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Psicologia Fenomenológica

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Apostila de Fenomenologia unidade 1

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© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Z13 Zacariotto, William Antonio

Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol.

il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230.

1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título

681.3

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Prof. Dr. João Carlos Di GenioReitor

Prof. Fábio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Marília Ancona-LopezVice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy

Prof. Marcelo Souza

Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar

Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão: Janandréa do Espírito Santo

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SumárioPsicologia FenomenológicaAPRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7

Unidade I

1 INTRODUçãO À FENOMENOLOGIA DE EDMUND HUSSERL ..............................................................92 INTRODUçãO À FENOMENOLOGIA-EXISTENCIAL DE MARTIN HEIDEGGER ............................ 133 O CARÁTER DE PODER-SER DO DASEIN: FINITUDE ........................................................................... 174 FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL DA HISTÓRIA PESSOAL ................................................................. 23

Unidade II

5 PSICOLOGIA NA ERA DA TÉCNICA ............................................................................................................ 276 A DASEINSANALYSE DE MEDARD BOSS ................................................................................................ 277 PSICOLOGIA NA ERA DA TÉCNICA ............................................................................................................ 278 A DASEINSANALYSE DE MEDARD BOSS ................................................................................................ 32

Unidade III

9 COMPREENSãO E AçãO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL .... 3610 PROCESSOS PSICOTERAPÊUTICOS DASEINSANALÍTICOS ............................................................. 3611 COMPREENSãO E AçãO CLÍNICA NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL .. 3712 PROCESSOS PSICOTERAPÊUTICOS DASEINSANALÍTICOS ............................................................. 41

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APresentAção

Organização do material

Nesta disciplina, você entrará em contato a Psicologia Fenomenológica, com ênfase nas possibilidades abertas pelo pensamento desenvolvido pelo filósofo Martin Heidegger (1989-1976) para a Psicologia. Apoiado na Fenomenologia de Edmund Husserl (1959-1938), ele questionou a ontologia metafísica e a tentativa de determinar o ser da existência humana como substancialidade. Destacaremos sua compreensão da existência humana, denominada Dasein (ser-aí).

Através dessa quebra do paradigma metafísico, Heidegger abre caminho para novas perspectivas de compreensão dos fenômenos humanos. Buscaremos compreender o projeto da Fenomenologia de Husserl, ‘aplicado’ por Heidegger na investigação da existência humana. Em seguida, estudaremos as implicações da compreensão da existência humana como Dasein para a Psicologia. Com isso, entraremos em contato com a compreensão dos fenômenos psicológicos a partir do enfoque da fenomenologia-existencial, na direção de compreender o lugar e as possibilidades de intervenção do psicólogo nessa abordagem.

A descrição da existência humana realizada por Heidegger torna-se fundamento de uma psicopatologia e psicoterapia nas mãos de Medard Boss (1903-1990), que passa a denominar essa abordagem psicológica Daseinsanalyse.

Será nosso objetivo nesta disciplina conhecer e compreender os pressupostos epistemológicos e ontológicos do pensamento fenomenológico-existencial para promover a identificação deste método e da concepção de homem que lhe é pertinente com o lugar e a função do psicólogo no trato com o fenômeno psicológico e na promoção de saúde.

Este material poderá ser utilizado como orientação para seu estudo e como complemento das atividades realizadas nas aulas presenciais.

MÓDULO 1: INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA DE EDMUND HUSSERL

Apresentação dos dados biográficos de Edmund Husserl

Introdução ao método fenomenológico e à consciência intencional

Bibliografia básica

FEIJOÓ, A. M. L. C. “Husserl e a Fenomenologia”. A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 25-34.

MÓDULO 2: INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA-EXISTENCIAL DE MARTIN HEIDEGGER

Introdução ao método fenomenológico de investigação do Dasein (ser-aí)

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A constituição ontológica da existência (Dasein)

Bibliografia básica

SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: a obra Ser e Tempo, de Heidegger, como fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015, p. 11-48.

Bibliografia complementar

FEIJOÓ, A. M. “Heidegger e a desconstrução da subjetividade moderna”. A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 34-55.

MÓDULO 3: O CARÁTER DE PODER-SER DO DASEIN: FINITUDE

Temporalidade do Dasein

Angústia e finitude do Dasein

Bibliografia básica

SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: a obra Ser e Tempo, de Heidegger, como fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015, p. 48-95.

Bibliografia complementar

FEIJOÓ, A. M. “As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.” A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 71-84.

MÓDULO 4: FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL DA HISTÓRIA PESSOAL

A concepção de história pessoal (historiobiografia) de Dulce Critelli

Historiobiografia e Sentido da Vida

Bibliografia básica

CRITELLI, D.História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.

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Unidade I1 IntroDUção À FenoMenoLoGIA De eDMUnD HUsserL

Apresentação dos dados biográficos de Edmund Husserl

Edmund Husserl nasce em Prossnitz, na Morávia; atual Prostejov, República Tcheca, em 8 de abril de 1859, filho de comerciantes judeus. Em 1876, inicia seus estudos universitários em Leipzig. Concentra-se na matemática, mas estuda também física, astronomia, filosofia e psicologia com W. Wundt. Em 1882, doutora-se na Universidade de Viena com a tese O Cálculo das Variações. Em 1887, pouco antes de casar-se, defende a tese de habilitação Sobre o Conceito de Número: análise psicológica, na cidade de Halle.

Essa trajetória, que se inicia na matemática, culmina na Psicologia. Nessa época, a Psicologia era o estudo das faculdades mentais do homem. Até bem pouco tempo, era disciplina especulativa, filosófica. Quando Wundt funda o laboratório de psicologia científica, em 1879, começa sua trajetória de ciência aplicada. Husserl acompanhou de perto essa transformação.

A filosofia do fim do século XIX dividia-se entre duas vertentes: aqueles que defendiam uma base objetiva para o conhecimento e aqueles que o fundamentavam nas faculdades mentais.

Os Naturalistas defendiam que a objetividade do conhecimento está na realidade objetiva, externa, “fora” do sujeito. Conhecer a natureza significa saber mensurá-la, a fim de revelar suas leis universais. Essas leis universais, as verdades universais, só são acessíveis através de hipóteses. Para isso, esse modelo de conhecimento dispõe da metodologia de observação, mensuração e classificação.

Como toda a realidade é objetiva, física, também a consciência, da qual fala a Psicologia, deve ser física. Husserl, como grande pensador, leva ao limite as bases desse pensamento para expor sua contradição: se tudo pode ser reduzido à natureza física, também a concepção de que tudo pode ser reduzido à natureza física é apenas mais um processo físico, incapaz de sustentar-se como verdade universal.

Do outro lado, os Psicologistas defendiam a mente como fundamento último de todo conhecimento. Para eles, a objetividade é dada pelo sujeito “puro” abstrato. As leis objetivas, o real, são convenções subjetivas explicáveis pelo psicólogo. Levando às últimas consequências essa fundamentação, também a Psicologia mina o conhecimento objetivo e científico-natural, pois, para ela, tudo é processo psicológico. As ciências, como a matemática, tornam-se relativas.

O pensamento de Husserl recebe impulso dessa “crise” insuperável, na tentativa de encontrar solução. Para fundamentar o conhecimento verdadeiro – tarefa da filosofia – Husserl não poderá se apoiar nem no Naturalismo, nem no Psicologismo. A Fenomenologia surge como crítica à pretensão de cientificidade

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plena das ciências, ao recurso à dedução e à inferência como método de conhecimento (modelo hipotético) e à determinação psicofísica atribuída ao seu sujeito do conhecimento (Feijoó, 2011).

Atividades recomendadas

1. Leia atentamente o texto indicado.

2. Faça uma pesquisa bibliográfica sobre a vida e a obra de Edmund Husserl.

3. Acompanhe o exercício a seguir.

Husserl (1859-1938) foi o iniciador da fenomenologia. Sua formação acadêmica iniciou-se na matemática, passou pela psicologia filosófica e desembocou na filosofia. A fenomenologia é filosofia. Sobre a fenomenologia elaborada por Husserl, é verdadeiro dizer que:

I) Busca um fundamento seguro para as ciências humanas, as ciências naturais e a filosofia.

II) Tem como lema o retorno “às coisas mesmas”, que significa um retorno à pesquisa empírica e à experimentação.

III) A palavra “fenomenologia” é composta por “fenômeno”, que significa “aquilo que aparece”, e “logos”, que significa “a intuição do sentido imanente”.

IV) Foi formulada desde 1900 como um modelo de atendimento psicoterápico, que visa à compreensão do outro.

V) Concebe o mundo como existindo em si mesmo e concebe um método (“método fenomenológico”) para conhecer a realidade que se esconde por trás das aparências.

Estão corretas apenas as afirmações:

A) I, II, III, IV e V.

B) I, II, IV e V.

C) I e III.

D) II, IV.

E) I e III.

Se você leu atentamente os textos e compreendeu o impulso husserliano à Fenomenologia, foi capaz de identificar a alternativa E como correta. A afirmação II indica como “retorno às coisas mesmas” o retorno à empiria, por isso está incorreta. A proposta da fenomenologia é retornar aos fenômenos na

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sua fenomenalização (aparecer) na correlação intencional, isto é, no seu aparecer na consciência. A afirmação IV apresenta a fenomenologia como um método psicoterápico, o que está errado, pois surgiu como filosofia primeira, no esforço de fundamentação de todas as ciências. A afirmação V fala de uma “realidade por trás da aparência”. Para a fenomenologia, o que aparece é o que é tal como é.

Bibliografia básica

FEIJOÓ, A.M. “Husserl e a Fenomenologia” A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011. p. 25-34.

Introdução ao método fenomenológico e à consciência intencional

A ascensão das Ciências Humanas amplia a crise das ciências. Qual seria a validade (verdade universal) das descobertas da antropologia, da sociologia ou mesmo da psicologia? A psicologia, num esforço para assegurar a verdade de suas afirmações, recorre ao método científico-natural de investigação. O teste de medição de inteligência desenvolvido por Alfred Binet (1857-1911) é um exemplo disso.

Husserl, por outro lado, identifica a carência de fundamentos das ciências-naturais. É o Naturalismo, descrito anteriormente. Seu objetivo é, então, de inaugurar um novo fundamento para a lógica, para a teoria do conhecimento e para a psicologia: uma ciência originária, primeira.

A chave para a fenomenologia vem dos estudos com Franz Brentano (1838-1917). Opondo-se a Wundt, Brentano propõe que os atos mentais são experienciáveis, de modo que a psicologia, através da intuição (observação), é ciência empírica.

Brentano apresenta os atos psíquicos como intencionais. Resgata esse conceito da filosofia de Aristóteles. Na tradução latina da filosofia aristotélica, intentio significa dirigir-se a (devemos tomar muito cuidado para não confundir este conceito com a ideia comum de “intenção”, que significa desejo, motivação etc.). Desta ideia, Husserl desenvolve o a priori da correlação: “cada consciência tem seus objetos e vice-versa e que cada tipo de objeto tem seus modos peculiares de ser dado” (Dartigues, p.50). Intencionalidade significa que toda consciência (ato) é de algo e todo algo só é enquanto referido à consciência que se tem dele.

Com o conceito de intencionalidade, Husserl supera o psicologismo, que prioriza o Sujeito na relação Sujeito-Objeto, e o logicismo e naturalismo, que priorizam o mundo objetivo e natural, o Objeto na relação Sujeito-Objeto. Para a fenomenologia, Sujeito e Objeto são intimamente relacionados, indissolúveis. Por isso, Feijoó (2011) afirma que “Com a noção de intencionalidade, portanto, escapa-se das articulações metafísicas a partir da fenomenologia e encontram-se possibilidades outras de se tratar o fenômeno psíquico, sem perder a possibilidade de se falar em sentidos e significados psíquicos de maneira rigorosa” (p.33).

A Fenomenologia surge como tentativa de elaboração de uma ciência rigorosa, capaz de fundamentar as várias ciências. Por isso, Husserl a chama de Ciência Primeira. O princípio de intencionalidade da

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consciência rege que toda consciência é consciência de algo e que todo algo só é tal como aparece na consciência. “Consciência”, entretanto, não é um recipiente vazio que se preenche; é um ato. O objeto ao qual se dirige e que surge na relação intencional é sempre significativo.

Entretanto, nós não experienciamos essa relação íntima entre o nosso ver e a coisa vista, entre nosso sentir e a coisa sentida, entre nosso perceber e a coisa percebida. Husserl chama de atitude natural a nossa postura cotidiana de encontrar objetos “fora”, no mundo, como se existissem em si mesmos. A atitude natural pode ser descrita como aquela que consiste em pensar que o sujeito está no mundo como algo que o contém ou como uma coisa entre as demais. As ciências naturais operam sobre essa crença de que existem objetos em si no exterior, que podem ser observados, investigados e descritos a partir de suas propriedades imanentes. A atitude natural é a atitude ingênua.

A fenomenologia busca superar a atitude ingênua, suspendendo a crença na realidade da existência em si do mundo exterior, resgatando a consciência como condição de aparição do mundo. Essa etapa do método fenomenológico chama-se epoché e pode ser caracterizada como a colocação entre parênteses da realidade independente da consciência, para que a investigação fenomenológica se volte para a fenomenalização dos fenômenos, isto é, seu aparecer na correlação intencional. Pela redução fenomenológica, a consciência se mostra consciência constituinte de mundo.

Atividades recomendadas

1. Leia atentamente o texto indicado.

2. Faça uma pesquisa bibliográfica e pela internet sobre Franz Brentano e sua Psicologia.

3. Acompanhe o exercício a seguir.

Leia atentamente a seguinte afirmação de Husserl:

Mostra-se, pois, por toda a parte, esta admirável correlação entre o fenômeno do conhecimento e o objeto de conhecimento. Advertimos agora que a tarefa da fenomenologia, ou antes, o campo das suas tarefas e investigações, não é uma coisa tão trivial como se apenas houvesse que olhar, simplesmente abrir os olhos (Husserl, 1907/1990, p.33).

Referência bibliográfica

Husserl, E. A Ideia da Fenomenologia. Trad.: Artur Morão. 1a ed. 1907. Lisboa: Edições 70, 1990.

Sobre esta citação, está correto afirmar:

I. A passagem se refere à intencionalidade da consciência, que pode ser descrita como a propriedade de toda consciência ser referida a um objeto e todo objeto só ser enquanto referido a uma consciência.

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II. Através desta concepção, sujeito cognoscente e objeto conhecido deixam de ser entidades separadas e se revelam cooriginários.

III. A fenomenologia é uma tarefa, pois exige que se saia da atitude natural em relação ao mundo para poder conhecer sua constituição.

IV. O fenomenólogo precisa do método fenomenológico para conhecer as intenções da consciência, isto é, o que a motiva.

Estão corretas:

A) I, II e IV, apenas.

B) I e II, apenas.

C) II, III e IV, apenas.

D) I, II e III, apenas.

E) II e III, apenas.

Se você leu os textos indicados e compreendeu os conceitos apresentados, foi capaz de identificar que as afirmações I, II e III apresentam corretamente a intencionalidade da consciência, a correlação intencional (que supera a dualidade Sujeito-Objeto) e a fenomenologia como tarefa, respectivamente. A afirmação IV está incorreta, pois define intencionalidade (intentio) como motivação, deturpando o sentido desse termo na fenomenologia, que é “dirigir-se a...”.

Bibliografia básica

FEIJOÓ, A.M. “Husserl e a Fenomenologia”. A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011. p. 25-34.

2 IntroDUção À FenoMenoLoGIA-eXIstenCIAL De MArtIn HeIDeGGer

Introdução ao método fenomenológico de investigação do Dasein (ser-aí)

O livro de Heidegger, Ser e tempo, publicado em 1927, tem como tarefa a elaboração da fenomenologia como filosofia. E filosofia é, para ele, perguntar pelo SER, tal como feito por toda a história ocidental. O método fenomenológico exige que se suspendam os pressupostos. Assim, Heidegger “coloca entre parênteses” as definições de SER legadas pela tradição filosófica. Precisa perguntar ao SER mesmo o que é. Para isso, começa seu perguntar pelo “ente que compreende ser”, que é o homem. Somente o homem pergunta o que é o mundo? O que são as coisas? O que sou eu?

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A tradição também deixou definições sobre o que é o homem. Mas a fenomenologia é obrigada a colocá-las em suspensão. Com isso, Heidegger pergunta ao homem pelo seu ser, que seria o primeiro passo na colocação da pergunta pelo sentido de ser em geral. O livro Ser e tempo torna-se, assim, uma analítica do homem. Heidegger reserva a este o termo Dasein, “ser-aí”, para diferenciá-lo dos demais entes.

Traduzindo ao pé da letra, Da significa aí. Sein significa Ser. Dasein é ser-aí. Mas Heidegger visa descrever não os homens concretos, mas o ser dos homens. Daí a distinção da fenomenologia-existencial entre ôntico – que é dos entes históricos, “concretos” – e ontológico, que se refere ao ser dos entes. A analítica do Dasein é uma descrição de aspectos essenciais da existência humana. Heidegger chama esses aspectos de “existenciais”, para diferenciar da palavra “categorias”, usada na filosofia para descrever as propriedades do ser de tudo o que não é humano.

Ser e tempo defende que o humano não é como as demais coisas do mundo, pois 1) seu ser está sempre em jogo e 2) Dasein compreende ser (Feijoó, 2011). Medard Boss, psiquiatra suíço que desenvolve a daseinsanalyse, fundamentará os fenômenos encontrados na clínica – médica e psicoterápica – a partir dos “existenciais” descritos por Heidegger em Ser e tempo.

Atividades recomendadas

1. Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a apresentação da obra de Heidegger e sua importância para a Psicologia.

2. A partir da leitura, considere as relações possíveis entre a filosofia e a psicologia.

3. Responda: O que significa a expressão de Feijoó (2011) “psicologia sem psiquismo” (p.36)? Qual é a relação da “psicologia sem psiquismo” e a analítica do ser-aí?

4. Acompanhe o seguinte exemplo de exercício.

Sobre o ser-aí, Heidegger escreve que “é próprio deste ente que seu ser se lhe abra e manifeste com e por meio do seu próprio ser, isto é, sendo. A compreensão do ser é em si mesma uma determinação do ser do Dasein. O privilégio ôntico que distingue o Dasein está em ser ele ontológico” (1927, p.38). Nessa afirmação estão presentes dois conceitos essenciais para a compreensão da fenomenologia-existencial e para a implicação das descrições de Heidegger para as ciências do homem. A saber, tratam-se dos conceitos de “ontológico” e “ôntico”, que significam, respectivamente:

a) “ontológico” é a constituição do aparelho psíquico do ser-aí, enquanto “ôntico” se refere às representações que o preenchem.

b) “ontológico” é a constituição essencial do ser-aí, enquanto ôntico refere-se aos modos concretos possíveis em que essa constituição se manifesta cotidianamente.

c) “ontológico” significa que se refere ao ser do ser-aí, enquanto “ôntico” ao ser dos objetos.

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d) “ontológico” significa a possibilidade de conscientização do ser-aí sobre si mesmo, enquanto “ôntico”, ao modo irrefletido em que as pessoas vivem.

e) “ontológico” é sinônimo de “fenomenológico”, enquanto “ôntico” se refere às abordagens não fenomenológicas.

Se você leu os textos e compreendeu a diferença entre ôntico e ontológico, assinalou a resposta B como a correta, pois nela está expresso que “ontológico” se refere à constituição essencial do Dasein, enquanto “ôntico” se refere aos modos concretos de ser. Assim, dizemos que o ser-no-mundo é ontológico – constitutivo de todo ser-no-mundo –, enquanto ser um existente neste contexto histórico-social, nesta família etc., é ôntico.

Bibliografia básica

SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: a obra Ser e tempo, de Heidegger, com fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015, p. 11-48.

Bibliografia complementar

FEIJOÓ, A. M. “Heidegger e a desconstrução da subjetividade moderna”. A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 34-55.

A constituição ontológica da existência (Dasein)

O conceito de Dasein se refere à constituição ontológica do ser que nós somos, isto é, humanos. Porém, Heidegger não utiliza o termo “ser humano” ou “homem”, pois são termos que carregam significados não fenomenológicos acumulados ao longo da história do Ocidente. Reserva, portanto, o termo Dasein.

No §9 de Ser e tempo, Heidegger escreve: “O ente que temos a tarefa de analisar somos nós mesmos. O ser deste ente é sempre cada vez meu. Em seu ser, isto é, sendo, este ente se comporta com o seu ser.” (1927, p.77) Isso significa que não há uma “essência” ou “natureza” para além dos modos concretos de existência. O livro Ser e tempo é uma descrição fenomenológica – livre de pressupostos – da constituição ontológica do Dasein. Essa constituição é formada pelos “existenciais”, que são os caracteres ontológicos do Dasein.

Resumindo a concepção de Dasein de Ser e tempo, podemos afirmar que o homem é um ser que é aí, no mundo. Daí a concepção de homem como ser-no-mundo. E ser no mundo significa ser sempre uma relação significativa consigo mesmo, com os outros e com coisas (mesmo que essas relações estejam implícitas). A analítica do Dasein revela que o homem é ontologicamente no-mundo e com-os-outros. Ser e tempo não se detém nas descrições dos diversos modos concretos em que nos relacionamos com os outros, pois não é essa a tarefa de Heidegger.

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Sendo inacabado, o Dasein é ontologicamente possibilidade, ele se realiza em possibilidades. Isso significa que ninguém nasce pronto, mas precisa se realizar. Heidegger chama esse existencial de cura ou cuidado (Sorge, em alemão). O “realizar-se” é sempre situado em relação aos demais e à significatividade compartilhada. Não sendo pronto e acabado, o Dasein precisa sempre realizar-se como uma possibilidade; ao Dasein sempre está faltando algo. Heidegger diz que ele é sempre culpado.

A palavra culpa, em alemão é schuld, que significa também débito. Sendo inacabado, estou sempre em débito comigo mesmo de me realizar. A única possibilidade que encerra a dívida, a culpa, e que só pode ser vivida por cada qual singularmente é sua própria morte. O dasein se relaciona constantemente com essa sua própria possibilidade. Entretanto, essa possibilidade nunca é vivenciada por cada um, pois, quando acontece, não estamos mais aí para vivenciá-la.

Atividades recomendadas

1. Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de Dasein neles presente.

2. Responda: essa concepção de existência (Dasein) pode fundamentar uma compreensão de fenômenos descobertos no trabalho do psicólogo? Justifique sua resposta.

3. Acompanhe o exercício a seguir.

Poder existir é uma oportunidade que se renova a cada instante. Pode ser que vivamos só este momento ou por mais alguns dias, anos, até mais de cem anos. Pode, não tem de ser assim, apenas pode. A vida não é um direito nosso, pois pode ser arrebatada a qualquer momento; não é um dever nosso, pois não nos é dada como condição de necessidade, mas é uma contingência. (Pompéia, 2004). Assim, existir emerge como projeto. A partir desse contexto, a afirmação correta abaixo é:

A) O determinismo encontra-se aí na condição de ser-para-a-morte.

B) A experiência humana da vida é, originariamente, fixada num dado tempo e num dado espaço.

C) A relação entre o homem e sua existência depende do modo como ele enfrenta sua condição de mortal.

D) A existência só pode ser compreendida a partir de uma análise cronológica dos eventos que permeiam a vida de cada homem.

E) O horizonte existencial do homem é infinito e indeterminado.

A afirmação A apresenta o ser-para-a-morte como uma condição determinística. Está incorreta, pois embora a morte seja uma possibilidade certa, ela não impõe determinação alguma à existência. Como cada qual lida com a mortalidade (e não com a morte em si), é uma questão pessoal, social e cultural e possível, indeterminada.

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Psicologia Fenomenológica

A afirmação B está incorreta, pois não é possível fixar um tempo ou espaço para a vida. Essas questões permanecem em aberto – possíveis – enquanto a existência existir.

Na afirmação C lemos que a relação de cada um com sua existência depende de como enfrenta sua condição de mortal. Devemos lembrar que enfrentar a condição de mortal é sinônimo de enfrentar a própria existência.

Assim, como cada qual lida com sua vida está, sim, relacionado com como cada qual lida com a possibilidade de sua impossibilidade. E isso a cada instante. É a alternativa correta. Vejamos por que as demais estão incorretas.

A afirmação D apresenta que devemos fazer uma análise cronológica dos eventos da vida para compreender a existência. Está errado, pois a cronologia é secundária para o Dasein. Os eventos passados adquirem sentido a partir do projeto em que o Dasein está lançado. Isso ficará mais claro quando estudarmos a temporalidade do Dasein.

A afirmação E apresenta que o horizonte existencial como infinito. Está errada, pois o horizonte existencial de todos nós é a morte, que é um acontecimento certo com data incerta. Cada Dasein lida com a possibilidade de sua impossibilidade – horizonte finito – à sua maneira.

4. Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor nas aulas presenciais.

Bibliografia básica

FEIJOÓ, A. M.“Heidegger e a desconstrução da subjetividade moderna”. A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 34-55.

Bibliografia complementar

FEIJOÓ, A. M.“As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.” A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 71-84.

3 o CArÁter De PoDer-ser Do DAseIn: FInItUDe

Temporalidade do Dasein

O conceito de temporalidade é um conceito-chave na fenomenologia-existencial. Heidegger escolhe-o para diferenciá-lo do conceito de tempo, que na tradição filosófica e no nosso uso comum já ficou associado ao tempo cronológico, o tempo do relógio. O tempo cronológico é uma sequência linear e infinita de “agoras”, que se inicia no passado e caminha em direção ao futuro. O modo de ser temporal do Dasein é outro.

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Heidegger se depara com essa questão quando se pergunta pela possibilidade de ser todo do Dasein. Ser todo significa: como o Dasein se completa? Dasein se completa quando realizou todas as suas possibilidades. Neste caso, o Dasein só seria todo quando deixa de ser. Porém, deixando de ser, não realiza essa possibilidade. O Dasein que somos pode, por outro lado, experimentar-se como ser finito. É o que Heidegger chama de “decisão antecipadora” da morte. (Feijoó, 2011, p.41) Devemos tomar cuidado com esta ideia, pois não significa que o Dasein imagina a sua morte. Significa que o Dasein se assume como finito. Ao fazer isso, abre-se para sua facticidade, isto é, para o ente intramundano junto ao qual já se encontra. Numa interpretação mais livre, podemos dizer que o Dasein reconhece a singularidade e finitude da situação na qual se encontra (Feijoó, 2011).

O Dasein existe, então, sendo em relação com o que ele ainda não é, mas pode ser. Um sapateiro, por exemplo, encontra seus instrumentos como instrumentos para o conserto do sapato, que ainda não está consertado, mas “pode” estar. Do mesmo modo, o ser-no-mundo se compreende a partir de possibilidades (futuras) próprias. Antecipa-se a si mesmo. Ao antecipar-se (futuro) presentifica seu mundo, no qual já estava. Um sapateiro, antecipando o consertar e antecipando-se como sapateiro, encontra-se com seu mundo naquela situação. Porvir (o termo que Heidegger usa para se referir ao futuro, protegendo-o das significações já cristalizadas), ser-sido (o termo que Heidegger usa para se referir ao passado, pelo mesmo motivo) e presentificação acontecem juntos; não há separação entre passado, presente e futuro.

Por isso, a analítica do Dasein distinguirá dois modos de temporalização do Dasein: o próprio e o impróprio. Resumidamente, na temporalização imprópria, o ser-no-mundo “vem a si”, compreende-se a partir do que lhe acontecerá. Dessa forma, esquiva-se do peso do ter-que-ser, que a antecipação da morte desvela, esperando algo. Na temporalização própria, Dasein vem a si mesmo como ser finito lançado e responsável por ser.

Atividades recomendadas

1. Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a questão da temporalidade do Dasein.

2. Responda: a questão da temporalidade do Dasein é importante para a psicologia? Justifique sua resposta.

3. Acompanhe o seguinte exemplo de exercício.

Leia atentamente o trecho extraído do livro DUBOIS, C. Heidegger: Introdução a uma Leitura. (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2004) e o poema XIX de Mario Quintana, publicado no livro A Rua dos Cataventos (1940), e considere as afirmações a seguir.

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Na relação com a possibilidade da morte, que não me oferece nada de particular para esperar, essa possibilidade se dá como a possibilidade mais própria. [...] Como ser-lançado, o Dasein é portanto, enquanto ser-no-mundo, lançado no ser-para-a-morte: ele o experimenta na angústia, da qual, cotidianamente, decadente, foge. Como? Tranquilizando-se. Morre-se, certamente, mas por enquanto, tudo bem, ainda dá tempo. [...] Ao contrário, o ser-para-a-morte suportado está certo da morte. [...] certeza de si quer dizer: certeza de si como mortal. [...] Sum quer dizer sum moribundus. (DUBOIS, 2004, p.50)

Minha morte nasceu quando eu nasci

Despertou, balbuciou, cresceu comigo...

E dançamos de roda ao luar amigo

Na pequenina rua em que vivi.

Já não tem mais aquele jeito antigo

De rir e que, ai de mim, também perdi!

Mas inda agora a estou sentindo aqui,

Grave e boa, a escutar o que lhe digo:

Tu és a minha doce Prometida,

Nem sei quando serão nossas bodas,

Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...

E as horas lá se vão, loucas ou tristes...

Mas é tão bom, em meio às horas todas,

Pensar em ti... saber que tu existes!

I. Ambos os textos se referem à antecipação da morte. Heidegger utiliza o conceito ser-para-a-morte, enquanto Quintana refere-se a ela como “a Prometida”.

II. Com o conceito de ser-para-a-morte, Heidegger se refere à condição mortal do homem.

III. A finitude do Dasein é o que desvela para si que é substituível na sua existência.

IV. No poema de Mario Quintana, a morte é apresentada como “a Prometida”, o que, do ponto de vista da fenomenologia-existencial, revela uma tendência suicida latente de seu Dasein.

Estão corretas:

a) I e II, apenas.

b) II e III, apenas.

c) III e IV, apenas.

d) I, II e IV, apenas.

e) I, II e III, apenas.

Se você leu atentamente a bibliografia indicada, pôde reconhecer que a afirmação I está correta, pois, de acordo com a citação de Dubois, a antecipação da morte revela o ser-para-a-morte constitutivo da existência. No poema de Mario Quintana essa ideia é expressada, em linguagem poética, como a

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Prometida, uma possibilidade que o acompanha desde sua infância e que um dia acontecerá. Para Heidegger, desde que lançado na existência, o Dasein é ser-para-a-morte. Assim, a afirmação II também está correta.

Em Ser e tempo, a possibilidade da morte aparece como a única na qual ninguém pode ser substituído por outrem. A antecipação da morte singulariza o Dasein, portanto, revelando que sua existência está sob seu encargo exclusivamente. A afirmação III vai de encontro com essa ideia, pois sugere que o ser-para-a-morte revela que cada um é substituível na sua existência.

Equivocada também está a afirmação IV. A fenomenologia-existencial trabalha com fenômenos, buscando encontrar neles seu sentido. A ideia de tendências latentes é uma hipótese teórica, que não condiz com o fenômeno. O fenomenólogo não tem base fenomenológica para tal inferência. Pelo contrário, pois no poema, Mario Quintana transmite um júbilo por reconhecer sua finitude, que torna os momentos de sua vida únicos e irrepetíveis.

Bibliografia básica

SAPIENZA, B.T. Encontro com a Daseinsanalyse: a obra Ser e tempo, de Heidegger, com fundamento da terapia daseinsanalítica. São Paulo: Escuta, 2015, p. 48-95.

Bibliografia complementar

FEIJOÓ, A. M. “As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.” A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 71-84.

Angústia e finitude do Dasein

As considerações de Heidegger acerca da temporalidade se desdobram na finitude do Dasein. Como vimos, a finitude não coincide com a morte. “Antecipação da morte” não significa imaginar-se morrendo. Até o contrário. Antecipação da morte significa assumir-se como um ser único, insubstituível, destinado a ser. Existir é tarefa. Essa ideia de Heidegger se faz presente no Existencialismo de Sartre através da ideia de que o homem é condenado a ser livre.

O conceito de temporalidade, como já vimos, expressa o modo mais originário da existência de lidar com tempo; mais precisamente, de lidar com o próprio tempo. Embora Dasein lide cotidianamente com o tempo como uma sequência infinita de agoras (tempo cronológico), seu tempo mais original é aquele que reconhece sua finitude. Lançada na facticidade, a existência é um intervalo entre dois nadas.

O nada se manifesta na angústia. É a dissolução do mundo, que revela ao Dasein seu ser como cuidado. Como cuidado, existir é tarefa que só se completa quando o Dasein realiza sua derradeira possibilidade. Heidegger lembra que a possibilidade da impossibilidade não pode ser confundida com a morte biológica. Numa passagem de Ser e tempo, comenta que a morte biológica pode interromper possibilidades, assim como tardar a chegar.

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A temporalidade do Dasein traz muitas implicações para a compreensão dos fenômenos que interessam ao psicólogo. A primeira e mais radical é de que a existência humana não pode ser compreendida como um desenvolvimento linear do passado em direção ao futuro. Isto abre um forte debate com as psicologias explicativas. O pensamento natural-científico faz coincidir o sentido do fenômeno com sua causação temporalmente anterior. Ao observar um fenômeno psicológico, não se interessa por o que ele revela (seu sentido), mas imediatamente pergunta por que se dá dessa maneira, buscando sua resposta na sequencia temporal. Se for preciso indicar uma ênfase na temporalidade para a fenomenologia-existencial, será o futuro, que Heidegger chama de porvir exatamente para diferenciar das significações já cristalizadas de futuro.

O porvir é uma possibilidade de ser si mesmo que o Dasein assume como sua. A partir dessa possibilidade advém a si a sua história e os entes pertinentes. Em outras palavras, eu sou o que posso ser. É por isso que as psicologias humanistas, que se inspiram na fenomenologia-existencial (não confundamos Psicologia Humanista com Daseinsanalyse), enfatizam os projetos do ser humano, ao invés de buscar explicações em seu passado.

O conceito de temporalidade traz grandes repercussões na psicopatologia. Os primeiros psicopatologistas fenomenológicos (Jaspers, Minkowski) elaboraram descrições das vivências psicopatológicas tendo em vista a temporalidade. Por exemplo, a depressão é um encurtamento no porvir, de modo que para o deprimido vem a ser apenas a perpetuação da dor e da tristeza.

Talvez a mais importante implicação seja a nova ênfase dada aos conceitos de angústia e morte na prática clínica. A daseinsanalyse coloca esses conceitos como centro de sua preocupação, reconhecendo nos fenômenos “psicológicos” modos de lidar com a própria finitude, antecipada, e com a angústia, enquanto perda de mundo e de si mesmo.

Atividades recomendadas

1. Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a questão da finitude do Dasein.

2. A partir das leituras, como você articula finitude e singularização?

3. A angústia é frequentemente entendida como um sentimento. Confronte a noção vulgar de angústia com a noção heideggeriana.

4. Responda: a questão da finitude do Dasein é importante para a psicologia? Por que?

5. Acompanhe o seguinte exemplo de exercício.

Leia o trecho de Kierkegaard, que inspira a compreensão fenomenológico-existencial sobre a angústia desenvolvida por Heidegger em Ser e tempo, e responda.

A angústia é a possibilidade da liberdade, só esta angústia é, pela fé, absolutamente formadora, na medida em que consome todas as coisas finitas, descobre todas as ilusões. E nenhum Grande Inquisidor

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dispõe de tão horripilantes tormentos como a angústia, e nenhum espião sabe investir sobre o suspeito com tanta astúcia, justo no momento em que está mais debilitado, ou sabe preparar armadilhas, em que este ficará preso, tão insidiosamente como a angústia, e nenhum juiz sagaz consegue examinar, sim, ‘ex-animar’ [desalentar], o acusado como a angústia, que não o deixa escapar jamais, nem nas diversões, nem no barulho, nem no trabalho, nem de dia nem de noite.

KIERKEGAARD, S. O Conceito de Angústia (1944). Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2011.p. 164.

Sobre a angústia na daseinsanalyse é verdadeiro afirmar:

I. Assim como na citação, Heidegger afirma que não há como escapar da angústia, nem mesmo “nas diversões, nem no barulho, nem no trabalho, nem de dia nem de noite”, pois a angústia é constitutiva do ser-aí (ontológica).

II. A angústia rompe com a familiaridade do mundo, produzindo estranhamento. A fenomenologia-existencial busca reconduzir quem vivencia essa estranheza a alguma familiaridade.

III. Para a fenomenologia-existencial, a psicoterapia auxilia na profilaxia da angústia, evitando que ela irrompa.

A) I, apenas.

B) II, apenas.

C) III, apenas.

D) I e II, apenas.

E) II e III, apenas.

Se você leu atentamente os textos indicados na bibliografia, não deve ter tido dificuldades para compreender a citação de Kierkegaard. Ele escreve sobre o mesmo fenômeno da angústia, descrito por Heidegger, porém, com outra linguagem. Tanto para Kierkegaard quanto para a Heidegger, a angústia – que é o rompimento com a familiaridade com o mundo – é uma possibilidade intrínseca à existência. Portanto, não há como escapar dela. Portanto, as afirmações I e II estão corretas. A afirmação III sugere que há um modo de fugir da angústia; no caso, a terapia. Dado que é uma possibilidade intrínseca, não há como a evitar. Também não há porque a evitar, dado que a angústia revela a cada um que sua existência está sob sua responsabilidade.

Bibliografia básica

FEIJOÓ, A. M.“Heidegger e a desconstrução da subjetividade moderna”. A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 34-55.

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Bibliografia complementar

FEIJOÓ, A. M.“As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.” A existência para além do sujeito: a crise da subjetividade moderna e suas repercussões para a possibilidade de uma clínica psicológica com fundamentos fenomenológico-existenciais. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 71-84.

4 FenoMenoLoGIA eXIstenCIAL DA HIstÓrIA PessoAL

A concepção de história pessoal (historiobiografia) de Dulce Critelli

A filósofa Dulce Critelli fundamenta suas reflexões nas filosofias de Martin Heidegger e Hannah Arendt que, por sua vez, fornecem importantes compreensões para psicologia fenomenológica existencial. Para a autora, ambos os pensadores são complementares, mas há uma diferença notável entre eles no que tange ao sentido da filosofia. Enquanto para Heidegger a filosofia exige descomprometimento com a vida cotidiana, para a ex-aluna de Heidegger, radicada nos EUA, a filosofia é a capacidade de avaliar a vida e de modificá-la. Para Arendt, a filosofia mantém uma relação íntima com a ação. Segundo Critelli (2012), “Quando pensamos, transformamos nossas crenças e, consequentemente, transformamos nosso jeito de viver” (p.17).

Por ação, Arendt se refere à condição humana. Existir é ser iniciador. Fiel ao princípio fenomenológico existencial de suspensão radical de quaisquer a priori que substancializam a existência, Arendt concebe o ser-no-mundo-com-os-outros como ação e palavras. A ação inicia algo novo no mundo. Seu sentido vai se desvelando nas repercussões, consequências e desdobramentos. Por isso, o sentido de todo gesto humano depende dos outros. Nas palavras de Critelli (2013),

Nossos atos e palavras não são autossignificantes. Se eles ganham impulso nas nossas intenções, raramente as realizam. De um lado, porque à medida que se destinam aos outros (por condição humana, iniciadores como nós), eles podem interferir neles e modificar seu sentido. De outro lado, porque o sentido e o significado de nossos atos e palavras se completam pelos efeitos e consequências que provocam. (p.36)

Assim, a existência, que é concomitantemente singular (eu sou) e plural (no mundo com os outros), pode perder a autoria de sua história. Como autora dos próprios gestos, seus significados podem ser transformados pelos outros. A fala é a capacidade de explicitar o sentido intencionado, preservando a autoria da ação.

Essas reflexões são muito importantes para a psicologia fenomenológica existencial, pois esta suspende as noções de psiquismo, sujeito e indivíduo, reconhecendo o outro como existência singular e plural, no mundo com os outros, constitutivamente estando em jogo a autoria de sua biografia.

Referência bibliográfica

CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.

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Atividades recomendadas

1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a história da fenomenologia e da fenomenologia-existencial nos contextos clínicos.

2. A Historiobiografia é uma “abordagem terapêutico-pedagógica” (CRITELLI, 2012, p.12) Por que? Responda recorrendo ao livro. Há relações possíveis entre a prática psicológica e tal abordagem? Se sim, quais? Indique-as.

3. Logo no começo do livro, Critelli (2012, p.11) indica três questões fundamentais: “Quem sou eu?”, “Qual é o sentido da vida?”, “Que sentido eu faço nela?” Reflita sobre como a Psicologia tem lidado com essas questões.

4. Acompanhe o exercício a seguir.

Leia as duas frases de Critelli e, considerando a relação entre elas, indique a alternativa correta:

“Os homens experimentam uma necessidade ontológica de compartilhar seus conhecimentos, suas descobertas, seus sentimentos e pensamentos”

POIS,

“para os homens, tudo o que chamamos de real é aberto e sustentado pelo viver em conjunto.” (p.26)

Assinale a alternativa correta:

A) As duas asserções são verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta da primeira.

B) As duas asserções são verdadeiras e a segunda não é uma justificativa correta da primeira.

C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira e a segunda, uma proposição falsa.

D) A primeira asserção é uma proposição falsa e a segunda, uma proposição verdadeira.

E) Tanto a primeira como a segunda são proposições falsas.

Se você acompanhou o texto acima e leu o texto indicado, pode compreender que a existência humana é coexistência, isto é, acontece com-os-outros-no-mundo. Terá assinalado a alternativa A como correta. Para Arendt o existir é político. Sendo assim, ser-aí e mundo são dois polos do mesmo fenômeno, que é o existir com outros. Portanto, ambas as afirmações estão corretas e a segunda é uma justificativa correta da primeira.

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Bibliografia básica

CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.

Historiobiografia e Sentido da Vida

A filósofa Dulce Critelli nomeia Historiobiografia a “abordagem terapêutico-pedagógica que tem por intenção a redescoberta do sentido da vida através da compreensão da história pessoal.” (p.12) Esse termo é composto por história e biografia, apontando para dois aspectos fundamentais do existir humano.

História significa tanto o “conjunto de conhecimentos relativos ao passado da humanidade” (HOUAISS, 2013), quanto uma narrativa. Esses dois sentidos se articulam na existência humana. Somos seres históricos, isto é, lançados em contextos significativos históricos compartilhados já dados, e biográficos, isto é, que constituímos nossa história pessoal ao longo do existir. Por isso, quem é alguém só pode ser dito quando já foi; a todo momento nossas ações podem inaugurar novos sentidos, que reverberam no já vivido.

A todo o momento é possível uma reflexão sobre a história que está em andamento. Isso é necessário, pois existir é estar em risco de perder o próprio ser (a autoria da própria vida) nas interpretações do senso comum. Também é fundamental para cuidar das possibilidades porvindouras, realizando a possibilidade humana de lançar-se em direção ao que ainda não é, mas pode ser (POMPEIA, 2012), cuidando para que a vida seja melhor.

Critelli (2012) indica três “guias de viver”: 1) Relatos, 2) Historietas e 3) Histórias. Diferenciam-se pela abrangência temporal e pela complexidade de cada um. A identidade pessoal se costura pelos fios dessas formas de narrativa.

Referências bibliográficas

CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.

POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. Os dos nascimentos do homem: escritos sobre terapia e educação na era da técnica. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011.

Atividades recomendadas

1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a história da fenomenologia e da fenomenologia-existencial nos contextos clínicos.

2. Critelli (2012) indica três “guias de viver” no livro História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. Pesquise o que significa cada um desses termos.

3. Referindo-se à sua biografia, recolha um relato, uma historieta e uma história pessoais.

4. Acompanhe o exercício a seguir.

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Uma psicóloga fenomenológica atendia em seu consultório uma menina. A menina enrolou uma massinha até formar uma cobra. No momento seguinte, pega um instrumento e começa a cortar a cobra em vários pedaços. Sua primeira reação foi de interpretar à luz das concepções psicanalíticas. Mas, antes disso, perguntou à menina, que lhe respondeu: “a cobra estava se sentindo sozinha, então estou lhe dando amigos.” (situação adaptada de FORGHIERI, 2000). Considerando a compreensão da condição humana desenvolvida por Critelli (2012) e a Historiobriografia, está correto afirmar:

Referência bibliográfica: FORGHIERI, Y. C. Psicologia Fenomenológica: fundamentos, método e pesquisa. São Paulo: Ed. Pioneira Thomson, 2000.

A) O senso comum fundamenta e referenda a compreensão dessa psicóloga.

B) Os atos são autossignificantes. O fenomenólogo precisa ir às coisas mesmas, isto é, à observação dos atos da menina.

C) A palavra é a possibilidade de explicitar as intenções. A menina pôde, ao dizer o que fazia, explicitar o sentido do cortar.

D) O desvelamento do verdadeiro sentido do cortar depende da reflexão da psicóloga. A reflexão (termo que recebe um significado específico na Historiobiografia) é a capacidade de articular o que aparece com as interpretações teóricas.

E) A psicóloga precisa realizar uma Historiobiografia da menina, isto é, pedir que ela conte de sua história e de sua biografia.

Se você leu atentamente os textos indicados, pôde ver que a alternativa correta é a C. Para responder a esta questão, é necessário ter clareza sobre o que é a Historiobiografia desenvolvida por Critelli, que mostra que as alternativas D e E estão erradas. A alternativa A está incorreta, pois a interpretação inicial da psicóloga estava (de acordo como enunciado) fundamentada na psicanálise. A alternativa B está errada, pois “ir às coisas mesmas” é desvelar o sentido dos fenômenos. Para isso, é necessário articular os significados das ações da menina com a enunciação de suas intenções.

Bibliografia básica

CRITELLI, D. História Pessoal e Sentido da Vida – Historiobiografia. São Paulo: EDUC, 2012.