bancke, leandro m. a curva de phillips para o brasil nos períodos: 1986 a 1994 e 1994 a 2005
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Monografia apresentada para obtenção do título de bacharel em Economia pela Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão - PRTRANSCRIPT
DEPARTAMENTO DE ECONOMIACURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
A CURVA DE PHILLIPS PARA O BRASIL NOS PERÍODOS: 1986 A 1994 E 1994 A2005.
ACADÊMICO: LEANDRO MOREIRA DA LUZ
CAMPO MOURÃO - PARANA2005
FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO
DEPARTAMENTO DE CIENCIAS ECONÔMICASCURSO DE CIÊNCIAS ECONOMICAS
A CURVA DE PHILLIPS PARA O BRASIL NOS PERIDOS: 1986 A 1994 E 1994 A 2005.
ACADÊMICO: LEANDRO MOREIRA DA LUZ
Monografia apresentada como requisito de conclusão do Curso de Ciências Econômicas da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM. Sob orientação da professora doutora Janete Leige Lopes.
CAMPO MOURÃO – PARANA2005
LEANDRO MOREIRA DA LUZ
A CURVA DE PHILLIPS PARA O BRASIL NOS PERÍODOS: 1986 A 1994 E 1994 A2005.
Aprovado:
________________________________________ Nota:Prof°(a). Banca
_________________________________________ Nota:Prof°(a). Banca
_________________________________________ Nota:Prof°(a). Orientador(a)
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus pela saúde e por tudo que ele me concede. Que eu possa entender, aceitar e evoluir com seus propósitos.
Aos meus pais: Orlando e Lúcia e aos meus irmãos: Elizângela e Neylor pelo apoio espontâneo e pela compreensão nos dias de muito trabalho.
Aos colegas de classe e aos amigos por entenderem o quanto é importante este curso para mim.
Obrigado a professora Janete Leige Lopes, orientadora, por me mostrar que o esforço e dedicação têm que vir de mim mesmo e pela colaboração no desenvolvimento deste trabalho.
Aos professores, que são os responsáveis pela mudança somatória positiva em mim (com certeza levarei essas contribuições por toda a vida), e pela amizade e parceria nestes cinco anos de curso.
LUZ, Leandro M. A Curva de Phillips para o Brasil nos Períodos: 1985 à 1994 e 1994 à 2005. Monografia (Bacharelado em Ciências Econômicas) – Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão.
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi analisar a economia brasileira em dois períodos subseqüentes_ 1985 a 1994 e 1994 a 2005 e verificar, através de testes econométricos, se há ou não trade-off entre as variáveis inflação e desemprego. Para isso, foram realizados estudos teórico-econômicos e históricos a fim de obter o embasamento necessário para uma análise ulterior. Salientaram-se, nesta pesquisa, os conceitos básicos de inflação e desemprego, as teorias clássica, keynesiana, monetarista, pós-keynesiana e novo-clássica. Houve, também, a preocupação em demonstrar numa pesquisa de cunho histórico o desempenho inflacionário e o comportamento do desemprego no Brasil desde os vários planos estabilizadores até o novo paradigma das empresas brasileiras voltadas à produtividade. O primeiro período analisado demonstrou, empiricamente,altas taxas de inflação e vários planos estabilizadores além de altas taxas de desemprego, que eram positivamente relacionadas com os períodos econômicos brasileiros de recessão e retomadas; o segundo período analisado demonstrou, empiricamente, uma estabilização dos preços a partir do Plano Real com cortes fundos na liquidez e uma taxa de desemprego maior, o que pode estar, via de regra, relacionado com as grandes mudanças no mercado de trabalho e no novo paradigma empresarial brasileiro. O terceiro capítulo mostrou a Curva de Phillips original, a Curva de Phillips com expectativas adaptativas e a Curva de Phillips vertical (com expectativas racionais). No quarto capítulo são demonstrados a metodologia utilizada, a base de dados e os resultados e discussões. Concluiu-se, assim, através de uma Regressão Simples, no período de 1985 a 1994 e também, no período 1994 a 2005, a inexistência de trade-off entre inflação e desemprego, não confirmando, dessa forma, a teoria da Curva de Phillips original para o Brasil nestes períodos e pondo em questão, também, a utilização de medidas econômicas que sugerem uma troca entre inflação e desemprego para a economia brasileira.
Palavras-Chave: Curva-de-Phillips, Brasil, economia.
LUZ, Leandro M. The Phillips´curve to Brazil in the period of 1985 to the 1994 and of 1994 to the 2005.Monograf (Graduate in Economic Sciences) – State Faculty of Sciences and Letters of Campo Mourão.
ABSTRACT
The Objective this paper it was analyzed the Brazilian Economy in two periods subsequent: of1985 to the 1994 and of 1994 to the 2005 and verify by econometrical tests the existence of the trade-off enter the variables: inflation and unemployment. For this, studies had been carried through, theoretician-economic and historical to order to obtain the base necessary for theanalysis subsequent. It was outstanding, in this work, the basic concepts of inflation and unemployment, the classic theory, Keynesian, monetarist, post-Keynesian and neo-classic. There was also the concern in demonstrating in a research of historical stamp the inflationary acting and acting of the unemployment in the Brazil, from the several ones to the new model of the Brazilian Companies towards the productivity, consecutively. However, the first analyzed period demonstrates empirically high inflation taxes and several plans stabilizers besides high unemployment taxes that were positively related positively related with the recession periods and retaking; and the second analyzed period demonstrates empirically the stabilization of the prices starting from Plano Real with deep cuts of liquidity at the present time and a tax of larger unemployment, that can be, related also with the big changes of the market and the Brazilian companies. The third chapter showed the original Phillips´curve , the version of Friedman (1950)and the vertical Phillips´curve. With this purpose, it was verified, through the Simple Regression,in the period: of 1985 to the 1994 and in the period: 1994 à 2005, the inexistence of a trade-offbetween inflation and unemployment, not confirming, in that way , the Original Phillips´curve Theory from the Brazil in those periods, and putting in subject, as well, the use of economical measures they suggest a change between inflation and unemployment for the Brazilian economy.
Key-words: Phillips’curve, Brazil, economy.
LISTA DE EQUAÇÕES
Equação 01 – Equação de Trocas de Fischer....................................................................................5
Equação 02 – Equação dos Saldos Monetários de Cambridge.........................................................5
Equação 03 – Demanda por Moeda .................................................................................................6
Equação 04 – Hiperinflação de Cagan (1956)..................................................................................6
Equação 05 – Força-de-Trabalho...................................................................................................10
Equação 06 – Curva de Phillips Original.......................................................................................32
Equação 07 – Curva de Phillips Atual............................................................................................33
Equação 08 – Inflação Esperada.....................................................................................................34
Equação 09 – Curva de Phillips com Expectativas Adaptativas....................................................34
Equação 10 – Regressão Linear Simples........................................................................................38
Equação 11 – Variância..................................................................................................................38
Equação 12 – Covariância..............................................................................................................39
Equação 13 – Erro Aleatório..........................................................................................................39
Equação 14 – Estimativa dos Parâmetros.......................................................................................39
Equação 15 – Desvios.....................................................................................................................39
Equação 16 - Valores que minimizam a soma dos quadrados dos desvios....................................40
Equação 17 – Derivada Parcial 1....................................................................................................40
Equação 18 – Derivada Parcial 2....................................................................................................40
Equação 19 – Sistema de equações normais 1...............................................................................40
Equação 20 – Sistema de equações normais 2...............................................................................40
Equação 21 – Resolvendo o sistema...............................................................................................40
Equação 22 – Determinando b em primeiro lugar 1.......................................................................40
Equação 23 – Determinando b em primeiro lugar 2.......................................................................40
Equação 24 – Resolução Final........................................................................................................41
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Relação Preço/Produto e Emprego.............................................................................15
Figura 02 – A Curva de Phillips.....................................................................................................32
Figura 03 – Curva de Phillips versão Monetarista.........................................................................35
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.a – Estimativa do Período 1986 a 1994 (IPCA/DIEESE)..............................................41
Quadro 1.b – Outras Estatísticas (IPCA/DIEESE).........................................................................42
Quadro 2.a – Estimativa do Período 1994 a 2005 (IPCA/DIEESE)..............................................42
Quadro 2.b – Outras estatísticas (IPCA/DIEESE)..........................................................................42
Quadro 3.a – Estimativa do Período 1986 a 1994 (INPC/DIEESE)..............................................43
Quadro 3.b – Outras Estatísticas (INPC/DIEESE).........................................................................43
Quadro 4.a – Estimativa do Período 1994 a 2005 (INPC/DIEESE)..............................................43
Quadro 4.b – Outras estatísticas (INPC/DIEESE)..........................................................................43
Quadro 5.a – Estimativa do Período 1986 a 1994 (IPA-DI/DIEESE)............................................44
Quadro 5.b – Outras Estatísticas (IPA-DI/DIEESE)......................................................................44
Quadro 6.a – Estimativa do Período 1994 a 2005 (IPA-DI/DIEESE)............................................44
Quadro 6.b – Outras estatísticas (IPA-DI/DIEESE).......................................................................44
Quadro 7.a – Estimativa do Período 1986 a 1994 (IPA-OG/DIEESE)..........................................45
Quadro 7.b – Outras Estatísticas (IPA-OG/DIEESE)....................................................................45
Quadro 8.a – Estimativa do Período 1994 a 2005 (IPA-OG/DIEESE)..........................................45
Quadro 8.b – Outras estatísticas (IPA-OG/DIEESE).....................................................................45
Quadro 9.a – Estimativa do Período 1986 a 1994 (IGP-DI/DIEESE)............................................46
Quadro 9.b – Outras Estatísticas (IGP-DI/DIEESE)......................................................................46
Quadro 10.a – Estimativa do Período 1994 a 2005 (IGP-DI/DIEESE)..........................................46
Quadro 10.b – Outras estatísticas (IGP-DI/DIEESE).....................................................................46
Quadro 11.a – Estimativa do Período 1986 a 1994 (IPC-RJ/DIEESE)..........................................47
Quadro 11.b – Outras Estatísticas 1986 a 1994 (IPC-RJ/DIEESE)...............................................47
Quadro 12.a – Estimativa do Período 1994 a 2005 (IPC-RJ/DIEESE)..........................................47
Quadro 12.b – Outras Estatísticas 1994 a 2005 (IPC-RJ/DIEESE)...............................................47
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................1
1 INFLAÇÃO E DESEMPREGO....................................................................................................3
1.1 Inflação.....................................................................................................................................3
1.1.1 Teoria Quantitativa da Moeda (TQM)..................................................................................4
1.1.2 Teoria do Hiato Inflacionário...............................................................................................7
1.1.3 Teoria do Duplo Hiato Inflacionário de Bent Hansen (1951)..............................................8
1.1.4 Teoria Aceleracionista da Inflação.......................................................................................8
1.2 Desemprego..........................................................................................................................9
1.2.1 Desemprego Voluntário, a Taxa Natural de Desemprego e o Desemprego Involuntário..10
1.2.2 Desemprego Clássico.........................................................................................................13
1.2.3 Crítica de Keynes................................................................................................................14
1.2.4 A Visão Monetarista...........................................................................................................16
2 ANÁLISE DA INFLAÇÃO E DO DESEMPREGO NA ECONOMIA BRASILEIRA............19
2.1 Análise da Inflação Brasileira...................................................................................................19
2.2 Análise do Desemprego no Brasil............................................................................................25
3 CURVA DE PHILLIPS...............................................................................................................31
3.1 Curva de Phillips Original........................................................................................................31
3.2 Curva de Phillips com Expectativas Adaptativas.....................................................................33
3.3 Curva de Phillips Vertical.........................................................................................................35
4 ANÁLISE EMPÍRICA PARA A INFLAÇÃO E O DESEMPREGO NO BRASIL..................38
4.1 Metodologia..............................................................................................................................38
4.1.2 Estimativa dos Parâmetros.....................................................................................................39
4.3 Base de Dados..........................................................................................................................41
4.4 Resultados e Discussões...........................................................................................................41
4.4.1 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPCA nos
períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005..............................................................................................41
4.4.2 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação INPC nos
períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005..............................................................................................43
4.4.3 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-DI nos
períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005..............................................................................................44
4.4.4 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-OG nos
períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005..............................................................................................45
4.4.5 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IGP-DI nos
períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005..............................................................................................46
4.4.6 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPC-
GERAL-RJ nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005....................................................................47
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................49
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................51
APÊNDICE....................................................................................................................................55
Xiii
INTRODUÇÃO
Estudos históricos e teórico-econômicos são demonstrados neste trabalho
referindo-se a inflação e ao desemprego. Mostra-se, também, a evolução do pensamento sobre os
determinantes do desemprego e da inflação e as teorias do desemprego a partir dos princípios
teóricos clássicos, keynesianos, monetaristas, pós-keynesianos e novo-clássicos que servem de
embasamento para a análise posterior. Sendo assim, a validade da Curva de Phillips na economia
brasileira é posta, neste trabalho, em questão.
Em seguida são analisados dois períodos subseqüentes: o período 1985 a 1994,
que é caracterizado por elevadas taxas de inflação e muitos planos estabilizadores, além de
múltiplos indexadores econômicos; com desemprego alto oscilando junto com a economia, isto é,
aumentado com as recessões e diminuindo com as retomadas do crescimento econômico; e o
período 1994 a 2005, com a inflação sob controle após o Plano Real, mas com altas taxas de
desemprego, período também caracterizado pela abertura comercial, pelo aumento do trabalho
informal, pela mudança do âmbito nas políticas das empresas, agora voltadas cada vez mais à
produtividade, etc. Para isso, a metodologia a ser utilizada será de consultas bibliográficas e
materiais científicos relacionados à inflação e ao desemprego, além de testes empíricos realizados
com software especializado e dados sobre inflação e desemprego.
As primeiras tentativas para entender os determinantes da inflação se dão
através das versões da Teoria Quantitativa da Moeda (TQM). Estas relacionam os aumentos nos
preços e a quantidade de moeda na economia. Keynes (1936), opondo-se ao pensamento clássico,
nos fornece outra teoria relacionando os aumentos dos preços com os hiatos do produto e com a
demanda efetiva. No mesmo contorno, Bent Hansen (1951) junta o hiato do produto com o hiato
no mercado de trabalho para explicar os processos inflacionários.
O desemprego, por sua vez, é definido inicialmente pelos economistas
clássicos como voluntário. No entanto, esta visão foi alterada a partir das crises do começo do
século XX, principalmente da crise de 1929, quando o desemprego passou a ser visto como uma
falha no modo de funcionar da economia. Nesse contexto, passa a ser defendida várias ações de
políticas econômicas. Keynes (1936) argumenta que o desemprego pode ser combatido através do
aumento da demanda efetiva e seus determinantes: a eficiência marginal do capital, a preferência
pela liquidez e/ou o aumento da propensão a consumir. Os monetaristas, por sua vez, voltam a
discutir a importância da moeda, e Friedman (1950) afirma que o desemprego pode ser reduzido,
no curto prazo, com a elevação do salário nominal.
No entanto, foi com o advento da Curva de Phillips (1958) que se relacionaram
duas variáveis estatisticamente observáveis: a inflação e o desemprego; fato que não acontecia
em outras teorias, no mercado de trabalho, por exemplo. Isso, sem sombra de dúvidas, favoreceu
e aperfeiçoou as análises econômicas referentes às duas variáveis.
Nesta toada, definimos que a principal razão deste texto é atinar, embasado
pelos pressupostos teóricos, a evolução do pensamento econômico relacionada à inflação e ao
desemprego. E, nesse comenos, aprofundar a compreensão no que condiz a relação existente
entre elas. Para isso, o presente trabalho é dividido em algumas partes, as quais seguem a
discussão adiante.
O primeiro capítulo do trabalho expõe as definições básicas de inflação e
desemprego e suas as teorias. Passando pelos pensamentos: clássico, keynesiano e monetarista
até a Curva de Phillips.
O segundo capítulo faz uma análise histórica sobre a inflação, desde os
primeiros cálculos inflacionários até os dias atuais que sustentam uma inflação estabilizada. Da
mesma forma, aborda-se o desemprego: desde os clássicos onde o desemprego era visto como
algo meramente pejorativo, até os dias atuais, com as mudanças no paradigma no mercado de
trabalho, isto é, por exemplo, no assalariamento e na precarização no mercado de trabalho, etc.
O terceiro capítulo trata da Curva de Phillips original e sua relação de troca
entre inflação e desemprego; dá-nos, também, uma breve noção sobre a Curva de Phillips com
Expectativas Adaptativas e a Curva de Phillips com Expectativas Racionais, de modo a
demonstrar que a observação das variáveis inflação e desemprego continua a evolucionar.
Na quarta parte deste trabalho está a metodologia, a base de dados e “resultados
e discussões” são os assuntos do quarto capítulo. Neste demonstra-se: o modelo estatístico
utilizado para pesquisa e a regra usada; mostram-se os índices inflacionários utilizados para a
pesquisa e a taxa de desemprego utilizada, além, é claro, dos resultados econométricos e suas
análises e discussões.
Desse modo, à priori, levanta-se as hipóteses de não haver trade-off no
primeiro período analisado, que se refere ao primeiro semestre de 1986 até o primeiro semestre
de 1994 e de haver trade-off no segundo período analisado, que se refere ao segundo semestre de
1994 até o primeiro semestre de 2005. Sinalizando-se assim, períodos que não convergem
sucessivamente, quanto à aplicabilidade da Curva de Phillips para economia brasileira.
1. INFLAÇÃO E DESEMPREGO
A inflação e o desemprego são problemas macroeconômicos que afligiram e
afligem a sociedade brasileira há muitas décadas, infelizmente isto é fato notório. É importante
salientar aqui o interesse dos economistas em obter as informações necessárias para amenizar o
problema inflacionário e conter o desemprego. Também, de outro lado, mas com as mesmas
proposições, nota-se também a preocupação da sociedade em cobrar de seus governantes a
utilização das políticas ideais para a diminuição de seus custos sociais.
Este capítulo vem demonstrar conceitos básicos e, também as principais teorias
econômicas relacionadas ao tema.
1.1.1 Inflação
Conceitualmente, “a inflação é um movimento ascendente e sustentado do nível
de preços agregados que é compartilhado pela maioria dos produtos” (GORDON, 2000, p. 163).
Em outras palavras, “a inflação é a alta generalizada dos preços, isto é, o aumento dos preços dos
bens e serviços negociados na economia” (LEITE, 2000, p.579).
Buscando a causa inflacionária baseada nos fatores que causam a demanda
excedente1 e na elevação dos custos de produção podemos citar dois tipos básicos de inflação:
1 Como veremos no decorrer do capítulo, a causa inflacionária pode ser baseada em diversos fatores (expansão monetária,
movimentos no mercado de trabalho, etc.)
i) Inflação de Demanda (πd): ocorre quando há uma demanda excessiva por bens e serviços,
sendo esta provocada pela expansão da demanda agregada.2 Pode ser de origem monetária ou
fiscal, geralmente pode estar associada à criação, manutenção ou elevação do déficit público.
ii) Inflação de Oferta (πs): resulta da elevação dos custos de produção (salários, juros, tributos,
preço da matéria-prima, etc.). Geralmente pode estar associada à escassez dos fatores de
produção (inflação de custos); ou por incrementos autônomos das margens de lucro (inflação de
remarcamento), que geralmente se dá pela atuação de empresas que aproveitam de seu poder de
mercado, quando há uma concorrência imperfeita (ex: monopólios, oligopólios, etc.).
No entanto, podemos observar que em época de inflação constante, o
comportamento dos agentes econômicos gera tipos de inflação mais complexos. Esses tipos de
inflação provêm da interação dos mecanismos inflacionários. Segundo Fritz Machlup apud Leite
(2000) a inflação têm muitas facetas, podendo ser um problema monetário, fiscal, monopolista,
institucional, político, psicológico, além de muitos outros. Nesse contexto, vejamos então alguns
exemplos de inflação:
i) Inflação Híbrida: é a interação da inflação de demanda com a inflação de oferta, em função da
tentativa dos agentes de recuperar rendas corroídas pela inflação em períodos anteriores.
ii) Espiral Inflacionária: é a inflação híbrida com expectativas de inflação futura, afetando
lucros, salários e juros.
iii) Inflação Estrutural: gerada por problemas no funcionamento dos mercados (pontos de
estrangulamento e imperfeições).
iv) Inflação Inercial: decorre da existência e aceitação de mecanismos de indexação e também da
expectativa da continuidade da inflação.
Uma política que vise combater o problema inflacionário precisa identificar sua
natureza. Para, a partir daí, utilizar os meios apropriados para conter a inflação. Quando a
intenção é combater a inflação de demanda, por exemplo, são usadas políticas monetárias e
fiscais restritivas. Já a inflação de custos, por sua vez, é combatida com políticas de preços e
rendas. Contudo, quando o problema inflacionário é complexo as medidas de contenção são mais
2 “A definição mais rigorosa pressupõe que a inflação de demanda ocorreria apenas com pleno uso de recursos. Entretanto, pode
também ocorre com desemprego de recursos, já que sempre existirão setores da atividade que atingem o pleno emprego antes de outros [...] ”; segundo Luque e Vansconcelos (Gremaud...[ et al], 2004, p. 338).
difíceis de serem aplicadas. Na busca dos mecanismos necessários para entender e combater a
inflação os economistas formularam várias teorias: A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), a
Teoria do Hiato Inflacionário, a Teoria do Duplo Hiato Inflacionário e a Teoria Aceleracionista
da Inflação são alguns exemplos de teorias que buscam explicar os determinantes da inflação.
1.1.2 Teoria Quantitativa da Moeda (TQM).
Há duas versões principais da TQM, uma é a Equação de trocas de Fischer,
formulada por Irving Fischer (1911) e a outra é a Equação dos Saldos Monetários de Cambridge,
formulada pelos professores A.C. Pigou e Alfred Marshall, segundo Leite (2000). Mas, também
veremos neste tópico uma versão mais elaborada da TQM de Milton Friedman (1950) e uma
versão da TQM voltada à hiperinflação.
Segundo Carvalho (2000) a Equação de Trocas de Fischer postula que os
preços variam diretamente com a quantidade de moeda em circulação, sendo a velocidade da
circulação da moeda e o volume de transação dos bens e serviços constantes. Desse modo:
_ _MV = PT (1)
Sendo assim, a quantidade de moeda em circulação M multiplicada pela sua
velocidade de circulação V é igual aos preços dos bens e serviços P multiplicados pelo produto
das transações T. Como V e T são constantes, supondo uma economia a pleno emprego3, os
preços são diretamente dependentes da quantidade de moeda em circulação.
Observando, agora, a TQM na versão da Equação dos Saldos Monetários de
Cambridge, podemos ver que seu aspecto principal é a forma como aborda a questão: qual a
quantidade de moeda que os agentes irão reter como um “estoque de moeda” entre uma transação
e outra? Essa questão dá um enfoque diferente à variável velocidade da moeda. Como
3 Para a Escola Clássica a economia está sempre a pleno emprego.
aproximação, também há a suposição de que a quantidade retida de moeda está em relação direta
com a renda do indivíduo. Assim:
M = k.Py (2)
Desse modo, a quantia desejada de moeda, que é o encaixe de moeda dos
indivíduos é representada pelo coeficiente k na equação (que numericamente é o inverso de V e
está entre zero e 1) multiplicado pelos preços dos bens e serviços P vezes a renda y. A guisa de
conclusão cabe confirmar a declaração de Carvalho (2000, p.26): “A Equação de Cambridge
demonstra a demanda por moeda como uma proporção k do nível de renda.”
Portanto, a TQM, tanto na versão de Fisher (1911), quanto na versão dos
teóricos de Cambridge, postula que a única maneira de haver inflação resulta de desvios na oferta
de moeda (que é exógena) do seu nível de equilíbrio.
Os problemas de recessão e desemprego que ocorreram em meados dos anos
1930 e o advento da Teoria Geral de Keynes (1936) fizeram com que a TQM caísse em desuso
sendo reavivada nas décadas de 1960-1970 pela chamada contra-revolução monetarista, liderada
por Milton Friedman (1950).
Friedman (1950) apud Carvalho (2000) postula que a TQM deve ser vista como
uma teoria de demanda por moeda e que está relacionada com um conjunto limitado de variáveis
econômicas de uma forma previsível e estável, na qual a renda permanente é a mais importante.
Trata-se de uma versão mais sofistica da versão de Cambridge (equação 2). Contudo, muda-se a
forma de abordar o coeficiente k, passa-se a considerar o comportamento da velocidade-renda
previsível (mas não constante) e k passa a ser uma função estável de um número restrito de
variáveis econômicas. Portanto:
Md = f (Y, W, r, π, τ) (3)
Neste comenos, a quantidade demandada de moeda (Md) está em função da
renda real (Y), da riqueza nacional (W), de um vetor de taxas de juros (r), da taxa de inflação (π)
e de (τ), que representa as preferências e expectativas dos agentes econômicos. Observemos as
palavras de Carvalho (2000) abaixo:
“Contudo, a conclusão do modelo de Friedman é semelhante a dos antigos teóricos quantitativistas, ou seja, que a demanda por moeda depende fundamentalmente da renda da comunidade [...] A visão monetarista trata a moeda como um ativo que rende um fluxo particular de serviços a seu possuidor [...] Em particular, a demanda por moeda depende do volume das transações, das frações da renda e da riqueza que o público deseja manter sob a forma de saldos monetários e dos custos de oportunidade de reter moeda em vez de outros ativos que produzem juros [...]” (CARVALHO et all, 2000, p.85-87)
Após os conceitos abordados de Friedman (1950), veremos outra versão da
TQM: uma explicação para a hiperinflação de Cagan (1956). Este define, em seu estudo, que a
hiperinflação: “começa no mês que o aumento dos preços ultrapassa 50% e termina no mês antes
que o aumento dos preços caia abaixo desse valor e que assim permaneça durante um ano”.
(idem, 2000, p.94)
Para fornecer uma explicação para a hiperinflação Cagan (1956) toma as
variáveis reais (Y, W, r) da equação de demanda por moeda de Friedman (1950) como
constantes, com base na suposição de que em períodos hiperinflacionários essas variáveis
gravitam em torno de seus valores naturais, conforme o pensamento clássico. Seguindo adiante,
Cagan (1956) introduz na equação 3, do modelo de Friedman (1950) a condição de equilíbrio do
mercado monetário P = (1/k) (M*/Y), que é uma recolocação da equação dos saldos monetários
de Cambridge (equação 2) em relação ao nível de preços (passando assim a ser uma equação
explicativa da inflação). Ele insere também, na equação de demanda por moeda, o conceito de
inflação esperada (π e). Assim temos:
πh = α + βΔπe + μ + ε (4)
Onde a taxa de hiperinflação (πh) é igual a: (α) mais (β) (ambas constantes)
multiplicado por (Δπe), que é a variação da taxa da inflação esperada, mais (μ) que é a expansão
monetária, mais o erro de previsão da inflação.4 Desse modo, a taxa de hiperinflação (πh), esta
diretamente relacionada com da taxa de expansão monetária (μ) e com a inflação esperada.
De acordo com Luque e Vasconcelos apud Gremaud (2004, p.336) a inflação é
um fenômeno monetário. Sendo que com a elevação dos preços monetários o valor real da moeda
é depreciado: “Entretanto, [...] isso não quer dizer que a solução passe simplesmente por um
controle de moeda”
Tocando em frente, veremos agora o mecanismo de oferta e demanda que
Keynes (1936) usou para mostrar as causas do processo inflacionário e a sua intensidade.
1.1.3 Teoria do Hiato Inflacionário
Keynes (1936) critica o modo como os economistas tratavam a teoria do
dinheiro e preços. Segundo ele, quando se tratava da Teoria do Valor estes economistas
explicavam o comportamento dos preços embasados nas condições de oferta e demanda, mas
quando se tratava de dinheiro e preços eles abandonavam esses “conceitos inteligíveis” e
passavam a falar em velocidade da moeda e uma gama de outros conceitos, sem tentar relacionar
essas “frases vagas” com as leis de elasticidade de oferta e procura (LEITE, 2000). Observemos o
que Mankiw (2004) coloca sobre a tentativa de modelação de Keynes:
“Em a Teoria Geral, Keynes propôs que a renda total de uma economia era, no curto prazo, determinada em grande parte pelo desejo de gastar das famílias, das empresas e do governo. Quanto mais as pessoas querem gastar, mais bens e serviços as empresas podem vender. Quanto mais as empresas vendem, maior o nível de produção que escolherão, e mais trabalhadores optarão por contratar [...] A cruz keynesiana é a tentativa de modelar essa percepção” (MANKIW, 2004, p. 178).
4 Embora Cagan tenha trabalhado com a suposição de expectativas adaptativas, modernamente seu modelo é baseado na hipótese
de expectativas racionais, de modo que a taxa de inflação corrente se ajusta instantaneamente às informações disponíveis, sendo o erro de previsão aleatório com média zero. (LEITE, 2000, p.591)
Como vimos, a explicação keynesiana para a inflação se dá através da Cruz
Keynesiana. Presume-se que a curva de oferta do produto é completamente elástica (horizontal)
até alcançar o pleno emprego (Yp), passando a ser inelástica (vertical) nesse ponto. Mas para
Keynes (1936) no “mundo real” as variações de demanda interagem com uma curva de oferta
relativamente inclinada (inclinada para cima, e não inelástica) causando variações no nível de
preços e em demais outros fatores como o emprego e produto, via função de produção. O hiato
inflacionário é a pressão sobre o nível de preços criada pelo excesso de demanda sobre o produto
potencial (Yp). Segundo Keynes (1936) apud Leite (2000) esta é a causa imediata da inflação.
Desse modo, de acordo com a Teoria do Hiato Inflacionário, o aumento da
demanda ao nível do produto potencial (Yp) causará apenas inflação sem nenhum efeito sobre o
produto nacional (Y), sendo o aumento da demanda podendo ser causado através do aumento do
consumo, investimento e gastos do governo, independente da expansão monetária.
1.1.4 Teoria do Duplo Hiato Inflacionário de Bent Hansen.
Em 1951 o economista sueco Bent Hansen complementa a teoria keynesiana
interligando os mercados de produto e trabalho. Ele demonstrou que pode haver inflação,
independentemente de pressões no mercado do produto. Desde que ocorram, também, variações
no mercado de trabalho.
Desse modo, o Hiato do Produto é a diferença entre demanda e oferta do produto
ao nível de pleno emprego. O Hiato do Fator Trabalho é a diferença entre a quantidade ofertada de
trabalho (pelas famílias) e a quantidade demandada do fator trabalho (pelas empresas) ao nível de
pleno emprego. A pressão inflacionária pode vir do mercado do produto ou do mercado de
trabalho, ou ainda, poderá haver segundo Hansen (1951) um mecanismo geral de espiral
inflacionária, pela qual um mercado transmite a pressão inflacionária a outro, criando assim um
círculo vicioso de inflação, se não for controlado. O processo inflacionário somente cessará se
desaparecer os dois hiatos (idem , 2000).
Neste contexto, observaremos agora uma maneira de explicar a inflação através
da relação entre duas variáveis observáveis: inflação e desemprego: A curva de Phillips.
1.1.5 Teoria Aceleracionista da Inflação
O advento da Curva de Phillips (1958) forneceu o instrumental necessário para
completar o modelo de demanda efetiva keynesiano relacionando as variáveis: inflação e
desemprego. A Teoria Aceleracionista da Inflação sugere, através da Curva de Phillips, um trade-
off entre inflação e desemprego.
A curva de demanda agregada desloca-se para direita quando a demanda
agregada cresce e, ceteris paribus5, haverá crescimento do produto e do emprego. Para um dado
aumento na força de trabalho, isso significa uma taxa de desemprego menor quanto mais rápida
for a taxa de crescimento da demanda agregada. Do mesmo modo, aumentos na demanda
agregada fazem o nível de preços subir. Assim, ceteris paribus, maior será a inflação quanto mais
rápida for a taxa de crescimento da demanda agregada (FROYEN, 1999).
A “grande melhoria” que houve no relacionamento Curva de Phillips e o modelo
de demanda agregada de Keynes (1936) foi relacionar variáveis que são estatisticamente
observáveis (exceto as expectativas), fato que não acontece apenas com o mercado de trabalho,
por exemplo. (LEITE, 2000)
Destarte, “a inflação é um grande indicador de como está indo a economia”
(HALL et all, 1989, p. 42). Uma inflação fora de controle acarreta em muitos problemas e
prejuízos para a sociedade. “O processo inflacionário, especialmente aquele caracterizado por
elevadas taxas e particularmente por taxas que oscilam, tem sua previsibilidade dificultada por
parte dos agentes econômicos e promove profundas distorções na estrutura produtiva”
(GREMAUD et al, 2004, p. 337).
As Teorias de Inflação são uma importante ferramenta para os formuladores de
política econômica. O aprimoramento destes instrumentos antiinflacionários é o que fornece o
embasamento necessário aos formuladores de política econômica. Em especial, podemos ver
como exemplo, o caso inflacionário brasileiro, que conviveu com uma inflação intensamente
complexa e conseguiu a estabilidade dos preços por meio do Plano Real.
Continuando nossa argumentação observaremos outra variável de grande
importância neste nosso modelo: o desemprego.
5 “[...] mantido inalterados todos os demais fatores, ou, permanecendo iguais todos os demais fatores” (ROSSETI, 2000, p. 83)
1.2 Desemprego
Conceitualmente, a taxa de desemprego é determinada pela distância relativa
entre a força de trabalho empregada e os contingentes demográficos das faixas etárias aptas para
o exercício de atividades produtivas. O desemprego reporta-se a pessoas que, pretendendo
trabalhar e tendo condições para tal (idade, qualificações, etc.) não encontram ocupação numa
atividade produtiva.
O desemprego praticamente tomou conta do pensamento macroeconômico da
maior parte do século XX. Como relata Mankiw:
“O desemprego é o problema macroeconômico que afeta as pessoas de modo mais direto e cruel. Para a maioria das pessoas, a perda do emprego significa um padrão de vida reduzido e uma angústia psicológica. Não surpreende que o desemprego seja um tema freqüente no debate político, e que os políticos muitas vezes aleguem que suas propostas econômicas ajudariam a criam empregos.” (MANKIW, 2004, p. 106)
1.2.1 Desemprego Voluntário, a Taxa Natural de Desemprego e o desemprego
Involuntário.
Vamos analisar o desemprego num referencial oferta e procura, sendo a oferta
de trabalho realizada pelas famílias e a demanda por trabalho realizada pelas empresas.
Num modelo de desemprego voluntário o que vai determinar a divisão da
população entre empregados e desempregados é o salário pago pelas empresas. O desemprego
determinado pelo salário de equilíbrio é chamado de desemprego voluntário. São denominados
desempregados voluntários os indivíduos que vivem de rendimentos provenientes de fatores de
produção de sua propriedade, estudantes que acumulam capital humano para posterior ingresso
no mercado de trabalho ou os membros de unidades familiares que se dedicam aos afazeres do
lar, além de indivíduos que preferem ficar “parados”6 diante de uma remuneração não satisfatória
(idem, 2004).
6 “Os trabalhadores cuja preferências indicam que a satisfação das horas livres é maior que aquela que poderia ser proporcionada
pelo salário real em vigor decidem voluntariamente não trabalhar” (CARVALHO et al, 2000, p.199).
A soma dos trabalhadores aptos para o trabalho é denominada como Força-de-
Trabalho. Visto que todo trabalhador está empregado ou desempregado, a força-de-trabalho é a
soma dos empregados e desempregados. (idem, 2004).
L = E + U (5)
Sendo L a força de trabalho, igual a E, o número de trabalhadores empregados,
mais U, o número de desempregados. Desse modo, a taxa de desemprego é a razão entre
desempregados e a força de trabalho U/L. Pressupomos que a força-de-trabalho (L) seja fixa,
quando não há variação no desemprego, significa que o número de indivíduos que está perdendo
emprego se iguala ao número de indivíduos que está obtendo emprego, nesse ponto chegamos à
Taxa Natural de Desemprego. Quanto menor a taxa de separação do emprego menor será a taxa
natural de desemprego e vice-versa. Do ponto de vista do acompanhamento do desempenho da
economia o desemprego voluntário não é tão preocupante, nem objeto de políticas
macroeconômicas, até porque na maior parte dos casos resulta de preferências individuais (idem,
2004).
O que causa uma maior preocupação para as políticas macroeconômicas é o
desemprego involuntário, isto é, aquele contingente que mesmo procurando emprego e estando
apto ao mercado de trabalho não encontra ocupação. “Apresenta-se uma possibilidade que é o
fato de se fixar um salário acima do salário de equilíbrio. Quando isso acontece ocorre um
excesso de oferta de trabalho relativamente à procura”.7 O desemprego que se situa entre a oferta
e a demanda por trabalho chama-se desemprego involuntário, porque os trabalhadores querem
trabalhar aquela taxa salarial, não existe é demanda suficiente por parte das empresas.
Indo mais a fundo, podemos denominar alguns tipos de desemprego que são
caracterizados pela forma da sua decorrência. São alguns exemplos de tipos de desemprego, o
desemprego friccional, o desemprego conjuntural e o desemprego estrutural.
De acordo com Chahad apud Gremaud et al (2004, p. 390) o desemprego
friccional: “[...] surge em decorrência do processo dinâmico que caracteriza o mercado de
7 EMPREGO. Disponível em: <http://www.geocities.com/joaoaldeia/txt/eco192.htm> Acessado em: 11 mai 2005.
trabalho, na qual o sistema de informações sobre a oferta de vagas disponíveis no sistema
produtivo é imperfeito.” As capacidades diferentes e os diferentes atributos exigidos, as
informações assimétricas, a delonga mobilidade geográfica dos trabalhadores, e as variações
setoriais8 são variáveis que causam o desemprego friccional. Um exemplo de política adotada
pelo governo para a diminuição do desemprego friccional é o seguro desemprego. Por esse
programa, mesmo depois de perderem o emprego, os trabalhadores ainda continuam recebendo
uma fração de seu salário.
No entanto, como a economia está sempre em transformação, é inevitável
algum desemprego friccional. Enquanto a oferta e a demanda por trabalho entre empresas e
trabalhadores estiverem mudando, o desemprego friccional será inevitável (MANKIW, 2004).
Outra razão para a existência ou o aumento do desemprego involuntário é
geralmente atribuída a motivos cíclicos ou estruturais. O desemprego conjuntural resulta de
flutuações da procura agregada ou de movimento sazonais de produção, como por exemplo, o
que ocorre em áreas rurais nas entressafras. Alguns setores da economia são particularmente
sensíveis a este tipo de desemprego, como é o caso da construção de edifícios, por exemplo.
Quando a economia entra em recessão diminui o investimento das empresas, nomeadamente a
construção de instalações, tal como diminui a compra de habitações pelos particulares. Muitos
trabalhadores do setor de construção vão para o desemprego. Todavia, a situação se inverte
quando regressa a fase de expansão, e estes mesmos trabalhadores voltam a serem contratados.
(ROSSETI, 2000)
O terceiro tipo de desemprego supracitado é o desemprego estrutural. Este se
relaciona com a estagnação da economia, com o desajustamento crônico entre oferta e demanda e
com a com a má utilização das políticas macroeconômicas. É característico de economias
periféricas, mas não é uma exclusividade delas. Alguns exemplos do motivo para o desemprego
estrutural é a falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento (tanto em capital físico quanto
em capital humano) do país que faz com que sua produção perca a competitividade e que o país
entre em colapso. O desemprego estrutural é o mais grave, devido ao fato de as crises setoriais
serem de difícil recuperação e o desemprego tende a ser de muito longa duração necessitando de
ajuda dos governos. (idem, 2000)
8 Mudança na composição da demanda entre indústrias ou regiões (MANKIW, 2004, p. 108)
Segundo Mankiw (2004) uma das explicações para este tipo de desemprego é a
rigidez dos salários, isto é, “[...] a impossibilidade do salário de se ajustar até que a oferta de
trabalho iguale a demanda por trabalho” (MANKIW, 2004, p.110).
As três causas dessa rigidez salarial são:
i) As leis do salário mínimo: a lei do salário mínimo impede que os salários caiam a níveis de
equilíbrio. Para muitos trabalhadores, especialmente os não-qualificados e os inexperientes, o
salário mínimo aumenta o ganho acima do nível de equilíbrio, reduzindo assim a quantidade de
trabalho dessas pessoas que as empresas demandam;
ii) O poder dos sindicatos trabalhistas: as negociações entre líderes sindicais e empresas
determinam, também, um salário acima do de equilíbrio. Dessa forma ocorre uma redução de
oferta de empregos e um desemprego estrutural maior;
iii) Os salários de eficiência: segundo as empresas, baixar os salários poderia diminuir também a
produtividade e os lucros da empresa, isso devido ao custo de treinamento ou de recrutamento de
mão-de-obra qualificada.
Assim como o problema inflacionário, o desemprego é o ponto de convergência
de muitas teorias e pesquisas. Veremos agora algumas das teorias de desemprego, passando pelo
pensamento clássico, pela crítica de Keynes e pela visão monetarista sobre o desemprego.
1.2.3 Desemprego Clássico
De acordo com Froyen (1999) os economistas clássicos reconheciam
claramente os custos humanos do desemprego, o qual foi posto com extrema sensibilidade, por
exemplo, por Alfred Marshall (1922)9:
“A interrupção forçada do trabalho é um mal lamentável. Aqueles que têm um sustento seguro obtêm saúde física e mental em férias felizes e bem aproveitadas. Mas a vontade
9 MARSHALL, Alfred. Money and Commerce. Londres, Macmillan, 1922, p. 260
insatisfeita de trabalhar, com longa e contínua ansiedade, consome as melhores forças de um homem, sem nada acrescer. Sua esposa emagrece, e seus filhos ganham. Como que, uma mácula terrível em suas vidas, que talvez nunca consigam superar.” (FROYEN, 1999, p.90).
Marshall (1922) apud Froyen (1999) notou a existência do desemprego e
afirmou em seus trabalhos que o investimento em conhecimento seria a cura para esse mal. Para
evitar falências e desemprego os trabalhadores e as empresas deveriam investir em conhecimento.
No entanto, a teoria clássica de equilíbrio e os economistas clássicos não tinham muito mais a
oferecer. O que dificilmente serviria de embasamento para o problema do desemprego nos anos
1920. A questão tratada daquele momento era a conveniência dos gastos públicos para solucionar
o desemprego. (o que atualmente denominamos: política fiscal expansionista).
A situação de desemprego maciço no início dos anos 1930 não foi bem
explicada pela teoria clássica, que também não conseguiu oferecer quaisquer soluções razoáveis
para ela. Neste contexto, economistas e políticos defenderam várias ações de política econômica,
incluindo a realização de obras públicas, para tentar aumentar a demanda agregada. Os
economistas clássicos salientaram que essas políticas não iriam funcionar no sistema clássico,
onde o produto e o emprego não são determinados pela demanda. O que Keynes (1936)
questionou:
“A força da escola do ajustamento automático decorre do respaldo de quase todo o corpo do pensamento organizado e da doutrina dos últimos cem anos [...] Eles estão profundamente insatisfeitos. Acreditam que a mera observação seja suficiente para mostrar que os fatos não correspondem ao raciocínio ortodoxo. Propõem soluções incitadas pelo instinto, pelo faro, pelo bom senso, pela experiência mundo, parcialmente certas, quase todas, parcialmente erradas.”(apud FROYEN, 1999, p.92 )
1.2.4 Crítica de Keynes
Conforme a tese de mestrado de Edward Joaquim Amadeo Swaelen (1987),
Keynes (1936) ironiza o pensamento clássico que coloca que apenas uma redução dos salários
nominais serviria para estimular a demanda, para ele é irreal imaginar que: “[...] simplesmente
que uma redução nos salários nominais, ceteris paribus, estimula a demanda ao diminuir o preço
do produto final, fazendo crescer, assim, o produto e o emprego” (SWAELEN, 1987, p.17).
Keynes (1936) apud Swaelen (1987) afirma que este argumento tem em si
embutido uma “falácia de composição”: “supor que quando os salários caem (e, via redução dos
custos, os preços caem), a quantidade dos produtos de cada indústria crescerá, depende da
hipótese de que a curva de demanda por este produto continuará a mesma”. (idem, 1987, p. 17).
Mas devido à redução nas rendas dos trabalhadores, essa curva, ao novo salário nominal,
provavelmente sofrerá um deslocamento para a esquerda. Tanto a curva de demanda D(W0)
quanto a curva de oferta S(W0) se deslocará para D(W1) e S(W1) respectivamente, devido a
redução dos salários, e o efeito final nem sempre será crescimento do produto e emprego. Na
figura 1, abaixo, percebemos que o deslocamento da curva é tal que o nível de produto e emprego
permanece inalterado após a redução do nível de salários de W0 e W1.
Figura 1 - Relação Preço/Produto, Emprego, e salário nominal.
P S(W0)
P0 S(W1)
D(W0)
P1
D(W1)
Y* Y
Fonte: SWAELEN, 1987, p.18
De acordo com Keynes (1936) os clássicos supõem que com a redução dos
salários, os empresários vêem crescer seus lucros e, devido a isso aumentam a produção e o
emprego. Em contra partida, Keynes (1936) relata que só haverá demanda por estes produtos se a
“propensão a gastar” dos empresários (seja em consumo, ou em investimento) for igual ou maior
que à propensão a consumir dos trabalhadores cuja renda caiu. “Numa recessão, quando as firmas
têm capacidade ociosa não planejada, parece razoável supor que a propensão a gastar, pelo menos
a partir dos lucros retidos, será menor que a dos trabalhadores”. (idem, 1987, p. 18).
Segundo Keynes (1936) apenas se houver algum efeito sobre os três
determinantes da demanda efetiva, a redução do salário nominal afetará o nível de emprego.
Isto é, sobre: a eficiência marginal do capital, a preferência pela liquidez ou a propensão a
consumir. Vamos ver esses efeitos:
i) o primeiro desses efeitos, a eficiência marginal do capital, refere-se a uma redução dos salários.
Mesmo que essa redução nos salários seja totalmente repassada para os preços, não significa que
estes se reduzirão na mesma proporção aqueles. Isto simplesmente porque os salários não
representam cem por cento (100%) dos custos. Ou seja, uma redução dos salários nominais
significa a queda da renda real dos trabalhadores;
ii) o segundo efeito, via preferência pela liquidez, ou seja, sobre a taxa de juros. Se a quantidade
de moeda é uma função do nível de preços, dada a renda real ou o nível de emprego (moeda
endogenamente determinada), uma redução dos salários e preços não teria qualquer efeito sobre a
taxa de juros. Isto porque com a redução dos salários e preços a demanda de moeda se reduzirá e
com ela a quantidade de moeda. Desse modo, não há nenhum efeito sobre a liquidez do sistema.
Se, por outro lado, uma redução dos salários e preços faz crescer a oferta real de moeda (a oferta
de moeda é fixa em termos nominais). O efeito será igual ao que decorre de um aumento na
quantidade de moeda, mantido constantes os salários e preços, isto é, a redução da taxa de juros.
Neste caso, Keynes argumenta que, estando a economia em recessão, a queda da taxa dos juros
teria pequeno efeito sobre o nível de atividades, uma vez que a eficiência marginal do capital está
muito baixa. Em outras palavras, com excesso de capacidade ociosa, os empresários não reagem
a reduções na taxa de juros.
iii) no terceiro efeito: a propensão marginal a consumir, Keynes argumenta que os outros agentes,
os rentistas como chama Keynes, cuja renda independa da taxa de salário terão seu poder de
compra aumentado devido à redução dos preços. O efeito final sobre a demanda depende da
propensão marginal a consumir a partir de sua renda de trabalhadores e rentistas. Se a propensão
dos rentistas é tal que, dado o crescimento de sua renda real, não compense a redução do
consumo dos trabalhadores, a demanda deverá cair.
Deste modo, o emprego, segundo a análise de Keynes, depende apenas do nível
de Demanda Efetiva; esta, por sua vez, é determinada pela propensão a consumir, pela eficiência
marginal do capital e pela taxa de juros. Como foi observado, o nível de salário nominal tem
pequena ou nenhuma importância na determinação da Demanda Efetiva e, por conseguinte, na
determinação do emprego.
1.2.5 A visão monetarista
O ataque Keynesiano à ortodoxia clássica foi bem-sucedido. No entanto, os
economistas Keynesianos atribuíam pouca importância macroeconômica à oferta de moeda. O
monetarismo começou como uma tentativa de reafirmar a importância econômica da moeda e,
portanto, das políticas monetárias.
Os monetaristas sustentam a hipótese da existência de uma taxa natural de
desemprego. Essa taxa natural de desemprego reúne as características estruturais e institucionais
do mercado de trabalho e do mercado de bens, a mobilidade de troca de emprego, as assimetrias
de informações, variações sazonais, imperfeições de mercado, tecnologias, etc. Quando a
economia está na sua taxa natural de desemprego somente haverá desemprego friccional e
voluntário (CARVALHO et al, 2000)
Segundo os monetaristas, essa taxa natural não é imutável. “[...] muitas
características institucionais podem ser alteradas, por exemplo, podem ser melhorados os
processos de informação sobre as vagas disponíveis, alterando dessa forma a taxa natural de
desemprego” (idem, 2000, p.200).
A economia estará em equilíbrio quando a taxa efetiva de desemprego for igual
à taxa natural. Quando for diferente, existirão trabalhadores cujas preferências não estão sendo
satisfeitas. Isto é, quando haverá desemprego involuntário.
Partindo de uma situação de equilíbrio, um aumento na quantidade de moeda
provocará a redução da taxa corrente de desemprego em relação à taxa natural. Em outras
palavras, como o nível de preços é função do estoque de moeda (no modelo monetarista), o
salário nominal se elevará causando assim uma “ilusão monetária” nos trabalhadores que
preferiram trabalhar àquele salário a ficarem parados. Dessa forma a taxa de desemprego atual
torna-se menor que a natural. Entretanto, o salário real ainda continua o mesmo, e ao perceberem
isso, à posteriori, os trabalhadores voltarão a se tornar desempregados voluntariamente10.
Desse modo, mudanças na demanda agregada causam mudanças temporárias
na economia. A política monetária expansionista, citada acima no texto, deslocaria a taxa de
desemprego para baixo da natural. Friedman (1950) apud Carvalho et al (2000, p. 201-202)
acredita que, ao longo de um período mais amplo, forças de equilíbrio fazem os níveis de produto
e emprego retornarem a sua taxa natural.
Segundo Carvalho (2000) para que o desemprego continue abaixo da sua taxa
natural, deverá ser implementada uma política de aumento das variações positivas do estoque de
moeda. Contudo, a inflação será sempre crescente. O desemprego ficará em um nível inferior a
sua taxa natural se os trabalhadores subestimarem a inflação futura de forma permanente11.
Não é possível, na visão de Friedman (1950), o governo usar uma política
monetária para manter a economia permanentemente em um nível de produto que conserve a taxa
de desemprego sempre abaixo da natural. Pelo menos, isso não será possível para os
formuladores de políticas econômicas, a menos que estejam dispostos a aceitar uma taxa de
inflação sempre crescente.
A teoria da taxa natural de desemprego de Friedman (1950) implica que os
formuladores de políticas econômicas não podem fixar arbitrariamente uma meta para a taxa de
desemprego. Tentativas de levar a taxa de desemprego abaixo da taxa natural, aumentando a taxa
de crescimento da demanda agregada, terão sucesso apenas no curto prazo. A taxa de desemprego
retornará, gradualmente, à taxa natural e o efeito final da política expansionista será uma taxa de
inflação mais alta.
Além da teoria de Keynes (1936) e de Friedman (1950), há outras explicações e
teses sobre o desemprego. Percebe-se, por exemplo, desde os anos 70, o surgimento de inúmeras
teorias alternativas. Um exemplo atual é o livro: Globalização e desemprego, diagnóstico e
10 A idéia demonstrada aqui parte de um modelo da Curva de Phillips com Expectativas Adaptativas (CARVALHO et al 2000, p.
201).11 Esse modelo monetarista é embasado na Curva De Phillips Aceleracionista (CARVALHO et al, 2000, p. 203).
alternativas (Singer, 1998), que apresenta a economia solidária como alternativas para reduzir a
exclusão sócio-econômica no Brasil.
Abordou-se até aqui os conceitos básicos de inflação e desemprego, as teorias
dos determinantes da inflação e as teorias do desemprego. Veremos agora, no próximo capítulo,
uma análise histórica da inflação e do desemprego brasileiro.
2 – ANÁLISE DA INFLAÇÃO E DO DESEMPREGO NA ECONOMIA BRASILEIRA
O Brasil possui um histórico inflacionário bastante complexo com inúmeros
planos de estabilização, que procuraram diagnosticar e combater o problema inflacionário. Do
mesmo modo, o problema do desemprego no Brasil sempre esteve à tona.
O objetivo deste capítulo é demonstrar a “evolução” da inflação relatando os
períodos inflacionários, as crises e os planos heterodoxos e ortodoxos de estabilização, os
primeiros cálculos inflacionários e a “estabilização” em 1994, com o plano real. Além disso, será
demonstrado, na segunda parte do capítulo, o problema do desemprego: a “saída do estado
empresário” de empresas estatais importantes, a repercussão das privatizações brasileiras, a
abertura comercial e o novo paradigma do trabalho em de meados de 1990.
Comecemos, então, com uma análise da inflação brasileira.
2.1 Análise da Inflação Brasileira
Os primeiros cálculos da inflação no Brasil foram em 1920, com o surgimento
dos primeiros institutos de pesquisa. No entanto, os resultados não refletiam a realidade do país,
pois eram baseados nos gastos de apenas uma família: a de Leo Fonseca Jr. que pertencia a classe
média alta da população.12
Em 1936, com a criação do salário mínimo, o cálculo sofreu várias
reformulações e passou a ser calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Sob denominação
12 O QUE É INFLAÇÃO e como ela afeta seu bolso. Disponível em: <http://dolexplica.dgabc.com.br/0412inflaçao_abre.asp>.
Acessado em: 02 nov. 2004
de Índice de Custo de Vida (ICV). Nessa época, foram criadas novas formas de se calcular a
inflação, baseadas em cestas de consumo (um grupo de produtos considerados essenciais pelos
brasileiros cuja variação dos preços era calculada mês a mês).13
Em 1945, na reconstrução pós-guerra a economia se mostrava estável. Neste
período o país estava passando por grandes mudanças estruturais, tanto no setor real
(industrialização), quanto no setor financeiro (criação de instituições não bancárias). Há nesse
período uma inflação de crédito e estrutural com uma mudança gradativa na composição dos
meios de pagamento, com o efeito multiplicador da moeda escritural exercendo-se com maior
impacto. Desse modo, amplificou-se o efeito inflacionário das emissões primárias de moeda
(ROSSETI, 2000, p.708).
No início da década de 1960 a inflação sobe para 90% a.a.; greves e
movimentos contra a ditadura geram um ambiente anárquico, as esquerdas tentam implantar o
socialismo no Brasil (DREIFUSS, 1981). Em meio à redução do produto agregado, estabeleceu-se
um processo inflacionário inusitado. Analistas do período tecem a opinião de que os déficits de
caixa do governo central atuaram como fatores básicos para uma expansão da oferta monetária no
período (idem, 2000, p. 709).
Neste contexto inflacionário e diante de um total descontrole da sociedade civil
os militares dão um golpe (1964) e assumem o poder. Mas, segundo R.A. Dreifuss. (DREIFUSS,
1981), na sua tese de doutorado, ao contrário do que muitos pensam, o golpe foi arquitetado pela
elite empresarial brasileira e não pelos militares.
Com os “militares” no poder, surge a primeira intervenção para conter a
inflação, tendo como base a aplicação de controles ortodoxos. Os fatores diagnosticados como
causadores do surto inflacionário do período anterior foram objetos de controles rígidos. Conteve-
se a oferta monetária, reformaram-se o sistema financeiro e a estrutura tributária e a inflação
recuou. Neste período foi utilizado o Paeg (Programa de Ação Econômica do Governo) que
diagnosticou a inflação apontando o défict público, a expansão de crédito as empresas e as
majorações de salários em proporção superior ao aumento da produtividade como as três causas da
inflação brasileira vigente na época. No entanto, Fishlow (1973) apud Cysne (CYSNE, 1985,
p.401-422) conclui pela não-validade desta análise, ao menos no que diz respeito ao papel do setor
privado dos anos imediatamente anteriores a 1964:
13 idem.
“Yet the analysis of the role of the private sector in that experience is clearly defective. Real minimum wages had increased less than productivity change from 1959 through early 1964. Real bank loans to the private sector had also shown steady decline. Since inflation accelerated nevertheless, neither merits the importance the stabilization plan attache to these elements (CYSNE, 1985, p. 408).
Fishlow (1973) argumenta que a análise do papel do setor privado naquela
experiência esta claramente defeituosa. O salário real tinha aumentado menos que a produtividade
de 1959 a 1964 e os empréstimos bancários para o setor privado também tinha declinado naquele
período. Para ele, o plano de estabilização não deu importância para estes elementos desde que a
inflação começou a aumentar.
Reforçando a análise de Fishlow (1973), Cysne (CYSNE, 1985) argumenta que
o Paeg esquece que as teorias de inflação são teorias de preços ex-ante, não fazendo nenhum
sentido a análise de suas possíveis causas através do deflacionamento “ex-post” das mesmas.
Na década de 1970 a inflação ainda mostrava sinais de alta, mas as taxas não
eram mais divulgadas. Os dados do período são duvidosos, já que alguns órgãos oficiais teriam
sido forçados a manipular os números para baixá-los.14
Há nesse período uma inflação reprimida. No entanto, a impulsão dos custos
(resultantes dos choques de oferta do cartel do petróleo) acrescentada aos fatores internos de
origem financeira que pressionavam a demanda agregada para cima, pôs fim à “insólita equação”
mantida até o momento (nos sete primeiros anos do período 1968-1979 os meios de pagamento
cresceram duas vezes mais que os preços). No final deste período havia ainda outro componente
realimentador do processo inflacionário: a indexação da economia (decorrente da prática
generalizada da correção monetária sobre as mais variadas formas de contrato nos setores real e
financeiro) (ROSSETI, 2000).
De 1980 a 1985 ocorre então o Programa de Estabilização, de caráter ortodoxo,
que ocorreu no final do Governo Figueiredo, sob a batuta do ministro Delfim Neto, baseado no
esforço para reduzir o déficit público e num rígido controle monetário. O resultado dessas políticas
foi uma forte recessão no período 1981-1983, que ocorreu sem que isso levasse à queda da
inflação. Desse modo, o governo se viu forçado a tentar repetir a estratégia desenvolvimentista da
14 A HISTÓRIA DA INFLAÇÃO NO BRASIL. Disponível em: <http:// dolexplica.dgabc.com.br/0412inflacao_brasil.asp>.
Acesso em: 02 nov. 2004.
década anterior, afrouxando os controles e promovendo a expansão econômica. (que além de mais
fácil de atingir, é muito mais popular) (LEITE, 2000).
Sob sustentação de uma correção monetária generalizada instalava-se um
processo inercial de inflação. A inflação passada reproduzia-se no presente, animando um
movimento ascendente de alta de preços. As expectativas dos agentes econômicos levaram à
adoção de indexadores contratuais e a remarcação de preços, sobretudo em mercados
imperfeitamente competitivos.
Neste contexto, devido ao mau êxito da política ortodoxa do Plano de
Estabilização, combinado com a ascensão ao poder de uma nova corrente política, que nos anos
anteriores se opusera ao regime militar. Em 1986, um grupo de economistas associados à escola
estruturalista e à teoria da inflação inercial, cujos nomes (Francisco Lopes, André Lara Resende,
Adroaldo Moura da Silva, Maria da Conceição Tavares, Pérsio Arida, João Sayad, Luiz Bresser
Pereira, Luiz Gonzaga Belluzo, além de outros) e seus trabalhos constam do livro organizado por
Rego (1986), aparece m junto ao recém instalado governo federal (ROSSETI, 2000). Há nesse
período inúmeros diagnósticos como:
i) L.C. Bresser (1983) apontava para uma inflação do tipo estrutural derivada de um
capitalismo tecnoburocrático;
ii) A. Moura da Silva (1981) buscava ainda no monetarismo uma explicação lógica para o
processo de alta;
iii) F.P. Lopes (1989) apontava para causas inerciais; e
iv) W. Baer (1987) procurava sintetizar: a tradição ortodoxa, o neo-estruturalismo, os
mecanismos de propagação por choques externos e o caráter inercial da indexação.
A resposta a todos esses diagnósticos foi o Plano Cruzado, a primeira tentativa
heterodoxa de controle da inflação no país, que tinha como sustentação:
i) Criação de uma nova Moeda: o Cruzado;
ii) Extinção da indexação;
iii) Congelamento dos preços públicos e privados; e
iv) Fixidez da taxa de câmbio.
Apesar de controlar temporariamente as expectativas de inflação, o plano
cruzado cria um intenso processo de “monetização”15 na economia, ampliando as pressões sobre
o setor real. (em função dos preços congelados e os ativos financeiros quase-monetários
desindexados).
“A procura por bens e serviços de toda categoria, de consumo e de produção, tornou-se exacerbada. Em mercados paralelos, à margem do congelamento decretado, os preços efetivos passaram a incorporar ágios, cuja magnitude variou segundo os desajustamentos entre uma oferta rígida e uma procura expandida. No final de 1986, os ágios sinalizavam a existência de inflação reprimida. Esta alimentada pela expansão da oferta de moeda, pela elevação dos níveis de salário e de emprego e pela redução da pressão fiscal sobre a renda corrente, a inflação voltou a manifestar-se com vigor ainda maior que o observado antes da adoção do plano cruzado.”(ROSSETI, 2000, p.710).
A inflação passou de 72,53% a.a. em 1986, para 363,37% a.a. em 1987.16 Em
resposta ao problema inflacionário surge um novo plano, o Plano Bresser em 1987, trata-se de
um novo programa de estabilização, que representava uma tentativa de reeditar o choque
heterodoxo do Plano Cruzado sem os erros de que este estivera eivado. O ministro Bresser
Pereira apresenta, então, as novas medidas: congelamentos de preços, salários, aluguéis e da taxa
de câmbio, bem como um sistema de indexação defasada de salários e preços. Mas, desta vez, o
plano não surpreendeu e nem contou com o apoio popular que tinham beneficiado o Plano
Cruzado. Os setores prejudicados reagiram especialmente nos preços, houve reivindicações de
aumentos salariais por parte das empresas estatais, dos governos estaduais e de setores do próprio
governo federal. Novamente como aconteceu com o Plano de Estabilização de Delfim Neto, o
temor de provocar uma recessão levou ao afrouxamento dos controles monetários e o resultado
líquido dessas reações foi a expansão da demanda agregada. A inflação mensal retornou a dois
dígitos e terminou o ano em novo patamar recorde de 400% a.a. (LEITE, 2000).
Em 1988, no Governo Sarney, o então ministro Maílson da Nóbrega recorreu a
uma combinação restritiva de políticas: monetária e fiscal; correspondente ao método ortodoxo-
gradualista de combate à inflação, que teve o modesto título: “Política do Feijão com Arroz”. O
15 O poder de compra ficou mais forte e com isso a renda das pessoas. 16 A HISTORIA DA INFLAÇÃO NO BRASIL, disponível em: <http:// dolexplica.dgabc.com.br/0412inflacao_brasil.asp>.
Acesso em: 02 nov. 2004.
resultado foi um recorde inflacionário na ordem de 1000% a.a., além da estagnação do PIB (idem,
2000).
Segundo declarações do próprio Presidente José Sarney, o ano de 1988 foi
reservado para reformas a ao ajustamento dos preços relativos, para que o novo plano pudesse ter
sucesso. Em 15 de janeiro de 1989, através do Plano Verão, com novo congelamento de preços,
salários, aluguéis e câmbio, surge o novo plano heterodoxo. Esse plano trouxe consigo uma nova
moeda: o “Cruzeiro-novo”. O governo se propôs a não gastar mais do que arrecadasse, além
disso, houve muitos cortes em ministérios, e em cargos governamentais. Mas já tinha sido tomada
providência defensiva contra o congelamento pelo empresariado brasileiro. Os preços praticados
eram “superinflados”, não eram preços reais. (Em muitos casos, especialmente na área de
produtos industriais, os descontos sobre os preços atingiam 80% a 90% do suposto preço do
produto) (idem, 2000).
Esse plano não teve, por conseguinte, praticamente nenhum efeito. Os preços
congelados continuaram subindo através do artifício da redução do desconto. O déficit público
estabeleceu novo recorde ao atingir o nível de 6,9% do PIB, ao final de 1989. A inflação chegou
ao patamar de 50% ao mês, o que segundo a definição de Phillip Cagan (1956), caracteriza um
estado de hiperinflação (CARVALHO et al, 2000, p.94)
A Situação no país era um caos, em virtude da hiperinflação e de um déficit
público gigantesco que continuavam crescendo de forma assustadora através de uma espiral:
preços, salários e juros, acelerada pela força do processo de indexação.
Surge então, mais um plano, o Plano Collor, que a princípio, conseguiu
resultados favoráveis, mas com alto custo para a classe média (que chegou, por exemplo, a ter
suas poupanças bloqueadas). Os efeitos do plano funcionaram por um curto período de tempo.
Via de regra, a inflação estava fora de controle.
Essas outras tentativas que sobrevieram o plano cruzado, em 1987, 1989, 1990:
prefixações, congelamentos parciais, confisco de ativos financeiros. A cada tentativa, as taxas
recuavam, sob o impacto de cortes fundos na liquidez geral da economia, controles
administrativos diretos sobre preços e mudanças de regras contratuais. Mas, a recorrência do
processo sobrepunha-se a todas as medidas. Entre os planos, os preços caminhavam, sempre com
velocidade crescente, para fronteiras próximas da hiperinflação aberta. Apesar da sucessão de
reformas monetárias, a moeda se desqualificava. Uma a uma, as funções da moeda se corroeriam
da reserva de valor à unidade de conta.
Nesse contexto, cria-se mais um plano. Esse não tão “às pressas” como os
demais, (não que não houvesse a necessidade). A princípio cria-se a Unidade Real de Valor
(URV), definida como idéia chave do plano de estabilização ainda em curso no país. A URV foi
criada como um indexador universal e uma quase-moeda, recuperando, em seqüência inversa, as
funções perdidas pelo cruzeiro (SANDENBERG, 1995). Assim a URV coordenou os preços, à
medida que todos a usavam como indexador, tornou-se unidade de conta e, em seguida, já como
real, meio de pagamento e reserva de valor. Como relata Gustavo Franco (1995) apud Rosseti
(2000, p. 710): a URV foi construída, do ponto de vista econômico e jurídico, para recuperar as
funções da moeda, destruídas pela hiperinflação. A partir de 1994, com o lançamento do Plano
Real, que deu a presidência ao então ministro Fernando Henrique Cardoso, o índice de preços
finalmente despencou. Este processo de regeneração da moeda e de regeneração substitutiva do
padrão monetário foi complementado por um conjunto de medidas que garantissem a
estabilização dos preços em reais. Segundo Rosseti (2000, p. 711) essas medidas são:
i) Recuperação do controle da oferta monetária, definindo novos critérios para a emissão da nova
moeda;
ii) Forte restrição de liquidez;
iii) Sustentação do câmbio valorizado;
iv) Ampla abertura da economia, junto com a redução dos mecanismos protetores, buscando não
só o efeito “demonstração” dos preços dos produtos externos, como também o reabastecimento
de segmentos de mercado que tiveram forte expansão com o “efeito riqueza” gerado pelo fim do
“imposto inflacionário”.
Depois de vários sobressaltos provocados por várias crises econômicas,
atualmente a inflação se mostra sob controle, bem próxima das metas estipuladas pelo governo.
Tendo como principal variável de ajuste utilizada pelas autoridades monetárias a administração
da Taxa de Juros SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia. “Flutua-se para cima e
para baixo basicamente ao redor da mesma média. O Banco Central precisa provar que há esta
tendência assustadora da inflação”, relata o economista Delfin Neto (2003) , em alusão a uma
declaração do (então) presidente do BANCO CENTRAL, Henrique Meirelles, sinalizando mais
alta de juros por causa da inflação17. Voltando-se também as preocupações ortodoxas de inflações
de custo.
“Os aumentos nos preços administrados, devido à disparada do preço internacional do petróleo, poderão fazer com que a inflação supere o limite de 5,5% em 2002, acordado como FMI. Para evitar o descumprimento da meta, o Banco Central poderá interromper as reduções na taxa de juros, comprometendo o crescimento da economia brasileira no médio prazo.”18
A inflação brasileira está atualmente a níveis “suportáveis” e bem próxima à
média buscada pela Política de Metas de Inflação, mas a preocupação com a estabilização
continua forte e causando impasses políticos entre alguns setores da economia e o governo.
Veremos agora na segunda parte deste capítulo uma análise sobre o desemprego
no Brasil.
2.2 - Análise do desemprego no Brasil.
Até 1900, no Brasil e em quase todos os países do mundo teoricamente toda a
população trabalhava (exercia alguma atividade na sociedade). A existência de desempregados
era tratada pela sociedade como caso pejorativo.
“A história do desemprego acompanha os passos do assalariamento da força-de-trabalho. Não se pode falar de desemprego de um escravo ou de um cervo, já que tempos sociais privados de trabalho assalariado coincidiam nessas sociedades; da mesma forma que não se pode falar de desemprego para os trabalhadores autônomos e independentes da atualidade, que dispõem de seus próprios instrumentos de trabalho. O nível de atividade e de renda desses indivíduos varia de acordo com suas próprias possibilidades de vender o produto de seu trabalho e não suas própria força de trabalho (MENEZES et al,, 1999)
17 O BANCO CENTRAL TEM QUE PROVAR QUE A INFLAÇÃO AUMENTOU. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/uolnews/economia/delfim/2004/10/05/ult2620u1.jhtm> Acessado em 05 out 2004.18 DOMINGUES, Ronald. O humor nas Arábias e a inflação no Brasil. Disponível em:
<http://economiabr.net/colunas/domingues/01inflacao.shtml?id703> Acessado em : 29 abr 2004.
Em 1929 com a grave crise social em que milhares de pessoas perderam o
emprego e passaram a serem desempregados involuntariamente, além das crises econômicas
subseqüentes da década de 1930, o desemprego começa a aparecer como conseqüência do modo
de funcionar do modelo econômico vigente. Nesse contexto gerou-se então uma tese de que o
Estado seria responsável para buscar soluções para o desemprego, já que o mercado não
resolveria o problema com suas “forças naturais” (FROYEN, 1999, p. 88-92).
O Estado assumiu este papel de 1930 a 1990. E há uma consciência geral de
que os gastos públicos em educação, serviços públicos em geral, gastos com infra-estrutura,
saúde, administração, etc. eram responsáveis pela maioria dos empregos gerados na sociedade.
De acordo com Froyen (1999, p. 88-92), na economia brasileira, em meados de
1970 começaram a se firmar os sinais de rompimento da base de sustentação política do modelo
desenvolvimentista vigente. A ruptura desse modelo deu-se nos anos 1980. A crise econômica do
Brasil neste período abalou a conformação sócio-econômica construída nas décadas de 1950 a
1970, que tinha como eixo a industrialização e o Estado regulador das relações internas e
externas da economia nacional.
A desarticulação do padrão de desenvolvimento do Brasil acontece
concomitantemente à emergência de um novo padrão tecnológico e produtivo em nível mundial,
resultado de um processo de desestruturação da ordem econômica mundial e da crise que começa
atingir o mundo capitalista. (MENEZES et al, 1999)
No Brasil, até os anos 1980, tivemos aumento significativo do emprego
assalariado. Contudo, com o agravamento dos déficits públicos e do padrão de desenvolvimento
nacional, a partir dessa década, o quadro de crescimento do emprego foi alterado. Neste período,
o emprego assalariado com carteira cresce em proporção menor que o “assalariamento” sem
carteira e a ocupação por conta própria (POCHMANN, 2002, p. 73). Há um aumento das
atividades informais e a busca de formas alternativas para complementar o rendimento familiar,
simultaneamente ao aumento da participação da mão-de-obra feminina e do emprego de menores.
(MENEZES et al,1999)
A década de 1980 foi marcada por altas taxas inflacionárias e baixas taxas de
crescimento econômico, sendo esta considerada como “década perdida”.19 A estagnação da
19 Se, em termos econômicos, a década de 1980 foi considerada como perdida, em termos políticos e sociais, isto foi diferente, pois tivemos uma grande participação e atuação dos sindicatos e movimentos sociais, houve assim um fortalecimento do
economia, acompanhada das elevadas taxas de inflação e dos impactos perversos dos planos de
estabilização econômica: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987), Plano de Verão (1989),
Plano Collor (1990), para citar alguns, levaram à queda do ritmo da expansão do emprego
assalariado regular/formal urbano, à elevação das taxas de desemprego, ao crescimento de
ocupações assalariadas sem registro formal e a precarização20 do mercado de trabalho. Esta queda
no nível de emprego formal e no poder aquisitivo do assalariado resultou na redução do padrão
de vida das classes trabalhadoras, conseqüentemente no agravamento da pobreza21. Nessa
direção, Singer (2003) afirma que: “Os novos postos de trabalho que estão surgindo em função
das transformações das tecnologias e da divisão internacional do trabalho, não oferecem, em sua
maioria, ao seu eventual ocupante as compensações usuais que as leis e contratos coletivos
vinham garantindo” (SINGER, 2003, p. 24). Neste comenos, relata Mattoso (1993) apud Singer
(2003, p.25) que “a precarização do trabalho toma também a forma de relações ‘informais’ ou
‘incompletas’ de emprego”. Observemos a baixo como Pochmann (2002) observa a questão do
emprego no final do século XX:
“O último quartel do século XX se mostrou profundamente decepcionante para quem esperava por uma evolução do emprego nas economias de mercado. Observou-se, em geral, a mudança setorial na composição relativa da população ocupada, com aumento das vagas no setor terciário e o esvaziamento absoluto dos empregos nos setores primário e secundário, a permanência de altas taxas de desemprego e a deterioração das condições e das relações de trabalho.” (POCHMANN, 2002, p. 39).
Dessa forma, nos anos 1980, as mudanças no âmbito econômico alteraram a
dinâmica do mercado de trabalho brasileiro, pois ocorreu um aumento do desemprego e teve
início a deterioração das condições de trabalho, com a ampliação da informalidade. “De cada cem
assalariados gerados entre 1980 e 1991, 99 foram sem registro e apenas um tinha registro” (idem,
movimento sindical; diferentemente do que acontecia no âmbito internacional (que se encontrava desarticulado), os trabalhadores buscavam se fortalecer, buscando novas propostas de organização e ação. 20 Precarização das condições de trabalho: é o aumento do caráter precário das condições de trabalho, com a ampliação pode ser identificada pelo aumento do trabalho por tempo determinado, sem renda fixa, em tempo parcial, enfim, pelo que se costuma chamar de “bico”. Em geral, a precarização é identificada com a ausência de contribuição à previdência social e, portanto, sem direito à aposentadoria". Precarização das relações de trabalho: "é o processo de deterioração das relações de trabalho, com a ampliação da desregulamentação, dos contratos temporários, de falsas cooperativas de trabalho, de contratos por empresas ou mesmo unilaterais. 21CAMPOS, Lauro. O Desemprego Neoliberal: Equilíbrio ou Explosão. Disponível em: <http://www.intelecto.net/cidadania/lauro1.htm >. Acessado em: 19 mai 2005.
2002, p. 73).
No entanto, como nesse período as estruturas industrial e produtiva não
estavam completamente desestruturadas, o desemprego e a precarização do trabalho ainda não
foram relativamente altos devido às intensas oscilações do ciclo econômico, ao aumento do
emprego no setor público e a preservação na estrutura industrial. Teve um período de recessão
entre 1981/83, recuperação/retomada do crescimento entre 1984/86 e estagnação entre 1987/89.
Até a década de 1980, o desemprego oscilava com a economia. Se a economia crescia, o
desemprego caía, e vice-versa.
Já nos anos 1990, a situação mudou, quando a atividade econômica crescia, não
havia a recuperação dos empregos perdidos na mesma proporção. Este fato tem se agravado com
a abertura da economia aos produtos importados, que prejudicou alguns setores da indústria
nacional (calçados, tecidos, brinquedos e autopeças), somando-se a isso a perda da capacidade de
investimento e de geração de empregos do país, pois nessa década muitas empresas estatais foram
privatizadas, como a Cia. Vale do Rio Doce (mineração), Usiminas (siderurgia), entre outras. As
empresas nacionais tiveram que aumentar sua produtividade e, assim, competir com os produtos
importados. Para isso, reduziram ainda mais seu quadro de trabalhadores.
No Brasil, a década de 1990, foi marcada pelo fim da capacidade de produzir
postos de trabalho suficientes para atender a demanda das pessoas que atingem a idade de
trabalhar (PIA). Somando-se a isso a diminuição dos postos de trabalho no setor industrial e na
agricultura, esta pode ser chamada de "década do desemprego". Houve crescimento da PIA em
relação à força-de-trabalho (PEA), o que influenciou diretamente o aumento do desemprego.
A abertura econômica brasileira e o baixo crescimento produziram taxas
elevadas de desemprego e alteraram a estrutura e a dinâmica do mercado de trabalho nos anos
1990. O problema do desemprego passa para a ordem do dia. Sendo assim, se nos anos 1980, a
população brasileira temia a inflação; nos anos 1990, o medo da inflação foi “substituído” pelo
medo do desemprego. Este atinge pessoas de todas as idades, grau de escolaridade e camadas
sociais. Apregoa-se a idéia de que a educação é a saída para o desemprego, já que aquelas com
menor escolaridades estão sem emprego. Mas, na realidade, nos últimos anos, o desemprego tem
atingido também os mais "escolarizados", uma vez que os avanços do processo de modernização
e de reestruturação das empresas seguem provocando reduções nos níveis ocupacionais,
sobretudo aqueles de maior escolaridade (MENEZES, 1999).
Verificou-se também, nos anos 1990, diminuições do emprego no setor público,
resultado das privatizações e do próprio "enxugamento" da máquina do Estado. Sendo assim, a
redução dos gastos e investimentos governamentais na área social “paralisou a criação dos
empregos no setor público”. Com as privatizações das empresas estatais, o Estado perdeu a maior
parte do papel de "empreendedor", já que tirou de seu controle setores antes estratégicos
(siderurgia, telecomunicações etc.). As privatizações também contribuíram para a redução dos
postos de trabalho, pois os novos donos das empresas realizaram mudanças na administração do
pessoal e nos processos produtivos. Segundo Edson Trajano Vieira22: “Nesse período a
acumulação de capital foi direcionada para o aumento de produtividade, sem o aumento
proporcional da produção, provocando desemprego e exclusão social e econômica.”23
O processo de privatização (setores de telefonia, financeiro, siderurgia,
mineração e transporte ferroviário etc.) suprimiu milhares de empregos, pois as empresas
privatizadas reduziram seus quadros de funcionários.
Diante da “crise de 1990”, as empresas buscaram se ajustar aos padrões
produtivos e gerenciais, a fim de atender às novas exigências de competitividade, buscando novas
estratégias industriais para aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos. Segundo
Bielschowsky apud Pochman (2002, p. 29-30): “[...] no Brasil apenas a partir do governo Collor
iniciou-se uma reestruturação defensiva das empresas, tendo como pano de fundo uma abertura
comercial açodada em meio à forte recessão instalada nos primeiros anos da década de 1990”.
Para isso, reduziram, ainda mais, seu quadro de trabalhadores. O “just in time, downsizing" e a
terceirização são expressões que fazem parte desse processo de reestruturação das empresas.
Nesse âmbito, a abertura comercial e financeira colocou a economia brasileira à
competição internacional, o que levou à redução da produção e do emprego nacional. As
empresas tornam-se debilitadas diante de suas concorrentes internacionais. Procurando superar
suas limitações elas passam, então, a buscar novas estratégias industriais, novas formas de
organização de produção e de trabalho, a implantar a terceirização de suas atividades, abandonar
22 Professor da Universidade de Taubaté e pesquisador do Nupes. No seu trabalho de conclusão de crédito na disciplina de economia solidária como resposta à Crise do Trabalho II Ministrada pelo Prof. Dr. Paul Israel Singer oferecida pela a Universidade de São Paulo como parte do Programa de Pós – Graduação – Stricto Sensu em Economia.23VIERA, Edson T. A distribuição Funcional da renda e a economia solidária. Disponível em: <http://www.unitau.br/nupes/artigos/distribuicao funcional.htm> Acessado em: 19 de maio de 2005.
linhas de produção, fechar unidades, racionalizar a produção, importar máquinas e equipamentos,
buscar parcerias, fusões, linkages24 e reduzir custos, sobretudo da força-de-trabalho.
Durante os anos 1990, devido as políticas governamentais de estabilização
monetária ancoradas ao dólar, a abertura comercial, ao novo padrão de competitividade, etc...
Pochmann (2002, p.63) constata: “um aprofundamento das formas tradicionais de exclusão social
(subemprego, baixos rendimentos e informalidade) e das novas formas (desemprego aberto,
ocupações atípicas e precarização das condições e relações de trabalho)”.
Para concluir, resumindo, podemos notar que várias mudanças na estrutura do
emprego brasileiro se deram paulatinamente entre as décadas de 1950-1990. A partir de um
modelo desenvolvimentista entre 1950-1970, com a década de 1980 intermediando, em meio à
“recessões e retomadas”, chegamos na década de 1990 a uma mudança no paradigma do
mercado de trabalho brasileiro, que buscou se adaptar ao novo modelo mundial voltado à
produtividade. Fatores como a abertura comercial, as privatizações, a diminuição do estado
“empreendedor”, o aumento no mercado informal, a entrada “em definitivo” da mão-de-obra
feminina no mercado de trabalho, a tercerização, os novos procedimentos de qualidade, etc; são
os meios que atuaram para que houvesse mudanças pelas quais o Brasil tinha que passar, devido
às transformações no âmbito econômico que alteraram a dinâmica do mercado de trabalho. Desse
modo, as empresas brasileiras buscaram se ajustar aos padrões produtivos e gerenciais da virada
do século e o mesmo acontece, ou tem que acontecer, com a mão-de-obra em busca de emprego.
Na próxima seção veremos um pouco mais a fundo a Curva-de-Phillips: a
maneira de relacionar as variáveis: inflação e desemprego.
3 – A CURVA DE PHILLIPS
O advento da Curva de Phillips (1958) forneceu um instrumental poderoso aos
formuladores de política econômica. “A combinação de uma relação empírica aparentemente
confiável com uma história plausível para explicá-la levou a aceitação instantânea da curva de
Phillips” (BLANCHARD, 1999, p. 318).
24 Linkages: ligações funcionais de produção entre as empresas
Outra razão para esta aceitação é o fato de que a curva de Phillips expõe duas
variáveis estatisticamente observáveis: o desemprego e a inflação. Abordaremos neste capítulo a
Curva de Phillips e a relação entre desemprego e inflação.
3.1 Curva de Phillips Original
Em 1958, A. W. Phillips observou uma relação negativa entre a taxa de
desemprego e a taxa de variação dos salários nominais, a partir de dados referentes ao Reino
Unido nos anos de 1861 a 1957 (MARQUES, 1987, p. 200).
Segundo Marques (1987) foram determinados dois fatores que afetam a taxa de
variação dos salários nominais:
(i) o excesso de demanda no mercado de trabalho;
(ii) a taxa de variação da demanda de mão-de-obra.
Ambos inversamente relacionados com a taxa de desemprego. Em outras
palavras, o aumento na demanda por mão-de-obra resulta em queda na taxa de desemprego e
possibilita o aumento nos salários nominais, e vice-versa. Não sendo linear a curva devido à
rigidez para baixo dos salários.
Este pensamento tornou-se fundamental para a política macroeconômica, por
fornecer combinações diferentes de desemprego e inflação. Desse modo seria possível um país
alcançar um desemprego baixo se conseguisse tolerar uma inflação mais alta ou poderia
estabilizar os preços se conseguisse conviver com um desemprego mais alto.
A figura 2, na próxima página, descreve uma relação empírica inversamente
proporcional entre inflação e desemprego sugerindo um trade-off entre estas variáveis.
Paul Samuelson (1960) e Robert Solow (1960), economistas velhos-
Keynesianos, repetiram o exercício de Phillips para os Estados Unidos, utilizando o período
1900-1960, relacionando a inflação, ao invés dos salários nominais, com a taxa de desemprego.
Concluíram que a inclinação negativa da Curva de Phillips indicava que um aumento do nível de
desemprego poderia moderar ou eliminar o aumento nos preços. Foram eles quem batizaram a
curva.
Figura 2 – Curva de Phillips
Inflação
Desemprego
Fonte: Confecção própria.
Observando os dados empíricos Phillips (1958) Samuelson (1960) e Solow
(1960) chegaram à conclusão que com a taxa de inflação média igual a zero no passado, é
razoável que se espere uma inflação igual no futuro (BLANCHARD, 1999). Desse modo:
π t = ( μ + z ) – α u t (6)
Sendo π t a taxa de inflação, μ a taxa de desemprego, z os demais fatores que
afetam a inflação e α u t um parâmetro que reflete o efeito do desemprego na inflação, quanto
maior for α u t , maior será o efeito.
A curva de Phillips atual difere em alguns aspectos da curva da relação que
Phillips encontrou. Substituiu-se a variação dos salários nominais, isto é, a inflação salarial, pela
inflação de preços (estas duas inflações são estreitamente ligadas), incluiu-se na curva de Phillips
a inflação esperada e também se inseriu os choques de oferta. (MANKIW, 2004).
π = πe - β (μ – μ n) + ν (7)
Sendo π a inflação, πe a inflação esperada, β um parâmetro que mede a reação
da inflação ao desemprego cíclico, (μ – μ n) o desemprego cíclico, e ν o choque de oferta.
Essa diferença da curva de Phillips em sua primeira versão para a curva de
Phillips moderna se dá porque, como já foi dito, troca-se a inflação salarial pela inflação de
preços, não sendo crucial esta diferença, já que, em períodos em que os salários sobem rápido, os
preços, também, aumentam depressa.
Outra diferença se dá pela inclusão de choques de oferta na curva de Phillips.
Na década de 1970, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) promoveu
grandes acréscimos no preço do petróleo, dessa forma houve um consenso geral por parte dos
economistas na importância dos choques de oferta agregada.
A curva de Phillips moderna inclui também, a inflação esperada. Os
economistas monetaristas enfatizaram a importância das expectativas para a oferta agregada, ao
desenvolverem as primeiras versões do modelo de informação imperfeita (idem, 2004,). Vamos
ver no próximo tópico mais detalhadamente essa questão.
3.2 Curva de Phillips com Expectativas Adaptativas
Com o desaparecimento da relação desemprego e inflação americana a partir da
década de 70 entrou em cena, diante das circunstâncias, os argumentos elaborados por Milton
Friedman (1970). Para os monetaristas, a Curva de Phillips teria se deslocado para a direita, já
que os agentes econômicos não tinham mais expectativas de que os preços se manteriam
inalterados. Os trabalhadores têm interesse no seu salário real e não no nominal. Isto justifica o
cálculo do salário futuro levando em conta as expectativas de inflação, dando embasamento para
a criação da Curva de Phillips com expectativas adaptativas. (CARVALHO, 2000)
De acordo com Friedman apud Mankiw (2004) uma suposição simples e
plausível é que as pessoas criam suas expectativas de inflação com base na inflação recentemente
observada. Essa suposição é chamada de expectativas adaptativas. Por exemplo, suponhamos que
as pessoas esperem que os preços aumentem este ano à mesma taxa que aumentaram no ano
passado. Assim a inflação esperada π e é igual à inflação do ano passado π t – 1:
π e = π t – 1 (8)
Nesse caso podemos, podemos escrever a curva de Phillips como:
π = π t - 1 - β (u – u n) + z (9)
Sendo a inflação π dependente da inflação passada πt - 1, do desemprego cíclico
β (u – u n) e de um choque de oferta z. Quando a curva de Phillips é escrita dessa maneira, a taxa
natural de desemprego é às vezes chamada de Taxa de Desemprego Não-Inflacionária, ou
NAIRU (non-accelerating inflation rate of unemployment).
A figura 3 expressa os resultados de uma política expansionista. No ponto A
onde a taxa de desemprego é igual à sua taxa natural, a inflação esperada é igual à inflação
efetiva; portanto a inflação atual é igual à inflação do período anterior. Quando os agentes
subestimam a inflação futura em razão de uma política expansionista, o desemprego cai para o
ponto B (por exemplo), onde a taxa de desemprego é menor que a natural. Segundo esta curva de
Phillips, “quanto maior for a ilusão de expectativas, maior será a diferença entre a taxa corrente e
a taxa natural de desemprego” (CARVALHO, 2004, p. 202).
Figura 3 – Curva de Phillips Versão Monetarista
P – P e
A
B U n U t
Fonte: CARVALHO, 2000, p. 2002
Uma outra teoria sobre a Curva de Phillips é a da Curva de Phillips Vertical ou
a Curva de Lucas que surgiu como uma outra proposta de entendimento aos fatos empíricos sobre
o comportamento de preços e o desemprego.
3.3 Curva de Phillips Vertical
Robert Lucas, ganhador do Prêmio Nobel de 1995, junto com Thomas Sargent
e Neil Wallace se voltou, parcialmente, contra Friedman (1970). Estes autores discordavam da
forma como os agentes formam as expectativas: no lugar de expectativas adaptativas, esses
economistas propuseram a hipótese das expectativas racionais. Dessa forma, surge a Curva de
Phillips das expectativas racionais. Neste comenos, estas são as palavras de Thomas Sargent apud
Mankiw (2004) descrevendo suas implicações para a curva de Phillips:
“Uma visão alternativa de “expectativas racionais” nega que haja qualquer impulso inerente ao atual processo de inflação. Essa visão sustenta que empresas e trabalhadores passam agora esperar altas taxas de inflação no futuro, e que eles efetuam negociações inflacionárias com
bases nessas expectativas. Contudo, argumenta-se que as pessoas esperam altas taxas de inflação no futuro justamente porque as políticas monetária e fiscal do governo, as atuais e as esperadas, justificam tais expectativas. [...] Assim, a inflação parece ter impulso próprio; na verdade, é a política de longo prazo do governo, mantendo déficits grandes e persistentes, além de emitir moeda e taxas altas, que transmite o impulso para a taxa de inflação. Uma implicação dessa visão é que a inflação pode ser contida muito mais depressa do que apregoam os defensores da visão do “impulso” , e que são equivocadas as suas estimativas de deter a inflação em termos de perda do produto. [...] [Deter a inflação] exigiria uma mudança do regime de política econômica: deve haver uma mudança abrupta da insistente política econômica, ou estratégia do governo, de fixar déficits agora e no futuro, uma mudança bastante compulsória para que tenha ampla credibilidade [...] Até que ponto essa providência seria custosa, em termos de produto a que se renuncia, e por quanto tempo ela teria de vigorar dependeria em parte da constatação da determinação do governo.” (MANKIW, 2004, p. 252)
O que diferencia as idéias de Lucas, Sargent e Wallace das de Friedman é que
os agentes econômicos são maximizadores de satisfação, ou seja, eles otimizam também a
utilização das informações que recebem. As expectativas não são adaptativas, mas são, sim, do
tipo que ficou conhecida como racionais. A implicação central da teoria das expectativas
racionais é que os agentes podem nem sempre acertar suas previsões, mas não erraram
sistematicamente (BLANCHARD, 1999).
Desse modo, supõe-se que, todo e qualquer agente possui o mesmo modo de
entender a economia e que tal modo corresponde à verdadeira forma de operação da economia.
Por exemplo, todos sabem que um aumento da oferta monetária provocará inflação, tal como
sugere a teoria monetarista. Assim, um aumento da oferta monetária anunciada pelo governo
representa apenas uma mensagem de que os preços e os salários irão se elevar; então, a única
reação dos agentes deve ser a antecipação, elevando os preços e os salários da economia. Nada
mais ocorre. Em outras palavras, uma política monetária expansionista será ineficaz para alterar
variáveis reais, por exemplo, o nível de emprego e produto.
Em um caso extremo, podemos visualizar uma redução inflacionária sem causar
qualquer recessão. A credibilidade da política monetária é quem será o indicador aos agentes em
suas expectativas, e não apenas a observação do passado. Lucas e Sargent não acreditavam que
pudesse ocorrer a desinflação sem algum aumento do desemprego. Mas após examinar
empiricamente alguns casos de políticas antiinflacionárias como foi o caso citado por Mankiw
(2004, p. 253), eles puderam concluir que o aumento do desemprego poderia, com efeito, ser
menor.
“Paul Samuelson (1960) e Robert Solow (1960), economistas velhos-
Keynesianos, repetiram o exercício de Phillips para os Estados Unidos, utilizando o período
1900-1960, relacionando a inflação, ao invés dos salários nominais, com a taxa de desemprego.
Concluíram que a inclinação negativa da Curva de Phillips indicava que um aumento do nível de
desemprego poderia moderar ou eliminar o aumento nos preços. Foram eles quem batizaram a
curva.
“[...] O tamanho da perda do produto, no entanto, variou de um episódio para outro. As desinflações rápidas, de modo geral, tiveram taxas de sacrifício mais baixas do que as mais lentas. Ou seja, em contraste com o que sugere a curva de Phillips com expectativas adaptativas, uma abordagem de choques parece menos custosa do que uma técnica gradativa. Além disso, países com instituições de fixação de salários mais flexíveis, como contratos de trabalho mais curtos, tiveram taxas de sacrifício mais baixas. Essas descobertas indicam que reduzir a inflação sempre acarreta algum custo, mais que as políticas econômicas e as instituições podem afetar sua magnitude.” (MANKIW, 2004, p. 253)
A curva de Phillips é sem dúvida uma grande melhoria e uma ferramenta
poderosa nas mãos dos formuladores de política econômica. Abordando variáveis
estatisticamente observáveis que não eram abordadas pelas teorias dos hiatos do produto e do
emprego, ou pelas teorias quantitativas da moeda, por exemplo. Desse modo, otimizou-se
cientificamente a maneira de tratar inflação e desemprego. Além disso, como vimos nesse
capítulo, a Curva de Phillips original continuou aprimorando-se e completando-se através dos
pensadores econômicos, que com o passar do tempo e com suas observações empíricas, criaram,
a partir da Curva de Phillips original, curvas mais sofisticadas que traduzem melhor o
funcionamento do sistema econômico.
4 – ANÁLISE EMPÍRICA PARA A INFLAÇÃO E O DESEMPREGO NO BRASIL.
Neste capítulo, após a fundamentação teórica, será feita uma análise
econométrica para o Brasil em dois períodos subseqüentes, 1986 a 1994 e 1994 a 2005, utilizando
as variáveis: inflação e desemprego.
O objetivo desta análise é verificar se ocorre um trade-off entre
inflação/desemprego nos períodos.
4.1 Metodologia
A metodologia utilizada para este trabalho foi o modelo estatístico de uma
regressão linear simples, a qual admite que o valor da variável dependente é uma função linear de
uma variável independente. O modelo estatístico de uma regressão linear simples é:
Y = α + β 2X (10)
Onde α e β2 são parâmetros. Esse tipo de regressão é formada por duas variáveis:
uma dependente e outra explicativa; e também uma constante o α , formando uma equação do tipo
Y= α + β 2X . Deste modo, o componente aleatório Y varia de acordo com o componente
sistemático x.
Para estimar o α e o β2 necessitamos de uma regra, ou fórmula, que nos diga
como utilizar informações amostrais. A regra que utilizamos aqui parte do princípio dos mínimos
quadrados ordinários. Esse princípio, afirma que, para ajustar uma reta aos valores dos dados,
devemos procurar a reta tal que a soma dos quadrados das distâncias verticais de cada ponto à reta
seja a menor possível. Tomam-se os quadrados das distâncias para evitar que grandes distâncias
positivas sejam canceladas pelas negativas. (HILL, 2003)
O modelo de regressão linear simples deve seguir alguns pressupostos:
(i) Para cada valor de x, os valores de y se distribuem em torno de seu valor médio, segundo
distribuições de probabilidade que têm todas a mesma variância,
var (y) = σ 2 (11)
(ii) Os valores de y são todos não correlacionados e têm covariância zero, portanto não há
associação linear entre eles:
cov (yi, yj) = 0 (12)
(iii) A variável x não é aleatória e deve tomar ao menos dois valores diferentes;
(iv) Homoscedasticidade, isto é, para cada valor de x, os valores de y se distribuem normalmente
em torno da sua média; e
(v) A variância do erro aleatório é zero:
E(e) = 0 (13)
4.1.2 Estimativa dos parâmetros
De acordo com Hoffmann (1998) para analisarmos uma regressão a primeira
etapa é colher as estimativas a e b dos parâmetros α e β. Os valores dessas estimativas serão
obtidos a partir de uma amostra de n valores Xi, Yi (i = 1,2,...,n) que correspondem a n pontos num
gráfico. Obtemos, então
_Yi = a + b Xi (14)
_ Onde Yi, a e b são respectivamente, as estimativas de E (Yi) = α + βXi, α e β.
Para cada par de valores Xi e Yi podemos estabelecer o desvio:
_Εi = Yi - Yi = Yi – ( a + bXi) (15)
O método dos mínimos quadrados consiste em adotar como estimativa dos
parâmetros os valores que minimizam a soma dos quadrados dos desvios.
n n
Z = ei 2 = = [ Yi – (a + bX i)] (16)
i = 1 i = 1
A função Z terá mínimo quando suas derivadas parciais em relação aos valores
de (a) e (b) forem nulas (Note que Z não tem máximo, por ser uma soma de quadrados).
σZ = -2Σ [ Yi – (a + bXi)] = 0 (17)σa
σZ = 2Σ [ Yi – (a + bXi)] (-Xi) = 0 (18)σa
Simplificando, chegamos ao sistema de equações normais
na + bΣXi = ΣYi (19)
a Σ Xi + bΣXi2 = Σ XiYi (20)
Resolvendo o sistema, obtemos:
a = (ΣX2)(ΣY) – (ΣX)(ΣXY) (21) n ΣX2 - (ΣX)2
Na prática determinamos b em primeiro lugar e da equação 19 obtemos:
a = ΣY – b ΣX (22) n n
ou
_ _a = Yi – bX (23)
É fácil verificar que a fórmula para o cálculo de b pode ser escrita de diversos
modos, quais sejam:
ΣXY – (ΣX)( ΣY)b = nΣXY – (ΣX)(ΣY) = _________n_____ = nΣX2 – (ΣX)2 (ΣX)2
ΣX2 - n
_ _ _ = Σ(X – X) (Y – Y) = Σ (X – X)Y = Σ (X – X)2 Σ (X – X)2
_
= ΣX (Y – Y) = Σ xy = ΣxY = Σ xy Σ (X – X)2 Σ x2 Σ x2 Σ x2
Onde:
_ _ _ _ X = ΣX , Y = Σ Y , x = X – X e y = Y – Y (24)
n n
4.3 Base de Dados
Os dados referentes aos índices de inflação: IPCA, INPC, IPA-DI, IPA-OG,
IGP-DI, IPC-Geral-RJ são colhidos no IPEA-DATA (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada)25. A pesquisa abordou vários índices inflacionários para dar um suporte maior às
análises, isto é, buscar os índices inflacionários com melhor resultado estatístico e, também,
trabalhar com índices diferentes para que um resultado de um índice confirmasse o resultado de
outro índice, buscando uma confirmação “mais precisa e mais consistente” sob vários ângulos de
observação.
A taxa de desemprego DIEESE foi utilizada como variável explicativa no
modelo econométrico. Desse modo, também foi usado um critério que deu preferência ao índice
com melhor resultado estatístico. Os dados foram obtidos através do IPEA-DATA. e, para analisar
os dados, tanto de inflação como de desemprego, foi utilizado o programa EXCEL.
4.4 Resultados e Discussões
4.4.1 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPCA nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
Quadro 1.a– Estimativa do Período 1986 a 1994. Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -18,2615 6,2993 -2,8990***
β2Taxa de
desemprego 1,9595 0,5416 3,6183***
Variável Dependente Índice de Inflação IPCANúmero de Observações 103
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 1.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,3387R² 0,1147
25 Fundação Pública subordinada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão com a atribuição de elaborar estudos e
pesquisas para subsidiar o planejamento de políticas governamentais.
R² ajustado 0,1060Teste F 13,0919
Quadro 2.a– Estimativa do Período 1994 a 2005. Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -51,3751 22,0633 -2,3285**
β2Taxa de
desemprego 13,3409 1,2688 10,5147***
Variável Dependente Índice de Inflação IPCANúmero de Observações 132
***Denota significância ao nível de 1% **Denota significância de ao nível de 5%
Quadro 2.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,6779R² 0,4596R² ajustado 0,4554Teste F 110,5593
Análise dos Resultados
De acordo com os resultados obtidos no teste econométrico e demonstrados nos
quadros 1.a e 2.a verifica-se que o coeficiente estimado β2 foi positivo, indicando a inexistência
da Curva de Phillips para a economia brasileira nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005. Como
verificado no quadro 1.a, os testes t para a constante (α) e (β2) foram expressivos ao nível de
significância de 1%. Como verificado no quadro 2.a o teste econométrico para a constante (α) foi
expressivo ao nível de 5% e ao nível de 1% para o coeficiente estimado (β2).
4.4.2 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação INPC nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
Quadro 3.a– Estimativa do Período 1986 a 1994 Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -18,1178 6,2659 -2,8915***
β2Taxa de
desemprego 1,9442 0,5387 3,6090***
Variável Dependente Índice de Inflação INPCNúmero de Observações 103
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 3.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,3380R² 0,1142R² ajustado 0,1055Teste F 13,0251
Quadro 4.a– Estimativa do Período 1994 a 2005. Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -60,2641 23,4068 -2,5746**
β2Taxa de
desemprego 13,8847 1,3460 10,3152***
Variável Dependente Índice de Inflação INPCNúmero de Observações 132
***Denota significância ao nível de 1% **Denota significância de ao nível de 5%.
Quadro 4.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,6709R² 0,4501R² ajustado 0,4459Teste F 106,4029
Análise dos Resultados
Verifica-se nos quadros 3.a e 4.a um coeficiente estimado β2 positivo, de acordo
com os resultados obtidos no teste econométrico, indicando a inexistência de um trade-off entre
inflação e desemprego na economia brasileira nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005. Como
verificado no quadro 3.a, os testes t para a constante (α) e (β2) foram expressivos ao nível de
significância de 1%. E como verificado no quadro 4.a o teste econométrico para a constante (α)
foi expressivo ao nível de 5% e ao nível de 1% para o coeficiente estimado (β2).
4.4.3 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-DI nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
Quadro 5.a– Estimativa do Período 1986 a 1994 Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -16,2809 5,7215 -2,8454***
β2Taxa de
desemprego 1,7486 0,4919 3,5549***
Variável Dependente Índice de Inflação IPA-DINúmero de Observações 103
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 5.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,3338R² 0,1112R² ajustado 0,1024Teste F 13,2001
Quadro 6.a– Estimativa do Período 1994 a 2005. Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -180,2663 46,5636 -4,0217***
β2Taxa de
desemprego 22,2371 2,6778 8,3045***
Variável Dependente Índice de Inflação IPA-DINúmero de Observações 132
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 6.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,5887R² 0,3466R² ajustado 0,3416Teste F 68,4892
Análise dos Resultados
O sinal positivo do coeficiente estimado β2, demonstra um relacionamento
positivo entre as variáveis dependente e explicativa, confirmando a inexistência de um trade-off
entre inflação e desemprego, conforme os quadros 5.a e 6.a, nos períodos: 1986 a 1994 e 1994 a
2005. Como verificado no quadro 5.a e 6.a, os testes t para a constante (α) e (β2) foram
expressivos ao nível de significância de 1%.
4.4.4 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-OG nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
Quadro 7.a– Estimativa do Período 1986 a 1994 Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -16,1061 5,6973 -2,8269***
β2Taxa de
desemprego 1,7298 0,4898 3,5316***
Variável Dependente Índice de Inflação IPA-OGNúmero de Observações 103
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 7.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,3315R² 0,1099R² ajustado 0,1011Teste F 12,4722
Quadro 8.a– Estimativa do Período 1994 a 2005. Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -183,2758 45,7186 -4,0088***
β2Taxa de
desemprego 21,8067 2,6291 8,2943***
Variável Dependente Índice de Inflação IPA-OGNúmero de Observações 132
***Denota significância ao nível de 1% **Denota significância de ao nível de 5% * Não Significante.
Quadro 8.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,5883R² 0,3461R² ajustado 0,3410Teste F 68,7953
Análise dos Resultados
De acordo com os resultados obtidos no teste econométrico e demonstrados
nos quadros 5.a e 6.a verifica-se que o coeficiente estimado β2 foi positivo, indicando a
inexistência da Curva de Phillips para a economia brasileira nos períodos: 1986 a 1994 e 1994 a
2005. Como verificado no quadro 5.a e 6.a os testes t para a constante (α) e (β2) foram
expressivos ao nível de significância de 1%.
4.4.5 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IGP-DI nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
Quadro 9.a– Estimativa do Período 1986 a 1994 Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -16,0513 5,7191 -2,8065***
Β2Taxa de
desemprego 1,7234 0,4917 3,5052***
Variável Dependente Índice de Inflação IGP-DI
Número de Observações 103***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 9.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,3293R² 0,1085R² ajustado 0,0996Teste F 12,2865
Quadro 10.a– Estimativa do Período 1994 a 2005. Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -142,2584 37,7143 -3,7720***
β2Taxa de
desemprego 19,4977 2,1689 8,9900***
Variável Dependente Índice de Inflação IGP-DINúmero de Observações 132
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 10.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,6192R² 0,3834R² ajustado 0,3786Teste F 80,8200
Análise dos Resultados
Os resultados obtidos no teste econométrico e demonstrados nos quadros 7.a e
8.a indicam a inexistência da Curva de Phillips para a economia brasileira nos períodos: 1986 a
1994 e 1994 a 2005, pois, verifica-se que o coeficiente estimado β2 foi positivo.. Como verificado
no quadro 7.a e 8.a os testes t para a constante (α) e (β2) foram expressivos ao nível de
significância de 1%.
4.4.6 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPC-GERAL-RJ nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
Quadro 11.a– Estimativa do Período 1986 a 1994 Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -15,1602 5,5648 -2,7243***
Β2Taxa de
desemprego 1,6282 0,4784 3,4033***
Variável Dependente Índice de Inflação IPC-RJNúmero de Observações 103
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 11.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,3207R² 0,1029R² ajustado 0,0940Teste F 11,5824
Quadro 12.a– Estimativa do Período 1994 a 2005. Parâmetros Variáveis Estimativas
dos parâmetros
Erro Padrão
Estatística t
α Constante -85,3590 25,0000 3,4130***
β2Taxa de
desemprego 16,2594 1,4382 11,3051***
Variável Dependente Índice de Inflação IPC-RJNúmero de Observações 132
***Denota significância ao nível de 1%
Quadro 12.b – Outras estatísticasR Múltiplo 0,7041R² 0,4957R² ajustado 0,4919Teste F 127,8042
Análise dos Resultados
De acordo com os resultados obtidos no teste econométrico e demonstrados nos
quadros 9.a e, 10.a verifica-se que o coeficiente estimado β2 foi positivo, indicando a inexistência
da Curva de Phillips para a economia brasileira nos períodos: 1986 a 1994 e 1994 a 2005. Como
verificado no quadro 9.a e 10.a os testes t para a constante (α) e (β2) foram expressivos ao nível
de significância de 1%.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi analisar a validade da Curva de Phillips Original
para a economia brasileira em dois períodos subseqüentes. Para isto, primeiramente, a pesquisa
ressaltou quais são os fundamentos teóricos que dariam embasamento para uma análise posterior.
Depois, analisaram-se econometricamente os dados empíricos sobre inflação e desemprego na
economia brasileira.
No primeiro período analisado (1986 a 1994), a hipótese, à priori, era de que
não houvesse trade-off entre inflação e desemprego na economia brasileira, porque, neste
período, houve vigência de altas taxas de inflação e forte indexação, além de que, observou-se
também altas taxas de desemprego. Nos testes econométricos referentes a este período, verificou-
se a inexistência da Curva de Phillips original, isto é, não há um trade-off entre inflação e
desemprego no Brasil, neste período. Confirmando-se, desse modo, a hipótese verificada no
início da pesquisa.
No segundo período analisado (1994 a 2005), diferentemente do primeiro
período, as taxas de inflação recuaram a níveis bem baixos após a implantação do Plano Real,
mas o desemprego continuou alto. Por isso, a hipótese, tida à priori, era que houvesse um trade-
off entre inflação e desemprego, neste período, na economia brasileira. No entanto, a análise dos
dados demonstrou, mais uma vez, que não há trade-off entre inflação e desemprego nesse
período. Isto é, a análise econométrica dos dados sugere a inexistência da Curva de Phillips
original para a economia brasileira no período pós-real. Refutando, deste modo, a hipótese que se
formara no início da pesquisa.
Diversos autores avaliaram a aplicabilidade da Curva de Phillips, em economias
diferentes. Para citar apenas um exemplo, Dornbusch & Fischer (1991, p.26) apud Bacha26 &
Lima27 (2002) constataram que a Curva de Phillips não se aplica a todo o período de 1960 a 1988
no caso da economia norte-americana. Há fases desse período em que a relação entre desemprego
e inflação é inversa e há outras fases desse período onde essa relação é positiva.
Bacha & Lima (2002) demonstraram em seu trabalho sobre a Curva de Phillips
para a economia brasileira, outras pesquisas que estimaram a Curva de Phillips para o Brasil em
vários períodos distintos. Segundo eles: “...cerca de metade dos trabalhos apresentados [...]
confirmam a relação negativa entre hiato do produto28 e inflação. Os outros trabalham não
confirmam essa relação.”, isto é, metade dos trabalhos verificados por Bacha & Lima (2002) não
confirmam a existência da Curva de Phillips para a economia brasileira. Citando alguns desses
trabalhos, Picchetti & Kanczuk (2001) apud Bacha & Lima (2002) relaciona em seu trabalho
inflação com o hiato do produto e inflação passada, afirmando que a Curva de Phillips perde a
relevância para o período de 1999 a 2001. Cysne (1985) apud Bacha & Lima (2002) conclui pela
não existência de trade-off entre inflação e capacidade ociosa no longo prazo, no período de 1950
a 1983.
Nesta toada, Lopes (1998) não verificou, também, no período 1985 a 1996, a
existência de trade-off entre inflação e desemprego para a economia brasileira.
A maioria dos planos de estabilização, na economia brasileira, utilizou a relação
de Phillips para diagnosticar e para tratar dos problemas econômicos. Para tentar controlar a
inflação em períodos anteriores, por exemplo, reduziu-se o salário real dos trabalhadores (como
foi o caso do Paeg – Plano de Ação Econômica do Governo e do PED – Plano Estratégico de
Desenvolvimento, por exemplo), para conter o crescimento do nível de preços. Ou, em outro
caso, diminui-se a demanda agregada, por meio de cortes fundos na liquidez da economia para
tentar conter a inflação descontrolada (como foi o caso do Plano Collor, que chegou a confiscar
ativos financeiros), para citar apenas algumas medidas e alguns planos econômicos. Do mesmo
modo, quando a economia enfrentou uma recessão entre 1980-1983 sob a batuta do então
ministro Delfin Neto no Governo Figueiredo o governo viu-se politicamente forçado a tentar
26 Professor Associado da ESALQ/USP. E-mail: [email protected] Professor doutor da ESAMC. E-mail: [email protected] A Curva de Phillips alega que quanto maior é a taxa de desemprego menor é a taxa de inflação, ou vice-versa. Mas quanto
maior é a taxa de desemprego, maior é o hiato do produto, ou seja, a diferença entre o produto potencial e o produto efetivo.
repetir a estratégia desenvolvimentista da década anterior, deixando de tentar conter a inflação,
para promover uma expansão econômica que diminuísse o desemprego.
Na atualidade, as políticas macroeconômicas do Governo Lula, mantém a
inflação estabilizada, utilizando como ferramenta, a contenção da demanda agregada, através de
uma política de juros altos. Pode-se pensar então que, de certa forma, que estamos trocando um
percentual de empregos (se a demanda cresce, ceteris paribus,cresce o produto e o emprego) pela
estabilidade dos preços? Isso é lógico, pela ótica da Curva de Phillips. Mas vai em direção oposta
ao resultado obtido nessa pesquisa, que sugere a não aplicabilidade da Curva de Phillips para a
economia brasileira pós-Plano Real.
É óbvio que a Curva de Phillips original é uma ferramenta limitada para se
analisar uma economia tão complexa quanto a economia brasileira. Poder-se-ia utilizar uma
teoria mais completa, que se adaptasse mais com a atualidade. Isso, com certeza, fomenta outras
pesquisa no mesmo âmbito. E, neste comenos, espero que esta pesquisa, além de servir de
sinalização para os interessados no assunto também sirva de fomento para aqueles que querem
aprofundar-se no assunto.
REFERÊNCIAS
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2005.
APÊNDICE
Séries históricas dos índices analisados – 1986 a 2005
PERÍODO DIEESE IPCA INPC IPA-DI IPA-OG IGP-DI IPC-RJ1986 01 9,9 2,12E-07 2,3E-07 2,11E-07 2,18E-07 1,8E-07 1,43E-071986 02 10,5 2,39E-07 2,59E-07 2,45E-07 2,49E-07 2,07E-07 1,61E-071986 03 11,5 2,51E-07 2,67E-07 2,56E-07 2,59E-07 2,18E-07 1,73E-071986 04 11,6 2,53E-07 2,68E-07 2,52E-07 2,55E-07 2,17E-07 1,75E-071986 05 10,9 2,56E-07 2,71E-07 2,52E-07 2,56E-07 2,17E-07 1,76E-071986 06 10,3 2,6E-07 2,74E-07 2,53E-07 2,57E-07 2,19E-07 1,77E-071986 07 9,7 2,64E-07 2,76E-07 2,54E-07 2,58E-07 2,2E-07 1,78E-071986 08 9,7 2,73E-07 2,8E-07 2,58E-07 2,61E-07 2,23E-07 1,8E-071986 09 9,5 2,78E-07 2,84E-07 2,6E-07 2,63E-07 2,25E-07 1,82E-071986 10 9 2,83E-07 2,88E-07 2,63E-07 2,65E-07 2,28E-07 1,84E-071986 11 8,2 2,99E-07 2,97E-07 2,68E-07 2,71E-07 2,34E-07 1,87E-071986 12 7,3 3,34E-07 3,19E-07 2,89E-07 2,91E-07 2,52E-07 2,01E-071987 01 7,3 3,78E-07 3,72E-07 3,19E-07 3,2E-07 2,82E-07 2,3E-071987 02 7,6 4,25E-07 4,24E-07 3,52E-07 3,53E-07 3,22E-07 2,63E-071987 03 8,5 4,95E-07 4,85E-07 4,02E-07 4,01E-07 3,7E-07 2,99E-071987 04 8,9 5,9E-07 5,87E-07 4,86E-07 4,84E-07 4,44E-07 3,63E-071987 05 9,5 7,16E-07 7,23E-07 6,35E-07 6,32E-07 5,67E-07 4,55E-071987 06 9,4 8,57E-07 8,77E-07 8,02E-07 8,02E-07 7,14E-07 5,78E-071987 07 9,4 9,36E-07 9,64E-07 8,81E-07 8,8E-07 7,8E-07 6,3E-071987 08 9,7 9,82E-07 1,01E-06 9,14E-07 9,11E-07 8,15E-07 6,7E-071987 09 10,1 1,06E-06 1,09E-06 9,83E-07 9,79E-07 8,81E-07 7,31E-071987 10 9,8 1,18E-06 1,2E-06 1,1E-06 1,09E-06 9,79E-07 8,08E-071987 11 9,1 1,35E-06 1,38E-06 1,26E-06 1,25E-06 1,12E-06 9,22E-071987 12 8,6 1,55E-06 1,58E-06 1,46E-06 1,45E-06 1,3E-06 1,07E-061988 01 9,4 1,84E-06 1,88E-06 1,73E-06 1,72E-06 1,55E-06 1,3E-061988 02 10,3 2,13E-06 2,17E-06 2,04E-06 2,03E-06 1,82E-06 1,53E-061988 03 11 2,5E-06 2,56E-06 2,4E-06 2,39E-06 2,15E-06 1,82E-061988 04 10,4 2,98E-06 3,03E-06 2,91E-06 2,91E-06 2,59E-06 2,18E-061988 05 10,4 3,5E-06 3,59E-06 3,47E-06 3,47E-06 3,09E-06 2,58E-061988 06 10,1 4,27E-06 4,39E-06 4,21E-06 4,22E-06 3,74E-06 3,11E-061988 07 10 5,21E-06 5,4E-06 5,15E-06 5,15E-06 4,54E-06 3,76E-061988 08 9,4 6,33E-06 6,51E-06 6,37E-06 6,36E-06 5,58E-06 4,57E-061988 09 9,1 8,07E-06 8,27E-06 8,04E-06 8,02E-06 7,02E-06 5,73E-061988 10 9,2 1,01E-05 1,05E-05 1,02E-05 1,02E-05 8,96E-06 7,24E-061988 11 8,9 1,3E-05 1,34E-05 1,3E-05 1,3E-05 1,15E-05 9,25E-061988 12 8,6 1,67E-05 1,72E-05 1,68E-05 1,68E-05 1,48E-05 1,19E-051989 01 8,9 2,3E-05 2,33E-05 2,29E-05 2,3E-05 2,02E-05 1,65E-051989 02 9,7 2,68E-05 2,72E-05 2,54E-05 2,55E-05 2,26E-05 1,87E-051989 03 10,5 2,86E-05 2,88E-05 2,62E-05 2,63E-05 2,35E-05 1,97E-051989 04 10,3 3,1E-05 3,11E-05 2,75E-05 2,75E-05 2,47E-05 2,08E-051989 05 10,1 3,66E-05 3,63E-05 3,05E-05 3,06E-05 2,79E-05 2,36E-05
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