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1 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO DIRETORIA DE ENSINO ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS “CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO” CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA MATÉRIA 03: JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS UD 01: JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS UD 02: DIREITO PENAL APLICADO AO JECRIMs UD 03: DIREITO PROCESSUAL PENAL APLICADO AO JECRIMs UD 04: DIREITO DE TRÂNSITO APLICADO AO JECRIMs Departamento de Ensino e Administração Divisão de Ensino e Administração Seção Pedagógica Setor de Planejamento APOSTILA ATUALIZADA EM MAIO DE 2009 PELO 1°TEN PM HOIO DA ESSd

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1

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIRETORIA DE ENSINO

ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS

“CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO”

CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DEPOLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO

DA ORDEM PÚBLICA

MATÉRIA 03: JUIZADOS ESPECIAISCRIMINAIS

UD 01: JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAISUD 02: DIREITO PENAL APLICADO AO

JECRIMsUD 03: DIREITO PROCESSUAL PENAL

APLICADO AO JECRIMsUD 04: DIREITO DE TRÂNSITO APLICADO

AO JECRIMs

Departamento de Ensino e AdministraçãoDivisão de Ensino e Administração

Seção PedagógicaSetor de Planejamento

APOSTILA ATUALIZADA EM MAIO DE 2009 PELO 1°TEN PM HOIO DA ESSd

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2ÍNDICE

1. Introdução.......................................................................................................................03

2. Fundamento Constitucional da Lei 9099/95...................................................................04

3. Critérios Informativos (Princípios)...................................................................................06

4. Competência dos Juizados Especiais Criminais............................................................07

5. Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo..............................................................08

6. Da Prisão em Flagrante Delito........................... .............................................................10

7. Do Inquérito Policial Militar.............................................................................................11

8. Autoridade Policial.......................................... ................................................................12

9. Ação Penal......................................................................................................................13

10. Dos Atos Processuais dos Juizados Especiais Crimina is............................................14

11. Procedimento Sumaríssimo..........................................................................................26

12. Dos Recursos...................................................................... .........................................29

13. Da Execução.................................................................................................................29

14. Os Crimes de Trânsito de Competência do JECrim............................... ......................29

15. Bibliografia ...................................................................................................................33

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JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Lei n° 9.099, de 26 de Setembro de 1995 c.c. Lei n° 10.259, de 12 de Julho de 2001

(Atualizadas pela Lei nº 11.313/06).

1 – INTRODUÇÃO

1.1. Breve histórico dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais

Os Juizados Especiais nos Estados Federativos do Brasil teve como primórdio a Lei nº 7244,de 7 de novembro de 1984, que instituiu o Juizado Especial de Pequenas Causas Cíveis, tendo sidoinstalado em diversas comarcas, encontrando inicialmente resistência por parte dos magistrados ecausídicos, sendo tal discriminação injusta e infundada, visto que vinha sendo utilizada c om sucessonos locais onde foi implantada, resolvendo os conflitos patrimoniais com valor não excedente avinte vezes o salário mínimo vigente, de forma ágil e célere.

No Estado de São Paulo, foi institucionalizada a Lei nº 5.143, de 28 de maio de 1986, qu etambém dispõe sobre a criação do sistema de Juizados Especiais de Pequenas Causas no Estado deSão Paulo, sendo que foi prevista a criação de um Conselho Superior para coordená -lo. Mas otempo passou e não foi criada uma lei que instituísse os Juizados E speciais Criminais, para quetratasse das infrações de menor potencial ofensivo, mesmo estando prevista na Carta Magna.

Todo este atraso gerou um grande mal, visto que os crimes apenados com pena máxima deum ano e as contravenções penais submetiam -se ao mesmo rito processual de outros crimesrelevantes, causando um grande congestionamento de processos nos tribunais respectivos, einflando o custo da Justiça no País, além de não receberem a devida atenção, provocandojulgamentos indesejáveis e que não atend iam ao anseio da sociedade.

O Estado do Mato Grosso do Sul promulgou sua própria lei, a de nº 1.071, de 11 de Julho de1990, criando e regulando o funcionamento dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, atendendoao anseio constitucional e provocando, set e anos depois, a criação da Lei nº 9099/95, que estendeuos juizados para todo o país, determinando o prazo de seis meses para criação e instalação a partirda data da vigência, e tendo como vacacio legis o período de sessenta dias.

Muitos Estados percebendo o avanço que o dispositivo constitucional (art. 98, inc. I, da CF)trazia para o ordenamento jurídico entenderam por bem regulamentá -los em lei própria e dar inícioao seu cumprimento, o que não foi aceito pelo Supremo Tribunal Federal, declarando ainconstitucionalidade destas leis estaduais e fazendo com que as iniciativas tomadas por parte dasunidades federativas fossem em vão.

Mas, por outro lado, tais iniciativas fizeram por incentivar o legislativo federal a criar a Lei9.099/95, que a partir daí, permitiria aos Estados a criação e regulamentação dos Juizados EspeciaisCíveis e Criminais.

1.2. Comentários iniciais sobre os Juizados Especiais Criminais

São órgãos do Poder Judiciário com competência para a conciliação, o julgamento e aexecução das penas relativas às infrações penais de menor potencial ofensivo.

O Juizado Especial Criminal (JECrim), previsto nas Leis 9.099/95 (Justiça Estadual) e10.259/01 (Justiça Federal), foi criado para tratar especificamente das infrações penais de menorpotencial ofensivo, ou seja, aquelas consideradas de menor gravidade. Os Juizados Especiais Criminais são previstos a partir do art. 60, prolongando -se até o art.92 da Lei n° 9.099/95 e nos vinte e sete artigos da Lei n° 10.259/01.

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4A nossa análise ficará restrita ao aspecto criminal, apontando, do ponto de vista prático, a

aplicação das Leis n° 9.099/95 e n° 10.259/01, sua abrangência, identificando o que sejam asinfrações penais de menor potencial ofensivo e questões relevantes quanto à audiênc ia preliminar.

Embora já se tenha escrito sobre os Juizados Especiais, o tema ainda mantém os pontospolêmicos que exigem reflexão. A cada dia a realidade vai nos mostrando inúmeras hipótesesaparentemente sem respostas e vamos, pouco a pouco, consolidand o soluções dentro de uma óticade política criminal.

A legislação do Juizado Especial Criminal é meramente processual (Leis nº 9.099/95 e10.259/01), ou seja, não ditam regras de conduta (preceito primário), outrossim, traz procedimentosa serem observados pelo aplicador da norma (preceito secundário pena). Quando da sua elaboração,a Lei n° 9.099/95 foi criada com o objetivo maior de desafogar os sistemas carcerário e judiciário, àépoca, e ainda hoje, sobrecarregados com uma demanda muito superior à sua possibilidade deatendimento. Sua criação visou ampliar o acesso à Justiça, tomando mais singelos osprocedimentos, com vistas à sua celeridade. Para tanto, optou -se privilegiar a utilização de umprocedimento simples e célere e a aplicação de penas com ca ráter mais social e menos punitivo(penas alternativas). Por isso, com vistas à sua celeridade, o art. 2° da Lei no 9.099/95 dispõe:

Art. 2° - “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,economia processual e celer idade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”.

2. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA LEI N° 9.099/95

2.1. A Lei nº. 9.099/95 e os Direitos Constitucionais

Constituiu a regulamentação do art. 98 da CF, a previsão de “juizados especiais, pro vidospor juizes togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causascíveis de menor complexidade e infrações de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentosoral e sumaríssimo , permitidos, nas hipóteses previstas e m lei, a transação e o julgamento derecursos ou turmas de juízes de primeiro grau ”.

A Lei n° 9.099/95, embora aparentemente simples, causou efetivo impacto no sistemaprocessual penal brasileiro, flexibilizando princípios fundamentais do direito processua l garantidosconstitucionalmente.

Por exemplo, é de tradição na nossa processualística a irrenunciabilidade do contraditório, aplenitude da ampla defesa, a presunção de inocência e o devido processo legal.

Não há ofensa à garantia do devido processo legal (art. 5°, mc, LIV, CF), pois, nas infraçõesabrangidas de competência dos juizados especiais, a eventual aceitação da pena pelo autor do fato,ao fazer a transação, insere -se no modelo de processo previsto pelo constituinte. Ademais, não sãoafastadas as demais garantias do justo processo: a transação será feita perante o juiz natural, com aobrigatória presença de advogado para esclarecimento e orientação técnica ao autor do fato;também não fica afastada a possibilidade de não aceitação da transação pe lo autor do fato, hipóteseem que será seguido o procedimento sumaríssimo previsto em lei, no qual há, até, maiores garantiasdo direito de defesa.

Não fica igualmente comprometida a presunção de inocência (art. 50, LVII, CF), pois nãohá reconhecimento da culpabilidade por parte do autor do fato e, além disso, ao submeter -sevoluntariamente à sanção, ele não perde a primariedade, não terá, contra si, um título executóriocivil, nem sofrerá outras restrições, salvo o impedimento de fazer outra transação no s próximoscinco anos (art. 76, § 6°, da Lei n° 9.099/95).

Com a previsão da transação penal na Lei n° 9.099/95, à princípio, vislumbra -se um acordoentre as partes, de modo que ocorrendo o acordo a parte interessada renúncia o direito pela

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5representação, dessa forma a obrigação jurídica surge antes mesmo da instauração do devidoprocesso legal (art. 76), rompendo -se o rito tradicional do direito processual brasileiro.

2.2. Distinção entre a Lei nº. 9.099/95 e a Lei nº. 10.259/01 e a Lei Federal 11.313 d e 28JUN06.

A Lei nº. 9.099/95, em seu art. 61, considerava as infrações penais de menor potencialofensivo, para os seus efeitos, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máximanão superior a um ano , com exceção dos casos em que a lei p reveja procedimento.

Com o advento da Lei Federal nº 11.313 de 28JUN06, passou a estabelecer o seguinte:

Art. 1o Os arts. 60 e 61 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995 , passam a vigorar com asseguintes alterações:

“Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, temcompetência para a conciliação, o julgamen to e a execução das infrações penais de menorpotencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri,decorrentes da aplicação das regras de conexão e conti nência, observar-se-ão os institutosda transação penal e da composição dos danos civis.” (NR)

“Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos destaLei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena má xima não superior a 2(dois) anos, cumulada ou não com multa.” (NR)

A Lei n° 10.259, de 12.07.2001, classificava, em seu art. 2°, parágrafo único, comoinfrações penais de menor potencial ofensivo, para os seus efeitos, “os crimes a que a lei cominepena máxima não superior a dois anos, ou multa ”

A Lei Federal nº 11.313 de 28JUN06, também alterou o art 2º da referida Lei:

Art. 2o O art. 2o da Lei no 10.259, de 12 de julho de 2001, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competênciada Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras deconexão e continência.

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrenteda aplicação das regras de conexão e continência, observar -se-ão os institutos da transação penale da composição dos danos civis.”

Como pode-se observar a Lei Federal nº 11.313 de 28JUN06, acabou com asdivergências entre as Leis 9 .099 e a 10.259 no que se refere a conceito de INFRAÇÕESPENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

3. CRITÉRIOS INFORMATIVOS (PRINCÍPIOS)

3.1. Os Princípios da Lei nº. 9 .099/95

O art. 62 da Lei no 9 .099/95, acertadamente, não fez referência a princípios, mas a critériosa serem observados no processo perante o Juizado Especial, apontando para a oralidade,informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, semp re que possível, a reparação dosdanos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Oralidade: A oralidade se apresenta como elemento informativo do procedimento,dando prevalência à palavra falada, com a concentração de atos e a imediação do juiz.

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6Busca-se a utilização da palavra falada, embora sem prescindir de provas documentais.Significa dizer que os atos processuais serão praticados oralmente. Os atos essenciaisserão reduzidos a termo ou transcritos por quaisquer meios. Os demais atos processuaispraticados serão gravados, se necessário.

Economia Processual: Em que, salvo disposição em contrário, nenhum ato é nulo e nãoserá refeito se tiver atendido aos requisitos processuais, ainda que realizado de maneiradiversa da prevista em lei. Aceita a composição dos danos civis como causa extintiva dapunibilidade do autor da infração, o acordo homologado, judicialmente, terá eficácia detítulo executivo. Aliás, tal decisão é irrecorrivel ( 5°, art. 76). Corolário dainformalidade, significa dizer que os atos processuais devem ser praticados no maiornúmero possível, no menor espaço de tempo e de maneira menos onerosa.

Simplicidade: De fácil compreensão, constituído de elementos básicos e necessários aoimediato discernimento do ap licadot da norma. A falta da palavra “simplicidade” notexto do art. 62, em comparação com o art. 2° da Lei n° 9 .099/95, quer significar que talcritério, no âmbito criminal, só é aplicável nos estritos limites expressamente permitidosem lei, não se tratando de mera omissão do legislador e nem sendo cabível a aplicaçãoanalógica.

Celeridade: Forma de resposta rápida da tutela jurisdicional à lide apresentada, ou seja,não ocorrendo morosidade no atendimento dos anseios e dos interesses da vítima.Procura-se a realização de uma justiça criminal com brevidade de tempo,consubstanciada na celeridade e com a economia do processo, corporificada pelaeconomia de custos, economia de atos e eficiência da decisão. Visa à rapidez naexecução dos atos processuais, qu ebrando as regras formais observáveis nosprocedimentos regulados segundo a sistemática do Código de Processo Penal.

Informalidade: Atende os requisitos processuais, sendo de simples pioceditriento e nãodeixando de atender os direitos e as garantias das partes em litígio. A informalidade levaà solução mais rápida do processo, sem a pressão do formalismo, refletindo -sediretamente no efeito previsto no art. 65. Não se exige, por exemplo, laudo de corpo dedelito para o oferecimento de denúncia, admitindo -se como prova da materialidade oboletim médico ou prova equivalente (art. 77, § 1°). A informalidade está relacionada àceleridade e economia processual. Isso significa dizer que os atos processuais a serempraticados não serão cercados de rigor formal, d e tal sorte que, atingida a finalidade doato, não há que se cogitar da ocorrência de qualquer nulidade, Exemplo: o art. 81, § 3°,da Lei n° 9.099/95 dispensa o relatório da sentença.

Observe-se que o art. 62 não incluiu o critério da simplicidade previst o no art. 2° da Lei nº9.099/95.

Nas reflexões da Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul, foi aprovada umasúmula de autoria do Coordenador Paulo Cláudio Tovo, nos seguintes termos: “A falta da palavra‘simplicidade’ no texto do art. 62 da L ei n° 9.099/95, quer significar que tal critério, no âmbitocriminal, só é aplicável nos estritos limites expressamente permitidos em lei, não se tratando demera omissão do legislador e nem sendo cabível a aplicação analógica”.

Frise-se que, os critérios e princípios ora mencionados devem ser aplicados objetivando,sempre que possível:

a reparação dos danos sofridos pela vítima; e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Preocupou-se o legislador em enunciar, também, os objetivos:

maior efetividade da sanção penal — evitam-se os freqüentes reconhecimentos deprescrição, pela demora na prestação jurisdicional, e também a adoção de critériosinformais de seleção dos casos levados ao Judiciário; e

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7 maior proteção da vítima — através da transação civil e também da reparação do

dano como pressuposto da suspensão do processo.

3.2. A importância dos Princípios

Ao estabelecer-se a sistemática dos procedimentos e processos junto aos Juizados EspeciaisCriminais, os critérios ou princípios servirão como elementos de compreensão e implementaçãodesses procedimentos. Portanto, no caso de silêncio da Lei n° 9.099/95 , buscar-se-á as soluçõesatendendo seus critérios informativos e sua finalidade.

A intenção do legislador foi aproximar o autor da infração e a vítima, visando estabeleceruma solução consensual (acordo) com prioridade à reparação dos danos sofridos pela vítima eaplicação de pena não privativa de liberdade. Para tanto, não será declarada qualquer nulidade sema demonstração de efetivo prejuízo, sendo válidos os atos que atinjam a finalidade para os quaisforam realizados, observados os critérios orientadores desse tipo de processo (art. 65, Lei no9.099/95)

4. COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

4.1. Definição na Constituição Federal

De acordo com a Constituição Federal, os Juizados Especiais Criminais são competentespara a conciliação, o processo, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencialofensivo (art. 98, inc. I).

A competência, nos termos do art. 63 da Lei n 9.099/95, é estabelecida pela ratione loci,sendo seguida a teoria da atividade. Destarte, é competente o juiz do lugar onde foi praticada ainfração penal.

Quando houver concurso de crimes, sendo um deles de competência do juízo comum, esteatrai os demais. Todas as infrações serão levadas ao juízo comum, e não ao Juizado Especial.

Mesmo fixada a competência em razão do local em que ocorreu a infração, sendo esta demenor potencial ofensivo não sujeita a procedimento especial, o processo pode ser desloca do para ojuízo comum quando o acusado não for encontrado para ser citado (art. 66, parágrafo único, da Lein° 9.099/95); quando a causa for complexa ou apresentar circunstâncias especiais (art. 77, § °, Lein° 9.099/95), corno a necessidade de perícia, ex ame de insanidade mental ou número elevado depessoas.

Se reconhecida a prática de infração da competência do Juizado Especial Criminal, poreconomia processual e observado o critério da celeridade, poderia o juiz presidente oportunizar aproposta de transação pelo Ministério Público, ou, a suspensão do processo.

Verifica-se que a competência dos juizados será fixada em face de dois elementos: naturezada infração (menor potencial ofensivo) e inexistência de circunstância especial que desloque acausa para o juízo comum (Ex: foro por prerrogativa de função, impossibilidade de citação pessoaldo autuado e grande complexidade da causa). Ademais, ficam também excluidas dos juizadosespeciais as infrações de menor potencial ofensivo que, em face da conexão ou continência, devamser processadas com outra infração estranha à sua competência. Não são aplicados nas justiçaseleitoral, militar e federal comum (CF/88 — Estados e Territórios).

4.2. A inaplicabilidade da Lei 9.099/95 no âmbito da Justiça Militar

O advento da Lei 9.099/95 desencadeou diversas polêmicas no interior da comunidadejurídica, extrapolando os limites da doutrina para invadir profundamente o campo jurisprudencial.

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8Este fenômeno também se verificou no que concerne à incidência dos novos institu tosdespenalizadores na Justiça Militar.

Em um primeiro momento, surgiram dois posicionamentos antagônicos. De um lado, oSuperior Tribunal Militar entendeu inaplicável a nova legislação no âmbito da Justiça Castrense.Em linha oposta, o Supremo Tribunal F ederal, guardião da Constituição Federal, não hesitou emampliar os horizontes do sistema consensual, abarcando a referida justiça especial.

Diante deste quadro, o legislador pátrio, demonstrando sua real intenção, editou a Lei9.839/99 que, acrescentou o art. 90-A à lei 9.099/95, onde vedou expressamente a sua aplicação noâmbito da Justiça Militar .

Entretanto, a edição da Lei 10.259/01, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminaisno âmbito da Justiça Federal, reascendeu o tema.

Em conclusão, pode-se afirmar que pelo atual regramento da questão, o sistema processualpenal consensual não encontra guarida na Justiça Militar, em outras palavras, não houve qualquerrepercussão da Lei 10.259/01 no terreno processual penal militar.

5. INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

5.1. Conceito

A Constituição Federal (art. 98, inc. I) consagrou, entre nós, a denominação de “ infração demenor potencial ofensivo” para aquelas infrações que, por serem de menor gravidade, vêmmerecendo tratamento especial dos sitemas legislativos, sendo adotadas em relação a elas, entreoutras, as seguintes soluções:

a) possibilidade de que o Ministério Público, por razões de conveniência ou deoportunidade, deixe de oferecer a acusação;

b) previsão de acordos em fase anterio r à processual, de modo a evitar a acusação;c) possibilidade de suspensão condicional do processo;d) utilização do processo para a reparação do dano à vítima.

Parece relevante, neste ponto, fazer uma breve distinção entre “infração de menor potencialofensivo” e o chamado “crime de bagatela”.

OBSERVAÇÃO

A infração de menor potencial ofensivo é diferente do crime de “bagatela”.Ao falarmos em infração penal de menor potencial ofensivo, com procedimentos específicospara atendimento de tais infrações, estamo s nos referindo as infrações de baixa lesividade,procurando formas de “despenalização” dentro da esfera de uma política criminal.Quando nos referimos a “crime de bagatela”, estamos falando de atipicidade, declarandocorno atípica uma conduta infracional por ausência de lesividade, por baixíssima lesividadeou pela falta de proporcionalidade entre a gravidade da conduta e a intervenção estatal.

5.2. Distinção de Crime e Contravenção Penal

As infrações penais, no Brasil, dividem -se em: crimes (ou delitos) e contravenões.

A estrutura jurídica de ambas, todavia, é a mesma, ou seja, as infrações, incluindo os crimese as contravenções, caracterizam -se por serem fatos típicos e antijurídicos.

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9Em razão disso é que Nelson Hungria definiu a contravenção como “c rime anão”, já que

ela nada mais é do que um “crime” causador de menores danos e com sanções de menor gravidade.Por isso é que se diz que a tipificação de um fato como crime ou contravenção dependeexclusivamente da vontade do legislador, ou seja, se cons iderado mais grave, deve ser tipificadocomo crime; se menos grave, como contravenção.

Então como diferenciá-los?

A diferença mais importante é dada pelo art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal erefere-se à pena:

Art. 1º Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou dedetenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; econtravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou demulta, ou ambas, alternat iva ou cumulativamente.

O traço distintivo mais importante entre crime e contravenção é, portanto, a cominação dapena, conforme acima descrito.

Verifica-se, contudo, a existência de outras diferenças no texto da lei:

a) Os crimes podem ser de ação pública (condicionada ou incondicionada) ou privada; ascontravenções sempre se apuram mediante ação pública incondicionada;

b) A peça inicial nos crimes é a denúncia ou a queixa, dependendo da espécie de ação penalprevista na lei; nas contravenções a peça inicial é sempre a denúncia;

c) Nos crimes a tentativa é punível; nas contravenções não;d) Em certos casos, os crimes cometidos no exterior podem ser punidos no Brasil, desde

que presentes os requisitos legais. Já as contravenções cometidas no exterior nuncapodem ser punidas no Brasil;

e) O elemento subjetivo do crime é o dolo ou culpa. Para a contravenção, entretanto, bastaa voluntariedade (art. 3º da LCP).

De um modo geral, todas as contravenções penais são da competência do Juizado Especial(Lei 9.099/95).

6. DA PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

6.1. Conceito de Flagrante Delito

“Flagrante Delito” significa o instante da perpetração do delito, o delito que está sendocometido.

A legislação brasileira exige ordem escrita para a efetivação da prisão de qualquer pessoa.Ressalva, entretanto, a hipótese do flagrante. E o faz por razões óbvias. Não teria sentido que a leipudesse permitir a prisão de alguém no instante mesmo da perpetração do crime, desde que oexecutor exibisse a ordem de prisão.

O Auto de Prisão em Flagrante Delito (art. 301 ao 310 do CPP) é a peça inicial do processo,e às vezes da própria ação penal, em que a autoridade competente relata as circunstâncias da prisãoda pessoa apanhada em flagrante delito. Está nesta condição quem: está praticando o crime; aca bade praticá-la; é perseguido logo após pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa emsituação que enseje a presunção de que é autor do delito; é encontrado, logo de imediato, comindícios que o incriminem: instrumento, armas, objetos ou papéis .

Apresentado o preso à autoridade competente ela ouvirá o condutor e as testemunhas que oacompanharam e interrogará o acusado, lavrando o auto que todos assinarão e do qual devem

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10constar: 1) local e hora em que ocorreu o delito e sua descrição; 2) mençã o do condutor e dastestemunhas, que confirmem a afirmativa do primeiro; 3) assinatura do preso; se for analfabeto, dealguém por ele indicado (ou rogo) e ainda de duas testemunhas. O juiz poderá, ouvindo o MinistérioPúblico, conceder liberdade provisória ao réu, que assinará termo de comparecimento a todos osatos do processo, sob pena de revogação; procederá do mesmo modo se verificar, pelo auto daprisão em flagrante, que não estão presentes as hipóteses que autorizem a prisão preventiva.

Quando se pode dizer que há a situação de flagrante delito? Temos três modalidades:

1) Flagrante propriamente dito ou flagrante próprio: quando o agente está cometendo ainfração ou acaba de cometê -la. (Incisos 1 e II do art. 302);

2) Quase-flagrante ou flagrante impróprio: quando o agente é perseguido logo após, pelaautoridade, pelo ofendido ou qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o autor dainfração, õu seja, é o encontro de indícios, vestígios, imediatamente após o delito, de modo a se tercerteza do crime e a presunção de quem o cometeu, o qúe não impede que haja, segundo a atualinterpretação do CPP, flagrante. Exige -se, porém, que o presumido autor seja perseguido semsolução de continuidade. (Inciso III do art. 302);

3) Flagrante presumido: quando se encontra o agente, logo depois de consumado o delito,com instrumentos, armas, objetos ou papéis que indiquem ser ele quem o praticou.

OBS: Flagrante preparado: Não há crime quando houver preparação do flagrante pelaPolícia, tornando-se impossível ou contribuindo para a sua consumação.(Súmula 145 do STF).

De acordo com a Constituição Federal, ninguém pode ser preso senão em flagrante delito, oupor ordem escrita e fundamentada de autoridade competente, salvo nos casos de transgressão militarou crime propriamente militar, definidos em lei, (CPP, art. 302, I a IV; CF, art. 50, XI e LXI aLXV).

6.2. A Lei 9.099/95 dispensa o auto de prisão em flagrante delito

Nos Juizados Especiais Criminais, na verdade, pela natureza das infrações cometidas, oautor se livra solto, de forma que a lavratura do flagrante, seria em si mesmo, ato inócuo.Outrossim, não se pode olvidar que o escopo principal desta Lei foi o de evitar a custódia inútil dosresponsáveis pela prática doe crime e isso se vê desde o instituto da transação até a suspensão doprocesso.

Também é expressa a lei ao excluir, nesses casos, a lavratura do flagrante e,conseqüentemente, a exigência de fiança, desde que o autor do fato se comprometa a comparecerperante o juizado para a audiência preli minar.

A regra do art. 69 da Lei n° 9.099/95 , ao estabelecer que a autoridade policial lavrará otermo circunstanciado , encaminhando-o imediatamente ao Juizado, observa o critério daceleridade. Lavrado o respectivo termo, o autor do fato será apresentado ao Juizado e, sendopossível, no mesmo momento, lá estará a vítima.

Quanto ao flagrante, o parágrafo único do art. 69 da Lei 9.099/95 dispôs que não se imporáprisão em flagrante ao autor da infração se imediatamente encaminhado ao Juizado ou se assumiro compromisso de a ele comparecer.

Se não comparecer, a vinculação do compromisso não poderá gerar a possibilidade deprisão. Fica apenas prejudicada a fase preliminar. Isto é, o autor da infração não fica suscetível aosbenefícios da proposta de conciliaç ão ou de transação, naquilo que couber, com o efeito de extinçãoda sua punibilidade. Aplicar -se-á a regra do art. 77 do mencionado diploma legal.

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11Havendo lavratura do auto de prisão em flagrante e não sendo o caso de livrar -se solto o

argüido (acusado), a competência para a condução do processo e julgamento deverá ser do juízocomum em face da sua complexidade, a julgar pela recomendação do art. 77, § 2°, da Lei 9.099/95.

A lavratura indevida do auto de prisão em flagrante, nas hipóteses em que o autor d o fatoassumir o compromisso de comparecer ao Juizado sem motivos que possam dar margem àdesconfiança da sinceridade desse propósito, deve ser considerada como expressão de abuso deautoridade e sujeita o seu autor às penas previstas na Lei n° 4898/65.

7. DO INQUÉRITO POLICIAL

7.1. Descrição

Com a prática de um fato definido como infração penal, surge para o Estado o jus puniendi,que só pode ser concretizado através de um processo. Para que seja proposta a ação penal,entretanto, é necessário que o Esta do disponha de um mínimo de elementos que indiquem aocorrência do ilícito penal e de sua autoria. O meio mais comum, embora não exclusivo, paraangariar esses elementos é o inquérito policial, que tem por objeto a apuração do fato criminoso erespectiva autoria para servir de base à ação pena! ou às providências cautelares. Como regra,portanto, exige-se que formalmente se indique e qualifique o autor do fato, sejam ouvidas astestemunhas, seja interrogado o indiciado, sejam colhidas provas técnicas etc.

Coerente com os princípios da informalidade, economia processual e celeridade queinformam os Juizados Especiais Criminais, prevê o art. 69 que, nas causas de sua competência,como regra se substitua a lavratura do auto de prisão em flagrante e o inquérito policial pelaprovidência inicial de lavratura de termo circunstanciado a respeito da ocorrência.

A Lei n° 9.099/95 separou o procedimento das infrações de menor potencial ofensivo emduas fases distintas: na primeira, tenta -se a composição civil e a transação penal; passa-se então aoprocedimento sumaríssimo , somente se não for seguida daquela última .

Em lugar da instrução preparatória, que quase sempre demorada e nos crimes mais levesacabava, frequentemente, por impossibilitar a persecução penal, à vi sta dos prazos muito curtos daprescrição, o legislador previu a lavratura de um simples termo circunstanciado , no qual serãofeitas referências sucintas ao fato, indicando -se, também, o seu autor e o ofendido, além dos nomesde eventuais testemunhas. Trat a-se, portanto, de uma espécie de boletim de ocorrência, apenas umpouco mais detalhado, uma vez que irá fornecer, inclusive, os elementos para uma eventualpropositura de ação penal.

Observe-se que, no entanto, a lei não aboliu completamente o inquérito n essas infrações,pois, se o caso for complexo e o representante do Ministério Público não encontrar elementossuficientes no referido termo circunstanciado, poderá requerer ao juiz o encaminhamento ao juízocomum e ali se determinará, até mesmo, a realizaç ão do inquérito policial, se necessário para aapuração dos fatos (art. 77, § 2°).

8. AUTORIDADE POLICIAL

8.1. Definição

A função policial é essencial no Estado democrático de direito e tem como missão apreservação dos direitos que foram assegurados p ela Constituição Federal a todos os brasileiros eestrangeiros residentes no país. O policial é a presença viva do Estado e deve ser o pacificador das

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12lides sociais. A força, coação administrativa, somente deve ser empregada quando necessáriapara a manutenção ou restabelecimento da ordem pública.

As autoridades policiais são as que exercem a polícia judiciária que tem o fim de apuraçãodas infrações penais e da sua autoria (art. 40 CPP). Entretanto, tem -se afirmado que, no que dizrespeito às infrações penais de menor potencial ofensivo, qualquer agente público que se encontreinvestido da função policial, ou seja, poder de polícia, pode lavrar o termo circunstanciado ao tornarconhecimento do fato que, em tese, possa configurar infração penal, incluindo -se aqui não só aspolícias federal e civil, com função institucional de polícia judiciária da União e dos Estados,respectivamente (art. 144, § i°, mc, iv, e § 4° da CF), como à polícia rodoviária federal, políciaferroviária federal e policiais militares (art. 144, II, III e V, da CF).

O art. 69 da Lei n° 9.099/95, estabelece que a autoridade policial que primeiro tomarconhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente aoJuizado, com o autor do fato e a vítima, provide nciando-se as requisições dos exames periciaisnecessários.

Para os efeitos da Lei 9.099/95, autoridade policial é o agente do Poder Público investidolegalmente para intervir na vida da pessoa natural, atuando no policiamento ostensivo ouinvestigativo.

8.2. O Policial Militar como Autoridade competente para registro do Termo Circunstanciado

Embora os Policiais Militares não tenham atribuições para lavratura do auto de prisão emflagrante de competência das polícias civil e federal, há entendimento de q ue a lei se refere a todosos órgãos encarregados pela Constituição Federal da defesa da segurança pública, para que exerçamplenamente sua função de restabelecer a ordem e garantir a boa execução da administração, bemcomo o mandamento constitucional de p reservação da ordem pública (art. 5°, § 50 da CF). Assim,todo agente público regularmente investido na função de policiamento preventivo ou de políciajudiciária poderia conduzir o autor do fato à presença da autoridade policial civil ou do próprioJuizado para a lavratura do termo circunstanciado, conforme dispõem as legislações estaduais.

A Lei 9.099/95 não fez qualquer diferenciação quanto à expressão autoridade policial.

O Provimento n° 758 (*), de 23 de agosto de 2001, do Poder Judiciário, publicado no DOJde 12 de setembro de 2001, estabeleceu que, considerando os princípios orientadores do JuizadoEspecial Criminal, para os fins do artigo 69 da Lei n° 9.099/95, entende -se por autoridade policialapta a tomar conhecimento da ocorrência, lavrando o T ermo Circunstanciado, encaminhando -oimediatamente ao Poder Judiciário, o agente do poder público investido legalmente para intervir navida da pessoa, atuando no policiamento ostensivo ou investigativo .

O artigo 2° do referido Provimento autoriza o Juiz de Direito responsável pelo JuizadoEspecial Criminal a tomar conhecimento dos Termos Circunstanciados elaborados pelos PoliciaisMilitares, desde que assinados por Oficial da Corporação .

* Conceito de “autoridade policial” como qualquer pessoa investida de função policial — Comissão Nacional deInterpretação da Lei n° 9.099/95: Conclusão — Nona — A expressão ‘autoridade policial’ referida no art. 69compreende quem se encontra investido em função policia, podendo a Secretaria de o Juizado proceder à lavra tura determo de ocorrência e tomar as providências previstas no referido artigo”.

* Conceito de “autoridade policial” como qualquer “autoridade publica” — Confederação Nacional do MinistérioPúblico: Conclusão — “1. A expressão ‘autoridade policial’, pre vista no art. 69 da Lei no 9.099/95, abrange qualquerautoridade pública que tome conhecimento da infração penal no exercício do poder de policia”.

9. AÇÃO PENAL

9.1. Definição

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13É a provocação da atividade jurisdicional do Estado para a efetiva apuração do

cometimento de uma infração penal e imposição das penas aos autores.

9.2. Classificação

A ação penal, levando-se em conta o sujeito que a promove, pode ser pública ou privada.Pública quando promovida, exclusivamente, pelo Ministério Público, e consti tui a regra do nossoDireito Processual. Privada quando é de iniciativa do ofendido ou, quando este é menor ou incapaz,de seu representante legal.

A Ação Penal Pública pode ser classificada em condicionada e incondicionada. Diz -seincondicionada quando o oferecimento da denúncia independe de qualquer condição específica; econdicionada, quando o oferecimento da denúncia depende de uma manifestação de vontade. Essamanifestação de vontade se cristaliza num ato que se chama representação da vítima ou requisiçãodo Ministro da Justiça.

Seja condicionada ou incondicionada, a ação penal inicia -se por um ato processual — adenúncia, que é apresentada pelo representante do Ministério Público. Tratando -se de ação penalprivada, a sua peça inicia! é denominada queixa.

A ação penal privada apresenta -se sob três modalidades:

a) a ação penal privada exclusiva , que a iniciativa incumbe à vítima ou por quem legalmentea represente e, no caso de morte, por seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 100, § 4º,do CP);

b) a ação penal privada subsidiária da pública , onde a iniciada ocorre por meio da queixa,quando, embora se trate de crime de ação pública, o Promotor de Justiça não haja oferecidodenúncia no prazo legal (art. 29 do CPP);

c) a ação penal privada personalíssima, isto é, aquela cujo exercício cabe apenas ao ofendidoe, em caso de falecimento antes ou depois do início da ação, não poderá haver substituição para asua propositura ou prosseguimento.

9.3. Decadência do Direito de Ação

Decai do direito de queixa ou representação o ofendido que não o exercer, no prazo de 06(seis) meses, contados do dia em que vier a saber quem é o autor do crime ou do dia em que seesgota o prazo para oferecimento da denúncia. (Ar!. 103 CP e art. 38 CPF)

10. DOS ATOS PROCESSUAIS DOS JUIZADOS ESPECIAISCRIMINAIS

10.1. Elementos do Termo Circunstanciado

Deve a autoridade policial lavrar um “termo circunstanciado” da ocorrência, ou seja,elaborar um relato do fato tido corno infração penal de menor potencial ofensivo. Esse termo deocorrência não exige requisitos formalísticos, mas deve conter os elementos necessários para que sedemonstre a existência de um ilícito penal, de suas circunstâncias e da autoria, citando -se de formasumária o que chegou ao conhecimento da autoridade pela palavra da vítima, do suposto autor, detestemunhas etc. em resumo, devem ser respondidas as tradicionais questões: Quem? Que meios? Oquê? Por quê? Onde? E Quando? Nada impede que o termo de ocorrência seja elaborado com opreenchimento dos espaços em branco de formulários impressos, o que, aliás, facilita sua feitura eprevine omissões.

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14Pode e deve a autoridade policial fazer constar dos autos, sempre de forma resumida,

eventuais versões diferentes do autor do fato e da vítima e também de testemunhas. Deve tambémconter o relato de eventuais investigações sumárias e diligências já realizadas (apreensão dosinstrumentos, do produto do crime e de outros bens), bem como eventual croqui do local do crime,em especial nos delitos de trânsito, a notícia da determinação de exames periciais etc. Devem serjuntados ao termo os documentos relacionados com a ocorrência, dados sobre os antecedentes doautor do fato para os fins do art. 76, § 2°, 1 e II etc. Assim, ao contrário do que ocorre com o“boletim de ocorrência”, o termo circunstanciado, com os elementos que o acompanham, constitui aprópria informatio delicti, ou seja, o instrumento necessário destinado a fornecer os elementos paraque o titular da ação penal (o Ministério Público na ação penal pública e o ofendido na ação penalprivada) possa exercer o seu direito.

Observação: Verificando que o autor do fato apresenta indícios de ser inimputável, circunstânciaque exige a instauração do incidente de insanidade mental, não deve lavrar o termo c ircunstanciado.Nessa hipótese, o autor do fato não tem condições de aceitar a composição ou a transação. No caso,é imprescindível a instauração de inquérito policial.

Em síntese, o termo circunstanciado (*) deverá, conforme o caso, constar:

Qualificação e endereço residencial e do trabalho do autor do fato e da vítima;

A narrativa do fato e suas circunstâncias, especificando -se data, hora e local de suaocorrência e as versões, em síntese, das partes envolvidas;

A relação dos instrumentos da infração e d os bens apreendidos;

Rol de testemunhas, com qualificação e indicação dos endereços em que poderão serlocalizadas, e a súmula do que presenciaram;

A lista dos exames periciais requisitados;

Croqui na hipótese de acidente de trânsito;

Outros dados que a autoridade policial entender relevantes sobre o fato;

Assinatura das pessoas presentes à lavratura do termo.

Por outro lado, lavrado o termo, este será encaminhado imediatamente ao Juizado EspecialCriminal, juntamente, em sendo possível, com o autor do fato e a vítima.

O termo circunstanciado deverá ser instruído do com os documentos relacionados com aocorrência, bem como com informações, se houver, sobre os antecedentes do autor do fato, os quaispodem vedar a proposta de transação penal (art. 76, § 2°).

* Requisitos do termo circunstanciado — Confederação Nacional do Ministério Público: Conclusões “2 - Do termocircunstanciado deverá constar: a) qualificação e endereços completos das partes (residencial e do trabalho, inclusivecom telefone); b) data, hora e local dos fatos; c) as versões do autor do fato e da vitima; d) o rol de testemunhas, comqualificação e endereços completos (residencial e do trabalho, inclusive com telefone), bem como a súmula do quetiverem elas presenciado; e) a especificação dos exames periciais que foram requisitados; do croqui, se possível; g)descrição dos objetos (apreendidos ou não); li) assinatura das partes envolvidas; i) nos casos de previsão legal, arepresentação do ofendido (quando possível); outros dados relevante s para esclarecimento dos fatos. “3 — A folha deantecedentes do acusado deverá acompanhar o termo circunstanciado, quando possível”. Conselho Nacional dosProcuradores gerais de Justiça: Conclusão — “7- O termo circunstanciado deverá conter, resumidarrièn te, todas asinformações necessárias que permitam ao Ministério Público formar sua opinio delicli e exercer suas atribuiçõesprevistas na Lei n° 9.099/95, sendo conveniente a expedição de recomendação pelos Procurador -Gerais de Justiça dosEstados, às respectivas Secretarias de segurança Pública, com o propósito de determinar o conteúdo dos termos deocorrência”.

10.2. Fase Preliminar

No juizado, não há necessidade de inquérito policial. Hoje, no lugar deste, elabora -se otermo circunstanciado, que deve conter os dados básicos e fundamentais a fim de possibilitar uniaperfeita individualização da situação fática, sem falar na necessidade do rol de testemunhas e doscroquis do acidente de trânsito. Uma vez lavrado o termo, este será encaminhado para o JECr im, e,sempre que possível, com o autor do fato e a vítima.

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15A título de preâmbulo, tendo si1o retro abordado, faz -se mister infocarmos sobre a égide

do cunho repressivo no que diz respeito especificamente à competência para a lavratura do termocircunstanciado que a autoridade policial são todos os órgãos encarregados da segurança pública, naforma do art. 144 da Constituição Federal.

Quanto à prisão em flagrante, não será mais formalizada, nem será imposta fiança, desdeque o autor do fato seja encaminha do, ato contínuo à lavratura do termo circunstanciado, ao JuizadoEspecial Criminal, ou ao menos assuma o compromisso de ali comparecer no dia e hora designados.Contudo, deve ser autuado o autor da infração em sendo impossível sua condução imediata aojuizado, negando-se a comparecer. Por outro lado, se conduzido de imediato o autor do fato aojuizado, juntamente com ó termo circunstanciado, verificando o Promotor que o fato não caracterizainfração de menor potencial ofensivo, deve -se voltar à delegacia de polícia para a lavratura doflagrante (o que deveria ocorrer na prática) Se não comparece efetivamente ao R b juizado, após ter -se compromissado para tanto, deve o juiz remeter a questão ao juízo comum, onde será dada vistaao MP, que poderá pedir o arqu ivamento, determinar a instauração de inquérito policial oudenunciar.

Estando autor e vítima presentes na secretaria do juizado, e verificada a possibilidade deaudiência, esta será realizada, observado o disposto no art. 68, que exige a presença obrigat ória doadvogado no ato.

O não-comparecimento no momento da entrega do termo resultará na intimação do autor dofato e, se for o caso, do responsável civil.

Pretendeu-se acelerar a outorga da prestação jurisdicional através do imediato conhecimentoda causa pelo Juiz competente, eliminando -se o inquérito policial. Em seu lugar basta um termocircunstanciado, a ser elaborado por autoridade policial.

De natureza pré-processual, a fase preliminar tem seu início com o encaminhamento do“termo circunstanciado” a juízo, sendo distribuído ao Juizado, concretizando -se na audiênciapreliminar. Lá, poderá ocorrer o acordo ou a transação, ambos levando à extinção da punibilidade.

O chamamento do acusado será sempre pessoal e poderá ser feito no próprio Juizado. Semcitação pessoal não se alcançaria o ideal da composição entre as partes. Também, em virtude dainformalidade e buscando a celeridade, é permitido solicitar a prática de atos processuais em outrascomarcas por qualquer meio hábil de comunicação ( 2° do art. 65/ Lei n° 9.099/95), podendo serusado, por exemplo, o fax. Não fica vedada, porém, a expedição de precatória (art. 67).

A intimação, ato de comunicação processual, também passou a admitir outras formas.Poderá ser feita por via postal, com AR (aviso de recebimento pessoal), ou, em relação a empresas,mediante entrega ao encarregado, cuja identificação será obrigatória. E, por fim, abre -seoportunidade para qualquer outro meio idôneo de comunicação.

Se não for encontrado o autor da infração para ser cita do, será tomada a providência doparágrafo único do art. 66 da Lei n° 9.099/95, sendo encaminhado o processo ao Juízo comum e seprosseguirá no procedimento tradicional.

É necessário lembrar que há aplicação subsidiária do Código de Processo Penal previst a noart. 92 da Lei O 9.099/95. Logo, no caso do parágrafo único do art. 69, se o autor da infração játiver sido condenado por outro crime doloso com sentença transitada em julgado, autuado emflagrante, não se livrará solto, inobstante se trate de infraç ão penal de menor potencial ofensivo.

Somente quando for impossível a realização da audiência preliminar é que se designará datapróxima, saindo cientes os interessados. E, à falta de comparecimento de qualquer dos envolvidos,providenciar-se-á sua intimação e, quando o caso, a do responsável civil.

10.3. Atividade Judicial preliminar e intervenção do Ministério Público

Logo em seguida ao envio do TC ao Juizado Criminal, deverá o Juiz de Direito que oreceber (e apenas o Juiz de Direito, jamais um Juiz leigo ou conciliador) encaminhá -loimediatamente ao MP. Seu representante, único titular da ação penal pública incondicionada, aoreceber o TC e presentes as partes, verificará a conveniência de adotar uma das seguintes medidas

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16previstas pela Lei: a) cabimento de proposta de aplicação imediata de pena não privativa deliberdade (art 76, caput); b) oferecimento de denúncia oral (art 77, caput); c) oferecimento dedenúncia por escrito (art 77, § 2°); d) requerimento de arquivamento (art 28 do CPP); e)requerimento de diligência imprescindível ao oferecimento da denúncia (art 16 do CPP) oupropositura da suspensão do processo (art 89).

10.4. A Audiência Preliminar: conciliação e transação

A audiência preliminar precede ao procedimento sumaríssimo, cuja instaur ação depende doque nela for decidido. Destina -se à conciliação tanto cível como penal. A primeira fase é a dacomposição dos danos civis; a segunda fase compreende a transação penal; e a terceira, ooferecimento oral denúncia .

Após a lavratura do termo circunstanciado, a autoridade policial deverá encaminhar,imediatamente, o autor do fato e a vítima ao Juizado, para audiência preliminar , que poderá serrealizado no mesmo dia ou, então, o que será mais provável, em ata próxima. Também nada impedeque a própria autoridade consulte a Secretaria do Juizado e obtenha, desde logo, a designação daaudiência, já saindo intimados os que nela devam comparecer.

Nada impede que no “termo circunstanciado” conste o nome de testemunhas, entretanto, aoJuizado serão encaminhados apenas o autor do fato e a vítima.

Não sendo possível a audiência preliminar de forma imediata, será designada uma próximadata (art. 70).

Não comparecendo os envolvidos, a Secretaria providenciará a intimação (art. 71). Istoporque, em termos de política criminal do consenso, a presença do autor da infração e da vítima éimportante para viabilizar eventual acordo.

Não cabe, por outro lado, que a autoridade policial faça pauta de comparecimento dosenvolvidos no Juizado.

Na prática, não havendo Juizado Especial de plantão, nos termos do Oficio - Circular nº23/96 da CGJ, os “termos circunstanciados” serão distribuídos como processos apenas para finsestatísticos, sendo lançados no Livro Tombo Criminal. Isso porque, havendo uma eventual sentençahomologatória que leve à extinção da punibilidade do autor da infração pela composição civil (art.74 da Lei no 9.099/95) ou por transação (art. 76), as anotações devem estar vinculadas a umprocedimento devidamente cadastrado. No caso de transação, falar -se-á até mesmo em execuçãoque, em se tratando de multa, ocorrerá, em regra, na própria Vara onde ocorreu o atohomologatório.

Estabelece o art. 72 da Lei n° 9.099/95 quais são os sujeitos que devem estar presentes naaudiência preliminar: Ministério Púb lico, autor do fato, vítima, o responsável civil, se possível, erespectivos advogados.

Se o responsável civil não comparecer à audiência preliminar prevista na Lei n° 9.099/95, amesma não será prejudicada. Porém, se no termo circunstanciado, ficar, desd e logo, identificado oresponsável civil, o próprio juiz poderá determinar a sua presença ou o autor da infração poderátrazê-lo, pois é seu o interesse em conseguir eventual composição que venha lhe trazer reflexãofavorável na esfera penal.

A presença do advogado será necessária até porque a sentença que homologar eventualacordo terá caráter irrecorrível, com eficácia de título executivo. Portanto, a orientação técnica doadvogado é indispensável sob pena de nulidade do ato por haver presunção de prejuí zo.

A composição dos danos é uma forma de despenalização, eis que nos casos de ação penalprivada ou de ação penal condicionada à representação, havendo homologação da composição dosdanos, isso levará à extinção da punibilidade do autor da infração (art. 74, parágrafo único da Lei no9.099/95).

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17Se não for obtida a composição dos danos, imediatamente, será dada oportunidade ao

ofendido para exercer o direito de representação verbal que será reduzido a termo.

A representação é a manifestação de vontade do ofendido ou de quem legalmente orepresenta, no sentido de ser instaurado processo contra seu ofensor ou, o meio pelo qual “oofendido manifesta não se opor ao procedimento”.

Inexistindo a conciliação, e efetivada a representação da vítima, quando se tra tar de açãopenal pública condicionada à representação, caberá ao Ministério Público, antes de passar para atransação, avaliar se é ou não caso de arquivamento.

Aliás, se o Ministério Público entender que o fato relatado no termo circunstanciado éatípico, haverá promoção no sentido de arquivamento imediato do termo, independente de audiênciapreliminar.

Por isso a necessidade, em audiência, do defensor técnico que poderá apontar elementosensejadores de arquivamento.

Na segunda etapa da audiência prelim inar, não sendo caso de arquivamento, o MinistérioPúblico poderá propor a transação penal configurada pela aplicação de pena restritiva de direito oumulta a ser especificada na proposta.

A decisão judicial que não homologar a transação ou estabelecer co ndições não propostaspelo Ministério Público ficará sujeita a recurso de apelação nos termos do § 5°, do art. 76combinado com o art. 82 da Lei n° 9.099/95.

Prevê a Lei n° 9.099/95 a possibilidade de composição (arts. 69 e ss), de transação (art. 76) eo procedimento sumaríssimo para as infrações penais de sua competência (arts. 77 a 86). Alémdisso, há disposições a respeito da representação nos crimes de lesões corporais dolosas de naturezaleve e de lesões corporais culposas (art. 88) e sobre o novo in stituto da suspensão condicional doprocesso para os crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidasou não pela referida lei (art. 89). Pelo art. 90 -A, da Lei n° 9.099/95, acrescentado pela Lei n° 9.838,de 27-7-1999, as disposições daquela não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.

10.5. Composição dos Danos Civis

O MP não entra nessa fase, a não ser que o ofendido seja incapaz. A composição dos danoscivis somente é possível nas infrações que acarretem prejuízos a virt uais vítimas. Os danos podemser tanto morais quanto materiais. Acordada a composição, será ela homologada pelo juiz togado, etornada irrecorrível. Terá eficácia de título executivo a ser executado no juízo cível competente;sendo o valor até quarenta vezes o salário mínimo, executa -se no próprio juizado especial cível. Oacordo homologado, tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou pública condicionada,acarreta a denúncia ao direito de queixa ou de representação, extinguindo -se, por conseguinte, apunibilidade do agente.

O objetivo da audiência preliminar é a tentativa de conciliação civil e penal. Essa tentativaserá realizada pessoalmente pelo juiz ou por conciliador, sob orientação do primeiro (art. 73).

A pacificação entre os envolvidos na i licitude só será completa se os prejuízos suportadospelo ofendido forem ressarcidos pelo ofensor. Muitos dos delitos cujo processo é hoje disciplinadopela Lei n° 9.099/95 admitem o ressarcimento. A hipótese típica é a dos acidentes de veículo. Aslesões corporais leves e as culposas (art. 88) causadas em acidentes de trânsito são passíveis deressarcimento, que incluirá também a indenização pelos prejuízos suportados pelo veículo. Masoutras infrações propiciam indenização: o crime de dano, insitamente ge rador de prejuízo, aintrodução de animais em propriedade alheia, a alteração de local especialmente protegido, oabandono material, a corrupção ou poluição de água potável, de substância alimentícia ou medicinale outras.

Mesmo o dano moral pode ser obje to de composição civil nessa esfera. Não há na leivedação á que assim se proceda. O objetivo dessa composição é satisfazer integralmente a vítima,ressarci-la em seu prejuízo, restituí -la ao status quo ante de maneira que não precise se utilizar davia criminal para constranger o ofensor a indenizá -la.

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18A composição dos danos civis será reduzida a instrumento escrito e, homologada pelo juiz

em decisão irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no Juízo Civil competente (art. 74,caput).

Se a ação penal for de iniciativa privada ou for ação penal pública condicionada àrepresentação, o acordo homologado implica em renúncia ao direito de queixa ou representação(art. 74, parágrafo único). Obtido o ressarcimento do dano, a vítima não pode mais pret ender aresponsabilização criminal do ofensor, por emulação ou por qualquer outro interesse.

Frustrada a tentativa conciliatória, o ofendido pode exercer seu direito de representaçãoverbal, que será reduzida a termo. Todavia, se não o fizer na audiência preliminar, isso o nãoprivará do direito de exercê-lo no prazo da lei.

Mostrando-se inviabilizado o acordo, será oferecida representação verbal no momento daaudiência. Não o fazendo, a que se falar em decadência, desde que respeitado o art. 38 do CPP, q uetrata do prazo decadencial para o oferecimento da aludida representação, isto é, o direito derepresentação não se esgota na audiência. Exceção: caso o ofendido seja menor de 18 anos, o direitode representação será exercido pelo representante legal, e, caso este não o faça, após atingir amaioridade penal, poderá fazê -lo, no prazo de 6 meses (Súmula 594/ STF).

10.6. A Transação Penal

A transação penal ocorrerá entre o Promotor de Justiça e o autor do fato, e consiste nafaculdade de dispor da ação pe nal, isto é, de não promovê-la sob certas certa condições. Esseinstituto vem a atenuar o princípio da obrigatoriedade na propositura da ação penal pública peloMP.

Ainda nessa audiência preliminar, se não houve composição civil, com a conseqüenterenúncia ao direito de representação, ou mesmo, tendo ocorrido composição, mas sendo o crime deação pública incondicionada, caberá ao representante do MP examinar se o caso comporta apropositura d ação penal ou se opina pelo arquivamento. Se não for o caso de a rquivamento, caberáentão ao Promotor de Justiça fazer a proposta de transação penal.

Diante do relatório circunstanciado da autoridade policial, o Promotor de Justiça terá aopção de propor arquivamento. Se o Juiz o não aceitar, cabe aplicação do art. 28 do Código deProcesso Penal. Pode ainda requerer diligências, como ocorre no processo comum. Todavia, há dese adequar ao espírito da lei, requerendo apenas aquelas imprescindíveis ao oferecimento dadenúncia.

A terceira opção do Promotor é oferecer denún cia. E o feito tramitará por uma VaraComum, não pelo Juizado. A novidade, da lei é a quarta possibilidade: a de proposta de aplicaçãoimediata de pena restritiva de direitos ou multas.

Essa proposta é admissível quando o autor da infração não tenha sido anteriormentecondenado a pena privativa de liberdade, não tenha sido beneficiado nos cinco anos anteriores porproposta idêntica e quando seus antecedentes, conduta social e personalidade, assim como osmotivos e circunstâncias do crime, indiquem ser nece ssária e suficiente a adoção do beneficio.

Ainda nessa audiência preliminar, se não houve composição civil, com a conseqüenterenúncia ao direito de representação, ou mesmo, tendo ocorrido composição, mas sendo o crime deação pública incondicionada, cabe rá ao representante do MP examinar se o caso comporta apropositura de ação penal ou se opina pelo arquivamento, caberá então ao Promotor de Justiça fazera proposta de transação penal.

Assim é que, segundo disposto pelo art. 76, § 2°, da Lei n° 9.099/9,nã o se admite a proposta,se ficar comprovado: a) ter sido o autor da infração condenado anteriormente por crime à penaprivativa de liberdade, por sentença definitiva; b) ter sido o agente beneficiado anteriormente, noprazo de cinco anos, por outra transaç ão, nos termos do artigo citado; c) não indicarem osantecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e circunstâncias,ser necessária e suficiente a adoção da medida. A presença de uma só dessas circunstâncias impedea transação.

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19Desde a publicação da Lei n° 9,099/95 discute -se sobre a natureza dessa proposta de

transação: seria uma simples faculdade do órgão da acusação ou, como acontece, por exemplo, como “sursis “, que não pode ser negado pelo juiz se presentes os pressu postos legais, tratar-se-ia de umdireito subjetivo do autor do fato à aplicação de pena não privativa de liberdade?

Constituindo a transação medida despenalizadora, que resultará em concreto beneficio parao agente, a apresentação da referida proposta nã o pode ficar ao alvedrio da acusação. Tratar - se-ia,na verdade, de um direito do autor do fato, desde que presentes os seus pressupostos legais. Dessemodo, se o Promotor de Justiça não faz a proposta, caberia ao Juiz conceder de oficio e havendoconcordância da defesa, simplesmente aplicar a sanção não privativa de liberdade.

Mas, se não é razoável admitir -se uma total liberdade do MP na apresentação ou não daproposta, sob outra ótica, também não se pode perder de vista que a própria idéia de transaçãosupõe acordo, entendimento entre as partes. Do mesmo modo que seria inimaginável impor -se aoautor do fato aceitação da pena restritiva de direitos ou multa, privando -o do direito ao processo,através do qual poderia vir a obter uma absolvição, também não se pode privar o órgão da acusaçãodo direito de valorar os requisitos e concluir pela oportunidade de fazer, ou não, a transação.

Daí a posição intermediária, adotada pela Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo, comamparo em outra linha jurisprudenc ial, que consiste na aplicação analógica do art. 28 do CPP aoscasos em que o Juiz discordar da omissão do Promotor de Justiça em fazer a proposta. Essa soluçãoevita os inconvenientes de uma liberdade absoluta do MP de 1° grau na apreciação dós pressupost osda transação e, ao mesmo tempo, não a desnatura, o que ocorreria se houvesse um “acordo” sem aconcordância do titular da ação penal. Caberá assim ao chefe do parquet, que detém a titularidadeda ação penal pública no nosso sistema constitucional (art. 129, inc. I, CF), a decisão final sobre arealização da transação, designando outro promotor para fazer a proposta, ou insistindo napropositura da ação penal.

10.6.1. Pressupostos da Transação Penal

a) tratar-se de ação penal pública incondicionada, o u ser efetuada representação nos casos deação penal pública condicionada;

b) não ter sido o agente beneficiado anteriormente no prazo de cinco anos pela transação;

c) não ter sido o autor da infração condenado por sentença definitiva com trânsito emjulgado a pena privativa de liberdade (reclusão, detenção e prisão simples);

d) não ser o caso de arquivamento do termo circunstanciado;

e) circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal favoráveis;

f) formulação da proposta pelo MP e aceita por parte do autor da infração e do defensor(constituído, dativo e público).

10.6.2. Impedimentos da Transação Penal

a) ter sido o autor condenado por sentença transitada em julgado a pena privativa deliberdade;

b) ter sido o agente beneficiado no prazo de c inco anos pela transação;

c) circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal desfavoráveis;

d) reincidência (não há restrições);

10.6.3. Procedimentos na Transação Penal

Na ação penal pública incondicionada independe do acordo civil; na condiciona da,obrigatoriamente tem que inexistir o acordo, pois do contrário haverá extinção da punibilidade.

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20O Ministério Público efetua oralmente ou por escrito a proposta, consistente na aplicação

imediata da pena restritiva de direitos ou multa, não podendo fazê -la de modo genérico ouimpreciso. Deve ser observado o art. 59 do para distinguir entre a restritiva de direitos (espécies: asmesmas regras do art. 59 do CP) e a pecuniária.

Após, o defensor e o autor poderão aceitar ou não. Há a necessidade da aceitaçã o dos doispara a garantia do princípio da ampla defesa.

Aceita, é homologada por sentença pelo juiz; rejeitada, é oferecida denúncia oral,prosseguindo-se o feito.

O Juiz pode homologar ou não, devendo analisar preliminarmente a legalidade da proposta ea aceitação do defensor e do autor.

Da decisão que não acolhe cabe apelação, se a proposta estiver em desacordo com a lei; se aproposta do entendimento do juiz estiver no mérito, e subjetivamente equivocada, poderá, poranalogia do art. 28 do CPP, remet er ao procurador Geral de Justiça. O Juiz não pode modificar oteor da transação penal.

Se a pena for de multa, o juiz poderá reduzi -la até a metade na sentença homologatória,tendo em vista as condições pessoais do autor e as circunstâncias da infração. Da decisão cabeapelação.

10.6.4. Transação na Ação Penal Privada

Muito já se escreveu, desde o advento da Lei n° 9.099/95, sobre a possibilidade de aplicaçãodo instituto da suspensão condicional do processo aos delitos de ação penal privada. No início davigência da lei, doutrina e jurisprudência asseveravam, quase em uníssono, a inaplicabilidade do art.89 na ação de iniciativa privada. Arrimava -se tal entendimento no fato de que a norma, ao utilizaras palavras denúncia e Ministério Público, estremava , peremptoriamente, a situação do querelante.

Amadurecidos os primeiros estudos acerca do novo estatuto, renomados professorespassaram à opinião de que a suspensão constituiria um direito público subjetivo do acusado e, comotal, poderia ser requerida pe la defesa e concedida de oficio pelo magistrado; ao mesmo argumento,nada impediria que fosse proposta concomitantemente ao oferecimento da queixa.

Esta corrente, de cunho eminentemente liberal, tem reverberado de modo bastante nítido emnossos tribunais.

Transação e sursis processual, conquanto inovações absolutamente distintas, tiveramtratamento semelhante do legislador quando este cuidou, nos arts. 76 e 89 da Lei dos JuizadosEspeciais, apenas de ações penais públicas, condicionadas ou não. A problem ática da suspensãocondicional do processo na ação penal de iniciativa privada, todavia, sempre despertou maiorinteresse nos estudiosos. A razão disto é nítida: são pouquíssimos os crimes de ação penal privadaque se enquadram na categoria de infrações de menor potencial ofensivo. Enquanto o leque dedelitos açambarcado na sistemática do art. 89 é relativamente extenso, temos, como crimes de açãopenal privada suscetíveis de julgamento nos juizados especiais criminais, apenas os de: danosimples (art. 163, caput), introdução ou abandono de animais em propriedade alheia (art. 164),adultério (art. 240) e exercício arbitrário das próprias razões, sem emprego de violência (art. 340),todos do CP.

Cremos que o tema em epígrafe carece de um estudo mais aprofund ado, não por sercomplexo, e sim porque os que até hoje se fizeram tratavam da transação na ação penal privadaapenas como addendum ao tópico suspensão processual. A transação, muito embora guardesimilitudes com o sobrestamento do processo (principalmente no que tange à menção exclusiva dosarts 76 e 89 aos delitos de ação penal pública), comporta determinadas peculiaridades que merecemanálise em apartado.

A transação penal, como espécie de conciliação ao lado da composição civil dos danos, éestatuída na Lei dos Juizados Especiais nos seguintes moldes: “art. 76 - Havendo representação outratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, oMinistério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser

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21especificada na propos1a”. A transação é instituto pré -processual (porque antecede a denúncia),subseqüente à tentativa de composição civil.

A circunstância de a lei mencionar unicamente a ação penal pública impõe à maioria dosoperadores concluir que o legislador quis, com isso, afastar a ação penal de iniciativa privada. Aexegese literal da norma é bastante tentadora, mas não nos parece coadunar -se com os princípios eobjetivos esculpidos no art. 62 do mesmo diploma e tampouco se amolda à lógica que rege aatuação do particular como substituto processual do Estado.

São princípios (ou critérios, conforme preferiu o legislador) do processo perante o juizadoespecial, entre outros, a economia processual e a celeridade. Ademais, es tá entre os objetivosprecípuos da lei a aplicação de pena não privativa de liberdade. Não há como negar que a outorgaao particular do poder de transacionar perfila -se exemplarmente com estas linhas mestras da Lei nº9099/95

Por outro lado, frise-se que a lei confere ao particular poderes tanto para deflagrar oprocesso penal (pelo exercício do direito de ação, com o oferecimento da queixa) quanto para nãoiniciá-lo, quedando inerte ou renunciando a seu direito (princípio da não -obrigatoriedade), ou,ainda, quando já instaurado, para extingui -lo, através do perdão, da desistência e da perempção (àluz do princípio da disponibilidade da ação penal privada).

Observe-se que o ordenamento jurídico, caso esteja excluída a transação de seu acervo depossibilidades, permite que o particular persiga tão -somente dois fins extremos: ou ele buscaimplacavelmente a condenação, ou ele abdica de seu interesse de forma total, ignorando porcompleto a ação criminosa, não apresentando a queixa ou pondo termo ao processo já existente.

Não é razoável que o particular, que já pode o mais (oferecer a queixa), não possa o menos(transacionar). Aliás, o menos ele já pode (não ofertando a queixa, renunciado, perdoando,abstendo-se de impulsionar o processo). A transação represent a apenas um meio termo entre os doisextremos.

Para que se façam incluir as querelas entre as hipóteses de transação é necessário que serecorra à analogia - fonte do Direito enquanto forma de integração da norma omissa. O Código deProcesso Penal, em seu art. 3°, estatui que “a lei processual penal admitirá interpretação extensiva eaplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.” f a LICC, no art. 4°,disciplina que, “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, oscostumes e os princípios gerais de direito.” Se enfocado o art. 76 em seu aspecto puramentematerial, trata-se aqui de simples analogia in bonam partem.

A analogia, vale mencionar, incide somente quando configurada urna omissão involunt áriado legislador. Pode-se afirmar, de modo convicto, que a norma do art. 76 é involuntariamenteomissa pela razão de que são pouquíssimas as infrações de menor potencial ofensivo de ação penalprivada. Assim as sendo, o legislador, pressupondo que nestes casos específicos o particular teminteresse precípuo, se não único, na composição civil dos danos, quando frustrada esta, seusesforços estariam naturalmente voltados à inauguração do processo. A praxis da aplicação dorecente diploma, todavia, vem demon strando que o particular, muitas vezes, tem interesse emtransacionar, mesmo quando baldada a composição.

O mesmo raciocínio, cumpre registrar, vale para a suspensão condicional do processo naqueixa — quem pode o mais, pode o menos. No diapasão de tudo q uanto aqui exposto, o STJ, muitorecentemente, decidiu que “a Lei n. 9.099/95 aplica -se aos crimes sujeitos a procedimentosespeciais, desde que obedecidos os requisitos autorizadores, permitindo a transação e a suspensãocondicional do processo inclusive nas ações penais de iniciativa exclusivamente privada”. Note -seno aresto transcrito que aceitou -se, inclusive, a aplicação da transação penal para delitos que, porserem de procedimento especial, ordinariamente escapariam da alçada dos Juizados Especiais.

O estudo da aplicabilidade da suspensão do processo e da transação à ação penal privadadivide-se aqui. Em razão das naturezas de ambos serem tenuemente distintas, a atuação, em cadacaso, dos diversos sujeitos do processo — Juiz, querelante, autor do fa to e MP — rege-se de formacaracterística.

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22Na ação penal pública, pode o autor do fato pleitear a aplicação da transação ou da

suspensão condicional do processo quando silente ou discordante o Ministério Público? Estandopreenchidas as condições legais, a tendência doutrinária e jurisprudencial moderna é responderafirmativamente à pergunta. Os caminhos possíveis são os seguintes: a) o julgador aplica a medidade oficio, à revelia do MP; b) o Juiz remete os autos ao Procurador Geral de Justiça, invocando p oranalogia o art. 28 do CPP; c) o remédio cabível é o habeas corpus ou o mandado de segurança.Nesta última hipótese, a autoridade coatora pode ser tanto o Juiz (que não aplicou a medida exofício) quanto o membro do Parque! (que não fez a oferta).

Sobre a ação penal privada, tem-se entendido que a suspensão pode ser aplicada de oficiopelo Juiz; caso este assim não proceda, recorre -se ao remédio do habeas corpus. A fundamentação éa mesma em todos os casos: estando verificadas as condições, a suspensão t ransmuta-se em direitopúblico subjetivo do réu. Obviamente, a outra solução - o envio dos autos ao Procurador Geral deJustiça — é incabível, porquanto o particular não guarda nenhuma relação de subordinação àquele.

Questão controversa é saber: o que oco rre quando o particular deixa de propor a transação,mesmo quando preenchidos os requisitos pelo autor do fato? Pode o Juiz aplicar a medido deoficio? As repostas a estes quesitos só são encontradas através do estudo da natureza jurídica datransação penal.

Segundo o dicionário Aurélio, transação é “ ato jurídico que dirime obrigações litigiosas ouduvidosas mediante concessões recíprocas das partes interessadas; composição ”. O DicionárioJurídico de Maria Helena Diniz aduz o verbete nas seguintes palavras : “Negócio jurídico bilateral,pelo qual as partes interessadas, fazendo -se concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigaçõeslitigiosas ou duvidosas. E, portanto, unia composição amigável entre interessados sobre seusdireitos, em que cada qual abre ind o de parte de suas pretensões, fazendo cessar as discórdias. Eunia solução contratual da lide, pois as partes são levadas a transigir pelo desejo de evitar umprocesso cujo resultado eventual será sempre duvidoso (..) “.

Evidencia-se, assim, que transação é um negócio, que envolve concessões mútuas da partesenvolvidas, a fim de se evitar o litígio.

No direito penal, mais precisamente no sentido técnico da Lei n° 9.099/95, a transação éuma avença, firmada entre o autor do fato e o dominus litis penalis , com o objetivo de pôr fim aoprocesso quando ainda em seu estágio embrionário. Isto é alcançado com a aplicação imediata deuma pena menos severa que a tradicional restrição à liberdade.

Saliente-se, neste passo, que transação penal e suspensão condicio nal do processo sãoinstitutos distintos quanto à sua natureza negocial. Ambos envolvem uma transação (concessõesmútuas); mas enquanto a primeira versa sobre o próprio objeto do litígio (de um lado o jus puniendiestatal; do outro, o direito à liberdade), a segunda restringe-se a urna transação processual. Natransação penal, o que se põe em jogo é o próprio direito de punir do estado, ao decidir -se, naquelemomento vestibular, pela cominação de uma pena não -privativa de liberdade.

Aplicando-se a sanção, está cumprido o mister do órgão acusador, bem como do magistrado.Na suspensão, ou transação processual, o que se discute não é propriamente o direito de punir doestado, mas tão simplesmente um incidente na marcha do processo. Na suspensão, o jus puniendi ,irrealizado, persiste; apenas será afetado, de forma indireta, ao cabo do cumprimento do período deprova.

O Professor Luiz Flávio Gomes é incisivo: “A suspensão condicional do processo não podeser compreendida como ‘ato consensual bilateral’, no senti do do ar!. 76 da Lei 9.099/95, porquezela a transação é meramente ‘processual’, não ‘penal’ “. Na suspensão, a consensual idade doacusador pode ser dispensada; “de outro lado, na transação penal (art. 76) exige -se a consensualidade mútua (bilateral)”.

Percebe-se, destarte, que somente a parte está autorizada a transigir sobre o direito queexclusivamente lhe compete o direito de ação. Na ação penal privada, o Ministério Público nãopode substituir o particular e oferecer a transação. Tampouco pode fazê -lo o Juiz. Assim agindo,estariam maculando a natureza transaciona! do instituto, que deixaria de ser negócio para

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23transformar-se em imposição. Mais que isso: ao substituírem o titular da ação penal privada,impedindo-o de deflagrar o processo, estariam vio lando o art. 100, parágrafo 2°, do CP7, e o art. 30do CPP. Já se decidiu que é válida a proposta de transação feita pelo promotor e não objurgada peloquerelante, situação que, ao nosso ver, não conflita com a posição aqui esposada.

Evidente que não se aborda aqui a ação penal privada subsidiária da pública. Nesta, o MP,que apenas extraordinariamente é afastado da titularidade da ação, pode reassumi -la a qualquerinstante do processo.

A leitura estanque do art. 76, conforme se procurou demonstrar nestas breves linhas, nãoenseja a apreciação sistêmica que a análise do instituto requer. As inovações da Lei dos JuizadosEspeciais somente podem ser acuradamente compreendidas quando contextualizadas na modernadoutrina penal, sob o prisma de novos princípios e em contraposição ao pensamento excessivamenteintervencionista do Direito Penal clássico.

10.6.5. Concordância da defesa e homologação da transação penal

A proposta de transação penal apresentada pelo MP deve ser clara e precisa, especificado asanção a ser imposta, com a indicação de seu valor, quando se tratar de multa, ou a espécie e aduração da pena restritiva de direitos.

Mas é evidente que se trata de urna simples sugestão para a solução do caso sem os trâmitesnormais do processo: assim, dev erá ser discutida com o autor do fato e com o seu defensor,necessariamente presente ao ato, com a participação do juiz ou de conciliador. A lei exige, para aaplicação da pena consensual, a concordância do agente e do advogado, bem como a posteriorhomologação pelo juiz.

Chegando-se a um consenso, caberá então ao juiz homologar a transação penal, proferindosentença na qual imporá a sanção acordada. Não se trata de decisão condenatória, nem tampoucoabsolutória, mas simplesmente urna sentença homologatóri a de transação (art. 584, III, CPC). E,uma vez preclusas as vias de impugnação, fará coisa julgada material, ou seja, sendo imutável seusefeitos bem como indiscutível e insuscetível de recurso; impedindo que se volte a discutir o caso,ainda na hipótese de não cumprimento da sanção resultante do consenso entre as partes.

Justamente por não se tratar de sentença de condenação, até porque no sistema brasileiro nãose exige do agente o reconhecimento da culpa para a transação, tal decisão não gera reincidên cia,apenas impedindo nova transação no prazo de cinco anos (art. 76, § 4°); também não constará nosregistros criminais (art. 76, § 6°) nem terá efeitos civis (art. 76, § 6°).

10.7. Suspensão Condicional do Processo

Abrange todos os delitos, não apenas os considerados de menor potencial ofensivo, bastandoque a pena mínima cominada seja igual ou inferior a um ano. O propósito dessa suspensão éconferir oportunidade ao infrator eventual, de demonstrar concretamente que a aplicação doescarmento não se mostra necessária, pois não delinqüiu antes e se propõe a não delinqüir depoisdisso.

A suspensão poderá ser proposta pelo Ministério Público antes do oferecimento da denúnciae as condições estabelecidas em lei são:

não ter sido o acusado condenado por outro crime;

não estar o acusado a ser processado por outro crime; e

preenchimento dos requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena prevista no art.77 do Código Penal.

A suspensão oscilará de dois a quatro anos e constitui direito subjetivo do réu, assim como atransação penal.

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24A suspensão condicional do processo, instituto recente criado pela Lei n° 9.099/95, mais

precisamente, as várias circunstâncias que gravitam em torno da aplicação desse instituto, sãoobjeto de grandes divergências e ntre doutrinadores. e que também sç registram na jurisprudênciaconstruída sobre a questão.

Trata-se de uma medida extremamente complexa, que inaugura um novo sistema, com granderepercussão no ordenamento processual penal e ordem constitucional em seus c orolários basilares: oprincípio do devido processo, princípio do contraditório, indisponibilidade da ação penal e doprincípio do estado de inocência.

A produção jurisprudencial e doutrinária, ainda incipientes, são verdadeiros repositórios dedivergências quando está sob exame a suspensão condicional e as suas diversas implicações.A títuloilustrativo, necessário se faz reportar -se a algumas dessas circunstâncias para dar maisplausibilidade a esse projeto. São pontos polêmicos da suspensão condicional d o processo: (l)a áreade sua abrangência; (2) aspectos distintivos do sursis; (3) a aplicabilidade do art. 28 do CPP dianteda negativa do representante do parquet de oferecer a suspensão; (3) a possibilidade da proposta deoficio pelo juiz; (4) a constitucionalidade da medida; (5) o recurso contra a decisão que defere asuspensão condicional e a própria (6) natureza jurídica da suspensão do processo, questão nuclearque vai conduzir esse estudo.Talvez todas essas questões possam ser resolvidas quando ident ificada,a natureza jurídica desse instituto.

Preliminarmente, antes de adentrarmos à natureza jurídica da suspensão condicional doprocesso, é necessário que se proceda a um estudo aprofundado do instituto. A proposta é fazer issode maneira diferente. Pretende esse estudo levantar os pontos polêmicos do beneficio processual,juntamente com o que foi produzido pela doutrina e jurisprudência acerca dos tópicos a seguiridentificados, e a partir daí, edificar uma base sólida que permita ao leitor conhecer o instituto emsua inteireza. Passa-se a elencar um rol exemplificativo dos tópicos que serão explorados em buscadessa proposta inicial: cabimento da proposta; área de abrangência da suspensão condicional doprocesso; aspectos distintivos do sursis; consti tucionalidade da medida frente ao: princípio docontraditório; princípio do devido processo legal; princípio do estado de inocência; princípio daindisponibilidade da ação penal recurso contra a decisão que defere a suspensão condicional doprocesso.

10.7.1. Natureza jurídica da suspensão condicional do processo

Como se sabe, a identificação da natureza jurídica da suspensão condicional do processo émais um ponto polêmico e de difícil solução que trará repercussões junto as demais questões,igualmente controversas. À título ilustrativo: em se admitindo que a suspensão seja um atoconsensual bilateral, se terá como consectário lógico que é indispensável a proposta do MP, em onão fazendo o representante designado, serão os autos remetidos ao Procurador Ge ral nos termos doart. 28 do CPP. São pelo menos três as correntes doutrinárias que abordaram a questão, a quais aseguir são relacionadas: a suspensão do processo como um direito público subjetivo do réu; oprincípio da motivação; a suspensão do processo como ato discricionário do Ministério Público: adoutrina do facultas agendi;discricionariedade regrada; a suspensão condicional do processo comoato consensual bilateral. Sobre todos esses temas a proposta é identificar na doutrina e na produçãojurisprudencial os fundamentos que vão dar sustentação às diversas correntes, sem esquecer deestabelecer as críticas que foram construídas sobre cada uma delas, além de identificar os seusprincipais defensores.Dentro do ponto 2 (dois) - a suspensão como ato discr icionário do MP -pretende-se traçar um estudo sobre todos os fundamentos da decisão do Supremo Tribunal Federal,proferida no HC 75.343/MG, que reconheceu a proposta de suspensão como faculdade exclusiva doMinistério Público. Num segundo momento fazer a coleta de fundamentos, sejam eles de doutrinaou jurisprudência, que contestam os argumentos do julgado sob enfoque.

11. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO

11.1. Aplicação

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25Não ocorrendo a transação penal, por qualquer motivo, passa -se então ao procedimento

sumaríssimo previsto pela Lei no 9.099/95 para as infrações penais de menor potencial ofensivo.

Esse procedimento só será aplicado, entretanto, se o caso não for de maior complexidade,hipótese em que o MP deverá requerer a remessa ao juízo comum, para adoção do rito comum(sumário dos crimes de detenção ou das contravenções), corno vem previsto no art. 77, § 2°. Etambém deve ser possível a citação pessoal do acusado, pois, se necessária a citação por edital, aspeças também serão encaminhadas ao juízo comum ( art. 66, parágrafo único).

Tratando-se de crime de ação penal privada, tal procedimento é facultativo, pois o art. 77, §3°, estabelece que a queixa poderá ser oferecida oralmente na audiência preliminar, cabendo ao juizverificar se a complexidade e as c ircunstâncias do caso recomendam a remessa ao juízo comum.

Em delito de ação penal pública, se a pena não for antecipadamente aplicada, o MPoferecerá ao juiz imediatamente denúncia oral. Esse o intuito da Lei: abreviar o trâmite noprocessamento criminal dos delitos de menor potencial ofensivo, dispensando mesmo o inquéritopolicial. Todavia, se houver necessidade de diligências imprescindíveis, essa imediatamente serárelativizada. Assim como poderá o Promotor entender necessária a instrução normal. Ness e caso, aspeças serão encaminhadas ao Juízo competente. Abre -se também a oportunidade para a queixa oral,com redução a termo.

11. 2. Características Gerais

Constituem características do procedimento, perante os Juizados, a oralidade, a imediação, ea concentração dos atos processuais em uma só audiência. A identidade física do juiz, embora nãotextualmente prevista, resultará dessas próprias características do procedimento.

Observe-se, ainda que, apesar da sua simplicidade, tal procedimento não acarret a qualquerdiminuição ao exercício do direito de defesa, havendo, ao contrário, até maior resguardo dasgarantias do acusado, especialmente pela precisão de uma defesa anterior ao recebimento daacusação e, também, diante da realização do interrogatório so mente depois de produzida a provatestemunhal.

11.3. Início do Procedimento

Segundo dispõe o art. 77, da Lei n°. 9.099/95, inicia -se o procedimento sumaríssimo naprópria audiência preliminar, logo que se mostrar inviabilizada a transação, mediante den úncia ouqueixa, formuladas oralmente perante o juiz. No caso de queixa, como visto, o seu oferecimentonessa fase é facultativo e caberá ao juiz verificar se o caso é complexo, adotando, então, aprovidência do art. 66, parágrafo único (remessa ao juízo c omum).

A base probatória da denúncia ou da queixa será o termo circunstanciado lavrado pelaautoridade policial. Para o oferecimento da acusação, é dispensado o laudo de exame de corpo dedelito, quando a materialidade estiver comprovada por boletim médic o ou prova equivalente (art.77, § 1°, Lei n° 9.099i95).

A denúncia ou queixa oferecidas oralmente serão reduzidas a termo (art. 78, Lei n°9.099/95), entregando-se uma cópia ao acusado, que ficará imediatamente citado e cientificado daaudiência de instrução e julgamento. Se ausente, será feita citação pessoal (arts. 66 e 68, Lei n°9.099/95), pois não há, nos juizados, como visto, citação por edital.

11.4. Audiência Única

No procedimento sumaríssimo da Lei n° 9.099/95 haverá urna audiência única, prev endo oart. 80 que nenhum ato será adiado, devendo o juiz determinar a condução coercitiva de quem devacomparecer.

Adotou-se o princípio da concentração, com a defesa prévia ao recebimento da denúncia ouqueixa, seguindo-se, se for o caso, a oitiva da ví tima e testemunhas e final interrogatório do réu.

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26Essa inversão privilegiou a concepção do interrogatório como prova de defesa. E impõe ao juiz odever de uma cautela muito especial em realizá -lo, de maneira a extrair do réu todos os elementosnecessários à adequada apreensão da controvérsia penal. Interrogatório que se faça ao final dainstrução, não pode ser a lacônica inserção de duas ou três frases de praxe, sem a consideração detudo aquilo que anteriormente se colheu em termos de prova.

A concentração, voltada à celeridade, está refletida também na redução do termo deaudiência, cujo conteúdo será um breve resumo dos fatos relevantes e na sentença desprovida derelatório.

Nessa audiência, é prevista, inicialmente, uma tentativa de conciliação civil e penal, se issonão foi realizado na fase preliminar (art. 79, Lei no 9.099/95). Não se trata, assim, de uma novatentativa, mas de uma primeira, quando, por algum motivo, não foi possível faze -la na fasepreliminar. Apesar disso, entendemos que nada obsta a que se faça a composição civil ou atransação penal, mesmo no caso de terem sido frustradas as primeiras tentativas, pois esse é oobjetivo maior do legislador. Além disso, se o acusado e a vítima refletiram melhor, não há porquelhes negar essa oportunidade, que não contraria o espírito da lei.

Essa previsão legal poderá implicar exceção às regras de irretrabilidade da representação(art. 25, CPP) e da indisponibilidade da ação pública (art. 42, CPP); assim, se o ofendidorepresentou na fase preliminar e faz, agora, a composição civil, ocorrerá a desistência darepresentação; também em relação à ação penal já proposta, a lei admite venha o MP dispor damesma, ao transacionar com o já denunciado.

Superada essa fase, que será eventual, será dada a palavr a ao defensor do acusado paraapresentar a resposta à acusação (art. 81, caput).

Essa é outra importante novidade do procedimento sumaríssimo, possibilitando ao acusadoaduzir defesa que possa levar à rejeição da acusação. Nessa defesa, podem ser alegadas matériascomo a inépcia da peça acusatória, falta das condições da ação, falta de justa causa, etc. Mas não searrolam testemunhas de defesa, Estas comparecerão independentemente de intimação OU entãodevem ser indicadas com antecedência mínima de cinco d ias (art. 78. § 1°, Lei n° 9.099/95). E aintimação de testemunhas pode ser feita por carta com aviso de recebimento (art. 78 § 30, c.c. 67,Lei a° 9.099/95).

Em seguida, o juiz deve receber ou rejeitar a peça acusatória, levando em conta,evidentemente, a defesa apresentada. Contra a decisão de rejeição, caberá apelação (art. 82, caput,Lei n° 9.099/95). Se houver recebimento, passa -se, desde logo, à instrução probatória.

Na instrução, serão ouvidas, inicialmente, a vítima e as testemunhas de acusação e dedefesa.. nessa ordem. A lei não estabelece número máximo de testemunhas que podem ser indicadaspelas partes, devendo aplicar -se aqui, supletivamente, as regras do CPP (3 ou 5 testemunhas, paracontravenções e crimes, respectivamente).

A lei não fala em inquirição de testemunhas por precatória, dando a entender que só serãopossíveis provas produzidas em audiência, mas isso não pode ir ao ponto de restringir o direito daspartes à prova. Nesse caso, a parte interessada deverá pedir a expedição da precat ória comantecedência razoável, de sorte a permitir -se a devolução antes da realização da audiência.

Outra novidade da Lei no 9.099/95 é a realização do interrogatório após a colheita da provatestemunhal. Com isso, dá -se, certamente, maior garantia ao ac usado, especialmente pelapossibilidade de manter-se calado (art. 50, LXIII, CF) ou apresentar versão que o favoreça, diantede uma prova já produzida.

Findo o interrogatório, as partes apresentarão alegações orais. Embora não estabelecido pelalei o tempo a ser utilizado, devem ser aplicados supletivamente os arts. 538, § 2°, e 539, § 2°, doCPP (vinte minutos, prorrogáveis por mais dez). Em face da oralidade consagrada pela Lei n°9.099/95, é lógico que esses debates não podem ser substituídos dos por me moriais.

Finalmente, deve o juiz proferir a sentença em audiência, sendo á lei expressa ao dispensar,na mesma, o relatório. Isso é compreensível pelo fato de que todos os atos da audiência já estarãoconstando de um termo contendo o breve resumo dos fato s relevantes ocorridos em audiência (art.

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2781, § 2°). Os atos realizados em audiência poderão, também, ser gravados em fita magnética (art.65, § 3°).

12. DOS RECURSOS

A Lei n° 9.099/95 também inovou em matéria de recursos. Aliás, a própria Constituiç ão, aoprever a criação dos Juizados, admitiu o julgamento de recursos por turmas constituídas por juízesde primeiro grau (art. 98, 1, CF).

O apelo é o recurso cabíveis da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença.Preserva-se, portanto, o princípio do segundo grau de jurisdição, que não precisa sernecessariamente verticalizado ou hierarquizado. Também atende a tal princípio o julgamento nomesmo grau de jurisdição , por turma composta de três Juízes em exercício na sede do Juizado. Poiso que caracteriza o segundo grau de jurisdição não é a hierarquização do órgão revisor, mas acolegialidade na reapreciação , que condiz com a tendência psicológica das partes, sempreinsatisfeitas com um só julgamento.

O prazo do apelo será o de dez dias da ciência da decisão pelo MP, réu e seu defensor. Apetição escrita já deverá conter as razões e o pedido e o recorrido será intimado a oferecer respostaescrita no prazo de dez dias. Faculta -se às partes o requerimento de transcrição da gravação da fitamagnética ou equivalente e serão elas intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.

13. DA EXECUÇÃONos termos do art. 4°, se a pena de multa for a única aplicada, a execução será feita perante

o próprio juizado. Observe-se que, nesse ponto, a Lei n° 9.268, de 1/4/96 não alterou a competênciados Juizados, pois esta vem fixada na própria Constituição (art. 98, 1).

Desse modo, acordado o pagamento da multa na transação, ou imposta essa única pena pelasentença proferida ao final do procedimento su maríssimo, deve ser feita a intimação parapagamento, no prazo de 10 (dez) dias (art. 164, caput, da Lei de Execução Penal).

A execução se limita às multas e se fará mediante pagamento na Secretaria do Juizado.Efetuado o pagamento, o juiz declarará extin ta a punibilidade, determinando que a condenação nãofique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial.

O art. 85 da Lei n° 9.099/95 prevê, no caso de não pagamento da multa, sua conversão emprivativa de liberdade ou restri tiva de direitos. Essa conversão é atualmente inexeqüível primeiro,porque a citada Lei n° 9.268/96, dando nova redação ao artigo 51 do Código Penal, aboliu aconversão da multa em detenção; de outro lado, para a conversão de pena de multa em restritiva dedireitos não fixados critérios legais, seja no Código Penal, seja na Lei de Execução Penal ou naprópria Lei n° 9.099/95. Diante disso, a única solução para cobrança da multa, no caso de nãopagamento, será a execução como dívida ativa da Fazenda Pública, como previsto pela Lei n°9.268/96.

A falta de pagamento da multa não sujeitará o infrator à conversão do escarnamentopecuniário em privação de liberdade. O art. 85 da Lei n° 9.099/95 foi revogado pela Lei n° 9.268/96que conferiu nova redação ao art. 5 1 do Código Penal.

Finalmente, se houver imposição de pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, aexecução será processada perante o órgão competente (Juízo das Execuções Criminais), conformedispõe o art. 86, da Lei 9.099/95.

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14. OS CRIMES DE TRÂNSITO DE COMPETÊNCIA DOS JECrim

(Artigos 291, 298, 303 a 312 do CTB)

OBSERVAÇÃO: Com a nova redação dado ao art 61 da Lei 9099, pela Lei 11.313 osúnicos Crimes de trânsito que estariam fora da regra do art 61, seriam o de Homicídio (art302 CTB) pena de detenção de 2 à 4 anos e Embriaguês na direção de veículo automotor (art306 CTB), tendo em vista ser sua pena de 6 meses a 3 anos de detenção.

14.1. Disposição Geral

O Código de Trânsito (Lei 9.503, de 21SET97) representou significativo avanço n a justiçaconsensual em matéria penal.

O art. 291 do CTB manda aplicar, “no que couber”, a Lei 9.099/95 (Lei dos JuizadosEspeciais Criminais). O parágrafo único desse mesmo artigo diz: “Aplicam -se aos crimes detrânsito de lesão corporal culposa, de embr iaguez ao volante e de participação não autorizada odisposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei n° 9.099/95”.

No novo Código preocupou-se o legislador em enfatizar a aplicação da Lei n° 9.099/95 emrelação a três delitos: lesão corporal culposa, embriaguez ao volante e participação em competiçãonão autorizada: A razão dessa preocupação foi a seguinte: os três (arts 303, 306 e 308) possuempena máxima cominada superior a um ano. Logo, pela antiga regra do artigo 61 da Lei no 9.099/95,estariam fora dos Juizados . Para conferir-lhes a disciplina dessa lei, era efetivamente necessáriopreceito expresso. Porém, com a nova definição de crime de menor potencial ofensivo (elevada parapena máxima até dois anos), somente se aplicará esta regra expressa ao crime do Art. 306, cuja penamáxima é de três anos, pois os demais passaram a ser considerados formalmente de menor potencialofensivo.

Com a nova redação dado ao art 61 da Lei 9099, pela Lei 11.313 o único Crime detrânsito que estaria fora da regra seria o de Embriag ues na direção de veículo automotor (art306 CTB), tendo em vista ser sua pena de 6 meses a 3 anos de detenção (Exceto o art 302CTB).

O novo CTB, no total, prevê onze delitos: a um deles (art.302, homicídio culposo) não seaplica a lei 9.099/95. Nem sequer cabe suspensão condicional do processo (art.89), porque a penamínima, doravante, passa a ser de dois anos. Aos outros dez delitos aplica -se a citada lei: no quecouber. Basicamente: não existe inquérito policial, não há prisão em flagrante, é o caso de se fazer otermo circunstanciado, designando -se em seguida audiência de conciliação (art.72).

Em relação ao direito vigente, a grande alteração havida consiste na impossibilidade desuspensão condicional do processo ao homicídio culposo. Essa impossibili dade, evidentemente,dar-se-á a partir de 20.01.98: mais precisamente, a crimes ocorridos de 22.01.98 em diante. Acrimes anteriores, obviamente, continua possível, em tese, tal suspensão. A lei nova, sendoprejudicial, não retroage.

14.2. Da efetiva aplicação da lei n. 9.099/95 aos crimes de trânsito

Pois bem, para se avaliar a amplitude de aplicação da lei dos Juizados Especiais Criminaisaos delitos de trânsito, mister se faz, inicialmente, avaliar todos os tipos penais assinalados,dedicando atenção a pena cominada, visto que como condição sine qua non para a aplicação da Lei9.099/95, como procedimento, os crimes não podem prescrever pena máxima superior a 02(dois)anos.

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29Nesta esteira de raciocínio, registre -se que a lei dos Juizados Especiais Criminais, anotou

como sendo infrações penais de menor potencial ofensivo aquelas que a pena máxima em abstrato,não exceda a dois anos. Esta é a regra da lei.

Pode-se falar em exceção no que tange a suspensão condicional do pro cesso(art. 89), porquea regra da Lei dos Juizados Especiais Criminais, são as infrações de menor potencial ofensivo,classificada por esta lei como sendo aquelas cujas penas máximas não excedam a dois anos. Assim,de certa forma, a previsão do artigo 89 c ontraria toda a sistemática desta lei.

Assinale-se, nesse sentido, que aos crimes com penas mínimas (em abstrato) não superior aum ano, com direito a suspensão condicional do processo, não serão apurados pelos JuizadosEspeciais Criminais, e s im pela justiça comum, ou, então, pela competente.

Sobre essa parte colhe a interessante manifestação do Professor Julio Fabbrini Mirabete, queassim diz:

"Por disposição expressa, ao se referir a crimes que não estão abrangidos pel a Lei no9.099/95, cabe a suspensão condicional do processo não só nas infrações penais por crimes demenor potencial ofensivo, como também naqueles de competência do Juízo Comum e nas infraçõespenais da Justiça Especial".

E continua, asseverando que:

"Tratando-se de infração penal afeta aos Juizados Especiais, à proposta de suspensão doprocesso devem anteceder os atos processuais previstos na lei, ou seja, a possibilidade decomposição dos danos e imposição de pena não privativa d e liberdade. É de notar que, tratando -sede ação penal pública incondicionada, a reparação dos danos ou a composição, mesmo nosJuizados Especiais Criminais, não interfere nas etapas seguintes da persecução penal, e, portanto,na proposta de suspensão do p rocesso no caso de oferecimento de denúncia quando nãoconseguida a transação penal pela imposição imediata de pena não privativa de liberdade ".

Arrematando, anota:

"Evidentemente, a possibilidade de aplicação da suspensão condicion al do processo implicadeslocamento para a competência do Juizado Especial Criminal, sendo esta limitada pelo art. 60da LJECC às infrações penais de menor potencial definidas pelo art. 61 do mesmo estatuto ".

Corroborando a posição acima transc rita, trazemos à colação um julgado do EgrégioTribunal de Justiça, que em apreciação ao remédio constitucional (habeas corpus), versando sobreinfração penal prevista em procedimento especial, concluiu que:

"TJSP: Processo-crime - Suspensão condicional-indeferimento de ofício, pelo juiz -Apelaçãode estar o delito previsto em lei especial -Artigo 89 da Lei Federal 9.099/95, que não fez ressalva aprocedimento especiais-Sentença anulada, abrindo-se vista ao Ministério Público para propor asuspensão ou dizer por que não o faz -Ordem concedida"(JTJ 210/317).

No mesmo diapasão, a seguinte decisão:

Competência do Juízo Comum - TJRS: "Lei no 9.099/95. Competência. Conquantoaplicável o art. 89 da Lei no 9.099/95, que constitui re gra excepcional, a competência paraconhecer e julgar a espécie é do juízo comum, porquanto não se trata de delito de menor potencialofensivo, nos moldes de seu art. 61 " (RJTJERGS 189/151).

Conclui-se, destarte, que as infrações penais previst as no CTB que prescrevam pena mínimaigual ou inferior a um ano, poderão valer -se da suspensão condicional do processo, mesmo queprocessadas fora dos juizados especiais criminais.

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30Pois bem, feito estes esclarecimentos, cumpre discorrermos sobr e os onze delitos

prescritos no Código de Trânsito brasileiro, e a aplicação da lei dos Juizados Especiais Criminais.

O Professor Luiz Flávio Gomes anota que o novo CTB, no total, prevê, onze delitos,anotados do art. 302 ao 312, do capítulo XI X, seção II: a um deles (art. 302, homicídio culposo)não se aplica a Lei 9.099/95 . Nem sequer cabe, em princípio, suspensão condicional doprocesso (art. 89), porque a pena mínima passou a ser de dois anos (uma exceção possível emtese será o caso de reparação do dano antes da denúncia - arrependimento posterior - CP, art. 16).Aos outros dez delitos aplica -se a citada lei (total ou parcialmente, conforme a hipótese, comoveremos em seguida).

E continua, argumentando que nove delitos possuem pena máxima cominada nãosuperior a dois anos (arts. 303, 304, 305, 307, 308, 309, 310, 311 e 312): são infrações de menorpotencial ofensivo, regidas integralmente pela Lei dos Juizados Especiais Criminais(...)

Por derradeiro, prescreve que o úl timo, considerando a somatória dos onze crimes, é o doArt. 306 do CTB, o qual conta com regime jurídico especial: embriaguez ao volante, porpossuir pena máxima cominada superior a dois anos .

Acerca do art. 302 é tranqüilo a inaplicabilidade d a Lei Federal no 9.099/95 e considerando-se a pena prevista para este delito, nem mesmo cabe a suspensão condicional do processo;excetuando-se; entretanto, a possibilidade de reparação dos danos antes do início do processo(oferecimento da denúncia).

Os crimes de lesão corporal na direção de veículo (art. 303), omissão de socorro (art. 304);fuga do local para frustra a aplicação da lei penal, ou civil (art. 305); violar a suspensão ou aproibição de se obter a permissão ou a habilitação para d irigir veículo automotor imposta comfundamento neste Código (art. 307); participar de corrida na direção de veículo -“racha” (art. 308);dirigir veículo automotor em via pública, sem a devida habilitação (art. 309); permitir, confiar ouentregar a direção de veículo a pessoa não habilitada (art. 310); trafegar em velocidadeincompatível com segurança (art. 311); Inovação artificiosa em caso de acidente automobilístico(art. 312) prescrevem pena máxima não superior a dois anos, de modo que admite a reparação civil,a transação penal e a suspensão condicional do processo, por serem todos de menor potencialofensivo.

A estes crimes, elencados no dois itens anteriores, consoante expressa previsão na Lei no9.099/95, não se imporá prisão em flagrante; nã o será instaurado inquérito policial( ao menosinicialmente), e sim termo circunstanciado; a autoridade policial encaminhará as partes envolvidasao juízo competente.

Ao crime de embriaguez ao volante (art. 306), com pena de 06(seis) meses a 03(d ois) anos,aplicam-se os institutos da composição de danos e da transação penal, não pela regra da penamáxima, mas por disposição expressa do Artigo 291(CTB) assim desejou.

Cabe salientar que a ORDEM COMPLEMENTAR nº PM3 -001/03/06 – DISCIPLINAA atuação de Polícia Militar do Estado de São Paulo no atendimento de ocorrências policiaisclassificadas como de MENOR POTENCIAL OFENSIVO, nos termos da Lei 9.099 com asalterações da Lei 11.313.

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