curso de graduaÇÃo em psicologia carla ......carla fabiana silva da silva¹ lívia padília de...

27
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA FABIANA SILVA DA SILVA O BRINCAR E A TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO SANTA MARIA 2017

Upload: others

Post on 03-Aug-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

1

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CARLA FABIANA SILVA DA SILVA

O BRINCAR E A TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

SANTA MARIA

2017

Page 2: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

2

CARLA FABIANA SILVA DA SILVA

O BRINCAR E A TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação em

Psicologia da Faculdade Integrada de

Santa Maria – FISMA - como requisito

parcial da disciplina de TCC II, para

obtenção do grau de Psicólogo.

Orientadora: Profª Me. Lívia Padília de Teixeira

SANTA MARIA

2017

Page 3: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

3

Carla Fabiana Silva da Silva

O BRINCAR E A TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Faculdade Integrada de

Santa Maria – FISMA como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel(a)

em Psicologia.

_.

Page 4: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

4

SUMÁRIO

RESUMO ......................................................................................................................... 5

ABSTRACT .................................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7

MÉTODO ........................................................................................................................ 8

RESULTADOS ............................................................................................................. 10

Atendimentos a Marcos: relato de experiência ........................................................... 10

DISCUSSÃO ................................................................................................................. 14

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 24

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 25

Page 5: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

5

O BRINCAR E A TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Carla Fabiana Silva da Silva¹

Lívia Padília de Teixeira²

[email protected]

RESUMO

O presente artigo trata-se de um relato de experiência de um caso clínico que

tem como tema “O brincar e a transferência no processo terapêutico”, fundamentado

teoricamente pela psicanálise. O caso relatado foi o de uma criança de sete anos de

idade, que tinha atendimentos semanais na clínica-escola na qual foi realizado um

estágio curricular. O objetivo deste estudo foi analisar um caso clínico e de

compreender de que forma a criança se utiliza da brincadeira e da fantasia como recurso

de linguagem para expressar seu sofrimento, bem como observar como a relação

transferencial auxilia na identificação desse processo. O caso clínico foi construído por

meio de relato escrito e foram selecionados alguns trechos para análise por meio do

método psicanalítico. Os resultados apontam alguns dados positivos quanto ao brincar,

contudo, demonstram também as dificuldades que se apresentam por meio da relação

transferencial e contratransferencial que se apresentaram ao longo do processo

terapêutico.

Palavras-chave: brincar; transferência; linguagem

Acadêmica¹

Orientadora²

Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA

Santa Maria – Rio Grande do Sul

2017

Page 6: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

6

PLAYNG AND TRANSFERENCE IN THERAPEUTIC PROCESS

Carla Fabiana Silva da Silva¹

Lívia Padilha de Teixeira²

[email protected]

ABSTRACT

This article is a clinical case report, theoretically based on psychoanalysis, whose main

theme is "Playing and transferring in therapeutic process”. The reported case happened

during a curricular internship in a clinical school with a seven-year-old child, who

attended the clinic weekly. The purpose of this study was to analyze this clinical case

and understand how the child uses play and fancying as a language resource to express

its suffering, as well as observe how the transference relationship helps in the

identification of this process. The clinical case was constructed as a written report and

some parts were selected for analysis by means of the psychoanalytic method. The

results of this research leads to positive data regarding playing, however, they also

demonstrate the difficulties that arise through the transference and countertransference

relationship that have occurred throughout the therapeutic process.

Keywords: playing; transference; language

Acadêmica¹

Orientadora²

Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA

Santa Maria – Rio Grande do Sul

2017

Page 7: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

7

INTRODUÇÃO

O presente relato referente ao tema “O brincar e a transferência no processo

terapêutico”, foi construído tendo como base a análise de um caso clínico

fundamentada pela teoria psicanalítica. O caso em questão foi proveniente de um

estágio curricular, do qual resultou nesta discussão teórica, por chamar atenção quanto à

manifestação do brincar e da relação transferencial, pela compreensão de que o

inconsciente também se manifesta como forma de linguagem por meio das brincadeiras

propostas.

Com base nisto, a análise deste relato clínico surgiu por inquietações que se

apresentaram ao longo dos atendimentos realizados com uma criança de sete anos de

idade, que aqui será chamada de Marcos (nome fictício), com diagnóstico de autismo e

que foi atendida pela autora deste trabalho durante o período em que esta realizou

estágio curricular em uma clínica-escola. A criança apresentava como demanda inicial a

queixa de comportamento inadequado e não aceitação de limites, que segundo os pais

estariam refletindo diretamente na interação familiar e social. As brincadeiras desta

criança despertaram na acadêmica o interesse pelo referido tema, onde foram analisados

conteúdos oriundos das anotações, observações e de registros das memórias decorrentes

das sessões, juntamente com a fundamentação teórica da psicanálise.

É sabido que ao longo do desenvolvimento humano ocorrem diversas situações

que podem contribuir para que surjam alguns sintomas que diferem das influências

normativas vivenciadas pela maioria das pessoas. Conforme refere Papalia (2010), as

diferenças individuais influenciam tanto no desenvolvimento quanto em suas

consequências futuras. A autora relata ainda que as pessoas diferem tanto em

personalidade quanto em reações emocionais e que, devido à complexidade do

desenvolvimento, os fatores que interferem neste nem sempre podem ser medidos com

precisão.

Deste modo, explica-se a importância de um olhar atento quanto ao brincar de

uma criança, pois através do lúdico se manifestam situações relacionadas aos seus

conflitos internos e externos, bem como de suas demandas familiares e sociais. Nesse

sentido, Freud (1915-1916) aponta que as experiências infantis merecem um olhar

diferenciado, pois, por ocorrerem em uma época onde o desenvolvimento não está

completo, podem produzir efeitos traumáticos. Para Freud (1920), o brincar exerce um

importante papel no desenvolvimento emocional da criança, afirmando assim que,

Page 8: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

8

durante o processo terapêutico, o brincar tem efeito catártico, possibilitando à criança

eliminar afetos negativos e ressignificá-los. O autor refere ainda que, ao brincar, a

criança repete experiências desagradáveis, podendo dominar a situação de forma mais

ativa e que por meio das brincadeiras ela revive experiências traumáticas, tornando o

brincar um recurso terapêutico, pois a cada repetição a criança tende a expor o que lhe

causa angústia e sofrimento.

Portanto, para que o processo terapêutico possa ser considerado efetivo, Bassols

afirma que se faz necessário:

criar um setting, um “espaço” de comunicação no qual a linguagem corporal,

motora ou fisiológica, a linguagem dramática do brinquedo, do teatro, da

vestimenta é compreendida como expressão de sentimentos que são

intensamente projetados no analista, que, por sua vez, precisa compreender

seus próprios sentimentos (BASSOLS et al., 2009, p. 190).

A autora expõe também quanto à importância de o terapeuta ter a compreensão

das dificuldades iniciais no tratamento da criança, no sentido de identificar e nomear ao

paciente os conflitos primitivos reeditados na relação terapêutica (BASSOLS et al.,

2009). Assim, a psicoterapia de orientação analítica mostra-se uma prática eficiente no

manejo clínico, ao proporcionar, por meio de brincadeiras, jogos e desenhos, auxiliando

a criança por intermédio do terapeuta, de forma lúdica e livre, a encontrar a melhor

forma de expressar, significar e ressignificar suas emoções, tornando possível identificar

a manifestação dos conflitos advindos de sofrimento psíquico por meio do brincar e da

transferência, ao longo do processo terapêutico conforme o descrito no relato do caso

clínico deste estudo.

MÉTODO

Para realização deste estudo, a metodologia utilizada foi o método de pesquisa

psicanalítica, que segundo Jardim e Rojas Hernándes (2010), utiliza-se da investigação

e baliza-se naquilo que o pesquisador produz a partir dos conteúdos obtidos em sessão,

através de suas anotações e observações. Neste sentido, os autores destacam ainda que o

material clínico produzido servirá como uma produção possibilitada pela transferência

por meio da linguagem, o que viabiliza a construção teórica do referido estudo. Desta

forma, após a organização do material produzido ao longo dos atendimentos, com base

Page 9: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

9

na associação livre e na atenção flutuante, estes foram escritos e reescritos muitas vezes

com o intuito de que o fenômeno a ser investigado se apresentasse.

Sempre em consonância com os pressupostos teóricos da psicanálise e da ética

que lhe são essenciais, para a construção deste estudo, foi utilizada a sistematização dos

dados conforme Silva e Macedo (2016), na qual elencam três etapas para a construção

de um caso clínico. Na primeira etapa, as autoras destacam que se devem descrever os

primeiros atendimentos, bem como a maneira como foram se apresentando à escuta do

terapeuta. O próximo passo conta com a elaboração do caso clínico, onde se apresentam

e exploram-se as hipóteses interpretadas pelo terapeuta ao longo dos atendimentos -

partindo da escuta realizada com a criança. A terceira etapa faz referência ao método

psicanalítico propriamente dito, por meio da análise dos fatos clínicos, das novas

interpretações da transferência, proporcionando a ampliação dos sentidos da dinâmica

transferencial, bem como de uma nova “escuta”, viabilizando a emergência de novos

eixos interpretativos, fomentando o aprendizado consistente da complexidade da escuta

psicanalítica, bem como seus desafios. Assim, conforme destacam Silva e Macedo

(2016), a construção dos fatos clínicos, tem como matéria-prima os acontecimentos

oriundos da situação analítica, que são singulares e subjetivos, onde a palavra do

paciente se traduz na palavra do terapeuta, não se fazendo necessária a exatidão do que

foi dito pelo analisando, por ter como objeto de estudo, o inconsciente.

Segundo destaca Iribarry (2003), para transmitir sua experiência, o pesquisador

se utiliza de técnicas específicas, bem como da leitura direcionada pela escuta e pela

transferência instrumentalizada, onde o pesquisador relaciona seus entendimentos com a

teoria, elaborando suas impressões juntamente com suas expectativas frente ao

problema de pesquisa, bem como as impressões dos participantes que contribuírem por

meio da coleta dos dados. Deste modo, “o pesquisador psicanalítico prepara-se para a

construção do ensaio metapsicológico, texto que irá compor a parte de discussão dos

dados de modo a preparar as considerações finais do trabalho” (IRIBARRY, 2003,

p.01).

Page 10: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

10

RESULTADOS

Atendimentos a Marcos: relato de experiência

O caso a ser relatado trata-se do atendimento de uma criança de sete anos de

idade, que aqui será chamado pelo nome fictício “Marcos” a fim de preservar sua

identidade. A criança que já estava em acompanhamento na clínica-escola, tinha

diagnóstico de autismo e muitas dificuldades relacionais. Porém, tal diagnóstico era

questionável, visto que os seus sintomas em tratamento não condiziam com o

Transtorno do Espectro Autista, pois não apresentavam os critérios diagnósticos que

determinam a denominação de tal Transtorno. Resumidamente serão descritos alguns

trechos do caso que foram bastante significativos ao longo dos atendimentos.

A queixa inicial da mãe era não conseguir dar limites ao filho, por isso relatava

que, em locais públicos sentia vergonha dos comportamentos do mesmo. Marcos

costumava falar muito alto, dar risadas descontextualizadas, se jogar no chão quando

contrariado, dizer muitos palavrões e praticar maus hábitos na hora de se alimentar,

como por exemplo, não usar talheres nas refeições, comendo com as mãos. A mãe

demonstrava muita dificuldade em “educar” o filho, não conseguia estabelecer qualquer

tipo de limite, tinha muita dificuldade em explicar situações cotidianas à criança,

dificuldades em nomear e significar as situações vividas. Ela realizava todos os

cuidados relativos ao menino, como levar ao médico, trazer para a terapia, levar para a

escola, etc. Porém, questões afetivas e relacionais eram tratadas com muita dificuldade

ou até mesmo não tratadas. Diante destas dificuldades da mãe e da desordem familiar,

por volta da metade do primeiro semestre indicou-se à mãe sessões quinzenais de

acompanhamento com a estagiária, onde eram trabalhadas com ela situações que

surgiam a partir da demanda apresentada por Marcos, objetivando-se desta forma obter

melhores resultados no tratamento de Marcos, Essas sessões ocorreram até o final do

ano, ao longo de todo o tratamento, além do tratamento individual que a mãe já

frequentava na mesma clínica-escola.

Nas primeiras sessões, onde a relação transferencial e o vínculo foram

estabelecidos, Marcos já desde o primeiro atendimento surpreendeu com sua entrega,

não demonstrando qualquer tipo de insegurança ou resistência à nova estagiária. Ao

Page 11: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

11

entrar na sala infantil, ele já foi apresentando o ambiente à terapeuta. Ao receber o

convite para brincar, Marcos aceitou de imediato, e iniciou a contar histórias de zumbis

e monstros e propor uma brincadeira dizendo que existia o “Marcos do bem” e o “do

mal”. Em um dia, o do mal matava o do bem, a terapeuta foi convocada a sessão inteira

rastejando pelo chão com as mãos em forma de oração, implorando para um “Deus” que

permitisse que ela tivesse o poder de ressuscitá-lo e, para isto, era solicitada a justificar

sua tentativa de resgate, alegando que ele era uma criança tão legal, que ela gostava

muito de brincar com ele, etc. Enquanto a terapeuta implorava pela ressurreição de

“Marcos do bem”, ele pegou as massinhas de modelar e começou a brincar, mas sem

parar de dar os comandos de como ela deveria agir. Porém, todas as suas tentativas em

salvá-lo eram frustradas. Marcos sorria muito de toda a cena, contudo, no final da

sessão, ele disse que estava abrindo um portal no céu e que se acaso a terapeuta entrasse

lá, ela conseguiria salvá-lo, foi o que fez, sempre repetindo que ele era muito importante

para ela e do quanto sentia vontade de ajuda-lo. Desta forma, conseguiu ressuscitar

Marcos. Após o resgate, um pouco antes do final da sessão, ele deu à terapeuta um

coração feito de massinha de modelar cor-de-rosa, abraçando-a fortemente.

Desde o início dos atendimentos, mãe e filho, sempre chegavam para o

atendimento, uns vinte minutos antes do horário combinado, situação em que a e mãe

não controlava os comportamentos da criança na sala de espera. A terapeuta por sua

vez, se sentia “responsável” por fazê-lo e o fazia, ao ponto de ficar sentada na sala de

espera com ele aguardando por seu horário, tendo em vista que a sala se encontrava

ocupada.

Já por volta do final do primeiro semestre, a estagiária sugeriu à mãe que

procurasse por atendimento em uma escola especializada para crianças com autismo da

cidade explicando a ela que existia um sistema de bolsa e que ela poderia se inscrever,

pois entendia que Marcos iria se adaptar bem nesta escola, por trabalharem com uma

equipe multifuncional e com grupos para as crianças e familiares, que atenderia a

demanda de ambos. Diante das dificuldades observadas na mãe para seguir a indicação

terapêutica, a própria estagiária procurou todas as informações, sobre como ingressar na

escola, conversou com uma das professoras que trabalhava no local e entregou tudo

pronto à mãe, inclusive com o contato desta professora. Ainda assim, a mãe recorria a

ela comunicando que ninguém havia entrado em contato com ela, solicitando que a

Page 12: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

12

estagiária realizasse novas tentativas de ingresso da criança na tal escola. Em uma

situação anterior, ocorreu um fato semelhante, quando a terapeuta foi pessoalmente até

uma escola de dança, onde também forneciam bolsa para crianças de baixa renda, e

conseguiu uma vaga para Marcos por acreditar que seria importante para a criança. A

mãe levou o menino por algum tempo e logo desistiu.

No início do segundo semestre, houve uma sessão em que o paciente chegou

bastante agitado, entrou na sala e jogou tudo no chão, pegou os bonecos da casinha

terapêutica e jogou-os juntamente com os demais. Começou a fazer uma encenação com

os bonecos, dizendo algumas palavras que demonstravam que a criança estava bastante

sexualizada, e ao repetir diversas vezes tais palavras, sorria muito. Perguntou então à

terapeuta se ela gostaria que ele lhe contasse um filme que assistiu, ela respondeu que

sim e ele tentou demonstrar algo com os bonecos, mas não conseguiu realizar o que

desejava. Então, se levantou e foi para o quadro desenhar. Desenhou uma cena que

remetia ao ato sexual e, enquanto desenhava, ria e dizia palavras que demonstravam sua

angústia e incômodo com o que parecia ter presenciado. Quando questionado sobre o tal

filme, ficou bastante desorganizado, dizendo que havia assistido tudo dentro de sua

cabeça.

Após essa sessão, ao ser questionada sobre onde o filho dormia, a mãe relatou

que Marcos dormia com ela e que nos dias em que o pai os visitava, ele colocava seu

colchão aos pés da cama de casal para dormir, enquanto Marcos dormia na cama

juntamente com a mãe. Ao ser questionada sobre os momentos de intimidade do casal,

ela conta que descia para o colchão junto ao marido depois que Marcos dormia e que

desta forma, ele não via nada, que tinha o sono profundo por causa da medicação. Então

foi explicado para ela sobre a importância de seu filho passar a dormir em seu próprio

quarto, tendo em vista que a criança tinha um quarto na casa, e para preservá-lo de

possíveis exposições à intimidade do casal. A mesma demonstrou certa resistência com

tal fato e, porém, após algumas semanas, acabou aceitando a modificação proposta.

Outra situação bastante intensa, ocorrida ao longo dos atendimentos aconteceu

por volta da metade do segundo semestre, quando Marcos chegou para o atendimento

bastante agitado, demonstrando isto já na recepção, onde solicitava a presença de sua

terapeuta para aguardarem juntos por seu horário. Ao entrar na sala de atendimento, ele

Page 13: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

13

ainda muito agitado, caminhava de um lado para o outro da sala repetindo sem parar

palavras que remetiam à terapeuta a ideia de que havia acontecido algo em sua família

que o deixava muito confuso e desorganizado. As tentativas de acalmá-lo eram

frustradas, com isto, a terapeuta decidiu respeitar sua reação, oferecendo um

acolhimento/holding para seu sofrimento permitindo assim, que ele expressasse o que

estava sentindo naquele momento. Após algum tempo nesta agonia, ele abriu a casinha

terapêutica e começou a derrubar todos os móveis para fora, repetindo as mesmas

palavras de quando entrou na sala, a terapeuta então se aproximou dele e perguntou se

poderia ajuda-lo de alguma forma e ele bastante alterado rejeitou sua ajuda. A estagiária

relata ter sentido uma agonia muito grande e uma sensação de impotência, porém,

continuou respeitando sua necessidade de extravasar todo aquele sofrimento. Isto durou

aproximadamente uns 20 minutos, até que ele se acalmou e sentou-se no tapete. A

terapeuta sentou-se ao seu lado, perguntando se havia acontecido algo e se ele gostaria

de conversar sobre o que havia acontecido. Ele olhou para ela muito triste e disse que

estava cansado, que gostaria de ir embora. E ela então, responde que tudo bem, porém,

ele não se movimentou para ir, deitando-se no tapete. A estagiária, sem saber ao certo o

que fazer diante daquela criança arrasada deitada no chão, coloca-se ao seu lado em

silêncio. Ele então, sem olhar para ela, estendeu sua mão e a encostou na mão da

estagiária e assim eles permaneceram por 10 minutos no mais profundo silêncio. Depois

disto, ele levantou-se e convidou a terapeuta para arrumarem a sala dizendo que queria

ir embora, já bem mais calmo.

Enquanto ele foi ao banheiro, a mãe se aproximou da porta e a terapeuta então

solicitou uma sessão com ela para tentar compreender o que havia acontecido naquela

sessão. Foi quando a mãe relata que precisava mesmo uma sessão extra porque ela havia

se separado de seu marido, no mesmo dia, ocorreu o mesmo com sua mãe e seu

padrasto. Todos no mesmo dia e por meio de muitas agressões verbais, e muitas

ameaças de agressões físicas. Em conversa com a mãe, já na sessão extra, ela descreve

as cenas bastante intensas da briga em família, dizendo que havia marcado uma consulta

com o neuropediatra de Marcos porque ele estava muito agitado desde o ocorrido e ela

achava que precisava aumentar a dosagem do remédio. Quando perguntado a ela onde o

filho estava na hora do acontecido, ela respondeu que ele não havia visto nada, pois

estava no quarto. Explicou ainda que ele só saiu quando houve uma tentativa de

agressão física contra ela, que fez o menino correr e gritar em defesa da mesma. A todo

o momento, a terapeuta vai conhecendo melhor a mãe e percebendo o quanto esta

Page 14: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

14

demonstra dificuldade para perceber sozinha a gravidade de situações como esta, e do

quanto influenciam negativamente na saúde mental do filho. A terapeuta, então, tenta

explicar a ela por meio de sua fala que seu filho havia escutado tudo, e perguntando de

que forma isto foi explicado a ele. Para o espanto da terapeuta, a mãe diz que ninguém

falou nada para o menino e que ele foi para a escola normalmente, mas que desde então

ele começou a não querer ficar na escola também.

No final do segundo semestre, em sua última sessão, foi proposto a ele que cada

um desenhasse algo para o outro como recordação. Ele respondeu, para surpresa da

terapeuta que somente ela tinha que desenhar algo para ele, que ele já tinha feito um

coração a ela no primeiro dia. Então ela fez um desenho para ele, que ficou sentado ao

seu lado, observando tudo que ela fazia. Quando terminou o desenho, entregou-lhe, e

ele se abraçou no desenho e depois nela, dizendo que pediria a sua mãe para pendurar

na parede de seu quarto. Quando terminou a sessão, chegou falando alto na recepção e

mostrando o desenho, pedindo à mãe que colasse na parede de seu quarto.

A última vez em que ambos se encontraram, não mais como terapeuta/paciente,

ele ficou muito feliz em revê-la, procurando por ela nos corredores da clínica como

costumava fazer. Em um dia, ocorreu da ex-estagiária sentar com ele no chão do

corredor externo ao local de atendimento para esperar por sua sessão. Nessa ocasião, é

interessante observar que ele deitou-se em sua perna dizendo que gostaria de fazer uma

lavagem cerebral e apagar seu cérebro.

DISCUSSÃO

No decorrer dos atendimentos foi possível perceber que o paciente conseguiu,

com muita dificuldade, compreender e significar alguns de seus conflitos, confirmando

isto por meio de suas brincadeiras, demonstrando uma melhora em seu comportamento

bem como compreendendo a possibilidade de obter ajuda para resolver seus conflitos.

Podendo assim, ressignificar algumas questões, contudo, suas relações familiares eram

bastante conturbadas, o que dificultou bastante seu progresso terapêutico.

Page 15: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

15

Com a construção e análise do caso clínico, percebe-se o quanto houve uma

relação transferencial e contransferencial neste caso, no sentido de a terapeuta assumir

inconscientemente uma demanda de maternagem da criança, por identificação com o

discurso do paciente, reagindo como se a mãe do mesmo não conseguisse suprir suas

demandas. Assim, quando se fala em maternagem no referido caso, observa-se uma

identificação com o que referem Arruda e Andrieto (2009) ao falarem sobre o fato de

que para uma mãe desempenhar adequadamente seu papel faz-se necessário que ela viva

o que foi denominado por Winnicott como preocupação materna primária, situação em

que permite a identificação da mãe com seu bebê, possibilitando desta forma, seu

desenvolvimento. Destacam ainda, quanto à importância da mãe tanto em sua adaptação

à realidade quanto no seu desenvolvimento emocional primitivo, tendo dentre seus

papéis o de proteger e significar gradativamente o mundo que se apresenta à criança,

pois esta necessita de cuidados que propiciem um ambiente satisfatório que atenda suas

necessidades básicas ao longo de seu desenvolvimento.

Desta forma, nas situações em que a mãe demandava da estagiária que assumisse

seu papel diante do filho, exercendo a maternagem, esta sentia-se convocada a fazê-lo.

Lacan (19861, apud FERRARI, 2009) destaca que a criança por vezes, pode estar

manifestando um sintoma da família, que pode corresponder à falta materna, valendo-se

da fantasia para suprir tal falta. Destacando ainda, a importância de se estar atento

quanto a isto, pois a criança ao utilizar tal recurso, poderá estar adentrando no campo da

psicose, que se faz necessário em tal situação reavaliar o sintoma.

Estas convocações ficam evidenciadas por meio de relatos dos episódios em que

a estagiária sentiu-se convocada a buscar ela mesma inserir seu paciente em outras

instituições por entender que seriam importantes para o desenvolvimento da criança.

Porém, evidencia-se o fato de que a mesma ultrapassou seu papel enquanto terapeuta, ao

passo que ao invés de sugerir à mãe que o fizesse auxiliando na compreensão da

importância disto para o tratamento do filho, assumiu para si tal responsabilidade.

Winnicott, ao falar sobre pacientes com limitações introjetivas ou projetivas,

reforça quanto às dificuldades que surgem ao terapeuta, destacando a necessidade de

atuação deste, bem como dos fenômenos transferenciais que dispõem de apoio

instintual. O autor destaca que:

“Em casos assim, a principal esperança do terapeuta é ampliar o campo de

1 LACAN, J. Deux notes sur l’enfant. Ornicar, n.37, p. 13-14, 1986.

Page 16: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

16

ação com respeito às identificações cruzadas, e isso surge não tanto pelo

trabalho de interpretação quanto através de certas experiências específicas

que ocorrem nas sessões analíticas. Para chegar a estas experiências, o

terapeuta tem de levar em consideração um fator temporal e não se podem

esperar resultados de tipo instantâneo. As interpretações, por precisas e

oportunas que sejam, não podem conceder a resposta completa.

(WINNICOTT, 1975, p. 188)

Marcos era uma criança com muitas dificuldades de relacionamento e

comportamentos, porém, tais questões estariam diretamente ligadas às dificuldades da

mãe, em não conseguir dar sentindo, nem significar situações do cotidiano ao filho,

dificultando muito sua inserção no mundo da linguagem. Tais dificuldades sempre

existiram, atrapalhando sua compreensão da realidade, em discernir entre seu mundo

interno e externo, sua própria subjetividade, assim como o descrito por Freud:

Imaginemo-nos na situação de um organismo vivo quase inteiramente

inerme, até então sem orientação do mundo no mundo, que esteja recebendo

estímulos em sua substância nervosa. Esse organismo estará muito em breve

em condições de fazer uma primeira distinção e uma primeira orientação. Por

um lado, estará cônscio que podem ser evitados pela ação muscular (fuga);

estes, ele os atribuiu a um mundo externo. Por outro, também estará cônscio

de estímulos contra os quais tal ação não tem qualquer valia e cujo caráter de

constante pressão persiste apesar dela; esses estímulos são os sinais de um

mundo interno, a prova de necessidades instintuais. A substância percentual

do organismo vivo terá encontrado, na eficácia de sua atividade muscular,

uma base para distinguir entre um “de fora” e um “de dentro” (FREUD,

1915, p.139)

Dolto (1999) destaca quanto à importância de sabermos que a criança não tem o

conhecimento de que é uma criança, afirmando que esta criança é um reflexo de quem é

interlocutora. Tal fato, também foi destacado por Lacan, ao falar que é por referência do

outro que o sujeito se constitui como Eu, que “revela-se para nós, como um

conseguinte, como um caso particular da função da imago, que é estabelecer uma

relação do organismo com sua realidade” (LACAN, 1998, p.100). O autor destaca ainda

que “este momento em que se conclui o estádio do espelho inaugura, pela identificação

com a imago do semelhante e pelo drama do ciúme primordial [...], a dialética que

desde então liga o [eu] a situações socialmente elaboradas” (LACAN, 1998, p.101).

E nesse sentido, as dificuldades da criança evidenciam-se já no primeiro

encontro, onde a relação transferencial teve seu início, ao passo que Marcos demandou

muita entrega por parte da terapeuta, parecendo testá-la com a intenção de certificar-se

que a mesma realmente estava disposta a ajuda-lo em suas questões. Zavaschi et al., ao

falarem sobre o desempenho do terapeuta ao longo dos atendimentos, destacam quanto

Page 17: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

17

a importância deste ser regulado pela própria criança, fazendo-se necessário a alguns

terapeutas certa “regressão a serviço do ego”, vencendo desta forma algumas inibições

pertencentes ao mundo adulto. Assim como Aberastury (1982) fala sobre o temor da

criança em repetir sua relação com o objeto originário, do medo projetado no terapeuta,

esperando uma conduta negativa deste, como a de seus pais e o ataca. A autora refere

ainda que: “Este objeto originário em seus aspectos amados – nos aspectos em que

satisfez suas necessidades – confere ao terapeuta os atributos necessários para curá-lo”

(ABERASTURY, 1982, p.112). Isto se evidencia quando, ao final da sessão, Marcos

entrega a estagiária um coração feito de massinha de modelar, parecendo desta forma,

autorizar a entrada em seu mundo.

Dolto et al. (19882 apud SOLER; BERNARDINO, 2012), aponta que, durante a

relação terapêutica, a situação da transferência se transforma em um personagem e

durante os atendimentos, pela facilidade com que as crianças fornecem seus conteúdos

de sonhos, bem como seus segredos e faltas, é por meio da relação de confiança

estabelecida ao longo do processo terapêutico, que esta se torna a base do tratamento.

Refere ainda que por intermédio da transferência o terapeuta pode observar os

mecanismos inconscientes do sujeito bem como seu comportamento diante do mesmo,

participando do que o paciente vive em relação ao outro.

Fuhr e Laurindo (2015) destacam também, que se constitui como papel do

terapeuta compreender a dimensão da transferência e manejá-la, possibilitando desta

forma, o processo terapêutico. Já Aberastury (1982) alerta quanto à importância da

dupla fonte de transferência (amor e ódio), do quanto o terapeuta precisa compreender

que se deve interpretá-la desde o primeiro momento, contudo, estar atento, pois, tais

aspectos permanecem ao longo dos atendimentos e que esta interpretação quanto ao seu

significado deverá ser reavaliada quantas vezes se fizerem necessária durante o

tratamento.

Assim, por meio do relato deste caso, observaram-se as dificuldades relacionais

existentes entre mãe e filho, além da desorganização familiar, fato que demonstrou ter

influenciado diretamente na construção da identidade do paciente e em sua constituição

psíquica. Silva (2015) refere que sem a fala do outro, as percepções da criança são

direcionadas apenas ao seu próprio corpo, chamando a atenção ainda, para a

importância da interação familiar durante o processo de subjetivação para que se tenha a

2 Dolto, F. (1988). Psicanálise e pediatria (A. Cabral, trad., 4a ed.). Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan.

(Trabalho original publicado em 1971)

Page 18: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

18

compreensão do sujeito, fazendo-se necessária a compreensão da relação mãe-filho e

pai-filho.

No caso de Marcos, esta interação parece ter ocorrido com falhas significativas

nas funções materna e paterna. A mãe de Marcos somente fornecia a ele cuidados

básicos, não conseguia significar e nomear nada para esta criança, dificultando sua

inserção no campo da linguagem e da comunicação. Segundo Jardim (2001) cabe à

função materna, fundamentalmente, transmitir o desejo de existência, de pertencimento

a uma história da qual tem início antes mesmo de seu nascimento, quando a mãe, ao

pensar em um nome para seu bebê; ao imaginar a aparência dele; ao organizar o enxoval

de seu bebê e etc., estará fazendo função materna. Assim como quando consegue supor

que no corpinho daquele bebê que nasceu está uma subjetividade diferente da sua,

porém, totalmente ligada a sua própria subjetividade. No caso relatado aqui, isto foge

completamente à capacidade da mãe em compreender a subjetividade do filho, tendo em

vista as dificuldades que enfrentava para compreender sua própria subjetividade, não

conseguindo desta forma exercer adequadamente a função materna conforme a

descrição feita por Jardim (2001).

Quanto à falha na função paterna, percebem-se dificuldades relacionais entre pai

e filho. O pai fazia visitas esporádicas e demonstrava pouco interesse pela criança,

dedicava pouco investimento afetivo e, assim como a mãe, praticava somente os

cuidados básicos relativos ao cotidiano do filho. O pai não conseguia nem mesmo

referir-se a criança como filho ou chama-lo pelo próprio nome, referia-se a ele como “o

guri”. Ao falar sobre os comportamentos inadequados do filho, não se responsabilizava

ou se implicava na situação, ao contrário, culpava a mãe por sua incapacidade em

estabelecer limites. Sobre isso, Dolto propõe que:

O pai e a mãe, criticando mutuamente o comportamento um do outro na

frente do filho, desencadeiam sua culpabilidade recíproca. Essa provoca , por

sua vez, em certas etapas do desenvolvimento da criança, a culpabilidade

desta com relação ao seu crescimento e a seu sexo, induzida pelo

comportamento tornado aberrante de seus modelos adultos e essenciais.

(DOLTO, 2013, p.11)

O pai desta criança acaba, por meio de sua indiferença relacionada ao filho,

negligenciando a ele a entrada da lei, pois, conforme refere Jardim (2001), a função

paterna, tem a missão de, entre outras coisas, barrar e mediar à relação desejante

constituída entre a mãe e seu bebê. Assim, tal função traz consigo a possibilidade de

registro simbólico da lei e da lei da castração. Esta operação psíquica é o que permite

Page 19: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

19

ao filho a constituição psíquica inserida na realidade, na linguagem e nas convenções

sociais e culturais nas que estará inserido. A autora afirma ainda que “Podemos partir da

premissa de que uma criança fala e se representa no que diz quando ocupou lugar no

desejo materno e foi devidamente arrancada daí pela lei paterna” (JARDIM, 2001, p.

01).

Na sessão em que Marcos chega ansioso, querendo contar sobre o tal filme que

disse ter assistido em sua cabeça, parece ter tentado demonstrar sua angústia de várias

maneiras, com os brinquedos, por meio da fala, até encontrar no desenho a maneira de

expressar o que estava sentindo naquele momento, repetindo incessantemente palavras

que desqualificavam o tal filme, bem como a personagem feminina, rindo bastante ao

falar tais palavras. Desenhou então, algo que remete a uma cena de ato sexual. Segundo

Aberastury (1996), o brinquedo e o desenho servem como uma linguagem pré-verbal,

que constitui a comunicação da criança, fazendo alusão ao lugar que ocupa a palavra no

tratamento psicanalítico de adultos. A autora refere ainda que, para interpretar o

conteúdo dos atendimentos, faz-se necessário observar a maneira como a criança brinca,

com o que brinca, como se expressa e quais palavras que diz durante as brincadeiras.

Além dos detalhes do brincar, é importante observar a relação estabelecida com o

terapeuta, suas reações, etc., entendendo que se deve considerar todo o contexto dos

atendimentos.

Ao interpretar o desenho, foram considerados, tanto os relatos da mãe quanto à

intimidade do casal, bem como a resistência da mãe em permitir que o filho dormisse

em seu próprio quarto. Após este episódio, passaram a se realizar atendimentos

quinzenais com a mãe tendo em vista suas dificuldades em manejar certos cuidados

relacionadas à saúde mental do filho. Segundo Dolto (1988), apud Soler e Bernardino

2012, a criança adoece do inconsciente dos pais, por isso, a autora diz não trabalhar

isoladamente com a criança, sua interrogação inicial é relativa à dinâmica familiar, pois

por vezes, nada pode ser feito enquanto a criança é tomada como objeto por um ou

outro dos pais. Isso ficou evidenciado por meio da resistência da mãe em separar-se do

filho, aumentando desta forma as dificuldades da criança. Wiles e Ferrari destacam que:

[...] Uma das formas mais graves dessas patologias –as piscoses- forma-se

por uma série de manifestações sintomáticas que surgem especialmente em

defesa de um Outro excessivo, intrusivo, que tem um poder totalizante sobre

a criança, mantendo-a na posição de objeto de gozo. Ela estaria assim,

inserida nesse Outro, sem uma separação possível, sendo obrigada a ocupar

um lugar de prolongamento. Entretanto, é fundamental salientar que

Page 20: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

20

compreendemos as estruturas na infância como não decididas, uma vez que a

infância é um tempo de abertura e confirmação de novas inscrições. (WILES;

FERRARI, 2015, p.108)

Desta forma, as sessões com a mãe passaram a surtir efeito positivo, pois ao

serem trabalhadas algumas questões com ela, a criança demonstrava sinais em suas

brincadeiras de que as intervenções com a mãe estavam funcionando. Isso foi observado

quando, por exemplo, a mãe conseguiu coloca-lo para dormir em seu quarto. Tal fato

refletiu-se em suas brincadeiras em sessão, passou a separar-se física e simbolicamente

da terapeuta durante suas brincadeiras, como por exemplo, quando ao brincar sugeriu

que ambos criassem uma empresa fictícia, em que no início fazia-se necessário que as

empresas fossem criadas conjuntamente, inclusive o nome desta era uma fusão dos

nomes da estagiária e de Marcos. Aos poucos a brincadeira se modificou. Ao passo que

a mãe foi conseguindo separar-se do filho em casa, ele passou a solicitar isto em terapia

também, rompendo com a sociedade na empresa fictícia e separando inclusive os

espaços físicos dentro da sala de atendimento, bem como sugerindo que cada um

escolhesse um nome para sua empresa. Tais situações se confirmam com o descrito por

Wiles e Ferrari (2015), ao referirem que na operação de alienação da relação com o

Outro, a criança, não está somente alienada ao desejo deste, mas sim, consentindo que

este Outro lhe imprima significantes para que seja inserido deste modo, no campo da

linguagem e do simbólico. Destacando que, ao ser desejado e ter impresso tais

significados o sujeito se constitui, e que é por meio da alternância entre presenças e

ausências deste outro, que a criança prepara-se para a separação, bem como a inserção

da função paterna.

Apesar de alguns avanços, a desorganização familiar continuava refletindo em

suas brincadeiras, como exemplificado na sessão em que chegou bastante ansioso e

agitado, demonstrando claramente que algo havia ocorrido em sua família, não

conseguindo verbalizar o que sentia e expressando-se primeiramente pela via do corpo e

em seguida pelo silêncio, demonstrando assim, seu sofrimento. A reação de comoção

despertada na estagiária pode ser compreendida como parte do processo analítico

manifestado por meio da contratransferência ao sentir-se novamente convocada a

assumir a maternagem do paciente. Zimmerman (2008), ao falar sobre o manejo clínico

frente a tais angústias, relata que além de acolher o sofrimento da criança, o terapeuta

deve dar sentido, significado e nome às experiências emocionais manifestadas de forma

lúdica ou comportamental, por meio de uma linguagem que a criança consiga

Page 21: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

21

compreender. Porém, Winnicott (2000), ao falar sobre a diferenciação entre desejo e

necessidade de um paciente regredido escreveu:

É correto falar dos desejos do paciente, por exemplo o desejo de ficar quieto.

Com o paciente regredido, porém, o termo desejo revela-se inadequado. Em

seu lugar usamos a palavra necessidade. Se um paciente regredido precisa do

silêncio, nada se poderá fazer se este não for conseguido. Quando a

necessidade não é satisfeita a consequência não é a raiva, mas uma

reprodução da situação original de falha que interrompeu o processo de

crescimento do eu. A capacidade do indivíduo de „desejar‟ sofreu uma

interferência, e testemunhamos então o ressurgimento da causa original do

sentimento de inutilidade. (WINNICOTT, 2000, p.385)

Deste modo, pode-se pensar que naquele momento a intervenção realizada de

acolher seu sofrimento por meio do silêncio foi adequada, visto que respeitou sua

necessidade em momento de regressão psíquica temporária. Kahtuni (2005) ao ponderar

sobre o manejo do setting, fala do cuidado que o terapeuta deve ter em adaptar-se às

necessidades do paciente, da elasticidade da abstinência, mais do que das intervenções

interpretativas, destacando que nestes casos, “a precisão do paciente aqui é de um

terapeuta sensível, empático e verdadeiro, capaz de utilizar sua função de holding”

(KAHTUNI, 2005, p.01). Destacando ainda, que o terapeuta ao adaptar o consultório às

suscetibilidades do paciente, estaria comunicando-se com a criança por meio da

linguagem não-verbal, compreendendo desta forma seu silencio e estabelecendo um

setting de confiança.

Contudo, a partir deste momento, houve um movimento da terapeuta de realizar

intervenções de holding muito frequentemente, o que hoje com a análise do caso clínico

pode ser compreendido como um aceite inconsciente do lugar ofertado pela mãe devido

às suas dificuldades relacionais e emocionais com o filho. Kahtuni (2005) destaca que

na relação terapeuta/paciente é necessário ser sensível e estar atento às necessidades do

paciente, valorizando e legitimando suas características positivas, assumindo assim um

novo modelo de figura materna possibilitando a internalização no lugar daquela que

falhou ou inexistiu em determinados aspectos. Contudo, Dolto destaca que “mesmo que

o terapeuta passe a ocupar, então um lugar essencial na vida da criança, [...] estima que

ele não deve jamais substituir os pais quanto ao papel de educadores que têm no

cotidiano”. (DOLTO, 2013, p.13). Porém, percebe-se neste caso, que o impulso se deu

quanto ao fato de não realizar as intervenções diretamente com Marcos e sim na

tentativa de “ensinar” a mãe como esta deveria agir, aguardando passivamente o

resultado das intervenções realizadas com a mesma aparecerem por meio das

Page 22: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

22

brincadeiras propostas por ele. Contudo, é importante observar quanto à importância de

se refletir sobre o papel do terapeuta no caso, buscando investir psiquicamente no

tratamento enquanto profissional, porém mantendo-se neste lugar e negando-se ao

convite inconsciente de assumir a função materna. Sobre isso, ressalta-se que “o

terapeuta necessita estar em contato com seus próprios aspectos infantis, sem perder a

consciência de seu papel analítico diante do material que a criança apresenta”

(ZAVASCHI et al., 2015, p.737). Os autores afirmam ainda que o terapeuta passa a ser

alvo das projeções bem como dos sentimentos deste, e que não poderia descuidar-se

desta forma às suas próprias respostas afetivas, suas questões internas, bem como de sua

família real. Segundo Dolto (1988 apud SOLER; BERNARDINO, 2012), o objetivo

central da psicoterapia infantil é, através das brincadeiras propostas pela criança,

traduzir por meio de uma linguagem acessível a ela, a sua visão dos efeitos produzidos

pela relação familiar.

Lacan (1988), ao falar sobre a contratransferência, aponta o terapeuta como

alguém não desprezível nos efeitos da terapia, destacando quanto à importância deste.

Segundo ele, faz-se necessário realizar um aprofundamento cada vez maior da mola

inconsciente, relatando ainda que:

[...] trata-se da tentação que se apresenta ao analista de abandonar o

fundamento da fala, justamente em campos em que sua utilização, por

confinar com o inefável, exigiria mais do que nunca seu exame: a saber, a

pedagogia materna, a ajuda samaritana e a mestria/dominação dialética.

Torna-se grande o perigo quando, além disso, ele abandona sua linguagem,

em benefício de linguagem já instituídas e das quais ele conhece pouco as

compensações que elas oferecem à ignorância. (LACAN, 1998, p.244)

Sendo assim, faz-se necessário observar o que dizem Zavaschi et al. (2015) ao

destacarem quanto a importância de a criança poder confrontar-se com suas ações,

mesmo que estas sejam destrutivas. Considerando o setting como sendo o espaço

apropriado para tal confronto, pois este tem por finalidade auxiliar que a criança

expresse seus conflitos livremente. Assim, afirmam que tudo aquilo que ocorre durante

o processo terapêutico servirá para compreender o psiquismo e os afetos da criança que

serão interpretados ao longo dos atendimentos, tendo como fio condutor a relação

transferencial estabelecida.

Dolto, ao falar sobre a seriedade de manter a comunicação ao longo dos

atendimentos, destaca a importância de se falar sobre o sofrimento para que este seja

superado:

Page 23: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

23

[...] quando o sofrimento é falado, as pulões em jogo se abrandam pelo fato

de ter encontrado alguém que escuta. [...] a partir do momento em que se

informa alguém de qual é sua enfermidade, isso lhe permite criar um tesouro

de compensações para continuar sujeito, em vez de ser um indivíduo carnal

cada vez mais objeto dos outros” (DOLTO, 1999, p.85).

Desta forma, Zavaschi et al. (2015) enfatizam quanto ao valor terapêutico que

se dá por meio da comunicação, afirmando que ao ajudar a criança em seu brincar,

possibilita-se um desenvolvimento não por desvelar o significado, mas sim por auxiliar

a criança na construção de seus próprios significados.

Assim apesar de ter obtido resultados positivos em relação aos atendimentos

com Marcos, ao construir e analisar este caso clínico, questionamentos acerca do

manejo adotado são construídos no sentido de compreendê-lo mais a fundo. Como todo

e qualquer tratamento psicanalítico está sujeito, observou-se que aspectos inconscientes

da terapeuta estavam presentes na condução do caso. Como destaca Freud, ao falar

sobre as questões do ego:

Deparamos com algo no próprio ego que é também inconsciente, que se

comporta exatamente como o reprimido – isto é, que produz efeitos

poderosos sem ele próprio ser consciente e que exige um trabalho especial

antes de poder ser tornado consciente. (FREUD, 1923, p. 30)

Esta intervenção baseada no inconsciente do terapeuta poderá estar a favor do

tratamento ou contra ele no sentido de que muitas vezes, com ele, se atende a demanda

do paciente, porém não a sua necessidade. No caso de Marcos, pode-se pensar que

ambos ocorreram, pois foram colhidos muitos benefícios como toda a modificação de

sua forma de simbolizar suas vivências por meio do brincar, aproximando-se deste

modo, do simbólico. Contudo, nos momentos em que a terapeuta assumia um papel

mais materno, pode ter contribuído para o desejo da mãe de mantê-lo como objeto

desejante desta. Como descreve Dolto (1999), há que se ter muito cuidado ao satisfazer

um desejo da mãe para que não se caia na armadilha de reforçar um pensamento de que,

agindo de determinada maneira, esta continue “sentindo-se útil para alguma coisa” por

meio do filho. Por isso, salienta-se a importância de se ter o cuidado em satisfazer as

“necessidades”, porém, nem sempre os desejos do paciente em tratamento analítico.

Quanto à situação descrita após o termino dos atendimentos em que se

encontraram no corredor da clínica situação em que a criança deitou-se na perna da ex-

estagiária, a mesma sentiu-se novamente convocada a exercer a maternagem. Isso se

observa pela reação desta, porém, ao decidir afastar-se da criança, parece ter refletido

Page 24: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

24

sobre as reações contratransferenciais que persistiam mesmo após o encerramento do

tratamento, percebendo que esta relação havia deixado de ser terapeuta/paciente,

passando a ser sim, materno/filial, caracterizada pela necessidade de afeto e

compreensão, nutrida por uma interpretação de que a mãe não o fazia e nem o poderia

fazer. Fazendo com que sentisse muita dificuldade em despedir-se da criança e que por

algum tempo ainda demandou preocupação desejando saber por quem a criança seria

atendida no semestre seguinte. Assim, com esse trabalho, ao refletir sobre esse

desfecho, observa-se a riqueza e a intensidade dessa experiência para a estagiária autora

deste trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As dificuldades na condução deste relato foram muitas, pois foram encontradas

identificações e reações contratransferenciais causando surpresas que foram possíveis

de serem observadas, provavelmente, devido ao afastamento que ocorreu entre os

atendimentos e a produção deste estudo, proporcionando maior clareza ao analisar o

caso. Tornando possível a compreensão de o quanto se faz necessário estar atento aos

movimentos transferenciais e contratransferenciais envolvidos ao longo de todo o

processo terapêutico para não permitir a atuação deste inconsciente de forma

contraproducente ao tratamento.

Contudo, apesar de alguns tropeços, que fazem parte do aprendizado ao qual era

a proposta dos atendimentos, percebe-se que o paciente conseguiu obter benefícios por

meio do tratamento analítico, por meio do qual utilizava o brincar como um uma forma

de linguagem com o intuito de comunicar-se, tendo em vista sua enorme dificuldade em

nomear e significar suas vivencias ao longo de seu desenvolvimento. Assim, conforme

destaca Lacan, “falar da perda do sentido na ação analítica é tão inócuo quanto explicar

o sintoma por seu sentido, enquanto esse sentido não é reconhecido”. (LACAN, 1998,

p.246). Deste modo, pode-se entender que este caso proporcionou benefícios não

somente a criança em atendimento, mas também para a autora deste trabalho, pois

depois de algum tempo e muito estudo, agregou conhecimento teórico aliado à

experiência para suas futuras vivencias clínicas.

Page 25: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

25

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, A. Psicanálise da Criança – Teoria e técnica. Porto Alegre: Artmed,

1982.

__________. Abordagens a psicanálise de crianças. Porto Alegre: Artmed, 1996.

ARRUDA, S. L. S.; ANDRIETO, E. Mães psicóticas e seus bebês: uma leitura

Winnicottiana. Arquivos Brasileiros de Psicologia. vol. 61, n. 3, 2009, pp. 99-106. Rio

de Janeiro,Brasil.

BASSOLS, A. M. S. et al. O brincar na psicoterapia de orientação psicanalítica e alguns

dos seus fundamentos teóricos básicos. Revista Brasileira de Psicoterapia. 2009;

11(2) 182-195.

DOLTO, F. Tudo é linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

__________. Seminário de psicanálise de crianças. São Paulo: Editora WMF Martins

Fontes, 2013.

FERRARI, A. G. O lugar dos pais na clínica psicanalítica com crianças: breve percurso

histórico. Escola de Estudos Psicanalíticos. Agosto, 2009. Brasil

FREUD, S. (1915-1916) Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise (parte III),

Conferência XXIII: Os caminhos da formação dos sintomas. Volume XVI. Rio de

Janeiro: Imago.

_________. (1920). Além do princípio do prazer. Edição Standard Brasileira. Volume

XVIII. Rio de Janeiro: Imago.

__________. (1923) O ego e o id e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira.

Volume XIX. Rio de Janeiro: Imago.

FUHR, K. J.; LAURINDO, M. C. A demanda na psicanálise com crianças. Rosa,

M.I.P.D. (org) 1º Simpósio de Psicologia, v.1, nº1, 2015. Curitiba: Editora Champagnat.

Page 26: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

26

IRIBARRY, N. I.. O que é pesquisa psicanalítica. Ágora: Estudos em Teoria

Psicanalítica, 2003, 6(1), Rio de Janeiro.

JARDIM, G. Psicoses e autismo na infância: impasses na constituição do sujeito.

Estilos da Clínica. Vol.6 nº10. São Paulo. 2001.

JARDIM, L.; HERNÁNDES M. D. C. R. Pesquisa Psicanalítica na Universidade.

Estudos de Psicologia (Campinas), 2010, 27(4), 529-536.

KAHTUNI, H. C. O terapeuta/mãe, o paciente/bebê e os cuidados requeridos. Psyche.

São Paulo, v.9 n.16, dez. 2005.

LACAN, J. Escritos / Jaques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

PAPALIA, D. E. Desenvolvimento Humano. Ed: 10ª. Porto Alegre: AMGH, 2010.

SILVA, E. Z. P. A constituição do Sujeito. Psicologia. pt, 2015. Disponível em:

http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1023.pdf. Acesso em: 01 jun. 2017.

SILVA, C. M.; MACEDO, M. M. K. O método Psicanalítico de Pesquisa e a

Potencialidade dos Fatos Clínicos. Psicologia: Ciência e Profissão, 2016, 36(3), 520-

533.

SOLER, V. T.; BERNARDINO, L. M. F. A prática psicanalítica de Françoise Dolto a

partir de seus casos clínicos. Estilos clin. vol. 17, nº 2, São Paulo, dez. 2012.

WILES, J. M.; FERRARI, A. G. Clínica dos bastidores: o trabalho com os pais na

clínica psicanalítica com crianças. Psicologia Clínica: v.27, núm. 2, 2015, pp. 103-119.

Rio de Janeiro, Brasil.

WINNICOTT, D.W. Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2000.

__________. O brincar & a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Page 27: CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CARLA ......Carla Fabiana Silva da Silva¹ Lívia Padília de Teixeira² fabi.carla37@gmail.com RESUMO O presente artigo trata-se de um relato de

27

ZAVASCHI, M. L. S. ... [et al.]. Abordagem Psicodinâmica na Infância. In: EIZIRIK,

C. L.; AGUIAR, R. W. de; SCHESTATSKY, S. S. Psicoterapia de orientação

analítica. Ed. Artmed, Porto Alegre: 3° ed. 2015.

ZIMMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica [recurso eletrônico]: uma re-

visão. Porto Alegre: Artmed, 2008.