a n s i e d a d e m t c e d o e n ç a s m e n t a i s

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Entrevista com Ana Varela ...no seguimento do workshop Panda sobre MTC e as Doenças Mentais em Dez/2019 MTC e doenças mentais - Ansiedade Entrevista com Ana Varela MTC no tratamento da Ansiedade Dados recolhidos do relatório "Health at a Glance: 18,4% da população portuguesa, ou seja, quase um É nos jovens, entre os 18 e os 34 anos, que se verifica maior prevalência da doença mental, com Entrevistas & Workshops Panda 1. Europe 2018 - State of health in the EU cycle" indicam que: quinto dos portugueses, sofre de doenças mentais; a ansiedade no topo da lista. Estes números causam-lhe perplexidade pela sua dimensão? Que explicação encontra? AV: A ansiedade é uma manifestação de medo persistente ou recorrente associado ou não a um objecto ou situação específica, acompanhado, frequentemente, por alterações fisiológicas específicas tais como o aumento da frequência cardíaca e da frequência respiratória. Se não houver consciência, esta hiperventilação pode paralisar o pulmão e destabilizar todas as funções orgânicas e causar pânico. Ora o medo é uma reacção natural face aos novos desafios, às novas experiências e às exigências crescentes do mundo em que vivemos. Os jovens portugueses sentem particularmente esta situação, a vida em Portugal é mais difícil do que em muitos países da Europa e é portanto com muito custo e esforço que conseguem sustentar uma casa, a vida familiar e ter autonomia. Não admira pois que seja na idade em que é preciso dar um rumo à vida e vencer estas dificuldades que se verifica uma maior prevalência da ansiedade.

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Entrevista comAna Varela

...no seguimento doworkshop Panda sobreMTC e as DoençasMentais em Dez/2019

MTC e doenças mentais -Ansiedade

Entrevista com Ana Varela

MTC no tratamento daAnsiedade

Dados recolhidos do relatório "Health at a Glance:

18,4% da população portuguesa, ou seja, quase um

É nos jovens, entre os 18 e os 34 anos, que severifica maior prevalência da doença mental, com

Entrevistas & Workshops Panda

1.Europe 2018 - State of health in the EU cycle" indicam que:

quinto dos portugueses, sofre de doenças mentais;

a ansiedade no topo da lista. Estes números causam-lhe perplexidade pela suadimensão? Que explicação encontra? AV: A ansiedade é uma manifestação de medopersistente ou recorrente associado ou não a umobjecto ou situação específica, acompanhado,frequentemente, por alterações fisiológicas específicastais como o aumento da frequência cardíaca e dafrequência respiratória. Se não houver consciência,esta hiperventilação pode paralisar o pulmão edestabilizar todas as funções orgânicas e causarpânico.

Ora o medo é uma reacção natural faceaos novos desafios, às novas experiências eàs exigências crescentes do mundo emque vivemos. Os jovens portuguesessentem particularmente esta situação, avida em Portugal é mais difícil do que emmuitos países da Europa e é portanto commuito custo e esforço que conseguemsustentar uma casa, a vida familiar e terautonomia. Não admira pois que seja na idade em queé preciso dar um rumo à vida e vencerestas dificuldades que se verifica umamaior prevalência da ansiedade.

Agrava esta condição o facto destes jovens dependeremininterruptamente de “devices” como refere AntónioDamásio, o que implica, de acordo com a MTC, umamaior debilidade do Qi e Sangue por excesso deactividade mental e uma sobrecarga informacionalsobre o Coração (Shen) e Baço (Yi). Ora a abundância eriqueza do Sangue e a sua boa circulação são factoresestabilizadores da actividade mental. A híper-informação dos dias de hoje é para alguns excessiva.Para outros é o excesso de emoções repentinasveiculadas pelas redes sociais que causam estagnaçãoda circulação do Qi do Fígado e, com o decorrer dotempo, ou uma mente enfraquecida ou uma menteobstruída com estados de ansiedade instalados.Portanto é fundamental que os jovens encarem aansiedade de frente, percebam o seu mecanismo eencontrem soluções para o seu controlo. 2. Existe uma procura crescente da MTC no tratamentode patologias do foro emocional, talvez pelo facto deos pacientes quererem evitar o recurso aos fármacos.Na sua prática clínica, constata e confirma estatendência? E qual é a percentagem dos pacientes queprocuram a vossa clínica para este tipo de patologias?     AV: Tem e continua a haver uma procura da MTC para otratamento das patologias do foro emocional. Para aMTC as emoções ou os sentimentos primordiais de quefala António Damásio estão associadas aos diferentesórgãos e podem ser tratadas a partir da regulação dosmesmos. Na minha clínica a percentagem de pacientesque procura a MTC com esta queixa ronda os 30%, masnão é esta percentagem que tem variado mais. O quetem variado são os novos casos de pessoas mais jovenscom ataques de pânico (perturbações da ansiedade deacordo com a DSM-5). 3. Na ótica da medicina convencional, existemduas formas de tratar a ansiedade: através dapsicoterapia ou com fármacos. O que pode a MTCacrescentar de diferente no tratamento da ansiedade?  AV: A MTC faz um o exame exaustivo do pacienteatravés dos seus métodos de diagnóstico compostopelo interrogatório, observação e a palpação dos pulsose meridianos. Regista os sinais e sintomas aos quaisatribui significado clínico e organiza-os no seudiagnóstico diferencial.

Como a MTC não separa o físico do psíquicoé possível após o diagnóstico diferencialentender se o paciente apresenta umacondição de vazio ou de excesso, se acondição resulta de uma acção externa,interna ou de ambas, quais os órgãos maisdesequilibrados, qual a combinação deemoções que o afectam e discernir adominante. Verificar também como é que acondição dos órgãos envolvidos interage equal o seu efeito na perturbação dasemoções analisadas no paciente. É possívelainda determinar o tipo de mente associadaà condição diagnosticada, se estamosperante uma mente perturbada,enfraquecida ou mente obstruída. No casoda ansiedade a mente perturbada é a maiscomum. Tendo o diagnóstico estabelecido, é possíveldefinir a estratégia terapêutica e decidirqual a síndroma ou síndromas que sãotratadas em primeiro lugar e qual o métodoque melhor se ajusta ao seu tratamento. AMTC não separa corpo, energia e mente,sabe como influenciar o todo a partir decada uma das suas partes, domina as suasligações, tem como direcção a harmonia doYin e do Yang e a sua expressão nasinteracções dos diferentes órgãos esistemas, o que lhe permite ler as respostasúnicas de cada paciente.  

Perfil de Ana Varela Antes de descobrir a MTC, estudou e fezdoutoramento em  Exercício e Saúde pelaUTL/Faculdade Motricidade Humana, dadaa ligação próxima que sempre mantevecom o desporto, tendo sido durante a suajuventude, atleta de competição devoleibol pelo SLBenfica. Só mais tarde surgiu a paixão pela MTC,tendo obtido a licenciatura pelaUniversidade de Nanjing/ESMTC emestrado em clínica de MTC (fitoterapia). Acumula desde há mais de 20 anos a suaactividade clínica com a do ensino de MTCna Escola de Medicina TradicionalChinesa (ESMTC), onde tem colaboradocom a direcção no desenvolvimento daMTC em Portugal. É também reconhecido o seu papel nadivulgação e implantação da MTC no nossopaís nos últimos anos, nomedamente nocontributo que teve para a elaboração dotexto que serviu de base à definição doperfil do acupunctor e especialista de MTCe à redação da Lei 71/2013 e portarias a elaassociadas.

A congregação dos seis tipos diferentes deintervenção é feita de acordo com a condição, amotivação e valores do paciente de forma a implicá-lo na estratégia terapêutica: 1. A acupunctura Tradicional e Ocidental – existeevidência científica relativamente ao efeito daAcupunctura na ansiedade nomeadamente pelaregulação da circulação, da respiração e do sistemanervoso. 2. Exercícios de Chi Kung ou Tai Chi terapêuticos -Estes exercícios permitem uma maior consciênciadas alterações da respiração e da frequênciacardíaca motivados pelo medo e, a sua prática, umaumento da confiança na possibilidade do controloda ansiedade através de uma prática pessoal eregular de exercício. 3. A Fitoterapia da MTC de acordo com a síndromadiagnosticada – A fitoterapia da MTC dá ao paciente atranquilidade para uma mudança de atitude e fá-lonão inibindo ou modificando ligações neuronais ouhormonais que acarretam dependência química mastonificando ou regulando a condição dos órgãosassociados à perturbação da mente ou da emoção. 4. Alteração ou melhoria da condição física eemocional através da explicação do estilo de vida edos hábitos alimentares que melhor contribuem parao fortalecimento e tranquilidade da actividademental. 5. Massagem terapêutica Tuina - massagem comespecial incidência no equilíbrio dos trêsaquecedores, harmonização do Coração e do Rim,tonificação do Sangue e tranquilização da mente.Pode ser ainda ensinado ao paciente uma auto-massagem a associar à prática do exercício. 6. Explicação do que significa a ansiedade, como seinstala, como pode ser aceite e transformada parabenefício do próprio, caso o paciente não esteja emabordagem psicoterapêutica. Se estiver, toda estaintervenção pode ser deixada ao psicoterapeuta. O que tenho verificado é que a maioria dos pacientesdesconhece e não tem consciência do que se está apassar com o seu corpo e qual a causa da suacondição. Desconhece, também, como é que umamaior consciência da sua condição e dos factores quemotivam a ansiedade, bem como mudanças simplesda sua atitude mental e modo de vida podem ter umimpacto determinante na sua alteração. É estaconsciência que na MTC permite a ligação do corpo,energia e mente determinante para o controlo daansiedade.

Caso o paciente esteja a ser tratado commedicação ocidental, cuja eventual modificação éda inteira responsabilidade do médico assistente énecessário ajustar a fitoterapia ou privilegiar asoutras áreas de tratamento da MTC. 4. Acha que estas duas abordagens sãocompatíveis e que se podem de alguma formacomplementar uma à outra no sentido de produzirresultados globalmente mais satisfatórios para opaciente? AV: Sim, a minha experiência é a de que funcionammuito bem em conjunto. Havendo momentos emque uma é predominante e outros em que é aoutra que tem esse papel, de acordo com asnecessidades do paciente. 5. São muitas vezes apontadas limitações norecurso às terapêuticas  não convencionais para otratamento da ansiedade, com o argumento deque caso esta não seja diagnosticada e tratadaconvenientemente, poder evoluir para situaçõesde ansiedade patológica grave com comorbidademédica e psiquiátrica, nomeadamente comdepressão ou suicídio.Quais são os requisitos que considera maisimportantes a ter em consideração por parte doespecialista de MTC para fazer o correctodiagnóstico e por consequência, fazer otratamento adequado desta patologia, para quesejam minimizados os riscos acima referidos? Começo por referir a situação oposta – muitassituações de fácil resolução na MTC ou em outrasTerapêuticas não Convencionais arrastam-se semresultados satisfatórios na Medicina Convencionalsem que o paciente seja para elas encaminhado.A segurança e os interesses do paciente exigemcomunicação proactiva entre os vários sistemas decuidados de saúde e eliminação da informaçãoerrada com que certos grupos, de parte a parte,têm procurado confundir a opinião pública e dosprofissionais de saúde, nomeadamente comalarmismos desproporcionados e semcasos antecedentes conhecidos.

O especialista de MTC domina, pela sua formação,as condições consideradas de urgência,emergência ou de necessidade de intervenção damedicina convencional. Após o primeirodiagnóstico ou na sua sequência o especialista, nocaso particular das perturbações de ansiedade,deve encaminhar os pacientes para o Hospital ouPsiquiatra quando: 1.     Apresentem episódios de ansiedade súbitacom sensação sufocante e dor no peito. 2.     A sua história ou apresentação clínicasugerem associação com outras patologiasmédicas agudas ou progressivas, distúrbiosconvulsivos ou outras patologias neurológicas,doenças cardiovasculares ou doenças infecciosas. 3.     O abuso de álcool ou outra substância tóxicaos coloque em risco. 4.     Se tratam de casos em que os problemasmédicos agudos, graves ou progressivos foramexcluídos como possíveis causas dos transtornosde ansiedade, mas o paciente não respondeadequadamente ao tratamento da MTC após umcurso de tratamentos de duração apropriada.