cyanzine #1

46

Upload: carlisson-galdino

Post on 07-Apr-2016

218 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

MinC, 1º de Abril e Canonical passeiam pela blogosfera

TRANSCRIPT

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported. Para visualizar uma cópia da licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/ ou mande uma carta para: Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California, 94105, USA.

Você tem a liberdade de:

• Compartilhar — copiar, distribuir e transmitir a obra. • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

• Atribuição — Você deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).

• Uso não-comercial — Você não pode usar esta obra para fins comerciais.

• Compartilhamento pela mesma licença — Se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob uma licença similar à presente.

Considerando que alguns dos artigos aqui publicados não são exclusivos da CyanZine, tendo sido incorporados a partir do site de seus respectivos autores, por vezes a licença do CyanZine se torna ainda mais restritiva do que a original (mas nunca menos restritiva). Portanto, convém visitar a publicação diretamente para o caso de se precisar de uma licença mais flexível do que esta.

Bem-vindos à segunda edição do CyanZine. Como vocês devem notar, a quantidade de artigos caiu um pouco, afinal eu coleto artigos para montar a linha editorial da revista e é diferente se coletar artigos em apenas um mês.

O tema recorrente de Ana de Hollanda e MinC é, provavelmente, o que mais chama atenção. A história continua. A situação não é boa para a sociedade. Não enquanto o Ministério da Cultura, que é um órgão que deveria atender a interesses da sociedade, se curva totalmente a grandes corporações, revertendo avanços e querendo impor sua vontade, mesmo que isso tenha um preço muito alto para todos nós.

A outra tag desta edição é o 1º de abril. Este ano tivemos alguns artigos interessantes por aí. O Google mesmo, brincou bastante. Eles anunciaram o Earkut, um brinco que esquentaria a orelha do indivíduo sempre que alguém estivesse visitando seu perfil no Orkut; o Gmail utilizado por gestos, dentre outras coisas interessantes.

Este ano, fiz mais uma mentira de primeiro de abril. Esta foi sobre um suposto projeto da Canonical para concorrer com o Android: o Humanoid. Sinceramente, a ideia é boa e eu utilizaria, eu acho. As coisas caminham sob neblina no Software Livre por esses dias. Desde que o Gnome 3 saiu e grandes distribuições anunciam rejeição ao Gnome-Shell. A esta altura, o Ubuntu já deve ter sido lançado e espero que na próxima edição tenhamos uma posição mais definida no cenário dos desktops.

Esta edição traz algumas charges do blog Vida de Programador, inclusive uma de primeiro de abril.

Vamos em frente com os projetos. Espero que apreciem também esta edição, que agora está sendo distribuída também em formato de texto plano (já dá pra ler em celulares mais simples e MP4 players). Qualquer coisa, é só entrar em contato.

Um grande abraço!

A foto desta edição foi tirada no dia 25 de outubro de 2008 por Phil

Photostream em Lisboa, Portugal. http://www.flickr.com/photos/iphil_photos/4407620244/

Technomyrmex JocosusUma das novidades de última hora da edição anterior do CyanCD terminou nem sendo tratada no CyanZine: a mudança do liveCD para o MacPup. Trata-se de uma distribuição GNU/Linux derivada do Puppy Linux, que vinha sendo utilizado anteriormente. A grande diferença é que o MacPup vem com o Enlightenment e se torna num ambiente muito agradável de se utilizar, ainda mais que o Puppy. Dá até vontade de instalar para usar mesmo. Ah, e ele já vem com o Firefox 4 também.

Após uma conversa com Alexandre Oliva sobre o CyanCD sendo totalmente livre, constatamos que falta realmente algo: os códigos-fonte precisam vir. Não necessariamente precisam vir junto, como todos nós, usuários de software livre, sabemos. Porém, quanto mais perto do “compilado” vierem, tanto melhor. Por isso, a partir da versão 11.4, o CyanCD será distribuído também como um pacote de fontes, além do ISO. De certa forma, foi justamente isso que justificou o lançamento da versão 11.4 agora em maio ao invés de, como estava nos planos, em junho.

Esses fontes, entretanto, não foram testados e tampouco os executáveis foram gerados por mim. Todos os executáveis foram obtidos diretamente na página do criador, local de onde também obtive os fontes. Qualquer problema, reportem-me!

Por conta disso, talvez o MacPup seja abandonado em versões futuras. Até o momento, não encontrei os fontes da distro, nem obtive resposta do mantenedor. Aguardando...

Uma outra consequência desta decisão de distribuir o código-fonte das aplicações que vêm no CyanCD, alguns softwares terminaram ficando de fora simplesmente porque, apesar de serem publicados como softwares livres, não encontrei os fontes.

As licenças livres em geral não exigem que o código-fonte seja disponibilizado junto com a versão executável. Elas exigem que, quando

solicitado pelo usuário, o código-fonte seja fornecido a custo mínimo. Porém, o ideal é que sejam disponibilizados juntos. O fato de dificultar o fornecimento do código-fonte de um projeto, a meu ver, não é uma coisa legal de se fazer. Terminei simplesmente removendo esses programas. Posteriormente, tentarei contato com os respectivos mantenedores para que essa situação seja resolvida de uma maneira melhor para a comunidade.

Promoções e EventosComo anunciado anteriormente, Escarlate II terminou e começou a ser publicada Warning Zone, como parte do projeto wzSync (sincronizar Revista Espírito Livre + Warning Zone + meu site). O livro Escarlate II (como os livros das séries anteriores) já está à venda na Bookess. http://www.bookess.com/read/7815-escarlate-ii/

Em breve, teremos uma promoção Revista Espírito Livre + Warning Zone, para ilustradores e desenhistas. Nada muito extraordinário, mas espero que se torne algo legal.

E por falar em promoções, vou sortear um leitor de livros digitais no final de maio. É a promoção Cordel Digital, comemorando o lançamento de um cordel com esse nome. O vencedor levará o leitor de livros com 21 cordéis digitais de minha autoria, além de alguns outros livros também meus. Para participar, vejam as instruções no TwitPromo. http://www.twitpromo.com.br/promocao/show/2ea2e2829311460db476ff203e553f98

Nós do GUSLA – Grupo de Usuários de Software Livre de Arapiraca - estamos correndo para realizar o I ESCLA – Encontro de Software e Cultura Livres de Arapiraca. O evento ocorrerá dias 27 e 28 de maio e trará como palestrantes convidados meus amigos Aurélio “Aurium” Heckert e Sergio Amadeu. As inscrições poderão ser feitas em breve. Quem quiser, dá um pulo aqui pra conhecer a capital do agreste alagoano! http://www.escla.com.br

Depois de mexer um pouco num Nintendo DS, foi me dando uma vontade de escrever um jogo! Já pensei em várias características. Um RPG eletrônico usando um ponteiro (de preferência Touch Screen) inspirado em um cordel meu. Se um dia for concretizar isso, será muito provavelmente em PyGame (ou em qualquer outra linguagem onde haja um bom framework para facilitar a criação de RPGs eletrônicos). De qualquer forma, a ideia vai ter que esperar mais.

Blackouthttp://www.carlissongaldino.com.br/poesia/blackout, 16 de novembro de

2005

Por Cárlisson Galdino

Paredes tão sólidas

Mas não posso vê-las

Às trevas, só a elas

Contemplo em silêncio

Figuras insólitas

Tortas caravelas

Cinzas, amarelas

Navegam o nada

Só o nada vejo

À luz do negrume

Tão sinistro lume

É noite se sabe

Peço que a luz volte

Antes que ela acabe

Ministra da Cultura seguindo os passos do Mexico na negociação com o ACTA: Fora!

http://www.trezentos.blog.br/?p=5673, 2 de abril de 2011

Por João Carlos Caribé

Os funcionários públicos que decidem usar seus cargos em benefício de interesses privados devem parar por um segundo e olhar em volta: o mundo em que vivemos mudou e os direitos autorais não vão parar.

A cantora e compositora Ana de Hollanda, atual Ministra da Cultura do Brasil, assumiu o cargo com o pequeno gesto simbólico de remover a licença Creative Commons do site do ministério, que todos entenderam como sinal de mudanças. A Ministra trouxe para si a tarefa de destruir o Projeto de Lei de direitos autorais mais progressistas do mundo, em troca de apoio das sociedades de gestão coletiva de direitos autoriais (ECAD) e da produção de profissional de vídeos de poemas de sua amiga Maria Bethânia.

Ana de Holanda decidiu autorizar o projeto de Bethânia de R$ 1,3 milhões para produzir um blog onde ela exibirá um vídeo postado por dia durante um ano. A fúria da comunidade criativa e blogueiros é evidente, com um pouco de talento e habilidades pode-se criar um blog. Além disso, por que um artista famoso necessitaria de tanto dinheiro público necessário para o seu blog e R$ 600 mil de salário como diretor artístico, e outros R$ 36 mil reais de pesquisa?

Brasileiros protestaram com o projeto mais poesia, menos dinheiro e foram às ruas para exigir os mesmos privilégios desfrutados por Maria Bethânia.

Além disso, Ana de Hollanda decidiu rever de novo o projeto da nova Lei de Direitos Autorais – que teve uma forte influência da sociedade civil, cujo principal objetivo é recuperar o equilíbrio de direitos autorais que haviam sido retirados de todos os criadores. Ela, assim como a indústria, vê o direito autoral como um salário.

Ana de Hollanda talvez deva se voltar para o México, onde Jorge Amigo, que chefiou o Instituto Mexicano de Propriedade Industrial por 17 anos – e como ela se virou para beneficiar o monopólio cultural em detrimento dos direitos dos cidadãos deixou o cargo. Em boa hora.

Como tudo sobre o ACTA, a sua saída foi obscura e não está claro se ele se demitiu ou foi demitido, e não há nenhuma declaração oficial. A verdade é que isto aconteceu às vésperas da reunião prevista para 16 de Março, da quarta reunião do Grupo de Trabalho do Senado Mexicano, foi cancelada e será realizada em 06 de abril, mas o principal negociador e responsável pelo ACTA no México, não vai estar presente para prestar as contas devidas a todos os mexicanos.

Jorge Amigo entrou para a história como um funcionário público que pediu ao governo dos EUA, para incluir o México no ACTA, em troca de ajuda de legitimar o tratado e para contrariar os esforços do governo brasileiro para modificar os direitos de patente, como evidenciado um cabo diplomático dos EUA para a Embaixada do México.

A estreita relação com o Jorge Amigo com o USTR dos Estados Unidos não é mais nenhum segredo e, aparentemente, Ana de Hollanda, também segue o mesmo caminho, pois o governo dos EUA são satisfeitos. Em uma entrevista ao jornal brasileiro Estadão, Holanda respondeu à pergunta:

“O que você discutiu com o secretário de Comércio, Gary Locke, durante a visita de Obama ao Brasil?

Ele está muito preocupado com a questão da liberação dos direitos. A flexibilização dos direitos de autor pode representar uma maior tolerância à pirataria. Isto diz respeito não apenas os EUA, diz respeito à indústria cinematográfica, edição e música. Eles estão com medo de que haja um declínio da produção.”

Lembra o Ministro Sinde? Enfim…

Cidadãos mexicanos usaram a hashtag #fueraAmigo e presidente Felipe Calderón pediu a demissão de Jorge Amigo. A resposta foi, provavelmente a demisão sumária, e sua opinião não foi levada em conta na tomada desta decisão, mas hoje, Amigo está fora.

A sociedade civil brasileira está respondendo da mesma maneira e como

os méritos são óbvios de que a Ana de Hollanda fora capturada por um monopólio do qual ela mesmo se beneficia. A hashtag #foraAnadeHollanda e #caiAnadeHollanda já estão começando a tomar força e o blog Fora Ana de Hollanda rapidamente enche informação contrárias à sua curta, mas conservadora e desastrosa gestão. Fora Ana de Hollanda é a mensagem.

Por que é que os cidadãos estão exigindo a demissão dos ministros da cultura da Espanha e do Brasil? Por que o negociador Mexicano do ACTA deixa o cargo sem explicação? Por que temos de aceitar um regime de propriedade intelectual gerenciado por funcionários públicos sequestrados e e em conluio com um monopólio?

Por que tolerar o abuso de poder e instituições? O copyright não vale a pena.

Jorge Amigo está fora, quem mais?

A cultura digital e o direito autoralhttp://www.trezentos.blog.br/?p=5707, 3 de abril de 2011

Por Fu-Xu

Manuela D’Ávila – Deputada Federal

Fabricio Solagna – Gabinete Digital RS

Artigo publicado no dia 05/03 no site congressoemfoco.uol.com.br

Estes primeiros dias de 2011 foram atribulados para o Ministério da Cultura (MinC) e para ativistas da cultura livre. Nestes três primeiros meses, a atual gestão do ministério alterou o licenciamento do site institucional e reverteu a proposta de reforma dos Direitos Autorais. Além disso, o MinC declarou que a principal política se concentrará no desenvolvimento de uma Indústria Criativa com forte valorização dos bens imaterias, através da propriedade intelectual.

Não faltaram, porém, vozes dissonantes. Principalmente dos ativistas da Cultura Digital e militantes do movimento do Software Livre. Por outro lado, há os defensores ferrenhos da mudança, que invocam questões de soberania nacional e de valorização dos artistas brasileiros. No entanto, surge nesse cenário uma terceira via que tenta mediar os dois lados desse debate. O fato é que, para além de rotulações, há duas distintas agendas em torno da propriedade intelectual em disputa.

Durante a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação da OMPI em Tunis, em 2005, o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, afirmou que se inspirava na ética hacker no seu modo de fazer política. Ele estava, de fato, pensando em como ser criativo ao driblar o modus operandi da política tradicional. O MinC se destacou internacionalmente naquele momento por ter como porta voz um representante da classe artística que estava pensando à frente do seu tempo. Não só por tentar utilizar tecnologias modernas, mas, principalmente, para emergir a diversidade cultural brasileira através das mídias digitais em um momento em que as

influências culturais são transnacionais. Muitos, no momento, afirmaram que o multiculturalismo falaria por si só. Falaram, ainda, que pensar em um possível remake do tropicalismo no século 21 seria um desatino. Gilberto Gil viu a necessidade de, nas suas próprias palavras, “politizar as novas tecnologias”.

Nestes últimos oito anos, houve pedras no caminho, por certo. Muitas das tentativas ficaram só no papel. Outras extrapolaram inclusive a capacidade do MinC de gerenciá-las. Os Pontos de Cultura, por exemplo, já ultrapassam 4 mil em todo o Brasil e atingem mais de 8 milhões de pessoas. Além disso, percebeu-se a necessidade e a potencialidade de uma outra agenda para o desenvolvimento cultural para além do tradicional caminho da indústria cultural. As mídias alternativas, as trocas culturais em rede e a inversão do financiamento público elucidaram um país que antes estava esquecido.

No cenário internacional, a agenda foi extremamente conservadora. Diversos países adotaram legislações rígidas em torno da circulação de bens culturais na Internet (são exemplos França, Espanha, Inglaterra, Austrália e México). Os EUA, desde 2001, adotam uma política dura. A chamada Digital Milenium Copyright Act já tentou prender diversos adolescentes e ativistas sociais por conta de possíveis “violações de direito autoral”. Essa política teve seus representantes no Brasil, através do projeto do então senador Eduardo Azeredo, chamado de AI-5 Digital (o que nos permite uma ideia do teor das propostas), fortemente combatido pela sociedade civil militante das práticas colaborativas em rede. A resposta veio com um abaixo-assinado com mais de 150 mil assinaturas contrárias à proposta.

No que tange a Propriedade Intelectual (PI), o Brasil sempre teve uma atitude de vanguarda. Propôs, junto com a Argentina e outros países, a agenda para o Desenvolvimento na OMPI onde, inclusive, pautou outro rumo para os bens intelectuais. Contra as investidas das indústrias do norte, conseguimos garantir preços menos abusivos para o coquetel anti-retroviral e uma punição aos subsídios agrícolas americanos que tanto prejudicam nossa produção de algodão. Isso porque sempre distinguimos que, dentro de PI, existiam dois direitos: o direito autoral e os direitos de propriedade industrial.

Colocados todos dentro do escopo da Propriedade Intelectual, na maioria

das vezes são empurrados como um pacote único para países em desenvolvimento, como medidas de “modernização”. É o caso recente do ACTA, um acordo antipirataria que está sendo ratificado por acordos bilaterais sem nem ao menos passar pelos parlamentos.

Direito Autoral e Creative Commons

Desde a retirada da menção do licenciamento do site do MinC, antes em Creative Commons (CC), no dia 20 de janeiro, a polêmica foi estabelecida. Além de um valor simbólico, estabeleceu-se uma forte tentativa de se opor Creative Commons ao Direito Autoral, ou como se o primeiro não fosse necessário.

O projeto Creative Commons se inspira fortemente no Copyleft, nas licenças de software livre que permitem o compartilhamento de conteúdo. Iniciativas como a Wikipedia são baseados neste conceito e só são possíveis porque existe Direito Autoral e porque se utilizam desse para estipular algumas reservas ao contrário. Não é à toa que o copyleft é conhecido também como “todos os direitos revertidos”.

O projeto CC teve origem com o advogado americano Lawrence Lessig, que lutou por anos. Ele perdeu para os principais lobistas da indústria hollywoodiana e resolveu, então, criar dispositivos legais que permitissem que as pessoas tivessem liberdade de criar e compartilhar conteúdos na Internet sem precisar passar por intermediários.

Os vídeos são antigos, mas para quem ainda não viu, indicamos este pequeno filme que explica melhor o projeto:

Nesse caso, é algo totalmente incoerente associar os commons com práticas de cópia ilícita, ou, como gosta de chamar a indústria do entretenimento, pirataria. A pirataria é a cópia não autorizada visando ao lucro. Isso é completamente diferente da cópia privada ou do licenciamento permissivo que indica ao outro o que pode ser feito com a obra.

Desde então, o projeto tem sido utilizado por diversos governos e tem ajudado artistas a terem uma relação mais direta com seu público. Casos não faltam: de Nine Inch Nails lá fora a Mombojó e Teatro Mágico no Brasil.

A ideia romântica do artista ou criador solitário que dedica sua vida às

obras é uma parte da história. Há uma complexa indústria cultural ressaltada inclusive pela ministra Ana de Holanda – à qual se somam diversos tipos de profissionais – como uma indústria lucrativa que abocanha o maior bolo da fatia do faturamento cultural.

O fato é que justificar a defesa do direito autoral em nome dos “verdadeiros artistas” que estariam sendo prejudicados pela atual Cultura Digital é uma distorção. A tendência à monopolização se percebe em escala mundial e, no Brasil, apenas cinco gravadoras dominam quase 90% do mercado.

“Valorização do artista nacional”

Um dos argumentos que vem sendo usado diz que as obras seriam expropriadas por “grandes corporações” sem a devida remuneração dos artistas. Em alguns casos, supõe-se que grandes corporações estivessem utilizando uma militância internacionalizada a seu favor. Bem, basta dizer que são as grandes corporações de mídia brasileira que não costumam repassar o direito autoral.

Em ponto, porém, temos que concordar: no caso dos escritórios de arrecadação, o Brasil tem um dos melhores sistemas de captação. No caso da música, o ECAD tem um dos sistemas mais modernos, inclusive, com reconhecimento de músicas automático das emissoras de rádio, por exemplo. Ocorre que, para além da radiodifusão, o escritório costuma cobrar por metro quadrado em shows, festas juninas em escolas, teatros e, inclusive, em cinemas, como bem levantou Jorge Furtado. Ou seja, o ECAD tem o melhor sistema de arrecadação e o pior sistema de distribuição. O que ativistas questionam é, por que captar tanto se não há redistribuição?

Mas direito vai além da música. A lei restritiva do direito autoral também propicia que muitas interpretações jurídicas causem desatinos. Já não são isolados casos de fechamento de xerox em universidades (temos o exemplo de 2010, na Praia Vermelha). A lei fala em “pequenos trechos” e realizadas pelo próprio “copista”, sem “intuito de lucro”. Sabemos bem que a maioria das universidades brasileiras não dispõe de todo o acervo necessário. O xerox acaba sendo o local de acesso ao material necessário para os estudantes.

Mas não é só isso. O grupo GPOPAI fez um interessante estudo sobre o

mercado editorial e, principalmente, sobre livros científicos e técnicos. O subsídio dado às editoras na forma de isenção de imposto, hoje, corresponde a cerca de 36% do seu faturamento. Além disso, chega a ser quase o dobro do investimento em cultura do MinC (quase R$ 1 bilhão por ano nos dados compilados de 2006). Não vemos nenhum problema na subvenção para o fomento da Cultura e, muito mais, quanto à produção de livros científicos. Mas a lei impede que eles sejam reproduzidos em caso de esgotamento da edição, por exemplo. Além disso, por que não adotar uma licença permissiva, no caso de livros didáticos, já que possuem uma venda encomendada pelo poder público na distribuição nas escolas?

Pirataria e perdas na indústria da Cultura

Quando se trata de pirataria, o Brasil figura como um dos países de maior preocupação no cenário internacional. Há muitos anos, o país vem sendo citado pela Section 301, uma lista unilateral norte-americana dos países que não possuem métodos suficientes de combate a cópias ilegais. Por isso, todo DVD que assistimos traz, obrigatoriamente, comercial produzido pelas distribuidoras norte-americanas. Esses comerciais afirmam que a pirataria de DVDs é um roubo similar ao assalto a mão armada.

Porém, uma pesquisa recente feita em diversos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, demonstra que a conexão entre pirataria e crime organizado é muito mais propaganda do que realidade. Além disso, não há relação alguma com tráfico de drogas. De fato, para além de tênis e marcas de roupas falsificadas, a produção de CDs e DVDs piratas representa um mercado com baixa organização dependente, muitas vezes, de fornecedores caseiros ou de fábricas de pequeno porte. Demonstra, também, que a principal motivação para o crescimento desse mercado continua sendo o alto custo dos produtos originais, que estão muito distantes da atual classe média emergente (hoje um CD custa cerca de R$ 30 e um DVD R$ 80).

Mas o mais impressionante é a fabricação de dados desconexos apresentados como científicos quanto às perdas do setor. Fala-se em R$ 6 bilhões em perdas e mais R$ 2 milhões de empregos que deixam de ser gerados sem nenhuma metodologia ou dados mais concretos a serem verificados. O estudo pode ser acessado gratuitamente aqui.

Porém, essas justificativas são usadas em tentativas de radicalizar ainda mais a vigilância na troca de arquivos na rede. É no que se fundamenta o AI-5 Digital e agora o ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement), que pretende implantar uma vigilância direta nos provedores de acesso que podem desconectar usuários imediatamente quando detectada uma suspeita de troca de arquivos protegidos por direito autoral. Seria um monitoramento em larga escala, a favor somente de grandes distribuidores capazes de mobilizar grandes recursos em prol de seus direitos de intermediários.

Novas leis e novos direitos

Mesmo que a reforma da Lei do Direito Autoral já tenha passado por oito seminários e por uma consulta pública na Internet, não temos qualquer problema de debatê-la novamente. O esclarecimento é o melhor caminho para todos os lados e, principalmente, para a clareza de que temos que trilhar um caminho de desenvolvimento em prol de um outro direito de propriedade intelectual, que valorize realmente os produtores de conteúdo, os produtores de cultura, e que permita a criatividade na rede e a liberdade de expressão.

Precisamos do Marco Civil da Internet, para que sejam estabelecidos os limites da privacidade, a neutralidade na rede, onde cada ator, nesse cenário, tenha seu papel definido, sem avançar o sinal da liberdade em nome de uma falsa segurança.

Assim como no caso da meia-entrada, somente grandes produtoras se opõem a um direito conquistado pelos estudantes. Poucos privilegiados pelo Direito Autoral têm-se colocado contrários a uma rediscussão do tema no sentido de uma redistribuição de direitos que valorize uma cultura digital do nosso tempo. Estamos em um momento em que a juventude tem diversos espaços para expressar sua arte e seu talento, politizando as redes com sua linguagem e com seu protagonismo. Será mesmo que precisamos reprimir a capacidade de criação em favor do direito que só privilegia a menor parte?

Um convite a ser mais livrehttp://www.trezentos.blog.br/?p=5712, 7 de abril de 2011

Por Tica

“Livre” é um adjetivo usado pra qualificar e definir, por exemplo, a cultura, a música, o trabalho, o mercado, a associação, o software, as relações, os povos, as pessoas…

Dar mais conteúdo ao “livre”, articulando vários aspectos da liberdade é um desafio e tanto, que não é necessariamente interessante pra tudo que se define como livre. O livre mercado dos EUA e das transnacionais, por exemplo, se chama de livre, mas (além de depender – e muito – dos Estados), se baseia na exploração do trabalho dos povos e no controle da biodiversidade e dos nossos territórios.

A “música livre” pode ser mais livre do que só das gravadoras e do ECAD.

O objetivo desse post é tentar contribuir com o debate sobre música livre, especificamente com o processo de construção do festival internacional de música livre, mesmo sendo só uma ouvinte. Assim como eu, tem muita gente que quer que a música livre contribua, ativamente, com a liberdade das mulheres. E por isso, já dissemos em alguns lugares que a música também tem que ser livre do machismo.

E, por que apostar que este – e não outro – processo de construção pode incorporar essa perspectiva, que é feminista?

Primeiro porque no principal movimento que impulsiona este festival (o MPB) tem pessoas, coletivos e bandas explicitamente feministas, ou que apoiam de alguma forma o feminismo. E porque a definição em torno da qual se organiza a proposta do festival se orienta a transformar estruturas marcadas pelo monopólio e concentração de recursos e poder, e a construir alternativas mais horizontais e democráticas. Além de ser um processo construído de forma ampla e aberta. E que é contra hegemônico.

E está escrito na convocatória do lançamento que a inclusão das mulheres é um aspecto do festival =)

Tudo isso não significa que o festival vai automaticamente incorporar de formaativa uma perspectiva feminista, mas é um processo que já tem a faca e o queijo na mão.

O discurso, que já existe, tem que ganhar forma e se transformar em prática.

Mas, por que mesmo???

Primeiro porque a organização da música livre se dá em uma sociedade que ainda exclui e discrimina as mulheres, uma sociedade que é ao mesmo tempo machista, racista e homofóbica. E qualquer iniciativa que a gente tenha nesse mundo, aqui e agora, pode reproduzir, mesmo de forma inconsciente, desigualdades e discriminações que dominam as nossas relações, que são valores hegemônicos.

A gente pode identificar alguns mecanismos machistas desse mundo de hoje e ver como se refletem na música.

1. Separação do que é trabalho de homem e trabalho de mulher, que a gente chama de divisão sexual do trabalho. É o mecanismo que historicamente exclui as mulheres do mundo público e que faz com que ainda haja uma super desigualdade salarial no Brasil. Mulheres ganham em média 67% do salário dos homens, as mulheres negras ganham menos que as mulheres brancas. Isso também acontece no mundo da música? Operador de luz, de som e holdies costumam ser homens, enquanto as mulheres geralmente costumam fazer maquiagem, cuidar do figurino d@s artistas e ficarem bonitas na porta recepcionando convidad@s. E quem toca bateria e guitarra? Na maioria das vezes, são homens. A gente sabe que não é por ter menos capacidade pra tocar instrumentos (e se você ainda achar isso, olha como você tá equivocado: Anne Paceo, Ellen Oléria,Esperanza Spalding, Some Community…). Então… até tem, mas são poucas mulheres instrumentistas. Por que??? E como muda isso?

2. Mercantilização do corpo das mulheres – tá presente nas propagandas de cerveja, na indústria do turismo sexual – em qualquer lugar que as mulheres sejam tratadas como mercadoria, julgadas e “valorizadas” a partir do seu corpo. E no mundo da música? Tem uns grupos musicais que tocam no Faustão em que o único espaço da mulher é dançando de

shortinhos, e tem que ter corpão. Muitas meninas que tocam em banda relatam que no palco são julgadas não pela música que fazem, mas pelo corpo, e por serem mulheres - fiu fiu, gostosa, etc é mais comum do que elogios ou críticas às mulheres pela sua produção como artistas.

3. Violência contra a mulher. A cada dois minutos, cinco mulheres são vítimas de violência no Brasil. 16% de mulheres já levaram tapas, empurrões ou foram sacudidas, 16% sofreram xingamentos e ofensas recorrentes devido a sua conduta sexual e 15% foram controladas a respeito do local aonde iam e com quem sairiam. Além disso, 13% sofreram ameaças de surra e 10% já foi de fato espancada ao menos uma vez na vida. A violência sexista, além da agressão física, pode ser de várias formas. E isso tem na música? O exemplo mais forte que vem na cabeça são as letras de música que legitimam a violência e desqualificam as mulheres, tipo “um tapinha não dói”, ou “Eu tô achando que esta mulher danada Ficou mal acostumada e tá gostando de apanhar Ajoelha e chora”, ou “Quero uma mulher que saiba lavar e cozinha, que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar”, ou “mulher finge bem, casar é negócio”, ou “Subi no muro do quintal e vi uma transa que não é normal. E ninguém vai acreditar, eu vi duas mulher botando aranha prá brigar… vem cá mulher deixa de manha minha cobra quer comer sua aranha” ….

A música pode ser livre do machismo!

E a convocatória do Festival aponta pra isso, ao afirmar que

“(…)Observamos uma histórica segregação das mulheres em determinados espaços na sociedade, da qual deriva a situação de discriminação, invisibilidade e desvalorização da produção das mulheres presente, ainda hoje, também no âmbito da cultura. Queremos, através do Festival, contribuir para a inserção das mulheres em todas as etapas do processo de produção cultural.”

Então, aqui vão umas ideias soltas que podem servir pra cumprir esse objetivo:

O machismo poderia ser um assunto presente nas discussões preparatórias do festival. Só de ser um assunto, isso passa a ter visibilidade, e vira uma questão que não pode ser ignorada. Como o machismo se reproduz na música e na cultura? Como é possível combatê-lo? O feminismo também pode ser um assunto =)

Poderia ter espaço pra aprender com as experiencias de festivais organizados com o objetivo de inserir as mulheres, como o mulheres no volante, o festival da mulher afro latinoamericana e caribenha, ou com a organização das mulheres no Hip Hop, enfim, tem várias experiencias. No Brasil e fora do Brasil – já que o festival é internacional. Um exemplo é a Gals Rock. Cada grupo que organiza estes espaços tem um monte de acúmulo pra socializar.

Poderia ter um incentivo concreto pra participação das mulheres. Na política, existem cotas mínimas para as mulheres, como uma ação afirmativa. E no festival da música livre, o que pode ser? Dá pra fazer um esquema tipo as cotas? Ou algum compromisso concreto de inserção das mulheres, oficinas específicas pra mulheres, ou outra forma que a criatividade coletiva inventar. E aí é legal pensar em todas as etapas da produção, e todas as partes que compõem o festival: as bandas, as produtoras, as técnicas, as debatedoras nas mesas, etc, etc, etc.

Poderia ter uma atividade preparatória que faça o debate sobre as mulheres na música, sobre música livre do machismo…

Já que o Festival faz referencia ao Forum Social Mundial, poderia ter alguma coisa parecida com a Politica de igualdade, proposta pela Marcha Mundial das Mulheres e a REMTE, e aprovada no FSM. Entre as definições dessa política estava a declaração do FSM como um território livre da violência contra a mulher.

Poderia ser critério pros patrocinadores ou fornecedores de cerveja a não mercantilização do corpo das mulheres em sua publicidade.

Poderia ser um monte de coisas, mas pra ser assim, tem que ser um objetivo do festival que a música livre também seja livre do machismo, contribuindo assim pras mulheres serem mais livres nesse mundo.

“Querer-se livre é também querer livres os outros.

Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”

(Simone de Beauvoir)

Carta aberta às mães e paishttp://www.trezentos.blog.br/?p=5776, 14 de abril de 2011

Por Ana Cláudia Bessa

Diante de uma semana tão complicada e difícil, um grupo de mães escreveu uma carta. Não temos a intenção ou pretensão de saber ou entender ou resolver a gravidade de tudo o que aconteceu. A dor nos levou a pensar em plantar uma semente de amor. Porque só o amor salva e precisamos ter uma fé inabalável nesta verdade absoluta.

O presente, um dia foi uma criança.

As crianças são o futuro.

Que futuro terão nossos filhos?

Aproveitamos o sentimento de indignação e tristeza que nos abalou nos últimos dias para convoca-los para uma mobilização pelo futuro das nossas crianças. A tragédia absurda ocorrida na escola em Realengo (Rio de Janeiro) é resultado de uma estrutura complexa que tem regido nossa vida em sociedade. O problema vai muito além de um sujeito qualquer decidir invadir uma escola e atirar em crianças. Armas não nascem em árvores.

A coisa está feia: choramos por essas crianças, mas não podemos nos deixar abater pelo medo, nem nos submeter aos valores deturpados que têm regido nossa sociedade propiciando esse tipo de crime. Não vamos apenas chorar e reclamar: vamos assumir nossa responsabilidade, refletir, trocar ideias e compartilhar planos de ação por um futuro melhor. Então, mães e pais, como realizar uma revolução que seja capaz de mudar esses valores sociais inadequados?

Vamos agir, fazer barulho, promover mudanças! Acreditamos na mudança a longo prazo. Precisamos começar a investir nas novas gerações: a esperança está na infância. Vamos fazer nossa parte: ensinar nossos filhos pra que façam a deles.

Se desejamos alcançar uma paz real no mundo,

temos de começar pelas crianças. Gandhi

O que estamos fazendo com a infância de nossas crianças?

Com frequência pais e mães passam o dia longe dos filhos porque precisam trabalhar para manter a dinâmica do consumo desenfreado. Terceirizam os cuidados e a educação deles a pessoas cujos valores pessoais pensam conhecer e que não são os valores familiares. Acabamos dedicando pouco tempo de qualidade, quando eles mais precisam da convivência familiar. Assim, como é possível orientar, entender, detectar e reverter tanta influência externa a que estão expostos na nossa longa ausência? Estamos educando ou estamos nos enganando?

O que vemos hoje são crianças massacradas e hiperestimuladas a serem adultos competitivos desde a pré-escola. Estão constantemente expostos à padronização, competição, preconceito, discriminação, humilhação, bullying, violência, erotização precoce, consumo desenfreado, culto ao corpo, etc.

O estímulo ao consumo desenfreado é uma das maiores causas da insatisfação compulsiva de nossa sociedade e de tantos casos de depressão e episódios de violência. Daí o desejo de consumo ser a maior causa de crime entre jovens. O ter superou o ser. Isso porque a aparência é mais importante do que o caráter. Precisamos ensinar nossos filhos que a felicidade não está no que possuímos, mas no que somos. Afinal, somos o exemplo e eles repetem tudo o que fazemos e o modo como nos comportamos. E o que ensinamos a nossos filhos sobre o consumo? Como nos comportamos como consumidores? Onde levamos nossos filhos para passear com mais frequência? Em shoppings?

Quanto tempo nossos filhos passam na frente da TV? 10 desenhos por dia são 5 horas em frente à TV sentados, sem se movimentar, sem se exercitar, sendo bombardeados por mensagens nem sempre educativas e por publicidade mentirosa que incentiva o consumo desde cedo, inclusive de alimentos nada saudáveis. Mais tempo do que passam na escola ou mesmo conosco que somos seus pais!

Porque os brinquedos voltados para os meninos são geralmente incentivadores do comportamento violento como armas, guerras, monstros, luta? A masculinidade devia ser representada pela violência?

Será que isso não contribui para a banalização da violência desde a infância? Quando o atirador entrou na escola com armas em punho, as crianças acharam que ele estava brincando.

Nós cidadãos precisamos apoiar ações em que acreditamos e cobrar do Estado sua implementação, como o controle de armas, segurança nas escolas, mudança na legislação penal, etc. Mas acima de qualquer coisa precisamos de pessoas melhores. Isso inclui educação formal e apoio emocional desde a infância. É hora de pensar nos filhos que queremos deixar para o mundo, para que eles possam começar a vida fazendo seu melhor. Criança precisa brincar para se desenvolver de forma sadia. É na brincadeira que elas se descobrem como indivíduos e aprendem a se relacionar com o mundo.

Nós pais precisamos dedicar mais tempo de convivência com nossos filhos e estar atentos aos sinais que mostram se estão indo bem ou não. Colocamos os filhos no mundo e somos responsáveis por eles! Eles precisam se sentir amados e amparados. Vamos orientá-los para que eles sejam médicos por amor não por status, que sejam políticos para melhorar a sociedade não por poder, funcionários públicos por competência e não pela estabilidade, juízes justos, advogados e jornalistas comprometidos com a verdade e a ética, enfim!

Precisamos cobrar mais responsabilidade das escolas que precisam se preocupar mais em educar de verdade e para um futuro de paz. Chega de escolas que tratam alunos como clientes.

Não temos mais tempo a perder. Ou todos nós, cedo ou tarde, faremos parte da estatística da violência. Convidamos todos a começar hoje. Sabemos que não é fácil. E alguma coisa nessa vida é? Vamos olhar com mais atenção para nossos filhos, vamos ser pais mais presentes, vamos cobrar mais da sociedade que nos ajude a preparar crianças melhores para um mundo melhor!

Nossa proposta aqui é de união e ação para promover uma verdadeira mudança social. A mudança do medo para o AMOR, do individualismo para a FRATERNIDADE e para a EMPATIA, da violência para a GENTILEZA e a PAZ.

Ana Cláudia Bessa www.futurodopresente.com.br

Cristiane Iannacconi www.ciclicca.blogspot.com

Letícia Dawahri http://sorrisosdaalma.blogspot.com

Monique Futscher www.mimirabolantes.blogspot.com

Renata Matteoni www.rematteoni.wordpress.com

Se você gostou do conteúdo e quer se juntar à nós, publique esta carta agora em seu blog e vamos todos juntos mostrar que queremos uma sociedade melhor e que estamos prontos para o desafio de criar pessoas melhores.

Não tem blog? Mande a carta por e-mail aos amigos, dissemine esta idéia.

Além disso, vamos imprimir e levar para a escola de nossos filhos para conseguir que ela seja distribuída nas agendas aos outros pais. Vamos agir, vamos movimentar a sociedade. Vamos mostrar a importância que a presença dos pais tem na vida das crianças, futuros cidadãos.

Vieram nos chamar, nós estamos aqui, o que é que há!

Fundamentalismo Cristãohttp://www.saindodamatrix.com.br/archives/2011/04/fundamentalismo.ht

ml, 9 de abril de 2011

Por @acid0

Embora a conclusão pareça chocante ou pedante, é preciso encarar com frieza a situação em que nos encontramos e separar o joio do trigo. Existem denominações cristãs que se baseiam fundamentalmente no Velho Testamento. Como já disse aqui, é mais fácil de arranjar desculpas pra o dízimo no Velho Testamento. O problema é que, enquanto o Velho Testamento é estudado com afinco e cuidado pelos judeus (de preferência em HEBRAICO, a língua original), preservando muito mais uma interpretação espiritual do que uma literal, os nossos cristãos são exatamente o oposto: incultos quanto ao significado histórico e social do que lêem, vítimas das interpretações distorcidas dos pastores (que ficam usando frases aleatoriamente em contextos diversos) e profundamente impressionáveis. São presas fáceis do fundamentalismo.

O assassino usou em sua carta de despedida termos como "impuros" de forma puramente sexual (pessoas que tiveram relação antes do casamento ou que praticaram adultério) igonorando que no Evangelho uma pessoa pode ficar "impura" por mil outras razões (comer porco, por exemplo). Não consigo tirar da cabeça que a maioria esmagadora das vítimas foi de meninas, o que pode ser OUTRA distorção religiosa da cabeça dele, de que as mulheres como um todo são "impuras" (no judaísmo elas só ficam "impuras" no período de menstruação). Querem ver como isso é possível? Pesquisei no Google as palavras "mulheres impura" e um dos primeiros links me levou a um site que contém generalizações que acabam por englobar a mulher, em seu aspecto sensual, como IMPURA:

“São sete pecados... O pecado da impureza, também conhecido pelo nome de “luxúria”, a princípio não parece ser muito venenoso. Ele vem disfarçado em beleza, em algo desejável e vantajoso.., o diabo embala a impureza como se fosse uma jóia preciosa, e a sua aparência tem iludido os homens mais fortes do mundo.”

Pronto. O homem sem discernimento que ler isso (ainda mais um esquizofrênico passando por sérios problemas de rejeição) vai associar

imediatamente a luxúria à mulher, e a mulher ao diabo. E continua:

“A impureza tem a ver com todos os tipos de pecados relacionados com o sexo.

Ela está presente na vida de quem tem apreciação por revistas eróticas, ou filmes e programas de televisão desse tipo...

A impureza está presente no namoro com beijos, abraços e carícias íntimas, em locais públicos ou escondidos, ao ponto de levar o casal à excitação sexual.., isso é impureza!

A paixão por piscina ou praia, onde os homens vão interessados em ver mulheres sensuais e onde as mulheres vão interessadas em mostrar seus dotes físicos tentadores.., é impureza. Não é impuro frequentar piscina ou ir à praia, mas a motivação pode ser impura.

A impureza também está presente nas conversas com palavreados obscenos ou palavrões e em certos gestos do corpo.”

Agora temos um prato cheio pra o fundamentalista olhar pela sua janela e apontar uma impura a cada 2 minutos. Nossa sociedade exala sensualidade, as roupas são mínimas, o jeito de andar das brasileiras é naturalmente sensual, e infelizmente essa sensualidade exarcebada chega cada vez mais com força em nossas crianças.

“Sabe, o pecado de cor vermelha carmesim, hoje tem ganhado cores e zomba do moço e da moça que buscam uma vida pura e limpa...

No tempo da escravidão no nosso país, os escravos eram identificados pela marca do seu dono. Assim também acontece quando as pessoas se deixam dominar pelo pecado... as marcas dele ficam estampadas, bem nítidas, nos escravos do pecado.

Você sabe, alguns têm olhos vermelhos... outros têm olheiras, aquela cor cinza-azulado em volta dos olhos.., outros tem as bochechas do rosto inchadas...

Os que são escravos do pecado do orgulho, tem o sobranceiro levantado.., os que são escravos da impureza, tem o olhar lascivo, sensual, marcas bem nítidas de suas perversões...”

WTF!? Agora os impuros podem ser identificados? A esquizofrenia aqui alcança seu apogeu. Primeiro com a diferenciação dos "moços que buscam uma vida pura e limpa" (lembram da carta?) e os impuros com certas "marcas" que deixam muito pra imaginação do louco que se identificar com esta paranóia.

“Ninguém também deve subestimar o poder da impureza.

Sansão, o homem mais forte da História, brincou com a impureza... fez dela uma espécie de esporte, pensando que podia controlá-la.., mas acabou sendo controlado por ela, porque a impureza arruinou toda a sua vida.

O rei Davi também se deixou levar pelo engano da impureza, e num momento de fraqueza, foi dominado por ela... teve anos de vida muito tristes, até que se arrependeu e voltou para Deus.”

Novamente, duas referências a mulheres, agora chamadas literalmente de "impurezas". E o único modo de se limpar das impurezas é aceitar Jesus.

O que Jesus acharia disso tudo? Olha, ele tem uma resposta:

“Hipócritas! bem profetizou Isaias a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem.”

(Mat 15:7-11)

“Nada há fora do homem que, entrando nele, possa contaminá-lo; mas o que sai do homem, isso é que o contamina. [Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.] (...) Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem.”

(Mar 7:15-23)

Ou seja, não tem nada a ver com diabo, beleza, sedução, mulher, sexo, coisas EXTERNAS, mas sim do seu CORAÇÃO. Seus PENSAMENTOS. Se seus pensamentos gravitam em torno de quão impuro é seu vizinho gay, ou o quanto aquela mulher está "perdida" por se divertir na balada a chance de que os SEUS pensamentos impuros estejam deixando VOCÊ impuro é muito maior do que aquele que você está julgando ser de fato impuro. Nunca esqueça da soberba (listada ali em cima) e de que Jesus não julgou a mulher adúltera.

Outro fato digno de nota que distingue a natureza de Jesus da do Velho Testamento é no episódio de Elias, descrito em II Reis 1:9-12:

O rei Acazias adoeceu e pediu a mensageiros que fossem consultar Baal-Zebube, deus de Ecrom, sobre sua saúde. Eis que Elias ficou sabendo e disse aos mensageiros: "Por acaso não existe Deus em Israel, pra você ir consultar o outro?". Então o rei enviou um capitão com cinqüenta soldados para buscar Elias, o tisbita. O capitão achou Elias, e ordenou dizendo: "Homem de deus, o rei diz: Desce conosco". Elias respondeu: "Se eu sou homem de Deus, desça

fogo do céu, e te consuma a ti, e aos teus cinqüenta”. E desceu fogo do céu, e os consumiu. O rei mandou outro capitão com mais cinqüenta, e o episódio se repetiu. Morreram 102 pessoas inocentes, tudo pra provar que o Deus de Israel é quem devia ter sido consultado pelo rei, no lugar do deus do vizinho.

O que Jesus acha disso? Em Lucas 9:51-56 Jesus estava indo pra Jerusalém e enviou dois mensageiros na frente, pra lhe reservarem uma pousada numa aldeia de samaritanos. Ora, os samaritanos (que nem se consideram judeus) negam estadia a Jesus! Mas que despeito, pensam logo seus discípulos, Tiago e João. Como ousam? Tomados de brio, eles disseram a Jesus: "Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?" (como Elias também fez). Jesus, porém, repreendeu-os e disse: "Vocês não sabem qual tipo de espírito vocês são. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las". E foram para outra aldeia.

Eu fui procurar no original grego pra conseguir essa frase em negrito na tradução mais próxima do fiel, pois sinto que ela possui uma profundidade pra se meditar por dias, meses, quiçá uma vida. Dois dos discípulos de Jesus, entre eles João, o evangelista (talvez o "discípulo mais amado" por Jesus), carregados de soberba, tramam contra a vida daqueles que, por crenças e pensamentos diferente dos deles, lhes negam alguma coisa que não lhes é de direito (importante frisar). Procuram invocar a ira de Deus contra os "infiéis", mas o que Jesus lhes diz? "Vocês não sabem qual tipo de espírito vocês são". Desmontou-os. De "Portadores da Vontade de Deus na Terra" a NADA em uma frase. Estavam completamente enganados... que bom que havia um Jesus ali para lhes dizer. E quantos aqui não têm?

Humanoid: o novo S. O. da Canonicalhttp://www.carlissongaldino.com.br/post/humanoid-o-novo-so-da-

canonical, 1 de abril de 2011Por Cárlisson Galdino

Na última conferência, a Canonical, empresa responsável pela distribuição Ubuntu Linux, anunciou que vai entrar no mercado de Sistemas Operacionais para dispositivos móveis, concorrendo com o iOS, o Windows Phone e, mais diretamente, com o Android.

Na ocasião, Mark Shuttleworth declarou sua insatisfação com o Android. "Não é um sistema amigável o bastante. O Google investiu muito, mas eles tentam fazer as coisas do jeito deles, não ouvem os outros. Dessa forma, terminaram incorrendo em decisões de projeto não muito felizes."

Segundo Shuttleworth, o Android peca desde o início, nas tecnologias que adotou. "O Humanoid já está sendo desenvolvido em C++, utilizando como base o AGTK, uma simplificação que fizemos do GTK+ especialmente para isso. O C++ será utilizado como linguagem principal e utilizaremos um sistema de empacotamento baseado no deb". A que aparece nas siglas dos subprojetos do Humanoid é uma referência ao Ayatana, projeto que engloba o Unity, a nova interface do Ubuntu. O Unity, a propósito, ganha uma versão modificada para se tornar o coração do Humanoid.

Eles prometem divulgar a API e liberar o Humanoid no dia 28 de abril, junto com o lançamento do Ubuntu 11.04. Já foi revelada a existência de contratos com alguns fabricantes (até o momento, já foram citadas a Motorola e a Palm) prometendo lançamento de produtos com o novo SO ainda em dezembro deste ano.

Não sei se justifica a criação de um novo SO agora que o Android está tão forte, mas pelo menos esse novo SO será também livre. De qualquer forma, depois da ruptura com o GNOME em função do Unity, essa nova decisão estratégica da Canonical já está causando polêmica.

Um turbulento abril para o Software Livre em Desktops

http://www.carlissongaldino.com.br/post/um-turbulento-abril-para-o-software-livre-em-desktops, 7 de abril de 2011

Por Cárlisson Galdino

Apesar de ser natural e desejável que se evolua, às vezes a evolução é drástica demais e às vezes certos grupos só a pioram ao invés de ajudarem a suavizar as mudanças. Sim, estou falando do turbulento mês de abril para o Software Livre em desktops.

Este é o período em que sai o revolucionário GNOME 3 (já saiu último dia 6) e sairá o Ubuntu 11.04, primeira versão após a polêmica decisão de substituir o GNOME pelo Unity em sua edição desktop.

Primeiro, que eles estão inteiramente no direito deles. A gente sabe da antiga história de diferenças conceituais na cabeça da Canonical e no HIG (Human Interface Guidelines) do GNOME. Também o GNOME deve muito do seu sucesso atual à Canonical. Foi a Canonical que apostou no GNOME 2 quando todos já tinham ido para o KDE. Então, nem se pode reclamar tanto.

Agora, quanto às mudanças. O GNOME 3 é revolucionário em muitos pontos. Todo o conceito de desktop foi remodelado. Não há mais os menus no topo e sim paineis de aplicativos no fundo da área de trabalho, como se fossem um desklet. Há uma barra de acesso rápido a aplicações no lado esquerdo, que lembra os docks da Apple. Não há mais botões de maximizar e minimizar, só fechar, e a gestão de áreas de trabalho é dinâmica. Os aplicativos estão também mais integrados ao ambiente. Isso dentre muitas outras mudanças, que trarão dificuldades de início para os usuários, mas na promessa de melhorar sua experiência com computadores, diminuindo a distração, facilitando o acesso aos recursos e aplicativos, etc, etc, etc.

Resumindo, é uma nova fase, uma fase delicada em que os usuários terão

que reaprender, afinal o GNOME 3 é bem diferente de tudo. Justo nessa fase difícil, a Canonical vem com uma alternativa ao GNOME, o seu Unity, que foi criado inicialmente para netbooks e agora é o ambiente desktop oficial do Ubuntu.

O Unity é muito parecido com o GNOME 3 em alguns pontos. Tem uma barra de docks no canto esquerdo da tela, por exemplo, e também trocou os menus por menus desklets-like. Porém, tem algumas mudanças outras. Os três botões (minimizar, maximizar e fechar) continuam no canto esquerdo da tela. E uma mudança que aproxima ainda mais o Ubuntu do MacOS: a barra de menu das aplicações acaba de voar para fora da janela onde nós - os que não somos usuários da Apple - estamos acostumados a vê-la: para o topo da tela.

Não dá pra negar que o GNOME tá com um visual bem atraente, mantendo a simplicidade, mas muito bonito. O Unity mantém o estilo do Ubuntu, acrescentando o colorido dos ícones laterais. No fim, cada um tem o direito de fazer as mudanças conforme acredite ser o caminho certo, mas, sinceramente, fico pensando nas consequências disso tudo.

Como ficam os usuários, tendo que se adaptar à força? Eles se verão obrigados a mudar o conceito para continuarem no Ubuntu de que aprenderam a gostar, agora no Unity, sem terem um porto seguro para onde voltar, caso não se adaptem, já que o GNOME também não será o que eles conheceram.

E como ficamos nós, militantes e divulgadores de Software Livre, que a muito custo conseguimos mostrar a algumas pessoas que valia a pena migrar para Ubuntu? Com que cara vamos dizer a eles: “Olha, o Ubuntu agora está com um ambiente diferente! Totalmente diferente, mas está melhor! Mais parecido com o MacOS!”? (como quem imitar os outros é algo que engrandece) Ou quando nos falarem empolgados sobre o Ubuntu, diremos: “Ah, esqueça! O Ubuntu traiu o GNOME e inventou uma parada só deles. Você tem que conhecer agora é a distro GXYZ, que continua trazendo o GNOME” (...e o usuário vai lá e vê que esse GNOME é algo totalmente diferente do Ubuntu que ele conheceu).

Talvez esta seja uma grande oportunidade para os outros desktops crescerem. Temos o Enlightenment, que finalmente chegou à versão 1.0. Por seu visual refinado, com uma melhorazinha pode se tornar um

desktop realmente cativante para os usuários todos. Ou o XFCE, que será para os usuários muito mais parecido com o GNOME do que o novo GNOME, além de mais leve. Seria a vez dele se firmar mais, aumentando sua fatia no mercado? Ou seria o momento de apoiar o velho rival, o sólido e firme KDE?

Sinceramente, não sei ainda que posicionamento tomar sobre essa polêmica toda. Espero, cá no meu canto, esse turbulento abril passar para enfim decidir de que lado vou ficar nessa zona toda. (e acho que tá quase todo mundo assim também)

Vida de Programador

http://vidadeprogramador.com.br/2011/04/01/cliente-satisfeito/, 1 de abril de 2011

Vida de Programador

http://vidadeprogramador.com.br/2011/04/08/sistema-com-virus/, 8 de abril de 2011

Vida de Programador

http://vidadeprogramador.com.br/2011/04/09/software-proprietario/, 9 de abril de 2011

Marfim Cobra – Parte 2/8Marfim Cobra está disponível na íntegra em

http://www.carlissongaldino.com.br/sites/default/files/marfimcobra.pdf e para venda em http://www.bookess.com/read/7286-marfim-cobra/

Por Cárlisson Galdino

Dia: sexta-feira, 13 de março. Hora: 01:37. Lugar: Maceió, Alagoas. Está tudo em penumbra e sem movimento. Dia e hora perfeitos para algo fora do comum acontecer.

A cidade dorme. Alguns poucos permanecem acordados, mas as ruas descansam. O oceano morno parece mais calmo. Suas praias descansam. Tudo parece normal visto daqui. Tudo parece repousar. Mas nem tudo descansa. As ondas: começam a se movimentar e algo surge de suas águas. Vestes encharcadas. Um pé esquelético pisa a areia seca. Marfim está aqui. Olha a cidade. Aonde ir hoje?

Marfim Cobra prefere as ruas desertas. E ele segue por algumas destas até que encontra alguma atividade anormal. É alguém saindo de casa. Uma garota. Qualquer coisa é anormal a essa hora da noite. Marfim resolve discretamente seguí-la. Anda atrás dela, a uma distância segura. Ela o percebe se apressa. Anda rápido por ruas escuras. Marfim a segue. Na sua frente está um rapaz, em pé, encostado em um muro. Ela corre em sua direção. Marfim vai atrás. Ao se aproximar o rapaz grita, já com ela ao lado.

- Deixe ela em paz.

Talvez Marfim tenha ido mesmo longe demais. Seguir alguém desse jeito não parece certo. Decide ir embora. Rostos surgem na casa atrás deles enquanto o nosso herói anda para o outro lado da rua.

- Espere! Isso não vai ficar assim, não. - O rapaz corre em direção a Marfim Cobra. Claro que alguém em circunstâncias normais não faria

algo assim, mesmo por haver a possibilidade de se tratar de um mal-entendido. Mas, convenhamos, alguém que fica à madrugada na calçada, de pé, esperando nada, tem boas chances de já não estar em fase de sã consciência.

Ele se joga no ombro de Marfim e o puxa, pronto para socá-lo no rosto. Marfim se esquiva e segura o braço do agressor. Aperta, com força, e vai embora após largá-lo no chão.

O rapaz se levanta e salta contra Marfim, abraçando seu pescoço. Marfim não tomba. Seu capuz cai. Marfim dá um soco no estômago do incômodo rapaz, cobre novamente o rosto e vai embora. Agora, sem problemas.

Segue por ruas desertas e nada mais encontra. Como sempre, ele volta para as águas antes do amanhecer.

"Nada de errado hoje... Não sabia que os ladrões de hoje eram tão supersticiosos." Na verdade, sempre foram, mas ele vivia numa classe ladina mais importante. Entre os mais ousados.

Mais uma noite. Mais uma vez Marfim abandona as mornas águas oceânicas para agir, lutando pela justiça, pela própria liberdade.

De repente, Marfim ouve um barulho de motor, automóvel. Um carro se aproxima e reduz a velocidade ao ver um vulto com roupas velhas e molhadas. Marfim tenta imaginar o que eles querem. São três adolescentes no tal carro. Eles sacam pistolas automáticas e começam a disparar contra Marfim Cobra, que, claro, não sofre com isso. ...pelo menos não fisicamente.

"Será que eles me reconheceram? Ou pretendiam matar um mendigo? Pois matarei três miseráveis de uma só vez." Marfim concentra energia para seu poderoso golpe, aponta o braço direito para o automóvel. Parte uma serpente energética branca, que enrola todo o carro em um casulo, e desaparece. "Melhor me apressar. Como ontem não houve muita coisa errada, há boas chances de que eu hoje tenha uma noite cheia."

Marfim Cobra olha as opções e escolhe uma rua. Não porque veja crime, não por ser deserta, por escolher. Ele anda por tal rua quando outra lhe chama a atenção, por chamar. E ele altera sua trajetória, quando passa por uma loja, e algo parece anormal. Dessa vez nitidamente anormal. Há pessoas tentando arrombá-la. Marfim, sem pensar, dispara outra serpente

energética branca e um dos cinco homens que havia ali some. Corre então contra eles, que ficam imóveis, surpresos.

- Hei, quem é você? O que pensa estar fazendo?

Marfim se vira. É um homem vestido como guarda e empunhando um revólver. Belo truque, mas não bom o bastante para enganar o velho ladino, que saca seu punhal e grita, entre os tiros do fardado: "Inchinmy Ejoda". Uma serpente ataca o tal fardado e a outra um dos quatro homens restantes. Marfim se aproxima com passos frios.

- Não tenho dinheiro, esqueci a chave na loja. Pode levar tudo mas me deixe viver - desespera-se um deles.

"Mas não pode ser. Será? Se for assim eu terei matado três inocentes. Não pode ser." Marfim recua e parte rapidamente. Parece estar se dirigindo à praia. Sim, ele está. Atravessou a rua. Está na areia, indo ao oceano. Certamente o fato de ter errado o aterroriza e provavelmente não mais agirá esta noite. Terá de lutar contra o fantasma de seu erro. E, nessas batalhas, normalmente só há um vencedor...

Marfim se levanta das águas. Prometeu para si que nunca cometeria algum erro como aquele. Ele pisa o chão firme. Olha para os lados (como era de se esperar, talvez, as ruas estão desertas). Ele atravessa, segue por caminhos sombrios e consegue impedir dois crimes. Enquanto anda pelas ruas é surpreendido por um grupo que surge como que do nada, e se alinha à calçada. Estão armados. Estranhamente armados. Alguns empunham pistolas, outros armas de brinquedo. Alguns usam crucifixos e dentes de alho.

"Palhaçada..." Pensa Marfim ao ver a estranha cena. E quem seria capaz de lhe tirar a razão sobre tão estranho fato?

- Fogo! - grita um deles.

Marfim começa a concentrar as estranhas energias quando seus inimigos abrem fogo. "Água?" É o que parte das armas de brinquedo, enquanto as balas o atingem tendo a reação costumeira. A água impede a conclusão do ritual.

Um grito sinistro preenche o silêncio da noite. O grito de um justiceiro, o grito de Marfim Cobra. Os atiradores dão um passo à frente. Os mais impulsivos correm. Mais balas são disparadas e os que iam na frente vão

ao chão. Uma nova figura acaba de entrar em cena.

"Formiga!?" Marfim pensa, caído no chão.

Uma guerra começa. Tiros de um lado, tiros do outro. O homem que acabou de entrar atira poucas vezes. A cada tiro, um inimigo vai ao chão. Os outros desistem de lutar e resolvem fugir. "Covardes." O pistoleiro se aproxima do sub-consciente Marfim Cobra. Usa uma farda. É um tira. Abaixa-se.

- Então você existe de verdade? - Fala, surpreso ao ver o rosto esquelético de Marfim. Mostra uma certa serenidade para alguém que vê um esqueleto vivo. Ele o pega e se vai. A partir daí, Marfim, além de não ver nada, também nada ouve...

Marfim abre os olhos e, aos poucos, vê o céu, as nuvens. Ergue-se para ver um homem fardado na sua frente, então entre árvores.

- Calma. Não se preocupe. Estou do seu lado. Seu deus falou comigo. Nem sei como pude acreditar em outro deus, mas cá estou. E vou te ajudar. Você foi acidentalmente o responsável pelas mortes de uns dias atrás, não foi? - Marfim responde com a cabeça. - Eu posso tentar ajudá-lo para que não cometa mais esse erro. Posso tentar descobrir onde haverá crimes e dizer a você. O que acha?

- Bom. Você, por acaso, tem alguma "bola de cristal"?

- Não, mas posso tentar conseguir alguns informantes. Como você foi ladrão, deve entender do que estou falando.

- Kin-Rá também lhe disse isso?

- Disse.

- Bom. O que posso fazer? Aceito tua proposta, mas... e como entrarás em contato comigo?

- Onde você vive?

- Kin-Rá não lhe contou isso?

- Não.

- Eu passo todo o dia e parte da noite sob as águas.

- Complicou um pouco, mas daremos um jeito. Tenho que ir, é tarde. Me

encontre amanhã aqui, ao amanhecer, certo?

- Tudo bem, mas... Como chegarei ao mar?

- O mar é ali. É só seguir pela lagoa. - Ele aponta para um lado e se vai.

Marfim se vira para o lugar indicado pelo policial e segue. Ele anda, sendo coberto pelas águas. Anda por bastante tempo. Anda e agradece a Kin-Rá por ter lhe enviado outro guia, pois sem ele seria muito mais difícil cumprir sua promessa.

Amanhece o dia: alguns raios de luz chegam a Marfim. Ele se ergue e segue em direção à terra. Chega ao local de ontem.

Chegando lá, Marfim encontra o tira em pé, a esperar.

- Isso são horas?

- São.

- Está tarde, por isso procurarei ser breve. Depois de pensar um pouco sobre as nossas futuras comunicações, cheguei à conclusão óbvia: nos encontramos aqui, todas as manhãs, por essa mesma hora, que acha?

- Bom. Pode ser assim. Alguma novidade?

- Não, nenhuma.

- Então, até amanhã.

- Até. E tome cuidado.

Marfim Cobra segue por algum tempo. Em passos lentos e concentrados, sem perceber os poucos olhos que o fitam. Chega ao mar, ao seu lugar de descanso. Agora ele esperará as horas mais desertas da noite para agir.

A hora chegou. É tarde da noite. Marfim se levanta e segue em direção à terra firme. A praia está deserta. Ele se vai para mais uma noite de trabalho.

Marfim está agora andando por uma rua desconhecida, de vários pontos comerciais e um reduzido tráfego de automóveis. Marfim Cobra anda pela calçada. Não há mais ninguém nas ruas a essa altura e um vulto coberto de panos andando sozinho por uma rua deserta realmente chama a

atenção de qualquer um. Isso inclui uma viatura policial que acaba de passar por aqui. Não se contacta a central por mendigos, nem se carrega armas. Quanto ao contato, tudo bem, mas quantos às armas... As armas deveriam estar carregadas, não pelo mendigo, mas por precaução, para uma reação mais rápida.

- Ei, você... - Fala o mais próximo de Marfim, os dois já fora da viatura, vindo em sua direção. - Pare.

"Não tenho porque correr, posso derrotá-los facilmente." - Pensa Marfim. - "Mas não posso ferir inocentes. O que farei então? Tenho que pensar rápido, eles estão se aproximando. O que farei?"

- Atenção! Todas as viaturas disponíveis. Assalto no Shopping. Dirijam-se para lá imediatamente." - O rádio avisa.

Os dois voltam apressados, entram no carro, ligam a sirene e se vão.

"Salvo por pouco." - pensa Marfim. - "Mas o que será isso? Shopping? E onde fica? Seja o que for parece ficar longe daqui, pois o carro está com pressa, e se distanciando. Mas espere! Se toda a força policial vai pra lá, como fica o litoral? É melhor me apressar e ir ver como estão as praias."

Marfim corre pelas ruas. Seu destino: o litoral. Seu punhal em punho. Se seu corpo fosse visitado por ciclos sangüíneos, poderia dizer que estariam circulando mais rápido, quentes, com a iminência de uma nova batalha. Após bastantes passos, Marfim Cobra chega ao local e, para sua surpresa, não encontra nada de estranho. Pista falsa. ...será? Minutos depois de chegar, nosso esquelético herói ouve um ruído de automóvel. Ergue-se prontamente. O carro branco corre veloz. Nele, inscrições: a Imprensa. Eles viram e somem de vista. Parece que o caso lá é mesmo grave. Mas, se for até lá, será que conseguirá chegar em tempo? Essa foi a pergunta que ecoou na mente de Marfim. A decisão foi a que lhe pareceu mais lógica: melhor perder a viagem do que sequer tentar.

Segue em direção ao outro lado da cidade. Mas é tarde! E, além do mais, deve haver muitos lá. Melhor voltar e se ocultar nas águas salgadas. Ele volta e se esconde pouco antes do nascer do Sol. Melhor deixar para agir amanhã. Talvez seja uma noite melhor.

"Que memória a minha... Esqueci-me de contactar aquele policial hoje de

manhã. Não tem problema. A noite espera os criminosos. E adivinha quem também o faz..."

Mais uma noite em Maceió. Mais um turno de trabalho do vigilante Marfim Cobra, ansioso por quitar sua dívida com o deus Kin-Rá. Caminhando por ruas desertas e sombrias, o bizarro paladino finalmente encontra algo que pareça ilegal. Marfim vê homens armados passarem discretamente até um carro. Eles entram e partem antes que o enviado de Kin-Rá possa agir.

"Hora da caça!" Marfim corre perseguindo o carro. Os viajantes parecem temer sua presença. Suas faces expressam terror. É quando o vento, os movimentos do corpo e a velocidade fazem o capuz de Marfim Cobra cair. O que ocorre então chega a ser cômico. Os prováveis assaltantes simplesmente entram em pânico ao verem quem os persegue. O motorista perde o controle, por pouco escapa do primeiro poste, mas fica no segundo. Praticamente todos sofrem o impacto despreparados, de modo que, no mínimo, perdem a consciência.

"Se agora só precisam olhar pra mim, daqui a alguns dias não vou precisar nem sair do mar para completar minha missão." Pensa, sem desconfiar que é vítima do olhar frio e preciso de uma trêmula câmera na janela de um prédio. No mais, a noite transcorre sem problemas.

- Marfim Cobra? Por que não veio ontem?

- Não pude, pois não me lembrei.

- Tá. Não perdeu muito mesmo. Ontem e hoje não trago nenhuma notícia. Então, até amanhã.

- Até.

E Marfim volta para o mar, pois mais um dia vem e um vigilante deve esperar a hora certa de agir.

O manto negro da noite cobre o estado. Como em todas as noites, Marfim se ergue do mar e caminha em direção à terra. Como em todas as noites, Marfim segue com uma vontade imensa de promover a justiça. Como em todas as noites, ele espera vencer.

Seguindo por ruas desertas, seguindo seus instintos, Marfim Cobra

procura um crime para combater, pontos positivos para quitar sua dívida com um deus. Passa por uma rua deserta, sem iluminação... "Passos! Sim, posso ouví-los. Há algo errado aqui."

- Quem está aí?

- Os carrascos que selarão sua existência. - Uma voz abafada vem de trás.

Marfim Cobra, ao se virar, vê-se diante de cinco homens, com coletes e capacetes. Eles trazem armas estranhas. Alguns deles empunham armas usadas em jogos de guerra. Aquelas armas de tinta. Todos usam microfones nos capacetes e óculos especiais. O do meio retira o capacete.

- Você?

- Sim, eu. E você pagará caro pela morte dos meus amigos. - Ele é um dos sobreviventes do antigo grupo que usava armas de fogo e de água. ...benta. - Você não passará de hoje. Ataquem!

Todos disparam. Marfim tenta se desviar, mas não consegue se mover mais rápido que os projéteis. Projéteis que, ao impacto, liberam seu conteúdo para todos os lados: água benta. Marfim Cobra cai de joelhos. Será o fim de seus dias?

Um trovão ecoa na cidade. Para a maior parte da população, um trovão normal. Para outros, esse trovão marca o início de uma nova era. E esses não ficam seguros diante do que sentem.

Um espírito é visto por milionésimo de segundo nas ruas da Inglaterra. Ninguém consegue tirar fotos, mas os que vêem se surpreendem. Claro, com o tempo se esquecerão desse desagradável fato, ou se deixarão levar por teorias malucas e inconsistentes.

Marinheiros juram ter visto uma sereia passar sob suas embarcações. Não há provas. Não há crença. Mesmo contada com a maior das convicções, ainda é tida como mais uma "história de pescador".

"Sempre tive a iniciativa perante os outros deuses. Fui o primeiro a vir a este mundo. E o primeiro a ser esquecido. Se já estou aqui, certamente logo os outros chegarão. Espero ter tido um bom começo com Marfim Cobra. E espero que ele esteja preparado, pois logo seus problemas deixarão de ser um mero frasco de água e passarão a proporções maiores. Logo virão os outros deuses, os outros seres, e a magia. Tudo será contra

Marfim Cobra. Tudo que estiver errado. E suas falhas podem ser fatais. Como isso aconteceu?"

"A magia é uma forma etérea de energia, que pode ser consumida e convertida. Ela parece ter consciência própria, vagando de planeta em planeta, conforme seus caprichos. Deuses são aqueles que encontraram o centro da aura mágica, sendo por ela assimilados. Nós consumimos esta energia e somos capazes de coisas extraordinárias. Infelizmente, nos tornamos também etéreos, mas isso não é problema. Podemos assumir forma humana, como avatares. Esse processo é exaustivo e, além de requerer uma quantidade singular de energia, costuma nos enfraquecer por alguns séculos. Mas voltemos ao assunto inicial: magia."

"Em mundos onde vivem seres inteligentes ao lado da magia há os magos, que têm tendência ao uso da magia, precisando apenas conhecer palavras mágicas e gestos para usá-la. Aqui na Terra também existem essas pessoas. É hereditário e, mesmo que a magia não exista, está no sangue."

"Eu, como já disse, sempre agi antes dos outros. Sempre apareço e desapareço primeiro. Então, uma vez de volta à Terra, imaginei que, em pouco tempo, a magia retornaria. Ela o fez. Neste exato momento, ela retorna como um relâmpago a este planeta que esqueceu seu uso. A essa altura ela deve estar se instalando no centro do planeta. E eu já não devo estar só."

"Espero apenas que Marfim Cobra esteja preparado: ele terá muitos perigos pela frente."

-- Kin-Rá