da questão maçônica e as resoluções do supremo concílio - notas de rodapé

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SUMÁRIO I - INTRODUÇÃO ............................................................................................... 2 II LINGUAGEM JURÍDICA.............................................................................. 4 III AS RESOLUÇÕES DE 2006 E 2007 .......................................................... 6 3.1. O Supremo Concílio de 2006 ................................................................ 6 3.2. A Comissão Executiva do Supremo Concílio de 2007 ....................... 8 4.1. Definição de Regulamento .................................................................. 12 4.2. Eficácia e Aplicabilidade das Normas no Direito Constitucional .... 15 4.2.1. Normas Constitucionais de Eficácia Plena ................................. 15 4.2.2. Normas Constitucionais de Eficácia Contida ............................. 16 4.2.3. Normas Constitucionais de Eficácia Limitada ............................ 17 4.2.4. Diferença entre as Normas de Eficácia Contida e Limitada ...... 17 4.2.5. Aplicação das Categorias à Resolução SC-2006 Doc. CIV ..... 18 V VIGÊNCIA E APLICABILIDADE ............................................................... 21 VI CONCLUSÃO ........................................................................................... 22

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O texto traça breve histórico acerca da Maçonaria e a Igreja.

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Page 1: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

SUMÁRIO

I - INTRODUÇÃO ............................................................................................... 2

II – LINGUAGEM JURÍDICA.............................................................................. 4

III – AS RESOLUÇÕES DE 2006 E 2007 .......................................................... 6

3.1. O Supremo Concílio de 2006 ................................................................ 6

3.2. A Comissão Executiva do Supremo Concílio de 2007 ....................... 8

4.1. Definição de Regulamento .................................................................. 12

4.2. Eficácia e Aplicabilidade das Normas no Direito Constitucional .... 15

4.2.1. Normas Constitucionais de Eficácia Plena ................................. 15

4.2.2. Normas Constitucionais de Eficácia Contida ............................. 16

4.2.3. Normas Constitucionais de Eficácia Limitada ............................ 17

4.2.4. Diferença entre as Normas de Eficácia Contida e Limitada ...... 17

4.2.5. Aplicação das Categorias à Resolução SC-2006 – Doc. CIV ..... 18

V – VIGÊNCIA E APLICABILIDADE ............................................................... 21

VI – CONCLUSÃO ........................................................................................... 22

Page 2: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

2

DA QUESTÃO MAÇÔNICA E AS RESOLUÇÕES DO SUPREMO

CONCÍLIO/2006 E DA SUA COMISSÃO EXECUTIVA/2007

Rev. Alan Rennê Alexandrino Lima1

I - INTRODUÇÃO

É do conhecimento de muitos que há na minha denominação uma

discussão a respeito da Maçonaria, que já ultrapassa um século de existência.

Desde o ano de 1898, a questão maçônica tem sido levantada no seio da Igreja

Presbiteriana do Brasil, deixando o seu rastro, como por exemplo, a cisão de

1903 e o surgimento da Igreja Presbiteriana Independente. A este respeito, o

historiador Vicente Temudo Lessa afirma o seguinte: “Outra questão, porém,

suscitou-se em fins de 1898 que iria pesar muito na balança, trazendo consigo

sérias consequências. Teria de ser a gota a transbordar o cálice, a causa

preponderante da cisão de 1903”.2

A Igreja Presbiteriana do Brasil, ao longo de mais de um século de

debates acirrados e apaixonados, apresentou resoluções que contemplaram

tanto o partido pró-maçonaria quanto o partido contrário. No entanto, nas duas

últimas reuniões ordinárias do Supremo Concílio (SC-IPB), em 2002 e 2006, as

resoluções se pronunciaram contra a recepção de membros ligados à

Maçonaria e à condução de maçons ao oficialato da igreja.

1 O autor é ministro presbiteriano, servindo como pastor-efetivo na Igreja Presbiteriana

Filadélfia (Marabá-PA), Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste – Memorial Igreja Presbiteriana da Coréia (Teresina-PI), Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo-SP), e Mestrando em Teologia (Sacrae Theologiae Magister), com concentração em Teologia Sistemática pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper do Instituto Presbiteriano Mackenzie (São Paulo-SP).

2 Vicente Temudo Lessa, Annaes da 1ª Igreja Presbiteriana de São Paulo, págs. 581, 583-586,

608, 609, 623 e 626, Apud Júlio Andrade Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. 1, (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992), 440.

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3

É meu objetivo discorrer um pouco a respeito da resolução promulgada

na Reunião Ordinária do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil em

2006, bem como sobre a deliberação da Comissão Executiva do Supremo

Concílio3 no ano seguinte (2007). A necessidade se dá em face das más

interpretações (muitas, na verdade, convenientes aos interesses de uma

parcela da denominação) de alguns irmãos contrários à Maçonaria.

É mister acrescentar que não sou maçom e não tenho nenhum

interesse pessoal na matéria. Também não possuo formação jurídica. Sou

apenas um desassossegado, que não se conforma com afirmações evasivas e

evidenciadoras de ignorância interpretativa. Tenho muitas dúvidas a respeito

desse debate. Conheço os argumentos favoráveis e os contrários. Gastei

tempo estudando a Constituição de Anderson e alguns dos Landmarks,

documentos oficiais da instituição. Reconheço que muitos dos irmãos

contrários à Maçonaria nunca leram tais documentos, mas apenas obras

sensacionalistas produzidas por autores guiados por pressupostos teológicos

questionáveis. Ainda assim, não desejo ser rotulado como defensor ou opositor

da causa. Meu desejo sincero é que tal celeuma cesse, e que a harmonia seja

a tônica na denominação que amo e onde sirvo. Só não posso concordar e me

calar com afirmações ignorantes, desonestas e fraudulentas, que servem

apenas para ferir uns aos outros. Há alguns apedeutas que se fiam em

afirmações errôneas de autoridades conciliares, hermenêutica duvidosa e em

estratagemas como o Retorsio argumenti, que de acordo com Schopenhauer,

3 De acordo com o Regimento Interno da Comissão Executiva do Supremo Concílio, em

seu Artigo 3º, é competência da comissão executiva: “a) representar civilmente a Igreja Presbiteriana do Brasil (CI/IPB, Art. 1º); b) gerir toda a vida da Igreja como associação civil (CI/IPB, Art. 97, alínea i)”. Cf. MANUAL PRESBITERIANO, (São Paulo: Cultura Cristã, 2008), 193.

Page 4: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

4

pode ser visto “quando o argumento, que o adversário quer usar a seu favor,

pode com mais razão ser utilizado contra ele”.4 No caso, a resolução da CE-

SC-IPB-2007 é clara em seus termos, porém, os militantes contrários à

Maçonaria retorcem o significado do que está escrito.

O presente trabalho iniciará com um esclarecimento imprescindível

concernente ao emprego da linguagem jurídica por parte da Igreja

Presbiteriana do Brasil. Em segundo lugar, serão discutidas as resoluções do

Supremo Concílio de 2006 e da sua Comissão Executiva em 2007. Em terceiro

lugar, será apresentado o significado de regulamentação administrativa, com

base no Direito Administrativo e Direito Constitucional. Por último, serão

apresentados os conceitos de vigência e aplicabilidade, os quais são

confundidos por muitos.

II – LINGUAGEM JURÍDICA

A Igreja Presbiteriana do Brasil, não obstante ser uma federação de

igrejas locais, cuja única regra de fé e prática é a Bíblia, possui uma

Constituição, um Código de Disciplina, Estatutos, Regimentos Internos,

Digesto5 e etc. Isso se dá por conta da necessidade de ordem e organização

eclesiástica e jurídica. Ademais, é um reconhecimento de que a ciência jurídica

4 Arthur Schopenhauer, Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão em 38

Estratagemas, (Rio de Janeiro: Topbooks, 2003), 157. O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, comentando o texto de Schopenhauer, afirma que, a retorsio argumenti, “é um giro retórico, ou mais propriamente oratório, cuja validade dependerá inteiramente do conteúdo dos argumentos envolvidos”.

5 DIGESTO: “Coleção das decisões dos jurisconsultos romanos mais célebres, transformados

em lei por Justiniano, imperador romano do Oriente (c. 483-565), e que é uma das quatro partes do Corpus Juris Civilis”. NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Versão eletrônica. No presente caso, o Digesto Presbiteriano é a coleção das decisões conciliares da Igreja Presbiteriana do Brasil, do período da antiga Assembleia geral até o atual período.

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5

é uma expressão legítima da operação da graça comum de Deus, pois, como

afirma o Reformador e advogado francês João Calvino:

Pois bem, poderemos negar agora que os antigos jurisconsultos tiveram grande clareza de sabedoria e prudência quanto estabeleceram uma ordem tão boa e uma política tão equitativa? Diremos que os filósofos eram cegos, quando vemos que eles estudavam tão diligentemente os segredos da natureza e os descreveram com tanto engenho e arte em seus escritos? Diremos que os que nos ensinaram a arte de discutir, que é como se fala com a razão, não tinham nenhuma inteligência, nenhum entendimento? Quanto às demais disciplinas, vamos considerá-las como loucuras? Muito ao contrário, não poderemos ler os livros escritos sobre todos esses assuntos sem nos maravilharmos. Pois nos maravilharemos, visto que seremos constrangidos a reconhecer a sabedoria e a prudência neles presentes. Pois bem, assim é que não devemos considerar coisa alguma como excelente e louvável sem reconhecer que procede de Deus. De outro modo, seria uma grande ingratidão nossa – ingratidão que não se vê nos poetas pagãos, que confessaram que a Filosofia, as Leis (o Direito), a Medicina e outras doutrinas são dons de Deus.6

O fato, é que a Igreja Presbiteriana do Brasil faz amplo uso de textos

normativos ou leis para o seu bom funcionamento político-eclesiástico. A

existência de algo denominado Técnica legislativa pode ser claramente

percebido pela constante redação de leis em sentido amplo, ou seja,

constituição, lei, resolução, estatuto, regimento, os quais são, tecnicamente

falando, textos legislativos ou normativos.7

A técnica legislativa empregada pela igreja, logicamente, demanda o

conhecimento, no mínimo básico, de conceitos oriundos do Direito, bem como

da hermenêutica jurídica. Durante quatro anos, os pastores da denominação se

6 João Calvino, As Institutas: Edição especial com notas para estudo e pesquisa, I, ii, 38, (São

Paulo: Cultura Cristã, 2006), 106. Ênfase acrescentada.

7 Valdinar Monteiro de Souza, A Importância do Manual Presbiteriano para o Crescimento

Harmonioso da Igreja, 2. Conferência apresentada na Igreja Presbiteriana Filadélfia, Marabá, Estado do Pará, por ocasião da reunião do Sínodo Tropical, Congresso da Confederação Sinodal das Sociedades Auxiliadoras Femininas (SAFs) e Encontro das Uniões de Homens Presbiterianos (UPHs), no período de 31 de julho a 2 de agosto de 2003.

Page 6: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

6

debruçam sobre conceitos teológicos e estudo sistemático das Escrituras.

Apenas nos dois últimos semestres é que o seminarista tem a disciplina

“Constituição e Ordem da Igreja Presbiteriana do Brasil”. Isso significa que o

conhecimento adquirido é apenas superficial, vindo a aumentar com a

experiência ministerial e conciliar. Não obstante, espera-se que haja o mínimo

de competência para se interpretar as leis e resoluções da denominação. Além

disso, o auxílio de profissionais que estudaram especificamente a ciência do

Direito é imprescindível para um bom entendimento das questões. Conceitos

como “acórdão”, “suspeição”, “regulamentação” e “substitutivo” podem ser

devidamente explicados por alguém com formação na área.

O grande problema surge quando alguém sem tal formação atribui

significados e interpretações arbitrárias aos textos normativos da denominação.

E é exatamente isso que tem acontecido com as resoluções

supramencionadas. Indivíduos com formação teológica apenas, e em alguns

casos, motivados por interesses pessoais, interpretam erroneamente a letra da

resolução da CE-2007, documento 176.

III – AS RESOLUÇÕES DE 2006 E 2007

3.1. O Supremo Concílio de 2006

Em 2006, aconteceu a XXXVI Reunião Ordinária do Supremo Concílio

da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Aracruz, no Espírito Santo. A reunião foi

realizada de 17 a 22 de julho no Sesc de Praia Formosa, contando com

aproximadamente 900 deputados (pastores e presbíteros). O Dr. Rev. Alderi

Souza de Matos, historiador oficial da denominação, escrevendo sobre as

resoluções do Supremo Concílio, afirmou o seguinte sobre a resolução a

Page 7: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

7

respeito da maçonaria: “Numa resolução ainda mais controvertida, pela

primeira vez em sua história o Supremo Concílio da IPB declarou a

„incompatibilidade‟ entre algumas doutrinas da maçonaria e a fé cristã,

proibindo a aceitação tanto de novos membros como de novos oficiais ligados

a essa instituição”.8

Eis a controvertida resolução do Supremo Concílio de 20069:

SC-IPB-2006 Doc. CIV – Quanto aos Docs. 06, 07 e 08 – SUBSTITUTIVO [...] 08 – Relatório da Comissão Permanente para estudos da mesma matéria [...]O SC-IPB RESOLVE: 1. Afirmar a incompatibilidade entre algumas doutrinas maçônicas, como as retromencionadas, com a fé cristã; 2.

determinar a não recepção de membros, à comunhão da igreja, de pessoas oriundas de maçonaria sem que antes elas renunciem à confraria; 3. não eleger, nem ordenar ao oficialato de igreja, aqueles que ainda estão integrados na maçonaria; 4. orientar com mansidão e amor aos irmãos maçons a, por amor a Cristo e sua Igreja, deixarem a maçonaria; 5. tratar com o máximo amor e respeito aqueles que ainda estão na maçonaria, para que seu desligamento seja feito pelo esclarecimento do Espírito mais do que por coerção ou constrangimento. Sala das Sessões, 21/07/2006.10

Apesar de não ser o meu foco no presente artigo, gostaria de tecer

alguns comentários a respeito da resolução supramencionada.

Em primeiro lugar, inquieta-me o apego exacerbado às declarações de

incompatibilidade, da não-recepção de novos membros ligados à maçonaria e

da não-eleição de oficiais maçons. Tal apego tem como consequência a

desconsideração para com o ponto nº 5 da resolução, que afirma ser

necessário o emprego do “máximo amor e respeito” para com os nossos

8 Alderi Souza de Matos, Uma Igreja Peregrina: História da Igreja Presbiteriana do Brasil de

1959 a 2009, (São Paulo: Cultura Cristã, 2009), 286. Ênfase acrescentada.

9 Dado o fato de que o documento é longo, cito apenas a resolução, deixando de lado os

considerandos apresentados pela Comissão. Não obstante, quem tiver interesse pode lê-los na ata do Supremo Concílio de 2006, disponível no site http://www.executivaipb.com.br.

10 RESOLUÇÕES SOBRE A MAÇONARIA NA IPB: DE 1900 ATÉ A CE-SC 2008, 7, 8.

Disponível em http://www.ipb.org.br. Ênfase acrescentada.

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8

irmãos ligados à maçonaria. Falo a partir da minha realidade local, onde há um

clima de hostilidade entre os membros, muitas vezes motivado por líderes

conciliares, o que é digno do mais profundo lamento. Simplesmente, não há

nem o mínimo amor nem o mínimo respeito. Há coerção e constrangimento!

Segundo, mesmo com a declaração de “incompatibilidade” e as

determinações citadas, faltam elementos legais para a execução e aplicação

da resolução do Supremo. É com isso em mente que passo à resolução

seguinte.

3.2. A Comissão Executiva do Supremo Concílio de 2007

No ano de 2007, a Comissão Executiva do Supremo Concílio da Igreja

Presbiteriana do Brasil se reuniu nas dependências da Igreja Presbiteriana de

Brasília. Nessa reunião, a CE-SC demonstrou imensa preocupação em relação

a alguns assuntos, como por exemplo, a descaracterização do culto bíblico-

reformado em muitas igrejas presbiterianas, a legalização do aborto e o

malfadado projeto de lei da homofobia. A CE-SC também abordou a questão

maçônica, tomando a resolução do Supremo Concílio de 2006 como foco.

Sobre isso, diz o Dr. Alderi: “No tocante à maçonaria, foi nomeada uma

comissão especial para estudar a regulamentação teológica e

administrativa da matéria, devendo encaminhar relatório ao Supremo

Concílio em 2010”.11 O texto do Dr. Alderi nada mais é do que um eco da letra

da resolução da CE-SC-200712:

CE-2007- Doc. 176 - CE-SC/IPB-2007 – DOC. CLXXVI –

Quanto aos documentos: 16 – Presbitério de Campinas – Filiação de Presbiterianos à Maçonaria – c/ anexos; 21 –

11

Alderi Souza de Matos, Uma Igreja Peregrina, 287. Ênfase acrescentada.

12 Ver a nota 9.

Page 9: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

9

Presbitério Vale do Rio Machado – Apoio a Decisão SC e Manifesto Presbiteriano; 76 – Sínodo Leste de Minas – Questão Maçônica; 149 – Presbitério de Belo Horizonte – Maçonaria – c/ anexos; 166 – Sínodo Rio de Janeiro – Declaração de Nulidade – Questão Maçônica. Ementa: Resolução CIV – SC-2006 – Incompatibilidade Maçonaria e fé Cristã [...] A CE-SC/IPB-2007 RESOLVE: 1. Tomar conhecimento; 2. Reconhecer a necessidade de regulamentação teológica e administrativa desta matéria. 3. Nomear Comissão Especial para: a. Estudar à luz dos Símbolos de Fé da IPB, observando a jurisprudência no mundo reformado do principio fundamentado pelo SC/2006, a saber, “a incompatibilidade da Maçonaria com algumas doutrinas da fé Cristã”, produzindo ao final um texto teológico que subsidiará o ensino e a doutrina da Igreja sobre este assunto, que será apreciado pelo SC em sua próxima reunião ordinária. b. Estudar dentro da CI/IPB e de toda a legislação Presbiteriana as possíveis alterações e o modo de efetuá-las para a tipificação da falta e a correção daqueles que contrariarem seus votos de subscrição confessional e aos posicionamentos teológicos da Igreja Presbiteriana do Brasil, produzindo ao final regulamentação legal que será apreciado pelo SC em sua próxima reunião ordinária. c. Receber contribuições teológicas e/ou jurídicas de concílios da IPB até 01 ano após

sua instalação pelo Presidente do SC/IPB. 4. Determinar que a Comissão Especial encaminhe o seu relatório final ao Supremo Concílio em sua próxima Reunião Ordinária, Julho de 2010. 5. Encaminhar todos os documentos oriundos da Resolução do SC/2006 a respeito deste assunto para a Comissão Especial, que utilizará o mesmo como objeto inicial de estudo. 6. Agradecer a Deus pelo zelo do Sínodo do Rio Janeiro – Presbitério de Campinas, Presbitério Vale do Rio Machado, Sínodo Leste de Minas, Presbitério de Belo Horizonte, na tratativa desta matéria.13

Antes de qualquer coisa, é preciso que se entenda que, diante da

linguagem da lei não importa o pensamento subjetivo de indivíduos que

possuem interesses pessoais muito bem delineados no tratamento da matéria.

Por exemplo, diante da linguagem da resolução da CE-SC não importa os

“achismos” dos senhores Secretário Executivo e Presidente do Supremo

Concílio. Também não interessa o “eu acho” de qualquer presidente de sínodo

ou presbitério. Kenneth J. Vandevelde, diretor e professor de direito da Thomas 13

RESOLUÇÕES SOBRE A MAÇONARIA NA IPB: DE 1900 ATÉ A CE-SC 2008, 9. Ênfase acrescentada.

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10

Jefferson School of Law, em San Diego, afirmou que, “em vista dos problemas

ligados à descoberta da intenção dos legisladores, diversas cortes pontificaram

que a melhor pista para a política legislativa está na própria linguagem da lei;

portanto, se seu significado for patente, a corte não deverá ocupar-se da sua

história”.14 O grande problema, é que aqueles que são veementemente

contrários à ordem maçônica desconsideram e ignoram por completo o que diz

a linguagem da lei, conforme exarada na resolução da Comissão Executiva de

2007. Há indivíduos que preferem se fiar unicamente nas opiniões viciadas de

seus conluiados. E, se tais indivíduos ocuparem os altos escalões

eclesiásticos, então, suas opiniões são imbuídas de maior peso do que a

linguagem da lei.

Gostaria de chamar a atenção para alguns elementos existentes na letra

da resolução da CE-SC, a fim de exemplificar a problemática aqui apontada.

Em primeiro lugar, nos “considerandos”, que de acordo com Vandevelde, “é a

parte mais importante da decisão”15, a decisão afirma o seguinte:

“Considerando [...] 3. Que há uma necessidade expressada pelos Presbitérios

e Sínodos postulantes de um Estudo acurado e técnico e que regulamente

Teológica e Administrativamente a decisão tomada pelo SC/2006, avaliando

a incompatibilidade da Maçonaria à luz dos Símbolos de Fé da IPB”.16 A

existência de tal necessidade, logicamente, aponta para algo que faltou à

14

Kenneth J. Vandevelde, Pensando como um Advogado, (São Paulo: Martins Fontes, 2004), 29. Ênfase acrescentada.

15 Ibid, 36.

16 RESOLUÇÕES SOBRE A MAÇONARIA NA IPB: DE 1900 ATÉ A CE-SC 2008, 9. Ênfase

acrescentada.

Page 11: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

11

resolução do Supremo Concílio de 2006, o que, rapidamente, foi percebido por

alguns presbitérios e sínodos.

Com isso em mente, a resolução da CE-SC-2007 declarou a decisão do

Supremo de 2006 carente de regulamentação nos seguintes termos: “A CE-

SC/IPB-2007 RESOLVE: 1. Tomar conhecimento; 2. Reconhecer a

necessidade de regulamentação teológica e administrativa desta matéria”.

Alguns indivíduos contenciosos, que parecem sofrer de uma espécie de

analfabetismo funcional17, visto que leem, mas não compreendem o que está

escrito, vociferam que é feita menção apenas da necessidade de

regulamentação teológica. Entretanto, esta é uma afirmação flagrantemente

falaciosa, em razão de a resolução ser por demais clara, quando fala da

necessidade de regulamentação teológica e administrativa. Tal argumento é

reforçado por outros elementos explícitos no texto, como por exemplo: 1) a

necessidade de se observar a jurisprudência18 “no mundo reformado do

princípio fundamentado pelo SC/2006”; 2) a necessidade de um estudo dentro

da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil e de toda a sua legislação,

com o intuito de prover “as possíveis alterações e o modo de efetuá-las para a

tipificação da falta e a correção daqueles que contrariem seus votos de

subscrição confessional”. Feito isso, existirá o que é chamado pela resolução

17

Faz-se referência ao analfabetismo funcional, quando alguém, apesar de saber ler, escrever e executar outras operações aritméticas simples, possui um horizonte cultural tão carente e limitado que padece da motivação necessária para a afinidade com toda e qualquer informação disponível em forma de texto escrito, seja ele de caráter prático, tipo cultural ou lúdico. Cf. Juliana Alexandrino Lima, A Docência da Leitura no Ensino Fundamental: Uma Descrição Funcional da Leitura para Leitores Competentes, Monografia, (Sobral: Universidade Vale do Acaraú, 2007), 3, 4.

18 JURISPRUDÊNCIA: 1. Ciência do direito e das leis; 2. Conjunto de soluções dadas às

questões de direito pelos tribunais superiores; 3. Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento. Cf. NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Versão eletrônica.

Page 12: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

12

de: regulamentação legal; e 3) a disposição em receber contribuições

teológicas e/ou jurídicas de concílios da denominação.

Fazendo uma leitura honesta e desapaixonada da decisão da Comissão

Executiva, será facilmente percebida a inaplicabilidade da mesma. O impasse

se encontra na confusão que alguns fazem entre vigência da lei e a sua

aplicabilidade. Com exemplo disso, menciono o fato de que alguns líderes

conciliares se dão ao trabalho unicamente de afirmar que a resolução do SC-

2006 está em vigor. Abordarei, em primeiro lugar a questão da aplicabilidade

das normas e leis, e, logo em seguida, estabelecerei a diferença entre vigência

e aplicabilidade.

IV – DA QUESTÃO DA REGULAMENTAÇÃO E APLICABILIDADE DAS

NORMAS

4.1. Definição de Regulamento

Tomando por base a definição fornecida por Hely Lopes Meirelles, os

regulamentos “são atos administrativos, postos em vigência por decreto, para

especificar os mandamentos da lei ou prover situações ainda não

disciplinadas por lei”.19 É exatamente esta a grande necessidade da

resolução do Supremo de 2006. Existem inúmeras situações ainda não

disciplinadas por ela. Da definição acima, percebe-se que é redundância

reconhecer a necessidade de regulamentação administrativa. Ainda assim,

trata-se de uma redundância providencial, visto serem muitos os indivíduos

19

Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, (São Paulo: Malheiros Editores, 2005), 180. Ênfase acrescentada.

Page 13: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

13

que, apressada e soberbamente, vociferam que a resolução fala unicamente de

regulamentação teológica.

Meirelles acentua ainda que, existem leis que “dependem de

regulamento para a sua execução; outras há que são auto-executáveis (self

executing). Qualquer delas, entretanto, pode ser regulamentada, com a só

diferença de que nas primeiras o regulamento é condição da sua aplicação, e

nas segundas é ato facultativo do Executivo”.20 É a opinião de muitos que a

resolução SC-IPB-2006 – Doc. CIV é de natureza auto-executável. Entretanto,

há uma falácia gritante nesse raciocínio. Fazer tal afirmação é suscitar um

problema enorme, pois uma lei auto-executável só é regulamentada se o

Executivo assim o quiser. A isto denomino regulamentação por

voluntariedade. Acontece, que a resolução CE-2007 – Doc. 176 afirmou que

reconhecia “a necessidade de regulamentação teológica e administrativa” da

resolução do ano anterior. Reconhecer a necessidade de regulamentação é

afirmar que determinada lei não é auto-executável, a menos que a Comissão

Executiva do Supremo Concílio tenha se mostrado inepta em suas

deliberações. Necessidade implica condição da sua aplicação.

Regulamentar é estabelecer o conjunto de preceitos e normas que

subsidiem a explicação e execução de uma determinada lei. E é exatamente

isso que falta à resolução do Supremo Concílio e que foi reconhecido por sua

Comissão Executiva. É perfeitamente possível que uma lei ou norma seja

promulgada, mas por falta da disposição oficial para sua explicação e execução

ela permaneça, durante algum tempo, como inaplicável. Apesar de não ser

20

Ibid.

Page 14: Da Questão Maçônica e as Resoluções Do Supremo Concílio - Notas de Rodapé

14

advogado, sei que isso é tido como o princípio organizador básico do raciocínio

jurídico, como assevera com propriedade Vandevelde: “No raciocínio jurídico, o

princípio organizador básico é ir do geral ao específico”.21 No caso, a resolução

do Supremo de 2006 é a norma geral, faltando-lhe os específicos, ou seja, os

preceitos específicos para sua aplicação. Cito ainda um exemplo hipotético

apresentado pelo próprio Vandevelde:

Por exemplo, uma norma descoberta numa primeira decisão estabelece que aquele que intencionalmente tocar alguém de maneira ofensiva é responsável por agressão. Outra norma, encontrada numa segunda decisão, declara que o toque é ofensivo quando a pessoa em são juízo assim o considerar naquela circunstância. Nesse exemplo, a segunda norma define um elemento – o elemento da agressão – da primeira norma. A segunda norma é mais específica que a primeira e deve ser classificada como uma subnorma. Outras decisões podem ter gerado normas definidoras de outros elementos de uma agressão, e também elas serão classificadas sob a mais geral, criando responsabilidade para um processo de agressão.22

Trazendo os princípios apontados acima para a resolução do SC-2006,

podemos compreender a proibição de recepção de novos membros maçons e

a não-condução de maçons ao oficialato da IPB como normas gerais. Porém,

onde estão as normas específicas ou subnormas? Por exemplo, o que se deve

fazer quando algum Conselho homologa a candidatura de membros maçons ao

presbiterato ou diaconato? É insensatez afirmar que se deve entrar com um

documento pedindo a anulação da Assembleia Geral que teve um maçom

concorrendo ao oficialato, pois isso não há nenhuma norma específica nesse

sentido! Percebe-se, então, que a lei existe, porém, como aplicá-la?

Novamente, citando Vandevelde:

21

Kenneth J. Vandevelde, Pensando como um Advogado, 48.

22 Ibid, 48, 49.

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Ao promulgar uma lei, a legislatura comumente promulga também seções específicas cuja única função é definir os elementos de uma norma estatutária. Muitas leis incluem uma seção explicitamente denominada “definições”. Se o legislativo deixa de definir um elemento da lei, as cortes podem ver-se obrigadas a criar normas de jurisprudência que definam o elemento a fim de aplicar a lei a disputas particulares.23

Com o objetivo de consubstanciar a tese da inaplicabilidade da

resolução de 2006, é necessário observar se o princípio aqui apontado

encontra fundamento também no Direito Constitucional.

4.2. Eficácia e Aplicabilidade das Normas no Direito Constitucional

O Direito Constitucional é definido por José Afonso da Silva, como “o

ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e

normas fundamentais do Estado”.24 Da perspectiva eclesiástica, mutatis

mutandis, o Direito Constitucional expõe, interpreta e sistematiza os princípios

e normas fundamentais da Igreja Presbiteriana do Brasil, daí a existência da

sua Constituição.

Ao abordar a questão da aplicabilidade das normas jurídicas, o Direito

Constitucional faz uso da seguinte categorização: 1) Normas Constitucionais de

Eficácia Plena; 2) Normas Constitucionais de Eficácia Contida; e 3) Normas

Constitucionais de Eficácia Limitada. Acredito piamente que uma breve

exposição de cada uma se faz pertinente.

4.2.1. Normas Constitucionais de Eficácia Plena

Pedro Lenza, mestre, doutor e professor de Direito Constitucional, define

as normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e

23

Ibid, 49.

24 José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, (São Paulo: Malheiros

Editores, 2007), 34.

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integral como “aquelas normas da Constituição que, no momento em que esta

entra em vigor, estão aptas a produzir todos os seus efeitos,

independentemente de norma integrativa infraconstitucional”.25 Em outras

palavras, ela não necessita de nenhuma regulamentação a posteriori. Na sua

letra já se encontram todos os dispositivos imprescindíveis para a sua

explicação e execução. José Afonso da Silva afirma que elas “são as que

receberam do constituinte normatividade suficiente à sua incidência imediata.

Situam-se predominantemente entre os elementos orgânicos da constituição.

Não necessitam de providência normativa ulterior para sua aplicação”.26

De acordo com Silva, as normas constitucionais de eficácia plena são as

que:

a) contenham vedações ou proibições; b) confiram isenções, imunidades e prerrogativas; c) não designem órgãos ou autoridades especiais a que incumbam especificamente sua execução; d) não indiquem processos especiais de sua execução; e) não exijam a elaboração de novas normas legislativas que lhes compete o alcance e o sentido, ou lhes fixem o conteúdo, porque já se apresentam suficientemente explícitas na definição dos interesses nelas regulados.27

4.2.2. Normas Constitucionais de Eficácia Contida

De acordo com Alexandre de Moraes, doutor em Direito, são aquelas em

que “o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a

determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da

competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer

25

Pedro Lenza, Direito Constitucional Esquematizado, (São Paulo: Saraiva, 2009), 135. Ênfase acrescentada.

26 José Afonso da Silva, Aplicabilidade das Normas Constitucionais, (São Paulo: Malheiros

Editores, 1998), 262.. Ênfase acrescentada.

27 Ibid, 101.

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ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados”.28 É interessante

observar que, tais normas também possuem aplicação imediata, “mas

possivelmente não integral”.29 Isto quer dizer, que com a entrada em vigor “elas

já são aplicáveis, no entanto, uma lei posterior poderá restringir, conter seus

efeitos”.30

4.2.3. Normas Constitucionais de Eficácia Limitada

As Normas Constitucionais de Eficácia Limitada são aquelas que, de

imediato, no momento em que o texto constitucional é promulgado, “não têm o

condão31 de produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei integrativa

infraconstitucional. São, portanto, de aplicabilidade mediata e reduzida, ou,

segundo alguns autores, aplicabilidade diferida”.32 Alexandre de Moraes aponta

que, a razão para isso é a existência da necessidade “de uma normatividade

ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidade”.33

4.2.4. Diferença entre as Normas de Eficácia Contida e Limitada

Vê-se que há uma diferença perceptível entre os dois últimos tipos de

normas constitucionais. Enquanto as Normas de Eficácia Contida se

relacionam com restrições, as Normas de Efeito Limitado se relacionam como

desenvolvimento e expansão. Nivaldo Oliveira da Silva, Delegado de Polícia da

28

Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, (São Paulo: Atlas, 2006), 7.

29 Pedro Lenza, Direito Constitucional Esquematizado, 136.

30 Antonio Henrique Lindemberg, Da Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 1. Artigo

extraído do site http://www.editoraferreira.com.br. Ênfase acrescentada.

31 CONDÃO: 1. Virtude especial, ou poder misterioso, a que se atribui influência benéfica ou

maléfica; 2. Dom, faculdade. NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Versão eletrônica. O sentido pretendido pelo autor citado é este último.

32 Pedro Lenza, Direito Constitucional Esquematizado, 137. Ênfase acrescentada.

33 Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, 7.

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Polícia Civil do Distrito Federal e Pós-Graduado pela Escola Superior do

Ministério Público do Distrito Federal e pela Escola Superior da Magistratura do

Distrito Federal, afirma o seguinte:

Enquanto as de eficácia contida têm aplicabilidade direta e imediata, as de eficácia limitada só passarão a ter após a norma regulamentadora. Vale dizer, enquanto as primeiras

têm eficácia antes da existência de norma reguladora, as segundas só passarão a produzir efeitos após o advento da norma reguladora.34

Deve-se salientar ainda que, ambas carecem de normatização ou

regulamentação. Contudo, de naturezas distintas, pois enquanto na contida a

norma infraconstitucional serve para restringir a sua eficácia, na limitada

serve para dar eficácia, tornando possível a sua execução. Novamente citando

Nivaldo Oliveira da Silva: “Assim, enquanto não vier a normatização, as normas

de eficácia contida continuam com exercício direto e imediato, ao passo

que, em relação das normas de eficácia limitada, caso não sobrevenha a

normatização, elas permanecem com exercício apenas abstrato, vale dizer,

sem exercício”.35

4.2.5. Aplicação das Categorias à Resolução SC-2006 – Doc. CIV

Em face do exposto, faz-se necessário interpretar a resolução do

Supremo Concílio de 2006 de acordo com uma das categorias definidas supra.

É evidente que a discussão existente no seio da Igreja Presbiteriana do Brasil

não diz respeito a sua Carta Magna, a Constituição, mas sim a algumas

resoluções conciliares. Não obstante, os conceitos e princípios aqui delineados

34

Nivaldo Oliveira da Silva, Classificação das Normas Constitucionais. Extraído do site “Clube Jurídico do Brasil”: http://www.clubjus.com.br/?artigos&ver=1139.16129. Ênfase acrescentada.

35 Ibid.

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serão de grande valia para a correta interpretação da linguagem da lei da

Igreja.

No que tange às Normas Constitucionais de Eficácia Plena, fica evidente

que a resolução do Doc. CIV do SC-2006 não se enquadra, pois como está

exarado nos considerandos da resolução do Doc. 176 da CE-2007: “3. Que há

uma necessidade expressada pelos Presbitérios e Sínodos postulantes de um

Estudo acurado e técnico e que regulamente Teológica e Administrativamente

a decisão tomada pelo SC/2006, avaliando a incompatibilidade da Maçonaria a

luz dos Símbolos de Fé da IPB”.36 Ora, se uma Norma Constitucional de

Eficácia Plena está apta para produzir seus efeitos, independentemente de

uma norma integrativa infraconstitucional, e se a decisão do Supremo de 2006

pode ser identificada como uma norma desse tipo, por qual razão a Comissão

Executiva reconheceu e declarou a necessidade de regulamentação

teológica e administrativa? Logicamente, não se trata de uma norma de

eficácia plena, independentemente do que o Secretário Executivo do Supremo

Concílio diga!

As Normas Constitucionais de Eficácia Contida, de acordo com a

exposição feita por estudiosos e eruditos do Direito, possuem efeito restritivo,

ou seja, após uma norma infraconstitucional, elas restringem, delimitam,

diminuem a aplicabilidade da norma primeva. Ora, a decisão do Supremo

Concílio foi declarada carente de regulamentação e desenvolvimento

administrativo. Até onde sei, “carência” significa “1. Falta, ausência, privação; 2.

Necessidade, precisão”.37 O conceito de “carência” não se coaduna com

36

RESOLUÇÕES SOBRE A MAÇONARIA NA IPB: DE 1900 ATÉ A CE-SC 2008, 9.

37 NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Versão eletrônica.

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“restrição”. Se algo falta, necessita de ser suprido. Se a decisão tomada pelo

SC-2006 é carente, ela precisa ser suprida. Portanto, ela não pode ser

interpretada como uma norma de eficácia contida.

Já as Normas Constitucionais de Eficácia Limitada necessitam de uma

norma integrativa infraconstitucional, que lhes conceda a faculdade de produzir

todos os efeitos esperados da norma constitucional. Sua aplicabilidade

necessita ser desenvolvida. Ora, não é exatamente isso que diz a decisão da

CE-2007? Vejamos: “A CE-SC/IPB-2007 RESOLVE: 1. Tomar conhecimento;

2. Reconhecer a necessidade de regulamentação teológica e

administrativa desta matéria”.38 Ademais, a linguagem da decisão fala

explicitamente em:

b. Estudar dentro da CI/IPB e de toda a legislação Presbiteriana as possíveis alterações e o modo de efetuá-las para a tipificação da falta e a correção daqueles que contrariarem seus votos de subscrição confessional e aos posicionamentos teológicos da Igreja Presbiteriana do Brasil, produzindo ao final regulamentação legal que será apreciado pelo SC em sua próxima reunião ordinária.39

Percebe-se, portanto, que a decisão do Supremo Concílio é uma norma

de eficácia limitada, visto que ela necessita ser regulamentada, a fim de ser

devidamente executada e aplicada.

Na tratativa desta matéria, resta ainda, um esclarecimento

imprescindível, pois os ardorosos opositores da Ordem Maçônica se valem da

confusão de dois conceitos completamente distintos. Dizem eles que, a decisão

do Supremo Concílio de 2006 está em vigor. Entretanto, será essa a

discussão?

38

RESOLUÇÕES SOBRE A MAÇONARIA NA IPB: DE 1900 ATÉ A CE-SC 2008, 9.

39 Ibid.

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V – VIGÊNCIA E APLICABILIDADE

É lamentável a indisposição de algumas pessoas em buscarem

esclarecimentos oriundos de fontes jurídicas confiáveis. Alguns incautos

imaginam que é suficiente descansar em declarações verbais e não-oficiais

feitas por lideranças conciliares da Igreja Presbiteriana do Brasil. Eles

desconsideram completamente informações dadas por outras fontes, mesmo

por aquelas extraídas da ciência do Direito. Se a afirmação do Presidente do

Supremo Concílio é idêntica às afirmações dos senhores Secretário-Executivo,

Presidente do Sínodo e Presidente do Presbitério, então, é tomada como a

mais absoluta verdade. Se recebem conselhos no sentido de pesquisarem em

outras fontes, apenas desconsideram. Cabem aqui as palavras do sábio

Salomão: “O caminho do insensato aos seus próprios olhos parece reto, mas o

sábio dá ouvido aos conselhos” (Provérbios 12.15).

A celeuma gravita em torno do fracasso em se distinguir entre dois

conceitos: Vigência e Aplicabilidade da Lei. Atente-se para o fato de que, um

conceito não é excludente do outro.

José Afonso da Silva define vigência como “a qualidade da norma que a

faz existir juridicamente a torna de observância obrigatória, isto é, exigível sob

certas condições, não se confundindo com eficácia, sendo condição de

efetivação desta”.40 Aplicabilidade, por outro lado, exprime uma possibilidade

de aplicação, ou seja, “consiste na atuação concreta da norma”.41 Com essa

distinção em mente, pode-se perceber com muita sensibilidade, que é

40

José Afonso da Silva, Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 52.

41 Ibid, 51.

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perfeitamente possível que uma lei ou norma esteja em vigência, porém,

momentaneamente inaplicável, dada a sua necessidade de regulamentação

administrativa.

Em face do exposto, tenho a convicção de que este é o caso da decisão

tomada pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, em sua XXXVI

Reunião Ordinária.

VI – CONCLUSÃO

Em face do exposto, não compreendo como alguém pode, de maneira

teimosa, obstinada, rebelde e contenciosa insistir na afirmação da

aplicabilidade direta e imediata da decisão do SC-2006. O arrazoado

apresentado deixa evidente que a decisão em pauta necessita de normatização

para poder ser executada. Enquanto isso não acontecer, ela permanece em

vigor, porém, momentaneamente inaplicável.

Reputo por triste e lamentável a postura de determinados indivíduos

apaixonadamente envolvidos em uma discussão nefasta e controvertida, que

fecham os olhos e tapam os ouvidos para qualquer leitura que venha a divergir

da leitura viciada e errada que fazem da linguagem da lei. Reputo por

desprezível uma espécie de hermenêutica “gadameriana”42, que consiste na

prática de se interpretar textos legais a partir de sentidos atribuídos pelo leitor

motivado por interesses escusos.

42

Referência a Hans-Georg Gadamer (1900-2002), um dos principais hermeneutas pós-modernos. Para ele, “a verdade não pode residir na tentativa do leitor de voltar ao sentido do autor, pois esse ideal não pode ser realizado tendo em vista que cada intérprete tem um conhecimento novo e diferente do texto no próprio momento histórico do leitor”. Cf. Walter C. Kaiser, Jr. & Moisés Silva, Introdução à Hermenêutica Bíblica, (São Paulo: Cultura Cristã, 2002), 176.

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Gostaria de reafirmar que, não tenho interesse pessoal na

matéria. Minha intenção é unicamente combater o autoritarismo conciliar

esposado por algumas pessoas insensatas. Feito isso, colocarei em prática o

conselho dado pela Escritura: “Não fales aos ouvidos do insensato, porque

desprezará a sabedoria das tuas palavras” (Provérbios 23.9).