curso superior de tÉcnico de polÍcia ostensiva e ... especiais.pdf · polÍcia militar do estado...

29
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO DIRETORIA DE ENSINO ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS “CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO” CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA MATÉRIA 02: DIREITO PENAL E DIREITO PENAL MILITAR UD 03: LEIS ESPECIAIS Departamento de Ensino e Administração Divisão de Ensino e Administração Seção Pedagógica Setor de Planejamento APOSTILA ATUALIZADA EM MAIO DE 2009 PELO 1°TEN PM MARTINHO NETO DA ESSd

Upload: vankhuong

Post on 27-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIRETORIA DE ENSINO

ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS

“CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO”

CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DEPOLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO

DA ORDEM PÚBLICA

MATÉRIA 02: DIREITO PENAL EDIREITO PENAL MILITAR

UD 03: LEIS ESPECIAIS

Departamento de Ensino e AdministraçãoDivisão de Ensino e Administração

Seção PedagógicaSetor de Planejamento

APOSTILA ATUALIZADA EM MAIO DE 2009 PELO 1°TEN PM MARTINHO NETO DA ESSd

Page 2: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

1

ÍNDICE

DESCRIÇÃO PÁG.

I - INTRODUÇÃO________________________________ _______________________________ 1

II - DIREITO DE GREVE ________________________________ _________________________ 2

III – LEI DE IMPRENSA ________________________________ _________________________ 6

IV - TRÁFICO DE ENTORPECENTES________________________________ ______________ 9

V - CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR________________________________ ______ 15

VI - PROTEÇÃO AO USUÁRIO DO SERVIÇO PÚBLICO ____________________________ 17

VII - LEI DE TORTURA ________________________________ ________________________ 18

VIII - ABUSO DE AUTORIDADE ________________________________ ________________ 20

IX. ESTATUTO DO DESARMAMENTO ________________________________ ___________ 23

BIBLIOGRAFIA ________________________________ _______________________________ 27

Page 3: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

2

INTRODUÇÃO

As normas penais brasileiras, de caráter material e processual, são estabelecidas peloCódigo Penal e por diversas leis que não fazem parte do Código, mas que ao disciplinardeterminada matéria traz conteúdo penal, ora incriminando algum as condutas, ora apresentandonorma penal não incriminadora. Estas leis com conteúdo penal são conhecidas como legi slaçãoextravagante, pois são encontradas fora do Código Penal. São também denominadas LegislaçãoEspecial, uma vez que tratam sobre o direit o penal relacionado a determinado assunto, como porexemplo a Lei de Tortura, que incrimina as condutas relativas à tortura; ou a Lei de Tráfico deEntorpecentes, que também incrimina as condutas referentes ao tráfico de substânciasentorpecentes.

No nosso curso veremos algumas destas Leis Especiais, abordando tão somente seusaspectos penais.

DIREITO DE GREVE - LEI FEDERAL Nº 7.783, DE 28JUN89

(Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais regula oatendimento das necessidades inadiáveis da comunidade).

1. Aspectos Constitucionais do Direito de Greve :

A Constituição Federal, ao tratar dos direitos e garantias fundamentais garante tambémdireitos sociais, dentre os quais o direito de greve, previsto no seu artigo 9º:

“Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre aoportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimentodas necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.”

No artigo 5º da CF, que trata dos direitos e garantias individuais, ainda encontramos odispositivo que garante aos cidadãos o direito de reunião:

“Art 5º ...

XVI - Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocadapara o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente (Direito deReunião)”.

Mas é importante observar que mesmo esse direito não é absoluto, devendo haveranteriormente um comunicado às autoridades competentes com o fito de se garantir a manutençãoda ordem e da segurança pública.

Ainda analisando a Constituição Federal, encontramos no artigo 42 proíbe expressamenteo direito de greve aos militares federais e estaduais:

Page 4: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

3

“Art 42 ...

§ 5º Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”.

Assim, atendendo o dispositivo constitucional, foi editad a a lei Federal nº 7.783, de 28de junho de 1989. Referida lei autoriza aos trabalhadores, uma vez frustradas as negociações com oórgão patronal, a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal deserviços a empregador. Destacam-se na lei os direitos dos grevistas:

“Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:

I - o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores aaderirem à greve;

II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento.

§ 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores poderãoviolar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem.

§ 2º É vedado às empresas adotar meios para constr anger o empregado aocomparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento.

§ 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir oacesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propr iedade ou pessoa.”

Note-se, porém, que tais direitos são limitados, pois conforme se verifica no § 1º docitado artigo, as condutas adotadas pelos grevistas ou pelos empregadores não poderão violar ouconstranger direitos e garantias fundamentais, sob o ri sco de prática de alguma conduta penalmentetipificada.

É nessa esteira que o artigo 15 da lei determina a apuração das condutas ilícitas em razãodo abuso ao direito de greve:

“Art. 15 A responsabilidade pelos atos praticados, ilícitos ou crimes cometidos , no curso dagreve, será apurada, conforme o caso, segundo a legislação trabalhista, civil ou penal.

Parágrafo único. Deverá o Ministério Público, de ofício, requisitar a abertura docompetente inquérito e oferecer denúncia quando houver indício d a prática de delito.”

Portanto, o trabalhador possui a garantia constitucional ao direito de greve para poderreivindicar melhores condições de trabalho, mas o abuso no transcorrer da greve poderá ensejarconduta ilícita penalmente reprovável e punível de acordo com cada tipo penal infringido.

2. Aspectos Penais:

Cabe à PMESP, conforme preconiza o art. 144, § 5º da CF de 1988, garantir os direitosindividuais e coletivos de todas as pessoas, inclusive o direito de greve, todavia deve -se manterespecial atenção às práticas ilícitas, mormente quanto aos delitos mais prováveis de ocorrer emmanifestações grevistas:

Código Penal:

a) Art 150 - Violação de Domicílio

"Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou

tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências.

Page 5: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

4

Pena Detenção, de um a três meses, ou multa.

§ 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de

violência ou de arma, por duas ou mais pessoas:

Pena Detenção de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência".

§ 4º - "A expressão "casa" compreende:

III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade".

b) Art 197 - Atentado contra a liberdade de trabalho.

"Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça.

I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não

trabalhar durante certo período ou em determinados dias.

II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a particip ar de parede ou

paralisação de atividade econômica."

OBS: É necessário caracterizar: Vítima, indiciado e testemunhas.

c) Art 200 - Paralisação do trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem.

"Participar de suspensão ou abandono coletivo de traba lho, praticando violência contra

pessoa ou contra coisa.

Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é

indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados".

d) Art 202 - Invasão de estabelecimento industrial, comercial ou a grícola. Sabotagem.

"Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de

impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o

estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor".

OBS: a desocupação será feita mediante Ordem Judicial ou reintegração de posse.

3. Aspectos Administrativos:

Por fim, na Polícia Militar do Estado de São Paulo, o emprego policial militar nasatividades grevistas é regulado pela Nota de Instrução nº PM3 -006/2/89, da qual destacamos asseguintes normas gerais:

1) Agir com energia serena, à luz do direito, nos casos de violência, tais como:ocupação de fábricas, invasão de propriedades públicas e privadas, depredações ao patrimônio,piquetes violentos, etc.

2) A PM não é um agente complicador da questão social;

Page 6: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

5

3) Não deve reprimir movimentos reivindicatórios. Deve prevenir e reprimir, isto sim, aviolação da ordem pública;

4) O direito de greve dos trabalhadores é reconhecido pela Constituição Federal eregulamentado por lei. O Estado, sempre que necessário, agirá através da SSP para manter a ordempública, a integridade das pessoas e dos bens públicos e particulares;

5) O Estado, acima de tudo, se empenha para a obtenção de solução de entendimento ejustiça entre as partes;

6) Portanto, não deve a PM interferir nos problemas entre empregadores e e mpregados;

7) O objetivo da PM é manter a ordem pública e, se uma greve obedece os parâmetroslegais, ou seja, não estabelece conflitos mais sérios, o policiamento não dev e reprimir o movimentogrevista;

8) Os meios devem ser distribuídos e aplicados judiciosamente, de acordo com ascaracterísticas de cada caso, evitando o emprego em excesso;

9) Ater-se que todo policiamento preventivo deve ostentar a potência repressora na justacorrespondência dos eventos a serem prevenidos;

10) A greve é um direito do trabalhador, não havendo, porém, obrigatoriedade de adesão.A adesão é facultativa;

11) Em princípio, a Tr de Chq não será empregada, constituindo reserva do Cmdo G,sendo utilizada, apenas, como recurso à eventuais ações violentas, e

12) Os Cmt em Sit de greve devem ter como corolário doutrinário:

a) se a greve é um conflito, é também um jogo para ver quem cede primeiro. Cabe aoEstado apaziguar os ânimos, e

b) nesse jogo de paciência, cabe ao Pol Ost: OBSERVAR, INFORMAR E AGIR.

13) A preservação da ordem pública não é uma tarefa simples para o PM. Os piquetesembora pareçam pacíficos, na realidade podem estar coagindo o trabalhador;

14) Piquetes: não serão permitidos aqueles que estiverem coagindo pessoas, agredindo,quebrando, apedrejando, intimidando, lançando bombas, danificando viaturas, etc;

15) Prisões: dos que cometerem crimes ou contravenções penais, em especial contra aorganização do trabalho e contra o patrimônio;

16) Serviço de som, distribuição de panfletos e cartazes de propaganda: não serãoproibidos (aliciamento pacífico), todavia a PM adotará providências quando forem utilizados paraofender as instituições, as autoridades constituídas, a moral e os bons costu mes. O abuso quando douso de equipamento de som, de forma a perturbar o trabalho ou sossego alheios, constituicontravenção penal (Art 42 da LCP);

17) As buscas pessoais e as buscas em automóveis não sofreram qualquer alteração facea nova CF e poderão ser realizadas sempre que necessário, observados os procedimentos contidosno M-14-PM, evitando-se, tanto quanto possível, que estas se constituam em provocações aosgrevistas;

Page 7: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

6

18) A PM não deverá aceitar o fornecimento de alimentação, combustível ou outrosobjetos por parte das empresas policiadas, evitando -se, dessa forma, qualquer tipo decomprometimento.

LEI DE IMPRENSA - LEI FEDERAL Nº 5.250, DE 09FEV67

(Regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação)

1. Aspectos Constitucionais :

Novamente no artigo 5º da CF, que trata dos direitos e garantias individuais, encontramosdispositivos que garantem a liberdade de imprensa:

“Art. 5º ...IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de respos ta, proporcional ao agravo, além da indenização pordano material, moral ou à imagem;

...

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”

A referida lei federal foi recepcionada pela Constituição Federal, e nela está disciplinadaa matéria referente às atividades da imprensa.

2. Aspectos Penais:

Para o nosso estudo, o que nos interessa são as principais condutas tipificadas na lei comoinfrações penais. Os seguintes artigos da lei federal incriminam as condutas, na seguinteconformidade:

“Art . 18. Obter ou procurar obter, para si ou para outrem, favor, dinheiro ou outravantagem para não fazer ou impedir que se faça publicação, transmissão ou distribuição denotícias:

Pena: Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa de 2 (dois) a 30 (trin ta)salários-mínimos da região.

§ 1º Se a notícia cuja publicação, transmissão ou distribuição se prometeu não fazerou impedir que se faça, mesmo que expressada por desenho, figura, programa ou outras formascapazes de produzir resultados, fôr desabonadora da honra e da conduta de alguém:

Pena: Reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, ou multa de 5 (cinco) a 50(cinqüenta) salários-mínimos da região.

§ 2º Fazer ou obter que se faça, mediante paga ou recompensa, publicação outransmissão que importe em crime previsto na lei:

Pena: Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa de 2 (dois) a 30 (trinta)salários-mínimos da região.”

Page 8: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

7

Art. 19. Incitar à prática de qualquer infração às leis penais:

Pena: Um terço da prevista na lei para a infração provocada, até o máximo de 1 (um)ano de detenção, ou multa de 1 (um) a 20 (vinte) salários -mínimos da região.

§ 1º Se a incitação for seguida da prática do crime, as penas serão as mesmas cominadasa este.

§ 2º Fazer apologia de fato criminoso ou de autor de crime:

Pena: Detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa de 1 (um) a 20 (vinte) salários -mínimos da região.

Art. 20. Caluniar alguém, imputando -lhe falsamente fato definido como crime:

Pena: Detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa de 1 (um) a 20 (vinte) salários -mínimos da região.

§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, reproduz a publicação outransmissão caluniosa.

§ 2º Admite-se a prova da verdade, salvo se do crime imputado, embora de açã o pública,o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.

§ 3º Não se admite a prova da verdade contra o Presidente da República, o Presidentedo Senado Federal, o Presidente da Câmara dos Deputados, os Ministros do Supremo TribunalFederal, Chefes de Estado ou de governo estrangeiro, ou seus representantes diplomáticos.

Art. 21. Difamar alguém, imputando -lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena: Detenção, de 3 (três) a 18 (dezoito) meses, e multa de 2 (dois) a 10 (dez) salários -mínimos da região.

§ 1º A exceção da verdade sòmente se admite:

a) se o crime é cometido contra funcionário público, em razão das funções, ou contraórgão ou entidade que exerça funções de autoridade pública;

b) se o ofendido permite a prova.

§ 2º Constitui crime de difamação a p ublicação ou transmissão, salvo se motivada porinteresse público, de fato delituoso, se o ofendido já tiver cumprido pena a que tenha sidocondenado em virtude dele.

Art. 22. Injuriar alguém, ofendendo -lhe a dignidade ou decoro:

Pena: Detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa de 1 (um) a 10 (dez) salários -mínimos da região.

Parágrafo único. O juiz pode deixar de aplicar a pena:

a) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

b) no caso de retorsão imediata, que consista em o utra injúria.

Art. 23. As penas cominadas dos arts. 20 a 22 aumentam -se de um terço, se qualquer doscrimes é cometido:

Page 9: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

8

I - contra o Presidente da República, Presidente do Senado, Presidente da Câmara dosDeputados, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ch efe de Estado ou governo estrangeiro, ouseus representantes diplomáticos;

II - contra funcionário público, em razão de suas funções;

III - contra órgão ou autoridade que exerça função de autoridade pública.

Art. 24. São puníveis, nos termos dos arts. 20 a 22, a calúnia, difamação e injúria contraa memória dos mortos.

Art. 25. Se de referências, alusões ou frases se infere calúnia, difamação ou injúria,quem se julgar ofendido poderá notificar judicialmente o responsável, para que, no prazo de 48horas, as explique.

§ 1º Se neste prazo o notificado não dá explicação, ou, a critério do juiz, essas não sãosatisfatórias, responde pela ofensa.

§ 2º A pedido do notificante, o juiz pode determinar que as explicações dadas sejampublicadas ou transmitidas, nos te rmos dos arts. 29 e seguintes.

Art. 26. A retratação ou retificação espontânea, expressa e cabal, feita antes de iniciadoo procedimento judicial, excluirá a ação penal contra o responsável pelos crimes previstos nosarts. 20 e 22.

§ 1º A retratação do ofensor, em juízo, reconhecendo, por termo lavrado nos autos, afalsidade da imputação, o eximirá da pena, desde que pague as custas do processo e promova, seassim o desejar o ofendido, dentro de 5 dias e por sua conta, a divulgação da notícia da retratação.

§ 2º Nos casos deste artigo e do § 1º, a retratação deve ser feita ou divulgada:

a) no mesmo jornal ou periódico, no mesmo local, com os mesmos caracteres e sob amesma epígrafe; ou

b) na mesma estação emissora e no mesmo programa ou horário.

Art. 27. Não constituem abusos no exercício da liberdade de manifestação dopensamento e de informação:

I - a opinião desfavorável da crítica, literária, artística, científica ou desportiva, salvoquando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

II - a reprodução, integral ou resumida, desde que não constitua matéria reservada ousigilosa, de relatórios, pareceres, decisões ou atos proferidos pelos órgãos competentes das Casaslegislativas;

III - noticiar ou comentar, resumida ou amplamente, projetos e atos do Pode rLegislativo, bem como debates e críticas a seu respeito;

IV - a reprodução integral, parcial ou abreviada, a notícia, crônica ou resenha dosdebates escritos ou orais, perante juízes e tribunais, bem como a divulgação de despachos esentenças e de tudo quanto for ordenado ou comunicado por autoridades judiciais;

V - a divulgação de articulados, quotas ou alegações produzidas em juízo pelas partes ouseus procuradores;

Page 10: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

9

VI - a divulgação, a discussão e a crítica de atos e decisões do Poder Executivo e seusagentes, desde que não se trate de matéria de natureza reservada ou sigilosa;

VII - a crítica às leis e a demonstração de sua inconveniência ou inoportunidade;

VIII - a crítica inspirada pelo interesse público;

IX - a exposição de doutrina ou idéia.

Parágrafo único. Nos casos dos incisos II a VI deste artigo, a reprodução ou noticiárioque contenha injúria, calúnia ou difamação deixará de constituir abuso no exercício da liberdadede informação, se forem fiéis e feitas de modo que não demonstrem má -fé.

Art. 28. O escrito publicado em jornais ou periódicos sem indicação de seu autorconsidera-se redigido:

I - pelo redator da seção em que é publicado, se o jornal ou periódico mantém seçõesdistintas sob a responsabilidade de certos e determinados redatores, cu jos nomes nelas figurampermanentemente;

II - pelo diretor ou redator-chefe, se publicado na parte editorial;

III - pelo gerente ou pelo proprietário das oficinas impressoras, se publicado na parteineditorial.

§ 1º Nas emissões de radiodifusão, se não há indicação do autor das expressões faladas ou dasimagens transmitidas, é tido como seu autor:

a) o editor ou produtor do programa, se declarado na transmissão;

b) o diretor ou redator registrado de acordo com o art. 9º, inciso III, letra b, no caso deprogramas de notícias, reportagens, comentários, debates ou entrevistas;

c) o diretor ou proprietário da estação emissora, em relação aos demais programas.

§ 2º A notícia transmitida por agência noticiosa presume -se enviada pelo gerente daagência de onde se origine, ou pelo diretor da empresa.

LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006.

Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidaspara prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; definecrimes e dá outras providências.

Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei n o 10.409, de 11 de janeiro de2002.

CAPÍTULO III

DOS CRIMES E DAS PENAS

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumopessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar serásubmetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

Page 11: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

10

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colheplantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causardependência física ou psíquica.

§ 2o Para determinar se a droga dest inava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e àquantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, àscircunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximode 5 (cinco) meses.

§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serãoaplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidadeseducacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem finslucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consum o ou da recuperação de usuários edependentes de drogas.

§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, IIe III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê -lo, sucessivamente a:

I - admoestação verbal;

II - multa.

§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente,estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II do § 6 o do art. 28, o juiz,atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias -multa, em quantidade nunca inferior a 40(quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade ec onômica doagente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.

Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que se refere o § 6 o do art. 28serão creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas.

Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante àinterrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

DOS CRIMES

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir , vender, expor à venda,oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo oufornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ouregulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil equinhentos) dias-multa.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, temem depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou emdesacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria -prima, insumo ou produto químico destinado àpreparação de drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ouregulamentar, de plantas que se constituam em matéria -prima para a preparação de drogas;

Page 12: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

11

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração,guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ouem desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias -multa.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, parajuntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil equinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1 o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas deum sexto a dois terços, vedada a conversão e m penas restritivas de direitos, desde que o agente sejaprimário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organizaçãocriminosa.

O caput do art. 33 da Lei n. 11.343/06 possui 18 núcleos, que são:

1) Importar: é proporcionar o ingresso irregular de substância entorpecente no Brasil.Cuida-se de crime da competência da Justiça Federal, porquanto se trata de tráfico internacional.Consuma-se no momento em que a substância entra no território brasileiro, por via aérea, maríti maou terrestre, indevidamente.

2) Exportar: consiste na remessa de substância entorpecente para fora do territórionacional por via aérea, marítima ou terrestre. Também configura o denominado tráficointernacional, sendo da Justiça Federal a apuração e o julgamento do comportamento em estudo.

3) Remeter: significa enviar, encaminhar substância entorpecente para alguém, dentro dopaís, podendo fazê-lo, inclusive, por via postal.

4) Preparar: consiste em combinar substâncias inócuas, isto é, inaptas para c ausardependência física ou psíquica, dando origem a outra que é entorpecente.

5) Produzir: criar. Exige-se maior capacidade criativa, ultrapassando a mera combinaçãode substâncias.

6) Fabricar: reserva-se o núcleo quando houver o emprego de meios indust riais para aobtenção de substâncias entorpecentes.

7) Adquirir: obter a posse ou a propriedade da substância entorpecente a título oneroso ougratuito, normalmente com a contraprestação em dinheiro, com a intenção diversa do uso próprio.Sendo essa a intenção do agente, o enquadramento legal será feito no art. 16 da Lei n. 6.368/76.

8) Vender: disposição da droga, mediante pagamento em dinheiro ou outro bem queapresente valor econômico.

9) Expor à venda: exibir para a venda; mostrar a substância entorpec ente parainteressados na aquisição.

10) Oferecer: apresentar, ofertar, a substância entorpecente a eventuais comprad ores.

11) Fornecer, ainda que gratuitamente: prover, proporcionar, dar. Para parte da doutrinao comportamento exigiria a entrega continuad a de substância entorpecente a outrem, diferenc iando-se da simples entrega ou venda.

Page 13: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

12

12) Ter em depósito: é conservar a droga à sua disposição, enquanto o “guardar”consistiria na retenção da substância em nome de terceiro.

13) Transportar: trata-se do deslocamento da droga com a utilização de um meio detransporte. Difere do núcleo “trazer consigo” porque, nessa ação, a substância entorpecente édeslocada junto ao corpo ou dentro do próprio corpo do agente.

14) Trazer consigo: modalidade de transporte, na qual a substância entorpecente éconduzida pessoalmente pelo agente, junto ao seu corpo ou inserida dentro dele.

15) Guardar: conforme já assinalamos na abordagem do núcleo “ter em depósito”, hácontrovérsia sobre o preciso sentido desse comportamento.

16) Prescrever: trata-se de comportamento que só pode ser praticado por médicos oudentistas, profissionais autorizados a receitar substâncias entorpecentes. É, portanto, crime próprio(exige qualidade especial do sujeito ativo) e doloso, pois pressupõe que o paciente não necessite dadroga para tratamento. Se uma pessoa, que não seja médico ou dentista, falsificar uma receita,entendemos que responderá por auxílio, previsto no inciso I do § 2.° do art. 12. Há modalidadeculposa prevista no art. 15 da Lei n. 6.368/76, que se aperfeiçoa com a prescrição em doseevidentemente maior que a necessária, ou seja, receita cuja dosagem da droga exceda, em muito,àquela recomendada pela terapêutica.

17) Ministrar: introduzir substância entorpecente no organismo alheio p or meio deinalação, ingestão ou injeção. Pode ser praticado por qualquer pessoa, mediante pagamento ougratuitamente.

18) Entregar de qualquer forma a consumo: é o último dos núcleos, considerada a ordemestabelecida no art. 12, caput. O legislador inseri u a fórmula genérica visando evitar que ocomportamento que não se amoldasse nos demais núcleos pudesse ficar sem punição.

Objeto Material do art. 33, caput:

Trata-se de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica.Segundo preceitua o art. 66 da Lei n. 11.343/06, dispõe que, tais substâncias devem estar indicadasem lei ou relacionadas pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, doMinistério da Saúde.

Portanto, trata-se de norma penal em branco, ou seja, depe nde da complementação deoutra norma para o preenchimento do tipo penal. Para os fins desta lei, a incumbência decomplementar a norma foi transferida para a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, que foi aresponsável pela edição da Portaria n. 344, de 12.5.1998, atualmente em vigor, na qual contém o rolde substâncias entorpecentes.

Objetividade Jurídica:

A objetividade jurídica principal ou imediata é a incolumidade pública, sob o particularaspecto da saúde pública.

Objetividade jurídica secundár ia ou mediata é a vida, a saúde e a família.

Sujeito Ativo:

O sujeito ativo do crime em estudo é qualquer pessoa. O crime, nesse aspecto, é c omum.

Exceção: o comportamento de prescrever exige a qualidade de médico ou dentista parasua prática. Logo, nessa hipótese, o crime é próprio.

Page 14: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

13

Sujeito Passivo:

O sujeito passivo principal é a sociedade.

Sujeito passivo secundário são as pessoas que recebem a droga para consumi -la.

Consumação e Tentativa:

O crime do artigo 33 da Lei 11.343/06 é, via de regra, de mera c onduta, portanto háconsumação com o cometimento do comportamento típico, independentemente da produção dequalquer resultado. Todavia, dentre os núcleos (verbos) do tipo penal, se vários forem oscomportamentos praticados, a consumação ocorrerá com o come timento do primeiro deles, comopor exemplo, no verbo “preparar”. Entre os núcleos do tipo existem aqueles que dão ensejo a crimesinstantâneos, ou seja, a consumação ocorre num determinado instante, sem continuidade temporal,como no caso de “importar”. E há ainda casos em que o crime estará em permanente estado deflagrante delito, pois a conduta perdura no tempo, como ocorre com “guardar” ou “ter em depósito”.

Desse modo, teoricamente será admitida a tentativa quando a conduta se caracterizar pormais de um ato comissivo, tendo o agente iniciado a conduta sem ter ainda praticado todos os atos.Mas na prática é de difícil ocorrência em razão da diversidade de núcleos trazida pelo artigo 33,pois se não se consumar em um determinado núcleo, possivelmente o utro terá sido consumado.

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título,possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquerobjeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou emdesacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (doismil) dias-multa.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não,qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil eduzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a práticareiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, capu t e § 1o, e34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000(quatro mil) dias-multa.

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática dequalquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias -multa.

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o p aciente, oufazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos)dias-multa.

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional aque pertença o agente.

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial aincolumidade de outrem:

Page 15: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

14

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreen são do veículo, cassação dahabilitação respectiva ou proibição de obtê -la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, epagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias -multa.

Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cum ulativamente com as demais, serão de 4(quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias -multa, se o veículo referido nocaput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 de sta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços,se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fatoevidenciarem a transnacionalidade do delito;

II - o agente praticar o crime prevalecendo -se de função pública ou no desempenho de missão deeducação, poder familiar, guarda ou vigilância;

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais,de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, cul turais, recreativas, esportivas, oubeneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões dequalquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, deunidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquerprocesso de intimidação difusa ou coletiva;

V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;

VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquermotivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e oprocesso criminal na identificação dos demais co -autores ou partícipes do crime e na recuperação total ouparcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pe na reduzida de um terço a dois terços.

Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a condutasocial do agente.

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao quedispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias -multa, atribuindo a cada um, segundo ascondições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes omaior salário-mínimo.

Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas semprecumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado,considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis einsuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de s uas penas emrestritivas de direitos.

Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar -se-á o livramento condicional apóso cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico.

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente decaso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido ainfração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se deacordo com esse entendimento.

Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que esteapresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderádeterminar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.

Page 16: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

15

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstânciasprevistas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omiss ão, a plena capacidadede entender o caráter ilícito do fato ou de determinar -se de acordo com esse entendimento.

Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de encaminhamentodo agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com competência específica na forma da lei, determinaráque a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.

Por fim, vale lembrar que a Ação Penal é Pública e Incondicionada.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - LEI FEDERAL Nº 8.078, DE 11SET90

(Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências)

Segundo o artigo 2º da referida lei, consumidor é toda pessoa física ou jurídica queadquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final . Ao passo que fornecedor é todapessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entesdespersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestaçãode serviços.

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, são direitos básicos do consumidor:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados po r práticasno fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, comespecificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem comosobre os riscos que apresentem;

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e ab usiva, métodos comerciaiscoercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas nofornecimento de produtos e serviços;

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestaçõesdesproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamenteonerosas;

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com v istas à prevenção oureparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteçãoJurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão d o ônus daprova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ouquando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Page 17: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

16

IX - (Vetado);

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.”

Portanto, verifica-se que este código se presta a proteger o consumidor que, não rarasvezes, é o pólo mais frágil na relação de consumo, sendo incapaz de per si defender -se dos abusoscometidos por pequenos e principalmente pelos grandes fornecedores de produtos ou serviços.

Algumas práticas abusivas por parte dos fornecedores ensejam direitos indenizatórios aosconsumidores. Mas algumas condutas mais graves, além do direito pecuniário, caracteriza infraçãopenal. De regra, são aquelas condutas que geram perigo ao consumidor, como veremos a seguir.

“Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou pe riculosidade deprodutos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

§ 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendaçõesescritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.

§ 2° Se o crime é culposo:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores anocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação nomercado:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado,imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos,na forma deste artigo.”

Veja que nestes dois tipos penais a objetividade jurídica é a proteção ao perigo causado,no primeiro caso, pela omissão de alerta quanto a nocividade ou periculosidade do produto quandoo agente já conhece tal fator; ou então, no segundo caso, deixar de alertar quanto a nocividade eperigo que soube existir depois de colocar o produto no mercado.

“Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ouabusiva:

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir oconsumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.”

Do mesmo modo, o legislador optou por incriminar a conduta ligada à publicidadeenganosa ou abusiva, que possa induzir o consumidor em erro e causar -lhe conseqüente prejuízo.

“Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de amea ça, coação, constrangimento físico oumoral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponhao consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.”

Page 18: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

17

Ainda é de se reparar que não se limitou o legislador em incriminar apenas ofornecimento do produto que seja perigoso ou diverso de sua respectiva publicidade, mas estendeuainda ao fornecedor o dever de se portar de forma moder ada quando da cobrança dirigida aoconsumidor, ainda que seja uma cobrança devida, evitando -se, assim, alguns abusos nessa ordem.

Estas normas penais trazidas no bojo do Código de Defesa do Consumidor, ainda quesejam infrações de menor potencial ofensivo, sujeitas às regras da Lei 9.099/95, têm caráterprotetivo em relação ao consumidor e são hoje consideradas normas de ordem pública, cujaaplicação tem preceito de cidadania.

PROTEÇÃO AO USUÁRIO DO SERVIÇO PÚBLICO - LEI ESTADUAL N° 10.294, DE20ABR99

(Dispõe sobre proteção e defesa do usuário do serviço público do Estado de São Paulo e dáoutras providências)

O presente dispositivo legal também tem caráter protecionista, direcionado ao usuário doserviço público que, de certa forma, nos termos adotados p or alguns estudiosos dos preceitos daQualidade, são consumidores do serviço prestado pelo Estado em seus diversos segmentos.

Assim estabelece a lei:

“Artigo 1º - Esta Lei estabelece normas básicas de proteção e defesa do usuário dosserviços públicos prestados pelo Estado de São Paulo.

§ 1º - As normas desta Lei visam à tutela dos direitos do usuário e aplicam -se aosserviços públicos prestados:

a) pela Administração Pública direta, indireta e fundacional;

b) pelos órgãos do Ministério Público, quando no d esempenho de função administrat iva;

c) por particular, mediante concessão, permissão, autorização ou qualquer outra formade delegação por ato administrativo, contrato ou convênio.

§ 2º - Esta Lei se aplica aos particulares somente no que concerne ao servi ço públicodelegado.”

É no artigo 3º que encontramos os direitos básicos dos usuários do serviço público:

“Artigo 3º - São direitos básicos do usuário:

I - a informação;

II - a qualidade na prestação do serviço;

III - o controle adequado do serviço público .

Parágrafo Único - Vetado.”

Quanto às “informações” que devem ser prestadas podemos citar o horário defuncionamento dos órgãos, o tipo de atividade exercida, a localização exata e a indicação do

Page 19: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

18

responsável pelo atendimento, os procedimentos, formulários e outros dados necessários, aautoridade ou o órgão encarregado de receber queixas, reclamações ou sugestões, a tramitação dosprocessos administrativos, as decisões proferidas, inclusive opiniões divergentes, constantes deprocesso administrativo em que figure como interessado.

Quanto à “qualidade na prestação do serviço” , a lei exige que os prestadores de serviçopúblico atuem com urbanidade e respeito no atendimento aos usuários do serviço, que dever ser porordem de chegada, assegurada prioridade a ido sos, grávidas, doentes e deficientes físicos, comigualdade de tratamento, sem discriminação, com cumprimento de prazos, manutenção deinstalações limpas, sinalizadas, acessíveis e adequadas ao atendimento, bem como a observânciados Códigos de Ética aplicáveis às várias categorias de agentes públ icos.

Quanto ao “controle adequado do serviço público” , a lei determina a criação deOuvidorias ou Comissões de Ética para assegurarem o controle do serviço. Tais organismos sãocompetentes para avaliar as sugestões, reclamações e denúncias em relação ao serviço prestado,visando a melhoria dos serviços, a correção de erros, omissões, desvios ou abusos na prestação dosserviços, apuração de ilícitos administrativos e garantir a qualidade dos serviços prestados.

LEI DE TORTURA - LEI FEDERAL Nº 9.455, DE 07ABR97

(Define os crimes de tortura e dá outras providências)

PREVISÃO CONSTITUCIONAL

O artigo 5º, inciso III da Constituição Federal prevê que ninguém será submetido atortura nem a tratamento desumano ou degrada nte; prevê também que a Lei considerará crimesinafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito deentorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos , por elesrespondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá -los, se omitirem.

O termo tortura, para a Assembléia Geral das Nações Unidas, significa:

“Qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidosintencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações ouconfissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de tercometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo, baseadoem discriminação de qualquer natureza; quando tais dores são infligidas por um funcionário públicoou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o consentimento ouaquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimen tos que sejam conseqüênciaunicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou dela decorram.”

A própria lei define as condutas que caracterizam crime de tortura:

“Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com empreg o de violência ou grave ameaça, causando -lhesofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceirapessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

Page 20: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

19

c) em razão de discriminação rac ial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ougrave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal oumedida de caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida desegurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ounão resultante de medida legal.

§ 2º Aquele que se omite em face des sas condutas, quando tinha o dever de evitá -las ouapurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão dequatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oit o a dezesseis anos.

§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I - se o crime é cometido por agente público;

II - se o crime é cometido contra criança, gestante, deficiente e adolescente;

III - se o crime é cometido mediante seqüestro.

§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e ainterdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

§ 7º O condenado por crime, previsto nesta L ei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará ocumprimento da pena em regime fechado”.

No inciso I do artigo 1º , a palavra constranger implica, em última análise, em ato decoação. É a violação da liberdade moral ou psíquica do homem, ou seja, a faculdade de det erminar-se livremente conforme os próprios motivos, o que é um aspecto da liberdade moral. A violência aque se refere o texto penal é a física sobre a pessoa. É a “vis corporalis”, que se encontra previstade forma uniforme em vários tipos penais onde há o constrangimento à pessoa.

É oportuno deixar advertido, que para a configuração da violência física a que faz alusãoo preceito penal não se torna imprescindível que a vítima tenha suportado lesões corporais.Qualquer alteração anatômica provocada na inte gridade física da vítima ou quando houver ofensa àsua saúde é conseqüência imediata da “vis corporalis”, motivo pelo qual sua ausência nãodescaracteriza a violência em apreço. É suficiente para transgredir o preceito penal a violênciafísica, independentemente de sua conseqüência imediata.

A grave ameaça, que também figura como elemento do tipo penal, implica em violênciamoral, ou seja, a promessa de causar mal futuro, sério e verossímel à vítima, à pessoa de sua famíliaou mesmo a terceiros que com ela tenha algum vínculo. É suficiente para caracterizar o tipo que avítima sinta-se intimidada com a ameaça, independentemente do mecanismo usado pelotransgressor da norma.

Importante ainda frisar que para a caracterização do crime deve haver um dolo específ ico.Se a tortura não tiver por meta a obtenção de informação, declaração ou confissão da vítima ou deterceira pessoa sobre fato criminoso, ou de exigir uma conduta de natureza criminosa ou ainda emrazão de discriminação racial ou religiosa, a conduta tí pica será outra (constrangimento ilegal,

Page 21: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

20

abuso de autoridade, lesões corporais, injúria qualificada etc). Portanto a tortura deverá ter por metafazer com que qualquer pessoa informe, declare ou confesse determin ado fato punível.

No inciso II do artigo 1º , é imprescindível que haja a produção de intenso sofrimentofísico ou mental, ou seja, quando a dor resultante da ação do agente for forte, rude, excessiva, queexcede os limites objetivando fins coercitivos ou disciplinares. Se não houver o intenso sofrim entofísico ou moral, a ação do agente poderá ser enquadrada no crime de maus -tratos, previsto no art.136 do CP.

A tortura deve ter por objeto a aplicação de castigo pessoal ou medida de caráterpreventivo. Ambas as hipóteses são indicativas de correção e disciplina a cargo de quem tem aobrigação ou o dever legal de vigilância, guarda ou autoridade sobre o sujeito passivo do delito. Oobjetivo da lei é, principalmente, prevenir possíveis abusos por parte do policial, civil ou militar.Porém não se trata de crime próprio, podendo o delito ser praticado por qualquer pessoa, que tenhasob sua guarda, poder ou autoridade a vítima: por exemplo, o pai, tutor, curador, mestre, patrão.

Da mesma forma no § 1º do artigo 1º da lei, o legislador prevê a mesma pena, qu ando osofrimento físico ou mental imposto à vítima não decorre de emprego de violência ou graveameaça, mas de comportamento que a lei não autoriza ou de medida ilegal.

A prisão a que faz menção o legislador tem sentido amplo. Diz respeito à temporária , àpreventiva, à decorrente do flagrante e a resultante de sentença de pronúncia ou de decisãocondenatória recorrível ou com trânsito em julgado.

A expressão ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal, deve ser visto sobo prisma da lei de execução penal, que submete à disciplina o condenado à pena privativa deliberdade, restritiva de direitos e o preso provisório.

O § 2º do art. 1º trata de crime omissivo. A omissão tanto pode ser do agente público(autoridade hierarquicamente superior que tem o dever de fiscalizar seu subordinado) ou doparticular (diretor de escola que deve fiscalizar seu professor).

O § 3º do art. 1º traz uma qualificadora para a conduta, nos casos em que da torturaresulte lesão corporal grave ou gravíssima ou morte.

Cuida-se, aqui, de crime preterdoloso, pois o agente age com dolo direto ou eventualrelativamente ao emprego de violência ou grave ameaça, capaz de causar sofrimento físico oumental na vítima, e com culpa concernentemente ao resultado lesão corporal grave, gravíssima oumorte. Portanto, há dolo no antecedente (tortura) e culpa no conseqüente (lesão corporal ouhomicídio).

No § 4º, do art. 1º, o legislador prevê três causas que conduzem ao aumento da pena deum sexto até um terço, se o autor do delito for agente público, se o crime é cometido contracriança, gestante, deficiente e adolescente , se o crime é cometido mediante seqüestro .

O § 5º, do art. 1º, estabelece que a condenação acarretará a perda do cargo, função ouemprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. Aexpressão “acarretará” tem caráter de obrigatoriedade, não cabendo ao juiz decidir se deve ou nãodeterminar a perda do cargo, função ou emprego público do réu condenado. Havendo condenação,essa gerará como efeito da procedência da pretensão punitiva a perda telada de mane ira automática.

Já nos §§ 6º e 7º do art. 1º, a lei deu tratamento especial ao delito de tortura ao restringiralguns direitos específicos para o agente que for preso por este crime, pois não será possível aconcessão de fiança, graça ou anistia e, caso seja condenado, salvo a hipótese do § 2º, iniciará ocumprimento da pena em regime fechado.

Page 22: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

21

Por fim, vale lembrar que a competência para processar e julgar os crimes previstos nestalei é da Justiça Comum. Assim, ainda que praticada no exercício da função policial -militar, não serácaso de apreciação pela Justiça Militar.

LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE - LEI FEDERAL Nº 4.898, DE 09DEZ65

(Regula o direito de representação e de responsabilidade administrativa, civil e penal noscasos de abuso de autoridade)

Esta lei aborda os abusos cometidos no exercício de função pública, assim, adenominação correta da Lei em estudo seria “Abuso de Poder”, ou seja, o uso do poder fora dosseus limites legais. É o seu exercício excessivo . O excesso de poder torna o ato arbitrário, ilícito enulo. É uma forma de abuso de poder que retira a legitimidade da conduta do administradorpúblico, colocando-o na ilegalidade.

SUJEITO ATIVO: Art. 5º - Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quemexerce cargo, emprego ou função pública de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente esem remuneração.

Ainda é possível que seja sujeito ativo do crime de abuso de autoridade, o funcionáriopúblico que, embora não esteja no desempenho da função, invoque , ao realizar o ato, a autoridadede que é investido. É o caso, por exemplo, de policial que, de folga, detenha ilegalmente pessoa,invocando para tal, o cargo que ocupa.

Casos em que ocorrem Abusos de Autorida de:

“Art. 3º - Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;

b) à inviolabilidade de domicílio;

c) ao sigilo da correspondência;

d) à liberdade de consciência e de crença;

e) ao livre exercício do culto religioso;

f) à liberdade de associação;

g) aos direitos e garantias assegurados ao exercício do voto;

h) ao direito de reunião;

i) à incolumidade física do indivíduo;

j) aos direitos e garantias legais asseguradas ao exercício profissional.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade

a) ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidadeslegais, ou com abuso de poder;

Page 23: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

22

b) submeter pessoas sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento nãoautorizado em lei;

c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção dequalquer pessoa;

d) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe sejacomunicada;

e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida emlei;

f) cobrar o carcereiro ou agente da autoridade policial, carceragem, custas,emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer emespécie, quer quanto ao seu valor;

g) recusar o carcereiro ou agente de autoridad e policial recibo de importância recebidaa título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;

h) ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa jurídica, quando praticado com abusoou desvio de poder ou sem competência legal;

i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurançadeixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.”

Objetividade jurídica: dupla é a objetividade jurídica dos crimes definidos na lei. Aobjetividade jurídica imediata é a proteção dos direitos e das garantias assegurados às pessoasfísicas ou jurídicas, notadamente na Constituição Federal. Tutela -se, também, a normal prestação deserviços pelo Estado (objetividade jurídica mediata).

Competência: poderá ser da Justiça Comum federal ou estadual, dependendo se o autordo abuso for servidor federal ou estadual.

No caso de a infração ser cometida por policial militar, a competência será da JustiçaComum estadual. Nesse sentido a Súmula n. 172 do Superior Tribunal de Justiça: Compete à JustiçaComum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que prestado em serviço.Os crimes de abuso de poder não estão previstos no Código Penal Militar; logo, não são crimesmilitares.

Sujeito Ativo: trata-se de crime próprio, pois só podem ser praticados por autoridade.Considera-se autoridade, nos termos do art. 5.º da Lei n. 4.898/65, quem exerce cargo, emprego oufunção pública, de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente e sem remun eração.

“Art. 6º - O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa, civil epenal.

§ 1º - A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abusocometido e consistirá em:

a) advertência;

b) repreensão;

c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5 a 180 dias, com perda devencimentos e vantagens;

d) destituição da função;

Page 24: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

23

e) demissão;

f) demissão, a bem do serviço público.

§ 2º - A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá nopagamento de uma indenização de cinqüenta centavos a dez cruzeiros.

§ 3º - A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos arts. 59 a 76 do CódigoPenal consistirá em:

a) multa;

b) detenção de 10 dias a 6 meses;

c) perda do cargo e a inabilitação pa ra o exercício de qualquer outra função públicapor prazo de até três meses.

§ 4º - As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma oucumulativamente.

§ 5º - Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, dequalquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusadoexercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cincoanos.”

As sanções decorrentes dos crimes de abuso de au toridade estão divididas emadministrativas (§ 1.º), civis (§ 2.º) e penais (§ 3.º).

As sanções administrativas reservadas à autoridade que seja servidor público são: aadvertência; a repreensão; a suspensão do cargo, ofício ou posto, por prazo de cinco a 180 dias, comperda de vencimentos e vantagens; a destituição da função, a demissão e a demissão a bem doserviço público. Essas sanções serão aplicadas de acordo com a gravidade do comportamento doagente.

As sanções civis, caso em que a vítima do abuso, numa ação indenizatória possa pleitearos valores que entender justos à luz dos danos morais e materiais que sofreu. A ação poderá serproposta contra o Estado, mas tem o ofendido a faculdade de propor a ação contra a autoridadeculpada, em vez de fazê-lo contra o Estado. Pode, ainda, intentar a ação indenizatória contra ambossimultaneamente.

As sanções penais. São elas: multa; detenção de 10 dias a seis meses; perda do cargo; e ainabilitação para o exercício de qualquer outra função pública pelo praz o de até três anos. Essassanções poderão, de acordo com o disposto no § 4.º do art. 6.º, ser aplicadas autônoma oucumulativamente, segundo o prudente arbítrio do juiz, de acordo com a gravidade do fato e aspeculiaridades do agente.

Prescrição do crime de abuso de autoridade: Aplica -se o artigo 109, VI, do Código Penal,que estabelece o prazo prescricional em dois anos.

Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada, de rito especial.

O sistema recursal aplicável à lei de abuso de autoridade é o do Código de ProcessoPenal.

LEI FEDERAL Nº 10.826, DE 22DEZ03.

Page 25: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

24

(Estatuto do Desarmamento)

O Capítulo IV da presente lei define as condutas criminosas e suas respectivas penasrelacionadas ao Estatuto do Desarmamento:

Posse irregular de arma de fogo de u so permitido

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de usopermitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência oudependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsávellegal do estabelecimento ou empresa:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Assim, tendo sido apresentado à Autoridade Policial uma pessoa presa pelo cometimentodesta infração, devido à pena máxima cominad a ser de 03 (três) anos e, portanto, exceder aoslimites impostos pela Lei nº. 9.099/95 c/c § Único, art. 2.º, da Lei 10.259/01, deverá ser lavrado oauto de prisão em flagrante, manifestando -se a autoridade sobre a concessão ou não de fiança , umavez que o crime é apenado com detenção (art. 322, caput do CPP).

Omissão de cautela

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18(dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que estejasob sua posse ou que seja de sua propriedade:

Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável deempresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrê ncia policial e decomunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo,acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois deocorrido o fato.

O "caput" é uma modalidade de crime culposo, praticado por negligência, omissivopróprio, tendo por objeto a incolumidade pública e a segurança do próprio menor ou da pessoaportadora de deficiência mental. Se o agente age com dolo em sua conduta, responderá pelos crimesdo art. 14 ou 16, conforme se trate de arma de uso permitido ou restrito.

Quanto ao parágrafo único, trata -se de omissão dolosa do proprietário ou diretorresponsável de empresa de segurança ou de transporte de valores que, efetivamente, tomouconhecimento da ocorrência e deliberadamente se omitiu.

Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma defogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinaçãolegal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma defogo estiver registrada em nome do agente.

Page 26: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

25

Esse artigo diz respeito ao tipo penal relativo ao Porte Ilegal de Arma de Fogo de UsoPermitido, que é composto por 13 (treze) condutas. Por se tratar de um tipo misto alternativo, bastaa realização de uma destas condutas para a configuração do delito.

Neste caso, atendido ao disposto no § único do art. 14 da Lei 10.826/2003, somente oMagistrado terá competência para arbitrar fiança, conforme estabelece o art. 322, parágrafo únicodo CPP.

Disparo de arma de fogo

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suasadjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha comofinalidade a prática de outro crime:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) a nos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.

Importante frisar que não configura o tipo no caso de disparo acidental, porque não épunível a título de culpa, por falta de previsão legal.

Ocorrendo disparo de arma de fogo e p orte ilegal de arma de fogo, o disparo absorve oporte, desde que a arma de fogo seja de uso permitido, pois o porte torna -se crime-meio do delito dedisparo de arma de fogo. O mesmo não ocorre em relação ao porte ilegal de arma de uso restrito,pois o tipo do art. 16 também prevê o EMPREGO da arma de fogo. Assim, o porte ilegal de armade uso restrito absorve o disparo de arma de fogo.

Em situações de flagrante, é indispensável a realização de exame pericial, vez que ocrime em comento deixa vestígios. Ass im, a materialidade delitiva deverá ser comprovada atravésdos exames residográfico e de recenticidade de disparo. Tratando -se de situação pretérita, acomprovação deverá ser feita por outros meios de prova, como, por exemplo, testemunhas,filmagens de sistemas de segurança, etc.

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultararma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordocom determinação legal ou regul amentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

I - suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma defogo ou artefato;

II - modificar as características de arma de fogo, de forma a torná -la equivalente a armade fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erroautoridade policial, perito ou juiz;

III - possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, semautorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;

Page 27: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

26

IV - portar, possuir, adquirir, trans portar ou fornecer arma de fogo com numeração,marca ou qualquer outro sinal de identific ação raspado, suprimido ou adulterado;

V - vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,munição ou explosivo a criança ou adolescent e; e

VI - produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquerforma, munição ou explosivo.

Nestes casos, também se procede da mesma forma do caput: lavratura do Auto de Prisãoem Flagrante Delito, sem a possibilidade de liber dade provisória (art. 21).

Quanto à conduta do inciso I do § Único do art. 16, importante frisar que a adulteração dearma de uso permitido também configura este tipo penal.

Comércio ilegal de arma de fogo

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, emproveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo,acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito desteartigo, qualquer forma de prestação de serviços, fa bricação ou comércio irregular ou clandestino,inclusive o exercido em residência.

Dispõe o art. 19 da Lei 10.826/2003, que a pena do crime antes citado é aumentada dametade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.

Nos termos do art. 21 da Lei 10.826/2003, o crime antes citado é insuscetível deliberdade provisória.

Tráfico internacional de arma de fogo

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, aqualquer título, de arma de fogo, ac essório ou munição, sem autoriz ação da autoridadecompetente:

Pena - reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

A apuração do crime contido no art. 334 do Código Penal (contrabando ou descaminho) éa atribuição legal da Polícia Federal e a competênci a jurisdicional da Justiça Federal (Súmula nº.151 do STJ). Assim, parece -me que este crime do art. 18 da Lei 10.826/2003 também deve serapurado pela Polícia Federal e remetido à Justiça Federal, vez que se trata de crime especial emrelação ao art. 334, CP. Em locais onde não houver unidade da Polícia Federal, deverá a própriaPolícia Civil do estado lavrar o Auto de Prisão em Flagrante Delito, encaminhando -o à JustiçaFederal.

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a armade fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.

Page 28: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

27

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metadese forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o de sta Lei.

Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdadeprovisória.

Parte dos crimes previstos nessa lei são constituídos das chamadas "normas penais embranco", isto é, dispositivos que necessitam ser complementados por outras normas, inclusive dehierarquia "inferior" (tais como decretos, regulamentos e portarias), para aplicação aos casosconcretos.

BIBLIOGRAFIA

* Lei Federal nº 4.898, de 09DEZ65 (Regula o direito de representação e de

responsabilidade administrativa, civil e penal nos casos de abuso de autoridade), parcialmente

alterada pela Lei Federal nº 7.960, de 21DEZ89;

* Lei Federal nº 5.250, de 09FEV67 (Regula a liberdade de manifestação do

pensamento e de informação), parcialmente alterada pelas Leis Federa is nº 7.300 27MAR85,

6.640, de 08MAI79, 6.071, de 03JUL74, Decreto -Lei nº 207, de 27FEV67 e Decreto -Lei nº

20MAR69;

* Lei Federal nº 6.368, de 21OUT76 (Estabelece medidas de prevenção e

repressão ao tráfico ilícito e uso de substâncias entorpecentes ou det erminem dependência

física ou psíquica), parcialmente alterada pelas Leis Federais nº 10.741, de 01OUT03, 9.804,

de 30JUN99, 7.560, de 19DEZ86 e 8.072, de 25JUL90;

* Lei Federal nº 7.783, de 28JUN89 (Dispõe sobre o exercício do direito de

greve, define as atividades essenciais regula o atendimento das necessidades inadiáveis da

comunidade);

* Nota de Instrução nº PM3-006/02/89, de 28JUL89. Fixa normas gerais sobre

emprego de PM em manifestações de greve;

* Lei Federal nº 9.455, de 07ABR97. (Define os crime s de tortura e dá outras

providências), parcialmente alterada pela Lei Federal nº 10.741, de 01OUT03;

* Lei Estadual n° 10.294, de 20ABR99, (Dispõe sobre proteção e defesa do

usuário do serviço público do Estado de São Paulo e dá outras providências);

* Lei Federal nº 10.826, de 22DEZ03. (Estatuto do Desarmamento),

parcialmente alterada pelas Leis Federais nº 10.867, de 12MAI04 e 10.884, de 17JUN04.

Page 29: CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E ... Especiais.pdf · polÍcia militar do estado de sÃo paulo diretoria de ensino ... setor de planejamento apostila atualizada

28