curso história dos descobrimentos portugueses

Curso

História dos

Descobrimentos

Portugueses

Casa da Cultura__________________

Paulo Alexandre Loução

História dos Descobrimentos Portugueses . 3

3 . (Aula 4)

INFANTE D. HENRIQUEPRECURSOR DA CIÊNCIA MODERNA

Infante D. Henrique precursor da Ciência . 3

- Navegações até ao Golfo da Guiné- Ciência e pensamento sistémico como

fundamentos estratégicos- O cavaleiro do Graal torna-se

cavaleiro-navegador- A função da Ordem de Cristo,

sucedânea dos Templários- «Trazei-me notícias do reino do Preste João»- O papel da infanta Beatriz


- Em 1420, após a morte de Lopo Dias de Sousa, o último mestre de Cristo eleito em capítulo, Henrique recebe a nomeação oficial para administrador-geral da Milícia de Cristo através da bula In apostolicedignitatis specula.


- Talant de bien faire

«Executar todos os actos da vida, esobretudo todos os actos da vida superior,com a máxima perfeição(bien faire) e inteligência (talent).»Fernando Pessoa


- «[os homens] a que chamamos génios da acção são quase sempre receptores, mais aptos a dar expressão às ansiedades secretas dum mundo, que só eles avistam. O herói (…) é tanto mais representativo, quanto melhor sabe exprimir esse desejo latente e indefinido.» (Jaime Cortesão)


- No capítulo VII da Crónica de Guiné, Zurara descreve as seis razões pelas quais o «Senhor Infante foi movido de mandar buscar as terras de Guiné.»


- 1ª Queria saber como eram as terras a sul das Canárias e do cabo Bojador. Ponto importante: queria saber de tudo isto com«manifesta certidão», ou seja, com rigor científico.

— OBJECTIVOS DE DESCOBERTA E DEORDEM CIENTÍFICA


- 2ª Desejava encetar relações comerciaiscom os povos da costa ocidental africana cujo «tráfego trazeria grande proveito aosnaturaes» (e claro, também aos portugueses).

— OBJECTIVOS COMERCIAIS E DE COMUNICAÇÃO ENTRE CULTURAS


- 3ª Tinha também por fito saber onde se estendia o poderio dos mouros do Norte de África.

— OBJECTIVOS DE ORDEM GEOPOLÍTICA

- 4ª. «Havia trinta e um anos que guerreava os mouros, nunca achou rei cristão nem senhor de fora desta terra que por amor de Jesus Cristo o quisesse à dita guerra ajudar. Queria saber se se achariam em aquelas partes alguns príncipes cristãos em que o quisessem ajudar contra aqueles inimigos da Fé».(Nesta quarta razão refere-se à apatia da Europa em relação aos Descobrimentos e, indirectamente, à demanda do reino cristão do Preste João das Índias.)

— OBJECTIVOS DE ORDEM POLÍTICO-RELIGIOSA


- 5ª. Ansiava converter à fé de Cristo os povosque fosse encontrando.

— OBJECTIVOS DE ORDEM RELIGIOSA

(Curiosamente é costume omitir nas narrativas históricas a seguinte sexta razão, que é a «síntese de todas as anteriores»)


- «Mas sobre estas cinco razões, tenho eu a VIª., que parece que é a raiz donde todalas outras procedem: e isto é, inclinação das rodas celestiais, que como eu escrevia não há muitos dias em uma epístola que enviava ao senhor Rei, que posto que seja escrito que o barão sabedor se assenhorará das estrelas, …


- … e que os cursos dos planetas, segundo boa estimação dos Santos Doutores, não podem impecer ao bom homem, manifesto éDeus, e correm por certas medidas e a desvairados fins, revelados aos homens por sua graça, por cujas influências os corposmais baixos são inclinados a certas paixões»

— OBJECTIVOS DE ORDEM ESOTÉRICA, QUEESTÃO NA RAIZ DE TODOS OS OUTROS


- Como o infante «se inclina a estas cousas»:

«Porém vos quero aqui escrever como ainda, por pungimento de natural influência, este honrado príncipe se inclina a estas cousas. E isto é porque o seu ascendente foi Aries, que é casa de Marte, e é exaltação do sol, e seu senhor está em XIª casa, acompanhado do sol. …


- … E porquanto o dito Marte foi em Aquário, que é casa de Saturno, e em casa de esperança, significou que este senhor se trabalhasse de conquistas altas e fortes, especialmente de buscar as cousas que eram cobertas aos outros homens, e secretas, segundo a qualidade de Saturno, em cuja casa ele é. …


-E por ser acompanhado do Sol, como disse, e o sol ser em casa de Jupiter, significou todos seus trautos e conquistas serem lealmente feitas e a prazer do seu Rei e senhor.»-(Crónica de Guiné, Zurara)


- Foi também o reformador da Universidade Portuguesa que na altura estava em Lisboa

«Acerca das [ciências] humanas era muiestudioso, principalmente na ciência da cosmografia, de cujo o fruito tem ora estereino o senhorio da Guiné.» (João de Barros)


- «A sua casa foi em geral acolhimento de todolos do reino, e muito mais dos estranjeiros, cuja grande fama fazia acrescentar muito em suas despesas; que comunalmente se achavam em sua presençadesvairadas nações de gentes tão afastadas de nosso uso, que quasi todos o haviam por maravilha; de ante o qual nunca nenhumsoube partir sem proveitosa bemfeitoria.»


- «(…) o Infante, respondendo a tudo, disse que lho tinha em serviço, e que não somente daquela terra desejava de haver sabedoria, mas ainda das Indias, e de terra do Preste João, se ser podesse.» Respondendo a Antão Gonçalves, cavaleiro da Ordem de Cristo, que se propôs para uma missão além-mar.

(Crónica de Guiné, XVI)

- «(...) lembrando-se o Infante que jamais houve memória de se poder navegar por este mar oceano até às praias longínquas do Oriente, assunto tão desconhecido dos povos ocidentais como é entre eles quase nula a noção daquelas regiões, julgou, pois, poder dar a Deus o mais alto testemunho da sua obediência e dedicação se por suas diligências e esforços se conseguisse tornar navegável este mar oceano até às Índias que julgamos submissas a Cristo.»

(Bula de Nicolau V, 1454)

Périplode Hanão,o cartaginês,Os mesmosCaminhosMarítimosque oshomens do Infantefariamcerca de 1900 anosdepois.


1445 - O comércio das terras descobertas é centralizado na feitoria de Lagos.

1455 - Começa a construir-se a fortaleza de Arguim (Mauritânia), onde o infante, no final da sua vida, ordena a construção da primeira feitoria além-mar.


- Em 1443, Eugénio IV emite a bula EtsiSuscepti que autoriza o infante a receber o hábito da Ordem de Cristo e a fazer nela profissão podendo, todavia, continuar na posse dos seus bens temporais.Vestir o hábito da ordem sucessora dos míticos Templários, com a cruz vermelha sobre o branco, deve ter sido algo de mágico para o infante D. Henrique.


- Durante a regência de D. Pedro (1439-1448), um grupo de portugueses de Lagos ofereceu-se para realizar uma expedição à Guiné contra os mouros da ilha de Tider(Mauritânia), tudo por sua conta e risco. Henrique responde assim:


- «A grandeza das cousas – respondeu o Infante ao pedido de autorização dos de Lagos – é muitas vezes desprezada, onde algumas pequenas são muito louvadas; porque melhor é o pequeno coração que liberalmente se outorga, que o grande corpo que escassamente oferece sua parte. …


- … E porem o oferecimento de vossas boas vontades traz consigo maior valor que grandes serviços doutros mais poderosos, que me com tão bom desejo não fossem outorgados; de cuja certidão eu não hei mester outra mais certa testemunha que vossas obras passadas, …


- pelas quaes sou constrangido de vos honrar e acrecentar, com aquele amor e desejo que o farei aos mais principaes de cada uma de minhas vilas ou lugares, nos quaes, por mercê del-Rei meu Senhor, depois dele tenho inteira jurisdição. (...) Ora daqui em diante podeis encaminhar vossas cousaspara vossa ida, …


- … e requerer-me qualquer cousa que vos cumprir para ajuda de vosso aviamento, que vos não serei em isso menos liberal do que o seria a alguns meus criados, que por meu próprio mandado se ordenassem de fazer a dita viagem.» (Crónica de Guiné, L)

- Um dos feitos mais notáveis liderados pelo Infante foi a transfiguração do cavaleiro da demanda terrestre do Graal, pelocavaleiro-navegador da demanda do Preste João, onde se tinha, miticamente, refugiado o Graal. É interessante notar que o imperador Frederico III, ainda antes de se casar com D. Leonor de Avis, em 1451, enviou um seu gentil homem para se iniciar na cavalaria dos mares. Zurara narra-o na Crónica de Guiné, LIV:


- «E acertava-se de ser ali um gentil homem da casa do imperador d’Alemanha, o qual se viera a casa do Infante com intenção de o aviar para Ceuta, onde desejava ser cavaleiro, fazendo primeiramente tanto por sua honra por que o merecesse, cujo nome era Baltasar; …


- … e certamente, segundo aprendemos que o coração não lhe faleceu para seguir seu bom propósito, que com mui grande honra recebeu sua cavalaria, fazendo primeiramente mui assinaladas cousas por sua mão (…). E este dizia por muitas vezes que desejava muito, antes que desta terra partisse, …


- … ver alguma grande tormenta, para poder falar em ela àqueles que nunca a viram. E certamente que lhe não foi a fortuna escassa no cumprimento do seu desejo, que ele se acertou de ser com Antão Gonçalves, como já dissemos, querendo ir ver aquela terra antes que desta partisse; e foi a tormenta tão grande, que por maravilha escaparam da perdição.»


- Neste texto, percepciona-se claramente como o Projecto dos Descobrimentos canalizava a energia cavaleiresca da época. Através dele os cavaleiros poderiam ganhar honra e testar a sua coragem.

- Deixa este mundo a 13 de Novembro de 1460, no Promontório Sacro.Que a comemoração das missas em memória da sua alma seja a do «Santo Espírito».Deixa como herdeiro o seu sobrinho, infante Fernando, casado com a sua prima Beatriz.Em 1469, nasceria o seu último filho varão,Que se tornaria em 1495, Manuel I de Portugal

Sagres, Miguel Torga

- Vinha de longe o mar...Vinha de longe, dos confins do medo...Mas vinha azul e brando, a murmurarAos ouvidos da terra um cósmico segredo.E a terra ouvia, de perfil agudo,A confidencial revelaçãoQue iluminava tudoQue fora bruma na imaginação…

Sagres, Miguel Torga

…Era o resto do mundo que faltava(porque faltava mundo!)E o agudo perfil mais se aguçavaE o mar jurava cada vez mais fundo

Sagres sagrou então a descobertaPor descobrir:As duas margens da certeza incertaTeriam de se unir

Jaime Cortesão

- «Os Descobrimentos geográficos e humanos – e frisamos humanos – dos portugueses pertencem a um vasto processo espiritual, que visa, como supremo escopo, a libertação e a solidariedade das consciências. Na história tudo se passa, ao que pensamos, …

Jaime Cortesão

… como se as necessidades económicas e o seu novo condicionamento espiritual caminhassem a par, e uma consciência da espécie encarnasse, de quando em vez, em certos indivíduos ou povos, a quem cabe a missão de transformar o espírito das épocas e criar as novas forças superadoras do passado.»

Metodologia científica

- «Erro crasso foi supor-se até aos nossos dias que os descobrimentos e conquistas dos portugueses não excediam um caso, ainda que inaudito, de bravura colectiva. Não foram as lanças, as couraças, as bombardas das naus e a fúria de movê-las, mas sim os regimentos, as cartas, os astrolábios, o método, a disciplina, enfim a cultura e o espírito organizador, que triunfaram.» (Jaime Cortesão)


- «(…) é manifesto que estes descobrimentos se não fizeram indo a acertar, mas partiram nossos mareantes muito ensinados e providos de instrumentos e regras de astrologia e geometria.» (Pedro Nunes)

Mapa de Hereford, séc. XIII

Mapa do Mundo segundo Ptolomeu (Leinhart Holle, 1482)

- Mapa-mundi de Henricus MartellusGermanus, datado de 1489. Nesta carta geográfica já existe uma maior ordenação do mundo conhecido na altura, embora com grandes imperfeições. Como o próprio autor escreveu numa legenda do mapa, o desenho da África ocidental foi feito segundo as informações dos portugueses: «Hec est forma moderna affrice secundum descriptionePortulagensium Inter mare Mediterraneum etoceanum meredionale.»

O cartógrafo teve notícia da Viagem de Bartolomeu Dias, porém, como podemosobservar a África meridional tem um tamanho francamente incorrecto. Estádesviada 6º para sul e cerca de 20º (!)para oriente, um exemplo claro dacontra-informação desenvolvida por D. João II.

(In Insolarium Illustratum, British Library, Londres; Add 15760 68v-69)

Planisfério português dito de Cantino, 1502.Um dos mais importantes documentos dos Descobrimentos Portugueses.

(Biblioteca Estense, Modena, Itália)

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