem visto e observado, e por por propria exeperiencia em razoens de ser

Negociante que prezentemente há poucas fazendas de negocio nesta Cidade, falta esta

que já se experimenta há tempos, de que se tem procedido haver menor Escravos, e que

por estas razoens lhe parecia que nam hera desconveniente, antes sem util para o

Commercio em geral que as fazendas que o Supplicante pertende dispór se vendam com

effeito nesta Cidade na certeza de que podem dar mais alguma actividade, e extençam

ao negocio deste Reino, e Interesse aos Direitos de Sua Magestade que hão de pagar os

Escravos que a troca dellas forem resgatados, e mais nam disse, e assignou o seu

juramento deppois de lido que ratificou Estevam da Fonseca Negram Escrivam a

escrevi = Mello = Manoel Jozé da Rocha Silva = Manoel Francisco Regodas, Sargento

mor de Ordenança da Villa de Massangano, Negociante desta Cidade, natural de do

Lugar Regodas, Cazado de idade de quarenta e trez annos, testemunha a quem a dito,

digo annos pouco mais, ou menos, testimunha a quem a dito Ministro deferio o

juramento dos Santos Envangelhos em hum Livro delles, em que póz sua mão direita,

debaixo do qual lhe encarregou dissesse a verdade do que soubesse e lhe fosse

perguntado, o que assim prometeo cumprir e do costume disse nada. E sendo

perguntado pela materia da Petiçam do Supplicante Paulino Santo da Motta, e factos

que nella se expreção: Disse que sabia por ser publico, e constante que o Navio Anna de

Lisboa em que o Supplicante veio de próximo a este Porto do daquella Cidade

chegaracom agoa aberta, e em mãos estados, o que mellhor contraria do exame judicial

que seguindo ouvio dizer sefaz no mesmo Navio: E que por ser hum dos Negociantes

desta Praça sabia a introduçam das fazendas que se trata somente poderá cauzar a

alguns poucos Negociantes em particular que tem fazendas para vender ainda que hé

constante serem poucas; mas pelo que respeita ao geral era sem duvida util que as ditas

fazendas fossem vendidas nesta Cidade, atendendo a falta que há dellas, e nam haver

esperança de abundância por cauza das pertubaçoens da Europa, e reinos da navegação:

Assim como tambem hera certo que ao Supplicante, ao dono da negoçiaçam se

segue grande detrimento, e prejuízo nam se lhe permeimos a graça que pertende, e mais

nam disse, e assignou o seu juramento depois delido qur ratificou: Estevam da Fonseca

Negrão, Escrivam que ouviu = Mello = Manoel Francisco Regadas = Haja visto Doutor Juiz

de Fora como Procurador da corva Sam Paulo de Assumpção de Loanda primeiro de

Dezembro de mil setecentos noventa e sete = Estava a Rubrica de Sua Excellencia =

Ilustrissimo e Excellentissimo Senhor = O requerimento de Paulino Pinto da Motta, sobre o

qual informou já o Desembargador Ouvidor Geral, e que Vossa Excellencia mandou-me

haver vista, se acha em hum daquelles extraordinários cazos, que nam consideram as nossas

Leys Patrias; por que por huma parte pequena com a Literal disposiçam dellas, e pela outra

parece que a vista das circunstanciais particulares, e necessidade em que se acha este

especial cazo, pode Vossa Excellencia uzar de Superior Authoridade para deferir deferir da

mesma forma que o faria Vossa Magestade selhefossem prezentes as razoens e

circunstancias de que hé revestido o mesmo requerimento, como reconheceu o Juiz dos

Feitos da Coroa e Fazenda, ainda mesmo podendo de alguma forma de duzir-se do

espsperito de nossas Leys, se gundo as quaes apratica, e inteligência dellas muito ameroza

as Partes hé a lheia da Intençam do Principe; a ssim o diz o Alvará de quinze de Julho de

mil setecentos cincoenta e cinco: E sendo isto Assim certo, nam se pode entender

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que Sua Magestade houvesse de negar a Vossa Excellencia Authoridade para deferir a

huma Súplica que hia a decidir do entereçante ponto de hum Commercio vamtajaso aos

Reaes, digo aos Seus Reaes Direitos, e que hia o remever o prejuízo dos Negociantes

que procederão de boa fé sem dollo, e que sobre veio hum cazo que elles nam cogitarão;

por que ainda que a interesse pebraçam e modefificaçam seja prevativa dos Supremos

Imperantes; com tuas quando as circusntancias sam taes, e há perigo na mora, tenho de

mim para mim que pode Vossa Excellencia nam entender, mas julgar este cazo nam

comprehendido na prohibiçam das Leis, ou que se acha Vossa Exellencia nas

circunstancias de poder deferir o que se Deduz da Legislação geral, em quanto são

authorizados os Governadores Generaes, e todas a quellas Pessoas publicas tem

commmando de cedir provizionalmente a quellas matérias que tiverem perigo na mora;

por que os peritos das Leis consiste no complexo de todas as Determinaçoens

individencias de todas as circunstancias expecificas em que o Legislador conceber a

Ley, e quis que obrigasse ao fim da razam que o moveram a estabalelescella: Ora parece

que prohibindo geralmente Sua Magestade a admissam de semilhantes fazendas neste

Paiz, nam lhe veio em vista o expecialissimo cazo do Supplicante. Primeiro Que a

Europa está agitada com huma viva Guerra. Segundo Que Lisboa nam te4m vindo

Navios com fazendas proprias do resgate de Escravos. Terceiro Que esta terra se acha

quazi exausta della: Quarto Que a Exportaçam de Escravos tam interessante a Real

Fazenda que se pode contemplar quazi o acérrimo rendimento della se nam pode fazer

sem as fazendas, e nam se permitindo ao Supplicante despacahos as suas na Alfandega

com as cautelas indicadas pelo Ouvidor Geral, nam sahem Escravos, não percebe Sua

Magestade os interesses próximos dos Seus Direitos nesta, nem os remotos do Brazil, e

que de alguma forma se empata este sucessivo giro do Commercio.

Ora perguntará se neste cazo, supposto estes factos verdadeiros que prezentemente

ocorrem, e que nunca ocurrerão quem ocurrerão, quem faria maior serviço, se aquelle que

entendesse Literalmente a Lei, seguindo-se della prejuízo a Real Fazenda/ que hé o ponto

principal digno de attençam/ ou se aquelle que promovesse o seu Real Interesse. Aqui me

parece que tem lugar o que o Isto Modestino diz na L 25 de Leg, alem de que se olho para o

requerimento de Vossa Excellencia no Capitulo 27, vejo que prohibindo-se a Guerra, sem

Real Authoridade, se lhe permitte que a possa fazer havendo perigo na mora:

Nam deduzo este Capitulo Authoridade de interpertar Leys, que seria improprio

ao meu dever, e a lheo da minha conduta; mas só colho que nos cazos extremos em que

Sua Magestade defeniria, havendo perigo, ou damno na mora, pode Vossa Excellencia

fazello, e entender que lhe fáz Serviços nesta materia, protestando a Vossa Excellencia,

que neste meu parecer nasse unicamente do zello, que tenho em prover os Interesses da

Real Fazenda de Sua Magestade, já que o acazzo permetio que viesse semelhantes

Fazendas, posto que vedadas para esta Cidade, e estejão nos termos de serem a

proveitadas em utilidade publica. Isto hé o que meparece, segundo as scitas

circunstancias prezentes, Vossa Excellencia porem com o seu zello, e com as Superiores

Luzes, que já mais ninguém lhe contestará decidirá o que lhe parecer mais perto, e

conforme as Reas Intençoens de Sua Magestade. Loanda dous de Dezembro de mil

setecentos noventa e sete = O Juiz de Fora Procurador da Real Coroa e Fazenda = Felix

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Correa de Araujo = Atendendo ao que o Supplicante allega, e as circunstancias que na

sua Cauza concorrem, as quaes fazem indispensável huma Providencia pronta, e

conforme se nam as Leis as Ditas Intençoens de Sua Magestade que não podia

considerar como ordinários os factos que derão lugar a prezente Súplica, que por isso

nam forão contemplados no geral Legislação da Carta de Lei de treze de Maio de mil

setecentos noventa e seis: Havendo respeito aos sobredito a Informação do

Dezembargador Ouvidor Geral, como Juiz de Fora. Procurador na mesma a quem dei

vista, e não teve duvida: Ordeno por Serviço de Sua Magestade, e bem commum do

Commercio, que pertendo o Supplicante em nome de Manoel Jozé de Souza Freire e

Companhia Negociante da Praça de Lisboa, fiança iconea a pagar em Portugal quaes

quer Direitos que pelos cento e hum volumes de fazendas que trouxe a Bordo do Navio

Anna tomadas no Porto franco de Lisboa para vir negociar a Cabinda, Molembo, e nos

Portos do Norte desta Capital nam comprehendidos nos Dominios de Sua Magestade a

Mesma Senhora julgar-lhe sam devidos para a que as sobreditas cento e hum volumes

darão entrada na Alfandega desta Cidade, e nella forão abertas, Selladas, e despachadas

as fazendas nelles contheudo, fazendo-se as competentes Relaçoens das quantidades, e

qualidades dellas para segurança dos Reaes Direitos, e inviando-se me das ditas

rellaçoens e Termo de fiança dos seus tratados authenticos. Sam Paulo de Assumpção

de Loanda seis de Dezembro de mil setecentos noventa e sete = Mello = Registado no

Livro de Registos a folhas setenta e quatro verso que serve nestas alfandega. Sam

Paulod eAssumpção a sete de Dezembro de mil setecentos noventa e sete = Pimentel

Jozé da Silva Costa

Ouvidor Geral

Instrumento de Carta testimunhavel com o theor de huns Autos de Vistoria feita

a Bordo da Galera Anna de Lisboa dado no Officio do Escrivão da Ouvidoria Geral e

Correição da Commarca como abaixo se declara.

Saibão quantos este publico instromento de Carta testimuhavel com o thero de huns

autos de Vestoria virem que sendo do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo

de mil setecentos noventa e outo annos, aos cinco dias do mez de Outubro do dito anno,

nesta cidade de Sam Paulo d’Assumpção Reino de Angola, no meu Escriptorio, a hi por

parte de Paulino Pinto da Motta, me fez dito, e requerido, que dos Autos Vestoria que tinha

produzido neste Juizo da Ouvidoria lhe desse, e passasse seu instromento de Carta

testimunhavel com o theor dos ditos Autos para com elles tratar no Juizo qye lhe enviei de

seu Direito, e sendo justo, e verdadeiro a que me requereo lhe dei, e passei a prezente

instromento com o theor dos mesmos Autos que deverbo Adverbum hé o seguinte = Autos

de Vistoria = Intendencia da Marinha = Autos de Vistoria feito a Bordo da Galera Anna de

Lisboa de que hé Capitam Paulino Pinto da Motta Escrivão Negrão = Anno do Nascimento

de Nosso Senhor Jezus Christo de mil setecentos noventa e sete, aos sete dias do mez de

Novembro do dito anno, nesta Cidade de São Paulo da Assumpção Reino de Angola, no

meu Escriptorio, a hi por parte de Paulino Pinto da Motta, Capitam da Galera Anna de

Lisboa, me foi entegue huma sua Petiçam, despechada

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pelo Doutor João Alvares de Mello, do Dezembargo de Sua Magestade, seu Dezemabrgador

Honorario, Ouvidor Geral, e Corregedor deste Reino, Juiz dos Feitos das Fazendas, e

Intendente da Marinha para se proceder a vistoria no dito Navio, cuja Petiçam auticei, e hé a

que se segue, a que ajuntei o Auto de vistoria: Estevão da Fonseca Negrão, Escrivam o

escrevi = Diz Paulino Pinto Da Motta, Capitam da Galera denominada Anna de Lisboa que

vindo da mesma cidade de Lisboa no Porto desta carregada de fazendas de negocio desta

Costa para trocar os Escravos nos Portos de Cabinda, ou Loango arribou com agoa aberta, e

dado fundo requeroe deacarga por baldiaçam para examinar á cauza da dita agoa aberta que

tinha, a qual concendendo-lhe por Vossamerce se acha feita na Alfandega desta Cidade, e

como se them visto que a dita agoa continua, e que vem da Próa se fáz indispensável o

fazer-se vistoria com assitencia de Vossa mercê, e dos Officiaes competentes para se

conhecer, se pode, ou nam fazer-se concerto no dito Navio emforma que possa continuar a

sua viagem ais ditos Portos para neles fazer a sua negociaçam, e fazer-se de tudo auto legal

judicialmente para ser julgado por Sentença a possibilidade, ou impossibilidade em quie se

achar o dito Navio, hindo a dita vistoria, os Capitaens, ou Mestres que Vossa Merce fór

servido nomear E sendo-lhe deferido a todos o juramento dos Sanctos Envangelhos para

debaixo delle declararem a vista da vistoria que se fizer a Bordo, o que entenderem em suas

consciencias a respeito do estado do Navio = Pede Vossa Merce, seja servida ordenar se

proceda na dita vistoria requerida, dignando-se Vossa mercê authorizar este Auto com a sua

respeitavel assistencia, dignando-se assignar dia para ella se fazer, e nomeando os

Capitaens, Mestres, e Contramestres dos mais Navios que se acham no Porto que melhor

conhecimento diverem de Semilhantes susseços, para hirem a dito vistoria no dia

assignando, e sefazer o dito Auto com o Escrivam a quem esta for Distribuida. Proceda-se

na vistoria requerida, a que assistirão o Patrão mor de Porto, e dous Capitaens, dous

Contramestres, dous Mestres da Ribeira, e dous Calafates, sendo todos os mais práticos, e

intiligentes para se fazer a pertendida a virigoaçam, e exame a A examaçam que for

possível, e ao Escrivão direi o dia, assim como também as Pessoas hão deser notificadas

para assitirem ao dito exame. Sam Paulo de Loanda em dous de Dezembro de mil

setecentos noventa e sete = Mello = A Negram = Mello = Alvaro da Costa Guarda e Meirinho d’Alfandega e com exercício na

Ouvidoria Geral e Correiçam da Camaara e cetera. Certifico que notifiquei ao Capitam

Paulino Pinto de Motta Patram Mor, Luis Xavier Martins, Louvados, António Jozé

Rodrigues Chaves, e Aleixo de Araujo, Carpineteiros, Judas Tadeus, e Joze Caetano de

Mattos, Calafate, Jeronimo dos Reys e Bartholomeu Damido, a aos Contra Mestres Vitorino

Jozé, e Matheus Francisco de Assiz, para hirem assistir ao exame vistoria a Bordo da Galera

Anna de Lisboa, no dia sete do Corrente, de que passo a prezente. Sam Paulo de Assu

mpção quatro de Novembro de mil setecentos noventa e sete. Alvaro da Costa Auto da

Vistoria a que se procedeo na Galera de nomindada Anna de Lisboa = Anno do Nascimento

de Nosso Senhor Jezus Christo de mil setecentos noventa e sete,a os sete dias do mez de

Novembro do dito anno nesta cidade de Sam Paulo d’Assumpção Reino de Angola, a Bordo da Galera de nominada Anna de Lisboa de que hé Mestre

Paulino Pinto da Motta, a onde veio o Doutor João Alvares de Mello e Dezembargador de

Sua Magestade, seu Dezembargador de Sua Magestade, seu Dezembargador honorário,

Ouvidor Geral e Corregedor deste Reino, Juiz dos Feitos da Fazenda, que serve

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o lugar de Intendente da Marinha commigo Escrivam se seu Cargo, que com o Patrom Mor

do Porto, Luiz Xavier Martins, e com os Louvados Antonio Jozé Rodrigues Chaves, e

Aleixo de Araujo Capitaens de Navios, Pilotos, e práticos, e com Judas Tadeu e Joze

Caetano de Mattos, Mestres da Ribeira e Jeronimo Reis, e Brtholomeu Domingos Calafate,

e os Contramestres Vitorino Jozé, e Mattheu Francisco de Assiz , para effeito de se

proceder a Vistoria no referido Navio na forma requerida pelo dito Capitam Paulino Pinto

da Motta, a hi deferido o dito Ministro aos ditos Patram mor, Louvados o juramento dos

Santos Envangelhos em hum livro delles em que fizeram cada hum se persi as suas maos

direitas, de baixo do qual lhes encarregou que fazendo hum exacto exame no Navio, a

respeito do que se expreça no requerimento do dito Capitam dissessem a que em suas

conscienciass entedessem sobre o estado do mencionado Navio, e se elle se achava, ou nam

emtermos de concerto para poder continuar a sua viagem aos Portos do Norte desse Reino,

e bem assim qual era o concerto, reparo, e beneficio, que neste Porto se lhe podia fazer, e

sendo por eles recebido o dito juramento assim o prometerão cumprir E logo passando

todos a fazer o determinado exame deppois de terem visto o que lhe foi possível, e feito

todas as averigoaçoens que lhes fazerem necessárias o niformente declaram que a dita

Galera estava com a goa a berra, a qual fazia na Próa pela Reda a baixo athe a escarva, e

que estando fundiado, e descarregado estava fazendo doze polegadas por hora, e que era

certo com a carga havia fazer muito mais, e que era certo que com a carga havia fazer muito

mais, e que por isso pelo que tinhão observado no casco pela dita parte da Próa, assentavão

que a dita Galerana nam estava capaz de seguir viagem pela costa a baixo por nam se achar

emtermos de estarsobre a marras, e que era precizo fazer-se-lhe o concerto que fosse

possivel neste Porto, Tam Sómente para seguir viagem para o de Pernambuco, por ser o

mais proximo, e isto no tempo de Verão, e que para se fazer o dito concerto seria necessário

chegar-se a mencionada Galera mais para a parte de terra, ficando sempre em nada o

carregar-se da Copa, o que possível fosse para levantar á Pobra, sendo ajudada esta

manobra com alguns tomey pela mesma parte da Próa, para melhor segurança do Casco, e

isto a fim de se segurar a dita Próa com dous prodígios, descozendo-se também o forro pela

parte de dentro para se argamassar, e tirando-se também parte do cobre athé o Lume d’ agoa

pela Voda a baixo para se calafetar, e fazer a mais obra que for precizo, tornando-se

finalmente a pregar o mesmo cobre que setiver tirado. E foi o que declararam, de que tudo

para constar mandou o dito Ministro fazer este Auto que a sig nou com migo E serviram, e

com os ditos Patram mor e Louvados, a cima nomeados, e com o Meirinho que serve nesta

Ouvidoria Alvaro da Costa, que a companhou o dito Ministro nesta deligencia: Estevam da

Fonseca Negrão Escrivam da Ouvidoria Geral e Intendencia da Marinha o escreve, e a

ssignei = Mello = Estevam da Fonseca Negrão = Jozé Francisco Martins = Antonio Jozé

Rodrigues Chaves = Aleixo de Araujo = Judas Tadeu = Cruz de Jozé Caetano de Mattos =

Jeronimo dos Reys = Matheus Francisco de Assiz = Vitorino Jozé = Cruz de Bartholomeu

Damião = Aos des ase Concluzão is digo do mez de Novembro de mil setecentos noventa e

sete annos nesta cidade de Sam Paulo d’ Assumpção Reino de Angola, no meu Escriptório,

a hi fiz conluzos estes Autos ai Doutor João Alvares de Mello do Dezembargador

Honorario, Ouvidor geral, e Corregedor deste Reino, para lhe deferir, de que fiz este termo:

Estevão da Fonseca Negrão, Escrivão a escrevi = Concluzos = Julgo por boa vitoria, e

Mando que

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aos Supplicantes sejão dados os Instromentos que della pedir com o theor dos Autos

pagando os Custos excauza. Sam Paulo de Loanda em desaseis de Novembro de Mmil

setecentos e noventa e sete nesta cidade de Sam Paulo d’Assumpção Reino d’Angola, e Cozas de Residencia do Doutor João Alvares de Mello do Dezembargador de Sua

Magestade, seu Dezembargador honorário Ouvidor Geral, e Corregedor deste Reino, a onde

eu Escrivam estava a hi pelo dito Ministro meforão dados estes Autos com a sua Sentença

antecedente, que mandou secumprirsse como nella se contem, de que para contar fiz este

termo: Estevão da Fonseca Negrão Escrivão escrevi = Estevão da Fonseca Negrão, Escrivão

da Ouvidoria Geral, e Correição da Commarca e Cetra: Certifico que notifiquei ao Capitam

Paulino Pinto da Motta, pelo contheudos na Setença antecedente, a que bem entendeo, de

que possa o prezente. Sam Paulo d’Assumpçam desasete de

Novembro de mil Setecentos noventa e sete = Estevão da Fonseca Negrão = Auto

evocação quarenta reis = Raza trezentos outenta e nove reis = Auto folhas quatro, e

quarenta reis = Dito ao Ministro, quatro mil reis = Patrão mor dous mil reis = Louvados,

quatro mil reis = Carpinteiros, quatro mil reis = Calafates, quatro mil reis =

Contramestres, mil e duzentos reis = Meirinhos, dous mil reis = Das notificaçoens ao

dito, dous mil reis = Concluzam vinte e cinco reis = Notificação final, duzentos reis =

Somma vinte e sete mil outocentos e quatro reis = Distribuição folhas duas outenta reis

= Conta, outenta reis = Sommão estas custas salvo erro vinte e outo mil cincoenta e

quatro reis = Mello = E nam sem continha mais couza alguma em ditos Autos de

Vistoria, que eú Escrivam fiz passar por Instromento, a vi quaes mereporto, e vai na

verdade, sem couza que duvida faça por mim sobrescripto, e assignados, concertado, e

conferido com outro Oficial de Justiça, que a baixo o seu concerto põem. Sam Paulo da

Assumpção de Loanda dia eram imprecizo de supra: Estevam da Fonseca Negram

Escrivão o sobrescrevi e assignai.

Estevão da Fonc. Negrão

Concertado por mim dito Escrivam

Cesar da Fonseca Negrão

Comigo Escrivãso Ajudante

Joaquim da Fonseca Negrão

O Escrivão da Abertura desta Alfandega João Xavier Rodrigues passe Certidão

ao pé desta dos Despachos que na mesma Alfandega fez Paulino Pinto da Motta

Capitão, e Caixa da Negoçiação da Galera Anna Vinda de Lisboa de Cento e Vinte hum

Volumes de Fazendas que tinha Carregado no porto Franco da dita Cidade para

negociar em Cabinda e a que Sepermitio entrada neste Reijno naforma, e com as

Condiçoesn do despacho de 6 de Dezembro de 1797 do Ilustrissimo, e Excelentissimo

Governador e Capitão General deste Reyno, de clarando na dita Certidão as

quantidades, e qualidades dos pessoas e Fazendas Despachadas muito por menor e Com

toda a individuação e Clarexza. São Paulo de Assumpção 1º de Outubro de 1798.

João Xavier Rodrigues, Escrivão d’Abertura d’Alfandega desta Cidade de São Pulo de Assumpção Reino de Angola. Certifico que do Livro quarto dos Despachos das

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Fazendas de folhas cento e vinte duas, até folhas cento e trinta e huma, comta o que fez

Pulino Pinto da Motta, Capitão da Galera Anna, vinda de Lisboa, de cento vinte e hum

vollumes de Fazenda transportadas para esta maldita Galera, do Porto Franco cujo teor,

e forma hé a Seguinte = Despachou Paulino Pinto da Motta de conta de quem pertencer

Zuartes de Surrate Ingléz de vinte e quatro côvados

Oitenta ditas de Cadéa Ingléz de desanove côvados

Sesenta dias de Coromandel azul vinte e quatro côvados

Cento e Noventa meias pessas de Chita de Surrates de dezanove

Covados Cem pessas de Chilla azul primeira sorte de vinte e quatro

côvados Cento noventa e nove ditas de longuim de cinco a seis côvados

Sessenta ditas de Nanquinas de vinte e quatro Covados

Noventa e nove ditos de lenços soturromales de quinze em pessa.

2 º Despesa 11 fardos Nºs 20, 36,58, 111, 107, 2, 82, 89, 88, 61, 63.

Em seis do dito = Despachou o dito Paulino Pinto da Motta = Cincoenta e sette

pessas de Zuarte Ingléz, segunda parte, de vinte e quatro côvados

Sessenta e duas do dito, segunda sorte de vinte e quatro Covados.

Sessenta ditas de Coromandel azul de vinte e quatro covadoz

Cento cincoenta e quatro covadoz digo, cento cincoenta e quatro pessoas de

chita de Surrate de vinte e quatro Covados

Cento e Noventa e nove ditas de Longuins de Cinco a seis

côvados Oitenta ditas de Zuarte fino, de vinte e sete covadoz

Oitenta ditas de Cadéa Ingléz de desanove covadoz primeira

sorte Oitenta ditas de dito segunda sorte de desesette Covados

Sessenta ditos de coromandel azul de vinte e quatro covadoz

Sessenta ditas do dito Matizado de Vinte e quatro Covadoz

3ª Despacho 16 fardos nºs 96, 51, 104, 120, 50, 87, 29, 30, 95, 35, 70, 84, 31, 53,

34, 121,

Em desenove de dito = Despachou o dito Oitenta pessas de Cadéa Ingléz de

desenove Covadoz

Sessenta ditaz decoromandel de vinte e quatro covadoz

Cento noventa e nove ditos de Longuins de cinco a seis

covadoz Oitenta ditas de Lenços focurromales azuis de quinze

me pessa Sessenta ditas de coromandel de vinte e quatro

covadoz Seccenta nove ditas de Cadéaz de des e sete covadoz

Cincoenta e nove ditas de Zuarte Ingléz segunda forte de vinte e quatro

covadoz Cincoenta e nove ditas deditom dito de vinte e quantro covadoz

Sessenta e nove ditas de Cadéa de des e nove covadoz

Sessenta e nove ditas Zuarte Ingléz segunda sorte de vinte e quatro covadoz

Cincoenta e cinco de ditas de Coromandel Matizado segunda sorte, de vinte e quatro covadoz

Oitenta e duas ditas de Cadéa Ingléz de des e nove covadoz

Cincoenta e nove ditas de Zuarte Ingléz segunda Sorte

Sessenta ditas de coromandel de vinte e quatro covadoz

Sessenta ditas de Zuarte Ingléz, primiera sorte vinte e quatro covadoz

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Sette ditas de Zuarte da primeira, e segunda sorte = Trez ditas de Chilla de vinte

e quatro côvados = Huma dita de coromandel matizado de vinte e quatro covadoz =

Trez ditas de cadéa Ingléz azul de des e nove covadoz = Huma dita de de dito matizado

de vinte e quatro covadoz = Trez ditas de Chita de Surrate de des e nove covadoz =

Cinco ditas de Lençossotumales azuis de quinze empessa = Duas ditas de ditos

encarnados Soturromales de quinze empessa

4º Despacho Em vinte de Dezembro di dito anno

Despachou o dito Cincoenta e nove Pessoas de Zurate de vinte e quatro

covadoz Sessenta ditas do dito

Oitenta ditas de Cadéa de des e nove Covadoz

5º Despacho 5 Fardos 78, 105, 109, 113, 117.

Em des e sete de Janeiro de mil sette centos e noventa e oito = Despachou o dito

= Cincoenta e nove pessas de Nanguinas de vinte e quatro covadoz

Cento noventa e oito ditas de konguins de cinco a seis covadoz

Cento e noventa meias pessas de Chita de Surrate de des e nove covadoz

Noventa enove ditaz delenços vochoz rochoz Suturramales de quinze em

pessa Cento e sessenta ditas de dito encarnados de quinze me pessa.

6º Despachos 12 fardos nºs 25, 33, 37, 38, 39, 48, 52, 56, 69, 81, 90, 94

Em seis de Fevereiro = Despachou o dito sessenta pessas de Zuarte primceira

sorte, de vinte e quatro covadoz

Cincoenta e nove ditas deditom segunda sorte

Sessenta ditas do dito, Segunda Sorte de vinte e quatro

covadoz Cincoenta e oito ditas de dito

Cincoenta e oito ditas de coromandel de vinte e quatro

covadoz Sessenta ditas de dito, dito

Cincoenta e Oito ditas de coromandel de vinte e quatro covadoz 7º

Despacho 10 fardos, nºs 13, 10, 26, 55, 45, 65, 74, 91, 102, 108.

Em vinte e oito de Fevereiro = Despachou o dito = Sessenta pessas de Zuarte,

primeira Sorte de vinte e quatro covadoz

Cincoenta e nove ditas de dito

Cincoenta e nove ditas de dito

Sessenta ditas de coromandel de vinte e quatro

covadoz Com ditas de Chilla de vinte e quatro covadoz

Cincoenta e nove ditas de Coromandel Matizados de vinte e quatro

covadoz Cincoenta e nove ditas de Nanguinas de vinte e quatro covadoz

Ointenta e ditas de Cadéa azul,de des e nove covadoz Ingléz

Oitenta ditas de dito Matizados de des e nove covadoz

Cento noventa e sete ditas de Longuim de cinco a seis

covadoz 8º Despacho 7 fardos Nºs 12, 17, 75, 77, 47, 119, 62.

Em sete de Março Despachou o dito = Sessenta pessas de Zuarte Ingléz, primeira sorte

Cincoenta e Nove ditas de Nanguinaz de vinte e quatro covadoz

Cincoenta e nove ditas de Nanguinas de vinte e quatro covadoz

Cincoenta enove ditas de Nanguinaz de vinte e quatro covadoz

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Noventa e sete ditas de Chila de vinte e quatro covadoz

Cento e quarenta e sete ditas de lenços Sotumrmales azuis de quinze em pessa

Quarenta e quatro ditas de coromandel matizado de vinte e quatro covadoz

9º despacho 10 fardos Nºs 19, 21, 22, 43, 49, 66, 93, 100, 106, 112 Em vinte e

oito de Abril = Despachou o dito = Sessenta para Zuarte de Sumatre primeira sortem de

vinte e quatro covadoz

Sessenta ditas de dito

Cincoenta ditas de

dito Cem ditas de dito

Cem ditas de Chila de vinte e quatro covadoz, primeira

sorte Sessenta ditas de coromandel azul de vinte e quatro

covadoz Sessenta ditas de dito Matizado

Oitenta ditas de Cadéa azul de des e nove

covadoz Oitenta ditas do dito Matizado

Cem Settenta e oito ditas de Longuins de cinco e seis covadoz. Noventa

e sete ditas de Lenços Somomales rochos de quinze em pessa

10 despacho 2 fardos nºs 11, 116, Em des e nove de Maio = Despachou o dito =

Setenta e nove pessas de Zuarte fino de vinte e sete côvados.

Cento Cincoenta e nove ditos de Lenços sossumales encarnados de quinze me pessa.

11 Despacho 11 fardos, nºs 11, 13, 24, 27, 28, 42, 57, 64, 92, 101, 98

Em vinte e trez de Julho = Despachou o dito Sessebta pessas de Zuarte de Vinte

e quatro covadoz

Sessenta ditos do dito

~Cincoenta e nove ditos do

dito Sessenta ditos do dito

Cincoenta e oito ditos do dito

Cem ditas de Chila Azul

Sessenta ditas de coromandel azul

Sessenta ditas de dito matizado de vinte e quatro

covadoz Settenta e oito ditas de Cadéa de des e nove

covadoz Quarenta ditas de dito de des e nove covadoz

12ª Despacho 11 fardos nºs 14, 15, 16, 8, 54, 67, 71, 79, 99, 115, 118. Em vinte

e oito de Julho = Despachou o dito = Cicoenta e nove pessas de Zuarte

Cinco enta e nove ditas de

dito Sessenta ditas de dito

Cincoenta e oito ditas do dito

Sessenta ditas de coromandel azul

Sessenta ditas de matizado Cincoenta

e nove ditas de Nanguimas

Settenta e nove ditas de Cadéa de des e nove

covadoz Oitenta duas do dito Matizado.

Cincoenta e quatro ditas de lenços rossos digo de lenços rochos Cento

e Cincoenta sete ditas de lenços encarnados e quinze em pessa

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13º Despacho 2 fardos nºs 9, 41.

Em primeiro de Agosto = Despachou o dito Sessenta pessas de Zuarte Noventa e

nove ditas de Chilla

14 Despacho 13 fardos nºs 3,4,5,6,7,46,59,68,73,,76,83,85,97 Em onze do dito

despachou o dito

Cincoenta e oito pessas de

Zuarte Sessenta ditas do dito

Sessenta ditas do dito

Sessenta ditas do dito

Sessenta ditas do dito de vinte e quatro

covadoz Noventa e Nove ditas de Chila

Sesssenta ditas de coromandel azul

Cincoenta e Sete detas e dito

Matizado Cincoenta e nove ditas de

Nanguinas Sessenta ditas de ditas

Oitenta ditas de cadéa de des e nove

covadoz Settenta e nove ditas de dito

matizado Oitenta ditas de dito dito

Comprehendendo-se ao todo nos ditos volumes nove mil seis centos e treze

pessas de Zuarte de vinte e quatro covadoz

Cento e secenta ditas de de dito fins de vinte e sete

covadoz Dito centas, trinta e sete ditas de dito matizado

Seiscentas noventa e oito ditas de Chila Quatro

centos setenta e seis ditas de Nanguinas Mil

cento e noventa e oito ditas de Cadéa azul

Seis centas setenta e nove ditas de dito matizado.

Mil cento setenta e seis ditas de longuins

Trezentas noventa e cinco ditas de dito de vinte e quatro covadoz

Mil, cincoenta e nove ditas de lenços soturromales azuis, e encarnados, e rochos

de quinze em pessa

E não contem mais couza alguma em dito Livrom respeito aos sobreditos Cento

e vinte e hum volumes, ao qual me Reporto donde fiz passar a prezente em Observancia

da Portaria de Doutor João Alvares de Mello do Desembargo de Sua Magestade seu Desembargador Honorario, Ouvidor Gerál Corregedor, e Juiz d’Alfandega do dito Reyno,

onde esta principia, e vay na verdade a prezente Certidão sem couza de dúvida faça por

mim Sobreescripta, e Asignada, concertada, e conferida com outro Escrivão que abaixo

assina o seu concerto põem. São Paulo de Assumpção trinta e hum de Outubro de mil sete

centos, noventa e oito e Lei João Xavier Rodrigues, Escrivam d’Abertura d’Alfandega a

Sobrescreveu

Por parte de Abreu Castel Branco Pimentel, Coronel Juiz de Fora da Ordenaça

desta Cidade de São Paulo de Assumpção. Escrivão da meza Grande da Alfandega

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Joseph de Abréu Castel Branco Pimentel, Coronel do Terço da Ordenaça desta

Cidade de São Paulo de Assumpção. Escrivão da Meza Grande da Alfandega da mesma

Cidade Certifico que o Livro Segundo das finanças Nelle Consta a p 47 a que deu Paulino

Pinto da Motta, Capitão da Galera Anna de Lisboa, do Theor e forma Seguinte = Termo de

Finança que dá Paulino Pipnto da Motta aos Direitos de Cento vinte e hum volumes de

Fazenda, que se lhe permitio Estrada, em conformidade do Despacho do Ilustrissimo e

Excelentissimo Governador e Capitão General deste Estado, em proferindo em Leis do

corrente mez como. Aos seis dias do mez de Dezembro de mil settecentos noventa e sette

annos nesta Cidade de São Paulo de Assumpção Reino de Angola, na Alfandega, e Caza do

Despacho damesma aonde estava o Doutor João Alvarez de Mello, do Dezembargo de Sua

Magestade Dezembargador Honorario, Ouvidor Geral, Corregedor deste Reyno, e Juiz da

mesma Alfandega, com osmais Oficios nofim deste termo assignado e a hy a aparuco

prezente Paulino Pinto da Motta, Capitão da Galera Anna de Lisboa, e Caixa da Negoçiação

della, e da outra Galera denominada Anjo do Senhor de que hé Senhorio Manuel de Souza

Freire, e Companhia Negoçiam-se da Praça de Lisboa, e por elle foi dito que Satisfazendoo

Respeitavel Despacho de juiz do Corrente mez e anno em que o Ilustrissimo, e

Exelentissimo Governador e Capitão General deste Reyno Dom Miguel António de Mello,

lhe teve a promptidão que nesta Alfandega teve sem Estrada, e se Despachou em Cento

vinte e hum volumes de Fazendas, que tenhão sido tomadas no Porto Franco de Lisboa, e

que elle dito Capitão tinha conduzido na dita Galera Anna, com a o destino de hir Negociar

em Cabinda, e Molembo, em Razão deseter tornado impraticável o prefeito da Referida

Negociação, pelas Razoens as pessoas na Cujo sua em que obteve o Sobre dito Respeitavel

Despacho, no qual se lhe empóz a condição deporestar Fiança em nome do dito Senhorio

Manuel de Souza Freire e Companhia, que Segura esse opagamento em Portugal, de quaes

quer Direitos que Sua Magestade julgasse Serem-lhe devidos, pelas Fazendas conthindas

nos referidos cento vinte e hum Volumez, por este motivo vinha elle dito Paulino Pinto da

Motta e declarar como Com effeito de clarava, que não só um nome dodito Manoel de

Souza Freira, e Companhia, mas ainda mesmo pela sua propria pessoa, e bem seo brigava a

pagar em Portugal ou aonde lhe for Determinado quaes quer Direitos , que pellos ditos

Cento Vinte e hum volumez de Fazendas a dita Senhora for servida de Clarar que lherão

devidos, e que ao dito pagamento obrigava, e especialemnte Hipotevava quaes quer bem

que pertenção, e os Cascos e mais referidos Navios Anna de Lisboa, e Anjo do Senhor, e

bem a fim os productos da Sua actual Negociação em qualquer parte aonde fossem achados,

e que para Ser maus composta a Segurança do mesmo pagamento, o ferecia, e o prezentava

por Seu Fiador, e principal pagador ao Sargento Mor Manoel Francisco Regoadas,

Negociante abonador, e ditto do o Credito, e Com êxito nesta, outras Praças e Sendo este

outro sim prezente, por elle foi dito, que de Sua Propria e livre vontade a o Susctiva ser

Fiador, e principal pagador dos Direitos das mencionadaz Fazendas na forma dita,

obrigando-se por Sua pessoas, e bem ao pagamento dos mesmos Direitos, na quantidade

elugar que lhe for dete4rminado, na dita qualidade de Fiador, e principal pagador.

E para de tudo Conter mandou o dito Minsitro fazer este Termo, que Asignou com

os Sobreditos Paulino Pinta da Motta, e ais Sargento Mor Manoel Francisco Regadoz,

presente os Officiais da Alfandega a Saber o Thesoureiro Francisco de Paula Lopez, e o

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Goarda mor Antonio Jouseph Pereira Pinto, Os Goardas João da Costa Braga, e Luiz

Gomes Ribeiro que com migo tão bem assignão. João Xavier Rodrigues Escrivão da

Abertura de mesma Alfandega o Escrevi, e o foi que neste por empedimento so da Meza

Grande = Paulino Pinto da Motta = Manoel Francisco Regadoz = Francisco de Paula

Lopes = Antonio Joseph Pereira Pinto = João da Costa Braga = Luis Gomes Ribeiro

Mello, E não contem mais Couza alguma nos dito Termo, que foi extrahir fielmente no

dito Livro a que me Reporto, e Vay por mim Sobreposto e Asignado S. Paulo de

Assumpção 18 de Janeiro de 1798 e Eú Joze de Abreu Castel Branco Pimentel do da

Meza Grande daAlfandega e o Sobrescrevi e Asiignei

Jozé de Abreu Castel Pimentel.

A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 95, doc nº 9, 10 – 03 – 1800

Relato sobre os Bens do Giro do Sertão:

Para satisfazer em deatalhe a curiosidade que tem em saber em que consiste, e como

gira o Commercio desta Conquista de Angola, seria necessário, que eu não só exposesse em

geral, a qualidade e objectos, daquele, mas especififca-se cada um dos diferentes ramos,e

repartições, que a alteram, segundo a diversidade do Certão, de que se compõem esta vasta

conquista. Não me parecendo porem huma individuação tão escrupulosa e miúda ser muito

necessária, eu não me estenderei demasiado além da sua generalidade tendo somente em

vista a mais útil e essencial. Sucessivamente a aquezição desta parte da Nossa Conquista de

África se estabeleceu nella um Commercio, que suposto não se afastasse ao princípio das

Praias, deixou contudo logo ver a sua grande importância e utilidade. Esta progressivamente

se veio a aumentar augmentar a porpoção que os Pretos Habitantes do Paiz, e naturalemente

se forem familiarizando com os Conqusitadores e decima em maior número as mesmas

praias a surtir se de algum géneros que estes lhes ofereciam e ministravam. A observação

local do mesmo País, a maior experiencia e conhecimento dos génios, inclinações e

necessidades dos Pretos seus Habitantes demonstraram logo, bem quais eram os géneros

mais próprios para o giro do Commercio desta conquista; e assim se conduziram, em breve,

para elas muitas Fazendas da India, e outras chamadas da Costa como Calamanhas,

Coromandeis, Borralhos, Tafacinas, Linhas a que dão o nome de Inglesas, Cobertas de

Damam, e Balagate, Lenços Sotomoles e de Surrate e outras Fazendas próprias de Países

Quentes de não muito valor na qualidade, e que com tudo, conforme os tempos mais ou

menos necessitam, e consumo, segundo os Pretos, variam de gostos e inclinações. Terão

estas contudo nelles sempre constantes, e cada vez mais vivas se pode a respeito do Tabaco

de pó, e fumo, e das Aguardentes que igualmente lhe foram introduzidas e são feitas de

certa Calda de Assucar do Brazil e conhecidas nesta Conquista pelo nome de Geribitas, e

Cachaças: He notável

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a mesma afeição que se lhe conhece por este Genero que preferem á Aguardente do Reino e

ao Vinho, assim por gosto particular, como porque custando-lhe muito menos, se lhe ajusta

mais ser moderado preço e os seus poucos haveres, e possibilidades. Desconhecendo, e por

consequência desprezando o uso, e valor do Dinheiro particularmente particularmente nos

princípios deste Estabelecimento, eles havião de nós aquelles géneros, e os mais que lhes

Ministramos por meio de permutações, que com eles fazemos, por Marfim, Cera, e Pretos

que eles representavam Escravos, assim como ainda hoje praticão e os reduzem a

Escravidão por via de Mucamostanados, isto he demandas julgadas pelos seus Sovas, e

Dembos no concelho dos seus respectivos Macotas, ou por meio de injustas, e continuas

Guerras, em que ardentemente andão implicados. Com a Noticia dos lucros resultantes

deste importante negócio concorrem a esta Colónia maior número de pessoas tanto da nossa

parte, e como dos ditos pretos, que já com maior confiança de cima desta vizinhanças, a

esta cidade fazem as referidas permutações. Por meio desta concorrência, reconhecerão, e a

depitarão os mesmos Pretos algumas novas perizoens, e assim com este pretexto se lhes

introduzirão mais além de outros Géneros húa grande quantidade de fazendas brancas da

Índia pintadas,ou tinta deste Reino com a denominação de Zuartes de milhor, ou menor

sorte , e huma boa porção de Fazendas do Norte, como Bretanhas de Amburgo, Cobertores

de Papa, Baetas, Contas de Louça, e Vidros de diversas Cores, e qualidades designadas com

o nome de Coral, Missanga, Cassungo, Zimbo, e outras mais porem sobre este género que

no seu uso, e consumo tem padecido, como já expus a respeito dos muitos, e sua alteração

conforme os diversos tempos, e gostos dos Pretos, tem sempre sido constante, e decidida, e

paixão, e Emprego, que estes fazem nas Armas de Fogo, isto he em espingardas, somente

Traçados, Facas Flamnegas, e Polvora, Balas em Chumbo, para as fabricarem, e que

juntamente se lhes introduzem como sorteamento dos mais géneros e objectos

indispensáveis deste comercio; tanto assim que nas expostas permutações, não só entram

humas certas quantidades já estabelecidas das sobreditas fazendas mas também das mesmas

Armas, que lhes solicitam,e de que andam quase todos sempre munidos não só como

indispensáveis para as suas contínuas caças e defesa dos Bichos nas suas repetidas

digressões pelo Mato virgem, e expressos mais para as suas frequentes Guerras. Aquella

maior concurrencia de Pessoas a esta Capital com as vistas no interesse do Commercio,

augmentou também a ambição de Maiores Lucros e assim para satisfazerem a esta foram

muitas das dictas pessoas fazendo já algumas frequentes sortidas, já alguns pequenos

estabelecimentos ou Habitações para as partes do Certão, posto que no princípio ainda

receosos pouco das Praias se afastam: em Margem do Rio Bengo e Dande foram as

primeiras Habitações desta natureza; ali sahindo ao encontro, ou esperando os Pretos, que

de cima para esta Cidade, com as suas carregações de Marfim, Cera, ou Escravos, fazião

com eles as suas permutações a milhor mercado, tanto para não entrarem em conflicto com

os mais compradores; como por aqueles preferião fazer logo Contractos naquelas partes,

ainda com prejuízo só por evitarem a demora e pena de virem á Capital. Quando porem os

Negociantes não querião deixar o Estabelecimento, e correspondências que nellas tenhão,

por avançarem seus interesses, ou se não assinavam aos riscos do Certão, confiavam certas

porções das sobreditas Fazendas a Homens Ordinários pobres e considerados da Fortuna

que sujeitando por esta causa e os muitos perigos que nelle há,

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frequentavam o mesmo certão a onde fazendo por huma e outra parte, e com milhor partido

o seu Negocio, voltavam passado algum tempo, com os seus empregos e remessas, a esta

capital pagando com o seu produto as Fazendas aos seus Aviantes pelos preços

anteriormente ajustados, ou estabelecidos ficando em recompensa do seu trabalho, e em

indemenização dos gastos da condução, que por sua conta faziam a costa de Pretos e

excesso de preço, que os sobreditos remessas lhe davam e produziam. As Pessoas com

Fazendas suas, ou alheias se ocupavam neste género de Negócio para o Certão, e que he o

mesmo, que presentemente se pratica nesta conqusita, são denominados Pumbeiros,

Pumbos os diversos lugares a onde o vão fazer, e funar o acto de semelhantes ajustes ou

contractos, pelo decurso do tempo, foi-se aumentando tanto o numero destes Pumbeiros, e

crescendo tão desmedidamente a sua ambição, que por evitarem a competição uns dos

outros, e concluírem mais depressa o seu negócio a melhor mercador, se entranhavam

temerariamente cada vez mais no interior do certões, a onde humas vezes eram mortos, ou

ao menos roubados pelos Pretos e outros se ficavam nelles delapidando as mesmas

Fazendas já com desordens que praticavam, e já com remessas que dali dirigião,

ocultamente, a Pessoas diversas de seus Credores, ou Aviante, o que aqui se chama reviro, e

sem que estes de forma alguma, tivessem meios de virem no conhecimento destes factos,

para se indeminarem de semelhantes inconvenientes, e prejuízos. Para socorrer a estes, e

aos danos que dellles resultam, se mandaram construir por Ordem Régia, e pelo interior do

Certão, os Presidios de Muxima e Massangano, S. José de Enconge, Cambenbe e Pedras, e

Ambaca, e no Certão de Benguella o de Caconda, a fim de que servindo primeiro que tudo

de barreira as incursões e insultos dos Pretos contendo-os em respeito, e na devida

subordinação servirem em qualquer caso de asilo ou socorro aos ditos Pumbeiros nos seus

Pumbos ou Negociação. Mas verificando-se pela veria do tempo, e a experiencia, que

afastando-se aquelles para o dito efeito de negociarem, dos referidos Presidios,

continuavam a sentir dispersos pelo Mattos os mesmos insultos, e roubos, praticando

igualmente de sua parte as mesmas dilapidações e desordens, com intolerval prejuízo dos

seus Credores; se recorreu novamente a Sua Magestade, que por Carta Régia a este fim

expedida haverá se bem me engano quarenta anos. Determinou se estabelecessen em cada

hum dos mencionados Presidios, e onde mais conviesse, Feiras, e os mencionados

Pumbeiros, e que os mencionados Pumbeiros, sendo primeiramente habilitados para aquele

trafego, fossem compelidos, a fim de se terem debaixo da vista, e e vigiar a sua conduta, a

fazerem restrictamente as suas negociações, e empregos. Estabeleceram-se em

consequência daquela ordem, as ditas Feiras, não só nos expostos Presídios, mas também

em alguns lugares dos Certoens, que percerão para este efeito mais próprios, e

convenientes, como no Molo, Maio, Dondo, Beja, Lucamba, e Cassange, ficando debaixo

da Inspecção dos Directiores e dos Escrivães das mesmas feiras para este fim nomeados. As

legitimações dos Pumbeiros se praticarão segundo os tempos, com maior ou menor

exactidão, mas ultimamente se observão e fazem na maneira seguinte: o Sugeito que se

destina a semelhante Negócio, não sendo criminoso, nem tendo outra alguma razão que lhe

obste a subida aos Certoens, munidos com os documentos resepectivos da Policia, e com

uma atestação dos bens do Negociante que o pretende avisar, juntando também a Lista das

Fazendas, que este lhe confia, com Declaração das suas qualidades, e importância que não

deve exceder á taxa estabelecida, requer á Junta

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de Justiça e Comércio composta do Governador e Capitão Geral como Presidente, do

Ouvidor, do Juiz de Fora, Coronel, Tenente Coronel, e Sargento Mor, do regimento de

Infantaria dessa Guarnição, como Deputados, para que lhes concedam aquele felicidade e

licença, apresentando que he este requerimento na dicta Junta, observa se elle está

legalizado na forma devida, e logo a vista no Livro das Legitimações, a onde se acham

lançados methodicamente todas as Feiras, cada hum dos Pumbeiros, que a ella se tem

dirigido, o tempo em que forão aviados, por quem, e com que importância de Fazendas, se

examina também se o Suplicante foi já ao Certão aviado por outros Negociantes, porque em

tal caso não está nos termos de ser atentido, sem que primeiramente mostre, por atestação

deste, em como lhe satisfez as Fazendas com que o aviou, ou lhe permite e lhe consente que

vá de novo avido por outro Armador; estando porem o dito requerimento em tudo conforme,

se lhe concede por Despacho da referida Junta a mencionada licença, fazendo-se no

sobredito livro os Assentos Relativos ao dito Pumbeiro, e na forma acima expressa e

declarada. Deve contudo este, quando subir ao Certão hir acompanhado por huma guia, em

que se declare para que Feira se dirige, por quem vai aviado, e a quantidade e a importância

das Fazendas que leva, e tanto que chegar no lugar de seu destino, apresentada ao Director,

e não havendo ao Escrivão da Feira, para a registar que ali se deu entrada, e haver procedido

de boa fé, sem dilapidação alguma das fazendas e géneros que Conduziu. Semelhantemente

depois de ter feito todo ou parte de seu Emprego, querendo voltar a esta capital, ou mandar

com as remessas que já estiverem prontas, algum encarregado, vem estas vir acompanhadas

de outra guia, onde se declare o numero de Escravos, e quantidade de Cera, e Marfim, que

conduza quem se dirige a sua entrega, dando finalmente com aquela entrada na respectiva

secretaria, do Governo a onde se fazem a este respeito as Diligencias, e Assentos

competentes, e necessários. Estas Providencias que Observadas exactamente, são muito

próprias, e adequadas a manter a boa Ordem, e segurança do commercio, não são ainda

assim bastantes para occurrer, tanto nos prejuízos que os Pretos ocasionam aos ditos

Pumbeiros, pela vasta extenção, e distancia dos Certoens, e Feiras as que se Dirigem, como

a o que estes originam aproveitando-se daquelas circunstancias, para dilapidarem as

Fazendas, humas vezes afectando furtos, aque também sucedeo darem causa, pelo seu não

comportamento, e outros praticando reviros remetendo ocultamente a esta Capital, e a

Diversas Pessoas, que não são seus Aviantes, remessas que por debaixo da capa fumaram, e

houveram demorando assim, ou privando interiamente de seu devido embolso a seus

legititmos credores. Bem útil, por tanto, e bem de desejar, parecia o Estabelecimento de uma

provindencia tão eficaz, que pudesse decipar estes males: esta parece somente encontrar-se

na summa vigilância do Governador, e Capitão Geral do Estado, que atendendo aos diversos

factos, e circunstancias ocorrentes, achando-se ao mesmo tempo munido de maior poder,

pode aplicar aquelas decisões mais justas e próprias, de que aquelles factos de que aquelles

factos forem susceptiveis, castigando a liberdade, e excessos, das Transgressões, que se

afastarem da obediência, e cumprimento das ordens estabelecidas: alembranças pois, de

reduzirem os Pretos é necessidade de virem fazer o negócio a esta Capital, ou Beira-Mar, he

cheia de obstáculos insuperáveis, o conhecimento local do País e a observação e experiencia

deixam ver bem o quanto este abritio é inademissivel, logo que os Pretos se puseram no

costume de se lhes levarem aos Certões os géneros de sua

necessidade, eles sem duvida alguma antevendo o risco de huma longa jornada, e

receando virem a esta Capital, a onde de ordinário são mal recebidos, pelos outros

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Pretos, e desamaprdos nas moléstias que aqui são quasi sempre acomnetidos; querião

antes procedir dos géneros necessários para suprirem as suas poucas necessidades, do

que procuralos, passando por aquelle risco, e incómodos que ainda se lhes representam

maiores pela natural moleza, e indolências de que são dotados, alem de que o mesmo

abritio seria também hoje impraticável e nocivo ao Commercio desta Conquista porque

a primeira vista se deixa conhecer evidentemente, que sendo neutrais e abertos os Pretos

do Norte desta Capital, desde o Rio Dande, ate ao Zaire, e que os Estrangeiros, em

grande numero frequentam com o mesmo objecto do negocio de Escravos, Cera, e

Marfim absorveriam juntamente com este todo o Commercio dos nossos Certoens, pois

que os Pretos se resolvessem vir as Praias fazer as suas permutações, depois de

passarem por este incomodo, e risco, preferirão hir vender aquelles géneros aos

Estrangeiros do que a esta Cidade, tanto que estes lhes podiao dar as Fazendas próprias,

e que os mesmos Pretos por gosto preferem as nossas, mais baratas, hi porque também

hindo aquelles vender os referidos géneros nos diversos Portos de seus destinos pelo três

do bom que dão naqueles, a onde nós os conduzimos, lhes podiam dar por eles ao menos

a desplicada quantidade de Fazendas, que nós lhes podíamos dar, e oferecer,fazendo

assim pender a Balança do Comercio toda em seu favor, e utilidade: factos repetidos e

actualmente observados provão decisivamente, esta constante verdade.

E aqui as ideias, que eu sem falar em alguma diversidade, que se observa no

Commercio de Benguella, posso dar sobre o Commercio desta Capital de Angola, e seus

respectivos Certoens, e que he tão importante, quanto deixão ver os Mapas, que várias

pessoas daqui tem conduzido para diversas juntas e garante ser digno de atenção de

nosso sabio e Iluminado Ministro.

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