curva de phillips brasileira: revisão empírica e análise
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Fundação Getulio Vargas
Biblioteca Mario Henrique Simonsen
Curva de Phillips Brasileira: Revisão Empírica e Análise de Relevância da
Componente Fiscal para Explicar a Inflação
Tatiana Cezar Coelho Pires Ferreira
Rio de Janeiro
2019
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Tatiana Cezar Coelho Pires Ferreira
Curva de Phillips Brasileira: revisão empírica e análise de relevância da
componente fiscal para explicar a inflação
Dissertação apresentada à Banca examinadora da
Escola de Pós-Graduação em Economia da
Fundação Getúlio Vargas como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Economia
Empresarial e Finanças.
Área de concentração: Macroeconomia
Orientador: Rafael Chaves Santos
Rio de Janeiro
2019
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas/FGV
Ferreira, Tatiana Cezar Coelho Pires
Curva de Phillips brasileira: revisão empírica e análise de relevância da componente fiscal para explicar a inflação / Tatiana Cezar Coelho Pires Ferreira. – 2019.
19 f.
Dissertação (mestrado) - Fundação Getulio Vargas, Escola de Pós-Graduação em Economia.
Orientador: Rafael Chaves Santos Inclui bibliografia.
1. Phillips, Curva de. 2. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. 3. Inflação - Brasil. 4. Política monetária - Brasil. I. Santos, Rafael Chaves. II. Fundação Getulio Vargas. Escola de Pós-Graduação em Economia. III. Título.
CDD – 332.41
Elaborada por Kelly Ayala – CRB-7/7007
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Agradecimentos
Agradeço aos meus pais, Jacqueline e Ricardo por todo suporte e que sempre acreditaram em
mim.
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Resumo
Nesta dissertação, testo se componentes fiscais explicam a inflação no Brasil. Estimei três
curvas de Phillips para o IPCA, com expectativa de inflação, persistência de inflação e
indicador de atividade econômica. A componente fiscal que foi incluída é a necessidade de
financiamento do setor público. Observou-se que, com o aumento de 1 ponto percentual na
necessidade de financiamento do setor público, há um aumento de 0,13 pontos percentuais no
IPCA. Na segunda curva adiciona-se a taxa de câmbio como variável independente. Observou-
se que, com o aumento de 1 ponto percentual na necessidade de financiamento do setor público,
também há um aumento de 0,14 pontos percentuais no IPCA. Concluo que, uma situação fiscal
frágil pode contribuir sim para um aumento da inflação.
Palavras-chave: Curva de Phillips; componentes fiscais; IPCA; NFSP resultado primário;
custo real da dívida não monetária.
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Abstract
In this paper, it is tested whether fiscal components explain inflation in Brazil. I estimated three
Phillips curves for the IPCA, with expected inflation, persistence of inflation and an indicator
for economic activity. On this equation, it was included a fiscal component: the necessity of
public sector financing. It was observed that, with a 1 percentage point increase in the necessity
of public sector financing, there was an increase of 0.13 percentage points in the IPCA. On the
second curve, an exchange rate is added as an independente variable. It was observed that, with
a an increase of 1 percentage point, there is salso an increase of 0.14percentage points in the
IPCA. It is concluded that a fragile fiscal situation may contribute for an increasing inflation.
Keywords: Phillips curve; fiscal components; IPCA; primary NFSP; real cost of non-monetary
debt.
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Sumário
1. Introdução...............................................................................................9
1.1 A Curva de Phillips....................................................................10
2. Referencial teório...................................................................................12
2.1 Efeitos da Globalização na Inflação Brasileira...........................................12
2.2 GDP Growth, Potencial Output, and Output Gaps in Mexico......................13
2.3 Challenges for Monetary Policy in Emerging Economies as Global Conditions
Normalize .............................................................................................13
2.4 Nonlinear Mechanismsofthe Exchange Rate PassThrough...........................14
3. Metodologia e Resultados.......................................................................15
4. Conclusão.................................................................................................16
5. Referência Bibliográfica.........................................................................17
6. Apêndice...................................................................................................18
Equação 1........................................................................................................11
Equação 2........................................................................................................12
Equação 3........................................................................................................13
Equação 4........................................................................................................13
Equação 5........................................................................................................14
Equação 6........................................................................................................15
Quadro 1..........................................................................................................18
Quadro 1..........................................................................................................18
Tabela 1............................................................................................................19
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Introdução
A relação conhecida como a Curva de Phillips nos mostra que a inflação possui um
comportamento pró-cíclico. Períodos com inflação acima da média tendem a ter níveis de
atividade econômica acima da média. Há uma relação negativa entre a taxa de desemprego e a
taxa de inflação, onde altas taxas de crescimento da demanda agregada estimulam a produção,
e assim, baixam a taxa de desemprego. Estas altas taxas na demanda agregada também refletem
em um aumento de preços. Logo, há um trade-off entre inflação e desemprego. A curva de
Phillips foi estimada para entender os fatores inflacionários e servir como uma proxy para os
desenvolvimentos macroeconômicos.
A dissertação está organizada nos seguintes capítulos:
O primeiro capítulo aborda conceitos gerais para melhor entendimento dos capítulos
posteriores, como o que é a curva de Philips, qual sua importância pra a economia.
O segundo capítulo mostra todas as curvas que foram estudadas pré-existentes na literatura,
para nos capítulos seguintes serem comparadas com as curvas estimadas pela autora da
dissertação.
O terceiro capítulo analisa as curvas estimadas por mim, mostrando toda a metodologia.
O quarto capítulo apresenta o resultado das estimações das curvas do capítulo três, sendo
analisadas a partir de uma tabela comparativa com as outras demais curvas apresentadas no
capítulo dois.
Por fim, o quinto capítulo é a conclusão, reunindo os resultados da análise das curvas, os
conceitos e os desenvolvimentos abordados ao longo da dissertação.
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A Curva de Phillips
Ao longo dos últimos anos, a Curva de Philips era tida como um processo de formulação
de política econômica. Segundo Phillips, ele se refere à curva como uma “doutrina
padrão”:
“Para começar, muito, ou a maior parte, da elevação da renda assumirá a forma de um
aumento no produto e no emprego, mas não nos preços. As pessoas vinham esperando
preços estáveis, e os preços e salários foram definidos para um certo tempo futuro com
base nisso. Leva algum tempo para que as pessoas se ajustem a um novo estado da
demanda. Os produtores tenderão a reagir à expansão inicial da demanda agregada
aumentando a produção; os empregados, trabalhando mais horas; e os desempregados,
agora aceitando trabalhos oferecidos a salários nominais anteriores. Isso é basicamente
a doutrina padrão.” Milton Friedman
Porém, a análise de Friedman considerava a relação entre desemprego e inflação estável.
Ao longo da década de 1970, devido a períodos de inflação vividos por muitas economias,
a curva ficou desacreditada. Na década de 1990, economias voltaram a estudar novamente
o modelo da curva de Phillips, baseando-se em um arcabouço de otimização com
expectativas racionais e rigidez nominal, sendo chamada assim de curva de Phillips Novo-
Keynesiana, ou New Keynesian Phillips curve (NKPC), sendo esta modelo padrão para
análise de política monetária, um modelo de fixação de preços com rigidez nominal, onde
a evolução esperada dos custos marginais são capazes de explicar a dinâmica
inflacionária.
Não há uma metodologia de escolha para qual variável deve ser adotada, há vários artigos
que escolhem conjuntos diferentes de variáveis, como será mostrado adiante. O método
utilizado para poder estimar não é trivial. Logo, apesar de apresentar características
simples, há algumas dificuldades em estima-las. No Brasil, dada à instabilidade
econômica, a dificuldade é ainda maior.
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Nesta dissertação vemos duas curvas de Phillips para o Brasil, que fazem inferências
sobre a adequação das políticas monetárias e o mesmo será feito para o que esta tentando
ser estudado aqui. Trabalha-se aqui, com curvas lineares novo keynesianas.
Na literatura, a curva de Phillips de modo geral é representada por esta equação:
Equação1: Fonte: ‘Phillips curve in Brazil: an unobserved components approach’
Onde πt é a taxa de inflação no período t, πt-1 é a inflação no período anterior, Et(πt+1)
é a expectativa em t de inflação para o próximo período, x é a variável de atividade
econômica, e ε o erro, sendo assumido como independente e identicamente distribuído.
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Referencial Teórico
Nos últimos anos, muitos artigos tentam estimar a curva de Phillips, fazendo inferências
para a adequação da política monetária, utilizando diferentes variáveis nas regressões e
métodos estatísticos para comprovar algum fenômeno macroeconômico. Para ter como
base e fins de comparação com as três curvas de Phillips estimadas, são apresentadas aqui
outras quatro curvas, de casos brasileiros e internacionais.
A seguir, os artigos são explicados com mais detalhes.
O primeiro artigo analisado chama-se “Efeitos da Globalização na Inflação Brasileira”,
cujos autores são Rafael Santos e Márcia S. Leon. Os resultados desta regressão mostram
que, pelo aumento de impostos sobre a importação e/ou na exportação, há um impacto
positivo na inflação. Com o efeito da globalização (o que reduz tais impostos), os termos
de troca se apreciam e há uma redução na taxa de inflação, comprovando o que ocorreu
no Brasil ao fortalecer sua integração econômica em relação ao resto do mundo.
πt = 0,64 πt-1 + 0,5mct + 0,35Et(πt+1) + 0,18Δqͫt
Equação 2: Fonte: ‘Efeitos da Globalização na Inflação Brasileira – Rafael Santos e Márcia S.Leon’
O segundo artigo pertence ao Fundo Monetário Internacional, produzido em 2005 cuja
análise consiste nas fontes do crescimento econômico mexicano, comparando as
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decomposições desse crescimento em sua tendência e componentes cíclicos. O hiato do
produto implícito no processo inflacionário é avaliado. A equação consiste em uma curva
de Phillips com expectativas aumentadas para salários. Os resultados indicam que o fator
mais importante subjacente à desaceleração produto foi uma queda na tendência da
produtividade total dos fatores, e que reformas de políticas econômicas e a inserção do
país ao Nafta pode ter aumentado o crescimento da produtividade nos últimos anos.
ΔWt = 0,51Et(πt+1) + 0,47 πt-1 + 0,06 ygapt-1
Equação 3: Fonte: GDP Growth, Potencial Output, and Output Gaps in Mexico – Ebrima Faal – FMI
O terceiro artigo, também do Fundo Monetário Internacional mais recente, de 2018,
estuda economias emergentes e suas rápidas estabilizações em resposta aos efeitos dos
choques inflacionários. Dado que isto ocorria e os efeitos são de curta duração, isso
acabou por permitir que bancos centrais reduzissem juros para poder combater recessões.
Porém, à medida que as taxas de juros dos países avançados estão mais altas que a taxa
de juros nos países emergentes, a moeda desta economia tende a se desvalorizar, e esta
depreciação é repassada aos preços.
πi,t = 0,49 π i, t-1 + 0,51Et(π i,t+1) + 0,16Yi,t + εi,t
Equação 4: Fonte: Challenges for Monetary Policy in Emerging Economies as Global Financial
Conditions Normalize – FMI
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O quarto artigo, escrito por Arnildo da Silva Correa e André Minella, propõe estudar
através da curva de Phillips a presença de mecanismos não lineares de repasses cambiais
nas taxas de câmbio para a inflação no Brasil, verificando se no curto prazo, o repasse
cambial sobre os preços é afetado por ciclos econômicos, magnitude e variação cambial,
além da volatilidade cambial. Os resultados mostram que maior é o repasse cambial
quanto mais rápida a economia cresce, quando as taxas de câmbio se depreciam abaixo
do limiar e a volatilidade cambial é mais baixa. No caso desta curva, o limiar é o hiato do
produto.
Equação 5: Fonte: Nonlinear Mechanisms of the Exchange Rate Pass-Through: A Phillips Curve
model with threshold for Brazil – Arnildo Correa et. al
Metodologia e Resultados
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Estimei duas curvas de Phillips para verificar se componentes fiscais conseguem explicar
a inflação no Brasil, sendo todas estas baseadas nesta curva a seguir. O componente fiscal
a ser estudado foi a necessidade de financiamento do setor público, NFSP.
Equação 6 - Fonte: Elaboração Própria
Em ambas as curvas para inflação, utilizo a variação percentual trimestral do IPCA, πt.
Para a expectativa de inflação, a expectativa de mercado Focus para o IPCA, Et(πt+1), e
para a mensuração da atividade, a variação percentual do PIB trimestral, Yt. O
componente fiscal a ser estudado foi a necessidade de financiamento do setor público,
NFSP, Ft. E por último, πt-1, sendo o lag do IPCA trimestral. O que diferencia as duas
curvas é a introdução de um componente cambial. Os dados coletados são de janeiro de
2005 até agosto de 2018. Todas as curvas foram estimadas através do programa Eviews,
e a correção de suas heterocedasticidades através do método Newey-West.
Na primeira curva (quadro 1) foi estimado o resultado primário da necessidade de
financiamento do setor público trimestral. Observou-se que, ao nível de 6,98%, o aumento
de uma unidade percentual na necessidade de financiamento do setor público gera
aumento de 0,13% na inflação.
Na segunda curva (quadro 2), adicionei mais uma variável, a taxa de câmbio, e os valores
não se alteram muito. Ao nível de 5,86%, o aumento de um ponto percentual na
necessidade de financiamento de setor público gera também um aumento de 0,14% na
inflação.
Conclusão
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Pelos resultados obtidos (tabela 1), vemos que realmente uma situação fiscal frágil, tende
a pressionar a inflação. A discussão vai além, pois o país está passando por um quadro
fiscal crítico que não consegue se sustentar sem as reformas necessárias, apesar de ajustes
graduais implementados nos últimos anos.
Nossos resultados sugerem que os coeficientes estão em linha com a literatura, em termos
de sinal das correlações e em termos de elasticidade que a componente fiscal relaciona a
elasticidade da expectativa de inflação, sendo a componente fiscal uma proxy da
expectativa de inflação futura.
Referências Bibliográficas:
17
• AREOSA, Marta., AREOSA, Waldyr., CARRASCO, Vicnicius. A Sticky-
Dispersed Information Phillips Curve: a model with partial and delayed
information (2012) . Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps276.pdf
• ARAUJO, Carlos Hamilton., GUILLÉN, Osmani., Previsão de Inflação com
incerteza do histo do produto no Brasil. (2008) . Disponível em:
https://core.ac.uk/download/pdf/6357531.pdf
• CORREA, Arnildo., MINELLA, André. Nonlinear Mechanisms of the Exchange
Rate Pass-Through: A Phillips curve model with threshold for Brazil. (2006) .
Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps122.pdf
• FROYEN, Richard T.; (2013) Macroeconomia – Teoria de aplicações (Editora
Saraiva)
• SACHSIDA, Adolfo.,Ribeiro, Marcio et al. (2009) A Curva de Phillips e a
Experiência Brasileira. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
• SANTOS, Rafael., S. Leon, Márcia Efeitos da Globalização na Inflação
Brasileira. (2010) . Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/pec/wps/port/wps201.pdf
• SANTOS, Rafael., Araujo, Aloisio. Inflation Targeting, Credibility and
Confidence Crises. (2007) . Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps140.pdf
• SOUZA, José Ronaldo Jr., SACHSIDA, Adolfo et al. (2014) Evolução Crescente
das políticas monetária e cambial e do mercado de crédito no Brasil. Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Apêndice
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Quadro 1: Curva de Phillips sem taxa de câmbio Fonte: Elaboração Própria
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Quadro 2: Curva de Phillips com taxa de câmbio Fonte: Elaboração Própria
Tabela 1- Fonte: Elaboração Própria
Papers Frequência π-1 Et(πt+1) Atividade Câmbio Componente Fiscal Autor Data
Efeitos da Globalização na Inflação Brasileira1999:04 - 2008:04
Trimestral 0,64 0,36 0,50 0,18 **
Aloisio Araujo e
Rafael Santos ago/07
GPD Growth, Potential Output, and Output Gaps in Mexico1998:09 - 2004:05
Trimestral 0,47 0,51 0,06 ** ** Ebrima Faal mai/95
Challenges for Monetary Policy in Emerging Economies as
Global Financial Conditions Normalize
2004:02 - 2018:01
Trimestral 0,49 0,51 0,16 ** ** IMF ago/18
Nonlinear Mechanisms of the Exchange Rate Pass-Through:
A Phillips Curve model with threshold for Brazil.
1995:1 - 2005:4
Trimestral 0,33 0,58 0,240,09
**
ArnildoCorrea e
André Minella nov/06
Uma Análise da Situação Fiscal Brasileira sob a Ótica da
Curva de Phillips 1
2005:01 - 2018:08
Trimestral 0,48 0,095 0,285 ** 0,0013 Tatiana Cezar fev/19
Uma Análise da Situação Fiscal Brasileira sob a Ótica da
Curva de Phillips 2
2005:01 - 2018:08
Trimestral 0,481 0,098 0,307 0,385 0,0014 Tatiana Cezar fev/19