curso de extensão em comunicação eletrônica de massa · ... no brasil, do cinema ... anos...

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Universidade de Brasília Grupo Interdisciplinar Comunicação-Direito-Economia-Engenharia Curso de Extensão em Comunicação Eletrônica de Massa Coordenador: Prof. Márcio Iorio Aranha Esta apostila é parte integrante do Curso de Extensão em Comunicação Eletrônica de Massa produto de esforço conjunto da Faculdade de Comunicação, da Faculdade de Direito, do Departamento de Economia e da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. O curso consiste de 40 horas de aulas ministradas pelas áreas de comunicação, direito, economia e engenharia da UnB e voltado a fornecer uma visão interdisciplinar focada nos serviços de Comunicação Eletrônica de Massa. As normas internas da Universidade de Brasília exigem presença mínima em 75% das aulas de cada disciplina do curso. A avaliação do alunado será efetivada mediante prova escrita individual implementada a distância, mediante envio das questões para os inscritos com prazo adequado para envio das respostas, contendo questões das quatro áreas de conhecimento integrantes do curso. Para aprovação no curso, é indispensável que o partícipe alcance a nota mínima 5.0, correspondente, no sistema de menções da Universidade de Brasília, à menção MM.

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Universidade de Brasília Grupo Interdisciplinar Comunicação-Direito-Economia-Engenharia Curso de Extensão em Comunicação Eletrônica de Massa Coordenador: Prof. Márcio Iorio Aranha

Esta apostila é parte integrante do Curso de Extensão em Comunicação

Eletrônica de Massa produto de esforço conjunto da Faculdade de Comunicação, da

Faculdade de Direito, do Departamento de Economia e da Faculdade de Tecnologia da

Universidade de Brasília.

O curso consiste de 40 horas de aulas ministradas pelas áreas de

comunicação, direito, economia e engenharia da UnB e voltado a fornecer uma visão

interdisciplinar focada nos serviços de Comunicação Eletrônica de Massa.

As normas internas da Universidade de Brasília exigem presença mínima

em 75% das aulas de cada disciplina do curso.

A avaliação do alunado será efetivada mediante prova escrita individual

implementada a distância, mediante envio das questões para os inscritos com prazo

adequado para envio das respostas, contendo questões das quatro áreas de conhecimento

integrantes do curso. Para aprovação no curso, é indispensável que o partícipe alcance a

nota mínima 5.0, correspondente, no sistema de menções da Universidade de Brasília, à

menção MM.

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Universidade de Brasília Faculdade de Comunicação Grupo de Pesquisa em Políticas e Tecnologias de Comunicação

Crítica do ambiente regulatório da comunicação audiovisual brasileira:

fragmentação política e dispersão normativa

Murilo César Ramos 1. Introdução No começo foi o cinema, forma audiovisual de comunicação em movimento que veio

após a forma estática, ainda que igualmente fascinante, da fotografia. Depois, veio o rádio, forma auditiva de comunicação, também capaz, como o cinema, de levar informação e entretenimento a milhões de pessoas, localmente e a grandes distâncias. Enfim, veio a televisão, forma audiovisual de comunicação, que era um tanto cinema e um tanto rádio, porque, como esta e a contrário daquela, podia ser fruída no aconchego das próprias casas. A uni-las, ao longo de décadas, desde sua emergência, como cinema, no final do século XIX, a esperança civilizatória da educação como o processo emancipatório mais fundamental para o ser humano.

Fernando de Azevedo, em sua obra clássica A Cultura Brasileira, escreveu que "entre

os principais elementos de difusão e de conservação da cultura, os que mais concorreram nestes últimos anos, no Brasil, foram incontestavelmente cinema e o rádio, que exercem por toda parte profundas influências no sistema de relações humanas." E acrescentou: "De todas as invenções do espírito científico, o cinema e o rádio não são apenas mais belas, as mais carregadas de espírito poético e as que abrem novos horizontes à arte e ao pensamento. Poderosos instrumentos educativos e culturais, de informação, de propaganda e de ensino, fatores de educação popular, de primeira ordem, pelo seu extraordinário poder de sugestão, desempenham um papel tão importante que a sua influência não só se pode comparar, mas já se considera superior à do jornal diário, sobretudo em países onde são ainda numerosos os iletrados"1.

Ninguém mais do que Edgard Roquette-Pinto foi pioneiro, no Brasil, do cinema e do

rádio, ou radiocultura, como o queria Fernando de Azevedo, educativos. Sua iniciativa mais lembrada nos dias de hoje foi a criação, junto com Henrique Morize, na então Capital da República, em 1923, da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Mas, já tinha sido do mesmo Roquette-Pinto a iniciativa, anos antes, de utilizar o cinema no ensino e na pesquisa quando, em 1912, o Museu Nacional incorporou à sua recém-criada filmoteca com as películas feito por ele, no Norte do país, com os índios Nhambiquaras, enquanto acompanhava as expedições

1 Fernando de Azevedo, A Cultura Brasileira - introdução ao estudo da cultura no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 4ª edição, revista e ampliada, 1963, p. 700.

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geográficas, botânicas, zoológicas e etnográficas de Cândido Rondon, delas tornando-se figura intelectual proeminente.

2. Hipótese Roquette-Pinto, uma das mais expressivas figuras intelectuais da história brasileira, é hoje

pouco mais que um nome acoplado à antiga autarquia, depois fundação pública, atual organização social2, controlada pelo Ministério da Educação, que congrega, ao redor da TV Educativa do Rio de Janeiro, um conjunto de emissoras de televisão e rádio, depositárias ultrapassadas das esperanças generosas que um dia se depositou sobre a relação entre comunicação audiovisual e instrução pública.

A Associação de Comunicação e Educação, que leva o nome de Roquette-Pinto, será

tomada como a instituição exemplar da hipótese que se tentará demonstrar neste artigo da fragmentação política e dispersão normativa que caracterizam o atual ambiente regulatório da comunicação audiovisual brasileira3. Fragmentação e dispersão que possibilitam, nos termos daquela hipótese, grande concentração de poder político, econômico e cultural em instituições de mercado, em detrimento do poder normativo e regulatório do Estado e em oposição direta aos anseios de educação, informação e cultural que existem na sociedade. Por fragmentação política entende-se a separação deliberada do poder decisório sobre a comunicação audiovisual entre diferentes instâncias estatais. Por dispersão normativa entende-se a pulverização deliberada dos instrumentos legais que constituem o arcabouço regulamentar da comunicação audiovisual.

No esforço de demonstrar e comprovar essa hipótese, vai-se neste artigo fazer uma

descrição histórica e posterior análise da evolução, desde a década de 20 do século passado ao tempo presente, do ambiente regulatório da comunicação social eletrônica e audiovisual brasileira.

Um ambiente regulatório, como aqui definido, é espaço de disputa de hegemonia, na

forma de um conjunto de instituições de Estado, burocracias de governo, e instâncias da sociedade civil, das quais derivam um elenco de políticas, leis, regulamentos, normas e práticas diversas, destinadas a produzir efeitos determinados sobre a sociedade como um todo, dos indivíduos e suas associações às empresas e grupos empresariais.

2 O ente "organização social" foi introduzido na administração pública brasileira pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), como parte do processo de reforma do Estado, levado a efeito por Luiz Carlos Bresser Pereira, enquanto Ministro da Administração e Reforma do Estado. Assim, a antiga Fundação Roquette-Pinto chama-se hoje Associação de Comunicação e Educação Roquette-Pinto, e é dotada, em tese, via contrato de gestão, de autonomia administrativa e financeira. 3 Emprego o termo comunicação audiovisual para designar a comunicação social eletrônica, enquanto segmento do setor amplo das comunicações, acrescido do segmento cinema. Quanto à comunicação social eletrônica, ela refere-se ao rádio è à televisão, bem como aos novos meios decorrentes da introdução da tecnologia digital de transmissão de sinais, nos termos da Constituição Federal, em seu Capítulo Da Comunicação Social, Artigos 220 a 224.

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Emprega-se também aqui a noção de ambiente no sentido conceitual que lhe é atribuído por Sartori, ao discutir a relação entre teoria e prática4: "O termo prática, como dissemos, tem dois referentes: a praxis, o que estou fazendo, com minha volição-ação; e o já-feito, construído por outrem, que está fora de mim e antes de mim, isto é, o ambiente que resulta da operosidade humana" uma "sedimentação institucionalizada" dessa operosidade. Ambiente tem, pois, nesse sentido importância metodológica fundamental enquanto mecanismo de controle, pois permite ver a teoria não apenas como referencial para uma praxis de mudança, mas também, e principalmente, como um agente que, como já-feito, incide sobre e afeta nossas teorias, atuando como possível elemento de resistência.

3. Histórico O primeiro documento legal de que se tem registro, sobre as comunicações5 brasileiras,

foi o Decreto Imperial nº 2.614, de 21 de julho de 1860, que estabelecia e organizava a exploração dos telégrafos elétricos. Desde então, conforme Martins, “inúmeros instrumentos normativos isolados, entre resoluções federais, decretos, disposições constitucionais e leis, foram instituídos (...) até pelo menos o início da década de 1960, ou seja, por cerca de um século, de maneira desordenada, normalmente para o atendimento de demandas técnicas ou políticas imediatas, ora criando ora revogando regras e princípios, o que dificultou uma organização efetiva tanto na exploração quanto na fiscalização dos serviços, na medida em que eles iam sendo implantados.”6

Em 1928, foi criado o Serviço Nacional de Radiodifusão Educativa, na esteira, como

visto acima, da esperança depositada pelas elites ilustradas nacionais na instrução pública como fator vital de desenvolvimento. Serviço que veio com a reforma do ensino no Distrito Federal, a primeira legislação promulgada no país a tratar do rádio e cinema educativos. O Serviço veio inscrito no Decreto nº 3.281, de 23 de janeiro de 1928, que reformou o ensino no Distrito Federal e foi regulamentado pelo Decreto nº 2.940, de 22 de novembro do mesmo ano. No Título IV, "Do cinema escolar e do rádio", do Decreto nº 3.281, encontravam-se dois artigos e um parágrafo, pelos quais era estabelecido que todas as escolas brasileiras teriam "salas destinadas à instalação de aparelhos de projeção fixa e animada para fins meramente educativos", bem como "aparelhos de radiotelefonia e alto-falantes". Criava-se ainda uma rádio-escola, destinada à transmissão diária, para as escolas e para o público, de "hinos e canções escolares, da hora oficial, do boletim de atos e instruções da Diretoria-Geral, de todos os assuntos de interesse do ensino, lições e sessões artísticas de caráter educativo". Já em 1937, a Lei nº 378/37 criou o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), com o fim de coordenar a aplicação do cinema educativo e promover a sua divulgação por todos os meios.7 Essa Lei, que deu nova organização

4 Giovanni Sartori, A Política. Brasília: Editora da UnB, 2ª edição, 1997, p. 78. 5 O termo comunicações, tal como empregado aqui, compreende conceitualmente, além da comunicação social eletrônica e comunicação audiovisual, também as telecomunicações, isto é, telefonia e transmissão de dados. 6 Ver Marcus Augustus Martins, O Brasil e a Globalização das Comunicações na Década de 90, Dissertação de Mestrado, Departamento de Relações Internacionais/Universidade de Brasília, Março de 1999 (Capítulo II – Histórico Legal e a Formação do Mercado Brasileiro de Comunicações – 1860-1994). 7 Fernando de Azevedo, op. cit, p. 701-702.

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ao Ministério da Educação e Saúde, permitiu então que Roquette-Pinto chegasse à direção do INCE, com o objetivo de "promover e orientar a utilização da cinematografia, especialmente como processo auxiliar do ensino, e ainda como meio de educação popular", cabendo-lhe ainda "organizar e edificar filmes educativos brasileiros; permutas cópias dos filmes editados ou de outros; editar e permutar discos ou filmes sonoros, com aulas, conferências e palestras; organizar uma filmoteca educativa, para servir aos institutos de ensino e publicar uma revista consagrada ao cinema, ao fonógrafo e ao rádios, nas suas aplicações à pesquisa e à educação".8

Mas, se o cinema no Brasil foi capaz de, durante o período que foi do final da República

Velha à Revolução de 30 e ao Estado Novo, produzir, pela ação continuada de indivíduos e instâncias da sociedade civil,9 seriam os radiodifusores brasileiros que, a partir de 1947, dariam partida à tramitação no Congresso Nacional de um projeto para o que era então chamado de Código Nacional de Radiodifusão, capaz de ordenar juridicamente um cada vez mais complexo sistema de estações de rádio - a que se somaria, logo em seguida, também de televisão -, todo assentado sobre bases de exploração comercial, na forma de empresas lucrativas, na contramão, portanto, do que poderia ter sido o legado de Roquette-Pinto.10 Foi uma iniciativa corporativa, junto ao Poder Legislativo, que se estenderia até 1957, quando seu escopo foi estendido para os demais serviços de comunicações. Começava aí a nascer o ainda parcialmente vigente Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962.

Naquela ocasião, depois de enviado para sanção pelo Presidente da República, João

Goulart, o Código teve vetado 42 de seus 129 artigos, boa parte deles relativos à exploração dos serviços de radiodifusão, com destaque para questões como: os prazos de 15 anos para as concessões de emissoras de televisão e de 10 anos para os canais de rádio, com renovação por períodos iguais e sucessivos; a automática manutenção desses prazos para as emissoras de radiodifusão já em operação; a possibilidade de divulgação, sem qualquer tipo de penalidade, de notícias falsas com retificação, ou críticas contra atos dos poderes de Estado; ou a possibilidade de a emissora que se sentisse lesada, por qualquer sanção do governo, pleitear junto ao Poder Judiciário sua reparação foram excluídos da legislação aprovada pelo Congresso Nacional.

Os vetos presidenciais provocaram, então, uma forte reação dos radiodifusores que, de

modo jamais repetido na história parlamentar brasileira, conseguiram derrubar cada um dos 42 vetos, parciais ou integrais, apostos pelo Presidente da República. Nesse processo, sob a liderança do diretor-geral dos Diários e Emissoras Associados, João Calmon, foi fundada, em 27 de setembro de 1962, a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), que é, até hoje, apesar de eventuais dissidências recentes, o mais poderoso grupo de lobby empresarial brasileiro.11

8 Ver Anita Simis, Estado e Cinema no Brasil. São Paulo: Editora Blume/Fapesp, 1997, p. 34. 9 Para um relato e análise circunstanciados desse período, ver Anita Simis, op. cit., Parte I - 1930-1945, p. 13-130. 10 Até o momento em que este artigo era escrito, nenhuma biografia de Edgard Roquette-Pinto tinha sido escrita e lançada, uma grande lacuna que está ainda para ser preenchida, dada a dimensão histórica do personagem. Para um breve, mas rico relato biográfico de Roquette-Pinto, ver o artigo de Ruy Castro, intitulado Roquette-Pinto: O Homem Multidão, em http://www.soarmec.com.br/ouvinte/roquette.html 11 Controlada pelas Organizações Globo desde a década de 90, a Abert cindiu-se, a partir de 1994, com a saída da Rede Record, que patrocinou a criação da Abratel (Associação Brasileira de Radiodifusão e Telecomunicações). A

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Espremido entre a fragilidade do Poder Executivo e a força do nascente lobby

empresarial que lhe dera, vida, o Código Brasileiro de Telecomunicações, instituiu aquele que seria o primeiro organismo brasileiro de regulação para o setor – o Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel), diretamente subordinado ao Presidente da República, com a seguinte constituição de livre nomeação pelo Chefe do Poder Executivo: o Diretor do Departamento dos Correios e Telégrafos; três membros indicados, respectivamente, pelos Ministros da Guerra, Marinha e Aeronáutica; um membro indicado pelo Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; quatro membros indicados, respectivamente, pelos Ministros da Justiça e Negócios Interiores, da Educação e Cultura, das Relações Exteriores e da Indústria e do Comércio; três representantes dos três maiores partidos políticos, segundo a respectiva representação na Câmara dos Deputados no início da legislatura, indicados pela direção nacional de cada agremiação; o diretor da empresa pública que terá a seu cargo a exploração dos troncos do Sistema Nacional de Telecomunicações e serviços correlatos, o qual pode ser representado por pessoa escolhida entre os membros de seu Gabinete ou Diretores da empresa; o Diretor-Geral do Departamento Nacional de Telecomunicações, sem direito a voto.

Ao Contel caberia, entre outras atribuições: elaborar o Plano Nacional de

Telecomunicações e proceder à sua revisão, pelo menos, de cinco em cinco anos; adotar medidas que assegurassem a continuidade dos serviços de telecomunicações quando as concessões, autorizações ou permissões não fossem renovadas ou tivessem sido cassadas, e houvesse interesse público na continuação desses serviços; promover, orientar e coordenar o desenvolvimento das telecomunicações, bem como a constituição, organização, articulação e expansão dos serviços públicos de telecomunicações; fiscalizar o cumprimento das obrigações decorrentes das concessões, autorizações e permissões de serviços de telecomunicações e aplicar as sanções que estivessem na sua alçada; fiscalizar as concessões, autorizações e permissões em vigor; opinar sobre a respectiva renovação e propor a declaração de caducidade e perempção; estabelecer normas técnicas dentro das leis e regulamentos em vigor, visando à eficiência e integração dos serviços no sistema nacional de telecomunicações; promover e estimular o desenvolvimento da indústria de equipamentos de telecomunicações, dando preferência àqueles cujo capital, na sua maioria, pertença a acionistas brasileiros; fiscalizar o cumprimento, por parte das emissoras de radiodifusão, das finalidades e obrigações de programação.

O ponto a destacar aqui é o de que o Contel enquadrava-se na categoria de organismo de regulação centralizado no Poder Executivo, de tradição autárquica e corporativa, diverso, por exemplo, do modelo de organismo de regulação descentralizado entre os poderes Executivo e Legislativo, como era a Federal Communications Commission americana, existente desde 1934.

partir de 1999, por ocasião de polêmica em torno das posições tomadas isoladamente pela Globo na questão da emenda constitucional que permitiria o controle das empresas de rádio e televisão por 100% de pessoas jurídicas (Art. 222, da Constituição Federal), com possibilidade de participação de até 30% do capital votante por empresa estrangeira, também o SBT e a Rede Bandeirantes deixaram a Abert, criando a União Nacional das Emissoras de Televisão (UneTV). No primeiro semestre de 2002, no entanto, a Record retornou à Abert, e foi acompanhada pela RedeTV, que até então estava fora da entidade, na qual permanecem ainda centenas de empresas representando interesses de pequenos e médios radiodifusores de todo o país.

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E seus poderes incidiam sobre as telecomunicações e a comunicação social eletrônica, ficando de fora o cinema, cuja ambiente regulatório específico tinha historicamente ficado sujeito à alçada do Ministério da Justiça, via Divisão de Censura, inclusive para efeitos alfandegários, bem como à alçada do Ministério da Indústria e Comércio. Lá tratava-se de um segmento forte em infra-estrutura física, com características de serviço público, mesmo sob concessão privada. Aqui, no cinema, tratava-se de um empreendimento privado, sob forte pressão externa, do mercado dos Estados Unidos, voltado para a produção de conteúdos e carente de meios de exibição, não via redes de telecomunicações, mas via salas individuais de exibição.

Além do mais, o Contel teria vida curta na medida em que ele seria tragado pelo golpe de

Estado de março de 1964, que o substituiria, já em 1967, por um organismo executivo tradicional, o Ministério das Comunicações, fortemente centralizado nas mãos do estamento militar golpista. Estamento que iria dotar o país, nos anos que se seguiriam, de um sofisticado sistema nacional de telecomunicações, cujo ponto de partida seria a criação, em 1965, da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), e, em 1972, da holding Telecomunicações Brasileiras S/A (Telebrás), debaixo da qual passariam a existir as operadoras estaduais de telefonia pública e comunicações de dados, estruturadas a partir da estatização progressiva das mais de duas mil companhias telefônicas locais e regionais, privadas, que tinham formado setor no país até aquele momento.

Destaque-se que, na estrutura do Ministério das Comunicações, chegou a existir a figura

de um organismo colegiado, o Conselho Nacional das Comunicações, que, no entanto, jamais seria instituído, por desinteresse do Poder Executivo, sob influência da Abert.

Essa rejeição a organismos reguladores específicos conheceria outro importante capítulo

durante o período de elaboração constitucional, após o fim do regime militar, entre 1987 e 1988. Mais do que a presença do capital estrangeiro na economia brasileira, mais ainda do que a eternamente polêmica, e até hoje irresolvida, questão da reforma agrária, foi a Comunicação Social a área de maior impasse durante aquele período de discussão, elaboração e votação da nova Constituição Federal.12 E, em meio à discussão sobre a Comunicação Social, a mais polêmica das questões, a que impediu que fosse votado um texto constitucional para o setor, no âmbito da Comissão Temática VIII, da Família, da Educação, Cultura e Esporte, da Ciência e Tecnologia, e da Comunicação, foi a possibilidade de se introduzir na Constituição um órgão regulador, autônomo em relação ao Ministério das Comunicações: o Conselho Nacional de Comunicação Social. Idealizado e defendido pela Frente Nacional de Luta por Políticas Democráticas de Comunicação, tendo à frente a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), esse Conselho seria responsável pela formulação das “políticas nacionais de comunicação”, cabendo a ele, entre outras atribuições, outorgar canais de rádio e televisão. Contra a existência do Conselho, levantou-se, então, o lobby da Abert, responsável maior pelo impasse, acima mencionado, na Comissão Temática. Tendo sido, pois, a única área de discussão constitucional a chegar à Comissão de Sistematização ser um relatório para ser votado, a Comunicação Social viu, nessa Comissão, ser gerado um acordo de compromisso, mediante o qual continuaria a caber

12 Ver Murilo César Ramos, A Agenda Proibida – meios de comunicação e revisão constitucional. Universidade e Sociedade, Ano III, nº 5, Julho 1993, p. 15-20.

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ao Presidente da República o poder de outorgar e renovar concessões nacionais de rádio e televisão, ficando o ministro das Comunicações com a outorga e renovação das licenças locais. Suas decisões, porém, só passariam a valer depois de apreciadas e votadas pelo Congresso Nacional. Já o Conselho Nacional de Comunicação Social, em um acordo de misericórdia, foi transformado em um “órgão auxiliar do Congresso Nacional”.13

Em 1991, por obra de um acordo encabeçado pela Abert e pela Fenaj, foi regulamentado

o Artigo 224 da Constituição (Lei nº 8.389, de 30/12/91), instituindo-se um "Conselho de Comunicação Social", como órgão auxiliar do Congresso Nacional, tendo como atribuições “a realização de estudos, pareceres, recomendações e outras solicitações que lhe forem encaminhadas pelo Congresso Nacional”, em especial sobre: liberdade de manifestação do pensamento, da criação, da expressão e da informação;14 propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias nos meios de comunicação social; diversões e espetáculos públicos; produção e programação das emissoras de rádio e televisão; monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social; finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas da programação das emissoras de rádio e televisão; promoção da cultura nacional e regional, e estímulo à produção independente e à regionalização da produção cultural, artística e jornalística; complementaridade dos sistemas privado, público e estatal de radiodifusão; defesa da pessoa e da família de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto na Constituição Federal; propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens; outorga e renovação de concessão, permissão e autorização de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens; legislação complementar quanto aos dispositivos constitucionais que se referem à comunicação social.

Quanto à sua composição, o Conselho de Comunicação Social seria integrado por um

representante das empresas de rádio; um representante das empresas de televisão; um representante de empresas da imprensa escrita; um engenheiro com notório conhecimento na área da comunicação social; um representante da categoria profissional dos jornalistas; um representante da categoria profissional dos radialistas; um representante da categoria profissional dos artistas; um representante das categorias profissionais de cinema e vídeo; cinco representantes da sociedade civil. Os membros do Conselho, e seus respectivos suplentes, seriam eleitos em sessão conjunta do Congresso Nacional, podendo as entidades representativas dos setores sugerir nomes à mesa diretora do parlamento federal.

Não obstante o acordo que levou à criação do Conselho de Comunicação Social, por

significativas entidades representativas da sociedade civil; não obstante a imediata sanção presidencial; não obstante ter sido o Conselho incluído como importante instância deliberativa na Lei nº 8.977/95 – a Lei do Serviço de TV a Cabo -, fato é que seriam necessários onze anos até a implantação do Conselho e posse de seus membros, o que ocorreu no dia 25 de junho de 2002.

13 Ver Constituição Federal, Artigos 220 a 224, Da Comunicação Social. 14 O Conselho de Comunicação Social será o primeiro organismo de regulação brasileiro a ocupar-se de questões referentes aos meios impressos de comunicação social.

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Com isso, a regulação15 das comunicações brasileiras seria, até o final da década de 90, caracterizada por um ambiente centralizado, muitas vezes abertamente autoritário, como o foi durante o Estado Novo, de 37 a 47, e durante a ditadura militar, de 64 a 85. Era um ambiente caracterizado por duas vertentes principais de regulação: a regulação das telecomunicações, exercida, na prática, pela empresa estatal monopolista, nominalmente subordinada às políticas e diretrizes emanadas do Ministério; e a regulação dos serviços de rádio e televisão, a cargo do aparelho burocrático do Ministério, mas sob direta e intensa influência da Abert. Quando ao cinema, a partir de 1969, e até 1990, ele seria fomentado e regulado por uma empresa estatal, de economia mista, a Empresa Brasileira de Filmes S A. (Embrafilme), vinculada ao Ministério da Educação e Cultura. Essa empresa, até sua extinção no primeiro ano do governo de Fernando Collor de Mello, tinha por objetivo a distribuição de filmes no exterior, sua promoção, realização de mostras e apresentações em festivais, visando à difusão do filme brasileiro em seus aspectos culturais artísticos e científicos, como órgão de cooperação com o Instituto Nacional do Cinema (INC), herdeiro do antigo INCE, de Roquette-Pinto, podendo exercer atividades comerciais ou industriais relacionadas com o objeto principal de sua atividade. Ela seria dirigida por uma Diretoria composta de três membros, sendo um o Diretor-Geral, nomeado pelo Presidente da República com mandato de quatro anos.

A eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República, ainda no primeiro

turno, em outubro de 1994, deflagrou o processo de re-estruturação das comunicações brasileiras, conforme previsto em seu programa de campanha. O ponto de partida seria um projeto de emenda constitucional propondo o que foi eufemisticamente chamado de ‘flexibilização do monopólio estatal das telecomunicações’ – uma proposta genérica, que não contemplava qualquer diretriz relativa ao que se seguiria a essa chamada flexibilização.

Tendo à frente do processo, o novo Ministro das Comunicações, Sérgio Motta – escolha

pessoal do presidente da República, tendo sido o coordenador de sua campanha presidencial -, teve início em 1995 a re-estruturação do arcabouço regulatório das comunicações brasileiras, com a alteração do artigo 21 da Constituição Federal. A alteração previa a abertura ao capital privado da possibilidade de explorar os serviços públicos de telecomunicações, pondo fim a um monopólio que começara com o regime militar em 1972 e que fora feito item constitucional em 1985.

A redação do artigo 21, incisos XI e XII, dispondo sobre as telecomunicações, era a

seguinte: “Art. 21. Compete à União: XI - explorar, diretamente ou mediante concessão a empresas sob controle acionário

estatal, os serviços telefônicos, telegráficos, de transmissão de dados e demais serviços públicos de telecomunicações, assegurada a prestação de serviços de informações por entidades de direito privado através da rede pública de telecomunicações explorada pela União; 15 O conceito de regulação que está sendo empregado neste artigo é convergente com o conceito de regulação econômica, isto é, de ação do Estado sobre os mercados em favor de maior equilíbrio entre oferta e demanda de produtos e serviços, mas dele se afasta por acentuar mais os aspectos políticos da regulação, em especial as instâncias políticas reguladoras e o conjunto de normas a partir dos quais atuam.

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XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, de sons e imagens e demais serviços de

telecomunicações ...”. Assim, a proposta de Emenda Constitucional nº 3, que previa o fim do monopólio estatal

das telecomunicações, foi encaminhada ao Congresso Nacional, em 15 de fevereiro de 1995, como parte de um amplo elenco de reformas da ordem econômica - que previa o fim do monopólio do petróleo, do gás canalizado, da exploração do subsolo e da navegação de cabotagem, pondo fim ainda à distinção entre empresa brasileira de capital nacional e de capital estrangeiro.

A alteração prevista para as telecomunicações era simples, pois apenas suprimia, no

inciso XI do artigo 21, a expressão “a empresas sob controle estatal”, permitindo com isso a outorga a empresas privadas, a critério exclusivo da União, do direito de exploração dos serviços públicos de telecomunicações. Originalmente, ela nada modificava em relação aos serviços de radiodifusão, tratados pelo inciso XII.

Rezava, pois, a PEC nº 3/95: “Art. 1º: É suprimida a expressão ‘a empresas sob controle estatal’ no art. 21, inciso

XI, da Constituição, passando o dispositivo a ter a seguinte redação: ‘Art. 21... XI - explorar, diretamente ou mediante concessão, os serviços telefônicos, telegráficos,

de transmissão de dados e demais serviços públicos de telecomunicações, assegurada a prestação de serviços por entidades de direito privado através da rede pública de telecomunicações explorada pela União.’

Art. 2º: Esta emenda entra em vigor na data de sua publicação”. Contrariando previsões de uma tramitação polêmica e difícil na Comissão Especial criado

para analisá-lo, a proposta de emenda constitucional, relatada pelo deputado Geddel Vieira de Lima (PMDB-BA), foi aprovado com facilidade em 10 de maio de 1995: 22 votos a favor e apenas oito contra. Depois de votada pelos plenários da Câmara dos Deputados e Senado Federal, a emenda foi promulgado no dia 15 de agosto de 1995, confirmando a modificação do artigo 21 da Constituição de 1988, que passou a ter a seguinte redação:

“ Art. 21 - Compete à União: XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços

de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens;”. Essa nova redação acabou trazendo importante modificação, além da possibilidade de

outorga ao capital privado do direito de exploração dos serviços de telecomunicações, mantida a

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prerrogativa de a União continuar oferecendo diretamente estes serviços: a criação de um órgão regulador, autônomo, para o setor; a reforma do Sistema Telebrás, preparando-o para a competição – na época não se falava abertamente na sua total privatização; e uma terceira grande modificação, mais surpreendente, que foi a separação entre os serviços de telecomunicações e os serviços de radiodifusão, até então unidos constitucionalmente. A nova redação aprovada revogou a expressão “e demais serviços de telecomunicações”, acabando com o vínculo legal entre as telecomunicações, como telefonia, transmissão de dados e, mesmo, a televisão por assinatura, e a radiodifusão. Desse modo, as futuras regulamentações exigidas para as telecomunicações, inclusive a criação do órgão regulador, não teriam qualquer ingerência sobre o rádio e a televisão abertos16.

Essa surpreendente modificação, que não constava do projeto original do governo,

deixava clara uma dupla convergência de interesses: de um lado, o lobby da Abert, ao qual interessava livrar a radiodifusão de qualquer modificação legal, sobretudo de submissão a um órgão regulador autônomo. Do outro, a convicção do governo, firmada naquele momento, de que, se persistisse em uma mudança constitucional, cuja regulamentação mexeria com os interesses não só dos opositores da desestatização do Sistema Telebrás, como também com os interesses do mais forte grupo de pressão em ação no Congresso brasileiro – o dos proprietários de emissoras de rádio e televisão -, jamais conseguiria impor seu novo modelo institucional para as telecomunicações – privado e em regime de competição.

Após a quebra do monopólio das telecomunicações, seguiu-se a abertura do mercado de

telefonia celular, por meio da Lei nº 9.295/96, a chamada lei mínima -, e o processo de re-estruturação do Sistema Telebrás, uma holding composta de 27 empresas regionais de telefonia local e uma companhia telefônica de longa distância, a Embratel. Para tanto, foi enviado ao Congresso Nacional, em 10 de dezembro de 1996, o Projeto de Lei nº 2.648, recebido, na Câmara dos Deputados, por uma Comissão Especial destinada a analisar e discutir seu conteúdo. Ao contrário do que ocorrera com a lei mínima, o projeto do que viria a ser a nova Lei Geral das Telecomunicações tramitou rapidamente. Sua votação na Câmara dos Deputados ocorreu em 18 de junho de 1997, tendo alcançado 312 votos a favor e 90 contra. No Senado, sua aprovação, no dia 10 de julho seguinte, ocorreu de modo ainda mais tranqüilo: 58 votos a favor e 13 contra. Em 16 de julho de 1997, a Lei Geral das Telecomunicações (Lei nº 9.472) foi sancionada pelo Presidente da República, passando a ser, então, o instrumento normativo capaz não apenas de redefinir os serviços e propor um novo modelo de mercado, competitivo, como também criar a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), novo órgão regulador para o setor. Revogava-se assim o velho Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962, exceto por aquilo que tocava aos serviços de radiodifusão.

A Anatel, o novo órgão regulador, nasceria moldado pela Federal Communications

Commission norte-americana, a partir de uma legislação que subvertera o direito administrativo público brasileiro, fazendo-o transitar, sem grandes discussões, de uma tradição alicerçada nos detalhados códigos romano-germânicos para outra fundada nas mais flexíveis leis de corte anglo-

16 Ver Murilo César Ramos. Uma nova legislação para as comunicações brasileiras e o paradoxo da radiodifusão, in: Tendências XXI, nº 2, Lisboa, Setembro de 1997, pp. 176-182.

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saxão, assentada na tradição do que se convencionou chamar de common law. Assim, a Anatel nasceu nominalmente forte: com autonomia administrativa e financeira, vinculada não-hierarquicamente ao Ministério das Comunicações, podendo planejar e alocar seus recursos sem a ingerência direta do governo federal.

Sua estrutura organizativa é encabeçada por um Conselho Diretor, composto por cinco

membros, todos com estabilidade de mandato, indicados pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado Federal. Os conselheiros têm mandato de 5 anos, que expiram alternadamente, de maneira a que, todo ano, um deles seja substituído, sem possibilidade de recondução. Na primeira formação do Conselho Diretor, seus membros receberam períodos diferenciados de mandato (3, 4, 5, 6 e 7 anos) para permitir o regime de substituição de um conselheiro por ano. O presidente do Conselho Diretor é nomeado pelo Presidente da República, e as decisões do Conselho são tomadas em reuniões colegiadas nas quais os conselheiros são obrigados a votar e justificar seus votos. Para assessorar o Conselho Diretor foi criado um Conselho Consultivo, composto por doze membros indicados por entidades e organizações da sociedade civil e aprovados pelo Presidente da República. Sua função é elaborar estudos, planos e projetos que auxiliem as decisões do Conselho Diretor. Os conselheiros têm mandato de três anos, alternados e sem recondução, e o seu presidente é escolhido pelo Presidente da República.

No organograma da Anatel, encontra-se entre suas superintendências a de Comunicação

de Massa, bem como a de administração de radiofreqüência e fiscalização. De fato, toda a gestão do espectro radioelétrico está subordinada ao novo órgão regulador. Mas, no que diz respeito à chamada comunicação de massa, apenas os serviços de televisão por assinatura – TV a Cabo, MMDS e DTH – estão afetos à nova agência. Como já visto, todo a radiodifusão aberta – rádio e TV – permanecem ainda sujeitos ao controle e fiscalização do Ministério das Comunicações.

Essa esquizofrenia regulatória deveria ser sanada com o envio ao Congresso pelo Poder

Executivo, ainda no primeiro semestre de 1998, de projeto de uma 'Lei Geral da Comunicação Eletrônica de Massa'17. De acordo com manifestações públicas do ministro Sérgio Motta, antes do seu falecimento, em 19 de abril de 1998, uma lei específica para a radiodifusão teria que ser elaborada, abrangendo não apenas o rádio e a televisão abertos, incorporando também a TV por assinatura18. Para o governo, essa lei se enquadraria em seus objetivos estratégicos de realizar uma ampla reforma administrativa, reduzindo o número de ministérios e criando mecanismos a partir dos quais o Ministério das Comunicações, após a instalação da Anatel, seria extinto, remetendo-se a ele todas as competências relativas à regulamentação e fiscalização do rádio e da televisão.

Morto Sérgio Motta e demitido seu sucessor, Luiz Carlos Mendonça de Barros, ainda em

1998, por motivos de ordem política, relativos a denúncias de eventuais favorecimentos a

17 Sem sequer valer-se do que a Constituição Federal chama de Comunicação Social (Ver Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo V, Da Comunicação Social (Arts. 220 a 225), as autoridades do Ministério das Comunicações, ao tempo de Sérgio Motta, adotaram o equivocado conceito, tanto do ponto de vista político quanto sociológico, de comunicação de massa, para caracterizar a radiodifusão acrescida do sub-segmento da televisão por assinatura. 18 Ver Carlos Eduardo Zanatta. Lei de radiodifusão deverá abranger também a TV paga, in: Pay-TV, nº 38, Setembro de 1997, pp. 24-28.

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empresas durante o processo de privatização do Sistema Telebrás, tornou-se impossível para o governo cumprir o planejamento inicial, com o envio ao Congresso Nacional de um projeto de lei re-regulamentando a 'comunicação eletrônica de massa'. E foi ainda durante a curta gestão de Mendonça de Barros no Ministério das Comunicações que se começou a falar na hipótese de que não mais ocorreria a passagem da radiodifusão para a competência da Anatel, sob a justificativa vaga de que o acompanhamento e controle de uma questão sensível como a da qualidade da programação deveria permanecer sob a responsabilidade de um órgão de governo, fosse ele o próprio Ministério das Comunicações ou uma eventual secretaria subordinada à Presidência da República.

Com a saída de Mendonça de Barros do Ministério e a designação, em dezembro de

1998, do deputado Pimenta da Veiga Filho (PSDB-MG) como seu sucessor, a futura Lei Geral da Comunicação Eletrônica de Massa passou a receber um tratamento mais explicitamente político. Evidenciando seu novo, e pouco original, enfoque político para a re-regulamentação da 'comunicação eletrônica de massa', Pimenta da Veiga, ao contrário do que fizera Sérgio Motta, passou a dividir com a Abert a responsabilidade de promover a discussão da nova lei. Isto ficou evidente durante a realização, em Brasília, nos dias 10 e 11 de maio de 1999, de um seminário para discussão de pontos da nova legislação. Projetado por Motta para ser um seminário aberto, sem interferência direta dos setores empresariais interessados na formulação do temário e na escolha dos expositores,19 o seminário foi transformado em um evento fechado, para poucos convidados, em sua maioria empresários e executivos, tendo o temário sido ajustado para acomodar questões e expositores afinados com os interesses históricos da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão. E, para estranheza de muitos, ficou ausente do seminário a Agência Nacional de Telecomunicações.

No dia 12 de maio de 1999, em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia,

Comunicação e Informática, o ministro Pimenta da Veiga comprometeu-se com o envio ao Congresso Nacional, ainda este ano, do projeto da nova Lei Geral da Comunicação Eletrônica de Massa, mas foi deliberadamente vago quanto à questão do organismo de regulação, deixando abertas as hipóteses de que esse organismo poderia ser seu próprio Ministério, ou a Anatel, ou uma nova agência específica a ser criada. No ano de 2001, o Ministério das Comunicações chegou a colocar em consulta pública um anteprojeto de lei, agora apenas de radiodifusão, mas foram tantas as críticas ao anteprojeto, vindas dos mais diversos setores sociais, e tantas as sugestões resultantes da consulta, que Pimenta da Veiga, convencido da inviabilidade política daquele instrumento normativo, optou por deixar a iniciativa para o governo a ser eleito em outubro de 2002.

Mas, o governo de Fernando Henrique Cardoso não iria terminar sem que, em 6 de

setembro de 2001, valendo-se do instrumento polêmico, e duvidoso em excesso, para o caso, da Medida Provisória (MP nº 2.228-1), dotasse o cinema, sub-segmento da comunicação audiovisual brasileira, de um novo ambiente regulatório e de fomento, específico, com a criação

19 O autor deste artigo participou, nos meses de março de 1998, por convite do então secretário de Radiodifusão do Ministério das Comunicações, Ronaldo Sá de Albuquerque, de todo o processo de planejamento do seminário original, inclusive da elaboração do temário e da relação de expositores.

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da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Agência que, antes de ser Ancine, pensou-se em fazê-la Ancinav, ou Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual, de modo a compreender todo o segmento da comunicação social eletrônica em suas atribuições. Reduzida à Ancine, por pressão da Abert, das Organizações Globo em particular, a nova agência teria a seu cargo a Política Nacional do Cinema, gestada em um Conselho Superior do Cinema; política tornada concreta pela instituição do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional (Prodecine), mantido pelos Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional (Funcines). A vinculação administrativa da Ancine foi feita ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, passando ao largo, em especial, do Ministério da Cultura, que poderia se afigurar como o seu locus mais natural.

Importante a se destacar aqui é que a idéia da Ancinav, depois Ancine, foi fruto de um

Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica (Gedic), que reuniu durante mais de um ano, desde o início de 2001, sob o abrigo da Casa Civil da Presidência da República, e sob o comando do ministro Pedro Parente, representantes das áreas de cinema e televisão, certamente inspirados nos antigos Grupo de Estudos da Indústria Cinematográfica (Geic), depois Grupo Executivo da Indústria Cinematográfica (Geicine), que nos anos 60 deram partida ao que viria a ser o INC e, depois, a Embrafilme. O Gedic era integrado por Carlos Diegues, Luiz Carlos Barreto, Luiz Severiano Ribeiro Neto, Rodrigo Saturnino Braga, Evandro Guimarães e Gustavo Dahl, sendo este seu coordenador, e, hoje, Diretor-Geral da Ancine.

4. Conclusões. Um ambiente regulatório, como o que se quis aqui analisar e criticar, somente pode

existir em um Estado que se pretende democrático e de direito. Ambiente regulatório definido, vale lembrar, como um espaço de disputa de hegemonia, na forma de um conjunto de instituições de Estado, burocracias de governo, e instâncias da sociedade civil, das quais derivam um elenco de políticas, leis, regulamentos, normas e práticas diversas, destinadas a produzir efeitos determinados sobre a sociedade como um todo, dos indivíduos e suas associações às empresas e grupos empresariais. Hegemonia aqui empregada no sentido clássico atribuído por Antonio Gramsci do predomínio ideológico de certos valores e normas sobre outras. Ou, mais precisamente, como na argumentação de Buci-Glucksmann, citado por Carnoy: "... a hegemonia de Gramsci se expressa na sociedade como o conjunto de instituições, ideologias, práticas e agentes que compreendem a cultura dos valores dominantes".20

Se Edgard Roquette-Pinto e outros, nas primeiras décadas do século XX, inspirados em

movimento semelhantes que se conhecia da Europa e dos Estados Unidos, quiseram fazer da comunicação audiovisual - cinema e rádio - um fator decisivo de instrução, educação e cultura públicas, suas idéias e valores, gestados na sociedade civil desvinculada dos interesses de mercado, traduziram-se em instituições, normas e agentes de vocação pública que, no embate com as idéias e valores gestados no seio da sociedade civil voltada aos interesses de mercado, seriam por estas derrotados, em um processo de instauração de uma hegemonia até hoje dominante.

20 Ver Martin Carnoy, Estado e Teoria Política. Campinas, SP: Papirus, 1986, p. 95-96.

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O que se pretendeu neste artigo foi historiar e demonstrar alguns dos meios pelos quais

se deu essa instauração de hegemonia, e que foram tratados hipoteticamente como meios de fragmentação política e dispersão normativa.

No espaço de um ambiente regulatório, cuja âncora institucional é, como visto, o Estado

Democrático de Direito, os interesses em disputa situam-se em dois pólos da sociedade civil, como se assinalou em passagens diversas acima: o polo da sociedade civil voltada os interesses de mercado e o polo da sociedade civil vinculada aos interesses de mercado. Ao polo da sociedade civil desvinculada dos interesses de mercado a estratégia de luta pela hegemonia passa pela instituição de marcos regulatórios, dos quais derivem modelos instituições, seus agentes e normas, que nasçam de ambições socialmente includentes e resultem de amplos processos de discussão e elaboração por instâncias diversas da sociedade. Já para o polo da sociedade civil voltado aos interesses de mercado, a estratégia de luta pela hegemonia passa pela negação de marcos regulatórios com as características anteriores, em favor de uma fragmentação política e dispersão normativa que favoreçam e facilitem a regulação quase que exclusiva pelas chamadas forças de mercado.

Isto é o que explica, historicamente, entre nós, eventos e processos que eliminam

conselhos e outros órgãos de deliberação e regulação coletivas, como foi o caso do Contel; do jamais instalado Conselho de Comunicações, previsto na estrutura original do Ministério das Comunicações; e do Conselho Nacional de Comunicação Social transformado pelo constituinte de 1988 em órgão auxiliar do Congresso Nacional e que levou nada menos do que onze anos para ser instalado. Isto é também o que explica eventos e processos como a derrubada dos 42 vetos do presidente João Goulart ao Código Brasileiro de Telecomunicações, por pressão do lobby dos radiodifusores, o mesmo lobby que, depois de impedir a criação do Conselho de Comunicação Social em 88, provocou a implausível separação constitucional da radiodifusão do restante das comunicações, em 95, com o objetivo último, e bem sucedido, de retirar o rádio e a televisão abertos da alçada regulatória da nova Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Agência que somente foi criada para o segmento das telecomunicações por exigência intrínseca ao processo de privatização do Sistema Telebrás, tal qual exposto nos manuais do Banco Mundial, por inspiração dos investidores estrangeiros, a quem não interessa um ambiente regulatório sem condições mínimas de isonomia de tratamento na relação com os governos e com o empresariado local.

Veja-se o ambiente regulatório, aqui criticado, em mais detalhes: - para a radiodifusão - rádio e televisão abertos -, a regulação - iniciativa legislativa,

emissão de regulamentos e outras normas, fiscalização - fica a cargo do Ministério das Comunicações, da sua Secretaria de Radiodifusão. O marco regulatório de que dispõe o Ministério para isso é o antigo Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei nº 4.117/62, hoje quase toda revogada pela Lei nº 4.972/97, a Lei Geral das Telecomunicações;

- para a televisão por assinatura - TV a Cabo, TV Direta por Satélite e TV por MMDS -, a

regulação fica a cargo da Anatel, da sua Superintendência de Comunicação de Massa. O marco

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regulatório de que dispõe a Anatel para a televisão por assinatura é a citada Lei Geral de Telecomunicações (cuja finalidade precípua é regulamentar os serviços de telecomunicações), sendo necessário acrescentar que a TV a Cabo é regulamentada por uma lei, a Lei 8.977/9; o Serviço de MMDS é regulamentado pela Portaria Ministerial nº 043/94; enquanto o DTH foi regulamentado pelo Decreto nº 2.196/97, do Ministério das Comunicações, sem nada que justifique, política, técnica ou administrativamente, uma tal dispersão;

- para o cinema, a regulação fica a cargo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior, ao qual se subordina a Agência Nacional do Cinema (Ancine), cujo marco regulatório é uma medida provisória, que leva o nº 2.228-1, de 2001, da Presidência da República.

Coadjuvantes nesse ambiente regulatório são os Ministério da Educação e da Cultura, em

que pesem suas iniciativas nas áreas de comunicação audiovisual, seja na educação a distância, seja na promoção de produções de caráter mais abrangente, como o cinema de ficção. Isto para não se incluir mais detalhadamente na análise e crítica todo o segmento das telecomunicações, da telefonia e transmissão de dados, cujo órgão regulador é a Anatel, e cuja esfera de atuação cada vez mais se estende, por via das tecnologias digitais de transmissão de sinais, a mercados de consumo audiovisual, principalmente por meio da internet.

A disputa pela hegemonia, então, no ambiente regulatório da comunicação audiovisual

brasileira pressupõe, por parte dos sujeitos ativos na sociedade civil desvinculada dos interesses de mercado, a consciência de que uma situação de fragmentação política e dispersão normativa, tal como analisada aqui, favorece primordialmente os interesses de mercado. Não por outra razão, esses interesses defendem hoje, como sempre, a redução da ação do Estado sobre os mercados, por meio do seu afastamento seja enquanto agente explorador de atividades e serviços seja enquanto agente de mera regulação.

Mas, enquanto aqueles sujeitos que atuam à margem dos meros interesses de mercado

desconhecerem os processos históricos que têm configurado o ambiente regulatório da comunicação audiovisual brasileira, ou enquanto aqueles mesmos sujeitos adotarem eles próprios estratégias de fragmentação política e dispersão normativa, como no caso recente de criação da Ancine, a direção da hegemonia penderá inexoravelmente para os interesses exclusivos de mercado

Se o projeto original da Ancine, por exemplo, era o de uma agência que compreendesse

todo o segmento audiovisual, da radiodifusão à televisão por assinatura, do cinema às chamadas novas mídias digitais, o modo fragmentário como ela foi gestada - da reunião de alguns poucos sujeitos, inspirados por interesses quase que exclusivamente mercantis, desvinculados, de uma articulação social e política mais ampla, com agentes do governo, sob a cobertura aparentemente democrática do Estado - só poderia resultar em um órgão de rarefeita legitimidade social e pouco peso político. E reforçador, puro e simples, da hegemonia mercantil dominante.

Caso a articulação em torno do que seria a Ancinav tivesse se revestido de características

mais amplas de articulação política e social, seus resultados poderiam estar mais próximos dos

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ideais e aspirações de Edgard Roquette-Pinto, ainda hoje de inequívoca importância política e cultural. Resultados capazes, inclusive, de, junto com outras medidas abrangentes de política pública, retirar as emissoras da Associação de Comunicação e Educação Roquette-Pinto do limbo institucional em que se encontram, transformando-as no tempo em um sistema de comunicação pública nos moldes, por exemplo, do Public Broadcasting Service americano, ou da Canadian Broadcasting Company.

Não se trata de singularizar o cinema como caso exemplar da fragmentação política e

dispersão normativa no cenário da comunicação audiovisual brasileira. Trata-se apenas de, valendo-se do exemplo significativo da criação da Ancine, destacar que, para efeitos de qualquer abordagem compreensiva de política pública de comunicação audiovisual, reforçar a fragmentação e dispersão aqui criticadas resultará no reforço crescente da hegemonia comercial dominante. Continua a ser, pois, necessária a articulação de todos os esforços contra-hegemônicos em todos os momentos possíveis de resgate dos ideais de educação, informação e cultura que nasceram junto com as experiências maravilhosas de tratamento técnico e estético da imagem e do som, no cinema, no rádio e na televisão, desde o nascedouro do século XX.

Experiências que, nos meses, anos e décadas que se seguirão, continuarão a ser

influenciadas pelos desenvolvimentos ainda embrionários da tecnologia digital, a fundir crescentemente cinema e televisão, rádio e televisão, comunicação audiovisual e telecomunicações, e a exigir, portanto, políticas públicas, marcos e ambientes regulatórios contaminados cada vez mais pelos ideais revolucionários de um Roquette-Pinto do que pelos - e que seja perdoado aqui o autor pelo recurso fácil da retórica - ideais mercenários de Bill Gates, Rupert Murdoch, Silvio Berlusconi e, naturalmente, também de Roberto Marinho.

Brasília, julho de 2002

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Constituição Federal de 1988

CAPÍTULO V

DA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

§ 3º - Compete à lei federal:

I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;

II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

§ 4º - A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.

§ 5º - Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.

§ 6º - A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de autoridade.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:

I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;

III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;

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IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

(*)Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, aos quais caberá a responsabilidade por sua administração e orientação intelectual.

§ 1º - É vedada a participação de pessoa jurídica no capital social de empresa jornalística ou de radiodifusão, exceto a de partido político e de sociedades cujo capital pertença exclusiva e nominalmente a brasileiros.

§ 2º - A participação referida no parágrafo anterior só se efetuará através de capital sem direito a voto e não poderá exceder a trinta por cento do capital social.

(*) Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 28/05/2002: “Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.

§ 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação.

§ 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação social.

Parágrafo incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 28/05/2002: § 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no art. 221, na forma de lei específica, que também garantira a prioridade de profissionais brasileiros na execução de produções nacionais.

Parágrafo incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 28/05/2002: § 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o § 1º.

Parágrafo incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 28/05/2002: § 5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão comunicadas ao Congresso Nacional.” (NR)

Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.

§ 1º - O Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do art. 64, § 2º e § 4º, a contar do recebimento da mensagem.

§ 2º - A não renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal.

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§ 3º - O ato de outorga ou renovação somente produzirá efeitos legais após deliberação do Congresso Nacional, na forma dos parágrafos anteriores.

§ 4º - O cancelamento da concessão ou permissão, antes de vencido o prazo, depende de decisão judicial.

§ 5º - O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para as emissoras de rádio e de quinze para as de televisão.

Art. 224. Para os efeitos do disposto neste capítulo, o Congresso Nacional instituirá, como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da lei.

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COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DE MASSA

Prof. Márcio Wanderley

EMENTA: Regulamento Especial de TV por

assinatura (Decreto 95.744/88). Lei de TV a Cabo

(Lei 8.977/95). Regulamento de Serviço de TV a

Cabo (Decreto 2203/97). Norma de serviço de TV a

Cabo (Norma 13/97). Norma de serviço de

Distribuição de Sinais Multiponto Multicanal (Norma

002/94). Habilitação para exploração dos serviços.

Fiscalização dos serviços.

1 – TV A CABO

1.1 – Legislação aplicável . O artigo 212 da Lei nº 9.472/97 determina

que o serviço de TV a Cabo, inclusive quanto aos atos, condições e

procedimentos de outorga, continuará regido pela Lei nº 8.977/95,

ficando transferidas para a ANATEL as competências antes atribuídas ao

Poder Executivo. É possível apontar três instrumentos onde estão

regulados os principais aspectos normativos da TV a Cabo:

Lei nº 8.977, de 06.01.1995;

Decreto nº 2.206, de 14.04.1997;

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Norma de TV a Cabo nº 13, de 18.04.1997.

1.2 – Conceito. O serviço de TV a Cabo é o serviço de

telecomunicações que consiste na distribuição de sinais de vídeo e/ou

áudio, a assinantes, mediante transporte por meios físicos (artigo 2º, da

Lei nº 8.977/95).

1.3 – Concessão do serviço

A outorga do serviço se dá por meio de procedimento

licitatório em que o Edital fixa o preço mínimo da concessão de serviço

público.

A concessão, permissão e a autorização de um serviço

público são instrumentos de que o Estado se utiliza para transferir uma

atribuição sua para o setor privado, por meio de contrato administrativo.

O Estado poderia eventualmente prestar o serviço, mas prefere fazê-lo

por meio de particular, que é remunerado necessariamente pelos usuários

do serviço.

A doutrina informa que o legislador não foi feliz na

indicação precisa na delimitação do que se deve entender por concessão,

permissão ou por autorização.1

Concessão de serviço de telecomunicação, nos termos do

artigo 83, parágrafo único, da Lei nº 9.472/97, é “a delegação de sua

prestação, mediante contrato, por prazo determinado, no regime público,

sujeitando-se a concessionária aos riscos empresariais, remunerando-se

pela cobrança de tarifas dos usuários ou por outras receitas alternativas e

respondendo diretamente pelas obrigações e prejuízos que causar.”

1DI PIETRO, Maria Sylvia Zanel la . Parcer ias na Administ ração Pública: concessão, permissão, f ranquia , tercei r ização e out ras formas, 4ª edição, São Paulo: Atlas , 2002, página 71.

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Permissão em sentido amplo significa um ato

administrativo unilateral, discricionário e precário, gratuito ou oneroso

pelo qual a Administração Pública faculta ao particular a execução de

um serviço público ou a utilização privativa de um bem público por

terceiros.2

O artigo 118, parágrafo único, da Lei nº 9.472/97 conceitua

permissão de serviço de telecomunicações como sendo “ato

administrativo pelo qual se atribui a alguém o dever de prestar serviço

de telecomunicações no regime público e em caráter transitório, até que

seja formalizada a situação excepcional que a tenha ensejado”.

É sempre bom lembrar que o Supremo Tribunal Federal, na

ADI 1.668/DF – medida cautelar, determinou a observância do

procedimento licitatório previsto na Lei 8.666/93 e alterações

subseqüentes, bem assim das Leis nº 8.987/95 e 9.074/95. Não se admite

na permissão a adoção de procedimento simplificado ou criado pela

ANATEL que viole as Leis acima apontadas.

O prazo máximo da concessão é de 15 (quinze) anos,

conforme o artigo 6º, da Lei nº 8.977/95. A empresa deve ter sede no

Brasil. No que toca à distribuição do capital social, merece ser

visualizado o quadro abaixo:

Redação do artigo 7º, inciso II, da Lei nº 8.977/95

Redação original do artigo 222, da CF-88

Redação do artigo 222, da CF-88 após a EC 36/2002

II – pelo menos cinqüenta e um por cento do capital social, com direito a voto, pertencente a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos ou a sociedade sediada no País, cujo controle pertença a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, aos quais caberá a responsabilidade por sua administração e orientação

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede

2DI PIETRO, Maria Sylvia Zanel la . Op. ci t . página 128.

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anos. intelectual.

no País.

A Lei nº 8.977/95 assegura a renovação da concessão,

desde que precedida de consulta pública.

É possível a transferência da concessão após o início da

operação, dependendo de prévia aprovação da ANATEL.

A concessão de TV a Cabo não é prestada em regime de

exclusividade, cabendo à ANATEL a fiscalização da prestação do

serviço.

2 – TV POR ASSINATURA. TVA

2.1 – Legislação aplicável . O serviço é regulado em especial pelo

Decreto 95.744, de 23.02.1988, pela Portaria 652, de 1.09.1994 e pelo

Decreto 2.196/97, com as modificações do Decreto 3.896, de 23.08.2001.

2.2 – Conceito. O serviço de TV por Assinatura (TVA) é um serviço

especial de TV por assinatura, destinado a distribuir sons e imagens a

assinantes por meio de um único canal UHF e através de sinais

codificados que são transportados por espectro radioelétrico, o mesmo

utilizado por canais comuns de televisão.

2.3 – A outorga do serviço. A outorga, em regra precedida de

procedimento licitatório, se dá por meio de permissão de serviço

público.

Na prestação do serviço é assegurado à permissionária

utilizar equipamentos que não lhe pertençam e contratar serviços de

terceiros para o desenvolvimento de atividades inerentes ou acessórias

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ao serviço, mas continuará responsável perante a ANATEL pela

execução e exploração do serviço.

É vedada a transferência da permissão sem prévia anuência

da ANATEL.

Somente será possível a transferência se o novo

controlador atenda às exigências técnicas, econômico-financeiras,

jurídica e à regularidade fiscal. De igual modo deverá atender às

exigências já previstas no contrato.

3 – SERVIÇO DE DISTRIBUIÇÃO DE SINAIS DE TELEVISÃO E

DE ÁUDIO POR ASSINATURA VIA SATÉLITE (DTH)

3.1 – Legislação aplicável . O DTH é regulado especificamente pelos

seguintes atos normativos: Decretos nº 2.196, de 08.04.1997 e 2.195, de

08.04.1997, na Portaria nº 321, de 21.05.1997 e na Norma nº 008/97.

3.2 – Conceito. O DTH é uma modalidade de serviço especial de TV por

assinatura, só que utiliza satélites para a distribuição dos sinais de

televisão e áudio para os assinantes do serviço.

3.3 – A outorga do serviço. A regra é a participação por meio de

licitação.

Na prestação do serviço é assegurado à permissionária

utilizar equipamentos que não lhe pertençam e contratar serviços de

terceiros para o desenvolvimento de atividades inerentes ou acessórias

ao serviço, mas continuará responsável perante a ANATEL pela

execução e exploração do serviço.

É vedada a transferência da permissão sem prévia anuência

da ANATEL.

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É possível a transferência se o novo controlador atender às

exigências técnicas, econômico-financeiras, jurídica e à regularidade

fiscal. De igual modo deverá atender às exigências já previstas no

contrato.

4 – SERVIÇO DE DISTRIBUIÇÃO MULTIPONTO MULTICANAL –

MMDS

4.1 – Legislação aplicável . Para o MMDS merece especial atenção nas

normas que lhe são aplicáveis, a Norma 002/94, a Portaria nº 254/97 e o

Decreto nº 2.196/97, com as modificações do Decreto 3.896, de

23.08.2001

4.2 – Conceito. O MMDS é uma das modalidades de serviço especial de

TV por assinatura, que utiliza uma faixa de microondas (2500 a 2680

MHz) para transmitir sinais aos clientes que se encontram dentro da área

de prestação de serviço.

4.3 – A outorga do serviço. A licitação será a regra para a outorga do

serviço.

Na prestação do serviço é assegurado à permissionária

utilizar equipamentos que não lhe pertençam e contratar serviços de

terceiros para o desenvolvimento de atividades inerentes ou acessórias

ao serviço, mas continuará responsável perante a ANATEL pela

execução e exploração do serviço.

É vedada a transferência da permissão sem prévia anuência

da ANATEL.

É possível a transferência se o novo controlador atender às

exigências técnicas, econômico-financeiras, jurídica e à regularidade

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fiscal. De igual modo deverá atender às exigências já previstas no

contrato.

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1

“COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DE MASSA”

Prof. Carlos Jacques Vieira Gomes MÓDULO: CARACTERÍSTICAS DO SEGMENTO. Instrumentos de outorga após o advento da LGT. A autorização como ato vinculado. A não-admissão do direito adquirido. 1. INTRODUÇÃO

Antes de se proceder à análise das características regulatórias do serviço de

comunicação eletrônica de massa, alguns contornos conceituais sobre telecomunicação,

redes e serviços de telecomunicação devem ser discutidos. 2. TELECOMUNICAÇÃO

A definição de rede e de serviço de telecomunicação depende da apreensão inicial

do que vem a ser telecomunicação.

Chama-se comunicação a interação direta estabelecida entre dois interlocutores

(pessoas). A comunicação pressupõe a absorção da informação pela mente do receptor e

compreende três etapas: emissão, transmissão e recepção.

Telecomunicação, por sua vez, não se opera entre interlocutores, mas entre meios

técnicos. Também compreende emissão, transmissão e recepção, estabelecidas, entretanto,

entre elementos técnicos.

Nesses termos, a telecomunicação pode ser conceituada como a mediatização da

informação que proporciona a comunicação direta, operada por meio de elementos técnicos

que possibilitem troca instantânea de informações, com reciprocidade ou não. A

telecomunicação compreende, assim considerada, a troca direta e instantânea de sinais que

representem informação, operada por meios técnicos, capazes de propiciar, de outra forma,

a comunicação natural estabelecida entre interlocutores próximos.

A LGT, em seu art. 60, § 1º, assim define telecomunicação: “Telecomunicação é a

transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer

outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou

informações de qualquer natureza”.

Do conceito exposto, algumas considerações merecem ser tomadas.

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2

Primeiro, o transporte de informação, na telecomunicação, não recebe interferência

humana. É realizado por meio técnico, isto é, eletromagnético, de qualquer natureza (fio,

radioeletricidade, meios ópticos ou quaisquer outros). Interessante notar, nesse aspecto, que

o meio técnico utilizado não caracteriza ou delimita o conceito de telecomunicação. Em

outra palavras, telecomunicação não se refere a um determinado ambiente técnico (rede).

Segundo, o transporte de informação, na telecomunicação, é instantâneo: o

armazenamento intermediário de informações não descaracteriza a instantaneidade, porque

esta se referencia aos meios técnicos (a transferência é instantânea entre os meios técnicos)

e não aos interlocutores.

Terceiro, o transporte de informação é elemento caracterizador da telecomunicação.

Deve-se concluir, portanto, que o mero armazenamento de informação não constitui

telecomunicação. Este ponto, entretanto, não é consensual entre os doutrinadores,

assumindo parte da Doutrina que o armazenamento integra o processo e, portanto, o

conceito de telecomunicação.

Quarto, a reciprocidade não é elemento essencial à definição de telecomunicação, a

despeito de o desenvolvimento tecnológico moderno possibilitar, cada vez mais, a

reciprocidade entre os interlocutores.

Quinto, a informação transmitida por meio de telecomunicação compreende todo o

tipo de sinais existentes (escritos, imagens, sons, dados, etc...). Note-se, neste aspecto, que

o tipo de informação transmitida não é capaz de caracterizar ou delimitar o conceito de

telecomunicação. Em outras palavras, telecomunicação não se refere a um determinado

tipo de serviço prestado. 3. REDE DE TELECOMUNICAÇÃO

Rede de telecomunicação, por sua vez, conceitua-se como meios organizados de

telecomunicação. Compreende o sistema ou conjunto de meios técnicos, de natureza

corpórea ou incorpórea, através dos quais é efetuado o transporte de mensagens ou

informações entre pontos determinados.

O Regulamento Geral de Interconexão (Resolução nº 40/98 – ANATEL), em seu

art. 3º, inc. VII, define como rede de telecomunicações o “conjunto operacional contínuo

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3

de circuitos e equipamentos, incluindo funções de transmissão, comutação, mutiplexação

ou quaisquer outras indispensáveis à operação de serviço de telecomunicações”.

Do conceito enunciado, algumas observações merecem atenção.

Primeiro, o conjunto de equipamentos deve ser operacional, isto é, deve possibilitar

o transporte de informações.

Segundo, os elementos técnicos devem ser considerados em atenção às funções que

são capazes de exercer, e não em suas características intrínsecas.

Terceiro, as funções exercidas pelas redes são tidas como indispensáveis à operação

do serviço de telecomunicações.

Quarto, rede de telecomunicação pressupõe múltiplos usuários (ao menos três).

Quinto, as redes são compostas de elementos corpóreos (cabos e fios de cobre,

cabos e fios ópticos, cabos coaxiais, condutores e circuitos, edifícios, receptores,

radioeletricidade, dispositivos de comutação, equipamentos, etc...) e incorpóreos

(programas de computador, protocolos necessários à transmissão de informações, servidões

de passagem, direito ao uso de radiofreqüência, etc...).

Sexto, quanto às funções, as redes possuem atividade fim, que é a transmissão de

informações, e atividade meio (comutação, multiplexação), capazes de proporcionar

conexões.

Sétimo, sobre uma mesma base técnica (infra-estrutura), pode-se identificar diversas

redes de telecomunicações, cada uma configurando sistemas distintos, capazes de assegurar

transmissões distintas entre si. 4. CONVERGÊNCIA DE REDES

O fenômeno da digitalização, caracterizado pela discreção do sinal analógico

através da codificação dos sinas em seqüência de bits, contribuiu para a fungibilização

qualitativa da informação, isto é, para unir em um único tipo técnico as diversas qualidades

(tipos; por exemplo: voz, dados e imagens) de informação transportada.

Esse avanço tecnológico, por sua vez, contribui para a progressiva desvinculação

entre a qualidade da informação transportada (o serviço prestado) e o meio técnico

empregado (a rede utilizada). Conclui-se, aqui, que a digitalização capacita a uma mesma

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4

infra-estrutura abarcar diversos serviços de telecomunicações. A esse fenômeno dá-se o

nome de convergência de redes.

A convergência de redes assiste a três estágios de evolução. No primeiro estágio,

cada rede é capaz de prestar apenas um determinado serviço de telecomunicação. No

segundo estágio, uma mesma rede pode propiciar, em níveis distintos de qualidade,

diversos serviços de telecomunicação (por exemplo: televisão digital, acesso à internet,

videoconferência, telefonia fixa, telefonia celular, transmissão de dados, etc...). No terceiro

estágio, as redes convergem para uma plataforma única, a qual ainda não foi alcançada em

nosso momento histórico por limitações de ordem técnica e econômica. 5. SERVIÇO DE TELECOMUNICAÇÕES

Serviço de telecomunicações pode ser definido como a oferta de acesso a uma dada

rede de telecomunicações, capaz de propiciar ao seu usuário a utilidade desejada, qual seja,

a intenção de se comunicar mediante o efetivo uso da rede de telecomunicação. Prestador

de serviço de telecomunicações é, portanto, aquele que oferta ao usuário o uso de rede de

telecomunicação.

Para a LGT (art. 60), serviço de telecomunicação é o conjunto de atividades que

possibilita a oferta de telecomunicação. O Regulamento dos Serviços de Telecomunicações

(Resolução nº 73/98 – ANATEL), por sua vez, conceitua serviço de telecomunicações

como “o conjunto de atividades que possibilita a oferta de transmissão, emissão ou

recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo

eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de

qualquer natureza”.

Há dois critérios básicos para se definir o serviço de telecomunicação: o da

atividade realizada e o da utilidade produzida. A ANATEL (Res. nº 73/98, art. 22) elegeu o

critério da utilidade produzida: “Os serviços de telecomunicações serão definidos em vista

da finalidade para o usuário, independentemente da tecnologia empregada e poderão ser

prestados através de diversas modalidades definidas nos termos do art. 69 da Lei nº 9.472,

de 1997”.

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5

Conclui-se, nesse contexto, que o serviço de telecomunicação não se define pelo

meio técnico empregado, mas pela utilidade produzida, o que está em consonância com a

crescente convergência de redes, produzida pelo desenvolvimento tecnológico.

Observe-se, ainda, que a LGT conferiu à ANATEL competência para definir qual

seja, e qual não seja, serviço de telecomunicações. Assim considerado, o art. 3º do RST não

considera serviço de telecomunicação o provimento de capacidade de satélite, a atividade

de habilitação ou cadastro de usuário e de equipamento para acesso a serviços de

telecomunicações e os serviços de valor adicionado.

O serviço de valor adicionado (LGT, art. 61) constitui a atividade que acrescenta, a

um serviço de telecomunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas

utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação ou

recuperação de informações. No § 1º ao art. 61, afirma-se que o serviço de valor adicionado

não constitui serviço de telecomunicações. Como exemplos, cite-se as atividades de call

center, o comércio eletrônico e o provimento de conteúdo por páginas de internet (MC,

Portaria nº 148/1995 e STJ, Recurso Especial nº 456.650/PR, Rel. Min. Eliana Calmon,

Segunda Turma, DJ 08/09/2003).

Neste último caso (provedor de internet), parte da Doutrina e precedentes judiciais

(STJ, Recurso Especial nº 323358/PR) consideram a atividade serviço de

telecomunicações, porquanto envolve mero acesso à rede de telecomunicação.

Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens, bem como o serviço de TV

a Cabo, a despeito de configurarem serviços de telecomunicações, não se vinculam à LGT,

mas a regimes jurídicos próprios (arts. 211 e 215, inc. I, da LGT, Lei nº 4117/62 e Lei nº

8977/1995).

Os serviços de telecomunicações compõem-se de atributos (âmbito de prestação e

conteúdo da informação transmitida), modalidades (forma da rede de telecomunicação

empregada, meios de transmissão e tecnologia empregados) e utilidade/finalidade para o

usuário.

O serviço telefônico fixo comutado (STFC), por exemplo, adota como utilidade a

comunicação entre pontos fixos determinados, como atributos a transmissão de voz ou

outros sinais local, em longa distância nacional e em longa distância internacional e como

modalidade os processos de telefonia (RSTFC, art. 3º, inc. XX), isto é, aqueles que

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6

(RSTFC, art. 3º, inc. XV) permitem a comunicação entre pontos fixos determinados, de voz

e de outros sinais, utilizando técnica de transmissão nos modos 3,1 kHz-voz ou 7 hHz-

áudio ou até 64 kbits/s irrestrito, por meio de fio, radioeletricidade, meios ópticos ou

qualquer outro processo eletromagnético.

O serviço de comunicação multimídia (SCM), por sua vez, adota como utilidade a

comunicação entre pontos fixos, como atributos a transmissão internacional, nacional,

regional ou local de informação multimídia (Res. nº 272/2001 – ANATEL, art. 4º, inc. I:

sinais de áudio, vídeo, dados, voz e outros sons, imagens, textos e outras informações de

qualquer natureza), que não se confunda com o STFC, os serviços de comunicação de

massa (radiodifusão, tv a cabo, distribuição de sinais multiponto multicanal, distribuição de

sinais de televisão e de áudio por assinatura via satélite) ou quaisquer outros sinais de vídeo

e áudio irrestrito (Súmula nº 06, de 24/01/2002), e como modalidade quaisquer meios

eletromagnéticos, inclusive radiofreqüência, desde que não sejam meios característicos de

prestação de STFC (Res. 272/2001 - ANATEL, art. 66), em especial o encaminhamento de

tráfego telefônico por meio da rede de SCM simultaneamente originado e terminado nas

redes do STFC, e desde que o sinal transportado seja recebido direta e livremente pelo

público em geral como ocorre no serviço de radiodifusão, ou distribuído de forma

simultânea para os assinantes, como se dá nos serviços de TV a cabo, MMDS e DTH

(Resolução 328/2003 – ANATEL, item 3.4.2 do termo de autorização de SCM).

O serviço móvel celular (SMC; Decreto nº 2056/96) possui como utilidade a

comunicação com mobilidade, isto é, a permissão para que o usuário tenha locomoção

irrestrita, como atributos a prestação terrestre em área geográfica delimitada no território

nacional de qualquer informação e como modalidade a utilização de sistema de

radiocomunicações com técnica celular, interconectado à rede pública de telecomunicações,

e acessado por meio de terminais portáteis, transportáveis ou veiculares, de uso individual. 6. REGIME JURÍDICO DE PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE

TELECOMUNICAÇÕES

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7

Os serviços de telecomunicação, quanto ao regime jurídico em que são prestados,

classificam-se em público ou privado, e quanto à abrangência dos interesses que atendem,

classificam-se em interesse coletivo e interesse restrito (LGT, arts. 62 e 63).

6.1. PRESTAÇÃO EM REGIME PÚBLICO

6.1.1. CONCEITO

Os serviços prestados em regime público são aqueles de interesse coletivo cuja

existência, universalização e continuidade a própria União compromete-se a assegurar

(LGT, art. 64).

6.1.2. TIPOS

No regime da LGT, é de regime público o STFC (art. 64, § 1º da LGT e art. 13 do

RST). Em diplomas legais específicos, sujeitam-se ao regime público os serviços de TV a

cabo e móvel celular. E cabe ao Poder Executivo instituir ou eliminar a prestação de serviço

em regime público, bem como aprovar o plano geral de outorgas dos serviços prestados em

regime público (LGT, art. 18, caput e incisos).

6.1.3. UNIVERSALIZAÇÃO

A universalização do serviço está ligada ao objetivo de ofertar o acesso a qualquer

cidadão e em qualquer localidade, independentemente de tal prestação possuir viabilidade

econômica ou não (LGT, art. 79, § 1º).

6.1.4. CONTINUIDADE

A continuidade refere-se à fruição ininterrupta do serviço, sem qualquer paralisação

injustificada, em condições adequadas de uso (LGT, art. 79, § 2º). Admite-se a interrupção

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8

circunstancial em razão de emergência, motivada por questões de ordem técnica ou de

segurança nas instalações (RST, art. 45).

6.1.5. CONCESSÃO

A concessão é o instrumento contratual utilizado para a prestação de serviço em

regime público. Define-se concessão de serviço de telecomunicações como (LGT, art. 83,

parágrafo único): “a delegação de sua prestação, mediante contrato, por prazo

determinado, no regime público, sujeitando-se a concessionária aos riscos empresariais,

remunerando-se pela cobrança de tarifas dos usuários ou por outras receitas alternativas e

respondendo diretamente pelas suas obrigações e prejuízos que causar”.

A outorga de concessão depende de licitação (LGT, art. 88), salvo nas hipóteses de

inviabilidade (quando apenas um interessado puder realizar o serviço) ou desnecessidade

(quando a exploração do serviço puder ser realizada por todos os interessados que atendam

às condições requeridas) do processo licitatório (LGT, art. 91, caput e §§ 1º e 2º).

O contrato de concessão deve conter, entre outros elementos (LGT, art. 93), a exata

definição do objeto de concessão (natureza do serviço, área e prazo), regras sobre

universalização e continuidade do serviço, condições de prorrogação, tarifas e a indicação

dos bens reversíveis.

A transferência do contrato de concessão é admissível, desde que conte o serviço

prestado com três anos, ao menos, e o cessionário preencha os requisitos da outorga (LGT,

art. 98).

O prazo máximo do contrato de concessão é de vinte anos, podendo ser prorrogado

uma única vez, por igual período (LGT, art. 99). A prorrogação poderá ser obstada pela

ANATEL em caso de comprovada reorganização do objeto ou da área de concessão (LGT,

art. 99, § 3º).

O titular da concessão dependerá de prévia autorização da ANATEL (LGT, art. 97)

nas hipóteses de cisão, fusão, transformação, incorporação, redução do capital da empresa

ou transferência de controle societário.

Os bens reversíveis deverão ser entregues à União com a extinção da concessão

(LGT, art. 102), admitindo-se a indenização em favor do concessionário, se restituídos

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9

antes de expirado o prazo contratual, a qual compreenderá os investimentos realizados para

garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido (LGT, art. 102, parágrafo único).

A alienação, oneração ou substituição de bens reversíveis dependerá de prévia

aprovação da ANATEL (LGT, art. 101).

6.1.6. PERMISSÃO

Apenas em hipóteses excepcionais admite-se o uso da permissão (LGT, art. 118),

em especial nos casos em que a execução do serviço estiver comprometida, não sendo

possível aguardar-se a concretização de intervenção ou outorga de nova concessão.

A permissão depende de licitação, realizada por procedimento simplificado (LGT,

art. 119). Extingue-se a permissão pelo advento do prazo (salvo prorrogação, LGT, art.

124), revogação (derivada de razões de conveniência e oportunidade supervenientes à

permissão, LGT, art. 123), caducidade ou anulação.

6.1.7. CONCOMITÂNCIA ENTRE REGIME PÚBLICO E REGIME PRIVADO

A prestação do serviço em regime público, entretanto, não exclui a possibilidade de

sua prestação em regime privado, com o intuito de assegurar a concorrência (LGT, art. 65,

inc. III).

6.1.8. TARIFAS

A remuneração devida às concessionárias está sujeita à política tarifária impositiva

do órgão regulador (RST, art. 47), o qual apenas poderá autorizar a prática de preços livres

se a estrutura concorrencial do mercado considerado a recomendar (LGT, art. 104 e RST,

art. 48).

É possível a concessão, pelo concessionário, de desconto na tarifa, caso a redução se

baseie em critério objetivo e favoreça indistintamente todos os usuários (arts. 106 e 107).

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6.1.9. SERVIÇO ADEQUADO

A prestação do serviço em regime público deve ser adequada, assim entendida

aquela que preencha os requisitos de regularidade, eficiência, segurança, atualidade,

generalidade, cortesia e modicidade das tarifas (RST, art. 46 e parágrafos).

6.1.10. INTERVENÇÃO

Admite-se a intervenção, a ser decretada pela ANATEL, sempre que o

concessionário (LGT, art. 110) paralisar a prestação do serviço, prestá-lo de modo

inadequado, incorrer em desequilíbrio econômico-financeiro decorrente de má-

administração, praticar faltas graves, desconsiderar metas de universalização, recusar a

interconexão ou praticar infração à ordem econômica.

6.1.11. EXTINÇÃO DA CONCESSÃO

Opera-se a extinção da concessão nas hipóteses de advento do termo contratual

(LGT, 112), encampação (hipótese em que a União retoma o serviço, mediante lei

específica e fundada em razão extraordinária de interesse público, LGT, art. 113),

caducidade (quando houver falta imputável ao concessionário, dentre aquelas elencadas no

art. 114 da LGT), rescisão (de iniciativa do concessionário, a rescisão está fundada na

excessiva onerosidade do contrato, derivada de ação ou omissão do Poder Público, LGT,

art. 115) ou anulação (decretada pela ANATEL, é cabível em caso de nulidade absoluta do

contrato de concessão, LGT, art. 116).

6.2. PRESTAÇÃO EM REGIME PRIVADO

6.2.1. CONCEITO

Os serviços prestados em regime privado não estão sujeitos a obrigações de

universalização e continuidade, nem prestação assegurada pela União (RST, art. 14). A sua

prestação vincula-se aos princípios constitucionais da atividade econômica (LGT, art. 126)

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e a intervenção do órgão regulador será mínima (LGT, art. 128 e RST, art. 54), com vistas a

garantir a livre competição, o equilíbrio concorrencial e as necessidades dos usuários, bem

como a otimização dos recursos econômicos, o desenvolvimento tecnológico e o

desenvolvimento industrial (LGT, art. 127).

6.2.2. AUTORIZAÇÃO

O instrumento contratual utilizado para a prestação em regime privado é a

autorização, a qual pode ser definida como (LGT, art. 131, § 1º) “o ato administrativo

vinculado que faculta a exploração, no regime privado, de modalidade de serviço de

telecomunicações, quando preenchidas as condições objetivas e subjetivas necessárias” .

Possui direito à autorização aquele que preencher as condições objetivas (LGT, art.

132) e subjetivas (LGT, art. 133) exigíveis.

Entre as condições objetivas, cite-se a disponibilidade de radiofreqüência e a

apresentação de projeto viável tecnicamente e compatível com as normas aplicáveis.

Entre as condições subjetivas, cite-se a constituição do autorizatário segundo as leis

brasileiras, a ausência de impedimento para contratar com o Poder Público, a detenção de

qualificação técnica e capacidade econômico-financeira para a prestação do serviço, bem

como não possuir, na mesma área, autorização ou concessão para a prestação da mesma

modalidade de serviço de telecomunicações.

A expedição da autorização poderá ser condicionada à celebração de compromisso

(LGT, art. 135) no interesse da coletividade, observados os princípios da razoabilidade,

proporcionalidade e igualdade.

O descumprimento dos compromissos assumidos sujeita o autorizatário às sanções

de multa, suspensão temporária ou caducidade (LGT, art. 137).

Em regra, não se limita o número de autorizações a ser expedida, salvo nos casos de

impossibilidade técnica ou quando o excesso de competidores puder comprometer a

prestação de uma modalidade de serviço de interesse coletivo (LGT, art. 136). Em caso de

limitação ao número de autorizações, haverá procedimento licitatório (LGT, art. 136, § 1º).

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6.2.3. LIBERDADE TARIFÁRIA

A prática de preços é livre (LGT, art. 129), salvo nos casos em que a

impossibilidade técnica ou o comprometimento da prestação do serviço de interesse

coletivo impossibilite a inexistência de limite ao número de autorizatários. Em tais

hipóteses, haverá política tarifária, como definida em processo licitatório.

6.2.4. REVERSÃO: DISPENSA

Por fim, os bens utilizados pelos prestadores em regime privado são de propriedade

destes e não estão sujeitos à reversão (salvo o espectro de radiofreqüência, que constitui

bem público: LGT, art. 157).

6.2.5. A NÃO-ADMISSÃO DO DIREITO ADQUIRIDO

As condições de prestação do serviço em regime privado não constituem direito

adquirido do autorizatário. Ao contrário, “a prestadora de serviço em regime privado não

terá direito adquirido à permanência das condições vigentes quando da expedição da

autorização ou do início das atividades, devendo observar os novos condicionamentos

impostos por lei e pela regulamentação” (LGT, art. 130).

6.2.6. EXTINÇÃO DA AUTORIZAÇÃO

A autorização não possui termo final, mas poderá ser extinta por meio de cassação

(no caso de perda das condições subjetivas ou objetivas à expedição ou manutenção da

autorização, LGT, art. 139), caducidade (em caso de prática de infrações graves pelo

autorizatário, LGT, art. 140), decaimento (decorrente de razões de excepcional relevância

pública, hábeis a autorizar a ANATEL a vedar a prestação do serviço ou suprimir a sua

exploração no regime privado, LGT, art. 141), renúncia (hipótese em que o autorizatário

manifesta o seu desinteresse pela autorização, LGT, art. 142) e anulação (em caso de

nulidade do ato de autorização, LGT, art. 143).

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7. SERVIÇO DE TELECOMUNICAÇÕES PRESTADO NO INTERESSE

COLETIVO

O serviço de interesse coletivo é aquele (RST, art. 17) cuja prestação deve ser

proporcionada pela prestadora a qualquer interessado na sua fruição, em condições não

discriminatórias e suficientes ao atendimento dos interesses da coletividade.

O serviço de interesse coletivo pode ser prestado em regime público ou privado. A

rede de telecomunicação que confere suporte a serviço de interesse coletivo, no regime

público ou privado, está sujeita à interconexão (RST, art. 59, RGI, art. 12 e LGT, arts. 145

e 146). É livre a interconexão de redes que prestam suportes a serviços prestados no regime

privado (LGT, art. 148).

8. SERVIÇO DE TELECOMUNICAÇÕES PRESTADO NO INTERESSE

RESTRITO

O serviço de interesse restrito (RST, art. 18) é aquele destinado ao uso do próprio

executante ou prestado a determinados grupos de usuários, selecionados pela prestadora

mediante critérios por ela estabelecidos, em especial condicionamentos necessários a

impedir que a prestação do serviço de interesse restrito venha a prejudicar a prestação do

serviço de interesse coletivo (LGT, art. 145, parágrafo único e RST, art. 18, parágrafo

único).

O serviço de interesse restrito deve ser prestado apenas no regime privado (RST,

art. 19) e a autorização para a sua prestação independe de licitação, salvo se demandar o

uso de radiofreqüência (RST, art. 65). A remuneração da prestadora se dará por livre

imposição de preço (RST, art. 68).

A rede de telecomunicação que conferir suporte à prestação de serviço de interesse

restrito não poderá ser objeto de interconexão com outra rede que confira suporte a serviço

de interesse restrito ou coletivo (RST, art. 71, incs. I e II). A prestadora de serviço de

interesse restrito não poderá contratar diretamente com prestadora de serviço de interesse

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coletivo, devendo a interligação, nessa hipótese, ocorrer em caráter de acesso ao usuário

(RST, art. 71, inc. III).

9. INTERCONEXÃO

Interconexão é a ligação entre redes de telecomunicações funcionalmente

compatíveis, de modo que os usuários de serviços de uma das redes possam comunicar-se

com usuários de serviços de outra ou acessar serviços nela disponíveis (LGT, art. 145,

parágrafo único e RST, art. 58, parágrafo único).

O provimento de interconexão deve ser realizado em termos não discriminatórios,

sob condições técnicas adequadas, garantindo preços isonômicos e justos, atendendo ao

estritamente necessário à prestação do serviço (LGT, art. 152).

Ponto de interconexão, por sua vez, é o elemento de rede empregado como ponto de

entrada ou saída para o tráfego a ser cursado na interconexão com outra rede, constituindo o

ponto de referência para definição dos deveres e obrigações de cada uma das partes

envolvidas no contrato de interconexão (Regulamento Geral de Interconexão - Resolução nº

40/98-ANATEL, art. 3º, inc. IX). A interconexão deve ser feita em pontos tecnicamente

viáveis da rede da prestadora que recebe o pedido de interconexão (RGI, art. 13).

Não se considera interconexão a ligação entre rede de telecomunicações de suporte

a serviço de telecomunicação de interesse coletivo e equipamento terminal ou rede de

telecomunicação pertencente a usuário ou provedor de serviço de valor adicionado (RGI,

art. 5º).

A rede de telecomunicação que confere suporte a serviço de interesse coletivo, no

regime público ou privado, está sujeita à interconexão (RST, art. 59, RGI, art. 12 e LGT,

arts. 145 e 146). É livre a interconexão de redes que prestam suportes a serviços prestados

no regime privado (LGT, art. 148).

O contrato de interconexão é de livre negociação entre as partes, e sua eficácia está

sujeita à homologação pela ANATEL (RGI, art. 41 e LGT, art. 153 e parágrafos). Não

havendo acordo, a ANATEL, se provocada, arbitrará as condições para a interconexão.

Se necessário à implementação da interconexão, a prestadora objeto do pedido

deverá compartilhar os seus meios, aqui compreendidos os equipamentos, infra-estrutura,

facilidades, etc... (RGI, art. 33).

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A infra-estrutura de prestadora cuja rede estiver sujeita a pedido de interconexão

deverá dispor de área suficiente, próxima ao ponto de interconexão, para a instalação de

equipamentos de terceiros, a serem utilizados para a interconexão (RGI, art. 34).

A rede de telecomunicação que conferir suporte à prestação de serviço de interesse

restrito não poderá ser objeto de interconexão com outra rede que confira suporte a serviço

de interesse restrito ou coletivo (RST, art. 71, incs. I e II). A prestadora de serviço de

interesse restrito não poderá contratar diretamente com prestadora de serviço de interesse

coletivo, devendo a interligação, nessa hipótese, ocorrer em caráter de acesso ao usuário

(RST, art. 71, inc. III).

Não se considera interconexão o uso da infra-estrutura de rede alheia com o intuito

de construir a sua própria rede de telecomunicação. A esse direito, que corresponde ao

conceito de desagregação de elementos de rede (unbundling), relaciona-se a idéia de que,

nas redes de acesso local, não basta a interconexão, mas deve ser assegurado ao concorrente

viabilidade técnica para que este construa a sua própria rede.

10. SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA E SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

O serviço de comunicação multimídia se distingue dos serviços de comunicação

eletrônica de massa porque o atributo de informação multimídia (Res. nº 272/2001 –

ANATEL, art. 4º, inc. I: sinais de áudio, vídeo, dados, voz e outros sons, imagens, textos e

outras informações de qualquer natureza) não se confunde com radiodifusão, tv a cabo,

distribuição de sinais multiponto multicanal, distribuição de sinais de televisão e de áudio

por assinatura via satélite ou qualquer outro sinal de vídeo e áudio irrestrito (Súmula nº

06/ANATEL, de 24/01/2002).

Por informação multimídia não se deve entender o fornecimento de sinal de áudio

ou vídeo irrestrito, salvo o fornecimento de sinais de vídeo e áudio, de forma eventual,

mediante contrato ou pagamento por evento (RSCM, art. 67).

A modalidade de prestação de SCM não comporta, ademais, sinal transportado e

recebido direta e livremente pelo público em geral como ocorre no serviço de radiodifusão,

ou ainda distribuído de forma simultânea para os assinantes, como se dá nos serviços de TV

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a cabo, MMDS e DTH (Resolução 328/2003 – ANATEL, item 3.4.2 do termo de

autorização de SCM).

MÓDULO: APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI Nº 8987/95. Hipóteses de interrupção em cada um dos serviços. Aplicação subsidiária da Lei 8.987/95. Multa. Suspensão e caducidade do instrumento de outorga. Transferência e subcontratação pela autorizatária. Deveres das entidades exploradoras do serviço.

1. A LEI N 8987/95: APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA

Nos termos do art. 210 da LGT, a Lei nº 8987/95 não se aplica aos serviços de

telecomunicações regulados pela ANATEL.

Deve-se observar, entretanto, que os serviços de radiodifusão sonora e de sons e

imagens, bem como o serviço de TV a Cabo, a despeito de configurarem serviços de

telecomunicações, não se vinculam à LGT, mas a regimes jurídicos próprios (arts. 211 e

215, inc. I, da LGT, Lei nº 4117/62 e Lei nº 8977/1995).

Em linha de princípio, pode-se concluir que a Lei nº 8987/95 aplica-se

subsidiariamente ao serviço de TV a Cabo. O art. 41 da referida Lei afasta a sua incidência

para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens.

2. A LEI N 8987/95: INSTITUTOS

A Lei nº 8987/95 regulamenta o art. 175 da CF/88, ao disciplinar os contratos de

concessão e permissão para a prestação de serviço público, aqui incluído os serviço de TV a

Cabo, como acima referido.

2.1. HIPÓTESES DE INTERRUPÇÃO NO SERVIÇO

A interrupção na prestação do serviço descumpre o princípio da adequação (art. 6º,

Lei nº 8987/95), porquanto fere a continuidade do serviço. As exceções ao dever de

continuidade estão previstas no § 3º ao art. 6º, Lei nº 8987/95, sendo o qual são lícitas as

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interrupções decorrentes de razões de ordem técnica ou segurança nas instalações, ou ainda

de inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

2.2. TARIFAS

A prestação do serviço está sujeita à tarifa fixada no contrato, conforme o preço da

proposta vencedora da licitação (art. 9º, Lei nº 8987/95), admitindo-se a revisão das tarifas,

como meio de se preservar o equilíbrio econômico-financeiro, em especial nas hipóteses de

alteração da carga tributária incidente (art. 9º, § 3 º, Lei nº 8987/95).

Admite-se a diferenciação tarifária, em função de características técnicas ou de

custos específicos, relacionados ao atendimento de usuários pertencentes a segmentos

distintos (art. 13, Lei nº 8987/95).

2.3. CONCESSÃO

A concessão para a prestação do serviço depende de prévia licitação (art. 14, Lei

nº 8987/95). O contrato de concessão, por sua vez, possui os seguintes elementos, dentre

outros (art. 23, Lei nº 8987/95): objeto, área e prazo da concessão, forma de prestação do

serviço, regras tarifárias e indicação dos bens reversíveis.

2.4. DEVERES DOS EXPLORADORES DO SERVIÇO

Incumbe ao concessionário a execução do serviço concedido, cabendo-lhe

responder pelos prejuízos causados (art. 25, Lei nº 8987/95). E, nos termos do art. 31 da Lei

nº 8987/95, o concessionário deve prestar serviço adequado, manter em dia o inventário e o

registro dos bens vinculados à concessão, prestar contas da gestão do serviço ao poder

concedente e aos usuários, cumprir o contrato de concessão, facilitar a fiscalização,

preservar os bens e gerenciar os recursos financeiros captados.

2.5. SUBCONCESSÃO E TRANSFERÊNCIA

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Admite-se a subconcessão, desde que autorizado pelo poder concedente (art. 26,

Lei nº 8987/95). A outorga dependerá de concorrência e o cessionário assumirá todos os

direitos e obrigações do cedente, nos limites da subconcessão.

Admite-se, ainda, a transferência da concessão, mediante a autorização do poder

concedente, cuja falta implicará em caducidade da concessão (art. 27, Lei nº 8987/95). A

transferência apenas será efetiva se o cessionário atender às exigências necessárias para

assumir a concessão (art. 27, parágrafo único, incs. I e II, Lei nº 8987/95).

2.6 INTERVENÇÃO

A intervenção poderá ser determinada pelo poder concedente com o fim de

assegurar a adequação na prestação do serviço e o fiel cumprimento do contrato (art. 32,

Lei nº 8987/95).

2.6. EXTINÇÃO DA CONCESSÃO

A concessão se extingue (art. 35, Lei nº 8987/95) pelo advento do termo,

encampação (retomada da prestação do serviço pelo Poder Público, por motivo de interesse

público, reconhecido em lei específica e mediante o pagamento de indenização ao

concessionário), caducidade (quando houver prestação inadequada do serviço, falta grave

ou descumprimento de sanções impostas ao concessionário, bem como na hipótese de perda

das condições econômicas para a prestação do serviço), rescisão (requerida pelo

concessionário, nas hipóteses em que o poder concedente não cumprir com as suas

obrigações contratuais) ou anulação (existência de vício formal insanável no ato de

concessão).

2.7. PERMISSÃO

Caracteriza-se pela precariedade e possibilidade de revogação unilateral do

contrato pelo poder concedente. Submete-se à licitação e é formalizada por meio de

contrato de adesão (art. 40, Lei nº 8987/95).

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3. ESTUDO DE CASO: A recusa da TV GLOBO em liberar seu canal aberto à

transmissão pela DIRECTV (DTH).

Em sala de aula, serão analisados os fundamentos da decisão tomada pelo CADE,

bem como os argumentos utilizados pelas partes envolvidas no processo administrativo,

relacionadas à conduta, adotada pela TV GLOBO, de “estar ilicitamente recusando-se a

autorizar a DIRECTV a incluir em seu serviço de Distribuição de Sinais de Televisão a

áudio via satélite (serviço DTH), na banda KU, os canais locais da Rede Globo de

Televisão, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre”.

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Organização do mercado de mídia

Bernardo E. Lins

Bernardo Mueller

1 A mídia como indústria

1.1 Importância econômica

Os estudos de mídia geralmente examinam essa atividade preocupados com seus efeitos

sobre a sociedade civil. Problemas como a formação da opinião pública, a criação de mitos

pela imprensa e o poder de agenda de grupos de pressão são centrais a essa abordagem.

A mídia, por outro lado, pode ser examinada sob um prisma distinto, que complementa

esse enfoque “tradicional” e reforça algumas de suas intuições, embora coloque outras sob

perspectiva diferente. É o exame da comunicação social como uma indústria, com

problemas de natureza econômica determinando suas estratégias e suas decisões. A

economia da mídia, disciplina já bastante desenvolvida no meio acadêmico norte-

americano e ainda incipiente em nosso País, trata dessas questões.

As empresas de comunicação configuram um setor razoavelmente importante do ponto de

vista econômico. Sua principal receita é a publicidade, em geral usada como uma

aproximação para descrever o porte do setor como um todo. Levantamentos conduzidos

por organismos internacionais sugerem que a mídia movimente cerca de US$ 500 bilhões

por ano em nível mundial. O mercado brasileiro responde por cerca de US$ 11 bilhões

anuais, sendo cerca de metade desse montante destinado à televisão.

Em vários países o mercado de mídia supera, portanto, outros setores tradicionais, seja na

índústria (por exemplo, a indústria têxtil), seja em serviços (por exemplo, hotelaria). No

entanto, o seu porte é sensivelmente menor do que o do setor automobilístico,

petroquímico, farmacêutico ou do comércio varejista. Assim, considerando as maiores

empresas do setor (tabela 1), vale notar que a WalMart é sete vezes maior que a Time

Warner, a Exxon é oito vezes a Walt Disney e a General Motors, doze vezes a

Bertelsmann.

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Tabela 1 – Alguns dados dos maiores grupos empresariais de mídia

Grupo Receita (US$ bi) Empregados Valor patrimonial

Time Warner 36,2 88 500 166

Walt Disney 25,4 120 000 53,2

Vivendi Universal 24,3 253 000 59,4

Viacom 20,0 57 800 80,6

Bertelsmann AG 18,0 82 200 70

News Corp. 13,8 33 800 15,6 Fonte: Albarran e Moellinger (2002: 104). Dados de 2000.

1.2 Organização da produção

Embora a comunicação social agregue empresas com diferentes tecnologias, é possível

identificar alguns aspectos comuns a todas.

A principal receita é a publicidade. Para capturá-la, a mídia funciona como um mercado de

dois lados: oferece uma mercadoria, o programa, a uma base de público e forma a

audiência; vende, então a audiência ao anunciante. Ganhará tanto mais do anunciante

quanto mais audiência for capaz de capturar.

O negócio da mídia é formar e vender audiência. Para certos veículos, como a televisão

aberta e o rádio, a venda do espaço publicitário é a única receita. E mesmo para aqueles

que dispõem de outras fontes, trata-se de uma receita importante. Varia de 65% a 80% a

receita advinda da comercialização do espaço publicitário de um jornal, por exemplo.

Na organização das atividades do setor, identificam-se, em geral, quatro etapas distintas:

(i) Produção de conteúdo – é a etapa em que o conteúdo é gerado e formatado. Em um

jornal, por exemplo, é uma tarefa da redação e da arte final. Em produtos

audiovisuais, resulta do trabalho de roteiristas, produção, artistas e técnicos.

(ii) Packaging – consiste na colocação do programa em sua forma final, pronto para ser

distribuído. Concluída a etapa, esta encerrada a produção e o programa está pronto

para ser veiculado.

(iii) Veiculação – é a oferta do programa ao público. O jornal impresso, o filme em

exibição na sala de cinema, a televisão, são veículos.

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(iv) Infra-estrutura – é a formação da base para a qual o programa será disseminado. Na

televisão por assinatura, o provedor da infra-estrutura é, por exemplo, o operador

de cabo ou de MMDS; na televisão aberta, é o sistema de repetidoras e

retransmissoras que alcançam os receptores domésticos.

A caracterização do mercado de dois lados se dá na veiculação: a partir da base de lares

alcançada, o veículo oferece o programa e captura a audiência. Esta, por sua vez, é

oferecida ao anunciante pela veiculação de inserções publicitárias. A audiência, no entanto,

depende de decisões tomadas nas demais etapas. Alguns dos fatores de formação da

audiência são o tamanho e perfil da base alcançada pela infra-estrutura, características do

programa decididas durante a produção, tais como o gênero, a qualidade do conteúdo e a

qualidade do packaging, e evidentemente as decisões do veículo quanto a horário e quanto

à relação entre espaço alocado ao programa e às inserções publicitárias.

1.3 Custos

O estudo da formação dos custos é importante na economia da firma, pois oferece

intuições quanto ao seu comportamento. Há três características marcantes nos custos da

indústria de mídia:

(i) Os custos de produção e packaging são elevados, e o produtor deve incorrer neles

antes de veicular o programa. Por esse motivo, são chamados de custos de first

copy.

(ii) Parte dos custos de first copy é fixa e compulsória, pois refere-se à manutenção de

recursos independentemente do produto originado: laboratórios, equipamentos,

staff de técnicos contratados, jornalistas, redatores, funcionários administrativos.

Outra parte dos custos é fixa e eletiva. Refere-se aos custos adicionais para elevar a

qualidade de conteúdo e de packaging: contratação de artistas, diretores e outros

profissionais conhecidos do público, adoção de tecnologia mais avançada ou efeitos

especiais.

(iii) Custos de first copy e custos fixos do veículo e da infra-estrutura costumam ser

elevados. Custos variáveis tendem a ser pequenos, com a exceção dos veículos

impressos, para os quais o custo do papel é relevante.

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1.4 Modelos de negócio

Há usualmente dois modelos de negócio distintos no mercado de mídia e, evidentemente,

combinações de ambos:

(i) Quando a infra-estrutura não é capaz de excluir um usuário, a única receita é a

publicidade. O veículo, então, remunera toda a cadeia. Um exemplo é a televisão

aberta: a emissora cabeça-de-rede comercializa o espaço publicitário e dá uma

pequena participação a cada repetidora, retransmissora ou emissora associada. Diz-

se, nesse caso, que o programa veiculado é um bem público, pois é não-rival (o uso

por um espectador não diminui a possibilidade de outros assistirem o programa) e

não-excludente (não há como excluir um espectador, ou seja, não há como cobrar

pelo serviço).

(ii) Quando a infra-estrutura é capaz de excluir um usuário, pode-se cobrar uma

assinatura, seja pelo serviço em geral, seja por um veículo, ou seja por um

programa. A infra-estrutura repassará, então, parte da receita a cada veículo

atendido. Um exemplo é a TV a cabo: o operador cobra uma assinatura e remunera

os canais. Nesse caso, trata-se de um monopólio natural.

2 Estratégias de competição

2.1 Estratégias dos produtores

Há vários mercados em que os produtores são independentes. Um exemplo é o mercado de

produção de programas culturais para televisão. Outro é o de empresas de cotações e

análise de bolsas de valores. Outro, ainda, é o mercado de publicações acadêmicas.

Nesses exemplos, os produtores competem entre si pela atenção do público. Quanto melhor

se posicionarem, mais capacidade de atração de audiência terão seus programas e mais

bem remunerados serão pelos veículos.

Há três estratégias importantes de competição livre:

(i) Competição por conteúdo – o produtor ajusta o conteúdo, escolhendo o gênero, a

qualidade de conteúdo ou o uso de temas ou recursos específicos de modo a

capturar a maior audiência possível.

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(ii) Aplicação em custos eletivos – ao elevar os custos eletivos, contratando estrelas ou

aplicando tecnologia avançada em seu produto, o produtor satisfaz um número

maior de consumidores e eleva a audiência. Há um limite para essa estratégia, pois

será compensador elevar custos eletivos até o ponto em que um real adicional

induza um retorno de um real. Se o retorno for menor, não valerá a pena.

Figura 1 – Escolha do custo eletivo ótimo ν*

(iii) Windowing – uma janela (window) é uma ocorrência de comercialização do

programa, a um veículo, para uso em certas condições e sobre uma base. O

produtor pode adaptar o programa a outro veículo ou reposicioná-lo, explorando

sucessivamente várias janelas. Considere o exemplo de um musical norte-

americano. Uma possível estratégia de windowing está apresentada na tabela 2.

Tabela 2 – Possível exemplo de windowing

Mes Janela Margem por espectador

1-40 Show na Broadway 25,00

12-40 Turnê nos EUA 20,00

32-40 Filme no circuito norte-americano 5,00

33-40 Reapresentação em pay-per-view 4,00

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35-40 Filme no exterior 1,00

38-60 Edição em DVD (área 1) 0,70

41-60 Edição em DVD (outras áreas) 0,40

40-42 TV a cabo (canal premium) 0,10

48-50 TV aberta (horário nobre) 0,06

51-54 TV a cabo (standard) 0,03

58-60 TV aberta (livre) 0,02

Um aspecto importante do windowing é o de que a exploração de várias janelas eleva a

receita total decorrente do programa e permite que o produtor possa elevar os custos

variáveis. Desse modo, o acesso a outros mercados estimula a elevação da qualidade

técnica do programa.

Figura 2 – O custo eletivo ideal é maior se uma janela adicional for explorada

Um efeito disto é a conhecida lei de ferro do domínio de Hollywood, muito citada por

analistas franceses. O seu rationale é o de que o produtor norte-americano dispõe de uma

primeira janela a explorar, que é seu mercado interno. Graças a este, pode arcar com

elevados custos eletivos, oferecendo programas de qualidade elevada. Como o público

americano é refratário a manifestações culturais diferenciadas, esse mercado não é

facilmente explorável por produtos estrangeiros. A produção americana conta, portanto,

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com um diferencial em relação aos concorrentes. A existência de janelas adicionais a

explorar no exterior permite a tais produtores elevar ainda mais seus custos, o que se

reflete nos altos orçamentos de produção naquele país. A liberação do mercado europeu

resultaria, então, em uma avalanche de produtos importados que iria asfixiar a produção

local e, por isto, seria indesejável.

Note, enfim, que a competição por conteúdo é uma forma de diferenciação e que o

windowing é uma forma de discriminação de preços de terceiro grau, na qual o produtor

divide o público em vários grupos, fazendo com que aqueles que estejam dispostos a pagar

mais pelo conteúdo efetivamente o façam.

2.2 Estratégias dos veículos

Naqueles mercados em que os veículos concorram entre si, como por exemplo na televisão

por assinatura, em que a concorrência entre canais é a tônica, há alguns mecanismos de

competição que merecem destaque:

(i) Posicionamento editorial – consiste na aderência a um gênero ou posicionamento

de conteúdo “típico”, que irá identificar o veículo e promover sua diferenciação, ou

na oferta de serviços diferenciados, como por exemplo informação meteorológica,

informação de mercados ou informação turística.

(ii) Relação programa/publicidade – escolha de uma taxa de uso do veículo para

publicidade, de 0 a 100%. Um exemplo da ausência de publicidade é o de canais de

música pay-per-view. Um exemplo de ocupação completa do veículo por

publicidade são os jornais de classificados. Entre esses extremos, o veículo define

seu posicionamento estratégico.

(iii) Competição por grade – é a otimização do uso da grade ou edição, posicionando os

programas conforme seu gênero ou qualidade de conteúdo, buscando capturar a

audiência e, eventualmente, transferi-la ao programa anterior (lead-in) ou

subseqüente (lead-out).

Em função dos mecanismos de posicionamento, há várias estratégias identificadas no

mercado de mídia. Os seguintes grupos são em geral observáveis: veículos de interesse

geral, de nicho de gênero, de anúncios e venda direta, de programação de alto valor

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agregado e pequeno porte, de conteúdo sem comerciais, de serviços de interesse público e

de catálogo.

2.3 Estratégias de provedores de infra-estrutura

No mercado de infra-estrutura a competição tornou-se mais comum. Exemplos são a

concorrência entre cabo, MMDS e satélite, e a competição entre provedores de acesso

Internet. Quando esta ocorre, há algumas estratégias básicas para competir pela expansão

da base:

(i) Competição por preço – nesse caso uma infra-estrutura reduz o preço de assinatura

para capturar a base dos demais, ou desenvolve mecanismos de discriminação de

preços.

(ii) Competição por qualidade da infra-estrutura – o provedor procura oferecer

diferencial de qualidade de sinal, tempo de acesso, serviços de apoio e outros

aspectos relacionados à qualidade da mídia.

(iii) Competição por conteúdo exclusivo – o provedor procura diferenciar-se pela oferta

de conteúdo exclusivo, mantendo contratos com veículos de elevado valor para o

usuário.

3 Controles verticais

Há muitas situações em que as funções anteriormente descritas são executadas por

empresas separadas. Veja-se um exemplo oriundo da TV a cabo: um estúdio, por exemplo

a Fox, produz um seriado; este é transmitido, em janelas distintas, por dois canais de cabo,

digamos a Fox TV no horário nobre e o 21 em horário standard, de grupos empresariais

distintos; ambos são veiculados por cabo em Brasília pela Net Serviços, de uma terceira

empresa.

Em outros casos, porém, essa separação inexiste. Um exemplo é a televisão aberta, que

possui estúdios para produzir seus próprios programas, sua própria administração da grade

de programação e sua própria rede de repetidoras, retransmissoras e emissoras associadas

para chegar até o espectador.

Vejamos, pois, os motivos para essa integração vertical:

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(i) A tecnologia impõe a distribuição exclusiva do programa – é o caso da televisão e

do rádio. O número de canais é limitado. Se uma empresa local detém uma outorga

de um canal, associa-se a uma rede. A cabeça-de-rede deverá oferecer incentivos

para que a firma local não “mude de time”, deixando-a sem retransmissora na

localidade. Isto dá à firma local oportunidade de capturar ganhos da cabeça-de-

rede. Por isso, os grandes grupos buscam deter outorgas próprias nas principais

praças.

(ii) O custo fixo limita o número de provedores de infra-estrutrura multicanal – é o

exemplo da cabodifusão. Nesse caso, se o veículo tiver ganhos próprios, como

publicidade ou receita pay-per-view ou venda direta, a infra-estrutura busca esses

ganhos, reduzindo o repasse da participação ao veículo ou cobrando-lhe uma taxa.

Por esse motivo, os canais pay-per-view tendem a pertencer à mesma unidade

empresarial do provedor de cabo. Também por motivo similar os jornais tendem a

ter distribuição própria em suas principais praças, e os estúdios cinematográficos

buscam controlar as distribuidoras de filmes.

(iii) O ajuste entre interesses de produtor, veículo e provedor de infra-estrutura é

essencial para que a audiência seja maximizada – como a audiência depende de

decisões de todos os players, é necessário que contratos e acordos delimitem o

espaço de ajuste de cada um. Para janelas com alto retorno, porém, pode haver

oportunidades para o controle vertical, pois o retorno de receita será maior com um

alinhamento das estratégias.

4 Organização do mercado

Completando o quadro, os seguintes fatos estilizados são usualmente identificados em

relação à mídia:

(i) O mercado é muito diversificado. Na maioria das tecnologias, pode-se empreender

uma operação de mídia de custos irrisórios (jornal mural, livro de mimeógrafo,

rádio de “panela”, blog), de orçamento modesto (revista de pequena tiragem, rádio

comunitária, site informativo na Internet) ou de grandes proporções (emissora

comercial, rede de televisão, jornal de interesse geral, revista de circulação

nacional). Porém, para se alcançar um público significativo é preciso arcar com

custos eletivos altos e dispor de uma base de lares compatível para operar.

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(ii) As empresas de mídia enfrentam custos fixos elevados e tendem a explorar

estratégias de diferenciação, seja por gênero ou linha editorial, seja pela qualidade

do veículo, seja pelo posicionamento do conteúdo, resultando em uma organização

na forma de competição monopolística.

(iii) O mercado tende a ser concentrado. Em alguns casos a concentração dá-se em nível

nacional. Uma única empresa, por exemplo, detém mais da metade do mercado de

infra-estrutura de televisão a cabo no Brasil. Em outros caso, a concentração dá-se

em nível local. Nas principais capitais brasileiras, por exemplo, apenas um ou dois

jornais cobrem mais da metade do mercado.

Esta última afirmação merece uma ressalva. O mercado de produção de conteúdo é

relativamente competitivo nos EUA, com cerca de uma dezena de firmas relevantes, que

detêm parcelas relativamente equivalentes do mercado; cerca de metade da receita dessas

firmas é oriunda do mercado externo, embora a principal e mais lucrativa janela seja ainda

a exibição nos EUA. Já o mercado de veiculação de conteúdo é fortemente oligopolizado,

às vezes no mercado local e às vezes no mercado nacional. Contribui para isso, em

particular, a tendência dos corretores de publicidade de concentrar novas campanhas nos

veículos que já dominam o mercado, aumentando sua participação. A infra-estrutura de

mídia, enfim, é igualmente oligopolizada em nível nacional, com duas ou três firmas

relevantes nos principais mercados (redes de cabeamento, distribuição de periódicos,

distribuição de filmes, redes de salas de cinema, etc.).

Há uma tendência à formação de conglomerados multimídia, seja horizontais, agregando

vários veículos distintos, seja verticais, agregando os processos de produção e veiculação

de conteúdo em todos os estágios. Alguns conglomerados multinacionais de grande porte

tendem a incorporar empresas de telecomunicações e informática. Isto é indicativo de uma

percepção, no mercado, da existência de economias de escopo nessas junções. Pode estar

relacionado, porém, com o uso de empresas de mídia para defesa de interesses do

controlador, do país sede da empresa ou de orientações políticas, ideológicas ou religiosas.

Não está claro, porém, na literatura, o alcance e as implicações dessas ocorrências em

termos de freqüência e de eficácia.

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Bibliografia comentada

Não há textos adequados ao estudo da economia de mídia em português. Algumas

informações gerais podem ser obtidas nos dois livros a seguir, mas estes, por serem estudos

de teoria da comunicação, carecem de um tratamento econômico mais aprofundado:

LIMA, Venício A. (2001). Mídia: Teoria e Política. São Paulo (SP): Fundação Perseu

Abramo.

DOWBOR, Ladislau et al. (orgs.) Desafios da Comunicação. Petrópolis (RJ): Vozes.

Um texto interessante que examina em detalhe o problema da concentração de mercado,

embora se restrinja a uma observação dos fatos, é:

BAGDIKIAN, Ben (1993). O Monopólio da Mídia. São Paulo: Scritta.

Em inglês há bons textos sobre o tema. Para um tratamento introdutório, os seguintes livros

são interessantes e de leitura agradável:

BAKER, Edwin C. (2002). Media, Markets, and Democracy. Nova York (NY), EUA:

Cambridge University Press.

DOYLE, Gillian (2002). Understanding Media Economics. Londres, GB: Sage.

Para um tratamento técnico, com uma discussão dos principais modelos de análise e suas

aplicações, recomenda-se:

OWEN, Bruce M. e Steven S. WILDMAN (1992). Video Economics. Cambridge (MA),

EUA: Harvard University Press.

PICARD, Robert G. (2002). The Economics and Financing of Media Companies. Nova

York (NY), EUA: Fordham University Press.

Entre os livros com artigos selecionados, que dão interessantes intuições sobre aspectos

variados do mercado de mídia, selecionamos:

ALEXANDER, Alison, James OWERS e Rod CARVETH. Media Economics: Theory and

Practice. Mahwah (NJ), EUA: Lawrence Erlbaum Associates. 2ª ed.

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PICARD, Robert G. (org.). Media Firms: Structures, Operations, and Performance.

Mahwah, NJ (EUA): Lawrence Erlbaum Associates.

Destacamos, enfim, três textos que tratam de experiências internacionais em regulação e

que examinam seus efeitos:

AUFDERHEIDE, Patricia (1999). Communications Policy and the Public Interest: the

Telecommunications Act of 1996. Nova York (NY), EUA: Guilford.

HOFFMANN-RIEM, Wolfgang (1996). Regulating Media. Nova York (NY), EUA:

Guilford.

NOAM, Eli M. (1991). Television in Europe. Oxford, GB: Oxford University Press.

O primeiro examina o Telecommunications Act de 1996 dos EUA e sugere alguns

possíveis efeitos da sua aplicação. O texto é curto e um extenso apêndice apresenta

material jurídico correlato. Os demais tratam da experiência de vários países e fazem uma

análise comparada.

Quanto ao problema da economia da convergência e da competição entre redes, por serem

assuntos em desenvolvimento na literatura acadêmica, o melhor sobre estes pode ser

encontrado em revistas especializadas. Dois títulos são especialmente recomendáveis:

Telecommunications Policy, editada pela Pergamon/Elsevier, e o Journal of Media

Economics, editado pela Lawrence Erlbaum.

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Regulação do mercado de mídia

Bernardo E. Lins

Bernardo Mueller

1 Regulação econômica da mídia

Quando há agentes com poder de mercado, estes podem perfazer ganhos superiores aos de

um mercado competitivo e oferecer uma quantidade insuficiente do bem aos consumidores.

Também a decisão das empresas quanto à qualidade ofertada será deslocada, oferecendo-se

um grau de qualidade diferente do socialmente desejável.

Nesses casos, justifica-se a regulação econômica, que tem o objetivo de aproximar o

mercado do seu ótimo social, protegendo o consumidor. Se em muitos casos não se atinge

os níveis do mercado competitivo, pois as empresas ficariam expostas a uma operação

deficitária, ajustam-se preços, quantidades e qualidade a níveis adequados, num second

best em relação à concorrência perfeita.

A existência de concentração de mercado no setor de mídia sugere que a regulação

econômica pode ser relevante. Entre os vários enfoques da regulação, merecem ser

lembradas as seguintes abordagens:

(i) Eliminação de barreiras à entrada e à saída.

(ii) Repressão de comportamento anticompetitivo – inclui iniciativas da firma no

sentido de erguer barreiras à concorrência, tais como dumping, oferta casada de

bens e serviços, contratos de exclusividade, propaganda cruzada.

(iii) Análise econômica de fusões e aquisições, avaliando-se a concentração alcançada

após sua ocorrência e impondo contrapartidas.

(iv) Controle sobre os níveis de oferta exercidos pelas empresas, impondo tarifas, níveis

mínimos de oferta ou contratos que os induzam.

É interessante constatar que, no mercado de mídia, tais controles não são freqüentes. O

mercado encaminhou-se para uma forma diferente de regulação, que pode ser chamada de

regulação “social”. Praticada desde o surgimento da imprensa, seus objetivos voltam-se a

delimitar o conteúdo veiculado por esta. Se, por um lado, é uma regulação que restringe,

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em alguns países, o espaço de ação das empresas do setor, garante, por outro lado, uma

liberdade financeira às vezes surpreendente.

2 Regulação social da mídia

A regulação da mídia, na forma hoje praticada, surgiu na década de 1930 com a

consolidação da radiodifusão. A sua doutrina pressupõe a administração de um recurso

escasso, a exemplo do espectro radioelétrico, a ser alocado a um número limitado de

agentes, tipicamente veículos de mídia. Os diferentes enfoques da regulação são, pois:

(i) Administração de um recurso escasso – determinados veículos dependem de

recursos escassos para sua operação. É o caso do espectro radioelétrico. Há,

portanto, uma limitação técnica ao número de firmas que podem participar desse

mercado e caberá, então, ao Estado, regular a entrada das firmas e sua atuação,

selecionando as mais aptas e cuidando de que não interfiram entre si na operação.

(ii) Prestação de serviços de utilidade pública – determinados serviços são impostos à

empresa de mídia, no sentido de informar a sociedade sobre fatos relevantes à

comunidade, embora de escassa importância jornalística ou de entretenimento, tais

como comunicações oficiais de governo, promoção de campanhas de saúde pública,

contrapropaganda de produtos danosos à saúde, entre outros.

(iii) Garantia de pluralidade – os veículos de mídia são determinantes para a formação

de uma opinião pública equilibrada e democrática. Matéria polêmica deve chegar

ao público por meio de fontes distintas e todas as interpretações alternativas a

respeito dos fatos devem ser oferecidas. Se um veículo monopolista, ou dominante,

mostrar apenas um lado da questão, estará empobrecendo o debate. Será preciso,

pois, assegurar essa diversidade de enfoques, limitando, por exemplo, o alcance de

cada veículo, ou impondo condições à programação veiculada.

As práticas de regulação social são agrupadas pelos estudiosos em duas categorias

distintas: práticas de regulação de conteúdo e práticas de regulação estrutural.

2.1 Regulação de conteúdo

A regulação de conteúdo pretende estabelecer parâmetros para a informação veiculada pela

mídia e, conseqüentemente, monitorar a programação. Utiliza de instrumentos coercitivos,

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denominados de controle imperativo, e de instrumentos de incentivo, também conhecidos

como práticas indicativas.

Instrumentos imperativos são, por exemplo:

(i) Censura prévia – ainda praticada em muitos países, mas constitucionalmente

proibida no Brasil, consiste no exame do conteúdo de cada programa antes de sua

veiculação.

(ii) Limitações de horário – estabelece a proibição de se oferecer certos conteúdos em

certos horários, em particular quando a audiência inclui o público infantil.

(iii) Limitações genéricas à veiculação de certos conteúdos – inclui a divulgação, por

exemplo, de propaganda de armas, munição, tabaco, bebidas alcoólicas e

agrotóxicos, adotada por grande número de países.

(iv) Imposições de condições editoriais gerais – entre outras, inclui-se o uso obrigatório

do idioma padrão, a alocação de parcela da grade a programas noticiosos e

culturais, etc.

(v) Alocação compulsória de grade para serviços de utilidade pública.

(vi) Restrições à circulação e publicidade de certos veículos – inclui-se, nesse caso, as

publicações e os canais de televisão para o público adulto.

Já as práticas indicativas incluem variantes do controle imperativo, tais como a

classificação indicativa de conteúdo para orientação do espectador, as mensagens

obrigatórias quanto aos danos de determinadas mercadorias, a codificação de acesso (v-

chip e programas identificadores de classificação), os incentivos fiscais como contrapartida

da oferta de serviços de utilidade pública e a admissão de ofertas de cunho editorial como

critério de seleção dos operadores de serviços, quando da outorga de concessões.

2.2 Regulação estrutural

A regulação estrutural consiste na definição de critérios para seleção de veículos, também

conhecida como regulação de acesso, e na imposição de limites à audiência ou à

distribuição de cada veículo, também conhecida como regulação de alcance.

A regulação de acesso abrange, usualmente, três instrumentos:

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(i) Restrição à origem do capital – a limitação pode abranger tanto o capital total da

empresa quanto o capital com direito a voto, ou seja, o que assegura o efetivo

controle do veículo, e pode alcançar aspectos específicos, como o controle editorial.

(ii) Exigência de qualificação prévia para o exercício do serviço – a qualificação prévia

pode incluir tanto aspectos técnicos quanto comprovação de capacidade financeira.

(iii) Restrições à diversificação de mídias – limita o acesso a mídias potencialmente

complementares. Alguns países, a exemplo da França, adotam esse tipo de

restrição, proibindo a propriedade cruzada de jornais e televisão em uma mesma

localidade.

(iv) Restrições ao número de outorgas de cada empresa ou pessoa.

Já a regulação de alcance pretende, ao limitar o alcance de cada veículo, impor a

concorrência em cada mercado e em cada mídia, garantir a diversidade de versões em

matéria polêmica. Busca, também, limitar o controle da mídia por fatores de poder

estrangeiros que possam assim operar sobre a formação da opinião pública. Entre os

instrumentos de regulação de alcance incluem-se:

(i) Restrições à parcela de audiência atingida – a regulação limita, em alguns países, a

audiência atingida pelos veículos, seja em cada mídia, seja no conjunto das mídias

operadas por uma empresa.

(ii) Limitações à operação em rede – consiste na imposição de operação autônoma a

um veículo. No Brasil aplica-se, por exemplo, às rádios comunitárias.

(iii) Limitações à formação de parcerias e à celebração de contratos – tais restrições

alcançam, por exemplo, a veiculação cruzada de propaganda de veículos e a

prestação de consultoria.

(iv) Restrições a receitas oriundas do exterior – pode incluir contribuições em geral,

verbas de governos estrangeiros, doações e remuneração de publicidade ou

matérias pagas.

2.3 Limitações da regulação social

Como a regulação social não resulta de um rationale econômico propriamente dito,

envolve alguns riscos e não resulta, necessariamente, nos objetivos pretendidos. Alguns

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desafios inerentes a esses dispositivos resultam, primeiro, deles não impedirem práticas

anticompetitivas, como a formação de redes e a propaganda cruzada, a não ser naqueles

casos em que sejam especificamente tratados.

Um segundo problema, específico da regulação de conteúdo, é o alto custo do

monitoramento demandado pelas disposições imperativas. Para a identificação de desvios

ou atos ilícitos, é preciso acompanhar não apenas as características técnicas de operação,

mas também o conteúdo de toda a programação sob fiscalização, atividade intensiva em

mão-de-obra e de difícil aplicação a mídias com grande número de operadores, como por

exemplo a radiodifusão sonora. Além disso, a avaliação do programa exige um “corpo de

sábios” que determine os critérios adotados e o enquadramento de cada caso, o que resulta

em problemas éticos e coloca em questão os limites da liberdade de expressão.

Um terceiro problema é o de que mídias que envolvem elevado custo fixo para operar, a

exemplo da televisão aberta, dependem de um nível mínimo de audiência para viabilizar-

se. A regulação pode impedir que esse patamar seja alcançado.

O mais importante desafio, porém, é de caráter conceitual. Competição entre veículos não

é sinônimo de pluralismo e de diversificação. Em vários países em que os mecanismos de

limitação de audiência e as restrições multimídia são aplicados observa-se uma acentuada

homogeneidade na programação em geral e nos programas noticiosos em particular. Há

inúmeras razões para tal, como a similaridade organizacional entre empresas, a formação

comum dos profissionais e a capacidade de agenda setting dos principais agentes. Um

aspecto importante, porém, é a natureza da competição entre os veículos. O exemplo a

seguir, muito simplificado, ajuda a intuir o mecanismo aqui sugerido.

Suponha uma comunidade de dez mil lares, dos quais sete mil sejam católicos, dois mil

muçulmanos e mil xintoístas, e que as diferenças de religião induzam fortes diferenças de

gosto na programação assistida. Suponha que o governo ofereça três outorgas, A, B e C,

nessa região, para operar rádio. Se uma única empresa puder operá-las e a maximização da

audiência for um objetivo racional, esta irá orientar a rádio A ao público católico, a rádio B

aos muçulmanos e a C aos xintoístas. No entanto, se três empresas obtiverem

separadamente as outorgas, a primeira fará uma programação católica. A segunda preferirá

fazer uma programação similar, dividindo ao meio a audiência e capturando três mil e

quinhentos ouvintes. E a terceira também se dirigirá aos católicos, ficando a audiência

dividida por três, com cerca de dois mil e trezentos ouvintes. No exemplo, o monopólio

terá atendido melhor o objetivo da pluralidade do que a competição.

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Em vista dos desafios aqui expostos, merece ser examinado o porquê dessa regulação

prevalecer na maior parte dos países. Duas motivações parecem bastante claras. Por um

lado, há uma preocupação do Estado com o risco de uso da mídia de forma prejudicial ao

status quo. Por outro lado, há uma vantagem para os operadores incumbidos do serviço,

que podem usar a regulação em seu proveito, erigindo barreiras à entrada de concorrentes.

3 Convergência

Outro desafio para o regulador resulta do surgimento da convergência entre mídia e

telecomunicações. A convergência é um fenômeno que vem consolidando-se desde a

década de 1980 e que resultou em agressivos movimentos de fusões e aquisições de grupos

e de formação de conglomerados, alternados com fases de crise financeira e operacional.

A convergência tecnológica consiste na construção de uma base tecnológica comum à

mídia, às telecomunicações e à informática. Soluções de engenharia, como a fibra ótica, o

uso de satélites de comunicação e o processamento digital de sinais, tornaram-se comuns

às três áreas, viabilizando o compartilhamento de infra-estrutura e de quadros de

profissionais entre empresas desses setores. O mesmo pode-se dizer de certas interfaces,

como o uso de ícones, janelas e menus, de mecanismos de busca e de catalogação, de

memorização de preferências, que tornam possível a criação de um diálogo único com o

usuário desses serviços.

Isso conduz a uma segunda forma de convergência, dita organizacional, em que surgem

economias de escopo entre mídia e telecomunicações, por exemplo na produção de

software, no desenho de interfaces e no compartilhamento de infra-estrutura, que podem

estimular a operação compartilhada e a fusão de empresas.

Uma terceira forma de convergência, dita de mercado, caracteriza-se pela formação de um

universo único de clientes potenciais, comum a todas as áreas que convergem, com igual

adestramento e aos quais torna-se vantajoso oferecer um serviço integrado.

Nos anos noventa, algumas tendências de mercado e de tecnologia levaram a uma

expectativa de que a convergência estivesse rapidamente se consolidando:

(i) Os avanços na TV digital criavam uma expectativa de adesão do usuário a

interfaces comuns para serviços de mídia, informática e telecomunicações.

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(ii) Os avanços na telefonia móvel sugeriam o uso intensivo de redes móveis como

extensão e complementação das redes fixas, com uma navegação contínua entre

ambas, sem que o usuário percebesse a qual delas estava conectado.

(iii) A rápida expansão da Internet, com a divulgação de taxas de crescimento

praticamente constantes por longos períodos, criava a expectativa da unificação dos

mercados de telefonia e de serviços multimídia.

(iv) A inovação de interfaces, com a promessa de maior naturalidade e interatividade e

recursos 3D mais refinados, permitiria uma exploração eficaz desse mercado único.

Esse avanço frustrou-se, porém. Nos últimos três anos os conglomerados que se formaram

para aproveitar oportunidades da convergência enfrentam dificuldades financeiras. Apenas

a título ilustrativo, basta lembrar que a Worldcomm, formada a partir da operadora MCI,

entrou em falência sob acusações de fraude, a franco-canadense Vivendi Universal teve

que dividir-se para fazer frente a dívidas da ordem de US$ 50 bilhões e que as gigantes

estatais Deutsche Telecom e France Télécom acumulam dívidas ainda maiores, superiores

em ambos os casos a US$ 60 bilhões.

Parte desses problemas são o resultado de políticas de incorporação de outras empresas em

uma situação de mercado favorável, com crédito amplo e elevação contínua do valor

patrimonial dos grandes grupos, sucedida pela ruptura da “bolha da Nasdaq”, agravada

pelos episódios do 11 de setembro de 2001 e do conseqüente esforço de guerra norte-

americano. Associado a isto, surgiram evidências de maquiagem da contabilidade de quase

todas as empresas de capital aberto do setor e da falsificação de indicadores sobre o

crescimento da Internet e de serviços multimídia em geral. E a atratividade de tecnologias

como a TV digital e o celular de terceira geração revelou-se menor do que o esperado, em

contraste com os elevados preços pagos pelas respectivas concessões e o número

significativo de usuários necessários para que tais serviços se viabilizem, em vista de seus

elevados custos fixos.

Parece realista supor, porém, que o gradual aperfeiçoamento tecnológico da mídia, a

retomada de um ciclo de crescimento mundial e a maturação de um modelo de negócio

viável tornem a convergência uma realidade em um horizonte de médio prazo, trazendo os

seguintes desafios ao regulador:

(i) O modelo de rede única parece natural, em vista das alternativas descortinadas pelo

avanço da convergência. Isto traz os desafios de construir a legislação aplicável ao

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modelo e de construir uma estratégia de migração do modelo atual, em que redes de

serviços distintos coexistem, para um modelo de rede única.

(ii) A convergência irá resultar na oferta de serviços multimídia que podem servir de

suporte para a oferta de outros serviços que, em tese, lhes seriam de apoio. Isto

demandará a necessidade de compatibilizar regras tarifárias que assegurem uma

competição legítima e não predatória.

(iii) A formação de conglomerados irá modificar a lógica da maximização do lucro das

empresas, que buscarão um mix de serviços distinto do que seria oferecido por

empresas operando em mercados independentes. Esse problema de um

“monopolista multisserviços” poderá escapar ao controle do regulador quando o

conglomerado se formar no exterior. Determinadas práticas regulatórias, como a

regulação assimétrica entre incumbidos e entrantes em cada mercado, podem

revelar-se menos atraentes.

4 Uma nota sobre o problema da rede única

No Brasil, a legislação de televisão por assinatura, em particular a Lei n° 8.977/95, que

dispõe sobre a TV a cabo, por razões que nada têm a ver com a convergência, já prevê uma

arquitetura de rede única.

Os seguintes aspectos econômicos da TV a cabo foram determinantes para essa solução

regulatória:

(i) O provedor de cabo sofre a concorrência da TV aberta, do MMDS e do satélite.

(ii) O investimento em infra-estrutura de cabodifusão é um sunk cost, ou seja, não é

passível de remanejamento para outra atividade ou de desmobilização.

(iii) O provedor de infraestrutura opera um serviço multicanal e, potencialmente,

multimídia.

Tais são as motivações para assegurar ao provedor de TV a cabo a proteção de uma rede

única. No entanto, se sua rede for única, o provedor de cabo tem oportunidades para

capturar receitas dos canais veiculados e tem incentivos para maximizar o repasse aos

canais próprios, em detrimento dos canais de terceiros.

Por essas razões, a lei previu:

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(i) Rede única e pública.

(ii) Possibilidade de uso da rede de transporte de telefonia fixa para transitar sinais de

TV a cabo, e vice-versa.

(iii) Inclusão obrigatória dos canais de TV aberta no pacote básico ofertado aos usuários

de cabodifusão.

(iv) Quota mínima de 30% dos canais veiculados para canais de terceiros.

(v) Previsão do modelo de negócio e de suas linha gerais.

Observe que o modelo de MMDS, que não é tratado nesta lei, é concorrencial, podendo

existir mais de um provedor. Não conta, portanto, com algumas das restrições impostas ao

cabo.

Mais recentemente, a Lei Geral de Telecomunicações previu a competição na telefonia,

com mecanismos de regulação assimétrica para incumbidos e entrantes, o que pode levar,

em potencial, à multiplicação de infra-estrutura em paralelo.

Uma migração para um modelo de rede única demandaria, então, a definição da

propriedade e das condições de uso dessa rede e de uma transição da situação atual para a

desejada.

No entanto, as seguintes dificuldades já foram apontadas por outros autores:

(i) Tarifas de interconexão que estimulem os provedores de serviços a utilizar outras

redes desestimulam os proprietários das redes a investir em sua expansão e

migração a uma rede única, e vice-versa.

(ii) Ganhos oferecidos aos canais de TV e outros veículos tendem a ser capturados por

estes, em vez de repassados aos usuários.

(iii) A determinação da propriedade da rede única resulta em conflitos entre os

detentores das redes que hoje operam e o regulador.

(iv) A cessão da rede de trânsito de telefonia ou da rede de TV a cabo a terceiros poderá

exigir a mediação ou a arbitragem do regulador em dificuldades negociais como:

qual a extensão da rede a ser cedida, se a cessão de um trecho implica ou não no

direito de comutação das mensagens veiculadas no trecho, ou na instalação de

equipamentos de cabeceira.

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(v) Regras de propriedade distintas para cada serviço criam assimetrias no acesso a

investimentos e ao mercado.

(vi) Passagem contínua de fixo para móvel induz o conceito de rede única em serviços

potencialmente competitivos.

A evolução da tecnologia e dos conceitos comerciais irá aos poucos clarear esse panorama.

Nesse contexto, o regulador bem-intencionado evitará precipitar-se, induzindo modelos de

negócio ou perpetuando práticas que se revelem inexeqüíveis no médio prazo, ou que

resultem em favorecimento indevido de algum agente. Reagir gradualmente, preservando a

flexibilidade e a capacidade de revisão das decisões parece ser, por ora, a trilha mais

segura. O regulador não pode perder, em qualquer caso, o foco sobre os princípios

relevantes da prática regulatória: proteger o consumidor, assegurar quando possível as

condições para uma competição justa e coibir práticas abusivas de captura de ganhos em

detrimento dos demais agentes.

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SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DE MASSA

• INTRODUÇÃO • SERVIÇOS DE RADIODIFUSÃO SONORA

RADIODIFUSÃO SONORA EM AMPLITUDE MODULADA

RADIODIFUSÃO SONORA EM FREQÜÊNCIA MODULADA

• RADIODIFUSÃO SONORA DIGITAL

• TV ABERTA E POR ASSINATURA

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Curso de TV Aberta e por Assinatura

Índice 1 – Histórico dos Sistemas de TV Aberta e por Assinatura 2 – Introdução aos Sinais de Televisão 2.1 – Sinal de Televisão 2.2 – Características do Sinal de Vídeo 2.3 – Características do Sinal de Áudio 2.4 – Padrões de Televisão 3 – Componentes do Sistema de TV por Assinatura 3.1 – Headend e seus subsistemas 3.2 - Rede de Distribuição 3.3 - Rede do Assinante 4 – Sistemas Digitais Bidirecionais 4.1 – Os sinais de Downstream e Upstream 4.2 – O padrão DOCSIS 4.3 – Otimização do Espectro: Celularização e Setorização

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11 –– HHiissttóórriiccoo ddooss SSiisstteemmaass ddee TTVV AAbbeerrttaa ee ppoorr AAssssiinnaattuurraa 1.1 – Origem da TV Aberta Há divergências quanto ao nascimento da televisão mundial. Conforme a versão inglesa

e americana, o inventor se trata de John Logie Baird, o escocês que em 1926 exibiu as primeiras imagens.

Fig 1 – John Logie Baird: Inventor da TV

A criação da TV foi na verdade o resultado de outras grandes invenções que ocorreram

no final de século 19, início do século 20. Abaixo é descrita a cronologia destas grandes invenções que culminaram com a criação da TV:

Selênio,1873. O inglês Willoughby Smith percebeu uma incrível capacidade do selênio:

com ele, era possível transformar energia luminosa em impulsos elétricos (princípio para criação da filmadora);

Mecanismo de repetição, 1880. O Francês Maurice Le Blanc demonstrou que o cérebro humano podia ser enganado:o cérebro entenderia como movimento a sucessiva projeção de várias imagens individualmente estáticas;

Célula Fotoelétrica, 1892, criada por Hans Getiel e Julius Elster; Tubos de raios catódicos, 1906, criado por Arbwehnelt e Boris Rosing, engenhocas

dotadas de espelhos e de um tubo de raios catódicos que podiam "desenhar" em uma tela; Rádio, 1915. Vozes humanas são transmitidas de um lado a outro do Atlântico, entre

Arlington, nos EUA, e a torre Eiffel, na França; Televisão, 1926. Instituto Real de Londres, por John Baird. O escocês demonstrou o

que seria o seu invento, ao transmitir imagens do seu próprio laboratório, logo a frente do seu transmissor e do protótipo de câmera que também havia inventado.

Nasce também a RCA (Radio Corporation of America), que monta seus estúdios nos

Estados Unidos e faz sua primeira demonstração televisiva ao gerar imagens do jardim em frente a estes estúdios. A primeira imagem seria justamente, a estátua que ficava bem ao meio deste jardim, um monumento do famoso personagem de desenhos animados Gato Félix, que media 2 metros de altura.

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Foi No primeiro ano desta década que a primeira emissora de TV comercial surgiu na América Latina. Ela foi montada no Brasil por Assis Chateaubriand, o mitológico magnata de imprensa criador dos Diários Associados. Em setembro de 1950, entrou no ar a TV Tupi de São Paulo. Os poucos telespectadores usavam televisores importados para assistir os programas de auditório, jornais e peças teatrais televisionadas da pioneira Tupi: a primeira fábrica brasileira só começaria a funcionar em 51, sob a marca Invictus. As primeiras transmissões foram em preto e branco, e as coloridas só ganhariam espaço, no Brasil, 20 anos mais tarde. Em 72, no auge da ditadura militar brasileira, os então raros televisores em cores no País puderam mostrar entre seus chuviscos os matizes da Festa da Uva de Caxias do Sul (RS). Não por acaso, a data da transmissão foi 31 de março --aniversário oficial do golpe militar.

1.2 – Origem da TV por Assinatura Os sistemas de TV por assinatura surgiram com as TV a Cabo, criadas nos anos 50 nos

EUA à partir de redes destinadas a recepção de TV em áreas remotas, cuja recepção dos canais abertos era precária. A disponibilidade de canais locais, nacionais e internacionais tornou a distribuição da TV uma opção atrativa para comercialização de conteúdo:

Em 1952, no interior norte-americano existiam aproximadamente 70 pequenos sistemas

funcionando. Em 1961 eram cerca de 700 sistemas, alcançando, em 1971, perto de 3.000 para aproximadamente 6 milhões de residências. A partir de então surge a denominação televisão a cabo. Eles precisaram apresentar um modelo diferenciado a seus clientes, ou melhor, assinantes. A TV a cabo passou a oferecer mais canais e grande variedade de programação auxiliado por uma rede de microondas. A televisão a cabo começou a receber sinais via satélite em 1974 com o lançamento do primeiro satélite para esse fim e com a compra de programas de estações de TV independentes. Esse novo passo oferecido pelas distribuidoras de TV, pode oferecer aos assinantes a escolha de programas que mais lhes agradassem.

Com o intuito de promover a competição com os sistemas de TV à cabo, o órgão

regulador das telecomunicações americano (FCC) cria o MMDS (Multichannel Multipoint Distribution Service) em meados dos anos 70 à partir da faixa institucional (ITFS) reservada a organizações educacionais, religiosas e hospitais. No Brasil este sistema surge em 1992 com atribuição de 3 canais. Em 1994 é editada a norma do MMDS pelo Ministério das Comunicações, destinando a faixa de 2500 à 2686GHz para este serviço.

No início dos anos 80 surgem os sistemas de transmissão direta de TV por satélite (DTH). O DTH é originalmente analógico e transmitido em banda C (3,5-4,2GHz). O elevado custo do aluguel do transponder estimulou a digitalização do sistema e migração para banda Ku (13-15GHz). Hoje estes sistemas são largamente difundidos no país e não estão mais restritos apenas

aos serviços de TV por Assinatura. Todos estão buscando digitalizar suas bases e oferecer uma

plataforma de multiserviços, onde são ofertados serviços iterativos como internet banda larga,

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home banking, home shopping , metereologia e jogos. A TV por assinatura nos Estados Unidos

dispõe de mais de 500 canais e um universo de 75 milhões de assinantes, movimentando

quantias perto de 30 bilhões de dólares.

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22 -- IInnttrroodduuççããoo aaooss SSiinnaaiiss ddee TTeelleevviissããoo

22..11 –– OO SSiinnaall ddee TTeelleevviissããoo A imagem na televisão é formada pela exibição sequencial de quadros estáticos, a uma

velocidade tal que ao espectador há a impressão de movimento contínuo. Este fenômeno de

permanência da imagem no cérebro após sua retirada da retina é conhecido como persistência

da visão humana e o tempo de permanência é de 50 milisegundos. O número de quadros

exibidos no cinema é de 24 quadros por segundo, enquanto que na televisão este número é de 30

quadros por segundo. Cada quadro é subdividido em linhas, sendo estas constituídas por pontos

cuja intensidade luminosa depende da informação a ser mostrada. Estas linhas são formadas da

esquerda para a direita e de cima para baixo. Este processo de formação é chamado de

varredura. Para que a imagem formada seja idêntica a gerada, devem haver sinais de

referência. Estes sinais são chamados de sinais de sincronismo e regulam os movimentos

horizontais e verticais do televisor. A intensidade luminosa é obtida variando o nível de sinal

recebido, que é entre 0 e 1 Vpp. Os pontos em preto são definidos como próximos a 1 Volt,

enquanto que os mais claros (branco) estão próximos de 0V - os demais tons de cinza estão

nesta faixa. Por exemplo, um tom cinza formado por 50% de preto e 50% de branco têm tensão

no valor de 0,5 Vpp. A figura 2.1 mostra uma tela formada por n linhas. Nela pode-se observar

os níveis de tensão no tempo por linha.

Figura 2.1 – Formação da imagem

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Com isto pode notar-se que quanto mais linhas tivermos, melhor será a resolução da

imagem no televisor. O padrão adotado no Brasil é o padrão M, que consiste em 525 linhas de

imagem com 31,5 linhas apagadas. Estas linhas apagadas se referem ao tempo gasto para fazer o

retraço, ou seja, voltar o apontamento do feixe para o início sem borrar a imagem. Os tempos de

traço e retraço são controlados mediante um sinal tipo dente de serra. A figura 2.2a ilustra esta

onda dente de serra para controle de traço e retraço das linhas. A figura 2.2b ilustra a onda de

controle do tempo de varredura vertical, o tempo necessário para correr as linhas da tela e o

tempo de retornar ao início.

Fig 2.2 – Pulsos de apagamento

A resolução ainda depende da máxima velocidade com que se pode trocar o ponto claro

pelo escuro. Esta velocidade relaciona-se com a largura de banda necessária a transmissão da

imagem. O FCC (Federal Communications Commission) adotou para o padrão M de televisão a

largura de faixa de 4,2 MHz.

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Para a redução do efeito de cintilação causado pela apresentação completa de uma tela

(525 linhas) atrás da outra, é a apresentação da tela em duas partes, dois campos. Um campo

contêm todas as linhas ímpares (campo ímpar) e em seguida apresenta-se o campo par com as

linhas pares. A figura 2.3 mostra um exemplo simplificado de 25 linhas.

Fig 2.3 – Linhas de traço da imagem

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22..22 –– CCaarraacctteerrííssttiiccaass ddoo SSiinnaall ddee VVííddeeoo

O sinal de vídeo na saída de uma câmera tem amplitude máxima de pico padronizada em

1 Vpp. Os elementos de imagem de maior luminosidade (branco de referência) geram tensões

de 0,1 Volt. A tensão de 0,75 volt corresponde aos pontos negros ou pontos sem iluminação

(negro de referência). Observa-se então o caráter negativo do sinal de vídeo, onde as maiores

tensões são geradas por pontos escuros.

Durante o intervalo de tempo de retorno horizontal é inserido o pulso de apagamento

para eliminar o retraço horizontal. Como pode ser visto na figura 2.4 a amplitude deste pulso é

0,75 volt, correspondente ao nível de preto ou apagamento da tela.A duração do pulso de

apagamento no padrão M é de 10,16 microssegundos, que é exatamente o tempo de retorno

horizontal.

Fig 2.4 - Pulso de apagamento horizontal

Superposto ao pulso de apagamento vem o pulso de sincronismo horizontal que é

transmitido para sincronizar o oscilador dente de serra da varredura horizontal do receptor e

estabilizar a imagem na tela. O pulso de sincronismo tem amplitude de 0,25 volt, que somado ao

0,75 volt do apagamento dá uma amplitude total de pico de 1 volt. Este pulso não causa nenhum

problema visto que qualquer amplitude superior a 0,75 volt a tela está apagada. A região de

amplitude superior a 0,75 volt é denominada de mais do que preto.

O pulso de sincronismo horizontal não está simetricamente disposto em relação ao pulso

de apagamento, como se pode observar na figura 2.4.

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O apagamento vertical, devido à sua longa duração, apaga um mínimo de 13 e um

máximo de 21 linhas para proporcionar o retorno vertical no final de cada campo. Esta

tolerância de 5 a 8 % faz parte das especificações do padrão M, o que dá aos fabricantes de

equipamentos de vídeo uma certa flexibilidade na escolha da duração do retorno vertical. A

figura 2.5 mostra as características do intervalo de apagamento vertical.

Fig 2.5 – Apagamento vertical

O intervalo de apagamento vertical tem pulsos equalizadores, pulsos de sincronismo

vertical e pulsos de sincronismo horizontal, que tem a finalidade de não deixar o sistema sem

sincronismo horizontal por muito tempo. Os dois intervalos de apagamento vertical

representados na figura 2.5 são os mesmos, exceto pelo fato de o primeiro pertencer ao primeiro

campo e o segundo pertencer ao segundo campo, o que provoca um deslocamento de meia linha

entre os dois intervalos necessários ao perfeito entrelaçamento das linhas.

O pulso de sincronismo vertical é precedido por 6 pulsos equalizadores correspondentes

a 3 linhas horizontais. O intervalo de tempo do pulso de sincronismo vertical é também

equivalente a 3 linhas, sendo sucedido por 6 pulsos equalizadores equivalentes a mais 3 linhas.

O restante do intervalo de apagamento vertical é preenchido por pulsos de sincronismo

horizontal.

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A duração total do pulso de apagamento vertical é dada na tabela 2.1 mostrada abaixo.

Tabela 2.1

Mínimo Máximo

Pulsos equalizadores 3 3

Pulso de sincronismo vertical 3 3

Pulsos equalizadores 3 3

Pulsos de sincronismo horizontal 4 12

Total 13 21

Isto significa que o tempo de apagamento vertical mínimo é Tav (min) = 13 x 63,5 = 825,5

microssegundos, e o tempo de apagamento vertical máximo é Tav (max) = 21 x 63,5 = 1333,5

microssegundos.

Os sinais de vídeo monitorados dentro de uima estação de TV seguem a escala padrão de

140 unidades do IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers), onde 40 unidades são

destinadas ao pulso de sincronismo e 100 unidades entre o nível de preto e branco. As 140

unidades correspondem a um nível de tensão de 1 Vpp, alimentando um cabo coaxial de 75

ohms. A figura 2.6 apresenta o sinal de vídeo na escala do IEEE.

Fig 2.6 – Sinal de Vídeo na escala IEEE

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Até agora vimos que a imagem na tela da televisão é dividida em linhas, sendo estas

feitas em varredura. Vimos os períodos de traço e apagamento, os níveis de branco e preto e que

a freqüência máxima do sinal de vídeo é de 4,2 MHz. Agora veremos que tipo de sinal vai

compor uma linha e como é o seu espectro de frequência.

O sinal de vídeo é modulado em amplitude (AM) com portadora na faixa de VHF

(canais 2 a 13) e UHF (canais 14 a 83), ou ainda, no caso de TV por assinatura, em CATV

(canais 2 a 181).

No padrão M, o sinal de vídeo é transmitido com polaridade negativa, o que significa

que os níveis de branco produzem uma redução de amplitude da portadora para 10% enquanto

que o nível de apagamento é transmitido com valor correspondente a 75% do valor da

portadora. Os picos do pulso de sincronismo correspondem a 100% do valor da amplitude da

portadora não modulada. A figura 2.7 mostra um sinal de vídeo modulado em AM visto num

osciloscópio.

Fig 2.7 – Sinal de vídeo em osciloscópio

A vantagem em se transmitir o sinal de vídeo em polarização negativa é o fato de que

ruídos somados ao sinal de vídeo tendem a aumentar o sinal, portanto apagando o ponto ao

invés de evidencia-lo, mascarando portanto o ruído, além do fato de que a maioria das imagens

transmitidas são claras, o que faz com que o nível de sinal a ser transmitido esteja sempre em

baixa amplitude.

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A forma mais simples de transmissão de sinais modulados em AM é com dupla faixa

lateral (AM-DSB). No caso das imagens de vídeo isto se torna muito inconveniente, pois cada

faixa lateral deve conter toda a largura de banda do sinal de vídeo, ou seja 4,2MHz,

necessitando portanto de 8,4MHz de banda para transmissão. A figura 2.8 ilustra o sinal de

vídeo modulado em DSB.

Fig 2.8 – Sinal de Vídeo Modulado em AM-DSB

Outro modo de modulação é a modulação AM-SSB, onde apenas uma faixa lateral é

transmitida, necessitando assim de apenas 4,2 MHz de banda. O inconveniente deste modo é

que o receptor é caro. Para melhorar a ocupação do espectro de freqüência, sem causar

alterações no receptor, foi adotada para a televisão uma solução de compromisso entre os

sistemas AM-DSB e AM-SSB. Este novo sistema de modulação recebeu o nome de AM-VSB

(modulação em amplitude com faixa vestigial) pelo fato de transmitir completamente a faixa

lateral superior e apenas um pedaço (vestígio) da faixa lateral inferior. A figura 2.9 apresenta o

espectro de freqüência de um sinal de vídeo modulado em AM-VSB.

Fig 2.9 – Sinal de Vídeo Modulado em AM-VSB

Observa-se que a largura de faixa do sinal AM-VSB foi reduzida de 8,4 MHz para 5,5

MHz. Nenhuma informação foi perdida na redução da faixa lateral inferior, uma vez que a faixa

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lateral superior permanece completa, contendo todas as informações do sinal de vídeo. Para

freqüências de 0 até aproximadamente 1,25 MHz em torno da portadora, a modulação se

comporta como AM-DSB, com duas faixas laterais, e para freqüências maiores que 1,25 MHz a

modulação se comporta como AM-SSB. A fig 2.10 ilustra este fato.

Fig 2.10 – Espectro de Frequência da Modulação AM-VSB

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22..33 –– CCaarraacctteerrííssttiiccaass ddoo SSiinnaall ddee ÁÁuuddiioo

O som em televisão constitui um sistema completamente independente do sistema de

vídeo. Em sistemas de TV aberta esta independencia chega ao ponto onde o único ponto comum

entre ambos é a antena de transmissão, que é compartilhada simultaneamente pelo transmissor

de vídeo e o transmissor de áudio, acoplados através do circuito diplexer.

O áudio no padrão M de televisão é modulado em freqüência com desvio de ± 25 KHz e

rede de pré-ênfase de 75 microsegundos. A portadora de áudio no padrão M é alocada dentro do

canal de televisão distante de 4,5 MHz da portadora de vídeo para facilitar o processo de

sintonia. Para permitir uma demodulação contínua do som, o nível de branco do sinal de vídeo

deve ser ajustado para 10% da amplitude da portadora. Caso contrário, toda vez que o nível da

portadora atingisse amplitude zero, nas partes brancas da imagem, o som seria interrompido.

Portanto, a demodulação do áudio depende da presença da portadora de vídeo. A figura

2.12 mostra a locação da portadora de áudio dentro da televisão do padrão M.

Fig 2.12 – Portadora de áudio no canal de TV.

Para que não exista interferência entre as portadoras de vídeo e áudio é necessário que a

relação de potência entre os transmissores de vídeo e áudio seja de 5:1 para monocromático e de

10:1 ou 20:1 nos transmissores cromáticos.

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22..44 -- PPaaddrrõõeess ddee TTeelleevviissããoo

A coordenação a nível mundial da padronização e das especificações de sistemas de

telecomunicação é feita pelo CCIR (Comitê Consultivo Internacional de Rádio), que é um órgão

da UIT (União Internacional de Telecomunicações) que pertence a ONU (Organização das

Nações Unidas). A tabela 4 ilustra os 14 padrões existentes até 1978.

Tabela 2.2

Padrão A B C D E F G H I K L M N

No.

Linhas 405 625 625 625 819 819 625 625 625 625 625 525 625

Freq

campo 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 60 50

Freq

Qua-

dro

25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 30 25

Freq

hor 10125 15625 15625 15625 20475 20475 15625 15625 15625 15625 15625 15750 15625

Faixa

video 3 5 5 6 10 5 5 5 5,5 6 6 4,2 4,2

Canal 5 7 7 8 14 7 8 8 8 8 8 6 6

Port

som-

video

-3,5 5,5 5,5 6,5 11,15 5,5 5,5 5,5 6 6,5 6,5 4,5 4,5

FLS 0,75 5 5 6 10 5 5 5 5,5 6 6 4,2 4,2

FLI -3 -0,75 -0,75 -0,75 -2 -0,75 -0,75 -1,25 -1,25 -0,75 -1,25 -0,75 -0,75

Mod + - + - + + - - - - + - -

Mod

som AM FM AM FM AM AM FM FM FM FM AM FM FM

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3 - Composição dos Sistemas de TV por Assinatura

3.1 - Introdução Independentemente da tecnologia utilizada, seja cabo, MMDS ou DTH, os sistemas de TV por assinatura podem ser analisados à partir dos seguintes elementos:

• HEADEND • REDE DE DISTRIBUIÇÃO • SISTEMA DO ASSINANTE O Headend é um elemento responsável pela: • recepção dos sinais de TV via satélite, • recepção de canais locais em VHF e UHF, • geração de conteúdo local, • processamento dos sinais • transmissão dos sinais, • gerenciamento da rede de distribuição e dos clientes e serviços

O Headend não apresenta grandes alterações entre as tecnologias de TV por assinatura. A rede de distribuição, no entanto, é o elemento que efetivamente as diferencia. As

redes de TV a cabo possuem uma grande largura de faixa, no entanto apresentam alto custo de implantação, demora na construção da rede e limitada cobertura. As redes de MMDS além de apresentarem menores custos de implantação, são mais rapidamente implantadas e com cobertura ampla. No entanto possuem uma largura de faixa mais limitada (186MHz), o que nos sistemas analógicos a limita a transmissão de 31 canais de TV. As redes de DTH possuem cobertura nacional e grande capacidade de canais. No entanto o custo dos equipamentos do cliente são altos. Também perdem em possibilidade de oferecer uma programação local.

No sistema do assinante ocorrem as seguintes etapas:

• Captação e conversão dos sinais para faixa de frequência do receptor (TV ou Set Top Box), • Decodificação dos sinais de TV, • Troca de Informações com o sistema de gerência de clientes

De maneira a permitir um melhor entendimento sob os sistemas de TV por assinatura serão

descritos a seguir cada um dos três elementos do sistema. Tomar-se-á como exemplo o

sistema de MMDS ilustrado na figura 3.1. Como os sistemas de TV por assinatura estão

cada vez mais fazendo usos de interatividade, também será descrita a estrutura de

transmissões bidirecionais.

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Figura 3.1 - Sistema de MMDS

3.2 - O Headend e seus Subsistemas

Iniciando a análise do sistema de TV por assinatura pelo Headend, podem ser observados os seguintes subsistemas, de acordo com a figura 3.2:

Figura 3.2 - Headend 3.2.1 - Subsistema de Recepção

O sinal captado no Headend provém de programadoras internacionais e locais. A captação de programas locais é feita com o uso de : Antenas de VHF e UHF; Enlaces Ópticos ou por Microondas; A captação de programas internacionais é feita através de: Antenas Parabólicas (Banda C e/ou Ku);

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Receptores de Satélites;

O sinal captado pela parabólica é convertido da faixa original de recepção (3,5GHz, em banda C e 14GHz, em banda Ku) para a faixa de 900MHz, por um LNB (Low Noise Block), que é um conversor de frequência de baixíssima figura de ruído. O sinal é então captado pelo receptor de satélite, que o converterá para a banda base e o decodificará. 3.2.2 - Subsistema de Monitoração

Necessário tanto para a avaliação dos sinais captados pelos receptores como para o rastreamento de erros. Comumente são usados os seguintes equipamentos para avaliação dos sinais em banda base no Headend:

Comutador (chaveamento dos diversos canais); Waveform; Vectorscope; Monitor;

3.2.3 - Subsistema de Processamento Os sinais de saída dos receptores de satélite em banda base devem ser processados antes de serem transmitidos. Este processamento ocorre tanto nos sinais de vídeo como de áudio.

Processamento de Vídeo: Corretor de Base de Tempo e Transcodificadores: É importante que os sinais em banda base estejam na mesma base de tempo, por razões

de codificação, e também para se permitir a inserção de programação local sem saltos de sincronia. Os corretores de base de tempo são usados para esta finalidade. Os transcodificadores são necessários para a conversão de outros padrões (NTSC, SECAM, PAL-N), para o padrão brasileiro (PAL-M).

Processamento de Áudio: AGC de áudio: são utilizados para se evitar a desequalização de nível entre canais.

3.2.4 - Subsistema de Codificação

As técnicas de codificação mais difundidas são: Codificação em Banda Básica - onde o sinal de vídeo é modificado (supressão dos

pulsos de sincronismo, inversão das linhas de luminância e o corte e rotação) Codificação em RF/IF - durante a modulação ou conversão para microondas do sinal de

vídeo há a inversão das portadoras de áudio e vídeo. 3.2.5 - Subsistema de Modulação

Após a codificação o sinal de vídeo é modulado em AM-VSB, enquanto o sinal de áudio é modulado em FM.

O sinal modulado pode ser entregue ao transmissor em IF (45,75MHz) ou já canalizado (na faixa de 220 a 408MHz). 3.2.6 - Subsistema de Transmissão

Neste estágio o sinal é convertido para a faixa de frequência de transmissão (2,5 - 2,686GHz).

Existem duas topologias de transmissão:

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Discreta: é utilizado um transmissor por canal - usada principalmente em estações de grandes raios de cobertura. O sinal de cada transmissor é passado por um combinador direcional, com filtragem individual por canal.

Banda Larga (Broadband): um só transmissor é usado para transmitir todos os canais - usada em localidades de menor raio de cobertura ou em configurações celulares; 3.2.7 - Linhas de Transmissão

Os principais tipos de linhas de transmissão são: Guias de Onda - oferecem menores perdas e maior linearidade na faixa; Cabos Coaxiais (1/2”, 7/8”, 1 1/4” e 1 5/8”) - são mais leves, mais baratos e ocupam

menor espaço; 3.2.8 - Sistema Irradiante

Para a irradiação do sinal podem ser utilizadas uma ou duas antenas transmissoras. Os sistemas com dois sistemas irradiantes são construídos para minimizar o efeito de interferência de canais adjacentes, surgidos no processo de combinação dos canais. Na grande maioria dos casos utiliza-se antenas Omnidirecionais, podendo ainda serem encontrados alguns casos com antenas Cardiódes. As tecnologia de construção típicas destas antenas são a Slot e Dipolo; 3.3 - O Meio de Distribuição

O sinal transmitido pelo Headend está sujeito a uma série de fenômenos comuns ao ambiente wireless: • Perdas por espaço livre • Perdas por difração e refração • Múltiplas reflexões em edificações e no solo • Desvanecimento lento (FADING) • Desvanecimento rápido (múltiplo percurso) • Interferências de outros sistemas Como a frequência de operação é elevada a recepção do sinal deve ser feita em um regime de linha de visada. Podem ser observada alguma difração e principalmente reflexões, que permitem instalação sem linha de visada total, mas são situações muito instáveis. Outra característica interessante é a largura de faixa do sinal (quase que 10% da frequência de operação). Isto torna a construção de equipamentos lineares uma tarefa extremamente árdua. Não é raro encontrar-se problemas de desequalização e intermodulação resultantes de não linearidade em toda a faixa de frequência.

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Curso de TV Aberta e por Assinatura

Figura 3.3- Multipercurso por reflexão no solo

3.4 - Sistema do Assinante

O sistema de recepção do assinante é composto basicamente de: • Antena de recepção; • Downconverter; • Filtros; • Cabos; • Elementos de distribuição; • Decodificador/ sintonizador de canais;

Os dois tipos de intalações básicos são: Residencial (Casa)

Poucos terminais ou receptores conectados

Residencial (Apartamentos) Diversos terminais conectados Existência de outros canais coletivos (UHF, parabólica, etc)

O sinal ao ser captado pela antena é convertido da faixa de 2.500-2686MHz para a faixa de distribuição da coletiva do prédio (220 - 408MHz) pelo downconverter. Nesta faixa a atenuação sofrida no sistema de distribuição do assinante será muito menor que na faixa de microondas. O sinal será então captado pelo decodificador do assinante e finalmente entregue a TV. O nível mínimo de sinal aceito na entrada do televisor é de 60dBUV, com uma relação sinal-ruído de 45dB.

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Curso de TV Aberta e por Assinatura

Figura 3.4 – Instalações básicas no assinante

Re sidencia l TV por Assina turaPay TV + Internet Bidirec iona l

CA-30

CA-30

Cole tiva

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Curso de TV Aberta e por Assinatura

44 –– SSiisstteemmaass DDiiggiittaaiiss BBiiddiirreecciioonnaaiiss A digitalização de um sistema de TV Aberta ou por Assinatura pode ser feita tanto com

o intuito de transmissão dos sinais de vídeo digital em broadcasting, como para a transmissão de

dados em formato IP.

A transmissão de vídeo digital em broadcasting já é explorada em vários países do

mundo, sendo largamente conhecidos os padrões americano (ATSC), europeu (DVB-T) e

japonés (ISDB). De forma geral podemos dividir o processo de digitalização do sistema em três

etapas ilustradas na figura 4.1 abaixo: Codificação da fonte, Multiplexação e Sistema de

Transmissão.

Fig 4.1 – Diagrama de Blocos de um sistema digital de TV

A etapa de codificação da fonte é aquela no qual os sinais de áudio e vídeo são

digitalizados e comprimidos. Também são inseridas algumas informações de dados

(datastreaming) a serem disponibilizados ao usuário. O padrão de compressão utilizado pelos 3

sistemas digitais de TV é o MPEG 2. Atualmente o MPEG 2 permite a compressão dos sinais de

áudio e vídeo em taxas entre 5 e 3Mbps.

Nos 6MHz de um canal de TV podem ser transmitidos entre 20 e 30Mbps de

informação, dependendo do tipo de modulação adotada. Com isto vê-se que é possível a

transmissão simultânea de 6 canais digitais, em média, em um único canal de 6MHz. Este etapa

Vídeo

Vídeo

Áudio

Áudio

Dados

Dados

CodificaçãoCompressão

CodificaçãoCompressão

CodificaçãoCompressão

CodificaçãoCompressão

CodificaçãoCompressão

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Transmissão

Codificação da FonteMultiplexação eEmpacotamento

Sistema deTransmissão

Dados de Controle

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Curso de TV Aberta e por Assinatura

de combinação das diversas fontes de vídeo digital ocorre no estágio de multiplexação. Neste

estágio também é feito todo o controle de acesso dos usuários.

O sistema de transmissão é, efetivamente, a parte de difere os três sistemas de

transmissão existentes. Em particular, o estágio de modulação. O padrão americano trabalha

com modulação 8 VSB. Apesar desta modulação monoportadora ser eficiente no que se refere

capacidade de transmissão/Hz (são 27Mbps em 6MHz), esta modulação não permite a recepção

indoor, nem a mobilidade. Os padrões europeu e japonês utilizam variações da modulação

OFDM (o DVB utiliza o COFDM e o japonês o OFDM segmentado). Esta modulação é

extremamente robusta a interferências, permitindo ainda tanto a recepção indoor, como a

mobilidade.

Como pode ser observado na figura 4.2 abaixo, para que o sistema de TV Aberta ou por

assinatura possa oferecer serviços bidirecionais de comunicação de dados são necessárias as

instalações de antenas receptoras no Headend (também chamado estação base) e de antenas

transmissoras no assinante (ou estação remota). Como os conceitos de alteração das plataformas

comunicação de dados são válidos tanto para as redes de TV aberta, como para TV por

Assinatura, adotar-se-á daqui em diante o exemplo do sistema MMDS, por ser o mais complexo

e contemplar todos os elementos de um sistema de TV aberto.

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Figura 4.2 – Sistema Bidirecional

4.1 – Os Sinais de Downstream e Upstream:

A transmissão do Headend ao assinante acontece na mesma faixa de frequência que nas transmissões unidirecionais:

2,5 - 2,686GHz (BW = 186MHz)

sendo esta faixa conhecida como faixa de Downstream. No Brasil, para a transmissão do Assinante ao Headend, foi alocada a faixa de:

2,170 - 2,182GHz (BW = 12MHz)

sendo esta faixa conhecida como faixa de Upstream. Na figura 4.3 podem ser observadas as modificações feitas no Headend para a operação bidirecional

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Figura 4.3 – Headend bidirecional

Na figura 4.4 podem ser observadas as modificação efetivadas no assinante, com a instalação da antena integrada ao upconverter, assim como o amplificador de retorno.

Figura 4.4 – Instalação no Assinante

4.2 - O Padrão DOCSIS

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Não existe ainda um padrão estabelecido para as transmissões de dados bidirecionais nos sistemas de TV por assinatura. No entanto os operadores tem optado pelo padrão DOCSIS (Data Over Cable System Interface Specification), usado na indústria de TV a cabo em função da estabilidade demonstrada pelas redes que o utilizam e pelo custo decrescente do terminal do assinante. As principais características técnicas de um sistema em MMDS operando com o padrão DOCSIS são as seguintes Sinais de Downstream: Frequência de Downstream: 2500 - 2686MHz em RF ou

220 - 408MHz em IF (após o downconverter); Modulação: 64 QAM; C/N = 24dB (mínimo); Eficiência Espectral: 5 Bits/Hz; Canalização: 6 MHz; Capacidade por canal: 30 Mbps; Sinais de Upstream: Frequência de Upstream: 2170 - 2182MHz (RF) ou 5 - 45MHz (IF); Modulação: QPSK; C/N = 12dB (mínimo); Eficiência Espectral: 1,5 Bit/Hz; Canalização: 200KHz, 400KHz, 800KHz, 1.6MHz e 3.2MHz; Capacidade Máxima do Espectro Disponível sem Reuso de Frequência: 18Mbps;

Como o número de canais e a capacidade espectral dos sinais de Downstream é grande, é possível se pensar no uso de uma super-célula para o atendimento de toda área de prestação de serviço. No entanto o número de canais e a capacidade espectral dos sinais de Upstream é limitada. Desta forma se torna necessária a utilização das técnicas de Celularização e Setorização, de forma a se otimizar o uso do espectro e dar capacidade de tráfego ao sistema.

A celularização é uma técnica onde região de prestação de serviço é dividida em células. Cada célula possui uma porção do espectro, que se repete ao logo da área total. Na setorização os canais da célula são subdivididos e repetidos na própria célula.

Uma configuração de instalação típica de utilizada por operadores de MMDS é a seguinte: 1 Super-célula com 1 canal de Downstream (30Mbps) 4 Setores de Upstream (36Mbps)

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Figura 4.5 – Supercélula com setorização dos canais de Upstream

Nesta configuração pode utilizar-se a canalização de 1,6MHz por canal de upstream.

Desta forma vemos que consegue-se duplicar os 7 canais possíveis dentro dos 12 MHz

originais. Os 4 setores desta super-célula ficam portanto com 4 e 3 canais alternativamente.

Quando o número de assinantes cresce na célula poder-se-á disponibilizar novo canal de downstream e fazer-se nova setorização na célula. A divisão da célula em setores no entanto é limitada pela capacidade de rejeição das antenas utilizadas na recepção. Na prática observa-se que a subdivisão é limitada a 8 setores. O aumento da capacidade do sistema deverá ser feita com a celularização da área de interesse.

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1

SERVIÇOS DE RADIODIFUSÃO SONORA

INTRODUÇÃO

A radiodifusão sonora destinada ao público em geral teve início na década de 1920, com a utilização da modulação AM DSB-FC (Amplitude Modulation Double Side Band – Full Carrier). Com o passar do tempo, a tecnologia do rádio AM foi aprimorada, aumentando a eficiência, a fidelidade e a confiabilidade da transmissão. Na década de 80, desenvolveu-se o transmissor AM estéreo, que, apesar de melhorar a qualidade do sinal, não foi implementado pela maioria dos radiodifusores.

A modulação FM teve suas primeiras aplicações práticas na radiodifusão sonora na década de 30. A qualidade do sinal melhorou consideravelmente em relação ao AM, pois o sinal é livre de interferência estática e mais imune a interferências atmosféricas e outros ruídos. Com o desenvolvimento do FM estéreo na década de 70, a rádio FM tornou-se dominante em programação musical.

Finalmente, na década de 90, foram iniciados estudos e pesquisas para digitalização dos transmissores das emissoras de rádio AM e FM, com os objetivos de melhorar a qualidade do áudio e da recepção dos sinais, oferecer programação diversificada, diminuir a potência de transmissão, entre outros.

O Começo...

Tudo começou no ano de 1863 quando, em Cambridge - Inglaterra, James Clerck Maxwell demonstrou teoricamente a existência das ondas eletromagnéticas. Em 1887, o físico alemão Henrich Rudolf Hertz, partindo da Teoria de Maxwell, detectou pela primeira vez as ondas de rádio – hoje chamadas Ondas Hertzianas. Foi o ponto de partida para uma série de experiências que culminaram posteriormente na invenção definitiva do rádio – transmitindo e recebendo mensagens.

A "Era do Rádio"

A partir de 1919 começa a chamada "Era do rádio". Em 1920, nos Estados Unidos, através da ampliação dos recursos do bocal do telefone, os engenheiros da Westinghouse, aprimoram o conceito do microfone. Foi a própria Westinghouse que fez nascer, meio por acaso, a radiodifusão. Ela fabricava aparelhos de rádio para as tropas da Primeira Guerra Mundial e com o término do conflito ficou com uma grande quantidade de aparelhos. A solução para evitar o prejuízo foi instalar uma grande antena no pátio da fábrica e transmitir música para os habitantes do bairro. Os aparelhos de sobra foram então comercializados. Para se ter uma idéia porque a época ficou conhecida como a "Era do Rádio", nos EUA a rádio crescia surpreendentemente. Em 1921 eram 4 emissoras, mas no final de 1922, os americanos contavam 382 emissoras.

A chegada da rádio comercial não demorou. Logo as emissoras reivindicaram o direito de conseguir sobreviver com os seus próprios recursos. A pioneira na rádio comercial foi a WEAF de Nova Iorque, pertencente à Telephone and Telegraf Co.. Ela irradiava anúncios e cobrava dois dólares por 12 segundos de comercial e cem dólares por 10 minutos.

As primeiras emissoras no Brasil

A Rádio Clube de Pernambuco foi fundada em 6 de abril de 1919, mas só iniciou as transmissões em 17 de Outubro de 1923, com um transmissor de somente 10 Watts.

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4

AS ONDAS DE RÁDIO

As ondas de rádio são ondas eletromagnéticas que podem ser obtidas a partir de uma antena alimentada por um circuito eletrônico capaz de gerar um sinal elétrico de alta freqüência. A freqüência do sinal elétrico pode ir desde milhares de vezes por segundo até milhões de vezes por segundo, e é medida em kilohertz ou megahertz. Ao oscilar na antena de transmissão, a corrente produz uma onda eletromagnética em sua volta, que se propaga no espaço a uma velocidade de 300.000 km/segundo (velocidade da luz). Isto que dizer que qualquer onda (independente da freqüência) percorre a distância de 300.000 quilômetros em 1 segundo. Quando atinge uma antena receptora, a onda eletromagnética é convertida em sinal elétrico que é amplificado e decodificado pelo aparelho receptor (de rádio, televisão, etc).

Imaginemos agora o seguinte fato: um transmissor que produz um sinal de 1 MHz (1milhão de hertz ou de vibrações por segundo). Como em 1 segundo temos 1 milhão de vibrações e estas vibrações percorrem 300 milhões de metros, cada vibração ocupa um "espaço" de 300 metros.

As vibrações ou "ondas" desta freqüência têm então um comprimento de 300 metros. Associamos então a um valor de freqüência um comprimento de onda que calculado simplesmente dividindo-se 300 milhões pelo valor da freqüência em questão;

f000.000.300

=λ , (1)

onde λ é o comprimento da onda em metros e f a freqüência em hertz (ciclos por segundo).

Veja então que se a freqüência for de 10.000.000 Hz (10 MHz ou 10 Megahertz), teremos mais ondas ocupando o mesmo espaço de 300.000.000 metros. O comprimento de onda (espaço ocupado por cada vibração) associado será de apenas 30 metros.

Do mesmo modo, para 100.000.000Hz (100 MHz) teremos um comprimento de onda de apenas 3 metros. Para freqüências mais altas temos então, cada vez, menor comprimento ou ondas "mais curtas". Uma divisão entre as diversas freqüências nos permite uma separação em função do tamanho do comprimento de onda. O comprimento de onda influencia a maneira com que a onda se propaga pelo espaço.

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Fig.3 – Propagação de Ondas Eletromagnéticas

As ondas eletromagnéticas caracterizam-se pelos campos elétricos e magnéticos perpendiculares um ao outro, que se propagam na atmosfera, conforme mostra a Fig. 4.

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6

Fig.4 Onda Eletromagnética

A maneira como os campos se orientam no espaço é conhecida como polarização. A polarização é definida em função do campo elétrico. Quando a variação do campo elétrico é paralela à superfície da terra diz-se que a onda é horizontalmente polarizada. horizontal. Quando o campo elétrico é perpendicular a superfície da terra diz-se que a onda é verticalmente polarizada, Fig.5.

Fig.5 Ondas com polarização horizontal e vertical

As antenas que radiam com o campo elétrico na direção vertical são chamadas de antenas com polarização vertical, Fig. 6 .

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Fig. 6 Antenas Verticais e Horizontais

O ESPECTRO DE FREQÜÊNCIAS

Quando as emissoras de radiodifusão começaram a surgir desordenadamente, principalmente nos Estados Unidos e em seguida na Europa, um verdadeiro festival de interferências se instalou, surgindo a necessidade de posicionar freqüências e autorizar as emissões de maneira disciplinada. Os governos tomaram para si esta responsabilidade, se organizando a nível internacional em uma associação denominada International Telecommunications Union (ITU). A ITU é um órgão ONU especializado em telecomunicações que atualmente conta com 164países. Com o objetivo de melhor gerenciar o espectro a ITU divide o mundo em três regiões (Fig.7):

- Região 1 - Europa, África e parte da Ásia; - Região 2 – América; - Região 3 - parte da Ásia e Oceania.

Fig.7 Regiões do Espectro de Rádio de acordo com o ITU

Foram então padronizadas internacionalmente, faixas de freqüências alocadas a determinados

serviços. Os principais grupos de radiofreqüências e seus comprimentos de onda são fornecidos na

Região 2 Região 3Região 1

Região 1

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8

Tabela 1. Os nomes oficiais definidos pela ITU se baseiam nos comprimentos de onda, portanto, a banda LF vai de 1 a 10 km (aproximadamente, de 30 kHz a 300 kHz). Os termos LF, MF e HF são as abreviaturas, em inglês, de baixa (Low), média (Medium) e alta (High) freqüência, respectivamente. Vê-se com clareza que, quando esses nomes foram criados, ninguém esperava ultrapassar 10 MHz. Portanto, foram atribuídos os seguintes nomes às bandas mais altas surgidas posteriormente. Very, Ultra, Super, Extremely e Tremendously High Frequency. A designação baseada no comprimento de onda leva em consideração a unidade em que está expressa o tamanho do comprimento de onda. Então se o comprimento é da ordem de centímetros, diz-se que a onda é centimétrica.

Tabela I - Padronização das Faixas de Freqüências

FAIXA DESIGNAÇÃO ( ITU)

COMPRIMENTO DE ONDA

NOME POPULAR

300 a 3000 GHz THF

Tremendous High Frequency

Ondas Decimilimétricas

1- 0,1 mm

Ondas

Ultra Curtas

30 a 300 GHz EHF

Extremely High Frequency

Ondas

Milimétricas

10-1 mm

3 a 30 GHz SHF

Super High Frequency

Ondas Centimétricas

10-1 cm

300 a 3000 MHz UHF

Ultra High Frequency

Ondas Decimétricas

100-10 cm

30 a 300 MHz VHF

Very High Frequency

Ondas Métricas

10-1 m

3 a 30 MHz HF

High Frequency

Ondas Decamétricas

100-10 m Ondas Curtas

300 a 3000 kHz MF

Medium Frequency

Ondas Hectométricas

1000-100 m Ondas Médias

30 a 300 kHz LF

Low Frequency

Ondas Kilométricas

10-1 km Ondas Longas

3 a 30 kHz VLF

Very Low Frequency

Ondas Myriamétricas

100-10 km

Ondas Muito Longas

3 mHz a 3 kHz ELF

Extra Low Frequency Sub áudio

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9

PROPAGAÇÃO DAS ONDAS DE RÁDIO

O meio de transmissão das ondas eletromagnéticas da radiodifusão é constituído pelo conjunto atmosfera-superfície terrestre. As características de propagação das ondas eletromagnéticas nesse meio de transmissão são altamente dependentes da freqüência. Assim, a atribuição de freqüências a uma dada aplicação leva em conta as necessidades de cobertura. As características de propagação são o resultado das mudanças na velocidade da onda de rádio como uma função da altitude e das condições de contorno. A velocidade da onda é dependente das mudanças na temperatura do ar, na densidade do ar e nos níveis de ionização do ar.

A atmosfera terrestre pode ser dividida em três camadas principais: a troposfera, a estratosfera e a ionosfera, conforme ilustrado na Fig. 8. A troposfera é a camada a camada adjacente à superfície terrestre e se estende até uma altitude de aproximadamente 11 km. No que concerne às ondas de rádio, na troposfera ocorre os seguintes fenômenos:

refração da onda, causada pelas variações do índice de refração do ar com altura. absorção de energia da onda pelo oxigênio e pelo vapor de água. atenuação causada especialmente por chuva e neve.

A estratosfera é a camada que se segue à troposfera e se estende até a altitude de aproximadamente 50 km. Essa camada é estável do ponto de vista da propagação das ondas de rádio e pode ser tratada como uma camada neutra, isto é, nela não ocorre fenômenos relevantes para a propagação das ondas. A ionosfera é camada que se segue à troposfera e se estende até cerca de 400 km. O ar rarefeito nessas altas altitudes apresenta um alto índice de ionização (isto é, elétrons livres), o que faz com que a ionosfera tenha um efeito dominante na propagação de onda nas faixas de onda média (OM) e de onda curta (OC). A ionização é causada pela radiação ultravioleta proveniente do sol e pelos raios cósmicos. Conseqüentemente, a quantidade de ionização é uma função da hora do dia, da estação do ano e da atividade solar. Isso resulta em várias subcamadas de densidade de ionização variável, localizadas a diferentes alturas ao redor da terra

Figura 8 - Composição da atmosfera terrestre.

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10

Figura 9 - Camadas da ionosfera.

As regiões ionizadas dominantes da ionosfera são as camadas D, E, F1 e F2 — veja a Fig. 9. A

camada D está localizada mais próxima da superfície terrestre a uma altitude de aproximadamente 80 km. Para freqüências maiores que 300 kHz, a camada D age como uma esponja de radiofreqüência que absorve (ou atenua) essas ondas de rádio. A atenuação é inversamente proporcional à freqüência e se torna pequena para freqüências acima de 4 MHz. Para freqüências abaixo de 300 kHz, a camada D provê refração (curvamento) das ondas de RF. A camada D é mais pronunciada durante o dia, com ionização máxima quando o sol está a pino, e quase desaparece à noite. A camada E tem uma altura de 100 a 120 km, tem ionização máxima em torno do meio dia e praticamente desaparece após o pôr do sol. Ela provê reflexão de ondas curtas durante o dia. A camada F se estende na altitude entre 150 a 400 km. Ela ioniza rapidamente ao nascer do sol, alcança seu pico de ionização no começo da tarde e decai lentamente após o pôr do sol. A região F se divide em duas camadas, F1 e F2, durante o dia e combina em uma camada à noite. A região F é o meio mais predominante no provimento de reflexão das ondas curtas.

As ondas de rádio podem se propagar de três modos básicos: onda de superfície, onda espacial (propagação em linha de visada direta) e onda celeste — veja ilustrações na Fig. 10. A onda de superfície e a onda espacial são também denominadas ondas terrestres. Dependendo da freqüência da onda eletromagnética, um desses modos será o modo dominante de propagação.

A propagação de ondas de superfície é ilustrada na Fig. 10(a). Esse é o modo dominante de propagação para freqüências abaixo de 2 MHz. A onda eletromagnética tende a seguir o contorno da terra. Isto é, a difração da onda faz com que ela se propague ao longo da superfície da terra. Este é o modo de propagação mais usado em radiodifusão AM, onde a cobertura local segue o contorno da terra e o sinal propaga além do horizonte visual. A onda de superfície é atenuada com a distância devido à absorção de sua energia pela terra. Essa atenuação é função da condutividade do solo (ou da superfície) por onde a onda se desloca. A onda de superfície é transmitida geralmente com polarização vertical, uma vez que a terra apresenta um efeito de curto-circuito para a onda de polarização horizontal.

A propagação das ondas celestes é ilustrada na Fig. 10(b). Ele é o modo dominante na faixa de freqüências entre 2 e 30 MHz, portanto é o modo dominante de propagação das ondas curtas. Aqui cobertura de longas distâncias é conseguida pela reflexão da onda na ionosfera e na superfície terrestre. Na realidade, na ionosfera as ondas são refratadas (isto é, curvadas) gradualmente em um formato de U invertido uma vez que o índice de refração varia com a altitude quando a densidade de ionização muda. Para freqüências entre 2 e 30 MHz o índice de refração varia com a altitude em uma faixa apropriada de modo que a onda é curvada de volta para a terra. Conseqüentemente, a ionosfera

Terra

DIA

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E

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Terra

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11

atua como um refletor, sendo a camada F a principal responsável por essa reflexão. A cobertura da área próxima à antena transmissora é devida à onda de superfície. A onda celeste provê a cobertura de áreas que estão muito distantes da antena transmissora. A região entre o limite do alcance da onda de superfície e a área de recepção da onda celeste é denominada zona de silêncio, pois não existe sinal útil nessa região. O ângulo de reflexão a perda de sinal na reflexão ionosférica depende da freqüência, da hora do dia, da estação do ano e da atividade solar.

Figura 10 - Modos de propagação das ondas de rádio: (a) onda de superfície, (b) onda celeste e (c) onda espacial (linha de visada).

Durante o dia, as ondas de estações distantes no outro lado mundo podem ser ouvida nas

faixas de ondas curtas. Contudo, a camada D está também presente durante o dia e ela absorve ondas de freqüência abaixo de 4 MHz. Esse é o caso das estações de radiodifusão AM, durante o dia estações distantes não podem ser ouvidas, mas à noite a camada D desaparece e essas estações distantes podem ser ouvidas via ondas celestes.

A propagação em linha de visada direta (LVD), ou onda espacial, é o modo dominante para freqüências acima de 30 MHz e, portanto é o modo dominante na radiodifusão FM, que opera na faixa

Antena transmissora

Antena receptora

Onda de superfície

Terra

Antena transmissora

Antena receptora

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Terra

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Antena receptora

Antena receptora

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Antena transmissora

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Antena transmissora

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Terra

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Antena receptora

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Antena transmissora

Antena receptora

Ondaceleste

Terra

Ionosfera

Antena receptora

Antena receptora

Onda desuperfície

Ondaceleste

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Antena transmissora

Antena receptora

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Antena transmissora

Antena receptora

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(c)

(b)

(a)

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12

de 87,8 a 108 MHz. Para essas freqüências não se torna mais possível o uso da reflexão ionosférica, porque a refração não curva a onda o suficiente para ela retornar a terra.

O modo LVD tem a desvantagem que para a comunicação entre dois pontos na superfície terrestre, a trajetória do sinal tem que estar acima do horizonte — veja ilustração na Fig. 10(c). Caso contrário, a terra poderá bloquear a trajetória LVD. Por isso as antenas precisam ser colocadas em torres altas de modo que a antena receptora possa “ver” a antena transmissora.

Na faixa de freqüência usada pela radiodifusão FM , a recepção pode se dar devido ao fenômeno da difração da onda eletromagnética em algum obstáculo (tais como morros, prédios, ou árvores) localizado na trajetória retilínea da onda. A difração causa o desvio da onda, como é ilustrado na Fig. 11, fazendo com que parte da onda contorne o obstáculo. A própria terra pode se constituir em um obstáculo a ser contornado, devido à sua curvatura.

Figura 11 - Ilustração do fenômeno da difração em obstáculos.

Antena transmissora

Frente de onda (plana)Antena transmissora

Frente de onda (plana)

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1

RADIODIFUSÃO SONORA EM AMPLITUDE MODULADA

AS FAIXAS DE FREQÜÊNCIAS PARA RADIODIFUSÃO SONORA AM

A radiodifusão sonora utiliza as Ondas Médias e Curtas. A faixa de freqüência de Ondas Médias, destinada a radiodifusão sonora vai de 500KHz a 1600KHz, o que corresponde a comprimentos de onda de 600 metros a 187,5 metros.

Esta faixa em todos os países é usada apenas para estações de radiodifusão comerciais (OM). Os sinais destas estações normalmente não têm uma penetração muito grande, de modo que sua propagação durante o dia se restringe a no máximo 100 ou 200 quilômetros. Durante a noite alguns fenômenos entram em ação, e estas ondas podem chegar a centenas ou mesmo milhares de quilômetros. O comprimento destas ondas relativamente grande permite que elas contornem certos obstáculos , tais como estruturas de metal, facilitando assim sua captação em locais em que outros sinais (FM e TV por exemplo) não chegam bem. Como o alcance "fixo" dos sinais desta faixa não vai além de algumas dezenas de quilômetros e depende muito da potência do transmissor, usamos as OM apenas para serviços locais.

A radiodifusão em ondas curtas (OC) utiliza a faixa que vai de 1600KHz a 50MHz que correspondem a comprimentos de onda de 187,5 a 6 metros. A grande vantagem das Ondas Curtas em relação as demais ondas, é que elas atingem distâncias muito grandes com transmissores de pequena potências. Por essa razão as transmissões em Ondas Curtas são muito utilizadas em países continentais, como é o caso do Brasil.

As Bandas Tropicais

Após o término da 1ª Guerra Mundial em 1918, começaram a surgir as primeiras emissoras de radiodifusão sonora, todas operando em ondas médias.

O desenvolvimento tecnológico aliado a estudos que apontavam para melhores condições de propagação em freqüências mais elevadas, impulsionaram o aparecimento de transmissões em freqüências mais elevadas. Assim, ao redor de 1930, a maior parte dos paises desenvolvidos já dispunha de estações de ondas curtas, operando até 15 MHz com potencias da ordem de 10-50 kW, que permitiam comunicação a longa distancia durante 24 horas/dia

Essa foi politicamente, uma época de colonialismo, com várias potencias européia disputando territórios e penetração na África e na Ásia: A importância das telecomunicações para influenciar as populações desses territórios foi considerável e os paises mais ativos nessa linha política começaram a articular maneiras de proporcionar cobertura permanente e efetiva das colônias pela radiodifusão.

Na época, um receptor de ondas curtas para freqüências elevadas era um objeto de luxo, de custo elevado, fora do alcance da grande maioria da população dos paises coloniais; isso levou a um esquema de radiodifusão pelo qual o sinal original, gerado de 11 ou 15 mHz na Europa, era recebido na África numa unidade retransmissora estatal, equipada com receptores profissionais de boa sensibilidade; no local era efetuada uma conversão do sinal para freqüências mais baixas, da ordem de 2-5 mHz, apenas para uso regional, com alcance limitado. Contribuiu para o sucesso deste esquema o inicio da eletrificação em várias regiões da África (1932-35), bem como a introdução de kits para a montagem caseira de receptores.

Após a implantação dessa infraestrutura local, foi só questão de tempo começar a preparação e a transmissão de programas locais, para melhor atender hábitos, costumes e interesses regionais, especialmente no que dizia respeito a línguas e dialetos locais. Este processo ficou completo após o término da 2a.Guerra Mundial (1945), quando muitos transmissores militares acabaram sendo doados/transferidos a entidades locais na retirada das tropas de ocupação.

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2

Com estes fenômenos políticos ocorreram fundamentalmente na África, as bandas de ondas curtas utilizadas para cobertura local especializada acabaram recebendo a definição oficiosa de “tropicais”: Eles incluem a banda de 120 metros (2.3-2.5 MHz), 75 m (3.9-4.0 MHz), 90 m (3.2-3.4 MHz) e 60 m (4.7-5.1 MHz), ressaltando que estas freqüências são aproximadas, uma vez que, ao longo dos anos, sofreram repetidas alterações, para atender a novas necessidades.

MODULAÇÃO DE AMPLITUDE

O propósito de um sistema de comunicação é transmitir sinais portadores de informação – também denominados sinais-mensagem ou sinais de banda básica – através de um meio de transmissão ou canal. O termo banda básica é usado para designar a banda de freqüência ocupada pelo sinal original entregue por uma fonte de informação. Contudo, em geral, para que se tenha uma comunicação efetiva e eficiente, os sinais-mensagem não podem ser transmitidos diretamente pelo meio de transmissão. Ao invés disso, uma onda portadora, cujas propriedades são mais adequadas para o meio em questão, é modificada para representar e transportar a mensagem. Este processo pelo qual alguma característica de uma onda portadora é variada de acordo com um sinal-mensagem é denominado modulação, Fig.1.

Fig. 1. Sistema de Modulação.

A modulação em amplitude é caracterizada pelo fato da amplitude A da portadora variar

proporcionalmente a informação. A Fig. 2 ilustra um sinal modulado em amplitude, enquanto a Fig. 3 mostra o espectro de freqüência de um sinal AM.

(a) Sinal Modulante

(b) Portadora

(c) Sinal Modulado

Fig.2. Modulação em Amplitude

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3

Fig. 3 Espectro de Freqüência de um sinal modulado em Amplitude

A análise completa do sinal modulado é feita observando o seu comportamento no tempo e na

freqüência. Em termos práticos, utiliza-se osciloscópios (análise domínio do tempo) e analisadores de Espectro (análise no domínio da freqüência). A Fig.4 mostra a resposta no domínio do tempo e da freqüência de um sinal modulado, onde o sinal modulante, a informação, é uma onda senoidal também chamada sinal tonal.

Fig. 4 Comportamento no domínio do tempo e da freqüência de um sinal AM

Uma medida usual da quantidade de modulação é o índice de modulação, µ, assim definido:

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AAAA

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onde mp é a amplitude máxima do sinal mensagem. A é amplitude da portadora e Amax e Amin denotam os valores máximo e mínimo da envoltória s(t), como mostra a Fig.5. O índice de modulação é usualmente expresso como uma porcentagem denominada porcentagem de modulação, ou seja,

%100mod% ×= μulação .

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5

Fig.7 Princípio de funcionamento de uma rádio AM.

ANTENAS DE RÁDIO AM

Os sinais radiados por uma antena geralmente tendem a se propagar para pontos distantes da antena em muitas direções, a menos que a estrutura radiante seja eletricamente ou fisicamente alterada de alguma maneira. As antenas utilizadas em estações transmissoras de rádio AM são constituídas por torres verticais posicionadas sobre a superfície da terra, Fig.8. Essas torres atuam como uma antena elementar para radiar o sinal transmitido pela estação. O relativamente grande tamanho de uma antena de rádio AM é devido ao comprimento de onda (λ) associado à freqüência do sinal transmitido. Para que uma antena seja um radiador de energia eficiente, ela não pode ter um tamanho muito pequeno quando comparado ao comprimento de onda do sinal a ser radiado.

Em 98 MHz, no centro da banda de sinal FM, por exemplo, uma antena de λ/4 tem cerca de 0,76 m de comprimento. Essa é a razão de muitas antenas de carro terem um comprimento dessa ordem de grandeza. No entanto, em 1.000 kHz, próximo do centro da banda de rádio AM, uma antena de λ/4 tem 75 m de comprimento.

Uma antena é eletricamente curta quando as suas dimensões são da ordem (ou menores) do que um décimo do comprimento de onda para a freqüência de operação. Essa é a antena do tipo mais elementar e tem uma estrutura muito simples, com propriedades que não são sensíveis aos detalhes de construção. O monopolo vertical usado nos carros para recepção de rádio AM é um exemplo de uma antena eletricamente curta. Esse monopolo tem cerca de 0,003λ de comprimento e o seu diagrama é aproximadamente omnidirecional no plano horizontal. A utilização de monopolos, para simular um dipolo no espaço livre, é particularmente importante em baixas freqüências, o que implica em grandes valores de comprimento de onda.

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Fig.8. Antenas transmissoras verticais de rádio AM.

As antenas verticais são geralmente fáceis de instalar e de fazer manutenção. Elas radiam sinais com polarização vertical que se propagam em ondas de superfície na área de cobertura primária, Fig 9. Elas também radiam sinais que se propagam na onda celeste, necessário para realizar a cobertura secundária noturna de algumas estações

Fig.9. Processo de propagação de uma Antena Vertical.

O diagrama de radiação representa graficamente o comportamento da antena quanto a sua irradiação. A Fig. 10 apresenta o diagrama de radiação de uma antena omnidirecional em 3D. Apesar da irradiação ser tridimensional, o diagrama é comumente encontrado nos planos horizontal e vertical., conforme ilustrado na Fig.11

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Fig. 10 Diagrama de Radiação de uma antena omnididerional em 3D.

Fig. 11 Diagrama de Radiação de uma antena omnididerional em 2D.

As torres verticais isoladas são não-diretivas, radiando a energia do transmissor igualmente em

todas as direções paralelas à superfície da terra. Contudo, torres verticais podem ser convenientemente posicionadas para produzir diagramas direcionais.

Nas faixas de VLF e HF (3 kHz a 300 kHz) a superfície terrestre comporta-se praticamente como um condutor perfeito. Além disso, as ondas de superfície polarizadas verticalmente sofrem atenuações muito menores que as polarizadas horizontalmente. Finalmente, as ondas espaciais propagando-se pela atmosfera serão sensivelmente menos afetadas pelas condições momentâneas da ionosfera ou pelos distúrbios ionosféricos. Dessa forma, a aplicação de monopolos verticais curtos é praticamente uma imposição nessas faixas de freqüências.

Na faixa de ondas médias (MF), compreendida no espectro de 300 kHz a 3 MHz, o solo terrestre não se comporta como um condutor perfeito. Nessa situação, utiliza-se um sistema de terra para simular um condutor perfeito. Esse sistema é composto por condutores de cobre, dispostos radialmente a partir da base da antena e dela isolados, conforme a vista de topo da Fig.12. Em geral, são empregados 120 radiais, ligeiramente enterrados no solo, de comprimentos em torno de λ/4, suficiente para simular adequadamente um solo condutor de dimensões teóricas infinitas. As alturas adotadas para os monopolos variam de λ/6 a 5λ/8, dependendo das características de operação e

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9

Em algumas estações transmissoras de sinais AM, é necessário o emprego de antenas diretivas, que aumentam a potência em uma ou mais direção, para melhorar a cobertura em áreas específicas. Elas também podem ser usadas para diminuir ou eliminar a potência radiada numa determinada área com a finalidade de proteger o sinal transmitido por outras estações na mesma freqüência ou em freqüências próximas. Para alcançar um diagrama de radiação direcional, uma estação deve ter pelo menos duas torres. O número de torres necessário no conjunto depende da complexidade do diagrama (ou diagramas) requerido. Na faixa de HF, também são empregados arranjos constituídos de dipolos posicionados em frente a um refletor constituído de fios condutores. Ajustando-se o espaçamento, a orientação, e o defasamento elétrico entre os diversos dipolos, o sinal pode ser radiado na direção desejada.

TERMOS RELATIVOS À RADIODIFUSÃO

Neste item são apresentados alguns termos utilizados na radiodifusão.

CONTORNO: É a área de cobertura de uma emissora, conforme ilustrado na Fig.15.

Fig. 15 – Ilustração das áreas de cobertura

CONTORNO PROTEGIDO: É o lugar geométrico dos pontos onde o valor da intensidade de campo é aquele tomado como referência de sinal desejado e para o qual é assegurada a relação mínima sinal desejado/sinal interferente estipulada para o serviço, sendo igual a 66 dBµ, como ilustrado na Fig. 15.

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ZONA DE SOMBRA: É a área que, apesar de circunscrita ao contorno protegido a partir das características técnicas da instalação da estação, devido às características de relevo do terreno, apresenta um valor de intensidade de sinal recebido menor que 44dBμ, como ilustrado na Fig. 15.

INTERFERÊNCIA OBJETÁVEL: É a interferência causada por um sinal excedendo o campo máximo permissível no contorno protegido, de acordo com os valores estipulados na Regulamentação.

CONTORNO UTILIZÁVEL – É a linha contínua que delimita a área de serviço efetivamente protegida contra interferências objetáveis, como resultado de um plano de distribuição de canais. INTENSIDADE DE CAMPO NOMINAL UTILIZÁVEL – É o valor da intensidade de campo utilizável empregado como referência para planejamento.

INTENSIDADE DE CAMPO UTILIZÁVEL – É o valor mínimo de intensidade de campo necessário para prover uma recepção satisfatória, sob condições especificadas, em presença, do ruído atmosférico, ruído feito pelo homem e interferência em uma situação real (ou resultante de um plano de distribuição de canais).

O PROBLEMA DE INTERFERÊNCIA

Interferência é qualquer emissão, radiação, indução ou ruído eletromagnético que vem interromper, perturbar ou se introduzir na recepção de sinais de telecomunicação. As interferências podem ser classificadas como:

INTERFERÊNCIA INDESEJÁVEL - É a interferência que prejudica, de modo levemente perceptível, o serviço prestado por uma estação de telecomunicações ou de radiodifusão regularmente instalada. INTERFERÊNCIA PREJUDICIAL - É a interferência que, repetida ou continuamente, prejudica ou interrompe o serviço prestado por uma estação de telecomunicações ou de radiodifusão regularmente instalada. INTERFERÊNCIA CO-CANAL - Chama-se interferência co-canal, aquela que ocorre num canal rádio quando o sinal interferente é produzido por canal de mesma frequência. Este sinal interferente, por ser exatamente da mesma freqüência que o sinal recebido, não pode ser separado por filtragem, causando sérios problemas. INTERFERÊNCIA DE CANAL ADJACENTE – É a interferência produzida pela portadora de um canal sobre o outro canal, em virtude do afastamento da freqüência da portadora de seu valor nominal. Os espaçamentos entre portadoras devem ser especificados de forma a se eliminar este tipo de interferência. INTERFERÊNCIA ENTRE EQUIPAMENTOS - Este tipo de interferência pode causar problemas tanto para o produtor quanto para o interceptor. Neste ultimo caso, um equipamento funciona bem sozinho, porém apresenta problemas quando está próximo de outro, observando-se o fenômeno denominado "incompatibilidade eletromagnética". O produtor desta interferência tecnológica não é sempre um transmissor de rádio. Ele pode ser uma linha de alta tensão com fuga, algumas lâmpadas fluorescentes, ou mesmo um mau contato de fios de cobre com superfícies oxidadas.

INTERFERÊNCIA DEVIDA A INTERMODULAÇÃO - É uma forma de distorção onde o sinal de saída contém, além das componentes de freqüência do sinal original, componentes de freqüência que não estão

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11

presentes no sinal de entrada. As novas freqüências são geradas por problemas do transmissor, associados a não linearidades. Esse tipo de distorção é também chamado de "Interferência por Intermodulação" em função de sua semelhança com o processo de modulação. INTERFERÊNCIAS DEVIDAS A OUTROS SISTEMAS - Um sistema pode vir a sofrer interferência de um outro sistema que opere numa região próxima, na mesma faixa de freqüência. Para evitar tal problema deve-se sempre levantar os sistemas já existentes numa localidade antes da implantação de um novo sistema.

SERVIÇOS DE RADIODIFUSÃO SONORA AM

Os serviços de radiodifusão sonora AM no Brasil são divididos em duas categorias:

Serviços de Radiodifusão Sonora em Onda Média e Onda Tropical (faixa de 120 metros); Serviços de Radiodifusão Sonora em Ondas Decamétricas; compreendendo Onda Tropical

(90 e 60 m) e Onda Curta. A Fig. 16 localiza cada um destes serviços no espectro eletromagnético.

Fig.16. Faixas de freqüência dos serviços de radiodifusão sonora

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13

Utilizando-se esse procedimento estabeleceu-se que a modulação não pode ultrapassar o valor de 1 nos picos negativos e de 1,25 nos picos positivos. Em qualquer condição de funcionamento da emissora, os picos positivos cuja repetição é freqüente (acima de 15 por minuto) deverão ter um valor percentual de, pelo menos, 85%.

Fig.18 Índices de Modulação Positivo e Negativo.

Zumbido e Espúrios na Faixa de Áudio

O nível de zumbido e de ruídos espúrios da portadora, na faixa de freqüências de 30 a 20000

Hz deve estar, 45 dB abaixo do nível de um sinal senoidal de 400 Hz que module a portadora em 95%, Fig.19.

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14

Fig. 19 Nível de ruído permitido

Para quaisquer índice e freqüência de modulação, as emissões espúrias devem ser atenuadas,

no mínimo, aos níveis relacionados na Tabela 2.

TABELA 2 – Níveis de Atenuação recomendados para as emissões espúrias Afastamento entre a freqüência do espúrio e a da portadora (kHz)

Nível máximo em relação ao nível da portadora sem modulação (dB)

de 10,2 a 20, inclusive -25 Maior que 20 até 30, inclusive -35 Maior que 30 até 60, inclusive - (5+1dB/kHz) Maior que 60 até 75, inclusive -65 Maior que 75 - [73 + P (dBK)], para potências até 5 kW, inclusive

- 80 para potências maiores que 5 kW

Baseados nos valores da Tabela 2, foi elaborada a máscara espectral para emissoras de radiodifusão sonora em Ondas Médias, Fig. 20.

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15

Fig.20. Máscara espectral para emissoras de radiodifusão sonora em Ondas Médias

Canalização

a) A faixa de 525 a 1705 kHz é atribuída ao serviço de radiodifusão sonora em onda média,

dentro das seguintes limitações: A sub-faixa de 525 a 535 kHz é utilizada por serviços móvel e de radionavegação

aeronáutica. É constituída por um canal de 10 kHz com portadora em 530 kHz. Sua potência é limitada a 250 W.

Inicialmente a faixa atribuída exclusivamente ao serviço de radiodifusão sonora comercial era de 535 kHz até 1605 kHz. A partir da Conferencia Administrativa Regional de Radiocomunicações para a Região 2 (CARR/88) a faixa foi expandida até 1705 kHz. A sub-faixa 535 a 1605 kHz é dividida em 107 canais, com separação de 10 kHz entre portadoras, a partir de 540 kHz conforme ilustrado na Fig.21.

A faixa expandida, 1605 a 1705 Khz, segue os mesmo critérios de canalização. É dividida em 10 canais, com separação de 10 kHz entre portadores, a partir de 1610 kHz. As estações nesta faixa podem ter potência máxima de 10 kW.

b) A faixa de 2300 a 2495 kHz é atribuída exclusivamente ao serviço de radiofusão sonora em

onda tropical, faixa de 120 metros, e é dividida em 19 canais, com separação de 10 kHz entre portadoras, a partir de 2310 kHz. Cada canal é identificado por sua freqüência central que é freqüência da onda portadora, Fig.22.

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Fig.21 Canalização para radiodifusão sonora em onda média

Fig.22 Canalização para radiodifusão sonora em Onda Tropical (120 metros)

Classe de Emissão

As emissoras de onda média e onda tropical presentes nesta faixa são classificadas nas

classes A, B, e C, em função das suas características técnicas:

Classe A- estação com potências máximas de 100 KW (diurna) e 50 kW (noturna) e destinam-se a prover cobertura primária e secundária;

Classe B – estação com potência máxima diurna e noturna de 50kW e destinam-se a prover cobertura local das zonas urbanas e suburbanas contidas nas áreas de serviço primário;

Classe C – estações com potência máxima diurna de 5 kW e noturna de 1kW. As estações de Onda Tropical na faixa de 120 metros enquadram-se exclusivamente na

Classe C.

Tabela 2– Classes das emissoras de onda média

Classe Campo Característico

Potência Máxima Diurna (kW)

Potência Máxima Noturna (kW)

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Mínimo (mV/m) A 310 100 50 B 295 50 50

C Zona de Ruído 1 280 1 1 Zona de Ruído 2 5 1

O campo característico mínimo é a intensidade de campo elétrico do sinal da onda de

superfície propagada através do solo perfeitamente condutor, à distância de 1 km na direção horizontal, para uma estação de 1 kW de potência, consideradas as perdas em uma antena real onidirecional.

A zona de ruído 1 compreende a toda a Região 2, excluindo-se a zona de ruído 2. A Região 2 é a área definida pela UIT que compreende, basicamente, o continente das Américas. A zona de ruído 2 encontra-se bem definidas na norma.

Plano Básico de Distribuição de Canais de Radiodifusão Sonora em OM

É a lista que identifica os canais distribuídos para localidades brasileiras, fixando freqüências, potências, características de sistemas irradiantes e outras julgadas necessárias, na faixa de 535 a 1705 kHz. É conhecido como PBOM.

De acordo com o PBOM, atualmente existem 2157 canais estando 1552 em operação, 134 em processo de outorga ou instalação e 471 canais vagos. Esses dados estão dispostos na Tabela 3.

Tabela 3. Dados sobre a distribuição de canais em Ondas Médias

PBOM Número de Canais Percentual Emissoras em Operação 1522 72% Em Outorga/ Instalação 134 6% Canais Vagos 471 22% Total de Canais 2157 100%

A distribuição de canais para a faixa de 120 metros segue um plano básico específico para as Ondas Tropicais.

SERVIÇO DE RADIODIFUSÃO SONORA EM ONDAS DECAMÉTRICAS

O serviço de radiodifusão em ondas decamétricas é regulamentado pela norma N-02/83 do Ministério das Comunicações, que atribui 10 faixas de freqüência a esse serviço. Essas faixas de freqüência estão especificadas na Tabela 4 e suas alocações no espectro de freqüências ilustradas na Fig.23. As primeiras três faixas apresentadas são de Onda Tropical, também conhecidas como as faixas de 90 e 60 metros, e as restantes de Onda Curta.

Tabela 4. Ondas Curtas para Radiodifusão Sonora

Tipo de Onda

Faixas de Freqüências (kHz)

Designação em comprimento de

Onda

Tropical 3200 - 3400 3 MHz ou 90 m 4750 - 4995 5 MHz ou 60 m

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5005 - 5060 5 MHz ou 60 m

Curta

5950 - 6200 6 MHz ou 49 m 9500 - 9775 10 MHz ou 31 m

11700 - 11975 12 MHz ou 25 m 13570 - 13800 13 MHz ou 22 m 15100 - 15800 15 MHz ou 19 m 17700 -17900 18 MHz ou 16 m 21450 - 21750 22 MHz ou 13 m 25600 - 26100 26 MHz ou 11 m

Fig.23 Faixas de freqüências em Ondas Curtas alocadas para Radiodifusão sonora

Canalização

Cada canal de radiodifusão em ondas decamétricas é caracterizado pela freqüência de sua portadora. Nas faixas de onda tropical, o espaçamento entre portadoras de canais adjacentes é de 10 kHz entre portadoras, Fig.32. Nas faixas de onda curta, a separaçãoentre portadoras é de 5 kHz. A portadora associada ao primeiro canal de cada faixa estará sempre, 5 kHz acima do início desta faixa (portadora do primeiro canal da faixa de 3 MHz será 3205 kHz).

Fig.23 Canalização para radiodifusão sonora em Onda Tropical (90 metros)

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A fim de proteger a freqüência padrão de 5000 kHz, Fig.24, a canalização da faixa de 60 metros em Ondas Tropicais é feita como segue:

Faixa de 4750 a 4995 kHz Portadora do primeiro canal 4755 kHz Portadora do último canal 4985 kHz

Faixa de 5005 a 5060 kHz Portadora do primeiro canal 5015 kHz Portadora do último canal 5055 kHz

Fig.24 Canalização das faixas de 60 metros em Ondas Tropicais

Classe de Emissão

A classe de emissão do serviço de radiodifusão em ondas decamétricas é conhecida como A3E. Esta classe se caracteriza por trabalhar com modulação em amplitude e banda lateral dupla.

A largura de banda de radiofreqüência deverá ser de 10kHz. O desvio de freqüência da onda portadora não deverá ultrapassar o valor de ± 10 Hz. A tolerância máxima fica limitada a 100 Hz. Essa restrição visa fundamentalmente inibir interferências.

Plano Básico de Distribuição de Canais em Ondas Decamétricas e Ondas Tropicais

O Plano Básico de d Canais em Ondas Decamétrica (PBOD) identifica os canais distribuídos

para localidades brasileiras, fixando freqüências, potências, características de sistemas irradiantes e outras julgadas necessárias, nas faixas de freqüências de ondas curtas.

A distribuição de canais para as faixa de 60 e 90 metros juntamente com a faixa de 120 metros segue um plano básico específico para as Ondas Tropicais, PBOT.

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De acordo com o PBOD, atualmente existem 73 canais estando 61 em operação, 1 em processo de outorga ou instalação e 11 canais vagos. Esses dados estão dispostos na Tabela 5.

Tabela 5. Dados sobre a distribuição de canais em Ondas Médias

PBOD Número de Canais Percentual Emissoras em Operação 61 84% Em Outorga/ Instalação 1 1% Canais Vagos 11 15% Total de Canais 73 100%

A atual situação da radiodifusão em Ondas Tropicais pode ser observada através do PBOT. Conforme dados da ANATEL, atualmente existem 622 canais estando 73 em operação, 2 em processo de outorga ou instalação e 547 canais vagos. Esses dados estão dispostos na Tabela 6.

Tabela 6. Dados sobre a distribuição de canais em Ondas Médias

PBOT Número de Canais Percentual Emissoras em Operação 73 11,7% Em Outorga/ Instalação 2 0,3% Canais Vagos 547 88,00% Total de Canais 622 100,00%

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1

RADIODIFUSÃO SONORA EM FREQÜÊNCIA MODULADA

Radiodifusão FM é a modalidade de serviço de radiodifusão que opera na faixa de 87,8 MHz a 108 MHz, usando a modulação de freqüência (em inglês, frequency modulation – FM). Esse serviço é normalizado pelo Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em Freqüência Modulada, aprovado pela Resolução no 67 da Anatel, de 12 de novembro de 1998.

MODULAÇÃO FM

Modulação é o processo em que uma onda portadora de alta freqüência é modificada (isto é, modulada) por um sinal de banda básica (ou sinal de informação). Resulta desse processo um sinal modulado que carrega em alguma de suas características uma representação do sinal de informação, que nesse contexto é denominado sinal modulante. O objetivo é gerar um sinal que seja mais apropriado para ser transmitido por um dado canal. Na modulação de freqüência (frequency modulation – FM), a freqüência é o parâmetro da portadora que é modificado pelo sinal modulante. A Fig. 1 mostra exemplos de formas de onda de um sinal modulante, da portadora e do sinal FM.

A largura de faixa de freqüência, TB , necessária para a transmissão de um sinal FM pode ser estimada pela regra de Carson, segundo a qual

mT BfB 22 +Δ≅ (1)

onde fΔ é o desvio de freqüência e mB é a largura de faixa do espectro de freqüência do sinal modulante (ou de informação).

Desvio de freqüência ( fΔ )

O desvio de freqüência, fΔ , é a máxima variação instantânea da freqüência da onda modulada FM, em relação à freqüência da portadora. O seu valor é proporcional à amplitude máxima do sinal modulante. Esse parâmetro pode ser usado como uma medida da profundidade (ou intensidade) da modulação. Quanto maior for o seu valor, maior será a largura de faixa necessária para a transmissão do sinal FM — veja eq. (1). Em compensação, melhor será a qualidade do sinal de informação recuperado pelo receptor.

Percentagem de modulação É a razão entre o desvio de freqüência praticado e o desvio de freqüência definido como 100%

de modulação, expresso em percentagem. Para estações de radiodifusão sonora em freqüência modulada, um desvio de freqüência de 75 kHz é definido como 100% de modulação. Em qualquer condição de funcionamento de uma emissora FM, a profundidade da modulação deve ser tal que os picos de modulação que tenham valor percentual maior que 100% ocorram com uma freqüência máxima de 15 por minutos.

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2

Figura 1 - Ilustração da modulação FM: (a) modulador, (b) sinal modulante de banda básica, (c) onda portadora, e (d) sinal

FM.

CANALIZAÇÃO

A faixa de 87,8 MHz a 108 MHz é a faixa de freqüência destinada à radiodifusão FM. Essa faixa é dividida em 101 canais e cada canal é identificado por sua freqüência central, que é a freqüência da portadora da estação FM. A separação entre portadoras é de 200 kHz: a primeira portadora tem freqüência de 87,9 MHz e a última, de 107,9 MHz. A cada canal é atribuído um número entre 200 e 300. O canal 200 (87,9 MHz) é destinado para uso exclusivo por estação do Serviço de Radiodifusão Comunitária.

O regulamento técnico da Anatel especifica a largura de faixa de um canal de radiodifusão FM através do método “x dB”. De acordo com essa especificação, qualquer emissão presente em freqüências afastadas de 120 a 240 kHz, inclusive, da freqüência da portadora, deverá estar pelo menos 25 dB abaixo do nível da portadora sem modulação; as emissões em freqüências afastadas da freqüência da portadora de mais de 240 kHz até 600 kHz, inclusive, deverão estar pelo menos 35 dB abaixo do nível da portadora sem modulação. As emissões em freqüências afastadas de mais de 600 kHz da freqüência da portadora deverão estar (73+P) dB (P = potência de operação do transmissor, em dBk) abaixo do nível da portadora sem modulação, sendo 80 dB a maior atenuação exigida. Uma representação gráfica dessa especificação é mostrada na Fig. 2.

)(tmmA

mA−

t

)(tccA

cA−

t

)(tscA

cA−

t

(b)

(c)

(d)

ModuladorFM

)(tm )(ts

Sinal modulantede banda básica

( informação)

Sinal FM(passa-faixa)

cftc

freqüênciade, Portadora, )(

(a)

)(tmmA

mA−

t

)(tccA

cA−

t

)(tscA

cA−

t

(b)

(c)

(d)

)(tmmA

mA−

t

)(tmmA

mA−

t

)(tccA

cA−

t

)(tccA

cA−

t

)(tccA

cA−

t

)(tscA

cA−

t

)(tscA

cA−

t

(b)

(c)

(d)

ModuladorFM

)(tm )(ts

Sinal modulantede banda básica

( informação)

Sinal FM(passa-faixa)

cftc

freqüênciade, Portadora, )(

ModuladorFM

)(tm )(ts

Sinal modulantede banda básica

( informação)

Sinal FM(passa-faixa)

cftc

freqüênciade, Portadora, )(

(a)

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3

Figura 2 - Representação gráfica da especificação da largura de faixa de um canal de radiodifusão FM pelo método “x-dB”.

As emissões em freqüências afastadas de mais de 600 kHz da freqüência da portadora deverão estar (73+P) dB (P = potência de operação do transmissor, em dBk) abaixo do nível da portadora sem modulação, sendo 80 dB a maior

atenuação exigida.

MODALIDADES DE RADIODIFUSÃO FM

Estão previstas três modalidades de radiodifusão: monofônica, estereofônica e estereofônica com canal secundário. A Tabela 1 mostra a designação dessas modalidades e a largura de faixa necessária para se transmitir o sinal FM de cada uma delas. A maioria das emissoras em operação no Brasil é do tipo 256KF8EHF.

Os sinais de áudio transmitidos pelas emissoras FMs têm um espectro que ocupa a faixa de 50 a 15.000 Hz. É um sinal de áudio de qualidade muito superior aquela dos sinais de áudio transmitidos pelas emissoras AMs, que têm uma largura de banda de apenas 5 kHz.

Tabela 1 - Modalidades de radiodifusão FM

Designação Tipo de informação transmitida

Largura de faixa necessária (kHz)

180KF3EGN Áudio monofônico 180 256KF8EHF Áudio estereofônico 256

300KF8EWF Áudio estereofônico + canal secundário 300

PRÉ-ÊNFASE E DEÊNFASE

Nos sistemas FMs a razão sinal-ruído na saída do receptor pode ser melhorada com a inclusão de um filtro de pré-ênfase no transmissor e um filtro de deênfase no receptor — veja Fig. 3. No transmissor, o filtro pré-ênfase eleva, em termos relativos, a amplitude dos componentes de alta

0 +100 +200 +300 +400 +500 +600-100-200-300-400-500-600

0

--20

-40

-60

-80

120 kHz

Afastamento em relação à freqüência da portadora ( em kHz)

-25

-35

-73

Níve

l máx

imo e

m re

lação

ao ní

vel d

a por

tador

a se

m mo

dulaç

ão (d

B)

240 kHz

0 +100 +200 +300 +400 +500 +600-100-200-300-400-500-600

0

--20

-40

-60

-80

120 kHz

Afastamento em relação à freqüência da portadora ( em kHz)

-25

-35

-73

Níve

l máx

imo e

m re

lação

ao ní

vel d

a por

tador

a se

m mo

dulaç

ão (d

B)

240 kHz

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4

freqüência do sinal de áudio antes da modulação. No receptor, a saída do demodulador é passada através do filtro de deênfase, que diminui, em termos relativos, a amplitude dos componentes de alta freqüência do sinal. Assim, o filtro de deênfase desfaz a pré-ênfase aplicada no transmissor no sinal de áudio. O ruído, entretanto, entra no canal e portanto não é pré-enfatizado. Contudo, ele passa pelo filtro de deênfase, que atenua seus componentes de alta freqüência, onde está contida a maior parte da potência do ruído que aparece na saída do demodulador. Assim, o processo de pré-ênfase e deênfase deixa o sinal desejado praticamente inalterado, mas reduz a potência do ruído consideravelmente.

Figura 3 - (a) Sistema FM com filtros de pré-ênfase e de deênfase, (b) reposta de freqüência do filtro de pré-ênfase, e (c)

reposta de freqüência do filtro do deênfase.

TRANSMISSÃO ESTEREOFÔNICA

Inicialmente a radiodifusão FM era monofônica. A radiodifusão FM estereofônica, na qual dois sinais de áudio E (microfone esquerdo) e D (microfone direito) são usados para propiciar um efeito mais natural, foi proposta posteriormente. O sistema estereofônico padronizado é compatível com o sistema monofônico original. Isso significa que um receptor monofônico é capaz de receber o sinal E + D transmitido por transmissor estereofônico.

Um diagrama de bloco do sistema estereofônico é mostrado na Fig. 4. No transmissor, os dois sinais E e D são usados para gerar os sinais E + D e E – D, que são pré-enfatizados — veja a Fig. 4(a). O sinal pré-enfatizado (E – D)p modula uma subportadora de 38 kHz. A técnica de modulação utilizada é a modulação de amplitude com portadora suprimida, também denominada DSB-SC (double- sideband suppressed carrier). Dessa forma, os dois sinais (E + D)p e (E – D)p ficam multiplexados em freqüência, como mostra a Fig. 4(b). Junto com os sinais (E + D)p e (E – D)p, é transmitido um piloto de 19 kHz, que é usado pelo receptor para gerar uma réplica sincronizada da subportadora de 38 kHz. O diagrama de bloco do receptor estereofônico é mostrado na Fig. 4(c). O sinal FM recebido é demodulado pelo receptor FM, o sinal resultante é então demultiplexado para produzir os sinais (E + D)p e (E – D)p. Esses sinais são deenfatizados e combinados para produzir os sinais E e D. Um receptor monofônico consiste somente da parte superior do receptor estereofônico e, portanto, recebe apenas o sinal E + D.

Sinal de áudio

+ ruído

Filtro depré-ênfase

Hp( f )

Sinal de áudio

TransmissorFM Canal Receptor

FM

Filtro dedeênfase

Hd( f )

Ruído

f1 Bm

log( f )

20 log|Hp( f )|

f1 Bm

log( f )

20 log|Hd( f )|

(a)

(b) (c)

Sinal de áudio

+ ruído

Filtro depré-ênfase

Hp( f )

Sinal de áudio

TransmissorFM Canal Receptor

FM

Filtro dedeênfase

Hd( f )

Ruído

Sinal de áudio

+ ruído

Filtro depré-ênfase

Hp( f )

Sinal de áudio

TransmissorFM Canal Receptor

FM

Filtro dedeênfase

Hd( f )

Ruído

f1 Bm

log( f )

20 log|Hp( f )|

f1 Bm

log( f )

20 log|Hp( f )|

f1 Bm

log( f )

20 log|Hd( f )|

f1 Bm

log( f )

20 log|Hd( f )|

(a)

(b) (c)

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5

Figura 4 - Radiodifusão FM estereofônica: (a) transmissor, (b) espectro do sinal composto de banda básica, e (c) receptor.

TRANSMISSÃO NO CANAL SECUNDÁRIO

A banda básica do sinal que modula uma portadora FM pode se estender até a freqüência de 99 kHz. Essa banda é dividida em tre canais:

Canal principal: é faixa de freqüências de 50 a 15.000 Hz da banda básica. Canal estereofônico: é a faixa de freqüências de 23 a 53 kHz — é a faixa ocupada pelo

sinal (E – D)p após ter modulado a subportadora de 38 kHz (veja seção “Transmissão Estereofônica”).

Canal secundário: é faixa de freqüências de 20 a 99 kHz, na operação em monofonia, ou a faixa de 53 a 99 kHz, na operação em estereofonia.

15 19 23 38 53

Piloto

f (kHz)

DSB-SC portando( E – D )P

( E + D )P

Canalesquerdo

(E)E + D

Pré-ênfase

E – DPré-ênfase

Canaldireito

(D)

Oscilador( 38 kHz )

Divisor defreq., ÷ 2

ModuladorDSB-SC

Piloto(19 kHz)

+–

TransmissorFM

Sinal composto de banda básica

( E + D )P

( E – D )P

Σ

Σ

Σ

Sinal FM

(b)

(a)

E – D

Deênfase

Deênfase

Filtro PF19 kHz

Dobrador defreqüência

Filtro PF25-53 kHz

Piloto

E + D

+–

ReceptorFM

Filtro PB0-15 kHz

Demoduladorcoerente

2E

2D

Áudio monofônico

Sinal FM

( E + D )p

( E – D )p

Σ

Σ

(c)

15 19 23 38 53

Piloto

f (kHz)

DSB-SC portando( E – D )P

( E + D )P

15 19 23 38 53

Piloto

f (kHz)

DSB-SC portando( E – D )P

( E + D )P

Canalesquerdo

(E)E + D

Pré-ênfase

E – DPré-ênfase

Canaldireito

(D)

Oscilador( 38 kHz )

Divisor defreq., ÷ 2

ModuladorDSB-SC

Piloto(19 kHz)

+–

TransmissorFM

Sinal composto de banda básica

( E + D )P

( E – D )P

Σ

Σ

Σ

Sinal FM

Canalesquerdo

(E)E + D

Pré-ênfase

E – DPré-ênfase

Canaldireito

(D)

Oscilador( 38 kHz )

Divisor defreq., ÷ 2

ModuladorDSB-SC

Piloto(19 kHz)

+–

TransmissorFM

Sinal composto de banda básica

( E + D )P

( E – D )P

Σ

Σ

Σ

Sinal FM

(b)

(a)

E – D

Deênfase

Deênfase

Filtro PF19 kHz

Dobrador defreqüência

Filtro PF25-53 kHz

Piloto

E + D

+–

ReceptorFM

Filtro PB0-15 kHz

Demoduladorcoerente

2E

2D

Áudio monofônico

Sinal FM

( E + D )p

( E – D )p

Σ

ΣE – D

Deênfase

Deênfase

Filtro PF19 kHz

Dobrador defreqüência

Filtro PF25-53 kHz

Piloto

E + D

+–

ReceptorFM

Filtro PB0-15 kHz

Demoduladorcoerente

2E

2D

Áudio monofônico

Sinal FM

( E + D )p

( E – D )p

Σ

Σ

(c)

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6

O canal secundário pode ser subdividido em vários subcanais secundários e cada um ser usado para um serviço diferente. As freqüências das subportadoras e o tipo de modulação são de livre utilização. No Brasil, o canal secundário é pouco utilizado. Na Europa, foi criado o sistema RDS (Radio Data System) que transmite informações no canal secundário na forma digital. Alguns dos serviços propiciados por esse sistema: informações financeiras, jornais eletrônicos, informações de trânsito e identificação da música sendo executada, do cantor e dos compositores. O sinal RDS é multiplexado com os sinais de áudio usando uma subportadora de freqüência de 57 kHz — veja Fig. 5. O sinal RDS ocupa na banda básica uma faixa de 5 kHz em torno da sua subportadora. São transmitido dados a uma taxa de 1.187,5 bps (taxa bruta).

Figura 5 – Espectro debanda básica contendo um sinal DRS no canal secundário.

COBERTURA

Áreas de serviço e contornos

Contorno é o lugar geométrico dos pontos onde a intensidade de campo do sinal da emissora tem um mesmo valor especificado. No caso de uma emissora FM, três contornos são destacados:

Contorno 1: definido pela intensidade de campo de 74 dBμ (5 mmV ).

Contorno 2: definido pela intensidade de campo de 66 dBμ (2 mmV ).

Contorno 1: definido pela intensidade de campo de 54 dBμ (0,5 mmV ).

Três áreas de serviço são definidas em associação com esses contornos; são elas: Área de Serviço Primária : limitada pelo Contorno 1. Área de Serviço Urbana: limitada pelo Contorno 2. Área de Serviço Rural : compreendida entre o Contorno 2 e o Contorno 3.

15 19 23 38 53

Piloto

f (kHz)

Espectro do sinal DSB-SC portando

( E – D )P

Espectro do sinal( E + D )P

57

Espectro do sinal RDS

0 15 19 23 38 53

Piloto

f (kHz)

Espectro do sinal DSB-SC portando

( E – D )P

Espectro do sinal( E + D )P

57

Espectro do sinal RDS

0

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7

Figura 6 - Ilustração dos principais contornos definidos para uma cobertura FM.

Contorno protegido

Toda emissora tem o seu sinal protegido, contra interferências prejudiciais, dentro de sua área de serviço urbana, delimitada pelo Contorno 2. No caso de emissora que tenha limitação de potência em determinada radial, ou que utilize sistema diretivo, deverá ser considerada a distância correspondente a cada valor de limitação, conforme indicado no PBFM. Dentro do contorno protegido de uma emissora, a relação entre o seu sinal e o sinal de qualquer outra emissora FM terá, no mínimo, o valor indicado na Tabela 2.

Tabela 2 - Relações de proteção entre o sinal de uma emissora FM e o sinal de outra

emissora FM interferente.

Tipo de sinal interferente fd – fi (kHz)

Relações de proteção Linear dB

Co-canal 0 50,1 : 1 34

Canais adjacentes ± 200 2 : 1 6 ± 400 1 : 22,4 -27

Batimento de FI (freqüência imagem)

± 10.600 Contornos correspondentes a E(50,50) = 85 dBμ não podem

se superpor ± 10.800 fd – fi = (freqüência da emissora desejada) – (freqüência da emissora interferente)

CARACTERÍSTICAS DAS EMISSORAS

Classes

As emissoras FMs são divididas em quatro categorias: especial (E), A, B e C. Essas categorias são subdivididas em dez classes: E1, E2, E3, A1, A2, A3, A4, B1, B2 e C. A Tabela 3 apresenta especificações que caracterizam cada uma dessas classes.

)mmV(5dBμ741Contorno

)mmV(2dBμ662Contorno

)mmV(0,5dBμ543Contorno

Antena

)mmV(5dBμ741Contorno

)mmV(2dBμ662Contorno

)mmV(0,5dBμ543Contorno

Antena

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8

Tabela 3 - Classificação das emissoras FMs.

Classe

Especificações

Potência (ERP) máxima

Distância máxima ao contorno

protegido (66 dBμ) (km)

Altura de referência sobre o nível médio

da radial (m) kW dBk

E1 100 20,0 78 600 E2 75 18,8 66 450 E3 60 17,8 54 300 A1 50 27,0 40 150 A2 30 14,8 36 150 A3 15 11,8 31 150 A4 5 7,0 24 150 B1 3 4,8 16 90 B2 1 0 12 90 C 0,3 -5,2 7 60

OBS: 1. Poderão ser utilizadas alturas de antena ou ERP superiores às especificadas nesta

Tabela, desde que não seja ultrapassada, em qualquer direção, a distância máxima ao contorno protegido.

2. Apenas para as emissoras de classe C poderá ser permitida a utilização de transmissor com potência nominal inferior a 50 W.

A classe de uma emissora é identificada pela maior distância ao contorno protegido (66 dB dBμ). Uma vez definida a classe de uma emissora, a distância máxima ao contorno de 66 dBμ, indicada na Tabela 3, não poderá ser excedida em nenhuma das radiais . Por outro lado, a média aritmética das distâncias a esse contorno não poderá ser menor que a distância máxima ao contorno da classe imediatamente inferior.

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9

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] L. W. Couch II, Modern Communication Systems: Principles and Applications, Prentice Hall, 1995. [2] S. Haykin, Communication Systems, 4a ed., John Wiley & Sons, 2000. [3] B. F. Lathi, Modern Digital and Analog Communications Systems, Oxford University Press Inc., 3a

ed., 1998. [4] G. Silva e O. Barradas, Sistemas Radiovisibilidade, Livros Técnicos e Científicos (LTC), 1978. [5] E. C. Jordan e K.G. Balmain, Eletromagnetic Waves and Radiating Systems,. Prentice-Hall, 1972. [6] L.C. Esteves, Antenas – Teria Básica e Aplicações, McGraw-Hill do Brasil, 1980. [7] J.D. Kraus, Electrical and Eletronic Engineering Serie,. McGraw-Hill Book Company, 1950. [8] Anatel, Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em Onda Média e em

Onda Tropical – 120 Metros, aprovado pela Resolução 116 da Anatel, de março de 1999, disponível em http://www.anatel.gov.br.

[9] Anatel, Norma Técnica pára Emissoras de Radiodifusão Sonora em Ondas Decamétricas, 24 de fevereiro de 1983.

[10] Anatel, Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em Freqüência Modulada, aprovado pela Resolução 67 da Anatel, de novembro de 1998, disponível em http://www.anatel.gov.br.

[11] Anatel, Glossário – Coleção Normativa de Telecomunicações. [12] ENE – UnB, Curso de Fundamentos de Sistemas de Comunicação.

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1

RADIODIFUSÃO DIGITAL

1. INTRODUÇÃO

Desde o seu surgimento há mais de setenta anos, a radiodifusão sonora tem-se

tornado um dos meios de comunicação mais difundidos, adquirindo um papel social

importante na divulgação de informação, entretenimento e educação, atingindo grandes

audiências. Apesar da grande popularidade, estes sistemas utilizam tecnologias

analógicas, impossibilitando uma melhora significativa na qualidade dos serviços

oferecidos aos ouvintes [1].

Muitas emissoras de rádio já utilizam em seus estúdios equipamentos digitais,

mas os sinais propagados continuam sendo analógicos. É preciso, então, transformar

também a maneira com que o sinal é transmitido, visando maior qualidade nos serviços

oferecidos [2].

Diante deste cenário, os órgãos internacionais resolveram digitalizar o sistema

de radiodifusão, com o objetivo de oferecer serviço sonoro de maior qualidade,

agregando a este serviços de dados, tornando-o competitivo com as atuais mídias

digitais.

A digitalização do sistema de radiodifusão vem ao encontro dos avanços

tecnológicos, proporcionando várias vantagens sobre os atuais sistemas analógicos,

tais como:

- Melhoria no aproveitamento do espectro disponível.

- Redução na potência de transmissão.

- Utilização de técnicas avançadas para correção de erros.

- Aplicações multimídias, tais como: imagens, dados e informações no visor.

- Segurança nos dados.

A radiodifusão digital fornece serviços de alta qualidade. No que diz respeito a

áudio, chega a equiparar e até mesmo ultrapassar a qualidade do CD (44.100 amostras

por segundo, com uma resolução de 16 bits por amostra. Isto equivale 1,4 Mbits

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2

(44.100 x 16 x 2), por um segundo de música). Em relação a dados, é possível a oferta

de diversos tipos de serviços, de maneira segura e a grandes taxas de transmissão.

Atualmente, as tecnologias disponíveis para a digitalização da radiodifusão

terrestre são: Eureka 147, DRM (Digital Radio Mondiale), ambos padrões europeus, o

IBOC (In Band On Channel), padrão americano, e o NISDB-T (Narrowband Integrated

Services Digital Broadcasting Terrestre), padrão japonês.

Esta apostila procura de forma sucinta e objetiva descrever o funcionamento de

cada sistema, de modo que o leitor possa ter uma visão geral de cada sistema.

2. SISTEMA IBOC

O IBOC (In Band On Channel) é um padrão americano proprietário, pertencente

à empresa iBiquity Digital Corporation (formada pela fusão das empresas USA Digital

Radio e a Lucent Digital Radio) [3]. O projeto desse sistema surgiu no início da década

de 90 com a empresa USA Digital Radio (USADR), mas a sua “consolidação” só

ocorreu em 10 de outubro 2002, com a regulamentação do mesmo junto a FCC

(Federal Communications Commission) [4]

A nomenclatura In Band significa que o sistema digital utiliza a mesma banda de

freqüência ocupada pelo sistema analógico, enquanto On Channel, denota que os

radiodifusores continuam a operar no mesmo canal, ou seja, na atual freqüência de

transmissão do analógico. Essas características do IBOC torna-o bastante atraente, já

que o radiodifusor não terá que ser deslocado para outra faixa de freqüência,

permanecendo assim com a sua “identidade principal” que é sua portadora de

transmissão.

O sistema IBOC foi projetado para operar nas faixas de AM (Amplitude

Modulation) e FM (Frequency Modulation), resultando assim no sistema IBOC AM e

IBOC FM.

Os sistemas IBOC AM e FM operam de acordo com a máscara de emissão

definida pela FCC, obedecendo aos limites de potência de radiação em cada banda, de

acordo com a Fig. 1.

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3

Fig. 1. Máscaras FM e AM definida pela FCC.

2.1 SISTEMA IBOC FM

O sistema IBOC FM foi projetado de forma a permitir que o radiodifusor converta

sua estação de analógica para digital sem interromper o serviço, mantendo a freqüência

central da emissora.

Três modos de transmissão foram criados para definir como o sinal é transmitido:

modo Híbrido, modo Híbrido Estendido e modo Totalmente Digital. As duas primeiras

opções permitem o simulcast, ou seja, a transmissão simultânea da mesma

programação, no formato analógico e digital, proporcionando dessa maneira uma

transição suave até um sistema totalmente digital. As opções de digitalização do

sistema analógico poderão ser adotadas de forma progressiva pelo radiodifusor, ou

não, ficando a critério do mesmo.

0 dBc

-25 dBc

-200 -100 0 100 200

Po tência

FM

freq-fc (kHz)

0 dBc

-25 dBc

-20 -10.2 0

Po tência

AM

freq -fc (kHz)

-30-60 10.2 20 30 60

-35 d Bc

-65 dBc

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4

2.1.1 Sistema IBOC FM Híbrido

Esse modo de transmissão é a primeira opção que o radiodifusor tem para

colocar no ar sua programação no formato digital. Ele permite a difusão do mesmo

conteúdo no formato analógico e digital simultaneamente. Para que esta

implementação seja possível o sistema ocupará uma largura de banda de

aproximadamente 400 kHz. O seu espectro de freqüências está representado na Fig. 2.

Fig. 2. Espectro de forma de onda para o IBOC FM Híbrido.

A largura de banda do sinal analógico permanece inalterado. Uma réplica do

conteúdo contido no sinal analógico são digitalizadas e transmitidas nas faixas laterais

superior e inferior, ou seja, nos canais adjacentes, ocupando uma banda de 69,041

kHz, cada faixa lateral. Como pode observar-se através da Fig. 02, um intervalo de

guarda de 29,361 kHz é inserido entre o sinal analógico e digital.

As duas faixas laterais carregam as mesmas informações, o que permite que o

receptor reproduza a programação gerada pela rádio, mesmo recebendo apenas uma

das faixas laterias.

Sinal FM Analógico

Faixa Lateral SuperiorPrincipal

- 198.402 Hz# - 546

- 129.361 Hz# - 356

129.361 Hz# 356

198.402 Hz# 546

Primário principal

Partição com10 freqüências

Primário principal

Partição com10 freqüências

- 100.000 Hz 100.000 Hz

D18

Contro

leD1 D2

D10D9D8D6D5D4D3D11 D17D16D15D14D13D12D7

Freqüência

Total = 6,9041 kHz

363

,373

Hz

Faixa Lateral InferiorPrincipal

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5

Cada faixa lateral é dividida em 10 segmentos denominados de partições, sendo

cada partição sub dividido em 19 subportadoras OFDM (Orthogonal Frequency Division

Multiplex), como ilustra a Fig. 02 [5].

A potência de cada sub-portadora é 45,8 dB menor do que a da portadora

analógica não-modulada. Como temos 191 sub-portadoras em cada faixa lateral, a

potência total de cada banda lateral principal é 23 dB menor que a do sinal analógico.

Isso quer dizer que a potência de operação do sistema IBOC FM Híbrido pode ser

aproximadamente 100 vezes menor do que a potência do sinal FM analógico. De fato

de acordo com testes realizados nos Estados Unidos [6], pode ser utilizada uma

potência até 20 dB abaixo daquela do sinal analógico, sem causar degradação ao

próprio sinal FM e uma redução de 4.2 dB na relação Sinal-Ruído de canais adjacentes.

A taxa de transmissão útil máxima do modo híbrido é de aproximadamente 97

kbps, possibilitando a transmissão de áudio com boa qualidade a 96 kps, restanto 1

kbps para transmissão de dados.

Essa taxa de dados pode ser gerenciada pelo radiodifusor de maneira a diminuir

a qualidade do áudio e aumentar a taxa de dados, permitindo as seguintes

combinações: 64 kbps para áudio e 33 para dados, ou 56 kbps para áudio e 41 para

dados.

2.1.2 Sistema IBOC FM Híbrido Estendido

Este sistema é caracterizado pela otimização da largura de banda do sistema

híbrido, ou seja, o intervalo de guarda entre o sinal analógico e o digital do sistema

híbrido é agora digitalizado. Assim, o sistema híbrido estendido ocupará uma largura de

banda de 400 kHz aproximadamente, sendo a metade ocupada com informações

analógica e o restante com dados digitais.

A Fig. 3 mostra, com detalhes, a configuração do espectro.

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6

Fig. 3. Espectro de forma de onda para o IBOC FM Híbrido Estendido.

O nível de potência das partições extras é igual ao das partições da faixa

principal, e seu valor permanece inalterado com relação ao sistema híbrido, totalizando

458 sub-portadoras.

As novas sub-portadoras requerem maiores cuidados com relação a taxas de

codificação para correção de erros, já que, estando mais próximas do sinal analógico,

estão mais susceptíveis às degradações provenientes do mesmo.

Este sistema tem as seguintes combinações de taxas de transmissão:

1. 96 kbps de áudio, e 51 kbps de dados;

2. 64 kbps de áudio, e 83 kbps de dados;

3. 56 kbps de áudio, e 91 kbps de dados.

Estas taxas são gerenciadas de acordo com a necessidade do radiodifusor.

2.1.3 Sistema IBOC FM Totalmente Digital

O modo Totalmente Digital é obtido pela substituição da porção analógica do

sinal previamente transmitido pela emissora por sub-portadoras digitais. Dessa forma,

Sinal FM Analógico

Banda Lateral InferiorDigital

Banda Lateral SuperiorDigital

Primário

Partição com10 freqüências

- 198.402 Hz# - 546

- 129.361 Hz# - 356

- 122.457 Hz# - 337

- 115.553 Hz# - 318

- 101.744 Hz# - 280

Principal Ext.

198.402 Hz# 546

PrincipalExt.

Primário

Partição com10 freqüências

129.361 Hz# 356

122.457 Hz# 337

115.553 Hz# 318

101.744 Hz# 280

0 Hz# 0

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7

todo o canal será preenchido por informações digitais. A largura da banda total do sinal

é de 396,803 kHz.

Este modo de transmissão seria o passo final no processo de digitalização da

radiodifusão sonora em freqüência modulada, utilizando o sistema IBOC. Não existe

uma definição quanto à duração deste processo. Estima-se que duraria, no mínimo,

uma década [7]. O fator predominante na conclusão do mesmo seria a receptividade

por parte do usuário final e, conseqüentemente a compra dos aparelhos receptores.

A Fig. 4 mostra, detalhadamente, o espectro deste modo de transmissão.

Fig. 4. Espectro de forma de onda para o IBOC FM Totalmente Digital.

A potência total das faixas laterais primárias, no modo em questão, é 10 dB

maior do que o dos modos híbridos de transmissão, resultando numa potência 10 vezes

menor do que a potência antes utilizada para o sinal analógico. Para as faixas

secundárias, o radiodifusor pode escolher dentre quatro valores distintos para o seu

nível de potência, dados em relação ao nível das faixas primárias: -5, -10, -15 ou –20

dB. Toda as sub-portadoras das faixas secundárias possuem o mesmo nível de

potência.

Banda Lateral Inferior Digital Banda Lateral Superior Digital

Partição com10 freqüências

- 198.402 Hz# - 546

- 129.361 Hz# - 356

- 101.744 Hz# - 280

198.402 Hz# 546

PrincipalExt.

Primário

Partição com10 freqüências

0 Hz# 0

Partição com10 freqüências

Partição com10 freqüências

Ext.

Ext.

Primário

12 Subportadoras

Proteção

12 Subportadoras

Proteção

Principal Principal

Secundário Secundário

- 97.021 Hz# - 267

- 69.404 Hz# - 191

69.404 Hz# 191

129.361 Hz# 356

101.744 Hz# 28097.021 Hz

# 267

Principal Ext.

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8

Com a eliminação do sinal analógico, o sistema totalmente digital compreenderá

1093 sub-portadoras, com uma taxa de transmissão total de 428 kbps [8].

2.2 SISTEMA IBOC AM

O sistema IBOC AM similar ao IBOC FM foi concebido de maneira a permitir que

o radiodifusor converta sua estação de analógica para digital sem interromper o serviço,

mantendo a freqüência central da emissora.

Dois modos de transmissão foram criados para definir como o sinal é transmitido:

modo Híbrido, permitindo a transmissão simulcast, e o modo Totalmente Digital.

2.2.2 Sistema IBOC AM Híbrido

Este modo de operação transmite simultaneamente os sinais analógico e digital,

fazendo uso de uma largura de banda de 30 kHz. O sinal digital utiliza o mesmo canal

em que é feita a transmissão do sinal analógico e os dois canais adjacentes a este, um

de cada lado. O espectro deste sinal está mostrado na Fig. 5 [9].

Fig. 5. Espectro de forma de onda para o IBOC AM Híbrido.

Sinal AM Analógico

(Mono)Banda Lateral InferiorDigital

Banda Lateral SuperiorDigital

9629.4 Hz# 53

4905.5 Hz# 27

14716.6 Hz# 81

10356.1 Hz# 57

0182-182

# -1 # -10- 9629.4 Hz

# - 53- 4905.5 Hz

# - 27- 10356.1 Hz

# - 57

TerciárioPrimário Secundário PrimárioSecundárioTerciário

24 Portadoras

24 Portadoras

24 Portadoras24 Portadoras

24 Portadoras

24 Portadoras

- 14716.6 Hz# - 81

-28 dBc

- 40 dBc

- 50 dBc - 50 dBc

- 40 dBc

-28 dBc

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9

O espectro da Fig. 5 mostra que o sinal digital é dividido em três streams: o

núcleo (subportadoras OFDM terciárias) embaixo do sinal AM analógico e dois streams

de otimização nas bandas laterais superior e inferior (subportadoras OFDM primárias e

secundárias), totalizando 162 sub-portadoras OFDM. A portadora analógica funciona

como uma referência de fase durante a transição dos sistemas.

A potência das sub-portadoras primárias é –28 dBc, das secundárias é –40 dBc

e das terciárias é de –50 dBc em relação a potência da portadora analógica.

A taxa de transmissão do IBOC AM Híbrido pode ser gerenciada pelo

radiodifusor, semelhante ao sistema IBOC FM, contento as seguintes configurações:

- 36 kbps de áudio, sem transmissão de dados;

- 32 kbps de áudio, com 4 kbps de dados;

- 28 kbps de áudio, com 8 kbps de dados;

- 24 kbps de áudio, com 12 kbps de dados;

- 20 kbps de áudio, com 16 kbps de dados;

independente da configuração adotada, são reservados 40 bits por frame para

transmissão de dados PAD.

2.2.3 Sistema IBOC Totalmente Digital

Neste modo o sinal analógico será eliminado, e o sinal digital passará a ocupar

uma banda de 20 kHz, deslocando as bandas primárias, secundárias e terciárias, de

acordo com a Fig. 6. A potência do sinal digital, em relação ao modo híbrido, é maior,

fazendo com que o sinal seja mais robusto a interferência de canal adjacente.

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10

Fig. 6. Espectro de forma de onda para o IBOC AM Totalmente Digital.

Assim como no modo híbrido, o modo totalmente digital possui três streams: o

núcleo e dois streams de otimização nas bandas laterais superior e inferior, onde são

transmitidos o conteúdo de áudio e os dados, com uma taxa de transmissão de 60 kbps

[10], e potências de acordo com a Fig. 6.

3. SISTEMA DRM

O DRM (Digital Radio Mondiale) é um padrão Europeu não proprietário. O projeto

do mesmo foi iniciado em 1998, através de um consórcio formado por um pequeno

grupo de radiodifusores e fabricantes, sem fins lucrativos, com sede em Genebra na

Suíça.

Hoje, o consórcio conta com 82 membros, entre os quais radiodifusores,

fabricantes de equipamentos, instituições de pesquisa e órgãos reguladores,

representando 29 países [11].

Portadora AMAnalógico

Banda Lateral InferiorDigital

Banda Lateral SuperiorDigital

9447,7 Hz# 52

4905,5 Hz# 27

0182-182

# -1 # -10- 9447,7 Hz

# - 52- 4905,5 Hz

# - 27

Terciário Primário

24 Portadoras

-30 dBc

- 15 dBcPrimário Secundário

-30 dBc

24 Portadoras

24 Portadoras 24 Portadoras

-15 dBc

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11

No ano de 2001 o sistema iniciou o processo de padronização junto aos

seguintes órgãos: ETSI (Europen Telecommunication Standardisation Institute), IEC

(International Electronical Committee) e ITU-R (International Telecommunication Union)

e realizou os testes de campos.

Em junho de 2003, 16 emissoras de vários países começaram a transmitir

diariamente o sinal digital DRM para a Europa, América do Norte, Oriente Médio,

Austrália e Nova Zelândia [12].

Este sistema foi idealizado com o objetivo de atingir as seguintes metas [13]:

- Qualidade de áudio comparável à do sistema FM analógico;

- Utilização do espectro de maneira mais eficiente;

- Capacidade de transmissão para dados auxiliares;

- Potência de transmissão com nível inferior;

- Receptores de fácil operação;

- Padronização mundial.

3.1 CONCEPÇÃO DO SISTEMA DRM

O sistema DRM foi projetado para operar nas faixas de freqüências inferiores a

30 MHz, ou seja, ondas longas (OL), ondas médias (OM) e ondas curtas (OC), onde

existem algumas restrições operacionais, como limitação de largura de banda para

transmissão do sinal (canal estreito), e condições de propagação variáveis.

A Fig. 7 mostra, detalhadamente, o diagrama de bloco da arquitetura do sistema

DRM. Detalhamento de cada bloco da Fig. 7, poderá ser encontrado em [11].

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12

stream de dados de

áudio

stream de dados

informação FAC

informação SDC

codificadores de fonte

pré-codificador

pré-codificador

pré-codificador

proteção normal

proteção alta

proteção normal

proteção alta

proteção normal/alta dispersão

de energia

dispersão de energia

dispersão de energia

codificador de canal

codificador de canal

codificador de canal

interleaving de células

gerador de células piloto

MSC

FAC

SDC

gerador do sinal OFDM

modulador

fluxo da informação

Fig. 7. Diagrama de bloco da arquitetura do sistema DRM.

O sistema DRM é capaz de suportar os seguintes serviços:

1. Main Service Channel (MSC) - contém os serviços de áudio, dados e/ou

Programme Associated Data (PAD), formando assim streams de áudio e

streams de dados. No entanto, o PAD, que consiste em dados fortemente

ligados a um serviço de áudio(por exemplo, o nome da música que está

sendo recebida naquele instante), é transmitido junto com áudio no stream

de áudio.

2. Fast Access Channel (FAC) - fornece informações relativas ao canal (por

exemplo, largura de banda do canal) e informações de seleção de serviço

(por exemplo, idioma associado ao programa), ou seja, genericamente

podemos dizer que fornece informação ao receptor de forma a que este

faça uma análise rápida do conteúdo do serviço e do canal de

transmissão;

3. Service Description Channel (SDC) – fornece ao receptor a informação

necessária para que este consiga decodificar o MSC, bem como encontrar

fontes alternativas para o mesmo tipo de dados. Dá atributos aos serviços

dentro do multiplexador (MSC) e pode incluir ligações para serviços em

simulcast.

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13

O MSC pode conter até 4 serviços, podendo qualquer um ser áudio ou dados. A

taxa de bits atribuída ao MSC depende da largura de banda do canal e do modo de

transmissão que está em uso. Em qualquer dos casos, o mesmo é dividido em frames

de 400ms, de acordo com a Fig 08.

tempo

Frame de Transmissão

Super Frame de Transmissão

Símbolos contendo células SDC

Simbolos contendo células FAC e MSC

Símbolos contendo células MSC Fig. 8. Estrutura do frame de transmissão do DRM.

A largura de banda destinada a radiodifusão sonora operando em freqüências

inferiores a 30 MHz são, geralmente, de 9 kHz e 10 kHz. No Brasil, utiliza-se canais de

10 kHz para OM e OT e canais de 5 kHz para OC.

Visando a otimização dessa limitada largura de banda, o sistema DRM foi

projetado para ser implementado de três maneiras distintas:

1. Ocupação dos canais já destinados à radiodifusão sonora, satisfazendo o

planejamento atual do espectro eletromagnético;

2. Ocupação da metade dos canais de 9 ou 10 kHz, ou seja, 4,5 ou 5 kHz,

para possibilitar a transmissão simultânea dos sinais analógico e digital;

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14

3. Utilização de canais de 18 ou 20 kHz de largura de banda, quando viável

do ponto de vista do planejamento do espectro, para aumentar a

capacidade de transmissão.

Este sistema, assim como o IBOC, permite ao radiodifusor uma transmissão

simulcast, proporcionando dessa maneira uma transição suave no processo de

digitalização.

As configurações possíveis do sinal DRM são mostradas na Fig. 9. A tabela 01

mostra a relação entre o parâmetro de ocupação do espectro, sinalizado no FAC, e a

largura de banda nominal do canal.

Tab. 01. Relação entre o parâmetro de ocupação do espectro e a largura de banda do canal.

Parâmetro de Ocupação do Espectro 0 1 2 3 4 5

Largura de Banda do Canal (kHz) 4,5 5 9 10 18 20

4,5 kHz

fR

Ocupação do Espectro

0

2

4frequência

5 kHz

fR

Ocupação do Espectro

1

3

5frequência

Grupo de portadoras que contém células FAC

Grupo de portadoras

Fig. 9. Configurações do sinal DRM.

A freqüência de referencia fR do sinal digital é considerada a portadora de

número 0 e é sempre posicionada em um múltiplo inteiro de 1 kHz.

A transmissão simultânea dos sinais analógicos (AM) e digital (DRM) é feita pela

justaposição destes, de acordo com a Fig. 10. O sinal AM analógico pode ser DSB

(Double Side Band), VSB (Vestigial Side Band) ou SSB (Single Side Band).

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15

fC

fR

fRfrequência

fRfrequência

fC

Grupo de portadoras que contém células FAC

Grupo de portadoras

Sinal AM SSB/VSB

Sinal AM DSB

fCfRfrequência

fR

Fig. 10. simulcast no sistema DRM.

A taxa de transmissão oferecida pelo sistema DRM irá variar de acordo com o

modo de transmissão utilizado, sendo que este padrão disponibiliza quatro modos de

operação, de acordo com a tabela 02.

Tab. 02. Modo de operação segundo a robustez a ser aplicada.

Modo de Operação Condições de Propagação

A Canais Gaussianos com desvanecimento mínimo

B Canais seletivos no tempo e na freqüência, com atrasos longos

C Semelhante ao modo B, porém com alto efeito Doppler

D Semelhante ao modo B, porém com atraso e efeito Doppler severos

Os modos de operação levam em consideração a robustez do sistema

destacando os seguintes parâmetros:

- Largura de banda do canal;

- Eficiência de transmissão.

O primeiro parâmetro já foi delineado anteriormente. O segundo, está

relacionado com a capacidade do receptor em recuperar as informações transmitidas,

independentemente da largura de banda do canal.

A escolha dos parâmetros relacionados com a eficiência de transmissão permite

um ponto de equilíbrio entre a capacidade (taxa de bits úteis) e a robustez ao ruído, ao

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multipercurso e ao efeito Doppler. Estes parâmetros podem ser classificados de duas

maneiras [14]:

1. A taxa de codificação utilizada para a proteção dos dados, juntamente com a

constelação a ser escolhida na modulação QAM (Quadrature Amplitude

Modulation), usada para o transporte dos dados.

2. Os parâmetros dos símbolos COFDM (intervalo de guarda e espaçamento entre

portadoras), definindo a estrutura dos símbolos COFDM em função das

condições de propagação.

Como delineado anteriormente a taxa de bits do DRM dependerá de um conjunto

de parâmetros. As tabelas 03 e 04 ilustram exemplos de duas possíveis configurações

para o MSC.

Tab. 03. Taxas de bits com constelação 64- QAM e taxa de codificação 0,6.

Modo de

Transmissão

Ocupação do Espectro

0 1 2 3 4 5

A 11,3 kbps 12,8 kbps 23,6 kbps 26,6 kbps 49,1 kbps 55,0 kbps

B 8,7 kbps 10,0 kbps 18,4 kbps 21,0 kbps 38,2 kbps 43,0 kbps

C - - - 16,6 kbps - 34,8 kbps

D - - - 11,0 kbps - 23,4 kbps

Tab. 04. Taxas de bits com constelação 64- QAM e taxa de codificação 0,6

Modo de

Transmissão

Ocupação do Espectro

0 1 2 3 4 5

A 7,8 kbps 8,9 kbps 16,4 kbps 18,5 kbps 34,1 kbps 38,2 kbps

B 6,0 kbps 6,9 kbps 12,8 kbps 14,6 kbps 26,5 kbps 29,8 kbps

C - - - 11,5 kbps - 24,1 kbps

D - - - 7,6 kbps - 16,3 kbps

A menor taxa absoluta é 4,8 kbps, quando a constelação e codificação do MSC

são 16-QAM e 0,5, modo B e canal de 4,5 kHz.

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A. maior taxa absoluta é 72,0 kbps, quando a constelação e codificação do MSC

são 64-QAM e 0,78, modo A e canal de 20 kHz

4. SISTEMA EUREKA 147

O Eureka 147 é um padrão europeu, projetado para proporcionar serviços de alta

qualidade, destinado a receptores internos a veículos, portáteis e fixos. Foi projetado

para funcionar em qualquer faixa de freqüência entre 30 MHz e 3000 MHz [15], apesar

de que, na prática, está operando apenas nas seguintes faixas de freqüências:

- Banda III: 174 – 240 MHz;

- Banda L: 1450 – 1492 MHz.

O projeto do Sistema Eureka 147 foi iniciado no final de 1986, através de um

consórcio formado por 19 organizações compreendendo os seguintes paises: França,

Alemanha, Holanda e o Reino Unido. Devido a problemas de alocação de espectro de

freqüência, o trabalho foi iniciado somente em 1988 e colocado em funcionamento para

teste quatro anos mais tarde.

O sistema foi idealizado com o objetivo de atingir as seguintes metas [16]:

- Qualidade de áudio comparável à do CD.

- Recepção móvel em um carro em alta velocidade, com a mesma

qualidade de uma recepção fixa.

- Utilização eficiente do espectro de freqüência.

- Capacidade de transmissão para dados auxiliares.

- Potência de transmissão baixa.

- Opções de entrega de dados no espaço livre (terra e satélite) e cabo.

- Receptores de operação fácil.

- Padronização Européia e mundial.

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4.1 CONCEPÇÃO DO SISTEMA EUREKA 147

Ao contrário do sistema de radiodifusão convencional AM e FM, onde cada

difusor irradia sua própria transmissão através de uma antena, no Sistema Eureka 147

essa difusão é feita através de uma rede local, regional ou nacional. Cada provedor de

serviço (radiodifusor) gera sua programação, enviando-as por uma rede até um

multiplexador. O multiplexador agrupa as informações dos n radiodifusores e as

encaminha para um conjunto de transmissores sintonizados na mesma freqüência,

denominado Rede de Freqüência Única (SFN), Fig. 11.

Fig. 11. Transmissão FM x EUREKA 147.

Os transmissores estão situados em locais distintos, viabilizando uma cobertura local,

regional ou nacional, Fig.11.

O Sistema Eureka 147 utiliza uma largura de banda de 1,536 MHz por rede. Com

essa largura de banda é possível compor uma rede com 6 ou 8 estações de rádio,

transmitindo suas programações a uma taxa por rede de 2432 kbits/s ou 2448 kbits/s de

acordo com o modo de transmissão que está sendo utilizado.

5. SISTEMA NISDB-T

Sistema NISDB-T (Narrowband Integrated Services Digital Broadcasting

Terrestre) é o padrão de rádio digital desenvolvido pelos japoneses de forma a atender

as necessidades do seu país.

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No desenvolvimento desse sistema, o fator de maior relevância levado em

consideração foi a escassez do espectro de freqüência disponível para alocação de

novos serviços, utilizando assim o espectro de freqüência disponível para os canais de

televisão.

O sistema NISDB-T foi desenvolvido para permitir flexibilidade, expansibilidade e

integrabilidade de serviços multimídia utilizando redes terrestres (SFN).

Esse sistema faz parte de um conjunto de tecnologia denominado de ISDB

(Integrated Services Digital Broadcasting), que é um novo conceito em plataformas de

serviços para radiodifusão digital, compreendendo também os sistemas ISDB-S

(Satélite) e o ISDB-C (Cabo).

Portanto, esse sistema pode ser utilizado em redes terrestres, satélite, híbridas

(satélite com complemento terrestre) e a cabo. Trata-se de um sistema flexível, que

permite uma ampla escala de opções, tais como dados associados com programas

radiofônicos e serviços de dados independentes.

A discussão sobre o sistema de rádio digital, juntamente com o sistema de

televisão digital foi conduzida pelo TTC (Telecommunications Technology Council) do

Ministério dos Correios e Telecomunicações – MPT, e as questões técnicas foram

delegadas a ARIB (Association of Radio Industries and Businesses). Sendo adotado

como padrão japonês o WISDB-T (Wideband Integrated Services Digital Broadcasting

Terrestre) para televisão digital terrestre, e o NISDB-T (Narrowband Integrated Services

Digital Broadcasting Terrestre), para o rádio digital terrestre, em setembro1998 [17].

O sistema de rádio digital terrestre NISDB-T, apresenta as seguintes

características [18]:

- Qualidade de áudio equiparado à do CD.

- Recepção móvel e fixa sem distinção de qualidade.

- Serviços de multimídia.

O objetivo principal do sistema foi a padronização do mesmo de forma a ser

adotado em qualquer país, definindo assim uma padronização mundial, e não apenas

local (Japão).

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5.1 CONCEPÇÃO DO SISTEMA NISDB-T

O principio de funcionamento do sistema NISDB-T é idêntico ao sistema Eureka

147, ou seja, a difusão das programações é realizada de forma conjunta, onde cada

radiodifusor gera sua própria programação e encaminha por uma rede até um

multiplexador central. O multiplexador central agrupa as informações dos n difusores e

as encaminha para a SFN, como mostra a Fig.12.

Emissora 1

Emissora 2

Emissora 13

Transmissor 1

Transmissor mOBS: Cada transmissor está localizado emuma região diferente. Distantes um do

outro de aproximadamente 60 Km. Fig. 12. Transmissão no NISDB-T.

Até 13 emissoras podem compartilhar o sistema de transmissão do NISDB-T.

Isso porque o sistema utiliza uma largura de banda equivalente a um canal de televisão

(6,7 ou 8 MHz, dependendo da localidade).

Cada canal de transmissão é dividido em 14 segmentos OFDM. Num canal de 6

MHz, cada segmento possui 429 kHz. Uma emissora pode transmitir utilizando um ou

três segmentos.

Esta segmentação do canal permite que seja feita uma Transmissão Hierárquica,

ou seja, a cada segmento é aplicada uma configuração distinta para taxa de codificação

de canal e embaralhamento temporal.

No NISDB-T, o conjunto de parâmetros de configuração de um segmento é

denominado de camada. Assim, havendo dois ou mais segmentos com as mesmas

configurações, se diz que os dois estão na mesma camada.

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No sistema japonês, se encontram dois diferentes tipos de receptores, o de um

segmento e o de três segmentos. Para evitar que aparelhos de um segmento não

consigam receber a informação de uma rádio que transmite utilizando três segmentos,

a programação desta é inserida no segmento central. Este princípio, que garante a

compatibilidade de qualquer receptor com o sistema, é denominado de Recepção

Parcial, e é ilustrado pela Fig 13.

Radiodifusor de um

segmentoRadiodifusor de três

segmentos

Receptor de umsegmento

Receptor de trêssegmentos

Fig. 13. Recepção Parcial de três segmentos.

A taxa de transmissão no sistema NISDB-T dependerá alguns parâmetros tais

como: o tipo de modulação da portadora (DQPSK, QPSK, 16 QAM, e 64 QAM), a taxa

de codificação para proteção dos dados, a taxa do intervalo de guarda e o número de

segmentação (um ou três) por canal. Por exemplo, em um canal de uma segmentação

a taxa de transmissão pode variar de 280,85 kbps até 1.787,28 kbps [19].

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Lima, Flávio L. Radiodifusão Digital - Tecnologias e Tendências. Dissertação de Mestrado ENE/UnB, Brasília-DF. 2002. [2] Lopes, Daniel D. Sistema de Radiodifusão Sonora Digital na Faixa de FM e sua Adequação à Divisão do Espectro no Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso ENE/UnB, Brasília-DF. 2003. [3] http://www.ibiquity.com/ [4] http://www.fcc.gov/ [5]Paul, J. P. The Structure And Generation Of Robust Waveforms For FM In-Band On-Channel Digital BroadCasting. IBiquity Digital Corporation. [6] DAB Subcommittee – Evaluation of the iBiquity Digital Corporation IBOC System, Part 1 – FM IBOC. [7] Radio Magazine – http://www.beradio.com/ [8] Lucent Digital Radio. LDR FM IBOC System Description. Appendix D. 2000. [9] Gary Liebisch. IBOC System & Implementation. Brasil, Março 2003. [10] http://www.ibiquity.com/technology/pdf/Waveforms_AM.pdf [11] ALTOÉ, Mariana Olivieri Caixeta & DE SÁ, Flávia Xavier Cirilo. Avaliação de Sistemas de Radiodifusão Digital Para a Faixa Abaixo de 30 MHz. UNB - Universidade de Brasília, 2003. TCC - Trabalho de Conclusão de Curso. [12] http://www.drm.org [13] ETSI TS 101 980 – Digital Radio Mondiale (DRM), System Specification, V1.1.1, Volume I (2001-09). [14] Bureau, Patrick. DRM From Output Requirement To Operacional System. BES EXPO 2000. February 2000. [15] ETSI – Eureka 147, hvv GIO, Volume I (15 de June 1999). [16] Hoeg, Wolfgang e Lauterbach, Thomas. Digital Áudio Broadcasting, Principles and Applications. Ed. Wiley. 2001. [17] Uehara, M & Kuroda, T. Transmission Scheme For The Terrestrial ISDB System. IEEE, pages 101-106, November 1998.

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[18] www.dibeg.org/isdbt.htm. [19] Narrow Band ISDB-T For Digital Terrestrial Sound Broadcasting. Specification Of Channel Coding, Framing Structure And Modulation. November 1999.