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Vera Lúcia do Amaral Psicologia da Educação DISCIPLINA A Psicologia e sua importância para a Educação Autora aula 01

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Vera Lúcia do Amaral

Psicologia da EducaçãoD I S C I P L I N A

A Psicologia e sua importância para a Educação

Autora

aula

01

Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância- SEDIS

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares BorgesJânio Gustavo BarbosaThalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz CapistranoSandra Cristinne Xavier da Câmara

Revisora TipográficaNouraide Queiroz

IlustradoraCarolina Costa

Editoração de ImagensAdauto HarleyCarolina Costa

Diagramadores

Bruno de Souza MeloDimetrius de Carvalho Ferreira

Ivana LimaJohann Jean Evangelista de Melo

Adaptação para Módulo MatemáticoAndré Quintiliano Bezerra da SilvaKalinne Rayana Cavalcanti Pereira

Thaísa Maria Simplício Lemos

Imagens UtilizadasBanco de Imagens Sedis

(Secretaria de Educação a Distância) - UFRNFotografias - Adauto HarleyStock.XCHG - www.sxc.hu

Amaral, Vera Lúcia do. Psicologia da educação / Vera Lúcia do Amaral. - Natal, RN: EDUFRN, 2007.208 p.: il.

Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação – A inteligência – A vida afetiva: emoções e sentimentos – Crescimento e desenvolvimento – A psicologia da adolescência – A formação da identidade: alteridade e estigma – Como se aprende: o papel do cérebro – Como se aprende: a visão dos teóricos da educação – Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto – A dinâmica dos grupos e o processo grupal – A família – A escola como espaço de socialização – Sexualidade – A questão das drogas – Os meios de comunicação de massa.

1. Psicologia. 2. Psicologia educacional. 3. Didática. I. Título.

ISBN: 978-85-7273-370-0

CDU 159.9RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Aula 01  Psicologia da Educação

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Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância- SEDIS

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares BorgesJânio Gustavo BarbosaThalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz CapistranoSandra Cristinne Xavier da Câmara

Revisora TipográficaNouraide Queiroz

IlustradoraCarolina Costa

Editoração de ImagensAdauto HarleyCarolina Costa

Diagramadores

Bruno de Souza MeloDimetrius de Carvalho Ferreira

Ivana LimaJohann Jean Evangelista de Melo

Adaptação para Módulo MatemáticoAndré Quintiliano Bezerra da SilvaKalinne Rayana Cavalcanti Pereira

Thaísa Maria Simplício Lemos

Imagens UtilizadasBanco de Imagens Sedis

(Secretaria de Educação a Distância) - UFRNFotografias - Adauto HarleyStock.XCHG - www.sxc.hu

Amaral, Vera Lúcia do. Psicologia da educação / Vera Lúcia do Amaral. - Natal, RN: EDUFRN, 2007.208 p.: il.

Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação – A inteligência – A vida afetiva: emoções e sentimentos – Crescimento e desenvolvimento – A psicologia da adolescência – A formação da identidade: alteridade e estigma – Como se aprende: o papel do cérebro – Como se aprende: a visão dos teóricos da educação – Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto – A dinâmica dos grupos e o processo grupal – A família – A escola como espaço de socialização – Sexualidade – A questão das drogas – Os meios de comunicação de massa.

1. Psicologia. 2. Psicologia educacional. 3. Didática. I. Título.

ISBN: 978-85-7273-370-0

CDU 159.9RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Aula 01  Psicologia da Educação

Apresentação

A partir desta aula, iniciaremos nosso percurso pelo mundo da subjetividade. Nesta disciplina, iremos discutir temas da Psicologia que tenham interesse para o educador e para a Educação. Vamos conhecer o que é o homem, como ele se constitui, como

ele aprende e se relaciona com os outros. Para tando, selecionamos temas interessantes como a inteligência, as emoções, o crescimento e o desenvolvimento do ser humano, e, em especial, a aprendizagem, para a qual dedicamos um conjunto de aulas.

Outro bloco de temas diz respeito à chamada Psicologia Social: os grupos sociais, os processos de socialização na família e na escola, a questão das drogas e a sexualidade. Todos esses temas vão nos ajudar a compreender melhor nossos alunos e como podemos interagir com eles.

Nesta aula, discutiremos um tema que, por mais que possa parecer óbvio, quase nunca paramos para questioná-lo: quem é o homem? O que caracteriza o humano?

Objetivos

Conceituar Psicologia, dentro das diversas perspectivas.

Entender de que maneira a Psicologia está presente nas mais diversas áreas do conhecimento.

Perceber como a subjetividade permeia nossas interpretações do mundo e de nós mesmos.

Reconhecer a importância da Psicologia na formação do professor.

2 Aula 01  Psicologia da Educação Aula 01  Psicologia da Educação

Afinal, para quê estudar Psicologia?

Esta é uma pergunta que você deve estar se fazendo agora. Qual a finalidade de se estudar esse tema em um curso de licenciatura, que deveria estar abordando temas mais específicos? Será necessário estudar assuntos sobre os quais se pode ler em

qualquer revista não especializada?

Em primeiro lugar, atente para o fato de que você está sendo formado para ser um professor. Que vai lidar com gente (e gente é uma coisa reconhecidamente complicada!). Um bom professor é aquele que tem um conhecimento profundo do conteúdo que deve ministrar, mas também sabe lidar com sua turma, de modo a envolvê-la no processo de aprendizagem. E, com certeza, os conhecimentos específicos de sua área, apesar de extremamente importantes para sua formação, não lhe ensinam a lidar com gente. Em segundo lugar, será que o que se lê em revistas não especializadas são, de fato, Psicologia? As matérias veiculadas pelo Fantástico e por outros programas da TV do mesmo tipo são suficientemente sérias e/ou científicas, ou ficam apenas no nível do senso comum? Os livros de auto-ajuda ajudam a alguém mais, além dos seus próprios autores?

O que é, então, Psicologia?

No nosso cotidiano, estamos acostumados a usar o termo Psicologia em vários sentidos: “fulano de tal consegue as coisas porque tem muita psicologia”, “vou conversar com fulaninha porque ela tem muita psicologia e me entende”, “eu lido com meu filho com muita psicologia”. Esses são exemplos de frases que usamos ou já ouvimos em algum momento.

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Aula 01  Psicologia da Educação Aula 01  Psicologia da Educação

A Psicologia enquanto área do conhecimento científico somente se constituiu muito recentemente, há pouco mais de 100 anos. Para isso, foi necessário delimitar o seu objeto de estudo, estabelecer métodos e técnicas específicas, divulgados numa linguagem científica, e, assim, superar o conhecimento espontâneo do senso comum.

Poderíamos dizer que o objeto de estudo da Psicologia é o Homem. Mas, esse também é o objeto de estudo de outras Ciências, como a Antropologia, a Sociologia e todas as demais Ciências Humanas. Se perguntarmos a um psicólogo qual o objeto específico da Psicologia, ele pode nos dar pelo menos dois tipos de respostas.

1) A Psicologia estuda o comportamento humano, uma vez que é através do comportamento que expressamos nossas manifestações interiores. Quando estamos felizes, expressamos essa felicidade através de comportamentos, expressões faciais, gesticulações. Quando estamos preocupados ou raivosos, também é através do nosso comportamento que manifestamos esses sentimentos.

2) A Psicologia preocupa-se com as manifestações de nosso inconsciente, com aqueles comportamentos, lembranças, pensamentos que temos e não sabemos explicar por que, nem sabemos exatamente de onde vêm.

E para você, o que é Psicologia? Anote o que você compreende por Psicologia.

4 Aula 01  Psicologia da Educação Aula 01  Psicologia da Educação

Respostas tão divergentes como essas vão nos mostrar que a Psicologia é ainda uma Ciência em construção, ao ponto de alguns autores preferirem falar em Psicologias, no plural.

Nesta disciplina, iremos conceber a Psicologia como o estudo da subjetividade humana, sendo esse o seu objeto de estudo principal. É o estudo do Homem em todas as suas expressões, sejam as visíveis, como o comportamento, sejam as invisíveis, como nossos pensamentos; sejam as nossas sigularidades, a maneira particular como cada pessoa se apresenta ao mundo, sejam as genéticas, que trazemos como carga biológica. Todos esses aspectos conferem ao homem uma maneira particular de ser, de sentir, de se expressar, de se posicionar diante dos fatos da vida.

Inconsciente – O conceito de insconsciente na Psicologia foi trazido por Sigmund Freud (pronuncia-se “Fróide”), e inaugura uma vertente da Psicologia chamada Psicanálise. Para Freud o adjetivo inconsciente é o conjunto dos conteúdos não presentes na consciência, aos quais somente se tem acesso de forma indireta, como através dos sonhos. Esses conteúdos seriam o resultado de experiências infantis, que foram reprimidas por serem extremamente dolorosas para o indivíduo.

Figura 1 – Sigmund Freud

“A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser única, e nos iguala, de um outro, na medida em que os elementos que a constituiem são experienciados no campo comum da objetividade social” (BOCK, 1999, p. 23).

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Então, apesar de pertencermos a um gênero, o humano, E de termos uma estrutura biológica que nos faz igual a tantos outros do nosso gênero, somos essencialmente diferentes. Quantas vezes nos perguntamos por que dois filhos dos mesmos pais, criados da mesma maneira, podem ser tão diferentes. O que nos faz diferentes? O que nos faz únicos? O que nos faz tão singulares? Nossa subjetividade é que constitui o nosso modo de ser, nossa maneira particular de sentir, de pensar, de fazer. Nossa subjetividade é o que nos faz únicos.

Como você se descreveria? Como é o seu “jeito”, a sua maneira de ser?

Observe um grupo de pessoas: seus colegas, seus irmãos, seus alunos. Tente descrever o “jeito” deles, observando as particularidades de cada um. O que os distingue dos outros quanto a suas atitudes, maneiras de ser?

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O que você acabou de descrever em relação você e às pessoas do grupo que observou foi justamente a subjetividade, sua e dos outros. Por mais que tenhamos alguma característica que se pareça com a de uma outra pessoa, sempre seremos, no conjunto, uma pessoa diferente e singular. E mesmo quando observamos características de um grupo, quando vemos que temos características semelhantes ao nosso grupo, mesmo assim, podemos observar particularidades que são somente nossas. São essas características que nos confere identidade. Por exemplo, podemos dizer que o povo nordestino, de uma maneira geral, tem uma forte religiosidade. No entanto, esse traço cultural vai se apresentar de uma forma particular em cada um de nós. Parece, então, que os aspectos da cultura são importantes na formação da subjetividade particular, como veremos a seguir (Veja a representação artística da diversidade do povo brasileiro no quadro de Tarsila do Amaral).

Agora, vamos observar um grupo mais amplo: o povo nordestino. Você acha que nós, nordestinos, temos alguma característica quanto ao modo de ser que nos distingue de outros brasileiros?

Figura 2 – Operários

�Aula 01  Psicologia da Educação Aula 01  Psicologia da Educação

A Psicologia estuda o Homem em relação a seus aspectos peculiares e por isso tem que se debruçar sobre o estudo da sua mente, mas não pode deixar de lado o aspecto biológico e social, a maneira como ele se insere na sociedade e por que se insere dessa forma. Como você pode ver, a Psicologia é um ramo das Ciências Humanas abrangente e amplo.

Se somos tão diferentes, mesmo estando entre iguais, o que gerou essas diferenças?

Como se constitui a subjetividade

Se entendemos que a subjetividade engloba todas as peculiaridades imanentes à condição de ser sujeito, ela envolve as capacidades sensoriais, afetivas, imaginativas e racionais de uma determinada pessoa, o que chamamos de seu “mundo interno”. E

como é que se forma esse meu “mundo interno”? Será que já nascemos com ele?

Muitas vezes, identificamos em nós mesmos traços, comportamentos, maneiras de ser iguais a de nossos pais. Costumamos dizer “tal pai, tal filho”, indicando que haveria uma transmissão genética dessas características. Mas, quando nos identificamos com maneiras de pensar o mundo de pessoas da nossa comunidade, quando organizamos nosso “mundo interior” a partir de valores morais e éticos e passamos a pautar o nosso comportamento por esses valores, trata-se de aspectos que não podem ser explicados pela genética.

É na relação com o mundo que o sujeito se constitui como tal, que se desenvolvem as possibilidades humanas. É inserido nesse “mundo externo” que o homem vai organizar o seu universo de valores e significados, que por sua vez vão moldar suas capacidades imaginativas, racionais e afetivas. Assim, toda pessoa é uma complexa unidade natural e cultural.

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A subjetividade, então, também não pode ser um conceito explicável apenas a partir da Psicologia. Ela está inserida em um corpo com funções biológicas e psicológicas, mas é um corpo de um sujeito que interage com o seu ambiente, familiar e social, que transforma esse ambiente e é transformado por meio dessa interação.

Se a subjetividade é o resultado da interação entre o indivíduo e o seu meio, podemos entender que ela começa a se moldar a partir dos processos de socialização primários da criança, na família, na escola, na comunidade, e segue pela vida em um processo dinâmico.

Vamos retomar as características que observamos no povo nordestino. Que aspectos do “mundo externo” nordestino podem ter influenciado na formação dessas características?

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Quem é o homem e o que caracteriza o humano

Há um filme muito interessante chamado “O Homem Bicentenário (1999)”, baseado em um livro de Isaac Asimov (1976). Nele, um robô, por um defeito de fabricação, é capaz de ter sentimentos e emoções, além de paulatinamente ir tomando consciência de sua condição não-humana. Ao longo de 200 anos, utilizando a tecnologia das diferentes épocas, ele vai conseguindo modificar sua aparência física, para tornar-se mais e mais

parecido com um homem. Após ter sua aparência, suas atividades, sua vida social e familiar em tudo igual as das outras pessoas, ele passa a lutar para ser reconhecido oficialmente como humano. O Conselho que governa o mundo nessa época nega sistematicamente tal reivindicação.

Como você justificaria a posição do Conselho? Por que não considerá-lo humano?

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Um dos equÍvocos freqüentemente observado é tratar o homem como independente de sua condição histórica e social. Idéias como as de Rousseau (filósofo suíço que viveu no século XVIII) de que o homem teria uma essência originalmente boa, ou de que as suas interações sociais seriam fruto de um “instinto gregário”, o que justificaria sua vida em sociedade, são ainda observadas em algumas postulações. Na Medicina, por exemplo, apesar da máxima de que “não existem doenças, mas doentes”, o paciente ainda é visto como igual a todos os portadores da mesma enfermidade. Ao ir a um médico, alguma vez lhe foi perguntado sobre sua história? Será que a forma como se vive a vida não teria influência na aquisição de uma doença?

Pelo que já vimos sobre a constituição da subjetividade dos sujeitos, o homem não pode ser concebido como um ser natural, mas sim como o produto de sua história, da sua cultura. E é por isso que, por exemplo, o seu modo de vida interfere na manifestação de suas doenças.

Afirmar que o homem é um ser sócio-histórico não significa recusar a sua condição biológica. O homem pertence a uma espécie animal e todos nós recebemos de nossos ancestrais uma herança de genes que determina nosso corpo e as características de nossa espécie. Duas evidências científicas relativamente recentes, no entanto, nos mostram a importância do meio na constituição desse indivíduo: por um lado, os estudos da Genética nos ensinam que os genes se manifestam de diferentes maneiras, dependendo das condições ambientais. Por outro lado, a recente Neurociência aponta a plasticidade cerebral, mostrando que os neurônios se organizam e desenvolvem suas conexões, dependendo de estímulos e vivências ambientais.

Assim, é a condição biológica do homem que possibilita que ele, ao apropriar-se de elementos fornecidos pela sua cultura, adquira aptidões que satisfaçam as suas necessidades físicas e sociais.

Alguns autores afirmam que “o homem aprende a ser homem”. Isso significa que ao nascer a criança ainda deve desenvolver sua humanidade, o que somente pode se dar em contato com outras pessoas, com seu meio, com sua cultura. Compreender o homem dessa forma é admiti-lo como um sujeito multideterminado.

Um exemplo disso pode ser observado no filme “O Enigma de Kaspar Hauser (1974)”, no qual um homem que é mantido encarcerado até os 18 anos apresenta imensas dificuldades de adaptação social.

11Aula 01  Psicologia da Educação Aula 01  Psicologia da Educação

E o que caracteriza exatamente o humano? Bock (1999, p. 175) destaca três características como essencialmente humanas.

1. O trabalho e o uso de instrumentos

Podemos dizer que outros animais executam tarefas, às vezes até bastante complexas, como as colméias das abelhas e as teias das aranhas, mas a execução dessas tarefas não envolve o planejamento e a noção de finalidade da mesma. O trabalho para o homem depende de sua vontade, de seu pensamento, da consciência da tarefa que executa. Mesmo quando faz algum trabalho forçado, escravo, o homem tem a consciência de que seu trabalho é assim.

Alguns animais são capazes de manipular instrumentos e podem ser treinados para utilizá-los, no entanto, são também utilizações mecânicas, sem conhecimento do conceito do objeto que manipulam.

2. A criação e a utilização da linguagem

Os psicólogos são unânimes em reconhecer a importância da linguagem como elemento fundamental na tomada de consciência dos homens. Evolutivamente, no entanto, a linguagem teve vários antecedentes até estar plenamente desenvolvida. Foram cerca de 5 milhões de anos para que os nossos antepassados aprendessem a transformar um objeto em instrumento de trabalho (conferir-lhe um objetivo determinado), a registrá-lo simbolicamente no Sistema Nervoso Central (tomar consciência) e a dar-lhe um nome (surgimento da linguagem). Para Bock, “a descoberta de que a vocalização poderia ser utilizada na comunicação equivale, nos tempos atuais, à descoberta dos chips eletrônicos” (1999, p. 175).

Por outro lado, vários estudos com chipanzés discutem a ocorrência de rudimentos de um comportamento intelectual semelhante ao do homem. Koehler (um dos principais teóricos da Psicologia, responsável pela fundação de um dos seus ramos, a Psicologia da Gestalt), em seus clássicos estudos, conclui que a ausência da fala e a pobreza de imagens dos chipanzés são fatores decisivos na sua incapacidade de desenvolvimento cultural. Para Vygotsky (1999), a estreita relação entre pensamento e fala seria característica dos humanos e estaria ausente nos antropóides.

3. A compreensão do mundo onde se vive

Quando observamos determinada cena ao nosso redor, somos capazes de refletir sobre o que está ocorrendo, analisar o fato, tomar decisões com relação a ele. Isso significa que compreendemos o que ocorre na nossa realidade, mas, mais do que isso, fazemos relações, juntamos fatos, projetamos as conseqüências futuras. Além disso, somente o homem é capaz de se questionar sobre si mesmo, de se perguntar “quem eu sou?” e “de onde vim?”, ou seja, ter consciência de si mesmo. E é justamente essa consciência de si e do mundo em que vive, juntamente com suas emoções e sentimentos, que constituem sua subjetividade.

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Para o pedagogo brasileiro Paulo Freire (1981), somente o homem é capaz de transcender. E sua transcendência não é um dado apenas de sua qualidade “espiritual”, mas o resultado exclusivo da transitividade de sua consciência, que permite distinguir um “eu” de um “não-eu”. O homem, diferentemente dos outros animais, não apenas vive, mas existe porque não apenas está no mundo, mas está com ele.

Por que Psicologia na Educação?

Quando pensamos em educação nos vêm à mente coisas como as atividades que desenvolvemos na escola, a aquisição de conhecimento, o adestramento de habilidades. No entanto, estamos aqui pensando em um conceito mais amplo da

palavra: Educação como um processo de desenvolvimento do homem. Em primeiro lugar, é preciso destacar a palavra “processo” dessa definição, a qual significa estar em movimento, inacabado. Em segundo lugar, se pensarmos nos aspectos que envolvem o desenvolvimento do homem, vamos entender que Educação envolve um acúmulo histórico de valores e cultura de uma sociedade. A Educação, então, é uma prática social.

Mas, sobretudo, é importante ressaltar que a Educação ocorre entre pessoas e, se a Psicologia se preocupa justamente em estudar o Homem e sua subjetividade, é necessário que se lance mão desses conhecimentos para melhor compreender o processo educativo.

Assim, uma conceituação que responde à questão inicial é dada por Coll (2004, p. vii)

[...] a psicologia da educação (é) uma disciplina-ponte entre a Educação e a Psicologia, cujo objeto de estudo são os processos de mudança [...] que ocorrem nas pessoas em consequencia de sua participação em uma ampla gama de situações ou atividades educacionais.

Para esse autor, a Psicologia da Educação “se ocupa fundamentalmente de mudanças vinculadas aos processos de aprendizagem, de desenvolvimento e desocialização” (2004, p. vii).

Esse é o percuso que iniciamos nesta aula...

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Resumo

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Auto-avaliação

Duas conhecidas frases refletem bem o que acabamos de discutir. Uma é o provérbio popular “pau que nasce torto não tem jeito, morre torto”; a outra é de J. J. Rousseau: “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Discuta essas frases, comparando-as.

A partir do que foi estudado, responda à questão: o que é o homem?

Qual a importância do estudo da subjetividade em cursos de Licenciaturas?

ReferênciasAMARAL, Tarsila do. Operários. 1933. 1 quadro, óleo sobre tela, 150 x 205cm. Coleção do Governo do Estado de São Paulo. Disponível em <http://www.tarsiladoamaral.com.br/index_frame.htm> Acesso em: 30 jul. 2007

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. vT. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.

COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artemd, 2004.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Nesta primeira aula, iniciamos a discussão sobre o homem, destacando como aspecto principal a ser abordado o estudo da subjetividade. Discutimos também o que caracteriza o homem, em contraposição com outros animais. Por fim, apresentamos um conceito de psicologia da educação e sua importância nos cursos de formação de professores.

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