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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS PARA DESPERTAR O INTERESSE HISTÓRICO NA PÓS-MODERNIDADE

EXPRESSÕES DA ARTE VISUAL NO ENSINO DE HISTÓRIA

Autor: Maria Irene Pizzatto¹

Orientadora: Cerize do Nascimento Gomes²

RESUMO

Este artigo apresenta possibilidades pedagógicas de ensino/aprendizagem para a disciplina de História. As expressões da arte visual, especialmente charges, tiras e quadrinhos foram instrumentos inovadores aplicados nas práticas pedagógicas em sala de aula. Este trabalho foi resultado da participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). O método de aprendizagem indicado pressupõe a preparação de conhecimento de expressões da arte visual, construídas e utilizadas no período do governo Fernando Collor de Mello (1990 a 1992). A intenção é proporcionar aos alunos e professores novas formas de estudo, de análise da cultura popular, do meio político, econômico e social presente na sociedade das últimas décadas. Esses instrumentos deixam de ser produto somente de lazer e entretenimento para se transformar em fontes e documentos de análise críticas e interpretativas. Partindo desse viés, trabalhar com estas visualidades no ensino de história é oferecer ao professor fontes documentais, novas metodologias para as práticas pedagógicas e para os alunos, aulas mais interessantes e de fácil compreensão. Os resultados alcançados com a implementação possibilitaram constatar que a colocação dessas linguagens de esperteza capacita à formação para versar sobre novos conceitos de história, de política, assunto que a grande maioria dos jovens/adolescentes não simpatiza com o verdadeiro peso da expressão “política”.

Palavras-chave: História; charge; tiras; quadrinhos; Collor.

_______

¹Especialização em Supervisão Escolar, História, Escola Estadual Carmela Bortot

² História dos Movimentos Sociais, História, professora colaboradora

1. INTRODUÇÃO

Arte é vida e vida é História. História é registro das ações dos sujeitos que

as praticam, as quais agrupadas formam a História da humanidade.

O profissional da educação ao longo de sua carreira encontra dificuldades

relacionadas à prática de ensino que, por vezes, atrapalha a arte de

ensino/aprendizagem, causando descontentamento ao educador, defasagem na

educação e o descaso do aluno.

No livro Ensinar História de Schimidt & Cainelli um relato que vem de

encontro à preocupação da professora e da grande maioria dos educadores, como

despertar o gosto e o interesse dos alunos para os estudos e em especial pela

disciplina de História.

As autoras, assim escrevem sobre o pensamento dos adolescentes em

relação ao ensino de História.

Nossos adolescentes também detestam a História. Voltam-lhe ódio entranhado e dela se vingam sempre que podem, ou decorando o mínimo de conhecimento que o ponto exige ou se valendo certamente de cola para passar nos exames. Demos ampla absolvição à juventude. A História como lhe é ensinada é, realmente, odiosa. (SCHIMIDT & CAINELLI, 2005, p.29).

Com essa finalidade, este trabalho deseja ser um caminho de acesso a

recursos pouco utilizados nas práticas pedagógicas, ferramentas de trabalho

capazes de atrair a atenção do aluno, o seu envolvimento em assuntos importantes

concernentes à sociedade. Nesta caminhada metodológica fizeram-se necessárias

muitas pesquisas e leituras, formando-se assim o embasamento teórico para

responder as questões que se apresentavam durante a organização e elaboração da

proposta.

As problemáticas que orientou os estudos propostos foram: O aluno não

gosta realmente de história? Será que é pela forma de como ela (a História) é

ensinada? Ou ainda, as práticas, instrumentos, métodos pedagógicos utilizados são

compatíveis aos interesses dos alunos?

Na busca de resposta aos nossos questionamentos, de como trabalhar os

conteúdos de forma mais atraente e diferenciada das tradicionais, onde o interesse,

a motivação da grande maioria dos alunos/adolescentes está voltada à

superficialidade, signos analógicos, resposta rápida e impulsiva, o artigo propõe uma

nova abordagem para as artes visuais - charges, tiras e quadrinhos no ensino de

História, a fim de possibilitar aos alunos e professores novos olhares, novas leituras,

abrindo espaço para questionamentos e transformar em ações discursivas o

resultado das análises.

Para a construção desta prática pedagógica buscaram-se os alunos da 8ª

série A, turno matutino da Escola Estadual Carmela Bortot, Ensino Fundamental da

cidade de Pato Branco, Paraná.

A escolha da turma não foi aleatória, pois se partiu do pressuposto que por

serem adolescentes se interessariam mais acerca do tema: “Expressões da arte

visual no ensino de História”, tão presentes nas mídias de hoje e apreciadas por

eles. Percebe-se que a utilização dessas expressões culturais favorece o

profissional da educação a aprimorar o seu trabalho, utilizando-as como fontes

alternativas, que enriquecem o conteúdo e motivam os alunos para a leitura crítica,

gerando um conhecimento mais elaborado.

Para atender a esses propósitos, primeiramente volta-se um pouco no

tempo, para entender essa mudança nos comportamentos e interesses de nossos

alunos e da sociedade como um todo. Historicamente, nota-se que no Brasil, do

século XIX até a metade do século XX os padrões eram rígidos, o direcionamento do

ensino da História voltava-se para melhores condições de vida para a família como

uma instituição sólida e a importância do poder político. Já, a partir da segunda

metade do século XIX, o sentido de solidez, de valoração é fragmentado, tornando-

se depois dos anos de 1980 cada vez mais imediatista e capaz de suportar as

intervenções das novas mídias, o que faz com que o ser humano como sujeito

histórico, seja submetido a um bombardeio de informações, sem muito saber o que

fazer com elas, passando simplesmente a absorvê-las sem muita ou nenhuma

crítica.

Diante dessa percepção da realidade histórica, optou-se então, por trabalhar

com expressões da arte, uma vez que elas sempre têm algo a “dizer”, a “mostrar”, o

que na maioria das vezes, esse “algo”, passa despercebido aos olhos da grande

maioria da sociedade, principalmente dos jovens e adolescentes.

É nesse sentido que trabalhar com artes visuais, charges, tiras e quadrinhos

prontos ou a serem elaboradas são subsídios que precisam ser avaliadas pelos

educadores de hoje.

Essas visualidades têm forte poder de comunicação no mundo pós-

moderno, pelo fato de mesclar o sério com o divertido e permite analisar realidades

da cultura popular, do meio político, econômico e social presentes no seio da

sociedade. Estes recursos estão presentes em todos os meios tecnológicos, de

comunicação de massa e nos próprios livros didáticos.

É sobre essa perspectiva que se desenvolveu este trabalho, como objetivo

principal de tornar a aula mais interessante a fim de despertar o gosto pela

disciplina, usando a arte visual contemporânea no contexto histórico dos anos

1990/1992, período importante da história política e social do Brasil. Entre as

especificidades deste estudo está a de mostrar as contribuições que as charges,

tiras e quadrinhos utilizados como linguagem alternativa e fontes documentais,

aliadas aos recursos tecnológicos, podem oferecer ao ensino de História.

Nesse sentido, procura-se evidenciar que a História pode ser vista como

uma disciplina que busca analisar e entender a realidade presente no cotidiano da

sociedade, possibilitando assim a realização de aulas inovadoras que despertem a

curiosidade e a criatividade dos estudantes. Estes instrumentos permitem a

interdisciplinaridade, com a língua portuguesa e com a disciplina de arte uma vez

que ambas estimulam o desenvolvimento de olhares críticos, questionamentos,

permitindo a elaboração de uma nova narrativa histórica, criar ou renovar conceitos

previamente estabelecidos.

De acordo com Schmidt & Cainelli, “as transformações da sociedade

contemporânea, bem como as relações entre história e memória, têm estimulado o

debate sobre a necessidade de novos conteúdos e novos métodos de ensino de

história." (SCHMIDT & CAINELLI, 2006, p.24).

Desse modo, alicerça-se a fundamentação teórica, nas autoras acima, entre

outros teóricos do ensino da História, bem como nas Diretrizes Curriculares do

Estado do Paraná para Educação Básica (2008), que propõe instigar a inovação e a

articulação entre conteúdos de história e as expressões da arte visual, como uma

linguagem significativa de conhecimento sobre a vida, a história, os costumes de um

povo e de uma sociedade em qualquer período e espaço.

As transformações pelas qual a sociedade passou com o advento da

aceleração das novas mídias didáticas revelam que a educação já não pode ficar

separada da tecnologia e que o professorado precisa lançar mão de novos recursos

para readequar suas práticas pedagógicas. Nesse sentido, é preciso investir em

todas as estratégias, encaminhamentos metodológicos possíveis para que o aluno

aprenda de forma prazerosa e entusiástica. Na contemporaneidade torna-se

importante a construção de novas visões, que direcionem o alunado para a

compreensão de questões políticas, econômicas e sociais, por meio de suas

relações e seus processos históricos.

Desse modo, acredita-se que as artes visuais podem contribuir com o ensino

de História porque seu poder de comunicação é bastante forte e encontram boa

receptividade junto aos educandos. A arte pode ser utilizada como ferramenta

pedagógica, pois as capacidades artísticas são conduzidas pelo lado direito do

cérebro, e a dialética da racionalidade são conduzidas pelo lado esquerdo, portanto

a utilização da arte como instrumento para o ensino da História e a junção dos dois

lados do cérebro ajuda a produzir um aprendizado significativo e eficaz. Esse

trabalho dispõe uma nova forma de utilizar e elaborar material didático e plano de

aula na disciplina de História, utilizando charges, tiras e quadrinhos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para construção de um conhecimento mais elaborado, se faz necessários

embasamentos teóricos consistentes, devorando páginas e páginas de documentos

imprescindíveis ao historiador. Nessa perspectiva, buscam-se junto a autores

alicerces para apresentar novos recursos e possibilidades de utilização em sala de

aula de novos instrumentos, especialmente charges, tiras/quadrinhos entre outras.

Pensar em arte é pensar no ser humano manifestando suas emoções,

ideologias, críticas, fé, entre outras, que possam ser representadas através de

desenhos gráficos, pinturas ou outras manifestações, idealizadas e/ou pensadas por

ele.

As expressões da arte sempre estiveram presentes na sociedade de uma maneira geral. “A arte não tem importância para o homem somente como instrumento para desenvolver sua criatividade, sua percepção etc.. mas tem importância em si mesma, como assunto, como objeto de estudos. (Barbosa. 1975. pp. 90 e 113).” (FERRAZ, FUSARI, 1999, p.16).

Num passado distante da história, percebe-se registros da presença do

homem e suas formas de comunicação. Desenhos de imagens através da pintura

rupestre nas paredes das cavernas, o uso do óxido mineral, sangue de animais,

carvão vegetal entre outros presentes na natureza, indicam que as expressões da

arte sempre foram importantes para o registro e conhecimento histórico da

humanidade. Visitando a História da cultura ocidental, pode-se perceber que os

desenhos eram utilizados para prever situações que estavam associadas ao seu

cotidiano, ao conhecimento humano, geralmente através de modelos, desenhos e

esboços representativos de animais, de pessoas e instrumentos da época. Já na

idade média, o carvão, o sangue, os óxidos, corantes foram sendo substituídos,

transformados, adequados às necessidades do momento. Além das cavernas

pintavam-se os próprios corpos, como ainda hoje continuam a fazer muitas tribos

indígenas em períodos de festas, de colheitas ou de guerras, cultivando assim as

suas tradições. Sobre isso, Renato Ortiz, no livro Mundialização e cultura afirmam

que:

A tradição procura paralisar a história, invocando a memória coletiva como instituição privilegiada de autoridade - “os costumes existem desde sempre”. As artes contemplam a sociedade de uma outra maneira. Elas sublinham a existência de um universo culto, “superior”, habitado pela educação, sentimento e fruição artística (ORTIZ, 2005, p.183).

Observam-se nas representações das igrejas do século VI e das Igrejas

brasileiras do período colonial, as intenções religiosas dos desenhos, pinturas

espalhadas pelo teto, paredes, altares e adereços, era uma forma para ensinar a ler

e interpretar com os olhos as mensagens implícitas, uma vez que a grande maioria

dos fiéis era analfabeta. Os objetivos impregnados nas pinturas desses centros de

oração serviam para catequizar, impressionar os fiéis, pela beleza, pelas formas dos

desenhos o caminho da fé. O autor entende que a “tradição e a arte surgem,

assim, como esferas específicas da cultura, congregando um conjunto de

valores que orientam a conduta, canalizando as aspirações, o pensamento e a

vontade dos homens” (ORTIZ 1994, p.183).

Cabe dizer que, ao avaliar o imaginário no mundo pós-moderno e as

grandes transformações econômicas, sociais e políticas ocorridas a partir da

segunda metade do século XX, percebe-se que no mundo cada vez mais

dominado pelo consumismo, pelas sensações e expressões auditivas ou

visuais diluídas no cotidiano, as artes visuais ampliam seu espaço e suas

fontes de elaboração.

Na revelação das imagens do mundo globalizado, chama atenção os

outdoors, cartazes, faixas, charges, histórias em quadrinhos, caricaturas, entre

outros artefatos culturais, instrumentos de dispersão do conhecimento histórico

cultural destinado a espalhar a memória histórica do sujeito e da sociedade

impedindo um único direcionamento ou concentração.

Ora, se as alterações sociais sugerem um mundo imerso na corrida

tecnológica capaz de reinventar-se instantaneamente, com um mercado

consumidor amante de novidades. A área da educação não pode ficar alheia ao

que acontece ao seu entorno.

Os professores recém chegados ao século XXI, notam que a escola

precisa adaptar-se às novas mídias, buscar alternativas, práticas renovadas,

com aulas mais dinâmicas e atraentes. Podem então apropriar-se de imagens,

charges, tiras e quadrinhos entre outras referências, para atrair olhares,

interpretações e análises diferenciadas de elementos conhecidos e apreciados

pelos alunos.

Ao realizar esta experiência, constatou-se que tais elementos

alternativos têm força de comunicação, contêm múltiplas informações, não

necessitam de leitura, mas, de interpretação orientada no sentido de tornar

visível o que está implícito e explícito na imagem e nas frases que ilustram tal

fonte, bem como a intenção ideológica e o momento histórico que representa.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná –

Ensino de História, (2008) coloca que as verdades prontas e definitivas não têm

lugar na atualidade, isto permite que o trabalho pedagógico possibilite e apresente

novas formas de produzir e aprender conhecimentos históricos. Apontam ainda que,

se o professor entender como se dá a organização do pensamento histórico do

sujeito, poderá conduzir o aprendizado pedagógico de forma satisfatória,

considerando as necessidades dos alunos e a inter-relação com o meio em que

vivem (DCEs, 2008).

Já nas práticas pedagógicas descritas por Schmidt e Cainelli, enfatiza-se

que o professor de História deve possibilitar ao aluno a descobrir meios,

instrumentos, maneiras necessárias para estudar e a pensar historicamente. Isto

ocorrerá através da utilização de fontes, documentos, valorização da diversidade, da

criação e resolução de problemas, de expressões da arte visual, buscando a

construção de novos conceitos. É no espaço da sala de aula que o aprendizado

acontece, não como produto pronto e acabado, mas, como algo novo passível de

transformação, fazendo com que o aluno sinta-se agente transformador do meio e

construtor da própria história.

Segundo Le Goff, “a realidade da percepção e divisão do tempo em função

de um antes e um depois, não se limita, em nível individual ou coletivo, à oposição

presente/passado: devemos acrescentar-lhe uma terceira dimensão, o futuro” (LE

GOFF, 1982, p.209). No caso das mídias, quanto antes os professores utilizarem os

recursos por elas disponibilizados, mais rapidamente estarão adentrando ao futuro

da educação em todos os níveis de ensino.

Com tais reflexões, propõe-se o uso das expressões da arte visual como

estímulo na aprendizagem do ensino de História, instrumento pedagógico que

extrapola os limites físicos da sala de aula e da escola, possibilitando diversas

formas de leitura, das ações do homem na sociedade, na natureza em qualquer

espaço e tempo.

É na escola, junto aos colegas e professores que o aluno aprende a

organizar os conhecimentos. É um conjunto de ações que favorecem o aprendizado,

o diálogo com os colegas, as explicações do professor, leituras diferenciadas,

juntam-se ao saber do aluno, transformando-o em um administrador do seu saber.

Ao avaliar, decifrar uma obra, uma imagem ou outras expressões, o aluno

pode ir além da imaginação do artífice que a concebeu e estabelecer a sua própria

análise.

Através da intervenção do professor, é interessante que o aluno perceba

que o artista divulga em sua obra, a maneira de como ele vê o que está

representado nela, expressando ali sua ideologia. O apreciador poderá ir além das

aparências, reafirmar discussões, criar novos conceitos, acentuar o exercício da

imaginação e criatividade, transferir a realidade exposta para o momento presente.

Nos textos estéticos, a significação encontra-se já feicionada pela escolhas materiais da forma de expressão e, inclusive, é por essa especificidade estrutural, que tanto agem sobre os sujeitos destinatários. Nas construções desse tipo, o que é proposto enquanto conteúdo aparece concretizado na expressão como um de seus modos de presença, cuja ação desencadeia efeitos de sentido particular sobre aquele que vê, ou ouve, ou aspira, etc., uma vez que o conduz à experiência do que o texto vive. A significação resulta então dos modos de experiências dos textos, gerados pelos seus modos de presença, ou seja, os dois modos se realizam pelas motivadas articulações entre o plano de expressão e o plano do conteúdo (OLIVEIRA, 1998, p.91).

Percebe-se que na pós-modernidade as imagens têm ocupado os olhares

dos sujeitos muito mais do que textos escritos. Graças aos avanços tecnológicos

como: fotografias, artes gráficas, cinema, filmes, televisão, videoclipe, internet,

faixas, cartazes, entre outras formas e expressões presentes no dia a dia. O

conhecimento histórico não pode desprezar estas visualidades consideradas como

um meio que tende orientar a ação do desenvolvimento histórico do aluno e também

do professor. Elas anunciam as ações e as relações humanas praticadas pela

sociedade que é objeto de estudo da disciplina presente nas DCEs. A seleção de

dados e a observações de uma variedade de fontes, está de acordo com a intenção

de que o processo de ensino-aprendizagem contemple o maior numero possível de

elementos disponíveis, sendo que as fontes escolhidas devem ser analisadas e

interpretadas, de tal modo, que professor e alunado tornem-se os construtores de

novas abordagens sobre o fato ou conteúdo em questão.

A proposta da utilização das expressões da arte visual vem para formar

e unir conceitos, conteúdos, análises e interpretações diferenciadas sobre o

contexto histórico do governo Fernando Collor de Mello. É necessário que a

aprendizagem não seja provisória, mas se mantenha e evolua conforme as

novas informações que o aluno venha a receber e construir.

O uso dessas fontes históricas, charges, tiras e quadrinhos, entre outras

visualidades criadas e utilizadas no período pós-ditadura militar, retratavam o

sentimento do povo brasileiro e sua esperança com relação à nova república,

que foi rapidamente minada diante de um governo com graves problemas de

corrupção. Este período foi singularmente fértil de expressões da arte,

registrando por meio de charges e quadrinhos o desenrolar dos acontecimentos

políticos.

Assim sendo, ao apresentar-se o projeto ao Programa PDE, pensou-se

em aproveitar a rica produção visual para recomposição de fatos e análise

neste estudo. A finalidade é despertar nos alunos da 8ª série maior interesse

nas aulas, pela disciplina e amor pela matéria. Esses instrumentos servirão de

arquétipo para alunos e professores expressarem de forma lúdica o

conhecimento adquirido sobre o conteúdo proposto.

Entende-se assim, que o lúdico é a maneira de desenvolver o

raciocínio, a criatividade, a curiosidade, o saber de um indivíduo. A arte

seqüencial (tiras e quadrinhos) pronta ou a ser elaborada apresenta diferentes

possibilidades pedagógicas, nos espaços entre um quadrinho e outro, permite

ao sujeito imaginar o que se passou e construir suas significações.

Tais imagens que eram consideradas paraleituras, subleituras, hoje

assumem estilo de arte, capazes de mostrar conteúdos ideológicos, políticos,

sociológicos com privilégios de criação e modernidade. É preciso ensinar,

analisar, a olhar criticamente o fato implícito e a relação com o conteúdo

pretendido. A história em quadrinhos construiu uma nova forma de narrativa, a

união das linguagens: não verbal e a verbal o que lhe atribui amplo potencial

inventivo e comunicativo. Paulo Freire considera que:

E aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade.(FREIRE, 1994, p.8).

O lúdico programado serve como instrumento para apresentar os

conteúdos através de propostas metodológicas no ensino de História, baseada

no interesse do aluno em descobrir um caminho interessante no aprendizado

de História. A charge está sempre vinculada a algum tipo de reflexão sobre

acontecimentos políticos, econômicos, sociais do cotidiano.

O termo charge é proveniente do francês “charger” (carregar, exagerar). Sendo fundamentalmente uma espécie de crônica humorística, a charge tem o caráter de crítica, provocando o hilário, cujo efeito é conseguido por meio do exagero. Ela se caracteriza por ser um texto visual humorístico e opinativo, que critica um personagem ou fato específico. (SILVA, DANIELLE DE BARROS MACEDO. FILOSOFIA. A charge em sala de aula. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/03.htm>. Acesso em: 21 set. 2009.).

Este tipo de recurso tem espaço nos jornais, revistas, livros didáticos,

canais de televisão, entre outros, transformando-se em ícone de relato

cotidiano, com leituras críticas, curtas e sugestivas. A charge também pode ser

uma ferramenta na reflexão de acontecimentos, ela deixa marcas humanas

inseridas em fatos de outras épocas e espaços.

As ferramentas adotadas como objeto para estudo, que ao lado das

fontes tradicionais utilizadas para a informação de uma sociedade, destacam-

se como registro de época que transmite às gerações futuras o modo de ver, de

pensar, de definir um período que o tempo transforma, registram como num

momentâneo a visão popular ligada aos acontecimentos, historiando positiva ou

negativamente os comportamentos, crenças, ideologias vigentes.

A função destes instrumentos no ensino está em trazer a luz para

aspectos relevantes do dia-a-dia, possui em seu conjunto uma potencialidade

significativa que recorre para a nossa razão, para nossas informações. Cabe ao

receptor/leitor/aluno e professor, apreender, interpretar os acontecimentos e

conectá-los através de expressões da arte, dando nomes às coisas por meio de

signos convencionais. Deve-se ter cuidado em não produzir denúncia vazia,

sem conhecimento da prática social.

No livro História na sala de aula, Karnal faz uma alerta ao historiador:

Como somos historiadores podemos abrir caminho observando que só há um fato histórico no interior de uma situação-problema. Se não há questão não nos resta nada ou quase nada a fazer. Portanto, para que possamos vencer o desafio da vida contemporânea temos que problematizar a realidade que nos cerca. Para problematizar, o primeiro passo é conhecer. (KARNAL, 2005, p.51).

Compreende-se que dessa união entre comunicação e educação é que

se apresentam as oportunidades de análises, interpretações de imagens e de

educar os olhares dos estudantes, rumo à construção de um saber crítico,

abrindo horizontes para uma cidadania participativa e emancipadora.

A conjuntura presente no sistema de comunicação e de linguagem é

eminentemente ideológica. As charges, tiras, e quadrinhos são formas de

expressões que os cartunistas e chargistas utilizam para apontar os aspectos

negativos e deselegantes da política brasileira.

Estes instrumentos têm como intenção satirizar, ironizar, criticar,

denunciar atos e fatos políticos, onde atuam pessoas reais, geralmente

políticos, expondo a astúcia da política brasileira e também mundial.

No caso em estudo, Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente

civil do Brasil, eleito pelo voto direto após 21 anos de ditadura militar, o qual

exerceu o cargo de presidente da República, de 15 de março de 1990 a 29 de

dezembro de 1992. A eleição do novo presidente deu-se num contexto histórico

conturbado pelas mudanças que decorrem da queda do Muro de Berlim em 1989, e

que estavam em efervescência em nível global. No Brasil, não era muito diferente,

as pessoas queriam derrubar os resquícios do regime militar e evitar a total

dilapidação do Estado por governantes corruptos, para o que ganhou força a

campanha do então candidato, que apresentava Collor como “caçador de marajás”.

Clique aqui. Em sua plataforma de governo Collor programou reformas corajosas,

que julgava necessárias naquele momento, a fim de conter a inflação, cortar

gastos públicos, privatizações, confisco da poupança, substituição da moeda

entre outras, reformas essas que não agradaram a alguns políticos, setores da

economia nacional e a população de modo geral. Porém, o plano se sobrepôs

às diferenças de classes e de interesses e originou a maior recessão da história

brasileira, aumentou o desemprego, quebras de empresas, esquemas de corrupção,

entre outros. Já em 1991, havia rumores de que o presidente e seus assessores

estavam envolvidos em um grande esquema de corrupção e tráfico de influência.

O irmão do presidente, Pedro Collor, em entrevista a revista “Veja” em maio

de 1992, denunciava o envolvimento do presidente no esquema de Paulo César

Farias, o PC e de membros do alto escalão do governo. Clique aqui. A Polícia Federal

estimou em um bilhão de dólares o rombo praticado contra os cofres públicos. A

população indignada sai às ruas, aglomera-se nas praças exigindo do congresso a

apuração das denúncias. Os estudantes mobilizados pela UNE (União Nacional dos

estudantes) saem às ruas, vestindo roupas pretas, “caras pintadas”, levando

cartazes, faixas, e outras expressões de arte visual expressando seu aforismo de

revolta, juntando-se aos movimentos sindicais, população em geral e imprensa

seguiam em comícios e passeatas gritando o slogan “Fora Collor”, Impeachment.

Diante do exposto, pensa-se que a História como disciplina crítica, que

analisa e interpreta os fatos, deve buscar no período do governo Collor a

oportunidade de explorar a participação das expressões das artes visuais

produzidas e utilizadas naquele momento histórico, como fontes e análise dos

fatos na formação de opiniões que vão além da leitura de textos literários e

abrem caminhos, visões diferenciadas a toda diversidade presente no contexto

histórico.

Ao trazer para a sala de aula algo que já faz parte do cotidiano das pessoas, o professor tem, dessa forma, condições de educá-las nessa outra linguagem. A educação para a imagem, nesse caso, passa necessariamente pelo reconhecimento da alteridade, isto é, da diferença de olhar implícita a ela. Afinal, a imagem que o espectador [leitor] recebe é sempre de um outro: de um outro eu, num outro tempo e espaço, de um outro lugar, de outra cultura, de outras pessoas. Assim, trabalhar as diferenças existentes na sociedade e no mundo [...] Ver alguma coisa através da TV [ou do impresso] é ver como alguém viu alguma coisa (LEAL, 1996, p.23).

Assim, trabalhar em sala de aula com charges, tiras e quadrinhos possibilita

diferentes leituras, verbais ou não verbais. As mesmas são formas dialógicas de

informações, questionamentos, comentários, críticas e sugestões sobre o tema.

Estes recursos poderão ser trabalhados de duas formas: prontos para interpretações

e análise e/ou na elaboração dos mesmos tendo como base o conteúdo de estudo e

pesquisa. Essas expressões de arte ocupam um espaço significativo e expressivo

no seio da sociedade, meios de comunicação e nas mídias, provocando discussões

pródigas quanto às aspirações da construção de uma sociedade democrática e

cidadã.

As representações pressupõem comunicação, decisão, ação; elas permitem ao indivíduo inserir-se num grupo social e legitimar seus comportamentos.

Apesar de constituírem uma visão incompleta ou parcial do real, um artefato, elas são, para cada sujeito, seu real, quer dizer, sua maneira de pensar (SCHMIDT & CAINELLI, 2005, p.62).

As ações e os instrumentos utilizados buscam por meio de procedimentos

metodológicos a formação do educando, possibilitam a construção de espaços de

reflexão, autonomia, emancipação, incentiva a participação ativa e consciente nas

políticas sociais em todas as estâncias do poder. A renovação do ensino de História

é um processo contínuo, que exige do professor dedicação, persistência, espírito de

luta na busca de novos métodos e instrumentos de trabalho. Criando e recriando

formas para tornar as aulas mais atraentes, significativas, trazer de volta o interesse

e o gosto pela disciplina e subsídios para os professores.

3. METODOLOGIA

A concepção consistiu-se em apresentar, discutir e aproveitar instrumentos

presentes nas mídias, revistas, nos livros didáticos e outras para o ensino de

História. Isto requer do professor uma atenção especial para estas especialidades,

que a tempo estão disponíveis, no entanto passam despercebidas aos nossos olhos.

Destaca-se aqui, o uso das expressões da arte visual, charges, tiras e quadrinhos

como recursos e fontes históricas que enriquecem e inovam a relação com os

conteúdos.

Ao considerar que história são todas as ações praticadas pela humanidade,

então não se pode desprezar nenhuma fonte que propicie investigação,

interpretação e compreensão do conhecimento. As expressões da arte presente em

diferentes espaços e tempos históricos, bem como as diferentes formas de

apresentação e representação transformando-se em registros históricos das

evidências contemporâneas, que utilizadas como recursos didáticos, retratam o

cotidiano do antes e do agora.

Este estudo utilizou-se da pesquisa bibliográfica, de diferentes fontes,

buscando informações de cunho político, econômico e social, presentes no período

do Governo Fernando Collor de Mello e de fatos da atualidade. A pesquisa buscou

expressões da arte presentes no contexto histórico e da época presente.

Informações e imagens contidas nos textos, livros, revistas, jornais, internet e outras

mídias serviram de exemplo e conhecimento no desenvolvimento do trabalho.

A disciplina de História deve proporcionar ao aluno espaço e condição de

expressar o seu pensamento, seu entendimento sobre o assunto abordado e se

possível representá-lo através de desenhos. Incentivar o aluno a buscar o “porquê”

dos fatos, a ideologia culta escondida nas entrelinhas. Por isso, o incentivo à

pesquisa bibliográfica no trabalho em questão.

No preparo das atividades desta implementação, determinada por princípios

teóricos metodológicos se mostrou fundamental para organização e

desenvolvimento que o trabalho acabou tendo. As explicitações das atividades

abaixo, bem como os efeitos, farão parte nas discussões dos resultados.

1- Aplicação de pré e pós/teste (questionário/teste), individual e por escrito.

2- Uso da TV pendrive, expondo as várias categorias de expressões da arte visual.

3- Pesquisa bibliográfica: Governo Fernando Collor de Mello, período 1990/1992.

4- Pesquisas na internet, exemplos de expressões da arte visual, charges, tiras,

quadrinhos presentes no Governo Collor de Mello e da atualidade.

5- Exibição de “dois vídeos, com duração de 10 min cada um, Redemocratização

parte II”, Clique aqui e a paródia Melô das eleições, Clique aqui Para o

desenvolvimento das atividades, além das pesquisas realizadas foram utilizados

papel sulfite, lápis, borracha, régua, algumas imagens de charges, tiras e

quadrinhos.

No proceder da prática em sala de aula, foram necessárias algumas

modificações com relação a organizações dos grupos, o tempo para algumas

atividades, presença dos alunos, interesse, disciplina e do próprio trabalho da

professora.

4. IMPLEMENTAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

A prática deste artigo “Possibilidades metodológicas para despertar o

interresse histórico na pós-modernidade” cujo tema “expressões da arte no ensino

de História”, realizou-se na Escola Estadual Carmela Bortot do Ensino Fundamental,

com alunos da 8ª série A, período da manhã, nos meses de agosto e setembro no

ano de 2010, Pato Branco - Paraná.

A apresentação da proposta de intervenção pedagógica, elaborada no

Programa de Desenvolvimento Educacional, PDE, foi apresentada à direção da

escola, equipe pedagógica e professores na reunião de início do 3º bimestre de

2010.

Na exposição do tema, conteúdo, metodologia, instrumentos que seriam

utilizados para atingir o objetivo que se propôs; o gosto e interesse do aluno pelo

estudo e pela disciplina e subsídios aos professores para possibilitar novos olhares

para imagens e conteúdos da história. A proposta foi bem aceita por todo corpo

docente, muitos dos professores não haviam pensado e ou lembrado em utilizar

estes recursos em suas atividades e, que a partir dos resultados as adotariam em

suas práticas. Na seqüência apresentação para os alunos informando-os o porquê

desta prática e os objetivos propostos pelo projeto.

Em seguida foi distribuído o questionário pré/teste para uma sondagem do

conhecimento sobre expressões da arte e história com as seguintes questões:

1- Qual é o seu conhecimento a respeito do assunto: expressões da arte visual ou

simplesmente arte visual?

2- 2ª Na sua cidade existem manifestações da arte visual? Nomeie algumas.

3- Os livros, revistas, jornais, internet, apresentam expressões da arte? Cite

algumas que você lembrar.

4- Você conhece e sabe diferenciar uma charge, tiras/quadrinhos ou outras?

5- Você já trabalhou na disciplina de História com alguma expressão da arte visual?

Foi mais fácil aprender o conteúdo? Por quê?

6- Pesquise em seu livro de História algumas expressões da arte visual como:

charge, tiras e ou quadrinhos. Cite a página com o respectivo assunto para

possíveis comentários.

7- Dê uma sugestão de como se poderia trabalhar um conteúdo de história do livro,

utilizando uma expressão da arte visual. Cite a página e o assunto.

8- Identifique o personagem apontado na charge (será apresentada uma charge do

governo Collor de Mello) e faça um breve comentário sobre ele.

9- Você já estudou ou ouviu falar sobre o presidente Fernando Collor de Mello, que

governou de 1990 – 1992? Por que ele ficou somente dois anos no poder?

Na análise das respostas, entendeu-se que a grande maioria dos alunos já

conhecia charges, tira e quadrinhos pela internet, livros e revistas, mas, com

objetivos diferentes do proposto neste trabalho. Elas chamavam atenção porque

eram coloridas, com formas e traços engraçados, provocavam risos e piadas, sem

nenhuma análise ou questionamento, simplesmente eram vista como

passatempo/entretenimento.

Poucos souberam reconhecer algumas expressões existentes na cidade e

nomeá-las. Em resposta a terceira pergunta, alguns alunos arriscaram colocar as

caricaturas dos jogadores, personagens de gibis e sátiras de personagens que

encontram na internet, também não assinalaram ou não quiseram responder se

havia ou não diferença entre elas.

Porém, se vê com pesar que esses recursos, charges, tiras e quadrinhos e

outras imagens não são exploradas pelos professores em sala de aula, mesmo

estando disponíveis no próprio livro didático. Quando solicitados para selecionar

algumas expressões do livro, os alunos que responderam apontaram o símbolo

nazista, sem comentário, nem página, nem sugestão de trabalho. Quanto ao

reconhecimento da charge do presidente Fernando Collor de Mello, não lembravam

se já tinham estudado ou ouvido falar, muito menos por que deixou o poder.

Após recolher o questionário (pré/teste) e análise das respostas com poucas

informações, indiferença dos alunos, organizou-se as atividades para TV pendrive e

seqüência.

Foram apresentadas expressões da arte, relacionadas ao período do

Governo Fernando Collor de Mello, com charges, tiras/quadrinhos, entre outras da

atualidade, apontando conceitos, com explicações do momento, dos fatos históricos

que representavam. Houve o envolvimento da turma com questionamentos,

assinalavam diferenças e semelhanças entre elas, levantavam hipóteses. Lembrou-

se de algumas leituras da história do governo Collor, alunos alegres, uma aula

gostosa e dinâmica. O interesse e a atenção pela aula aconteceram enquanto os

assuntos/conteúdos eram curtos, com explicações comparativas e com pouca

escrita, quando a redação era maior a conversa se instalava, deixando de ser

atraente.

As atividades prosseguiam, já sabiam como reconhecê-las, podendo utilizá-

las como fonte de pesquisa que, quando analisadas, questionadas, comentadas,

apresentavam elementos importantes para o conhecimento. As conversas paralelas

perturbavam as explicações, tendo às vezes que retomar o assunto. Na aula

seguinte, a turma foi dívida em oito grupos com três e/ou quatro alunos que

trabalhariam juntos até o final da aplicação das atividades.

Para familiarizá-los com os quadrinhos, foram utilizadas charges interativas

com assuntos da sociedade brasileira. Os grupos deveriam ler, analisar e dialogar

entre os elementos do grupo, acrescentando mais quatro quadros, dando seqüência

e um final à história, porém, com fatos recentes da história do Brasil ou da própria

cidade/comunidade. Este complemento poderia ser de forma verbal e/ou não verbal,

assunto esse de ordem política, social e/ou, econômica. Conversavam muito, mas

percebeu-se que o conhecimento era pouco. O comprometimento com a atividade

deixou-os bastante perturbados sem saber o que fazer. Muitos respondiam: “não

assisto jornal, por isso não sei”, “não quero saber de política, eu gosto é da novela,

de música, jogo”. Foi permitido que completassem a história sobre os jogos, estádios

ou com aquilo que conheciam e sabiam. Alguns grupos discutiram, trocaram idéias,

pesquisaram e fizeram à continuidade de forma mista, verbal e não verbal, sobre as

filas nos postos de saúde, violência no esporte, à destruição do meio ambiente,

rodovias e ruas esburacadas, a corrupção política. Alguns não conseguiram pensar

em nada que pudessem terminar a história, simplesmente responderam: “não

conseguimos pensar em nada, não sabemos de nada”.

Nesse momento, percebeu-se que o trabalho em grupo de três ou quatro

alunos não era produtivo, muita brincadeira, conversas alheias, desinteresse total,

um ficava esperando pelo outro, não se incomodando com o tempo e com a

conclusão das tarefas em casa, não havendo, portanto, nem mesmo a realização da

tarefa em casa.

A partir de uma reflexão sobre os resultados desta atividade optou-se por

trabalhar com duplas. Para ”agilizar” as próximas atividades planejou-se um rol de

sites, para cada dupla pesquisar na sala de informática e outras mídias disponíveis,

expressões da arte que chamassem atenção e que pudessem servir de fonte de

pesquisa e análise, bem como, itens do conteúdo referente ao Período Collor. O

registro do conteúdo pesquisado e das expressões da arte faria parte das atividades

a serem desenvolvidas na classe. No retorno à sala de aula, as duplas, com os

resultados das pesquisas, mais texto distribuídos pela professora, dialogaram,

registraram seus comentários, relacionaram o conteúdo às charges ou

tiras/quadrinhos pesquisadas, para expor aos colegas. Segundo eles as aulas

passaram rápidas demais. A apresentação à classe não foi possível, o tempo havia

se esgotado.

A soma de todas elas, ter-se-ia a história completa do governo Collor. O

período foi assim dividido:

1- campanha eleitoral do governo Collor de Mello “promessas de campanha”;

2- discurso de posse e planos políticos;

3- impactos na sociedade;

4- escândalos e denúncias;

5- reação da sociedade “caras pintadas”;

6- “impeachment” e discurso de posse do novo presidente.

Alguns assuntos foram pesquisados por mais de uma dupla, porém com

narrativa e expressões diferenciadas. Essa tarefa estava programada para

acontecer em duas aulas, o tempo não foi suficiente, passaram-se três aulas e

assim mesmo não foi possível concluí-las devido às conversas, desvio da pesquisa

para outros sites não recomendados, desviando atenção. Muitos esqueciam de

anotar, outros encontravam dificuldade de registrar os fatos mais importantes,

alguns escreviam demais, outros não registravam nada. Poucas duplas

apresentaram o resultado na sala de aula, outras não concluíram. Sentiu-se que, por

não serem aulas seguidas e também a professora não ser a titular da disciplina,

alguns alunos não levaram muito a sério as atividades, mesmo assim nos momentos

de discussões procuravam interagir com perguntas sobre o assunto, especialmente

nas análises e interpretações das imagens. Entende-se que se os alunos já

conhecessem essa forma de trabalhar com imagens o interesse seria maior.

O vídeo, Redemocratização parte II, do Professor/historiador Bóris Fausto,

onde relata fatos, passagens importantes do período do Governo Fernando Collor de

Mello, é uma revisão resumida do conteúdo, mostrando fatos e comentários da

candidatura do então presidente Collor, personagens envolvidos nos escândalos,

promessas não cumpridas e a repercussão na sociedade que sai em protesto pelas

ruas, reivindicando o “impeachment”, “caras pintadas” enfim uma retrospectiva

histórica sobre esse período.

Neste registro da história aparecem várias expressões da arte que tiveram

papel importante na mobilização da sociedade. Quando analisadas, servem como

fonte de denúncias e reivindicações, entre elas encontram-se charges, cartazes,

bandeiras, faixas, jovens caras pintadas. Esta e outras serviram de modelo e

inspiração para a tarefa seguinte. Após o vídeo, as duplas trataram sobre o assunto,

trocaram informações e reescreveram a história de forma verbal e/ou não verbal,

elaborando, tiras/quadrinhos onde os atores apareceram em forma de

charges/desenhos gráficos que depois de concluídas fariam parte da exposição e

apresentação para os colegas da turma. Muitos buscaram informações em textos já

distribuídos anteriormente pelo professor, no livro didático, pesquisas da internet,

mais sugestões para que a tarefa fosse concluída ultrapassando o tempo

programado.

Percebeu-se que o tempo e interesse do professor não são o mesmo dos

alunos. Assuntos alheios aos conteúdos ocupam maior espaço entre eles como:

“cutucões”, piadas, apelidos e sussurro com os colegas, entre outras brincadeiras.

Para finalizar esse plano de tarefas, os alunos assistiram ao vídeo “Melô das

eleições”. Com a proximidade das eleições de outubro em 2010, as mídias

mostravam os candidatos entre muitas charges, caricaturas e tiras do que se

passava nos bastidores políticos. Abriu-se um debate em torno da importância do

voto, consciência política e análise das promessas de campanha. O vídeo, de uma

forma satírica, mostra a preocupação na hora da escolha. Ao realizarem as

atividades os alunos tiveram a oportunidade de versar sobre o conhecimento que

possuíam e o que foi adquirido. Fazer ligação entre presente e o passado,

interpretar, produzir e relacionar conteúdos de diferentes áreas do conhecimento.

Embora muitas conclusões não se completassem deixavam nas entrelinhas, que os

adolescentes não gostam de política e acham difícil acreditar em mudanças. Para

finalizar o trabalho, responderam o questionário pós/teste, o qual serviu de

parâmetro do ensino/aprendizagem de todo o processo desenvolvido, resultando no

presente artigo.

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao findar o processo de implementação das atividades em sala de aula

sobre: “Possibilidades metodológicas para despertar o interesse histórico na pós-

modernidade” cujo tema, “expressões da arte visual no ensino de história”,

produzidas e utilizadas sobre o governo Fernando Collor de Mello, 1990 a 1992,

pode-se perceber a opulência desses instrumentos em divulgar as mazelas do

cotidiano político da sociedade brasileira.

As reflexões sobre os resultados da aplicação, realizada com alunos da 8ª

série da Escola Estadual Carmela Bortot de Pato Branco, onde foram aplicados

métodos e técnicas com expressões da arte visual, como documentos históricos

serviram de embasamento para investir em outras metodologias como jogos

históricos construídos e idealizados pelos próprios alunos.

Considera-se um desafio para o professor (a) trabalhar essas visualidades

em meio a tantas informações diferenciadas e desvirtuadas, dos meios de

comunicação e outras mídias. Trabalhar em sala de aula com algo conhecido dos

alunos é rotineiro e fácil, mas, quando esse “algo” é desconhecido como documento

de estudo, fonte de pesquisa e análise, é um desafio. É o caso das charges, tiras e

quadrinhos especialmente de cunho político e social, empregadas para motivar a

discussão e a reflexão. Mediante a experiência, nota-se que o aluno necessita muito

da mediação do professor para questionamentos e análise dessas imagens, que

estão presentes nos livros, na internet e outras mídias. A pouca utilização desses

artefatos dificultaram a aplicação do projeto, mas, à medida que as atividades, as

análises e explicações iam ocorrendo, o interesse e a curiosidade também

aumentava.

Além disso, a locução desses produtos culturais chama a atenção do aluno,

tornando possível transformar a aula e o conteúdo mais agradável, mesmo exigindo

do sujeito uma atividade mental mais apurada, para análise, no olhar e na

interpretação. Não se conseguiu sensibilizar e envolver todos os alunos nesse

processo, mas, acredita-se que, o emprego dessa alternativa pedagógica com mais

freqüência fará a diferença no interesse e gosto pela disciplina.

O uso freqüente dessas ferramentas dinamiza o ensino de história e outras

disciplinas. Porém, o desconhecimento e a falta de tempo do professor para escolha

dessas expressões (imagens) são justificativas para que essas práticas pedagógicas

não aconteçam. Quando da utilização dessas fontes, necessita ser previamente

preparada, lidas e selecionadas conforme tema a ser trabalhado, isso facilita a

divulgação e mediação professor/aluno.

Com essa intervenção, o aluno percebeu que o “conhecimento” não nasce

como um dom, mas é conquistado através do interesse de cada um em descobrir o

novo, das pesquisas, das leituras, das análises, de comentários, de atos e fatos,

fontes e documentos que servem como veículos para se chegar a um conhecimento

mais elaborado. Os alunos não estavam acostumados a fazer esse tipo de análise.

Ouviam-se alguns comentários como: “Eu nunca tinha pensado nisso!”, “Pena que

precisa pensar!”, “Quando a gente vê na TV ou na internet a gente só assiste”. Por

esses e outros comentários, sentiu-se que se estava no caminho certo. A partir da

reflexão entende-se que teoria e prática andam juntas, esse estudo fundamentou

que, para ensinar e aprender não existe um único caminho, um único modelo, um

único padrão, o que existe é a vontade de encontrar novos jeitos de se instruir e se

educar. Essa experiência foi repassada para seis professores, on-line através do

GTR, e segundo eles acharam-na interessante e aprovaram seus métodos e

práticas.

No mundo pós-moderno, a sociedade é seduzida pelo colorido, pelas

imagens de todos os tipos e formas e que, na sala de aula, no ensino, elas são

ainda pouco exploradas, dando-se prioridade para leituras de textos, a

questionários, ao tradicional. Muitas vezes elas (expressões de arte visual)

apresentam leituras rápidas e de fácil entendimento, à medida que o leitor for

descobrindo os “truques” embutidos nas imagens. A linguagem dessas visualidades

geralmente é a representação do real, elas não são somente produtos de lazer e

distração, mas, podem e devem fazer parte do processo educativo.

O uso das charges, tiras ou quadrinhos, como recursos metodológicos

contribuíram para a construção de novos conceitos, novos olhares. Recomenda-se a

utilização desses instrumentos a partir do ensino fundamental, para que o

aprimoramento das análises e embasamento teórico seja construído por meio de

discussões e questionamentos sobre o que se lê e o que se vê, problematizando-se

por que certas imagens estão nesse ou naquele lugar e espaço.

Conclui-se argumentando que esses elementos são muito aproveitados nos

sistemas de avaliação como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), bem como

em processos seletivos de faculdades, universidades e outras instituições, o que faz

compreender que além de agradável, é também necessário ampliar o uso de tais

recursos nas práticas didáticas, integrando-os ao cotidiano da sala de aula.

6. REFERÊNCIAS

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ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo: ed. Brasiliense, 2005.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo: ed. Scipione, 2005.

DOCUMENTOS

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SITOGRAFIA

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