dados internacionais de catalogação na publicação (cip) file10 a luz alaranjada fraca...

14

Upload: vanhuong

Post on 27-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,
Page 2: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,
Page 3: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Villela, Vinícius Desolação dos céus - Suspiro do frio eterno / Vinícius Villela – Maringá : Viseu, 2018.

ISBN 978-85-5454-530-7

1. Ficção científica 2. Literatura brasileiraI. Villela, Vinícius II. Título.

82-311 CDD-869.93

Índice para catálogos sistemáticos:

1. Ficção científica : Literatura brasileira B869

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qual-quer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, in-cluindo ainda o uso da internet, sem a permissão expressa da Editora Viseu, na pessoa de seu editor (Lei nº 9.610, de 19.2.98).

Editor

Thiago Regina

Projeto Gráfico e Editorial

Rodrigo Rodrigues

Revisão

Ana Angélica Miranda Ramos

Copidesque

Jade Coelho

Capa

Tiago Shima

Copyright © Viseu

Todos os direitos desta edição são reservados à

Editora Viseu

Avenida Duque de Caxias, 882 - Cj 1007

Telefone: 44 - 3305-9010

e-mail: [email protected]

Page 4: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

9

Capítulo 1

O anseio chegou ao fim. A tão aguardada espera deixou-lhe de torturar a alma estagnada no vazio do espaço. A adrenalina começa a permear

sua mente, seu corpo todo. Talvez chegando a aproximação do preenchi-mento interior que busca, suprir sua abstenção de propósito que sempre causou a prolífera tristeza e isolamento que sentia intensamente. “Os outros já levantaram, como esses infelizes conseguem ter horários e rotinas no meio desse nada?” – pensou.

Vestiu seus coturnos. Foi para o banheiro que tem a infelicidade de compartilhar com seu esquadrão tirou seus cabelos castanhos claros de seu rosto ainda adolescente. Abriu a torneira e despejou água em sua mão, fez uma concha e a atirou em sua face, ainda inchada devido ao sono enquanto pensava: “O estranho dentro desse caixão metálico espacial é que o escuro parece ser mais negro ainda... Como é bom saber que finalmente chegamos”.

Procurou no meio de suas tralhas, embaixo de seu baú, o uniforme que exala não apenas um leve odor de suor, mas também a falta de opções que dispôs durante sua breve existência.

Muitos queriam tal vestimenta, com esse emblema particularmente brega. O escudo prateado de bordas douradas, com as iniciais em preto e a Via Láctea ao fundo, galáxia que era tão inalcançável há tempos não tão remotos. A sigla MNC – Marinha das Nações Confederadas. Tantos são os que querem deixar seus planetas para adentrar o inexpugnável espaço com a temida frota do Governo das Nações Confederadas. Para Benjamim, todo esse glamour, honra e coisas a serem vivenciadas é um fardo pesado.

Após se vestir, foi andando pelos achatados, retangulares e longos típi-cos corredores perfurados de portas automáticas. Todas as Fragatas pare-ciam iguais, talvez fossem mesmo, não teve o desprazer de visitar muitas. Foram poucos os trajetos que fez na nave; de seu dormitório para a aca-demia, algumas poucas vezes no estande de tiro, onde exibia sua notável habilidade com armas, uma das poucas atividades que a vida militar lhe proporcionava a qual ele gostava. Após mais alguns metros andando, ouviu o barulho de ar comprimido escapando junto com o abrir da porta.

Page 5: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

10

A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata, ainda estava conversando com alguns homens de alta patente que Ben nem saberia nomear antes de co-meçar com as instruções. Procurar seus companheiros no meio de mais de 600 homens foi complicado, após passar por soldados posicionados nas primeiras fileiras, próximos da entrada, achou seu esquadrão, Malta.

Sentou-se do lado de um soldado especialmente carrancudo, facilmente passaria a altura de homens de baixa estatura apenas sentado, seu braço era o equivalente a dois do próprio Ben, que tinha um físico atlético. Se esfor-çava a imaginar como aquele bicho tinha a agilidade de um soldado TNP, ex-função do carcamano que, tirando sua nacionalidade e seu nome, Vin-cenzo, não sabia mais nada do veterano. -Moleque largado, burro, nem pra acordar no horário serve, peso morto. Vai ser engraçado você lá embaixo.

Ben ainda se surpreende com a grave e rasgada voz do gigante careca, nem se deu o trabalho de responder, tanto o que foi dito, quanto a forte cutucada com cotovelo que levou após se sentar e empurrar o Vincenzo para o lado, já que estava muito na beirada do banco.

- Calem a boca e sem graças, tentem prestar o mínimo de atenção nas instruções, isso não vai ser parecido com nada que já fizemos. — a voz orgulhosa de Samuel, inconfundível com seu sotaque britânico, cochichou até o moleque e Vincenzo. Ben nem tinha visto o resto do esquadrão.

Mirou em direção a Samuel, que estava com seu rosto nobre e masculi-no, seus olhos frios e severos ao aguarde do olhar de Benjamin. Novamen-te, sem responder a interação, Ben reparou, antes de voltar sua atenção ao meio da sala, no já atento Zola, que aguardava o começo das instruções.

Morris se aproximou da mesa holográfica, tocou alguns menus na tela e emergiu o destino do 21o Batalhão.

- Col’Dath. — pronunciou secamente, com uma voz fria, digna de seu cargo, devido a demanda de disciplina que a mesma solicitava—Morte fria, como chamam os Drakus.

— Ha, se fudeu, Beiço Gordo. Prepara pra congelar lembrando da sua mãe África! — Vincenzo não perdia chances de provocar qualquer um do esquadrão, dessa vez tendo Zola como alvo, fazendo assim, sentimentos não muito amorosos despertarem em seus companheiros.

Page 6: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

11

— Sabemos pouco sobre o terreno, —continuou Morris — e muito me-nos da flora ou fauna, que não tenham dúvida, irão lhe desafiar e, prova-velmente, matar. O clã Shalafon forneceu apenas a localização da escória pirata que veio de nosso sistema.

Alguns pontos no holograma do Planeta se acenderam, sua totalidade no polo norte do planeta.

— Senhores, não se enganem. Não é porque se trata de meros crimi-nosos humanos que essa missão não é de suma importância ou de grande risco. Temos muito em jogo, sabemos que os Drakus não são uma raça que queremos arranjar intriga e, se trouxemos problemas de nossa natureza, devemos cuidar deles nós mesmos, se não estivermos com desejo de causar uma guerra com os dragões. Coisa que acho que não preciso dizer o quão horrível pode ser, mantenham isso em sua cabeça, por favor. Morram, mas não façam merda.

Ben nunca tinha visto um Drakus pessoalmente e sabia que pratica-mente ninguém ali também teve tal experiência, porém, era repercutido na mídia inúmeras imagens do primeiro encontro sangrento da MNC com os mesmos. Morris não errava ao chamá-los de dragões, tirando o fato que não cuspiam fogo e que não eram tão gigantes assim, e usavam laminas brilhan-tes e armas que atiravam energia pura que, como o bafo do ser mitológico com que começaram a ser equiparado, derretia pele humana como mantei-ga. Além dos dois metros e meio que, geralmente, possuíam, os seres bípe-des faziam Vincenzo parecer um esfomeado colono com seus músculos. O redor dos seus rostos era rasgado por espinhos como um autêntico dragão mitológico, seus olhos de cobra, amarelos com suas pálpebras verticais, suas peles, em grande maioria, negras como o próprio espaço, chifres curvados saindo do topo de suas faces quase triangulares, bocas que, quando fechadas, inexpressivas, mas, quando abertas, desvelavam fileiras infinitas de dentes.

Tal aparência selvagem e draconiana não poderia ser mais oposta à maneira que se portam, ao menos levando em consideração os modos e costumes dos poucos Drakus observados, que eram seres com graciosidade de combate quase felina (pelo menos o quão gracioso um monstro de 600 quilos e armaduras que fariam qualquer cavaleiro medieval invejar podem ser). Tinham aspecto extremamente nobre, possuíam códigos de honra res-tritos e forma de governo militarista.

Page 7: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

12

Benjamim admirava-os secretamente. Caso revelasse isso, receberia olhares furiosos mais intensos do que já convive corriqueiramente se mos-trasse empatia a um possível futuro inimigo, que ceifou a vida de milhares de humanos, em apenas uma batalha sangrenta em 2245. Talvez os pais de alguns dos soldados do Batalhão tiveram seus fins nas mãos de algum dra-gão. “Infelizmente, não o do meu...” - pensou Benjamin, com ódio.

Lembra-se da confusão em saber o quanto as pessoas criaram ódio pe-los dragões devido ao único conflito que tiveram. Aos poucos, entendeu que se tratava só de mais um grupo que os humanos odeiam e desconhe-cem na mesma intensidade, como sempre fizeram.

E sabia, também, que os contrabandistas e criminosos humanos que agora estavam na maioria das colônias dos Drakus, estavam fazendo um mal muito maior que, apenas um conflito entre as espécies, causou na hu-manidade. Mas, mesmo assim... Ele via o desgosto na maioria colossal dos soldados ali presentes em cumprir tal missão, acham que a escória da socie-dade está mais do que bem encaixada com os inimigos da humanidade. A indiferença e o olhar com repulsa que sempre ocorreu dentro de nossa pró-pria espécie, achou a cavidade perfeita para tomar conta e necrosar. “Que aguardem o calor humano”. - pensou Ben - “Que aguardem nosso grande abraço de merda cercar seus planetas”.

Após divagar em seus pensamentos, Ben voltou a ouvir Morris. —... Qualquer descuidado ou evento que cause algum dano as socieda-

des desse planeta, serão extremamente prejudiciais para as, já mergulhadas em merda, “relações diplomáticas” — em claro tom sarcástico — que temos com os dragões. Sim, senhores, é um lugar praticamente inóspito. Por um lado, tivemos sorte grande de não termos muitos dragões pouco amigáveis aqui, mas, no entanto, nós não temos vaga ideia do que estamos nos pro-pondo ao entrar aqui, apenas sabemos que não devemos entrar em guerra com a primeira raça alienígena que encontramos após quase dois séculos de exploração espacial. Ainda mais uma com um poderio bélico tão elevado.

Após longa pausa, retomando dessa vez, com mais seriedade ainda em sua voz.

—É de suma importância que os senhores saibam que, independente dos Shalafon serem os líderes de maior representatividade, as sociedades dos Drakus possuem inúmeros clãs diferentes, uns menos amigáveis que

Page 8: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

13

outros. E é da ciência dos mesmos, que também não toleraremos atos de agressões gratuitos, podendo responder com força proporcional, repito para entenderem, com força proporcional a tais agressões.

Após enfatizar a possibilidade de conflito com dragões, Morris notou uma certa alegria surgindo entre os soldados; estava soltando um bando de bichos sanguinários para um Planeta completamente inóspito e sem go-verno algum, e tinha medo dos frutos que isso resultaria, mas tinha o saber necessário que, caso a MNC não atendesse o recado dos Shalafons, os re-sultados colhidos seriam consideravelmente piores, ao menos é o que pensa que seus superiores concluiriam.

Por fim, para finalizar seu briefing, pigarreou, para evitar qualquer pe-quena conversa que suas últimas palavras tinham iniciado, e começou a falar novamente:

— A estrutura da missão será atacar os pontos de contrabando ou o que quer que seja que esses merdas estejam fazendo, destruir completa-mente suas mercadorias e eliminar todos os criminosos dos locais. Todos, não podemos deixar forma de organização nenhuma restante que possa continuar operando. Como já perceberam, serão enviados em Corvetas do modelo padrão utilizado por nossas forças, Air Knifes. Uma companhia por Corveta. Os senhores manterão grande distância para cada esquadrão, para manter mais vasta nossa área efetiva de ação. Pretendemos encerrar a colaboração da Fragata Solstício na Operação Coleira em duas semanas, no máximo. Boa sorte, senhores. Mais detalhes sobre os pontos de inserção de cada esquadrão e quando serão desembarcados em Col’Dath, serão dados aos líderes de cada esquadrão. Que sejamos ardilosos e irrefreáveis, como sempre fomos. Nam Gloria!

Em coro, repetiram todos os soldados ali presentes as palavras em la-tim. Ben com menos vigor e animação. Mas sabia que esse era o momento de se julgar diferente de todos, melhor, com propósito, sem o rancor que os soldados guardam pelos Drakus e a própria falta de real objetivo dos mesmos, que se atrelam a disciplina militar e se sentem melhores que os outros por serem obediente e sem poderem pensar de maneira indepen-dente. Mesmo sabendo de seus problemas, de seus próprios sentimentos amargos, em seus pensamentos julgava seus pesares como compreensíveis, ao contrário de todos os outros, que mal sabiam o que é passar a vida jul-gado pelo alheio.

Page 9: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

14

Eis sua semelhança e razão de seus sentimentos de admiração pelos dra-gões, os quais ele poderia ajudar durante sua missão, mostrando para si mes-mo sua capacidade de fazer o bem, seu verdadeiro valor. Uma oportunidade que a operação lhe daria para provar a distinção que sente ardentemente em seu interior. Almeja vorazmente saciar a falta de perspectiva que sofreu por quase todos seus 21 anos. E esta era sua chance. O universo lhe sorria.

{}

Adentrou o refeitório. Mesmo sem sujeira aparente, sentia a oleosidade dentro do ambiente, talvez coisa de sua própria cabeça, talvez devido a falta de higiene que deveria ser perfeita em uma Fragata completamente fechada no meio do espaço por meses. Todo o ambiente já havia adquirido um odor artificial e malcheiroso.

Visualizou seu esquadrão novamente, Vincenzo comendo de manei-ra rude, como já estava acostumado. Ben se alienava para evitar notar os hábitos animais do colosso soldado, com o intuído de poder comer sem se nausear. Samuel e Zola, contrastando as maneiras esdrúxulas do italia-no, estavam comendo como pessoas normais. Caminhou entre inúmeras mesas metálicas que se assemelhavam com todo o resto daquela maldita nave. Surpreendeu-se ao observar outros soldados comendo com a mesma agressividade que Vincenzo comia, percebeu um aumento desses modos bestiais. “Contagioso, suponho”. Após mais alguns passos com visível pou-ca vontade, sentou-se precavidamente afastado do Bicho, mas ainda peri-gosamente no mesmo banco.

— Eu iria mais alguns centímetros para o lado, mas admiro a coragem, vamos precisar. — desdenhou Sam, sabendo que seria ignorado por Vin-cenzo, pois ele não diminuiria o ritmo de sua refeição para insulta-lo. Após notar a leve risada de Ben, pronunciou-se, agora mais secamente, após tra-var seu maxilar contundente e suspirar, suspiro esse que foi notado por todos na mesa, já alertando que não seriam boas novas.

— O local de nossa missão... É... No mínimo, fodido. Estamos muito perto do Polo Norte do Planeta, mais próximo ainda que a maioria dos esquadrões acabaram sendo... — estrondou um arroto até delicado para os padrões de Vincenzo, que interrompeu sua fala. Sam viu que ele tinha terminado de comer após olhar até com pavor de ver aquele prato vazio,

Page 10: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

15

sabia que Vincenzo ia começar o bostejo, como Ben chamava os monólogos grosseiros do brutamonte careca. Sutilmente, Sam finalizou sua frase —...destacados.

Com um olhar esverdeado, sempre com aparência ávida de raiva, seu nariz torto e grande, com alguns poucos poros minúsculos de antigos cravos, torceu suas sobrancelhas ralas, posicionadas em seu fechado rosto, de ma-neira que indicava seriedade, retas e rente aos olhos e começou seu bostejo:

— Primeiro, seu borra bosta, espera eu terminar de comer pra começar a falar, porque se vamos falar da porra da operação, coisa que eu vou querer falar também, não quero ficar interrompendo a merda da minha comida de entrar na minha boca. Segundo, e prestem atenção que quem tem experiên-cia nessa merda sou eu, estamos num lugar fodido, de um planeta que já é fodido por si só, hai capito la vostra merda? No entanto, não podemos pen-sar em ficar de cu doce quando tivermos lá embaixo, não quero bosta nova atrapalhando a porra da nossa missão, isso serve pra vocês, beiço gordo e pro esquisitinho ali. E você, líder de esquadrão Samuel, não fica achando que porque matou uns pés de barro por aí, que está pronto pra esse turbi-lhão de piroca na cara que nos metemos, cazzo.

Mesmo todos sentindo borbulhante raiva do famoso bostejo que foi mais exagerado que costuma ser, todos ali sabiam que Vincenzo estava cer-to e, realmente, ele era o mais experiente. Tinha sido um TNP (Tropas Na-vais Pacificadoras), força especial militar de infantaria mais mortal criada na história da humanidade. Tinham um treinamento onde pouquíssimos militares sabiam como lhes eram ensinados, mas o que era ensinado, para todos, era extremamente claro: matar de maneira sobrenaturalmente fria, com uma destreza e habilidade sobre-humana, se havia melhoras físicas e mentais de maneira artificial, eram de grande sutileza. Muito do poten-cial assassino dessas tropas vinham do provavelmente ridículo e desumano treinamento que, incompreensivelmente, durava, apenas, cerca de um ano.

Tal Força Especial quase foi extinta poucos anos antes do confronto com os Drakus por alegarem “falta de uso para violência tão exacerbada”.

Porém, dois soldados TNP mataram um Kalron no único confronto en-tre seres humanos e Drakus, sendo os Kalrons (ou Nascido de Sangue em nossa língua) o mais próximo de um imperador para os alienígenas. Estas ações inesperadamente salvaram todos os presentes de serem aniquilados

Page 11: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

16

pelas forças Drakus. Os guerreiros dragões ficaram incrédulos com a morte de seu líder para

uma raça frágil e indisciplinada, e então, desestabilizados, cessaram ataque, deixando as poucas centenas de sobreviventes, dos mais de 15000 soldados da Arca Pardal Livre, saírem do planeta, sem mais nenhum derramamento de sangue.

Após um silêncio pesado, porém breve, além de olhares curiosos de outras mesas, Sam finalmente, com voz menos imponente que de costume, e com seus finos olhos de pupilas quase desaparecendo e sendo cobertos por seus loiros cabelos médios escorrendo devido a cabeça baixa, responde:

— Vincenzo, acho que já está bem claro o tanto de risco que vamos passar, não precisamos de sermões vindo de você para nos alertar isso, eu sou a porra do líder, quer queira, quer não, e quem vai orientar o compor-tamento de vocês, sou eu!—ao notar Vincenzo se preparando pra falar com voz mais elevada e olhos arregalados, Sam sussurrou de maneira a compri-mir sua raiva dentro de si —Agora, quem fala sou eu, seu merda. — com expressão horripilante e com veias saltando em sua cabeça careca, Vincen-zo fechou sua boca, mas seu olhar para Samuel era de ódio puro, e o líder do esquadrão interpretou a mensagem e sabia que não deveria provocar o carcamano novamente, para não provocar uma briga que sabia que não poderia vencer. Tentando terminar de falar antes de avermelhar sua face, Sam prosseguiu:

- Sim, vamos passar sufoco nessa operação.— agora olhando para Zola e Ben, sendo que Zola estava visivelmente atordoado pelo que Vincenzo falou — Mas os senhores não estão nessa companhia por mero acaso, inde-pendente da experiência que Vincenzo tem...—direcionou seus olhos, ago-ra mais confiantes, em direção à Vincenzo, conseguindo encarar a expres-são que continuava contorcida e horrível —... os senhores são qualificados para atividade em campo, sendo você Ben, devido as grandes capacidades de combate, e Zola, com intelecto sobrando para nos ajudar de quaisquer maneiras possíveis, incluindo em combate com habilidades, não menos im-pressionantes que as de Benjamin.

Mesmo com notas terríveis nos conhecimentos teóricos no Centro de Infantaria Espacial de Ludlow, Ben conseguiu se formar e virar Cabo da MNC, devido ao excepcional teste de combate que fez em sua conclusão

Page 12: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

17

de curso. O jovem, até então, calado, percebeu como a expressão de Zola mudou após as palavras de Sam serem ditas. No entanto, sabia que Zola não tinha grande habilidade em combate como foi dito por Samuel, era o opos-to de Ben, teve grandíssimas notas, mas sempre pecou nos testes físicos. Mesmo tendo porte físico bom, como todos ali, ele estava abaixo do nível necessário para uma missão como essa.

Provavelmente, sua falta de habilidade era provocada devido a infân-cia conturbada no arrasado Zimbábue, que nunca se recuperou da Guerra Gênesis que se iniciou ha 70 anos (2197-2200). Esse conflito originou-se de rebeldes que cortaram o suprimento de Gênesis em busca de se tornarem autossuficientes no Planeta Próxima B, e buscarem independência da Terra e do Governo das Nações Confederadas, sendo Próxima, a primeira colônia humana habitável fora do Sistema Solar e extremamente importante econo-micamente. Esse combate resultou em um colapso financeiro na Terra, o que provocou uma resposta agressiva do GNC. Tal guerra, foi a razão da criação dos TNP, que defenderam a Terra dos violentos contra-ataques Próximianos.

O minério que nomea a guerra e é razão de milhões de lápides, Gêne-sis, é um minério extremamente energético e autossuficiente, que fornece energia infinita, desde que receba calor suficiente para não se colidir em sua própria densidade absurda. Ele foi descoberto em meteoros no Siste-ma Solar de Próxima. Era energia limpa, que a Terra tanto havia suplicado para achar antes de começar a ruir pela falta de recursos naturais e que foi encontrado e utilizado ainda a tempo de reverterem os danos terríveis ao ecossistema do planeta.

Devido aos rebeldes terem executados diversos bombardeamentos a Terra e, principalmente, a África, em razão de suas menos sofisticadas de-fesas orbitais, inúmeros países pobres acabaram nunca se recuperando da devastação intensa. Zola viveu nessa devastação até poder se mudar para África do Sul e colocar sua mente brilhante em uso e, por toda essa história, Benjamin sentia enorme admiração por ele, porque enxergava um objetivo e propósito claro dentro do rapaz, que sempre buscou para si mesmo.

Após recuperar a confiança perdida com o que Vincenzo disse e após Sam ter motivado tanto Ben quanto ele, Zola mordeu seu grande lábio in-ferior e, confiantemente, diz:

- Tenho certeza que não vou ser um saco pesado para ficarem carregan-

Page 13: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

18

do quando estivermos lá embaixo e, se prepare, seu italiano metido e burro, para abaixar sua cabeça pra mim e admitir o quanto estava errado. —após terminar com um sorriso exalando confiança, Zola e praticamente todo o refeitório, ouviram a estrondosa risada de Vincenzo, que mesmo sendo tão escandalosa, não era forçada. Depois de conseguir parar de rir, olhando para a cara de Zola, que demonstrava claro estranhamento e embaraço, o ogro limpou a lágrima que desceu no meio de sua gargalhada e, com seu sorriso amarelo e irônico, disse:

— Não vou abaixar a cabeça pra você nem se conseguir, literalmente, comer um cu de dragão no meio dessa operação. - Voltou a rir descontro-ladamente mas, dessa vez, um pouco mais baixo. Infelizmente, não baixo o suficiente para metade do refeitório não o ouvir.

Zola, com um sorriso igualmente irônico, respondeu: - Veremos então, carcamano feio.- Por nossa Signora, ai caralho! — ainda voltando a recuperar o fôlego

—Veremos, beiço gordo. Até Benjamin se contagiou levemente com a mudança de clima pe-

sada para algo mais alegre, eram esses momentos que faziam as pessoas aguentarem Vincenzo. Mesmo sendo um babaca completo, era um mongol enorme que, de certa forma, conseguia ser engraçado, com seu jeito bruto e exagerado em tudo.

Ben, então, finalmente abriu a boca, após deixar de sorrir: — Continue com os detalhes que faltam, Subtenente. Sam atendeu o pedido. — Certo, como estava dizendo.... Estamos no extremo norte do plane-

ta, vamos sofrer com temperaturas de -55 graus. Mas estaremos equipados para conseguir sobreviver, em custa da agilidade que teríamos, caso estivés-semos em outro ambiente.

- Custa para vocês, bando de inúteis cabaços, que não conseguem se preparar. —Retrucou Vincenzo, porém ignorado por Sam

— Iremos na Corveta Pegasus — Continuou o Subtenente — com o esquadrão Groulles, Vermelho e Amarelo. Seremos os últimos deles a de-sembarcar.

— Nenhum esquadrão TNP vai ser destacado pro Planeta? — pergun-

Page 14: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) file10 A luz alaranjada fraca propagava-se no meio da sala de instruções, para sua sorte, Morris, o Almirante de Fragata,

19

tou Ben. — Não, nenhum. Eles vão acabar sendo destacados para os planetas

com maior população Drakus, vão precisar ser cirúrgicos, para evitar al-gum conflito maior.

— E serão, — falou Vincenzo com grande pompa — sempre somos! Queria eu estar lá naquela zona, com gente do meu lado que não tá se ca-gando a cada passo.

— Estamos muito tranquilos, pode ter certeza, já bastou um bostejo por hoje. — Ben retrucou, friamente, como sempre costuma ser.

— Moleque do diabo! quero ver seu excelente desempenho de combate que tanto Sam fala, pra bichinha aí ter algo na vida pra se orgulhar. — falou indignado — Lá embaixo, já basta o Zola cagão pra atrapalhar, vê se não fode.

- Não irei atrapalhar, Vincenzo. Não irei.Após pegar sua bandeja azul com seu prato já vazio desde o momento

em que Ben se juntou a eles, levantou do duro banco metálico e, com tom de encerramento, Sam disse:

— Iremos descer daqui 10 horas, aproveitem e vão dormir. O inferno gelado nos aguarda e, com ele, vem a morte daqueles merdas lá embaixo. Nam Gloria, Esquadrão Malta.

— Nam Gloria.—responderam. Zola repetiu o gesto de Samuel, pegou sua bandeja, despejou-a no lixo

e se retirou. Com a famosa cotovelada de sempre, Vincenzo se despediu:— Falou, esquisito. Tenta não se cagar de medo dormindo.- Digo o mesmo pra você, Bicho.Agora sozinho, Ben começou a comer a porcaria já gelada que jazia em

seu prato, queria jantar tranquilamente antes de dormir.

{}