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Psicologia da Motivação e Emoção 1 Aulas 2009/2010 1 Psicologia da Motivação e da Emoção I Caracterização do conceito de Motivação. O conceito de motivação deriva da expressão latina movere que significa movimento. A motivação será o conjunto de forças que mobilizam e orientam a acção de um organismo em direcção a determinados objectivos. Pode ser definida como a variedade do comportamento intra e inter-individual devido a diferenças individuais e competências no controlo das exigências do meio que a acção exige (Vroom, 1964). As variáveis direcção do comportamento, intensidade da acção e persistência do esforço são as componentes que a pesquisa empírica mais tem procurado investigar (Neves, 2002). A motivação é a base de todo o comportamento, porque não há comportamento sem motivação. Entende-se por motivação o conjunto de forças que sustentam, regulam e orientam as acções de um organismo para determinado fim. Em Psicologia têm surgido imensas teorias reltivas ao conceito de motivação, o que tem dificultado o processo de delimitação do próprio conceito e até do campo de acção da Psicologia da Motivação. Os autores têm adoptado diferentes atitudes: Atitude anti-teórica Atitude eclética Atitude de opção teórica Atitude integrativa A integração permite: - Identificar conceitos que têm o mesmo significado (expectativa de resultado; expectativa de controlo, expectativa de contingência; expectativa “se… então”). - Conjugar os contributos de várias teorias comparáveis e complementares (expectativa de controlo e expectativa de eficácia). - Diferenciar entre conceitos que são confundidos, nomeadamente expectativa e atribuição.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 1

Psicologia da Motivação e da Emoção I

Caracterização do conceito de Motivação.

O conceito de motivação deriva da expressão latina movere que significa movimento.

A motivação será o conjunto de forças que mobilizam e orientam a acção de um organismo em

direcção a determinados objectivos.

Pode ser definida como a variedade do comportamento intra e inter-individual devido a

diferenças individuais e competências no controlo das exigências do meio que a acção exige

(Vroom, 1964).

As variáveis direcção do comportamento, intensidade da acção e persistência do esforço são

as componentes que a pesquisa empírica mais tem procurado investigar (Neves, 2002).

A motivação é a base de todo o comportamento, porque não há comportamento sem

motivação. Entende-se por motivação o conjunto de forças que sustentam, regulam e

orientam as acções de um organismo para determinado fim.

Em Psicologia têm surgido imensas teorias reltivas ao conceito de motivação, o que tem

dificultado o processo de delimitação do próprio conceito e até do campo de acção da

Psicologia da Motivação.

Os autores têm adoptado diferentes atitudes:

Atitude anti-teórica

Atitude eclética

Atitude de opção teórica

Atitude integrativa

A integração permite:

- Identificar conceitos que têm o mesmo significado (expectativa de resultado; expectativa de

controlo, expectativa de contingência; expectativa “se… então”).

- Conjugar os contributos de várias teorias comparáveis e complementares (expectativa de

controlo e expectativa de eficácia).

- Diferenciar entre conceitos que são confundidos, nomeadamente expectativa e atribuição.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 2

Teorias

Motivação:

Concepção Mecanicista

Psicologia Etológica: Psicologia Animal.

Psicologia Behaviorista: O comportamento é o resultado dos

estímulos observáveis do exterior.

Psicologia Psicanalítica: O pensamento freudiano é centrado no

carácter imperioso dos instintos: agressão e sexo.

Concepção Cognitiva

Psicologia Cognitivista: Os indivíduos não reagem aos

estímulos, mas à representação que elaboram da acção.

Psicologia Humanista. As influências no desenvolvimento são

consideradas interaccionistas. As necessidades básicas são

hereditárias, mas a concretização é função do contexto de vida no qual

cada um se insere.

Porquê a opção pela Concepção Cognitivista?

As teorias humanista e cognitiva, consideram que o princípio básico do funcionamento dos

motivos é o da persistência de tensão ou homeoquinesia.

O sujeito é agente activo e selectivo do próprio comportamento, capaz de estimular-se em

função de metas a atingir e das oportunidades fornecidas pelas situações. O sujeito é o próprio

agente da sua aprendizagem e comportamento.

Diferenças entre concepções Mecanicistas e cognitivistas.

Concepções Mecanicistas Concepções Cognitivistas

Objectivo do comportamento Adaptação ao meio Realização de projectos pessoais

Diferenças individuais Hábitos (passado) Objectivos pessoais (futuro)

Fórmulas teóricas S-O-R S-C-R

Aprendizagem Estabelecimento de conexões s-r

Mudanças na percepção da situação

Sujeito Passivo e reactivo Agente da própria aprendizagem

Educação Reforços ou manipulação extrema

Responsabilidade pessoal

Motivação Extrínseca Intrínseco

Motivos Só os biofisiológicos são primários

Todos são primários

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 3

Modelos Impulso-Hábito vs. Expectativa-Valor.

Os modelos impulso-hábito defendem que os comportamentos derivam de estímulos internos

ou impulsos, devido a estados de provação biofisiológica, ou seja, são eles que dão ao

indivíduo a energia.

Os modelos expectativa-valor alegam que não são os estímulos que causam a acção, mas os

objectos ou metas pessoais, uma vez que o alcance de certas metas permite a realização

pessoal.

Teorias.

Hierarquia das necessidades de Maslow (1954)

Maslow dividiu as cinco necessidades em dois grupos:

Ordem inferior: Necessidades Fisiológicas e de Segurança;

Ordem Superior: Necessidades Socias, de Estima e de Realização.

As necessidades de ordem inferior são predominantemente satisfeitas extrinsecamente,

enquanto as de ordem superior são satisfeitas internamente.

Insatisfação Satisfação

Insucesso na profissão Desprazer no trabalho

Necessidades de Realização Sucesso na profissão Prazer no trabalho

Baixo status Sensação de inequidade

Necessidades de Estima Status

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 4

Baixa interacção com os colegas, chefia e subordinados

Necessidades Sociais Elevada interacção com os colegas, chefia e subordinados

Tipo de trabalho e ambiente Politicas da empresa imprevisíveis

Necessidades de Segurança Tipo de trabalho e ambiente estruturados Politicas da empresa estáveis

Confinamento no local de trabalho Renumeração inadequada

Necessidades Fisiológicas Renumeração adequada

Teoria dos dois factores de Herzberg (1959).

Pense em algo que tenha acontecido no seu trabalho e que o tenha feito sentir-se

especialmente satisfeito ou insatisfeito.

Quais os factores que o fizeram sentir-se satisfeito?

Quais os factores que o fizeram sentir-se insatisfeito?

A teoria assenta em dois principais pressupostos:

As pessoas são motivadas pelo desejo de satisfazer um determinado tipo de necessidades;

Essas necessidades são universais e apresentam-se de forma sequencial ou hierárquica.

A teoria dos dois factores de Herzberg apresenta muitos pontos comuns com a de Maslow,

existindo mesmo autores que têm procurado fazer corresponder as necessidades de Maslow

aos factores de Herzberg (Jesus, 1996)

O autor distingue entre Factores Higiénicos (necessidades de segurança e sociais de Maslow) e

Factores Motivadores (necessidades de estima e realização de Maslow).

Os factores responsáveis pela satisfação não eram simultaneamente responsáveis pela

insatisfação:

A satisfação decorria do trabalho em si;

A insatisfação dos factores contextuais.

O autor sugere que:

O oposto da satisfação é a não satisfação;

O inverso da insatisfação é a não insatisfação.

A grande novidade desta teoria reside no postulato da independência entre factores de

satisfação e insatisfação.

Os factores higiénicos eliminam a insatisfação, mas não provocam a motivação.

Independentemente do grau de motivação, o individuo poderá sentir-se satisfeito ou não com

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 5

as condições que lhe são propostas. (Exemplos: pagamento, condições de trabalho, politicas

de gestão, segurança no emprego, etc.)

Os factores motivacionais geram a motivação, mas não eliminam a insatisfação. Os

colaboradores estarão motivados se lhes forem atribuídas tarefas interessantes e ricas, em

termo de conteúdo. (Exemplos: responsabilidade, sucesso, conteúdo do trabalho,

reconhecimento, oportunidade de desenvolvimento pessoal, etc.)

Teoria X e Y de McGregor (1960).

McGregor propôs duas visões distintas relativamente à forma de pensar o homem:

Uma visão tradicional, fundamentalmente, negativa – Teoria X;

Uma visão contemporânea, fundamentalmente positiva – Teoria Y.

Teoria X:

O trabalho é intrinsecamente desagradável para a maioria das pessoas.

Poucas pessoas são ambiciosas, têm desejo de responsabilidade; a maioria prefere ser

orientada pelos outros.

A maioria das pessoas tem pouca capacidade para criar e encontrar solução para os

problemas das organizações.

A motivação ocorre apenas nos níveis fisiológico e de segurança.

Para a realização de objectivos da organização, a maioria das pessoas precisa de ser

estritamente controlada.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 6

Teoria Y:

O trabalho é tão natural quanto o jogo, desde que as condições sejam favoráveis.

O auto-controlo é frequentemente indispensável para realização dos objectivos da

organização.

A capacidade para criar e resolver problemas das organizações está muito distribuída na

população.

A motivação ocorre no nível social, de estima e auto-realização, bem como no nível fisiológico

e de segurança.

As pessoas podem orientar-se e ser criativas no trabalho, desde que motivadas.

O que bloqueia a iniciativa O que favorece a iniciativa

Não ter direito de errar. Aprende-se com os erros, conservando o apoio superior

Uma pessoa sabe… a outra não sabe. Cada um detém uma parte pertinente do saber.

Só há uma boa maneira de fazer correctamente: é como o chefe faz.

O subordinado encontra a sua própria maneira de se realizar.

O responsável só se preocupa com o “curto prazo”.

Objectivos ambiciosos e realistas.

O lider pensa que os subordinados não trabalham

O líder adopta um estilo de liderança

autoritário

O lider tem comportamentos

autoritários

Os subordinados sentem-se

insatisfeitos

Os subordinados farão apenas o

que lhes for dito

O lider tem confiaça nos subordinados

O líder delega e informa

O lider toma decisões em cooperação

Os subordinados estão satisfeitos

Os subordinados trabalham sobre a

sua responsabilidade

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 7

A iniciativa é privilégio do responsável. Todos podem ter iniciativa.

Não executar mais do que uma função limitada.

Confiar em missões abertas. Estar disponível.

Ensinar a aprender. Descobrir por si mesmo.

Condicionamento e conformismo. Adaptação, inovação e desenvolvimento.

Estabelecendo uma comparação com a teoria da Maslow verificamos que:

A teoria X assume que as necessidades de ordem inferior regulam os comportamentos das

pessoas.

A teoria Y garante que os indivíduos são determinados por necessidades de ordem superior.

Não há evidência empírica que permita considerar como unicamente válidos os pressupostos

da teoria Y. Nem a garantia de que se alterarmos os nossos comportamentos de acordo com

esses pressupostos haverá um aumento na motivação dos indivíduos.

Em ultima instância a grande mais-valia desta teoria constitui a confirmação de que a

motivação dos indivíduos depende do contexto e situações particulares.

Teoria das necessidades apreendidas de McClelland (1961).

O autor considerou a existência de três necessidades motivacionais fundamentais, que variam

e indivíduo para indivíduo, em termos de frequência e grau:

Necessidade de realização: Desejo de ser bem sucedido.

Necessidade de poder: desejo de influenciar o comportamento dos outros.

Necessidade de afiliação: desejo de estabelecer relações interpessoais.

Para MClelland estas necessidade são aprendidas no contexto das experiências de vida do

indivíduo, sendo sobretudo as práticas educativas na infância as que determinam a realização

do indivíduo. Assim, contempla as diferenças intra e inter-individuais.

O comportamento das pessoas é influenciado pelos motivos, os quais têm características

semelhantes aos traços de personalidade (consistentes ao longo do tempo e resistentes à

mudança).

Robbins (1996) considera que os dados utilizados pelo autor apresentam uma generalização

limitada, uma vez que foram obtidos a partir de amostras constituídas apenas por homens

americanos.

A perspectiva de uma alta realização funcionar como factor motivador intrínseco pressupõe o

desejo de aceitar tarefas de risco (exclui países com elevado grau de instabilidade e incerteza

face ao futuro), o que varia consoante as características culturais.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 8

No caso particular do nosso pais, um estudo realizado por Rodrigues (1995) demonstra que a

população portuguesa valoriza excessivamente os aspectos materiais, pelo que as conclusões

de McClelland não são aplicáveis à nossa sociedade.

Teoria da motivação para a realização de Atkinson (1957).

Principais conceitos – Atkinson defende que a tendência dos indivíduos na aproximação de

uma tarefa (T) é determinad por quatro elementos:

1. Ms: Motivos para alcaçar o sucesso;

2. Mf: Motivos para evitar o fracasso;

3. P: Probalidade sentida de sucesso na tarefa;

4. Is: Valor do incentivo para o sucesso na tarefa.

O comportamento orientado para a realização é o resultado do conflito (C) entre a tendência

para alcançar o sucesso (Ts) e a tendência para evitar o fracasso (Tf).

C = Ts + Tf

O pior inimigo do sucesso é o medo do fracasso.

A tendência para alcançar o sucesso é função do motivo para alcançar o sucesso (Ms), da

probabilidade subjectiva de que o empenho será seguido de sucesso (Ps) e do valor do

incentivo do sucesso (Is).

(Ts = Ms x Ps x Is)

A tendência para evitar o fracasso é função do motivo para evitar o fracasso (Mf), da

expectativa de fracasso (Pf) e do valor negativo do fracasso para o sujeito (If).

(Tf = Mf x Pf x If)

O medo do fracasso é a antítese da tendência para alcançar o sucesso. Leva ao evitamento das

tarefas que possuam contribuir para o sucesso e é inibitório por natureza (Atkinso & Raunor,

1974).

Como é que se comportam as pessoas com elevada necessidade de realização?

Estabelecem metas moderadamente difíceis, mas potencialmente atingíveis;

Estão mais preocupados com a realização pessoal do que com a recompensa de sucesso;

Apreciam a comparação das suas realizações com as das outras pessoas;

Preferem um feedback referente a tarefas do que o feedback social ou de atitude;

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 9

Gostam de saber o resultado das suas actividades;

Confiam nos seus esforços e capacidades.

O que conduz ao stress e torna o indivíduo ansioso?

Desvalorizar as suas capacidades para resolver problemas;

Recorrer a pensamentos derrotistas do tipo “não vou conseguir”;

Generalizar uma situação frustrante passada e acreditar que vai ser sempre assim;

Afastar-se da realidade pressente (irrealismo);

Exagerar a dificuldade da situação;

Aumentar o poder dos outros, diminuindo o seu próprio poder e importância.

O balanço do stress varia em função do grau de exigência estabelecido pela circunstância e as

aptidões e recursos pessoais e sociais que o indivíduo possui para a confrontar (Vaz Serra,

1999).

Aptidões e recursos

Exigências

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Diferença entre Eustress e Distress (Jesus, 1998).

Qual o papel dos incentivos extrínsecos?

Fazer uma lista dos seus recursos e capacidades, relevando os sues pontos fortes;

Dizer a si próprio palavras estimulantes motivadoras e calmantes;

Fazer uma coisa de cada vez. Confiar nas suas capacidades. Deixar o passado e concentrar-se

no presente (step-by-step);

Respirar devagar e prolongadamente. Descontrair-se. (Estado de activação biofisiológico

equilibrado);

Desdramatizar a situação e confiar em si. (Optimismo),

Reapropriar-se do seu próprio poder. Não exagerar o poder dos outros (Assertividade);

Fixar um objectivo e visualizar o sucesso decorrente da sua consecução.

Resistência (tentativa de lidar com a situação)

"Coping" (Eustress) - (Resolução do problema)

Optimização do funcionamento adaptativo

"Exaustão" (Distress) - (Tensão muito elevada e/ou durante demasiado tempo)

Sintomas de mal-estar

"Reacção de alarme" (percepção da situação)

Potencial factor de mal-estar (exigências profissionais)

Desafio Problema

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 11

Quais as implicações dos resultados obtidos nas investigações?

Os sujeitos com maior motivo de realização (Ms) apresentam maior performance e

persistência;

Os sujeitos com maior motivo de realização e menor ansiedade apresentam maior actividade

orientada para a realização, na direcção do comportamento, na performance e na persistência;

Os sujeitos, de qualquer classe social, com maior motivo de realização apresentam melhores

resultados escolares;

Os sujeitos, se possuem Ms > Maf, preferem áreas de estudo de dificuldade intermédia e

apresentem aspirações vocacionais mais realistas;

Os sujeitos com maior motivo de realização apresentam ocupações profissionais de estatuto

superior do que as dos seus pais. Quando o estatuto das profissões destes é baixo;

Os sujeitos com Ms > Maf aumentam o nível de aspirações após o sucesso e diminuem após o

fracasso;

Após o fracasso, os sujeitos com Ms > Maf são mais persistentes em tarefas fáceis, enquanto

aqueles com Ms < Maf são mais persistentes em tarefas difíceis;

Os sujeitos com Ms > Maf apresentam maior aprendizagem e interesse escolar.

Teoria da expectativa (Vroom, 1964).

No domínio das teorias da expectativa, a teoria de Vroom é considerada uma das mais aceites,

visto constituir uma conceptualização pioneira no âmbito dos modelos cognitivos de

expectativa-valor.

Considera que o comportamento resulta de escolhas conscientes e alternativas e que estas

escolhas (comportamentos selectivos) estão intimamente relacionadas aos processos

psicológicos (percepção e atitude).

São crenças que estimulam o comportamento:

F (expectativa x instrumentalidade x valência)

De acordo com Ferreira et al. (2001), Vroom baseou-se em três tipos de relações para formular

a sua teoria da expectativa:

Relação Esforço/Desempenho

Relação Desempenho/Recompensa

Relação Recompensa/Objectivos pessoais.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 12

A estes três tipos de relações o autor acrescentou cinco conceitos chave que funcionam como

pilares de teoria:

Resultados: o que a organização proporciona ao profissional como contrapartida do seu

desempenho;

Valência: grau de atracção que o resultado represente para o indivíduo;

Instrumentalidade: percepção do grau de relação entre o desempenho e os resultados

alcançados;

Expectativa: aquilo que a pessoa antevê como provável resultado, em função do seu

desempenho;

Força: quantidade de esforço dispensado ou tensão existente no interior da pessoa, capaz de a

motivar.

Teoria da Aprendizagem Social de Rotter:

Compreender o comportamento do sujeito numa ampla diversidade de situações, ou seja,

oferecer uma teoria sistemática da personalidade que pudesse ser útil no domínio da

psicologia clínica.

A teoria da aprendizagem social pretende explicar e prever as escolhas que os sujeitos fazem

quando confrontados com diversas alternativas ao comportamento, em situação de tomada

de decisão (Jesus, 2000).

É uma teoria interaccionista que considera, para explicação do comportamento do sujeito, a

influência da sua personalidade e o significado das situações específicas em que o

comportamento ocorre.

Quais os principais conceitos desta teoria?

C = f (E & V)

A probabilidade de ocorrência de um determinado comportamento, numa determinada

situação, ou seja, o comportamento potencial (C) é função da expectativa (E) de que esse

comportamento permitirá alcançar um certo resultado e do valor do esforço (V)desse

resultado para o sujeito.

Segundo o autor, existe uma relação independente entre as variáveis expectativa e valor, o

facto de se valorizar muito alguma coisa não quer dizer que se tenha grandes expectativas.

O comportamento potencial é a probabilidade de ocorrência de um comportamento numa

determinada situação, sendo escolhido comparativamente a outras alternativas de

comportamento.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 13

O valor do resultado é o grau em que o sujeito prefere que um determinado resultado ocorra.

Este valor depende do estado de necessidade em que o sujeito se encontra.

A expectativa constitui a probabilidade do sujeito considerar a ocorrência de um determinado

resultado, em função de um comportamento numa determinada situação. É determinada pela

experiência anterior, levando o sujeito a aprender que há uma relação entre determinados

comportamentos e o alcance de certas metas.

As expectativas podem ser gerais ou específicas.

Gerias – baseiam-se em situações semelhantes.

Específicas – baseiam-se na experiência anterior.

Quais as relações possíveis entre expectativa e valor?

Expectativa Valor + - - + + + + +

Alguns valores podem estar na base da discrepância entre expectativa e valor:

O desconhecimento dos meios para alcançar os fins. (fornecer valor instrumental aos meios).

A generalização inadequada de experiências fracassadas anteriormente. (procurar discriminar

as situações).

A não aprendizagem de determinadas competências. (treino dessas competências mas com

carácter comportamental).

As necessidades são orientadoras do comportamento, na medida que definem a direcção do

mesmo. Podemos distinguir seis necessidades básicas.

Conforto físico, necessidade de satisfação no plano biofisiológico;

Protecção ou dependência, necessidade de segurança;

Amor e afeição, necessidade de ser aceite pelos outros e sentir-se integrado;

Reconhecimento e estatuto, necessidade de ser reconhecido;

Dominância, necessidade de controlar a acção dos outros;

Independência autonomia, necessidade de tomar as suas próprias decisões.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 14

O conceito mais desenvolvido na teoria de Rotter é expectativa de controlo dos resultados ou

locus de controlo: traduz as diferenças individuais na expectativa de contingência entre

comportamento pessoal e os resultados obtidos.

As expectativas de controlo vão influenciar as expectativas do sucesso do sujeito no sentido de

serem maiores quanto mais o sujeito apresenta expectativas de controlo interno numa tarefa

em que tenha sido bem sucedido no passado.

Em tarefas de controlo interno a expectativa do sucesso é maior após o sucesso, enquanto que

em tarefas de controlo externo a expectativa de sucesso é maior após o fracasso.

Seeman& Liverant, 1962, cit. in Jesus, 2000)

Qual o instrument de avaliação deste constructo?

O autor construiu a escala de internalidade – externalidade de Rotter para avaliar a tendência

dos sujeitos para perceberem os acontecimentos como sendo controlados mais internamente

ou mais externamente.

A escala apresenta 29 itens que representam uma amostragem de crenças relativas a seis

categorias: reconhecimento académico; amor e afecto, reconhecimento social; gestões

sociopolíticas, dominância; filosofia de vida.

As investigações mostram a tendência, sobretudo nas sociedades ocidentais, para o aumento

da externalidade, ou seja, cada vez mais os indivíduos crêem não poder controlar os resultados

(Jesus, 2000).

No entanto os indivíduos com maior internalidade têm mais motivação para a realização e

apresentam menos sintomas depressivos.

Findley e Cooper (1983) analisaram 98 estudos e concluíram que, em geral, os alunos com

expectativas de controlo interno obtêm melhores resultados escolares, comparativamente

com aqueles que apresntam expectativas de controlo externo.

No caso dos professores, aqueles que apresentam maior internalidade têm menos nível de

stress profisional e maior satisfação profisional; enquanto que os professores com amior

externalidade têm maior tendência para o mal estar docente (Jesus, 2000).

Teoria da atribuição causal de Weiner (1972)

Centra-se no estudo de explicações (para o sucesso e para o fracasso) apresentadas pelos

sujeitos para os resultados obtidos em tarefas de realização. Esta teoria constitui o suporte

teórico de grandes investigações realizadas no âmbito da psicologia da motivação.

Distingue três grandes dimensões das atribuições, sendo que cada uma deve ser entendida

num conjunto bipolar.

Locus: refere-se à localização da causa relativamente ao autor, ou seja, se é interna ou

externa;

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 15

Estabilidade: diz respeito à permanência ou não da causa ao longo do tempo, isto é, se é

estável ou instável;

Controlabilidade: refere-se à capacidade que o sujeito julga possuir para actuar sobre a causa,

modificando-a ou não, ou seja, se é global ou específica.

Resultado Atribuição Sucesso Fracasso

Interna – Estável (i.e. capacidade)

Auto-confiança Desânimo

Interna – Instável (i.e. esforço imediato ou

estado de ânimo)

Satisfação Desgosto

Externa – Estável (dificuldade da tarefa)

Esperança Desinteresse

Externa – Instável (Sorte)

Surpresa Espanto

As investigações têm verificado que quanto mais internas, estáveis e globais forem as

atribuições para os fracassos obtidos, maior a expectativa de fracasso e consequentemente,

maior desânimo.

Domínio educativo.

Os estudos têm demonstrado que os alunos que atribuíam o seu insucesso numa avaliação a

causas estáveis obtinham notas mais baixas na avaliação seguinte, em comparação com

aqueles que atribuíam o seu insucesso a causas instáveis. As expectativas de sucesso e o grau

Resultado (desejado)

Antecipação emocional &

Expectativa de sucesso/fracasso

Comportamento

Resultado (obtido)AtribuiçãoReacçaõ emocional

& Expectativa de sucesso/fracasso

Comportamento

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 16

de esforço dos alunos constituem variáveis mediadoras de influência das atribuições sobre os

resultados posteriores. (Jesus, 2000)

Domínio Sociocultural.

Verificou que a maioria dos desempregados atribuem a situação de desemprego a factores

externos (i.e. governo), mas seis meses depois aqueles que entretanto tinham encontrado

emprego haviam mudado de opinião. (Jesus, 2000)

Domínio clínico.

Um estudo de Eiser, Raw e Sutton (1985), constatou que os fumadores que atribuem o

insucesso a deixar de fumar a causas instáveis apresentam maiores expectativas de sucesso,

relativamente ao comportamento de deixar de fumar, o qual influencia a respectiva intenção.

O modelo do desânimo aprendido decorrente da teoria da atribuição causal.

Os indivíduos expostos a fracasso incontrolável sucessivo aprendem que não têm qualquer

influência nos resultados obtidos, desenvolvendo uma postura de desânimo, próxima dos

estados depressivos. (Seiligman, 1976)

Podemos distinguir três estádios neste processo:

Após uma experiência de fracasso, na qual o indivíduo se empenhou, começa a percepcionar

que não há uma relação positiva entre o seu comportamento e os resultados obtidos;

Desenvolve a expectativa que o comportamento e os resultados continuarão independentes

no futuro;

O sujeito apresenta deficiências na aprendizagem futura e distúrbios emocionais.

Qual a intervenção adequada para mudança de atribuições?

A intervenção para mudança de atribuições baseia-se no princípio de que as atribuições

influenciam os esforços de realização, então uma mudança de atribuições pode modificar o

comportamento, pelo que se deve procurar alterar as atribuições, para situações de fracasso,

de estáveis para instáveis, de forma realista.

Exemplo: o indivíduo que explique o fracasso por falta de capacidade (estável), tende a

diminuir a auto-estima e a manifestar vergonha, o que tem repercussões negativas no

desempenho; enquanto se explica esse fracasso por falta de esforço (instável), pode

desenvolver expectativas de sucesso, aumentando o esforço e melhorando o desempenho.

Teoria da motivação intrínseca de Deci (1975).

A presente teoria cognitivista pretende explicar porque é que o sujeito realiza e persiste em

determinadas actividades apenas pela satisfação que estas lhe proporcionam.

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Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 17

Estas actividades são um fim em si mesmas, não resultando quaisquer recompensas

extrínsecas. Inclusivamente, neste tipo de actividades, o sujeito tolera mais a fadiga e é capaz

de adiar a saciação de certas actividades. (Jesus, 2000)

Na motivação intrínseca não há recompensas, os sujeitos envolvem-se pelo interesse que a

realização proporciona. Enquanto a motivação extrínseca é estimulada pelo incentivo externo

associado ao resultado da tarefa. A última pode conduzir a uma diminuição da motivação

intrínseca.

Quais as bases da motivação intrínseca?

Deci (1975) conceptualizava a motivação em termos de:

Necessidade de competência;

Auto Determinação.

O sujeito procura fazer actividades que o façam sentir competente e auto-determinado, logo

constituem a base da motivação intrínseca.

O desenvolvimento das competências, desde as mais simples às mais complexas, é uma parte

aprendido, sendo a aprendizagem estimulada pela necessidade de competência.

Quais os resultados das investigações realizadas?

Gottfried (1982, cit in Jesus 2000) verificou que os alunos que apresentam maior motivação

intrínseca para a realização de certas tarefas são aqueles que obtêm melhores resultados

nestas tarefas.

Tem-se verificado que a introdução de recompensas externas, após a realização bem sucedida

de tarefas que os alunos gostam de realizar, faz diminuir o interesse pela realização dessas

tarefas quando a recompensa é retirada.