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Vera Lúcia do Amaral Psicologia da Educação DISCIPLINA A questão das drogas Autora aula 14

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Vera Lúcia do Amaral

Psicologia da EducaçãoD I S C I P L I N A

A questão das drogas

Autora

aula

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Aula 14  Psicologia da EducaçãoCopyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância- SEDIS

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares BorgesJânio Gustavo BarbosaThalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz CapistranoSandra Cristinne Xavier da Câmara

Revisora TipográficaNouraide Queiroz

IlustradoraCarolina Costa

Editoração de ImagensAdauto HarleyCarolina Costa

Diagramadores

Bruno de Souza MeloDimetrius de Carvalho Ferreira

Ivana LimaJohann Jean Evangelista de Melo

Adaptação para Módulo MatemáticoAndré Quintiliano Bezerra da SilvaKalinne Rayana Cavalcanti Pereira

Thaísa Maria Simplício Lemos

Imagens UtilizadasBanco de Imagens Sedis

(Secretaria de Educação a Distância) - UFRNFotografias - Adauto HarleyStock.XCHG - www.sxc.hu

Amaral, Vera Lúcia do. Psicologia da educação / Vera Lúcia do Amaral. - Natal, RN: EDUFRN, 2007.208 p.: il.

Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação – A inteligência – A vida afetiva: emoções e sentimentos – Crescimento e desenvolvimento – A psicologia da adolescência – A formação da identidade: alteridade e estigma – Como se aprende: o papel do cérebro – Como se aprende: a visão dos teóricos da educação – Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto – A dinâmica dos grupos e o processo grupal – A família – A escola como espaço de socialização – Sexualidade – A questão das drogas – Os meios de comunicação de massa.

1. Psicologia. 2. Psicologia educacional. 3. Didática. I. Título.

ISBN: 978-85-7273-370-0

CDU 159.9RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

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Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

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Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Apresentação

O uso de drogas é outro tema multidisciplinar para o qual a Psicologia pode contribuir com uma leitura particular do problema. Nesta aula, vamos entender alguns dos conceitos associados a esse tema e conhecer como as drogas chamadas psicoativas

atuam nos indivíduos. Vamos também analisar alguns fatores de risco para a juventude e quais os modelos de prevenção que podem ser utilizados.

Objetivos

Conhecer os principais conceitos relacionados ao uso de drogas.

Conhecer a classificação dos tipos de drogas de acordo com sua atuação no cérebro.

Compreender como ocorre o envolvimento dos jovens com as drogas.

Conhecer os fatores de risco e prevenção no uso de drogas pelos jovens.

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Alguns conceitos iniciais

A utilização de substâncias psicoativas é um fenômeno antigo na história da humanidade. O uso em rituais culturais e religiosos sempre foi tolerado. Nas últimas décadas, entretanto, em razão do aumento significativo do uso de drogas lícitas e ilícitas fora

desses rituais, transformou-se em um verdadeiro problema de saúde pública, criando a necessidade de estudos epidemiológicos que subsidiassem o estabelecimento de políticas de prevenção. Em 2004, o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) fez um extenso levantamento entre estudantes de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio das 27 capitais brasileiras e observou que, de um total de mais de 48.000 estudantes, cerca de 23% dos meninos e 21% das meninas já haviam utilizado algum tipo de droga (excetuando-se álcool e tabaco) em algum momento de suas vidas, sendo que, destes, 12,7% estavam na faixa etária de 10 a 12 anos de idade. Esses são, de fato, números preocupantes.

Figura 1 - O álcool é a droga de maior uso entre adolescentes

Mas, o que são drogas psicotrópicas? De onde vem esse termo?

Sabemos que a palavra droga significa medicamento, ou seja, substância que quando utilizada provoca modificações no comportamento ou na fisiologia do corpo. Psicotrópico

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é uma palavra composta: psico + trópico, em que trópico está relacionado a tropismo, cujo significado é ter atração por. Assim, drogas psicotrópicas são aquelas que têm atração pelo psiquismo, ou seja, são aquelas que atuam no cérebro, modificando o psiquismo. Podemos encontrar também o termo substância psicoativa como sinônimo de psicotrópica.

Dependendo do tipo, a droga pode atuar aumentando ou diminuindo a atividade do cérebro ou mesmo provocando mudanças qualitativas, ao fazer o cérebro funcionar de maneira diferente do normal. Portanto, as drogas psicotrópicas podem ser classificadas em:

a) depressoras da atividade do sistema nervoso central, também chamadas psicolépticas, tais como: o álcool; os hipnóticos, que provocam o sono; os ansiolíticos, que diminuem a ansiedade; os narcóticos, que bloqueiam a dor, como a morfina; os inalantes ou solventes, como as colas e as tintas;

b) estimulantes da atividade do sistema nervoso central, também chamadas psicoanalépticas, tais como: a cocaína e as drogas anorexígenas, aquelas usadas para diminuir o apetite;

c) perturbadoras da atividade do sistema nervoso central, também chamadas psicodislépticas ou alucinógenas, tais como: a maconha; o ecstasy; e o LSD.

Figura 2 - O ecstasy é uma substância sintética que perturba a atividade cerebral

No citado estudo feito pelo CEBRID em 2004, as substâncias mais utilizadas pelos estudantes foram, pela ordem, os solventes (15,5%), a maconha (5,9%) e os ansiolíticos (4,1%). No entanto, quando se inclui o álcool, vamos observar taxas de 65%, um indicativo de que essa é a droga mais preocupante, sobretudo porque, apesar de provocar evidentes modificações no comportamento, ela é uma substância lícita, ou seja, tem o seu consumo admitido e até estimulado pela sociedade. Apesar de sua ampla aceitação, o álcool pode provocar o alcoolismo, principal causa de internação em hospitais psiquiátricos no Brasil.

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Atividade 1su

a re

spos

ta

À medida que a pessoa vai consumindo drogas, o seu organismo começa a sofrer modificações que podem fazer com que ela tenha necessidade de voltar a consumi-las. Antigamente, o termo para isso era vício, sendo tachado de viciado aquele que não conseguia deixar de utilizar uma determinada droga. Aquele que usava, mas conseguia deixar, tinha apenas um hábito. Hábito e vício eram dois termos usados para designar o grau de envolvimento do indivíduo com a droga.

Atualmente, entende-se que em qualquer uma das duas circunstâncias o indivíduo tem um transtorno de dependência. A dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga, mesmo tendo, com esse uso, problemas fisiológicos, comportamentais ou cognitivos significativos. A dependência pode ser psicológica, quando a interrupção da droga resulta em problemas fisiológicos, como mal-estar e ansiedade, ou cognitivos, como dificuldades de concentração; e física, quando a interrupção da droga resulta em síndrome de abstinência.

A síndrome de abstinência é um conjunto de sintomas físicos e comportamentais que aparece quando o uso da droga é interrompido. Esses sintomas podem ser mais ou menos graves dependendo do tipo de substância que esteja sendo utilizada. A síndrome de abstinência resultante da cessação do uso de hipnóticos, por exemplo, pode ser tão grave ao ponto de levar o indivíduo ao coma e até à morte.

Todos nós conhecemos alguém que tem “problemas com o álcool”. Algumas dessas pessoas nós consideramos “alcoólatras”, outras consideramos apenas que têm problemas com a bebida. Como você caracterizaria um alcoólatra?

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Atividade 2

sua

resp

osta

Algumas substâncias podem levar a situações em que o indivíduo precise aumentar a quantidade ingerida para obter o mesmo efeito. Por exemplo, se se conseguia uma situação de euforia com um comprimido de ecstasy, depois de algum tempo serão necessários dois comprimidos para que a euforia aconteça. Nesses casos, diz-se que foi desenvolvido um quadro de tolerância.

Depois de conhecer esses conceitos, tente agora identificar na caracterização que você fez na atividade 1 se se trata de situação de dependência – psicológica ou física –, de tolerância ou de síndrome de abstinência.

O adolescente e o uso de drogas

Na aula 5 (A psicologia da adolescência), discutimos a adolescência e vimos como se trata de uma fase muito especial na vida dos indivíduos, sobretudo por ser uma fase de fragilidades emocionais, de busca de identificações, de experimentação da vida adulta e da

tentativa de firmar a própria identidade. Por tudo isso, é um momento de grande vulnerabilidade, o que expõe o adolescente a maiores riscos ao entrar em contato com as drogas.

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Estudos psicológicos tentam entender o porquê da busca do adolescente pelas drogas. Para Grynberg e Kalina (2002), o uso destas pode significar uma forma de confronto com o meio social em que vivem, pois os jovens acreditam estar dando provas de sua autonomia e auto-suficiência, sendo capazes de alcançar seus objetivos, que muitas vezes não estão muito claros. Para Caldeira (1999), as causas podem estar no desafio da transgressão às normas adultas, na curiosidade pelo novo e pelo proibido, na pressão do grupo para assumir determinados comportamentos.

Como vimos na discussão sobre adolescência, o grupo é um espaço de identificação e busca de segurança; sendo assim, é comum que seja o espaço no qual ocorrem as primeiras experimentações. Scivoletto (2004) afirma que o adolescente busca no grupo encontrar sua própria identidade, e olhar o outro facilita o processo. O uso das drogas aparece como experimentação de novas atividades e situações, a onipotência oferece a sensação de que nada de errado acontecerá, expondo-o a grandes perigos.

Por outro lado, a dimensão que hoje atinge o consumo de drogas, não só nos grandes centros urbanos, mas também nas cidades de pequeno e médio porte, faz com que as famílias se sintam inseguras e impotentes diante da possibilidade de seus jovens vivenciarem tal situação. Sabemos que o comportamento individual e a formação do juízo moral são moldados por meio dos valores sociais, transmitidos principalmente pela família e pela escola. Assim, o papel dessas duas instâncias socializadoras é fundamental na prevenção e na atuação concreta, sobretudo em situações de risco.

Com relação à família, os estudos indicam que a ocorrência de conflitos e de relacionamentos insatisfatórios entre os membros seria um fator de risco, enquanto o sentimento de apoio agiria como fator de proteção. Num estudo realizado por Silva et al. (2006), no qual foram investigados os temores e a reação dos pais diante do uso de drogas, observou-se que a maioria deles conversa com os filhos sobre o assunto, mas as conversas têm caráter meramente informativo ou restringem-se ao compartilhamento dos temores pelas conseqüências do uso de drogas. Outro dado interessante do estudo é a reação dos pais diante do uso de drogas lícitas ou ilícitas. Quando sabiam que seus filhos usavam drogas lícitas, como o álcool ou o tabaco, a reação dos pais era de indiferença, enquanto ao saber do uso de drogas ilícitas, como a maconha era a cocaína, a reação era de descrença na informação ou de brigas, acompanhada de sentimento de tristeza, impotência e medo.

A análise dos sentimentos dos pais possibilita uma reflexão do paradoxo sobre drogas

existente na nossa sociedade em relação às drogas. Por um lado, através dos meios de

comunicação e em reuniões sociais, o uso de bebidas alcoólicas é apresentado como

símbolo de sucesso, prazer ou como uma ferramenta útil no enfrentamento de problemas

ou para redução da ansiedade. De outro lado, há uma condenação ou “demonização”

do uso das drogas ilícitas, às quais só são atribuídos efeitos prejudiciais, como se fosse

a legalidade que determinasse a periculosidade do uso. (SILVA et al, 2006, p. 8).

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Figura 3 - A indiferença familiar diante do uso de drogas lícitas pode prejudicar o jovem

De um modo geral, pode-se dizer que o que leva os jovens a usarem drogas é um conjunto de fatores denominados “fatores de risco”. A combinação destes ou a junção de alguns torna uma pessoa mais ou menos propensa a esse uso.

Quem se encontra em situação de risco?

São considerados fatores de risco para o uso de drogas algumas características ou atributos de um indivíduo, grupo ou ambiente de convívio social que contribuem, em maior ou menor grau, para aumentar a probabilidade desse uso.

Conceição e Sudbrack (2004) fizeram uma síntese sobre tais fatores a partir do que denominaram áreas da vida ou, como afirmam as autoras, “domínios da vida”, que seriam: o domínio individual, o domínio de pares, o domínio familiar, o domínio comunitário e o domínio escolar. Elas identificam que não há um único fator de risco determinante para o uso de drogas e que cada um desses domínios comporta fatores de risco e de proteção. Vejamos quais são eles.

De todas as maneiras, identificar o que leva um adolescente ao uso das drogas não é uma tarefa simples. Muitas vezes, vemos casos de famílias claramente desajustadas que não apresentam nenhum registro de consumo de drogas entre os filhos, e de outras, nas quais isso acontece aparentemente sem nenhuma justificativa familiar. É preciso levar em conta não só a família, mas também o próprio indivíduo e o meio social em que ele se encontra. A enorme quantidade de variáveis implicadas nesse consumo permite um número infindável de configurações possíveis para o uso de substâncias psicoativas.

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1) Domínio individual – diz respeito às predisposições genéticas e psicológicas, à presença ou não de transtornos ou perturbações mentais. Nesse domínio, teríamos:

Fatores de risco Fatores de proteção

Baixa auto-estima Apresentação de habilidades sociais

Falta de autocontrole e assertividade Flexibilidade, facilidade de cooperar, responsabilidade e comunicabilidade

Comportamento anti-social precoce Habilidade em resolver problemas e tomar decisões, autonomia

Doenças preexistentes (ex.: transtorno de deficit de atenção e hiperatividade) Presença de um projeto de vida

Vulnerabilidade psicossocial Relação de confiança com os pais, professores e colegas

2) Domínio dos pares – diz respeito aos amigos e pessoas de convívio mais próximo. Aqui, temos:

Fatores de risco Fatores de proteção

Pares que usam drogas ou aprovam e/ou valorizam seu uso

Pares que não usam drogas e não aprovam ou não valorizam seu uso

Dificuldade de participação em grupos que desenvolvem atividades recreativas, esportivas e laborais tidas como saudáveis

Participação junto com seu grupo em atividades recreativas, esportivas ou laborais saudáveis

Dificuldade de pertencimento a um grupo de iguais na escola ou na comunidade

Pertencimento a grupos de iguais na escola ou na comunidade

Dificuldade em aceitar autoridade que não compartilhe de determinações de seu grupo

Aceitação de autoridade vinda de fora do grupo de pares, na escola, na comunidade, na família

Não participação em grupos de objetivos altruísticos Participação em grupos de objetivos sociais e comunitários

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3) Domínio familiar – refere-se à forma como a família está estruturada, ao seu funcionamento e à definição de suas regras e papéis.

Fatores de risco Fatores de proteção

Uso de álcool e drogas pelos pais Valorização do padrão de vida saudável

Isolamento social entre membros da família Existência de vinculação familiar

Laços afetivos frágeis entre os membros da família Existência de fortes vínculos afetivos entre os membros da família

Relações conflituosas, excessivamente autoritárias ou permissivas entre os membros da família

Predomínio do estilo compreensivo de vida, sem autoritarismo ou permissividade

Falta de diálogo e de comunicação entre pais e filhos Diálogo constante e comunicação eficiente entre pais e filhos

Ausência e descontinuidade de critérios na aplicação das regras familiares

Presença e constância de critérios na aplicação das regras disciplinares

Falta de interesse dos pais pelas conquistas dos filhos, não participação nos seus sucessos ou fracassos

Demonstração de interesse pela vida dos filhos e participação nos seus sucessos ou fracassos

Incongruência ou incoerência dos pais quanto ao padrão educacional a ser adotado para os filhos

Coerência e congruência quanto ao padrão educacional a ser adotado para os filhos

Expectativas negativas em relação aos filhos Expectativas positivas em relação aos filhos

Pais que não fornecem um bom modelo, não sabendo transmitir as normas e os valores morais e sociais aceitáveis

Presença de pais como modelo positivo quanto às questões sócio-morais

Tolerância com relação ao uso de drogas pelos jovens

Postura repressora e reflexiva quanto ao uso de drogas pelos jovens

Ausência da função paterna Presença da função paterna

4) Domínio comunitário – diz respeito à facilidade ou não de acesso às drogas, à falta de fiscalização das leis. Os fatores de risco e proteção são:

Fatores de risco Fatores de proteção

Falta de oportunidade socioeconômica para a construção de um projeto de vida

Existência de oportunidades de estudo, trabalho e de inserção social que possibilitem ao jovem

concretizar seu projeto de vida

Fácil acesso às drogas lícitas e ilícitas Controle efetivo do comércio de drogas legais e ilegais

Permissividade em relação a algumas drogas Repressão e reflexão quanto ao uso de drogas legais e ilegais

Inexistência de incentivo para que o jovem se envolva em serviços comunitários

Incentivo ao envolvimento dos jovens em serviços comunitários

Negligência no cumprimento de normas e leis que regulam o uso de drogas pelos jovens

Realização de campanhas e ações que ajudem o cumprimento das normas e leis que regulam o uso

de drogas pelos jovens

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5) Domínio da escola – neste domínio, temos o entrecruzamento de fatores de risco e proteção de todos os outros domínios:

Fatores de risco Fatores de proteção

Indefinição ou falta de comunicação e negociação de normas, regras e limites

Definição, comunicação e negociação de normas, regras e limites

Incoerência e incongruência entre os agentes educativos na prática de normas

Coerência e congruência entre agentes educativos na aplicação de normas e regras escolares

Relação desrespeitosa e falta de responsabilidade e compromisso entre os agentes educativos

Relação de respeito mútuo, compromisso e cooperação entre os agentes educativos

Ausência da relação entre família e escola Relações amistosas de cooperação entre família e escola

Falta de estímulo às práticas escolares Estímulo à prática das atividades escolares

Ausência de expectativas positivas em relação ao desempenho dos alunos

Verbalização das expectativas positivas com relação ao desempenho dos alunos

Ausência de atividades criativas e estimulantes que ajudem na criação de vínculos entre o aluno e a escola

Promoção de práticas criativas e estimulantes

Relações preconceituosas em relação aos alunos, com a utilização de rótulos como forma de punição e exclusão

Relações abertas, honestas, sem atitudes negativas, punitivas ou preconceituosas

Ausência de afetividade e confiança na relação professor-aluno e no ambiente escolar

Fortes vínculos afetivos e de confiança entre alunos e professores e dentro do ambiente escolar

Relações professor-aluno baseadas no autoritarismo ou no excesso de permissividade

Relações professor-aluno baseadas no respeito mútuo

Falta de estímulo às práticas educativas de cooperação e solidariedade

Estímulo e exercício dos princípios da cooperação e da solidariedade

Falta de controle quanto à presença de drogas na escola Controle da presença de drogas

Como podemos ver, o problema não é simples nem pode ser encarado com valorações moralistas. Qualquer atuação que vise enfrentar o problema das drogas precisa estar atenta para evitar posturas que induzam à estigmatização e à marginalização.

Vale destacar aqui as recomendações, em caso do uso de drogas pelo adolescente, de Conceição e Sudbrack (2004, p. 5), que se aplicam sobretudo aos educadores:

1) Não confrontar diretamente.

2) Não acusar ou procurar culpados.

3) Mostrar-se ao lado do adolescente, sem compactuar com o uso, na busca de uma resolução para o problema.

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Atividade 3

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4) Ajudar o adolescente a perceber o benefício que ele terá com a abstinência ou com o tratamento. Se ele acha que precisa parar por imposição social, ou para agradar este ou aquele, a tentativa pode falhar.

5) Não usar da culpa como arma para convencimento - isso pode até funcionar durante um período, mas não se sustenta. Aliás, fuja do mecanismo da culpa, no qual se estabelece uma troca de acusações para se determinar o mais culpado e o mais atingido: o problema continua sem solução.

6) Jamais esquecer que se trata de uma dificuldade e não um defeito. Lembrar, que, para lidar com dificuldades como essa existem equipes de educadores, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, médicos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais etc. Não tente resolver tudo sozinho. Procure ajuda - todo cidadão tem direito de ser assistido em caso de doenças biológicas, psíquicas etc. (CONCEIÇÃO; SUDBRACK, 2004, p. 5).

Agora que vimos os aspectos envolvidos na busca da droga por parte dos adolescentes, vamos fazer um exercício reflexivo acerca dos pontos que elencaríamos para compor uma proposta de programa de prevenção às drogas em uma escola. Descreva-os a seguir.

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Resumo

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Nesta aula, conhecemos os principais conceitos utilizados, sobretudo, pela Medicina quanto ao uso de drogas. Conhecemos também uma maneira de classificar as drogas psicoativas quanto à forma como elas atuam no sistema nervoso central. Analisamos os fatores psicológicos que fazem os adolescentes se envolverem com o consumo de drogas e conhecemos os fatores de risco e de proteção que envolvem esse uso.

Auto-avaliação

Que são substâncias psicotrópicas?

Como se classificam essas substâncias?

Qual a diferença entre dependência física e dependência psicológica?

Que fatores levam o adolescente ao uso das drogas?

Destaque a importância dos domínios da vida enquanto fatores de risco para o consumo de drogas.

ReferênciasCALDEIRA, Zelia Freire. Drogas, indivíduo e família: um estudo de relações singulares. 1999. Dissertação (Mestrado) – Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1999.

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CONCEIÇÃO, M. I. G.; SUDBRACK, M. F. O. Fatores de risco e de proteção no envolvimento de adolescentes com drogas. In: SUDBRACK, M. F. O. Debate: adolescentes e drogas no contexto da escola. (Programa Salto para o Futuro, programa 3). Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2004/dad/tetxt3.htm>. Acesso em: 09 ago. 2007.

GALDURÓZ, José Carlos F. et al. V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 2� capitais brasileiras. São Paulo: CEBRID, 2004. Disponível em: <http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/levantamento_brasil2/index.htm>. Acesso em: 13 ago. 2007.

GRYNBERG, Halina; KALINA, Eduardo. Aos pais de adolescentes: viver sem drogas. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1999.

SCIVOLETTO, S.; ANDRADE, E. R. A cocaína e o adolescente. In: LEITE, M. C.; ANDRADE, A. G. (Orgs.). Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. cap. 8. p.137-153.

SILVA, Eroy Aparecida da et al. Drogas en la adolescencia: temores y reacciones de los padres. Psicol. teor. prat., São Paulo, v. 8, n.1, p.41-54, 2006. Disponível em: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872006000100004&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 09 ago. 2007.

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Anotações

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