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Darwin por Darwin

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Darwin por Darwin

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Darwin por DarwinUm panorama de sua vida e obra

através de seus escritos

Seleção e organização:Janet Browne

Tradução:Maria Luiza X. de A. Borges

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Título original:The Quotable Darwin

Tradução autorizada da primeira edição americana, publicada em 208 por Princeton University Press,

de Nova Jersey, Estados Unidos

Copyright © 208, Janet Browne

Copyright da edição brasileira © 209: Jorge Zahar Editor Ltda.

rua Marquês de S. Vicente 99 – o 2245-04 Rio de Janeiro, rj tel (2) 2529-4750 | fax (2) 2529-4787

[email protected] | www.zahar.com.br

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo

ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.60/98)

Grafia atualizada respeitando o novo  Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Preparação: Angela Ramalho ViannaRevisão: Tamara Sender, Édio Pullig

Indexação: Gabriella Russano Capa: Rafael Nobre

cip-Brasil. Catalogação na publicaçãoSindicato Nacional dos Editores de Livros, rj

D247 Darwin por Darwin: um panorama de sua vida e obra através de seus escritos/organização Janet Browne; tradução Maria Luiza X. de A. Bor-ges. – .ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 209.

il.Tradução de: The quotable DarwinInclui bibliografia e índiceisbn 978-85-378-845-9

. Darwin, Charles, 809-882. 2. Naturalistas – Inglaterra – Biografia. i. Browne, Janet. ii. Borges, Maria Luiza X. de A.

cdd: 9259-57957 cdu: 929:5

Vanessa Mafra Xavier Salgado – Bibliotecária – crb-7/6644

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Sumário

Prefácio, 9Cronologia, 5

parte i Juventude e a viagem do Beagle

Fundamentos, 23

A viagem do Beagle, 30

Geologia, 4

Escravidão, 46

Coleção de história natural, 49

Povos indígenas, 54

Arquipélago de Galápagos, 59

parte ii

Casamento e trabalho científico

Notas sobre espécies, 67

Casamento, 72

Uma teoria com que trabalhar, 77

Filhos, 84

Pombos, 90

Cracas, 94

Precursores, 00

Descobertas independentes, 06

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parte iii

A origem das espécies

A origem das espécies, 5

Espécies, 24

Seleção, 28

Dificuldades, 32

Desígnio e livre-arbítrio, 37

Variação e hereditariedade, 4

Origem da vida, 47

Sobrevivência dos mais aptos, 49

Reações à Origem das espécies, 52

Botânica, 66

parte iv

Humanidade

Origens humanas, 73

Raça, 80

Seleção sexual, 83

Moralidade, 87

Intelecto, 90

Instintos, 94

Expressão das emoções, 97

Sociedade humana, 20

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parte v

Sobre ele mesmo

Crença religiosa, 2

Saúde, 29

Política, 224

Ciência, 226

Escrita, 23

Cães, 235

Antivivissecção, 238

Natureza, 240

Autobiográfico, 244

parte vi

Amigos e família

Amigos e contemporâneos, 253

Comentários de seus contemporâneos, 263

Recordações da família, 272

Tributos, 282

Miscelânea, 287

Referências bibliográficas, 29

Créditos das imagens, 299

Agradecimentos, 30

Índice remissivo, 303

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Prefácio

Poucas pessoas precisam ser apresentadas a Charles Darwin, o grande naturalista britânico do século XIX que formulou ideias de amplo alcance sobre a maneira pela qual os seres vivos evoluem por seleção natural. Ele é mundialmente conhecido pela proposta de que todos os organismos – incluindo os ho-mens – se originam por processos inteiramente naturais, sem a intervenção de nenhuma divindade, e o rótulo “darwinista” é usado de modo usual para descrever a teoria subjacente a toda a biologia evolucionista moderna. Essa fama é baseada em seu magnífico livro A origem das espécies, publicado pela primeira vez em 859, em Londres, em meio a uma tempestade de controvérsias, e continua a ser um dos textos fundamentais do mundo moderno.

Mas Darwin fez muito mais que publicar A origem das espé-cies. Antes disso – com apenas 22 anos, no início – ele viajou para a América do Sul na expedição de levantamento topo-gráfico do Beagle durante os anos de 83-36, como naturalista, coletor e também acompanhante científico do capitão Robert FitzRoy. Ao voltar, continuou a realizar pesquisas e observa-ções em história natural, trabalho a que se dedicou pelo resto da vida. Ele se tornaria conhecido como autor de várias publi-cações científicas importantes e de um interessante diário so-bre suas experiências na viagem intitulado Diário de pesquisas,

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inspirado na Personal Narrative de Alexander von Humboldt. Depois que voltou também começou reservadamente a espe-cular sobre ideias evolutivas. Não chegou a nenhuma teoria concreta até que leu o livro publicado por Thomas Robert Malthus a respeito de população humana e controles naturais para seu progressivo aumento. A partir disso Darwin desenvol-veu suas ideias sobre luta pela sobrevivência e seleção natural. Mais ou menos ao mesmo tempo, outros pensadores pro-punham ideias evolucionistas, em particular Alfred Russel Wallace, cujo trabalho nessa área era desconhecido por Dar-win até um momento dramático, em 858, quando Wallace lhe escreveu anexando um ensaio sobre suas ideias. A história do anúncio simultâneo da teoria da evolução por seleção natural em julho de 858 é fascinante. Com ele, Darwin acelerou seus planos para a publicação e produziu seu grande livro, A origem das espécies, no ano seguinte.

Os debates que se seguiram impulsionaram Darwin e seu livro para a notoriedade. Essas acaloradas discussões também atraíram duradouras especulações sobre as relações entre o mundo natural e seu suposto criador, bem como investigações filosóficas contemporâneas sobre as espécies e suas origens – ao lado de crescente incerteza religiosa, crítica pública da or-dem social estabelecida e rápidos avanços industriais e comer-ciais no Império Britânico, então em recente expansão. Tudo isso refletiu na literatura, na poesia e nas artes contemporâ-neas. De certa maneira, o livro de Darwin cristalizou a ampla gama de questões presentes na cabeça de todos. De fato, nas

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décadas posteriores, o livro – e as reavaliações fundamentais que inspirou – passou a simbolizar uma importante revolução intelectual, ajudando a tornar o mundo moderno.

No centro do furacão, Darwin tentou levar uma vida tran-quila. Ele dedicava grande parte do tempo buscando apoio para a ideia de evolução por seleção natural – ou, como a chamava, descendência com modificação – por meio de ex-perimentação com diferentes grupos de animais, aves e es-pecialmente plantas, bem como de ampla leitura e pesquisa em bibliotecas. Escrevia e publicava com constância, incluindo uma série de excepcionais livros e artigos posteriores que de-senvolveram e ampliaram o tema da evolução por seleção na-tural. Durante todo o tempo respondia a críticas e questiona-mentos e produzia uma correspondência científica muito farta, que acabou por se estender por todo o globo. Sem dúvida ele foi um dos principais autores e pensadores do período, o catalisador para que muita gente – de todas as profissões e condições sociais – reexaminasse e talvez corrigisse sua visão acerca do mundo natural e, nele, do lugar ocupado pela hu-manidade. No momento de sua morte, Darwin foi celebrado como um herói da ciência. Ele foi enterrado na abadia de Westminster, em Londres.

O que movia esse homem extraordinário? Embora seus li-vros estivessem inseridos em controvérsias públicas, e suas ideias científicas fossem audaciosas, ele teve uma vida pessoal extremamente comum. Viveu como um cavalheiro vitoriano

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com fortuna independente na zona rural inglesa, cercado por uma família grande e vasta criadagem. Depois daqueles anos aventurosos da viagem do Beagle, adotou uma rotina diária sem nada de especial, embora atormentado por persistentes proble-mas de saúde. Casou-se com a prima Emma Wedgwood em 839, e juntos tiveram dez filhos, três dos quais morreram antes de se tornar adultos. Numa série de recordações que registrou na velhice, Darwin descreveu muitas das circunstâncias de sua vida com grande modéstia. Deixou claro que detestava apari-ções públicas e ficava sempre aliviado ao deixar seus amigos promoverem suas ideias enquanto permanecia calmamente em casa. Mesmo assim, sempre escrevia cartas. Para nossa sorte, as transformações no pensamento moldadas por suas concepções tiveram lugar, na maioria dos casos, por meio da palavra escrita.

Este livro de citações selecionadas dos escritos de Darwin esquadrinha os registros históricos para mostrar os notáveis contrastes de sua vida e seu tempo em suas próprias palavras e nas palavras de seus amigos, contemporâneos e de sua família. Nas publicações, Darwin não era muito dado a formulações aforísticas e era cauteloso na maneira como expressava suas ideias científicas. No entanto, as cartas e os cadernos pessoais revelam como seus pensamentos eram corajosos e incisivos. Sua afeição pelos amigos e pela família é muito evidente na correspondência, e Darwin experimentou muito dos mesmos transtornos, preocupações familiares, alegrias e desgostos par-tilhados por outros vitorianos.

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Como um dos mais famosos cientistas, Darwin merece um volume como este, que fornece pronto acesso às ideias mais importantes que ele propôs, às dificuldades e críticas com que deparou, informações reveladoras sobre sua personali-dade e vida familiar, tudo em suas próprias palavras ou nas de seus contemporâneos. Estão aqui incluídos o tempo que ele passou na viagem do Beagle, seu prazer na observação da história natural, os anos empolgantes em que se deparou com a ideia de evolução e a composição e acolhida de seu célebre A origem das espécies.

Darwin foi também um entusiasta escritor de cartas, um homem que gostava da vida em família e apreciava seus ami-gos. Os leitores descobrirão, por exemplo, que ele gostava de jogar bilhar, porque “expulsa as horrendas espécies da minha cabeça”. Sua personalidade ressalta de suas palavras, tanto as pessoais quanto as públicas. Tomado como um todo, este li-vro fornece uma imagem do homem como cientista profunda-mente ponderado, escritor de talento, pai, amigo, correspon-dente e marido amoroso.

Talvez alguns leitores achem que omiti os comentários de Darwin preferidos por eles – pelo que peço desculpas. Espero, contudo, que os extratos aqui apresentados levem os leitores a explorar mais a fundo cartas, cadernos e escritos publicados de Darwin; e que o homem ganhe vida para eles a partir da palavra escrita, como ganhou para mim.

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parte i

Juventude e a Viagem do Beagle

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Charles Darwin, desenho em aquarela de George Richmond, 840.

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Fundamentos

Nada poderia ter sido pior para o desenvolvimento de minha mente que a escola do dr. Butler [em Shrewsbury], pois ela era estritamente clássica, nada mais sendo ensinado exceto um pouco de geografia e história antigas. A escola como meio de educação para mim foi simplesmente algo insignificante.

Autobiografia, 27

Rememorando tão bem quanto posso meu caráter durante mi-nha vida escolar, as únicas qualidades que nesse período pare-ciam promissoras eram que eu tinha gostos fortes e diversifica-dos, muito zelo por tudo que me interessava e um agudo prazer em compreender qualquer assunto ou coisa complexa. Aprendi Euclides com um professor particular e lembro nitidamente a intensa satisfação que as claras provas geométricas me deram.

Autobiografia, 43

Perto do término da minha vida escolar, meu irmão trabalhava arduamente em química e fez um laboratório razoável, com equipamento adequado, no galpão de ferramentas do jardim, e eu tinha permissão para ajudá-lo como assistente na maioria de seus experimentos. Ele fazia todos os gases e muitos com-postos, e eu li com atenção vários livros de química, como Chemical Catechism, de Henry [G. Bohn] e [Samuel] Parkes. O

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assunto me interessava enormemente, e nós com frequência continuávamos trabalhando até altas horas da noite. Essa foi a melhor parte de minha educação na escola, pois me mostrou de maneira prática o significado da ciência experimental. O fato de que trabalhávamos em química de algum modo tor-nou-se conhecido na escola, e, como era um fato sem prece-dentes, fui apelidado de “Gás”.

Autobiografia, 45-6

A instrução em Edimburgo [na Universidade de] era total-mente à base de Palestras, e estas eram intoleravelmente te-diosas, com exceção daquelas sobre química de [T.C.] Hope; no entanto, em minha opinião, não havia nenhuma vantagem mas muitas desvantagens nas palestras, comparadas à leitura. As palestras do dr. Duncan sobre Matéria Médica às oito horas de uma manhã de inverno são algo terrível de lembrar.

Autobiografia, 46-7

Durante meu segundo ano em Edimburgo assisti às palestras de [Robert] Jameson sobre Geologia e Zoologia, mas elas eram incrivelmente tediosas. O único efeito que produziram em mim foi a determinação de jamais, enquanto eu vivesse, ler um livro sobre Geologia ou estudar essa ciência.

Autobiografia, 52

Morava em Edimburgo um negro que tinha viajado com [Char-les] Waterton e ganhava a vida empalhando aves, o que fazia

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de modo excelente; ele me deu aulas em troca de pagamento, e eu costumava muitas vezes me sentar com ele, porque era um homem muito agradável e inteligente.

Autobiografia, 5

Também estive, em duas ocasiões, na sala de cirurgia do hos-pital em Edimburgo e presenciei duas operações muito ruins, uma numa criança, mas saí correndo antes que terminassem. Jamais voltei a comparecer, pois quase nenhum incentivo teria sido forte o bastante para me levar a fazê-lo; isso se deu muito antes dos dias abençoados do clorofórmio. Os dois casos me assombraram durante longos anos.

Autobiografia, 48

Durante os três anos que passei em Cambridge [na Univer-sidade], meu tempo foi desperdiçado, no que dizia respeito aos estudos acadêmicos, tão completamente quanto em Edim-burgo e na escola.

Autobiografia, 58

Por força de minha paixão pelo tiro e pela caça, e, quando isso falhava, por calvagar pelo campo, entrei num círculo esportivo [na Universidade de Cambridge] que incluía alguns rapazes dissolutos e vulgares. Costumávamos jantar juntos com fre- quência, embora esses jantares muitas vezes incluíssem ho-mens de um nível superior, e nós às vezes bebêssemos demais, com cantos alegres e jogo de cartas depois. Sei que deveria