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Texto teatral de maneira divertida que aborda temas da atualidade

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D N A

TEXTO DISTRIBUDO PELO SITE:

WWW. OFICINADETEATRO.COM

QUALQUER UTILIZAO DA OBRA PARA MONTAGEM - COM OU SEM FINS COMERCIAIS - ENTRAR EM CONTATO COM A SBAT OU COM O AUTOR

SBAT.: (21) 2544-6966 / 2240-7431 [email protected]: [email protected] D N A

de: Jomar Magalhes

INICIA-SE O ESQUETE COM TRS PERSONAGENS SENDO APRESENTADOS DE FORMA INUSITADA.

PAULA - ...Efignia, ento v se explica de uma vez por todas porque pra lhe dizer a verdade eu no sei que diabos vim fazer aqui.

LA E muito menos eu. Queria Deus que no seja sequestro, at porque minha famlia no tem um tosto..

EFIGNIA Deixem de exageros! Estamos em uma praa pblica e movimentada. Agora, por favor, v se ouam de uma vez o que eu quero falar, droga! PAULA Tem vinte minutos!

LA Quinze!

EFIGNIA - Bem, primeiramente deixe eu apresentar uma a outra: La esta a Paula; Paula, esta a La. Como vocs j sabem, meu nome Efignia.

LA De verdade!?PAULA - Ol, La. Ento vocs de fato no se conheciam?

LA - Nem ela e nem voc. Alis, pra aceitar vir at aqui acho que j no conheo nem eu mesma.

EFIGNIA Deixa eu ver por onde comear...PAULA Dezenove minutos!

EFIGNIA o seguinte... Vocs fazem aniversrio na sexta-feira da semana que vem, no isso?

PAULA Fao, por qu?.

LA Eu tambm, como sabe?.

EFIGNIA - E vocs nasceram na maternidade Santa Maria da Luz, em Grota Nova, no ano de 1961, certo?

LA - Errado! Eu sou de 65.

EFIGNIA La... muito srio o que eu tenho a dizer...LE Inacreditvel! Voc me aparece assim, do nada, pra desmascarar a minha idade!?

PAULA (consultando o relgio) Quinze minutos! EFIGNIA E vocs nasceram entre s nove e dez horas da noite, estou certo?

LA Exatamente s nove e trinta e seis! ... T bom, t bom; nove e trinta e um. S queria me sentir cinco minutos mais nova.PAULA Um minuto!

EFIGNIA J!??

PAULA No! Eu peo um minuto pra prevenir que se a sua inteno for fazer mapa astral ou coisa parecida pode desistir agora mesmo porque eu no acredito em nada dessas bobagens.

LA Alto l, eu adoro! O que voc sabe sobre ascendente?

EFIGNIA - Droga! Eu no sei fazer mapa astral nenhum, eu no entendo nada de ascendente e pra dizer a verdade mal sei qual o me signo! Ser que vai ser impossvel eu terminar de falar? (pausa/ respira) O que eu quero dizer que eu tambm sou de 61 e nasci na maternidade Santa Maria da Luz em Grota Nova entre s nove e dez horas da noite no mesmo dia em que vocs nasceram, entenderam agora?

LA - Ah ?

EFIGNIA - !

LA - S isso?

EFIGNIA Bem... no somente isso, mas ainda que fosse j seria interessante ns estarmos aqui novamente depois de tantos anos, no?

PAULA - Sim... um fato curioso. Mas...

EFIGNIA - Mas... o que?

PAULA Sei l... Como eu poderia dizer...? s isso?

EFIGNIA Sinceramente? Eu no esperava toda essa frieza por parte de vocs.

LA - Desculpe, mas que eu sou pssima pra guardar fisionomia.

PAULA Pois bem... E o que voc pretende? Que a gente troque presentes?

EFIGNIA - at uma boa idia! Mas no foi pra isso que eu procurei vocs, ou melhor, que venho procurando h alguns anos.

LA Agora quem vai comear a olhar pro relgio sou eu! D pra parar de rodeios?

EFIGNIA - Dem uma olhada aqui neste jornal.

LA - Credo! Que coisa mais velha! Joga isso fora!

EFIGNIA - Meu pai guardou de recordao do dia em que eu nasci - ou que ns nascemos.

LA - Bem, olhando direitinho, at que ele est bem conservado.

PAULA - (lendo) Cai sobre a cidade a chuva mais forte dos ltimos quatorze anos.

LA - verdade! Minha me falou que foi o maior aguaceiro!

PAULA - E ento...?

EFIGNIA - esse o x da questo. No sei se foi dito pra vocs que o berrio em que ns estvamos encheu de gua e ns trs fomos tiradas s pressas para um outro cmodo qualquer.

PAULA - Acho que j ouvi coisa parecida l em casa, no estou bem lembrada...

LA - Minha madrinha j contou essa estria vrias vezes. Disse at que a minha primeira palavra foi atchim!

EFIGNIA - Pois ento, Paula; pois ento, La... Vocs provavelmente saibam que a maternidade em que nascemos no era nenhum palacete e que h 47 anos os erros aconteciam com maior freqncia.

LA - Por favor; no diga 47 assim com toda essa nfase porque ainda falta uma semana.

PAULA - Continua, Eustquia...

EFIGNIA - Efignia.

PAULA - Ah, sim! Continua.

EFIGNIA - Portanto pode ter havido uma possibilidade relativamente grande de ns termos sido trocadas durante todo aquele corre-corre.

PAULA - Como???

EFIGNIA - exatamente isso! Parece que no estvamos com nenhum tipo de identificao quando fomos entregues s nossas mes. Em outras palavras: dependendo da eficincia ou no das enfermeiras, aqueles a quem eu chamo de pais podem ser na verdade seus pais ou os pais dela.

LA (confusa) Pera... Ento h alguma possibilidade de ns sermos irms, isso?

EFIGNIA No, no h a menor possibilidade disso. Entenda...PAULA - O que ela est dizendo que os bebs podem ter sido trocados. Ou seja; meus pais, na verdade, podem ser os seus; os seus podem ser os dela e os delas os meus...

LA Jesus!

EFIGNIA - Ou at mesmo dois. V que os meus pais sejam meus de fato e apenas vocs duas tenham sido trocadas?

PAULA - verdade. Uma s daria? Ah no, uma s no impossvel. Caramba, j comecei a ficar confusa tambm.

LA (concluindo) Ento a gente pode ter vivido esse tempo todo acreditando que...?

EFIGNIA - Exatamente!

LA - Mas os meus pais tm a cor assim bem parecida com a minha.

PAULA - Os meus tambm.

LA - Se bem que o seu cabelo meio ruinzinho, n.

PAULA - E o seu por acaso liso?

EFIGNIA - Calma, esses detalhes no vo adiantar em nada! H quem puxe at mesmo o tatarav, sei l. Ns precisamos de uma informao mais exata.

LA - Pronto, j comecei a pirar! Quando eu era pequena, tinha a mania de imaginar que aqueles no eram os meus pais verdadeiros!

PAULA Mas isso acredito que toda criana imagina uma vez ou outra, no?

EFIGNIA A questo no apenas saber ou no saber. tambm o nosso histrico gentico que est em jogo! Eu, por exemplo, tenho duas ou trs pessoas na famlia que tm diabetes e sempre fiquei muito atenta quanto a isso, mas v que quem deva ficar atenta seja voc ou ela.

PAULA - Meu pai e meu av morreram do corao.

EFIGNIA - Pois ento! isso!LA - Seu pai j morreu? Isso ainda mais trgico! Nesse caso pode ento ter sido o meu prprio pai que morreu sem que sequer eu tenha o conhecido.

EFIGNIA Percebem agora?

PAULA de fato uma situao delicada.

LA Caramba! E no ms passado eu paguei pra um rapaz fazer a minha rvore genealgica que pode estar totalmente furada! Que pilantra!

EFIGNIA - por isso que eu fui a procura de vocs. S eu sei o tempo em que andei at encontr-las. Principalmente a La que eu s vim a localiz-la na semana passada.

LA Alis, esquea que me viu saindo daquele prdio, viu? E aquele senhor grisalho apenas um grande amigo.EFIGNIA Bobagens...

PAULA - Mas Eugnia...?

EFIGNIA Efignia. Efignia o meu nome.

PAULA Bem... isso quer dizer tambm que se os meus pais forem os seus eu que receberia esse nome...?

EFIGNIA - Muito provavelmente. Por qu?PAULA - Nada, mas pelo menos dessa eu escapei.

EFIGNIA Pssima piada!

LA Pssima coisa nenhuma! Sabe-se l o que uma pobre inocente brincando no parquinho e sendo chamada de Efigeninha? Tenha d! Eu nem atenderia!EFIGNIA - Eu acho que vocs ainda no perceberam a importncia de toda essa situao!

PAULA Desculpe! claro que sim... Eufignia! claro que sim!

EFIGNIA - Efignia sem o u.

PAULA - claro que sim! Mas o que ento devemos fazer? Um DNA?

EFIGNIA - Exatamente isso!

PAULA - Srio?

EFIGNIA - Claro! Da o motivo dessa minha incessante busca atrs de vocs!

PAULA E voc faz idia de quanto custa um exame desses?

EFIGNIA Sei... mas quanto a isso eu tenho um grande amigo que trabalha no melhor laboratrio da cidade e j me assegurou que providencia.

LA S um momento! Eu me lembrei que os meus pais tm um terreno l no meio de Xerm e que vai ficar de herana pra mim quando eles falecerem. Isso quer dizer que se... Voc tem por acaso alguma herana, Efignia?

EFIGNIA - Eu no, mas...

LA - Ah, sim! Aora eu entendi qual a sua inteno! Voc andou investigando as nossas vidas s escondidas pra saber se...

EFIGNIA - Pare de tolices, La! Pouco me importa os bens que vocs tenham ou deixe de t-los! Ser possvel!?

PAULA - Eu tenho uma casa de veraneio em Angra dos Reis de herana do meu pai.

LA Mesmo? Tudo bem, vamos logo a esse DNA.

EFIGNIA - timo!

PAULA - Sim, mas minha me tem pnico de qualquer tipo de injeo e eu no vou for-la a isso.

EFIGNIA - No ser necessrio tirar sangue de ningum como tambm no convm que eles saibam nada sobre o assunto. Basta um fio de cabelo deles e nossos.

LA S?EFIGNIA o que basta! Amanh eu passo no trabalho de vocs e de l sigo para o laboratrio. O resultado sai em uma semana. Da eu ligo e a gente se encontra novamente aqui, combinado assim?

PAULA Tudo bem.

LA Combinado, Epaminondas!

A ENCENAO RECOMEA NO DIA DA VERIFICAO DO RESULTADO. PAULA ENTRA EM CENA. LA E EFIGNIA AGUARDAM-NA.LA Pontual, no?

PAULA - Desculpem-me o atraso. Fiz de um tudo pra chegar antes das dez mas no deu.

EFIGNIA No h problema.

LA No h problema uma pinia porque sou eu a que mora mais longe.

PAULA - Calma La. Se quiser eu te dou uma carona. E ento? J abriram os envelopes?

EFIGNIA De jeito algum. Somente com as nossas presenas.

LA Por mim eu j teria pego o meu envelope e ido embora. Alis, so dois direitos meus.

EFIGNIA No complica, La.

PAULA Cad o meu, Eufignia. Quer dizer... sem o u n?

EFIGNIA Isso. Sem o u. E-fi-g...

LA Pro diabo o u. Mas ser possvel que isso l so horas de se pensar em letras ?

PAULA Cruzes! Voc aquela mesma La da semana passada ou ser que j foi trocada de novo?

EFIGNIA Pronto! Aqui est o seu envelope. Satisfeita? Tome, Paula.

PAULA Ento voc ainda no sabe de nada mesmo?

EFIGNIA O tanto quanto vocs.

LA Jura que nem leu e nem perguntou nada ao seu amigo do laboratrio?

EFIGNIA Claro que no!

LA Claro que no o que? Que no jura ou que no perguntou?

EFIGNIA Mas ser que vocs ainda no perceberam que se eu estivesse interessada apenas no meu caso, eu nem teria procurado vocs?

PAULA verdade. Podemos ento abrir?

EFIGNIA Claro.

LA Calma... s uma coisa! Antes eu gostaria de sugerir que se acaso apenas duas de ns trs tiverem sido trocados, aquela que permaneceu com os verdadeiros pais biolgicos jure absoluto sigilo.

PAULA Quanto a isso no h a menor dvida. Se eu estiver nessa situao, est feito o juramento.

EFIGNIA Totalmente de acordo.

LA E que se realmente tiver ocorrido alguma troca, a filha biolgica tenha direito a visitar periodicamente a casa dos pais verdadeiros.

PAULA De acordo.

EFIGNIA Eu tambm, mas sugiro que nada seja revelado aos pais. A menos que de comum acordo entre as filhas.

PAULA timo. E no tendo havido troca alguma, a sim poderemos contar aos nossos pais o susto por que passamos e o exame que fizemos.

EFIGNIA No tendo havido troca, fica a critrio de cada uma, no?

LA Se Deus quiser no vai dar nada de errado. Deus que me livre se os meus pais no forem de fato os meus pais verdadeiros!

PAULA Tambm no precisa falar Deus que me livre assim, com toda essa nfase, n, La!? Ou voc acha que eu gostaria de trocar os meus pais por quaisquer outros que fossem!?

LA Por favor, Paula, no polemiza! Voc entendeu o que eu quis dizer!

EFIGNIA Vamos ento abrir?

LA Isso... vamos.

PAULA No seria melhor abrir um de cada vez? Assim, se o primeiro resultado no for satisfatrio as outras duas ajudam a confortar.

LA Como confortar? Se o primeiro resultado der errado evidente que vai haver pelo menos mais um errado tambm, no percebe? Virgem Maria! Eu sou capaz de cair dura sobre esse cho com o meu envelope ainda fechado.

PAULA Foi s uma idia, esquea.

EFIGNIA Ento vamos abri-los simultaneamente mesmo.

PAULA T bom, ento...

LA Antes me tira uma dvida: o que costuma vir escrito no resultado? Se positivo ou negativo, isso?

EFIGNIA No sei... talvez.

PAULA De qualquer maneira necessrio ler tudo pra poder entender direito porque, s vezes, positivo pode significar no e negativo, sim.

LA Tem isso?

PAULA No sei bem, parece que sim...

EFIGNIA T bom, t bom! Vamos l.

LA As trs?

EFIGNIA As trs.

LA Rasgando ou descolando?

EFIGNIA Ora, tanto faz!PAULA Se os trs resultados derem negativos... quero dizer, se no cofirmarem que somos filhos de quem julgamos ser, ser necessrio fazer um segundo exame mudando a combinao dos fios de cabelo, no?

EFIGNIA Perfeito. E se der negativo novamente precisaremos fazer um terceiro s pra confirmar a ltima opo que sobrou.

LA Esse seu amigo parece lhe dever alguns favores, no?

PAULA Posso acender um cigarro?

EFIGNIA Justo agora!?

LA Ah, no. Nada de fumaa, Paula.

PAULA (fumando/distante) Engraado, ontem eu cheguei a sonhar com isso. Alis, no s ontem como tambm na outra noite que passou.

LA J comigo tem sido o contrrio; mal tenho conseguido conciliar o sono. Nessa noite mesmo s fui pregar o olho por volta das trs e meia da madrugada.

PAULA Sonhei que eu era pequena e, portanto, meu pai ainda vivo. O sonho era confuso como todos os sonhos, mas a figura do meu pai era ntida como todas as lembranas que eu guardo dele.

LA Voc parece ter sido bastante apegada a ele, no?

PAULA Muito! Infelizmente no mais aps meus onze anos. E a dor que eu senti foi verdadeira dor de filha que no pode ser revertida agora pra nenhuma de vocs.

LA Triste isso.

EFIGNIA Pessoal, daqui a pouco d meia-noite. Por que isso agora?

LA Como por qu? No percebe que eu posso estar querendo saber sobre o meu prprio pai? Deveria voc ser menos insensvel e se mostrar interessada tambm.

EFIGNIA Mas se justo agora que ns estamos com os resultados nas mos... Dependendo do que der, a sim...

PAULA Peral, isso dito assim soou ainda pior. Ficou claro que somente se o resultado acusar que o meu pai era, na verdade, o seu que voc ir sentir a partida dele, percebe? Saiba, portanto, que independente desse resul...

EFIGNIA Poxa, Paula, agora quem diz pra no polemizar sou eu. claro que eu sinto a morte do seu pai... ou do pai dela, ou do meu, v l! Mas o momento agora de constatao. Aps checarmos os resultados, a sim; a gente se posiciona melhor em relao a toda essa situao.

LA (resoluta) Aps o resultado no porque posicionada j estou eu. Pra mim o casal que me criou so os meus verdadeiros pais e ponto final. O que um simples parecer de laboratrio vai alterar naquilo que foi construdo e solidificado ao longo de tantos anos? E as noites mal dormidas da minha me que me velava enquanto eu ardia em febre? E a lgrima escapulida dos olhos do meu pai no dia da minha formatura? E as minhas primeiras palavras ensinadas por ambos? E os cuidados? E os passeios? E as zangas? Quem ir apagar tudo isso? Esse msero envelope?

EFIGNIA Eu no estou entendendo onde vocs querem chegar...

PAULA Calma... um momento de perturbao.

EFIGNIA Mas o que leva vocs a crer que eu tambm no esteja perturbada? Domingo eu estive l na casa deles e fiquei por um longo tempo a observ-los e a imaginar coisas... E a? E se tudo foi de fato um grande equvoco da maternidade? Como no estar perturbada? Alis, se perturbada eu no estivesse - no h uma ou duas semanas, mas ao cabo de alguns longos anos - ns no estaramos aqui, agora.

LA Pois ento, mulher! E se no bater coisa com coisa?

EFIGNIA Mas ns j no falamos sobre isso?

LA Falamos sobre visitas, sobre conforto mtuo, sobre herana gentica... no sobre o risco do desvario, da falta de tino, do desnorteio.

EFIGNIA Acontece que...

LA Voc se d bem com os seus pais?

EFIGNIA claro. No acabei de falar que estive l no domingo.

LA Isso no resposta. E segunda? E quarta? E hoje?

EFIGNIA Virgem do Cu! Naturalemtne eu no moro mais com eles mas estou sempre telefonando, estou sempre querendo saber notcias. Eles tambm vo sempre l em casa. Amanh mesmo, com toda certeza.

PAULA Efignia, voc faz mesmo questo de abrir esse envelope?

EFIGNIA Como no? Alis, isso foi uma coisa de comum acordo, no?

PAULA Sim... ao menos naquele momento... at pela surpresa da situao. Agora, talvez, no mais.

EFIGNIA Mas Paula...

PAULA Efignia, eu acho que esse resultado seria uma extraordinria notcia se no chegasse com 47 anos de atraso.

EFIGNIA Como atraso? E o fator gentico... e a rvore genealgica... entre outras coisas?

PAULA Entre as outras coisas esto o sentimento, a histria de vida, a estrutura familiar... coisas que valem mais do que saber a origem de um infarto. At porque a origem de um infarto pode ser a quebra de toda essa estrutura.

LA A Paula tem toda razo. Ainda hoje eu sa de casa e deixei minha me l, a cuidar dos meus filhos. Portanto ela me e tambm av. E me de quem ela aprendeu a chamar de filha; e av de quem ela aprendeu a chamar de netos. E o importante nisso tudo perceber que quando se arranca a raiz, se mata tambm a rvore.

EFIGNIA Eu acabo por no entender muito bem... na semana passada vocs duas endossaram a minha proposta, agora retrocedem radicalmente. o mesmo que fazer uma opo pela ignorncia.

PAULA No polemize. Nem antes de Aristteles, nem depois de Galileu a vida deixou de seguir seu curso. Convm deix-la continuar seguindo.

LA Tome de volta o meu envelope. Agradea por ns ao seu amigo.

PAULA FAZ O MESMO. EFIGNIA, ABORRECIDA, NO PEGA OS ENVELOPES.

EFIGNIA Se eu tanto me empenhei por encontr-las, era para que agora compartilhssemos esse momento. J que pouco valor deram ao meu empenho, vou fazer o que j poderia e deveria ter feito h muito tempo. (abre o envelope) A atitude de vocs inclusive um grande gesto de ingratido. (tira o resultado dobrado de dentro)

LA Sejamos gratas, minha querida Efignia, com quem se definha por ns.

EFIGNIA HESITA POR ALGUM MOMENTO ENTRE LER OU NO O RESULTADO. EM SEGUIDA, LEVANTA OS OLHOS PARA AS DUAS.

EFIGNIA Paula, me empresta o seu isqueiro?

PAULA Voc tambm fuma?

EFIGNIA No.

REPE O RESULTADO NO ENVELOPE, RECOLHE OS ENVELOPES DE LA E PAULA E ACENDE O ISQUEIRO SOB OS TRS RESULTADOS.

EFIGNIA (abraando-as) meia-noite! Parabns! Vamos comemorar nossos aniversrios!

FIM

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