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http://ativandoneuronios.files.wordpress.com/2011/04/eugc3a8ne_delacroix_-_la_libertc3a9_guidant_le_peuple.jpg Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio Rede São Paulo de Filosofia Política d04

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Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESPEnsino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Rede Satildeo Paulo de

Filosofia Poliacutetica d04

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

2012

copy 2012 by Unesp - Universidade estadUal paUlista

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

Produccedilatildeo Graacuteficalili lungarezi

Produccedilatildeo Audiovisualpamela bianca Gouveia tuacutelio

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASsumario

ficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04

SumaacuterioFormas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade 5

Direito Natural e Contratualismo na Modernidade 15

Direitos sociais e Direitos humanos 26

Violecircncia e Disciplina na Atualidade39

Bibliografia 48

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

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tema 1

1Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade

11 Os primoacuterdios

A figura de Soacutecrates (469 ac-399 ac)1 eacute emblemaacutetica para a histoacuteria da filosofia e sobretudo para o que cos-tumamos chamar de filosofia poliacutetica Com ele a Filosofia comeccedilaraacute a refletir sobre o que podemos chamar de lsquopoder do poderrsquo ou seja sobre o poder da verdade que eacute verda-deira e da verdade que eacute aparecircncia que eacute apenas verossiacutemil que parece verdadeira mas natildeo eacute que por extensatildeo parece justa mas eacute injusta O poder poliacutetico entra em questatildeo pois eacute a poliacutetica que estabelece como e quem tem o poder de tomar decisotildees sejam justas ou natildeo

1 Soacutecrates de Atenas (469 ac-399 ac) eacute considerado um dos pais da Filosofia contudo nunca escreveu Aplicava em eacutetica e poliacutetica o raciociacutenio que os filoacutesofos que o antecederam faziam sobre a natureza (phisis em grego) Foi condenado agrave morte acusado de perverter a juventude e natildeo respeitar os deuses de Ate-nas A morte de Soacutecrates eacute um dos principais temas explorados por Platatildeo que foi seu dis-ciacutepulo em suas obras (Apologia de Saacutecrates Feacutedon Criacutetias Criacuteton) algumas disponiacuteveis no Portal Dominio Puacuteblico Referecircncia de um belo quadro agrave morte de Soacutecrates httpptwikipediaorgwikiFicheiroDavid_-_The_Death_of_Socratesjpg

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558402_redefor_d04_filosofia_tema01flv

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isciplina 04TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

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tema 1

1As reflexotildees acerca do poder e da justiccedila no entanto vinham de muito antes Desde os seus primoacuterdios no pensamento dos primeiros filoacutesofos gregos a filosofia refletiu de alguma maneira sobre o poder do conhecimento e da razatildeo sobre a relaccedilatildeo entre o poder e a justiccedila Anaximandro (610 aC-547 aC)2 por exemplo afirmou que o princiacutepio de todos os seres eacute o ilimitado (aacutepeiron em grego) pois eacute dele que vecircm os seres e para onde se corrompem segundo a justiccedila e a ordenaccedilatildeo do tempo Assim os seres se geram e se corrompem segundo uma justiccedila contraacuteria ao caos agrave bagunccedila e agrave injusticcedila motivo pelo qual os deuses satildeo justos ou seja a justiccedila eacute o padratildeo de relaccedilatildeo dos deuses entre si a justiccedila e o tempo se impotildeem aos deuses como meio para evitar o caos a justiccedila e o tempo satildeo poderes imp-ostos aos deuses Haacute assim deuses com estes po-deres especiacuteficos Zeus (ou Juacutepiter) representando a justiccedila e Cronos (ou Saturno)3 como o senhor do tempo Parmecircnides (530 aC-460 aC)4 por sua vez afirmava que ldquoo ser eacute o natildeo-ser natildeo eacuterdquo ou seja o ser tem o poder para ser e o natildeo-ser natildeo tem o poder para ser e por isso natildeo eacute Desde o nasci-mento da filosofia jaacute estavam presentes reflexotildees acerca do poder e da justiccedila

Seraacute no entanto em Atenas em meio agrave efervescecircncia poliacuteti-ca da formaccedilatildeo histoacuterica da democracia que o problema poliacuteti-co e as reflexotildees acerca da natureza do poder se colocaram de forma mais premente Agrave medida que a reflexatildeo sobre o poder adquire um sentido mais propriamente poliacutetico o poder na Po-lis entra em questatildeo O meio pelo qual o pensamento sobre o poder e a poliacutetica se estruturava na Grecia Antiga e na origem da Filosofia estava vinculado agrave reflexatildeo sobre as formas-de-governo5 Quem na antiguidade quisesse compreender o fun-cionamento e o princiacutepio regulador da vida poliacutetica perguntava

2 Anaximandro de Mileto (610 aC-547 aC) eacute disciacutepu-lo do primeiro de todos os filoacutesofos Tales de Mileto (625 aC-528 aC) e continuador de sua doutrina Foi o pri-meiro a se preocupar com o princiacutepio das coisas (arkheacute) Tales disse ldquoTudo eacute aacuteguardquo e Anaximandro ampliou ldquoO princiacutepio de tudo eacute o indefinido (apeiron)rdquo

3 Zeus eacute o deus dos deuses na religiatildeo (ou mitologia) grega e seu pai Cronos eacute o deus do tempo Juacutepiter e Saturno respectivamente satildeo seus nomes romanos Veja-mos dois belos quadros que representam SaturnohttpptwikipediaorgwikiFicheiroFrancisco_de_Goya_Saturno_devorando_a_su_hijo_(1819-1823)jpg httpptwikipediaorgwikiFicheiroRubens_saturnjpg

4 Parmecircnides de Eleacuteia (530 aC-460 aC) foi o primeiro a distinguir filosoficamente verdade e opiniatildeo (doxa) Afir-mava que do que existiu existe e existiraacute eacute una eacute o que ele chama de ldquoserrdquo (einai em grego o particiacutepio presente ndash geruacutendio ndash eacute ontos ldquosendordquo donde ontologia) A verda-de eacute imutaacutevel eacute o ser e tudo o que aconteceu acontece aconteceraacute eacute imutaacutevel recusar isso eacute errar enganar-se mentir natildeo pensar

5 Forma-de-governo ndash Usamos a ex-pressatildeo forma-de-governo com hiacutefen porque a palavra grega ldquopoliteiardquo designa um campo semacircntico maior do que o que nos habituamos a chamar de forma de governo Pode significar tambeacutem cons-tituiccedilatildeo forma de constituiccedilatildeo regime de governo repuacuteblica sociedade poliacuteti-ca sociedade bem constituiacuteda ou sim-plesmente a democracia bem sucedida Como o conceito de origem grega eacute mais importante do que a palavra que conside-ramos optamos por manter o hiacutefen

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isciplina 04TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

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tema 1

1qual era a forma de governo vigente na Polis Assim a tipologia das formas-de-governo caracter-izou as primeiras reflexotildees da filosofia poliacutetica e do poder poliacutetico

A primeira exposiccedilatildeo sistemaacutetica acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heroacutedoto (485 aC-420 aC)6 Em sua obra Histoacuteria (livro VIII 79-81) ele narra a conversa entre trecircs persas Otanes Megabises e Dario que apoacutes a queda do tirano Cambises discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Peacuter-sia apoacutes a tirania Cada um dos trecircs defende uma forma de governo diferente e critica outra apresenta argumentos favoraacuteveis a uma ou outra

Otanes afirma que a monarquia devido agrave riqueza e inveja do monarca degenera sempre em tirania e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder poliacutetico entatildeo o melhor eacute entregar o poder ao povo e constituir uma democracia

Megabises o segundo a falar concorda com a criacutetica da monarquia mas tem ressalvas quanto agrave democracia pois a massa eacute inepta e desatinada trocar a prepotecircncia de um tirano pela prepotecircncia da turba implica no mesmo resultado Defende entatildeo a aristocracia o poder entregue agravequeles escolhidos como os melhores homens da Peacutersia

Dario por sua vez afirmou que em seu estado perfeito todas as trecircs formas de governo satildeo boas mas entre elas a monarquia eacute a melhor quando ocupada pelo melhor homem pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes e numa democracia ocorre corrupccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos

Podemos notar que encontramos a classificaccedilatildeo das formas-de-governo e um julgamento de cada uma Uma questatildeo eacute quantos governam e outra eacute como governa Haacute assim uma de-scriccedilatildeo de cada forma e em seguida o elogio de uma delas Esta conversa inaugura o modelo teoacuterico que a antiguidade grega adotou na reflexatildeo acerca das formas de governo

6 Heroacutedoto de Halicarnasso (485 aC-420 aC) eacute considerado o Pai da Histoacuteria Es-creveu a histoacuteria das guerras meacutedicas en-tre a Peacutersia e a Greacutecia Ele nos conta por exemplo a Batalha das Termoacutepilas onde Le-ocircnidas de Esparta lidera um exeacutercito de 300 soldados e impede Xerxes da Peacutersia com dezenas de milhares de soldados de inva-dir a Greacutecia em 480 aC (Histoacuteria livro VII 198-201) Referecircncia de um belo quadro httpptwikipediaorgwikiFicheiroJacques--Louis_David_004_Thermopylaejpg

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isciplina 04TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

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tema 1

112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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tema 1

1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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TEMAStema 2

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04

Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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  • 4II
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Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

2012

copy 2012 by Unesp - Universidade estadUal paUlista

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

Produccedilatildeo Graacuteficalili lungarezi

Produccedilatildeo Audiovisualpamela bianca Gouveia tuacutelio

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASsumario

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04

SumaacuterioFormas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade 5

Direito Natural e Contratualismo na Modernidade 15

Direitos sociais e Direitos humanos 26

Violecircncia e Disciplina na Atualidade39

Bibliografia 48

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade

11 Os primoacuterdios

A figura de Soacutecrates (469 ac-399 ac)1 eacute emblemaacutetica para a histoacuteria da filosofia e sobretudo para o que cos-tumamos chamar de filosofia poliacutetica Com ele a Filosofia comeccedilaraacute a refletir sobre o que podemos chamar de lsquopoder do poderrsquo ou seja sobre o poder da verdade que eacute verda-deira e da verdade que eacute aparecircncia que eacute apenas verossiacutemil que parece verdadeira mas natildeo eacute que por extensatildeo parece justa mas eacute injusta O poder poliacutetico entra em questatildeo pois eacute a poliacutetica que estabelece como e quem tem o poder de tomar decisotildees sejam justas ou natildeo

1 Soacutecrates de Atenas (469 ac-399 ac) eacute considerado um dos pais da Filosofia contudo nunca escreveu Aplicava em eacutetica e poliacutetica o raciociacutenio que os filoacutesofos que o antecederam faziam sobre a natureza (phisis em grego) Foi condenado agrave morte acusado de perverter a juventude e natildeo respeitar os deuses de Ate-nas A morte de Soacutecrates eacute um dos principais temas explorados por Platatildeo que foi seu dis-ciacutepulo em suas obras (Apologia de Saacutecrates Feacutedon Criacutetias Criacuteton) algumas disponiacuteveis no Portal Dominio Puacuteblico Referecircncia de um belo quadro agrave morte de Soacutecrates httpptwikipediaorgwikiFicheiroDavid_-_The_Death_of_Socratesjpg

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558402_redefor_d04_filosofia_tema01flv

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1As reflexotildees acerca do poder e da justiccedila no entanto vinham de muito antes Desde os seus primoacuterdios no pensamento dos primeiros filoacutesofos gregos a filosofia refletiu de alguma maneira sobre o poder do conhecimento e da razatildeo sobre a relaccedilatildeo entre o poder e a justiccedila Anaximandro (610 aC-547 aC)2 por exemplo afirmou que o princiacutepio de todos os seres eacute o ilimitado (aacutepeiron em grego) pois eacute dele que vecircm os seres e para onde se corrompem segundo a justiccedila e a ordenaccedilatildeo do tempo Assim os seres se geram e se corrompem segundo uma justiccedila contraacuteria ao caos agrave bagunccedila e agrave injusticcedila motivo pelo qual os deuses satildeo justos ou seja a justiccedila eacute o padratildeo de relaccedilatildeo dos deuses entre si a justiccedila e o tempo se impotildeem aos deuses como meio para evitar o caos a justiccedila e o tempo satildeo poderes imp-ostos aos deuses Haacute assim deuses com estes po-deres especiacuteficos Zeus (ou Juacutepiter) representando a justiccedila e Cronos (ou Saturno)3 como o senhor do tempo Parmecircnides (530 aC-460 aC)4 por sua vez afirmava que ldquoo ser eacute o natildeo-ser natildeo eacuterdquo ou seja o ser tem o poder para ser e o natildeo-ser natildeo tem o poder para ser e por isso natildeo eacute Desde o nasci-mento da filosofia jaacute estavam presentes reflexotildees acerca do poder e da justiccedila

Seraacute no entanto em Atenas em meio agrave efervescecircncia poliacuteti-ca da formaccedilatildeo histoacuterica da democracia que o problema poliacuteti-co e as reflexotildees acerca da natureza do poder se colocaram de forma mais premente Agrave medida que a reflexatildeo sobre o poder adquire um sentido mais propriamente poliacutetico o poder na Po-lis entra em questatildeo O meio pelo qual o pensamento sobre o poder e a poliacutetica se estruturava na Grecia Antiga e na origem da Filosofia estava vinculado agrave reflexatildeo sobre as formas-de-governo5 Quem na antiguidade quisesse compreender o fun-cionamento e o princiacutepio regulador da vida poliacutetica perguntava

2 Anaximandro de Mileto (610 aC-547 aC) eacute disciacutepu-lo do primeiro de todos os filoacutesofos Tales de Mileto (625 aC-528 aC) e continuador de sua doutrina Foi o pri-meiro a se preocupar com o princiacutepio das coisas (arkheacute) Tales disse ldquoTudo eacute aacuteguardquo e Anaximandro ampliou ldquoO princiacutepio de tudo eacute o indefinido (apeiron)rdquo

3 Zeus eacute o deus dos deuses na religiatildeo (ou mitologia) grega e seu pai Cronos eacute o deus do tempo Juacutepiter e Saturno respectivamente satildeo seus nomes romanos Veja-mos dois belos quadros que representam SaturnohttpptwikipediaorgwikiFicheiroFrancisco_de_Goya_Saturno_devorando_a_su_hijo_(1819-1823)jpg httpptwikipediaorgwikiFicheiroRubens_saturnjpg

4 Parmecircnides de Eleacuteia (530 aC-460 aC) foi o primeiro a distinguir filosoficamente verdade e opiniatildeo (doxa) Afir-mava que do que existiu existe e existiraacute eacute una eacute o que ele chama de ldquoserrdquo (einai em grego o particiacutepio presente ndash geruacutendio ndash eacute ontos ldquosendordquo donde ontologia) A verda-de eacute imutaacutevel eacute o ser e tudo o que aconteceu acontece aconteceraacute eacute imutaacutevel recusar isso eacute errar enganar-se mentir natildeo pensar

5 Forma-de-governo ndash Usamos a ex-pressatildeo forma-de-governo com hiacutefen porque a palavra grega ldquopoliteiardquo designa um campo semacircntico maior do que o que nos habituamos a chamar de forma de governo Pode significar tambeacutem cons-tituiccedilatildeo forma de constituiccedilatildeo regime de governo repuacuteblica sociedade poliacuteti-ca sociedade bem constituiacuteda ou sim-plesmente a democracia bem sucedida Como o conceito de origem grega eacute mais importante do que a palavra que conside-ramos optamos por manter o hiacutefen

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1qual era a forma de governo vigente na Polis Assim a tipologia das formas-de-governo caracter-izou as primeiras reflexotildees da filosofia poliacutetica e do poder poliacutetico

A primeira exposiccedilatildeo sistemaacutetica acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heroacutedoto (485 aC-420 aC)6 Em sua obra Histoacuteria (livro VIII 79-81) ele narra a conversa entre trecircs persas Otanes Megabises e Dario que apoacutes a queda do tirano Cambises discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Peacuter-sia apoacutes a tirania Cada um dos trecircs defende uma forma de governo diferente e critica outra apresenta argumentos favoraacuteveis a uma ou outra

Otanes afirma que a monarquia devido agrave riqueza e inveja do monarca degenera sempre em tirania e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder poliacutetico entatildeo o melhor eacute entregar o poder ao povo e constituir uma democracia

Megabises o segundo a falar concorda com a criacutetica da monarquia mas tem ressalvas quanto agrave democracia pois a massa eacute inepta e desatinada trocar a prepotecircncia de um tirano pela prepotecircncia da turba implica no mesmo resultado Defende entatildeo a aristocracia o poder entregue agravequeles escolhidos como os melhores homens da Peacutersia

Dario por sua vez afirmou que em seu estado perfeito todas as trecircs formas de governo satildeo boas mas entre elas a monarquia eacute a melhor quando ocupada pelo melhor homem pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes e numa democracia ocorre corrupccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos

Podemos notar que encontramos a classificaccedilatildeo das formas-de-governo e um julgamento de cada uma Uma questatildeo eacute quantos governam e outra eacute como governa Haacute assim uma de-scriccedilatildeo de cada forma e em seguida o elogio de uma delas Esta conversa inaugura o modelo teoacuterico que a antiguidade grega adotou na reflexatildeo acerca das formas de governo

6 Heroacutedoto de Halicarnasso (485 aC-420 aC) eacute considerado o Pai da Histoacuteria Es-creveu a histoacuteria das guerras meacutedicas en-tre a Peacutersia e a Greacutecia Ele nos conta por exemplo a Batalha das Termoacutepilas onde Le-ocircnidas de Esparta lidera um exeacutercito de 300 soldados e impede Xerxes da Peacutersia com dezenas de milhares de soldados de inva-dir a Greacutecia em 480 aC (Histoacuteria livro VII 198-201) Referecircncia de um belo quadro httpptwikipediaorgwikiFicheiroJacques--Louis_David_004_Thermopylaejpg

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tema 1

112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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TEMAStema 2

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

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bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

Produccedilatildeo Graacuteficalili lungarezi

Produccedilatildeo Audiovisualpamela bianca Gouveia tuacutelio

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASsumario

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isciplina 04

SumaacuterioFormas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade 5

Direito Natural e Contratualismo na Modernidade 15

Direitos sociais e Direitos humanos 26

Violecircncia e Disciplina na Atualidade39

Bibliografia 48

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edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

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tema 1

1Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade

11 Os primoacuterdios

A figura de Soacutecrates (469 ac-399 ac)1 eacute emblemaacutetica para a histoacuteria da filosofia e sobretudo para o que cos-tumamos chamar de filosofia poliacutetica Com ele a Filosofia comeccedilaraacute a refletir sobre o que podemos chamar de lsquopoder do poderrsquo ou seja sobre o poder da verdade que eacute verda-deira e da verdade que eacute aparecircncia que eacute apenas verossiacutemil que parece verdadeira mas natildeo eacute que por extensatildeo parece justa mas eacute injusta O poder poliacutetico entra em questatildeo pois eacute a poliacutetica que estabelece como e quem tem o poder de tomar decisotildees sejam justas ou natildeo

1 Soacutecrates de Atenas (469 ac-399 ac) eacute considerado um dos pais da Filosofia contudo nunca escreveu Aplicava em eacutetica e poliacutetica o raciociacutenio que os filoacutesofos que o antecederam faziam sobre a natureza (phisis em grego) Foi condenado agrave morte acusado de perverter a juventude e natildeo respeitar os deuses de Ate-nas A morte de Soacutecrates eacute um dos principais temas explorados por Platatildeo que foi seu dis-ciacutepulo em suas obras (Apologia de Saacutecrates Feacutedon Criacutetias Criacuteton) algumas disponiacuteveis no Portal Dominio Puacuteblico Referecircncia de um belo quadro agrave morte de Soacutecrates httpptwikipediaorgwikiFicheiroDavid_-_The_Death_of_Socratesjpg

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558402_redefor_d04_filosofia_tema01flv

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1As reflexotildees acerca do poder e da justiccedila no entanto vinham de muito antes Desde os seus primoacuterdios no pensamento dos primeiros filoacutesofos gregos a filosofia refletiu de alguma maneira sobre o poder do conhecimento e da razatildeo sobre a relaccedilatildeo entre o poder e a justiccedila Anaximandro (610 aC-547 aC)2 por exemplo afirmou que o princiacutepio de todos os seres eacute o ilimitado (aacutepeiron em grego) pois eacute dele que vecircm os seres e para onde se corrompem segundo a justiccedila e a ordenaccedilatildeo do tempo Assim os seres se geram e se corrompem segundo uma justiccedila contraacuteria ao caos agrave bagunccedila e agrave injusticcedila motivo pelo qual os deuses satildeo justos ou seja a justiccedila eacute o padratildeo de relaccedilatildeo dos deuses entre si a justiccedila e o tempo se impotildeem aos deuses como meio para evitar o caos a justiccedila e o tempo satildeo poderes imp-ostos aos deuses Haacute assim deuses com estes po-deres especiacuteficos Zeus (ou Juacutepiter) representando a justiccedila e Cronos (ou Saturno)3 como o senhor do tempo Parmecircnides (530 aC-460 aC)4 por sua vez afirmava que ldquoo ser eacute o natildeo-ser natildeo eacuterdquo ou seja o ser tem o poder para ser e o natildeo-ser natildeo tem o poder para ser e por isso natildeo eacute Desde o nasci-mento da filosofia jaacute estavam presentes reflexotildees acerca do poder e da justiccedila

Seraacute no entanto em Atenas em meio agrave efervescecircncia poliacuteti-ca da formaccedilatildeo histoacuterica da democracia que o problema poliacuteti-co e as reflexotildees acerca da natureza do poder se colocaram de forma mais premente Agrave medida que a reflexatildeo sobre o poder adquire um sentido mais propriamente poliacutetico o poder na Po-lis entra em questatildeo O meio pelo qual o pensamento sobre o poder e a poliacutetica se estruturava na Grecia Antiga e na origem da Filosofia estava vinculado agrave reflexatildeo sobre as formas-de-governo5 Quem na antiguidade quisesse compreender o fun-cionamento e o princiacutepio regulador da vida poliacutetica perguntava

2 Anaximandro de Mileto (610 aC-547 aC) eacute disciacutepu-lo do primeiro de todos os filoacutesofos Tales de Mileto (625 aC-528 aC) e continuador de sua doutrina Foi o pri-meiro a se preocupar com o princiacutepio das coisas (arkheacute) Tales disse ldquoTudo eacute aacuteguardquo e Anaximandro ampliou ldquoO princiacutepio de tudo eacute o indefinido (apeiron)rdquo

3 Zeus eacute o deus dos deuses na religiatildeo (ou mitologia) grega e seu pai Cronos eacute o deus do tempo Juacutepiter e Saturno respectivamente satildeo seus nomes romanos Veja-mos dois belos quadros que representam SaturnohttpptwikipediaorgwikiFicheiroFrancisco_de_Goya_Saturno_devorando_a_su_hijo_(1819-1823)jpg httpptwikipediaorgwikiFicheiroRubens_saturnjpg

4 Parmecircnides de Eleacuteia (530 aC-460 aC) foi o primeiro a distinguir filosoficamente verdade e opiniatildeo (doxa) Afir-mava que do que existiu existe e existiraacute eacute una eacute o que ele chama de ldquoserrdquo (einai em grego o particiacutepio presente ndash geruacutendio ndash eacute ontos ldquosendordquo donde ontologia) A verda-de eacute imutaacutevel eacute o ser e tudo o que aconteceu acontece aconteceraacute eacute imutaacutevel recusar isso eacute errar enganar-se mentir natildeo pensar

5 Forma-de-governo ndash Usamos a ex-pressatildeo forma-de-governo com hiacutefen porque a palavra grega ldquopoliteiardquo designa um campo semacircntico maior do que o que nos habituamos a chamar de forma de governo Pode significar tambeacutem cons-tituiccedilatildeo forma de constituiccedilatildeo regime de governo repuacuteblica sociedade poliacuteti-ca sociedade bem constituiacuteda ou sim-plesmente a democracia bem sucedida Como o conceito de origem grega eacute mais importante do que a palavra que conside-ramos optamos por manter o hiacutefen

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tema 1

1qual era a forma de governo vigente na Polis Assim a tipologia das formas-de-governo caracter-izou as primeiras reflexotildees da filosofia poliacutetica e do poder poliacutetico

A primeira exposiccedilatildeo sistemaacutetica acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heroacutedoto (485 aC-420 aC)6 Em sua obra Histoacuteria (livro VIII 79-81) ele narra a conversa entre trecircs persas Otanes Megabises e Dario que apoacutes a queda do tirano Cambises discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Peacuter-sia apoacutes a tirania Cada um dos trecircs defende uma forma de governo diferente e critica outra apresenta argumentos favoraacuteveis a uma ou outra

Otanes afirma que a monarquia devido agrave riqueza e inveja do monarca degenera sempre em tirania e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder poliacutetico entatildeo o melhor eacute entregar o poder ao povo e constituir uma democracia

Megabises o segundo a falar concorda com a criacutetica da monarquia mas tem ressalvas quanto agrave democracia pois a massa eacute inepta e desatinada trocar a prepotecircncia de um tirano pela prepotecircncia da turba implica no mesmo resultado Defende entatildeo a aristocracia o poder entregue agravequeles escolhidos como os melhores homens da Peacutersia

Dario por sua vez afirmou que em seu estado perfeito todas as trecircs formas de governo satildeo boas mas entre elas a monarquia eacute a melhor quando ocupada pelo melhor homem pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes e numa democracia ocorre corrupccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos

Podemos notar que encontramos a classificaccedilatildeo das formas-de-governo e um julgamento de cada uma Uma questatildeo eacute quantos governam e outra eacute como governa Haacute assim uma de-scriccedilatildeo de cada forma e em seguida o elogio de uma delas Esta conversa inaugura o modelo teoacuterico que a antiguidade grega adotou na reflexatildeo acerca das formas de governo

6 Heroacutedoto de Halicarnasso (485 aC-420 aC) eacute considerado o Pai da Histoacuteria Es-creveu a histoacuteria das guerras meacutedicas en-tre a Peacutersia e a Greacutecia Ele nos conta por exemplo a Batalha das Termoacutepilas onde Le-ocircnidas de Esparta lidera um exeacutercito de 300 soldados e impede Xerxes da Peacutersia com dezenas de milhares de soldados de inva-dir a Greacutecia em 480 aC (Histoacuteria livro VII 198-201) Referecircncia de um belo quadro httpptwikipediaorgwikiFicheiroJacques--Louis_David_004_Thermopylaejpg

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tema 1

112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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tema 1

1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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tema 1

1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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TEMAStema 2

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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  • 4II
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  • 4X
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TEMASsumario

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isciplina 04

SumaacuterioFormas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade 5

Direito Natural e Contratualismo na Modernidade 15

Direitos sociais e Direitos humanos 26

Violecircncia e Disciplina na Atualidade39

Bibliografia 48

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade

11 Os primoacuterdios

A figura de Soacutecrates (469 ac-399 ac)1 eacute emblemaacutetica para a histoacuteria da filosofia e sobretudo para o que cos-tumamos chamar de filosofia poliacutetica Com ele a Filosofia comeccedilaraacute a refletir sobre o que podemos chamar de lsquopoder do poderrsquo ou seja sobre o poder da verdade que eacute verda-deira e da verdade que eacute aparecircncia que eacute apenas verossiacutemil que parece verdadeira mas natildeo eacute que por extensatildeo parece justa mas eacute injusta O poder poliacutetico entra em questatildeo pois eacute a poliacutetica que estabelece como e quem tem o poder de tomar decisotildees sejam justas ou natildeo

1 Soacutecrates de Atenas (469 ac-399 ac) eacute considerado um dos pais da Filosofia contudo nunca escreveu Aplicava em eacutetica e poliacutetica o raciociacutenio que os filoacutesofos que o antecederam faziam sobre a natureza (phisis em grego) Foi condenado agrave morte acusado de perverter a juventude e natildeo respeitar os deuses de Ate-nas A morte de Soacutecrates eacute um dos principais temas explorados por Platatildeo que foi seu dis-ciacutepulo em suas obras (Apologia de Saacutecrates Feacutedon Criacutetias Criacuteton) algumas disponiacuteveis no Portal Dominio Puacuteblico Referecircncia de um belo quadro agrave morte de Soacutecrates httpptwikipediaorgwikiFicheiroDavid_-_The_Death_of_Socratesjpg

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558402_redefor_d04_filosofia_tema01flv

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1As reflexotildees acerca do poder e da justiccedila no entanto vinham de muito antes Desde os seus primoacuterdios no pensamento dos primeiros filoacutesofos gregos a filosofia refletiu de alguma maneira sobre o poder do conhecimento e da razatildeo sobre a relaccedilatildeo entre o poder e a justiccedila Anaximandro (610 aC-547 aC)2 por exemplo afirmou que o princiacutepio de todos os seres eacute o ilimitado (aacutepeiron em grego) pois eacute dele que vecircm os seres e para onde se corrompem segundo a justiccedila e a ordenaccedilatildeo do tempo Assim os seres se geram e se corrompem segundo uma justiccedila contraacuteria ao caos agrave bagunccedila e agrave injusticcedila motivo pelo qual os deuses satildeo justos ou seja a justiccedila eacute o padratildeo de relaccedilatildeo dos deuses entre si a justiccedila e o tempo se impotildeem aos deuses como meio para evitar o caos a justiccedila e o tempo satildeo poderes imp-ostos aos deuses Haacute assim deuses com estes po-deres especiacuteficos Zeus (ou Juacutepiter) representando a justiccedila e Cronos (ou Saturno)3 como o senhor do tempo Parmecircnides (530 aC-460 aC)4 por sua vez afirmava que ldquoo ser eacute o natildeo-ser natildeo eacuterdquo ou seja o ser tem o poder para ser e o natildeo-ser natildeo tem o poder para ser e por isso natildeo eacute Desde o nasci-mento da filosofia jaacute estavam presentes reflexotildees acerca do poder e da justiccedila

Seraacute no entanto em Atenas em meio agrave efervescecircncia poliacuteti-ca da formaccedilatildeo histoacuterica da democracia que o problema poliacuteti-co e as reflexotildees acerca da natureza do poder se colocaram de forma mais premente Agrave medida que a reflexatildeo sobre o poder adquire um sentido mais propriamente poliacutetico o poder na Po-lis entra em questatildeo O meio pelo qual o pensamento sobre o poder e a poliacutetica se estruturava na Grecia Antiga e na origem da Filosofia estava vinculado agrave reflexatildeo sobre as formas-de-governo5 Quem na antiguidade quisesse compreender o fun-cionamento e o princiacutepio regulador da vida poliacutetica perguntava

2 Anaximandro de Mileto (610 aC-547 aC) eacute disciacutepu-lo do primeiro de todos os filoacutesofos Tales de Mileto (625 aC-528 aC) e continuador de sua doutrina Foi o pri-meiro a se preocupar com o princiacutepio das coisas (arkheacute) Tales disse ldquoTudo eacute aacuteguardquo e Anaximandro ampliou ldquoO princiacutepio de tudo eacute o indefinido (apeiron)rdquo

3 Zeus eacute o deus dos deuses na religiatildeo (ou mitologia) grega e seu pai Cronos eacute o deus do tempo Juacutepiter e Saturno respectivamente satildeo seus nomes romanos Veja-mos dois belos quadros que representam SaturnohttpptwikipediaorgwikiFicheiroFrancisco_de_Goya_Saturno_devorando_a_su_hijo_(1819-1823)jpg httpptwikipediaorgwikiFicheiroRubens_saturnjpg

4 Parmecircnides de Eleacuteia (530 aC-460 aC) foi o primeiro a distinguir filosoficamente verdade e opiniatildeo (doxa) Afir-mava que do que existiu existe e existiraacute eacute una eacute o que ele chama de ldquoserrdquo (einai em grego o particiacutepio presente ndash geruacutendio ndash eacute ontos ldquosendordquo donde ontologia) A verda-de eacute imutaacutevel eacute o ser e tudo o que aconteceu acontece aconteceraacute eacute imutaacutevel recusar isso eacute errar enganar-se mentir natildeo pensar

5 Forma-de-governo ndash Usamos a ex-pressatildeo forma-de-governo com hiacutefen porque a palavra grega ldquopoliteiardquo designa um campo semacircntico maior do que o que nos habituamos a chamar de forma de governo Pode significar tambeacutem cons-tituiccedilatildeo forma de constituiccedilatildeo regime de governo repuacuteblica sociedade poliacuteti-ca sociedade bem constituiacuteda ou sim-plesmente a democracia bem sucedida Como o conceito de origem grega eacute mais importante do que a palavra que conside-ramos optamos por manter o hiacutefen

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1qual era a forma de governo vigente na Polis Assim a tipologia das formas-de-governo caracter-izou as primeiras reflexotildees da filosofia poliacutetica e do poder poliacutetico

A primeira exposiccedilatildeo sistemaacutetica acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heroacutedoto (485 aC-420 aC)6 Em sua obra Histoacuteria (livro VIII 79-81) ele narra a conversa entre trecircs persas Otanes Megabises e Dario que apoacutes a queda do tirano Cambises discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Peacuter-sia apoacutes a tirania Cada um dos trecircs defende uma forma de governo diferente e critica outra apresenta argumentos favoraacuteveis a uma ou outra

Otanes afirma que a monarquia devido agrave riqueza e inveja do monarca degenera sempre em tirania e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder poliacutetico entatildeo o melhor eacute entregar o poder ao povo e constituir uma democracia

Megabises o segundo a falar concorda com a criacutetica da monarquia mas tem ressalvas quanto agrave democracia pois a massa eacute inepta e desatinada trocar a prepotecircncia de um tirano pela prepotecircncia da turba implica no mesmo resultado Defende entatildeo a aristocracia o poder entregue agravequeles escolhidos como os melhores homens da Peacutersia

Dario por sua vez afirmou que em seu estado perfeito todas as trecircs formas de governo satildeo boas mas entre elas a monarquia eacute a melhor quando ocupada pelo melhor homem pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes e numa democracia ocorre corrupccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos

Podemos notar que encontramos a classificaccedilatildeo das formas-de-governo e um julgamento de cada uma Uma questatildeo eacute quantos governam e outra eacute como governa Haacute assim uma de-scriccedilatildeo de cada forma e em seguida o elogio de uma delas Esta conversa inaugura o modelo teoacuterico que a antiguidade grega adotou na reflexatildeo acerca das formas de governo

6 Heroacutedoto de Halicarnasso (485 aC-420 aC) eacute considerado o Pai da Histoacuteria Es-creveu a histoacuteria das guerras meacutedicas en-tre a Peacutersia e a Greacutecia Ele nos conta por exemplo a Batalha das Termoacutepilas onde Le-ocircnidas de Esparta lidera um exeacutercito de 300 soldados e impede Xerxes da Peacutersia com dezenas de milhares de soldados de inva-dir a Greacutecia em 480 aC (Histoacuteria livro VII 198-201) Referecircncia de um belo quadro httpptwikipediaorgwikiFicheiroJacques--Louis_David_004_Thermopylaejpg

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isciplina 04TEMAS

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tema 1

112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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tema 1

1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558502_redefor_d04_filosofia_tema02flv

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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TEMAStema 4

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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TEMAStema 4

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
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  • 4II
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  • 4X
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tema 1

1Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade

11 Os primoacuterdios

A figura de Soacutecrates (469 ac-399 ac)1 eacute emblemaacutetica para a histoacuteria da filosofia e sobretudo para o que cos-tumamos chamar de filosofia poliacutetica Com ele a Filosofia comeccedilaraacute a refletir sobre o que podemos chamar de lsquopoder do poderrsquo ou seja sobre o poder da verdade que eacute verda-deira e da verdade que eacute aparecircncia que eacute apenas verossiacutemil que parece verdadeira mas natildeo eacute que por extensatildeo parece justa mas eacute injusta O poder poliacutetico entra em questatildeo pois eacute a poliacutetica que estabelece como e quem tem o poder de tomar decisotildees sejam justas ou natildeo

1 Soacutecrates de Atenas (469 ac-399 ac) eacute considerado um dos pais da Filosofia contudo nunca escreveu Aplicava em eacutetica e poliacutetica o raciociacutenio que os filoacutesofos que o antecederam faziam sobre a natureza (phisis em grego) Foi condenado agrave morte acusado de perverter a juventude e natildeo respeitar os deuses de Ate-nas A morte de Soacutecrates eacute um dos principais temas explorados por Platatildeo que foi seu dis-ciacutepulo em suas obras (Apologia de Saacutecrates Feacutedon Criacutetias Criacuteton) algumas disponiacuteveis no Portal Dominio Puacuteblico Referecircncia de um belo quadro agrave morte de Soacutecrates httpptwikipediaorgwikiFicheiroDavid_-_The_Death_of_Socratesjpg

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558402_redefor_d04_filosofia_tema01flv

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tema 1

1As reflexotildees acerca do poder e da justiccedila no entanto vinham de muito antes Desde os seus primoacuterdios no pensamento dos primeiros filoacutesofos gregos a filosofia refletiu de alguma maneira sobre o poder do conhecimento e da razatildeo sobre a relaccedilatildeo entre o poder e a justiccedila Anaximandro (610 aC-547 aC)2 por exemplo afirmou que o princiacutepio de todos os seres eacute o ilimitado (aacutepeiron em grego) pois eacute dele que vecircm os seres e para onde se corrompem segundo a justiccedila e a ordenaccedilatildeo do tempo Assim os seres se geram e se corrompem segundo uma justiccedila contraacuteria ao caos agrave bagunccedila e agrave injusticcedila motivo pelo qual os deuses satildeo justos ou seja a justiccedila eacute o padratildeo de relaccedilatildeo dos deuses entre si a justiccedila e o tempo se impotildeem aos deuses como meio para evitar o caos a justiccedila e o tempo satildeo poderes imp-ostos aos deuses Haacute assim deuses com estes po-deres especiacuteficos Zeus (ou Juacutepiter) representando a justiccedila e Cronos (ou Saturno)3 como o senhor do tempo Parmecircnides (530 aC-460 aC)4 por sua vez afirmava que ldquoo ser eacute o natildeo-ser natildeo eacuterdquo ou seja o ser tem o poder para ser e o natildeo-ser natildeo tem o poder para ser e por isso natildeo eacute Desde o nasci-mento da filosofia jaacute estavam presentes reflexotildees acerca do poder e da justiccedila

Seraacute no entanto em Atenas em meio agrave efervescecircncia poliacuteti-ca da formaccedilatildeo histoacuterica da democracia que o problema poliacuteti-co e as reflexotildees acerca da natureza do poder se colocaram de forma mais premente Agrave medida que a reflexatildeo sobre o poder adquire um sentido mais propriamente poliacutetico o poder na Po-lis entra em questatildeo O meio pelo qual o pensamento sobre o poder e a poliacutetica se estruturava na Grecia Antiga e na origem da Filosofia estava vinculado agrave reflexatildeo sobre as formas-de-governo5 Quem na antiguidade quisesse compreender o fun-cionamento e o princiacutepio regulador da vida poliacutetica perguntava

2 Anaximandro de Mileto (610 aC-547 aC) eacute disciacutepu-lo do primeiro de todos os filoacutesofos Tales de Mileto (625 aC-528 aC) e continuador de sua doutrina Foi o pri-meiro a se preocupar com o princiacutepio das coisas (arkheacute) Tales disse ldquoTudo eacute aacuteguardquo e Anaximandro ampliou ldquoO princiacutepio de tudo eacute o indefinido (apeiron)rdquo

3 Zeus eacute o deus dos deuses na religiatildeo (ou mitologia) grega e seu pai Cronos eacute o deus do tempo Juacutepiter e Saturno respectivamente satildeo seus nomes romanos Veja-mos dois belos quadros que representam SaturnohttpptwikipediaorgwikiFicheiroFrancisco_de_Goya_Saturno_devorando_a_su_hijo_(1819-1823)jpg httpptwikipediaorgwikiFicheiroRubens_saturnjpg

4 Parmecircnides de Eleacuteia (530 aC-460 aC) foi o primeiro a distinguir filosoficamente verdade e opiniatildeo (doxa) Afir-mava que do que existiu existe e existiraacute eacute una eacute o que ele chama de ldquoserrdquo (einai em grego o particiacutepio presente ndash geruacutendio ndash eacute ontos ldquosendordquo donde ontologia) A verda-de eacute imutaacutevel eacute o ser e tudo o que aconteceu acontece aconteceraacute eacute imutaacutevel recusar isso eacute errar enganar-se mentir natildeo pensar

5 Forma-de-governo ndash Usamos a ex-pressatildeo forma-de-governo com hiacutefen porque a palavra grega ldquopoliteiardquo designa um campo semacircntico maior do que o que nos habituamos a chamar de forma de governo Pode significar tambeacutem cons-tituiccedilatildeo forma de constituiccedilatildeo regime de governo repuacuteblica sociedade poliacuteti-ca sociedade bem constituiacuteda ou sim-plesmente a democracia bem sucedida Como o conceito de origem grega eacute mais importante do que a palavra que conside-ramos optamos por manter o hiacutefen

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tema 1

1qual era a forma de governo vigente na Polis Assim a tipologia das formas-de-governo caracter-izou as primeiras reflexotildees da filosofia poliacutetica e do poder poliacutetico

A primeira exposiccedilatildeo sistemaacutetica acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heroacutedoto (485 aC-420 aC)6 Em sua obra Histoacuteria (livro VIII 79-81) ele narra a conversa entre trecircs persas Otanes Megabises e Dario que apoacutes a queda do tirano Cambises discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Peacuter-sia apoacutes a tirania Cada um dos trecircs defende uma forma de governo diferente e critica outra apresenta argumentos favoraacuteveis a uma ou outra

Otanes afirma que a monarquia devido agrave riqueza e inveja do monarca degenera sempre em tirania e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder poliacutetico entatildeo o melhor eacute entregar o poder ao povo e constituir uma democracia

Megabises o segundo a falar concorda com a criacutetica da monarquia mas tem ressalvas quanto agrave democracia pois a massa eacute inepta e desatinada trocar a prepotecircncia de um tirano pela prepotecircncia da turba implica no mesmo resultado Defende entatildeo a aristocracia o poder entregue agravequeles escolhidos como os melhores homens da Peacutersia

Dario por sua vez afirmou que em seu estado perfeito todas as trecircs formas de governo satildeo boas mas entre elas a monarquia eacute a melhor quando ocupada pelo melhor homem pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes e numa democracia ocorre corrupccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos

Podemos notar que encontramos a classificaccedilatildeo das formas-de-governo e um julgamento de cada uma Uma questatildeo eacute quantos governam e outra eacute como governa Haacute assim uma de-scriccedilatildeo de cada forma e em seguida o elogio de uma delas Esta conversa inaugura o modelo teoacuterico que a antiguidade grega adotou na reflexatildeo acerca das formas de governo

6 Heroacutedoto de Halicarnasso (485 aC-420 aC) eacute considerado o Pai da Histoacuteria Es-creveu a histoacuteria das guerras meacutedicas en-tre a Peacutersia e a Greacutecia Ele nos conta por exemplo a Batalha das Termoacutepilas onde Le-ocircnidas de Esparta lidera um exeacutercito de 300 soldados e impede Xerxes da Peacutersia com dezenas de milhares de soldados de inva-dir a Greacutecia em 480 aC (Histoacuteria livro VII 198-201) Referecircncia de um belo quadro httpptwikipediaorgwikiFicheiroJacques--Louis_David_004_Thermopylaejpg

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tema 1

112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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tema 1

1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558502_redefor_d04_filosofia_tema02flv

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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tema 1

1As reflexotildees acerca do poder e da justiccedila no entanto vinham de muito antes Desde os seus primoacuterdios no pensamento dos primeiros filoacutesofos gregos a filosofia refletiu de alguma maneira sobre o poder do conhecimento e da razatildeo sobre a relaccedilatildeo entre o poder e a justiccedila Anaximandro (610 aC-547 aC)2 por exemplo afirmou que o princiacutepio de todos os seres eacute o ilimitado (aacutepeiron em grego) pois eacute dele que vecircm os seres e para onde se corrompem segundo a justiccedila e a ordenaccedilatildeo do tempo Assim os seres se geram e se corrompem segundo uma justiccedila contraacuteria ao caos agrave bagunccedila e agrave injusticcedila motivo pelo qual os deuses satildeo justos ou seja a justiccedila eacute o padratildeo de relaccedilatildeo dos deuses entre si a justiccedila e o tempo se impotildeem aos deuses como meio para evitar o caos a justiccedila e o tempo satildeo poderes imp-ostos aos deuses Haacute assim deuses com estes po-deres especiacuteficos Zeus (ou Juacutepiter) representando a justiccedila e Cronos (ou Saturno)3 como o senhor do tempo Parmecircnides (530 aC-460 aC)4 por sua vez afirmava que ldquoo ser eacute o natildeo-ser natildeo eacuterdquo ou seja o ser tem o poder para ser e o natildeo-ser natildeo tem o poder para ser e por isso natildeo eacute Desde o nasci-mento da filosofia jaacute estavam presentes reflexotildees acerca do poder e da justiccedila

Seraacute no entanto em Atenas em meio agrave efervescecircncia poliacuteti-ca da formaccedilatildeo histoacuterica da democracia que o problema poliacuteti-co e as reflexotildees acerca da natureza do poder se colocaram de forma mais premente Agrave medida que a reflexatildeo sobre o poder adquire um sentido mais propriamente poliacutetico o poder na Po-lis entra em questatildeo O meio pelo qual o pensamento sobre o poder e a poliacutetica se estruturava na Grecia Antiga e na origem da Filosofia estava vinculado agrave reflexatildeo sobre as formas-de-governo5 Quem na antiguidade quisesse compreender o fun-cionamento e o princiacutepio regulador da vida poliacutetica perguntava

2 Anaximandro de Mileto (610 aC-547 aC) eacute disciacutepu-lo do primeiro de todos os filoacutesofos Tales de Mileto (625 aC-528 aC) e continuador de sua doutrina Foi o pri-meiro a se preocupar com o princiacutepio das coisas (arkheacute) Tales disse ldquoTudo eacute aacuteguardquo e Anaximandro ampliou ldquoO princiacutepio de tudo eacute o indefinido (apeiron)rdquo

3 Zeus eacute o deus dos deuses na religiatildeo (ou mitologia) grega e seu pai Cronos eacute o deus do tempo Juacutepiter e Saturno respectivamente satildeo seus nomes romanos Veja-mos dois belos quadros que representam SaturnohttpptwikipediaorgwikiFicheiroFrancisco_de_Goya_Saturno_devorando_a_su_hijo_(1819-1823)jpg httpptwikipediaorgwikiFicheiroRubens_saturnjpg

4 Parmecircnides de Eleacuteia (530 aC-460 aC) foi o primeiro a distinguir filosoficamente verdade e opiniatildeo (doxa) Afir-mava que do que existiu existe e existiraacute eacute una eacute o que ele chama de ldquoserrdquo (einai em grego o particiacutepio presente ndash geruacutendio ndash eacute ontos ldquosendordquo donde ontologia) A verda-de eacute imutaacutevel eacute o ser e tudo o que aconteceu acontece aconteceraacute eacute imutaacutevel recusar isso eacute errar enganar-se mentir natildeo pensar

5 Forma-de-governo ndash Usamos a ex-pressatildeo forma-de-governo com hiacutefen porque a palavra grega ldquopoliteiardquo designa um campo semacircntico maior do que o que nos habituamos a chamar de forma de governo Pode significar tambeacutem cons-tituiccedilatildeo forma de constituiccedilatildeo regime de governo repuacuteblica sociedade poliacuteti-ca sociedade bem constituiacuteda ou sim-plesmente a democracia bem sucedida Como o conceito de origem grega eacute mais importante do que a palavra que conside-ramos optamos por manter o hiacutefen

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tema 1

1qual era a forma de governo vigente na Polis Assim a tipologia das formas-de-governo caracter-izou as primeiras reflexotildees da filosofia poliacutetica e do poder poliacutetico

A primeira exposiccedilatildeo sistemaacutetica acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heroacutedoto (485 aC-420 aC)6 Em sua obra Histoacuteria (livro VIII 79-81) ele narra a conversa entre trecircs persas Otanes Megabises e Dario que apoacutes a queda do tirano Cambises discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Peacuter-sia apoacutes a tirania Cada um dos trecircs defende uma forma de governo diferente e critica outra apresenta argumentos favoraacuteveis a uma ou outra

Otanes afirma que a monarquia devido agrave riqueza e inveja do monarca degenera sempre em tirania e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder poliacutetico entatildeo o melhor eacute entregar o poder ao povo e constituir uma democracia

Megabises o segundo a falar concorda com a criacutetica da monarquia mas tem ressalvas quanto agrave democracia pois a massa eacute inepta e desatinada trocar a prepotecircncia de um tirano pela prepotecircncia da turba implica no mesmo resultado Defende entatildeo a aristocracia o poder entregue agravequeles escolhidos como os melhores homens da Peacutersia

Dario por sua vez afirmou que em seu estado perfeito todas as trecircs formas de governo satildeo boas mas entre elas a monarquia eacute a melhor quando ocupada pelo melhor homem pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes e numa democracia ocorre corrupccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos

Podemos notar que encontramos a classificaccedilatildeo das formas-de-governo e um julgamento de cada uma Uma questatildeo eacute quantos governam e outra eacute como governa Haacute assim uma de-scriccedilatildeo de cada forma e em seguida o elogio de uma delas Esta conversa inaugura o modelo teoacuterico que a antiguidade grega adotou na reflexatildeo acerca das formas de governo

6 Heroacutedoto de Halicarnasso (485 aC-420 aC) eacute considerado o Pai da Histoacuteria Es-creveu a histoacuteria das guerras meacutedicas en-tre a Peacutersia e a Greacutecia Ele nos conta por exemplo a Batalha das Termoacutepilas onde Le-ocircnidas de Esparta lidera um exeacutercito de 300 soldados e impede Xerxes da Peacutersia com dezenas de milhares de soldados de inva-dir a Greacutecia em 480 aC (Histoacuteria livro VII 198-201) Referecircncia de um belo quadro httpptwikipediaorgwikiFicheiroJacques--Louis_David_004_Thermopylaejpg

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112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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tema 1

1qual era a forma de governo vigente na Polis Assim a tipologia das formas-de-governo caracter-izou as primeiras reflexotildees da filosofia poliacutetica e do poder poliacutetico

A primeira exposiccedilatildeo sistemaacutetica acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heroacutedoto (485 aC-420 aC)6 Em sua obra Histoacuteria (livro VIII 79-81) ele narra a conversa entre trecircs persas Otanes Megabises e Dario que apoacutes a queda do tirano Cambises discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Peacuter-sia apoacutes a tirania Cada um dos trecircs defende uma forma de governo diferente e critica outra apresenta argumentos favoraacuteveis a uma ou outra

Otanes afirma que a monarquia devido agrave riqueza e inveja do monarca degenera sempre em tirania e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder poliacutetico entatildeo o melhor eacute entregar o poder ao povo e constituir uma democracia

Megabises o segundo a falar concorda com a criacutetica da monarquia mas tem ressalvas quanto agrave democracia pois a massa eacute inepta e desatinada trocar a prepotecircncia de um tirano pela prepotecircncia da turba implica no mesmo resultado Defende entatildeo a aristocracia o poder entregue agravequeles escolhidos como os melhores homens da Peacutersia

Dario por sua vez afirmou que em seu estado perfeito todas as trecircs formas de governo satildeo boas mas entre elas a monarquia eacute a melhor quando ocupada pelo melhor homem pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes e numa democracia ocorre corrupccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos

Podemos notar que encontramos a classificaccedilatildeo das formas-de-governo e um julgamento de cada uma Uma questatildeo eacute quantos governam e outra eacute como governa Haacute assim uma de-scriccedilatildeo de cada forma e em seguida o elogio de uma delas Esta conversa inaugura o modelo teoacuterico que a antiguidade grega adotou na reflexatildeo acerca das formas de governo

6 Heroacutedoto de Halicarnasso (485 aC-420 aC) eacute considerado o Pai da Histoacuteria Es-creveu a histoacuteria das guerras meacutedicas en-tre a Peacutersia e a Greacutecia Ele nos conta por exemplo a Batalha das Termoacutepilas onde Le-ocircnidas de Esparta lidera um exeacutercito de 300 soldados e impede Xerxes da Peacutersia com dezenas de milhares de soldados de inva-dir a Greacutecia em 480 aC (Histoacuteria livro VII 198-201) Referecircncia de um belo quadro httpptwikipediaorgwikiFicheiroJacques--Louis_David_004_Thermopylaejpg

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tema 1

112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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tema 1

1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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tema 1

1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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tema 1

1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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tema 1

1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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TEMAStema 2

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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TEMAStema 2

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

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bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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tema 1

112 Platatildeo lei e degeneraccedilatildeo da lei

Platatildeo (428 aC-327 aC)7 discute as for-mas de governo no diaacutelogo intitulado Repuacutebli-ca traduccedilatildeo usada para a palavra grega polit-eia que por sua vez designa o que traduzimos como Forma-de-governo Neste diaacutelogo as personagens discutem acerca do conceito de justiccedila Inicialmente o diaacutelogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiccedila Em seguida pesquisa a noccedilatildeo de Ci-dade Justa Trata-se de encontrar a Calipolis a cidade ideal a ldquocidade das palavrasrdquo aquela que eacute totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexatildeo em que todos os problemas satildeo cuidadosamente pensados e excluiacutedos Platatildeo discute as diversas formas de governo e apresenta uma justificativa racional em defesa daquela que para ele era a melhor forma de governo No livro VIII Soacutecrates um dos interlocutores da Repuacuteblica apresenta os tipos de ho-mens e os tipos de Polis Na sua tipologia a Cidade ideal eacute a monarquia governada pelo mais saacutebio entre os saacutebios o filoacutesofo-rei que recebe a melhor e mais completa educaccedilatildeo e que ouve atentamente os outros filoacutesofos Contudo esta Calipolis eacute uma Polis ideal um ldquolugar no ceacuteurdquo (topos uranos em grego) as Polis reais satildeo todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligiacutevel natildeo passam de degeneraccedilotildees no mundo da sensibilidade Assim todas as formas-de-governo satildeo maacutes exceto a monarquia ou a aristocracia de saacutebios Platatildeo elabora entatildeo uma lista de razotildees pelas quais a Calipolis monaacuterquico-aristocraacutetica se degenera Inicialmente surge a timocracia ou seja uma falsa aristocracia em que natildeo satildeo os melhores que governam mas os que tecircm timeacute honra os que tecircm a reputaccedilatildeo e a fama os que parecem melhores Estabelece-se uma distinccedilatildeo entre SER e PARECER o que parece pode ser mas natildeo eacute necessariamente Os que parecem melhores mas natildeo satildeo usaratildeo o poder para acumular riquezas e honrarias e natildeo para o bem comum Assim pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia quando o poder estaacute com os ricos Os ricos governam e se entregam agraves mais diversas dissipaccedilotildees Com isso alguns ricos se esbaldam e empobrecem Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situaccedilatildeo insuflam os pobres contra os ricos Com os distuacuterbios a oligarquia degenera em democracia onde os pobres ou a maioria governa Quando a maioria governa a tendecircncia eacute

7 Platatildeo de Atenas (428 aC-327 aC) disciacutepulo de Soacutecrates e mestre de Aristoacuteteles eacute um dos pilares da Filosofia Afirmou que ldquopensamento eacute o diaacutelogo interior e silencioso da alma con-sigo mesmardquo (Sofista 263a) Por meio de seus diaacutelogos en-sinou a humanidade a pensar com rigor e disciplina Tomava a geometria como modelo para o pensamento Encontramos algumas obras de Platatildeo no Portal Dominio Puacuteblico Em famoso quadro que representa vaacuterios filoacutesofos Platatildeo aponta o ceacuteu onde estaria a verdade ao passo que Aristoacutete-les a seu lado insiste que a verdade estaacute na terrahttpptwikipediaorgwikiFicheiroSanzio_01jpg

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tema 1

1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558502_redefor_d04_filosofia_tema02flv

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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1a licenciosidade cada um faz o que quer e natildeo se preocupa com as leis caiacutemos numa anar-quia em que todos governam para ningueacutem e na confusatildeo algueacutem impotildee pela forccedila a ordem poliacutetica surge a tirania a pior das formas de governo O tirano domina pela forccedila e violecircncia ningueacutem tem nenhuma seguranccedila porque o tirano eacute sempre ameaccedilador e governa pelo medo

As anaacutelises de Platatildeo satildeo notaacuteveis porque a Cidade ideal (Calipolis) soacute existe no mundo das ideias poderiacuteamos chamaacute-la de uma ideia reguladora para pensar a Cidade a Polis ou o Estado um governo saacutebio e prudente que nunca se corrompe Mas a distinccedilatildeo inevitaacutevel no mundo da vida eacute que natildeo podemos saber quem eacute verdadeiramente saacutebio precisamos nos con-tentar em aceitar quem parece ou que aparece como saacutebio nunca teremos certeza Entatildeo eacute a honra a timeacute que nos serviraacute para designar os melhores A degeneraccedilatildeo desta eacute a oligarquia dos ricos em que o que conta satildeo os bens materiais e natildeo a capacidade Esta se transforma na boa democracia onde todo o povo faz a lei da Polis um elemento de equiliacutebrio pelo pensam-ento pela reflexatildeo a lei Em seguida a degeneraccedilatildeo em licenccedila e anarquia a maacute democracia quando a lei natildeo vale mais nada e que suscita o que haacute de pior na Polis a tirania o descontrole da violecircncia e da forccedila dos poderosos

Podemos deduzir entatildeo que a reflexatildeo e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e maacutes formas de governo timocracia e democracia que tecircm a lei como referecircncia de um lado e oligarquia anarquia e tirania de outro em que a riqueza a licenciosidade da plebe e a violecircncia do chefe satildeo as piores Assim a (boa) democracia eacute o pior regime entre os melhores e a (maacute) democracia ou anarquia eacute o melhor regime entre os piores

Podemos observar a rejeiccedilatildeo de Platatildeo pela democracia especialmente a democracia at-eniense Na democracia antiga todos os cidadatildeos livres tinham direito a voz e a voto na os cargos puacuteblicos (taxis ton archon) eram distribuiacutedos por sorteio Segundo Platatildeo o bem falar eacute melhor sucedido do que o bem pensar a retoacuterica eacute mais importante que a filosofia o pa-recer mais considerado do que o ser O exemplo que daacute no diaacutelogo Goacutergias sobre o sofista Goacutergias (485 aC-380 aC)8 eacute que um canastratildeo que se apresente como meacutedico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasatildeo pode convencer o doente a fazer um tratamento ao passo que um meacutedico capaz e bem

8 Goacutergias de Leontino (485 aC-380 aC) eacute pro-fessor de retoacuterica e escreveu vaacuterias obras sobre o tema Considerava que o poder de convencer eacute o uacutenico que vale ensinava como conduzir e encantar uma pessoa (psicagogia) ou uma as-sembleacuteia (demagogia) A verdade soacute eacute verda-deira quando estamos convencidos por isso o verossiacutemil eacute mais importante que a verdade

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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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tema 1

1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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tema 1

1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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TEMAStema 2

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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TEMAStema 2

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

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bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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tema 1

1preparado que desconhece a retoacuterica natildeo conseguiraacute convencer o doente a seguir o tratamento A discussatildeo eacute interessante quem eacute dono da verdade O filoacutesofo que pensa bem mas natildeo sabe convencer ou o orador que natildeo sabe pensar mas convence bem

13 Protaacutegoras em defesa da democracia

Soacutecrates e Platatildeo eram opositores dos sofistas pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmaacuteticos Foram os primeiros professores a vender seus saberes a trocaacute-los por dinheiro O saber eacute um poder que pode beneficiar aquele que sabe Enquanto Platatildeo defendia a existecircncia da verdade absoluta que estava para aleacutem de toda mera aparecircncia os sofistas defendiam uma postura relativista com relaccedilatildeo agrave verdade De acordo com esses pensadores dos quais Protaacutegoras (480 aC-410 aC)9 e Goacutergias foram os mais expres-sivos o poder de persuasatildeo e a forccedila retoacuterica se sobressaem agrave busca da verdade mesma O im-portante em uacuteltima anaacutelise natildeo eacute dizer o verda-deiro mas levar a melhor no debate o que eacute fun-damental para o exerciacutecio do poder no regime democraacutetico

Protaacutegoras eacute um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platatildeo que escreveu um diaacutelogo para analisar suas ideias Protaacutegoras eacute famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia Considerava que os homens com-partilham a razatildeo com os deuses por isso a discussatildeo aberta dos recursos e problemas conduz sempre agrave melhor soluccedilatildeo Acreditava que como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criaccedilatildeo dos animais e a distribuiccedilatildeo de propriedades (conforme Protaacutegoras 320d-323c) to-dos os homens recebem o ldquofogordquo da razatildeo ou seja todos os homens tecircm a mesma capacidade de pensar todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente Nesse sentido ldquoo homem eacute a medida de todas as coisasrdquo ou seja cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexatildeo A razatildeo social ou poliacutetica assim eacute relativista convencional natildeo haacute uma Polis ideal absoluta uma Calipolis senatildeo no mundo da fantasia e da imaginaccedilatildeo um ldquolugar no ceacuteurdquo Mesmo a razatildeo eacute convencional ou socialmente construiacuteda cada Polis tem uma maneira diferente de compreender-se a si mesmo

9 Protaacutegoras de Abdera (480 aC-410 aC) eacute um dos maio-res sofistas do periacuteodo um dos poucos respeitados por Pla-tatildeo Famoso pela defesa da democracia escreveu uma obra perdida chamada politeia o mesmo nome da obra de Platatildeo que provavelmente escreveu para refutaacute-la

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isciplina 04TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia

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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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tema 1

114 Aristoacuteteles interesse comum x interesse privado

Aristoacuteteles (384 aC-322 aC)10 realiza uma anaacutelise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Poliacutetica Oferece uma definiccedilatildeo precisa ldquoA forma-de-governo (politeia) eacute a estrutura que daacute ordem agrave cidade e determina o funcionamento de todos os cargos puacuteblicos e sobretudo da autoridade maacuteximardquo (1278b) Indica a distinccedilatildeo entre formas retas e desvios ldquoQuando um soacute poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum temos neces-sariamente as constituiccedilotildees retas quando exercem no seu interesse privado temos os desviosrdquo (1279a) Vejamos entatildeo a classificaccedilatildeo que ele apresenta O governo de uma pessoa cujo ob-jetivo eacute o interesse comum eacute a monarquia quando o governo eacute de poucas pessoas chamamos de aristocracia O governo do maior nuacutemero Aristoacuteteles chama simplesmente de ldquopoliteiardquo O desvio da monarquia eacute a tirania pois o tirano natildeo governa pelo interesse comum mas por seu proacuteprio interesse O desvio da aristocra-cia eacute a oligarquia que eacute o governo no in-teresse dos ricos O desvio da ldquopoliteiardquo Aristoacuteteles chama de ldquodemocraciardquo ou oclocracia que eacute o governo no interesse dos pobres Posteriormente estudiosos de Aristoacuteteles associaram democracia agrave forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida

Em seguida Aristoacuteteles reflete sobre o princiacutepio de justiccedila de cada uma destas forma-de-governo ou seja como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade a saber homens e mulheres cidadatildeos e escravos ricos e pobres estrangeiros etc Quais deles e como podem ter uma relaccedilatildeo ativa e participante nos assuntos puacuteblicos A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis agrave poliacutetica Assim soacute os homens livres que se dedicam agrave poliacutetica podem ser felizes mas somente enquanto a poliacutetica visa o bem comum Caso defendam interesses particulares essas pessoas natildeo podem ser felizes digamos que sejam degeneradas pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo Compreendemos entatildeo porque Aristoacuteteles usa a palavra ldquopoliteiardquo para o governo da maioria pois eacute o governo de pessoas honestas e felizes em funccedilatildeo do inter-esse comum Por outro lado quando o governo da maioria eacute dos pobres (ou da turba demo em

10 Aristoacuteteles de Estagira (384 aC-322 aC) eacute o primeiro dos filoacuteso-fos a deixar uma obra enciclopeacutedica em que organiza criteriosamen-te toda a filosofia e todos os conhecimentos humanos Foi tambeacutem o primeiro historiador da Filosofia Oriundo da Macedocircnia foi professor de Alexandre o Grande que durante as conquistas da Macedocircnia lhe enviava amostras de animais plantas e objetos diversos Fundou em Atenas uma escola chamada Liceu em que rivalizava coma escola fun-dada por Platatildeo chamada Academia Teve que abandonar tudo quando Alexandre morreu na Babilocircnia e tambeacutem morre em seguida Um belo quadro retrata Alexandre na BabilocircniahttpfrwikipediaorgwikiFichierCharles_Le_Brun_-_Entry_of_Alexan-der_into_BabylonJPG

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tema 1

1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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tema 1

1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558502_redefor_d04_filosofia_tema02flv

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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TEMAStema 4

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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1grego) a preocupaccedilatildeo maior natildeo eacute a felicidade ou o interesse comum mas ocorre a degenera-ccedilatildeo causada pela carecircncia Quando ldquodemordquo foi associado a todo o povo democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum e oclocracia para sua ausecircncia ou corrupccedilatildeo

Observemos ainda que o sentido antigo da palavra ldquodemocraciardquo eacute diferente do sentido que damos hoje Na antiguidade grega tratava-se da democracia direta todo cidadatildeo tinha direito de voz e voto na Assembleia Hoje vigora a democracia representativa os deputados e gover-nadores que elegemos tomam decisotildees em nosso nome

15 Poliacutebio regime misto

Alguns seacuteculos depois no periacuteodo republicano de Roma o historiador Poliacutebio (203 aC-120 aC)11 afirmou que ldquoa forma-de-governo de um povo explica o ecircxito ou o fracasso de todas as accedilotildeesrdquo (Histoacuteria livro VI 2) Explicou entatildeo o ecircxito de Roma pelo regime misto ou seja uma nova forma-de-governo que combina as vantagens da monarquia da aristocracia e da democ-racia e reduz as desvantagens de cada uma Note que ele usa para o governo da maioria o nome ldquodemocraciardquo que seraacute preservado ateacute hoje As decisotildees poliacuteticas de Roma eram tomadas no Senado composto pelos Senadores pelos Cocircnsules e pelos Tribunos Haviam dois Cocircnsules eleitos entre os Senadores por um ano Os Tribunos eram eleitos pela plebe e participavam das discussotildees no Senado Assim o Consulado constituiacutea a Monarquia o Senado a aristoc-racia e o Tribunato a democracia A excelecircncia desse regime explica o sucesso do povo romano que conquistou todos os outros povos impondo-lhe seu domiacutenio

Eacute curioso contudo que Poliacutebio descreve o equiliacutebrio e a forccedila de Roma no seacuteculo II aC mas no seacuteculo seguinte ocorreram diversas rebeliotildees entre as quais a do escravo Espaacutertaco (120 aC-70 aC) Em 23 AC cai a Repuacuteblica e Roma se torna um Impeacuterio

11 Poliacutebio de Megaloacutepolis (203 aC-120 aC) foi poliacutetico e militar grego entatildeo colocircnia romana e serviu aos interesses de Roma Atuou nas Guerras Puacutenicas de Roma contra Cartago e foi preceptor de um importante cocircnsul romano Ci-piatildeo Africano A defesa do regime misto tambeacutem foi feita pelo importante filoacutesofo Ciacutecero (106 aC-43 aC) em Da repuacuteblica

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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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TEMAStema 4

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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TEMAStema 4

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
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  • 4II
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  • 4X
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1Proacutexima semana

Na Filosofia Poliacutetica Moderna o poder poliacutetico deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituiccedilotildees (institutio em latim) Como e por que se deu esta mudanccedila Eacute o que veremos

Sugestatildeo de leitura Complementar

Recomenda-se tambeacutem a leitura das obras da Coleccedilatildeo ldquoOs Pensadoresrdquo

Volumes Preacute-Socraacuteticos Soacutecrates Platatildeo Aristoacuteteles CiacuteceroEpicuroLucreacutecioSecircneca Satildeo Paulo Abril 1973-1978 (Os Pensadores)

Sugestatildeo de Filmes

1 SPARTACUS Direccedilatildeo Stanley Kubrick Produccedilatildeo Kirk Douglas Inteacuterpretes Kirk Doug-las Laurence Olivier e outros [EUA sn] 1960

2 HELENA de Troia paixatildeo e guerra Direccedilatildeo John Kent Harrison [EUAGreacutecia sn] 2003

3 SOacuteCRATES Direccedilatildeo Roberto Rossellini [Itaacutelia 1971]

Bibliografia baacutesica

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

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tema 1

1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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TEMAStema 4

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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TEMAStema 4

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
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  • 4II
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  • 4X
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isciplina 04TEMAS

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tema 1

1bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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TEMAStema 2

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558502_redefor_d04_filosofia_tema02flv

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TEMAStema 2

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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TEMAStema 2

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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TEMAStema 2

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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TEMAStema 2

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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TEMAStema 4

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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TEMAStema 4

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
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  • 4II
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  • 4X
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Direito Natural e Contratualismo na Modernidade

11 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a Filosofia surge com os filoacutesofos preacute-socraacuteti-cos e com os sofistas num contexto de Cidades-Estado na Greacutecia Antiga A Filosofia se propaga em seguida no con-texto imperial com o Impeacuterio Macedocircnico especialmente com Alexandre o Grande1 aluno de Aristoacuteteles e em segui-da com a Repuacuteblica Romana cuja excelecircncia foi confirmada por Poliacutebio O filoacutesofo romano Ciacutecero2 eacute contemporacircneo e adversaacuterio de Juacutelio Ceacutesar3 no seacuteculo I aC que se autode-

1 Alexandre o Grande (356 aC-323 aC) nasceu na Macedocircnia e foi aluno de Aristoacute-teles ateacute tornar-se imperador aos 20 anos Por meio de conquistas estendeu o Impeacute-rio da Macedocircnia e espalhou a cultura gre-ga Fundou inuacutemeras cidades e dava-lhes o nome de Alexandria muitas das quais satildeo importantes ateacute hoje Morreu em Babilocircnia (atual territoacuterio do Iraque) grande centro comercial da Mesopotacircmia em sua eacutepoca aos 33 anos

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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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nominou ditador vitaliacutecio e foi assassinado por um grupo de Senadores que tentavam evitar a queda da Repuacuteblica Alguns anos depois em 23 aC Otaacutevio Augusto Ceacutesar4 sobrinho de Juacutelio Ceacutesar e seu herdeiro poliacutetico coroou-se Imperador romano e Roma se converteu num poder-oso Impeacuterio No seacuteculo III dC o impeacuterio romano se cristianizou e a partir de Constantino5 no seacuteculo IV o cristianismo se tornou religiatildeo de Estado a religiatildeo de Roma Ao longo dos seacuteculos com o fim do Impeacuterio Ro-mano e sua subdivisatildeo o cristianismo permaneceu como elemento unificador da tradiccedilatildeo romana e de certa forma isto vale ateacute hoje

Um novo problema que surgiu foi uma disputa en-tre o poder espiritual cristatildeo e o poder poliacutetico terreno Jaacute na baixa Idade Meacutedia no alvorecer da Modernidade as disputas entre a Igreja e o Estado eram complexas A Igreja oferecia uma sustentaccedilatildeo ao Estado com a teoria da origem divina do poder real Filosoficamente a lei-tura tomista (Tomaacutes de Aquino6) de Aristoacuteteles oferecia a chave do direito divino Com o Renascimento o avanccedilo das ciecircncias (isto eacute da filosofia) e a descoberta do Novo Mundo os dogmas que ofereciam seguranccedila teoacuterica agrave visatildeo de mundo cristatilde entraram em colapso Galileu7 por exemplo foi obrigado a reconhecer perante a Inquisiccedilatildeo8 que a terra natildeo eacute redonda

O enorme poder da Igreja romana foi contestado e em algumas regiotildees surgiu a Reforma movimentos teoloacutegi-co-poliacuteticos que propunham mudanccedilas na Igreja e que desencadearam intensas e violentas guerras religiosas As diferenccedilas religiosas natildeo permitiam mais manter intacto o direito natural divino (tomista) e com isso despontou

2 Ciacutecero (106 aC - 43 aC) foi Senador e Cocircnsul romano escreveu importantes obras de retoacuterica e filosofia e tentou resistir agrave queda da Repuacuteblica Romana Um dos maiores escritores de todos os tempos ateacute hoje a leitura de seus discursos eacute uma forma da aprender a bem orga-nizar um texto a bem escrever

3 Juacutelio Ceacutesar (100 aC - 44 aC) foi Senador Cocircnsul e general romano conquistou a Gaacutelia (atual Franccedila) e estendeu Roma ateacute o Atlacircnti-co Admirado pelos soldados e pelo povo era temido pelos Senadores Propunha uma alianccedila direta com o povo sem passar pelas disputas do Senado donde o conceito de populismo e ce-sarismo Autodesignou-se Ditador vitaliacutecio e foi assassinado por uma insurreiccedilatildeo de Senadores

4 Otaviano Juacutelio (63 aC - 14 dC) herdeiro de Juacutelio Ceacutesar em testamento foi chamado para aplacar a ira do povo com o assassinato de Juacute-lio Ceacutesar Apoacutes um periacuteodo conturbado em que recebeu inuacutemeras homenagens e tiacutetulos do Se-nado tornou-se o primeiro Imperador Romano com o nome Otaacutevio Augusto Ceacutesar

5 Constantino Magno (272-337) assume o Im-peacuterio apoacutes uma seacuterie de aleivosias e disputas pelo trono Sem muito apoio poliacutetico defendeu e favoreceu o cristianismo

6 Tomaacutes de Aquino (1225-1274) promoveu uma siacutentese do cristianismo com o pensamento de Aristoacuteteles e escreveu a Suma Teoloacutegica que sistematiza de forma rigorosa todo o pensamen-to cristatildeo

7Galileu Galilei (1564-1642) eacute astrocircnomo e filoacute-sofo italiano precursor da fiacutesica de Newton pro-vou que a terra gira em torno do sol

8 Instituiccedilatildeo criada para combater a heresia na Igreja e que teve intensa atuaccedilatildeo repressiva agraves novidades no Renascimento

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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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TEMAStema 4

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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o direito natural moderno e a filosofia moderna que lhe fornecia unidade teoacuterica Com o di-reito natural moderno surge uma nova forma de pensar o poder o contratualismo

12 Novos poderes

Com Maquiavel9 o pensamento sobre o poder passa do governo para o governante entatildeo a relaccedilatildeo do governo com seu povo se torna mais importante do que a forma-de-governo Do ponto de vista do governante o que eacute preciso fazer para permanecer no poder eacute o que estaacute exposto na obra O priacutencipe e do ponto de vista do povo quais reaccedilotildees populares podem ser historicamente elencadas eacute o que estaacute nos Discursos sobre a primeira deacutecada de Tito Liacutevio O poder ou estaacute com o povo temos uma repuacuteblica ou com o priacutencipe temos um principado (uma monarquia)

Posteriormente Montesquieu10 afirma no Espiacuterito das Leis que um poder soacute pode ser con-tido por outro poder entatildeo propocircs a divisatildeo do poder poliacutetico em trecircs para que nenhum fosse sozinho mais forte que o outro executivo legislativo e moderador (ou judiciaacuterio) Assim o Estado eacute composto por instituiccedilotildees (institutio em latim) que satildeo grupos sociais instituiacutedos pelo Estado com finalidade funccedilatildeo interesse e campo de accedilatildeo determinado As disputas in-ternas pelo poder independem da forma-de-governo e se datildeo entre as diversas instituiccedilotildees Contudo cada instituiccedilatildeo pode ser considerada uma mini-Cidade-Estado e o conhecimento das formas-de-governo podem auxiliar na reflexatildeo Considerava basicamente trecircs formas-de-governo repuacuteblica monarquia e despotismo Um exemplo de como pensar o poder por meio de instituiccedilotildees um clube de cinema precisa de um regulamento pode ter um presidente uma diretoria vaacuterios membros ou simplesmente ser administrado em autogestatildeo a finalidade pode ser organizar sessotildees de filmes europeus e a solicitaccedilatildeo de verbas junto ao Ministeacuterio da Cul-tura ou agrave iniciativa privada se houver censura oficial ou religiosa a um filme ou se uma lei inviabilizar a instituiccedilatildeo o clube pode promover uma passeata ou contatar deputados ou desencadear um processo judicial etc

9 Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e histo-riador italiano eacute considerado o fundador da ciecircncia poliacute-tica porque descreveu a poliacutetica como efetivamente era na realidade e natildeo como deveria ser de acordo com os criteacuterios da moral cristatilde

10 Baratildeo de Montesquieu (1689-1755) foi diplomata e filoacutesofo francecircs propocircs reformas ao Antigo Regime (da Monarquia Absoluta) Adepto do direito natural e her-deiro de Grotius e Pufendorf foi criacutetico de Hobbes Eacute tambeacutem o mais importante inspirador de Rousseau

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

nespRedeforbullM

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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4

Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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3

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isciplina 04

Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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                                                    4. Paacutegina 51
                                                      1. Botatildeo 52
                                                        1. Paacutegina 52 Off
                                                        2. Paacutegina 53
                                                          1. Botatildeo 53
                                                            1. Paacutegina 52 Off
                                                            2. Paacutegina 53
                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 9

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13 Direito natural moderno

A teoria da origem divina do poder real defendia que os desiacutegnios de deus eram misteriosos e inacessiacuteveis agrave imperfeiccedilatildeo humana apenas alguns profetas e santos e alguns outros iniciados nas Sagradas Escrituras eram capazes de vislumbrar na sua obscuridade Estes estavam sob a guarida da Igreja e seu chefe maior o Papa Toda contingecircncia todo acidente eacute uma resposta divina favoraacutevel ou contraacuterio aos excessos humanos Com isso os poderes espirituais adentra-vam a porta da vida terrena e obrigavam os governantes a seguir suas orientaccedilotildees Ademais um governante dependia da aprovaccedilatildeo divina atestada pelo Papa Tensotildees entre a Igreja e o Estado contribuiacuteram para a Reforma mas a origem divina do poder permaneceu com alguns ajustes Contudo o direito natural moderno ou simplesmente jusnaturalismo surge especial-mente nos locais em que a Reforma fora bem sucedida

Grotius

O primeiro autor a tratar do tema foi um jurista mer-cantilista e colonialista Grotius11 que em 1626 publica Di-reito da guerra e da paz Seu principal objetivo era pacificar a Europa defender a unidade cristatilde e mostrar que a paz eacute propiacutecia ao comeacutercio (mercantilismo) Ao mostrar que a natureza humana eacute comum e que a reta razatildeo (recta ratio em latim) eacute compreensiacutevel por todos defende a hipoacutetese de que o gecircnero humano nasce provido de direitos e deveres nat-urais que decorrem da proacutepria capacidade de raciociacutenio da proacutepria racionalidade Para isso evoca um estado de natureza paciacutefico anterior agrave qualquer histoacuteria para se opor ao atual estado social dos homens Se haacute uma natureza primitiva an-terior o que inaugura a alta civilizaccedilatildeo eacute o Estado moderno O passo seguinte eacute mostrar que o Estado eacute constituiacutedo por um contrato entre o governo e seu povo (donde o contratu-alismo)

11 Hugo Grotius (1583-1645) foi diplomata e jurista holandecircs e eacute considerado o pai do direito natural moderno Foi advogado da Companhia das Iacutendias Ocidentais e defen-deu a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo

12 Benedictus de Espinosa (1632-1677) eacute filoacutesofo holandecircs de origem portuguesa e judia defendia que deus e a natureza satildeo o mesmo e correspondem agrave substacircncia

13 Thomas Hobbes (1588-1689) eacute filoacutesofo e preceptor inglecircs desenvolveu sistema fi-losoacutefico completo e rigoroso Ofereceu um importante base metafiacutesica a seu pensa-mento poliacutetico criacutetico de Aristoacuteteles tomou a geometria e a homogeneidade do espaccedilo como base para uma explicaccedilatildeo mecanicis-ta da natureza (e por extensatildeo filosofica-mente estabelecida da poliacutetica)

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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Os grandes pensadores e filoacutesofos modernos se-guiram esta trilha reaberta por Grotius para defend-er o direito natural e o contratualismo com algu-mas diferenccedilas Espinosa12 na Holanda Hobbes13 e Locke14 na Inglaterra Pufendorf15 e Leibniz16 na Alemanha Burlamaqui17 em Genebra e o genebrino Rousseau18 na Franccedila

Hobbes

Se Grotius se propocircs a fundar a ciecircncia juriacutedica Hobbes por sua vez pretendia fundar a ciecircncia moral e poliacutetica ou seja estabelecer a moral e a poliacutetica por base fixa e segura que tome a matemaacutetica eu-clidiana como modelo Tradutor de Euclides e Euriacute-pedes preceptor do Lord Cavendish (membro da corte de Carlos I19) Hobbes impressionou-se com as violentas guerras religiosas e pretendia restabelecer o direito divino de forma axiomaacutetica more geometrico (conforme a geometria) Tomou o movimento como base para a fiacutesica a fiacutesica como base para o homem e o homem como elemento para a sociedade para a eacutetica e a poliacutetica De natura (Sobre a natureza) De homine (Sobre o homem) e De cive (Sobre o cidadatildeo) satildeo as trecircs obras em que desenvolve esta hipoacutetese Esta ordem temaacutetica inseria a natureza na ordem div-ina o homem na natureza e a poliacutetica a partir deste homem de modo que a velha hierarquia aristoteacutelica perdia completamente a funccedilatildeo teoacuterica A urgecircncia dos acontecimentos na Inglaterra motivou-o a in-verter a e exposiccedilatildeo planejada e a escrever e publicar o livro sobre poliacutetica De cive antes dos outros (Pouco

14 John Locke (1632-1704) foi filoacutesofo inglecircs e con-siderado pai do liberalismo Adversaacuterio da Monarquia Absoluta e das ideias de Hobbes e de Robert Filmer (1588-1653 defensor do patriarcalismo pelo qual a so-ciedade eacute como a famiacutelia em que o rei eacute como o pai e manda por direito divino) considerava que o rei deve dividir seu poder com o parlamento Defendia que a fonte da riqueza eacute a propriedade e que o Estado que quer enriquecer deve proteger a propriedade Contra o cartesianismo era empirista isto eacute a fonte do conheci-mento eacute a sensibilidade natildeo haacute ideias inatas

15 Samuel Pufendorf (1632-1694) eacute jurista alematildeo e criacutetico de Hobbes e Espinosa considerava que a lei poliacutetica eacute fruto da vontade e natildeo uma expressatildeo geo-meacutetrica da realidade poliacutetica a lei eacute prescritiva e natildeo descritiva assim a origem do poder estaacute na vontade

16 Gottfried Leibniz (1646-1716) eacute filoacutesofo e matemaacute-tico alematildeo estendeu a certeza matemaacutetica a todos os campos do conhecimento inclusive a teologia e o direito natural teve importante polecircmica contra a concepccedilatildeo de lei natural em Pufendorf

17 Jean-Jacques Burlamaqui (1694-1748) eacute jurista calvinista e genebrino defendeu pelo direito natural a toleracircncia religiosa e as liberdades republicanas eacute considerado precursor de Rousseau

18 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) eacute muacutesico e filoacutesofo genebrino pensador republicano e criacutetico do Antigo Regime Ainda em vida tornou-se bastante ceacutelebre e requisitado apesar de sua pobreza Aban-donou os filhos porque segundo ele natildeo tinha recur-sos para criaacute-los Autodidata promoveu importante releitura dos cacircnones filosoacuteficos ocidentais a saber direito natural cristianismo educaccedilatildeo famiacutelia infacircn-cia entre outros

19 Carlos I (1600-1649) foi rei da Inglaterra e enfren-tou intensa guerra civil resistiu em dividir seu poder absoluto com o Parlamento e foi executado Declara-da a Repuacuteblica inglesa por Lord Cromwell ocorre a restauraccedilatildeo da Monarquia em 1658

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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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depois deste haacute uma versatildeo que aprofunda a discussatildeo teoloacutegico-poliacutetica o Leviatatilde) O que seria cuidadosamente provado nos dois primeiros livros eacute um breve axioma no terceiro To-dos os homens satildeo iguais natildeo fisicamente iguais pois haacute diferenccedilas de tamanho e gecircnio mas tecircm as mesmas necessidades e almejam os mesmos fins Mas entatildeo por que satildeo diferentes em sociedade Ora por que a sociedade se origina de um pacto que precisou conter os efeitos nefastos da igualdade Segundo Hobbes como os homens satildeo iguais podem querer a mesma coisa ao mesmo tempo que outro e por isso ficam inimigos entre si O homem eacute assim um lobo para o homem Essa condiccedilatildeo ademais eacute permanente e contiacutenua pois a proacutepria conser-vaccedilatildeo do homem estaacute em risco sempre que ele precisa de algo que outro tambeacutem deseja As-sim a disputa eacute generalizada e constante Naturalmente egoiacutesta e agressivo Para se precaver eacute preciso se antecipar e atacar sem mostrar-se pois qualquer vacilo pode ser fatal Haacute assim uma guerra de todos contra todos Eacute uma guerra de destruiccedilatildeo ou dominaccedilatildeo Alguns pref-erem deixar-se dominar do que morrer nesse caso o chefe estabelece totalmente (despotica-mente) as condiccedilotildees dos que preferem servir do que morrer Quando contudo o dominador se enfraquece ele eacute por sua vez dominado Essa condiccedilatildeo de guerra impede que haja qualquer induacutestria ou conforto qualquer bem ou mal qualquer justiccedila qualquer sociedade qualquer progresso Assim originalmente o homem eacute solitaacuterio natildeo eacute sociaacutevel natildeo tem noccedilatildeo de justiccedila Assim a liberdade natildeo tem a limitaccedilatildeo da justiccedila o homem faz o que quer sem restriccedilotildees eacuteticas ou morais pois natildeo haacute coacutedigos de conduta senatildeo a auto-preservaccedilatildeo acima de tudo Contudo o homem eacute inteligente Pelo raciociacutenio percebe que a paz eacute melhor do que a guerra e tambeacutem encontra caminhos para estabelececirc-la entrar em acordo com outros homens desde que estes homens faccedilam o mesmo com ele No que consiste o acordo Trata-se de renunciar agrave liberdade natural de fazer tudo sem limites em favor de um terceiro desde que todos os homens faccedilam o mesmo Este terceiro estabeleceraacute limites comuns e adequados para todos os homens que aceitaram o pacto Estes limites seratildeo as leis morais e poliacuteticas E o objetivo comum eacute a paz Este homem que estabelece as leis para os outros eacute o soberano e cabe a ele governar a socie-dade assim formada

Com este argumento Hobbes oferece uma fundamentaccedilatildeo filosoacutefica geomeacutetrica e mod-erna para a Monarquia absoluta Encontra tambeacutem uma definiccedilatildeo axiomaacutetica para a soberania e para a representaccedilatildeo poliacutetica Inaugura ademais a separaccedilatildeo metafiacutesica (ou ontoloacutegica diriacutea-mos hoje) entre a liberdade e a racionalidade O direito natural tem agora um fundamento metafiacutesico necessaacuterio e inquestionaacutevel Pensar o poder entatildeo eacute pensar a relaccedilatildeo entre os ho-

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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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TEMAStema 4

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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TEMAStema 4

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
  • 1IV
  • 1V
  • 4II
  • 4III
  • 4IV
  • 4V
  • 4VI
  • 4VII
  • 4VIII
  • 4IX
  • 4X
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
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mens eacute pensar o direito natural e o direito poliacutetico eacute pensar o uso da forccedila e da violecircncia como instrumentos do poder Aleacutem disso eacute reconhecer que o poder eacute resultado de um acordo de um pacto ou seja o poder eacute consentido por aqueles que se submetem Compreendemos bem a velha assertiva de La Boeacutetie20 (filoacutesofo do Renascimento que mostrou que toda servidatildeo eacute voluntaacuteria) segundo a qual para natildeo se submeter basta dizer ldquonatildeordquo pois ou nos submetemos agrave forccedila porque vencidos ou por consentimento porque con-vencidos E ainda para retomarmos a perspectiva das formas-de-governo todo Estado eacute necessariamente provido de soberania e portanto monaacuterquico ou seja o governo eacute soberano e organiza todas as instituiccedilotildees submetidas a seus criteacuterios ou a suas ordens

Espinosa Pufendorf

Hobbes ofereceu uma base filosoacutefica soacutelida e inquestionaacutevel agrave Monarquia ou agrave soberania do governo Questionar a Monarquia implica discutir a hipoacutetese de Hobbes Descartes in-satisfeito com a antropologia egoiacutesta e cruel do homem natural ou seja anti-cristatilde acusou Hobbes de plagiar e falsear seu sistema Espinosa por sua vez considerava o oacutedio apenas a outra face do amor e natildeo admitia a concessatildeo total do direito natural ao soberano o resultado eacute filosoficamente interessante pois preserva o sistema de Hobbes e defende a democracia (ou a repuacuteblica) Cada homem vale o que valer seu poder posto que sem nenhum poder o homem eacute escravo O direito natural equivale a seu poder de preservaacute-lo Entretanto o homem tem um poder inacessiacutevel aos outros homens o poder de pensar a liberdade de pensar Como na democracia todos os homens tecircm a plenitude da liberdade e do pensamento este eacute o meio pelo qual todos podem ser conjuntamente felizes Pufendorf por outro lado procurou mostrar aporias nos sistemas cartesianos de Hobbes e Espinosa e defendeu a perspectiva teoloacutegica da liberdade divina da vontade

Locke

No proacuteprio contexto inglecircs Hobbes teve um adversaacuterio que mudou a filosofia cartesiana Locke mostrou que as ideacuteias inatas satildeo oriundas dos sentidos ou seja natildeo satildeo inatas com isso

20 Eacutetienne de La Boeacutetie (1530-1563) foi um huma-nista francecircs que apontou o paradoxo pelo qual os homens satildeo livres e preferem a servidatildeo escreveu o Discurso sobre a servidatildeo voluntaacuteria para mostrar que para natildeo obedecer o tirano basta natildeo obedecer que o poder da tirania acaba Introduz assim a distinccedilatildeo entre a forccedila e o poder o mais forte sempre ganha do mais fraco por definiccedilatildeo mas o poder depende de consentimento e acordo

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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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natildeo eacute a geometria que organiza o conhecimento mas as sensaccedilotildees O homem eacute uma tabula rasa um quadro vazio que eacute preenchido ao longo de sua vida Nasce tambeacutem outra poliacutetica como eacute a partir do corpo que o homem sente entatildeo o homem adquire uma noccedilatildeo de propriedade pois o homem eacute dono do proacuteprio corpo Da mesma forma eacute dono dos bens que produz ou seja daquilo que produz com seu proacuteprio corpo enquanto instrumento de sua liberdade Se o homem pode produzir o que precisa entatildeo natildeo haacute por que brigar com outros homens logo a natureza humana eacute paciacutefica Contudo eventualmente surgem conflitos Nessa situaccedilatildeo vence o mais forte natildeo o mais justo por isso o homem forma a sociedade por meio de um contrato para que a justiccedila tenha mais forccedila do que a injusticcedila O Estado eacute assim formado para regular conflitos equilibrar as forccedilas e proteger os bens de cada um Nasce o liberalismo o Estado deve proteger a vida a liberdade e a propriedade Para proteger a liberdade eacute preciso preservar a lei da maioria ou seja o governo deve estar a cargo do poder legislativo a Monarquia natildeo deve ser absoluta (pois tenderia agrave tirania) e sim parlamentar de foma a dividir e equilibrar os poderes Para proteger os bens o Estado deve proteger os ricos e os ricos por sua vez devem ser generosos com os pobres uma espeacutecie de contra-partida eacutetica para compensar o privileacutegio poliacutetico

Rousseau

Rousseau nasceu na Repuacuteblica de Genebra e discordava da Monarquia absoluta francesa (ou Antigo Regime) defendia a repuacuteblica e natildeo admitia a monarquia identificava esta for-ma de governo agrave qualquer tirania e despotismo pois o Monarca pode ou natildeo ser correto e mesmo assim continua monarca A histoacuteria mostra numerosos exemplos de monarcas crueacuteis e sanguinaacuterios Quando lecirc os autores jusnaturalistas ndash ldquoGrotius e Hobbes fautores do despo-tismordquo -- que defendem a monarquia com os soacutelidos argumentos da matemaacutetica euclidiana Rousseau natildeo hesita em discordar dos meacutetodos da filoso-fia moderna Se o caacutelculo matemaacutetico permite concluir a tirania entatildeo a matemaacutetica estaacute errada em certo sentido Rousseau aproxima-se do relativismo de Protaacutegoras assim como Hume21 se torna radicalmente ceacutetico (agrave maneira de Sexto Empiacuterico22 importante ceacutetico romano) no mesmo periacuteodo Ambos foram amigos embora tenham se distan-ciado pois Rousseau tinha um temperamento difiacutecil O

21 David Hume (1711-1776) eacute filoacutesofo esco-cecircs e empirista radical tornou-se ceacutetico e com argumentos criteriosos e precisos demoliu as bases dogmaacuteticas da razatildeo

22 Sexto Empiacuterico (viveu no seacuteculo II dC) foi filoacutesofo e matemaacutetico grego chefe do ce-ticismo antigo legou-nos obras fundamentais pelo aprofundamento da reflexatildeo ceacutetica que ul-trapassa ateacute mesmo a criacutetica kantiana a David Hume e inspira o ceticismo contemporacircneo

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

nespRedeforbullM

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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4

Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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3

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isciplina 04

Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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                                                    4. Paacutegina 51
                                                      1. Botatildeo 52
                                                        1. Paacutegina 52 Off
                                                        2. Paacutegina 53
                                                          1. Botatildeo 53
                                                            1. Paacutegina 52 Off
                                                            2. Paacutegina 53
                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 9

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que nos interessa em filosofia eacute que Rousseau relativista e Hume ceacutetico contribuiram para demolir a razatildeo dog-maacutetica moderna as ideacuteias inatas cartesianas e desper-taram Kant23 do ldquosono dogmaacuteticordquo

Segundo Rousseau o direito natural permite deduzir a monarquia absoluta porque todos os pensadores ateacute seu tempo natildeo compreenderam adequadamente o direito natural pressu-puseram um estado de natureza mas transferiram elementos das sociedades corrompidas de seu tempo Rousseau entatildeo vai mais longe que Hobbes afirma com ele que a sociabilidade natildeo eacute natural mas acrescenta que a razatildeo tambeacutem natildeo eacute natural A razatildeo eacute historicamente ad-quirida a razatildeo cartesiana eacute tiacutepica do tempo de Descartes a matemaacutetica eacute soacute um instrumento para conhecer mas natildeo eacute o uacutenico nem eacute universal O homem eacute perfectiacutevel aprende a raciocinar com a natureza mas pode compreender a natureza de inuacutemeras formas todas igualmente acei-taacuteveis O que eacute fundamental para o homem natildeo eacute satildeo as leis da natureza mas a justiccedila natural A retrogradar das leis para a justiccedila Rousseau reabre a discussatildeo da justiccedila na moral e poliacutetica Recupera a discussatildeo original de Soacutecrates na Repuacuteblica de Platatildeo ldquoo que eacute a justiccedilardquo mas natildeo agrave maneira platocircnica que determina criteacuterios objetivos e universais para a Calipolis para a Cidade perfeita (comunista) e sim agrave maneira de Protaacutegoras (democraacutetica) cada sociedade sabe por si mesma estabelecer sua proacutepria justiccedila Haacute uma justiccedila natural que eacute compreendida em cada sociedade de uma maneira diferente mas natildeo eacute imposta a todas da mesma maneira jamais Toda sociedade tem justiccedila isso eacute certo mas cada sociedade tem sua justiccedila (os cris-tatildeos europeus mas tambeacutem os iacutendios os incas os japoneses etc) Por isso cada sociedade tem sua proacutepria vontade geral que eacute diferente da vontade geral das outras sociedades (assim como cada homem tem sua proacutepria vontade que eacute diferente da vontade dos outros homens) Assim Rousseau abandona o meacutetodo analiacutetico da filosofia moderna e propotildee um meacutetodo geneacutetico troca assim a matemaacutetica pela gecircnese histoacuterica E com isso a ciecircncia poliacutetica renuncia ao au-toritaritarismo do caacutelculo frio e assume o caraacuteter democraacutetico da sensibilidade e solidariedade sociais A preocupaccedilatildeo com o certo e errado cede lugar ao conceito de legitimidade e liberdade abrem-se as portas da arte poliacutetica (do legislador) do sentimento e do romantismo

23 Immanuel Kant (1724-1804) eacute um filoacutesofo ale-matildeo que fez a criacutetica da razatildeo para defender a possibilidade de raciociacutenio face aos argumentos ceacuteticos e relativistas feitos contra a razatildeo dogmaacuteti-ca e as ideias inatas cartesianas

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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Sade

Marquecircs de Sade se apropriou das filosofias dos grandes moralistas dos seacuteculos XVII e XVIII colocou-as umas contra as outras e inverteu seus resultados Em seus romances os personagens satildeo amorais violentos egoiacutestas e ao mesmo tempo refinados sofisticados O que aconteceria se os homens natildeo fossem seres morais O que acontece quando o freio da justiccedila e moralidade natildeo estatildeo presentes A experiecircncia literaacuteria nos permite refletir sobre isto

A Revoluccedilatildeo Francesa inspira-se nas ideias de Rousseau e muda definitivamente o mundo Com o aburguesamento das sociedades e o avanccedilo capitalismo que determinam a igualdade poliacutetica dos homens vecircm tambeacutem a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo De fato a igualdade poliacutetica eacute a justiccedila formal perante a lei ou a justiccedila efetiva segundo a neces-sidade de cada um Ora podemos notar que a filosofia poliacutetica agora toma outros rumos Ver-emos algumas novas preocupaccedilotildees filosoacuteficas nas proacuteximas duas Semanas

Ao coroar-se Imperador em 1804 Napoleatildeo Bonaparte manifesta simbolicamente que o poder poliacutetico natildeo depende mais da Igreja

httpcommonswikimediaorgwikiFileJacques-Louis_David_006jpguselang=pt-br

Revoluccedilatildeo Francesa

Apoacutes Rousseau ocorre a Revoluccedilatildeo Francesa a partir de 1789 ao longo da qual eacute discutido votado e aprovado a Declaraccedilatildeo Universal do Homem e do Cidadatildeo que conteacutem uma suacutemula positiva do que se indicava como direito natural e alguns elementos a mais A importacircncia e atualidade do tema que ao inveacutes de ser confirmado assim como foi o novo papel poliacutetico da burguesia eacute ainda controvertido e mal compreendido ateacute hoje Vamos discutir alguns de seus aspectos filosoacuteficos no Tema 3

Bibliografia utilizada

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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TEMAStema 4

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558602_redefor_d04_filosofia_tema03flv

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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TEMAStema 4

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Direitos sociais e Direitos humanos

31 Introduccedilatildeo histoacuterica

Vimos que a justificaccedilatildeo ideoloacutegica do Antigo Regime pela origem divina do poder real sustentado pelas Sagradas Escrituras foi substituiacutedo pelo jusnaturalismo moderno sustentado pela razatildeo do homem Podemos afirmar que os misteacuterios da feacute passaram a ser iluminados pela razatildeo pois os misteacuterios eram usados para justificar tiranias e guerras violecircncias e intoleracircncias As disputas perseguiccedilotildees e guerras religiosas precisavam ser contidas mas quem fala em nome de Deus quer impor sua verdade a todos os outros assim reformados catoacutelicos muccedilulmanos budistas judeus queriam impor-se uns aos outros A transcendecircncia sustentada pela feacute natildeo era mais suficiente o jusnaturalismo de origem cartesiana mostra que a condiccedilatildeo de todos os homens eacute a mesma e que todos satildeo igualmente racionais A razatildeo assim torna-se o elemento unificador do gecircnero humano a transcendecircncia homogecircnea comprovada pela geometria pela matemaacutetica como linguagem transparente e uniacutevoca

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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Se os homens satildeo iguais por que alguns satildeo melhores que outros Vimos que os filoacutesofos jusnaturalistas procuraram dar respostas a esta questatildeo Hobbes afirmou que os homens se organizam num Estado por meio de um pacto para ter seguranccedila Locke dizia que o objetivo do contrato eacute a propriedade e a justiccedila Espinosa defende que o mais importante eacute a liberdade e Rousseau procura criteacuterios de legitimidade O que vemos nestas preocupaccedilotildees eacute a formaccedilatildeo do Estado de direito ou seja o reconhecimento de que a lei organiza a vida social Natildeo mais a lei divina cuja origem apenas os profetas conhecem mas a lei poliacutetica aquela que eacute constituiacuteda pelos cidadatildeos pelo povo que faz o contrato que fundamenta o Estado Os filoacutesofos assim mostravam que o povo educado estudado civilizado rejeita a tirania e a violecircncia Contudo foi necessaacuterio recorrer agrave violecircncia para vencer e derrubar a tiranias Assim o estabelecimento do Estado de direito ocorreu por meio de lutas sociais eventualmente violentas

Os filoacutesofos jusnaturalistas que pensaram numa nova justificativa para o poder por meio do direito natural e que combatiam o fanatismo e a supersticcedilatildeo pelo uso da razatildeo ofereceram tambeacutem ao povo e aos letrados da eacutepoca argumentos contra os abusos do Antigo Regime Per-suadir um rei que tem poder absoluto a dividir seu poder com o povo ou com um Parlamento convencecirc-lo a exprimir a vontade do Estado por meio da lei natildeo eacute faacutecil Se num primeiro mo-mento com Grotius e Hobbes eacute o rei que faz a lei com Locke Montesquieu e Rousseau o rei deve obedecer a lei No seacuteculo XVII houve a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra que instituiu a Monarquia Parlamentar e no seacuteculo XVIII ocorreu a Revoluccedilatildeo Francesa que estabeleceu a Repuacuteblica Posteriormente na Franccedila a monarquia eacute restaurada com Napoleatildeo Bonaparte uma monarquia parlamentar

Indicamos dois famosos quadros de eacutepoca que caracterizam bem este movimento de ideias ldquoA coroaccedilatildeo de Josefinardquo (de Jacques-Louis David) quando Napoleatildeo Bonaparte ele mesmo coroa a Imperatriz Josefina em 1803 ao inveacutes de aceitar a coroaccedilatildeo pelo Papa Assim a Igreja que antes sustentava o Antigo Regime agora admite submeter-se ao Estado em nome da razatildeo a religiatildeo tornou-se um problema de foro iacutentimo

Outro quadro interessante eacute ldquoA liberdade guiando o povordquo (de Jean Delacroix) que mostra o povo em 1830 enfrentando a elite governante para estabelecer um novo padratildeo de liberdade e igualdade republicano contra o Antigo Regime e sua heranccedila

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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bibliografiaU

nespRedeforbullM

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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4

Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

3

4

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isciplina 04

Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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                                                              1. Botatildeo 7
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                                                              3. Botatildeo 9

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Haacute trecircs momentos histoacutericos exemplares que caracterizam a queda do Antigo Regime (e o fim do feudalismo) e a constituiccedilatildeo do Estado de direito a Revoluccedilatildeo Gloriosa na Inglaterra (1688) a Independecircncia dos Estados Unidos (1776) e a Revoluccedilatildeo Francesa (1789) Nestas revoluccedilotildees o povo rejeitou a elite governante e impocircs uma nova forma de governar que se esp-alhou por (quase) todo o mundo ou melhor estabeleceu um padratildeo poliacutetico internacional que vigora ateacute hoje com algumas variaccedilotildees e muitos entretempos as democracias representativas burguesas (ou liberais) O que nos interessa eacute que estes movimentos sociais e revolucionaacuterios foram baseados em ideias discutidas e antecipadas pelas artes (literatura artes plaacutesticas teatro) e pela filosofia

32 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo

Os trecircs movimentos revolucionaacuterios que mencionamos que instituem o Estado de direito e promovem um novo padratildeo de relaccedilatildeo entre o povo e o governo propuseram Cartas de Direi-tos para toda a humanidade Surgiu na Inglaterra a Bill of rights (Carta de Direitos) em 1689 que estabelece o papel do Parlamento e direitos aos simples cidadatildeos

Na Independecircncia dos Estados Unidos o primeiro Estado a propor uma Declaraccedilatildeo foi Virgiacutenia em 1776 a Virginia Bill of Rights (Carta de Direitos da Virgiacutenia) de inspiraccedilatildeo ilu-minista Esta Carta eacute a base da United States Bil of Rigths os dez primeiros artigos da Con-stituiccedilatildeo dos Estados Unidos Defende ldquodireitos inerentesrdquo (ou seja direitos naturais inerentes a todo ser humano) como a liberdade a vida e a propriedade e afirma que todo poder emana do povo Vejamos os dois primeiros artigos

ldquoArtigo 1deg - Todos os homens satildeo por natureza livres e independentes tecircm certos direitos inerentes dos quais natildeo podem quando entram em sociedade por nenhum contrato privar-se nem desprover sua posteridade Nomeadamente o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e possuir propriedades de perseguir e obter felicidade e seguranccedila

Artigo 2deg - Todo o poder pertence ao povo e consequentemente dele emana os magistrados satildeo os seus mandataacuterios e servidores e em todo o tempo acessiacuteveisrdquo

Em Paris no ano de 1789 com a Revoluccedilatildeo Francesa a Assembleacuteia Nacional propocircs a Declaration des Droits de lrsquohomme et du citoyen (Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Cidadatildeo) Inserida no mesmo conjunto de ideias esta eacute mais completa e importante porque recebeu um repuacutedio das Monarquias europeacuteias que levou a Franccedila a defender-se e ao mesmo tempo a sublevar os povos de quase toda a Europa Houve a revogaccedilatildeo dos privileacutegios de classe isto eacute a nobreza francesa perdeu seus privileacutegios e reconheceu que todo homem eacute igual Haacute a defesa da igualdade e da resistecircncia agrave opressatildeo ou seja o povo tem o direito (e mesmo o dever) de resistir agrave tirania (e portanto ao Antigo Regime)

httpfrwikipediaorgwikiFichierLe_Barbier_Dichiarazione_dei_diritti_dell27uomojpg

Na Inglaterra tratava-se de promover reformas na monarquia inglesa Nos Estados Unidos o objetivo era a independecircncia o fim da relaccedilatildeo colonial com a metroacutepole Jaacute na Franccedila o que houve foi um movimento popular inesperado e surpreendente O rei Luiacutes XVI convocara os estados-gerais ou seja representantes de todo o reino para discutir dificuldades financeiras (ou seja aumentar impostos) Uma vez reunido e insatisfeito com a Monarquia Absoluta o povo francecircs estabeleceu o poder da Assembleia e propocircs uma Constituiccedilatildeo que restringia os anteriormente ilimitados poderes do rei Despeitado e ignorado pela Assembleia o rei ten-tou fugir da Franccedila e de seu proacuteprio povo o que equivale a trair-se a si mesmo pois o rei eacute a encarnaccedilatildeo da Franccedila Preso em Varennes em 1791 discussotildees interminaacuteveis conduziram a sua guilhotinaccedilatildeo (decapitaccedilatildeo pela guilhotina) em 1793 agrave radicalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo e ao iniacutecio do Terror revolucionaacuterio que executou dezenas de milhares de pessoas O triunvirato que governava a Repuacuteblica Francesa era composto por Robespierre Marat e Saint-Just todos de origem plebeacuteia e admiradores da filosofia de Montesquieu e Rousseau Um foi assassinado outros dois guilhotinados Ameaccedilado pelas monarquias vizinhas a Franccedila entrou em guerra com quase toda a Europa e ganhou Um jovem soldado torna-se general pouco a pouco as-sume o controle poliacutetico e restaura a monarquia autodenominando-se Imperador em 1801 Napoleatildeo Bonaparte

As ideias liberais inicialmente confinadas agrave Inglaterra e nos Estados Unidos estatildeo agora im-postas a toda civilizaccedilatildeo ocidental metroacutepoles e colocircnias A filosofia que combatia o fanatismo e a supersticcedilatildeo que defendia as luzes da razatildeo sai do gabinete e entra na vida da plebe agora todos satildeo iguais e livres perante a lei todo homem e todo cidadatildeo eacute dotado de direitos Natildeo se admite que os homens sejam fantoches do governo nenhum tipo de tirania eacute aceitaacutevel A filosofia sai dos livros e declara Cartas de Direitos para toda a humanidade

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TEMAStema 3

UnespR

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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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TEMAStema 3

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Leiamos os 17 artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

ldquoArt1ordm Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos As distinccedilotildees sociais soacute podem ser fundadas na utilidade comum

Art 2ordm A finalidade de toda associaccedilatildeo poliacutetica eacute a conservaccedilatildeo dos direitos naturais e imprescritiacuteveis do homem Esses direitos satildeo a liberdade a propriedade a seguranccedila e a re-sistecircncia agrave opressatildeo

Art 3ordm O princiacutepio de toda a soberania reside essencialmente na naccedilatildeo Nenhum corpo nenhum indiviacuteduo pode exercer autoridade que natildeo emane dela expressamente

Art 4ordm A liberdade consiste em poder fazer tudo que natildeo prejudica ningueacutem assim o exerciacutecio dos direitos naturais de cada homem natildeo tem limites senatildeo aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos Estes limites soacute podem ser determinados pela lei

Art 5ordm A lei soacute tem o direito de proibir as accedilotildees nocivas agrave sociedade Tudo que natildeo eacute proibido pela lei natildeo pode ser impedido e ningueacutem pode ser constrangido a fazer o que ela natildeo ordena

Art 6ordm A lei eacute a expressatildeo da vontade geral Todos os cidadatildeos tecircm o direito de concorrer pessoalmente ou por seus representantes em sua formaccedilatildeo Ela deve ser a mesma para todos seja para proteger seja para punir Todos os cidadatildeos satildeo iguais a seus olhos e igualmente ad-missiacuteveis a todas as dignidades lugares e empregos puacuteblicos segundo a capacidade de cada um e sem outra distinccedilatildeo senatildeo a de sua virtude e seus talento

Art 7ordm Ningueacutem pode ser acusado preso ou detido senatildeo nos casos determinados pela lei e segundo as formas que ela prescreve Aqueles que solicitam expedem executam ou fazem ex-ecutar ordens arbitraacuterias devem ser punidos mas qualquer cidadatildeo chamado ou convocado em virtude da lei deve obedecer imediatamente caso contraacuterio torna-se culpado pela resistecircncia

Art 8ordm A lei soacute deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessaacuterias e ningueacutem pode ser punido senatildeo em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legal-mente aplicada

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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bibliografiaU

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
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TEMAStema 3

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Art 9ordm Todo homem eacute presumido inocente ateacute que ele seja declarado culpado Se eacute jul-gado indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor que natildeo seria necessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei

Art 10ordm Ningueacutem pode ser molestado por suas opiniotildees mesmo religiosas desde que sua manifestaccedilatildeo natildeo perturbe a ordem puacuteblica estabelecida pela lei

Art 11ordm A livre comunicaccedilatildeo dos pensamentos e opiniotildees eacute um dos direitos mais pre-ciosos do homem todo cidadatildeo pode portanto falar escrever imprimir livremente contudo responde pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei

Art 12ordm A garantia dos direitos do homem e do cidadatildeo necessita de uma forccedila puacuteblica esta forccedila eacute portanto instituiacuteda para a vantagem de todos e natildeo para a utilidade particular daqueles a quem ela eacute confiada

Art 13ordm Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo comum eacute indispensaacutevel ela deve ser igualmente repartida entre os cidadatildeos em razatildeo de suas possibilidades

Art 14ordm Os cidadatildeos tecircm o direito de constatar por si mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consentir-lhe livremente de observar seu uso e de lhe determinar a quota a coleta a cobranccedila e a duraccedilatildeo

Art 15ordm A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente puacuteblico por sua admin-istraccedilatildeo

Art 16ordm Toda sociedade na qual a garantia dos direitos natildeo estaacute assegurada nem a sepa-raccedilatildeo dos poderes determinada natildeo tem Constituiccedilatildeo

Art 17ordm A propriedade eacute um direito inviolaacutevel e sagrado ningueacutem pode dela ser privado exceto quando a necessidade puacuteblica legalmente constatada o exigir com evidecircncia e sob a condiccedilatildeo de uma justa e preacutevia indenizaccedilatildeordquo

A simples leitura da Declaraccedilatildeo nos aponta muitas questotildees interessantes para reflexatildeo Liberdade e igualdade de direitos baseado na utilidade puacuteblica Propriedade como direito natural Resistecircncia agrave opressatildeo como direito natural Lei como expressatildeo da vontade geral

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TEMAStema 3

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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Liberdade de manifestaccedilatildeo do pensamento Presunccedilatildeo de inocecircncia Detenccedilatildeo somente em casos prescritos pela lei Direito de pedir contas ao agente puacuteblico

Todos noacutes nos defrontamos direta ou indiretamente com estes assuntos todos os dias de nossa vida Ora precisamos conhececirc-los bem natildeo eacute mesmo

33 Criacutetica e evoluccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos

A Declaraccedilatildeo de Direitos oriunda da Revoluccedilatildeo Francesa tem algumas caracteriacutesticas im-portantes para a Filosofia Uma delas eacute a afirmaccedilatildeo de direitos naturais inalienaacuteveis e impre-scritiacuteveis Sabemos que o pressuposto dos direitos naturais exige uma base filosoacutefica moderna de origem cartesiana todos os homens satildeo racionais e livres haacute uma uacutenica racionalidade que sustenta diversas manifestaccedilotildees histoacutericas entre as muitas sociedades humanas Egrave a razatildeo inata cartesiana que sustentou como vimos na Semana 2 a formaccedilatildeo do jusnaturalismo moderno Outra de suas consequecircncias eacute a subjetividade ou seja o ldquocogitordquo cartesiano (ldquopenso logo ex-istordquo) inaugura o indiviacuteduo moderno Cada indiviacuteduo tem portanto uma experiecircncia singular que deve ser respeitada [Haacute assim uma condiccedilatildeo transcendental superior a todos os homens que daacute sustentaccedilatildeo aos direitos humanos]

Outra caracteriacutestica filosoacutefica eacute a afirmaccedilatildeo de que ldquoa lei eacute a expressatildeo da vontade geralrdquo ori-unda da obra de Rousseau para quem a lei poliacutetica eacute a expressatildeo da vontade do povo Assim se o direito natural conteacutem a lei natural que obriga necessariamente de outro lado a lei proveacutem da vontade que eacute variaacutevel natildeo pode ser necessaacuteria (a vontade natildeo pode ser involuntaacuteria) Re-sultado da Filosofia a Declaraccedilatildeo conteacutem tambeacutem algumas aporias

Vimos como o individualismo e a igualdade de condiccedilotildees eacute fundamental para todo o jus-naturalismo moderno de Grotius e Hobbes a Rousseau e Kant Vimos que precisamos do indiviacuteduo para pensar a noccedilatildeo de contrato que cada indiviacuteduo eacute igual ao aceitar o contrato que a racionalidade que equaliza os homens estaacute baseada no cogito de um lado e na matemaacutetica e geometria de outro Cada um tem seu cogito e o cogito de todos eacute o mesmo porque a matemaacutetica eacute a mesma para todos

Ora se a filosofia moderna ndash que serve de base para o direito natural ndash entra em crise o con-ceito de direito natural precisa ser revisto E com o direito natural a Declaraccedilatildeo dos Direitos

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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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  • 4X
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do Homem e do Cidadatildeo que tem em si seus elementos fundamentais Podemos mencionar especialmente dois que serviratildeo de mediaccedilatildeo para o que podemos chamar de ldquosegunda gera-ccedilatildeordquo dos direitos humanos o individualismo e a propriedade

Com a Revoluccedilatildeo Francesa uma nova classe social se organiza e impotildee sua visatildeo de mundo a burguesia Ela precisa conter os que pretendiam voltar agrave situaccedilatildeo anterior que pretendiam restaurar a monarquia e a nobreza em oposiccedilatildeo agrave plebe A burguesia precisa tambeacutem conter os que pretendem um avanccedilo social maior os que lutam por um padratildeo de igualdade maior o socialismo que colocava os trabalhadores em oposiccedilatildeo aos proprietaacuterios Assim a burguesia se aliava ora com a forccedila reacionaacuteria ora com a forccedila revolucionaacuteria para conter um e outro A ordem juriacutedica que surge deste processo histoacuterico prevecirc direitos sociais que se anexam aos direitos humanos como forma de fazer concessotildees aos trabalhadores (e destarte evitar o so-cialismo) Direitos sociais satildeo previdecircncia social assistecircncia social direito agrave educaccedilatildeo sauacutede moradia e outros

Os direitos sociais foram incorporados aos direitos humanos pois natildeo haacute como garantir os direitos humanos sem que necessidades sociais miacutenimas estejam satisfeitas Um assim condi-ciona o outro isto eacute reconhecido por todos os Estados civilizados do mundo Eacute interessante que um filoacutesofo homenageado na Declaraccedilatildeo de 1789 Rousseau contribua como vimos deci-sivamente para a mediaccedilatildeo entre a primeira geraccedilatildeo e a segunda geraccedilatildeo dos direitos humanos Vimos que Rousseau tem tendecircncia relativista e historicista critica o dogmatismo da razatildeo e defende a sensibilidade e a solidariedade satildeo as criacuteticas ao iluminismo no proacuteprio contexto iluminista

Apesar de tanto avanccedilo teoacuterico no pensamento eacutetico e poliacutetico da humanidade o conflito de interesses entre os homens as instituiccedilotildees e as naccedilotildees continuou a produzir violecircncias e guerras cada vez maiores e mais graves O totalitarismo (especialmente o nazismo) a Segunda Guerra Mundial e as bombas atocircmicas em Hiroshima e Nagasaki promoveram o aprofunda-mento da reflexatildeo sobre os direitos humanos Surgiu a ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos que trata das menorias da paz da autodeterminaccedilatildeo dos povos da ecologia Fala-se agora de uma ldquoquarta geraccedilatildeordquo que trataria dos estudos do genoma e da engenharia geneacutetica aacuterea de pesquisa da bioeacutetica

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

41 Contexto

A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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3

4

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isciplina 04

Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 9

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Nesta Semana pretendemos discutir sobre as criacuteticas agrave Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo no seacuteculo XIX para mostrar dois casos de como essa reflexatildeo esteve presente na Filosofia Poliacutetica Em questatildeo a gestaccedilatildeo conceitual da ldquosegunda geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

Na proacutexima Semana pretendemos refletir sobre a violecircncia no seacuteculo XX trataremos mais uma vez de dois grandes filoacutesofos para acompanharmos a elaboraccedilatildeo conceitual da ldquoterceira geraccedilatildeordquo dos direitos humanos

34 A liberdade moderna em Benjamin Constant

Benjamin Constant representa a burguesia poacutes-revolucionaacuteria ameaccedilada tanto pelos que queriam restaurar o Antigo Regime quanto pelos lutavam por mais e maiores mudanccedilas pre-tendia assim estabilizar o que fora obtido justificar as novas aquisiccedilotildees e impedir outras rev-oluccedilotildees Precisa elogiar e recusar os valores revolucionaacuterios

Um de seus textos mais famosos eacute ldquoDa liberdade dos antigos comparada agrave dos modernosrdquo onde distingue a participaccedilatildeo ativa e constante no poder poliacutetico que caracteriza os tempos antigos e o usufruto paciacutefico e passivo da independecircncia privada na era moderna Os antigos compartilhavam as decisotildees poliacuteticas deliberavam sobre a paz e a guerra tratados de alianccedila estrangeira votavam leis pronunciavam julgamentos examinavam contas e atos dos magis-trados Por outro lado suas accedilotildees privadas estatildeo sujeitas agrave vigilacircncia natildeo tem independecircncia individual ldquonem mesmo para escolher a proacutepria religiatildeordquo Ao mesmo tempo ldquosoberano nas questotildees puacuteblicas eacute escravo em assuntos privadosrdquo Entre os modernos ao contraacuterio ser livre eacute submeter-se apenas agraves leis natildeo ser detido nem preso nem condenado nem maltratado pela vontade arbitraacuteria de nenhum indiviacuteduo eacute dizer a proacutepria opiniatildeo escolher seu trabalho e dis-por de sua propriedade Os modernos satildeo independentes na vida privada mas sua soberania poliacutetica eacute restrita daacute-se por representaccedilatildeo Benjamin Constant contrapotildee a vida poliacutetica antiga agrave vida privada moderna

ldquoO objetivo dos antigos era a partilha do poder social entre todos os cidadatildeos de uma mes-ma paacutetria Era isso o que eles denominavam liberdade O objetivo dos modernos eacute a seguranccedila dos privileacutegios privados e eles chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituiccedilotildees a esses privileacutegiosrdquo

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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 04

Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Em seguida o elogia das conquistas junta-se agrave criacutetica implacaacutevel aos excessos da Revoluccedilatildeo ldquoOs homens que foram levados pela onda dos acontecimentos a liderar nossa revoluccedilatildeo es-tavam imbuiacutedos de opiniotildees antiquadas e absurdasrdquo Robespierre Marat e Saint-Just pensa-vam como os velhos gregos e romanos enquanto instituiacuteam a moderna repuacuteblica burguesa

A primeira implicaccedilatildeo deste ensaio eacute que se o direito dos antigos eacute diferente dos modernos entatildeo o direito eacute reinscrito na histoacuteria natildeo eacute mais possiacutevel apoiar direitos humanos no jusnatu-ralismo ou numa realidade transcendental eterna e imutaacutevel

Da mesma forma em Princiacutepios de Poliacutetica acusa Rousseau e Hobbes de pensarem agrave ma-neira antiga e atribuiacuterem ao Estado e ao Governo um poder excessivo sobre o povo e os indi-viacuteduos afirma que nenhuma autoridade na terra eacute ilimitada Insiste que ldquoos cidadatildeos possuem direitos individuais independentes de toda autoridade social ou poliacutetica e toda autoridade que viola estes direitos se torna ilegiacutetimardquo Entendemos bem onde o Estado absolutista se excede e onde o novo Estado burguecircs precisa interromper seu poder ldquoOs direitos dos cidadatildeos satildeo a liberdade individual a liberdade religiosa a liberdade de opiniatildeo na qual estaacute compreendida seu aspecto puacuteblico o usufruto da propriedade a garantia contra toda arbitrariedaderdquo Aqui a criacutetica contra os direitos humanos eacute que a Declaraccedilatildeo comeccedila nos direitos naturais do homem para fundar os direitos poliacuteticos do cidadatildeo ou seja assimila o homem e o cidadatildeo ao passo que tratar-se-ia na modernidade justamente de dissociar o indiviacuteduo e o cidadatildeo Por isso eacute preciso despojar o homem de direitos naturais politizados para defender a emancipaccedilatildeo do sujeito do indiviacuteduo

Eacute sem duacutevida um grande avanccedilo a defesa da liberdade individual nestes termos mas o paradoxo eacute que ela eacute feita contra os filoacutesofos que ajudaram a constituiacute-la Logo veremos as implicaccedilotildees filosoacuteficas e poliacuteticas deste problema

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA liberdade dos antigosrdquo

35 Karl Marx e os direitos sociais

A literatura eacute rica em exemplos sobre a extrema desigualdade social causada pelos excessos do individualismo quando cada um eacute abandonado agrave proacutepria sorte por exemplo Os miseraacuteveis de Victor Hugo Uma frase de Friedrich Engels pode apontar claramente o problema ldquoOs

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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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TEMAStema 4

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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donos de escravos precisavam ao menos cuidar da alimentaccedilatildeo dos escravos os burgueses natildeo se preocupam mais nem mesmo com issordquo A condiccedilatildeo de vida dos mais pobres era absoluta-mente miseraacutevel e desumana A exploraccedilatildeo do trabalho natildeo tinha limites crianccedilas 16 horas de trabalho por dia descanso natildeo-remunerado falta de assistecircncia meacutedica etc Movimentos soci-ais e violentas lutas sindicais surgiram a igualdade defendida pela sociedade burguesa carecia de conteuacutedo social e equiliacutebrio Direitos sociais que garantissem uma condiccedilatildeo miacutenima a todos precisavam ser incorporados aos direitos humanos donde falarmos em ldquosegunda geraccedilatildeordquo O individualismo da Declaraccedilatildeo de 1789 encontrava limites claros seus pressupostos filosoacuteficos deixavam uma lacuna importante

Uma das criacuteticas filosoacuteficas mais contundentes e profiacutecuas ao individualismo da ldquoDeclara-ccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo foi feita por Karl Marx em sua juventude em Sobre a questatildeo judaica Os judeus alematildees reivindicavam direitos especiacuteficos vinculados a seu credo religioso Um dos companheiros de Marx da esquerda hegeliana Bruno Bauer respondeu aos judeus afirmava que todos os alematildees judeus e cristatildeos devem lutar pela liberdade e se eman-cipar como cidadatildeos e que todos os homens devem combater os privileacutegios religiosos e se emancipar enquanto homens Marx cita artigos e mostra que os direitos do homem e os direi-tos do cidadatildeo natildeo satildeo os mesmos na Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo pois a emancipaccedilatildeo humana eacute a emancipaccedilatildeo do indiviacuteduo e a emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute a emancipaccedilatildeo burguesa ou seja o que estaacute em jogo eacute o individualismo burguecircs na plenitude de seu egoiacutesmo e isolamento separado da sociedade A liberdade religiosa prevista no artigo 10 implica que o privileacutegio da feacute eacute um direito humano mas como um privileacutegio pode ser um direito No artigo 4 a liberdade de fazer o que natildeo prejudica os outros equivale a impor um limite fiacutesico como o limite da cerca de um terreno pois desconsidera-se o conjunto e destaca-se o alcance do indiviacuteduo O artigo 17 sobre a propriedade privada supotildee a mesma independecircncia e descon-sideraccedilatildeo de todos os outros Se eu tenho muito mais coisas do que preciso eacute problema meu se outro natildeo tem nada eacute problema dele Dessa forma conceder liberdade religiosa e garantir a propriedade satildeo dois aspectos do mesmo problema o homem se separa da humanidade como judeu (ou cristatildeo) e se separa da sociedade como proprietaacuterio O homem se torna ldquouma mocircnada isolada dobrada sobre si mesmardquo O direito agrave igualdade converge para o egoiacutesmo do membro da sociedade burguesa livre para comprar e vender resultado passivo da revoluccedilatildeo ldquoO homem natildeo se libertou da religiatildeo obteve a liberdade religiosa natildeo se libertou da pro-

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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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priedade obteve a liberdade de propriedade natildeo se libertou da induacutestria obteve a liberdade industrialrdquo O indiviacuteduo egoiacutesta e independente ignora a sociedade que o educa e condiciona vecirc-se a si mesmo isolado do todo

Nesta obra Marx menciona Rousseau como um dos filoacutesofos que perceberam o paradoxo entre os direitos naturais do homem e os direitos poliacuteticos do cidadatildeo eacute preciso desnaturar o homem para tornaacute-lo cidadatildeo ou seja o indiviacuteduo precisa tornar-se cidadatildeo para ser verdadei-ramente homem para natildeo ser egoiacutesta violento e indiferente agraves indignidades da miseacuteria social Acompanhando este argumento podemos dizer que nosso autor anterior Benjamin Constant natildeo percebeu que a filosofia de Rousseau jaacute dispunha de uma criacutetica ao individualismo liberal (inglecircs de John Locke)

Marx coloca a incapacidade burguesa de olhar o outro como seu igual prefere vecirc-lo como concorrente como competidor Por isso diz que eacute preciso reunir novamente o homem e o ci-dadatildeo e promover a emancipaccedilatildeo humana por meio da emancipaccedilatildeo poliacutetica eacute preciso evitar o isolamento poliacutetico e humano da sociedade burguesa De fato as Constituiccedilotildees incorporaram muitas reivindicaccedilotildees de direitos sociais

Versatildeo eletrocircnica de ldquoA questatildeo judaicardquo

36 Rumo ao breve seacuteculo XX

Vimos que no seacuteculo XIX o pensamento liberal elogia o individualismo e suas vantagens e o pensamento socialista prefere acentuar a sociedade como um todo Ambos tecircm criacuteticas aos direitos humanos e discutem sua fundamentaccedilatildeo filosoacutefica Veremos agora no seacuteculo XX como a violecircncia do Estado (totalitarismo) e das guerras levaram agrave formaccedilatildeo da ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) e a uma nova Declaraccedilatildeo de Direitos Humanos e algumas discussotildees presentes na filosofia que lhe servem de apoio teoacuterico e conceitual

Bibliografia

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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TEMAStema 4

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Violecircncia e Disciplina na Atualidade

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A violecircncia eacute um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil Vemos a violecircncia privada de assassinatos latrociacutenios estupros e a violecircncia puacuteblica dos agen-tes da lei contra infratores e inocentes eventualmente com o recurso da tortura para combater o crime e tambeacutem contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem ciacutevica Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violecircncia e criticarem os direitos humanos natildeo percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo todos ficam prejudicados pois soacute eacute possiacutevel defender-se da violecircncia por meio da violecircncia A recusa do diaacutelogo a rejeiccedilatildeo da palavra fundar a autoridade na forccedila e natildeo no consentimento satildeo formas de dar razatildeo agravequele que natildeo pocircde falar de reconhecer a validade do raciociacutenio que natildeo pocircde ser exposto pois usamos a forccedila se perdemos a razatildeo O filho que apanha aprende a bater da mesma forma o criminoso que apanha da poliacutecia bate na viacutetima A regra pela qual quem abusa da forccedila estaacute errado sem-

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558702_redefor_d04_filosofia_tema04flv

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

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lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
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                                                            1. Paacutegina 52 Off
                                                            2. Paacutegina 53
                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 9

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pre funciona se a poliacutecia bate em manifestantes ou grevistas entatildeo os manifestantes estatildeo certos Eacute natural defendermos o lado mais fraco oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando natildeo somos os mais fortes Eacute honroso ajudar os mais fracos Segundo Locke o pai do liberalismo que defende a propriedade a riqueza e o luxo os ricos devem aju-dar os pobres Segundo Marx por sua vez todas as violecircncias que conhecemos satildeo resultado direto ou indireto da luta-de-classes do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia o proletariado e o lumpen-proletariado) Em geral os filoacutesofos recusam a violecircncia exceto que se justifique filosoficamente como eacute o caso da ldquoguerra justardquo da ldquorevoluccedilatildeordquo e do combate ao crime

A explosatildeo da violecircncia civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos paiacuteses mais ricos melhor educados e mais cultos) no seacuteculo XX com duas guerras mundiais guerras eacutet-nicas genociacutedios a bomba atocircmica e bombas quiacutemicas levaram os Estados mais poderosos a organizarem a Liga das Naccedilotildees em 1919 apoacutes a Primeira Grande Guerra e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em 1945 apoacutes a Segunda Grande Guerra e a declararem uma nova Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

Site oficial da ONU (em inglecircs)

Site da ONU no Brasil

A importacircncia mundial desta Declaraccedilatildeo eacute natildeo apenas filosoacutefica mas sustenta decisotildees soberanas de muitos paiacuteses por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenaccedilatildeo de militares que aterrorizaram seus inimigos poliacuteti-cos na ditadura como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet

Haacute um site especiacutefico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglecircs) onde se infor-mam os 379 idiomas nos quais a Declaraccedilatildeo jaacute foi traduzida Universal Declaration of Human Rights

Traduccedilatildeo para o Portuguecircs

Versatildeo do site do Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos eacute um dos principais objetivos da ONU pois a ONU natildeo tem (nem pode ter) poder de poliacutecia sobre os paiacuteses membros Eacute um oacutergatildeo

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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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onde ocorrem discussotildees poliacuteticas e diplomaacuteticas muitas convenccedilotildees e Declaraccedilotildees de Di-reitos satildeo debatidos e propostos mas os interesses de cada Estado satildeo soberanos Somente quando haacute um grande consenso entre os paiacuteses membros eacute que criminosos de guerra como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentraccedilatildeo (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslaacutevia (1992-1995) puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena Outros massacres contudo como o de nossos irmatildeos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999 ou de nossos irmatildeos latino-americanos da Praccedila Tlatelolco Cidade do Meacutexico em 2 de dezembro de 1968 permanecem impunes

Sobre a Segunda Guerra Mundial haacute dois documentaacuterios bastante fortes que nos mostram a experiecircncia limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia um grito humano de ldquonunca maisrdquo

1- ldquoNoite e neblinardquo Direccedilatildeo Alain Resnais Franccedila 1955

2- Documentaacuterios dos campos de concentraccedilatildeo Produccedilatildeo Alfred Hitchcock Inglaterra 1945 Este pode ser visto em httpwwwholocaust-historyorgmultimedialiberation

Outro aspecto importante da ONU para a filosofia eacute a cultura para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura)

Site da Unesco (em inglecircs)

Site da Unesco no Brasil

Eacute preciso observar que os direitos humanos satildeo uma poliacutetica de Estado prevista na Consti-tuiccedilatildeo-cidadatilde de 1988

Artigo primeiro A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de Direito e tem como fundamentos I - a soberania II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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TEMAStema 4

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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TEMAStema 4

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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TEMAStema 4

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
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  • 4II
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  • 4X
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Artigo quarto A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos huma-nos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV ndash natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade X - concessatildeo de asilo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

Ressaltamos o liberalismo poliacutetico (livre-iniciativa e pluralismo) a rejeiccedilatildeo da violecircncia e a defesa da dignidade

O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997

Estamos jaacute em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquecircnio 2009-2013

Para noacutes professores de Filosofia no niacutevel meacutedio eacute importante conhecer tambeacutem o Observatoacuterio

Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente

Em niacutevel estadual haacute a Secretaria da Justiccedila e da Cidadania

E haacute ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informaccedilotildees

Direitos Humanos na Internet

Versatildeo eletrocircnica do importante livro ldquoBrasil Nunca Maisrdquo e a campanha de ldquoDireito agrave memoacuteria e

agrave verdaderdquo

Os novos artigos da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declaraccedilotildees

francesas de 1789-1791-1793 mas retira a propriedade como direito natural recusa decididamente a

escravidatildeo e a tortura e retira a importacircncia anteriormente dada agrave legalidade De fato muitos crimes

de Estado foram feitos em nome das leis embora contra a humanidade

A violecircncia escandalizou natildeo apenas os filoacutesofos e intelectuais mas sobretudo as pessoas de bem

como o oacutedio pode obnubilar a visatildeo de todo um povo seraacute que tanto avanccedilo teacutecnico natildeo pode con-

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

1

2

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4

BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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4

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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                                                      1. Botatildeo 52
                                                        1. Paacutegina 52 Off
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                                                          1. Botatildeo 53
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                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 9

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TEMAStema 4

UnespR

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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tribuir para a justiccedila Um dos ensaios de filosofia mais importantes do seacuteculo XX eacute Dialeacutetica do esclarecimento de Theodor Adorno e Max Horkheimer publicado m 1946 onde a hipoacutetese de que houve uma mistificaccedilatildeo da filosofia e da educaccedilatildeo e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental perdeu seu papel libertador Na mesma tradiccedilatildeo Juumlrgen Habermas se preocupa com o problema do direito com a limitaccedilatildeo do poder poliacutetico e do poder finan-ceiro mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991

42 Breve introduccedilatildeo histoacuterica

A Revoluccedilatildeo Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder poliacutetico e derrubar o governo vigente para o bem ou para o mal a revoluccedilatildeo De fato a sombra da revoluccedilatildeo popular passou desde entatildeo a apavorar as elites e a orientar todas as suas accedilotildees jaacute que nem mesmo a religiatildeo oferecia ndash como antes ndash freio aos anseios do povo Para conter a violecircncia da revoluccedilatildeo natildeo foi difiacutecil escolher a violecircncia da contra-revoluccedilatildeo e da guerra a todo custo para contentar e delimitar os movimentos sociais Grotius que no seacuteculo XVII propusera o direito natural para restringir a violecircncia das guerras religiosas para justificar a escravidatildeo e a colonizaccedilatildeo e para defender o progresso e a paz no comeacutercio internacional natildeo podia imaginar o grau de violecircncia que o progresso teacutecnico e o conflito de interesses comer-ciais causariam trecircs seacuteculos depois Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violecircncia do que propriamente para reduzir a violecircncia e esta-belecer canais aceitaacuteveis de diaacutelogo poliacutetico

A Franccedila em particular e a Europa em geral atravessaram os seacuteculos XIX e XX em meio a revoluccedilotildees e guerras Em Paris houve levantes populares em 1830 de 1848 e 1871 e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial Apoacutes a Segunda Grande Guerra de 1939-1943 a guerra-fria na Europa que por sua vez foi bastante quente nos paiacuteses perifeacutericos (por exem-plo a guerra do Vietnam as ditaduras militares na Ameacuterica do Sul) Com o fim da Uniatildeo das Repuacuteblicas Socialistas Sovieacuteticas em 1989 o foco de tensotildees circunda a produccedilatildeo petroliacutefera no Oriente Meacutedio e a expansatildeo do domiacutenio da tecnologia nuclear de uso militar Em suma ao mesmo tempo que o progresso teacutecnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condiccedilatildeo de trabalho das pessoas os meacutetodos de dominaccedilatildeo opressatildeo e controle tambeacutem se aperfeiccediloaram Numa palavra violecircncia

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TEMAStema 4

UnespR

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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4

Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

1

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3

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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3

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
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Um quadro famoso que exprime a violecircncia social na primeira metade do seacuteculo XX na Europa eacute

ldquoGuernicardquo de Picasso quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de Satildeo Paulo de 1953

Este quadro retrata o massacre da resistecircncia republicana no povoado de Guernica em 1937 durante a

Guerra Civil Espanhola (1933-1937) pelo general monarquista Francisco Franco com aviotildees alematildees

e indiferenccedila sovieacutetica (devido ao pacto de natildeo-agressatildeo Hitler-Stalin de 1933) para desespero dos

socialistas e anarquistas espanhoacuteis e da forccedila internacional que laacute estava em luta pelo socialismo e pela

justiccedila social

httpenwikipediaorgwikiFilePicassoGuernicajpg

Veremos a seguir dois aspectos da violecircncia contra o povo no caso do totalitarismo segundo Han-

nah Arendt e contra a pessoa na sociedade disciplinar segundo Michel Foucault

43 Hannah Arendt

O termo ldquototalitarismordquo era usado pelos fascistas de forma elogiosa Coube a Hannah Ar-endt (1906-1975) judia alematilde radicada nos EUA descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitaacuterios em Origens do totalitarismo de 1951 Trata-se de uma for-ma de domiacutenio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienaccedilatildeo das tiranias antigas O Estado totalitaacuterio impede o homem de ter relaccedilotildees privadas livres e fora de controle puacuteblico priva-o assim de seu proacuteprio ldquoeurdquo e ainda destroacutei os meios de organizaccedilatildeo poliacutetica alternativa ao poder estabelecido jaacute que autoriza apenas um uacutenico partido poliacutetico Haacute assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao par-tido e que proiacutebe qualquer conduta ou expressatildeo desviante recorre agrave violecircncia para controlar os ldquocorpos e as mentesrdquo Constitui um mundo fictiacutecio internamente coerente sustentado pelo terror psicoloacutegico e perseguiccedilatildeo poliacutetica Ora o interessante eacute que Hannah Arendt qualifica de totalitaacuterio tanto a direita quanto a esquerda tanto o nazi-fascismo (que exterminou mil-hotildees de pessoas em campos de concentraccedilatildeo) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos) Angariou assim adversaacuterios de todos os lados Alguns anos depois apoacutes a morte de Stalin seu sucessor Nikita Kruchev denuncia seus crimes e a filosofia poliacutetica da pensadora alematilde ganha grande importacircncia teoacuterica O que nos chama atenccedilatildeo eacute a perfeita integraccedilatildeo de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU

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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

1

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4

Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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3

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
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Hannah Arendt escreve um livro intitulado ldquoSobre a violecircnciardquo em 1969 onde apresenta a mais completa reflexatildeo sobre o papel da violecircncia na poliacutetica ou no controle das pessoas Trata-se especialmente de uma reflexatildeo franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (ldquoa rebeliatildeo estudantil eacute globalrdquo) e os ideais revolucionaacuterios que defendiam a violecircncia como uma forma de superar as injusticcedilas sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria Ela procura mostrar que a violecircncia e o poder se excluem mutuamente pois o poder reune por meio do consentimento e a violecircncia desagrega devido ao ressentimento ldquoA forma extrema do poder eacute o todos contra um e a forma extrema da violecircncia eacute o um contra todosrdquo Diz que a violecircncia eacute instrumental e que para os poderosos eacute uma tentaccedilatildeo recorrer agrave violecircncia para continuar no poder contudo o resultado eacute a impotecircncia Contra Hegel e Marx diz que ldquoa violecircncia pode destruir o poder mas eacute incapaz de criaacute-lordquo Natildeo considera que o mal possa ser a manifestaccedilatildeo temporaacuteria de um bem oculto essa eacute uma das caracteriacutesticas da negaccedilatildeo dialeacutetica hegeliana da qual Hannah Arendt discorda

Uma das implicaccedilotildees de seu pensamento eacute a poliacutetica da natildeo-violecircncia de Mahatma Gan-dhi1 Ela mostra bem que conforme o contexto poliacutetico a desobediecircncia civil pode ser tratada como uma doenccedila a ser extirpada ou seja com enorme violecircncia com a brutalidade e o mas-sacre ou simplesmente pode alcanccedilar seus objetivos Depende da disposiccedilatildeo de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza Estas anaacutelises nos permitem reconhecer para noacutes brasileiros um aspecto precaacuterio de nossa elite nos anos 60 e 70 que optou pelo terror para calar as criacuteticas Natildeo ousou repetir a mesma soluccedilatildeo por ocasiatildeo dos ldquocara-pintadasrdquo que der-rubaram o presidente Collor fato que introduziu a poliacutetica brasileira num ciclo virtuoso ou seja qualitativamente superior Segundo a filoacutesofa alematilde ldquoexigir o impossiacutevel a fim de obter o possiacutevel nem sempre eacute contraproducenterdquo De fato a ameaccedila da revoluccedilatildeo (e da violecircncia) pode angariar algumas boas reformas Notemos assim que uma poliacutetica de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos poliacuteticos ao longo da histoacuteria Ora se nos eacute permitido ainda uma digressatildeo brasilei-ra observamos ainda importantes focos de violecircncia em nossa sociedade eacute assim preciso restabelecer o poder onde ele estaacute ausente Qual poder Aquele que prescinde de violecircncia

1 Mahatma Gandhi eacute o liacuteder da indepen-decircncia da Iacutendia em relaccedilatildeo agrave Inglaterra por meio da poliacutetica da natildeo-violecircncia Haacute um belo filme ldquoGandhirdquo Direccedilatildeo Richard Attenborough Estados Unidos 1982

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TEMAStema 4

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44 Michel Foucault

O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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TEMAStema 4

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O maior filoacutesofo do seacuteculo XX eacute um anti-filoacutesofo Esta provocaccedilatildeo eacute uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciecircncias humanas do avesso Mostrou que a histoacuteria natildeo podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido que os conceitos claacutes-sicos de ldquosoberaniardquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquogovernordquo ldquoliberdaderdquo para pensar o poder deixam escapar o principal que eacute a interiorizaccedilatildeo das ordens que a psiquiatria cria as doenccedilas que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina que a justiccedila natildeo cuida do justo mas disciplina os corpos que a classe eacute uma questatildeo de raccedila que o governo administra o interior da vida e natildeo a liberdade ndash enfim todo o saber natildeo eacute mais do que a criaccedilatildeo de um discurso que internaliza uma forma de vida Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressatildeo na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas praacuteticas O direito que liberta na verdade controla Ademais a verdade nada mais eacute que uma forma de poder sobre os corpos uma legislaccedilatildeo sobre a intimidade Muito bem nossas ciecircncias huma-nas nos trouxeram ateacute aqui mas o que efetivamente somos Foucault mostra que as respostas disponiacuteveis satildeo todas falseadoras

Em A histoacuteria da loucura Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doenccedila inicialmente associada agrave lepra e ao isolamento depois ao internamento em instituiccedilotildees psiquiaacutetricas Este procedimento eacute emblemaacutetico para constituiccedilatildeo do discurso das ciecircncias hu-manas Trata-se de um discurso de poder constituiacutedo a partir dos micropoderes a partir da realidade concreta nas relaccedilotildees pessoais O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivaccedilatildeo real das praacuteticas pessoais da concretude que disciplina os corpos As formas juriacutedicas se constituem para criar estes micropoderes a vocaccedilatildeo transcendente articula a racionalidade da disciplina mas o real eacute a praacutetica concreta O tema principal para Fou-cault eacute o sujeito o indiviacuteduo o poder da classe da instituiccedilatildeo do soberano soacute contam em sua concretude disciplinar para a biopoliacutetica poliacutetica da vida e dos corpos A violecircncia assim eacute vista como a consequecircncia necessaacuteria e a ameaccedila contiacutenua da micropoliacutetica apenas a continuaccedilatildeo da disciplina eventualmente ateacute mesmo sua condiccedilatildeo como se vecirc em Vigiar e punir

Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexatildeo filosoacutefica sobre o poder a partir da violecircncia e que tem impacto sobre a compreensatildeo dos direitos humanos Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideraccedilatildeo nossa vida contem-poracircnea

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TEMAStema 4

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
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TEMAStema 4

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isciplina04ficha sumaacuterio bibliografia

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Bibliografia

bull ARENDT Hannah Sobre a violecircncia Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2010

bull FOUCAULT Michel A ordem do discurso Satildeo Paulo Loyola 1996

bull FOUCAULT Michel Em defesa da sociedade Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

bull FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Graal 1996

bull RIBEIRO Renato Janine Recordar Foucault Satildeo Paulo Brasiliense 1985

bull SAFATLE Vladimir TELES Edson O que resta da ditadura Satildeo Paulo Boitempo 2010

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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isciplina 04

Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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BibliografiaTema 1

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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bibliografiaU

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oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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Tema 2

bull BOBBIO Norberto Teoria das formas de governo Brasiacutelia UnB 1997

bull CHAUIacute Marilena Introduccedilatildeo agrave histoacuteria da filosofia Satildeo Paulo Companhia das Letras 2002-

2010 (2 v)

bull Monteagudo Ricardo Filosofia e paradigma em Ciacutecero TransFormAccedilatildeo Mariacutelia n 25 Mariacute-

lia 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdftransv25n1v25n1a04pdfgt Acessado em 10 dez 2010

bull ARISTOacuteTELES Poliacutetica Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1979 (Coleccedilatildeo

Pensamento Poliacutetico)

bull BIGNOTTO Newton O tirano e a cidade Satildeo Paulo Discurso 1999

bull FINLEY Moses Democracia antiga e moderna Rio de Janeiro Graal 1988

bull GUTHRIE William K C Os sofistas Traduccedilatildeo de Joatildeo Rezende Costa Satildeo Paulo Paulus 1995

bull HAVELOCK Eric Prefaacutecio a Platatildeo Traduccedilatildeo de Enid Abreu Dobranzsky Campinas Papirus 1996

bull HEROacuteDOTO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull PEREIRA Maria Helena da Rocha Estudos de histoacuteria da cultura claacutessica Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste - Gulbenkian 1993 (v 1 e 2)

bull PLATAtildeO Protaacutegoras Traduccedilatildeo de Carlos Alberto Nunes Beleacutem UFPA 1983 Disponiacutevel em

lthttpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextocv000034pdfgt Acesso em 10 dez 2010

bull PLATAtildeO Repuacuteblica Traduccedilatildeo de Anna Lia de Almeida Prado Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

bull POLIacuteBIO Histoacuteria Traduccedilatildeo de Maacuterio da Gama Kury Brasiacutelia UnB 1985

bull WOLFF Francis A poliacutetica de Aristoacuteteles Satildeo Paulo Discurso 1999

bull WOLFF Francis Soacutecrates o sorriso da razatildeo Satildeo Paulo Brasiliense 1988

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bibliografiaU

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ficha sumaacuterio bibliografia

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Tema 3

bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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bibliografiaU

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

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TEMASficha da disciplina

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
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  • 4X
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bull CHATELET Franccedilois et al (Org) Histoacuteria das ideacuteias poliacuteticas Rio de Janeiro Zahar 1983

bull DEacuteRATHEacute Robert Rousseau e a ciecircncia poliacutetica de seu tempo Satildeo Paulo Barcarola 2010

bull DUSO Giuseppe (Org) O poder histoacuteria da filosofia poliacutetica moderna Petroacutepolis Vozes 2005

bull ESPINOSA Bento de Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull ESPINOSA Bento de Tratado teoloacutegico-poliacutetico Satildeo Paulo Martins Fontes 2003

bull ESPINOSA Eacutetica Tratado poliacutetico Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull GROTIUS Hugo O direito da guerra e da paz Ijuiacute RS Unijuiacute 2004 (2 volumes)

bull HOBBES Thomas Leviatatilde Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Os Pensadores)

bull LOCKE John Segundo tratado sobre o governo Satildeo Paulo Abril 1980

bull MAQUIAVEL Nicolau Priacutencipe Satildeo Paulo Abril 1973 (Os Pensadores)

bull MAQUIAVEL Nicolau Discorsi Brasiacutelia UNB 1994 Discursos sobre a primeira deacutecada de

Tito-Liacutevio

bull MONTEAGUDO Ricardo Entre o direito e a histoacuteria a noccedilatildeo do legislador em Rousseau

Satildeo Paulo UNESP 2006

bull MONTESQUIEU Espiacuterito das leis Satildeo Paulo Abril 1974 (Os Pensadores)

bull OLIVEIRA Francisco de PAOLI Maria Ceacutelia (Org) Os sentidos da democracia Petroacutepolis

Vozes 1999

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Discurso sobre as ciecircncias e as artes Satildeo Paulo Abril 1980 (Os

Pensadores)

bull ROUSSEAU Jean-Jacques Contrato social Satildeo Paulo Abril 1980 (Os Pensadores)

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isciplina 04TEMAS

bibliografiaU

nespRedeforbullM

oacuteduloIIbullDisciplina04

ficha sumaacuterio bibliografia

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Filmografia

CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

bull LEFORT Claude ldquoDireitos do homem e poliacuteticardquo In LEFORT Claude A invenccedilatildeo democraacute-

tica Satildeo Paulo Brasiliense 1987

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
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  • 4II
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CASANOVA e a revoluccedilatildeo Direccedilatildeo Ettore Scolla Inteacuterpretes Hanna Schygulla Harvey Keitel e Marcelo Mastroianni FranccedilaItaacutelia Versaacutetil 1982 1 DVD (122 min)

Tema 3

bull DORNELLES Joatildeo Ricardo O que satildeo direitos humanos Satildeo Paulo Brasiliense 1996 (Pri-

meiros Passos)

bull SOUZA Maria das Graccedilas Ilustraccedilatildeo e histoacuteria Satildeo Paulo EdUnesp 2002

bull CONSTANT Benjamin Da liberdade dos antigos comparada agrave dos modernos Revista Filosofia

Poliacutetica Porto Alegre n 2 p 9-25 1985

bull CONSTANT Benjamin Escritos de poliacutetica Satildeo Paulo Martins Fontes 2005

bull BINOCHE Bertrand CEacuteRO Jean-Pierre Bentham contre les droits de lrsquohomme Paris Puf 2007

bull MARX Karl Sobre a questatildeo judaica Satildeo Paulo Boitempo 2010

bull MARX Karl Manifesto comunista Rio de Janeiro Contraponto 1998

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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UnespR

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Autoria

Ricardo Monteagudo

Ficha da Disciplina

Filosofia Poliacutetica

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941558302_redefor_d04_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

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Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
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TEMASficha da disciplina

ficha sumaacuterio bibliografia

1

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04

Temas

Tema 1 Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na Antiguidade

Tema 2 Direito natural e Contratualismo na Modernidade

Tema 3 Direitos sociais e Direitos humanos

Tema 4 Violecircncia e Disciplina na Atualidade

Apresentaccedilatildeo

Nesta disciplina pretendemos propocircr uma reflexatildeo sobre alguns conceitos estudados em Filosofia poliacutetica Trataremos de apropriar estes conceitos em torno da eacutepoca em que foram criados e discutidos especialmente a partir de alguns filoacutesofos que estabeleceram tradiccedilotildees de pensamento em vaacuterias aacutereas Algumas destas abordagens tecircm expressotildees teacutecnicas diver-sificadas em psicologia ciecircncias sociais ciecircncias naturais e tecnoloacutegicas mas eacute justamente o raciociacutenio filosoacutefico (presente nestas outras formas de conhecimento) que estaraacute em questatildeo

Filosofia poliacutetica eacute em poucas palavras o ramo da filosofia que reflete sobre o poder e sobre a justiccedila Haacute muitos poderes e muitas maneiras de pensar o poder Veremos algumas maneiras fundamentais que inauguraram importantes tradiccedilotildees de reflexatildeo temas recorrentes ou abor-dagens pelas quais noacutes nos compreendemos a noacutes mesmos hoje Vamos assim fazer uma breve viagem de descoberta e aprofundamento de questotildees da Filosofia Poliacutetica

Trabalharemos com Temas jaacute presentes na Apostila do ensino puacuteblico paulista (ldquoCaderno do professor filosofia ensino meacutediordquo) mas numa abordagem mais teacutecnica e menos dirigida mais voltada agrave formaccedilatildeo docente e menos ao ensino do aluno pois o ensino depende tambeacutem da sensibilidade do professor em sala de aula

Por isso organizaremos a discussatildeo dos temas em torno de periacuteodos histoacutericos focos temaacuteti-cos conceitos de referecircncia e eixo na atualidade

Devido ao escasso tempo que ficaremos juntos selecionamos o pensamento de alguns pen-sadores e filoacutesofos para estruturar a reflexatildeo

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
  • 1IV
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  • 4II
  • 4III
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  • 4VI
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UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
  • 1IV
  • 1V
  • 4II
  • 4III
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  • 4VI
  • 4VII
  • 4VIII
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  • 4X
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Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP) secretaacuterio

Herman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIstavice-reitor no exerciacutecio da reitoria

Julio Cezar duriganChefe de Gabinete

Carlos antonio GameroProacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
  • 1IV
  • 1V
  • 4II
  • 4III
  • 4IV
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  • 4VI
  • 4VII
  • 4VIII
  • 4IX
  • 4X
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Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • Formas-de-governo Filosofia e Poliacutetica na antiguidade
  • Direito Natural e
  • Contratualismo na
  • Modernidade
  • Direitos sociais e
  • Direitos humanos
  • Violecircncia e Disciplina na Atualidade
  • Bibliografia
  • 1II
  • 1III
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                    6. Paacutegina 10
                    7. Paacutegina 11
                    8. Paacutegina 12
                    9. Paacutegina 13
                    10. Paacutegina 14
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 15 Off
                        2. Paacutegina 16
                        3. Paacutegina 17
                        4. Paacutegina 18
                        5. Paacutegina 19
                        6. Paacutegina 20
                        7. Paacutegina 21
                        8. Paacutegina 22
                        9. Paacutegina 23
                        10. Paacutegina 24
                        11. Paacutegina 25
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 15 Off
                            2. Paacutegina 16
                            3. Paacutegina 17
                            4. Paacutegina 18
                            5. Paacutegina 19
                            6. Paacutegina 20
                            7. Paacutegina 21
                            8. Paacutegina 22
                            9. Paacutegina 23
                            10. Paacutegina 24
                            11. Paacutegina 25
                              1. Botatildeo 58
                                1. Paacutegina 26 Off
                                2. Paacutegina 27
                                3. Paacutegina 28
                                4. Paacutegina 29
                                5. Paacutegina 30
                                6. Paacutegina 31
                                7. Paacutegina 32
                                8. Paacutegina 33
                                9. Paacutegina 34
                                10. Paacutegina 35
                                11. Paacutegina 36
                                12. Paacutegina 37
                                13. Paacutegina 38
                                  1. Botatildeo 59
                                    1. Paacutegina 26 Off
                                    2. Paacutegina 27
                                    3. Paacutegina 28
                                    4. Paacutegina 29
                                    5. Paacutegina 30
                                    6. Paacutegina 31
                                    7. Paacutegina 32
                                    8. Paacutegina 33
                                    9. Paacutegina 34
                                    10. Paacutegina 35
                                    11. Paacutegina 36
                                    12. Paacutegina 37
                                    13. Paacutegina 38
                                      1. Botatildeo 56
                                        1. Paacutegina 39 Off
                                        2. Paacutegina 40
                                        3. Paacutegina 41
                                        4. Paacutegina 42
                                        5. Paacutegina 43
                                        6. Paacutegina 44
                                        7. Paacutegina 45
                                        8. Paacutegina 46
                                        9. Paacutegina 47
                                          1. Botatildeo 57
                                            1. Paacutegina 39 Off
                                            2. Paacutegina 40
                                            3. Paacutegina 41
                                            4. Paacutegina 42
                                            5. Paacutegina 43
                                            6. Paacutegina 44
                                            7. Paacutegina 45
                                            8. Paacutegina 46
                                            9. Paacutegina 47
                                              1. Botatildeo 64
                                                1. Paacutegina 48 Off
                                                2. Paacutegina 49
                                                3. Paacutegina 50
                                                4. Paacutegina 51
                                                  1. Botatildeo 65
                                                    1. Paacutegina 48 Off
                                                    2. Paacutegina 49
                                                    3. Paacutegina 50
                                                    4. Paacutegina 51
                                                      1. Botatildeo 52
                                                        1. Paacutegina 52 Off
                                                        2. Paacutegina 53
                                                          1. Botatildeo 53
                                                            1. Paacutegina 52 Off
                                                            2. Paacutegina 53
                                                              1. Botatildeo 7
                                                              2. Botatildeo 8
                                                              3. Botatildeo 9