da escola pÚblica paranaense 2009 - … · na madeira que geme, estÃo na Água que flui, na Água...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

FOLHASREMANESCENTES DE QUILOMBO NO PARANÁ, COMUNIDADE DE 

APEPU EM SÃO MIGUEL DO IGUAÇU

TOLEDO2010

FOLHAS

REMANESCENTES DE QUILOMBO NO PARANÁ, COMUNIDADE DE APEPU EM SÃO MIGUEL DO IGUAÇU

TOLEDO

2010

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Núcleo Regional de Ensino: Toledo ­ PR.

Nome da Orientadora: Prof. Ms. Carla Cristina Nacke Conradi

Nome do Professor: Norberto Fabrício dos Santos

E­mail: [email protected]

Nível de Ensino: Ensino Fundamental

Disciplina: História

Título: Remanescentes de Quilombo no Paraná, Comunidade de Apepu em São Miguel do 

Iguaçu

Relação Interdisciplinar 1: Português

Relação Interdisciplinar 2: Educação Artística

Conteúdo Estruturante: Relações de Poder

Conteúdo Básico: Os sujeitos e suas relações sociais no tempo

Conteúdo Específico: Cultura Africana e Afro­Brasileira

 

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SUGESTÕES DE ATIVIDADES

Hoje   em   dia   no   Brasil   muito   se   fala   em   cultura   africana   e   afro­brasileira   e, 

consequentemente, quilombos, remanescentes de quilombos, quilombola etc. Mas será que as 

pessoas sabem realmente a origem e o significado desta palavra e sabem identificar  estas 

comunidades no Brasil, Paraná, ou na região onde vivem? 

O Brasil  é  o segundo país de população negra no mundo, mas como os brasileiros 

imaginam a África? Faça um desenho em seu caderno com a seguinte indagação: Qual é a 

imagem que você tem da África?

FIGURA 01: Imagem da África

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Fonte: Montagem do autor (2010).

TEXTO 01

O litoral norte africano foi chamado, primeiramente, de Lybia pelos gregos ou país dos 

Lebu.   Os   romanos   passaram   a   chamar   o   local   de   África,   nome   que   veio   a   designar 

posteriormente, o conjunto do continente. Mas qual a origem desse nome?

QUADRO 01: Texto sobre a África

“A palavra África, assim como os povos africanos, tem muitas histórias para contar. Aqui estão sete versões diferentes para explicá­la:

•a palavra África teria derivado do nome de um povo que vivia ao sul de Cartago: os afrig: daí os termos Afriga ou África para designar a região dos afrig.

•a palavra é retirada do termo fenício Pharikia, que significa “região das frutas”.

•o vocábulo   provém do latim  aprica, que quer dizer “ensolarado” ou do grego   apriké, “sem frio”, pelo fato de ser quente o vento que soprava na Grécia e em Roma quando vinha do lado desse continente.

•em sânscrito e híndi, a raiz apara ou áfrica quer dizer o que está situado “depois”, ou seja, o Ocidente.

•diz­se também de um chefe árabe chamado Africus teria invadido o norte do continente no ano 2000 a.C. e fundado uma cidade chamada  Afrikyah.

• o termo vem de Afer, neto de Abraão.

•deriva da raiz fenícia  faraga,  que quer dizer separação, diáspora.”

Fonte: Campos (2002).

Atividades:

01) Como vimos, a origem da palavra África tem pelo menos sete versões diferentes. Pesquise 

também qual a origem do nome dos outros continentes.

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02)   Como   é   a   África?   Elabore   uma   lista   de   informações   que   você   possui   sobre   esse 

continente. Enquanto você estiver pensando sobre isto, você pode fazer um desenho em forma 

de grafite com as palavras África e Brasil. Use a criatividade.

FIGURA 02: África e Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor (2010).

03) Como o Brasil era chamado antes da chegada de Cabral? E qual a origem desse nome? 

04) Você pode também fazer uma apresentação teatral sobre os antigos reinos africanos. É 

só dividir os alunos da sala em equipes, e cada equipe representar um reino. Ao entrar no 

palco   os   alunos   falam:   “Estamos   vindo   do   reino   do     ......,   onde   existem   riquezas, 

comércio,   ...........”(e   permanecem   no   palco).Quando   todos   os   reinos   se   apresentarem, 

podem falar   todos   juntos:   “Estamos   saindo de  um sistema  de  ensino  montado   sob  os 

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auspícios do positivismo, que sempre manteve afastado das discussões as minorias étnicas. 

Onde o  índio e o negro sempre foram relegados a segundo plano figurando como um 

eterno   obstáculo   a   ser   removido.”   No   final   da   apresentação   vocês   podem   fazer   uma 

coreografia de dança  ao som de tambores.

TEXTO 02

QUADRO 02: Texto sobre Ancestralidade

A N C E S T R A L I D A D E

BIRAGO DIOP (Poeta Africano)

OUÇA NO VENTO

O SOLUÇO DO ARBUSTO:

É O SOPRO DOS ANTEPASSADOS.

NOSSOS MORTOS NÃO PARTIRAM.

ESTÃO NA DENSA SOMBRA.

OS MORTOS NÃO ESTÃO SOBRE A TERRA.

ESTÃO NA ÁRVORE QUE SE AGITA,

NA MADEIRA QUE GEME,

ESTÃO NA ÁGUA QUE FLUI,

NA ÁGUA QUE DORME,

ESTÃO NA CABANA, NA MULTIDÃO;

OS MORTOS NÃO MORRERAM...

OS NOSSOS MORTOS NÃO PARTIRAM:

ESTÃO NO VENTRE DA MULHER

NO VAGIDO DO BEBÊ

E NO TRONCO QUE QUEIMA.

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OS MORTOS NÃO ESTÃO SOBRE A TERRA:

ESTÃO NO FOGO QUE SE APAGA,

NAS PLANTAS QUE CHORAM,

NA ROCHA QUE GEME,

ESTÃO NA CASA.

NOSSOS MORTOS NÃO MORRERAM.

Fonte:  <ociosdooficio.blogspot.com/.../ancestralidade.html>

Atividades:

01) Na cultura de diversos povos indígenas e africanos, a história foi transmitida oralmente, 

pois eles não faziam uso da escrita. Mas isto não significa que perderam a ligação com o 

passado.    Eles  acreditam que os  ancestrais  nunca  morrem,  pois  valorizam as  palavras  de 

sabedoria que uma pessoa fala. O corpo pode desaparecer na terra, mas as palavras continuam 

vivas na mente das pessoas. No entender deles, a maneira de perpetuar o passado é  sempre 

falar nos fatos que aconteceram e as lições deixadas pelos mais velhos. Esses conhecimentos 

do passado foram se juntando com outros e isto formou a cultura, fundamentada na chamada 

sabedoria   ancestral.   Na   cultura   judaico­cristã,   de   que   forma   o     Cristianismo   valoriza   a 

sabedoria dos antepassados e onde ela está escrita?

02)   Em   nossa   cultura,   a   pessoa,   quando   falece,   é   sepultada   num   cemitério.   Lá   existem 

inúmeras sepulturas, mas a maioria só tem uma cruz e um número. Você não acha que é muito 

pouco para um ser humano que passou por esta terra? Como nós, que temos tanta sabedoria 

(quando vivos), podemos ficar tão pobres (quando mortos)?

03) Será que este silenciamento poderia mudar se no cemitério existisse uma biblioteca com o 

biografia das pessoas falecidas? Como isto poderia ser feito? O que você pensa sobre esta 

hipótese?

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04) Faça uma pesquisa na cidade em que você mora, ou também em outras vizinhas, para 

saber    qual  o  valor  dado as  pessoas  das  camadas  populares,  na  preservação  da  memória 

cultural local, principalmente nos monumentos públicos.

TEXTO 03: ÁFRICA E AMÉRICA

QUADRO 03: Texto sobre África e América

A África   e   a  América   estavam   ligadas   em  um  só   continente,  mas   foram 

separadas pelo Oceano Atlântico. O encontro destes dois mundos foi muito doloroso. Os 

africanos escravizados que aqui chegaram, tiveram que construir um novo estilo de vida, 

pois tinham que aprender a sobreviver numa realidade diferente da que viviam em solo 

africano.  Para   isto   eles    usaram  todo  o  conhecimento  da   sabedoria   indígena,  pois   eles 

sabiam o segredo das plantas que curavam, e eram comestíveis etc.

Uma pessoa que é tirada do país de origem e obrigatoriamente tem que viver num 

país estranho, sem poder mais falar a língua de sua pátria, sem poder ter a mesma religião, 

sem poder comer as mesmas comidas,  sem poder vestir as mesmas roupas e viver num 

ambiente de crueldade e violência deve se sentir muito mal. 

Foi  nesta  época   inicial  que  os  africanos  escravizados  demonstraram resistência  à 

escravidão, o que foi chamado de cenário quilombola. Eles usando o que era possível na 

época, embrenharam­se nas matas formando os quilombos como uma forma de resistência à 

opressão dos colonizadores. O mais famoso deles foi o Quilombo dos Palmares, na serra da 

Barrica em Alagoas.

Fonte:  Campos (2002).

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TEXTO 04: BRASIL 500 ANOS

QUADRO 04: Brasil 500 anos

O que era um quilombo, para um branco? Segundo um decreto aprovado pela Câmara 

da Capitania  de São Paulo,  em 1733, quilombo era “um ajuntamento de mais  de quatro 

escravos vindos em matos para viver nele, e fazerem roubos e homicídios”.

A Constituição Federal Brasileira, de 1988, incluiu em sua redação dois artigos nos 

quais   se   lê   o   termo quilombo.  No  parágrafo  5°   do  artigo  216 determina­se  que  “ficam 

tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos 

quilombos.”   Já   no   artigo   68   está   escrito:   “Aos   remanescentes   das   comunidades   dos 

quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo 

o Estado emitir­lhes os títulos respectivos”.

A partir desses artigos, o conceito de quilombo adquiriu uma nova interpretação, mais 

ampla, associada à idéia de resistência no presente: o de campesinato negro, comunidade 

negra   tradicional   ou   comunidade   étnica,   capaz   de   se   organizar   e   se   reproduzir   em 

determinado espaço físico, ao longo do tempo, resistindo até mesmo em condições adversas 

para manter sua forma de vida.

No entanto, nem todas as comunidades se encaixam no modelo de “remanescentes”, 

já que, ao longo da história, houve diferentes formas de ocupação da terra por grupos de 

escravos ou ex­escravos, como herança, doação ou negociação com fazendeiros. E muitas 

não têm como provar sua origem histórica.

Fonte:  Campos (2002).

Atividades:

1) Como as  autoridades  do  século  XVIII  definiram quilombo?  Você   concorda  com esta 

definição? Justifique.

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2) O que a Constituição de 1988 determinou sobre as terras ocupadas por descendentes dos 

antigos quilombolas?

3) A partir  das  reivindicações  das comunidades  rurais  e urbanas negras  e do movimento 

negro, a Constituição Federal de 1988, assegurou a esse segmento da sociedade brasileira, 

o direito a propriedade   de suas terras, mas na realidade ainda há muito que avançar na 

conquista dos seus direitos. Isto  porque a    a situação das comunidades quilombolas no 

Brasil  se caracteriza pela vulnerabilidade, isto é,  se encontra fragilizada por várias ações 

que  promovem a  expulsão  da  população  do  meio   rural,   particularmente  dos  povos  e 

comunidades tradicionais, numa escala que vira a ser contabilizada na casa dos milhões de 

pessoas. 

Faça  um   relato   dos     problemas   enfrentados  pelas   comunidades   remanescentes   de 

quilombo, na conquista do espaço,  levando em consideração que essas comunidades a terra 

não figura apenas como uma fonte de lucro., mas sobretudo, um patrimônio cultural.  A terra, 

para eles, é a sua casa, o lugar onde nascem, crescem e desenvolvem suas diferentes formas 

de vida.

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TEXTO 05:  OS AFRO­DESCENDENTES NO PARANÁ

QUADRO 05: Os afro­descendentes no Paraná

Em 1853, quando ocorreu a emancipação política do Paraná 40% da população do 

estado era  composta  por  negros.  Atualmente,   segundo dados  do   IBGE eles   representam 

28,5%, o que confere ao Paraná a maior população negra no sul do país. (PARANÁ, 2008, p. 

01) 

A história  das   comunidades  negras  no  Paraná,   foi   sempre   silenciada,     e  mantida 

afastada das discussões. Isto veio contribuir para que estes povos tenham um modo de vida 

com muitas dificuldades, sem acesso a  políticas públicas, como saúde, educação, transporte 

e saneamento básico.

O município de Adrianópolis, situado no Vale do Ribeira, divisa com o estado de São 

Paulo,  e pertence a região metropolitana de Curitiba,  distante 130 Km da capital,   ilustra 

muito bem esta realidade. O referido município possui 13 comunidades quilombolas, sendo 8 

reconhecidas   e  nenhuma   titulada,   e   está   entre   os  municípios  de  menor   IDH  (Indice  de 

Desenvolvimento Humano) do país.

O historiador Glauco Lobo e a professora Clemilda Santiago Neto formaram o Grupo   de   Trabalho  Clóvis   Moura,   responsável   pelo   diagnóstico   social   das comunidades remanescentes de quilombos no Paraná. Segundo eles: O governo do   Paraná   procura   apagar   a   nódoa   que   oculta   as   comunidades   quilombolas, tradicionais   comunidades   negras   e   terra   de   negros   no   Estado   do   Paraná, historicamente   escondidas   e   não   reconhecidas   por   todos   os   governos   que antecederam ao atual. O governo está ouvindo os quilombolas, o que é inédito na história   do   país,   para   que   a   partir   de   agora   essas   comunidades   possam   se desenvolver   com   mais   segurança,   com   seus   direitos   de   cidadania   garantidos (PARANÁ, 2006). 

Fonte: Paraná Agência de Notícias (2006)

Atividades:

1) Com a chegada dos portugueses, chegaram também os africanos escravizados como mão 

de obra, principalmente para  o cultivo da cana de açúcar, mas  com o decorrer do tempo, 

ela   foi sendo aplicada em garimpo, criação de gado, etc. Isto evidencia que houveram 

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várias  formas de escravidão. No Brasil Colônia, foi a época de adaptação, a mais difícil 

de   todas   onde   houve   a   formação   dos   primeiros   quilombos.   No   Brasil   Império,   por 

exemplo, com a formação das cidades houve necessidades ligadas a zona urbana com o 

nascimento das cidades, onde surgiram os escravos urbanos, que executavam tarefas das 

mais   variadas     como   marceneiros,   carpinteiros,   vendedores   ambulantes,   alfaiates, 

cozinheiros etc...Assim também foi mudando o tipo de quilombos, que   ao contrário do 

que se pensa, muitos ao invés de se isolarem, mantinham relações  com populações locais, 

fazendo   comércio,   comprando   e   vendendo   diversos   produtos.   Com   base   nessas 

informações e com a ajuda do (a) professor (a), elabore uma pesquisa sobre a   trajetória 

dos   quilombos   no   Brasil   Colônia,   Brasil   Império,   e   também   explique   como   os 

afrodescendentes  do sul  do Brasil   tiveram a conquista  de seus   territórios,   ilustre  com 

desenhos, e imagens, e faça um mural temático na sala para socializar o conhecimento 

com os colegas.

2) O que é o Grupo de Trabalho Clóvis Moura? Pesquise sobre a atuação deste grupo, como 

objetivo, e trabalho na sociedade.

3) Quilombos: passado e presente. Faça dois desenhos, um representando o Quilombo dos 

Palmares e outro representando uma comunidade remanescente de quilombos no Paraná. 

Você pode se inspirar no desenho da figura 03.

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FIGURA 03:  Quilombo dos Palmares

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Fonte: Elaborado pelo autor (2010).

TEXTO 06:  VISITAS A COMUNIDADE DE APEPU

QUADRO 06: Comunidade de APEPU

O texto abaixo descrito, é um relato feito pelo Professor Norberto Fabrício dos Santos, a partir 

de visitas a Comunidade de Apepu , no Município de São Miguel do Iguaçu –PR, onde reuniu as 

narrativas contadas pelos membros da comunidade, que servirá para análise com os alunos.

Quando chegamos na Comunidade de Apepu, Dona Aurora nos recebeu como sempre, da 

melhor maneira possível.    Ela é  de personalidade forte,  assemelha­se a uma matriarca, seu olhar 

perpassa o ambiente, mas não está desconectado do longe do horizonte, um horizonte de sonhos. 

Cada vez que alguém de fora vem visitar  a comunidade,  parece que seus sonhos,  seus projetos, 

entram em ebulição. Ela não desiste da idéia de ver novamente a comunidade toda reunida, que foi 

dispersa em busca da sobrevivência na área urbana. Dona Aurora toma cuidado no expressar seu 

pensamento, e com prudência  se policia para não falar demais.   

Como sempre ela está em pé, encostada numa mesa de madeira, que se encontra na pequena 

área de sua casa E já  no início de nossas conversas nos serviu um delicioso café,  e  disse que é 

costume da família sempre oferecer alguma coisa para as visitas, quando chega e quando sai.   Ela 

disse que nunca senta à mesa nem para comer. Isto faz parte de sua personalidade. Diante dela não 

adianta   ter   uma   postura   pessimista.   Eu   disse   para   ela   que   estava   enfrentando   dificuldades   em 

encontrar documentos escritos sobre a comunidade, para compor meu projeto. Então, ela prontamente 

me respondeu: ­ “Ué professor! I num tá bom? Pelo menos ocê lembro da gente”. Isto, para mim, foi 

um leve puxão de orelhas de D. Aurora. Ela cuida da irmã mais velha que se encontra doente e mora 

não muito distante da filha com problemas de depressão, sendo que esta vive a maior parte do tempo 

acamada. Está longe também de dois netos pré­adolescentes e da neta que já adquiriu a maioridade e 

faz magistério em São Miguel do Iguaçu. Esta neta representa muito para Dona Aurora, já que ela 

será sua substituta que irá influenciar nos destinos da comunidade. Possivelmente, era o que Dona 

Aurora tivesse almejado com a filha com depressão. Mas Dona Aurora resiste e se considera vitoriosa 

com esta probabilidade.

Dona Aurora aprendeu com a mãe, que era parteira e atendia famílias da região, o segredo das 

plantas,   dos   remédios   caseiros.   Entretanto,   adquiriu   mais   conhecimentos   e   noções   gerais   de 

enfermagem em Foz do Iguaçu. Ela disse que, quando era muito jovem, a sua mãe a empregou na 

residência de um médico já idoso, que era solteiro, em Foz do Iguaçu. Foi ali que aprendeu a aplicar 

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injeção. Mas ela disse que só aplica em pessoas da família em caso de extrema necessidade, com a 

receita médica. Em estranhos não, pois se acontecer alguma coisa a responsabilidade recai sobre ela. 

Quando perguntei a ela se ela sabia medir a pressão ela disse que sabia, mas que na comunidade não 

tem aparelho de medir a pressão arterial. Caso alguém necessite de atendimento médico é chamada a 

ambulância da cidade de São Miguel, que não oferece opções neste sentido, pois se encontra sem um 

hospital  para  atender  as  pessoas,   forçando as  mesmas  se  dirigirem até  Foz  o   Iguaçu para   ter  o 

atendimento necessário. Ela também faz serviços  como  plantar mandioca, milho, e até castrar leitões 

para a engorda. Ela foi criada num ambiente hostil em que ser mulher é ser guerreira.

Nos  últimos  dias,  Dona  Aurora  está  muito   atenta   a  qualquer  movimento  próximo a   sua 

humilde casa, que não oferece o mínimo de segurança e conforto. Ela viu uma onça muito grande 

vinda do Parque Nacional do Iguaçu transitar no terreiro de sua casa, e também, na mesma semana, já 

tinha se deparado com duas cobras venenosas, uma quase mordeu o cachorro de estimação, e a outra 

vinha em direção à área para possivelmente se infiltrar dentro da casa.

Neste momento, vem chegando o “Seu” Zacarias. Ele é irmão de Dona Aurora e vem junto 

com sua esposa segurando um filho de 3 anos. Esta já é sua terceira mulher. Ele disse que seus pais 

vieram no início do século para construir a linha telegráfica, e ainda hoje existem postes de peroba e 

cabriúva afixados, principalmente nas encostas, que resistem a ação desgastadora do tempo. Contou 

que, no passado, não tinham muito diálogo com os pais, os mais velhos. Isto impediu de nos relatar 

com mais profundidade mais história de seus antepassados. Mas ele nos disse que antes tinham mais 

contato com o Paraguai, com a comunidade indígena, e seus pais “criaram” dois índios como se fosse 

da família.  Ele estava muito doente, mas agora já está bem melhor, pois foi se tratar em Londrina, e 

também recebeu muitas orações na igreja evangélica que vem frequentando recentemente. Quando eu 

perguntei o nome da Igreja, ele pensativo não soube definir bem o nome, se era Igreja Internacional 

da Graça de Deus, ou Igreja Universal do Reino de Deus, ou Igreja Mundial da Graça. Os nomes das 

Igrejas  não   importam  para   “Seu”   Zacarias,   são  vocábulos  muito   abrangentes,   eruditos  para   um 

homem  que   mal   sabe   assinar   o  nome.   O   que   interessa  mesmo   é   que   ele   como  a  maioria   dos 

brasileiros,  procura  na   religião uma ajuda  diante  de  um sistema de   saúde  deficitário.  O mesmo 

aconteceu quando eu perguntei sobre o nome quilombola, ele disse que já está se acostumando com o 

nome, já que é novidade só tem escutado falar de uns 3 ou 4 anos para cá, mas está sendo muito bom 

ser quilombola.

Eu perguntei ao “Seu” Zacarias o que significava ser negro para ele. Ele ergueu seu olhar ao 

longe e sorrindo disse: ­ “Ser negro é ser o amor, você pode prestar bem atenção quando o marido ou 

a  mulher  quer   chamar   o  outro   não   chama   de   ‘meu   nego’   ou   ‘minha  nega’”,   e   completou   sua 

expressão com um largo sorriso, que mesmo estando desprovido dos dentes incisivos era um sorriso 

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perfeito. Todos na área riram da expressão de “Seu Zacarias”, inclusive Dona Dejanira, sua irmã, que 

a pouco tinha chegado.

Perguntei   a  Dona   Dejanira  qual   era   a   sua   religião   e   ela   disse   que   freqüentava   a   Igreja 

Assembléia de Deus. Continuei perguntando se o fato de haver esta diferença de opção religiosa 

havia interferência no bom relacionamento entre as pessoas da comunidade. Ela disse que não, pois 

cada um é   livre para escolher o que quer.  Quanto às religiões afro brasileiras,  como umbanda e 

candomblé, ela disse que não tem nada a se opor, pois Deus é um só.

Dona Aurora permanece fiel a religião dos pais o Catolicismo, e zela da Igreja construída no 

tempo deles. Todos os anos é feita uma festa no local, com fogueira, mas este ano não foi possível 

porque os membros mais velhos da comunidade estavam praticamente todos doentes.

Mas, para que a conversa não nos remetesse tão somente a um passado distante, mas a uma 

visão de futuro, conversei então com a Sirlei, perguntando sobre quais seriam seus planos para o 

futuro da comunidade,  já  que ela estava fazendo o curso de magistério.  Ela disse que quer dar 

continuidade ao legado de seus avós, e sonha muitas melhorias para a comunidade., inclusive uma 

escola quilombola.  Dona Aurora, interrompendo, disse que tudo poderia melhorar se a estrada em 

direção ao Parque Nacional do Iguaçu fosse aberta, porque a trilha do Macuco Safari, passa bem 

próximo da comunidade, como também a promessa da construção de um barracão que facilitaria 

muito para reunir as pessoas, e também comercializar artesanatos.

Então passamos, todos juntos, a conversar sobre quais atividades possivelmente poderiam ser 

desenvolvidas na comunidade desde o doce da laranja apepú, como variados tipos de artesanatos, 

quadros pintados, colares, mudas de árvores frutíferas, e flores, máscaras de coqueiro, cartões etc. 

Muito me impressionou o otimismo de todos sobre as sugestões de atividades. E, também, já fui 

nomeado pela Dona Aurora e a Sirlei para ajudar neste sentido. Ela também disse que quer desfilar 

dia 07 de setembro representando a comunidade de Apepu no desfile em São Miguel do Iguaçu. Eu, 

em tom de brincadeira, disse para ela se ela tinha coragem de desfilar. Ela prontamente respondeu 

que tinha muita coragem e queria uma saia bem rodada.

Fonte: Santos (2010).

Atividades:

1) Lei ao texto do quadro 06 e escreva os fatos referentes ao passado da comunidade que 

foram narrados pelos moradores que mais lhe chamou atenção.

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2) Quais são as perspectivas de futuro para os jovens da a comunidade de Apepu, e quais 

ações devem ser desenvolvidas para que possam continuar  zelando e desenvolvendo o 

legado de seus antepassados.

3) Estude o texto e reflita o que seria necessário para que a comunidade tivesse autonomia 

financeira e conseguisse a volta dos membros que se mudaram para as cidades da região 

em busca de melhores condições de vida?

4) Elabore uma pesquisa sobre o Macuco Safari e responda. a) Qual a importância da estrada 

que ligaria a trilha do Macuco Safari?

5) O que pode ser feito para que a comunidade mantenha a privacidade, sem se tornar um 

objeto de pesquisa, exposto a curiosidade de turistas?

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, Flavio et al.  O jogo da história: de corpo na América e de alma na África. São Paulo: Moderna, 2002.

PARANÁ.   AGÊNCIA   DE   NOTÍCIAS.  Governo   promove   inclusão   social   de   86   comunidades negras.   31   maio   2006.  Disponível   em:   <http://www.aen.pr.gov.br/   modules/noticias/article.php?storyid=21162&tit=Governo­promove­inclusao­social­de­86­comunidades­negras   >.   Acesso   em:   14 abr 2010.

SANTOS, Norberto Fabrício dos.  Visita a Comunidade de APEPU. Resultado de pesquisa de campo do autor, 2010.

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