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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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BLOG EDUCATIVO E O INCENTIVO À LEITURA

DE GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA LITERÁRIA

Autora: Luci Casagrande1

Orientadora: Ruth Ceccon Barreiros2

Resumo

O presente artigo apresenta, por meio de uma sistematização teórica e de ideias, o processo de implementação de um blog que figurou como instrumento para o ensino e aprendizagem de leitura da literatura em aulas de Língua Portuguesa. O gênero literário que embasou o estudo, no blog, foi a crônica. Este trabalho é resultado da formação continuada do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação (SEED). O objetivo foi criar um projeto-piloto para desenvolver e implementar um blog educativo, o qual serviria como recurso didático em aulas práticas de formação leitora, para alunos do primeiro ano do Ensino Médio de uma escola pública de Cascavel-PR. Optou-se pelo blog educativo, por ser um meio de publicação virtual que leva vantagem sobre as home pages e pela facilidade de criação, manutenção, e, ainda, porque não é necessário nenhum conhecimento profundo em programação para a utilização da ferramenta. Assim, os próprios professores podem organizá-lo em conjunto com os alunos. Sabe-se que a formação do cidadão se faz a partir de um diálogo aberto entre o indivíduo e os outros e com os instrumentos oferecidos pela cultura. Dessa forma, os resultados alcançados com construção e uso do blog educativo, como recurso pedagógico, foram especialmente válidos, uma vez que oportunizou a interação entre sujeitos por meio de muitas leituras, ampliando os conhecimentos de todos os envolvidos.

Palavras-chave: Blog educativo; Leitura; Crônica; Língua Portuguesa.

1 Introdução

1 Luci Casagrande é formada em Letras pela Universidade Estadual do Oeste Paraná e atualmente

integra o Programa de Desenvolvimento Educacional. Contato: [email protected] 2 Docente do Colegiado de Letras da UNIOESTE – Cascavel – PR., mestre em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Materna pela UEM, doutoranda em Letras pela UFBA – Salvador-BA, pesquisadora na área de Leitura e Formação de Leitores. Contato: [email protected].

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O surgimento das novas tecnologias da comunicação traz infindáveis

questionamentos sobre o futuro da humanidade e a educação está inserida neste

contexto. Motivados por essas mudanças, os resultados, que ora são apresentados,

tratam da experiência de formação leitora, por meio de textos literários, tendo o blog

como recurso pedagógico. Essa vivência foi oportunizada em curso de formação

continuada do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de

Estado da Educação (SEED), em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do

Paraná (Unioeste).

O objetivo do trabalho foi criar e desenvolver um projeto-piloto de um blog

educativo para o processo de ensino-aprendizagem de aulas de leitura da literatura

numa escola pública de Cascavel-PR. Esta atividade buscou pela via da

sistematização do pensamento teórico, aliado à prática, entender e fazer uso das

novas tecnologias de informação no cotidiano da sala de aula, aprimorando a leitura

e a compreensão do gênero literário crônica. Em outras palavras, lançou-se mão da

evolução tecnológica como instrumento de ensino para despertar nos alunos do

Ensino Médio o interesse pela leitura e escrita.

Participaram do projeto 23 alunos do primeiro ano do Ensino Médio, ou seja,

adolescentes entre 15 e 16 anos. Dos 23 alunos participantes, 13 deles possuíam

computador em casa e os demais utilizaram o laboratório de informática do Colégio.

Este trabalho serviu também de ferramenta para a elaboração de Unidade

Didática, a qual visava oferecer aos professores da rede Estadual de Ensino um

passo a passo para o desenvolvimento de um blog educativo.

O Plano de Estudo pautou-se em seis pilares, a saber: compreender as

etapas de estruturação e elaboração de um blog; identificar como esse recurso

midiático é relevante para a inserção no mundo virtual; reconhecer o blog como um

recurso didático para estudos e divulgação da literatura entre os alunos; promover a

leitura de crônicas, utilizando o blog como recurso pedagógico; caracterizar os

elementos que compõem o gênero crônica e conhecer os recursos linguísticos

utilizados pelos autores para a construção do gênero.

A fundamentação teórica foi ancorada em uma perspectiva sociológica de

leitura – Freire (1988) e interacionista de linguagem – Bakhtin (2002). Para estudos

do texto literário Arrigucci (1987) e Lajolo e Zilberman (1985), dentre outros. Quanto

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aos estudos das mídias, amparou-se em Negroponte (2000), Thompson (1998),

Chartier (1998-1999), Dizard (2000), Wolton, (2003), bem como outros

pesquisadores.

O desenvolvimento prático cumpriu quatro etapas: primeiro a pesquisa

bibliográfica sobre formação leitora e literatura; depois, coleta de informações sobre

o que é um blog; na sequência, como deve ser sua construção; e, por fim, como

trabalhar o gênero literário crônica com os alunos do Ensino Médio, tendo como

recurso o blog.

Para o trabalho prático de leitura, inicialmente, elegeu-se as crônicas “O

lixo”, de Luís Fernando Veríssimo (1982) e “Recado ao Senhor 903”, de Rubem

Braga (1991) e um texto em quadrinhos sobre o Julgamento de Capitu, decorrente

de leituras realizadas do clássico de Machado de Assis: Dom Casmurro.

Através dos procedimentos metodológicos, foi possível aliar teoria e prática,

na elaboração do edublog à aplicação do tutorial passo a passo. Para isso, utilizou-

se o Gmail (também GMail, Google Mail) que é um serviço gratuito de e-mail criado

pelo Google em 2004. Para o blog bem como o Web 2, um aplicativo da Internet que

permite maior interação com o usuário3.

No decorrer deste percurso foi possível contar com o auxílio técnico da

Assessoria Técnica do Núcleo de Educação de Cascavel.

2 Formação leitora e novas mídias: aportes teóricos

Ao analisar a leitura e o ato de ler, no processo de ensino e aprendizagem, o

educador Paulo Freire (1988) percebeu que a leitura do mundo precede sempre a

leitura da palavra, com base no fato de que anterior ao processo da escrita, a

humanidade construiu a fala e isso possibilitou a leitura do mundo que ali estava.

Por isso, toda leitura de texto ampara-se também na leitura do contexto,

conforme considera o autor,

3 Disponível em www.mail.google.com./mail.

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[...] [um] processo que envolve uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto (FREIRE, 1988, p.11).

Neste sentido, é possível perceber que a educação, especialmente a

educação escolar de formação leitora, não pode desconsiderar todo o conhecimento

de mundo angariado pelo aluno de experiências vividas em seu contexto social.

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado

do Paraná (2008, p.56), “Ao ler, o indivíduo, busca as suas experiências, os seus

conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias

vozes que o constituem”. Considerando-se esse espaço formativo, Freire (1988),

assevera,

[...] Uma das qualidades mais importantes do homem novo e da mulher nova é a certeza que têm de que não podem parar de caminhar e a certeza de que cedo o novo fica velho se não se renovar. A educação das crianças, dos jovens e dos adultos tem uma importância muito grande na formação do homem novo e da mulher nova. Ela tem que ser uma educação nova também (FREIRE, 1988, p. 86).

Tal pensamento é convincente, tendo em vista que a formação leitora na

contemporaneidade deve contemplar também o ensino e a aprendizagem da leitura

das novas mídias, isso se pretende contar com indivíduos aptos a desafios para a

construção de uma nova sociedade.

Chartier (1999) comenta que as concepções sobre leitura e a importância de

uma formação leitora proficiente, na atualidade, perpassa também por uma mudança

de rumo de pensamento por parte dos professores. Segundo ele, para melhor

compreender essas transformações, é necessário se reportar às outras transições já

ocorridas, como o surgimento do códex na antiguidade.

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[...]devemos pensar que nós estamos às vésperas de uma mudança semelhante e que o livro eletrônico substituirá ou já está substituindo o codex impresso tal como nós o conhecemos em suas diversas formas: livro, revista, jornal? Mas o mais provável para os próximos decênios é a coexistência, que não será necessariamente pacífica, entre duas formas do livro e os três modos de inscrição e de comunicação de textos: o manuscrito, o impresso, o eletrônico. Esta hipótese é sem dúvida mais razoável que as lamentações sobre a irremediável perda da cultura escrita ou os entusiasmos sem prudência que anunciam a entrada imediata de uma era da comunicação (CHARTIER, 1999, p. 10).

Parece pertinente reconhecer, também hoje, as controvérsias em relação à

coexistência das variadas formas de inscrição da comunicação. Contudo, neste

contexto, não cabem as lamentações sobre a perda da cultura escrita, mas sim, uma

ampliação de conhecimentos sobre as mudanças.

Diante dessa realidade, o papel do educador é ampliado, uma vez que ele

não pode mais se manter restrito ao ensino de uma única forma de linguagem, mas

deve sim contemplar, no processo educativo, todas elas, especialmente as novas

tecnologias, quando se tratar de formação leitora.

Com a revolução digital, houve concomitantemente uma mudança no perfil

do aluno, que agora se apresenta menos disposto à realização de atividades que

exijam muito tempo de dedicação, dentre elas a leitura do impresso.

Sabe-se que o conhecimento dos textos literários tem papel fundamental e

basilar na formação dos alunos do Ensino Médio, entretanto, a escolha de textos,

para os trabalhos em sala de aula, que despertem o interesse dos alunos é ainda,

um desafio para os professores. Neste sentido, o gênero crônica, uma narrativa

curta que se reporta à vida cotidiana é, em geral, muito agradável a esse público.

Trata-se de um gênero literário que, com bastante frequência, cativa e desperta o

gosto e o hábito de ler nos adolescentes.

Para escolha dos textos é importante levar em conta o surgimento das novas

tecnologias, considerando-se os novos suportes e recursos de leitura como: os livros

digitais, os notebooks, I phones com conexão à internet, Ipad e tablets, entre outros

adventos do meio digital.

A mídia internet traz a possibilidade de interatividade e disponibiliza recursos

de hipertextualidade por meio dos diversos links, além de redes sociais. Remonta a

um meio específico, com características linguísticas diversas em detrimento de

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mecanismos tradicionais de ensino. Fazendo uso desses recursos, o professor

poderá promover seus alunos a leitores proficientes.

Para Negroponte (2000), ao explicar a gênese da internet, informa que a era

digital é caracterizada pelo deslocamento dos artefatos tecnológicos baseados em

átomos para a criação, manipulação, comunicação e armazenamento de dígitos

binários eletrônicos, também conhecidos como bits. A partir desse deslocamento,

surgem, então, vários artefatos tecnológicos. Esses recursos é que possibilitam

[...]disseminar novas, complexas e variadas formas de comunicação e interação social. O ano de 1995 marcou a entrada definitiva da Internet no mundo dos átomos, limites físicos impedem que se tenha volume e profundidade ao mesmo tempo – a não ser que se tenha um livro com quilômetros de espessura. No mundo digital, o problema do volume versus profundidade desaparece, de modo que os leitores e autores podem mover-se com maior liberdade entre o geral e o específico. Na verdade, a idéia de „querer saber mais sobre o assunto‟ é parte integrante da multimídia, e está na base da hipermídia (NEGROPONTE, 2000, p. 71).

É possível perceber em Negroponte (2000) que o mundo digital trouxe para

a modernidade possibilidades infinitas de comunicação, oportunizando aos leitores

maior liberdade para a busca do conhecimento. Essa democratização da informação

requer agora que todos possam ter acesso aos novos meios e saibam utilizá-los

com proficiência e, neste sentido, a escola tem papel essencial.

Conhecer esses recursos e manuseá-los adequadamente, compreendendo

toda a sua potencialidade, é o que se pretendeu com a implementação de um blog

como instrumento para o processo de ensino e aprendizagem de leitura da literatura

nas aulas de Língua Portuguesa.

Conforme Gutierrez (2003), os softwares livres para a sistematização dos

blogs registram todas as fases do projeto, desde sua criação até a sua finalização,

possibilitando aos participantes a capacidade de criar, escrever e expressar-se

artisticamente, sendo autores e co-autores no decorrer de sua construção. Enfim, a

utilização de blogs na educação possibilita o enriquecimento das aulas e projetos

através da publicação e interação de ideias na internet.

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Essas características do blog fazem desse recurso um aliado no processo

educativo, considerando-se que os adolescentes apreciam essa forma de

comunicação que, em geral, já se faz presente na sua rotina. Também o gênero

literário crônica, escolhido para os estudos no blog, mostra-se muito interessante

aos olhos dos adolescentes e possibilita estudos tanto do aspecto literário quanto

linguístico.

É importante destacar que um blog (contração do termo "Web log"), também

chamado de blogue em Portugal, é um site cuja estrutura permite a atualização

rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, ou "posts". Estes são,

geralmente, organizados de forma cronológica inversa, tendo como foco a temática

proposta do blog, podendo ser escritos por um número variável de pessoas, de

acordo com a política do blog. Aqueles que fazem uso desse recurso são

popularmente conhecidos como blogueiros. Neste trabalho, os próprios alunos

tornaram-se bloggers ou blogueiros.

Muitos blogs fornecem comentários ou notícias sobre um assunto em

particular; outros, funcionam mais como diários on-line. Um blog típico combina

texto, imagens e links para outros blogs, páginas da web e mídias relacionadas ao

seu tema.

A capacidade de leitores deixarem comentários de forma a interagir com o

autor e outros leitores é uma parte importante de muitos blogs. Alguns sistemas de

criação e edição são muito atrativos pelas facilidades que oferecem, disponibilizando

ferramentas próprias que dispensam conhecimentos mais elaborados.

A manutenção e atualização se fazem por meio do "post", a forma

substantiva do verbo "postar", que se refere a uma entrada de texto efetuada num

weblog/blog.

As postagens são organizadas tradicionalmente de forma cronológica e

inversa na página, de forma que as informações mais atualizadas aparecem

primeiro. Lembrando que esta pode ser uma opção do blogueiro.

Sabe-se que um profundo conhecimento sobre o processo de comunicação

é imprescindível a todos os indivíduos. Conforme Bakhtin (2002), em situação de

comunicação, é preciso que a troca linguística seja possível, integrando os

comunicantes. Neste viés, os estudos por meio do blog exigiram que os envolvidos,

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no caso professor e alunos, conhecessem essa ferramenta e a linguagem nela

utilizada para que a interação pudesse acontecer de fato. No que tange aos estudos

da linguagem, Bakhtin (2002) afirma que,

[...] para observar o fenômeno da linguagem, é preciso situar os sujeitos – emissor e receptor do som – , bem como o próprio som, no meio social. Com efeito, é indispensável que o locutor e o ouvinte pertençam à mesma comunidade lingüística, à uma sociedade claramente organizada. E mais, é indispensável que estes dois indivíduos estejam integrados na unicidade da situação imediata, quer dizer, que tenham uma relação de pessoa para pessoa sobre um terreno bem definido. É apenas sobre este terreno preciso que a troca lingüística se torna possível (...) (BAKHTIN, 2002, p. 70).

Dessa maneira foi possível explorar outras formas de trabalho com a

linguagem, leitura e pesquisa na escola, ou seja, a hipertextualidade, a qual

possibilita acesso a outros links e intensa participação dos alunos. Isso amplia

significativamente os conhecimentos sobre variados assuntos ou aprofundamento de

um determinado tema. De acordo com Lévy (1999) o hipertexto:

[...] é um conjunto de nós por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos, ou parte de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que eles mesmos podem ser hipertextos. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. porque cada nó pode por sua vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 1999, p.33).

As muitas possibilidades de pesquisa no hipertexto fazem deste recurso um

instrumento valioso para os educadores. Contudo, para tirar proveito dessa

ferramenta, na prática pedagógica, o professor precisará estar imbuído de novas

concepções sobre o fazer didático, uma vez que essa prática se distancia, e muito,

do uso do quadro de giz, por exemplo. Será preciso, dentre outras coisas, conhecer

os recursos do computador e aprender a manusear as novas ferramentas. Para

Chartier (1998),

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[...] Em primeiro lugar, é preciso considerar que a tela não é uma página, mas sim um espaço de três dimensões, que possui profundidade e que nele os textos brotam sucessivamente do fundo da tela para alcançar a superfície iluminada. Por conseguinte, no espaço digital, é o próprio texto, e não seu suporte, que está dobrado. A leitura do texto eletrônico está concebida nesse caso como desdobramento do texto eletrônico, ou melhor, uma textualidade suave, móvel e infinita (CHARTIER, 1998, p. 31).

Fica evidente que é imprescindível aos usuários do recurso o domínio não

apenas do manuseio da ferramenta, mas também do uso da linguagem nesse meio.

Entre esses recursos estão os blogs que são páginas em que os hipertextos

têm como referência um ponto de vista próprio. Em geral, são textos curtos,

postados em blocos padronizados, com um link de acesso individualizado. O acesso

à página, que é frequentemente atualizada, é público, interativo e gratuito.

As novas tecnologias permitem, por meio do hipertexto, destacar palavras,

pular de um texto para outro, escolher atalhos, enfim, são muitas as possibilidades

para a construção de um texto, sempre tendo como mediadora a linguagem.

Entende-se isso como fundamental tanto para o processo de formação em leitura

quanto para a produção textual.

Nesse percurso, o leitor se torna parte do texto, por meio de uma interação

dialógica, mediante a confrontação de sentidos, que exige uma compreensão

responsiva e ativa, muito adequada no contexto educacional.

3 O edublog ou blog educativo como ferramenta didática

Através das leituras realizadas pela professora pesquisadora, observou-se

que entre as ferramentas das novas tecnologias aplicadas ao ensino, o edublog é

um bom instrumento. A resposta em sala de aula do uso da ferramenta se mostrou

satisfatória, considerando-se que o blog educativo leva uma vantagem sobre as

Home pages tradicionais pela facilidade de criação, manutenção e publicação, já

que atualmente não é necessário nenhum conhecimento em programação para criá-

los e atualizá-los.

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Além desse fator, os edublogues permitem a publicação de ideias em tempo

real e possibilitam a interação com qualquer pessoa do mundo que esteja

conectada. A principal característica desta ferramenta é que os textos podem ser

lidos e comentados, abrangendo uma infinidade de assuntos: diários, notícias,

poesias, músicas, fotografias, enfim, tudo que a imaginação do autor permitir, desde

que dentro de um contexto educacional ou pedagógico.

O edublog é, na verdade, um rápido arquivo eletrônico que possibilita a

abordagem de diversos assuntos, aumentando a interatividade com os visitantes,

que passam a constituir uma comunidade. Ampliam-se assim, as possibilidades de

um diálogo com outras formas de saber entre as diferentes disciplinas escolares.

A maioria dos blogs são primariamente textuais, embora uma parte seja

focada em temas exclusivos como arte, fotografia, vídeos, música ou áudio,

formando uma ampla rede de mídias sociais. Outro formato é o microblogging, que

consiste em blogs com textos curtos.

Para prender a atenção dos alunos, ávidos por informações, o sistema

educacional busca mecanismos de enfrentamento para que essa realidade se torne

positiva no processo de ensino-aprendizagem.

Assim, “Em um mundo onde o tempo de difusão é comprado por segundo e

o espaço impresso é comprado por polegadas, os web sites oferecem uma rara

oportunidade de apresentar toda a riqueza das informações de forma variada”

(WILLIANS & TOLLETT, 2001, p.83), sendo, portanto, um instrumento de grande

valia para a formação em leitura.

Neste novo contexto formativo, um outro fator de estímulo considerável é o

aumento do número de usuários na Internet, isso exige que as escolas também se

adaptem para que esse recurso faça parte do processo de ensino. Sobre isso

comenta Lévy (1999),

[...] Cérebros humanos, computadores e redes interconectadas de comunicação, ampliam, a cada dia, um ciberespaço mundial no qual todo elemento de informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada um, tudo isso convergindo para a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para as sociedades humanas, enfim, de uma nova antropologia própria do ciberespaço (LÉVY, 1999,p.79).

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Atualmente, as escolas utilizam manuais, livros-textos e guias de estudo,

materiais incorporados à cultura escolar e dispõem de um arsenal tecnológico, TVs,

aparelhos de DVDs, computadores e acesso à Internet. É neste sentido, que o

ensino deve estar atento às mudanças e criar ambientes de aprendizagem onde os

alunos aprendam a encontrar formas de utilizar estas novas tecnologias para

aprimorar o conhecimento nas mais variadas áreas.

Com a democratização das informações, hoje mais que antes, é possível

compreender a relevância do uso das novas tecnologias de informação em ambiente

escolar, o que leva a optar pela utilização destes instrumentos no processo de

ensino-aprendizagem de leitura da literatura brasileira bem como de outras áreas do

conhecimento.

4 Resultados

A etapa crucial desta pesquisa científica de caráter didático e pedagógico foi

o desenvolvimento de um blog educativo, num modelo que se adaptasse ao perfil

dos alunos.

A partir deste, pela experiência obtida com um projeto-piloto, foi possível

constatar que o professor poderá utilizar o hipertexto como meio para criar e manter

conjuntos de textos interligados de forma não-sequencial e não-linear, tendo a

internet como suporte para isso. Esta nova forma de leitura, tão afeta à nova

geração de alunos, é um recurso eficiente no processo de ensino aprendizagem.

O edublog (blog-educativo) criado a partir dos estudos de formação

continuada realizados pela professora pesquisadora, encontra-se hospedado no

endereço www.profecassia2010.wordpress.com e, obteve os resultados esperados

no projeto inicial, muito embora, considere-se que muito mais tempo seria

necessário para outros estudos mais aprofundados sobre o tema, os quais ficarão

para momentos posteriores. Enfim, a experiência possibilitou transpor a teoria à

prática e isso já significou um grande aprendizado.

Como já mencionado, a escolha do gênero crônica, para os estudos e

divulgação da leitura literatura no blog, foi feita por tratar-se de uma narrativa curta

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que utiliza a linguagem jornalística ou literária com temas ou situações do dia a dia.

A linguagem, em geral, é simples e informal, de maneira que o leitor tem mais

facilidade em compreender o fato narrado. Os exercícios de leitura e interpretação

destes textos foram feitos diretamente no blog, por meio de inserções gravadas e

postadas.

Os alunos tiveram uma participação ativa em todo o processo, inclusive

escrevendo outras crônicas. Isso se deu em função de o blog se configurar em

novidade como recurso pedagógico. Para criá-lo foi utilizada a tecnologia do gmail,

que disponibiliza tutorial gratuito aos que têm cota. O primeiro passo foi a abertura

de uma conta, depois disso foram seguidas as instruções do próprio tutorial

disponível no endereço: www. mail.google.com./mail.

Ao apresentar o conteúdo, 80% dos alunos sabiam o que era um blog e o

sistema de software livre gmail, o que facilitou a construção da página na Internet.

A proposta foi formatar um blog, mais especificamente edublogs, como

maneira de construir e acompanhar a linguagem dos novos tempos, uma vez que

nos ensinos fundamental e médio, crianças e adolescentes estão imersos no mundo

das novas tecnologias, com os processos de digitalização, videogames, uso de

computadores e jogos e, principalmente, o acesso à Internet. Segundo Dizard Jr

(2000, p. 25) “O poder da internet está baseado na sua habilidade de superar as

barreiras que limitavam o acesso de uma enorme massa de informações para os

consumidores comuns”.

Para a implementação prática de construção do blog, destinada aos estudos

literários, foi necessário uma pesquisa preliminar bibliográfica sobre fontes teóricas

acerca do tema, pautada na organização do pensamento acadêmico sobre os

estudos que levam à formação do professor e em uma experiência prática adquirida

no processo de docência, além da desenvolvida ao longo dos meses em

afastamento para os estudos no PDE.

A experiência ora relatada possibilitou reflexões acerca da realidade

educacional na atualidade em um momento em que a velocidade das informações é

significativa. Neste contexto, o trabalho com a interatividade e o rápido acesso ao

espaço virtual exige dos profissionais da educação um maior conhecimento sobre o

assunto. Neste sentido, Wolton (2003) comenta,

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[...] A falta de reflexão sobre o sentido destas mutações explica o incessante de ioiô, dos modismos e das revoluções que se observa há trinta anos. Os homens, frente às tecnologias de comunicação, estão como o coelho branco de Alice no país das maravilhas, sempre atrasados, sempre com pressa, sempre obrigado a ir mais rápido (WOLTON, 2003, p. 31).

É inegável a grande mudança trazida pela revolução digital em todas as

esferas sociais. Desde o surgimento da Internet e sua ininterrupta evolução, teóricos

debruçam-se sobre o tema para entender as consequências desse poder midiático

na sociedade.

Silva (2002) comenta que os avanços tecnológicos garantem o surgimento,

quase que diariamente, de novas etapas da evolução mundial. Entre essas

mudanças, está a digitalização e a alta definição das TVs, com imagens que

recebem aperfeiçoadas técnicas computacionais de tratamento, além de modernos

computadores e do maior acesso à Internet, descrita da seguinte forma pelo autor

acima referenciado,

[...]Qual outra realidade pode pretender atualmente unir estas três características: capacidade de invenção, disponibilidade a todos e fraca presença de barreiras sociais e culturais? A Net como suporte de uma nova solidariedade mundial se encontra, aliás, no centro de vários debates, proposições, políticas e culturais. Por que não encontrar na rede mundial uma oportunidade para uma nova solidariedade, uma nova consciência? (SILVA, 2002).

Esta realidade forma uma espécie de multimídia integrada que envolve

desde cinema e televisão, jornal, texto interativo, televisão e vídeo até bibliotecas,

banco de dados, revistas e pesquisas interativas.

Com o projeto apresentado e desenvolvido na formação continuada do PDE,

este novo cenário foi mais bem compreendido tanto pelo coordenador das atividades

como pelos alunos participantes. Dentre as atividades que possibilitaram essa nova

visão estiveram: leitura, comentários e debates sobre os temas blog e crônicas, os

posts, exercícios de leitura e produção on line sobre os textos estudados.

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Depois dos estudos das crônicas e para a ampliação dos conhecimentos

sobre a literatura brasileira, os alunos realizaram leitura do romance “Dom

Casmurro” de Machado de Assis.

Através de acesso à internet, foi possível ler uma história em quadrinhos

intitulada “O julgamento de Capitu”4. Depois de muito apreciada e refletida, essa

história foi encenada pelos alunos em sala de aula e filmada. O vídeo, resultado da

encenação, foi postado no blog da professora pesquisadora5.

Quando se trata de leitura da literatura brasileira de obras como “Dom

Casmurro”, em contexto escolar, é notória a dificuldade dos alunos em compreender

a linguagem do romance já distante de sua realidade linguística.

Esse parco entendimento desencadeia ações pedagógicas que tornam o

processo de ensino-aprendizagem dos clássicos da literatura, em geral,

desinteressante e ineficaz.

Neste sentido, a necessidade de postar informações no blog, sobre as

leituras, possibilitou o diálogo entre os leitores e a obra. Para isso, foi necessário

compreender a linguagem e, consequentemente a história, e partir disso recriá-la em

outras linguagens. O interesse dos alunos pelas atividades ficou evidenciado em

comentários feitos nas postagens do blog, como se pode perceber nos exemplos

que seguem,

Estou extasiada e entusiasmada para começar as nossas postagens, espero que como eu todos levem a sério J, 16 anos; adorei a idéia do blog! Espero que o nosso trabalho renda todo esforço, A. 17 anos; legal! Vamos trabalhar juntos nesta, R, 16; Adorei o blog, achei interessante, vai nos incentivar a estudar mais, A. 16 anos. (Depoimentos de alunos do primeiro ano do Ensino Médio, postado em www.profecassia2010.wordpress.com)

Esses depoimentos revelam que os objetivos do trabalho, com a

implementação do projeto-piloto, foram alcançados. Com a criação do blog se

entendeu que essa nova ferramenta, além de interativa, é uma excelente alternativa

4Fonte http://www.jefferson.blog.br/2008/12/o-julgamento-de-capitu.html, acesso em fevereiro de 2011.

5 www.profecassia2010.wordpress.com

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para o processo de ensino da leitura da literatura, sem, no entanto, substituir outros

procedimentos pedagógicos já consagrados em ambiente escolar.

A palavra ler em sua origem vem de legei que significa colher, recolher,

juntar, em latim lego, legis, legere, ou seja, organizar horizontalmente as coisas com

o olhar. Os latinos usavam também interpretare para ler, mas com um significado

mais profundo, o de ler verticalmente. Esse foi um dos focos deste trabalho,

despertar o interesse e o gosto pela leitura proficiente, por meio de uma ferramenta

mais próxima da realidade dos alunos na contemporaneidade. Sobre isso, Bortolli

(2002) pondera,

A atividade de leitura de obras literárias é vista muitas vezes pelos pré-adolescentes não como uma atividade de prazer, mas sim, como uma atividade árdua e cansativa. A escola, instituição reconhecida como uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento do hábito da leitura, não parece estar contribuindo de forma eficaz ou incentivadora para que o ato de ler, como fonte, detenha um lugar de destaque na vida desses estudantes (DE BORTOLLI, 2002, p.34).

Neste sentido, o projeto em questão procurou inovar o fazer pedagógico,

buscando contribuir de forma eficaz para um maior interesse dos alunos pela leitura

das obras literárias.

Com essa vivência se percebe a necessidade de as práticas pedagógicas

terem como aliada às novas tecnologias. Para isso, faz-se necessário lançar mão,

também, de novas metodologias para o ensino e aprendizagem da leitura da

literatura. Metodologias que possibilitem que os alunos participem de forma

interessada e ativa de todo o processo de formação.

5 Considerações finais

Por meio dos resultados, identificou-se uma interatividade entre os alunos e

a ferramenta midiática. Essa experiência mostrou como é importante deixar de lado

velhos conceitos formalistas e constituir novos paradigmas para atuação em

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contexto formativo. Além de mais interativas, as aulas que utilizam o meio digital

puderam trazer a vivência de mundo dos alunos para a sala de aula e isso é valioso

para o processo de construção do saber.

Conquistar novos leitores tem sido o objetivo de muito educadores. Para que

isso ocorra, será necessário buscar mecanismos capazes de prender a atenção dos

alunos, com ferramentas que estes se interessem e dominem como é o caso das

novas tecnologias de informação. A experiência apresentada de construção de um

blog, formatado exclusivamente com ajuda dos próprios estudantes, demonstrou

essa realidade.

Isso se deve ao fato de que o blog, com o recurso de inserção de textos,

imagens, vídeos entre outros, torna-se um instrumento diferente no processo de

ensino e aprendizagem da leitura da literatura, além de oportunizar a interação do

visitante, respondendo ou opinando em relação aos conteúdos postados.

Dessa forma, os blogs passam a ser um espaço privilegiado para a

organização de aulas, oficinas e pesquisas, nas quais se pode sistematizar um

assunto, organizando-o de acordo com as necessidades específicas de um grupo

(de alunos ou professores), constituindo-se em um instrumento pertinente para a

ampliação do conhecimento.

Na experiência realizada, percebeu-se que a sua aplicação no quotidiano

escolar pode ser uma forma de atrair alunos para a produção escrita, além da

pesquisa, uma vez que, nesse meio, os alunos podem escrever livremente, e ainda

ter acesso a outros intertextos, com conteúdos abordados através das publicações

de crônicas, notícias, reportagem, pesquisas, histórias, debates, entre outras.

Em síntese, o edublog é uma ferramenta digital que possibilita, ao professor,

investigar e intervir na produção textual dos alunos, fazendo comentários

instantâneos ou mesmo ajudando-os na busca de informações. Isso propicia a

autonomia do aluno e, acima de tudo, desenvolve aprendizagens relacionadas ao

letramento digital que se revelam em pesquisas (síntese e análise crítica),

publicações de conteúdos (autoria), comunicação (interatividade) e aprendizagem

em rede (cooperação e colaboração).

Entende-se que a formação do cidadão se faz a partir do diálogo aberto

entre um indivíduo e o outro, nesse contexto, inserem-se os instrumentos oferecidos

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pela cultura. Assim, a leitura figura como interação entre sujeitos e construção de

significados, leitura enquanto conhecimento e fruição.

Ao considerar que a tecnologia educacional, refere-se, basicamente, ao uso

de processos sistemáticos que produzam métodos e materiais apropriados que

levem ao aprendizado, verificou-se que as novas tecnologias afetaram a educação,

a fala, a escrita alfabética, a imprensa, o conjunto de tecnologias, entre outros

aspectos da sociedade.

Neste contexto educativo, está a internet que não apenas integra um

conjunto de tecnologias, mas também apresenta uma nova cultura no mundo dos

sistemas de informação. Assim, a utilização deste meio de estudos e pesquisas

pode ser feita com elementos da hipertextualidade, intratextualidade e

intertextualidade, e hipertextos, ou seja, os alunos podem, durante a leitura, clicar

em palavras, frases ou imagens destacadas para fazerem surgir outro conjunto de

telas com mais informações detalhadas.

Com esta dinâmica de formação leitora, proposta no projeto de construção

do blog, buscou-se formatos que valorizassem a combinação de texto, imagem e

som e promovessem a aprendizagem de uma forma mais interativa.

Com isso, foi possível atingir os objetivos específicos do projeto inicial, ou

seja, entender o uso de novas tecnologias no contexto de ensino de leitura da

literatura e identificar meios com os quais os alunos pudessem participar da

construção do saber.

Parece também relevante, neste artigo, elencar alguns motivos para que o

professor use o blog como recurso de ensino-aprendizagem:

a web é uma ótima ferramenta para partilhar conhecimento, pois,

escrever sobre algo implica em reflexão e crítica;

desenvolver a habilidade de gerenciar informação;

desenvolver a habilidade de transformar informação em conhecimento.

desenvolver o espírito de colaboração;

aprofundar estudos em relação ao ensino da leitura da literatura com as

novas tecnologias de informação;

refletir sobre as práticas pedagógicas tradicionais no ensino da leitura

da literatura e suas relações com as novas tendências;

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contribuir com as discussões na unidade escolar na busca de uma

educação de qualidade;

compreender os limites e possibilidades da ação docente na superação

de dificuldades diante do uso das novas tecnologias;

sugerir alternativas para a construção do sucesso escolar.

Ressalta-se que a utilização de blog na educação possibilita o

enriquecimento das aulas e projetos através da publicação e interação de ideias na

Internet, bastando adequá-lo aos objetivos educacionais, para que o conhecimento

seja construído por meio da interação dos recursos informáticos e das capacidades

individuais, criando um ambiente favorável para a aprendizagem.

Acredita-se, ainda, que esta ferramenta poderá ser bastante útil para o

desenvolvimento de trabalhos Multidisciplinares, produção de material instrucional,

produção de resumos/sínteses da matéria, resumos de livros, aprendizagem

colaborativa, entre outros.

As escolas públicas estaduais, com investimento neste campo, passam a ter

o compromisso de utilizar estes meios no processo de ensino-aprendizagem,

efetivando, assim a democratização do saber.

Na área da leitura da literatura, o desafio é ainda maior, pois a imposição de

leituras impressas e, as poucas condições de aquisição dessas obras pelos alunos,

acabam por culminar no pouco sucesso do aprendizado e no desestímulo à leitura.

Neste sentido, é importante destacar que a informática possibilita a emissão

e a recepção da informação a um custo muito barato, permitindo agregar um número

superior de pessoas no processo de Educação.

Com a inserção na rede, entende-se que a Educação cumpre um de seus

fins constitucionais, ou seja, ser um bem e um direito da sociedade, uma vez que a

novas tecnologias permitem um maior acesso às informações para o aprimoramento

do conhecimento pessoal, intelectual e profissional.

Referências

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