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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO
DA PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS
CARLA MOTA FUCKS
ITAJAÍ OUTUBRO 2007
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO
DA PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS
CARLA MOTA FUCKS
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Mdo. Fabiano Oldoni
ITAJAÍ, OUTUBRO DE 2007
AGRADECIMENTO
Acima de qualquer coisa à Deus, por ter me proporcionado e me beneficiado com
mais uma vitória em minha vida.
A meus pais, Elio Augusto e Doroti, grandes vencedores e sempre motivo de orgulho, pelo carinho, compreensão e apoio que nunca me
faltaram.
Daniel e sua família que sempre estavam pronto para me ajudar se necessário.
Aos amigos , por compartilharmos tantos momentos bons e ruins durante esta jornada.
Ao meu orientador, Fabiano Oldoni pela dedicação, paciência e por compartilhar seus
conhecimentos comigo.
DEDICATÓRIA
À minha família, por tudo.
Foram dias difíceis, dias que muitas vezes não sabíamos o
que fazer perante mais uma dificuldade que aparecia, mais um problema fossem
eles pessoais, financeiros, foram tantos, mas todos superados e hoje é motivo de
orgulho para mim e para todas as pessoas que tem um espaço no meu coração.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, outubro de 2007.
Carla Mota Fucks Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Carla Mota Fucks, sob o título Da
Progressão de Regime nos Crimes Hediondos foi submetida em 28/11/2007 à
banca examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Rogério Ristow
e MSc. Ana Selma Moreira e aprovada com a nota oito virgula setenta.
Itajaí, outubro de 2007.
Mdo. Fabiano Oldoni Orientador e Presidente da Banca
MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ART. Artigo
CP. Código Penal
CRFB/88. Constituição da Republica Federativa do Brasil
STF Supremo tribunal Federal
STJ Supremo Tribunal de Justiça
LEP Lei de execução Penal
SIJ Serviço de informações Judiciárias
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Antijuridicidade
A antijuridicidade representa um juízo de valor em relação ao fato lesivo do bem jurídico. E sua apreciação é puramente objetiva, não dependendo de condições próprias do autor do fato: tanto é ilícito cometido por um homem normal como por um alienado. Em ambos os casos há antijuridicidade; a diferença é que no ultimo não existe agente culpável e, consequentemente punição. Mas a consideração que se faz das condições psíquicas do autor do fato, para aferir a culpabilidade, é estranha à ilicitude1.
Culpabilidade
Além de típica e antijurídica, deve a ação ser culpável. trata-se do elemento subjetivo do delito. o resultado lesivo ao direito, oriundo da ação do sujeito ativo, há de ser-lhe atribuído a titulo de culpa, em sentido amplo, isto é dolo ou culpa2.
Hediondo
“(...) podemos dizer que hediondo é o crime que causa profunda e consensual repugnância por ofender, de forma acentuadamente grave, valores morais de indiscutíveis legitimidade, como o sentimento comum de piedade, de fraternidade, de solidariedade e de respeito a dignidade da pessoa humana”3.
1 NORONHA, E. Magalhães: Direito Penal..São Paulo. Saraiva, 1985-1991.p. 102. 2 NORONHA, E. Magalhães: Direito Penal. p.104 3 LEAL JOÃO JOSÉ: Crimes Hediondos. 2º ed. Curitiba: Editora Juruá, 2003. p. 26
ix
Individualização da Pena
O princípio implícito segundo o qual o legislador ordinário deve atuar tendo como escopo maior o bem comum, sendo indissociável da noção deste último a observância da dignidade da pessoa, que é solapada pelo afastamento, por completo, de contexto revelador da esperança, ainda que mínima, de passar-se ao cumprimento da pena em regime menos rigoroso4.
Livramento condicional
“(...) a última etapa do cumprimento de pena no sistema progressivo, abraçado em geral por todas as legislações penais modernas, é mais uma das tentativas de diminuir os efeitos negativos da prisão” 5.
Tipicidade
“(...) definindo o delito, cria o tipo, exige interesse individual, em todo o regime de liberdade, que a ação humana se lhe ajuste. É o que se denomina tipicidade. Conseqüentemente, não existe crime sem tipicidade (...)” 6.
Tortura
“(...) qual ato qual dores ou sofrimento agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometida; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outra pessoa; ou qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza7.
4 FRANCO, Alberto Silva. Lei de Crimes Hediondos. Fascículos de Ciências Penais. Porto Alegre: SAFe,./jun. 1992.p.52-53. 5 BITENCOURT Cezar Roberto: Tratado de direito penal, v. 1, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2004, p. 698. 6 NORONHA, E. Magalhães: Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 100. 7 LEAL, João José.Crimes Hediondos.2º Ed., 3ª tir.Curitiba :Juruá,2005.p.47,48.
x
SUMÁRIO Resumo................................................................................................................xii Introdução .............................................................................................................1
CAPÍTULO 1...........................................................................................................3
DO CRIME ..............................................................................................................3
1.1 Conceito de direito penal ...............................................................................3
1.2 Conceito de crime e seus elementos componentes .................................5
1.2.1 Conceito Formal .......................................................................................6
1.2.2 Conceito Material ......................................................................................7
1.2.3 Conceito Analítico.....................................................................................8
1.2.3.1 Fato Típico ................................................................................................10
1.2.3.2 Conduta.................................................................................................10
1.2.3.3 Resultado ............................................................................................14
1.2.3.4 Nexo causal ........................................................................................15
1.2.3.5 Tipicidade............................................................................................17
1.3 DA ANTIJURIDICIDADE.........................................................................19
1.4 CULPABILIDADE ...................................................................................23
CAPÍTULO 2.........................................................................................................26
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL........................................................26
2.1 Princípio da legalidade............................................................................26
2.2 Princípio RETROATIVIDADE da lei Penal mais favorável......................29
2.3 Princípio da Individualização da Pena ....................................................32
2.4 O Princípio da Presunção de Inocência..................................................37
2.5 Princípio da Culpabilidade ......................................................................38
2.6 Princípio da Imputabilidade.....................................................................39
2.7 Princípio da Fragmentariedade...............................................................40
2.8 Princípio da Proporcionalidade das Penas .............................................42
2.9 Princípio da Humanidade........................................................................43
2.10 Princípio da Insignificância .....................................................................45
CAPÍTULO 3.........................................................................................................47
DA PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS...........................47
3.1 Da progressão de regime................................................................................47
3.2 Da progressão de regime nos crimes hediondos antes da lei 11.464/06.......50
xi
3.3 Da progressão de regime nos crimes de tortura .............................................55
3.4 Da progressão de regime após a lei 11.464/07...............................................56
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................61
Referência das Fontes Citadas..........................................................................63
xii
RESUMO
Pesquisa cientifica cujo escopo de pesquisa visa investigar a
interpretação evolutiva da lei dos crimes hediondos, realizada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), vindo a concretizar o princípio da individualização da
pena. Por meio da pesquisa dogmática e instrumental, e das técnicas bibliográfica
e documental de pesquisa, sistematizou-se a doutrina jurídica brasileira e
comparou-se a evolução das decisões judiciais do STF durante mais uma década
e meia, a fim de investigar a possibilidade da concretização do direito fundamental
a individualização da pena por meio de uma interpretação evolutiva da Lei dos
Crimes Hediondos. Tem como objetivo efetuar uma analise crítica dos
precedentes e das opiniões do STF induziu ao resultado de que se constatou uma
evolução da sociedade no que concerne ao tratamento dado ao presidiário que
comete delitos de natureza hedionda, sendo que o STF acredita após este
intervalo de tempo, que a dureza no direito ao regime progressivo de penas não
ressocializa o preso, mas pelo contrário, a progressão de regime pode ser um dos
fatores a possibilitar a reeducação e reinserção desse indivíduo na vida em
sociedade.
1
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto um tema ainda
pouco discutido pela doutrina brasileira, que é a progressão de regime nos crimes
hediondos e equiparados, visto que é um tema de grande repercussão, perante
nossa Constituição Federal.
O seu objetivo é analisar a possível progressão de regime,
verificando a incidência das garantias constitucionais em confronto com as
normas do Código Penal, e o STF.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de aspectos
gerais do Direito Penal, versando seu conceitos, sua características e finalidades.
O Capítulo 2, trata dos princípios constitucionais aplicados
no Direito Penal, sendo analisados individualmente, apontando seus traços mais
marcantes.
No Capítulo 3, tratando do progressão de regime, a lei
8.072, de 25.07.1990, lei que veda a progressão de regime, Com efeito, percebe-
se que as mudanças no âmbito normativo no qual está inserida a sociedade
demonstram a Constitucionalização do Direito, colocando a Constituição como
centro do ordenamento jurídico,, observando-se, no contexto dos crimes
hediondos, a concretização do princípio da individualização da pena (CF, art. 5º,
XLVI).
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre a progressão de regime nos crimes Hediondos e Equiparados.
2
Para a presente monografia forai levantada a seguinte
hipótese:
• A Lei 11.464/06, que previu a progressão de regime
nos crimes hediondos após o cumprimento de 2/5 ou 3/5, retroage e incide sobre
os crimes praticados antes da sua entrada em vigor, já que mais benéfica que a
Lei 8.072/90, que proibia a progressão de regime.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados
o Método Cartesiano, e o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa
Bibliográfica.
3
CAPÍTULO 1
DO CRIME
1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL
Inúmeras são as denominações usadas para conceituar este
ramo do Direito, sendo as mais comuns Direito Penal e Direito Criminal. O
primeiro é de origem recente e diretamente dá uma idéia de pena, já o segundo é
de origem muito mais antiga, compreensiva, abrangendo o crime e suas
conseqüências jurídicas, porém de certa maneira vem perdendo sua atualidade.
Desse modo ensina JESUS:8
O primeiro problema que se nos depara ao estudarmos o conceito de Direito Penal é o referente à sua própria denominação: Direito Penal ou Direito Criminal. A expressão Direito Penal é de origem recente. Segundo provas, foi empregado pela primeira vez no século XVIII. A expressão Direito Criminal é mais antiga, porém está perdendo a atualidade. Argumenta-se que a locução Direito Criminal é mais compreensiva, abrangendo o crime e sua conseqüências jurídicas, ao passo que a denominação Direito Penal dá a idéia de pena, deixando de lado o instituto das medidas de segurança. Respondem outros que a expressão Direito Criminal sugere propriamente o crime, quando a punição é importante e de graves efeitos. Vários nomes têm sido escolhidos pelos doutrinadores: Direito Protetor dos Criminosos – Dorado Monteiro; Direito de Defesa Social – Martinez; Princípios de Criminologia – De Luca; Direito Represivo – Puglia. Não obstante a existência de discussão a respeito, a expressão Direito Penal é a mais generalizada. Nós possuímos um CP, razão pela qual preferimos a expressão Direito Penal, aceitando a predileção do legislador.
8 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 4
4
Como visto a denominação Direito Penal é a mais aceita, de
certa forma Direito Penal dá a idéia de pena, dando, assim, ênfase à punição. No
mesmo sentido importante trazer outras doutrinas que tratam da sua definição,
assim apresentadas dentro da obra de JESUS:9
Para Von Liszt, Direito Penal é o conjunto das prescrições emanadas do Estado que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência. Mezger define a nossa matéria como o conjunto de normas jurídicas que regulam “el ejercicio de poder punitivo del Estado, conectando em el delito como presupuesto, la pena como conseqüência jurídica. Seguindo José Frederico Marques, definimos o Direito Penal como o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado. Cumpre salientar as características do Direito Penal, onde o
Estado estabelece uma relação jurídica com a prática do delito. O Direito Penal
regula as relações do indivíduo com a sociedade, deste modo prevenindo,
alertando, estabelecendo limites e utilizando as normas e leis, deste modo
punindo se necessário for. Com o envolvimento do indivíduo junto com a
sociedade, originou-se o poder executivo, legislativo e judiciário, conforme leciona
JESUS10:
O Direito Penal regula as relações do indivíduo com a sociedade. Por isso, não pertence ao Direito Privado, mas sim ao público. Quando o sujeito pratica um delito, estabelece-se uma relação jurídica entre ele e o Estado. Surge o jus puniendi, que é o Direito que tem o Estado. [...].
No mesmo sentido NORONHA11: O fato social é sempre o ponto de partida na formação da noção do Direito. O Direito surge das necessidades fundamentais das
9 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, p. 5 10 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, p. 5 11 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. São Paulo. Saraiva, 1985-1991. p. 3.
5
sociedades humanas, que são reguladas por ele como condição essencial à sua própria sobrevivência. É no Direito que encontramos a segurança das condições inerentes à vida humana, determinada pelas normas que formam a ordem jurídica. Contra a prática desses fatos o Estado estabelece sanções, procurando tornar invioláveis os bens que protege. Ao lado dessas sanções o estado também fixa outras medidas com o objetivo de prevenir ou reprimir a ocorrência de fatos lesivos dos bens jurídicos dos cidadãos. A mais severa das sanções é a pena, estabelecida para o caso de inobservância de um imperativo. Dentre as medidas de repressão ou prevenção encontramos as medidas de segurança.
Como leciona Jesus, o Direito Penal regula a relação dos
indivíduos juntamente com a sociedade, com o poder de punir quando houver
alguma irregularidade, observando-se que Direito de punir é do Estado, por isso é
Direito Público e não Privado.
O Direito surge das necessidades existentes na sociedade, é
ele que encontra a segurança das condições e das relações dos indivíduos. O
Estado, com suas sanções, procura tornar invioláveis os bens que protege. Se
acontecer um fato lesivo, tem o poder de punir e a forma mais severa de punir é
aplicando uma pena.
1.2 CONCEITO DE CRIME E SEUS ELEMENTOS COMPONENTES
Utiliza-se a expressão Crime para abranger tanto as
contravenções como os crimes ou delito, segundo a classificação dada pela lei.
Observa-se à gravidade do fato para as classificações de um e de outro.
Deste modo leciona NORONHA:12
[...] o termo “infração” é genérico, abrangendo os “crimes” ou “delitos” e as “contravenções”. Pode ser empregado o termo delito ou crime. O CP usa as expressões “infração”, “crime” e
12 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal, p. 4.
6
“contravenção”, aquela abrangendo estes. O CPP emprega o termo “infração”, em sentido genérico, abrangendo os crimes (ou delitos) e as contravenções (exs.: arts. 4.º, 70, 72, 74, 76, 77, 92 etc.). Outras vezes, usa a expressão “delitos” como sinônimos de “infração” (exs. Arts 301 e 302). O que é crime? Da resposta a esta questão depende todo o desenvolvimento do estudo que encetamos, uma vez que qualquer instituto jurídico-penal tem fundamento na noção de crime. Há dois sistemas de conceituação do crime: Formal e Material.
1.2.1 Conceito Formal
Formalmente, conceitua-se o crime sob o aspecto da técnica
jurídica, do ponto de vista da lei.
Deste modo ensina MIRABETE13:
Sob o aspecto formal, podem-se citar os seguintes conceitos de crime: crime é o fato humano contrário a lei; Crime e qualquer ação legalmente punível; Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena; Crime é uma conduta contrária ao Direito, a que a lei atribui uma pena. Essas definições, entretanto alcançam apenas um dos aspectos criminal, o mais aparente,que é a contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como fato contrario a norma penal. Não penetram, contudo, em sua essência, em seu conteúdo em sua matéria. No aspecto formal fica evidenciada a grande abrangência
dos fatos, das penas, das contradições das normas e do direito, as ilegalidades
como fato contrário a norma penal. Deixando de lado a essência em seu
conteúdo.
Deste modo, sem explorar a essência em si, fica muito vago
o aspecto formal havendo a necessidade de ser explorada a materialidade dos
fatos.
13 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 23 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 81 e 82
7
1.2.2 Conceito Material
Procura definir o ilícito penal, observando o conteúdo do fato
punível, materialmente observando-se a razão pela qual determina criminosa a
conduta humana, os danos obtidos pela mesma, ou seja, o que levou o legislador
a prever a punição dos autores de certos fatos, deste modo acarretando uma
sanção.
Deste modo ensina NORONHA: 14
Materialmente, tem-se o crime sob o ângulo ontológico, visando a razão que levou o legislador a determinar como criminosa uma conduta humana, a sua natureza danosa e conseqüências. [...] O conceito material do crime é de relevância jurídica, uma vez que coloca em destaque o seu conteúdo teleológico, a razão determinante de constituir uma conduta humana infração penal e sujeita a uma sanção15. Também ensina Majiori16, em continuidade ao texto acerca
do tema materialidade formal.
Cremos que o conceito substancial do delito pode ser obtido em outros termos. Finalidade do Estado é a consecução do bem coletivo. É a sua razão teleológica. Mas, para a efetivação, além da independência no exterior, há ele de manter a ordem no interior. Cabe-lhe, então, ditar as normas necessárias à harmonia e equilíbrio sociais. De uma maneira mais abrangente, para obter um conceito
material de crime, pode-se definir como aquela que tem o bem protegido pela lei
penal, onde o Estado tem característica e finalidade de manter o bem coletivo e
individual, deste modo mantendo a ordem e o equilíbrio social. E se necessário
14 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 150 15 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 151 16 Citado por LEAL, João José. Direto Penal Geral. Florianópolis: OAB/SC, 2004.p. 94
8
proteger através da lei, aqueles que são atingidos quando a transgressão do
ordenamento jurídico.
Em continuidade ao texto acima MAJIORI17 comenta:
As normas legais, por ele ditadas, têm, então, a finalidade de tutelar bens-interesses, necessários à coexistência social, entendendo-se como bem o que satisfaz às necessidades da existência do indivíduo na vida em sociedade, e como interesse a representação psicológica desse bem, a sua estima [...]. [...] Mas o Estado, através do direito valoriza esses bens e interesses, pois a ofensa a alguns deles fere mais fundo o bem comum, já por atingir condições materiais [...] já por atentar contra condições éticas fundamentais [...]. Conseqüentemente, crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal. Sua essência é a ofensa ao bem jurídico, pois toda norma penal tem por finalidade sua tutela. Resta concluso, que as normas legais criadas através do
estado pelo poder legislativo, têm finalidade de proteger e tutelar os interesses da
coletividade, onde satisfaz a existência do individuo na sociedade.
O estado através do direito valoriza os bens e interesses,
pra não vir futuramente atingir condições materiais. Pos conseqüentemente toda
norma tem sua tutela, o bem jurídico protegido.
1.2.3 Conceito Analítico
No conceito Analítico, o conceito de crime é estratificado,
sendo fato típico e antijurídico, onde a culpa é o pressuposto da pena.
17 Citado por LEAL, João José. Direto Penal Geral. p. 95
9
Deste modo leciona MIRABETE: 18
O conceito formal de delito com referência aos elementos que compõem (melhor seria falar-se em aspectos ou características do crime), de caráter analítico, tem evoluído. Battaglini, embora reconheça que o delito é todo unitário, descompõe-no em elementos em razão da prática, definindo-o como o “fato humano descrito em no tipo legal e cometido com culpa”. Basileu Garcia conceitua-o como a “ação humana, antijurídica, típica, culpável e punível”. A punibilidade mesmo considerada como a “possibilidade de aplicar a pena” não é porém elemento de Crime.
Deste modo um fato pode ser típico, ou seja, prescrito em
lei, antijurídico, culpado e ameaçado de pena, ou seja criminoso, e, no entanto,
pode-se deixar de aplicar a pena, devido a isenção ou pela extinção de
punibilidade, conforme dispositivos em lei.
Em continuidade ao assunto abordado, MIRABETE19
explica:
Por essas razões, passou-se a conceituar como a “ação típica, antijurídica e culpável”. Essa definição vem consignada tanto pelos autores que se seguem a teoria causalista (naturalista, clássica, tradicional) como pelos adeptos que seguem a teoria finalista da ação (ou da ação finalista). Entretanto, a palavra culpabilidade, como verá, para os primeiros consiste num vinculo subjetivo que liga ação ao resultado, ou seja, no dolo( quere o resultado ou assumir o risco de produzi-lo) ou na culpa em sentido estrito (dar causa ao resultado) por imprudência, negligencia ou imperícia.[...] Admitindo-se sempre que o delito é uma conduta humana voluntária, é evidente que tem ela, uma necessariamente uma finalidade. Por isso, no conceito analítico de crime, a conduta abrange o dolo (querer ou assumir o risco de produzir o resultado) e a culpa em sentido estrito.
18 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 83 19 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 83
10
Com a necessidade da extinção ou isenção da punibilidade,
passou-se a conceituar o crime com maior atenção, onde a culpabilidade liga-se
em um vínculo subjetivo de ação e resultado. No dolo, querer o resultado e
assumir o risco e na culpa em sentido estrito, dar causa ao resultado. Deixando
em evidência que o delito é conduta típica, ilícita e voluntária e tem ele uma
necessidade que provoca consequentemente uma finalidade.
1.2.3.1 FATO TÍPICO
O crime é um fato típico e antijurídico. É necessário que
tenha previsão legal, que tenha perfeita combinação do fato concreto ao tipo
penal. Deste modo deve-se verificar do que se compõe o fato típico. São
elementos que compõe o fato típico a conduta, o resultado, a relação de
causalidade e a tipicidade.
1.2.3.2 Conduta
Para a caracterização de um crime há necessidade de uma
conduta, uma ação delituosa. Conduta é uma ação ou omissão do agente, dirigida
a uma finalidade, que exige a vontade.
Deste modo leciona MIRABETE:
Não há crime sem ação (nullum crimen sine conducte). É sobre o conceito de ação (que se pode denominar conduta, já que a palavra ação tem sentido amplo, que abrange a ação em sentido estrito, que é o fazer, e a omissão, que é o não fazer o devido) que repousa a divergência mais expressiva entre os penalistas. Conforme o sentido que se dê à palavra ação, modifica-se o conceito estrutural do crime. Examina-se a seguir, sumariamente,as teorias mais divulgadas: a teoria causalista, a teoria finalista e a teoria social da ação.20
20 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 88
11
Como lecionou MIRABETE, as teorias sobre a conduta
dividem-se teoria de causalidade, finalista e a teoria social.
A primeira, basta saber se o agente atuou voluntariamente,
deste modo sendo irrelevante o que queria, para afirmar que praticou a ação
típica, entretanto deve-se observar que os causalistas dão ênfase na ação,
deixando de lado o conteúdo finalístico, a culpabilidade a ilicitude, divergindo do
direito real.
Deste modo leciona MIRABETE:21
Para a teoria causalista (naturalista clássica, tradicional, causal naturalismo) a conduta é um comportamento humano voluntário no mundo exterior, que consiste em fazer e não fazer. É um processo mecânico, muscular e voluntário (porque não é um ato reflexo), em que se prescinde do fim a que essa vontade se dirige.11
Já a segunda, observa à finalidade, dando ênfase à conduta
final, não concebendo a vontade de nada ou para nada e sim foca em um
determinado fim. O crime, se comedido pelo indivíduo dolosamente ou
culposamente terá punição, mas se cometido mediante cautela ou erro de tipo ou
por culpa da vítima, não haveria fato típico, na visão finalística.
Assim discorre MIRABETE para a teoria finalista: “Para a
teoria finalista da ação, como todo comportamento do homem tem uma finalidade,
a conduta e uma atividade final humana e não um comportamento simplesmente
causal.22
21 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 89 22 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 89
12
E por último a teoria social, que é um meio termo entre as
teorias causalista e finalista, tendo como propósito dominar o dominável, cujo fim
justifica o meio. Por exemplo, um médico que com intuito de salvar seu paciente,
causa lesões corporais no mesmo, não pratica ação típica de ofender a
integridade corporal de outrem. Fica a ação do médico excluída do tipo.
A teoria social exige um maior detalhamento, pois tem que
ficar claro o que é relevância social da conduta, pois a mesma exige um valor
ético a ser apurado, onde influiria nos limites da antijuricidade, tornando também
indeterminada a tipicidade.
MIRABETE16 assim leciona:
A teoria social da ação (ou da ação socialmente adequada, da adequação social ou normativa) surgiu para ser uma ponte entre as teorias causalista e finalista. Para essa a ação é a conduta socialmente relevante, dominada ou dominável pela conduta humana.
Para finalizar o conceito de conduta, fica evidenciado que
para a mesma ser caracterizada é necessário haver uma repercussão da vontade
do agente, uma manifestação de vontade dirigida a um fim.
Pode-se dividir a vontade em dolosa e culposa, conforme
explica MIRABETE:
A vontade domina a conduta dolosa ou culposa.A diferença é que, na ação dolosa, a voluntariedade alcança o resultado, enquanto na culposa só vai até a causa do resultado.[...]a conduta, ou ação em sentido amplo é “comportamento humano, dominado ou dominável pela vontade, dirigido para a lesão ou para a exposição a perigo de lesão de um bem jurídico, ou, ainda para a causação de uma possível lesão a um bem jurídico.23
23 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 91 e 92
13
Cabe ressaltar que o Código Penal adotou a teoria finalista.
14
1.2.3.3 Resultado
Para que possa haver uma ilicitude não basta a conduta é
necessário o resultado. Este é o elemento que resulta lesão ao bem jurídico.
Deste modo sempre que ocorre “resultado” e este viola o bem jurídico, é possível
uma punição por tal ato de antijuricidade.
Deste modo leciona MIRABETE: 24
Não basta a conduta para que o crime exista, pois é exigido, como vimos, o segundo elemento do fato típico, que é o resultado. Segundo um conceito naturalístico, é ele a modificação do mundo exterior provocado pelo comportamento humano voluntário.É o feito natural da ação que configura a conduta típica, ou seja, o fato tipicamente relevante produzido no mundo exterior pelo movimento corpóreo do agente e a ele ligado por relação de causalidade. É a morte da vítima (no homicídio), a destruição, inutilização ou deterioração da coisa (no dano) etc. [...] Tratando-se do agente e sua conduta, juntamente ligado pela relação de causalidade, restou caracterizado o resultado provocado pelo comportamento humano voluntário, que leva o agente a matar a deteriorar, cometer inúmeras ilicitudes tipificadas em nosso código penal. A lei prevê, porém, crimes em que não existe tal modificação no mundo exterior ( na injuria oral , no ato obsceno, na violação da domicilio etc ). Entretanto, ao mesmo tempo, afirma-se o Artigo. 13 que a existência de crime depende do resultado. Dessa forma, deve-se buscar um conceito jurídico ou normativo de resultado, evitando-se a incompatibilidade absoluta entre os dispositivos que descrevem comportamentos que não provocam a modificação no mundo exterior e o disposto no artigo 13. Assim, resultado deve ser entendido como lesão ou perigo de lesão de um interesse protegido pela norma penal. Como todos os crimes ocasionam lesão ou, ao menos perigo ao bem jurídico tutelado, harmonizam-se os dispositivos legais. É necessário uma harmonização entre os dispositivos legais,
para que não ocorra contradição entre eles. Todos os crimes implicam em uma
lesão ao bem jurídico, tutelado pelo Estado. Este crime implica em um resultado,
24 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 97
15
seja ele material ou físico; entretanto deve-se buscar o conceito jurídico ou
normativo de resultado, visando estabelecer uma melhor compreensão, da lesão
ou o perigo da lesão, procurando especificamente o que de fato ocorreu.
1.2.3.4 Nexo causal
Causa, pode-se definir, é tudo o que concorre diretamente
para o resultado. Devendo deste modo existir sempre o nexo causal para as
atribuições de uma conduta típica ao agente. Se não há nexo causal não se pode
cogitar de responsabilidade penal.
Acerca do tema aduz MIRABETE: 25
Para haver fato típico é ainda necessário que exista relação de causalidade entre a conduta. O conceito de causa não é jurídico, mas da natureza; é a conexão, a ligação que existe numa sucessão de acontecimentos que pode ser entendida pelo homem. Causar, como ensinam os léxicos, é motivar, produzir fenômeno natural que independe de definição.
Em alguns casos não se reconhece o nexo causal, por
exemplo: na morte natural da vítima, de uma agressão, ao agente que em
nenhum momento mentiu ou omitiu informações ligado ao funcionamento de um
forno que resultou na explosão entre outros, deste modo fica caracterizado que o
nexo causal só configura-se quando se contribui diretamente para o fato ocorrido.
O dispositivo mantém na legislação penal a teoria de equivalência dos antecedentes. Não se distingue entre causa (aquilo que uma coisa depende quanto a existência) e condição (o que o permite à causa produzir seus efeitos, seja positivamente a título de instrumento ou meio, seja negativamente, afastado os obstáculos). As forças concorrentes equivalem-se e sem uma delas o fato não teria ocorrido. Todos os fatos que concorrem para a aclosão do evento devem ser considerados causa deste. Basta
25 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 97 e 98
16
que a ação tenha sido condição para o resultado, mesmo que tenham concorrido para o evento outros fatos, a ação é causa e o agente é o causador dele.
Trata-se da ação, uma força que acarreta um resultado,
resultado este que não aconteceria se não supostamente existisse uma
determinada ação, ou seja em conseqüência de ter feito ou deixar de fazer, ter
reprimido ou coagido, levou a vítima a passar por uma determinada situação.
Isso é que se refere aos antecedentes da ação, ao
instrumento do meio, o qual se afastado os abstáculos o fato não teria ocorrido.
Pode-se citar como exemplo o entendimento de
MIRABETE:26
Para que se possa reconhecer se a condição é a causa do resultado, utiliza-se o processo hipotético segundo o qual causa é todo antecedente que não pode suprido in mente sem afetar o resultado. Assim se a vítima se fere na fuga quando procura fugir à agressão, há relação de causalidade, pois se hipoteticamente, se suprimisse a agressão, a vítima não fugiria e, portanto, não sofreria lesão.
Deste modo se o autor da ação contribuiu de alguma
maneira com alguma causa que tenha concorrido para o resultado, mesmo o
omisso é causador do resultado. Essa é a definição adotada por MIRABETE: 19
Manteve a lei a disposição em que afirma que a omissão também é causa do resultado. Não há contudo, nexo causal entre omissão e o resultado, uma vez que o do nada, nada surge. Como bem acentua Damásio, a estrutura da conduta omissa é essencialmente normativa, não naturalística. O omitente responde pelo resultado não por que causou o resultado, mas porque não agiu para impedi-lo, realizando a conduta a que estava obrigado.
26 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 99 e 100
17
Se de algum mudo o agente teve chance de impedir o
resultado e nada o fez, responde ele não porque causou o resultado mais porque
não agiu para impedi-lo, desta maneira realizando a conduta a que estava ele
obrigado.
1.2.3.5 Tipicidade
Tipicidade é o que fica de acordo com o tipo, que em relação
com o agente é a sua conduta ilícita e que pela lei corresponde ao crime.
Acerca do tema é o ensinamento de LEAL: 27
A tipicidade. Para ser crime, é mister a ação, isto é, deve a atuação do sujeito ativo do delito ter tipicidade. Atuar tipicamente é agir de acordo com o tipo. Este é a descrição da conduta humana feita pela lei e corresponde ao crime. Na sua integridade, compõe-se do núcleo, designado por um verbo (matar, subtrair, seduzir etc.); de referência ao sujeito ativo, isto é, condições ou qualidade que se devem encontrar no agente (militar, funcionário público, pai, médico etc), ao sujeito passivo (Estado, mãe, filho menor etc), ao objeto material (coisa, móvel, documento, selo etc.), que freqüentemente se confunde com o sujeito passivo, v. g. no homicídio, em que o homem é sujeito passivo e objeto material; referências não raras encontramos, ainda, ao tempo, lugar, ocasião e meios empregados. Para que exista tipicidade é necessário outros elementos,
pois o tipo penal não é composto só de elementos objetivos, existe a carência e é
necessário os elementos normativos e subjetivos, e só existe fato típico natural
quando estiver também preenchido pelo tipo subjetivo.
O elemento normativo, este se caracteriza quando ocorre o
crime sem justa causa, exemplo, a violação de segredo profissional, implica em
crime se o agente cometeu sem justa causa, se existir um dano ou for para evitar
27 LEAL, João José. Direto Penal Geral. p. 96 e 97.
18
um futuro mal a si ou a outrem, não corresponde mais a um tipo penal a uma
ilicitude, a um elemento normativo.
Já “matar alguém” implica a tipicidade, pois o agente
praticou uma conduta de “matar” este elemento é objetivo.
O elemento subjetivo implica na caracterização do crime se
este está disposto no tipo penal.
Deste modo aduz MIRABETE: 28
Somente haverá assedio sexual se o constrangimento for praticado com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual. Só existe fato típico quando o fato natural estiver também preenchido pelo tipo subjetivo. [...] a tipicidade é o indicio da antijuricidade do fato típico, presume-se também sua antijuricidade, presunção que somente cessa diante de existência de uma causa que a exclua.Assim se A mata B voluntariamente, há um fato típico e, em princípio antijurídico, mas se o fez , por exemplo, em legitima defesa não existira antijuricidade.
Deste modo se ficou evidenciado que o fato não é
antijurídico pressupõe que não é crime, ficando excluso de qualquer culpa e
punição.
Nem sempre a adequação do fato ao tipo penal se opera de forma direta, sendo necessário à tipicidade que se complete o tipo penal com outras normas, contida na parte geral dos códigos. É o se chama de tipicidade indireta, como ocorre na tentativa ( art.14, inc. II) e no concurso de agentes (art.29). 29
Resta caracterizado que nem sempre os fatos ao tipo penal
se operam de forma direta, então surge a necessidade da tipicidade para
completar o tipo penal com outras normas. A qual pode ser chamada de tipicidade 28 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 103. 29 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 103.
19
indireta, exemplo a tentativa, onde só não se consuma o crime por circunstâncias
alheias a vontade do agente, se o agente não fosse impedido de algum modo, o
mesmo consumaria o crime. Fala-se também em tipos fechados, em que a
tipicidade indica a antijuricidade sem qualquer ressalva, condição ou restrição, e
em tipos abertos, como acontece com os crimes culposos.
Nos tipos fechados, a antijuricidade é abordada de maneira
mais fria, talvez não tão detalhada, isso já não ocorre nos tipos abertos, exemplo
os crimes culposos, onde a conduta do agente não expressa uma ilicitude, deste
modo cabe ao legislador e ao intérprete a tarefa de tipificar cada crime, se houve
conduta ilícita ou não, com fundamento na doutrina e jurisprudência. Cumpre
lembrar que nem todos os tipos dolosos são fechados e nem todos os tipos
culposos são abertos.
Em continuidade ao tema aduz NORONHA30:
(...) definindo o delito, cria o tipo, exige interesse individual, em todo o regime de liberdade, que a ação humana se lhe ajuste. É o que se denomina tipicidade. Consequentemente, não existe crime sem tipicidade (...). Realmente, a função punitiva não se contenta apenas com a tipicidade. Um fato pode ser típico e não ser criminoso ou antijurídico (...).
Pode-se classificar em sentido amplo os tipos em duas
maneiras, a primeira, a incriminadora, descritivos nas condutas proibidas, e o tipo
permissivo ou justificativo, de certa maneira denominado causas de justificação
ou de exclusão de ilicitude.
1.3 DA ANTIJURIDICIDADE
É uma ação que contraria o direito, é uma oposição entre o
fato e o direito, contraria a norma, que é imposta pelas leis, através da relação
30 NORONHA, E. Magalhães: Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 100
20
humana que protegem as exigências ético-sociais, deste modo há a necessidade
de fatos que ocorrem da sociedade serem pacíficos de punição, o operador do
direito, vem para questionar e decidir se o fato realmente infringiu as normas e é
antijurídico, deste modo será aplicada a pena necessária.
Para LEAL, antijuricidade é uma ação que é contrária ao
direito, um ato ilícito contrário ao dever e obrigação do agente. Implica na violação
das normas que protege o Estado, o cidadão.
Ainda acerca do tema leciona NORONHA31:
(...) se um fato atentar contra os interesses sociais, mas não for contemplado pela norma, não poderá ser tido como antijurídico ou ilícito penal. (...) Certo é que em matéria do ilícito,deve ser o direito penal impenetrável, a tudo presidindo e dominando os tipos legais que ele define.
Se o agente tem um comportamento que implique na
combinação do fato típico o tipo penal, será ele punido, ou seja, aquele que
contraria o ordenamento jurídico caberá a ele uma pena, uma punição por ter
infringido as normas estabelecidas pelo estado.
Existem causas que excluem a antijuridicidade do fato típico,
são ações que são qualificadas como crime, mais são exclusas pelo direito por
algum motivo justificado, ou seja que elimine sua ilicitude, pode-se ter como
exemplo, legitima defesa, estrito cumprimento de dever legal, exercício regular do
direito, estado de necessidade entre outros.
Ainda comenta MIRABET32 :
24NORONHA, E. Magalhães: Direito Penal. p. 102 32 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 168
21
Existem, entretanto, na lei penal ou no ordenamento jurídico em geral, causas que excluem a antijuridicidade do fato típico. Por essa razão, diz-se a tipicidade que excluem a antijuricidade do fato típico. Por essa razão, diz-se que tipicidade é o indicio da antijuridicidade, que será excluída se houver uma causa que elimine sua ilicitude. ”Matar alguém” voluntariamente é fato típico, mas não será antijurídico, por exemplo, se o autor agiu em legitima defesa. Nessa hipótese não haverá crime [...].
Ficou esclarecido, que pode ser um fato típico, porém exclui
a culpa, entretanto não será crime nem fato antijurídico. Seria uma excludente de
ilicitude de criminalidade esta é a maneira mais abrangente que pode ser dita.
De uma maneira ampla o conceito de antijuridicidade, se
define em valores sociais, morais e políticos, observando que antijuricidade vai
em confronto à justiça social, ofende as normas, as culturas aceitas pelo Estado.
Deve-se ter em mente que pode ser um comportamento
típico, porém pode ou não ser ilícito em face do juízo do valor do ordenamento
jurídico, embora o fato ser ilícito, mas não haverá responsabilidade penal.
Segundo o entendimento adotado, a exclusão da antijuricidade não implica o desaparecimento da tipicidade, e, por conseguinte, deve-se falar em “conduta típica justificada”. De acordo, porém, com a teoria dos elementos negativos do tipo, as causas de justificação eliminam a tipicidade. Segundo esta posição, se entende que o tipo constitui somente a parte positiva do tipo total de injusto, a que se deve juntar a parte negativa representada pela concorrência dos pressupostos de uma causa de justificação.33
Pode-se dizer que a conduta típica justificada, é a exclusão
da antijuricidade, ou seja, o agente cometeu um ato ilícito ilegal, mais por motivos
relevantes não se enquadra na antijuricidade, entretanto não desaparece a figura
da tipicidade, pois sua ação foi um fato típico o qual tem previsão legal a mesma
será eliminada pelas causas de justificativa. 33 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 169
22
Deste modo o fato típico existirá se for ele antijurídico, se
presente umas das causas justificativas, descriminantes, não cabe mais abortar a
conduta típica.
Em continuidade ao tema, o direito prevê certas excludentes,
para que pessoas não possam vir a ficar a mercê de uma injustiça. Estas causas
que excluem a antijuricidade do fato típico, são elas excludentes de criminalidade,
causa justificativa, causa excludente de ilicitude; são elas normas permissivas que
permite o agente praticar o fato típico, o qual ficara isento de uma possível
punição.
Seque o entendimento de Noronha34:
A antijuridicidade representa um juízo de valor em relação ao fato lesivo do bem jurídico. E sua apreciação é puramente objetiva, não dependendo de condições próprias do autor do fato: tanto é ilícito cometido por um homem normal como por um alienado. Em ambos os casos há antijuridicidade; a diferença é que no ultimo não existe agente culpável e, consequentemente punição. Mas a consideração que se faz das condições psíquicas do autor do fato, para aferir a culpabilidade, é estranha à ilicitude. (...)
Antijuricidade pode-se resumir que é a contradição do fato,
embora ilícito, não haverá responsabilidade penal, o qual terá seu interesse
protegido pela ordem jurídica; deste modo o agente fica isento de culpa.
Em continuidade ao estudo será abordado a respeito da
culpabilidade, modalidade a qual tem muita valia no Direito Penal.
34 NORONHA, E. Magalhães: Direito Penal. p. 102
23
1.4 CULPABILIDADE
Para se caracterizar a culpabilidade é necessário ela ser,
típica antijurídica e principalmente culpável. Se trata da lesão ao direito, que se
deriva da ação do agente, atribuindo a tÍtulo de culpa, de maneira mais
abrangente, culpa ou dolo.
Acerca do tema é o entendimento de LEAL: 35
Além de típica e antijurídica, deve a ação ser culpável. Trata-se do elemento subjetivo do delito. O resultado lesivo ao direito, oriundo da ação do sujeito ativo, há de ser-lhe atribuído a título de culpa, em sentido amplo. Isto é, dolo ou culpa. Inadmissível é a responsabilidade objetiva, triunfante de há muito o princípio nullum crimem sine culpa. Estamos que as duas opiniões se conciliam e mesmo se completam. Primeiramente, diga-se que falar de culpabilidade, prescindindo do dolo e da culpa, é olvidar de todo a realidade. O conteúdo da vontade culpável é muito importante, para ser relegado a segundo plano. Será culpável o louco que pratica um ato contrário à lei? Incorre no juízo de reprovação social do absolutamente incapaz? por outro lado, a teoria normativa se impõe por ser a que nos mostra que aquela vontade é contrária à que o indivíduo deveria ter à que ele era obrigado. Deste modo, os atos lesivos que de alguma maneira o
agente cometeu, ou até mesmo deixou de evitar de algum modo a ocorrência do
ato lesivo, este que é chamado de culpa, a qual será medida em conformidade
com o a contribuição que levou até a ocorrência do fato lesivo, seja ele culposo ou
doloso.
Aborda acerca do tema NORONHA: 36
Além de típica e antijurídica, deve a ação ser culpável. Trata-se do elemento subjetivo do delito. O resultado lesivo ao direito, oriundo
28 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 169 29LEAL, João José. Direto Penal Geral. p. 99 e 100. 36 NORONHA, E. Magalhães: Direito Penal. p.104
24
da ação do sujeito ativo, há de ser-lhe atribuído a titulo de culpa, em sentido amplo, isto é dolo ou culpa. A culpabilidade, como reprovabilidade que é, não prescinde do antagonismo entre a vontade censurável do agente (elemento psicológico) e a vontade da norma (elemento valorativo). Já que esta dita ao individuo um proceder de determinada forma e reprova-o por assim não ter agido (...) não pode negar a existência de uma vontade contrária à sua.
Para que se tenha uma melhor definição de culpabilidade,
há necessidade de se estabelecer se o agente tem certo grau de capacidade
psíquica de entender o grau de antijuricidade de sua conduta, para o direito este
elemento é chamado de imputabilidade, se o agente é ou não capaz de entender
o caráter ilícito da ação que cometeu.
Para que se torne o entendimento mais detalhado Mirabete,
leciona sobre algumas excludentes de culpabilidade:
[...] doença mental, desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento mental retardado (artigo. 26); desenvolvimento mental incompleto por presunção legal, do menor de 18 anos (artigo. 27); embriagues fortuita completa (artigo. 28, §1º). Há ausência de culpabilidade também pela inexistência da possibilidade de conhecimento do ilícito nas seguintes hipóteses: erro inevitável sobre a ilicitude do fato (artigo.21); erro inevitável a respeito do fato que configura uma descriminante- descriminantes putativas (artigo 20, § 1º); obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico (artigo 22, segunda parte). Por fim, exclui-se a culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa na coação moral irresistível ( artigo 22, primeira parte).
Resta concluso que a culpa recairá para aqueles que têm
capaz entendimento da ação cometida, chamados de imputáveis, onde o agente
escolhe entre o certo e o errado, pois há ele se pode atribuir a responsabilidade
pelos atos ilícitos que praticou. Deste modo são inimputáveis aqueles que não
têm a mesma diferenciação.
O Direito surgiu com o intuito de oferecer o que é de
merecimento, a justiça tem o poder de dosar e julgar o que de fato é direito de
25
cada indivíduo, deste modo existe a necessidade de um estudo bem detalhado a
cada caso, pois cada um agiu de maneira diferente para chegar ao mesmo ato.
Deste modo sua culpa pode ser maior ou menor, até mesmo nem existir, pode
também ficar excluso a antijuricidade, culpabilidade, até mesmo fato típico.
26
CAPÍTULO 2
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL
Os princípios gerais de direito são também uma forma de
preenchimento de lacuna legal, quando não se é possível aplicar a analogia e os
costumes, obedecendo à ordem.
Estes princípios não têm existência própria, estão dentro do
sistema jurídico, mas cabe ao juiz identificá-los e aplicá-los. Assim como todo e
qualquer meio de integração da norma jurídica, eles não podem ser contrários à
lei, mas dispor de acordo com o que é juridicamente possível, de maneira que
impede que o juiz sentencie arbitrariamente, de acordo com sua opinião pessoal
sem interpretar o princípio e aplicá-lo ao fato. Eles servem para orientar e
condicionar a compreensão do ordenamento jurídico seja para a aplicação do
direito, seja para a elaboração de nova norma, sendo até considerado por alguns
o alicerce do direito.
É na Constituição Federal que estão estabelecidos todos os
princípios que regem o Direito Penal.
2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
A cerca da legalidade preceitua TELES37:
O inciso XXXIX do art. 5°, da Constituição Federal estabelece: “não há crime sem lei o defina; não há pena sem cominação legal” preceito repetido no art. 1º do código Penal: “Não há crime sem lei anterior que defina. Não há pena, sem previa cominação legal” [...].
37 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. São Paulo: Atlas , 2004. p. 71.
27
Ninguém poderá ser condenado sem que a lei assim
estabeleça, e não haverá pena sem cominação legal, nenhum crime será punido
com penas que não estejam estabelecidas nas leis.
Deste modo o Código de 1890, no art 1º consignava:
Ninguém poderá ser punido por fato que não tenha sido anteriormente qualificado crime, e nem com penas que não estejam previamente estabelecidas. A interpretação extensiva por analogia ou paridade não é admissível para qualificar crimes, ou aplicar-lhes penas.38
Este princípio pode ser considerado um dos mais
importantes do Direito Penal, pois sustenta todo o ordenamento jurídico. Tem
significado claro e objetivo. Estabelece que somente poderá alguém receber uma
resposta penal, uma pena, se o fato que praticou estiver anteriormente proibido
por uma lei sob ameaça de pena.
Acerca do tema leciona TELES39:
Por mais imoral que seja uma conduta humana, a ela só corresponderá uma sanção penal se, antes de sua pratica, tiver entrado em vigor uma lei considerando-a crime. O incesto - prática de atos sexuais entre pai e filha ou mãe e filho, ou entre irmãos, sem violência, rela ou moral -, apesar de moralmente, repugnar a todos não é crime e, por isso, não merecerá nenhuma sanção do direito.
Em se tratando de comportamentos que podem ou não ser
reconhecidos como crime, como citou o autor, apesar de uma conduta ser
considerada repudiada moralmente, por causa de nossos princípios e costumes,
pode ela não merecer nenhuma sanção penal do direito. Cabe lembrar, por
38 TELES, Ney Moura. Direito Penal, p. 71. 39 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral, p. 73.
28
exemplo, o adultério, que anteriormente já definido como crime, já teve punição
imposta, nos tempos de hoje não é mais considerado crime.
Acerca da criação das leis discorre o autor:
Só a lei ordinária, aprovada no Congresso Nacional, com observância de todas as regras que regem o processo legislativo, vedada esta atividade ao legislador estadual ou distrital e municipal. Igualmente, não se admite a criação de crimes e penas por meio de Medida Provisória ou Lei Delegada. Do mesmo modo em nenhuma hipótese, permite-se a utilização da analogia para incriminar comportamentos ou cominar penas. 40
Deste modo também ensina LUIZ, acerca do princípio da
Legalidade:
O princípio da legalidade, segundo a doutrina mais contemporânea, se desdobra em três postulados.Um quando as fontes das normas penais incriminadoras. Outro concernente a enunciação dessas normas. E um terceiro relativo a validade das disposições penais no tempo. O primeiro dos postulados e da reserva legal. O segundo é o da determinação taxativa. E o último o da irretroatividade41. Segundo o entendimento do autor é desdobrado em três
espécies de postulados da legalidade; da reserva legal da determinação taxativa
e da irretroatividade.
Como se referiu o doutrinador, as leis só poderão ser criadas
pelo poder legislativo, e diante do Código Penal ficou estabelecido que as leis
somente terão validade mediante aprovação do Congresso Nacional, e somente
lei ordinária, não será admitida a criação de crimes e penas por meio de Medida
Provisória ou lei Delegada.
40 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral, p. 73. 41 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. Porto Alegre. Sergio Antonio Fabris Editor.
2º ed. 2003. p. 17.
29
Deste modo, crime fica definido nos fatos concretos, atos
que tem como conseqüência ferir, ameaçar ou abalar sentimentalmente,
fisicamente ou moralmente o indivíduo, o bem jurídico, deixando de lado os
acontecimentos psicológicos.
Ou seja, o Direito Penal preocupa-se com o que tem de fato
relevância, o acontecimento ou a tentativa, jamais um pensamento ilícito poderá
ser punido se não for tentado ou consumado.
2.2 PRINCÍPIO RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS FAVORÁVEL
Este princípio aborda a respeito que o Réu sempre será
beneficiado se a lei anterior a seu julgamento for mais favorável. Deste modo
dispõe o inciso XL do artigo 5º da Constituição Federal: “A lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.
Desta maneira a primeira parte do preceito tem em comum
com o princípio da legalidade.
A cerca do tema dispõe Teles: 42
O princípio da reserva legal é claro ao dizer que só haverá crime e pena, se houver, previamente, uma lei anterior. Mas o objetivo não era o de reafirmar o princípio da legalidade, mas o de construir outro pilar sobre o qual se sustenta o Direito Penal, o de que a lei penal mais favorável retroagira ou ultra-agirá. Este preceito tem como objetivo interligar e fazer a junção
entre a primeira parte com a segunda, explicando por que a lei não retroage,
salvo para beneficio do réu. Se a lei era mais benéfica no tempo da prática da
ilicitude, terá o réu o benefício deste princípio. Já se no tempo da ilicitude a lei era
mais severa, aplica-se a lei em vigor, que é mais branda.
42 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 75.
30
Leis sucedem-se, criando novos crimes, modificando o tratamento dado aos crimes já existentes, ora com maior severidade, ora abrandando a resposta penal e, até, simplesmente, extinguindo espécies de crimes. Nessas hipóteses, incide o princípio, que proíbe a retroatividade da lei mais severa: não poderá a lei mais grave ser aplicada aos fatos antes de sua vigência. Se contudo, a lei posterior é, de qualquer modo, mais benéfica, vai retroagir, para ser aplicada aos fatos acontecidos antes de sua vigência.43
A pena nada mais é a maneira de punir o agente por ter
cometido algo ilícito, não teria o maior sentido punir alguém com uma pena que
não estivesse em vigor.
Deste modo é o ensinamento de TELES:44
A lei penal que for mais favorável ao acusado da pratica do crime sempre será aplicada, em qualquer hipótese. Por isso, diz-se que a lei mais benéfica é sempre extra-ativa: se ela é a lei posterior, é e retroativa; se ela é a lei do tempo do fato, é e será ultra-ativa.45
A lei aplicada sempre será a mais benéfica para o réu, deste
modo se cometeu uma infração anteriormente à lei que hoje está em vigor, e a
nova lei relata que hoje não é mais crime ou tem uma punição mais branda, fica o
réu beneficiado por esse princípio da lei penal mais favorável.
Acerca do tema também é o entendimento jurisprudencial:
A retroatividade é, então, a aplicação da lei nova a fatos anteriores à sua vigência. Etimologicamente, a palavra retroatividade significa "atividade para trás" juridicamente, dizemos que uma norma retroage quando vigora não somente a partir da publicação, mas, ainda, regula certas situações jurídicas configuradas anteriormente. Assim, uma nova lei de inquilinato que vedasse a cobrança, ao inquilino, do imposto predial em
43 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 76. 44 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 75 45 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 76.
31
locações já acordadas. O princípio da retroatividade afirma que as leis devem aplicar-se não somente a fatos presentes e futuros, mas, inclusive, àqueles anteriores à sua vigência. Devem as leis acompanhar pari passu a evolução das necessidades sociais e, se respeitarem de forma ortodoxa relações já constituídas, a efetividade da lei seria grandemente prejudicada, eis que esta só se afirma a longo prazo. A lei nova, prosseguem os adeptos do princípio da retroatividade, é a ideal para regular todos os casos, inteiramente cabível sua aplicação retroativa. Sendo retroativa, a lei volta ao passado, retroage, recua. Aqueles que admitem e até preconizam a retroatividade da lei, argumentam que a lei nova representa - como deve representar - uma visão mais moderna e arejada dos valores sociais disciplinados na lei e, portanto, representa a melhor forma de regular a convivência social. Será conveniente, portanto, que a lei se aplique retroativamente, para desfazer os efeitos jurídicos de relações que, certamente, estariam reguladas, no sistema anterior, de maneira deficiente ou injusta46.
Deste modo fica estabelecido perante a legislação que a lei
mais benéfica sempre retroagirá para beneficiar o Réu.
Em relação com a progressão de regime nos crimes
hediondos, que será abordada no ultimo capitulo, cabe observar que há dois
reflexos advindos da lei que implicam inversamente em benefício e prejuízo
àqueles que cometeram crimes antes da sua vigência, estejam ou não em
execução de pena, julgados ou ainda aguardando a definição dos respectivos
casos. A aplicação do art. 2º, § 1º, Lei 8.0782/90 é extensiva a todos, de modo
que indubitavelmente todos os condenados por crimes hediondos passam a
cumprir a pena inicialmente em regime fechado, norma de caráter benéfico, que
retroage para abrigar a todo um grupo que extraia de sua aplicação a aludida
vantagem. Doutrinadores anotam que em relação à execução penal, o princípio
da retroatividade benigna tem inteira aplicação, se referindo inclusive a
precedente da Suprema Corte: “Execução penal. A ela é aplicável o princípio da
retroatividade benéfica. 46http://www.juristas.com.br/a_1936~p_1~O-Princ%C3%ADpio-da-Fragmentariedade-e-os-
Tribunais-P%C3%A1trios.Acesso em 15/10/07
32
2.3 PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
Para cada crime existe uma pena abstrata, que ao ser
aplicada ao infrator levará em conta a condição do mesmo, implicando, assim, em
uma punição individualizada.
Deste modo, vários fatores serão observados, em sua
particularidade, o momento que levou o indivíduo a praticar tal ato, as
circunstâncias e suas características, a maneira como foi feito, com emprego de
violência ou não, o motivo, se foi por emoção ou ameaça, ou motivo irrelevante ou
torpe, emoção ou vingança, o comportamento do indivíduo, as atenuantes e
agravantes do crime.
O magistrado, para cada crime, deverá estudar
individualmente, pois nenhuma vítima é igual a outra ou o infrator é igual a outro,
cada um com culturas, princípios e valores diferentes.
A cerca do tema leciona LUISI47:
Na primeira etapa através da lei, - que fixa para cada tipo penal uma ou mais penas proporcionais a importância do bem tutelado e a gravidade da ofensa. Não se trata de penas com quantitativos certos e fixos. Também prevê as espécies de pena e muitas vezes as prevê de forma alternativa, e mesmo, em outras ocasiões dispõe a sua aplicação cumulada. Em outros textos normativos viabiliza as substituições da pena, geralmente as mais graves por espécies mais atenuadas.
Deste modo ao estabelecer as regras cada caso o juiz
deverá analisar suas peculiaridades, para fixação definitiva e concreta, assim
dispõe nossa constituição.
47 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. p. 52.
33
Este princípio está em conformidade com o inciso XLVI do
art. 5º da Carta Magna:
A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos48.
Para que se possa fazer a individualização da pena, deve
ser observado três etapas: cominação, aplicação e execução.
Deste modo é o ensinamento do doutrinador TELES49.
No primeiro momento da individualização, a tarefa incumbe ao legislador, que, ao definir os vários comportamentos humanos que considera crime – cumprindo, assim, o princípio da legalidade -, estabelece para cada um, uma pena em qualidade e quantidade. Esta é a chamada a fase da cominação das penas.
Assim o legislador ao definir o crime, o bem jurídico lesado,
a gravidade do ato delituoso, estabelecerá uma qualidade ou quantidade de pena,
conforme a lesão praticada.
Para que o assunto abortado torne-se mais simplificado, cita
o autor um exemplo:
Assim a morte de um homem por outro lado, que a desejou merecerá a mais severa das penas. Já ao simples e leve ferimento do corpo humano causado intencionalmente por outro, corresponderá uma pena bem mais branda. Se o causador da lesão não a queria nem aceitava, mais foi descuidado, a pena será mais leve ainda50.
48 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 76 49 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 77 50 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 77
34
Observa-se que a vida é um bem jurídico mais importante
que a integridade corporal do indivíduo, e o indivíduo que deseja causar o mal a
outrem pratica conduta mais grave do que aquele que agiu por descuido, por
imprudência por exemplo.
Nessa perspectiva, Franco51 ensina que:
(...) o princípio isonômico em sua latitude maior, quer o da
individualização da pena previsto no inciso XLVI do art. 5º da
Carta, e o princípio implícito segundo o qual o legislador ordinário
deve atuar tendo como escopo maior o bem comum, sendo
indissociável da noção deste último a observância da dignidade
da pessoa, que é solapada pelo afastamento, por completo, de
contexto revelador da esperança, ainda que mínima, de passar-
se ao cumprimento da pena em regime menos rigoroso.
Por isso o ao fixar a pena, foi estabelecido o máximo e o
mínimo de pena, onde será aplicado no caso concreto, em conformidade com
cada delito específico.
Prossegue o doutrinador Teles52:
Para cada crime, uma pena, fixada abstratamente, e que paira sob todos os indivíduos como uma ameaça. Todos, portanto tem conhecimento de que, se cometerem esse ou aquele crime, estarão sujeitos a essa ou aquela pena.
A aplicação da pena varia conforme o ato delituoso, pode
ser reclusão, detenção e multa.
A primeira observação, a propósito, é de que a pena a ser aplicada não poderá ser nem além nem aquém do necessário e
51 FRANCO, Alberto Silva. Lei de Crimes Hediondos. Fascículos de Ciências Penais. Porto
Alegre: SAFe,./jun. 1992.p.52-53. 52 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 78
35
suficiente para a reprovação e prevenção do crime. Isto quer dizer que dentro dos limites fixados –mínimos e máximos – a pena deve ser fixada de modo justo, exato53.
De acordo com o Código Penal, em seu art. 59, o juiz
observará para a fixação das penas, considerando várias circunstâncias, a
culpabilidade do indivíduo, os antecedentes, a conduta social, a personalidade, os
motivos que o levaram a cometer tal infração, as circunstâncias e o
comportamento da vítima.
O magistrado, após observar se as circunstância são
favoráveis ou prejudiciais ao infrator, fixa a pena base, partindo, na segunda fase,
para as atenuantes ou agravantes, previstas, respectivamente, nos artigos 61 e
62 e 65 e 66, do Código Penal e, na terceira fase, observará as causas de
aumento e de diminuição.
Sobre a fixação da pena disserta o autor:
Fixada a pena definitiva o juiz estabelecerá o regime de seu cumprimento, se privativa de liberdade, como manda art. 33 do Código Penal ou substituí-la conforme determina o art. 60, §2º e art. 44 do Código Penal54.
Assim dispõem os artigos correspondentes acima:
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fecha,
semi aberto ou fechado. A detenção em regime semi aberto, ou
aberto salvo necessidade de transferência a regime fechado.
Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender,
principalmente a situação econômica do réu.
53 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 78 54 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 79
36
§ 2 – A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6
(seis) meses pode ser substituída pela de multa, observados os
critérios dos incisos II e III do art. 44 deste código.
Art. 44 – As penas restritivas de direito são autônomas e
substituem as privativas de liberdade, quando:
I – aplicada a privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos
e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa ou, qualquer que seja a pena a ela aplicada, se o crime
for culposo.
II – o réu não for reincidente em crime doloso.
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado do condenado, bem como motivos
a as circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente.
TELES observa que a pena não poderá jamais ser igual para
todos os condenados: “além de terem cometido crimes distintos, são diferentes
entre si, cada qual com sua personalidade sua necessidade de reprovação e
prevenção”. 55
Deste modo este princípio sempre que necessário deverá
ser observado, pois tem reserva constitucional e é um direito do indivíduo que
está sendo julgado, direito reservado pelo Estado.
O inciso XLVIII do art. 5º da Constituição Federal estabelece:
“A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza
do delito, a idade e sexo do apenado”.
55 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 80
37
Como dito, cumpre ressaltar que para que seja feita a
individualização das penas, deverá conter três fases, a cominação, aplicação e
execução. Assim conclui TELES56:
A individualização só é possível e só é entendível se puder concretizar nas três fases: cominação, aplicação e execução. Deixando de ser possível individualizar numa delas, não terá havido individualização. O legislador não pode sobrepor-se ao juiz. Em todas as etapas, o indivíduo condenado tem o direito a individualização de sua pena. Já com relação aos crimes hediondos à lei ordinária
compete fixar os parâmetros dentro dos quais o julgador poderá efetivar ou a concreção ou a individualização da pena. Se o legislador ordinário dispôs, no uso da prerrogativa que lhe foi deferida pela norma constitucional, que nos crimes hediondos o cumprimento da pena será no regime fechado, significa que não quis ele deixar, em relação aos crimes dessa natureza, qualquer discricionariedade ao juiz na fixação do regime prisional.
2.4 O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
Acerca deste princípio, entende NORONHA57:
Está previsto em nossa Constituição federal: “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória” (art. 5°, LVII). Dele decorre a existência de que a pena não seja executada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. Somente depois de a condenação tornar-se irrecorrível é que podem ser impostas medidas próprias da fase da execução.
56 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 81 57 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 11.
38
Este princípio da presunção da inocência é postulado pela
Constituição Federal, e somente depois da sentença condenatória o agente será
considerado culpado.
Acerca do tema também disserta TELES58:
Já se falou que a pena só pode ser aplicada pelo julgador que é funcionários do estado de dizer o Direito, distribuindo a justiça. Para concluir se alguém de sofrer a punição, o juiz adotara uma série de medidas, realizará um conjunto de atos, dirigirá várias atividades determinadas a descobrir a verdade: O homem é ou não culpado pelo que fez? Se for culpado então sofrerá a pena.
Após a sentença, poderá o condenado, não conformado com
a decisão, apelar à instância superior, onde poderá ter a decisão modificada ou
não.
Em conformidade com este princípio, jamais o acusado, que
está sendo processado, mesmo que estiver preso provisoriamente, poderá ser
considerado culpado enquanto não transitar em julgado a decisão condenatória.
2.5 PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
Relata NORONHA59, acerca do princípio da culpabilidade:
Nullum crimem sine culpa. A pena só pode ser imposta a quem, agindo com dolo ou culpa, e merecendo juízo de reprovação, cometeu um fato típico e antijurídico: o juízo de reprovabilidade (culpabilidade), elaborado pelo juiz, recai sobro o sujeito impotável que podendo agir de maneira diversa,tinha condições de alcançar o conhecimento da ilicitude do fato (potencial consciência da antijuridicidade). O juízo de culpabilidade, que serve de fundamento e medida da pena, repudia a responsabilidade penal objetiva (aplicação de pena sem dolo, culpa e culpabilidade).
58 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 90 59 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 11.
39
Um ato, uma ação só será punida se tiver o elemento
antijuricidade, ilicitude, seja ela culposa ou dolosa, devendo observar o tipo e
outros elementos componentes, não havendo pena sem culpabilidade que deve
ser medida proporcionalmente conforme seu grau de contribuição.
Também disserta LUISI60 acerca do princípio da
culpabilidade:
(...) esta característica do delito só aparece em uma fase evolutiva da história da espécie humana. Em todos os primórdios das civilizações a responsabilidade pela pratica de um fato ilícito tinha caráter rigorosamente objetico, ou seja, bastaria o agente ter causado o evento danoso. Não se indagava se o dano fora ou não querido por seu autor, ou seja, produto de sua vontade.
Com a evolução histórica, as doutrinas e jurisprudências,
foram sofrendo transformações, decorrente disso modificações necessárias foram
feitas, onde analisa-se cada caso observando a culpa e o dolo de modo
separados.
Quem de algum modo contribuiu para lesionar outrem deve
ser punido, mesmo que não aja com intenção, como nos crimes culposos, pelo
simples fato de assumir o risco de produzi-lo já tem indícios de culpa, mesmo
assim atribui-se a responsabilidade, e será aplicada a pena que couber.
2.6 PRINCÍPIO DA IMPUTABILIDADE
Este princípio observa o grau de responsabilidade do
agente, que pode ou não responder pelo ato delituoso.
Acerca do tema leciona LEAL61:
60 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. p. 32. 61 LEAL, João José. Direto Penal Geral. Florianópolis: OAB/SC. p. 100/101.
40
A imputabilidade, diz-se o indivíduo mentalmente são, ou na linguagem do art. 26 do Código – quando defini o inimputável – o capaz de entender o caráter criminoso de seu ato ou determinar-se de acordo com esse entendimento. Adquiri ele tal capacidade com o desenvolvimento biológico e com a vida social Se a culpabilidade é juízo de reprovação social, é censurabilidade; compõe-se de outro elemento: a exigibilidade de outra conduta. Culpável é a pessoa que praticou o fato, quando outra conduta lhe era exigida, e, ao revés, exclui-se a culpa pela inexigibilidade de comportamento diverso do que o indivíduo teve. Outros, entretanto, aceitam-se com amplitude: “Cabe admitir a não-exigibilidade de conduta diversa com o caráter de causa geral de exclusão da culpabilidade, em qualquer de sua formas, dolo ou culpa. Tal princípio está realmente implícito no Código e pode aplicar-se por analogia a casos semelhantes aos expressamente previstos no sistema. Na realidade, são casos de verdadeiras lacunas da lei, que a analogia vem cobrir pela aplicação de um princípio latente no sistema legal. É a analogia in bonam partem, que reconhecemos como tendo aplicação no Direito Penal.
Para que se possa ter um melhor detalhamento, dispõe o
Código Penal Brasileiro:
Artigo 26 – É isento de pena o agente que por, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era ao tempo da ação ou da omissão inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento.
Será isento de pena aquele que praticou a infração, e no
momento da ação era incapaz de entender o caráter ilícito do fato.
Já no que se refere aos menores de dezoito anos, esses
ficarão submetidos às normas estabelecidas na legislação especial.
2.7 PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE
Tem o Direito Penal o princípio de proteção dos bens mais
importantes, as lesões dos bens jurídicos de maior gravidade e importância.
41
É conseqüência dos princípios da reserva legal e da intervenção necessária (mínima). O Direito Penal não protege todos os bens jurídicos: só os mais importantes. E, dentre estes, não os tutela de todas as lesões: intervém somente nos casos de maior gravidade protegendo um fragmento dos interesses jurídicos. Por isso é fragmentário.62. Também aborda TELES63:
A fragmentariedade não quer dizer, obviamente, deliberada lacunosidade na tutela de certos bens e valores e nas buscas de certos fins, mas limites necessário a um totalitarismo de tutela, de modo pernicioso para a liberdade. Já pelo postulado da fragmentalidade [...], tem-se a função maior de proteção de bens jurídicos atribuída à lei penal não é absoluta, mais sim relativa, visto que todo o ordenamento jurídico dele se ocupa. O que faz com que só devam eles ser defendidos penalmente ante certas formes de agressão, consideradas socialmente intoleráveis. Isso quer dizer que apenas as ações ou omissões mais graves endereçadas contra bens valiosos podem ser objeto de criminalização.
Deste modo o Direito Penal tem como obrigação proteger
somente os bens de maior importância para a sociedade, aqueles que realmente
atacam bens jurídicos cujos valores são imprescindíveis para a manutenção e o
bom desenvolvimento da sociedade.
Acerca do tema leciona o jurista MACHADO64:
62 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 10. 63 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. p. 144/145. 64Leonardo Marcondes Machado com.br/a_1936~p_1~O-Princ%C3%ADpio-da-
Fragmentariedade-e-os-Tribunais-P%C3%A1trios.Acesso em 15/10/07. .
42
A fragmentariedade do Direito Penal reside exatamente no fato
de a tutela penal somente recair sobre uma parte (um fragmento)
dentro dessa infinidade de bens protegidos pelo ordenamento
jurídico, por meio de seus mais diversos ramos (Direito Civil,
Administrativo, Tributário, Comercial, etc.). Ou seja, em meio a
toda essa gama de bens jurídicos protegidos somente caberá ao
Direito Penal a tutela daqueles que são considerados essenciais
à manutenção do bom convívio social.
Resta concluso, que este princípio da fragmentariedade o
Direito Penal, fica submetido a total responsabilidade, de garantir ao individuo, a
tutela dos bens jurídicos serem protegidos, não cabendo a outros ramos do
direito.
2.8 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE DAS PENAS
O réu somente será condenado pela proporção de sua
culpa, não será sua pena superior a sua contribuição na infração praticada.
Deste modo é o entendimento de NORONHA65:
Chamado também “princípio da proibição de excesso”, determina que a pena não pode ser superior ao grau de responsabilidade pela prática do fato. Significa que a pena deve ser medida pela culpabilidade do autor. Daí dizer-se que a culpabilidade é a medida da pena. Pode-se citar como exemplo o estupro e o atentado violento
ao pudor, que possuem a mesma pena, de 6 a 10 anos de reclusão. Entretanto,
deverá ser observado a maneira, os meios empregados, como o ato foi praticado
entre outros elementos, dessa maneira será concluída a proporcionalidade da
pena.
65 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 11.
43
Acerca do tema ensina PRADO66: Para a cominação e imposição da pena, agregam-se, além dos requisitos de idoneidade e necessidade, a proporcionalidade. Pela adequação ou idoneidade, a sanção penal deve ser um instrumento capaz, apto ou adequado à consecução da finalidade pretendida pelo legislador [...]. O requisito da necessidade significa que o meio escolhido é indispensável, necessário para atingir o fim proposto, na falta de outro menos gravoso e de igual eficácia. Indispensável a existência de certa proporcionalidade entre a agressão e a reação defensiva, no tocante a bens e direitos ameaçados.
Deste modo vale dizer que se faz necessário a significância
do meio que foi usado para atingir o fim, deste modo se fará a proporcionalidade
das penas.
2.9 PRINCÍPIO DA HUMANIDADE
Salienta esse princípio que todo indivíduo tem direito à vida,
a liberdade e à segurança pessoal, também fica estabelecido que ninguém será
submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Cumpre lembrar que esse princípio ficou estabelecido pela declaração dos
direitos do homem.
Também a Constituição Federal em seu artigo 5. °, XLVII,
dispõe que é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.
Acerca do tema ensina PRADO67:
A idéia de humanização das penas criminais tem sido uma reivindicação constante no perpassar evolutivo do Direito Penal.
66 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro. Vol. 1 : parte geral. São Paulo. Ed.
Revista dos Tribunais, 2007. p. 146 e 148. 67 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro. Vol. 1 : parte geral. p. 148.
44
Das penas de morte e corporais, passa-se, de modo progressivo, às penas alternativas (ex: multa, prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos, limitação de fim de semana). Observa-se que a forma de punição com o passar dos anos
teve a necessidade de ser modificada decorrente da evolução humana. Esta
modificação decorreu pelos diferentes princípios morais, espirituais que foram
surgindo de acordo com as necessidades de cada povo.
No que se refere a legislação acerca do tema leciona
LUISI68: A nossa Constituição Federal de 1988 consagrou em diversos dispositivos o princípio da humanidade. No inciso XLIX do art. 5º está disposto que é “assegurado aos presos o respeito a integridade física e moral”; e no inciso seguinte está previsto que “às presidiárias serão asseguradas as condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação” mas onde o princípio em causa assume relevância é no inciso XLVII no mencionado artigo 5º onde se ordena que não haverá penas: a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do artigo 84, XIX ; b) de caráter perpétuo; c) trabalhos forçados; d) de banimentos; e) cruéis. Deste modo, este princípio ter por finalidade estabelecer
limites e preservar o ser humano em sua integridade física e moral, onde nem um
indivíduo deve ser tratado com distinção, por ser pobre ou rico, branco ou negro,
deixar de crer em algo ou não. Cada um com seus ideais devem ser respeitados e
punidos se necessário respeitando os direitos individuais de cada um.
O princípio da humanidade, é um dos mais importantes princípios pertinentes a pena, em nosso direito penal nacional, uma vez que este harmoniza os direitos fundamentais garantidos a todos com os que são vedados ao condenado com a segregação.
Assim, o princípio da humanidade garante aos condenados, independente do tipo e quantidade de pena, certos direitos que lhe alcançam o direito natural de vivência como ser humano. 68 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. p. 47.
45
A mudança agora operada no texto original do art. 2º, § 1º, da lei de crimes hediondos e equiparados foi defendida por boa parte da doutrina, desde o primeiro momento de vigência da LCH. Em síntese, os penalistas sempre entenderam que esta norma - de absoluta proibição a priori - contrariava os princípios constitucionais de maior grau de hierarquia normativa da individualização e da humanidade da pena, além dos princípios do devido processo legal e da igualdade.
2.10 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Trata-se da irrelevante lesão ao bem jurídico que está sendo
protegido, o qual não justifica a imposição de uma pena. Deste modo deve ser
excluída a tipicidade da conduta, pois o caso foi de pouca importância, não
merecendo punição legal.
Assim ensina PRADO69: O princípio da insignificância é tratado pelas modernas teorias da imputação objetiva como critério para a determinação do injusto penal, isto é, como um instrumento para a exclusão da imputação objetiva de resultados. Ou seja, resultados que intervém em casos de lesão jurídica
de pequena gravidade, com relevância material, ou lesão corporal de extrema
singeleza, maus tratos de importância mínima, entre outras lesões jurídicas de
pequena importância, ficam exclusos pelo princípio da insignificância, de
ingressar na punição mínima pelo direito penal, pelos fatos de mínima
ofensividade.
Assim é o ensinamento de JESUS70:
Ligado aos chamados “crimes de bagatela” ( ou “delito de lesão mínima”) recomenda que o Direito Penal, pela adequação típica, somente intervenha nos casos de lesão jurídica de certa
69 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro. Vol. 1 : parte geral. p. 154. 70 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, vol. 1. 28. ed. rev.. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 10.
46
gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipóteses de perturbação jurídicas mais leves [...]. Hoje, adotada a teoria da imputação objetiva, que concede relevância à afetação jurídica como resultado normativo crime, esse princípio apresenta enorme importância, permitindo que não ingressem no campo penal fatos de ofensividade mínima.
Deste modo ficará o agente isento de punição, pois praticou
um ato atípico, e estará amparado pelo princípio da insignificância.
Assim, analisados alguns princípios do Direito Penal, passa-
se, no capítulo seguinte, ao estudo da progressão de regime nos crimes
hediondos, embasado na nova lei que agora o regula.
47
CAPÍTULO 3
DA PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS
3.1 DA PROGRESSÃO DE REGIME
A progressão de regime tem como objetivo recuperar o
indivíduo, de reintegrá-lo socialmente, ou seja, a transferência do condenado de
regime mais rigoroso a outro com menor repressão, após o indivíduo ter cumprir
alguns requisitos legais.
Assim ensina MIRABETE71:
A progressão, porém, deve ser efetuada por etapas já que, nas penas de longa duração, a realidade ensina que se deve agir com prudência para não permitir que o condenado salte do regime fechado para o aberto.
Deste modo será observado vários critérios, para que o
apenado salte de um regime para outro. O comportamento, o tempo de pena
cumprida, entre outros requisitos.
A previsão legal do direito à progressão de regime está
disposto no artigo 112 da LEP:
Artigo 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas que vedam a progressão.
71 MIRABETE, JULIO FABRINNI: Comentário à lei n° 7.210, DE 11-7-1984.11. ed. Revista e atualizada- São Paulo: atlas ,2004.p. 387
48
§ 1° A decisão será sempre motivada e precedida da manifestação do Ministério Público e do defensor.
§ 2° Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes.
Ficou estabelecido com a lei que só poderá ser concedida a
progressão através de determinação pelo juiz, quando a preso tiver cumprido ao
menos um sexto da pena do regime atual, respeitando todas as normas o
apenado poderá gozar deste benefício.
Está também estabelecido que a decisão do juiz deverá
sempre ser promovida e procedida de manifestação ao Ministério Público e do
defensor.
Será feito também uma avaliação prévia que será
obrigatória, efetuada pela Comissão Técnica de Classificação, quando o pedido
de progressão referir-se do fechado para o semi-aberto, será facultativo quando o
pedido for de progressão do semi-aberto para o aberto.
Cabe agora observar e estudar alguns requisitos para que a
progressão seja aprovada. Em primeiro lugar, deve o preso ter cumprido um sexto
da pena.
Deste modo MIRABETE72 leciona:
Em primeiro lugar, portanto, deve o condenado, para obter a progressão, ter cumprido um sexto da pena ou dos totais das penas que lhe foram impostas, no regime inicial. É pacifico na jurisprudência, que para o cálculo desse lapso temporal tenha-se a soma das penas impostas ao condenado.
72 MIRABETE, Júlio Fabbrini:Comentário à Lei n° 7.210, de 11-7-1984.p.415.
49
A progressão somente será possível após o cumprimento de
um sexto da pena no regime anterior que o condenado se encontra, desde logo
não poderá o magistrado na própria sentença condenatória, de iniciada a
execução, fixar em um terço da pena o tempo mínimo de permanecia no regime
fechado.
Deste modo já julgou a jurisprudência acerca da progressão:
Pena - Execução – Regime semi –aberto – Progressão para o aberto – Admissibilidade – Tempo de cumprimento da pena no regime semi-aberto que deve ser calculado sobre o restante da condenação e não sobre o seu total- Interpretação teleológica do artigo 112 da lei de Execução Penal- Agravo Provido ( TJSP – JTJ 204/323) 73.
O cálculo de 1/6 da pena tem como base a pena a ser
cumprida, deste modo após a primeira transferência de regime, a progressão será
determinada, quanto ao requisito temporal, pelo restante da pena, ou seja, pelo
que teria o condenado a cumprir a parte da primeira transferência.
O caráter de progressão aqui analisado, diz respeito a
requisitos objetivos. Já os requisitos subjetivos serão analisados de outra
maneira.
Cumprindo o condenado a parte de um sexto da pena do
regime anterior, exige à lei a transferência para um regime menos rigoroso, entre
tanto o condenado der desempenhado bom comportamento no tempo de cárcere
privado, o qual comportamento devera ser comprovado pelo diretor do presídio.
Este merecimento adquirido pelo bom comportamento do
preso tem caráter subjetivo, capacidade, merecimento, valor moral.
Acerca do tema é o entendimento jurisprudencial: 73 MIRABETTE, Júlio Fbbrini:.Codigo Penal Interpretado.1ª ed, Atlas,1999,p. 315
50
Regime prisional fechado – Progressão para o regime semi-aberto - Inadmissibilidade pela ausência de merecimento através de sua personalidade, ainda que tenha cumprindo 1/6 da pena – Aplicação do princípio in dúbio pro societate. Ainda que o condenado tenha cumprido 1/6 da pena, ou seja, o tempo necessário para o semi-aberto, só poderá obter tal beneficio se preencher o requisito subjetivo, ou seja, o merecimento através de sua personalidade, pois em sede de execução criminal vigora o princípio do in dúbio pro societate (RT 744/579).74
Este entendimento também vem sendo adotado pelos
doutrinadores, conforme leciona MIRABETE75:
A progressão não pode ser deferida, portanto, quanto, apesar de cumprido um sexto da pena no regime, não preenche o condenado os requisitos subjetivos exigidos. Comportamento dissimulado, pouco grau de responsabilidade, personalidade insegura ou imatura, com dificuldade de introjetar leis e normas, desinteresse em trabalhar ou freqüentar escolas.
Subjetivamente, e que envolve o mérito do apenado a
oportunidade de transferência, que será sempre analisado as perspectivas de
adaptação do preso ao novo regime, como se portara as limitações que serão
impostas, e os benefícios que irá dispor.
3.2 DA PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS ANTES DA LEI 11.464/06
Neste momento, cabe dissertar sobre a profundidade da
palavra hediondez, a qual tem significado de um ato profundamente repugnante,
sórdido, imundo, contraria totalmente os princípios morais e idôneos de uma
pessoa.
É assim o entendimento de LEAL76:
74 MIRABETTE, Júlio Fbbrini:.Codigo Penal Interpretado. P. 315. 75 MIRABETE, Júlio Fabbrini:Comentário à Lei n° 7.210, de 11-7-1984.p.424
51
(...) podemos dizer que hediondo é o crime que causa profunda e consensual repugnância por ofender, de forma acentuadamente grave, valores morais de indiscutíveis legitimidade, como o sentimento comum de piedade, de fraternidade, de solidariedade e de respeito a dignidade da pessoa humana (...). Em conseqüência, o autor de um crime hediondo deve merecer sempre o grau máximo de reprovação ética por parte do grupo social e do próprio sistema de controle.
Sendo assim, por ser considerado o crime hediondo de
maior gravidade e merecedor de uma punição com maior severidade, o conceito
legal de hediondez selecionou alguns crimes, infrações da tipologia criminal, para
qualificá-los como “crimes hediondos”, estes obrigatoriamente merecedores de
maior grau de censura.
Em decorrência da gravidade dos crimes, o legislador sentiu
a necessidade de um regime de progressão diferenciado para os indivíduos que
praticaram crimes hediondos e até hoje vem sofrendo modificações, em
decorrência da Constituição Federal, da própria norma e julgados.
A Lei 8.072/90, que em seu artigo 1º, capitula os crimes
hediondos, conforme qualifica LEAL77:
Latrocínio (artigo 157, § 3º, in fine), extorsão qualificado pela morte (artigo 158 § 2º), extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada ( art.159, caput e §§ 1º e 2º), estupro ( artigo. 213, caput, em sua combinação com o artigo.223, caput e parágrafo único), atentado violento ao pudor ( artigo 214 e sua combinação com a morte (artigo 267, §1º) envenenamento com água potável ou de substancia alimentícia ou medicinal, qualificado pela morte(artigo 270, combinado com o artigo 285, todos do código Penal (Decreto lei 2.848, de 07.09.1940), e, ainda, o crime de genocídio (artigo.1º, 2º e 3º DA LEI 2889, de 01.10.1956), tentados ou consumado.
76 LEAL JOÃO JOSÉ: Crimes Hediondos. 2º ed. Curitiba: Editora Juruá, 2003. p. 26 77LEAL, João José. Crimes hediondos Lei nº 8.072/90.Curitiba:Juruá, 2003.p 31.
52
O legislador em meio a uma sociedade que vivia insegura no
final dos anos 80 e início dos anos 90, sendo constantes os apelos por mais
segurança e que fossem tomadas medidas que tranqüilizassem a população,
aprovou a Lei 8.072.
Os meios de comunicação foram também o grande
motivador para a referida lei. Foi com assassinato da atriz Daniela Perez, filha da
escritora de novelas Glória Perez, que o homicídio foi incluído no rol dos crimes
hediondos, após o tema ter sido abordado na novela de horário nobre da rede
Globo.
Cabe observar que o crime de homicídio não se enquadrava
na conduta de crimes hediondos, apesar de ser um dos crimes com maior
gravidade, deste modo trouxe uma lacuna para o Direito Penal Brasileiro, e
apontado pelos doutrinadores como uma gravíssima contradição jurídica.
Foi em 06.09.1994 que foi promulgada a lei 8.930, onde
ocorreu a inclusão do homicídio qualificado (CP, artigo 121, § 2º, inciso I a V) e o
homicídio simples, quando praticado em atividade típica de extermínio (artigo 121
caput).
A lei proibiu a concessão de graça, indulto e anistia. Deste
modo houve uma discussão muito grande na doutrina, já que a Constituição de
1988 proibiu a concessão de graça e anistia para os condenados por crime
hediondo. A doutrina argumentava que não cabia ao legislador ordinário alargar
normas estabelecidas em nível constitucional, até porque o indulto é uma
atribuição do Presidente da República, conforme artigo expresso da Constituição
Federal.
A impossibilidade de concessão de liberdade provisória
também está presente na Lei dos Crimes Hediondos. Para a doutrina ela ataca o
princípio da presunção da inocência, dando ao denunciado o caráter de culpado.
53
A jurisprudência é manifesta, alegando alguns que a prisão a título provisório
serve apenas para a proteção do meio social, não afetando a presunção de
inocência; e outros alegando que a liberdade provisória é direito garantido pela
constituição, em seu artigo 5º, inciso LXVI.
Com a exceção dos crimes hediondos, tráfico ilícito de
entorpecentes, terrorismo, e prática de tortura, em que a pena deveria ser
cumprida integralmente em regime fechado, todos as restantes infrações admitia
a progressão de regime (§ 1º do artigo 2º, da lei n º 8.072/90).
Em decorrência de vários atritos decorrente da lei n°
8.072/90, entre os doutrinadores e juristas, tendo em vista a impossibilidade de
progressão de regime em crimes hediondos, o tema basicamente era
questionado, entre aqueles que apontavam a inconstitucionalidade do regime
integral, ou seja integralmente fechado, devido ao princípio da individualização da
pena. Outros sumariamente questionavam que a Constituição, no próprio artigo
5º., XLVI, estabelece que “a lei” (ordinária) “regulará a individualização da pena”,
em nada convence quanto à legitimação do regime integral fechado. Isso porque
a Constituição manda a lei ordinária “regular” a individualização.
O ponto principal de discussão da Lei 8.072/90 foi o inciso I
do art. 2º, que diz que a pena por esses crimes deve ser cumprida integralmente
em regime fechado. Deste modo não admitindo a progressão de regime nos
crimes acima citados.
Mas a Constituição de 1988, proíbe no seu artigo 5º, XLVII,
alínea “e” as penas cruéis. Ser condenado ao cumprimento da pena em regime
integralmente fechado.
Em referência a pena, cabe observar que ela atende a um
princípio Constitucional da humanização, pois o artigo 5º da Constituição, em seu
inciso XLVII proíbe penas que ferem o principio humano. Fica a pergunta se
nesse ponto novamente a Lei dos Crimes Hediondos não feriu um principio
54
constitucional, pois é clara a idéia de que uma pena executada com um único
regime prisional é desumana, pois inviabiliza o tratamento penitenciário
progressivo, deixando o recluso sem esperança de obter a liberdade antes do
final de sua condenação, sem exercer nenhuma influência psicológica no sentido
de reinserção social, também prejudicando a sociedade, pois devolve o preso
após o cumprimento da reprimenda a uma vida social depois do mesmo sofrer um
processo de socialização as avessas.
Deste modo, feito os questionamentos e argumentações, o
STF julgou inconstitucional o artigo 2º § 1° da lei 8.072/90, onde permitiu a
progressão de regime nos crimes hediondos e equiparados.
É o entendimento de SILVA78:
Entre tanto, Incrivelmente foram necessários quatorze anos e uma alteração na composição do STF para que, finalmente, se reconhecesse a inconstitucionalidade do § 1º., do artigo 2º., da Lei 8072/90 (STF, HC 82.959/SP, em 23.02.06).9 Não obstante, a polêmica prosseguia na jurisprudência, com Tribunais Estaduais considerando que a decisão do Supremo Tribunal Federal não tinha efeito “erga omnes”, de modo que continuavam decidindo pela aplicabilidade do sistema previsto na Lei dos Crimes Hediondos.Quando o STF expedia a liminar na Reclamação 4.335, de 19.04.06, esclarecendo o efeito “erga omnes” de sua decisão, o legislador antecipou-se e jogou uma pá de cal sobre a controvérsia, editando a Lei 11.464, de 28.03.07, a qual prevê a progressão de regime para os crimes hediondos e equiparados e ainda regula o requisito temporal para obtenção da progressão (art. 2º. , §§ 1º. e 2º., da Lei 8072/90, com a nova redação dada pela Lei 11.464/07).
Sendo assim, com determinada decisão, cabia a progressão
de regime em crimes hediondos.
78 SILVA E GRECO, Lucas. Lei 11.464/07: progressão de regime de cumprimento de pena também para condenados pela prática de crimes hediondos. Disponível em www.jusnavigandi.com.br , acesso em 05.04.07.
55
3.3 DA PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES DE TORTURA
A prática de tortura é qualquer ato pelo qual manifesta dores
ou sofrimento, mentais ou até mesmo físicos, são infringidos intencionalmente a
uma pessoa para obter dela, ou até mesmo de terceiros, informações ou
confissões, de castigá-la, por algum motivo.
Deste modo é a definição de LEAL79 que define tortura
conforme a convenção da ONU:
Qual ato qual dores ou sofrimento agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outra pessoa; ou qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza.
Na constituição Federal, a proibição de tortura está
positivada expressamente em seu artigo 5 º, inciso XLIII, sendo um fato criminoso,
equiparado aos crimes hediondos.
Entretanto, foi em 1997 que o legislador modificou a
progressão de regime na prática de tortura, onde passou a admitir a progressão,
com a nova lei (Lei 9455/97 – art. 1º., § 7º.), sem estabelecer a parte da pena a
ser cumprida minimamente para isso, aplicando-se anteriormente o regime da Lei
de Execução Penal (1/6 na forma do art. 112), passa a ser doravante regrado de
acordo com o sistema mais rígido da Lei 8.072/90 (art. 2º. §§ 1º.e 2º.).
LEAL80, comenta:
79 LEAL, João José.Crimes Hediondos.2º Ed., 3ª tir.Curitiba :Juruá,2005.p.47,48. 80 LEAL, João José.Crimes Hediondos.p.66.
56
Diferente das demais infrações hediondas, o autor de um crime de tortura não será obrigado a cumprir a pena integralmente em regime fechado. Prevê a nova Lei repressiva que o “condenado por crime previsto nessa Lei, salvo Hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado” (Artigo 1º, § 7º).
Para os praticantes do crime de tortura anteriores à Lei
11.464/07, continua a ser aplicado o sistema do artigo 112 da Lei de Execução
Penal. Este é um caso nítido de sucessão de leis penais no tempo, de forma que
a lei posterior mais gravosa ao réu não pode retroagir. No caso da tortura, havia
uma lei que permitia a progressão, mas não a regulava quanto ao requisito
temporal, razão pela qual se aplicava o sistema genérico da Lei de Execução
Penal (Lei 7210/84).
Deste modo, no momento que a Lei mais benéfica é
aplicada, no caso da pratica de tortura, poderá sim o legislador interpretar
sistematicamente para estabelecer um tratamento mais benéfico para crimes
previstos na Lei 8.072/90, que hoje depois de dez anos modificado, conforme Lei
11.467/07.
3.4 DA PROGRESSÃO DE REGIME APÓS A LEI 11.464/07
Após o julgamento do STF que considerou inconstitucional a
proibição da progressão de regime nos crimes hediondos e equiparados, e por
não haver uma legislação específica que tratasse da matéria, passou-se a adotar
a regra geral que prevê a progressão em 1/6, o que gerou desconforto tanto para
o judiciário quanto para o legislativo, que de imediato aprovou a Lei 11.464, que
passou a prever a progressão de regime para os crimes hediondos e
equiparados, contudo estabelecendo prazos de 2/5 e 3/5 para réus primários e
reincidentes, respectivamente.
Assim passou a prever a Lei 8.072/90, com as modificações
trazidas:
57
Art. 2º (...) § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
O ilustre Juiz de Direito Amaury Silva 81 leciona acerca do
tema:
Assimilando esse novo direcionamento, a redação dada pela Lei 11.464/2007 ao § 1º do art. 2º da Lei dos Crimes Hediondos diz expressamente que a pena por crime ali tratado será cumprida "inicialmente" em regime fechado. Buscando manter a dicotomia com os crimes comuns, a execução penal foi exasperada, com a perspectiva da progressão de regimes, conforme regra universal em nosso direito. Criou-se o estágio peremptório de cumprimento da pena, para então se falar em progressão de regime. Assim, se o reeducando for primário, o canal da progressão é aberto após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena e, se for reincidente, depois de 3/5 (três quintos). Nota-se que o primeiro requisito para a progressão do regime nos crimes hediondos não envolve o critério subjetivo, pois partiu-se da idéia de um período de tempo mínimo para consolidação da função recuperadora da pena ou mesmo contenção do comportamento do sentenciado, para depois disso se cogitar da incidência do avanço.
Com isso surgiu outra questão a ser dirimida, eis que a Lei
11.464 que trouxe prazos para a progressão de regime, se considerada com a
redação antiga da Lei 8.072/90 é mais benéfica, eis que a nova legislação trouxe
a previsão da progressão enquanto a redação antiga proibia expressamente a
progressão.
Com isso, a nova lei é mais benéfica e deve retroagir.
Porém, como o STF julgou inconstitucional a vedação da progressão de regime, 81 http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9687 - Crimes hediondos Lei nº 11_464-2007 e fatos
pretéritos - Doutrina Jus Navigandi
58
então a nova redação trazida pela Lei 11.464 seria mais severa, pois entre o
lapso de tempo da decisão do STF e da promulgação da nova lei, a progressão
para os crimes hediondos era feita pela regra geral de 1/6.
Ocorre, que o princípio da retroatividade da norma penal
mais benéfica refere-se a norma e não a decisão jurisprudencial. Assim, se fosse
considerar literalmente o princípio acima, a norma 11.464 deveria retroagir a
todos que tivessem cometido o crime hediondo antes de sua entrada em vigor, os
quais teriam o direito a progressão após cumprido os prazos de 2/5 ou 3/5 e não
mais de 1/6.
Acontece, que o STJ, por questão de Política Criminal,
decidiu que a Lei 11.464 não retroage, e nos crimes cometidos antes de sua
entrada em vigor a regra para a progressão é a geral, ou seja, de 1/6, conforme
notícia retirada no site daquele Tribunal e abaixo transcrita:
Trata-se de habeas corpus substitutivo impetrado contra ato do Tribunal a quo por ocasião do julgamento do anterior writ em favor do paciente que afastou o óbice à progressão de regime imposto na sentença condenatória de 4 anos e 8 meses de reclusão por tráfico de entorpecentes, mas impondo a observância do lapso temporal previsto na Lei n. 11.464/2007. Explica a Min. Relatora que essa lei baniu expressamente a vedação à progressão de regime prisional em casos de condenados por crimes hediondos, contudo estabeleceu lapsos temporais mais gravosos para os condenados desses crimes, constituindo-se nesse ponto verdadeira novatio legis in pejus, cuja aplicação retroativa é vedada pelo art. 5º, XL, da CF/1988 e art. 2º, do CP. Assim a novel legislação deve incidir apenas nos crimes hediondos e assemelhados praticados após 29 de março de 2007. Ressalta que este Superior Tribunal adotou o mesmo posicionamento quando do advento da Lei n. 8.072/1990, ficando sua aplicação restrita aos crimes cometidos após sua vigência por também se tratar de norma mais prejudicial ao condenado. Com esse entendimento, a Turma concedeu a ordem para afastar a incidência dos lapsos temporais previstos na Lei n. 11.464/2007, para que o juízo das execuções criminais analise os requisitos objetivos e subjetivos do paciente para a obtenção da progressão de regime de acordo com o regramento do art. 112 da Lei de Execuções Penais. HC 83.799-
59
MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 25/9/2007.
Portanto, somente será aplicada a lei 11.464, aos casos
posteriores a sua vigência.
Neste sentido leciona CABETTE82:
Assim sendo, não resta dúvida de que o autor de crimes hediondos ou equiparados estava, até a edição da Lei 11.464/07, submetido à progressão de regime nos moldes do artigo 112 da Lei de Execução Penal, uma vez que não mais era válido o disposto no artigo 2º., § 1º., da Lei 8072/90, a partir da manifestação inequívoca do STF. Não há outra conclusão a se chegar a não ser a de que o sistema da Lei 11.464/07, nesse contexto, surge como “novatio legis in pejus”, somente podendo ser aplicado aos casos posteriores à sua vigência. Os casos anteriores continuam regidos pela legislação mais benéfica que os regulava. Esta conclusão não implica necessariamente em admitir uma combinação de leis penais, ou seja, aplicar a parte benéfica da Lei 11.464/07 (progressão de regime) e manter o sistema da Lei de Execução Penal quanto ao requisito temporal de 1/6 para os casos pretéritos, conforme entendimento defendido por Gomes.Trata-se simplesmente de reconhecer que a progressão de regime já era um direito que apenas é formalmente ratificado pela nova lei. Antes esse mesmo direito decorria da invalidade da norma que impedia a progressão, agora segue corroborado pela reforma legislativa, de maneira que a única real alteração do quadro foi o regramento especial mais rigoroso do requisito temporal. Por isso ele não pode retroagir, enquanto a progressão apenas segue mais vigente e válida do que nunca, em respeito aos Princípios Constitucionais da humanidade e da individualização das penas, e em homenagem a um penitenciarismo equilibrado e racional.
82 CABETTE Eduardo Luiz Santos; www.jusnavigandi.com.br, acesso em 26.09.07.
60
Conclui-se que aqueles que cometeram crime anterior a
nova Lei, ficará submetido ao cumprimento de 1/6. Só nos casos a partir da
vigência (29/03/2007) é que será aplicado o parâmetro da nova legislação.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho teve como objetivo verificar a progressão de
regime nos Crimes Hediondos, a existência desse direito uma vez que a
Constituição Federal dá margem para a aplicação de suas garantias nesta fase.
Primeiramente o capitulo um se ateve para o conhecimento
geral do direito penal, seus elementos que se integram uns aos outros para ter
uma definição mais detalhada e precisa sobre o crime, a violação da norma.
O segundo capitulo teve como objeto especificar e garantir
valores de cada individuo no Direito Penal.
Finalmente o terceiro verificou-se que os direitos individuais
são inerentes ao ser humano, estando com ele desde o nascimento e podendo
ser exercidos em qualquer circunstância.
Após mais de uma década e meia de vigência do § 1º do art.
2º da Lei n. 8.072/90, a sociedade e as funções de Poder do Estado iniciam um
debate sobre o regime de progressão de pena em matéria de crimes hediondos.
Digo "iniciam" porque a decisão do HC n. 82.959 não é o fim, tão pouco o
começo, mas apenas uma etapa do processo que se iniciou com os fatos que
motivaram o projeto de lei que resultou na Lei dos Crimes Hediondos.
O direito do apenado que foi julgado por ter cometido Crime
Hediondo é um direito individual, portanto pode ser invocado a qualquer tempo e
lugar. Cabe lembrar que a Constituição já previa esse Direito, hoje apenas foi
ratificado com a nova lei.
Assim, após a análise realizada nos capítulos, percebe-se
que a hipótese levantada não foi confirmada, levando-se em conta a decisão do
STJ que entendeu que a progressão de regime trazida com a Lei 11.464/06 não
62
deve retroagir, eis que prejudicial ao apenado, se confrontada com a decisão do
STF que julgou inconstitucional o artigo que proibia a progressão de regime na Lei
8.072/90.
63
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
BITENCOURT Cezar Roberto: Tratado de direito penal, v. 1, 9ª ed., São Paulo:
Saraiva, 2004.
CABETTE Eduardo Luiz Santos; www.jusnavigandi.com.br, acesso em 26.09.07.
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http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9687 - Crimes hediondos Lei nº
11_464-2007 e fatos pretéritos - Doutrina Jus Navigandi
http://www.juristas.com.br/a_1936~p_1~O-Princ%C3%ADpio-da-
Fragmentariedade-e-os-Tribunais-P%C3%A1trios.Acesso em 15/10/07
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64
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em www.jusnavigandi.com.br , acesso em 05.04.07
TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte geral. São Paulo: Atlas , 2004.