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Da Natureza dos Deuses II (De Natura Deorum – Liber II) | 1 ISBN 978-85-463-0295-6 SUMÁRIO

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ISBN 978-85-463-0295-6 SUMRIO

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Ccero

Da Natureza dos Deuses II (De Natura Deorum Liber II)

Traduo, Introduo e Notas

Willy Paredes Soares Doutor em Letras pela Universidade Federal da Paraba (UFPB/PPGL).

Professor Adjunto II da UFPB, Departamento de Letras Clssicas e Vernculas (DLCV).

Edio Bilngue

Latim/Portugus

Ideia Joo Pessoa 2018

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ISBN 978-85-463-0295-6 SUMRIO

Todos os direitos e responsabilidades sobre textos e imagens so do autor.

Capa/Diagramao: Magno Nicolau

Reviso Latim/Portugus: Jaynno Fernando Silva Lopes

_____________________________________________ C568n Ccero.

Da natureza dos deuses - Livro II / Willy Paredes Soares (tradutor do Latim para o Portugus). Bilingue. Joo Pessoa: Ideia, 2018.

192p. ISBN 978-85-463-0198-0 1. Latim - Portugus

CDU: 807.1

E D I T O R A

www.ideiaeditora.com.br [email protected]

http://www.ideiaeditora.com.br/

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Sumrio

Do Livro II .......................................................................... 5

Das Variaes Textuais no Livro II .............................. 10

DE NATVRA DEORVM LIBER II ........................... 17

DA NATUREZA DOS DEUSES LIVRO II ............. 17

Das Constelaes ........................................................... 191

Referncias ..................................................................... 192

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Do Livro II

O livro II compe a exposio mais ampla do dilogo filosfico De Natura Deorum, proferida pelo

personagem Balbo, partidrio do estoicismo. Os seus dois primeiros pargrafos compem o exrdio, apresentado de

forma bem particular, no h propriamente a exposio de tudo que a causa contm, ou seja, as concepes sobre

natureza dos deuses, j que h a continuao do dilogo iniciado no livro I. Sendo assim o personagem Balbo fala

resumidamente sobre a exposio da causa de maneira bem particular atravs do dilogo com os outros dois

personagens, Veleio e Cota, e tenta prepar-los para o incio de seu discurso1.

Como o assunto j foi definido no livro I, est claro do que se trata, pode-se recorrer aos dizeres do Aristteles

sobre promio, para explicitar a preferncia do personagem por uma introduo discursiva to breve2. Assim o

personagem Balbo prefere ir direto narrao, pois o assunto foi claramente definido, porm demonstra certo receio

em explicitar sua tese, j que preferiria ouvir os ideais acadmicos do personagem Cota primeiramente.

Mesmo receando que o seu discurso seja refutado como aconteceu com o de Veleio, no livro I, o personagem

Balbo prepara os adversrios para o que viria a compor a sua narrao que se estende do pargrafo 3 ao 167. Sendo

assim, a narrao no pode ser considerada breve, pois compe o maior discurso entre os trs personagens, alm disso

apenas 4 pargrafos do livro II no esto includos nesta parte do discurso de Balbo, porm o personagem tenta

explicitar a doutrina estoica de uma maneira que delucida sit, seja clara, apresentando sua teoria organizada e em

sequncia, tentando evitar a digresso temtica e para garantir tal efeito de organizao, Balbo se utiliza de um

recurso que precede propriamente o incio narrao3.

1 De Natura Deorum, II, 1-2 2 Retrica, 1415a, 22-25 3 De Natura Deorum, II, 3

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O discurso de Balbo se dispe conforme o enunciado pelo prprio personagem, mas preciso evidenciar que as

quatro partes que ele pretende abordar, duas so consideradas mais relevantes: o mundo governado pelos deuses; os

deuses se ocupam das coisas humanas.

Sobre o argumento de que os deuses existem, primeiramente demonstrado que o senso comum elevou a

deuses homens notveis pelos feitos e pela fama, como Hrcules, Castor e Plux, Esculpio e Rmulo4. Balbo leva

em considerao o senso comum, situa entre os deuses no apenas aqueles que so provenientes da unio de dois

deuses, conforme comum concepo de imortalidade. Seres, que so provenientes de um genitor mortal e de outro

imortal, no deveriam ser considerados imortais, como se observa em Hesodo5. Partindo desta definio os

semideuses seriam apenas metade deuses, no sendo totalmente providos das qualidades divinas, portanto

perecveis, como os prprios alimentos que ingerem.

Os deuses nomeados por Balbo parecem possuir caractersticas que contrariam os atributos divinos, sendo

assim do margem para possveis crticas: como considerar deuses, imortais, seres que ingerem alimentos perecveis,

no deveriam os deuses, segundo apontam os poetas picos, alimentarem-se de nctar, ambrosia e de matria

inorgnica? Claramente o representante do estoicismo se deixa conduzir pelo senso comum e no reflete sobre suas

afirmaes e sobre os que ele considera deuses, como Esculpio que foi, segundo a tradio, gerado pela unio do

deus Apolo e da mortal Cornis; Hrcules, de Zeus e da mortal Alcmena; Rmulo, de Marte e de Reia Slvia; Castor

e Plux, de Zeus e de Leda.

Balbo poderia ter criticado o senso comum, que se deixa conduzir por uma tradio que contraria evidentes

cultos e ritos, como nas oferendas a queima de gordura que era destinada aos deuses; deve-se perceber que no se

acreditava que os deuses se alimentavam dela, mas da fumaa produzida, que composta de matria inorgnica e no

perecvel, assim como seriam os deuses, j que so imortais.

Aps a demonstrao dos semideuses, considerados deuses e imortais, Balbo segue sua tentativa de definio

de quais seriam os deuses, retomando os mitos tradicionais divulgados pela tradio, principalmente pelos poetas

picos, e acrescentando uma elucidao etimolgica, na tentativa de explicar por que os deuses possuam tal ou tal

denominao6. Balbo tenta estabelecer uma conexo entre o nome da divindade, o termo que nomeia as aes

4 De Natura Deorum, II, 62 5 Trabalhos e Dias, v.159-160 6 De Natura Deorum, II, 64

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naturais e os atributos associados divindade, como se percebe em Cronos, deus do tempo, cujo nome seria

proveniente de , tempo, termo que designa o tempo em grego; os mesmos princpios etimolgicos so aplicados a Saturn, divindade correspondente na mitologia romana ao deus , cujo nome proveniente do verbo latino saturo, alimentar-se, fartar-se, j que Saturno mitologicamente se alimenta dos filhos e, por extenso,

tambm se alimenta dos anos, do tempo; o nome do deus Jpiter, seria proveniente do verbo latino iuuo, ajudar,

auxiliar, ser til, ou seja, Jpiter iuuans pater, o pai que ajuda, que todos chamam a iuuando, para ajudar. O

mesmo raciocnio etimolgico empregado para explicitar os nomes dados a uma variedade de deuses, associados a

atributos naturais por comparao com as aes naturais e com as funes exercidas pelas divindades7.

Na terceira parte de sua narrao, Balbo defende que mundum administrari, o mundo governado, pelos

deuses e que os estoicos admitem que tal administrao pode ser demonstrada em trs argumentos:

Eamque disputationem tris in partes nostri fere diuidunt, quarum prima pars est, quae ducitur ab ea ratione, quae

docet esse deos; quo concesso confitendum est eorum consilio mundum administrari. Secunda est autem quae

docet omnes res subiectas esse naturae sentienti ab eaque omnia pulcherrume geri; quo constituto sequitur ab

animantibus principiis eam esse generatam. Tertius est locus, qui ducitur ex admiratione rerum caelestium atque

terrestrium. (De Natura Deorum, II, 75)

E os nossos geralmente dividem em trs partes esta dicusso, cuja primeira parte a que conduzida por aquela

razo, que ensina que os deuses existem; permitido isso, deve-se admitir que o mundo governado por seu

conselho. Porm, a segunda a que ensina que todas as coisas so sujeitas a uma natureza sensitiva e que por ela

tudo criado mais belamente; constitudo isso, segue que ela foi gerada por princpios animados. O terceiro

argumento o que conduzido a partir da admirao das coisas celestes e terrestres.

Baseando-se no argumento de que, alm de existirem, os deuses administram as coisas humanas, o personagem

afirma que no h nada mais superior do que uma divindade, uma vez que esta no obediente a nada, segue e rege

seus prprios princpios, que, ao invs de serem regidos pela natureza, regem-na.

7 De Natura Deorum, II, 66-70

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Comenta-se que no se devem ignorar tais princpios de evidncia divina, de modo que os deuses devam ser

tratados com respeito e observados pelos humanos, pois haveria uma uis, fora, proveniente dos prprios deuses

que comanda no s a natureza, mas o princpio de inteligncia, o ensinamento do justo e do injusto, a prudncia e a

prpria concepo de mente, a partir da qual a fides, fides, a uirtus, virtude, e os principais fundamentos ticos

permanecem no gnero humano. No poderia um deus administrar as coisas da natureza, se no tivessem um

conhecimento mnimo de seu funcionamento e, segundo Balbo, isso no seria possvel, caso os deuses fossem

inferiores natureza e aos princpios que a regem8.

Na sequncia de seus argumentos, Balbo tenta elucidar que todas as coisas da natureza foram criadas por

princpios animados, sobre os quais certamente ele sobrepe os deuses, que, segundo o personagem, carregam em si

todo conhecimento para a administrao das coisas naturais, que no apresentam nenhuma casualidade, nem

desordem na organizao de seus elementos9. Alm disso, detm-se em explicitar por que os deuses consulere rebus

humanis, ocupam-se das coisas humanas. Aos ideais estoicos, os animais terrestres, aquticos e que voam teriam

sido criados para o benefcio humano, pois s os deuses se preocupariam em fornecer os subsdios necessrios aos

seres humanos para a sua perpetuao no mundo. Sendo assim, o personagem afirma que sempre houve um grande

cuidado com as coisas terrestres10 e que isso s poderia ter sido pensado e organizados, do modo como se conhece,

pelos deuses, pois todas as coisas teriam sido criadas e so administradas em funo dos homens. No haveria

sentido, segundo o personagem, na produo contnua da natureza e em sua renovao constante, se no existissem

seres capazes de perceber tal engenhosidade de organizao nos ciclos naturais.

O conceito de percepo desses ciclos defendido para garantir a exposio dos argumentos do personagem,

pois todo trabalho de criao e administrao das coisas terrestres no teriam fundamento sem a existncia de um ser

capaz de contempl-las, ser que desfrutasse de faculdades mentais semelhantes dos deuses, capaz de entender, na

medida do possvel, a complexidade do ciclo natural e sua reproduo. Sendo assim se afirma que os deuses criaram

os humanos ut deorum cognitionem caelum intuentes capere possent, para que, olhando atentamente o cu,

pudessem tomar conhecimento dos deuses11, o que comprova, nos ditos de Balbo, a capacidade do ser humano de

8 De Natura Deorum, II, 77 9 Idem, II, 83-84 10 Ibidem, II, 127 11 Ibidem, II, 140

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contemplao da natureza, de seus ciclos, de sua gerao e perpetuao, e o que mais importante para os humanos a

identificao e a admirao dos seres divinos que foram capazes de tamanhas proezas criativas, fator pelo qual os

deuses precisam ser honrados e cultuados.

O discurso do estoico no situa os humanos como simples seres contemplativos e desprovidos de qualquer

mente ou razo. H a demonstrao de que o homem recebe os devidos cuidados dos deuses, pois estes, alm de

administrar toda sua criao, seja animal, mineral ou vegetal, tambm forneceram ao homem subsdios semelhantes

aos que os prprios deuses apresentam, ou seja, a mente, a razo, a prudncia, entre outros elementos que distinguem

os seres humanos dos demais animais presentes do mundo.

A partir desses exemplos, o personagem afirma que a natureza do homem ultrapassa a de todos os outros seres

animados e que se deve compreender que nem a forma, nem a posio dos membros, nem o raciocnio nos humanos

podem ter sido criados ao acaso, mas sim pelas divindades12, uma vez que o ser humano foi provido das mesmas

faculdades que esto presentes nos deuses, rationem, consilium, prudentia, razo, conselho, prudncia, no haveria

motivos para que Balbo no declarasse que o mundo o local de comum morada entre deuses e homens13.

As palavras de Balbo, no livro II, criticam sobretudo os conceitos de Pronoia e da teoria atmica que foi

desenvolvida por Veleio, no livro I, baseando-se na afirmao de que os epicuristas no teriam os conhecimentos

necessrios para falar acertadamente sobre a natureza divina, pois teriam lido apenas os escritos de Epicuro sobre o

assunto. Tais crticas poderiam ter garantido ao estoico a composio de uma exmia contra-argumentao, o que

vincularia ao discurso de Balbo explicaes mais detalhadas das ideias estoicas acerca do epicurismo na Roma do

sc. I a.C.

Aps a narrao, o personagem Babo finaliza o seu discurso e de forma bastante breve apresenta sua concluso,

composta apenas por um pargrafo14, em que se afirma que as coisas relevantes, que lhes chegaram mente e que

deveriam ser explicitadas, foram apresentadas, segundo os ideais do estoicismo.

12 De Natura Deorum, II, 147 13 Idem, II, 154 14 Ibidem, II, 168

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Das Variaes Textuais no Livro II

O original latino utilizado na traduo basicamente o texto apresentado por Otto Plasberg, do ano de 1917

(), na edio: M. Tullius Cicero. De Natura Deorum. O. Plasberg. Leipzig. Teubner. 1917. Foram consultados tambm os seguintes textos latinos: Otto Plasberg, do ano de 1993 (), presente na edio: Cicerone. La Natura Divina; a cura de Cesare Marco Calcante, texto latino a fronte. 6.ed. Milano: BUR, 2007. Joannes Davisius, do ano

de 1723 (), presente na edio: M. Tulli Ciceronis. De Natura Deorum, Libri Tres; cum notis integris Paulli Manucii, Petri Victorii, Joachimi Camerarii et alii. Editio secunda. Cantabrigiae: typis academicis, MDCCXXIII.

Societ Editrice Dante Alighieri, do ano de 1984 (), presente na edio: M. Tullio Cicerone. De Natura Deorum; texto, costruzione versione letterale e note. 3.ed. Roma: Societ Editrice Dante Alighieri, 1984. No h indicao

nessa edio (1984) do manuscrito utilizado.

As edies e apresentam o dilogo filosfico De Natura Deorum dividido em trs livros, compostos por 44, 62 e 60 partes, respectivamente. As edies e apresentam-no em trs livros, compostos por 124, 168 e 95 partes, respectivamente.

Apesar da discrepncia entre o nmero de partes do dilogo, o texto apresentado tem a mesma extenso em

todas as edies consultadas. Tal discrepncia de partes observada devido preferncia das edies e em subdividirem os livros em sees maiores. Preferiu-se, como texto base, a edio , porm h vrias passagens presentes nas outras trs edies consultadas que divergem da .

As edies e so respectivamente de datas distintas (1917 e 1993) e apresentam, em se estabelecendo as devidas comparaes, algumas variaes entre os textos no mbito da pontuao, do vocabulrio, da grafia e da

fragmentao textual.

Divergncias vocabulares:

: et in animo quasi inscriptum esse deos. (II, 12) e : et in animo quasi insculptum esse deos. (II, 12); : quas perlucidas fecit (...) (II, 142) e : quas primum perlucidas fecit (...) (II, 142).

Divergncias de grafia:

: nisi diligenter adtenderis (...) (II, 149) e : nisi diligenter attenderis (...) (II, 149).

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Divergncias de pontuao:

: nulli uiri uocantur, ex quo in procinctu testamenta perierunt (...) (II, 9), : nulli uiri uocantur, ex quo in procinctu testamenta perierunt. e : nulla, cum uiri uocantur, ex quo in procinctu testamenta perierunt.; : uel maximam aequabilitatem motus [constantissimamque] conuersionem caeli, solis lunae siderumque omnium

distinctionem, utilitatem (...) (II, 15), : uel maxumam, aequabilitatem motus, conuersionem caeli: solis, lunae, siderumque omnium distinctionem, uarietatem (...) e : uel maximam, aequabilitatem motus conuersionumque caeli, solis, lunae siderumque omnium distictionem, uarietatem (...); : tamen id ipsum rationibus physicis, id est naturalibus, confirmari uolo. (II, 23), : tamen id ipsum rationibus physicis confirmare uolo. e d: tamen id ipsum rationibus physicis confirmare uolo.; : ut ecum uehendi causa (...) (II, 37), : ut equum, uehendi caussa (...) e : ut equum, uehendi causa (...); : quae cum est aquilonia aut australis, in lunae (...) (II, 50), : quae tum aquilenta, tum australis. In lunae (...) e : quae tum est aquilonia, tum australis. Itaque in lunae (...); : diligenter retractarent et tamquam relegerent, [i] sunt dicti religiosi ex relegendo, [tamquam] elegantes ex eligendo, [tamquam]

[ex] diligendo diligentes (...) (II, 72), : diligenter retractarent et tamquam relegerent, sunt dicti religiosi ex relegendo, ut elegantes ex eligendo, ex tamquam a diligendo diligentes (...) e : diligenter retractarent et tamquam relegerent, sunt dicti religiosi ex relegendo, ut elegantes ex eligendo, ex diligendo diligentes (...); : quacumque enim imus qua mouemur (...) (II, 83), : quacumque enim imus, quacumque mouemur (...) e : quacumque enim imus, quacumque mouemur (...); : Sicut inciti atque alacres rostris perfremunt delphini Item alia multa Siluani melo consimilem ad aures cantum et auditum refert. (II, 89) e : Sicut inciti alacres rostris perfremunt dephini: item alia multa. Siluani melo consimilem ad aures cantum et auditum refert.; : Graiugena: de isto aperit ipsa oratio. (II, 91) e : Graiugena de isto aperit ipsa oratio.; : Propter quae Centaurus/ cedit Equi partis properans subiungere Chelis./ Hic dextram porgens, quadrupes qua uasta tenetur./ tendit et inlustrem truculentus

cedit ad Aram./ Hic sese infernis e partibus erigit Hydra,/ cuius longe corpus est fusum,/ in medioque sinu fulgens

Cretera relucet./ Extremam nitens plumato corpore Coruus/ rostro tundit, et hic Geminis est ille sub ipsis/ Ante

Canem, Procyon Graio qui nomine fertur. (II, 114) e : Propter quae Centaurus/ Cedit, Equi partis properans subiungere Chelis./ Hic dextram porgens, quadrupes qua uasta tenetur,/ Tendit, et inlustrem truculentus caedit ad

aram./ Hic sese infernis de partibus erigit Hydra: cuius longe corpus est susum. In medioque sinu fulgens Cratera

relucet./ Extremum nitens plumato corpore Coruus/ Rostro tundit: et hic Geminis est ille sub ipsis/ Ante Canem,

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Procyon Graio qui nomine fertur.; : plenissumae terrae, artes denique innumerabiles (...) (II, 132), : plenissimae terrae: artes denique innumerabiles (...) e : plenissimae terrae, utilitates denique innumerabiles (...); : non egeremus, ut qui tamquam inuoluti quiescerent (...) (II, 143), : non egeremus, ut qui, tamquam inuoluti, quiescerent (...) e : non egeremus, tamquam inuoluti quiescerent (...).

Divergncias vocabulares:

: et in animo quasi inscriptum esse deos. (II, 12), : et in animo quasi insculptum, esse deos. e : et in animo quase insculptum esse deos.; : uel maximam aequabilitatem motus [constantissimamque] conuersionem caeli, solis lunae siderumque omnium distinctionem, utilitatem (...) (II, 15), : uel maxumam, aequabilitatem motus, conuersionem caeli: solis, lunae, siderumque omnium distinctionem, uarietatem (...) e : uel maximam, aequabilitatem motus conuersionumque caeli, solis, lunae siderumque omnium distictionem, uarietatem (...); : quorum aliud a terra sumpsimus (...) (II, 18), : quod aliud a terra sumpsimus (...) e : quod aliud a terra sumpsimus (...); : autem conclusae rationis (...) (II, 20), : autem conclusae orationis (...) e : autem conclusae orationis (...); : nam solis calor et candor inlustrior (...) (II, 40), : Nam solis candor inlustrior (...) e : Nam solis et candor illustrior (...); : medioque tantum absit extremum, quo nihil fieri potest aptius (...) (II, 47), : medioque tantum absit extremum, quantum idem a summo: quo nihil fieri potest aptius. e : medioque tantum absit extremum, quantum idem a summo, quo nihil fieri potest aptius.; : quae cum est aquilonia aut australis, in lunae (...) (II, 50), : quae tum aquilenta, tum australis. In lunae (...) e : quae tum est aquilonia, tum australis. Itaque in lunae (...); : et oriuntur e terris, +Cui Proserpinam (...) (II, 66), : et oriantur e terris. Is rapuit Proserpinam (...) e : et oriuntur e terris. Cui nuptam dicunt Proserpinam (...); : Quos deos (...) (II, 71), : hos deos (...) e : hoc eos (...); : diligenter retractarent et tamquam relegerent, [i] sunt dicti religiosi ex relegendo, [tamquam] elegantes ex eligendo, [tamquam] [ex] diligendo diligentes (...) (II, 72), : diligenter retractarent et tamquam relegerent, sunt dicti religiosi ex relegendo, ut elegantes ex eligendo, ex tamquam a diligendo diligentes

(...) e : diligenter retractarent et tamquam relegerent, sunt dicti religiosi ex relegendo, ut elegantes ex eligendo, ex diligendo diligentes (...); : quacumque enim imus qua mouemur (...) (II, 83), : quacumque enim imus, quacumque mouemur (...) e : quacumque enim imus, quacumque mouemur (...); : Utque ille apud Accium pastor (...) (II, 89), : Atqui ille apud Attium pastor (...) e : Atqui ille apud Accium pastor (...); :

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Cuius/ propter laeum genum/ Vergilias. (II, 112), : At propter laeuum genus omni ex parte locatas/ Paruas Vergilias. e : Cuius propter laeuum genus omni ex parte locatas/ Paruas Vergilias.; : Propter quae Centaurus/ cedit Equi partis properans subiungere Chelis./ Hic dextram porgens, quadrupes qua uasta tenetur./

tendit et inlustrem truculentus cedit ad Aram./ Hic sese infernis e partibus erigit Hydra,/ cuius longe corpus est

fusum,/ in medioque sinu fulgens Cretera relucet./ Extremam nitens plumato corpore Coruus/ rostro tundit, et hic

Geminis est ille sub ipsis/ Ante Canem, Procyon Graio qui nomine fertur. (II, 114) e : Propter quae Centaurus/ Cedit, Equi partis properans subiungere Chelis./ Hic dextram porgens, quadrupes qua uasta tenetur,/ Tendit, et

inlustrem truculentus caedit ad aram./ Hic sese infernis de partibus erigit Hydra: cuius longe corpus est susum. In

medioque sinu fulgens Cratera relucet./ Extremum nitens plumato corpore Coruus/ Rostro tundit: et hic Geminis

est ille sub ipsis/ Ante Canem, Procyon Graio qui nomine fertur.; : cursu leones (...) (II, 127), : morsu leones (...) e : morsu leones (...); : plenissumae terrae, artes denique innumerabiles (...) (II, 132), : plenissimae terrae: artes denique innumerabiles (...) e : plenissimae terrae, utilitates denique innumerabiles (...); : a corde tractae et profectae (...) (II, 139), : a corde tracti et profecti (...) e : a corde tracti et profecti (...); : Quae primum oculos membranis tenuissimis uestiuit et saepsit; quas perlucidas fecit (...) (II, 142), : quas primum perlucidas fecit (...) e : quas primum perlucidas fecit (...); : nisi diligenter adtenderis (...) (II, 149), : nisi diligenter adtenderis (...) e : si diligenter attenderis (...); : deorum prudentia (...) (II, 162), : deorum prouidentia (...) e : deorum prouidentia (...);

Divergncias de grafia:

: Eundem equidem mallem audire Cottam (...) (II, 2), : Eudem equidem mallem audire Cottam (...) e : Eudem equidem malim audire Cottam (...); : nulli uiri uocantur, ex quo in procinctu testamenta perierunt (...) (II, 9), : nulli uiri uocantur, ex quo in procinctu testamenta perierunt. ed: nulla, cum uiri uocantur, ex quo in procinctu testamenta perierunt.; : uel maximam aequabilitatem motus [constantissimamque] conuersionem caeli, solis lunae siderumque omnium distinctionem, utilitatem (...) (II, 15), : uel maxumam, aequabilitatem motus, conuersionem caeli: solis, lunae, siderumque omnium distinctionem, uarietatem (...) e : uel maximam, aequabilitatem motus conuersionumque caeli, solis, lunae siderumque omnium distictionem, uarietatem (...); : ut ecum uehendi causa (...) (II, 37), : ut equum, uehendi caussa (...) e : ut equum, uehendi causa (...); : nam

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solis calor et candor inlustrior (...) (II, 40), : Nam solis candor inlustrior (...) e : Nam solis et candor illustrior (...); : Utque ille apud Accium pastor (...) (II, 89), : Atqui ille apud Attium pastor (...) e : Atqui ille apud Accium pastor (...); : Graiugena: de isto aperit ipsa oratio. (II, 91) e : Graiugena de isto aperit ipsa oratio.; : hoc caput hic paulum sese subitoque recondite () (II, 108), : Hoc caput hic paullum sese subitoque recondit. e : Hoc caput hic paulum sese subito aequore condit.; : Propter quae Centaurus/ cedit Equi partis properans subiungere Chelis./ Hic dextram porgens, quadrupes qua uasta tenetur./ tendit et inlustrem truculentus cedit ad

Aram./ Hic sese infernis e partibus erigit Hydra,/ cuius longe corpus est fusum,/ in medioque sinu fulgens Cretera

relucet./ Extremam nitens plumato corpore Coruus/ rostro tundit, et hic Geminis est ille sub ipsis/ Ante Canem,

Procyon Graio qui nomine fertur. (II, 114) e : Propter quae Centaurus/ Cedit, Equi partis properans subiungere Chelis./ Hic dextram porgens, quadrupes qua uasta tenetur,/ Tendit, et inlustrem truculentus caedit ad aram./ Hic

sese infernis de partibus erigit Hydra: cuius longe corpus est susum. In medioque sinu fulgens Cratera relucet./

Extremum nitens plumato corpore Coruus/ Rostro tundit: et hic Geminis est ille sub ipsis/ Ante Canem, Procyon

Graio qui nomine fertur.; : plenissumae terrae, artes denique innumerabiles (...) (II, 132), : plenissimae terrae: artes denique innumerabiles (...) ed: plenissimae terrae, utilitates denique innumerabiles (...).

Fragmentos nos textos:

: An Atti Naui lituus ille, quo ad inuestigandum suem regiones uineae terminauit, contemnendus est? (II, 9), : An Atti Naui lituus ille, quo ad inuestigandum suem regiones uineae terminauit, contemnendus est? e : An Atti Nauii lituus ille contemnendus est?; : tamen id ipsum rationibus physicis, id est naturalibus, confirmari uolo. (II, 23), : tamen id ipsum rationibus physicis confirmare uolo. e : tamen id ipsum rationibus physicis confirmare uolo.; : nam solis calor et candor inlustrior (...) (II, 40), : Nam solis candor inlustrior (...) e : Nam solis et candor illustrior (...); : medioque tantum absit extremum, quo nihil fieri potest aptius (...) (II, 47), : medioque tantum absit extremum, quantum idem a summo: quo nihil fieri potest aptius. e : medioque tantum absit extremum, quantum idem a summo, quo nihil fieri potest aptius.; : et oriuntur e terris, +Cui Proserpinam (...) (II, 66), : et oriantur e terris. Is rapuit Proserpinam (...) e : et oriuntur e terris. Cui nuptam dicunt Proserpinam (...); : diligenter retractarent et tamquam relegerent, [i] sunt dicti religiosi ex relegendo, [tamquam] elegantes ex eligendo, [tamquam] [ex] diligendo diligentes (...) (II, 72), : diligenter retractarent et tamquam relegerent, sunt

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dicti religiosi ex relegendo, ut elegantes ex eligendo, ex tamquam a diligendo diligentes (...) e : diligenter retractarent et tamquam relegerent, sunt dicti religiosi ex relegendo, ut elegantes ex eligendo, ex diligendo diligentes

(...); : Cuius/ propter laeum genum/ Vergilias. (II, 112), : At propter laeuum genus omni ex parte locatas/ ParuasVergilias. e : Cuius propter laeuum genus omni ex parte locatas/ Paruas Vergilias.; : quin etiam a caulibus brassicae, si propter sati sint (...) (II, 120), : Quin etiam a caulibus, [brassicisque,] si propter sati sint (...) e : Quin etiam a caulibus, si propter sati sint (...); : Quae primum oculos membranis tenuissimis uestiuit et saepsit; quas perlucidas fecit (...) (II, 142), : quas primum perlucidas fecit (...) e : quas primum perlucidas fecit (...); : non egeremus, ut qui tamquam inuoluti quiescerent (...) (II, 143), : non egeremus, ut qui, tamquam inuoluti, quiescerent (...) e : non egeremus, tamquam inuoluti quiescerent (...).

Divergncias nos empregos verbais:

: quae efferuescunt subiectis ignibus. (II, 27), : quae efferuescunt subditis ignibus. e quae efferuescunt subditis ignibus.; : qui esset mundi pars, quoniam rationis esset particeps (...) (II, 32), : qui est mundi pars, quoniam rationis est particeps (...) e : qui est mundi pars, quoniam rationis est particeps (...); : Itaque nihil potest indoctius (...) (II, 48), : Itaque nihil potest esse indoctius (...) e : Itaque nihil potest esse indoctius (...); : quae cum est aquilonia aut australis, in lunae (...) (II, 50), : quae tum aquilenta, tum australis. In lunae (...) e : quae tum est aquilonia, tum australis. Itaque in lunae (...); : et oriuntur e terris, +Cui Proserpinam (...) (II, 66), : et oriantur e terris. Is rapuit Proserpinam (...) e : et oriuntur e terris. Cui nuptam dicunt Proserpinam (...); : hoc caput hic paulum sese subitoque recondite () (II, 108), : Hoc caput hic paullum sese subitoque recondit e : Hoc caput hic paulum sese subito aequore condit; : quae Constant (...) (II, 136), : quae constat (...) e : quae constat (...).

Divergncias sintticas:

: uel maximam aequabilitatem motus [constantissimamque] conuersionem caeli, solis lunae siderumque omnium distinctionem, utilitatem (...) (II, 15), : uel maxumam, aequabilitatem motus, conuersionem caeli: solis, lunae, siderumque omnium distinctionem, uarietatem (...) e : uel maximam, aequabilitatem motus

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conuersionumque caeli, solis, lunae siderumque omnium distictionem, uarietatem (...); : quae cum est aquilonia aut australis, in lunae (...) (II, 50), : quae tum aquilenta, tum australis. In lunae (...) e : quae tum est aquilonia, tum australis. Itaque in lunae (...).

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DE NATVRA DEORVM

LIBER II

[1] Quae cum Cotta dixisset, tum Velleius Ne ego

inquit incautus, qui cum Academico et eodem rhetore

congredi conatus sim. Nam neque indisertum

Academicum pertimuissem nec sine ista philosophia

rhetorem quamuis eloquentem; neque enim flumine

conturbor inanium uerborum nec subtilitate

sententiarum, si orationis est siccitas. Tu autem, Cotta,

utraque re ualuisti; corona15 tibi et iudices defuerunt.

Sed ad ista alias, nunc Lucilium, si ipsi commodum

est, audiamus.

15 Crculo de ouvintes, assembleia.

DA NATUREZA DOS DEUSES

LIVRO II

Como Cota tivesse falado essas coisas16, ento Veleio

disse: No sou imprudente eu, que tenho me

preparado para discutir com um acadmico e com

aquele retrico. Pois eu no tivesse receado um

acadmico pouco eloquente nem, sem semelhante

filosofia, um retrico de fato eloquente; pois nem sou

perturbado por uma corrente de palavras vazias, nem

pela sutileza de sentenas, se h pobreza de estilo. Tu,

porm, Cota, foste vigoroso em ambas as coisas;

faltaram-te os ouvintes e os juzes. Mas contra essas

ouamos outras coisas, agora Luclio, se lhe

cmodo.

16 Quae.

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[2] Tum Balbus: Eundem equidem mallem audire

Cottam17, dum, qua eloquentia falsos deos sustulit,

eadem ueros inducat. Est enim et philosophi et

pontificis et Cottae de dis inmortalibus habere non

errantem et uagam ut Academici, sed ut nostri stabilem

certamque sententiam. Nam contra Epicurum satis

superque dictum est; sed aueo audire, tu ipse, Cotta,

quid sentias.

An inquit oblitus es, quid initio dixerim, facilius

me, talibus praesertim de rebus, quid non sentirem,

quam quid sentirem posse dicere?

17 : Eudem equidem mallem audire Cottam (...).

: Eudem equidem malim audire Cottam (...).

Ento Balbo disse: Na verdade preferiria ouvir o

prprio Cota, desde que introduza os verdadeiros

deuses com a mesma eloquncia com a qual aboliu os

falsos. possvel que haja do filsofo, e do potfice, e

de Cota sobre os deuses imortais uma sentena no

inconstante e vaga como a do acadmico, mas estvel

e certa como a nossa. Pois contra Epicuro foi falado

suficiente e abundantemente, mas desejo muito ouvir o

que tu mesmo pensas, Cota.

Disse: Por acaso te esqueceste do que eu disse no

incio, principalmente sobre tais argumentos, mais

fcil que eu possa dizer o que no penso do que o que

penso?

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[3] Quod si haberem aliquid, quod liqueret, tamen te

uicissim audire uellem, cum ipse tam multa dixissem.

Tum Balbus: Geram tibi morem et agam, quam

breuissume potero; etenim conuictis Epicuri erroribus

longa de mea disputatione detracta oratio est. Omnino

diuidunt nostri totam istam de dis inmortalibus

quaestionem in partis quattuor. Primum docent esse

deos, deinde quales sint, tum mundum ab his

administrari, postremo consulere eos rebus humanis.

Nos autem hoc sermone, quae priora duo sunt,

sumamus; tertium et quartum, quia maiora sunt, puto

esse in aliud tempus differenda.

Minime uero inquit Cotta nam et otiosi sumus et his

de rebus agimus, quae sunt etiam negotiis

anteponenda.

Pois, se eu tivesse algo que fosse claro, porm

desejaria te ouvir, por sua vez, j que eu mesmo disse

muitas coisas.

Ento Balbo disse: Mostrarei e te levarei a maneira o

mais breve que puder, pois com os erros refutados de

Epicuro, h um discurso tirado de uma longa discusso

minha. Os nossos separam toda essa questo sobre os

deuses imortais inteiramente em quatro partes.

Primeiro, ensinam que os deuses existem; em seguida,

quais so; alm disso, que o mundo governado por

eles; finalmente, que eles se ocupam das coisas

humanas. Ns, porm, neste discurso, adotamos as

duas que so mais importantes; a terceira e a quarta,

porque so maiores, considero que devem ser

divulgadas em outro momento.

Cota disse: De modo algum, pois tanto somos ociosos

quanto tratamos sobre aquelas coisas que devem ser

antepostas aos negcios.

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[4] Tum Lucilius Ne egere quidem uidetur inquit

oratione prima pars. Quid enim potest esse tam

apertum tamque perspicuum, cum caelum suspeximus

caelestiaque contemplati sumus, quam esse aliquod

numen praestantissimae mentis, quo haec regantur?

Quod ni ita esset, qui potuisset adsensu omnium dicere

Ennius aspice hoc sublime candens, quem inuocant

omnes Iouem illum uero et Iouem et dominatorem

rerum et omnia motu regentem et, ut idem Ennius,

patrem diuumque hominumque et praesentem ac

praepotentem deum? Quod qui dubitet, haud sane

intellego, cur non idem, sol sit an nullus sit, dubitare

possit;

Ento Luclio disse: A primeira parte nem mesmo

parece ter necessidade de um discurso. O que, pois,

pode ser to claro e to evidente quando olhamos o

cu e contemplamos as coisas celestes quanto haver

alguma vontade de uma mente superior, pela qual estas

coisas so governadas? Porque, se no fosse assim,

como nio poderia dizer com o consentimento de

todos Olha isto que arde no alto, que todos chamam

de Jpiter com certeza chamam-no tanto de Jpiter,

quanto de soberano das coisas, como regente de todas

as coisas em movimento, e, como diria o mesmo nio,

pai dos deuses e dos homens, e deus presente e

poderoso? Por que ele duvida, no compreendo na

verdade, por que o mesmo no pode duvidar se h sol

ou no h;

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[5] qui enim est hoc illo euidentius? Quod nisi

cognitum conprehensumque animis haberemus, non

tam stabilis opinio permaneret nec confirmaretur

diuturnitate temporis nec una cum saeclis aetatibusque

hominum inueterare potuisset. Etenim uidemus ceteras

opiniones fictas atque uanas diuturnitate extabuisse.

Quis enim hippocentaurum fuisse aut Chimaeram

putat, quaeue anus tam excors inueniri potest, quae

illa, quae quondam credebantur apud inferos, portenta

extimescat? Opinionis enim commenta delet dies,

naturae iudicia confirmat. Itaque et in nostro populo et

in ceteris deorum cultus religionumque sanctitates

existunt in dies maiores atque meliores;

Como, pois, isto mais evidente do que aquilo?

Porque se no tivssemos conhecido e compreendido

na alma, no se conservaria uma opinio to estvel,

nem se firmaria com o passar do tempo, nem poderia

ter se tornado nico com os sculos e as geraes dos

homens. Pois vemos outras opinies falsas e vs

desaparecerem com o tempo. Quem, pois, pensa que

existiu um hipocentauro ou uma quimera; ou que velha

to insensata pode ser imaginada, que teme aqueles

pressgios que em certos momentos eram confiados

aos deuses inferiores? O tempo, pois, destri as

invenes de opinio, confirma os processos da

natureza. Assim tanto no nosso povo, quanto em

outros o culto dos deuses e as sanctitas das religies se

manifestam maiores e melhores com os dias;

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[6] idque euenit non temere nec casu, sed quod et

praesentes saepe di uim suam declarant, ut et apud

Regillum bello Latinorum, cum A. Postumius dictator

cum Octauio Mamillio Tusculano proelio dimicaret, in

nostra acie Castor et Pollux ex equis pugnare uisi sunt,

et recentiore memoria idem Tyndaridae Persem uictum

nuntiauerunt. P. enim Vatinius, auus huius

adulescentis, cum e praefectura Reatina Romam

uenienti noctu duo iuuenes cum equis albis dixissent

regem Persem illo die captum, [cum] senatui

nuntiauisset, primo quasi temere de re publica locutus

in carcerem coniectus est, post a Paulo litteris allatis,

cum idem dies constitisset, et agro a senatu et

uacatione donatus est. Atque etiam cum ad fluuium

Sagram Crotoniatas Locri maximo proelio deuicissent,

eo ipso die auditam esse eam pugnam ludis Olympiae

memoriae proditum est. Saepe Faunorum uoces

exauditae, saepe uisae formae deorum quemuis aut non

hebetem aut impium deos praesentes esse confiteri

coegerunt.

E isto no ocorreu sem ponderao nem por acaso,

mas porque frequentemente tanto os deuses que esto

presentes declaram sua fora, como tambm perto do

Regilo na guerra dos Latinos, quando o ditador Aulo

Postmio combatia na batalha com Otvio Mamlio

Tusculano, no nosso exrcito Castor e Plux foram

vistos lutar nos cavalos, e em lembrana mais recente

os mesmos Tindridas18 anunciaram que Perses foi

vencido. Pois Pblio Vatnio, av daquele adolescente,

quando vinha da provncia de Reate, durante a noite,

para Roma, dois jovens com cavalos brancos disseram

que o rei Perses tinha sido capturado naquele dia,

Pblio Vatnio anunciou ao senado; primeiro, como

que precipitadamente falasse da repblica, foi lanado

no crcere; depois, trazidas as cartas por Paulo, quando

findou o mesmo dia, tanto foi presenteado pelo senado

com um campo quanto com uma iseno de servio. E

tambm quando os habitantes de Locros venceram em

uma grandiosa batalha os habitantes de Crotona junto

ao rio Sagra, naquele mesmo dia foi relatado que

aquela luta foi ouvida nos jogos de Olmpia. Muitas

vezes as vozes ouvidas dos faunos, muitas vezes as

formas vistas dos deuses impeliram seja quem for, ou

sensvel ou mpio, a reconhecer que os deuses esto

presentes.

18 Filhos de Tndaro, Castor e Plux.

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[7] Praedictiones uero et praesensiones rerum

futurarum quid aliud declarant nisi hominibus ea, quae

sint, ostendi, monstrari, portendi, praedici, ex quo illa

ostenta, monstra, portenta, prodigia dicuntur. Quod si

ea ficta credimus licentia fabularum, Mopsum,

Tiresiam, Amphiaraum, Calchantem, Helenum (quos

tamen augures ne ipsae quidem fabulae adsciuissent, si

res omnino repudiarent), ne domesticis quidem

exemplis docti numen deorum conprobabimus? Nihil

nos P. Clodi bello Punico primo temeritas mouebit, qui

etiam per iocum deos inridens, cum cauea liberati pulli

non pascerentur, mergi eos in aquam iussit, ut biberent,

quoniam esse nollent? Qui risus classe deuicta multas

ipsi lacrimas, magnam populo Romano cladem attulit.

Quid collega eius, [L.] Iunius, eodem bello nonne

tempestate classem amisit, cum auspiciis non

paruisset? Itaque Clodius a populo condemnatus est,

Iunius necem sibi ipse consciuit.

Na verdade as predies e os pressgios das coisas

futuras no declaram outras coisas aos homens a no

ser aquelas, que existem, que so manifestadas,

mostradas, anunciadas, preditas; a partir disso, elas so

chamadas de manifestaes, demonstraes,

anunciaes, predies. Por que se acreditamos

naquelas coisas criadas pela liberdade das fbulas,

Morpso, Tirsias, Anfiarau, Calcas, Heleno (estes

ugures19, porm, nem mesmo as prprias fbulas

reuniriam, se os acontecimentos rejeitassem

absolutamente), nem mesmo com os exemplos

familiares ns os sbios comprovaremos o poder dos

deuses? A nada nos conduzir a irreflexo de Pblio

Cludio na primeira guerra Pnica, o qual tambm

rindo dos deuses pelo escrnio, quando da gaiola os

animaizinhos soltos no apascentavam, mandou-os

serem submergidos na gua, para que bebessem, j que

no queriam comer? Esse riso, vencida a armada,

trouxe a ele muitas lgrimas, grande runa ao povo

romano. Por que seu colega, L. Jnio, na mesma

guerra no perdeu a armada, quando no se submeteu

aos aupcios? E assim Cldio foi condenado pelo povo,

o prprio Jnio se suicidou.

19 Quos augures.

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[8] C. Flaminium Coelius religione neglecta cecidisse

apud Transumenum scribit cum magno rei publicae

uulnere. Quorum exitio intellegi potest eorum imperiis

rem publicam amplificatam, qui religionibus

paruissent. Et si conferre uolumus nostra cum externis,

ceteris rebus aut pares aut etiam inferiores reperiemur,

religione, id est cultu deorum, multo superiores.

Clio escreve que Caio Flamnio, tendo negligenciado

a religio, morreu junto ao Trasmeno com uma grande

aflio para a Repblica. Pela runa daqueles pode ser

entendido que a Repblica foi ampliada sob o

comando daqueles que se submetiam aos ritos

religiosos. E se desejamos comparar nossas coisas com

as estrangeiras, em outras coisas seremos descobertos

ou iguais ou tambm inferiores, na religio, isto , no

culto dos deuses, muito superiores.

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[9] An Atti Naui lituus ille, quo ad inuestigandum

suem regiones uineae terminauit, contemnendus est?20

Crederem, nisi eius augurio rex Hostilius maxima bella

gessisset. Sed neglegentia nobilitatis augurii disciplina

omissa ueritas auspiciorum spreta est, species tantum

retenta; itaque maximae rei publicae partes, in is bella

quibus rei publicae salus continetur, nullis auspiciis

administrantur, nulla peremnia seruantur, nulla ex

acuminibus, nulli uiri uocantur, ex quo in procinctu

testamenta perierunt21; tum enim bella gerere nostri

duces incipiunt, cum auspicia posuerunt.

20 : An Atti Naui lituus ille, quo ad inuestigandum suem

regiones uineae terminauit, contemnendus est?

: An Atti Nauii lituus ille contemnendus est? 21 : nulli viri uocantur, ex quo in procinctu testamenta

perierunt.

: nulla, cum uiri uocantur, ex quo in procinctu testamenta

perierunt.

Por acaso deve ser desprezado aquele litus22 de Ato

Nvio, com o qual delimitou as regies de vinha, a

procurar um suno? Acreditaria se o rei Hostlio no

tivesse produzido grandes guerras com seu augrio.

Mas pela negligncia da nobreza a disciplina do

augrio foi abandonada, a verdade dos auspcios foi

desprezada, a aparncia to somente mantida; assim as

questes maiores da Repblica, nelas as guerras em

que se mantm o bom estado da Repblica por nenhum

auspcio so administradas, nenhum auspcio23

preservado, nenhum tirado das pontas das lanas,

nenhum homem chamado, a partir disso em campo

de batalha os testamentos pereceram; pois os nossos

comandantes comeavam a fazer guerras, quando

estabeleciam os auspcios.

22 Lituus uma espcie de basto recurvado de agoureiros. 23 Peremnia: auspcio tomado antes de atravessar um rio.

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[10] At uero apud maiores tanta religionis uis fuit, ut

quidam imperatores etiam se ipsos dis inmortalibus

capite uelato uerbis certis pro re publica deuouerent.

Multa ex Sibyllinis uaticinationibus, multa ex

haruspicum responsis commemorare possum quibus ea

confirmentur, quae dubia nemini debent esse. Atqui et

nostrorum augurum et Etruscorum haruspicum

disciplinam P. Scipione C. Figulo consulibus res ipsa

probauit. Quos cum Ti. Gracchus consul iterum

crearet, primus rogator, ut eos rettulit, ibidem est

repente mortuus. Gracchus cum comitia nihilo minus

peregisset remque illam in religionem populo uenisse

sentiret, ad senatum rettulit. Senatus quos ad soleret,

referendum censuit. Haruspices introducti

responderunt non fuisse iustum comitiorum rogatorem.

Mas na verdade entre os mais antigos foi tamanha a

fora da religio que alguns comandantes tambm se

consagraram eles mesmos aos deuses imortais, com a

cabea coberta por determinadas palavras por causa da

Repblica. Posso mencionar muitas coisas dos

vaticnios da Sibila, muitas coisas das respostas dos

arspices com as quais confirmado aquilo, que a

ningum deve ser dbio. Entretanto, o prprio fato, em

relao aos cnsules Pblio Cipio e Caio Fgulo,

demonstrou tanto a disciplina dos nossos ugures,

quanto dos arspices etruscos. Quando o cnsul

Tibrio Graco os elegera pela segunda vez, o primeiro

rogator24, quando os restituiu, no mesmo lugar

subitamente morreu. Graco, quando finalizou, todavia,

as assembleias e sentiu que aquele fato entraria na

religio para o povo, remeteu ao Senado. O Senado os

derrubou, declarou que deveriam ser repetidas. Os

arspices introduzidos responderam que o rogator das

assembleias no foi justo.

24 Pessoa que solicita votos para um candidato.

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[11] Tum Gracchus, ut e patre audiebam, incensus ira:

itane uero, ego non iustus, qui et consul rogaui et

augur et auspicato? an uos Tusci ac barbari

auspiciorum populi Romani ius tenetis et interpretes

esse comitiorum potestis? itaque tum illos exire iussit.

Post autem e prouincia litteras ad collegium misit, se

cum legeret libros recordatum esse uitio sibi

tabernaculum captum fuisse hortos Scipionis, quod,

cum pomerium postea intrasset habendi senatus causa,

in redeundo cum idem pomerium transiret auspicari

esset oblitus; itaque uitio creatos consules esse.

Augures rem ad senatum; senatus ut abdicarent

consules; abdicauerunt. Quae quaerimus exempla

maiora: uir sapientissimus atque haud sciam an

omnium praestantissimus peccatum suum, quod celari

posset, confiteri maluit quam haerere in re publica

religionem, consules summum imperium statim

deponere quam id tenere punctum temporis contra

religionem.

Ento, Graco, como eu ouvia de meu pai, foi

inflamado pela ira: Ser possvel, no sou justo eu,

que tanto como cnsul, quanto como ugure, como

consultando os auspcios, supliquei? Por acaso vs,

etruscos e brbaros, possuis o direito dos auspcios do

povo Romano e podeis ser os intrpretes das

assembleias? E assim ordenou que eles sassem.

Porm depois enviou da provncia uma carta aos

magistrados, quando lia livros, recordou-se que a tenda

do arspice25 tinha sido tomada pelo seu ultraje,

porque, quando entrou depois no pomrio a fim de

convocar o Senado, ao retornar aos jardins de Cipio,

quando atravessou o mesmo pomrio, esqueceu-se de

tomar os auspcios; e assim os cnsules foram eleitos

por um ultraje. Os ugures disseram o fato ao Senado,

o Senado disse que os cnsules abdicassem,

abdicaram. Estes grandes exemplos procuramos: um

homem muito sbio e no sei se o mais notvel de

todos preferiu reconhecer seu erro, que podia ser

ocultado, a prejudicar a religio na Repblica, os

cnsules preferiram depor imediatamente a suprema

autoridade a conserv-la por mais tempo contra a

religio.

25 Tabernaculum.

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[12] Magna augurum auctoritas; quid haruspicum ars

nonne diuina? Haec [et] innumerabilia ex eodem

genere qui uideat nonne cogatur confiteri deos esse?

Quorum enim interpretes sunt, eos ipsos esse certe

necesse est; deorum autem interpretes sunt; deos igitur

esse fateamur. At fortasse non omnia eueniunt, quae

praedicta sunt. Ne aegri quidem quia non omnes

conualescunt, idcirco ars nulla medicina est. Signa

ostenduntur a dis rerum futurarum; in his si qui

errauerunt, non deorum natura, sed hominum

coniectura peccauit. Itaque inter omnis omnium

gentium summa constat; omnibus enim innatum est et

in animo quasi inscriptum esse deos26.

26 : et in animo quasi insculptum, esse deos.

: et in animo quasi insculptum esse deos.

: et in animo quase insculptum esse deos.

O particpio insculptum usado nas demais edies mais

coerente com essa passagem do texto do que inscriptum, usado

na edio , por isso houve a preferncia, na traduo, pelo uso de insculptum, ou seja, o que est gravado.

Grande a autoridade dos ugures; no verdade que

a arte dos arspices divina? Quem v essas coisas e

outras inumerveis do mesmo gnero, no verdade

que seja conduzido a reconhecer que os deuses

existem? Delas existem, pois, intrpretes, necessrio

certamente que eles mesmos existam; porm existem

intrpretes dos deuses; confessamos ento que os

deuses existem. Mas possivelmente no ocorrem todas

as coisas que foram preditas. Nem mesmo porque

todos os doentes no se recuperam, por isso no h

nenhuma arte na medicina. Os sinais das coisas futuras

so mostrados pelos deuses; nisto se alguns erraram,

no errou a natureza dos deuses, mas a conjectura dos

homens. Assim entre todos constam elevadas coisas de

todos os povos; pois para todos inato e est quase

como inscrito na alma que os deuses existem.

D a N a t u r e z a d o s D e u s e s I I ( D e N a t u r a D e o r u m L i b e r I I ) | 29

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[13] Quales sint, uarium est, esse nemo negat.

Cleanthes quidem noster quattuor de causis dixit in

animis hominum informatas deorum esse notiones,

primam posuit eam, de qua modo dixi, quae orta esset

ex praesensione rerum futurarum; alteram, quam

ceperimus ex magnitudine commodorum, quae

percipiuntur caeli temperatione, fecunditate terrarum

aliarumque commoditatum complurium copia;

Quais so, incerto, ningum nega que existam. Nosso

Cleante certamente falou de acordo com quatro causas

que as noes dos deuses tm sido formadas nas almas

dos homens, ps em primeiro aquela que tem sido

gerada a partir das coisas futuras, sobre a qual ainda h

pouco falei; em segundo, aquela que temos recebido a

partir da grandeza dos benefcios, que so percebidos

da organizao do cu, da fecundidade das terras e da

abundncia de outras numerosas vantagens;

D a N a t u r e z a d o s D e u s e s I I ( D e N a t u r a D e o r u m L i b e r I I ) | 30

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[14] tertiam quae terreret animos fulminibus,

tempestatibus, nimbis, niuibus, grandinibus, uastitate,

pestilentia, terrae motibus et saepe fremitibus

lapideisque imbribus et guttis imbrium quasi cruentis,

tum labibus aut repentinis terrarum hiatibus, tum

praeter naturam hominum pecudumque portentis, tum

facibus uisis caelestibus, tum stellis is quas Graeci

, nostri cincinnatas uocant, quae nuper bello

Octauiano magnarum fuerunt calamitatum praenuntiae

, tum sole geminato, quod, ut e patre audiui, Tuditano

et Aquilio consulibus euenerat, quo quidem anno P.

Africanus, sol alter, extinctus est, quibus exterriti

homines uim quandam esse caelestem et diuinam

suspicati sunt;

em terceiro, aquela que aterrorizava os nimos com

raios, com tempestades, com nuvens, com neves, com

granizos, com devastaes, com pestes, com

movimentos de terra, tanto frequetemente com rudos e

com chuvas de pedras, quanto com gotas de chuva

como se fossem de sangue; por um lado, com runas ou

com repentinas aberturas de terras, por outro, com

pressgios alm da natureza dos homens e dos

animais; no s, com estrelas cadentes27 vistas nos

cus, mas tambm, com estrelas as que os gregos

chamam de 28, os nossos chamam de estrelas

cabeludas, que h pouco tempo na guerra de Otaviano

foram pressgios de grandes calamidades como com

um Sol duplicado, porque, como ouvi do meu pai,

tinha ocorrido outro sol nos consulados de Tuditano e

Aqulio, naquele ano certamente Pblio Africano foi

morto, apavorados com essas coisas os homens

suspeitaram de que havia alguma fora celeste e

divina;

27 Facibus. 28 Cometas.

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[15] quartam causam esse eamque uel maximam

aequabilitatem motus [constantissimamque]

conuersionem caeli, solis lunae siderumque omnium

distinctionem, utilitatem29, pulchritudinem, ordinem,

quarum rerum aspectus ipse satis indicaret non esse ea

fortuita: ut, si quis in domum aliquam aut in

gymnasium aut in forum uenerit, cum uideat omnium

rerum rationem, modum, disciplinam, non possit ea

sine causa fieri iudicare, sed esse aliquem intellegat,

qui praesit et cui pareatur, multo magis in tantis

motionibus tantisque uicissitudinibus, tam multarum

rerum atque tantarum ordinibus, in quibus nihil

umquam inmensa et infinita uetustas mentita sit,

statuat necesse est ab aliqua mente tantos naturae

motus gubernari.

29 : uel maxumam, aequabilitatem motus, conuersionem caeli:

solis, lunae, siderumque omnium distinctionem, uarietatem (...).

: uel maximam, aequabilitatem motus conuersionumque caeli,

solis, lunae siderumque omnium distictionem, uarietatem (...).

ps como quarta causa que h tanto aquela mxima de

igualdade de movimento, quanto a constantssima

rotao do cu, do sol, da lua, como a distino, a

utilidade, a beleza, a ordem de todos os astros, dessas

coisas, o prprio aspecto indicava sufucientemente que

elas no so fortuitas: de modo que se algum tivesse

vindo a alguma casa, ou a um ginsio, ou a um frum,

quando visse a medida, a ordem, a disciplina de todas

as coisas no possa julgar que elas existem sem uma

causa, mas entende que existe algum que preside e ao

qual se submete, quanto mais em to grandes

movimentos e to grandes vicissitudes, nas ordens de

to numerosas e to grandes coisas, nas quais nunca

um imenso e infinito espao de tempo se imaginou,

necessrio estabelecer que tantos movimentos da

natureza so comandados por alguma mente.

D a N a t u r e z a d o s D e u s e s I I ( D e N a t u r a D e o r u m L i b e r I I ) | 32

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[16] Chrysippus quidem, quamquam est acerrimo

ingenio, tamen ea dicit, ut ab ipsa natura didicisse, non

ut ipse repperisse uideatur. Si enim inquit est

aliquid in rerum natura quod hominis mens, quod ratio,

quod uis, quod potestas humana efficere non possit, est

certe id, quod illud efficit, homine melius; atqui res

caelestes omnesque eae, quarum est ordo sempiternus,

ab homine confici non possunt; est igitur id, quo illa

conficiuntur, homine melius. Id autem quid potius

dixeris quam deum? Etenim si di non sunt, quid esse

potest in rerum natura homine melius; in eo enim solo

est ratio, qua nihil potest esse praestantius; esse autem

hominem, qui nihil in omni mundo melius esse quam

se putet, desipientis adrogantiae est; ergo est aliquid

melius. est igitur profecto deus.

Crisipo certamente, embora seja de aguada

inteligncia, afirma, porm, isto, como ele parece ter

aprendido com a prpria natureza, no porque parea

ter descoberto. Disse: Se, pois, h na natureza das

coisas algo, que a mente dos homens, que a razo, que

a fora, que o poder humano no pode realizar,

certamente o que o realiza melhor do que o homem;

mas de qualquer modo as coisas celestes e todas

aquelas cuja ordem eterna, no podem ser realizadas

pelo homem; ento aquilo por que elas so realizadas,

melhor do que o homem. Isso, porm, chamars mais

de que seno de deus? Efetivamente se os deuses no

existem, o que pode haver na natureza das coisas

melhor do que o homem; pois s nele h razo, nada

pode ser mais notvel do que ela; porm de uma

arrogncia tola que exista homem que pense que em

todo mundo no h nada de melhor do que ele;

portanto, h algo melhor. , pois, certamente um deus.

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[17] An uero, si domum magnam pulchramque uideris,

non possis adduci ut, etiam si dominum non uideas,

muribus illam et mustelis aedificatam putes: tantum

ergo ornatum mundi, tantam uarietatem

pulchritudinemque rerum caelestium, tantam uim et

magnitudinem maris atque terrarum si tuum ac non

deorum inmortalium domicilium putes, nonne plane

desipere uideare? An ne hoc quidem intellegimus

omnia supera esse meliora, terram autem esse

infimam, quam crassissimus circumfundat aer: ut ob

eam ipsam causam, quod etiam quibusdam regionibus

atque urbibus contingere uidemus, hebetiora ut sint

hominum ingenia propter caeli pleniorem naturam, hoc

idem generi humano euenerit, quod in terra hoc est in

crassissima regione mundi conlocati sint.

Caso tenhas visto uma casa grande e bela, no podes

por ventura ser certamente induzido a que julgues,

ainda que no vejas o dono, que ela foi construda por

ratos e doninhas: portanto, julgas to grande nmero

de ornamentos do mundo, to grande variedade e

beleza das coisas celestes, to grande fora e grandeza

do mar e das terras, se julgas como tua morada e no

dos deuses imortais, no verdade que pareas ter

perdido completamente o juzo? Ou nem mesmo

compreendemos que todas as coisas superiores so

melhores do que isto, a terra, porm, a mais baixa, a

qual um ar muito espesso envolve, como por esta

mesma causa, o que tambm vemos acontecer em

algumas regies e cidades, pois a inteligncia dos

homens muito rude perto da mais completa natureza

do cu, isto mesmo tem ocorrido ao gnero humano:

que fosse colocado na terra, isto , na regio mais

baixa do mundo.

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[18] Et tamen ex ipsa hominum sollertia esse aliquam

mentem et eam quidem acriorem et diuinam existimare

debemus. Vnde enim hanc homo arripuit, ut ait apud

Xenophontem Socrates, quin et umorem et calorem,

qui est fusus in corpore, et terrenam ipsam uiscerum

soliditatem, animum denique illum spirabilem, si quis

quaerat, unde habeamus, apparet; quorum aliud a terra

sumpsimus30, aliud ab umore, aliud ab igni, aliud ab

aere eo, quem spiritum dicimus, illud autem, quod

uincit haec omnia, rationem dico et, si placet pluribus

uerbis, mentem, consilium, cogitationem, prudentiam,

ubi inuenimus, unde sustulimus? An cetera mundus

habebit omnia, hoc unum, quod plurimi est, non

habebit? Atqui certe nihil omnium rerum melius est

mundo, nihil praestantius, nihil pulchrius, nec solum

nihil est, sed ne cogitari quidem quicquam melius

potest. Et si ratione et sapientia nihil est melius,

necesse est haec inesse in eo, quod optimum esse

concedimus.

30 : quod aliud a terra sumpsimus (...).

: quod aliud a terra sumpsimus (...).

E, porm, a partir da prpria esperteza dos homens,

devemos pensar que h alguma mente, tanto mais

aguada certamente, quanto divina. De onde, pois, o

homem tirou esta mente? Como disse Scrates, em

Xenofonte, visvel que no saibamos de onde vem

tanto a umidade quanto o calor, que foi espalhado no

corpo, como a prpria solidez terrena das entranhas, e

por fim aquele nimo31 vital, se algum pergunta;

dessas coisas, uma recebemos da terra, outra da

umidade, outra do fogo, outra do ar, este que

chamamos de esprito, mas aquilo que vence tudo isto,

chamo de razo e, se apraz com muitas palavras, de

mente, de conselho, de pensamento, de prudncia,

onde encontramos, de onde tiramos? Ou o mundo ter

todas as outras coisas, no ter esta nica que mais

importante? Mas certamente nada de todas essas coisas

melhor do que o mundo, nada mais notvel, nada

mais belo, nem s no existe nada, mas nem mesmo

pode-se pensar em algo melhor. E se nada melhor do

que a razo e a sabedoria, necessrio que esteja nele

isto que concedemos ser melhor.

31 Animum: princpio pensante, vontade, desejo.

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[19] Quid uero tanta rerum consentiens, conspirans,

continuata cognatio quem non coget ea, quae dicuntur

a me, conprobare? Possetne uno tempore florere, dein

uicissim horrere terra, aut tot rebus ipsis se

inmutantibus solis accessus discessusque solstitiis

brumisque cognosci. Aut aestus maritimi fretorumque

angustiae ortu aut obitu lunae commoueri, aut una

totius caeli conuersione cursus astrorum dispares

conseruari? Haec ita fieri omnibus inter se

concinentibus mundi partibus profecto non possent,

nisi ea uno diuino et continuato spiritu continerentur.

Por que certamente tamanha semelhana contnua,

consentida, concordada, entre as coisas, no levar

algum32 a comprovar o que foi dito por mim? Por

acaso poderia a terra em um s momento florescer,

depois inversamente definhar, ou em todas essas coisas

que se transformam, serem conhecidas a aproximao

e o afastamento do Sol nos solstcios de vero e de

inverno; ou serem movidas as agitaes do mar e dos

estreitos pelo nascimento ou distanciamento da lua, ou

em uma nica rotao de todo o cu serem

conservados os diversos cursos dos astros? Assim

essas coisas no poderiam certamente ocorrer em todas

as partes do mundo que esto em harmonia entre si, a

no ser que elas fossem conservadas por um nico e

contnuo esprito.

32 Quem.

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[20] Atque haec cum uberius disputantur et fusius, ut

mihi est in animo facere, facilius effugiunt

Academicorum calumniam; cum autem, ut Zeno

solebat, breuius angustiusque concluduntur, tum

apertiora sunt ad reprendendum, nam ut profluens

amnis aut uix aut nullo modo, conclusa autem aqua

facile conrumpitur, sic orationis flumine reprensoris

conuicia diluuntur, angustia autem conclusae rationis33

non facile se ipsa tutatur. Haec enim, quae dilatantur a

nobis, Zeno sic premebat:

33 : autem conclusae orationis (...).

: autem conclusae orationis (...).

E essas coisas quando so discutidas mais abundante e

solidamente, como est no meu nimo fazer, escapam

mais facilmente da acusao dos acadmicos; quando,

porm, como costumava Zeno, so concludas mais

breve e concisamente, ento esto mais abertas

refutao, como, pois, um rio que corre, ou com

dificuldade ou sem ritmo, a gua parada, porm,

facilmente arruinada, assim as refutaes do crtico se

diluem no rio do discurso, porm a angstia de um

pensamento concludo no defendida facilmente por

si mesma. Pois estas coisas que so tratadas por ns,

Zeno expunha assim:

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[21] Quod ratione utitur, id melius est quam id, quod

ratione non utitur; nihil autem mundo melius; ratione

igitur mundus utitur, similiter effici potest sapientem

esse mundum, similiter beatum, similiter aeternum;

omnia enim haec meliora sunt quam ea, quae sunt his

carentia, nec mundo quicquam melius. Ex quo

efficietur esse mundum deum.

O que se utiliza da razo, isto melhor do que aquilo,

que no se utiliza da razo; nada, porm, melhor do

que o mundo, ento o mundo se utiliza da razo,

igualmente pode-se concluir que o mundo sbio,

igualmente beato, igualmente eterno; pois todas estas

coisas so melhores do que aquelas que so privadas

delas, no h nada melhor do que o mundo. A partir

disso, conclu-se- que o mundo um deus.

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[22] Idemque hoc modo: Nullius sensu carentis pars

aliqua potest esse sentiens; mundi autem partes

sentientes sunt; non igitur caret sensu mundus. Pergit

idem et urguet angustius: Nihil, inquit quod animi

quodque rationis est expers, id generare ex se potest

animantem compotemque rationis; mundus autem

generat animantis compotesque rationis; animans est

igitur mundus composque rationis. Idemque

similitudine, ut saepe solet, rationem conclusit hoc

modo: Si ex oliua modulate canentes tibiae

nascerentur, num dubitares, quin inesset in oliua

tibicini quaedam scientia? Quid si platani fidiculas

ferrent numerose sonantes: idem scilicet censeres in

platanis inesse musicam, cur igitur mundus non

animans sapiensque iudicetur, cum ex se procreet

animantis atque sapientis?

E ele34 expunha deste modo: Nenhuma parte de nada

privado de sentido pode ser sensvel, porm as partes

do mundo so sensveis; ento o mundo no est

privado de sentido. Ele continua e insiste mais

concisamente, diz: Nada que desprovido de alma e

o que desprovido de razo, nada disto pode gerar de

si um ser animado e dotado de razo, porm o mundo

gera seres animados e dotados de razo; ento o

mundo animado e dotado de razo. E ele

semelhantemente, como sempre costuma, concluiu o

pensamento deste modo: Se a partir de uma oliveira

nascessem flautas que tocam melodiosamente, por

acaso duvidarias de que houvesse na oliveira alguma

cincia da arte da flauta? Porque, se os pltanos

produzissem pequenas liras harmoniosas em grande

nmero, tu mesmo pensarias certamente que haveria

msica nos pltanos, por que ento o mundo no

considerado animado e sbio, quando gera de si seres

animados e sbios?

34 Idem: Zeno.

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[23] Sed quoniam coepi secus agere atque initio

dixeram (negaram enim hanc primam partem egere

oratione, quod esset omnibus perspicuum deos esse),

tamen id ipsum rationibus physicis, id est naturalibus,

confirmari uolo35. Sic enim res se habet, ut omnia,

quae alantur et quae crescant, contineant in se uim

caloris, sine qua neque ali possent nec crescere. Nam

omne quod est calidum et igneum cietur et agitur motu

suo; quod autem alitur et crescit motu quodam utitur

certo et aequabili; qui quam diu remanet in nobis, tam

diu sensus et uita remanet, refrigerato autem et

extincto calore occidimus ipsi et extinguimur.

35 : tamen id ipsum rationibus physicis confirmare uolo.

: tamen id ipsum rationibus physicis confirmare uolo.

Mas depois que comecei a tratar diferentemente como

dissera no incio (pois negara que esta primeira parte

tem necessidade de um discurso, porque estaria claro

para todos que os deuses existem), porm quero que se

confirme isto mesmo com argumentos fsicos, isto ,

naturais. Pois a coisa se conhece assim, como todas as

coisas, que so alimentadas e que crescem, contm em

si uma quantidade de calor, sem a qual no podem ser

alimentadas nem crescer. Pois tudo que quente e

gneo se move e se movimenta atravs de seu

movimento; porm o que alimentado e cresce,

utiliza-se de algum movimento determinado e

uniforme, tanto durante muito tempo permanece o

sentido e a vida, quanto o movimento36 durante muito

tempo permanece em ns, porm sendo resfriado e

sendo extinto o calor, ns mesmos morremos e somos

extintos.

36 Qui.

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[24] Quod quidem Cleanthes his etiam argumentis

docet, quanta uis insit caloris in omni corpore: negat

enim esse ullum cibum tam grauem, quin is nocte et

die concoquatur; cuius etiam in reliquiis inest calor iis,

quas natura respuerit. Iam uero uenae et arteriae

micare non desinunt quasi quodam igneo motu,

animaduersumque saepe est, cum cor animantis

alicuius euolsum ita mobiliter palpitaret, ut imitaretur

igneam celeritatem. Omne igitur, quod uiuit, siue

animal, siue terra editum, id uiuit propter inclusum in

eo calorem, ex quo intellegi debet eam caloris naturam

uim habere in se uitalem per omnem mundum

pertinentem.

O que certamente Cleantes ensina tambm com estes

argumentos, quanta fora de calor se encontra em todo

corpo, pois nega haver algum alimento to pesado que

no seja digerido por eles de noite e de dia, h calor

tambm naqueles restos de alimento37, os quais a

natureza tem repelido. Agora certamente as veias e as

artrias no deixam de palpitar como que por certo

movimento gneo, e sempre foi percebido, quando

retirado o corao de qualquer ser animado palpitava

assim vivamente, como reproduzisse a rapidez do

fogo. Ento tudo que vive, ou animal, ou sado da

terra, isto vive por causa do calor posto nele, a partir

disto deve-se compreender que aquela natureza do

calor tem em si uma fora vital que se estende por todo

o mundo.

37 Cuius.

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[25] Atque id facilius cernemus toto genere hoc igneo,

quod tranat omnia subtilius explicato. Omnes igitur

partes mundi (tangam autem maximas) calore fultae

sustinentur. Quod primum in terrena natura perspici

potest. Nam et lapidum conflictu atque tritu elici

ignem uidemus et recenti fossione terram fumare

calentem, atque etiam ex puteis iugibus aquam calidam

trahi, et id maxime fieri temporibus hibernis, quod

magna uis terrae cauernis contineatur caloris eaque

hieme sit densior ob eamque causam calorem insitum

in terris contineat artius.

E perceberemos isto mais facilmente em todo este

gnero gneo, tendo sido explicado, o qual passa mais

sutilmente atravs de tudo.

Ento, todas as partes firmes do mundo (pegarei,

porm, as maiores) sustentam-se pelo calor. O que

primeiramente pode ser visto na natureza terrena.

Vemos, pois, tanto o fogo ser produzido do encontro e

do atrito das pedras, quanto a terra ardente fumegar em

uma recente escavao e tambm de poos perenes ser

extrada gua quente, como vemos isto ocorrer,

sobretudo, nos invernos, porque uma grande

quantidade de calor est contida nas cavidades da terra

e aquela no inverno mais densa, e por tal causa,

contm mais estreitamente o calor introduzido na terra.

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[26] Longa est oratio multaeque rationes, quibus

doceri possit omnia, quae terra concipiat, semina

quaeque ipsa ex se generata stirpibus infixa contineat

ea temperatione caloris et oriri et augescere. Atque

aquae etiam admixtum esse calorem primum ipse

liquor aquae declarat et fusio, quae neque conglaciaret

frigoribus neque niue pruinaque concresceret, nisi

eadem se admixto calore liquefacta et dilapsa

diffunderet; itaque et aquilonibus reliquisque

frigoribus adiectis durescit umor, et idem uicissim

mollitur tepefactus et tabescit calore. Atque etiam

maria agitata uentis ita tepescunt, ut intellegi facile

possit in tantis illis umoribus esse inclusum calorem;

nec enim ille externus et aduenticius habendus est

tepor, sed ex intumis maris partibus agitatione

excitatus, quod nostris quoque corporibus contingit,

cum motu atque exercitatione recalescunt. Ipse uero

aer, qui natura est maxime frigidus, minime est expers

caloris;

Longo o discurso e muitos os argumentos, com os

quais se pode ensinar que todas as sementes, que a

terra produz, e aquelas que ela mesma contm, geradas

a partir de si, fixadas pelas razes, nesta mistura de

calor tanto nascem quanto crescem. E tambm a

prpria fluidez da gua demonstra que o calor foi

primeiramente misturado gua e a difuso, que no

se congelava com o frio, nem se condensava com a

neve e nem com a geada, a no ser que a mesma,

misturando-se com o calor, se espalhasse liquefeita e

derretida; assim tanto o lquido se endurece com a

aproximao do Aquilo38 e das demais frentes frias,

quanto o mesmo, ao contrrio, aquecido amolece e se

derrete com o calor. E tambm os mares agitados pelos

ventos se aquecem assim como facilmente pode ser

percebido que o calor foi includo naqueles tantos

lquidos, pois nem aquele calor moderado deve ser

considerado externo e adventcio, mas estimulado pela

agitao das mais profundas partes do mar, o que

chega tambm aos nossos corpos, quando se aquecem

com movimento e o exerccio. O prprio ar,

certamente, que por natureza , sobretudo, frio, no

est isento de calor;

38 Vento do Norte.

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[27] ille uero et multo quidem calore admixtus est: ipse

enim oritur ex respiratione aquarum; earum enim quasi

uapor quidam aer habendus est, is autem existit motu

eius caloris, qui aquis continetur, quam similitudinem

cernere possumus in his aquis, quae efferuescunt

subiectis ignibus39. Iam uero reliqua quarta pars

mundi: ea et ipsa tota natura feruida est et ceteris

naturis omnibus salutarem inpertit et uitalem calorem.

39 : quae efferuescunt subditis ignibus.

: quae efferuescunt subditis ignibus.

na verdade, ele foi certamente misturado tambm com

muito calor; pois o mesmo nasce a partir da

evaporao das guas; o ar, pois, deve ser considerado

por assim dizer certo vapor delas, mas este surge do

movimento daquele calor que est contido nas guas,

tamanha semelhana podemos perceber nestas guas

que entram em ebulio quando so submetidas ao

fogo. Agora, certamente, a quarta parte que resta do

mundo, tanto ela toda ardente pela prpria natureza,

quanto partilha com todas as outras naturezas um calor

salutar e vital.

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[28] Ex quo concluditur, cum omnes mundi partes

sustineantur calore, mundum etiam ipsum simili

parique natura in tanta diuturnitate seruari, eoque

magis, quod intellegi debet calidum illud atque igneum

ita in omni fusum esse natura, ut in eo insit procreandi

uis et causa gignendi, a quo et animantia omnia et ea,

quorum stirpes terra continentur, et nasci sit necesse et

augescere.

A partir disto, conclui-se que, como todas as partes do

mundo se sustentam com o calor, tambm o prprio

mundo conservado por semelhante e igual natureza

em tamanha durao, e mais do que isso, o40 que deve

ser entendido como clido e gneo, tem sido difundido

assim em to