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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

Superintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais

Programa de Desenvolvimento Educacional

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO 

PARANÁ­UENP

CLEIDE REGINA PIAI

PLANO DE TRABALHO DOCENTE A LUZ DA 

PEDAGOGIA HISTÓRICO­CRÍTICA PARA A 

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADAULTOS

CORNÉLIO PROCÓPIO, PARANÁ

2010

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CLEIDE REGINA PIAI

PLANO DE TRABALHO DOCENTE A LUZ DA 

PEDAGOGIA HISTÓRICO­CRÍTICA PARA A 

EDUCAÇÃO  DE JOVENS E ADULTOS

A   Produção   Didático­Pedagógica é  um dos requisitos para   o   cumprimento   das atividades   propostas   pelo Programa   de   Desenvolvimento Educacional –PDE do Estado do Paraná,   a   fim   de   ser   utilizado durante   o   processo   de implementação   do   projeto   de Intervenção   pedagógica   na escola   de   atuação     sob orientação da Ms Marília Bazan Blanco,   professora   da Universidade Estadual do Norte do   Paraná­UENP   de   Cornélio Procópio.

CORNÉLIO PROCÓPIO, PARANÁ

2010

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SUMÁRIO

1 IDENTIFICAÇÃO................................................................................................ 3

2 TEMA DE ESTUDO............................................................................................. 3

3 TÍTULO................................................................................................................. 3

4 APRESENTAÇÃO................................................................................................ 4

5 REVENDO A ORGANIZAÇÃO DA EJA.......................................................... 5

5.1 Caracterização do curso....................................................................................... 5

5.2 Nível de ensino....................................................................................................... 5

5.3 Educação Especial................................................................................................. 6

5.4     Ações Pedagógicas Descentralizadas(APED)..................................................... 6

5.5 Frequência.............................................................................................................. 7

5.6 Organização Coletiva ........................................................................................... 7

5.7 Organização Individual .....................................................................................   7

6 PERFIL DOS EDUCANDOS DA EJA.............................................................. 8

7 EIXOS ARTCULADORES DO CURRÍCULO DA EJA ............................... 9

8 PROFESSORES DA EJA.................................................................................. 11

9 O MÉTODO........................................................................................................ 12

10 CONHECENDO UM POUCO DA PHC ........................................................ 13 

11 UMA DIDÁTICA PARA A PHC ..................................................................... 16

12 OS CINCO PASSOS PEDAGÓGICOS DA OBRA DE GASPARIN............ 18

12.1 Prática Social Inicial dos Conteúdos ................................................................18

12.2 Problematização..................................................................................................20

12.3 Instrumentalização..............................................................................................22

12.4 Catarse..................................................................................................................24

12.5 Prática Social Final dos Conteúdos...................................................................25

13  A IMPORTÂNCIA DO PLANO DE TRABALHODOCENTE.....................25

14 CONCLUSÃO.....................................................................................................28

15 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................29

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PRODUÇÃO DIDÁTICO­PEDAGÓGICO: UNIDADE DIDÁTICA

1. IDENTIFICAÇÃO

1.1 Professora PDE:Cleide Regina Piai

1.2 Área PDE: Pedagogo

1.3 NRE: Cornélio Procópio

1.4 Professor Orientador: Marília Bazan Blanco

1.5 IES: UENP

1.6 Escola de Implementação: Colégio Estadual Alberto Carazzai

1.7 Público Alvo: Professores que atuam na modalidade de Educação de Jovens e 

Adultos 

2. TEMA DE ESTUDO

O  projeto  político­pedagógico   como   expressão   da   política   da   escola   e   do   trabalho 

coletivo.

3. TÍTULO

Plano  de  Trabalho   Docente   a   Luz  da  Pedagogia  Histórico­Crítica   na   Educação   de 

Jovens e Adultos

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APRESENTAÇÃO

Este   material   didático­pedagógico   foi   elaborado   para   utilização   durante   o 

processo de implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica  unto aos professores 

que atuam na EJA do Colégio Estadual Alberto Carazzai­ Ensino Fundamental e Médio, 

da rede pública  do Estado do Paraná, na cidade de Cornélio Procópio. 

Ele pretende provocar leituras, reflexões, discussões sobre o Plano de Trabalho 

Docente (PTD) na perspectiva da Pedagogia Histórico Crítica, uma vez que, devido a 

vários   fatores,     os   professores   que   atuam   nessa   modalidade   de   ensino   apresentam 

dificuldade em desenvolver o Plano de Trabalho Docente   na Educação de Jovens e 

Adultos.

No   primeiro   momento   o   material   traz   uma   retomada   sobre   a   forma   de 

organização da Educação de Jovens e Adultos de acordo com as Diretrizes Curriculares 

da EJA e da Proposta Curricular. No segundo momento aborda a Pedagogia Histórico–

Crítica. 

Apesar de ser uma função rotineira do docente, percebe­se que a fragilidade no 

embasamento teórico, bloqueia a elaboração do PTD com objetivos direcionados a uma 

educação   de   qualidade   e   com   criticidade,   atendendo   as   necessidades   dos   jovens   e 

adultos.

                       A intenção desse estudo é traçar estratégias de superação das dificuldades e 

novos encaminhamentos, visando à melhoria das práticas pedagógicas em sala de aula 

na modalidade da Educação de Jovens e Adultos.

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REVENDO A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

1. Caracterização do Curso

O curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA) é ofertado a jovens, adultos e 

idosos que buscam dar continuidade a seus estudos no Ensino Fundamental e Médio, 

assegurando­lhes   oportunidades   apropriadas,   considerando   suas   características, 

interesses, condições de vida e de trabalho, mediante ações didático­pedagógicas.

Todas   as   disciplinas   da   modalidade   estão   organizadas   de   forma   coletiva   e 

individual,  ficando a critério do educando optar pela organização que melhor atenda 

suas necessidades, podendo também matricular­se nas duas formas de organização de 

ensino, isto é, cursar algumas disciplinas na organização coletiva e outras na individual. 

Os  estudos   são  presenciais,   desenvolvidos  de  maneira   a  viabilizar  processos 

pedagógicos   através   de   pesquisa   e   problematização   na   produção   do   conhecimento: 

desenvolvimento na capacidade de ouvir, refletir e argumentar, vivências culturais que 

expressem  a   cultura   dos   educandos,   bem  como   a   reflexão   sobre  outras   formas   de 

expressão cultural. (Carvalho 2000, p.17)

Para o bom desenvolvimento do processo são estabelecidos planos de estudos e 

atividades, tanto na organização coletiva como na individual. 

1.1 Nível de Ensino

1.1.1 Ensino Fundamental ­ Fase I

O Ensino Fundamental Fase I atende jovens, adultos e idosos não alfabetizados, 

ou aqueles que não concluíram as séries iniciais. 

Conforme  disposto   na   Lei   de   Diretrizes  Curriculares   da   Educação   Nacional 

(LDBEN) 9.394 de 20 de dezembro de 1996, art. 5º e 6º a oferta é de competência da 

administração municipal.(LDB­9.394/96) 

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1.1.2 Ensino Fundamental ­ Fase II

Matricula­se jovens, adultos e idosos que concluíram as séries iniciais e querem 

dar continuidade aos estudos.  A oferta é  de competência do governo Estadual,  e os 

estudos   tem   como   referência   as   Diretrizes   Curriculares   Nacionais   e   Estaduais. 

(Proposta Pedagógico­Curricular da EJA,2006, p.13)

1.1.3 Ensino Médio

O Ensino médio tem como referência em sua oferta, os princípios, fundamentos 

e procedimentos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio­ Parecer 

15/98 e Resolução 02 e 07 de abril de 1998/ CNE e nas Diretrizes Estaduais da EJA. 

(Proposta Pedagógico­Curricular da EJA,2006, p.13)

1.2 Educação Especial

Proporciona   aos   educandos   com   necessidades   educativas   especiais,   ações 

educacionais específicas e que oportunizem o acesso, a permanência e o êxito destes no 

espaço escolar. (Proposta Pedagógico­Curricular da EJA,2006, p.13)

1.3 Ações Pedagógicas Descentralizadas (APED)

Dirigidas a grupos com perfis e necessidades próprias, onde não haja oferta de 

escolarização para a modalidade de EJA.

Para   abertura   de   uma   APED   há   necessidade   de   aprovação   da   SEED/PR. 

Também deve respeitar a proposta pedagógica e o regimento escolar da instituição que 

oferece o curso. (Proposta Pedagógico­Curricular da EJA,2006, p.13)

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1.4 Frequência 

Na organização  presencial   coletiva  no  Ensino  Fundamental   –  Fase   II   e   no  Ensino 

Médio, a  freqüência mínima é  de 75% (setenta e cinco por cento) e na organização 

individual   é   de   100%   (cem   por   cento),   em   sala   de   aula.  (Proposta   Pedagógico­

Curricular da EJA,2006, p.14)

1.5 Organização Coletiva

A escola oferece a matrícula nessa organização, preferencialmente aos educando 

que   têm   possibilidade   de   freqüentar   as   aulas   com   regularidade,   a   partir   de   um 

cronograma, que estipula o período, dias e horário das aulas, com previsão de início e 

término de cada disciplina, oportunizando­os a integralização do currículo. A mediação 

pedagógica ocorre priorizando o encaminhamento dos conteúdos de forma coletiva, na 

relação professor­educandos e considerando os saberes adquiridos na história de vida de 

cada educando.  (Proposta Pedagógico­Curricular da EJA,2006, p.12) 

1.6 Organização Individual

A organização individual destina­se àqueles educandos trabalhadores que não 

têm possibilidade  de   freqüentar  com  regularidade  as  aulas,  devido  às  condições  de 

horários alternados de trabalho.

Destina­se também aos que:

efetivam matrícula mediante classificação;

obtêm aproveitamento de estudos;

foram reclassificados;

evadem da organização coletiva, 

não conseguem vaga na organização coletiva no momento em que sua 

matrícula é reativada.

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A   escola  organiza   e   oferece   aos   educandos   o   cronograma   com   dias   e 

horários   das   aulas,   respeitando   o   ritmo  próprio   de   cada   um,   nas   suas 

condições de vinculação à escolarização e nos saberes já apropriados.

       (Proposta Pedagógico­Curricular da EJA,2006, p.12)

2. PERFIL DOS EDUCANDOS DA EJA

Esta modalidade de ensino é amparada pela LDB 9394/96 e destina­se àqueles 

que não tiveram acesso a educação regular na idade própria ou estavam a margem dela 

por algum motivo. 

Conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais (DCEs) do  Paraná “compreender 

o perfil do educando da Educação de Jovens e Adultos  requer conhecer a sua história, 

cultura e costumes, entendendo­o como um sujeito com diferentes experiências de vida 

e que em algum momento afastou­se da escola devido a fatores sociais, econômicos, 

políticos   e/ou   culturais.   Entre   esses   fatores,   destacam­se:   o   ingresso   prematuro   no 

mundo do trabalho, a evasão ou a repetência escolar” (DCEs da EJA­PR,2006, p.29) 

Faz­se necessário, para formar o perfil dos educandos da EJA, levar em conta a 

pluralidade  desses sujeitos,  valorizando suas vivências,  culturas  e costumes diversos 

que devem ser avaliados  e contemplados  em ações  pedagógicas  específicas.  Mesmo 

diante de tanta diversidade, os educandos da EJA apresentam alguns pontos em comum: 

não tiveram a oportunidade de continuar seus estudos devidos a fatores, como: fracasso 

escolar,   evasão   escolar,   repetência,   necessidade   de   trabalhar,   migração,   práticas 

escolares inadequadas, moradia distante da escola, etc.

Os jovens e adultos que se matriculam na EJA trazem consigo uma bagagem de 

conhecimentos   adquiridos   informalmente   ao   longo   da   vida,   constituídos   em   suas 

crenças   e   valores.  Esses   saberes   cotidianos,  baseados  no   senso   comum,  devem ser 

valorizados pelo professor que pode sondar o que o educando já sabe sobre o conteúdo a 

ser trabalhado e elaborar seu PTD, considerando o ponto de partida e de chegada sem 

fragmentar   ou   descontextualizar   o   conhecimento,   pois   esses   jovens   e   adultos, 

necessitam da educação formal para viver melhor e criticamente na sociedade em que 

vivem. (DCEs da EJA­PR,2006, p.29)

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3. EIXOS ARTICULADORES DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS 

E ADULTOS

Cultura, Trabalho e Tempo são os eixos que articulam toda a ação pedagógica 

curricular da Educação de Jovens e Adultos.

Conforme as Diretrizes Curriculares:

Cultura   “compreende   a   forma   de   produção   da   vida   material   e   imaterial   e 

compõe um sistema de significações envolvido em todas as formas de atividade social 

(WILLIANS, 1992).

Por   ser   produto   da   atividade   humana,   não   se   pode   ignorar   sua   dimensão 

histórica. No terreno da formação humana, a cultura é o elemento de mediação entre o 

indivíduo   e   a   sociedade   e,   nesse   sentido,   tem  duplo   caráter:   remete  o   indivíduo   à 

sociedade e é, também, o intermediário entre a sociedade e a formação do indivíduo 

(ADORNO, 1996).”

Para Sacristán, ( 2001) a cultura compreende,  desde a mais sublime música ou 

obra literária, até as formas de destruir­se a si mesmo e as técnicas de tortura, a arte, a 

ciência,   a   linguagem,   os   costumes,   os   hábitos   de   vida,   os   sistemas   morais,   as 

instituições sociais, as crenças, as formas de trabalhar (SACRISTÀN, 2001, p.105).

A   cultura   abrange   toda   produção   humana,   inclusive   o   trabalho   e   todas   as 

relações dele decorrente.

Trabalho: O trabalho compreende uma forma de produção da vida material a 

partir  da qual  se  produzem distintos  sistemas de significação.  É  a ação pela  qual  o 

homem   transforma   a   natureza   e   transforma­se   a   si   mesmo.   Portanto,   a   produção 

histórico­cultural atribui à formação de cada novo indivíduo, também, essa dimensão 

histórica. (DCEs da EJA­PR,2006, p.32)

Os vínculos entre educação, escola e trabalho situam­se numa perspectiva mais 

ampla, a considerar a constituição histórica do ser humano, sua formação intelectual e 

moral, sua autonomia e liberdade individual e coletiva, sua emancipação.

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Conforme as Diretrizes Curriculares da EJA do Paraná, uma das razões pelas 

quais os educandos da EJA retornam para a escola é o desejo de elevação do nível de 

escolaridade para atender às exigências do mundo do trabalho. 

Porém, o professor deve se preocupar com a formação intelectual  e moral,  a 

autonomia   e   liberdade   individual   e   coletiva   dos   educandos,   sem   preocupações   em 

prepará­los especificamente para atender as demandas do mercado de trabalho. 

Tempo: Cada educando que procura a EJA, porém, apresenta um tempo social e um 

tempo escolar  vivido,  o  que   implica  a  necessidade  de   reorganização  curricular,  dos 

tempos  e  dos  espaços  escolares,  para   a  busca  de   sua  emancipação.(DCEs da  EJA­

PR,2006, p.33)

Do ponto de vista da dimensão social, pode­se dizer que os educandos viveram e 

vivem tempos individuais e coletivos, os quais compreendem os momentos da infância, 

da juventude, da vida adulta, no contexto das múltiplas relações sociais.

O tempo escolar dos educandos da EJA é organizado por carga horária de cada 

disciplina, cada educando em seu tempo singular de aprendizagem defini o período em 

cada  nível  de  ensino.  O período é  bem diversificado,  depende  da  disponibilidade  e 

dedicação de cada educando aos estudos 

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos do 

Paraná, 2006, p.33, a  organização do tempo escolar compreende três dimensões: 

o tempo físico: relacionado ao calendário escolar

o tempo vivido: compreende­se   pelas experiências sociais e escolares 

dos educandos

o tempo pedagógico: o tempo destinado a escolarização e socialização do 

conhecimento. 

A organização  dos   tempos  está   articulada  aos  espaços  escolares  preenchidos 

pelos educandos em toda ação educativa. 

Nesse   sentido,   a   organização   dos   espaços,   dos   tempos   escolares   e   da   ação 

pedagógica deve ser objeto de reflexão entre os educadores e educandos para que o 

currículo seja significativo.

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Currículo:  não é neutro e deve ser compreendido em suas três dimensões:

currículo formal ou prescrito:  É  aquele que prescreve a intenção na 

formação dos educandos;

currículo vivo ou real: é aquele que acontece com significado na sala de 

aula, nele se explicitam as visões de mundo e as ações dos diferentes 

sujeitos da prática educativa no espaço escolar com maior clareza;

currículo  oculto:    é   inerente  a   toda e  qualquer  ação pedagógica  que 

media a relação entre educador  e educando no cotidiano escolar,  sem 

estar, contudo, explicitado no currículo formal. Desde a organização do 

horário das aulas, a organização da entrada dos educandos na escola, os 

métodos, as ideologias, a organização do espaço e do tempo, bem como 

todas as atividades que, direta ou indiretamente disciplinam, regularizam 

por meio de normas as  atitudes,  os valores  e  os  comportamentos  dos 

educados.

A   ação   pedagógica   é   orientada   pelo   Currículo,   nele   deve   apregoar   os 

interesses do educandos; oferecer conhecimentos necessários para a compreensão 

histórica da sociedade; usar metodologias que dêem voz a todos os envolvidos nesse 

processo e  adotar  uma avaliação que encaminhe para a emancipação.  (DCEs da 

EJA­PR,2006, p.34)    

4. PROFESSORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Os professores que trabalham na modalidade da EJA, de acordo com as DCEs, 

precisam compreender as necessidades de aprendizagem dos educandos, respeitando a 

pluralidade cultural,  as identidades e as questões que envolvem classe,  raça, saber e 

linguagem. Devem ajustar­se aos modelos educacionais que valorizam a diversidade e 

propor atividades  e  avaliações  que vão de encontro  com a necessidade  de  todos os 

educandos.

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Para isso, deve buscar, constantemente, o conhecimento, articulando os saberes 

dos   alunos   aos   saberes   científicos,   possibilitando   assim,   uma   participação   mais 

consciente e crítica na realidade em que vivem.

A formação inicial do professor não privilegia a modalidade de EJA. Portanto, 

os docentes da EJA, adquirem seus saberes pertinentes a essa modalidade na prática 

cotidiana e na formação continuada. 

5. O MÉTODO

Ao optar­se por  uma educação pautada  em conteúdos críticos,  clássicos,  que 

permitem aos  educandos atribuir  novas  significações  aos  conceitos   já   adquiridos  ao 

longo   de   suas   vidas,   deve   buscar­se   um   método   que   vá   de   encontro   com   essas 

expectativas.

Saviani   (2005)   propõe,   como   ponto   de   partida   metodológico,   um   ensino 

organizado na prática social, que permite a identificação dos  problemas fundamentais 

comuns   a   um   determinado   contexto   histórico,   e   ao   universo   do   professor   e   a   do 

educando. 

 A Pedagogia Histórico­Crítica (PHC) tem como objetivo resgatar a importância 

da escola, a reorganização do processo educativo. Ela evidencia o saber sistematizado, e 

propõe um método diferenciado de trabalho, especificando­se por momentos (passos) 

importantes para o desenvolvimento do educando.

De acordo com Saviani,   (2005)  o  método de ensino na Pedagogia  Histórico­Crítica propõe­se em:

instigar a atividade e a iniciativa do docente;

defender o diálogo dos alunos entre si e com o professor,

valorizar  o diálogo com a cultura acumulada historicamente; 

levar   em   conta   os   interesses   dos   alunos,   os   ritmos   de   aprendizagem   e   o 

desenvolvimento psicológico, sem perder de vista a sistematização lógica dos 

conhecimentos.

Sendo assim, o primeiro momento do método, o verdadeiro ponto de partida 

par a PHC é a PRÁTICA SOCIAL.

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A   PROBLEMATIZAÇÃO  é   o   segundo   momento,   e   nele   prioriza­se   a 

identificação dos problemas postos pela  prática social.

O terceiro momento metodológico na PHC é a  INSTRUMENTALIZAÇÃO. 

Nesse   processo   é   importante   não   perder   de   vista   que   a   educação   é   uma   prática 

mediadora e relaciona­se dialeticamente com a sociedade. 

A CATARSE  é  considerada  como a expressão mais  evidente  que  de fato  o 

educando apropriou o conteúdo e se modificou intelectualmente 

E por último, a  PRÁTICA SOCIAL FINAL,  é  o momento do confronto do 

conhecimento inicial com o aluno atual, isto é, a verificação   do que ele conhecia no 

âmbito do senso comum com os novos conceitos   frente ao conteúdo trabalhado até o 

momento. (SAVIANI 2003, p.79) 

6­ CONHECENDO UM POUCO DA PEDAGOGIA HISTÓRICO­CRÍTICA

O   fundador   da   Pedagogia   Histórico­Crítica   é   Demerval   Saviani.   Em   linhas 

gerais   ela   busca   rever   o   papel   da   escola   de   forma   a   transformá­la   numa   escola 

contextualizada com a realidade local, atingindo as camadas populares.

Com   sua   teoria   fundamentada   no   materialismo   histórico   e   dialético,   é   uma 

tendência pedagógica que configurou­se   no cenário histórico do final da década de 

1970 e início de 1980.

Sua   proposta   pedagógica   fundamenta­se   na   natureza   da   educação,   nas   suas 

possibilidades e limites . Procura proporcionar aos educadores uma reflexão profunda 

sobre solidariedade, cidadania e democracia, visando contribuir com a organização do 

trabalho   pedagógico   em   sala   de   aula,   por   uma   teoria   da   educação   crítica   e 

transformadora. (SAVIANI, 2005 p.13) 

Segundo  Saviani   (1997),   o  que  diferencia   a  Pedagogia  Histórico­Crítica   das 

demais é o teor crítico que essa tendência possui, uma vez que defende o conhecimento, 

do ponto de vista que ele é fruto do processo historicamente produzidos pelo homem 

mediante o trabalho, e ainda considera a educação um processo de trabalho.

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Segundo Saviani (1997,p.16), 

[...]  “trata­se aqui da produção de  idéias,  conceitos,  valores,  símbolos, hábitos,atitudes,  habilidades.  Numa palavra,   trata­se  da  produção  do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é,  o   conjunto de produção humana. Obviamente,  a educação se situa nessa categoria do trabalho não material”  […]

Neste sentido, entende­se que a educação é resultado daquilo que foi construído 

historicamente   mediante   a   relação   do   homem   com   a   natureza,   através   de   meios 

considerados  necessários   à   sua   subsistência   e   por   conseqüência   produz   e   reproduz 

conhecimento, fruto dessa relação.

Logo, na esfera educacional, a escola tem o dever de fixar­se primeiro de que o 

homem é história e ele mesmo faz a história. 

Marx (1977) diz que devem­se possibilitar aos educandos a aquisição do saber 

crítico,   para   que   eles   tenham   condições   de   enfrentar   a   sociedade   em   que   vivem, 

desalienados frente aos interesses do sistema capitalista.

Na   Pedagogia  Histórico­Crítica   a   tarefa   do  professor   é   de   lutar   pela   escola 

pública democrática e de qualidade. 

Portanto   a   finalidade   da   educação   é   uma   das   principais   inquietações   da 

Pedagogia Histórico­Crítica. (SAVIANI, 1983, p.72). 

Nesse   sentido,   faz­se   necessário   que   educadores   definam  que   tipo  de   aluno 

querem formar, em que sociedade querem viver, e quais valores vão aderir. Qual é a 

visão de mundo que o professor possui para formar o indivíduo?

Se os profissionais de educação mostrarem­se indignados diante dos problemas 

sociais,  de perceber  que a  desigualdade  acentuou­se nos  últimos  anos,  que a  escola 

apresenta­se cada vez mais desinteressante, que ela exclui e discrimina, serão capazes 

também de perceber  as  conseqüências  históricas  e  culturais  do  trabalho educacional 

alienado, que o processo desapropria o saber. (SAVIANI, 1983, p.73). 

Para  Gramsci,(1978)   a   educação  possui   papel   central   e   se   faz   em   todos  os 

espaços intercalados pelas relações humanas. Para ele a escola é o lugar da formação do 

indivíduo na  sua dimensão  individual  e  coletiva,  que permite   formar o sujeito  com 

autonomia intelectual.

Educadores se preocupam muito em ter respostas para os problemas caóticos 

apontados à educação na atualidade. Preocupam­se em perguntar como a escola deveria 

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ser. Será que a resposta para tantas preocupações, não viria se a pergunta fosse  como a 

escola é?

Devido a essa angústia, um dos fundamentos da Pedagogia Histórico­Crítica é a 

reflexão política e filosófica da educação, amarrada numa análise histórica da escola 

pública existente.

Portanto,   cabe   aos   educadores   avaliar   o   esforço   educativo,   a   iniciativa 

governamental,   as   tendências   pedagógicas   que  norteiam  as   diretrizes   curriculares   e 

buscar aberturas que toleram a re­elaboração da escola pública.

Segundo Vale (1997, p.73) o materialismo histórico, considera o homem como o 

ser   que,   no   trabalho   e   pelo   trabalho,   articula   o   saber   fazer,   criando   e   recriando 

continuamente   seus   meios   de   subsistência,   engendrando   cultura   como   fruto   desse 

trabalho material e não material, permitindo­lhe pensar, explicar e compreender, através 

de conceitos, teorias etc. a realidade concreta do mundo.

Portanto a escola é a instituição mediadora entre o conhecimento significativo e 

o educando que busca apropria­se do saber “clássico” gerado pelo esforço coletivo da 

sociedade ao longo do tempo histórico.

Conforme Saviani (1983, p.83), a questão é “articular o trabalho desenvolvido 

nas escolas como o processo de democratização da sociedade”.

Desta forma, pensar que os conteúdos valem por si mesmos, é cair nos moldes 

da   pedagogia   tradicional,   onde   não   há   necessidade   de   contextualizá­los   na   prática 

social, anulando a contribuição pedagógica e a possibilidade de transformação social. 

Para completar as reflexões sobre a Pedagogia Histórico­Crítica, tendo em mente 

que os conteúdos não valem por si  mesmos,  que o ensino das disciplinas  não pode 

fundamentar­se   na   memorização   dos   conteúdos   desvinculados   na   realidade   dos 

educandos, distante da prática social, isolados do mundo em que vivem e do contexto 

que dão sentido à ação humana é que o método de ensino apresentado na Pedagogia 

Histórico­Crítica  será   tratado,  abordando a educação pautada  em conteúdos críticos, 

clássicos, que permite aos educandos ressignificar esses conteúdos, possibilitando­os a 

tornar­se pessoas mais humanas, capazes de construir a sociedade que sonham.

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7. UMA DIDÁTICA PARA A PEDAGOGIA HISTÓRICO­CRÍTICA

A   proposta   de   Gasparin   (2007),   é   considerada   por   muitos   pesquisadores 

inovadora, por subsidiar dialeticamente,  uma nova maneira de ensinar. A construção 

desse  novo  método,   se  dá   no  movimento  dinâmico  entre  o   conhecimento  empírico 

(visão   caótica   do   todo)   e   o   conhecimento   científico   (proporcionado   pelo   ambiente 

escolar). 

Gasparin 2007, define esta  teoria dialética  do conhecimento em três palavras 

chaves: prática – teoria – prática

A   partir   da   prática   social,   deve­se   questionar   e   analisar   a   ação   cotidiana, 

buscando conhecimento teórico do que aconteceu,  o que tornar­se­á  um guia para a 

nova ação/transformação.

Ele sugere uma ruptura da memorização que vem orientando a educação  desde 

sua institucionalização no Brasil. Sua obra: Uma Didática para a Pedagogia Histórico­

Crítica, (2007)   é divida em três partes, que explica a práxis    dialética proposta pelo 

materialismo   histórico:desenvolvimento   da   idéia   pela   sucessão   de   momentos   de 

afirmação (tese), de negação (antítese) e de negação da negação (síntese).

Para a prática da didática, a obra é dividida em cinco capítulos: Prática Social 

Inicial   (o  que  os  alunos  e  os  professores   já   sabem);  Problematização   (reflexão  dos 

principais   problemas   da   prática   social);   Instrumentalização   (ações   didático­

pedagógicas);  Catarse  (nova forma de entender  a  prática  social)  e  por  fim,a  Prática 

Social Final (nova proposta de ação a partir do novo conteúdo sistematizado).

A proposta de Gasparin (2007) está fundamenta na teoria Hitórico­Cultural de 

Vigotski. Observa o valor de contextualizar primeiramente os saberes do educando, uma 

vez   que   sua   aprendizagem   inicia­se   bem   antes   do   convivo   escolar.   O   objetivo   é 

despertar a consciência crítica do aluno sobre o que ocorre ao seu redor. (GASPARIN, 

2007, p.19­20).

Este momento de conscientização é  mediado pelo professor que,  “a partir  da 

explicitação da Prática Social Inicial, toma conhecimento do ponto de onde deve iniciar 

sua ação” (Gasparin 2007, p.20). A partir da  leitura do cotidiano,  tomada como um 

objeto de estudo, é  o momento de problematizar o que os alunos vivenciam.

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Este   procedimento   tem   como   objetivo   despertar   a   consciência   crítica   do 

educando sobre o “seu” contexto social, instigando­o a questionar a realidade ao qual se 

insere. Porém, nem todos os problemas da prática social podem ser analisados em cada 

área do conhecimento e por isso, na problematização, deve­se elencar as questões mais 

relevantes que precisam ser trabalhadas e que são essenciais à prática social. 

A problematização é a fase preparatória do processo. Neste nível, as indagações 

levantadas   exercem   apenas   a   função   de   instigar   o   educando.   As   resposta   vêm   na 

instrumentalização:   é   o   início   do   terceiro   passo   na   construção   do   conhecimento 

científico.   Segundo   Gasparin,   “a   aprendizagem   somente   é   significativa   a   partir   do 

momento em que os educandos […] apropriam­se do objeto do conhecimento em suas 

múltiplas determinações” (Gasparin 2007, p.52). Esta construção se dá numa relação 

triádica, ocorrida entre alunos, professores e conteúdo.

Sua ação conjunta proporciona um momento de ruptura entre o conhecimento 

cotidiano   e   o   científico.   Este   confronto   é   apresentado   pelo   professor,   que   define 

características   intrínsecas   de   cada   conteúdo,   não  perceptíveis   aparentemente  para   o 

educando. Esta tarefa é  desenvolvida por meio da Instrumentalização,  momento que 

consiste na solução das questões emergidas na fase da Problematização.

A Instrumentalização é a fase de estruturação do conhecimento científico. Mas,

para compreender  a formação desses conceitos  científicos  na fase escolar,  Gasparin, 

baseado nas teorias de Vigotski,  analisa como se dá  esse processo de construção na 

mente das crianças. (GASPARIN, 2007, p.58) 

Para   adquirir   os   conceitos   científicos,   se   faz   necessário   passar   pelo   mesmo 

caminho que propicia o desenvolvimento dos conceitos cotidianos. 

Gasparin busca em Vigotski a resposta para a pergunta: qual é a reação da mente 

da criança ao comparar o ambiente escolar com conceitos mais aprimorados?  Vigotski 

diz que, “no próprio desenvolvimento mental da criança”. Da mesma forma que se dá o 

desenvolvimento corporal num processo evolutivo, o psíquico quando estimulado, ao 

mesmo tempo alcançará   um nível superior, “culminando o processo na formação de 

verdadeiros conceitos” (Gasparin 2007, p.60).

Nesta fase a criança encontra­se na zona de desenvolvimento imediato, onde o 

agrupamento   mental   de   conceitos   formados   a   elevará   para   um   nível   superior, 

proporcionando cada vez mais sua autonomia no processo da aprendizagem.

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“Uma vez incorporado os conteúdos […], chega o momento em que o aluno é 

solicitado a mostrar o quanto se aproximou da solução dos problemas anteriormente 

levantados   sobre  o   tema   em questão”   (Gasparin  2007,   p.127).  É   o  momento  de  o 

educando sistematizar o que assimilou, mostrando que atingiu um nível intelectual mais 

elevado   de   compreensão.   Esta   elaboração,   transmitida   oralmente   ou   por   escrito,   é 

definida por Gasparin como Catarse, apresentada na quarta parte de sua obra. É  neste 

momento     que   o   educando   é   capaz   de   considerar   o   todo   daquilo   que   antes   era 

fragmentado. 

Aqui é possível que o educando perceba que a realidade, vista “como ‘natural’ 

conforme apresentam na prática  social   inicial    é  “histórica”,  pois  é  produzida  pelos 

homens em determinado tempo e lugar, com intenções políticas explícitas ou implícitas, 

atendendo a necessidades socioeconômicas desses homens” (Gasparin 2007, p. 129). 

Isso não significa que a aprendizagem ocorra somente durante a Catarse. “Ela se dá no 

processo inteiro, nos cinco passos, mas a Catarse é a expressão mais evidente de que o 

aluno se modifica intelectualmente” (Gasparin 2007, p.134).

A nova forma de pensar a realidade constitui a Prática Social Final. Aos poucos 

constrói­se a autonomia do ser, que ao superar os desafios, ocupa­se de um novo nível 

de desenvolvimento: o de uso social dos conteúdos científicos aprendidos na escola.

A   prática   social   final  é   conceituada  por  Gasparin   (2007)   como  o  ponto  de 

chegada do  processo pedagógico.  Porém a construção  dos  conceitos  científicos  não 

param;   a   revelação   da   prática   social   sempre   estará   buscando   o   aperfeiçoamento 

intelectual   de   seus   educandos,   desafiando   dialeticamente   a   analisar   a   possibilidade 

existente entre o velho (Prática Social Inicial) e o novo (Prática Social Final).

8.   OS   CINCO   PASSOS   PEDAGÓGICOS   NA   OBRA   DE   GASPARIN:   UMA 

DIDÁTICA PARA A PEDAGOGIA HISTÓRICO­CRÍTICA

Em seu livro: Uma Didática para a Pedagogia Histórico­Crítica, Gasparin (2007) 

apresenta cinco passos possíveis de serem seguidos  pelos  docentes a  fim de efetivar 

sua prática pedagógica   na perspectiva da PHC.

O que Saviani, (2005) chama de momento, Gasparin chama de passos, sendo:

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1º Passo: Prática Social inicial do conteúdo

2º Passo: Problematização

3º Passo: Instrumentalização

4º Passo: Catarse

5º Passo: Prática Social Final do conteúdo

Esses passos  propostos por Gasparin, subsidia dialeticamente uma nova maneira 

de   ensinar.   O   método   se   dá   no   movimento   dinâmico   entre   a   visão   caótica   do 

todo( conhecimento empírico) e o conhecimento científico.

8.1 PRÁTICA SOCIAL INICIAL DO CONTEÚDO

A prática social  inicial  do conteúdo é  o ponto de partida de todo o processo 

pedagógico. 

O educando nessa fase, fará o primeira relação com o tema que irá estudar. Nela 

deve ser trazidos para a sala de aula todas as vivências e experiências que os educandos 

já possuem sobre o conteúdo a ser trabalho, mostrando assim o vínculo desse conteúdo 

com a realidade em que vivem os educandos. 

Paulo Freire (1991) afirma que deve­se respeitar sempre  os diferentes níveis de 

conhecimento que o educando traz consigo à escola, considerado por ele a identidade 

cultural do educando. 

Ouvir   os   alunos   possibilita   ao   professor   tornar­se   um   companheiro:   gera 

confiança  e possibilita também que a relação entre educador e educandos caminhe no 

sentido da superação da contradição, da dicotomia   que possa existir entre eles. Isso 

somente é possível por meio de um diálogo. (FREIRE,1978, p.78­79).

Para  Gasparin   a  prática  Social   Inicial   “é   sempre  uma contextualização  do 

conteúdo. É o momento de conscientização do que ocorre na sociedade em relação 

àquele tópico a ser trabalhado”.(GASPARIN, 2007,p.23)

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O professor pode usar alguns artifícios para concretizar a prática social com os 

educandos, levando em conta o que os alunos já sabem e o que gostariam de saber a 

mais em relação ao tema a ser trabalhado. 

 Para isso, Gasparin (2007) sugere:

• Anunciar a unidade e as  subunidades de conteúdo e os objetivos  que serão trabalhados;

• Escolher o melhor procedimento, conforme cada área de estudo, para iniciar a prática social relativa ao tema;

• Informar   que   as   contribuições   dos   alunos   não   necessitarão   seguir rigorosamente a sequência do conteúdo proposto;

• Esclarecer que o levantamento da realidade sobre o tema consistirá em questões, perguntas, constatações, informações;

• Desafiar cada educando a manifestar tudo o que já sabe sobre o tema;• Anotar as percepções, as visões dos alunos;• Registrar também as contribuições próprias do professor que enfatizem 

a   dimensão   social   do   conteúdo   e   sua   inserção   na   trama   de   relações sociais.

• Utilizar,   se   necessário,   materiais   motivadores,   como   jornais,   revistas, livros, filmes, slides, recursos virtuais; 

• Possibilitar que sobre cada item da unidade em questão haja observações dos alunos.

• Não   debater   ou   discutir,   neste   momento,   os   itens   que   estão   sendo apontados,   mas   somente   registrar   o   estado   de   compreender   e   de conhecimento dos alunos sobre o conteúdo. (GASPARIN,2007, p. 25)

Neste   sentido,   os   alunos   aprenderão   mais   do   que   desejam,   irão   além, 

apropriando conhecimentos relevantes para atuarem criticamente na sociedade atual.

8.2 PROBLEMATIZAÇÃO 

A problematização  é  o  segundo passo do método dialético  do conhecimento 

escolar, considerado pelos pesquisadores, de suma importância na execução de todo o 

processo do trabalho pedagógico do professor e do aluno. 

Nesse   passo,   identificam­se   as   questões   em   estudo,   que   necessitam   ser 

solucionadas no âmbito da prática social. 

Para Gasparin (2007) a problematização representa o momento do processo em 

que   essa   prática   social   é   posta   em   questão,   analisada,   interrogada,   levando   em 

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consideração o conteúdo a ser trabalhado e as exigências   sociais de aplicação desse 

conhecimento. 

A problematização também é o momento de questionamento do conteúdo em 

relação aos problemas a serem resolvidos no dia­a­dia das pessoas.

Nesse   momento   se   faz   necessário   que   o   professor   coloque   em   prática   sua 

experiência   pedagógica,   determinando   os   conhecimentos   científicos   considerados 

importantes a serem assimilados pelos educandos . Os problemas selecionados para os 

questionamentos, discussões, precisam fazer relação como os problemas que têm sua 

origem na prática social inicial. 

É considerado por Gasparin o elo fundamental de transição entre a prática e a 

teoria. É a hora de integrar os conhecimentos trazidos pelos educandos no momento da 

prática   social   inicial   ao   conteúdo   em   sua   teoria.   Este   é   o   momento   que   os 

conhecimentos empríricos se aproximam dos científicos. 

Gasparim (2007 p.36) coloca que “nesse processo de problematização, tanto o 

conteúdo quanto a prática social tomam novas feições. Ambos começam a alternar­se, é 

o momento em que começa a análise da prática e da teoria. Inicia­se o desmonte da 

totalidade, mostrando ao aluno que ela é formada por múltiplos aspectos interligados. 

São evidenciadas  também as diversas faces sob as quais  pode ser visto o conteúdo, 

verificando sua pertinência e suas contradições, bem  com o seu relacionamento com a 

prática”. 

Inicia­se nesse passo a sistematização do conteúdo, abordando várias dimensões: 

conceitual, histórica, social, política, estética, religiosa, técnicas, etc.

Cada conteúdo que surge de uma realidade contém elementos dessas dimensões. 

Levando em conta  que nem todos  os problemas  levantados  na prática  social   inicial 

podem ser solucionados, deve­se então, priorizar alguns problemas, de acordo com os 

conteúdos curriculares.

Nas palavras de Gasparin (2007 p.36) os principais problemas “são as questões 

fundamentais que foram apreendidas pelo professor e pelos alunos e que precisam ser 

resolvidas, não só pela escola, ou na escola, mas no âmbito da sociedade. Para isso se 

torna necessário definir quais conteúdos os educadores e os educandos, como cidadãos, 

precisam   dominar   para   resolver   tias   problemas   ainda   que,   inicialmente,   na   esfera 

intelectual”.

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Relacionando o conteúdo com a prática  social,  é  possível  definir  as questões 

possíveis de serem encaminhadas e resolvidas através de conteúdos específicos. 

Nesse processo de problematização o ensino e a aprendizagem, está em função 

das questões levantadas na prática social, porém retomada de maneira mais profunda e 

sistematizada pelo conteúdo curricular.

Paulo Freire (1996, p.136) escreve que ao se proclamar o diálogo como forma de 

problematizar   a   prática   social,   não   se   deve   ter   uma   visão   romântica   da   troca   de 

experiências em uma sala de aula. Explicitar, escancarar os problemas que cercam os 

conceitos e atitudes é o primeiro passo para a busca de sua solução. Assim: “viver a 

abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a 

própria prática de abertura ao outro como objeto da reflexão crítica deveria fazer parte 

da aventura docente” (FREIRE, 1996, p. 136).

8.3 INSTRUMENTALIZAÇÃO

A  Instrumentalização   é   o   terceiro  momento  metodológico  na  perspectiva  da 

pedagogia histórico­crítica,  que pressupõe a apropriação dos instrumentos culturais e 

científicos,   imprescindível   para   enriquecer,   modificar,   transformar   e   reconstruir   os 

conceitos espontâneos (empíricos), levantados na prática social inicial.

Neste passo os alunos, através da ação pedagógica, deverão perceber o quanto 

são capazes de colaborar com a transformação da realidade em que vivem, mediante a 

apropriação  de   ferramentas   culturais,   indispensáveis  à   compreensão  e   apreensão  de 

mundo. Para que essa mediação aconteça, o professor precisa ser capaz de articular a 

sua prática pedagógica com a prática social geral. 

Conforme   Vale(1994),   cada   educador   em   sua   área   de   atuação   tem   uma 

contribuição  a dar  ao processo de democratização da cultura.  Essa “contribuição se 

consubstancia   na   instrumentalização,   isto   é,   nas   ferramentas   de   caráter   histórico, 

matemático, científico, literário, etc, que o professor seja capaz de colocar de posse dos 

alunos”.(SAVIANI, 1983, P.83)

A Instrumentalização se expressa no trabalho do professor e dos educandos para 

que  a aprendizagem aconteça de fato.

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Saber como se dá o conhecimento na mente da criança é de suma importância 

para que   o professor desenvolva o saber científico com seus alunos. Sabe­se que é a 

partir   do   conhecimento   cotidiano   que   o   educando   elabora,   gradativamente   o 

conhecimento científico. 

Gasparim   (2007,p.59)   afirma   que   “os   educando   devem   ser   incentivados   e 

desafiados   a   elaborar   uma   definição   própria   do   conceito   científico   proposto.   Esse 

processo pode ser estimulado   pelo professor por meio de perguntas, cujas respostas 

explicitem os fundamentos essenciais do conceito.” 

Então,   através   de   ações   adequadas,   o   docente   apresenta   formalmente   aos 

educando   o   conhecimento   científico,   conforme   levantados   na   problematização, 

possibilitando­os   uma   comparação   mental   com   a   vivência   cotidiana,   a   fim   de 

apropriarem do novo conteúdo. 

Portanto   o   professor   em   sala   de   aula   é   o   mediador   entre   o   aluno   e   o 

conhecimento   científico.   Nesse   contexto   a   aprendizagem   do   aluno   é   o   principal 

objetivo. O sucesso deste método depende de como o professor vai proceder a mediação 

de facilitador da aprendizagem aos seus educandos. 

Gasparin (2007data) apresenta três momentos importantes diante das atitudes e 

ações do professor e dos alunos no decorrer do método:

1º Momento: Antes da Aula

a) Atitudes do professor ao preparar a aula;

b) Ações do professor ao preparar sua aula;

c) Atitudes dos alunos antes da aula;

d) Ações dos alunos antes da aula.

2º Momento: Durante  a Aula

a) Atitudes do professor ao ministrar sua aula;

b) Ações do professor ao ministrar sua aula;

c) Atitudes dos alunos durante a aula;

d) Ações dos alunos durante a aula.

3º Momento: Após a Aula

a) Atitudes do professor após a aula;

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b) Ações do professor após a aula;

c) Atitudes dos alunos após a aula;

d) Ações dos alunos após a aula.

A instrumentalização, por ser o eixo do processo pedagógico, evidencia que a 

educação é uma prática mediadora e relaciona­se dialogicamente com a sociedade.

É nesta fase da instrumentalização, através de ações adequadas previstas e de 

recursos escolhidos pelo professor mediador, que acontece efetivamente a aprendizagem 

dos   conteúdos   científicos     em  suas   diferentes   dimensões,   na  busca   de   alcançar   os 

objetivos propostos.   

8.4  CATARSE

A Catarse é o momento em que o educando faz a síntese mental dos conteúdos 

trabalhados. 

Nesse momento o educando sistematiza o conteúdo trabalhado, mostrando tudo 

que apropriou durante o processo de ensino e aprendizagem, sua nova maneira de ver o 

novo conceito do conteúdo trabalhado.

Esta síntese pode ser feita através de uma avaliação oral ou escrita, formal ou 

informal,   possibilitando  ao  educando  mostrar  o   que   aprendeu   até   aquele  momento, 

cabendo   ao   professor   buscar   meios   adequados   para   perceber   se   a   síntese   mental 

aconteceu   e   como   aconteceu,   levando   em   consta   os   instrumentos   e   os   critérios 

utilizados. 

Para Gasparin (2007, p.130) catarse é a “síntese do cotidiano e do científico, do 

teórico e do prático a que o educando chegou, marcando sua posição em relação ao 

conteúdo e à forma de sua construção social e sua construção na escola”.

Quando o aluno é capaz de debater sobre o conteúdo trabalhado, mostra com 

isso,   que   assimilou   esse   conteúdo   e   que   esse   auxiliou   na   transformação   de   seus 

conceitos  prévios. 

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Afirma Gasparin (2007, p.129) que é possível nesse momento que o educando 

visualize a totalidade integral daquilo que antes pra ele era fragmentado e percebe que a 

realidade, vista como natural agora é vista como histórica, porque faz parte da produção 

dos  homens  em determinado   tempo  e   lugar,   com  intenções  políticas     explícitas  ou 

implícitas, atendendo as necessidades  socioeconômicas desses homens .

A aprendizagem se dá no processo todo dos cinco passos, mas é na catarse que o 

educando manifesta como se modificou intelectualmente.

8.5 PRÁTICA SOCIAL FINAL DO CONTEÚDO

A partir do que foi apropriado durante o processo, o educando apresenta nesse 

passo   uma   nova   proposta   de   ação,   pois   aquele   conteúdo   apresentado   na 

problematização, agora  teorizado e sintetizado mentalmente, é capaz de transformar a 

sua existência.

Para explicar esse momento Gasprin (2007, p.148) afirma que “ a prática social é 

a confirmação de que aquilo que o educando somente conseguia realizar com a ajuda de 

outros, agora consegue sozinho, ainda que trabalhando em grupo. É a expressão mais 

forte de que de fato se apropriou do conteúdo, aprendeu, sabe e aplica. É o novo uso 

social dos conteúdos científicos aprendidos na escola”.

Na   perspectiva   da   Pedagogia   Histórico­Crítica,   a   chegada   é   o   momento 

esperado,   onde   o   educando,   através   de   sua   mudança   individual,   colabora   com   a 

transformação de sua realidade social.

9.  A IMPORTÂNCIA DO PLANO DE TRABALHO DOCENTE 

A prática  em planejar  na perspectiva da Pedagogia Histórico­Crítica,  ainda é 

considerada complexa por muitos docentes.

Para a maioria, o planejamento não é considerado essencial para ministrar suas 

aulas, e quando planejados , muitas vezes não é posto em prática. 

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Para   Gasparin   (2007,p.155)   são   vários   motivos   pelo   qual   o   professor   não 

considera importante  elaborar e seguir seu plano de trabalho: 

quantidade de aulas que ministra; 

número de estabelecimento que precisa percorrer todos os dias;

diversas disciplinas que assume para completar sua carga horária, 

salário.

Mesmo   assim,   em   minhas   atividades,   tenho   recomendado insistentemente que, para um desempenho adequado da tarefa docente, se   necessita   de   uma   previsão,   ainda   que   de   maneira   ampla,   das atividades que serão desenvolvidas.(GASPARIN, 2007,p.155).

Percebe­se que a complexidade de ser professor, de elaborar o Plano de Trabalho 

Docente, não está somente em ser professor da Educação de Jovens e Adultos, mas sim 

em ser um profissional da educação e também perceber que o ser humano está inserido 

num mundo complexo, onde a cultura, a razão, o afeto e a vida em sociedade podem 

conduzir os diversos caminhos da existência. 

É  ampla a contribuição teórica de Paulo Freire para educação brasileira.  Sua 

proposta se dirige a imensa rede de excluídos socialmente que não consegue entrar ou 

permanecer na escola. 

Como professor  universitário  em suas  primeiras  atividades  no sertão do  Rio 

grande do Norte, adquiriu experiências e convicção de que a educação não pode ser 

desvinculada do processo de consciência do mundo. A educação não ensina apenas a 

dominar  o   instrumento  da   leitura  e  da escrita,  mas  é  um processo de  libertação  do 

educando.( FREIRE 1984, p.82)

Paulo Freire convida o docente a mergulhar na realidade do educando, nas suas 

vivências, no seu cotidiano povoado de desafios concretos da sua sobrevivência. Para 

ele o educando não é um ser vazio que necessite ser preenchido de conteúdos distantes 

do seu mundo, um aprendiz da palavra alheia, filhos de um saber fragmentado. Há um 

sentido transformador em sua visão de educação que problematiza a realidade. Para ele 

nenhuma “ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a dizer: 

Por quê?” (FREIRE, 1984, 87).

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A  riqueza  dessa  dinâmica  de  Paulo  Freire   aproxima­se  muito  da  Pedagogia 

Histórico­Crítica, por considerar a realidade e a vivência do estudante como ponto de 

partida para uma formação de consciência crítica e libertadora.

 “Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, 

nunca em mim? (...) Como posso dialogar, se me sinto participante de um “gueto” de 

homens puros, donos da verdade e do saber,” (FREIRE, 1984, 95).

Para Saviani (2003), a escola tem a finalidade de socializar o saber sistematizado, e para isso deve buscar formas apropriadas para cumprir com a sua função de mediadora entre o conhecimento espontâneo e científico. .

[…] não é  porém, a cultura popular que vai definir o ponto de chegada   do   trabalho   pedagógico   nas   escolas.   Se   as   escolas   se limitarem a reiterar a cultura popular, qual será  a sua função? Para   desenvolver   cultura   popular,   essa   cultura   assistemática   e espontânea, o povo não precisa da escola.  Ele a desenvolve por obra de suas próprias lutas, relações e prática. O povo precisa de escola para ter acesso ao saber erudito, ao saber sistematizado e, em   conseqüência,   para   expressar   de   forma   elaborada   os conteúdos   da   cultura   popular   que   correspondem   aos   seus interesses (SAVIANI, 2003, p. 80).

Dessa forma,  cabe ao professor  pedagogo,  atuar   junto aos  professores,  mediando,  a partir da proposta pedagógica curricular da Escola a qual reúne as concepções de cada disciplina, propondo a elaboração do Plano de Trabalho Docente e realizar o trabalho educativo descrito por Saviani como:

  “(...)   ato   de   produzir,   direta   e   intencionalmente,   em   cada indivíduo   singular,   a   humanidade   que   é   produzida   histórica   e coletivamente pelo conjunto dos homens”, já que “(...) o indivíduo da  espécie  humana não  nasce  homem;  ele   se   torna  homem,  se forma homem (...) precisa ser educado.” (Saviani apud Martins, 2004, p. 46).

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10. CONCLUSÃO

É  um desafio, neste momento crítico da educação, desenvolver esse processo 

didático­pedagógico.

Assumir o desafio de conhecer teoricamente a proposta da Pedagogia Histórico­

Crítica,  é   também mudar o olhar na forma de planejar os conteúdos e as atividades 

escolares,   isso,   implica   numa   profunda   mudança   de   concepções,   idéias,   estudos, 

dedicação, experimentação, coragem de arriscar.   Boas intenções neste momento não 

são suficientes, se faz necessário transformar todo conhecimento teórico da PHC numa 

didática   de   ensino   onde   todos   os   profissionais   da   educação,   possam   efetivamente 

participar no encaminhamento dessa proposta educacional. 

Na   prática,   cabe   ao   professor   implementar   esse   desafio   em   sala   de   aula, 

questionando,  possibilitando   aos   educandos,  momentos  de  participação,  partindo  da 

prática, passando pela teoria e retornando a prática, cumprindo assim com sua função de 

professor  que é ensinar a repensar o pensamento. 

O planejamento  é  uma necessidade,  não  importa  em qual  área.  Planejar  é  o 

contrário de improvisar.

Na educação,  ao planejarmos  nossas  ações  antecipamos  o que haveremos de 

realizar. Apesar de complexo, esse não deve ser um trabalho solitário. É preciso estudar 

muito e sempre, dedicar­se à profissão. 

“Sozinhos vamos mais rápidos, juntos vamos mais longe”.

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11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos , 8ª edição. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982

.LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola: A Pedagogia Crítica ­social dos Conteúdos. Edições Loyola.2001.

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MARX, K. ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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Departamento de Educação de Jovens e Adultos – DEJA.  Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Disponível em:http://www.deja.pr.gov.br/arquivos/File/DCE_EJA_2print_finalizado.pdfAcesso em 25 de maio de 2010

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PROPOSTA     PEDAGÓGICO­CURRICULAR     EDUCAÇÃO   DE   JOVENS   E    ADULTOS.Disponível em http://www.diaadia.pr.gov.br/c   eja   /arquivos/File/Legislacao   Acesso em 27 de maio de 2010

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