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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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ATUALIZAÇÃO PARA PROFESSORES DAS SALAS DE RECURSOS PARA DOCÊNCIA COM ALUNOS DISLÉXICOS

Autora: Rosani Maria Goedert Brancaglião1

Orientadora: Profª. Drª. Simone Moreira de Moura2

RESUMO

Com este artigo pretendeu-se apresentar a importância da mudança de postura de algumas possíveis atitudes do professor frente às dificuldades de leitura e escrita apresentadas pelo aluno disléxico, proporcionando aos mesmos atuantes das Salas de Recursos; fundamentação teórica e metodológica referente à dislexia, não como receita, mas, como momento reflexivo construído no encontro com as dificuldades apresentadas pelos docentes acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas e a necessidade constante de revisão.

Palavras-chave: Dislexia; Sala de Recursos; Educadores.

ABSTRACT

With this paper aims to present the importance of changing the attitude of some possible teacher's attitudes towards the difficulties of reading and writing made by the dyslexic student, providing the same operating rooms Resources; theoretical and methodological related to dyslexia, not as revenue, built as reflexive moment in the encounter with the difficulties presented by the teachers about the teaching practices developed and the constant need of revision.

Keywords: Dyslexia; Resource Room; Educators.

____________________¹ Professora de Educação Especial do Colégio Estadual Bento Mossurunga – Ensino Fundamental e Médio. Ivaiporã - Pr, Especialista em Educação Especial nas Áreas das Deficiências Intelectual e Visual.² Professora Doutora do Departamento de Educação Especial da Universidade Estadual de Londrina.

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INTRODUÇÃO

No Brasil, há aproximadamente 15 (quinze) milhões de pessoas que

apresentam algum tipo de necessidades especiais que podem ser diversas: mental,

auditiva, visual, física, de conduta e deficiências múltiplas. A grande maioria

apresenta algum tipo de dificuldade de aprendizagem relacionado à linguagem:

dislexia, disgrafia e disortografia, sendo a primeira de maior incidência. Crianças

aparentemente inteligentes, na visão de professores, apresentam leitura, escrita e

ortografia irregular para a idade.

Durante muito tempo vários investigadores desenvolveram o trabalho com

objetivo de identificar uma causa única, mas chegaram à conclusão de que a

dislexia resulta de vários fatores como problemas de ordem visual, falta de

dominância cerebral ou desordens em estruturas cerebrais específicas, que podem

ser de origem genética ou neurológica. Atualmente baseia-se na percepção e

consciência fonológica, e sua relação com os métodos de ensino. No entanto, é

frequente a dislexia ser confundida com outros problemas de adaptação escolar,

especialmente quando associados a atrasos de desenvolvimento, e principalmente

dificuldades iniciais de aprendizagem da leitura e escrita.

Desde que o ensino se tornou obrigatório a toda população, verificou-se um

grande aumento de crianças com problemas nesta área.

Buscando alternativas para desenvolver a leitura e a escrita em alunos com

Transtornos Funcionais Específicos, é que se propôs um trabalho de prevenção do

fracasso escolar de alunos que apresentam este diagnóstico, procurando meios e

estratégias que viabilizem um trabalho concreto e pontual com a consciência

fonológica, fônica, decodificação, ortografia estudo de caso, experiências linguísticas

enriquecedoras, rimas e as alterações.

O grande problema que enfrentamos na educação hoje, em relação ao aluno

que apresenta dificuldade de aprendizagem é estar de fato presente na sala de aula

regular, muitas vezes ele somente está presente , porém não se encontra

interagindo, crescendo, aprendendo, por falta de apoio pedagógico e de práticas

alternativas para o aprendizado da leitura e da escrita.

Para que o aluno se torne um sujeito produtivo, participante do processo

ensino aprendizagem se faz necessário que se construa uma escola de qualidade,

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centrando seus objetivos na construção da leitura e da escrita, onde se faz

necessário o uso da consciência fonológica para que o aluno possa superar as suas

limitações e se inclua nessa sociedade formada por indivíduos leitores e produtoras

de textos, justificando-se assim um trabalho sistematizado para que o aluno possa

se interessar pelos aspectos sonoros das palavras.

Para Santamaria (2007, p. 238):

O desenvolvimento da consciência fonológica parece estar atrelado ao próprio desenvolvimento simbólico da criança no sentido de atentar ao aspecto sonoro das palavras (significante). Assim alguns estudiosos têm demonstrado que há um caminho longo até que a criança perceba que a escrita não representa diretamente os significados, mas sim significantes verbais a eles associados. É quando ela descobre esta relação entre fala e escrita, ainda assim há todo um processo de cognição envolvido no sentido de compreender como se dá essa relação, a saber, através da correspondência entre fonemas e grafemas.

O trabalho desenvolvido a partir da consciência fonológica utilizando-se de

vários recursos como: a audição para desenvolver a linguagem oral por meio de

poemas, provérbios, ditos populares, músicas e outros portadores de textos,

aspectos importantes para o desenvolvimento da leitura e escrita.

Para perceber-se o desenvolvimento da leitura e da escrita em cada aluno

através da avaliação deve ser feita no processo para se saber quanto cada aluno

evoluiu e se desenvolveu para posteriormente propor estratégias de leitura

utilizando-se do nível que cada um se encontra e qual rota de leitura é mais indicada

para o estágio de desenvolvimento de cada um.

Destacamos que existe por parte de educadores, psicólogos, fonoaudiólogos

e outros profissionais da área uma grande preocupação em saber como uma criança

aprende, ou seja, como ela elabora seu pensamento, suas ideias, seu raciocínio

lógico e principalmente como adquire a linguagem falada, lida e escrita, e, a partir

disso, compreender a razão pela qual alguns alunos, sem deficiência, apresentam

dificuldades de aprendizagem e consequentemente o insucesso escolar.

Umas das metas principais da família e do educando é que ele aprenda a ler

e escrever, sejam eles deficientes ou não, pois por meio dessas habilidades estes

terão acesso aos conhecimentos, habilidades e valores científicos considerados

relevantes no contexto social em que vivem, no qual a leitura e a escrita têm

importância fundamental, pois vivemos em uma sociedade letrada, onde podemos

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perceber a todo momento quando saímos à rua, estão espalhadas por toda parte

marcas que têm significados para nós.

Todos os educadores querem que os alunos aprendam a ler, escrever e

expressar-se oralmente, e que todas essas habilidades se traduzam na capacidade

de saber ouvir, falar, ler e escrever em situações de participação social. Isso

significa saber interpretar textos orais e escritos, expressar ideias, pensamentos,

sentimentos utilizando a linguagem adequada a cada situação com autonomia e

adequação.

Devemos levar em conta que aprender a leitura e a escrita, é mais do que

somente aprender um instrumento de comunicação, é também construir estruturas e

pensamentos capazes de abstrações mais elaboradas. Um educando para aprender

sem dificuldades é necessário que seu Sistema Nervoso Periférico e Sistema

Nervoso Central estejam ilesos, pois desta forma a criança aprende ao receber

informações através de seus receptores. Então paramos para refletir que, para que

haja aprendizagem realmente, é necessário que certas integridades básicas estejam

presentes na criança, portanto isto não quer dizer que tal aprendizagem depende

única e exclusivamente desses desenvolvimentos neuropsicológicos, sem que a

mediação educativa também deva desenvolver o seu papel.

Não podemos nos esquecer de que é fundamental para a aprendizagem,

oportunidades de aprendizado, disponibilização de metodologias de ensino

adequadas, inovações sempre que possível na prática pedagógica, desenvolvimento

e aplicações de novas tecnologias, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada

educando. De acordo com Galaburda apud Coll; Marchesi; Palácios (2004, p. 68),

nem sempre o que o cérebro funciona mal é por culpa de uma falha cerebral: pode

ser resultado de um ambiente nocivo.

Consideramos então, que a aprendizagem efetiva seja garantida a partir de

uma articulação entre condições internas e externas de cada um. Todos nascemos

potencialmente inclinados a aprender, claro que necessitamos de estímulos,

motivações e outros, para o aprendizado. Muitos aprendizados são considerados

natos, como o ato de aprender a falar, a andar, sendo necessário que ele passe pelo

processo de maturação física, psicológica e social.

É fundamental que o professor conheça o nível de aprendizagem em que

seu aluno se encontra para que possa disponibilizar de subsídios necessários para

novas aquisições.

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A grande preocupação que nos remete ao desenvolvimento desse trabalho é

de contribuir com os professores e os profissionais da educação que necessitam de

orientação pedagógica e sistematização das atividades, como subsídios

pedagógicos para atender às necessidades individuais do aluno e assim minimizar

as barreiras para a aprendizagem, tendo como objetivo principal problematizar as

dificuldades de aprendizagem, pois as mesmas apresentam-se nas escolas

continuamente, desde as situações mais leves e transitórias, que devem ser

reparadas no curso do trabalho pedagógico.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O homem tende a considerar complicado tudo o que desconhece e a

considerar fácil, tudo aquilo que conhece bem. Tempos houve na história da

humanidade em que a simples sucessão do dia e da noite, era vista como uma

complexa luta entre o poder da luz e o poder das trevas.

A dislexia também tem sido alvo de interpretações que nada tem a ver com

a sua realidade. A dificuldade em ler tem sido muitas vezes interpretada

erradamente, como um sinal de baixa capacidade intelectual.

Uma observação mais atenta mostra que muitos disléxicos conseguem em

certas áreas e em certos momentos da sua atividade, um desempenho superior a

média do seu grupo etário e isso deixa confuso todos aqueles que apostavam na

baixa capacidade intelectual para explicar a dificuldade na leitura.

Os resultados obtidos nos testes de inteligência apresentam-se num plano já

mais científico, eles mostram que não existe uma correlação aceitável entre o grau

de inteligência do disléxico e seu baixo desempenho na leitura.

A situação dos disléxicos torna-se mais complexa porque muitas pessoas,

inclusive professores, desconhecem o distúrbio e é comum observarmos que as

crianças com dislexia tem um tratamento marginal, pois suas dificuldades são

confundidas com preguiça ou indisciplina.

Os educadores precisam estar preparados para conviver, compreender e

trabalhar com estas crianças, que acabam sentindo vergonha de suas dificuldades,

sentem-se limitadas e inferiorizadas.

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Os leitores disléxicos experimentam impressionantes pontos altos e

devastadores pontos baixos. Shaywitz, (2006, p.131) explica que:

Um dia são elogiados por terem um pensamento incisivo, o que faz com que pensem ser muito inteligentes, mas no outro, um desempenho ruim em um teste de múltipla escolha faz com que se sintam, “realmente burros, não entendendo como conseguiram enganar tantas pessoas por tanto tempo.”

Pensando nisso faz-se necessário levar os professores das Salas de

Recursos a entender o modelo fonológico permitindo que se classifique essa

aparente confusão.

As crianças disléxicas tendem a exibir um quadro mais ou menos típico com

variações de criança para criança, cujas características são a reduzida motivação e

empenho pelas atividades de leitura e escrita, sintomatologia ansiosa, perante

avaliações ou atividades de leitura e escrita, sentimento de tristeza e culpabilização,

reduzida autoestima, insegurança, vergonha, muitas vezes é visto como incapaz,

inferiorizado, sentindo-se frustrado, apresentando comportamento de oposição,

enurese noturna e perturbação do sono, desobediência perante pais e professores.

Para Shaywitz (2006, p. 98) há um último indicativo de dislexia em crianças

e adultos: o fato de que eles dizem sentir dor. A dislexia lhes inflige dor. Representa

uma grande agressão à autoestima.

Não conseguir ler ou escrever apresenta um preconceito social muito

grande, e a pessoa traz este sentimento consigo. Esta tensão e esta visão de si

mesmo como “não aprendiz”, estão presentes quando a pessoa se senta para

escrever, e se manifesta muitas vezes na rapidez do braço e mão, muitas vezes

anulando o movimento do pulso (necessária para escrever). A experiência

emocional da escrita também se manifesta em verbalizações como “não gosto de

escrever” ou “não sou bom para escrever”. Ela só se modificará quando a criança se

vir efetivamente “realizando” o ato de escrever.

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2.1 ENTENDENDO A DISLEXIA

Para entendermos a dislexia precisamos compreender os processos básicos

de habilidades de linguagem verbal: a leitura, a escrita, a fala e a escuta, para

identificar possíveis problemas que definem as funções essenciais da leitura que é

transformar, compreender e julgar.

A transformação em leitura se dá quando converte a linguagem escrita em

linguagem oral, já a compreensão se efetiva quando o sujeito consegue captar ou

dar sentido ao conteúdo que está lendo para ser capaz de julgar o valor da

mensagem no contexto do que leu.

Quando nos referimos aos processos básicos, não poderíamos deixar de

mencionar os processos perceptivos e os processos léxicos que no ensino da língua

materna é realmente o que interessa aos professores, escola, família e aos próprios

alunos.

A linguagem é fundamental para o sucesso escolar. Ela está presente em

todas as disciplinas e todos os professores são potencialmente professores de

linguagem, porque utilizam a língua materna como instrumento de transmissão de

informações.

2.2 DISLEXIA E SUA IDENTIFICAÇÃO

Basicamente apresentam-se dois tipos fundamentais de dislexia: a adquirida

e a desenvolvimental. A adquirida é resultante de um acidente vascular cerebral que

se caracteriza pela incapacidade de ler. A dislexia desenvolvimental refere-se a

distúrbio de leitura e de escrita que ocorrem na educação infantil.

A questão da identificação da dislexia tem provocado um grande volume de

debates e de argumentações. Deste universo, acredita-se que, pelo menos, oitenta

por cento das crianças, na educação básica, sofram com algum tipo de dificuldade

de aprendizagem relacionada à linguagem (dislexia).

De acordo com Morton (1995, p. 357):

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Na continuidade da busca de respostas sobre o que é dislexia, passaram a ser também pesquisadas dificuldades com a linguagem expressiva e receptiva, oral e escrita, além dos problemas com leitura e soletração. A dificuldade observada na aprendizagem da leitura e da escrita e o fraco desempenho nos testes de leitura e de escrita pertencem ao nível do comportamento, enquanto as causas subjacentes a esse desempenho estão situadas no nível cognitivo, que também inclui fatores emocionais, e o nível biológico refere-se a observações e fatos relacionados ao cérebro.

Nas últimas três décadas do século XX, no ensino fundamental brasileiro,

defrontamo-nos com duas vertentes relacionadas à dislexia: a do desenvolvimento

que é tipicamente associada com o déficit no processamento de palavras e a do

estudo das alterações no reconhecimento e produção de palavras. Portanto,

consideram-se disléxicas as crianças que, embora aparentemente normais ou

superiores em muitas áreas do funcionamento intelectual, ainda assim encontram

extrema dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita.

O indivíduo disléxico apresenta uma específica dificuldade de aprendizado

da linguagem: em leitura, soletração, escrita, em linguagem expressiva ou receptiva.

Catts & Kahmi (1999, p. 31) vêem a dislexia como:

Um distúrbio de desenvolvimento da linguagem, cuja característica principal é a dificuldade no processamento fonológico, que leva a criança portadora desse transtorno a fracassar na aprendizagem da decodificação das palavras escritas. Ressaltam, porém, que, apesar de muitas delas apresentarem problemas de compreensão da leitura, são os déficits na decodificação os fatores que mais contribuem para tais problemas.

Segundo esses autores, as crianças disléxicas podem, com frequência,

compreender o texto muito melhor do que sua leitura oral poderia indicar, assim

como sua compreensão auditiva para a linguagem oral é quase sempre normal.

Diferentes Estratégias de Ensino Ajudam a Elevar a Autoestima do Aluno

Disléxico.

Não existe nada mais compensador em termos educacionais do que ver

uma criança que antes se sentia triste e derrotada passar a ser uma criança com

uma grande vontade de aprender. As novas descobertas realizadas no ensino da

leitura são responsáveis por isso.

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Para que ocorra a supressão das dificuldades encontradas pelo aluno

disléxico, faz-se necessário a ruptura de preconceitos, em nossas práticas

escolares, tendo ciência primeiramente que a escola é uma instituição de seleção e

diferenciação. A vivência do preconceito pode ser notada pela prática da diferença,

que é muito presente no cotidiano das escolas. O processo educacional tal como se

desenvolve, pode estar selecionando e colocando para fora muitos que não

conseguem aprender.

Amaral (1992, p. 9) define preconceito como:

Uma atitude favorável ou desfavorável, positiva ou negativa, anterior a qualquer conhecimento. O que é estereótipo senão um julgamento qualitativo, baseado no preconceito e, portanto, anterior a uma experiência pessoal?

O preconceito não existe em si, mas como parte de nossa atitude em

relação a algo e/ou alguma coisa, sendo uma construção social.

Apresentamos atitudes de preconceito em relação a alguém ou alguma

coisa nos apoiando num conjunto de representações e expectativas. Tal

compreensão, justifica-se pela necessidade de perceber e assumir como se realiza o

processo de produção da diferença e, sobretudo como se manifesta a própria atitude

de distinção.

A violência do preconceito não está na diferença que realizamos

mentalmente, mas na forma como agimos com base nessa noção. Ou pior, na

estratégia apoiada na possibilidade de eliminar o outro que é diferente.

Precisamos construir uma atitude para com o outro, com o que nos parece

diferente, a liberdade de existência desse outro, o direito desse outro ser diferente

de mim, seja na maneira de pensar, de agir, de ser.

Farrell (2008 p.55) aponta que:

É preciso que todos os alunos, professores e outros, estejam cientes da importância de aumentar a autoestima do aluno. Para os alunos com Necessidades Educacionais Especiais, incluindo aqueles com dislexia, é particularmente importante que as habilidades, e não só as dificuldades, sejam reconhecidas. Por isso, é proveitoso identificar áreas do currículo e atividades em que o aluno pode ter um bom desempenho e reconhecer as suas realizações.

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O professor deve auxiliar, mas não proteger. O ideal é trabalhar a autonomia

da criança pra que ela não comece a achar que é dependente em tudo. Quando o

professor consegue acolher esse estudante e respeitá-lo em suas diferenças, sem

cair na armadilha do sentimento de pena, proporciona a ele grandes benefícios,

oferecendo a toda a classe uma rica experiência de convivência com a diversidade,

vista como condição humana.

2.3 AS DIFICULDADES E OS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Etimologicamente, a palavra distúrbio compõe-se de radical (turbare) e do

prefixo (dis). O radical turbare significa “alteração violenta na ordem natural” e pode

ser identificado também nas palavras turvo turbilhão, perturbar e conturbar. O prefixo

dis tem como significado “alteração com sentido anormal patológico” e possui valor

negativo. O prefixo dis é muito utilizado na terminologia médica (por ex: disfunção

disfronia). Em síntese, do ponto de vista etimológico, a palavra distúrbio pode ser

traduzida como “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural”.

Para Collares & Moysés (1992, p. 32):

Distúrbio de Aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldade significativa na aquisição e uso da audição fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central.

Os termos dificuldades e distúrbios de aprendizagem têm gerado muitas

controvérsias entre os profissionais, tanto da área da educação quanto da saúde.

Isto porque, há uma sintomatologia muito ampla, com diversidade de fatores

etiológicos, quando se considera o aprendizado da leitura e escrita.

Via de regra, as produções científicas acerca da dislexia procuram

esclarecer em seus textos sobre as alterações na aprendizagem escolar; partindo de

seus enfoques, seja pedagógico ou clínico as variações na conceituação dos

mesmos no processo de ensino-aprendizagem.

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Há também distúrbios de aprendizagem decorrentes de disfunções

neuropsicológicas que comprometem o processamento da informação. A criança

manifestaria, também na escola, comportamentos sugestivos de alguma dificuldade,

que não seria específica de aprendizagem.

2.4 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LEITURA

A leitura se constitui como um dos avanços à busca do conhecimento

sistemático. Porém os diferentes sistemas de avaliação da educação básica

mostram que os alunos da escola pública brasileira chegam à 4º série do Ensino

Fundamental sem saber ler, escrever e contar.

O Instituto Nacional da Saúde da Criança e do Desenvolvimento Humano

dos Estados Unidos NICHD – considera que o ensino e o aprendizado na escola nos

dias de hoje reflete, não somente, a sua importância educacional, mas, também, sua

relação com a vida. A pesquisa tem mostrado, consistentemente, que o

entendimento e o uso da linguagem da leitura e escrita e a comunicação de idéias e

perspectivas ficam seriamente comprometidas, dificultando as oportunidades de

vivência de uma vida plena e gratificante.

Shaywitz (2006, p.119) aponta que:

A capacidade fonológica das crianças segue uma progressão natural e é de avaliação relativamente direta ao longo do desenvolvimento, começando por volta dos quatro anos. A sensibilidade fonológica se refere à capacidade de se concentrar mais nos sons do que no significado da palavra falada. A criança sabe dizer qual palavra rima com cat (gato) em vez de simplesmente dizer que se trata de um tipo de animal. Conhecer essa sequência e o seu tempo faz com que seja possível reconhecer quando uma criança apresenta problemas. A grande novidade é que você pode identificar essa criança e ajudá-la a voltar ao caminho antes que algum grande dano ocorra.

Sabemos que, em geral, à medida que uma criança desenvolve suas

habilidades fonológicas, adquire a capacidade de se concentrar em partes cada vez

menores das palavras, e não só na palavra como uma unidade inteira, indivisível.

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Passa a trabalhar não só o final e o início das palavras, mas também o seu interior.

Em um primeiro momento, as crianças conseguem separar apenas o som que inicia

as palavras, depois os sons mediais. Penetrar no interior da palavra é muito mais

difícil do que observar suas extremidades, e é a capacidade de perceber e

decodificar cada parte da palavra que revela um leitor hábil.

Pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Nacional da Criança e do

Desenvolvimento Humano NICHD, dos Estados Unidos, mostram, claramente, que

sem intervenção sistemática, focalizada e intensiva, a maioria das crianças,

raramente, supera suas dificuldades. Da mesma forma, o Centro Nacional de

Estatísticas da Educação, recentemente, divulgou registro de um estudo longitudinal,

a partir do jardim de infância e que apresentavam alto risco de dificuldades. Esses

estudos sugerem, que programas implementados apropriadamente, podem reduzir o

número de casos de crianças que apresentam dificuldades no aprendizado da

leitura.

Segundo Shaywitz (2006, pp. 119-120):

As pesquisas abriram nossos olhos para o quanto é importante que as habilidades fonológicas estejam bem desenvolvidas durante os primeiros anos da escola. Ao final da 1º série, a maior parte das crianças terá acabado de dominar suas habilidades fonológicas básicas. A partir da 2º série, o desenvolvimento das competências é mais uma questão e aperfeiçoar e obter maior eficiência ou automaticidade nas habilidades fonológicas previamente adquiridas. Essas três habilidades influenciam a leitura desde o início.

O número de crianças com dificuldades em leitura, assistidas através de

educação especializada, reflete apenas uma fração do número de crianças em idade

escolar, que possuem dificuldades no aprendizado da leitura.

2.5 DISTÚRBIOS DE LEITURA - DISLEXIA

Falar sobre distúrbio de leitura e escrita, não é nada fácil, pois, as

dificuldades de leitura e escrita em geral, e da dislexia, em particular, vem

suscitando desde há muito tempo o interesse de professores e outros profissionais

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interessados na investigação dos fatores implicados no sucesso e/ou insucesso

educativo.

Vários estudos apontam, que nem todas as crianças que apresentam

dificuldades para aprender a ler podem ser consideradas possuidoras de distúrbio

de leitura e escrita. Muitas apresentam instrução escolar inadequada, não podendo

ser incluída no grupo, acima citado. Assim como as que possuem comprometimento

visual ou mental.

A primeira descrição de um caso de distúrbio de leitura foi apresentada em

1896 por Morgan, um médico inglês que descreveu um jovem brilhante de quatorze

anos, rápido em jogos, mas que tinha grande dificuldade para aprender a ler, cujos

professores achavam que poderia ser o melhor aluno da classe se toda instrução

fosse dada oralmente.

Alguns erros são significativos para o quadro da dislexia, embora, deva-se

levar em consideração o contexto em que eles são inseridos. Dependendo da

situação de aprendizagem, podem não significar dislexia, mas sim, erros de fase de

aquisição de leitura.

A dificuldade de decodificação das palavras obriga o disléxico a fazer uma

leitura hiperanalítica e decifratória, direcionando seus esforços a tarefa de decifrar o

material.

Shaywitz (2006, p. 94), aponta que:

Para os leitores disléxicos, o processo de aprendizagem de leitura e de se tornar um leitor capacitado é extremamente lento. Objetivos comuns a todos os leitores são atingidos com muito atraso. No começo, as dificuldades em relacionar as letras aos sons interferem na aprendizagem da leitura.

A leitura do disléxico geralmente é comprometida porém, a compreensão

pode estar preservada, parte do processo de se tornar um leitor capacitado é formar

continuamente representações mais detalhadas e completas de palavras familiares.

Em geral, os leitores disléxicos requerem mais exposição a uma palavra impressa e,

durante um período de tempo mais longo; até que a representação dessa palavra

seja clara e fiel ao que está escrito.

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Assim, para a linguística, a dislexia não é uma doença, mas um fracasso

inesperado na aprendizagem da leitura, sendo, pois, uma síndrome de origem

linguística quando se torna permanente na criança.

2.6 A ESCOLA REGULAR – SEU COMPROMISSO EDUCACIONAL

A ciência é a base de toda construção do conhecimento acadêmico e a

escola regular opera com esse saber universal, produzido e reproduzido, em

consonância do saber particular. Ela amplia todo e qualquer conhecimento que o

aluno traz da sua experiência pessoal, social e cultural e procura meios de fazer com

que o aluno supere o senso comum. A escola deve estimular o aluno a prosseguir

no entendimento de um fenômeno, ou de um objeto e de torná-lo capaz de distinguir

o que estuda do que já sabe em uma ou várias áreas do conhecimento.

Na escola a construção do conhecimento é predefinida, intencional e

deliberada. Tanto o aluno quanto o professor têm objetivos escolares explícitos que

precisam ser alcançados.

A escola é a instituição responsável pela passagem da vida particular e

familiar para o domínio público, tendo assim uma função social reguladora e

formativa para os alunos. O conhecimento nela produzido é revestido de valores

éticos, estéticos e políticos, aos quais os alunos têm de estar identificados e por

mais que a escola seja liberal e descarte modelos totalizadores e coercitivos de

ensino e de gestão, sua função social jamais será descartada. Ela precisa assumir

um compromisso com as mudanças sociais, com o aprimoramento das relações

entre os cidadãos, com o cuidado e respeito em relação ao mundo físico e aos bens

culturais que nos circundam.

Acima de tudo, a escola tem a tarefa de ensinar os alunos a compartilharem

o saber, os sentimentos diferentes das coisas, as emoções, a discutir, a trocar

pontos de vista. É na escola que desenvolvemos o espírito crítico, a observação e o

reconhecimento do outro em todas as suas dimensões.

Em suma, a escola comum tem um compromisso primordial e insubstituível:

introduzir o aluno no mundo social, cultural e científico; e todo o ser humano,

incondicionalmente tem direito à educação.

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Para Farrell (2008, p.38):

O professor do ensino fundamental e, talvez, professores de português do ensino médio, têm maiores condições de perceber dificuldades de letramento que poderiam sugerir a necessidade de uma investigação para estabelecer se o aluno tem dislexia.

Quando o professor se preocupa com o desempenho e o progresso de um

aluno, pode consultar o coordenador e obter mais informações. É importante que as

informações sobre o desempenho do aluno em leitura, escrita e ortografia sejam

coletadas em diferentes ambientes. Se a preocupação persistir, o coordenador pode

consultar outros profissionais, como o psicólogo educacional.

2.7 A DISLEXIA NO CONTEXTO ESCOLAR

A escola deve poder contar com professores e consultores especializados

nos domínios da leitura, da ortografia e, ao mesmo tempo com psicólogos com

formação educacional específica.

Temos que compreender que muito do insucesso escolar das crianças é

apenas espelho do insucesso social e pedagógico que não permite responder as

necessidades educacionais especiais das crianças disléxicas.

É na escola que a dislexia, de fato, aparece. Há disléxicos que revelam suas

dificuldades em outros ambientes e situações, mas nenhum deles se compara à

escola local onde a leitura e a escrita são permanentemente utilizadas, sobretudo,

valorizadas. Sempre houve disléxicos nas escolas. Entretanto, a escola que

conhecemos certamente não foi feita para o disléxico. Objetivos, conteúdos,

metodologias, organização, funcionamento e avaliação não o contemplam.

Não é por acaso que muitos disléxicos não sobrevivem à escola e são por

elas preteridos. E os que conseguem resistir e diplomar-se o fazem astuciosamente,

e ao driblarem o tempo, os modelos, as exigências burocráticas, as cobranças dos

professores, as humilhações sofridas.

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Diante de tais problemáticas, a escola ao construir sua Proposta

Pedagógica, já deve pensar considerando o aluno disléxico. Nessa direção, esse

projeto visa proporcionar aos professores das Salas de Recursos, subsídios teóricos

referentes à Temática Dislexia com o intuito de construir coletivamente práticas

pedagógicas permeadas por atitudes inclusivas.

3 CAMINHOS TRILHADOS NO PROCESSO DE ATUALIZAÇÃO DOS

PROFESSORES COM ALUNOS DISLÉXICOS

Desenvolvo um trabalho de acompanhamento com as salas de recursos

desde a sua criação, e sempre me preocupei com a inclusão do aluno Disléxico em

sala de aula.

Constantes são as reclamações e dúvidas por professores das acentuadas

dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita pelos alunos de 5º a 8º séries do

ensino fundamental. Os professores apresentam certa insatisfação profissional em

sua atuação com estes alunos.

Percebo que essa insatisfação se dá devido ao sentimento de incapacidade

de solucioná-las. Nessa direção acreditamos que ao proporcionarmos um

embasamento teórico de qualidade a respeito do processo de ensino-aprendizagem

e suas variáveis possamos vir a colaborar com esses profissionais a intervirem com

sucesso na solução das dificuldades apresentadas, resultando em uma educação de

qualidade para todos, atendendo, sobretudo, as especificidades apresentadas pelos

alunos disléxicos.

Com a experiência desenvolvida na área da Educação Especial, durante

muitos anos, venho observando as dificuldades que os professores encontram ao se

depararem em salas de aula com alunos disléxicos. São muitas as indagações, a

falta de conhecimento e muitos pontos de interrogação, dentre os quais ressaltamos:

• A autoestima colabora para o desenvolvimento da criança disléxica?

• Como o professor deve dirigir o olhar para o aluno que apresenta

dificuldades na leitura, na escrita e ortografia e como compreender a

natureza dessas dificuldades?

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• Quando buscar um diagnóstico especializado e fazer os encaminhamentos

necessários?

• Como desenvolver estratégias para levar a criança a identificar os códigos

da leitura e tornar-se uma leitora?

• Como levar professores a reconhecer as dificuldades e os distúrbios de

aprendizagem?

Estas questões traduzem as dificuldades e impulsiona a estudar o assunto,

em busca de conhecimentos e recursos alternativos para que a criança disléxica

consiga apropriar-se da leitura e conseguir obter sucesso escolar e social.

O que dizer de nossas práticas escolares em relação ao preconceito?

Não se pode afirmar que temos uma vivência que de fato acolha o diferente,

pois a escola possui um histórico de seleção e diferenciação social e, no entanto,

nos comportamos como se isso não existisse. Com isso, estamos sempre em

situações de fragilidade. É fato que não se pode negar a seletividade que está

presente na prática institucional escolar, e, por vezes, de caráter elitista. A vivência

do preconceito pode ser notada pela prática da diferença, que é muito presente no

cotidiano brasileiro.

Portanto, com o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE surgiu a

oportunidade de elaborar o presente projeto, no intuito de levar ao conhecimento dos

professores das Salas de Recursos a importância do diagnóstico precoce e a

utilização de métodos mais eficazes para o ensino da leitura, cuja viabilidade de

execução estará inteiramente dentro dos objetivos do Programa e direcionado de

modo que proporcione subsídios teórico-metodológicos e atividades alternativas

para subsidiar as práticas pedagógicas dos professores, para que possam oferecer

práticas educativas adequadas aos educandos disléxicos que possuem este

distúrbio que interfere na aprendizagem.

A partir da problemática objetivou-se proporcionar aos professores das

Salas de Recursos fundamentação teórico-metodológicos, referentes à dislexia para

que sejam desenvolvidas práticas pedagógicas coerentes atendendo às

necessidades educativas de cada aluno.

Subsidiar os professores levando-os a desmistificar o conhecimento a cerca

da temática, com o intuito de romper preconceitos que inviabilizam a apropriação do

conhecimento;

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Envolver professores para que reconheçam as dificuldades de

aprendizagem específica que um aluno disléxico apresenta,

Proporcionando condições e metodologias diferenciadas para que o mesmo

esteja integrado no processo de ensino-aprendizagem.

Partindo de tais objetivos, nesta oportunidade, faremos uma reflexão sobre a

prática pedagógica desenvolvida em classes comuns, do ensino regular, tendo em

vista alunos com Dislexia.

Pensando nisto, analisaremos o pensar e o fazer pedagógico do professor

na sala de aula, de que forma foram conduzidos os trabalhos com os alunos que

apresentam dislexia, e quais os resultados alcançados.

Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos

espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação que favoreçam a promoção da

aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades

educacionais de todos os alunos.

Para que isto venha a acontecer é necessário um trabalho com os

professores da Sala de Recursos desenvolvendo procedimentos educacionais

adequados a necessidades e especificidades que cada aluno disléxico apresenta.

A inclusão e as dificuldades específicas têm como objetivo incentivar as

escolas a reconsiderar sua estrutura, as metodologias de ensino, a formação de

grupos de alunos e o uso do apoio a fim de responder às necessidades percebidas

de todos os seus alunos. Professores, em estreita colaboração, buscam

oportunidades para examinar novas maneiras de envolver todos os alunos a partir

da experimentação e da reflexão. Deve haver um acesso planejado a um currículo

amplo e equilibrado, desenvolvido desde seus fundamentos como currículo para

todos os alunos.

Dentro da prática pedagógica do professor, ele deve estar sempre atento,

pois, quanto mais cedo identificar o disléxico melhor será para a sua aprendizagem

e menos sofrimento terá.

Levando-se em conta as práticas pedagógicas do professor, a avaliação

deve ser contínua, fazendo parte de todo o seu trabalho, estando atento às

respostas educativas, permitindo-o adequar o ensino às suas necessidades reais.

Analisando o trabalho proposto e a necessidade de identificar mecanismos

de ação com vistas à remoção de barreiras à aprendizagem, pensamos neste

projeto com objetivo de subsidiar as práticas pedagógicas dos professores, para que

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proporcione respostas educativas adequadas aos educandos com dificuldades na

aprendizagem da leitura e da escrita, devolvendo-lhes seu potencial e melhorando

seu desempenho escolar.

Fez-se necessário em primeiro lugar reconhecer que ao planejar um

trabalho, é preciso que estabeleçamos quais objetivos que queremos alcançar se

realmente vem de encontro às intenções educativas e estabeleçam as capacidades

e as habilidades que os educando poderão desenvolver como consequência das

ações intencionais do educador as quais descreveremos durante o procedimento

metodológico.

Tivemos como fundamentação um trabalho voltado para a análise

bibliográfica, com abordagem qualitativa e observação da realidade, averiguarão o

contexto escolar onde o aluno encontra-se inserido, ressignificando as práticas

pedagógicas dos professores.

Para que isto se torne realidade, inicialmente realizei uma reunião

envolvendo todos os professores das Salas de Recursos do município de Ivaiporã,

pertencentes ao Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã, para expor o objetivo

procedimento e desenvolvimento do plano de implementação na mesma, bem como

conscientizá-los de como é importante a interação do assunto que iremos tratar,

quais as ferramentas e propostas metodológicas que poderão auxiliá-lo no processo

de ensino-aprendizagem dentro da proposta de desenvolver um trabalho obtendo

sucesso com o aluno disléxico.

Primeiramente, enfatizei a explanação sobre o Caderno Pedagógico e as

várias propostas nele estabelecidas.

Apresentei a intervenção na escola trabalhando com os professores em

grupos de estudos para a sensibilização dos profissionais da educação para

consolidar aos poucos a necessidade de mudança de posturas diante do aluno que

possui a dislexia, uma vez que estes profissionais necessitam de mais informações

para poder atender as suas especificidades, levando-os a acompanhar o ensino

regular como os demais alunos.

Aos professores foram oferecidos momentos para prepararem atividades

envolvendo recursos para o uso das Tecnologias para Trabalhar com Alunos

Disléxicos, os quais deverão estar inseridos no planejamento, fazendo parte dos

procedimentos e recursos didáticos que estão voltados para as necessidades de

cada aluno para a superação das dificuldades. As mudanças de âmbito pedagógico

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só acontecerão se significativas mudanças de atitudes e de mentalidade acima de

tudo, conscientizando os docentes para a igualdade de oportunidades educacionais,

em um ambiente educacional favorecendo o seu desenvolvimento, pois, o distúrbio

não impede ninguém de aprender.

Foram realizados encontros através de grupos de estudos, oficinas

pedagógicas, reuniões na escola, palestras, visando:

Proporcionar aos professores o marco teórico para entendimento dos

caminhos que o aluno percorre durante o processo de construção do conhecimento;

Elaboração de instrumentos que possibilitem levar o aluno a compreender

os mecanismos da leitura;

Alicerçar teoricamente as intervenções a serem promovidas na escola com

leituras que venham de encontro a entender o distúrbio;

Apresentar elementos que promovam o repensar das práticas pedagógicas,

tendo em vista os resultados dos estudos sobre Dislexia.

RESULTADOS

Os resultados foram apresentados e analisados juntos aos professores das

salas de recursos da seguinte forma: inicialmente ao apresentar o laudo médico que

comprovava a dislexia desenvolvemos um trabalho de análise de cada laudo, pois

como sabemos a dislexia apresenta-se de diversas formas e sendo a mesma

peculiar deve-se desenvolver um trabalho diferenciado para cada aluno de acordo

com as suas necessidades.

Apesar de todos os componentes do grupo serem professores e desenvolver

um trabalho diretamente com alunos, após análise e depoimentos dos participantes,

foi possível identificar que existe ainda pouco conhecimento deste distúrbio de

aprendizagem nas escolas .

Tal afirmação reside no fato de muitos apresentarem diferentes visões sobre

a dislexia o que coube neste momento uma pesquisa por parte destes, com o

material disponibilizado. Outro aspecto importante a ser destacado diz respeito a

preocupação apresentado por estes no tocante ao processo de Inclusão dos alunos

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disléxicos que para além de sua inserção social devem ser contemplados com

qualidade os conhecimentos acadêmicos.

Ao discorrerem sobre as dificuldades encontradas na realização da

intervenção os professores levantaram a falta de formação continuada e a ausência

de uma equipe formada por especialistas das diferentes áreas que possam estar

atuando juntos aos professores do ensino regular.

Destaca-se também a falta de capacitação da equipe pedagógica em lidar

com alunos que apresentam esta dificuldade de aprendizagem específica,

ressaltando a importância da realização de cursos de capacitação para que todos os

envolvidos no processo inclusivo tenham condições de desenvolver um trabalho

adequado às necessidades desse alunado.

Considerando as dificuldades e o interesse por parte dos professores tanto

da educação especial quanto do ensino regular, coloquei-me sempre á disposição

das escolas com o objetivo de propiciar esclarecimentos de suas dúvidas toda vez

que receberem um aluno que apresentar um laudo com esta dificuldade de

aprendizagem específica, a saber Dislexia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial, traz o conceito

da escola inclusiva, buscando um novo olhar em que valores como compreensão,

solidariedade e crença no potencial humano superem todas as atitudes de

preconceito e de discriminação em relação às diferenças.

Convidamos a todos, através deste artigo, a terem um novo olhar que inspire

a educação na e para a diversidade, em que currículos que marginalizavam as

diferenças dêem espaço à construção de práticas curriculares calcadas no

compromisso com a pluralidade das manifestações humanas presentes nas relações

cotidianas da escola.

No entanto, a construção desta nova ética social é um processo complexo e

de longo prazo. Envolve mobilização coletiva, pois é assim que se provocam

mudanças sociais. Nesse percurso, exige-se disposição para dialogar, confrontar

idéias e valores, compartilhar experiências, articular ações e não negar, jamais, o

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passado. Não neguemos a construção histórica que possibilita, atualmente,

vislumbrar novos caminhos, refletir sobre erros e acertos e propor alternativas para

superação de práticas.

A escola deve proporcionar uma educação de qualidade para todos os

educandos incluindo os que apresentam Transtornos Funcionais Específicos e para

tanto a escola precisa e deve capacitar seus professores, organizar-se enfim,

adaptar-se. Inclusão não deve ser entendida simplesmente como o ato de

matricular os alunos nas classes comuns, mas levar o professor e à escola a

proporcionar o suporte necessário à sua ação pedagógica.

Consideramos que os resultados do trabalho que foi desenvolvido e aqui

apresentado, atenderam aos objetivos propostos, pois nos mostrou clareza em

relação à necessidade de preparação da equipe pedagógica da escola e de

professores para lidar com alunos que apresentam Transtornos Funcionais

Específicos no nosso caso, a Dislexia.

A hipótese de que os professores não se encontravam preparados para

trabalhar e muitas vezes nem para identificar um aluno disléxico foi confirmada, por

isso vimos a necessidade da elaboração de programas de formação continuada para

discutir, de forma mais aprofundada, os temas aqui abordados.

Acreditamos que todos os professores que participaram deste estudo podem

lançar olhares mais críticos para este transtorno de aprendizagem assim como para

a inclusão, pois foram acrescentados informações sobre um tema ainda polêmico

para a comunidade docente.

Esperamos que este trabalho tenha conseguido plantar em cada envolvido a

semente inicial para a ampliação de uma discussão sobre a necessidade de formar

e informar os educandos sobre tão vasto e importante tema de discussão que foi

aqui apresentado.

REFERÊNCIAS

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