cyanzine #3

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Ministério da Cultura continua como tema, junto com Dilma, ECAD e RPG.

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Page 1: CyanZine #3
Page 2: CyanZine #3

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported. Para visualizar uma cópia da licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/ ou mande uma carta para: Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California, 94105, USA.

Você tem a liberdade de:

• Compartilhar — copiar, distribuir e transmitir a obra. • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

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• Uso não-comercial — Você não pode usar esta obra para fins comerciais.

• Compartilhamento pela mesma licença — Se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob uma licença similar à presente.

Considerando que alguns dos artigos aqui publicados não são exclusivos da CyanZine, tendo sido incorporados a partir do site de seus respectivos autores, por vezes a licença do CyanZine se torna ainda mais restritiva do que a original (mas nunca menos restritiva). Portanto, convém visitar a publicação diretamente para o caso de se precisar de uma licença mais flexível do que esta.

Page 3: CyanZine #3

Dois meses se passaram e aqui estamos com mais um CyanZine. Nesta edição, o MEC da Ana de Holanda continua voltando à pauta. O Governo parece bastante disposto a abandonar a cartilha que prometeu e implementar a agenda dos derrotados: privatizações, sucateamento do serviço público e, claro, desarticulação dos pequenos artistas e amplo apoio à Indústria do Copyright. Até quando isso vai continuar?

No tema da política, temos o cordel Dil Má como poesia desta edição.

Como nas edições anteriores, você encontrará muitos artigos bacanas, para se pensar, e também algo para descontrair. São charges do Vida de Programador e do Vida de Suporte, além do quarto capítulo do romance Marfim Cobra, na Dose de Leitura. Para completar, também falamos um pouco de RPG e jogos em geral.

Sugestões de artigos interessantes (sob licenças livres)? Entrem em contato!

E uma boa leitura!

Cárlisson Galdino

http://bardo.ws/

Foto desta edição: http://www.flickr.com/photos/elfiemcgilp/6064617499/

Page 4: CyanZine #3

Technomyrmex MadecassusEsta nova edição do CyanPack (a segunda depois da mudança no projeto) traz vários acréscimos. São 11 novos softwares acrescentados para que possamos aproveitar melhor o espaço do CD (e do DVD).

O BrOffice saiu do pacote e foi substituído pelo LibreOffice em português brasileiro. Considerando que a marca BrOffice está sendo descontinuada pela comunidade brasileira em favor da nova marca internacional, é um passo importante que tinha mesmo que acontecer.

Dentre outras várias atualizações, Firefox 6 e Trisquel atualizado.

O CyanPack passa a trazer as edições anteriores do CyanZine, além da edição mais recente. E vários livros foram acrescentados, a maioria deles de autoria própria. Um bom livro que está presente também é O Porco e a Caixa, um livro infantil que ensina como é importante não sermos egoístas e como devemos compartilhar com os outros para o bem de todos. O livro está em português, numa tradução/versão/edição do grande Alexandre Oliva, da Free Software Foundation Latinamerica.

Gostaria de colocar softwares livres nacionais que funcionem no cliente e que não dependam de software proprietário para sua execução (por enquanto nada de softwares em Java no CyanPack, por exemplo). O repositório Código Livre parece que está abandonado... Quem tiver sugestões, é só dizer.

Page 5: CyanZine #3

Wikifarm e Jasmim vem aíEstes dois meses tivemos um bocado de novidades, pequenas novidades na verdade. Os técnicos administrativo das Universidades Federais continuam em greve. Agora com os Institutos Federais também. Assim, terminei escrevendo um cordel sobre a Dilma e esses problemas, essa intransigência do Governo Federal e a ditatorial postura de não negociar com a categoria em greve (depois de meses em que não quis negociar com a categoria, quando não estava em greve). Resumindo, publiquei o cordel Dil-Má, que está aqui no CyanZine, e o cordel Asas Negras. Quem gosta de poesia gótica, recomendo que leiam esse cordel, que considero muito bom. http://x.bardo.ws?6h

Também musiquei alguns cordéis. Você tem os fontes também e Um Conto no Oeste. O próprio Asas Negras tem uma versão em audio, mas narrada e não musicada. Claro, os três estão de forma totalmente amadora, mais como um registro de ideia.

Pesquisando sobre RPGs mais atuais, terminei resolvendo ressuscitar um antigo sistema de regras que eu criei no século passado. Também configurei um wiki para trabalhar o sistema e cenários para ele. Quem quiser participar ou só dar uma olhada, passe lá. O Multiverso também migrou para o meu wiki. http://wiki.bardo.ws

Se você não conhece o Multiverso, trata-se de um repositório de universos de nomes. Ou seja, quando você precisar nomear algo, pode recorrer ao wiki e escolher um conjunto de nomes para você. Por exempo, o projeto Debian utiliza nomes de personagens de Toy Story. Os codinomes utilizados no CyanPack (e anteriormente no CyanCD) são do Multiverso. http://multiverso.bardo.ws

Entre os dias 21 e 30 de outubro, Maceió terá a Bienal do Livro. A ACALA – Academia Arapiraquense de Letras e Artes – vai participar, junto com outras academias do estado. Na ocasião, mais precisamente no dia 28, lançarei oficialmente o livro Jasmim, em edição impressa. Compareçam! http://jasmim.bardo.ws

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Para fechar com as novidades dos últimos dois meses, este mês publiquei a primeira peça escrita por mim. Trata-se de uma comédia sobre a criação do mundo na visão cristã: Faça-se a Coisa! O texto da peça está publicado no meu site para quem quiser ver. E se você tem um grupo de teatro e quer usar esta peça, fique à vontade. http://x.bardo.ws?gt

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Cordel Dil Máhttp://x.bardo.ws?hv, 4 de agosto de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Oito anos se passaram

Temos que reconhecer

Mesmo quem só é do contra

Só não enxerga quem não quer

Estando o Lula na frente

O tanto que o presidente

Fez nosso Brasil crescer

O Lula na presidência

Teve erros de gestão

Como sempre no Brasil

Existiu corrupção

Mas ele avançou que só

Poderia ser melhor

Mas não se compara não

Foi na área social

Também na Economia

Com mais universidades

E o Brasil com alegria

Voltou a ter esperança

Page 8: CyanZine #3

Foi crescendo e ainda avança

Ou avançava, eu diria...

O Brasil cresceu bastante

Mas cresceu pela metade

Universidades mesmo

Vivem uma realidade

De recurso orçamentário

Menos do que o necessário

Passando necessidade

Mas o tempo foi passando

O governo terminou

Apesar da alegria

Por aquilo que deixou

Cresceu muito a apreensão

Cada um teve atenção

Em seu papel de eleitor

A lembrança do passado

Da Era FHC

O medo do desmantelo

Na mão do PSDB

Nos fez viver uma guerra

O medo do José Serra

E o que podia fazer

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Assim foi que no final

Confiamos na promessa

Que o Lula nos trazia

Com sua candidata essa

Que traria seriedade

Faria continuidade

Ao governo que ora cessa

Mas ninguém desconfiava

Que era feito de otário

Que a presidenta Rousseff

"Russé" é Serra ao contrário

E ela veio, firme e dura

Assumindo uma postura

Contra o seu eleitorado

Como ninguém esperava

Contrariando a propaganda

Que passava na TV

Ela diz que ela é quem manda

Lembrando da ditadura

Já arruinou a cultura

Metendo a Ana de Holanda

E agora na educação

Nossas Universidades

Estão quase tudo em greve

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Pedindo humanidade

Pois a mulher não tem jeito

Querendo tirar direitos

Com arbitrariedade

Quer congelar os salários

Olha se tem cabimento

Ela própria esse ano teve

Mais do dobro de aumento

Ministros cento e cinquenta

Os deputados sessenta

E a gente zero por cento!

Se a justificativa

É o nosso Brasil crescendo

Por que não congelam os deles

Antes para dar exemplo?

Essa gestão tão canalha

Não pode pra quem trabalha?

Pra banqueiro tá podendo!

Isso seria bem pouco

Perto do que está nos planos

Do governo da Rousseff

Que está nos esmagando

Com promessa sem ter páreo

De congelar os salários

Page 11: CyanZine #3

Pelo tempo de dez anos!

Se vamos pro HU

Vejam que situação

Criaram uma empresa

Pra fazer contratação

Esse ato simplesmente

Traz um medo procedente

De uma privatização

Como em tanta empresa pública

O problema se deduz

É falta de funcionário

Para à função fazer jus

Ao invés de concertar

Querem é privatizar

O HU tem que ser SUS!

A federação que existe

Para nos representar

Técnico administrativo

Já tenta negociar

Desde o começo do ano

E o governo ignorando

Nunca que quis conversar

Agora que a greve é fato

Page 12: CyanZine #3

Esse governo se atreve

A dizer: "Só negocio

Se acabarem com a greve"

Sem mandar qualquer proposta

Sem nos dar qualquer resposta

Sem agir como se deve

E a ação que é mais recente

Dessa gestão sem igual

É que ela quer tornar

A greve como ilegal

Não conversa, só nos pisa

E ainda manda pra justiça

Sem nos dar qualquer sinal

O documento que falo

Cita as universidades

Como autoras em conjunto

E hoje se sabe a verdade

Reitores tão revoltados

Que nem foram consultados

Pra esse pedido covarde!

Esse governo recente

Que está começando agora

Já mostra bem a que veio

Já botou unhas pra fora

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Na ditadura se inspira

Direitos sem pensar tira

Como será nossa história?

E como se tudo isso

Não fosse bastante mal

Fico pensando depois

Como será no final

Se abandona a educação

O que ela fará então

Com todo o nosso pré-sal?

E aquela euforia

Em prol da Dilma Rousseff

Feliz por termos eleito

Presidente uma mulher

Se acabando tão ligeiro

Quem diria: o tempo inteiro

Se aproveitou da boa fé

Afinal nas eleições

Prometeu e na verdade

Está fazendo o contrário

Do que espera a sociedade

E pra terminar o assunto

Dilma, hoje lhe pergunto

Onde está a Continuidade?

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Cultura – Utopia e Esperançahttp://www.trezentos.blog.br/?p=6149, 5 de julho de 2011

Por Carlos Henrique

Estamos assistindo, no Brasil, a uma confusão no espírito da cultura. O empobrecimento intelectual é crescente, a nova orientação segue a trilha do capital e o mercado é apresentado como um dos principais pilares dessa interpretação. O resultado não é a mobilização das massas, ao contrário, a “cultura de resultados” impõe o aprofundamento da competitividade para ver quem comandará a produção dos novos totalitarismos.

O que interessa ao Brasil são as formas de extensão contínuas. Pensar as chamadas políticas públicas de cultura modernizando os equipamentos técnicos para beneficio exclusivo de um pequeno grupo de gestores é o caminho mais eficaz para se criar baluartes do individualismo na vida econômica da cultura. Os lugares, a sociedade e cada um de nos terá que sobreviver cada vez mais de um subsistema.

A identidade dos novos atores da cultura corporativa até então não era vista por nós. Agora, misturada ao Estado, finalmente aparece aos olhos de todos. A justificativa formal da cultura como bem de consumo no lugar das manifestações da sociedade, ganha na esfera federal entendimento conservador. Isso revela que frequentemente abandonamos a filosofia de políticas públicas e nos afastamos cada vez mais da cidadania verdadeiramente universal.

Os apelos dos que defendem a cultura como o futuro modelo de mercado vão no sentido de que diversos paises utilizam tal forma de “receita” sem conflitos ou consequências éticas. A influência dessa filosofia já dá sinais de que certas regras estabelecidas contribuem para o exercício da força-bruta e não de reflexões e ações. Isso, ao invés de apontar para a democracia cultural, deve gerar no Brasil uma guerra de ideologias e um espaço banal para a cultura.

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Os novos “macro-agentes” da cultura, desconhecendo as particularidades das classes emergentes, criam nessa nova fase de fabulações um consumidor antes mesmo de criar o produto. A tradução disso é especulação. Mas esses clichês para alguns clubes parecem mesmo tentadores na relação entre criação e autodestruição.

A pobreza atual desse negligente pensamento resulta de uma convergência de causas legitimadas pelas instituições e suas políticas empresariais. A inteligência imposta pelas firmas é movida por mecanismos, planilhas e imagens, logicamente com a conivência dos “intelectuais” contratados.

O papel dos intelectuais não é aceitar a ordem cultural globalizada, e sim, buscar uma ordem mais humana e não o fatalismo do capital como fator absoluto, tentando compensar com um projeto social, num plano sub-nacional, as lógicas de uma política neoliberal. A função de um intelectual é a busca incansada da verdade para que a cultura no território nacional seja o retrato dinâmico da sociedade.

O mercado como motor único e, portanto, essencial para a cultura artística é agora discurso oficial. Uma visão que obedece aos cânones científicos das grandes corporações globais. Isso retira do Estado a tarefa política de proteger a cultura brasileira, o que obriga os intelectuais a discutirem uma solução que não seja a adesão automática imposta ao território brasileiro por uma política cultural baseada na economia internacional.

Os processos definidores trazidos como remédios pela economia global de cultura, são apresentados administrativamente pelo Estado como a moderna produção industrial. A nova administração da cultura é definida a partir dos debates internacionais. Tudo agora tem caráter transnacional e ocorre numa atmosfera moldada pelo pensamento único, secundarizando as realidades de cada país.

Essa triste prática, além de limitar o espaço geográfico da cultura brasileira, pensa e planeja políticas culturais respondendo diretamente aos gráficos que interessam à indústria que legisla sobre todo o nosso patrimônio artístico-cultural. Por isso a cultura agora, esta presa as categoria de bens e serviços perdendo seu caráter critico e mobilizador.

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O sistema capitalista mundial sob o qual estamos construindo nosso periférico mercado cultural, não tem espaço para a participação dos pobres. Portanto, não serão realçadas ou estudadas as manifestações de baixo pra cima. Segundo Mário de Andrade a criação brasileira sempre teve nas manifestações das camadas deserdadas da sociedade sua principal porção modernista e, por estas transgredirem as regras estabelecidas, ou seja, sem a primordial característica do povo brasileiro, a cultura que manifestaremos na arena global, será algo residual, completado e sem realização criativa.

Estamos sendo levados a pensar que não há alternativa para o universo da cultura senão pelo mercado. Pela nova maneira de enxergar as condições históricas da cultura brasileira, tudo o que construímos e projetamos será realizado agora de forma unitária, distante da totalidade. Essa velha noção mais uma vez levará ao descrédito o discurso dominante, abrindo lugar para a utopia e a esperança.

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Nova campanha do Mega Não será lançada em ato em Brasilia

http://www.trezentos.blog.br/?p=6162, 11 de julho de 2011

Por João Carlos Caribé

Quanto todos pensávamos que o AI5 Digital (PL 84/99) estava morto e só faltava enterrar, eis que seu padrasto enterno, o atual Deputado Eduardo Azeredo lhe deu mais um sopro de vida. O movimento começou um pouco antes da atual legislatura quando o projeto recebeu parecer de algumas comissões, fato inesperado que pegou a militância de surpresa.

Os ataques “hackers” (Crackers pô!) fabricados desde 20 dias antes do E-G8 Fórum, foram “importados” para o Brasil por sua conveniência e oportunismo. No Brasil liderado por um mercenário digital, os ataques lammers de DDoS foram amplamente reverberados pelo UOL / Folha, e em seguida pelos demais membros do PIG. O lammer que “atacou” os sites do Governo, sob diversas “motivações” tentou com auxilio do PIG colar nos movimentos legítimos como o nosso, para desqualifica-los. Por fim Azeredo usou o clima criado pelo PIG em cima destes “ataques” para forçar a votação do AI5 Digital na CCTIC da Câmara no último dia 26/06. A sociedade conectada se mobilizou, os parlamentares afetos à liberdade na rede idem, e conseguiram não só parar a votação como agendar uma audiência pública que vai acontecer no próximo dia 13.

Como forma de resposta à esta articulação eu João Carlos Caribé, Publicitário e Ciberativista decidi no sábado produzir uma nova campanha do Mega Não contra o AI5 Digital, a campanha conta com cartazes e videos e em breve deve seguir com outras novidades. Os detalhes da campanha bem como o exclusivo making off de nosso ator mirim Bernardo Silva Santos serão apresentados no evento Mega Não no Balaio Café em Brasília amanhã dia 12 às 20h.

Enquanto isto acesse a página da campanha, imprima os cartazes e leve para o Mega Não e para a Audiência pública, este momento é

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importantissimo.

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MinC, ECAD e PT – Tudo a Ver?http://www.trezentos.blog.br/?p=6184, 20 de julho de 2011

Por Carlos Henrique Machado Freitas

Entre o inóspito e a selva neoliberal de cultura, o MinC que é responsabilidade direta do PT, vive uma aventura existencial. Por um lado, há uma fabulosa trama de ocupação ininterrupta de terra pelos agentes do Ecad dentro do MinC e, por outro, essa insaciável gana por lucros imediatos de um comando que está fora do Brasil e faz dessa gestão do MinC uma zona proibida para qualquer gênero, qualquer forma de manifestação cultural construída de forma universal pelo povo brasileiro.

Se há uma saga das corporações exercitando o mais duro golpe da história da cultura brasileira dentro do órgão máximo que a representa, as sementes desse sistema não escondem que há sim uma nova ordem apresentada pelo MinC em nome dos grandes interesses internacionais.

Digamos que essa ocupação se dá no mesmo momento em que o deserto se transforma em algo cristalizado quando o assunto são as políticas voltadas à SID, aos pontos, pontinhos e pontões de cultura. Na verdade, o Ministério está nos jogando numa condição de província com o novo colonialismo e na exploração política de todos os espaços em todas as cidades por um órgão cujo Ministério da Justiça classificou como cartel.

Sim, o Ecad onde cada vez mais fica marcada a imagem de Ana de Hollanda, apesar de ser expressamente classificado pelo Ministério da Justiça como um cartel e de enfrentar uma CPI no Senado, amplia enormemente sua variedade e tamanho através dos novos e estratégicos contratados para assumir os principais comandos do novo MinC.

E o PT, está surdo diante dos gritos da sociedade contra a perigosa bolsa de negócios em que se transformou um ministério que está sob a sua responsabilidade? Não tenho conhecimento do efeito político que, se mantiver essa perspectiva, a colheita será um imenso descrédito com o

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partido. O PT acha que essa dívida será cobrada de quem? É ele que está afiançando, garantindo politicamente o MinC de Ana de Hollanda e Grassi. Em troca, receberá com certeza uma crítica apropriada ao tamanho de sua responsabilidade. O MinC está plantando no brejo que ele próprio criou políticas que são verdadeiras bandeiras das grandes corporações internacionais, via Ecad.

A pergunta é: quanto tempo ainda vamos assistir a uma política de meeiros entre o MinC, o Ecad e o PT?

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As Razões do Diálogo com os Hackershttp://www.trezentos.blog.br/?p=6224, 12 de agosto de 2011

Por Aloizio Mercadante, no blog por Sergio Amadeu

À medida que o acesso à internet se torna realidade em todas as camadas sociais, milhões de novos usuários desfrutam de suas facilidades e de seu potencial transformador. Ao mesmo tempo, aumenta a dependência da sociedade em relação à rede. Atualmente, mais de um terço das operações financeiras são feitas de modo virtual, e serviços essenciais de energia, de trânsito e de comunicações dependem cada vez mais dela.

Esses setores podem sofrer ataques cibernéticos com consequências imprevisíveis, e também o Estado brasileiro precisa se precaver. Por isso, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Ministério da Defesa estão trabalhando juntos para o desenvolvimento de tecnologias que permitirão prevenir, defender ou restabelecer serviços essenciais afetados por ataques dos chamados crackers.

Os crackers são criminosos, muitos dos quais nem mesmo sabem programar, sendo usuários avançados de softwares que não necessariamente desenvolveram.

Já os hackers são decifradores, desenvolvedores de softwares e hardwares que permitem adaptação ou construção de novas funcionalidades. Em geral, são jovens autodidatas e criadores de soluções inovadoras para a utilização de tecnologias da informação.

Quase todas as relações sociais existentes na sociedade existem na rede, inclusive os crimes. No entanto, não podemos iniciar um processo de cerceamento das liberdades na internet e de criminalização generalizada por episódios localizados, ainda que preocupantes, tampouco contribuir para simplificar o significado do movimento libertário e transformador que representa a comunidade hacker.

Esse movimento começou nos anos 1960, influenciado pela contracultura.

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O sociólogo Manuel Castells, em seu livro “A Galáxia da Internet”, deixou claro que a cultura hacker foi uma das formadoras da internet. A rede mundial de computadores não era o único modelo de rede digital. A França possuía a rede Minitel, completamente centralizada e fechada.

Já a internet tem sua inteligência distribuída, é completamente aberta, o que permite que hackers continuem criando soluções inovadoras, como as redes P2P, (do inglês “peer-to-peer”), sistema que permite o compartilhamento de informações conectando dois clientes e transformando o cliente em servidor e vice-versa. Isso a consolidou como uma rede sem centro, sem dono, cuja inteligência encontra-se nas máquinas dos usuários.

A experiência e a genialidade dos criadores de códigos não podem ser ignoradas. No início de julho, estive no Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre. Temos jovens desenvolvendo ciência e tecnologia fora da academia e das grandes empresas, hackers éticos que querem mais transparência e participação na relação com o Estado.

A capacidade criativa desses coletivos de desenvolvedores de tecnologia precisa ser reconhecida e incentivada, porque ela pode gerar inovações importantes para o nosso país. Felizmente, a ciência comunitária e as tecnologias livres avançam, contribuindo para derrubar ditaduras e o pensamento conservador e preconceituoso.

Agora, no Brasil, a cultura hacker terá o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Estamos desenvolvendo um conjunto de políticas públicas para que essa promissora comunidade possa contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções para a sociedade.

ALOIZIO MERCADANTE, doutor em economia pela Unicamp, é ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação.

(Artigo publicado na página 3 da Folha de São Paulo, 11/08/2011)

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O Senhor é meu Gestor e Nada me Faltaráhttp://www.trezentos.blog.br/?p=6246, 13 de agosto de 2011

Por Carlos Henrique Machado Freitas

A dama de ferro do neoliberalismo cultural, Ana de Hollanda, com seu arsenal de borrões, tem ajudado e muito na desconstrução da imagem do governo Dilma. Um ministério que praticamente aboliu o debate e o sentido de democracia cultural vem esfarelando os principais avanços e programas da era Lula, com a criação de um amplo programa de privatização da cultura brasileira. Isso é fato!

O MinC quer jogar a cultura na selva do mercado e semear a ideia da gestão corporativa de desregulamentação do Estado sobre a atividades que arrocham os trabalhadores da cultura. É esta a marca que a ministra quis deixar, logo na primeira entrevista, assim que soube que assumiria a pasta. Quando perguntada sobre o Ecad, Ana, ainda sem assumir a pasta, reagiu de forma taxativa: “Não vejo a possibilidade de subordinar uma entidade de classe ao Poder Executivo”. E não foi só, junto atacou as reformas da Rouanet e da LDA e fez uma quase convocatória de defensores do Ecad para assumirem lugares estratégicos dentro do MinC. O Resultado é que isso motivou denúncias e custou ao Ecad uma CPI no Senado, desgastando por tabela o governo Dilma e contribuindo com o declínio da avaliação positiva do governo.

Dias atrás o presidente do PT, Rui Falcão, falando sobre o absurdo da retirada do Creative Commons do site do MinC, lembrou que até Kassab, um dos mais conservadores políticos da extrema direita brasileira mantém o selo do CC no site da prefeitura de São Paulo.

Só isso bastaria para afirmarmos que a cultura brasileira sofreu o colapso neoliberal promovido pelos neoconservadores que comandam hoje o MinC, fato que se espalhou rapidamente nos corredores do marketing cultural assanhando as trevas da gestão corporativa a ponto de um dos maiores atravessadores de recursos públicos, via leis de incentivo,

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replicar, em matéria num site corporativo, o mantra anti-social que Marta Porto vem matraqueando para arrochar os programas do Cultura Viva e sangrar, sobretudo, os Pontos de Cultura.

Sabemos que essa roda-viva esquizofrênica tem endereço certo, a busca pelos novos conceitos de gestão do show business que atravessa uma nova fase industrial apontando para o mercado dos grandes eventos num corredor internacional em que o Brasil entrará com muitos milhões do mecenato público e encherá as burras de grandes agentes e grupos transnacionais que atuam em parceria com os as corporações globais de entretenimentos.

É assustadora a gigantesca proporção que isso vem tomando, pior, o grande vácuo criado entre o MinC de hoje e o povo brasileiro e que vem se ampliando a cada dia. Os centuriões midiáticos passaram a impor as políticas do Ministério da Cultura, num alinhamento pavoroso, ajoelhados na bíblia dos mitos sagrados do mercado. O bordel da Lei Rouanet virou o centro de excelência e por ali passarão os dutos de recursos públicos que MinC contingenciará para alimentar o apetite dos caixas das grandes agenciadoras da cultura ultra-neoliberal.

Isso vem provocando um gosto amargo de terra arrasada na comunidade cultural brasileira, e os reflexos políticos começam a ficar evidentes não só com esvaziamento agudo da produção cultural como também nas tribunas do setor que trabalharam incessantemente para eleger Dilma e dar um enorme volume em sua base de apoio popular.

O governo vê agora mais claramente cair seu índice de popularidade, o que assanha a mídia golpista e também a “base aliada”, base que pode migrar para a oposição ao sabor dos ventos. Ou seja, uma coisa puxa a outra.

Isso posto, é bom lembrar que MinC não só mudou suas prioridades, mas também resolveu dar uma mãozinha para a oposição e atiçar contra o governo a ira dos movimentos sociais da cultura. A questão não é mais saber se a ministra tem ou não bagagem intelectual para assumir o comando de uma pasta tão estratégica para o desenvolvimento do país, a questão passa pelo crepúsculo de um sistema implantado dentro do MinC que faz derreter a popularidade da presidente Dilma na área da cultura em toda a sua dimensão.

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O que não é pouca coisa, pois afinal são milhões de brasileiros que se sentiram incluídos no governo Lula e que vêem agora o MinC organizar uma política de eventos para que meia dúzia de executivos almofadinhas cheirando dinheiro sirvam de obstáculo entre o governo e a sociedade.

Enfim, este é um troféu corrosivo e desagregador que Ana de Hollanda e seu naipe de secretários estão entregando para Dilma, numa longa e penosa crise de sete meses de gestão, ou seja, nada que cheire reflexão e faça pensar, nada que contraste com a mão pesada do neoliberalismo, nada que não sejam miudezas conceituais. Tudo tem que parecer anguloso e sagaz, digno do qualitativo empresarial. Tudo tem que ter receita de bolo confeitado. Tudo dentro da lei, mas que envolva muito dinheiro extraído dos cofres públicos e que, sem sobressaltos, faça transferências automáticas seguindo os mandamentos e escrúpulos dos deuses do mercado cultural.

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Ministério do Planejamento lança consulta que beneficia a Micro$oft? Retrocesso ou

confusão?http://www.trezentos.blog.br/?p=6248, 15 de agosto de 2011

Por Sergio Amadeu

O título do post no site do Ministério do Planejamento parece de fato inovador e até revolucionário: “GOVERNO FAZ PRIMEIRA COMPRA COMPARTILHADA DE COMPUTADORES” (http://x.bardo.ws?ji). Sem dúvida, quem vai no frequentemente no FISL (Fórum Internacional de Software Livre) pode até pensar que o título tem a ver com o Portal do Software Público (repositório de softwares de código-fonte aberto, usados pelo governo), mantido pela SLTI.

Mas, as aparências enganam. Ao ler o edital lançado pelo governo na consulta pública , formulado pelo Núcleo de Contratações de TI, podemos ler na página 4:

“SOFTWARE E DOCUMENTAÇÂO

1. Licença por unidade entregue, com todos os recursos, sendo na forma de assinatura ou subscrição, para garantir atualizações de segurança gratuitas durante todo o prazo de garantia estabelecida pelo fornecedor de hardware, para o sistema operacional Windows 7 Professional 64 bits;

2. Sistema operacional Windows 7 Professional 64 bits em Português BR instalado e em pleno funcionamento, acompanhado de mídias de instalação e recuperação do sistema, software de gravação de mídias e de todos os seus drivers, além da documentação técnica em português necessária à instalação e operação do equipamento.

OBS:

A Microsoft vai se posicionar quanto a melhor versão de SO aplicável para utilização no governo e quanto ao tipo de licença

Page 27: CyanZine #3

OEM para redução dos custos.”

Interessante é notar que logo na primeira página do mesmo edital está escrito:

“Será aceita oferta de qualquer componente de especificação diferente da solicitada, desde que comprovadamente iguale ou supere, individualmente, a qualidade, o desempenho, a operacionalidade,a ergonomia ou a facilidade no manuseio do originalmente especificado – conforme o caso, e desde que não cause, direta ou indiretamente, incompatibilidade com qualquer das demais especificações, ou desvantagem nestes mesmos atributos dos demais componentes ofertados.”

Este trecho pode parecer contraditório e é com a especificação da página 4. Na minha opinião, a orientação da página 4 é completamente ilegal, uma vez que compromete o edital com a compra de um produto de uma empresa. Além disso, no edital está escrito a absurda observação de que o fornecedor de software é quem dirá qual a versão do seu produto “é aplicável no governo”.

Confusão ou retrocesso?

Parece confuso os sinais deste governo em relação so software livre. Se, por um lado, o Ministério do Planjamento publica no dia 17 de janeiro de 2011, a Instrução Normativa N.1 que “Dispõe sobre os procedimentos para o desenvolvimento, a disponibilização e o uso do Software Público Brasileiro – SPB”, por outro, avança na contratação de licenças dispendiosas, desnecessárias e que aprisionam aplicações e formatos a produtos de uma única empresa.

Espero que tudo isto não passe de uma confusão.

Pagar licenças ou desenvolver soluções livres e incentivar as comunidades brasileiras de desenvolvimento?

O governo poderia ganhar muito se agora colocasse 1% do que gasta anualmente em licenças para a comunidade Libre Office ajustar a nova versão de sua suite livre às necessidades do governo. Quando é que iremos de fato incentivar o desenvolvimento da nossa inteligência

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distribuída na área de software aberto?

Com 20% do que gastaríamos com a compra de 35 mil licenças do Office por R$ 600,00 cada poderíamos dar um salto na plataforma livre. Imagine se colocarmos todos os 21 milhões que entregaríamos para a micro$soft para desenvolver softwares livres, abertos, adequados às nossas necessidades, interoperáveis, robustos, enfim, entregassemos as comunidades de desenvolvimento. Imagine…

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Contra o genocídio da juventude negrahttp://www.trezentos.blog.br/?p=6256, 19 de agosto de 2011

Por Banto Palmarino

Há um tempo deixei de culpar o capitalismo por coisas que vem mesmo antes dele e não se resume em luta de classe, a própria Cuba comunista com seus 50 anos segue racista e machista, ainda bem que ampliou a política de cotas para negros e mulheres dentro do comitê central, no sexto congresso.

Há tempos temos a campanha e denúncia sobre o genocídio da juventude negra no Brasil, que não é diferente de outros país. Uns vão busca o motivo de classe para explicar as manifestações na Inglaterra. Num canto li que era ásiaticos rebelados, noutro que eram árabes e noutro artigos negros. Há um consenso de que partiu após a morte do jovem negro Mark Duggan. A rebelião de Tottenham é como aquela de Watts em 1965.

Suspeito… resistência seguida de morte já tem gerado duas mortes por dia em São Paulo, sem que tenha qualquer averiguação sobre o caso por parte da promotoria. Suspeito tem cor definida, em qualquer lugar do mundo. O que Frantz Fanon chamou de “Os condenados da terra”.

Numa entrevista ao vivo, da BBC e reproduzido pelo jornal da cultura, o entrevistado, diz que os governantes dizem não estavam informados, assim como a policia, mas há tempos coisas sérias desenvolviam no país e os jovens não estavam sendo ouvidos e o conflito se deu. Fanon diz que ela não pode ser adiada para sempre, um dia acontece.

Só queremos ser jovens comuns, com os mesmos direitos de acesso as oportunidades, de poder andar pelas ruas sem ouvir pinos dos carros trancando a porta, vidro subindo, geral da policia, taxista que não pára, pessoa que mudar de cadeira porque um negro se sentou do lado… e mais, sem sermos tachados que é loucura, paranoias de nossas cabeça, pois um dia a cabeça enche e vira ônibus, loja pegando fogo e mortes. E não poucos os números, todos com nomes, que se apoia a campanha

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contra o genocídio da juventude negra. Eu chamo por nomes, outro prato a menos na mesa. A violência contra nós, assim como a falta de perspectivas por conta da herança na reparada e obra de engenharia, o racismo à brasileira, nós levam a afirmar o genocídio, os indígenas também seguem enterrando seus jovens que cometem suicídio, pelos mesmo motivos.

Aí se fala de casos de jovem negro morto a machadada em Londres, sem investigação ou presos… ou vários casos de policial matar um negro sem qualquer motivo. Assim, se pessoa reage, porque não atirou na perna, se havia a possibilidade dela esta armada? se era suspeito, por que são 20 tiros no vidro e nenhum no pneu? alias, se é suspeito, nada confirmado, porque está morto? Mark Duggan é como Flávio Ferreira Santana, mais um confundido com ladrão, como em Violência S/A.

Brixton, Bronx ou BaixadaO Rappa

O que as paredes pichadas têm prá me dizer

O que os muros sociais têm prá me contar

Porque aprendemos tão cedo a rezar

Porque tantas seitas têm, aqui seu lugar

É só regar os lírios do gueto que o Beethoven

Negro vêm prá se mostrar

Mas o leite suado é tão ingrato que as gangues

Vão ganhando cada dia mais espaço

Tudo, tudo, tudo ,tudo ,tudo ,tudo , tudo ,todo igual

Brixton, Bronx ou Baixada (refrão)

A poesia não se perde ela apenas se converte

Pelas mãos no tambor

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Que desabafam histórias ritmadas como único

Socorro promissor

Cada qual com seu James Brown

Salve o samba, hip-hop, reggae ou carnaval

Cada qual com seu Jorge Bem

Salve o jazz, baião, e os toques da macumba

Também

Da macumba também

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Depoimento de LEONI para a CPI do ECADhttp://www.trezentos.blog.br/?p=6264, 20 de agosto de 2011

Por João Carlos Caribé

Depoimento realizado no dia 16/08/11 para a CPI do ECAD no Senado Federal, texto publicado no GRITA.

Bom dia às senhoras e aos senhores senadores, aos funcionários da casa, aos meus companheiros de mesa e a todos aqui presentes.

Antes de tudo eu quero me apresentar. Meu nome é Leoni, sou músico e compositor profissional há 30 anos e preciso dizer que meus direitos autorais me ajudam muito a ter uma vida mais confortável. Assim como ajuda diversos dos outros artistas que fazem parte do grupo que represento, o GAP – Grupo de Ação Parlamentar –, que já conseguiu importantes vitórias para a classe. Entre nossos colaboradores mais conhecidos estão Ivan Lins, Francis Hime, Fernanda Abreu, Frejat, Tim Rescala, Dudu Falcão, Eduardo Araújo, Sérgio Ricardo, Leo Jaime e diversos nomes que representam toda a cadeia produtiva da música. Fomos responsáveis pela carta da Terceira Via dos direitos autorais assinada por artistas e criadores de todas as gerações como Tulipa Ruiz, Jair Rodrigues, Zélia Duncan, Ana Carolina, Jorge Vercilo, Evandro Mesquita e centenas de outros. A carta e as assinaturas estão no site: http://brasilmusica.com.br/site/destaque/terceira-via/. Nela deixamos claro que não somos contra o ECAD, nem contra o direito autoral. E achamos que a centralização das cobranças da gestão coletiva é o mais aconselhável.

Isso não impede que tenhamos críticas fortes à forma como o direito autoral da música é administrado.

Para ter certeza de que falamos a mesma língua em relação ao Direito Autoral, preciso esclarecer alguns pontos que o ECAD deixa propositalmente obscuros.

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1) Há uma diferença muito grande entre autores e detentores de Direito Autoral. Na música, além dos compositores, diversos outros atores têm sua cota nos direitos de execução pública. Temos primeiro o próprio ECAD e as Sociedades que ficam com 25% do bruto. Depois, dos 75% restantes, 12,5 % ficam para as Editoras e 25% são divididos para a gravação – produtores musicais (gravadoras), intérpretes e músicos. No final das contas, para os compositores sobram 37,5% – e ainda temos impostos, é claro!

Como as decisões tomadas nas Assembléias das Sociedades e do ECAD são decididas por voto e como esses votos representam exclusivamente a arrecadação – algo que veremos mais adiante -, nós, compositores, mesmo que unidos, nunca teremos maioria para modificar algo que seja importante para os grandes detentores de direitos autorais.

A confusão entre esses agentes é estimulada pelo órgão quando publica suas listas de maiores arrecadadores nos meios de comunicação elencando apenas os compositores. Mas, se fossem honestos, na lista dos 25 mais bem pagos apenas 6 seriam autores, sendo que nenhum estaria entre os 5 primeiros. Gravadoras e editoras compõem essa maioria.

Diversas decisões da Assembléia do ECAD demonstram o favorecimento das grandes corporações. Uma delas é a de reduzir para 1/12 os direitos de quem faz música para imagem. Esses autores não precisam de editoras nem de gravadoras, já que fazem, em sua maioria, um trabalho direto para as emissoras de TV. Mas um terço da arrecadação dos direitos autorais vem daí. Com a diminuição do montante devido a esses compositores sobrou mais para os outros detentores de Direitos. E criou-se um tipo de compositor de segunda classe.

Para complicar ainda mais, há outro tipo de autores de segunda classe que são aqueles representados por Sociedades às quais o ECAD não dá direito de voto na Assembléia. São as sociedades Administradas. As outras são chamadas de Efetivas. Aliás, as administradas não podem nem estar presentes às assembleias. O que fere o parágrafo primeiro do artigo 99 da lei 9610:

O escritório central organizado na forma prevista neste artigo não terá finalidade de lucro e será dirigido e administrado pelas associações que o integrem.”

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Das 9 sociedades que integram o ECAD, apenas 6, as Efetivas, têm direito a voto. Se as administradas não votam, seus associados então não são representados pelas suas sociedades e muito menos pelo ECAD.

Então, fica a pergunta: o ECAD pode dizer que representa os autores? Pode usar esse argumento para tentar esvaziar a reforma da Lei do Direito Autoral? Quem o ECAD representa?

2) Outro mito importante de ser analisado é o da Constituição não permitir que o Estado interfira no ECAD por conta do direito da livre associação. Ora, essa é uma associação por demais atípica para se valer desse princípio. Primeiro temos o fato importantíssimo de que o Estado já interveio de forma inequívoca quando criou o sistema ECAD que obrigou todas as sociedades a estarem vinculadas a ele. Que liberdade é essa? E dessa interferência as Sociedades não reclamam.

Além disso, ao direito de associação corresponde um direito de não-associação – que não existe nesse caso. Sem uma sociedade vinculada ao ECAD não há como participar da gestão coletiva de Direitos Autorais.

Mais sério ainda é o fato de uma associação gerir um monopólio que cria obrigações para toda a sociedade. É o ECAD que determina critérios e preços para utilização de música em todo o país, com poder de polícia. Como um monopólio criado por lei pode não ser fiscalizado pelo Estado? É um caso único no arcabouço jurídico brasileiro.

3) O ECAD afirma ser das Sociedades que, por sua vez, seriam dos autores. Portanto se há algo errado na administração do órgão baste que os autores se mobilizem. Já vimos no primeiro item que não somos tão poderosos assim. Mas há outros pequenos truques que nos impedem de tomar as rédeas do processo. Vejamos os slides de alguns artigos do Estatuto da UBC:

Artigo 5, parágrafo 5 do Estatuto da UBC:

§ 5° – Os autores, compositores e editores que solicitarem ingresso na Associação permanecerão na categoria de Associados Administrados durante no mínimo doze meses, contados a partir da aceitação de sua proposta de filiação, pela Diretoria. Decorrido esse prazo a Diretoria poderá aprovar seu ingresso nas categorias de Associado Efetivo ou de Associado Editor, conforme o caso, dependendo da rentabilidade das obras das quais sejam titulares.

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Art. 6º – Caberá nas Assembleias Gerais 20 (vinte) votos a cada associado da categoria de Associado Fundador e no mínimo 1 (um) voto a cada associado das categorias de Associado Efetivo e Associado Editor, podendo vir a ser atribuído, a cada associado, até 20 votos nos termos do disposto no Regimento Interno da Sociedade.

§ 3º – As demais categorias de associados – administrados citados acima – não terão direito a voto.

A conclusão é de que só quem arrecada muito tem direito a voto. Ora, quem arrecada muito não quer reclamar. Quem arrecada pouco não tem o direito de fazê-lo.

Por conta disso é que os seus dirigentes se eternizam no poder por décadas.

4) Um dos argumentos do ECAD para combater a criação de um Instituto Brasileiro de Direitos Autorais que, além de fiscalizar, estabelecesse critérios de cobrança e arrecadação é a invocação de que o direito de estabelecer preço para as obras é exclusivo do autor. Mas quem disse que, do jeito que as coisas estão, o autor tem alguma influência nesse processo? É o ECAD e as Sociedades que estabelecem um preço único. Isso gerou recentemente um parecer do CADE condenando o sistema ECAD por formação de cartel.

Não há diferença de preço entre as Sociedades, quanto mais entre as obras individuais. Eu posso querer cobrar menos, ou até não cobrar, mas o ECAD, em muitos casos, vai ignorar minha vontade.

Alguns problemas

1) As recentes denúncias de fraude envolvendo o ECAD, das quais sei que quase todos os presentes devem ter tomado conhecimento pelos jornais, revistas e TVs, dão conta de que seu sistema é extremamente frágil, ineficiente e nada confiável, embora o órgão insista em dizer o contrário. Seus cadastros não têm uniformidade, não há critérios para desambiguação de obras homônimas, os registros são frouxos e não exigem nenhuma comprovação além da palavra de quem se declara autor.

2) Tecnologia defasada e cara.

O sistema de amostragem para distribuição da execução em rádios é tão

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ultrapassado que parece má-fé. Qualquer garoto de 12 anos usa aplicativos capazes de identificar qualquer música que esteja tocando em rádios, bares, TV etc. É claro que elas precisam estar corretamente cadastradas. O ECAD anunciou que já gastou R$ 20 milhões para se capacitar tecnologicamente. Pelos resultados essa fortuna foi jogada no lixo. A perversidade do sistema de amostragem é que prejudica demais os artistas locais que não fazem parte do universo de mais executados no país.

Mesmo o Ecadnet, site com todas as obras registradas pelas sociedades no Escritório, que deveria ser uma solução tecnológica importante em relação ao cadastro, é tão falho e cheio de erros que nos assusta. Fiz o levantamento de algumas obras famosas minhas da época do Kid Abelha como Lágrimas e Chuva, Educação Sentimental, Como Eu Quero e Fixação e em nenhum dos casos a banda era citada como intérprete. O mesmo para canções da Legião Urbana em músicas como Ainda é Cedo, Há Tempos, Meninos e Meninas, Índios, Quase Sem Querer e Tempo Perdido. Pior ainda é Será, que nem consta entre os autores das diversas obras homônimas o nome do Renato Manfredini, mais conhecido como Renato Russo. Dá para passar dias descobrindo furos estarrecedores como o amplamente divulgado caso da família Silva.

Se dizendo vítima e não assumindo responsabilidade pelas fraudes o ECAD encobre o fato que as vítimas são os autores que pagam regiamente o órgão e suas sociedades (25%) para cuidar de seus interesses, mas esse serviço tem se demonstrado ineficiente.

Tanto critérios de cobrança e distribuição quanto outras informações relevantes são negados ou extremamente dificultados aos compositores.

Há um número absurdo de ações na justiça envolvendo o ECAD e as sociedades, tendo chegado já a sete mil. Este é um sinal, incontroverso, de que algo vai mal com a gestão.

Numa das reportagens recentes sobre as fraudes no órgão, fala-se da divisão de honorários de sucumbência entre o departamento jurídico e os próprios presidentes das sociedades, que atuam também como advogados nas ações, como denunciado pelo jornal O Globo. Na ação entre a TV bandeirantes e o ECAD, recentemente, estes honorários teriam chegado a 7 milhões de reais. Além disso, outros R$ 400.000,00 teriam sido pagos a

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um escritório “amigo” do ECAD, sendo que o órgão possui um departamento jurídico . Seria essa a razão para tantas ações na justiça?

A quem interessam então essa ações milionárias? Não seria muito mais saudável e menos custoso que se resolvessem esses litígios através de um poder moderador e arbitral exercido pelo estado?

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Ministério da Justiça recusa-se a responder perguntar sobre o Registro de Identidade Civil

http://www.trezentos.blog.br/?p=6270, 20 de agosto de 2011

Por Rodrigo Veleda

No quarto dia de abril deste ano, às 23h01, eu mandei um e-mail para [email protected] (como sugere a página de dúvidas da dita iniciativa) com as seguintes perguntas:

1. Qual é a competência do Congresso Nacional em legislar sobre tal assunto já que tradicionalmente a identificação de seres humanos no Brasil sempre foi de competência estadual?

2. Qual foram os critérios utilizados para a elaboração das estimativas de custo? Quanto custaria a manutenção anual do sistema e a identificação de todos os brasileiros de acordo com os ditames do RIC?

3. Quantas pessoas já estão no RIC?

4. Se uma pessoa for convocada a se registrar no RIC e se recusar o que acontece?

5. Que tipo de estudos foram utilizados para a análise de falsos-negativos e falsos-positivos por identificação por impressão digital?

6. Existe algum registro semelhante de tamanha abrangência no mundo?

7. Como está a questão do tratamento de dados de pessoas que possuem passaportes e/ou títulos eleitorais biométricos? Uma pessoa pode negar consentimento de transferência de dados destes bancos de dados para o RIC?

8. Como o RIC interagiria com o anteprojeto de lei de dados pessoais proposto pelo Ministério da Justiça?

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9. Quantas audiências públicas, e eventos do gênero, sobre o RIC foram realizados? Se sim, quem debatia contrariamente? Quais os resultados destes eventos?

Até o presente momento, quatro meses, duas semanas e dois dias (138 dias) eu não obtive resposta. Muito provavelmente, eu devo ter sido a única pessoa no Brasil a ter coragem de ter feito tais perguntas. Se alguém tiver dicas de como eu posso ter estas questões respondidas pelo Ministério da Justiça, eu fico muito grato.

Publicado no Não Sou Um Número.

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A Janela de Overtonhttp://x.bardo.ws?j0, 6 de julho de 2011

Por @acid0 – http://www.saindodamatrix.com.br/

O termo "Janela de Overton" foi dado em homenagem a Joseph P. Overton, que era vice-presidente do Centro Mackinac para políticas públicas nos anos 90 e criou um modelo que mostra como as opiniões públicas podem ser mudadas intencionalmente e de forma gradual por um pequeno grupo de pensadores ("Think tank"). Ou seja, idéias que antes pareciam impossíveis são plantadas na sociedade e, com o tempo, se transformam até mesmo no oposto do que era antes. Imaginemos qualquer causa politico/social (educação, aborto, descriminalização de drogas, não interessa). Para cada causa há um espectro de idéias que vai de um extremo a outro (do pensamento mais radical ao mais liberal). A Janela de Overton é o leque de idéias "aceitáveis" na sociedade, ou seja, a posição da sociedade num dado espectro.

Quando um Think tank tem de promover uma idéia que está fora do que a opinião pública considera razoável, ela "puxa" a janela na sua direção. Assim, através da sua ação na mídia, vai introduzindo no discurso público idéias a princípio consideradas radicais, impossíveis de implementar, mas que, com a exposição do público a essas ideias, o que era inaceitável passa a ser tolerável, e o que era aceito pode até passar a ser rejeitado.

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Podemos ver esse mecanismo em ação agora mesmo, ao assistirmos a uma massificação/exploração da homossexualidade pela mídia, assim como fizeram nos anos 90 com o culto à marginalidade (e uso a palavra em seu sentido mais amplo, do que está à margem). Colheremos bons e maus frutos disso, mas não amadureceremos como sociedade, assim como não amadurecemos em relação às classes sociais, pois não há debate ou esclarecimento, apenas imposição e tomadas de lado. Sem entrar na questão de certo ou errado (isso seria desvirtuar todo o post e olhar pro dedo, em vez de olhar pra Lua), dá pra perceber uma saturação de personagens homossexuais nas novelas, assuntos relativos ao tema nos telejornais, como que empurrando goela abaixo da sociedade algo que até então era tabu, num equivalente psicológico do que seria um "tratamento de choque". Tratamentos assim podem até curar os sintomas, mas à custa de recalques e traumas que ficarão adormecidos, apenas esperando um gatilho para explodir.

Existem tantos outros tantos exemplos de manipulação, mas os mais dramáticos são os que levam um país inteiro a uma guerra.

Todo mundo sabe que a guerra do Iraque foi baseada numa mentira (as tais "armas de destruição em massa") mas o que poucos sabem é que tudo seguiu um script de um relações-públicas de guerra contratado pelo governo dos EUA para controlar todas as informações que apareceriam na mídia (e controlar, assim, a percepção das pessoas). Esse homem é John Rendon. Suas ações foram além de plantar notícias: ele também criou, a pedido da CIA, forças dissidentes DENTRO do Iraque a fim de que depusessem o governo desse país na base da violência. Então se você acha que o enforcamento de Saddam Hussein foi planejado e executado "soberanamente" por iraquianos... bem, se você é um cara que acredita em tudo o que vê na TV, provavelmente deve achar que o David Copperfield é um Avatar!

Rendon também participou do 11 de setembro, trabalhando para o Pentágono no Office of Strategic Influence, cuja missão era plantar notícias falsas e esconder suas origens. Outra missão era monitorar e participar de fóruns e chats em lingua árabe (lembrem que a única "confirmação" de que Osama Bin Laden foi morto foi feita num desses fóruns em que a Al Quaeda supostamente participa. A mensagem poderia ter sido escrita até por mim, mas a mídia comprou essa informação como

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verídica, assim como tem comprado tudo o que o governo americano diz que é pra ser).

Abro um parênteses pra lembrar que esse ano Obama se reuniu com os principais executivos da internet (Google, Apple, Facebook, Twitter, Yahoo, entre outros). Supostamente o jantar era pra falar sobre a geração de empregos, mas diante dos fatos descritos acima fica difícil acreditar que o presidente dos EUA se encontraria com os principais outsiders da mídia controlada pra falar de algo tão prosaico.

O "pai" das relações-públicas foi Edward Bernays. Ele cuidou da propaganda por detrás do golpe de estado na Guatemala, em 1954, onde a CIA tirou do poder um regime democraticamente eleito, e também ajudou a criar um sentimento de guerra contra a Alemanha na 1ª guerra (1917). Sua fama foi feita no final dos anos 1920, quando ele conseguiu inverter uma percepção negativa da sociedade (mulheres fumarem era algo grosseiro e masculino) para algo positivo (glamour, elegância) com a campanha dos cigarros Chesterfield. Ele também é o responsável pela percepção de que a cerveja é uma "bebida leve e moderada". Em 1928 ele lançou o livro "Propaganda", que se tornou a bíblia da indústria da publicidade e dos governos ocultos. Não por acaso foi o livro de cabeceira de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista (apesar de Edward ser judeu).

Barack Obama é o maior exemplo de um produto de sucesso das relações públicas. Ele saiu do nada para a presidência dos EUA através puramente da imagem e do discurso, uma imagem - e discurso - vendidos não só para os EUA, mas para o mundo todo, e que geralmente não condiz com suas atitudes (A base de Guantânamo continua lá pra provar). Quem produziu Barack Obama? A resposta visível é o marketeiro dele, Ben Self (que por sinal trabalhou na campanha da Dilma). Mas não responde a QUEM interessa fazer Barack Obama. Esse é um mistério que só pode ser entendido quando acrescentamos um elemento atualmente invisível à nossa sociedade: aqueles que controlam a sociedade.

Edward Bernays fala explicitamente em seu livro "Propaganda":

"Se entendermos os mecanismos e as motivações da mente de grupo, é agora possível controlar e reger as massas de acordo com nossa vontade, sem seu conhecimento."

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Em um livro posterior, Edward cunhou o termo "engenharia do consentimento" para descrever sua técnica de controle de massas:

"A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática (...) Aqueles que manipulam este mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder do nosso país (...) Em quase todo ato de nossa vida diária, seja na esfera da política ou dos negócios, na nossa conduta social ou no nosso pensamento ético, nós somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas (...) que compreendem os processos mentais e padrões sociais das massas. São eles que puxam os fios que controlam a mente do público."

Quem controla a mídia controla o poder. É por isso que nosso querido governo nunca desistiu da idéia de controle total da imprensa, mas nisso têm enfrentado violenta oposição da Band e da Globo. Se a história nos ensinou alguma coisa, é que vai ser preciso criar um factóide (algo dramático, de apelo popular) pra se criar, no calor dos eventos, uma censura que não pareça uma censura. Ou seguir o caminho que já está tomando, de ir aumentando o controle do judiciário e ir estrangulando, por meio de processos e proibições (como a do Estadão) o jornalismo inquisitivo, de denúncia. Por outro lado, engana-se quem pensa que a mídia está contra o governo. Porque, ironicamente, a mídia só se torna relevante em seu poder de convencimento quando está aliada ao poder, e o poder está representado pelo governo, que está repre$entado/sustentado na mídia. Essa simbiose pode ser observada na relação estreita da Globo com todos os governantes brasileiros, independente de ideologia.

Um belo exemplo de inversão completa do espectro está na manipulação em massa da esquerda brasileira, que apenas 15 anos antes era intolerante ao extremo com corrupção e falta de ética DA DIREITA, e prometiam fazer diferente, mas uma vez no poder conseguiu implantar em seus eleitores/apoiadores a idéia de que conchavos, propinas e corrupção fazem parte do jogo político, e que é a única forma de se manter a governabilidade. Isso não foi construído do dia para a noite, e sim ao longo do gerenciamento da mídia dos VÁRIOS escândalos em que eles se meteram. Algo que nunca conseguiriam sem o poder e carisma de seu relações-públicas Luís Inácio Lula da Silva ("o cara") que, quando quer fazer publicidade ou apagar algum incêndio, dá entrevistas exclusivas à

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Rede Globo, que outrora criticava.

Referência:

• Designorado: a importância dos extremos: http://x.bardo.ws?j1;

• Edward Bernays: The father of spin: http://x.bardo.ws?j2

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Os Trilhões Perdidoshttp://x.bardo.ws?j3, 13 de julho de 2011

Por @acid0 – http://www.saindodamatrix.com.br/

No dia 10 de setembro de 2001 o vice-presidente Dick Cheney foi na TV criticar os gastos militares dos EUA. Falou que 2.3 TRILHÕES de dólares haviam se perdido nas contabilidades do Pentágono. Um dia depois acontecia o maior atentado de falsa-bandeira da história mundial. E um dos "aviões" (que ninguém viu direito) atingiu exatamente a área de contabilidade do Pentágono, matando funcionários, destruindo registros e qualquer chance de descobrir o paradeiro desse dinheiro.

No mesmo dia desapareceram 720 milhões de dólares em barras de ouro, que estavam armazenadas no subsolo do World Trade Center 4. Isso sem falar nas estranhíssimas transações financeiras que aconteceram envolvendo o mercado especulativo, meses antes dos ataques, e nas que aconteceram no dia e cujos registros acabaram se perdendo na papelada e computadores que explodiram junto com os prédios.

Não se pode dizer que os norte-americanos não são pragmáticos e eficientes. Lucram até numa farsa extremamente difícil e arriscada de se perpetrar.

Mas nunca ficam satisfeitos. E novamente aproveitaram outra oportunidade pra tirar MAIS dinheiro dos cofres públicos, dessa vez com a farsa da Crise econômica de 2008. Enquanto os executivos fingiam surpresa e os analistas do Governo insistiam em cobrar do Congresso uma quantia absurda pra "salvar" as empresas, a verdade era que essa bomba tinha relógio e vários economistas já haviam alertado o governo (no que foram solenemente ignorados). Nenhum executivo das empresas teve prejuízo com a Crise, ao contrário, todos os bônus foram pagos, e no governo Obama $700 bilhões foram tirados dos contribuintes norte-americanos praticamente da noite para o dia, seguindo orientações da MESMA equipe econômica do Governo Bush que deixou a situação chegar onde estava. O dinheiro não estava vinculado a nenhuma

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obrigação por parte das empresas, e o que acontece quando você dá dinheiro na mão de um ladrão?

As empresas beneficiadas com o "resgate" financeiro do contribuinte depositaram esse dinheiro em paraísos fiscais, como as Ilhas Caiman, onde estão livres de taxas (e assim causando prejuízo à economia dos EUA). Empresas como a Goldman Sachs, o Citigroup, a American Express, AIG, Bank of America, General Motors, JP Morgan Chase, Merrill Lynch, etc.

A companhia AIG foi "salva" da falência com $180 bilhões do dinheiro dos contribuintes, mas isso não a impediu de pagar $165 milhões em BÔNUS pra seus executivos, muito menos de distribuir esse dinheiro com outros bancos americanos e europeus, notadamente o Goldman Sachs Group Inc. Esse banco é interessante pois participa ativamente do poder econômico dos EUA. Edward Liddy é o CEO da AIG e foi um dos diretores da Goldman Sachs, enquanto Henry Paulson, secretário de tesouro do presidente George W. Bush (e responsável pelo estado de coisas que desencadeou a crise) TAMBÉM era da Goldman Sachs. E a administração de Obama está INFESTADA de gente da Goldman Sachs. Então estamos falando aqui de colegas, raposas cuidando do galinheiro, assim como é o Congresso Brasileiro. Só que lá o assalto aos cofres públicos é muito mais violento, na casa dos bilhões.

As agências de "rating" - totalmente desreguladas e comprometidas tão-somente com os lucros - causaram a desvalorização imobiliária de 2008, e são elas que classificam países (inclusive o Brasil e a Europa). Portugal caiu de "rating" e está em crise, assim como a Grécia e a Irlanda, enquanto Itália e Espanha estão à beira do precipício. Que poder é esse que é dado pra empresas privadas destruírem países, enquanto todo mundo sabe que os EUA estão imprimindo dinheiro sem valor algum e com uma dívida interminável, e ainda assim recebendo classificação AAA?

A China já botou suas barbas de molho, e sinalizou que pode parar de bancar a farra dos EUA (que só não fale porque a China compra papéis dos EUA, num interesse mútuo). O Japão (outro que sustenta os EUA) também tem seus próprios problemas pra cuidar, então uma crise de proporções gigantescas pode estar no horizonte muito em breve. Crise esta que pode beneficiar os planos de gente como os Rockefeller, que

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controlam a economia e querem há muito implantar uma moeda única pra o continente americano, o Amero, em substituição ao dólar.

Está circulando uma história de que uma parte das reservas de ouro dos EUA (o lastro da economia de todo país) é FALSA. Em Outubro de 2009, a China supostamente recebeu dos EUA cerca de 60 toneladas de ouro, como acerto de contas no balanço de comércio externo. Com a entrega, Pequim testou a genuinidade do ouro recebido tendo concluido que se tratava de "ouro falso": Eram barras de tungstênio revestidos com cobertura de ouro. As 5.700 barras falsas estavam devidamente identificadas com chancela e número de série indicando a origem - Fort Knox, USA. A história ganha e muito um ar de veracidade porque o Congressista Ron Paul quer que o governo abra os cofres e conte TODAS as barras de ouro, algo que não é feito desde a época do presidente Eisenhower. Isso é ainda mais agravado quando se sabe que o Federal Reserve (dono de 5% do ouro, e que de federal não tem NADA) tem o poder de secretamente vender ou trocar ouro com outros países.

Incluíram até o caso Dominique Straus Kahn como uma conspiração, supostamente porque ele tinha ido aos EUA justamente pra clarificar as razões que levavam os norte-americanos a protelar continuamente o pagamento devido ao FMI de quase 200 toneladas de ouro. Um dia talvez saibamos da verdade, mas o Primeiro-Ministro da Rússia, Vladimir Putin, já deixou no ar que tudo não passa de uma armação.

Por fim, deixo a recomendação de quem quiser saber mais sobre a política e manipulação financeira dos EUA assistir aos documentários Inside Job (que ganhou o Oscar 2011) e um delicioso documentário-comédia chamado The Yes Men Fix the World, em que dois ativistas se fazem passar por membros de megacorporações, dando depoimentos absurdos em TVs e congressos.

Referência:

• Documentário "Vamos fazer dinheiro" - http://x.bardo.ws?j4;

• Documentário "The Missing Trillions" - http://youtu.be/LJmS_92Oo9I

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O Ateísmo como artifício falacioso (assim como qualquer religião)

http://x.bardo.ws?jg, 11 de agosto de 2011

Por Cacilhας, La Batalema – http://montegasppa.blogspot.com/

Estou lendo o livro Quebrando o Encanto: A religião como fenômeno natural, de Daniel C. Dennett.

Ótimo livro, apresenta um desenvolvimento muito interessante de pensamento, salvo alguns detalhes…

Dennett é um tremendo morde-e-assopra, ao começar qualquer raciocínio, ele dá claramente a entender crer que ele e quem pensar como ele sejam superiores, Übermensch, detentores de conhecimento e sabedoria supremos e prestes a compartilhar com quem se submeter a sua superioredade, enquanto todos que pensarem diferente são ignorantes demais para terem o direito de tentar qualquer argumentação.

Mas logo depois, evolui o raciocínio defendendo o direito dos ignorantes serem ignorantes, como se isso fosse uma forma de respeito.

Decartes, o fanfarrão

Sabemos que grandes gênios também cometem erros, porém, até que se prove factualmente que uma determinada afirmação de um gênio seja besteira, ela merece ao menos o benfício da dúvida – o mais sagrado princípio do Ceticismo.

Dennett ataca René Descartes, mestre do Negativismo, chamando-o de confuso por defender o conceito de mente como res cogitans.

Segundo Descartes, a mente possui existência a parte do corpo. Já Dennett e seus correligionários acreditam inflexivelmente que a mente seja resultado dos impulsos elétricos do cérebro.

Nada nega cientificamente a ideia de que a mente seja uma entidade a

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parte da matéria conhecida e que o cérebro seja uma interface de duas vias do corpo com a mente, mas o pseudocético defende fortemente suas crenças.

Por outro lado, Dennett elogia e defende Skinner, que supervalorizava a previsibilidade em detrimento da liberdade, e John Locke, que considerava a mente humana uma tábua rasa, sem profundidade, ambos sem provas.

No entanto ausência de evidência é evidência de ausência para os ateus, sempre que isso for conveniente ao Ateísmo.

Se eu não vejo, não existe

Tudo aquilo que a ciência, onisciente segundo as afirmações contraditórias de Dennett, não reconhece, não existe: é ilusão, imaginação fértil se multiplicando memeticamente.

A explicação é (desfarçadamente) que se algo pode ser fraudado, então é fraude.

Portanto o exército norte-americano deve ser uma fraude, já que a religião de John Frum na ilha Efate acreditam que seus deuses, os soldados norte-americanos, voltarão um dia. Se eles podem fraudar o exército norte-americano, então deve ser uma fraude.

Porém quando você chega às argumentações sobre fraude e imaginação, já leu muita coisa desde quando o próprio Dennett citou a religião do Pacífico e não faz a conexão, não percebe a contradição.

Outros poderão dizer: mas os soldados não são deuses!

E o que são deuses? Seres superpoderosos que descem dos céus em seus barcos alados e podem matar um homem apenas apontando seu bastão mágico?

Nem tudo são flores

Mesmo assim o livro é muito interessante. Além de expor as contradições grotescas do Ateísmo, expõe muitos ridículos das grandes religiões e suas mentiras, também a ingenuidade das pequenas crenças.

É impecável sua lógica sobre como é estranho a maioria das pessoas no

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mundo discordarem de um religioso – qualquer que seja – se ele é o dono da verdade.

Outro argumento interessante é este:

E imagine que os fãs das histórias de Harry Potter, de J. K. Rowlings, tentassem iniciar uma nova tradição: todos os anos, no aniversário da publicação do primeiro livro de Harry Portter, as crianças receberiam presentes dados pelo menino, que entraria pela janela em sua vassoura mágica, acompanhado por sua coruja. Vamos tornar o Dia de Harry Portter um dia mundial para as crianças! Os fabricantes de brinquedos estariam todos a favor

Ideia revoltante, não? Mas já fizeram isso… chama-se Papai Noel.

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O Google pode afetar a sua memória?http://x.bardo.ws?j6, 15 de julho de 2011

Por Emerson Alecrim – http://www.infowester.com/

Segundo um estudo publicado recentemente na renomada revista Science, pode. Mas não é motivo para pânico ou para pensar duas vezes antes de buscar alguma coisa na internet, não. Digamos apenas que se trata de uma “adaptação” aos novos tempos.

A publicação chama o fenômeno de “efeito Google”. De acordo com Betsy Sparrow, professora da Columbia University e líder do estudo, cada vez mais pessoas estão utilizando a internet como seu “banco de dados pessoal”, ou seja, utilizam seus computadores e as ferramentas disponíveis na Web como uma “memória externa”.

Isso significa que cada vez mais pessoas deixam de memorizar informações porque confiam em sua habilidade para encontrá-las na internet. Se por um lado isso indica que estados deixando de guardar dados, por outro, aponta que estamos melhorando nossa capacidade de procurar informações.

O que chamou a atenção de Betsy Sparrow para esse fenômeno foi a sua própria experiência: a pesquisadora percebeu que consultava constantemente o site IMDb para relembrar nomes de atores. Eu percebi a mesma coisa no final de 2010 e início de 2011, quando fiz um mochilão pela Bolívia e pelo Peru: sem celular e com acesso precário à internet, levei alguns dias para me acostumar com a ideia de que não poderia contar com a Web para buscar informações.

Esse tipo de constatação pode até fazer com que tenhamos algum sentimento de culpa, mas a verdade é que não há motivo para vergonha. Isso só acontece porque a internet como um todo passou a fazer parte de nossas vidas, simples assim. Durante a pesquisa, a própria Sparrow percebeu que os participantes imediatamente pensavam em recorrer ao Google quando não sabiam alguma resposta, tamanha a familiaridade

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com a ferramenta.

O fato é que o cérebro humano é uma máquina que busca eficiência: Sparrow também constatou que os participantes não gravavam muito bem certas informações quando sabiam que poderiam encontrá-las a qualquer momento em outro lugar – neste caso, a internet. Aqui, o cérebro entende que vale mais a pena saber onde a informação está do efetivamente guardá-la.

Como se vê, não se trata de uma doença ou de ficar menos ou mais inteligente. O assunto só é digno de preocupação para quem está muito dependente do computador, afinal, todo excesso é prejudicial. De qualquer forma, é sempre bom exercitar a mente: nada como leituras, jogos e até mesmo passeios no parque de vez em quando Smiley piscando

Referências:

• Wired: http://x.bardo.ws?j7

• International Business Times: http://x.bardo.ws?j8

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Mesmo sem um chefão no final, a Nintendo está numa fase ruim de passar

http://x.bardo.ws?ka, 1 de agosto de 2011

Por Emerson Alecrim – http://www.infowester.com/

Definitivamente, a Nintendo não está em um momento bom. Depois de ter causado uma revira-volta no mercado com o lançamento do Wii e o seu joystick sensível a movimentos, a empresa não está conseguindo se manter na vanguarda do mercado. Prova disso são as decisões tomadas pela companhia nos últimos dias.

Na semana passada, a Nintendo anunciou a redução de preços do 3DS. No Estados Unidos, por exemplo, o valor do console cairá de 250 para 170 dólares. Os novos preços passarão a valer a partir do dia 11 de agosto de 2011. Como compensação, a Nintendo prometeu uma pacote de 20 jogos para quem adquirir o 3DS antes desta data, com o preço antigo.

Recentemente, Satoru Iwata, presidente da Nintendo, justificou a medida dizendo que a companhia não quer repetir o erro cometido com o GameCube: comercializado entre 2001 e 2006, o console nunca conseguiu superar os rivais Xbox e PlayStation 2, mas, de acordo com o executivo, essa história poderia ter sido diferente se a empresa tivesse baixado o preço do GameGube a tempo.

Em outras palavras, a Nintendo baixou o preço do 3DS porque as vendas do portátil estão muito abaixo do esperado, mas ainda há tempo para uma reação. O problema é que o console tem cerca de seis meses de existência, portanto, um anúncio tão radical assim em tão pouco tempo pode indicar “desespero”. Para aumentar as vendas, talvez a Nintendo devesse combinar a redução de preços com parcerias mais fortes com outros estúdios de games, pois um dos grandes problemas do 3DS, no momento, é a quantidade pequena de bons títulos.

E não termina por aí: a popularização de smartphones com iOS (iPhone) e Android também pode ter sua parcela de influência. Com esse tipo de

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aparelho sendo capaz de executar cada vez mais tarefas, muitos consumidores podem estar preferindo ter um único dispositivo portátil para se comunicar, acessar a internet, ouvir músicas, assistir a vídeos e… jogar.

O declínio do Wii (natural até, porque o console já está há um bom tempo no mercado), as vendas fracas do 3DS e as incertezas sobre o futuro console Wii U têm um preço: a companhia teve quase 325 milhões de dólares de prejuízo no último trimestre e, como consequência, baixou a sua expectativa de lucro em 82%.

Diante dessa situação nada confortável, Satoru Iwata decidiu cortar o próprio salário em 50%. Outros executivos da companhia também terão redução salarial, variando entre 20% e 30%. Uma atitude nobre, bem típica dos japoneses. Só que essa turma aí vai ter que pensar em outro gesto nobre se a situação do 3DS não melhorar e se o futuro Wii U não for bem recebido pelo mercado. É realmente uma fase difícil de lidar.

Referências:

• Digital Trends - http://x.bardo.ws?kb

• Digital Trends [2] - http://x.bardo.ws?kc

• Bloomberg - http://x.bardo.ws?kd

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Crime e Castigo na Internethttp://x.bardo.ws?j5, 11 de julho de 2011

Por Silvio Meira - http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

Como é de conhecimento geral, sites de todas as vertentes e níveis de governo estiveram sob ataque de um enxame de hackers nas últimas semanas. Muitos foram derrubados e uns poucos invadidos, o que podia interromper a prestação de serviços à cidadania e a empresas. Não que isso tenha acontecido; serviços essenciais, como a Receita, atravessaram incólumes o tsunami.

Defensores da internet vigiada entendem que só isso já é motivo para acelerar a passagem da Lei Azeredo (o “AI-5 digital”) pela Câmara, onde a proposição se encontra depois de aprovada pelo Senado. Mas não é. O surto de ataques e os sites de e-gov prejudicados são resultado de um fenômeno muito mais básico e, por isso mesmo, endêmico na administração pública: a falta de políticas e estratégias e, na presença delas, a incapacidade operacional.

Segundo relatório recente do TCU, nada menos que 65% dos órgãos federais não têm uma política de segurança da informação (veja smeira.blog.terra...), o que tira muito da graça de derrubar seus sites e invadi-los para subtrair, aqui e ali, informação via de regra irrelevante.

Nos últimos 15 anos, toda uma geração cresceu na internet, íntima de muitos de seus segredos. Parte transformou tal intimidade em ferramentas que tornam possível feitos que o imaginário, ao desconhecê-las, atribui à genialidade. Menos, muito menos do que isso, está em jogo na vasta maioria dos casos.

Marco legal para uma rede cidadã

Mas é certo que a geração hacker cresceu à margem do veio social, ignorada e, ao mesmo tempo, quase sempre ignorando um mundo onde quase ninguém sabe o que é ou joga World of Warcraft. E muito menos do

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que é capaz uma linha de comando na hora e no lugar certos. Essa separação levou a visões de mundo, de cada lado, que são de difícil articulação sem que se faça um esforço consciente, coerente e de longo prazo para atrair hackers de todas as matizes para o jogo social.

De pouco ou nada adianta um “dia do hacker” no governo sem que haja uma política continuada de absorção de suas competências pela sociedade. Até porque não há uma guerra, no sentido de assaltos premeditados, liderados e articulados, que visam a causar danos às infraestruturas de informação essenciais à sociedade e economia.

Pelo menos por enquanto: na onda de ataques, não se tentou invadir bancos, roubar senhas, inviabilizar serviços e utilidades públicas. Existe, sim, uma ideologia juvenil, dispersa e pouco articulada, de combate à corrupção, especialmente da classe política. E uma crença de que muito se pode descobrir sobre os porões do poder nos repositórios de informação espalhados pelos órgãos públicos. E que sua exposição levaria a culpados muitos. Fala-se de licitações fraudadas, trocas de e-mails entre interessados em dilapidar o erário, mas pouco se produziu, até agora, de substancial e comprovado.

Isso quer dizer que não estamos procurando um (ou melhor, muitos) Raskólnikov: nada, ainda, foi destruído, direta ou colateralmente. Tampouco há um adolescente com um teclado na mão e um drama psicológico na cabeça, atormentado pelos seus atos “contra” o sistema. Ainda não chegamos nesse nível de consciência, trama e trauma. Mas podemos chegar, e os culpados, merecedores de castigo, estarão muito mais do lado de cá, por não entenderem e não saberem capturar o imaginário de uma geração, do que de lá, que podem começar a entender e saber usar, cada vez mais e como a geração 68, seus recém-adquiridos poderes.

Usar uns poucos e irrelevantes incidentes – devidos mais à incompetência de gestão e operação públicas do que às capacidades dos hackers – como argumento para acelerar a criminalização de comportamentos em rede, antes que se discuta e decida por um marco civil para a internet no Brasil, é mais do que botar o carro à frente dos bois. É ignorar a imensa comunidade que vem, paulatinamente (sim, leva tempo), tentando criar um marco legal para uma rede cidadã, e não um ambiente viciado e vigiado onde seremos, todos, culpados até prova em contrário.

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TEDxCuritiba: mostrando o que a boa vontade pode fazerhttp://x.bardo.ws?j9, 21 de junho de 2011

Por Emerson Alecrim – http://www.ealecrim.net/

No último sábado (16/07/2011), eu fiz parte da plateia do TEDxCuritiba. Gastei cerca de uma hora fazendo a minha inscrição e, claro, fiquei deveras feliz ao saber que eu estava entre os selecionados. Por que fiz questão de sair de São Paulo e ir para Curitiba participar deste evento?

Bom, a temática do TEDxCuritiba foi Pessoas transformando cidades. E eu não só moro em São Paulo como nasci aqui, portanto, conheço bem o lugar, especialmente seus problemas, detalhes esses que todos nós reparamos, aliás. A questão é que eu nunca me conformei em fazer parte da turma que só esbraveja do sofá, tampouco acho que tão e somente sair às ruas em protesto seja suficiente. Se é assim, o que mais eu posso fazer? Pois é, me inscrevi para o TEDxCuritiba justamente para encontrar inspiração. No final das contas, saí de lá com muito mais do que isso.

O evento reuniu pessoas que realmente fazem as coisas acontecerem, que não se prendem somente ao discurso. Pessoas que agem com base em objetivos concretos, que verdadeiramente enxergam as nuances do nosso cotidiano e que, portanto, não fazem parte do bloco que “ajuda porque é bonito”. Ajudam por que é necessário.

O incansável arquiteto Jaime Lerner é um exemplo. Mais do que ter sido prefeito de Curitiba e governador do Paraná, fez trabalhos incríveis no planejamento urbano da cidade e em vários aspectos sociais do estado. Lerner tinha tudo para se render à burocracia e à cultura de “coronéis” do nosso país, mas teve jogo de cintura para escapar das armadilhas e deixar a sua boa vontade trabalhar. Como é bom encontrar gente que não age só visando interesses próprios, não?

Outro exemplo é o jovem Rene Silva, que ficou conhecido por relatar os acontecimentos da ocupação do Complexo do Alemão pela polícia do Rio

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de Janeiro, mas que, muito mais do que isso, criou o jornal Voz das Comunidades, que vem ajudando na resolução dos problemas da localidade.

Outro exemplo que achei fantástico foi o do Alessandro Martins, que colocou em prática uma ideia absurdamente simples, mas por isso mesmo genial: uma biblioteca livre numa padaria de Curitiba, onde qualquer pessoa pode pegar um livro sem se cadastrar, sem pagar e devolver a publicação quando quiser.

O encerramento do evento foi feito por Gil Giardelli, que, com uma palestra em ritmo alucinante, motivou por mostrar como o mundo digital é repleto de possibilidades pelo simples fato de ser movido pelo mesmo elemento-chave do mundo real: as pessoas, evidenciando que, na verdade, não há mundos distintos, apenas novos meios.

E há vários outros exemplos, que não menciono somente para não alongar demais o texto. Sabe, o TEDxCuritiba confrontou a crença de que esse tipo de discussão só trata de problemas. O que eu vi por lá, na verdade, foram soluções, iniciativas ou, ao menos, tentativas concretas.

Pegue, como referencial, o trabalho do Alessandro Martins. Trata-se de uma ideia tão simples, mas que pode fazer a diferença para pessoas que até então não se sentiam motivadas a ler. E mais: o fato de não haver cadastro ou prazo para a devolução do livro alimenta a sensação de confiança das pessoas, fazendo-as se sentirem parte de algo.

Percebe? É um trabalho simples, que não resolve os problemas do mundo e que, certamente, não atinge a mesma quantidade de pessoas que se beneficiam do projeto de transporte público do Jaime Lerner, por exemplo, mas que se torna absurdamente grandioso quando somado a outras iniciativas que fazem diferença à sociedade.

Saber de exemplos de corrupção, de má administração pública, de preconceito sexual, de violência, de educação ruim e de tantos outros problemas nos fazem ter a sensação de que não há mais jeito, que temos que ser espertos – e egoístas – para sobreviver ou, quando muito, para nos sobressairmos.

E essa sensação piora quando você se depara com pessoas que possuem maiores chances de se engajar em algo, mas que não se envolvem porque a sua inteligência, a sua cultura ou a sua situação financeira diferenciada é

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um merecimento que automaticamente a isenta de qualquer outra questão não relacionada aos seus interesses.

Mas, ter estado no TEDxCuritiba me fez perceber que, apesar dessa atmosfera de “ih, já era” ou de “ainda bem que não é comigo”, ainda tem muita gente de boa vontade por aí. Gente inquieta, que não se contenta, que não se conforma e que, portanto, enxerga possibilidades em coisas que parecem irracionais, mas que, na verdade, podem ser executadas com os pés nos chãos quando moldadas pela criatividade e pelo empenho.

E sabe o que é mais interessante? O TEDxCuritiba deixou claro que não precisamos liderar um grande projeto social ou colocar em prática uma ideia complexa para contribuirmos. Pequenas atitudes são uma boa maneira de começar. Coisas simples mesmo, por exemplo:

• Descartar lixo eletrônico em postos de coleta adequados (mesmo se der um pouco mais de trabalho);

• Ser paciente em incidentes no trânsito (mesmo quando você estiver com a razão);

• Dizer bom dia, por favor, e obrigado (por incrível que pareça);

• Doar os livros que só ocupam espaço na sua estante;

• Relatar na internet uma experiência que possa ajudar outra pessoa (como você lidou com um determinado tipo de cirurgia, por exemplo);

• Se queixar nos órgãos certos de problemas que você enfrentou como consumidor (sua reclamação pode evitar que outras pessoas passem por aquele problema);

• Doar sangue de vez em quando (algo inclusive que eu tenho que começar a fazer);

• Em uma situação trágica – um incêndio ou um acidente de trânsito – se manter longe do lugar caso não possa ajudar em nada;

• Preferir um produto que consome menos energia (mesmo se for um pouco mais caro);

• Deixar o carro na garagem quando o veículo puder ser facilmente substituído por outro meio de transporte.

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Bom, para encerrar, links que encontrei para outros textos sobre o TEDxCuritiba:

• Design Thinking e o contexto urbano: http://x.bardo.ws?ja;

• TEDxCuritiba 2011 – Pessoas transformando cidades: http://x.bardo.ws?jb;

• Esse dia será lembrado como o dia em que um museu viveu de futuro: http://x.bardo.ws?jc;

• TEDxCuritiba, um evento que transformou a cidade: http://x.bardo.ws?jd;

• MonkeyBusiness no TEDxCuritiba: http://x.bardo.ws?je;

• Como foi o TEDxCuritiba: http://x.bardo.ws?jf.

O recado é esse: mova-se! A vida se torna muito mais interessante quando levantamos a cabeça e deixamos de enxergar apenas o próprio umbigo ;)

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Pinóquio às avessas: nascemos meninos, vamos à escola e viramos bonecos

http://x.bardo.ws?jh, 27 de julho de 2008Por Alessandro Martins - http://livroseafins.com/

Estava aqui mexendo no blog e ouvindo uma entrevista com o Rubem Alves.

Entre diversas coisas legais, ele fala que Pinóquio, na verdade, é uma historinha muito safada que não condiz com a realidade.

Segundo Alves, a mensagem que a história original passa é: um menido-boneco, feito de madeira, precisa parar de mentir, tolhindo sua imaginação, e precisa ser obediente e ir à escola para se tornar um menino de carne e osso.

Na prática, se dá o seguinte: nascemos de carne e osso. Então vamos à escola, onde aprendemos a verdade – podamos nossa imaginação – e, finalmente, nos tornamos bonequinhos, daqueles com cordinhas nos braços e nas pernas.

Ele também, como sempre, fala de como o sistema dos vestibulares é estúpido e sem sentido: nenhum reitor, nenhum professor universitário, nenhum professor de cursinho se fizesse um exame desses passaria. Isso só para argumentar de leve.

Sinceramente, a parte depois do vestibular também não me convence. O sistema acadêmico já me desiludiu suficientemente. Do primário, passando pelo ensino superior e terminando nos pós-doutorados.

• Mais sobre a necessidade de se pensar em alternativas ao ensino universitário: http://www.youtube.com/watch?v=xn9iGOKEC9c

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As leis, a Ética e um trecho de Thoreauhttp://x.bardo.ws?ke, 20 de julho de 2011

Por Alessandro Martins - http://livroseafins.com/

As leis sempre serão uma pálida sombra daquilo que se entende por necessidade ética e, não bastasse, sempre de uma sociedade do passado.

As leis são necessárias, sem dúvida, porque não somos inteligentes o suficiente para entendermos o mundo segundo uma perspectiva de conjunto, de rede. E esses textos organizados em artigos e parágrafos tentam conjugar as necessidades de um e outro grupo, nunca com completo sucesso. Por outro lado, nossa vista vai no máximo até o nós – quando não fica no eu somente numa ótica meramente individualista – e não consegue ir até o eles, os outros, sempre tão diferentes.

Vejamos o que diz Henry David Thoreau em seu livro A Desobediência Civil:

A única obrigação que tenho direito de assumir é fazer a qualquer momento aquilo que julgo certo. Costuma-se dizer, e com toda a razão, que uma corporação não tem consciência; mas uma corporação de homens conscienciosos é uma corporação com consciência. A lei nunca fez os homens sequer um pouco mais justos; e o respeito reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intencionados a agir quotidianamente como mensageiros da injustiça. Um resultado comum e natural de um respeito indevido pela lei é a visão de uma coluna de soldados – coronel, capitão, cabos, combatentes e outros – marchando para a guerra numa ordem impecável, cruzando morros e vales, contra a sua vontade, e como sempre contra o seu senso comum e a sua consciência; por isso essa marcha é muito pesada e faz o coração bater forte. Eles sabem perfeitamente que estão envolvidos numa iniciativa maldita; eles têm tendências pacíficas. O que são eles, então? Chegarão a ser homens? Ou pequenos fortes e paióis móveis, a serviço de algum inescrupuloso detentor do poder? É só visitar o Estaleiro Naval e contemplar um fuzileiro: eis aí o tipo de homem que um governo

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norte-americano é capaz de fabricar – ou transformar com a sua magia negra -, uma sombra pálida, uma vaga recordação da condição humana, um cadáver de pé e vivo que, no entanto, se poderia considerar enterrado sob armas com acompanhamento fúnebre, embora possa acontecer que

“Nem um rufar se ouviu

nem um silente toque,

enquanto seu corpo à

muralha levamos.

Nem um soldado disparou

seu tiro de adeus

sobre o túmulo onde nosso

herói nós enterramos”.

Ao ouvir uma palestra como a de Augusto de Franco, no TEDx Curitiba, neste sábado (16/07/2011), em que ele diz DESOBEDEÇA, lembro que ele, assim como Thoreau não está pregando a desordem, mas a busca por uma inteligência que saiba conhecer e entender leis maiores e que não podem ser escritas.

Não lembro quem disse essa frase: algumas das pessoas que foram os executores das mais terríveis atrocidades estavam apenas cumprindo ordens.

É verdade.

É preciso sabedoria para saber quando as leis devem ser mudadas ou quebradas. Frequentemente, uma lei já nasce atrasada. E, quando mudada, diante da necessidade, continua aquém do seu tempo. E quem as quebra, mesmo sob o escudo da Ética, sofre as consequências desse ato.

Tenho mais textos que falam desse assunto que talvez você goste de ler:

• Certinho - http://www.cracatoa.com.br/certinho/

• Desentendimentos na internet e Ética - http://x.bardo.ws?kf

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• Juízes e Ética - http://x.bardo.ws?kg

• A falta que a inteligência ética faz - http://x.bardo.ws?kh

• A insuficiência das leis - http://x.bardo.ws?ki

• Toda unanimidade é burra - http://x.bardo.ws?kj

• Nós e os outros - http://livroseafins.com/nosoutros/

• A Ética não são os 10 Mandamentos - http://x.bardo.ws?kk

• Ainda somos homens da caverna? - http://x.bardo.ws?kl

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Adeus, Solonhttp://x.bardo.ws?aq, 13 de julho de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

A Academia Arapiraquense de Letras perde mais um imortal. O terceiro este ano, que está sendo por isso mesmo tão incomum e triste para a ACALA.

No início do ano, Roberto Lúcio, advogado. Há algumas semanas, foi a vez do poeta Caboclo Linho. Agora foi o Solon Barreto.

O Solon, da empresa Mibasa, vinha desenvolvendo um trabalho de pesquisa sobre a Memória da Água. Vocês já viram o documentário Quem Somos Nós?? É um excelente documentário e, em dado momento, o vídeo fala de um cientista japonês que identificou mudanças estruturais na água quando expostas a certas emoções. Isso tem a ver com a pesquisa de Solon, que é muito antiga e continuava sendo feita.

O princípio de Solon é que a água possui o que ele chamou de memória. A água natural, dos rios naturais, tinha essa energia, essa coisa difícil de definir, impregnada em si. Com o tempo, o mundo capitalista da praticidade tem destruído isso. A pressa, o desmatamento, violação de lugares naturais... E aos poucos a água foi perdendo essa característica, que ele já conseguia mensurar com equipamentos próprios. Em sua teoria, isso inclusive seria um dos grandes desencadeadores dos mais diversos cânceres.

Enfim, é uma pena sua ida, uma perda para a cidade. Um confrade que comparecia sempre que podia às assembléias e que ultimamente estava internado. Não sei sobre sua pesquisa, como vai ser agora. E se o mundo nos turva a visão, nos prendendo em corpos materiais, espero que agora ele esteja bem, em paz e, de toda forma bem, onde quer que esteja.

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Resident Evil, Podcast e Grevehttp://x.bardo.ws?dd, 17 de julho de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Tenho jogado um bocado de Resident Evil 4 nas últimas semanas. É um jogo bem interessante. Não é o mais novo da série, mas a história da série é legal. Você começa a ficar preocupado com essas coisas quando você vê um pedaço de embalagem de biscoito na rua brilhando com um reflexo branco e fica com vontade de ir pegar pra ver se é "algum tesouro"... De qualquer forma, seria bom se a gente tivesse na vida um mapa com bolinha vermelha. Tudo seria muito fácil. Você vai pra um evento em outra cidade e não sabe onde fica? Vê o mapinha que ele mostra o caminho até o ônibus, depois até o hotel, depois até o local do evento... Por fim, no final do evento, a bolinha vermelha ficaria no mapa mostrando com quem falar para pegar o certificado. Seria uma boa, né?

Começamos, com o prof. David Lopes, um projeto de jogar RPG em blog. A história começou. O pessoal ainda está participando pouco e espero que o povo acorde. A ideia é legal e o que falta mesmo é o pessoal começar a participar. Está até dando vontade de abrir outra mesa, por conta própria e chamando convidados, o problema é tempo pra isso.

Também tenho acompanhado o Nerdcast. O programa é interessante, apesar de muitas vezes eles se perderem tentando virar um "Pânico alternativo". De qualquer forma, vale a pena ouvir. Aproveitei e criei mais um atalho do meu site. É o podcast.bardo.ws. Não existe de fato um podcast, mas existem alguns arquivos audio perdidos por aqui, geralmente músicas em gravações domésticas (como as dos cordéis). Talvez você se interesse em acompanhá-las como um podcast, usando um software cliente de podcast para isso...

Já que falei do jogo, a Panini lançou Resident Evil em quadrinhos. Infelizmente não chegou aqui ainda...

Ah, a UFAL está em greve, para quem não sabe. O Governo quer retirar

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os direitos que já tínhamos. Trata-se de uma greve muito incomum por não ser motivada por aumento salarial e sim por manutenção de direitos previamente conquistados. Depois de seis meses de tentativas de diálogo, sem o Governo ceder espaço, a greve foi deflagrada. Depois de estarmos em greve, o Governo veio com história de "só negociamos se voltarem a trabalhar". Pior é que a Federação dos Sindicatos dos técnicos administrativos concordou, mediante um documento que não promete absolutamente nada. Todo mundo acha que isso é truque pra ganharem tempo e poderem "ceder" depois, quando não houver como pôr em prática o que havia sido acordado. Afinal, o orçamento anda por lá sem incluir recursos necessários para isso. Será muito fácil no futuro dizerem: "a gente concorda que vocês estão numa causa justa, mas o orçamento já fechou e não há mais o que eu possa fazer". Por isso, a UFAL e várias outras universidades continuaram em greve, mesmo com a FASUBRA tendo decidido voltar. Então, em assembléia posterior, a FASUBRA mudou de idéia e voltou a apoiar a greve (essas pessoas confundem as coisas sempre. Por que nunca veem que o poder que tem é "representativo"?)

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A História dos Gameshttp://x.bardo.ws?c8, 18 de julho de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Eu acompanhei a guerra dos games de 8 bits. Naquele tempo eu comprava revistas de videogame e tudo o mais. Foi naquele tempo que passei a admirar muito a Nintendo. Os jogos dela sempre eram mais divertidos. Era interessante a luta contra a SEGA. Nos 8 bits, a Nintendo saiu na frente e, quando a SEGA chegou com seu Master System, o mercado já estava tomado. Sem saída, a SEGA acelerou o mundo dos consoles de 16 bits, lançando seu revolucionário Mega Drive (ou Genesis). A Nintendo aproveitou o tempo extra e acabou com a alegria da concorrente, lançando seu Super Nintendo Enterteinment System.

Quem está chegando agora pode estranhar. "SEGA? Como assim? Como é isso?" Havia apenas esses dois grandes fabricantes de videogames naquele tempo pós-Atari: SEGA e Nintendo. As duas brigaram nos consoles de 8 e 16 bits... E nos portáteis também. A SEGA tinha o seu Game Gear, colorido, para combater com o Gambe Boy, que era preto e branco. O Game Boy também ganhava. O mercado de games mudou mais, aproximando-se do que temos hoje, depois do SEGA-CD.

Sem ter como derrubar o Super Nintendo, a SEGA resolveu dar um plus ao seu Mega Drive. Elaborou e lançou o SEGA-CD, um equipamento que seria acoplado ao Mega Drive, aumentando seu poder de fogo e aceitando, além disso, jogos em formato de CD-ROM ao invés de cartucho. Uma jogada ousada, mas que aparentemente não deu tão certo assim. Talvez por ter ficado muito caro e tudo isso ser muito novo naquele tempo. Fato é que a Nintendo se preocupou e planejou criar um acessório similar para o seu Super Nintendo. Não quis fazer sozinha, desta vez. Ela foi atrás de quem mais entendia de tecnologia de CD na época. Ela procurou a Sony.

Quando o acessório estava pronto, por não entrar em acordo com a divisão de lucros proposta, a Nintendo simplesmente desistiu e procurou a

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Philips. Também não deu certo e com o tempo a Nintendo parece ter chegado à conclusão de que CDs não eram divertidos, pois acrescentavam um irritante tempo de leitura. Cartuchos não tinham aquele "Loading...". Tanto é que o próximo console da Nintendo - o Nintendo 64 - funcionaria a base de cartuchos.

A Sony não quis jogar todo o esforço fora. Já tinham trabalhado muito naquilo e sabiam que o que tinham nas mãos era muito bom. Então o modificaram para que funcionasse de maneira independente, como um console. Assim nasceu o Playstation.

A Sony veio e foi tomando aos poucos todo o mercado de games, até o Playstation 2. A SEGA continuou tentando mais umas rodadas, até que praticamente sumiu do mundo dos consoles (embora ainda crie jogos), enquanto a Nintendo reduziu sua influência a números bastante discretos, por vários anos. Até voltar de Wii e Nintendo DS, mas este é assunto para um post futuro... :-)

Atualização: incorporando observações de Elio Gavlinski.

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Um Manifesto Piratahttp://x.bardo.ws?ex, 21 de julho de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Eles querem que acreditemos que não temos direitos, simplesmente porque não termos direitos é economicamente mais vantajoso para eles

Eles nos chamam de ladrões antes dos filmes, mas são eles que constroem seus impérios às custas do Domínio Público e esperneiam e compram deputados para evitar que o que eles criaram há décadas, em cima do Domínio Público, se torne também Domínio Público.

Eles investem fortunas em propaganda. Propaganda criada para que nos sintamos mal com o que somos hoje, com o que temos hoje. Feita para que tenhamos a ambição de ter o produto deles para assim nos satisfazermos e nos sentirmos plenos. Eles cobram valores muito altos, praticando lucros astronômicos, sobre seus produtos e chamam de ladrões aqueles de nós que são fracos e, por acreditarem nos comerciais que eles nos impõem e não terem poder econômico bastante, copiam seus produtos no desejo de se tornarem alguém.

Eles corrompem a Lei para que direitos que sempre tivemos deixem de existir, porque lhes dá lucro.

Eles mataram o direito à terra. Mataram o direito à água. Atacam desesperadamente os direitos de aprender e de conhecer. Pregam a censura, a censura ao que não lhes dá lucro. Estão matando o “uso justo” com seu “Copyright marombado”.

Eles querem um mundo de consumidores, mas eles criam a exclusão. Eles separam e depois atacam os mais fracos, mais economicamente fracos. Como um dragão de vários braços e pernas, desesperado para proteger seu precioso tesouro. O tesouro que sempre foi nosso, mas hoje ele chama de seu.

Eles precisam entender que oferendas em ouro a empresas de publicidade

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não criam verdades.

Precisam entender que mitos caem. Um dia disseram que a Terra era plana. Um dia disseram que a Terra é o centro do Universo. Hoje dizem que ideias são objetos. Mitos caem.

Eles precisam entender que não somos dois ou três. Precisam entender que eles, que são dois ou três, estão lutando contra bilhões. Enquanto existir bom senso e enquanto existirem pessoas que não estão massificadas o suficiente para acreditarem que esse mundo que eles tentam impor é uma evoluçáo ou, ao menos, algo aceitável. Enquanto existirem pessoas de bem e conscientes, não deixaremos as coisas irem por esse caminho.

Porque nós somos capazes de ver claramente os barbantes acima dos governos. E sabemos quem são os bonequeiros e porque eles estão ali.

Mitos caem. O mundo muda. E não são canudos, panfletos e charlatões boiando que vão parar o verdadeiro transatlântico da evolução.

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Internet, Greve, RPG, EPIAL...http://x.bardo.ws?hp, 2 de agosto de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Minha Internet está péssima ultimamente. Por isso terminei perdendo algumas das atividades da greve da UFAL e atrasei a publicação do episódio mais recente de Warning Zone. E estou com e-mails, tweets, notícias e outras coisas bastante atrasadas. Mas estou mudando o serviço de Internet que uso e, em uns 15 dias, espero ter tudo em ordem novamente.

A greve das universidades continua. Para quem não está acompanhando, é o seguinte: o governo quer acabar com o incentivo a qualificação dos técnicos administrativos das Instituições Federais de Ensino Superior. Quem já tem aquela porcentagem recebida devido à carreira (ter mestrado, doutorado, etc) vai ter o valor congelado por 10 anos; quem ainda não tem, não terá mais. O governo começou a terceirizar parte do serviço dos Hospitais Universitários. Cortes para a Educação. Enfim, é uma questão complicada e o governo se nega a negociar desde o começo do ano.

No início de junho foi deflagrada a greve e agora o Governo fala. O que ele fala? "Não vamos negociar enquanto a categoria não voltar a trabalhar". Intransigentemente, querem nos tirar direitos já previamente conquistados e quer que aceitemos tudo numa boa, felizes. Ninguém gosta de greve (falo de nós, que estamos participando dos atos, e não dos que se escoram e somem, como se tirassem férias). Até porque greve gera atritos, faz com que trabalhos se acumulem pra quando voltarmos, cansa. Porém, a situação é muito grave e esta é a saída que temos. Não se pode aceitar injustiças calado.

Pelo menos por aqui, temos tido denúncias de que técnicos vêm sendo coagidos constantemente a voltarem a trabalhar. Assédio moral, listinhas e tudo. A reitoria aparentemente está funcionando com bolsistas.

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Para piorar o quadro, o Governo mandou um documento à justiça querendo tornar a greve ilegal. Além de não querer negociar, apelar para considerar ilegal uma greve assim é um absurdo indescritível. Quer pior? O documento cita como co-autores mais de 30 universidades que estão em greve. Acontece que aparentemente nenhum dos reitores dessas universidades sabia da existência desse documento até o momento em que a imprensa divulgou. Alguns deles já tornaram público de maneira formal sua indignação com tal ato. Enfim, estamos esperando o resultado desta ação.

Eu venho dizendo: quase ninguém votou na Dilma para a presidência. A maioria esmagadora votou na continuidade da política que vinha sendo feita e não na pessoa da Dilma. Ela chegou e está desfazendo tudo o que foi conquistado, pouco a pouco. Até o momento (na Educação, na Cultura, etc) não vi a continuidade.

Quanto a RPG, é o seguinte. Andei pesquisando alguns sistemas de RPG que são livres para ver se adoto um outro. O Sistema Daemon é legal mas não é liberado sob uma licença permissiva. Apesar de eles incentivarem a criação de livros digitais em torno do sistema (e devem ser reconhecidos por isso. São diversos títulos), tudo é feito de maneira informal, sem regras claras. então, comecei a olhar alguns.

Olhando, terminei achando características muito interessantes em vários sistemas e veio a vontade de fazer um sistema novo, juntando o que conheço de mais legal dos outros sistemas.

Eu já criei vários sistemas de RPG no passado. O XR-II foi o genérico, que pessoalmente achei legal. O sistema que estou planejando funciona como uma evolução do XR. Provisoriamente o projeto se chama XR-III. O XR-II eu criei no século passado e de lá pra cá muita coisa mudou. O novo XR-III aproveita e renova alguns dos elementos do XR-II, tendo influências do Arbarkristalo Sistemo, Ases, Mundo Real (sistemas criados por mim), Sistema Daemon, Wushu, Dominion Rules, dentre outros. Depois vou republicar aqui os meus sistemas antigos e falar mais sobre sistemas de RPG. Também podemos começar uma discussão sobre XR-III. Alguém gostaria?

O XR-III vai ser feito para dar apoio ao Ases (nova versão) e à ambientação de Escarlate, que planejo lançar como cenário de RPG.

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Sábado estive na EPIAL, escola estadual daqui da cidade, para falar sobre Literatura de Cordel. Foi muito bacana o contato e a experiência por lá. Fui chamado por eles para a palestra, através da ACALA. Por falar em ACALA, o site ainda está fora do ar... Tenho que arrumar isso logo.

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Resumo do Governo Dilmahttp://x.bardo.ws?iq, 17 de agosto de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Resumo do Governo Dilma

1. A copa do mundo é no Brasil, mas quem ganha dinheiro é a Fifa (supostamente, claro)

2. É proibido à população saber o quanto será gasto com a copa

3. Privatização agora não é com venda de empresas públicas, é com criação de empresas privadas que controlam as públicas. Assim, se privatiza um pouco mais devagar, mas sem os políticos parecerem tão ruins. (troca-se seis por meia dúzia)

4. Congelamento da folha salarial de todo o poder executivo por 10 anos. Ou seja: não haverá aumento salarial nem concursos. Por 10 anos! (detalhe: perguntem pelo Legislativo e pelo Judiciário...)

Eu já prevejo alguns passos futuros. Privatizações a rodo - ou melhor, criação de empresas privadas reguladoras (o que dá no mesmo); o Pré-sal sendo torrado por detrás de uma cortina. E quando nos dermos conta, o Brasil, que já está na região onde há a maior desigualdade social do mundo inteiro, vai estar ainda pior, entregue a poderes capitalistas internacionais em um caminho irreversível.

Ninguém votou na Dilma, todos votaram na continuidade do Governo Lula, mas quem fez esse voto foi a população brasileira e não esses poderosos internacionais. Um dia a população vai acordar (provavelmente de 2014 pra lá), a cidade cenográfica da Rede Globo vai cair e vamos ver o que o governo fez. E aí será tarde demais.

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XR-III e Larkoddanhttp://x.bardo.ws?iy, 18 de agosto de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Estou aqui para anunciar para vocês dois projetos de RPG:

XR-III

No século passado, eu criei vários sistemas de RPG que só eu usava: um para Megaman, um para o meu cenário 2016, um para o meu cenário Ases... Alguns com características interessantes: Habilidade de Realizar Ações Impossíveis, no Mundo Extra-Natural; uso de cartas ao invés de dados em Ases e por aí vai.

Quando os sistemas genéricos começaram a ganhar força, escolhi o meu sistema que considerei melhor (o de 2016) e a partir dele fiz um sistema genérico. Assim começou o projeto XR. Isso tudo aconteceu no milênio passado. O último estágio do XR foi o XR-II Asteel.

Depois disso, ensaiei um padrão para representar personagens, era o Arbarkristalo Sistemo, baseado no XR-II, mas trazendo alguns conceitos novos. A ideia é que o conjunto de regras poderia ser trocado facilmente, mantendo-se as fichas. Isso serviria para intercambiar, por exemplo, personagens entre mundos realistas e mundos fantásticos.

Recentemente, comecei a pesquisar sistemas de RPG cujas licenças permitissem modificação e redistribuição (no espírito do Software Livre), na ideia de adotar algum e construir cenários para ele, possivelmente publicando-os futuramente. Encontrei várias ideias interessantes e foi despertando em mim aquele espírito de criador de RPGs que estava adormecido.

Assim, juntando várias ideias, incorporando conceitos novos desses e de outros RPGs (e até de outras fontes, como jogos eletrônicos), estou iniciando o esboço do sistema XR-III e convido todos vocês a opinarem e participarem desta construção. http://xr.bardo.ws/

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Larkoddan

O novo cenário que eu planejava criar era a formalização da ambientação das minhas séries Escarlate e Escarlate II. Com o tempo, terminei adotando uma outra ideia.

Assim como criei vários sistemas, também criei vários cenários de RPG. Alguns tiveram uso até mesmo em romances meus, outros ficaram no conceito. O princípio agora foi: unir os cenários de fantasia medieval que eu já criei em um único planeta coerente. Isso é especialmente possível devido ao fato de eu ter explorado muito pouco viagens marítimas ou aéreas em meus cenários e histórias. Dessa fusão, nasce o projeto Larkoddan.

• Averl - conjunto de infinitas ilhas próximo de Queserto e Kairot.

• Galdenturex - continente desértico e inadequado à vida. Não há mais humanos, mas há outras espécies inteligentes por lá. Há muitas dunas e dragões marrons (que não voam e têm sopro ácido). Magia também não funciona por aqui. Este é um dos dois continentes do meu antigo cenário Den-Rex.

• Kairot - ambientação onde acontece o meu romance Os Guerreiros do Fogo. No romance, um grupo de amigos tem a missão de salvar o mundo e encontra um conjunto de armaduras mágicas que são dadas pelo Deus do Fogo (a proximidade com Queserto fará sentido neste fato).

• Klavoran Norte - continente onde ocorrem as aventuras das minhas séries Escarlate e Escarlate II.

• Klavoran Sul - parecido com o norte, mas com algumas diferenças importantes.

• Niccha - pólo norte do mundo de Larkoddan. Terra cheia de zonas de magia selvagem.

• Queserto - Terra montanhosa onde há encontros de magos (magos vem de outros continentes inclusive). Guerreiros por aqui têm um gosto especial por armaduras mágicas.

Em Lardokkan havia muitos dragões no passado. Hoje existem poucos dragões vermelhos e menos ainda dragões de outros tipos. Isso porque

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houve um evento no passado que levou um continente a outro plano de existência. É o continente de Goldenex, onde vivem muitos dragões. Goldenex é exatamente o mesmo Galdenturex, mas em outro plano, onde magia existe e não há deserto nenhum. Para chegar a Goldenex é preciso acionar um selo na viagem. (similar a Avalon/Ilha dos padres)

Bom, ainda não coloquei muita coisa lá, mas o local onde Larkoddan vai ser escrito e detalhado é em http://larkoddan.bardo.ws/.

Enfim, é isso. Contribuições são bem vindas.

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Vida de Programador

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http://vidadeprogramador.com.br/2011/07/22/pegadores/, 22 de julho de 2011

Vida de Programador

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http://vidadeprogramador.com.br/2011/08/10/visao-alem-do-alcance/, 10 de agosto de 2011

Vida de Suporte

http://vidadesuporte.com.br/suporte-a-serie/recebeu-o-email/, 25 de julho de 2011

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Marfim Cobra – Parte 4/8Marfim Cobra está disponível na íntegra em http://mc.bardo.ws/ e para

venda em http://www.bookess.com/read/7286-marfim-cobra/

Por Cárlisson Galdino

Quarta-feira, 13 de maio. As datas mais uma vez lembram que a força está nos números. Para Marfim Cobra, parece só mais uma noite, mas nem tudo acontece como se espera...

Marfim Cobra já acordou. Já fez suas ações de hoje e agora volta ao mar. Claro que não volta só. Atrás dele vêm carros da imprensa. E um helicóptero, só para variar. O que fazer? O de sempre. Despistar todos e correr para o mar. Impossível despistar carros e um helicóptero em Maceió? Bem, você deve estar se esquecendo de que Maceió é cercada por água: praia de todos os lados, além das lagoas... Além do que, Marfim Cobra fora um ladrão experiente, vivendo em tempos difíceis. Acho que impossível seria exagero.

Contrariando mais uma vez todas as expectativas dos repórteres e policiais, Marfim consegue retornar ao grande oceano atlântico. Mas alguém o observa. Cada movimento é capturado. Marfim cumpriu sua missão, por hoje. Quanto ao amanhã, ninguém pode garantir.

Mais uma noite chega. Mais um dia tedioso acabou e Marfim Cobra sai do oceano. Ele não poderia esconder a verdade para sempre. No momento em que coloca o rosto sobre a água, vê uma multidão enorme por ali. "Já me descobriram." Alguns o vêem e correm apavorados, outros procuram ao redor até encontrá-lo e fugirem como os primeiros. Alguns ficam, mesmo sabendo quem está vindo. Ficam por excesso de medo ou coragem. Mas alguns, mais do que isso, se preparam para uma batalha. Uma batalha que Marfim não esperava, nem queria. Mas as armas já apontam para ele.

Marfim não quer lutar. Põe seu punhal com o gume para baixo e grita:

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"Inchinmy Ejoda!" E o efeito já visto se repete. Ele não quer lutar, isso é verdade. Invocou o poder do punhal apenas na tentativa de assustá-los. E as serpentes energéticas partem furiosas ao meio do grupo armado. Alguns já fogem, em pânico. Como que por reação em cadeia, mais pessoas vão embora, de modo que as serpentes tocam a água quando há apenas dois na resistência. Após alguns disparos ineficazes, eles se olham e partem em disparada. Tudo calmo novamente. Ou melhor, quase tudo. Um helicóptero sobrevoa a área - talvez o mesmo de ontem. E ainda há pessoas na praia. O grupo armado se foi, mas há alguns curiosos e amedrontados. Marfim arranca os trajes já tão danificados pela água salina e sai. As pessoas correm desesperadas e até o helicóptero perde alguma altitude antes de voar para longe. Caminho livre, finalmente. Certas vezes é preciso apelar. Marfim segue em direção à cidade. "Já me descobriram. Já sabem onde fico durante o dia, já sabem quem sou. Será difícil. Daqui pra frente cumprir minha missão será bem mais difícil..." Marfim chega ao solo da praia. Mas há algo errado, e ele sente isso. Olhando mais à frente percebe melhor o problema.

Um corpo na praia, rasgado. Em pedaços. "Será que eles pensam que fui eu quem fez esse absurdo? Isso talvez explicasse um incômodo tão grande. Mas, e quem terá feito algo tão hediondo? Membros arrancados do tronco, assim como a cabeça. O peito traz cortes horríveis, parecem feitos por garras de seres que nunca vi desde meu regresso ao mundo. Eu uso uma adaga... Será que eles pensam mesmo que fui eu?" Marfim Cobra segue pelas ruas de Maceió, procurando criminosos, mas encontra apenas um caso, de assalto na rua, e isso logo no começo de sua jornada da noite. Sem mais o que fazer, Marfim retorna ao oceano atlântico. E o assunto de hoje não sai de sua cabeça. Marfim volta ao mar. Vê-se Marfim Cobra entrando na água até que sua cabeça esquelética seja totalmente coberta. Cena que não passa desapercebida por olhos atentos a qualquer movimento do paladino de Kin-Rá.

E assim, mais uma noite dá lugar ao dia. E do dia, um dia normal, brota nova noite...

Marfim se prepara pra abandonar as águas salgadas. Kin-Rá o encontrou ao dia. Marfim recebeu um sinal. Uma direção, um sentido. Indícios de que a praga de Fimiq ainda não chegou ao fim. Marfim Cobra sai da água

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e encontra o lugar totalmente deserto. Não há pessoas, nem muitas luzes acesas. É como se nada houvesse acontecido. Marfim não acredita muito no que presencia, mas vai em frente...

Ele caminha por algumas ruas. Repentinamente, um click. E Marfim é atingido por um feixe de água... E ele sente seu corpo "formigar". Um pequeno incômodo.

- Ele não caiu! Mais água benta! - alguém grita de algum lugar.

"Água benta!?!" Claro que é de se estranhar. Marfim quase morreu por causa deste fino e eficaz fluido, em outras horas. Mas não há tempo para auto-questionamentos. Eles mandam mais água benta...

- Parem a água benta! Não está funcionando! Plano B!

"Plano B?!?" Marfim Cobra pensa e, antes que possa pensar em qualquer outra coisa a mais, é atingido por metralhadoras. Certamente são balas de prata... Quem inventou essa? Parece que pegou mesmo.

- Parem as metralhadoras! Plano C! - os gritos vêm de trás de um caminhão estacionado a alguns metros. As balas e o jato, do prédio em frente.

"Chega por hoje!" Marfim rola no chão, para a direita, sem se importar com o que viria do "plano C".

- Inchinmy Ejoda!

- Quê!?!

Em segundos as serpentes alcançam o prédio e fazem seu estrago. Pode-se ouvir gritos da calçada onde Marfim está. O caminhão acelera e entra na cidade rapidamente. Fim da batalha. Mais uma vitória de Marfim Cobra. Mas a noite ainda não acabou. Há o lugar indicado. Ainda há Fimiq. E Marfim Cobra sabe que, se ele e as outras unidades de justiça não acabarem de uma vez por todas com a alegria de Fimiq, as conseqüências serão gravíssimas. Marfim sabe como essa batalha é importante. É como combater um vírus isolado dentro de um organismo. Vencê-lo é fundamental. Se houver outros, devem ser vencidos o mais rápido possível. Uma vitória é quase insignificante, mas uma derrota pode ser fatal.

Marfim percorre algumas ruas e...

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"Oh, não! Não de novo..." Outro corpo é encontrado nas mesmas condições que o de ontem. Marfim corre com mais pressa e fúria. Crê estar perto do criminoso. "Deve ser coisa dos malditos seguidores do maldito Fimiq." Chega ao lugar. Marfim tem certeza disso. Com o tempo, os sinais fluem com naturalidade em um seguidor constante desta forma de mensagens.

"É aqui." Uma área abandonada. Bem no estilo Fimiq. Marfim ouve barulhos dentro e se apressa. Abrir a porta? Pra quê? Eles podem fugir por ela. Marfim pula o muro rapidamente, próximo à porta, e encontra um grupo de dez adolescentes sentados ao redor de uma fogueira, cortando os próprios pulsos.

"São eles. É o ritual de conversão."

- Parem! - grita Marfim, enérgico, enquanto os integrantes do grupo se levantam surpresos. Marfim Cobra corre em direção a eles, com seu Punhal das Serpentes. Em alguns golpes rápidos, deixando um belo rastro verde-luminoso, metade do grupo cai. "Se eles não se importam em cortar os próprios pulsos, não devem se importar por eu ter cortado o resto. ...não." Dois golpes derrubam mais dois. "Uma morte feliz é a última coisa que eu daria a esse lixo." Marfim apara um bastão, enquanto esviscera seu empunhador. "Não" - um morre com um golpe no pescoço - "ouvirão" - e lá se vai o último deles - "nada!".

Mais um trabalho concluído. Marfim se sente feliz por ter realizado mais uma vez algo tão digno. "Mas, e quanto aos homens que morreram por eles? As pessoas ainda devem pensar que eu sou o culpado por suas mortes. Pelo que conheço sobre eles, mais mortes não resolveriam o caso, portanto está fora de cogitação entregar os verdadeiros culpados. É melhor esquecer isso. Amanhã, quando não houver mais mortes, perceberão que não foram mortos por mim. É melhor ir embora e amanhã ver o que acontece."

E Marfim Cobra retorna ao lar, o oceano, tranqüilo e sedento por mais justiça. Ele está feliz com tudo o que fez hoje, bem como os olhos que o observam e observaram por toda a noite.

Marfim Cobra se ergue para mais uma noite. Sai do mar, espera que seja uma noite melhor. Mas nem sempre as coisas acontecem como se espera.

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Tudo parecia normal de novo, mas na praia havia um outro corpo estraçalhado. Dessa vez, um corpo feminino. O problema não foi resolvido. Os discípulos de Fimiq são cruéis, mas não eram eles. Um terceiro corpo transforma três em treze. Sim, pois além de a polícia achar que o culpado pelas três mortes é Marfim Cobra, há os dez corpos que foram realmente por ele eliminados. Tudo fica ainda pior do que estava. Marfim anda, preocupado, até encontrar a rua em frente. E nela, alguém de pé. Tem cabelos castanhos, usa roupas em tons de azul e ciano e traz duas armas nas mãos. Está de cabeça baixa e olhos fechados, quando fala.

- Sinto muito, amigo, mas terei que te matar. - Ele ergue a cabeça e abre os olhos. - Na verdade não sinto, esqueleto. Foi só para deixar a cena mais dramática.

O estranho começa então a atirar contra Marfim Cobra. As balas não o ferem, como nas outras vezes.

- Sinto, "amigo", mas já morri uma vez e agora VOCÊ é a bola da vez.

- Ora, o esqueleto fala!

- Mais que isso, imbecil! - Marfim põe seu punhal com o gume voltado para baixo e grita. - Inchinmy Ejoda! - As duas serpentes partem como flechas em direção ao alvo.

O alvo calmamente guarda as armas, ergue os dois braços e as serpentes se dissolvem no ar. Em seguida, empurra o braço direito para a frente com violência, como em um soco. Um raio parte e acerta Marfim Cobra.

A Unidade de Justiça é impulsionada para trás.

- Magia? Mas tão cedo?

- Eu aprendo rápido. - Diz o estranho, pouco antes de mais uma rajada de balas, mais uma vez inúteis em Marfim.

- Pelo que vejo isso vai demorar bem mais do que eu esperava. Deixe que me apresente. Sou Raio Azul, trabalho para o Governo. Não precisa se apresentar, você é o assassino dos treze.

- Então, pensas como todos?

- Exato, não sou cego. Agora, voltando a nós... - Dispara outro raio. Marfim sente uma dor pequena e é jogado um pouco para trás, mas, como da outra vez, sem cair.

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Recuperado do choque, começa a correr em direção ao Raio Azul. Aproxima-se aos poucos, até que... Outro raio. Dessa vez, Marfim vai ao chão. Uma gargalhada satisfeita preenche o silêncio.

- Finalmente as coisas começam a dar realmente certo.

- Agora chega! - Marfim se levanta, corre e salta pouco antes de outro raio passar próximo ao chão. Marfim cai pronto para o golpe, mas é inesperadamente tocado e tomado por uma corrente elétrica. Uma descarga bem maior que a de um daqueles simples raios. E o seguidor de Kin-Rá cai perante tão imenso poder.

"Ah... Agora chegou ao limite." Todo o seu corpo ósseo é preenchido por uma dor imensa. Com Marfim ainda no chão, tentando se erguer, o agressor elétrico o acerta com o cabo de sua bizarra arma automática. Marfim Cobra é jogado para trás, caindo de costas na rua.

- Miserável. - Ele revida com uma rasteira, ainda do chão. Raio Azul cai com uma forte dor na perna. Marfim se prepara para mais um golpe, ergue o punhal e...

- Aahhh... - Um grito vem de uma rua próxima. Marfim Cobra prontamente se põe de pé e corre em direção ao grito, deixando seu adversário jogado no chão.

- Espere! Ai. - Com alguma dificuldade, Raio Azul se levanta, para sair, quase que mancando, logo atrás de Marfim Cobra.

Algo está errado. Deve ser o verdadeiro assassino. Marfim corre como um predador ao identificar a caça entre as folhagens. Com fúria, chega ao fim da rua, de onde vê mais um corpo naquele estado. Parece um vigilante noturno, mas isso é irrelevante. O mais importante é que um vulto passou, no momento da chegada de Marfim Cobra, no fim da rua, entrando em uma perpendicular a essa. Marfim não pensa duas vezes, continua correndo e seus longos saltos logo o deixam na esquina. Uma praça. Uma praça cheia de árvores. Nem sinal do alvo. Uma praça e árvores... Isso é tudo para quem quer fugir. Se quiser tomar uma das muitas ruas que a cercam, é uma opção imperdível, ou você pode se esconder na própria praça. Mas algo diz ao seguidor de Kin-Rá que o assassino ainda está aqui.

- Hei, espere! Aonde você pensa que vai? Ainda não acabei com você! -

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Marfim se volta para trás e vê Raio Azul, incansável e mancando.

O esquelético paladino já estava no meio da praça nesse momento. Seus instintos o alertaram contra uma aproximação sorrateira mas, antes que pudesse ver do que se tratava, o nosso bravo herói é atingido por um golpe brutal e arremessado para frente. Cai a cerca de quatro metro do lugar onde estava. O agressor, em questão de segundos, desaparece novamente.

- O que está acontecendo aqui? - Raio Azul pergunta.

- Não percebe? - responde Marfim, enquanto se põe de pé. - Foi ele quem matou aquelas pessoas.

E sai em direção ao centro da praça. Atrás dele, movimentando-se tão rapidamente que não se pode saber de onde veio, surge um ser monstruoso, peludo e alto. Forte. Ele corre em direção ao Raio Azul. Este, apavorado, dispara um raio, mas o agressor salta e atinge com suas garras o Raio. Dois gritos ecoam na noite. Um humano e outro sobrenatural. Marfim foi atingido pelo relâmpago no mesmo instante em que seu disparador era atingido por garras mortais.

O seguidor de Kin-Rá se apoia e levanta, para ver mais um corpo destroçado. Desta vez o de Raio Azul. O agressor sumido espera alguns segundos e...

- Enfim, sós. - Marfim ouve uma voz bestial, lembra a Marfim uma voz de ogro, grave, rouca e intensa. A voz de alguém que quer ser ouvido. - Agora podemos conversar em paz.

- Não acredito. Como pode um monstro como você falar?

- Sem ironias, maldito. Como você pode falar isso depois do que fez comigo?

- O que fiz?

Marfim não tem resposta. Somente o silêncio da noite, e essa resposta parece ecoar infinitas vezes em seu crânio vazio...

Navegando em pensamentos, tentando encontrar uma resposta para sua própria pergunta, Marfim nem percebe o tempo passar. Quando menos espera, ouve um barulho de automóvel, vindo rápido. Rapidamente o carro da imprensa pára em frente à praça enquanto seus passageiros

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descem, começando a filmar o corpo de Raio Azul.

"Mais um corpo encontrado, vítima de uma criatura sobrenatural que tem nos aterrorizado há tantas noites. E lá está ele."

O cinegrafista ergue rapidamente a câmera para focalizar o local onde estava Marfim Cobra. Onde "estava", pois nada é registrado. A câmera treme um pouco enquanto seu portador tira da frente para ver com os próprios olhos. Ele não está mais lá. O repórter sinaliza o fim da gravação. O cinegrafista desliza a câmera e, segurando-a, esfrega os olhos enquanto se dirige ao carro. Antes de entrar, uma última olhada para confirmar o que já sabe. O carro vai embora.

Marfim corre para a praia. "Sorte que não me pegaram. Eles já acham que eu matei todo mundo até pouco tempo. Se me gravassem perto de Raio Azul, iriam ter certeza. Mais certeza do que já têm..." Pensa, enquanto corre. Já faz algum tempo que deixou a praça. Quando está a um passo da segurança...

- Olha ele aí! Filma!

O cinegrafista liga a máquina enquanto a coloca no ombro, e ajusta o foco. A imagem começa a se formar e ele vê a praia, as estrelas, e o lugar onde deveria estar Marfim Cobra. Mais um fracasso. Ele desliga a câmera e a tira do ombro.

- É. Isso mesmo... - o repórter está fora do carro, apoiado nele com um braço, enquanto sustenta o celular com a outra mão. - Não, não se preocupe, eu garanto. - Ele desliga.

- O que...

- Vamos ficar aqui. Cedo ou tarde ele vai aparecer. Eu negociei com o chefe: não precisamos trabalhar amanhã.

- E minha mulher e meus filhos? Estão me esperando, e... - o repórter estende a mão com o celular. - O que...

- Ligue e avise. É só esse o problema?

E a luz das estrelas contempla o silêncio: não há lua esta noite.

Mais uma noite. Marfim desperta. Segue em direção à cidade, e a

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encontra mais uma vez vazia. Caro leitor, será que a equipe de jornalismo resistiria cerca de vinte horas de espera? Certamente amanheceu e eles ainda estavam lá. Provavelmente só conseguiram uma boa bronca do chefe, por um dia de trabalho perdido.

Mesmo assim, algo estava errado, e Marfim sabia disso. Olhos o observavam, de vários lugares. Olhos ocultos nas trevas de Maceió.

Marfim parou por alguns segundos e olhou em seu redor. ...Não parecia haver nada que o pudesse vigiar. Nada além das estrelas. Mas havia algo mais. O bravo herói ignorou o que quer que o estivesse vigiando e foi em busca de bandidos para aumentar seu "escore". Corre pelas ruas da cidade. Parece uma noite normal. Assim pensa, até ver mais um assalto. Já estava longe do litoral e raramente costumava se distanciar tanto. Era um rapaz de boné vermelho e roupas sujas e rasgadas, como se quisesse parecer mais ameaçador, mas ele conhecia bem esse tipo.

Ele estava com uma faca, ameaçando um homem já de certa idade. Marfim Cobra vira cenas assim tantas vezes que não seria capaz de calcular seu número. Na época em que era apenas "Cobra". "É, certas coisas nunca mudam..." Para esse tipo, intimidação e medo é o que melhor funciona.

- Solte-o. - fala Marfim, em tom de voz grave. Nem seria preciso, pois sua voz já tem um tom sobrenatural, por natureza.

Ele empurra o velho contra o chão e corre sem sequer ver quem havia falado. Sorte dele, pois pelo que Marfim conhece desse tipo, ele se assustaria tanto que não conseguiria sequer fugir. Tudo normal: o assaltante fugiu.

- Obrigado. - fala o senhor em calças desbotadas e camisa de mangas compridas, com naturalidade. Cabelos brancos e por volta de sessenta anos.

"Que tipo de pessoa nos dias de hoje agradeceria a um esqueleto?!? Se nem antes achava isso possível, imagine agora. Há algo errado aqui." Pensa Marfim, e não deixa de ter razão.

- Desculpe-me, estou sem óculos. Poderia me ajudar a encontrar a porta?

Estaria explicado. Marfim toca cuidadosamente suas costas (para que não perceba que são de ossos suas mãos) e o dirige à porta da casa da qual

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estavam próximos.

- Aquele pirralho me quebrou os óculos. Vou ter que comprar outro par amanhã... - resmunga ele, o senhor de idade, enquanto abre o ferrolho da porta. - Obrigado mais uma vez.

- Não há de quê.

Marfim parte em busca de mais trabalho. Passa algumas casas, mas quando vira a primeira esquina ouve uma rápida seqüência de barulhos, parecendo golpes. Golpes bestiais. Vem da rua onde ele estava. Parecia vir de perto da casa do homem que estava sendo assaltado. Marfim volta para lá rapidamente. Enquanto se aproxima, ouve um barulho de pegadas. Rápido e baixo. Quando diante da casa, é então surpreendido pelo monstro da noite anterior, e das anteriores àquela. Ele saltou de dentro do jardim como um cavalo salta obstáculos. Ele saltou um muro de pouco mais de três metros, caindo bem em cima do paladino de Kin-Rá.

Uma rajada de pensamentos piora a reação de Marfim. "O velho estará bem?" "O que eu teria feito a este monstro?" "Por que ele viria a me seguir?"

Recebendo o forte golpe, Marfim vai ao chão, batendo o crânio. Enquanto no chão, o bravo justiceiro recebe vários golpes sucessivos. E não parece que voltará a si tão cedo. Uma rajada laranja-energia corta o ar e atinge a besta em cheio. Ela foge. Marfim, antes surpreso, agora fica ainda mais. Não sabe de onde poderia ter vindo aquilo.

Barulho e confusão que começaram há oito minutos. Um carro se aproxima rápido como um quadrúpede sedento ao avistar um oásis. A imprensa. Eles já souberam e estão vindo. O barulho do motor convida Marfim a voltar à Terra. A deixar para pensar mais tarde, na solidão do mar. Marfim se levanta quando o carro está próximo, e corre. Ele corre por algumas ruas quando percebe quão distante está do mar. Será muito mais difícil deixar o carro para trás. Então ele se vira e...

- Inchinmy Ejoda! - invoca as serpentes de energia e, logo após rápidos gestos para direcioná-las, Marfim corre.

As serpentes atravessam a distância que as separava do carro, como duas flechas, acertando em cheio os pneus.

Os "tripulantes" resmungam, enquanto o carro é obrigado a parar. Mas

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Marfim está muito distante para ouvir isso. Fisicamente, e mentalmente ainda mais.

"Como se não bastasse a besta me acusar de alguma coisa, ela me ataca e surge uma força que me ajuda." Ele corre: já está próximo da praia. "O que fiz a este monstro para que tenha tanto ódio de mim? E o senhor? Estará bem? Espere. E se..." Diante do mar ele pára, subitamente. "Não, não pode ser." Pensa e espera alguns instantes, como se precisasse se certificar de que era mesmo essa sua opinião. Marfim se vai, retorna às águas para esperar mais um anoitecer.

A noite caiu e já se vê o movimento reduzido. Não que sempre tenha sido assim, mas, depois dos "boatos", as pessoas se tornaram mais cautelosas. Passa um automóvel branco a uma velocidade talvez acima do permitido. Ultrapassa o sinal vermelho e segue em um estreito zigue-zague. Passa tão rápido que não nota a presença de alguém ali na praia. De um corpo branco-envelhecido, de um corpo que se aproxima mais da cidade. De um corpo ósseo, de Marfim Cobra. O motorista não o viu, ainda bem. O susto o faria bater e perder o pouco da vida que lhe restava. Mas o alguém da praia parece ignorar o carro, e corre em busca de ação.

"Sangue?" Sim. Um rastro de sangue. Gotas e gotas que sujam ruas em uma trilha-armadilha. Marfim a segue e já suspeita de alguém: aquele monstro que insiste ter sido vítima do justiceiro e assim diz que graças a ele é quem é. Marfim Cobra continua a seguir a trilha de sangue. Segue até encontrar um corpo no meio de uma praça. Um repórter. Com o pescoço cuidadosamente cortado, como uma galinha abatida. Ao seu redor, uma poça de sangue.

O céu e as estrelas iluminam o corpo, e ao seu redor as árvores se ocultam em suas próprias sombras. De repente um ser monstruoso pula de trás de uma delas. Um ser peludo, aterrorizante, mas que parece não ter surpreendido o paladino de Kin-Rá.

- Então vieste mesmo... - fala a horrenda besta.

- Então notaste...

- Sem brincadeiras, pilha de ossos, pois hoje não estou de bom humor.

- Certo, então... Por que fizeste isso?

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- Não lhe parece óbvio? Eu quero você.

- Mas por que tem me perseguido?

- Ora, hoje estás pra conversa?

- Eu quero respostas.

- Tudo bem, eu já disse, mas vou repetir. Você me tornou o monstro que hoje sou. Mais alguma coisa antes que possamos fazer nosso duelo definitivo?

- Sim. Eu não andei a enfrentar horrores no meu passado, pelo menos não de forma direta. Como podes me acusar de alguma coisa? Diga-me ao menos o que lhe aconteceu.

- Então queres mesmo saber? - fala o monstro. Ele faz silêncio por um curto intervalo de tempo, e prossegue. - O problema é que estás procurando no tempo errado.

Marfim fica surpreso, e ele prossegue.

- Por acaso te lembras de um automóvel perto de um certo cemitério? Enviaste-me a uma caverna, onde havia apenas um pouco de água e ratos. Tivemos que fazer fogueira com os bancos do carro e comer ratos para sobrevivermos. Bebíamos daquela água. Até que ela me tornou assim e, em pânico, matei meus capangas. Mas consegui fugir.

- Como é que é?

- Agora, a única coisa que quero na vida é o seu fim!

Ele salta contra o atordoado Marfim Cobra. E o ataca. Marfim só agora entende o motivo de sua ira. Após alguns golpes, o esquelético defensor é arremessado para longe. A monstruosidade corre velozmente para o lugar onde Marfim caiu, mas M. Cobra consegue reunir forças suficientes para se pôr de pé antes que a besta chegue.

- Ainda vai resistir? Ótimo, pois isso torna mais saborosa a minha vingança.

- Inchinmy Ejoda!

Marfim está com o punhal mantendo a folha voltada para baixo, enquanto a besta vem correndo em sua direção. Mas Marfim aponta para cima, no instante em que o monstro salta, como se previsse os movimentos do

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oponente. As serpentes o atingem e ele cai no chão.

- Bom, está melhorando. Vamos ver o que acha disso...

O monstro salta em Marfim, derrubando-o e o pressionando contra o chão. A dor é imensa.

Mesmo sob tanta dor, Marfim consegue lutar. Empurra. com as pernas, o monstro para trás, e se levanta. Mas o monstruoso adversário cai de pé e salta novamente sobre Marfim. M. Cobra rasga o ar com o seu punhal, deixando um rastro verde luminoso e um corte no agressor. A luta segue, golpe a golpe, a besta e o justiceiro alternam acertos e danos, até que ambos parecem fracos. A besta já está muito ferida, após um golpe brutal desferido contra seu ombro por Marfim Cobra. A peluda criatura sobrenatural pára - está a uma certa distância de seu adversário - , leva a mão direita ao seu ombro esquerdo, de onde sai sangue, e mais sangue. Ela então se vira e corre. Foge a uma velocidade inumana. Marfim apenas assiste à cena. Ele vê a besta fugir como louca a galope e desaparecer ao virar uma esquina. Um enorme e maravilhoso feixe laranja-energia preenche a rua optada pelo monstro como trajeto de fuga, iluminando toda a praça com um laranja-outono. Da mesma forma que surgiu, a luz desaparece.

Marfim, embora cansado, vê-se na obrigação de analisar o fato, afinal, o inimigo era seu, e a luz foi a mesma que o salvou do mesmo inimigo. Ele corre para a rua-alvo e vê um homem caído no chão, com queimaduras e pêlos ao seu redor. Atrás do cadáver, que tem um ferimento no ombro esquerdo, um vulto encapuzado. Ele começa a falar, com uma voz que parece estremecer a terra.

- Fimiq triunfou, mas não pode alcançar o próximo degrau de seus planos. Ele veio à Terra, na pele de um sueco, e está destruindo as cidades, aliado a seus servos zumbis. Você deve se juntar às outras forças de seu deus.

- Mas, onde ele está? Como chegarei lá?

- O segredo está em você. No que você pode, no que você quer.

Depois disso, o vulto simplesmente desaparece no ar como fumaça. "Bem, o que eu posso? Correr... não. A serpente energética! A serpente branca! O monstro disse que eu mandei o carro para uma caverna. Eu não pensava em nada. Talvez, se eu pensar no inimigo..." Ele concentra

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energia, ergue o braço e dispara a serpente. Ele corre, mas a serpente é mais rápida.

Frustrado, concentra energia novamente e dispara. Dessa vez mirando os próprios pés. Logo a serpente faz nele um casulo e some, deixando a rua deserta.